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Saiba quais as grandes perspectivas para os físicos nos domínios da investigação em medicina Entrevista ao Professor Alexandre Quintanilha

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Saiba quais as grandesperspectivas para os físicos nosdomínios da investigação em

medicina

Entrevista ao Professor

Alexandre Quintanilha

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Apoios:

ÍNDICEPulsar é uma publicação do NFIST de distribuiçãogratuita.

Tiragem: 800 exemplares

Site: http://www.fisica.ist.utl.pt/pulsarMorada: Instituto Superior Técnico, Edifício Central,

Sala de Alunos da LEFT. Av. Rovisco Pais, 1096 LISBOA Codex

Telefone: 218419082Fax:218419013e-mail: [email protected]

DIRECÇÃO:Director: Filipe MarquesVice-Directora: Filipa Viola

GABINETE DE IMAGEM:Direcção: Sofia d’OreyColaboradores: Miguel José, Daniel Lopes, RuteMartins, Armando Vieira (Enigma)

GABINETE DE ARTIGOS:Direcção: Joana LoureiroColaboradores: Rui Tomás (Secção de Instantâneos)

GABINETE DE RELAÇÕES EXTERNAS: Miguel Rodriguese Hugo Patrício

GABINETE DE AVALIAÇÃO DE ARTIGOS: FranciscoBurnay, Maria João

AGRADECIMENTOS: Prof. Alves Marques, Prof. JorgeLoureiro, Manuel João Mendes

FICHA TÉCNICA

Editorial 3Secção de Instantâneos 4

As novidades do mundo ciêntíficoLocal 5

2º Encontro de EngenhariaBiomédica

Uma Experiência do Mundo da 6Ciência Contada na Primeira Pessoa

NFISTActividades da Astro 7Actividades do Circo 8NFIST 2003/2004 9VII Semana da Física 9

ICPS 2003-ODENSE 10

EntrevistasMAJA, um dia teve uma ideia e... 13Prof.Mottelson, mais uma vez à conversa… 14

A (Des)Modulação em Amplitude – A.M. 15

Mars Odissey: À Descoberta do Planeta 18Vermelho

Harry Potter no Laboratório – 20Falar de ciência num mundoinfestado de pseudo-ciência

Secção Cultural 23

IST/BPI :Concurso de apoio às actividades extracurriculares doInstituto Superior Técnico

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EDITORIAL

Nova equipa, novo visual!Mudança?Ou evolução?

Pretendemos manter a mesmaestrutura editorial. Apenas acres-centámos às secções usuais umacom resumos de novidades daactualidade científica, recu-perando assim os “instantâneos”das edições antigas.

Agradou-me constatar oaumento do número de interes-sados em colaborar no Pulsar. Umamaior equipa possibil i ta anecessária e inevitável expansãoda revista, com maior qualidadee menor investimento em tempoe trabalho para cada um.

O que temos todos em comum?Uma paixão pela ciência e uma

enorme vontade de a partilhar.Fazendo uso da escrita ou da

imagem, tentamos desenvolverum espaço de divulgação edebate de cariz científico.

E, como esforço na promoçãode uma área criativa e deliberdade de expressão, a secção

cultural passa a contar com umcartoon original, e com um texto/poema de expressão livre.

Conscientes da globalizaçãoda informação no Mundo actual,e da importância primordial deque tal se reveste na troca edesenvolvimento de ideias naciência, achamos da maiorrelevância uma cooperaçãoentre as várias revistas estudantisdo mesmo género, no sentido deuma troca de informações eentreajuda, promovendo odebate de ideias a um nívelinternacional, assim como ummeio de conexão com as nossascongéneres do resto do mundo.

Neste alinhamento, o Pulsariniciou contactos com outrasrevistas de ciência, Física emparticular, feitas por estudantescomo nós. Particularmente como jIAPS (jornal da AssociaçãoInternacional de Estudantes deFísica), na pessoa de CatherineGardner, sua Directora, ence-támos uma colaboração, paten-te na entrevista conjunta ao

Nobel da Física, Prof. BenMottelson, transcrita na presenteedição. Foi com certo espanto eorgulhoso contentamento quenos aper-cebemos de que oPulsar está entre as revistas deestudantes mais desenvolvidas daEuropa. Os nossos colegaspresentes no ICPS gostaram de talforma da revista que, os trêsexemplares que levámos,desapareceram num instante! E,apesar de serem em Português,correram várias mãos in-teressadas. Estamos, no entanto,ainda aquém das nossascongéneres norte americanas.

É também neste contexto quevemos a nossa situação finan-ceira. Reconhecendo a situaçãode crise e contenção em quevivemos no nosso país, o Pulsar,no seio do NFIST, sendo umainiciativa sem fins lucrativos, quedepende exclusivamente da boavontade dos apoios e patrocínios,assim como da publicidade quepossamos fazer, inevitavelmenteterá dificuldades no curto prazo

de evoluir aos níveis que dese-jamos.

É com esforço, que lutaremospor continuar a servir os nossoscolegas de Física e Biomédicacom a mesma qualidade a queos habituámos no ano anterior.

Finalizo com um apelo à tuacolaboração, enquanto leitorou mais que isso, se gostas deescrever, de desenhar, ousimplesmente queres dar a tuacontribuição para a divulgaçãode uma ciência que amas,então junta-te a nós!

Filipe Marques

Equipa na 1ª reunião geral 03/04

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Mission Prometheus: Jupiter Icy Moon Orbiter

A NASA deu recentemente aprovação à companhiaresponsável pelos motores do Jupiter Icy Moon Orbiter paracomeçar o desenvolvimento destes. O JIMO tem como destinoos satélites gelados de Júpiter: Callisto, Ganymede e Europa.Pensa-se que existe um oceano debaixo da espessa camadade gelo que os recobre. A existência de oceanos nas luas deJúpiter abriria o debate da possibilidade de vida nos satélitesjovianos. A missão faz parte do projecto Prometeu, cujoobjectivo é experimentar um novo e polémico sistema depropulsão eléctrico alimentado por um reactor a fissão. Olançamento não é previsto antes de 2011.

http://www.jpl.nasa.gov/jimo/

Primeira imagem de Mars Express

Mars Express foi lançado no passado dia 2 de Junho comsucesso. A sonda, enquanto se encontrava a mais de 8 milhõesde quilómetros da Terra, enviou as primeiras imagens. MarsExpress, a primeira sonda da ESA a visitar outro planeta dosistema solar, chegará a Marte no próximo 25 de Dezembro.

http://sci.esa.int/science-e/www/area/index.cfm?fareaid=9

Estrela mais próxima do sol

Foi descoberta uma anã vermelha que poderá ser a terceiraestrela mais próxima do Sol. A estrela designada porSO25300.5+165258 encontra-se entre 6,5 e 10,1 anos-luz doSol, sendo a distância mais provável 7,8 a.l.. SO25300.5+165258tem apenas 7% da massa do Sol e um raio 7 vez maispequeno.

http://www.gsfc.nasa.gov/topstory/2003/0520newstar.html

Mapa 3D da Bolha Local

Uma equipa de astrónomos americanos e francesesobtiveram um mapa em 3D de um raio de cerca de 1000a.l. em torno do Sistema Solar. Esta região é chamada BolhaLocal, visto que se pensava que o Sol estaria numa bolha degases quentes delimitado por gases frios e densos. Este novomodelo aponta mais para uma “chaminé” local. O Solencontrar-se-ia num tubo central de gases quentes, abertopelas ondas de choque de várias supernovas.

http://www.berkeley.edu/news/media/releases/2003/05/29_space.shtml

Descoberta de uma partícula de 5 quarks

Um novo barião, não com 2 ou 3, mas com 5 quarks (2quarks u, 2 quarks d e 1 anti-quark s) foi descoberto entre2002 e 2003 em 4 laboratórios diferentes (Rússia, Japão eEUA). A existência desta partícula havia sido prevista em 1997pelos físicos russos Diakonov, Petrov e Polyakov. È+ (lê-se “thetamais”), assim se chama a partícula, foi descoberta disparandoraios gama sobre deutério, e supõe-se que exista em buracosnegros.

http://www.nordita.dk/~diakonov/Theta.html

Microprocessadores mais velozes

Invest igadores da Sun Microsystems desenvolveramrecentemente uma técnica (“capacitive coupling”) capazde revolucionar os microprocessadores do futuro. Estatécnica permitirá trocas de dados a velocidades da ordemdos triliões de bits por segundo. Para se ter uma ideia, os PCsmais rápidos podem trocar dados a 50 biliões (5x1010) bitspor segundo. Um dos desafios que se colocam agora, àmedida que se consegue aumentar a velocidade a queoperam os chips, é melhorar a capacidade de refrigeraçãodos computadores.

http://www.newscientist.com/news/news.jsp?id=ns99994189

Pneumonia atípica ataca em laboratório

Um estudante de pós-graduação de Singapura, a quem foidiagnosticada a Síndrome Respiratória Aguda, deverá tercontraído a doença no laboratório onde trabalhava, assimconcluiu uma equipa de peritos da OMS. O laboratóriotrabalhava com o vírus desde Abril de 2003, apesar dos riscoscrescentes e da falta de condições de segurança. O casofoi detectado no início de Setembro e constituiu a primeirainfecção em cinco meses. Note-se que este vírus já causoumais de 800 mortes e 8400 infecções desde Novembro de2002, altura em que foi detectada a epidemia no sul daChina.

Prémio Henri Poincaré 2003

A IAMP (Associação Internacional de Física-Matemática) anunciou os laureados com oPrémio Henri Poincaré referente a 2003. Esteprémio distingue contribuições importantesna área da Física-Matemática, que possamabrir caminho a novos desenvolvimentos nainvestigação. Os premiados foram: HuzihiroAraki, da Univ. Kyoto; Elliott H. Lieb, da Univ.Princeton; e Oded Schramm, investigadorda Microsoft.

Para informações adicionais sobre esta notícia, consulte arevista da Soc. Europeia de Física, disponível no site

www.europhysicsnews.com

2005 – Ano Mundial da Física

O ano de 2005 foi declarado pelaIUPAP Ano Mundial da Fís ica. Ainiciativa conta com o apoio daUNESCO, sob proposta das delegaçõesportuguesa, francesa e brasileira. Noano de 2005 comemora-se o cen-tenário do “ano milagroso” de Einstein,ano em que o físico apresentou cincoartigos que mudaram a Física e apercepção humana da realidade. Esperam-se inúmerasactividades comemorativas, distribuídas pelos mais diversospontos do globo. Portugal espera, neste ano especial, poderreceber o ICPS (Encontro Internacional de Estudantes deFísica).

http://www.fisica.ist.utl.pt

http://www.wyp2005.org/INSTANTÂNEOS

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No passado dia 1 de Outubro, teve lugar no Centrode Congressos do IST o 2º Encontro de EngenhariaBiomédica IST/FML.

Este evento foi organizado pela Coordenação daLicenciatura e teve comoobjectivo principal divulgar aEngenharia Biomédica juntodos estudantes, empresas esociedade em geral.

A adesão de diferentestipos de público ao Encontrofoi notável. Estiveram presentesprofessores, investigadores,estudantes e curiosos. Desta-cando-se a participação decolegas da Universidade doMinho e da UniversidadeNova de Lisboa que nossaudaram com a sua presençae permitiram a partilha de experiências, dúvidas eprojectos.

No programa do Encontro constavam três blocosdistintos, um destinado à apresentação de trabalhosdesenvolvidos por profissionais, outro dedicado aprojectos realizados pelos alunos e por último, umdebate que contou com a presença de algunsconvidados especiais.

O primeiro bloco deu lugar a temas como a visãoartificial, a genómica e a bioinformática. Estes temasforam abordados por profissionais de diferentesáreas, todos eles ligados à FML ou ao INESC-ID. Ostrabalhos apresentados re-sultam da investigação degrupos de trabalho constituí-dos por elementos de diferentesnacionalidades e permitiramaos alunos conhecer algunsdos mais recentes desenvolvi-mentos tecnológicos.

Uma das inovações desteEncontro face ao realizado noano anterior, foi o facto depermitir a participação directados alunos da licenciatura.Este bloco começou com aapresentação de dois tra-balhos desenvolvidos por alunas do 3ºano. O primeiroapresentava um projecto recentemente iniciado ondese estudam formas da Engenharia Biomédicacontribuir para melhorar a qualidade de vida daspessoas com deficiência visual. O segundo mostravaalguns trabalhos realizados na área da LinguagemCerebral Motora por diferentes investigadores,analisados do ponto de vista da aluna. Por último, foi

apresentado o Núcleo de Engenharia Biomédica doIST (NEBM-IST). Este projecto surgiu da vontade dosalunos da licenciatura se unirem para promover ocurso, bem como recolher informações relevantes para

a sua formação académica eestabelecer uma maiorcomunicação com colegas deoutras universidades, ins-titutos e empresas.

Antes do espaço dedicadoao debate, um grupo de alunosdo 3ºano surpreendeu todosos participantes com a apre-sentação de um DVD sobre alicenciatura. Este DVD, reali-zado em tempo record exclusi-vamente para o Encontro, foibastante apreciado devido aoseu cariz cómico e simulta-

neamente esclarecedor.No bloco de debate, coordenado pelo Professor

Lopes da Silva, estiveram presentes os presidentes doIST e da FML, Professor Matos Ferreira e ProfessorMartins e Silva, bem como um representante da Ordemdos Engenheiros, um representante da BIAL e umrepresentante da Novabase.

Este bloco permitiu que os alunos presentesconhecessem um pouco melhor a Ordem dosEngenheiros, bem como o trabalho destas duasempresas, onde possivelmente poderão ser integradosprofissionais de Engenharia Biomédica num futuro

próximo.Discutiram-se ainda as-

pectos relevantes para o futuroda Engenharia Biomédicacomo a possível integração naOrdem, a ampliação dasinstalações na Faculdade deMedicina e a necessidade deuma maior interacção entreempresas e faculdades paraque os alunos comecem acontactar cada vez mais cedocom o mercado de trabalho.

Este Encontro foi umaexperiência extremamente

positiva e bem sucedida, onde a qualidade e odinamismo foram nota dominante.

Para aqueles que não puderam participar nesteevento, não desanimem, para o ano haverá certamenteoutro Encontro onde esperamos ter ainda maisparticipantes, bem como a apresentação de maisprojectos de alunos não só do IST, mas também deoutras Universidades.

2º ENCONTRO DE ENGENHARIA BIOMÉDICAPor Filipa Campos ViolaPor Filipa Campos ViolaPor Filipa Campos ViolaPor Filipa Campos ViolaPor Filipa Campos Viola

LOCAL

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UMA EXPERIÊNCIA NO MUNDO DA CIÊNCIA

CONTADA NA 1ª PESSOA

Margarida Silva (Estudante do 2ºAno de Engenharia Biomédica - IST)

Quando decidi participar no “14º ConcursoEuropeu para Jovens Cientistas” (2002) nuncapensei que dele pudessem resultar tantasexperiências! Este é um concurso organizado, anível nacional, pela Fundação da Juventude, noqual podem participar jovens que frequentematé ao 1º ano da Universidade. Para além deum prémio monetário para os três melhoresprojectos, possibilita a participação na finaleuropeia e noutras exposições a nível mundial.Com o 2º lugar que me foi atribuído, deveria ir,juntamente com os primeiros classificados,concorrer a nível europeu, a Viena. No entantocomo não é permitido a uma mesma pessoaparticipar pela segunda vez nesta final, e eu jáo tinha feito juntamente com um colega no anoanterior, na Noruega, não pude ir. Assim, foi-meditado como destino a “17ª MOSTRATEC - Mostrade Ciência e Tecnologia da América do Sul”, que

se realizou em Novo Hamburgo, no estado doRio Grande do Sul, Brasil, em Novembro de 2002.

Aí tive oportunidade de expor o meu trabalhoque tinha como principal objectivo saber de quemodo os diferentes comprimentos de onda daradiação luminosa visível influenciam a eficáciafotossintética. A análise da eficácia fotossintéticadecorreu da comparação dos valores de pressãode oxigénio produzido por uma planta, Elodea,mantida em condições de luminosidadeselectiva, no que diz respeito aos comprimen-tos de onda, e temperatura controlada.

Posteriormente, relacionaram-se esses dadoscom o espectro e absorção dos pigmentosfotossintéticos contidos na planta. Os resultadosobtidos estiveram em concordância com abibliografia; picos de taxa fotossintética ocorrem

quando a planta é exposta a radiações na zonao vermelho alaranjado e azul-violeta, havendomínimos na região do verde.

Em consequência de uma boa participaçãonesta feira, tive como prémio a possibilidadede estar na Expo-Science International 2003 (ESI03), em Moscovo, em Julho deste ano. Aprimeira reacção foi de alegria, depois, ao seaproximar o dia da partida, o receio foicrescendo. Nunca se sabe bem o que se vaiencontrar, mesmo que não seja a primeira vezque se participa num evento destes, o que erao meu caso. No entanto, tudo se modificou logoà chegada! A exposição era gigantesca cominúmeros projectos divididos por áreas temáticase muita, mesmo muita gente nova e com espíritocriativo vinda de todos os cantos do Globo (nãoobstante este ser uma esfera, ou quase...!), comvontade de trocar experiências, vivências eideias! Para além da parte obrigatória e“científica” da exposição, havia programasturísticos/culturais em que éramos inscritos. Destesfizeram parte uma visita ao “Kremlin”, a váriosmuseus, a um centro de treino de cosmonautas,ao “Centro nacional de investigação – InstitutoKourtchatov” (onde estava localizado o primeirocentro nuclear da Eurásia)... Os sete dias foramum desafio constante, pois não é apenas arepresentação de uma pessoa e de um projecto,mas a de um país!

Creio que para formação pessoal e científicafoi importante esta participação, que recomen-do a todos, claro!

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ACTIVIDADES D A SECÇÃO D E ASTRONOMIAhttp://astro.nfist.ist.utl.pt

Nestes últimos meses a Secção de Astronomia esteve muito activa,

organizando várias actividades muito interessantes.

TRÂNSITO DE MERCÚRIO, DIA 7 DE

MAIO

No dia 7 de Maio às 8h30 a Secção, munida do seu fiel telescópio,

apontou para o disco solar. Instalados à entrada do pavilhão

central, chamámos a atenção de um grande número de pessoas,

que paravam, admiradas por nos verem a apontar com

telescópios em pleno dia. Visto em projecção com o telescópio,

Mercúrio apareceu como um ponto na superfície luminosa do

Sol. Mercúrio passa entre a Terra e o Sol, de três em três meses.

Mas o trânsito não é visível devido à inclinação do plano da

órbita de Mercúrio em relação ao da Terra, sendo apenas visível

quando o Sol, Mercúrio e a Terra estão alinhados. Este

fenómeno é muito raro e só acontece 12 vezes por século.

Em Junho de 2004, ocorrerá um outro trânsito, mas desta vez

é Vénus quem passa à frente do Sol. Bem mais espectacular

que o trânsito

de Mercúrio e

ainda mais

raro (já não

ocorre desde

1882)! Não

percam o pró-

ximo trânsito,

porque nós

também não...

ECLIPSE TOTAL DA LUA, 15 DE MAIO

Apesar de ser um fenómeno bastante habitual, a beleza do

espectáculo não deixa nin-

guém indiferente, mesmo

com a companhia de algumas

nuvens. A Astro acom-

panhou o evento, com dois

telescópios no terraço do pós-

graduação, chá quente e bolos!

Aproveitou-se a ocasião para

tirarmos as primeiras foto-

grafias através da ocular do

telescópio.

OBSERVAÇÕES NO INSTITUTO

GEOGRÁFICO DO EXÉRCITO

A secção visita com regularidade, desde há 3 anos, o IGeoE.

No terraço do edifício situado perto da Expo, o IGeoE dispõe

de um observatório equipado com um Celestron de 14

polegadas e uma CCD.

Neste semestre, a secção teve a oportunidade de usufruir deste

espaço 3 vezes. A secção agradece a disponibilidade da professora

Ana Mourão (CENTRA) e do Sargento Ramos (IGeoE) na

organização e no decorrer das observações. Durante as noites

foram fotografados objectos do céu profundo, tais como

nebulosas, galáxias e enxames globulares. As fotografias estarão

disponíveis brevemente no site.

ASTRONOMIA NO VERÃO

Pela primeira vez a Astro participou nas actividades da

Astronomia no Verão, organizadas pela Ciência Viva. Foram

realizadas duas actividades: observações no Minho e um fim-

de-semana de minicursos de astronomia no IST.

·Observações no Minho

Cinco colaboradores e dois telescópios viajaram para o Minho,

à conquista do céu do

Norte, carago! Em três

dias de árduo trabalho,

foram a três localidades

diferentes, divulgando

a Astronomia e comen-

do francesinhas... 30 de

Agosto, estivémos em

Esposende; dia 31, na

Póvoa de Varzim e 1 de

Setembro, em Viana do

Castelo. Para o ano há

mais, miam miam...

·Minicursos de Astronomia

Como melhor acabar as férias, do que com um fim-de-semana

passado no IST? Desde sexta-feira, dia 12 de Setembro até

Do-mingo, dia 14, organizámos minicursos de Astronomia,

dirigidos ao público

em geral. Foram

organizadas palestras

sobre Astrofísica (Sol,

evolução estelar, ga-

láxias), e outras, de

índole mais prática,

sobre noções básicas

de astronomia ama-

dora. Nas observações

nocturnas, os par-

ticipantes tiveram

oportunidade de se familiarizar com os telescópios e até de

recolher algumas imagens da Lua.

Luís Resende explicando o fenómeno

A nossa primeira fotografia!

Esposende – Nem o nevoeiro nem

a iluminação pública nos

impediram de observar

O aperfeiçoamento da técnica…

O Ruben explica a constituição do

Sol perante um público interessado

NFIST

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FESTA DO AVANTE

“Num agradável espaço junto ao lago situar-se-á o Espaço Astronomia

qu este ano estará de novo patente na Festa do Avante! Dinamizado em

colaboração com o Núcleo de Física do IST e com a Associação Helíades,

de Constância […].”

site da Festa do Avante

A organização da Festa do

Avante foi uma Semana da

Física em pequena escala.

Circo e Secção de Astronomia

tinham a seu dispor um stand

de 80m2. A Astro organizou

palestras temáticas e, com a

colaboração da Associação

Helíades e do professor

Máximo Ferreira, obser-

vações diurnas e nocturnas,

para as quais chegou a haver

filas de espera de 30

minutos! Com um horário

de trabalho de 12 horas, o

fim-de-semana valeu (e

muito!) pela simpatia e

interesse dos “camaradas”,

que acorreram em massa ao

nosso stand.

No início de mais um ano lectivo, e naaproximação da VII Semana da Física, o Pulsaroferece ao Circo da Física esta oportunidade (quedesde já agradecemos) de seapresentar ao leitor, apesar de,talvez, já nos conhecer dauniversidade ou de exposiçõesrealizadas em escolas, nasSemanas da Física, etc.

O nosso regulamento afirmaque somos “uma secção autó-noma do Núcleo de Física doInstituto Superior Técnico”, cujosobjectivos principais são a“divulgação (da Física) (...) dentroe fora” da nossa universidade,através da exposição de umavariedade de experiências,algumas das quais montadas pornós.

Contudo, esta apresentaçãonão deixa de me parecer um tanto fria.

No fundo, somos um grupo de pessoas com uminteresse comum, que nos une para além das nossasdiferenças, e que nos compele a tentar transmitirum pouco do que gostamos a quem nos escutar,mesmo que por vezes isso exija alguns sacrifícios(como em tudo).

Mas, mais do que ensinar, pretendemos transmitirao nosso público esta nossa curiosidade, pela Física,pela ciência e pelo mundo.

É com estes objectivos que já noano passado participámos em váriasviagens a escolas, dentro e fora deLisboa, realizámos exposições noFórum Estudante, durante oEncontro Nacional de Estudantes deFísica, na festa do Avante, etc.

Este ano, em conjunto com asoutras secções do NFIST, preten-demos continuar este trabalho, commais visitas e exposições, e maisexperiências inovadoras e interes-santes.

E para isso precisamos de ajuda.Não sei se no passado alguma vezexistiu uma lista de colaboradorespermanentes do Circo e, por umlado, concordo que não exista.

Todos nós temos deveres e responsabilidades e, porvezes, é difícil conciliar o trabalho (dentro e fora dauniversidade) com as actividades do Circo.

Mas noutras ocasiões esta conciliação nem édifícil, e nem a sentimos.

No fundo, no fundo, o Circo é quem quer parti-cipar no Circo!

Novidades do Circo

NFIST

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O começo do novo ano de trabalho do Núcleo foi bastanteatarefado: participar na Festa do Avante, idealizar e organizar aVII Semana da Fisica, comprar novos brinquedos para o Circo daFísica, acolher os nossos novos colegas... Enfim, mil e uma coisas afazer!

Por isso, por esta altura o NFIST conta já com uma lista admirávelde actividades desenvolvidas, das quais muito nos podemosorgulhar.

Recepção aos caloiros

Foi uma semana cheia de actividades para todos os gostos:Atribuição de padrinhos, realização de um peddy-paper, um

Picnic e uma fantástica e muito divertida Festa: “LEFT & BIOPARTY”. Embora a festa tenha dado prejuízo, nada paga o bomespírito e divertimento partilhado por todos os presentes. Além doshabituais comes e bebes, podémos contar com boa música, e umespectáculo original: eles vestiram-se como elas, elas como eles,num desfile de algazarra e boa disposição.

Infelizmente, destaca-se a impressionante falta de interessemostrada pelos colegas do 2º ano, legitimamente responsáveis porreceber os seus novos colegas. A ideia desta Semana foi a de mudaro rumo que tem seguido a recepção ao caloiro no nosso curso, edar um exemplo para os anos vindouros, de forma a inovar emelhorar.

Fica aqui uma sugestão para os caloiros de hoje: para o ano, arecepção ao caloiro é da vossa responsabilidade. O NFIST estarásempre presente para ajudar financeiramente e logisticamente, maso trabalho duro é para vocês :)

Semana da Ciência e Tecnología

A mais recente actividade em que participámos dá pelo nome deSemana da Ciência e Tecnologia e decorreu entre 17 e 29 de

Novembro. Durante estas duas semanas o Circo viajou debiblioteca em biblioteca levando os seus “brinquedos” e explicando-os a todos os visitantes.

O Futuro

Além de querermos continuar em frente com o que já existe,queremos ter novas ideias, projectá-las e realizá-las. Ideiasinovadoras há muitas, projectos há dois: “O Circo sobre Rodas” ea “Oficina do Circo”. O primeiro consta no aluguer de uma carrinhadesmontável em stand. Nesta exporiamos o nosso conhecimentopelas cidades portuguesas de Norte a Sul ao longo de uma semanaescolhida para o efeito. A “Oficina do Circo” consta de uma oficinaque instalaríamos na futura Sede do NFIST, na qual seria possível,com a ajuda de todos os intrumentos adquiridos para o efeito,recuperar e criar novos “brinquedos”.

Finalmente, e como muitos já sabem, a actual direcção constituídapor Rui Neto, Rita Macedo e Daniel Vidal, é actualmente direcçãodemissionária. As eleições decorrerão (ou decorreram, dependendoda data de lançamento deste edição) no mês de Dezembro.

Fica aqui a nossa observação final enquanto direcção do NFIST:Durante estes dois mandatos, muitas foram as mudanças. Porém,

acreditamos que fizemos o NFIST crescer, e demos-lhe a energiade que precisava para continuar. Agora é a TUA vez de lhepegares nas rédeas.

Contamos contigo,

A Antiga Direcção do NFIST,Rui Neto, Ex-PresidenteDaniel Vidal, Ex-Vice-PresidenteRita Macedo, Ex-Gestora Financeira

NFIST 2003/2004

É com todo o prazer que o NFIST utiliza, mais uma vez, este espaço na Revista Pulsar paradesejar o maior sucesso para este ano lectivo de 2003/2004, a todos os alunos e professores da

nossa licenciatura.

Era nosso objectivo melhorarmos a Semana da físicade modo a que esta podesse interessar e cativar omaior número de pessoas possível.

É, sem dúvida, uma das principais actividades que oNFIST tem promovido ao longo da sua vida, e estaedição era há já muito tempo aguardada, pelo que asua organização começou desde cedo.

Assim sendo, foi idealizado um ciclo de debates, quecontou com os seguintes temas: ``Da crítica da Ciência à negaçãoda Ciência'', ̀ `Hidrogénio:Vector Energético do Futuro'' e ̀ `Investiga-ção e Desenvolvimento em Portugal''.

Por outro lado, aumentámos para 15 o número das Palestrasapresentadas e tivemos um cuidado especial com os seus temas,de modo a que o conjunto formado estas palestras abordasse omaior número de áreas da Física possível.

Dada a grande aceitação dosMiniCursos de Astronomia por partedos alunos e professores dosecundário na anterior Semana daFísica, este ano criaram-se minicursossobre outros temas. Ao todo estavamdisponíveis sete minicursos que muitoagradaram os nossos visitantes.Outra novidade nesta Semana da

Física foi a realização de visitas a um centro de investigação bempróximo do IST - o INESC-MN, que abriu as portas da sua sala limpaa estudantes do ensino secundário.

Apesar de ter sido uma semana muito cansativa para todos aqueles

VII Semana da Física

A VII Semana da Física exibiu o seu sucesso entre os dias 27 a 31 de Outubro de2003. Cheia de actividades, foi capaz de entreter milhares de pessoas, dos 8 aos 80.

que ajudaram a fazer esta 7ª edição da Semana daFísica (até houve quem partisse o pé), o resultadode todo esse trabalho foi notório e deixou-nos a todosmuito satisfeitos. Por um lado, a adesão das escolassecundárias (o nosso principal alvo) foi maciça, peloCirco da Física, bem como por todas as outrasactividades, passar-am cerca de 2000alunos vindos de 40

diferentes escolas do País. Por outrolado, podémos contar com inúmerosvisitantes de dentro e fora do IST,que eram presença assídua nasvárias Palestras e Debates organi-zados.

É sempre bom fazer um balanço positivo das actividades quepromovemos, mas todos temos consciência de que muito poderíater corrido melhor, ou que faltou algo para que podéssemos dizerque esta foi a melhor Semana da Física de sempre... Por isso, no fimde uma Semana da Física o trabalho não termina, pelo contrário, énesta altura que se dá asas às ideias e que se começou a pensar etrabalhar para a próxima.

Assim, deixamos-te já o convite para vires trabalhar connosco econtribuires com o teu trabalho e as tuas ideias, não só para a VIIISemana da Física mas também para todas as outras acitividadesque promovemos.

Para quem quiser rever um pouco do que foi a VII Semana daFísica, é bem vindo a visitar o site http://sf7.nfist.ist.utl.pt

NFIST

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O ICPS (*) teve este ano a sua 18ª edição. Vemsendo realizado anualmente desde 1989 e este anoteve lugar em Odense na Dinamarca. Este encontrotem uma estrutura básica (consoante a organização)que consiste em:

- Recepção- Welcome Party- Cerimónia de abertura- Palestras (Professores/Alunos) e Posters- Workshops da IAPS (*)- Visita a uma cidade do país que acolhe a

conferência, seguida de visitas a empresas e/oucentros de investigação relacionados com Física

- National Party- General Meeting da IAPS- Torneio de futebol- Farewell Party

Recepção (Fig.1)

Dura praticamente o primeiro dia todo e consistena distribuição de todo o material informativo daconferência, bem como a distribuição dos estudantespela residência. Há ainda uma palestra sobreinformações úteis e sobre o programa da conferência,dada pelo organizador.

Welcome Party

Como o nome indica, é uma festa de recepção.Não é muito elaborada e tem o objectivo de promovero conhecimento entre os colegas participantes. Poresta altura ainda se consegue identificar os gruposde pessoas por nacionalidades. Os croatasimprovisaram uma sessão de guitarra acompanhadapor um coro muito afinado num jardim da DLS (*), no

bar só faltava uma bandeirinha em cada mesa,dinamarqueses num canto, britânicos noutro, Tugasde Coimbra, do Minho, da FC noutro, enquanto que,cá fora, os LEFT´s socializavam com a fantásticacomitiva alemã de 5 pessoas, que era constituída por2 lituanos, um polaco, um paquistanês e umaromena… Enfim tudo muito bem arrumadinho.

Cerimónia de abertura

Esta cerimónia, geralmente, antecede a primeira

palestra de um professor convidado. Este ano, coubeao Presidente da SDU (University of SouthernDenmark) e ao chefe do seu Departamento de Físicadar as boas vindas aos participantes, bem comocontar um pouco da história da Universidade.

Palestras (Fig.2)

Todos os anos, a organização fica encarregadade convidar professores/investigadores do paísanfitrião a dar uma palestra relativa a sua área deinvestigação. Os convidados deste ano foram oProfessor Ben Mottelson (“Bose-Einstein condensates”),o Professor Eugene Polzik (Teleportação), o Professor

Ole G. Mouritsen (Relevância da Física noutras áreasda Ciência) e o Professor Jens Martin Knudsen(Investigação em Marte).

Quanto às palestras e posters dos estudantes,estas visam proporcionar aos participantes umaoportunidade para mostrar o seu trabalho, bem comoobter experiência na sua apresentação oral, fazendo,automaticamente, parte de uma competição: avalia-ção pelos colegas participantes na conferência comselecção da melhor palestra e do melhor poster. Esteano, o vencedor das palestras foi o britânico JohnLivesey com “Optical Atom Guidance; From Cold-Clouds to Light-Pipes”, enquanto que o vencedor dosposters foi o sérvio Tomislav Terzic com o trabalho“Extra Dimensions: Large versus Small”.

Workshops da IAPS (*)

Estas servem para introduzir os participantes aomundo da IAPS. Promovem-se discussões e debatessobre o futuro e o desenvolvimento da associação.

Visitas

Durante a conferência são organizadas visitas ainstitutos e centros de I&D em várias áreas da Física.Em Odense, tivemos 5 opções. Dado que eram cercade 250 participantes, apenas tivemos direito a visitarum dos seguintes 5 institutos/centros:

ICPS 2003Por Hugo Patrício

Fig2 – Palestra do Prof. Knudsen

Fig1 – Palestra inicial de informações úteis

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RisøRisø é um instituto que cobre diferentes áreas

como a biotecnologia, investigação em energia emateriais, etc..

NKTNKT é uma grande companhia que faz investigação

e produção dentro da área dos lasers e fibras ópticas.

Haldor TopsøeHaldor Topsøe é, também, uma grande companhia

que faz investigação em catálise heterogénea ecélulas de combustível. Tem sido uma das maioresprodutoras de catalisadores para síntese de amóniae semelhantes.

Mikroelektronikcentret (MIC)MIC é um centro de investigação de micro e

nanotecnologias da Universidade Técnica da

Dinamarca. Parte da investigação é dedicada àaproximação da Física com a Biologia, na concepçãode novas tecnologias.

The Niels Bohr Institute (NBI)NBI é o instituto de Física, Astronomia e Geofísica

da Universidade de Copenhaga. Nos anos 20 foi umdos centros do desenvolvimento da mecânicaquântica, em que o Niels Bohr recebeu visitas doWerner Heinsenberg e muitos outros “pais” damecânica quântica”.

A cidade escolhida para a visita foi Copenhaga. Àpartida havia 2 programas disponíveis: um passeiode barco ou uma visita a Christiania (comunidadealternativa e única na Dinamarca, onde se destaca oconsumo e comércio livre de drogas leves dentro damesma). De noite tornou a juntar-se toda gente noTivoli que é a maior atracção de Copenhaga. Umafeira popular sofisticada.

National Party

A National Party tem duas partes distintas. Umbuffet e uma apresentação em palco. No buffet cadaum dos países representados prepara uma bancadacom comida e bebida típicas do seu país. A bancadaPortuguesa (Fig.4) tinha uma bela açorda alentejana,

ervilhas com ovos escalfados, chouriço assado,bolinhos do Algarve e um Moscatel. A destacar dasoutras bancadas, o Apfelstrudel dos austríacos; asfolhas de vinha com arroz dos gregos; o vinho commel e o bolo de gengibre dos polacos; o gin e a cidrados britânicos; coca-cola, hamburguers e batatas fritasdo MacDonalds dos americanos; o vodka com piri-piri dos ucranianos; o vodka finlandês; o vodka e caviarrusso; o licor dos sérvios; o vodka croata; a sangriados espanhóis e os shots dos dinamarqueses...

As apresentações culturais não fugiam muito asubir ao palco e cantar qualquer coisa tradicional dopaís, com excepção dos americanos que fizeram umnúmero do Abbot & Costello chamado “Who´s onfirst?” e dos austríacos que dançaram uma valsa.Especial atenção para a apresentação da Dinamarcaque não precisa de comentários (ver Fig.5).

General Meeting (Fig.6)

Fig6 – General Meeting

Fig3 - Visita ao MIC

Fig5 – Apresentação Dinamarquesa. Muito animada,com pouca roupa e muita cerveja.

Fig4 – Bancada portuguesa, que foi aprimeira a esgotar

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É a reunião da IAPS que tem como principal funçãoeleger o novo corpo associativo da IAPS,nomeadamente o Presidente. A nova Presidente é aMilla Karvonen da Finlândia. Nesta reunião discutem-se também outros assuntos relacionados com aIAPS, este ano houve um ponto dedicado à criaçãode um Lisbon Comittee e foi um dos temas que maisdiscussão provocou.

Torneio de Futebol (Fig.7)

Já é tradicional nestes encontros haver um mini-torneio de futebol no último dia do ICPS. A final foidisputada por dinamarqueses. Uma equipa deCopenhaga contra uma de Odense. Ganharam os da

capital. De referir o espírito não competitivo com queas pessoas encararam o torneio.

Farewell Party

É a última noite. O ambiente está um pouco maispesado do que nos dias anteriores. Na minha opinião,é o momento mais deprimente do ICPS. As pessoasapercebem-se que a semana chegou ao fim e quefalta ainda cerca de uma ano até ao próximo ICPS(para os que pensam repetir a experiência, que sãobastantes!). Só mesmo por boa vontade se chamauma Festa de Despedida (Fig.8).

Mais do que uma conferência internacional deestudantes de Física o ICPS é um encontrointernacional de pessoas cujo um dos muitosinteresses em comum é o facto de estudarem Física.Digo isto, porque as conferências, palestras ediscussões científicas representam apenas uma parteno conjunto das actividades no ICPS. A componentede socialização e convívio é mesmo a grande virtude

deste encontro. A comitiva portuguesa é geralmentedas mais numerosas (este ano éramos os 2ºs com33 pessoas atrás dos croatas com 36), por isso aspessoas com menor agilidade no Inglês não sesentirão sozinhas! Pessoalmente os Portuguesesforam aqueles com quem menos convivi, excepto osLEFT´s. Acho que a ideia é mesmo conhecer gentenova, como, por exemplo, um fantástico lituano, umverdadeiro bon vivant internacional, que já tinha estadoem meio mundo, ou um holandês completamentelouco, que sabia algumas frases em portuguêsbastante caricatas, ou uma espanhola com um sorrisopermanente, que sabia jogar melhor à bola que amaior parte dos rapazinhos, ou um americano ex-presidente da IAPS que parecia distribuir simpatia emuitas, muitas outras personagens fascinantes.

Quero, de facto, motivá-los a participar nos futurosICPS´s. Se o relato que fiz não foi suficiente, esperoque o mail que se segue o seja. Foi enviado a todosos participantes do ICPS alguns dias depois daconferência, pelo Alex, o tal lituano que apresenteiem cima:

Date: Mon, 18 Aug 2003 11:32:33Subject: Life after ICPS ?On this wonderfully depressing monday morning,

many of you are still asking yourself now: Is thereLife after ICPS ?

The human heart hungers for more than this lifeoffers! Each of us experiences what King Solomoncalled “eternity in [our] hearts”. It is apparent that hewas referring to an inescapable longing for somethingthis world cannot satisfy - ETERNAL ICPS. Belief inthe next ICPS is a source of personal security,optimism, and spiritual betterment. Nothing offersmore courage than the confidence that there will beanother beautiful ICPS. I want to thank everyparticipant for being there and creating the uniqueatmosphere!

Yours Sincerely, Mr.Lee Ph.D.

(*) Dicionário:

IAPS – International Association of PhysicsStudents

ICPS – International Conference of PhysicsStudents

SDU – University of Southern DenmarkDLS – Dalum Landbrugskolle

Links :-http://www.icps.sdu.dk-http://www.iaps.info/

Qualquer dúvida que tenham ou informação quequeiram receber relativamente ao ICPS o meu e-mailestá à disposição:

[email protected]

Fig8 – Filipe, Daniel, Andrius, Maja,Cristina, Alex e Hugo brindam a uma

semana fantástica.

Fig7 - Torneio de Futebol com Equipas Mistas

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Entrevista à Maja Vukadinovic no ICPS 2003 Odense,

DinamarcaA nossa colega Maja, juntamente com a Ana Sobota, apresentou uma palestra no ICPS com o tema “Pulse

High Pressure Sodium Lamp”. O Pulsar sempre atento aos jovens valores da Física, entrevistou-a.

12 de Agosto de 2003

Entrevista preparada e conduzida por Hugo Patrício e Daniel Vidal

Hugo: O que estás a estudar?

Maja: Estou no último ano (4º) a estudar EngenhariaFísica Experimental.

Hugo: Como é que tiveste a ideia

para esta palestra?

Maja: Na verdade fiz um trabalho no Instituto deFísica de Zagreb que era apenas o meu desejo detentar fazer alguma coisa de concreto, independentedos meus estudos. Porque estudar Física na Croácianão te diz nada acerca do mundo da Ciência. Resumindo, fui ao Instituto,arranjei um grupo e perguntei-lhes “ Por favor, posso fazer algumacoisa? “.

Hugo: Então na Universidade aprendes

essencialmente Física Teórica?

Maja: Na Universidade, apesar de termos uma direcção Experimentalnão aprendemos muito sobre o trabalho em Física Experimental.

Hugo: Como é que conseguiste que o teu trabalho

fosse patrocionado?

Maja: Foi assim: Depois de a Ana Sobota e eu termos feito a experiênciaescrevi 43 páginas sobre a lâmpada de sódio. Toda a teoria relacionadacom a experiência e todas as conclusões que foi possível fazer a partirdos dados recolhidos. Depois submeti o nosso trabalho ao maior prémioque um estudante pode ganhar na Croácia, que não está directamenterelacionado com os estudos e ganhámos. Depois o nosso patrão tevealgumas ideias sobre como encontrar patrocínios.

Hugo: Quem é o teu patrão?

Maja: É o coordenador de um grupo no Instituto e deixa-nos usar olaboratório dele.

Daniel: De onde veio a ideia da Lâmpada de

Sódio? Onde aprendeste sobre isso?

Maja: Bom, quando cheguei a este laboratório, o grupo a que me dirigiestava numa fase de preparação. Portanto ninguém estava a fazerinvestigação. Eles disseram-me “Podes procurar no laboratório a ver seencontras alguma coisa que te interesse.” Encontrei umas lâmpadas deSódio e de Césio e eles disseram-me que havia alguém que tinha feitoqualquer coisa com a lâmpada de césio. De seguida li sobre a lâmpadade sódio e descobri que é a lâmpada mais eficiente que os humanosalguma vez usaram. Decidi medir o seu espectro dentro da amplitude donosso filtro monocromático que era apenas de 1100 nm. Depois demedir o espectro foi apenas trabalho teórico. Arranjei alguns livrossobre esta lâmpada e investiguei os detalhes da teoria, as fontes de luz ea luz na lâmpada de Sódio e tentei descobrir o que podia ser feito nestaárea e o que é que ainda nos faltava descobrir. Então tive a ideia quetalvez pudéssemos torná-la mais eficiente usando hot mirrors.

Daniel: Como é que os hot mirrors estão

relacionados com as lâmpadas de sódio?

Maja: Os hot mirrors são usados em ciência. No entanto descobri nainternet meramente por acaso que eles estavam a ser usados em máquinas

fotocopiadoras. Quando se tira uma fotocópia opapel deveria arder, mas isso não acontece. O papelnão arde porque existe um hot mirror lá no meio querejeita a parte infravermelha do espectro e deixapassar apenas as frequências do visível. Portanto,esta energia do espectro infravermelho voltaria paradentro da lâmpada e poderia ser utilizada para maistransições no espectro visível e infravermelho.

Daniel: Tiveste uma ideia e depois?

Maja: Depois telefonei para uma loja perto da minha casa que tinhauma espécie de caixote do lixo de máquinas fotocopiadoras e elesindicaram-me um sítio onde reparavam máquinas fotocopiadoras.Telefonei-lhes e eles disseram-me “Podemos dar-te uma porque o arranjofica muito caro e a íamos deitar fora”. Fiquei com a máquina, arranqueio hot mirror, que na verdade não era grande coisa. Isto foi há cerca deum mês atrás, portanto não tive muito tempo para investigar a fundoeste material. É um trabalho em progresso.

Daniel: Mas tu tiveste patrocínio da Phillips,

certo?

Maja: Sim. Depois de ganhar o prémio com este trabalho dirigi-me àPhilips e apresentei-lhes o que tinha feito e a ideia. Eles ficarammuito entusiasmados e disseram “Claro que te podemos patrocinar.Não há problema nenhum. Nós podemos dar-te algum dinheiro.”

Daniel: A Phillips era o teu primeiro objectivo?

Maja: Não. Foi ideia do meu patrão. Eu telefonei-lhes e eles aceitaramimediatamente.

Hugo: Quando decidiste apresentar uma palestra

no ICPS, estavas a pensar em ganhar ou era só

pelo prazer de mostrar o teu trabalho aos teus

colegas estudantes de Física?

Maja: Na verdade estava a pensar na experiência de dar uma palestra.

Hugo: Nunca tinhas dado uma palestra antes?

Maja: Dei algumas palestras na minha Universidade, mas isso era emcroata e em frente a pessoas que conhecia. Somos muito poucos naminha Universidade... portanto é uma atmosfera completamentediferente.

Daniel: Qual é o teu objectivo? Onde queres

chegar?

Maja: O objectivo é conseguir uma lâmpada mais eficiente. Isto querdizer gastar menos energia obtendo a mesma quantidade de luz.

Hugo: Quanto mais eficiente?

Maja: Bem, pelo menos 10%. Mas provavelmente 25% ou mesmo 30%.

Hugo: Hoje em dia é quanto? 65%?

Maja: Não. Bem, 65% do espectro está na região do visível. O resto estáno infravermelho. Portanto, 35% é perda total e com o meu trabalhoobter-se-ia cerca de 95% de energia útil.

ENTREVISTA

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Hugo: Da última vez que o entrevistámos, estava atrabalhar em sistemas que se assemelham a núcleos.Isso foi há 3 anos atrás. O que tem feito desde então?

Prof: Tenho pas-sado talvez maisde metade domeu tempo atentar percebermelhor a Mecâ-nica Quântica.Estou a trabalharoutra vez com omeu velho cole-ga Aage Bohr eum jovem cole-

ga dele. Estamos a tentar perceber sobre o que é na verdadea Mecânica Quântica, de onde vêem as equações e porquetêm aquelas formas estranhas. É um campo muito excitante,encontrámos novas formas de o entender bastante interes-santes.

Hugo: Hoje em dia há várias áreas em que a Química,Biologia e Física interesectam os seus caminhos de estudo.No entanto, considera que existem ainda fronteiras bemdemarcadas entre a investigação nessas ciências, oueste conceito de separação está definitivamenteultrapassado?

Prof: Acho que há maneiras diferentes de pensar sobre asmatérias e é útil combiná-las. Algo do tipo destes campos:“The cold atoms” - envolveu Física Atómica, Física Molecular,(até a Física Nuclear pode reflectir sobre o assunto) Físicada Matéria Condensada, Física Estatística, tudo isto énecessário e portanto uma pessoa que venha de uma destasáreas deve fazer algo bastante útil mas precisa também deser capaz de perceber os outros e trabalhar com eles.Portanto surge uma necessidade de maior conhecimentoentre os campos. Mas acho que as pessoas que aprenderamalguma coisa dos núcleos podem de facto ajudar a perceberalgo que não seria tão óbvio para alguém que viesse deFísica da Matéria Condensada.

Hugo: Considerando essa cooperação crescente entreciências, acha que os cursos universitários em Física,Química e Biologia devem ser reestruturados de maneiraa reflectir mais essa interdisciplinaridade? Ou ainda éimportante que um futuro cientista se especialize primeironuma dessas áreas?

Prof: É uma pergunta díficil e estou inclinado a pensar queé uma boa ideia para as pessoas de Física aprenderemalguma Física e depois, podem então aprender a falar combiólogos, químicos, astrónomos. Há uma vantagem emaprender os modos de pensamento no tipo de ligaçõesimplícitas no mundo da Física. Mas, tenho de admitir quetenho dúvidas acerca da questão. Outras pessoas podem

discordar, mas acho que numa situação institucional existemquantidades limitadas de tempo e recursos e devia haveralgum tipo de focalização. A possibilidade de fazercontribuições numa perspectiva geral deveria ser uma missãoimportante, mas é algo tornado possível por uma formaçãosólida numa determinada área.

Catherine: Neste momento há muitos países europeusque estão a considerar reduzir o período de estudo. Achaque condensar todo o conhecimento fundamental numcurso de 3 anos é prejudicial para o desenvolvimento daFísica como um todo?

Prof: Sim. Acho que sim. Acho que requer algum tempo euma pessoa deve ter um espaço na vida em que possa ir auma palestra sobre Biologia se estiver interessado ou falarcom alguém de uma área completamente diferente comoEconomia ou algo do género. Ter exames/testes de 3 em 3semanas não é uma boa maneira de formar pessoas que seespera que sejam capazes de pensar sobre problemas deFísica e trazer novos conhecimentos.

Catherine: Nós temos cursos de 3 anos e depois bastantesalunos britânicos vão fazer um estágio numa companhia.Acha que isso está a tornar díficil para as intituiçõesacadémicas manter as pessoas depois de terem feito ocurso básico?

Prof: Tenho de admitir que não sou muito versado emassuntos institucionais que envolvam isso. Tenho tido umavida bastante priveligiada, tenho feito a investigação quequero e o contacto com os jovens tem sido bastante esti-

mulante. Con-sigo ver que háperigo para asUniversidadesem conseguirmanter as pes-soas interes-santes. Seriamuito mau se osmelhores sesentissem ime-d i a t a m e n t eatraídos pelossalários altos.

Catherine: E finalmente, referiu noutra entrevista há algunsanos atrás que estava ansioso para se dedicar mais aoensino. Queríamos saber se sempre conseguiu e se estavaa gostar.

Prof: Na verdade eu ensino um curso de pós-doutoramento.Vou dar algumas palestras aqui no final de Outubro e deialgumas palestras semelhantes num curso de verão há unsanos atrás e gostei muito.

Pulsar à conversa com Ben Mottelson

Entrevista ao Prof.

Ben Mottelson no ICPS 2003

O Prof. Mottelson deu uma palestra no ICPS sobre os condensados deBose-Einstein. O Pulsar estava lá e, juntamente com o jIAPS(journal

of the International Association of Physics Students), entrevistou-o.A entrevista foi preparada e conduzida por Hugo Patrício e Catherine

Gardner(editora do jIAPS).

ENTREVISTA

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A (DES)MODULAÇÃO EM

AMPLITUDE - A.M.Por Jorge Miguel Vieira

O rádio é, hoje em dia, um meio de comunicação que inunda o dia-a-dia.De manhã pode animar o espírito, no carro distrai-nos dos apitos constantespor não arrancarmos logo na mudança ao sinal verde (especialmente em Lisboa!)e é uma fonte quase inesgotável de informação. Enfim, algumas vezes, quasenão conseguimos viver sem aquele aparelho misterioso que deita para fora osom que parece ter ali mesmo as suas origens. Mas que mistérios encerra

aquela caixa preta? É o objectivo desta pequena exposição desvendar algunsdos seus segredos mais simples.

A Modulação em Amplitude

Considere a onda sonora representadaesquematicamente na fig. 1 (a) Inicialmente, pode se pensar em enviar directamenteesta onda para um microfone, que seguiria em seguida parauma antena transmissora, que geraria ondas electromagnéticascom a mesma forma. O sinal seria então recebido por umaantena receptora. Seguidamente, aquando a recepção, umprocesso de descodificação teria lugar e, por fim, apareceriaum som nítido em altifalantes.

Este processo não é de forma alguma viável. Dado odomínio de frequências que os nossos ouvidos captam,poderia ser necessária uma antena receptora gigante (dezenasde metros de comprimento) para que algum sinal pudesse ser induzido na mesma. Por outro lado, aatenuação das ondas assim transmitidas seria imensa e a possibilidade de se terem vários canais de rádioseria excluída. É neste momento que surge a necessidade de modular em amplitude o sinal representadona fig. 1(a). Daqui vem a terminologia AM – Amplitude Modulada. Uma das desvantagens, se não aprincipal desvantagem da modulação em amplitude, consiste na sensibilidade do sinal a perturbações

externas. Por exemplo, as gotas de chuva podemintroduzir alterações importantes na amplitude do sinalmodulado, o que se traduz numa qualidade deficienteda recepção. A Modulação em Frequência –FM- evitaeste tipo de sensibilidade. Neste modelo o sinalmodulado tem uma frequência tanto maior quantomaior a sua amplitude inicial. A sua amplitude é entãoirrelevante, resultando numa menor sensibilidade do sinala perturbações como as produzidas pelas gotas dechuva.

O processo de modulação em amplitude permite assim uma recepção relativamente clara comuma antena de tamanho razoável.

A forma geral de um sinal AM é

[ ] (1) )2()( tfCostmfa pπ∗+onde f(t) o sinal sonoro a ser modulado e f

p a frequência do máxima do sinal modulado. A constante a é

escolhidada de forma ao sinal (1) ser sempre positivo: ( ))(. tfmMaxa > . Na fig.1 (b) encontra-se

representado o sinal da fig. 1 (a) modulado em amplitude.A geração de sinais AM é muito simples e pode ser realizada mediante o circuito representado na fig. 2.Consideremos os primeiros termos da série de Taylor da função v

0(v

i(t)) de um díodo:

(2) )()()( 2 tvtvtv iio βα += ,

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onde α e β são constantes. Substituido )2()( tfCostf cπ+ em (2) obtemos para v’o(t) a seguinte expressão:

2()()2()()( 222' fCostmftfCosatmftv ppo παβπβα +++=

Adicionalmente, se fizermos passar vo(t) por um filtro passa banda centrado em ±f

p obtemos

uma expressão semelhante a (1):

[ ] (4) )2()(.)2/(2)( atfCostfmtv po πβαβ ∗+=

Para dar uma grandeza para as quantidades utilizadas: a banda de frequências de uma onda AMHi-Fi situa-se entre 20Hz e os 20Khz e a frequência portadora do sinal encontra-se cerca de uma ordem degrandeza acima do sinal transmitido.

Na fig. 4 encontra-se o espectro de frequências antes (a) e depois (b) da modulação. Paracompreender como se chega ao mesmo transformemos algebricamente o sinal (1):

[ ] [ )(2

1)()( tititi

pppep etmfaeaetCostmfa ωωωω − +++∗=∗+

Tendo em mente a seguinte propriedade das Transformadas de Fourier(TF):

( ) ( )( ) ( ) /)(F1

/)()(1

)( αβωα

αβωαα

αβ −≡−= tftfe ti FF

chegamos à conclusão que a TF de (5):

[ ] [ ()(2

)()(2

))(( eppi

matv ωωωωωδωωδ +−+++−= FFF

é uma translação por ≤fp da TF de (1).

A Desmodulação

Tem-se assim concluída a parte que constitui modulação do sinal. Surge neste momento a questãode como desmodular o sinal da fig. 1(b) de tal forma a podermos recuperar o sinal original. O processo dedesmodulação é semelhante ao de modulação.

A uma antena, que recebe uma mistura de sinais do tipo da fig. 1(b), encontra-se ligado umpequeno circuito constituido por uma bobine e um condensador variável ligados em paralelo, com afunção de selecionar uma parte específica do sinal induzido na mesma. O circuito é, de facto, um filtropassa-banda e à sua frequência central chamamos frequência de ressonância. Esta relaciona-se com ainductância da bobine L e com a capacidade do condensador C da forma seguinte:

(8) 1

2

1

LCfr ∗=

π

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É a função do condensador variável ajustar a frequência de ressonância do circuito para a frequênciaportadora f

p do sinal de rádio. Trata-se assim do sintonizador do rádio. Em série com este circuito encontra-

se um díodo ligado em série a uma resistência e um condensador. Os terminais destes ultimos componentesdefinem o sinal de saída, tal como ilustrado na fig. 3 (a). Na fig. 3(b) encontra-se o resultado deste circuito.Enquanto o sinal de entrada é positivo o condensador carrega. Nos intervalos de tempo em que o sinal v

i

(t) é negativo, o díodo entra ao corte, e o condensador descarrega. No final obtemos uma figura semelhanteao sinal inicial.

De uma perspectiva matemática, o condensador C em paralelo com a resistência R formam umFiltro passa Baixo (passam baixas frequências), cuja função de transferência, i.e., o quociente entre aamplitude do sinal de entrada e o sinal de saída, é:

(9) )/()( 00 ωω += jaSH

onde )/(10 RC=ω .

A modulação em AM trouxe a f(t) uma componente de alta frequência. Torna-se necessário cortaras frequências mais altas do sinal. É neste ponto que entra o filtro passa-baixo. Podemos utilizar a função detransferência (9) para calcular a nova amplitude de cada frequência do espectro dado por (7). Como (9)é tanto mais pequena quanto maior é a frequência, garante-se que apenas a componente do sinal demenor frequência, ou seja, um sinal muito semelhante a f(t), passe intacto pelo circuito. A função do díodoé apenas a de selecionar a parte positiva do sinal modulado.

No fim da desmodulação, existe ainda um pequeno detalhe que impossibilita, em geral, a perfeitarecepção do sinal AM. Caso o rádio não esteja próximo da antena receptora o sinal recebido tem umaamplitude muito pequena. Isto deve-se ao rápido decréscimo da densidade de energia das ondaselectromagnéticas transmitidas. Em geral, a densidade de energia decresce de modo inversamenteproporcional ao quadrado da distância entre as antenas receptora e transmissora. Para ampliar o sinalpode ser utilizada uma serie de AmpOps (que levam inevitavelmente a alguma distorção do sinal) ligadosa uma malha de transistores que amplificam a corrente permitindo a audição do sinal.

Como nota final, um dado curioso. A desmodulação AM é muito simples. A simplicidade tem a suaexpressão extrema na particularidade de uma simples colher poder servir de desmodulador do sinal setivermos muito perto de uma antena transmissora.

Qualquer dúvida, comentário ou crítica para [email protected]

Agradecimentos

A João Nunes Correia (LEFT), Samuel Martins (LEFT), Filipe Cardoso (LEFT), Jorge Santos (LEFT), ClaudioMartins (LEEC) pela sua ajuda na realização global do artigo.A Michael Marti (CFP/GOLP) pelas inumerasdiscussões sobre detalhes da (des)modulação em amplitude.

Bibliografia

• Referencias várias na internet• A.S.Sedra – Microelectronic Circuits, second Edition, 1998

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Em 1996 a NASA e o JetPropulsion Laboratory retoma-ram a exploração de Marte,depois de uma ausência demais de 20 anos, com o MarsGlobal Surveyor (MGS), desti-nado a dar informações acercada topografia, dos minerais edas condições climatéricasgerais do paneta vermelho.Essa missão marcou o início deuma nova fase de interesse poresse planeta, desde há muitofascinante pela sua proximi-dade com a Terra.

Em 2001 teve início o pro-grama Mars Odissey, levado acabo pela NASA com a cola-boração da ESA, cujos princi-pais objectivos são um melhorconhecimento da história clima-térica e geológica de Marte,assim como a procura de águae de condições favoráveis àexistência de vida. Nessa

perspectiva a nave foi dotadade equipamento capaz deprocurar e analisar os elementosquímicos (nomeadamente aágua), os minerais presentes àsuperfície de Marte e tambéma radiação proveniente doespaço. A nave foi lançada nodia 7 de Abril de 2001 de CapeCanaveral, na Flórida, e chegouno dia 24 de Outubro a Marte,em torno do qual está actual-mente em órbita. A missão foiprevista para uma duração dedois anos e meio(terrestres).

A procura de água ede elementos químicos, eo estudo da evolução doplaneta ao longo dotempo estão a ser feitoscom a ajuda de umespectrómetro de raiosgama (GRS) constituídode um sensor de raiosgama e de dois detectores deneutrões. Graças a esteequipamento torna-se possívelavaliar a presença, quantidadee distribuição à superfície ouperto da super-fície do planeta,de mais de vinte elementos,tais como o silício, o oxigénio,o ferro, o magnésio, o potássio,o alumínio, o cálcio, o enxofree o carbono.

A energia, sob forma deraios gama, e os neutrõeslibertados pelos diferenteselementos da superfície deMarte quando atingidos porraios cósmicos, constituem umaespécie de bilhete de identida-de de cada um deles, epossibilitam o seu reconheci-mento pelo GRS. Espera-secom este estudo aprofundar oconhecimento no que respeitaà origem e evolução, passadae presente, de Marte.

A medição da quantidade deneutrões emitidos permitedetectar a presença de hidro-génio até um metro de profun-didade e, consequentemente, ade água (mais geralmente sobforma de gelo), tal como se fezna Lua durante a missão LunaProspector.

MARS ODISSEY: À DESCOBERTA DO PLANETA VERMELHO

A Mars Odissey teve início em 2001 e continua ainda hoje. Mas o que procuramosconcretamente ao explorar os mistérios deste planeta que tanto fez funcionar a

imaginação de escritores, cineastas e do público em geral? E haverá alguma razão paraque a missão ao planeta vermelho tenha surgido justamente nesta altura?

Por Elsa Duarte Abreu

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No que respeita ao estudodos minerais em Marte, está aser usado um sistema destinadoa completar os dados do MGS.O Thermal Emission ImagingSystem (THEMIS) usa novebandas espectrais dentro doinfravermelho e torna possívela identificação de diversosminerais (sulfatos, óxidos,hidróxidos, fosfatos, silicatos),nomeadamente daqueles quese formam na presença deágua.

Para além disso, a experiên-cia tem também como objectivoa realização de mapas ondeserão visíveis os vestígiosdeixados pela presença delíquidos à superfície do planeta.Juntamente com os mapasresultantes das missões Viking(dos anos 70) e do MGS, ainformação topográfica emineral assim obtida vai servirde base à preparação depossíveis expedições a Marte nofuturo.

Outra experiência estátambém a decorrer no contexto

desta missão a Marte: adenominada Martian RadiationEnvironment Experiment (MARIE)usa um espectrómetro paramedir a energia das radiações,provenientes do espaço, àsquais poderão estar submetidosos membros das tripulações demissões interplanetárias. Medi-ções deste tipo já foram realiza-das aquando de outras missõesmas nunca fora do campomagnético terrestre que protegeo nosso planeta de grande

parte dessas radia-ções, perigosas para avida humana.

Afastando-nos ago-ra um pouco dos ob-jectivos da missão edas experiências que aela estão ligadas éimportante notar que adata para a Mars Odis-sey não foi escolhidaao acaso. Na reali-dade, no dia 27 de Agosto desteano, às 9h 51 min (TU), Marteesteve a menos de 55,8 milhõesde quilómetros da Terra, ouseja, mais perto do que tinhaestado durante os últimos 60000 anos, e do que estará atéao dia 28 de Agosto de 2287!

Esta situação excepcional édevida à conjunção de diversosfactores. Um ano em Marte duraaproximadamente o dobro deum ano na Terra e portanto nãoé muito raro Marte estar emoposição, ou seja, na posiçãooposta à do Sol em relação àTerra; se as órbitas dos doisplanetas fossem circulares,

estas seriam as alturas emque Marte estaria maisperto da Terra. Contudo,as órbitas são elípticas, oque implica que a distân-cia Terra-Marte não é amesma a cada um dosseus “encontros” – se Martese encontrar simultanea-mente no periélio, i.e. oponto mais próximo pos-sível do Sol, e em oposi-

ção, então a distância Terra-Marte é mínima... Ou seria, seas órbitas da Terra e de Marteestivessem exactamente nomesmo plano e não ligeira-mente inclinadas uma em rela-ção à outra, como na realidadeestão, e se os outros planetasdo sistema solar (nomeada-mente Júpiter) não influencias-sem também constantementeessas órbitas. Por estas razões,apenas alguns “encontros” en-tre a Terra e Marte, no periélio

deste último, coincidem com dis-tâncias excepcionais entre osdois planetas.

Durante os últimos séculos aórbita de Marte tem vindo aalongar-se de tal forma que asua distância ao Sol é cada vezmaior no afélio e menor noperiélio, o que implica que adistância à Terra aquando daspróximas situações em queMarte estiver simultaneamenteno periélio e em oposição seráprovavelmente menor do quetem sido até agora.

A Mars Odissey, que teveinício em 2001 e se prolongaainda hoje, aproveitando assima altura em que Marte estevemais próximo da Terra nosúltimos 60 000 anos, deveportanto servir para aumentar onosso conhecimento do planetavermelho, e tem a procura deágua, ou de vestígios dela,como um dos seus principaisobjectivos. Mas este tipo demissões traz sempre uma sériede complicações e de pro-blemas técnicos a resolver,problemas esses que estãoligados, por exemplo, às con-dições extremas em que oequipamento utilizado deveestar preparado para trabalhar.A resolução desses problemasexige a colaboração de cien-tistas de todo o mundo, comopor exemplo o Dr. Jens MartinKnudsen, que apresentou umapalestra com esse tema na ICPSdeste ano, na Dinamarca.

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Há quase meio milénio atrás, na aurora dorenascimento, um contemporâneo de Copérnicoe Leonardo observou perspicazmente que osastrólogos são glorificados se dizem uma verdadepor cada cem mentiras, enquanto que os comunsmortais perdem a credibilidade se dizem umamentira entre cem verdades. Apesar de termosindiscutivelmente crescido em conhecimentodesde essa época, a verdade é que nãoaumentámos assim tão espantosamente emesperteza; e o nosso antepassado quinhentistaficaria certamente desolado ao constatar aactualidade do seu epigrama nos nossos dias.

De facto, e apesar da falta de evidênciascientíficas que comprovem a sua validade, aastrologia e os seus embaixadores desfrutam hojede uma popularidade, uma disseminação emesmo um prestígio comparáveis à de muitosramos da ciência, e adaptaram-se notavelmentebem aos tempos modernos, como se podeverificar facilmente contabilizando as páginas deinternet dedicadas ao tema1. Nos nossos dias, émais fácil apontar um dedo acusador a umcientista que errou uma vez, do que desmascararcertos místicos de discurso obscuro queraramente acertam no que dizem, maspermanecem idolatrados – basta pensar nas “pro-fecias” de Nostradamus2 que ocuparam os topsde vendas de livros a seguir ao 11 de Setembro,mesmo depois de ele ter afirmado, de modoinvulgarmente explícito, que o mundo terminariaem 1999…

Uma perspectiva histórica pode ajudar aelucidar a razão deste estado de coisas. Mais oumenos até Galileu, a astrologia conviveuindiferenciada com a astronomia, e comseriedade comparável; até o próprio fundadordo método científico se dedicou a elaborar cartasastrais como meio de financiar as suasinvestigações. Foi despromovida a superstiçãopelos racionalistas iluminados, mas só começourealmente a perder popularidade com o adventoda era industrial e a consequente fé noprogresso. Daí em frente, a crença na astrologiadecaiu continuamente nas sociedadesindustrializadas.

As coisas poderiam ter continuado assim, maso aproximar do ano 2000 e a sua atmosfera new

age, e a insegurança gerada pelas grandesquestões do fim de milénio, foram um terrenofértil para o ressurgir da irracionalidade nassociedades ditas avançadas3. E nos meios menostocados pelo progresso, como certas culturasorientais, a astrologia é uma ferramentaomnipresente em todas as actividades sociais,mesmo entre as camadas cultas. No nosso caso,uma investigação recente levada a cabo peloObservatório das Ciências e Tecnologia revela quea astrologia é considerada “muito científica” ou“científica” por, respectivamente, 30% e 18% dosportugueses, o que a coloca a par da psicologiaou da astronomia!

Por outro lado, esta ascensão coincidiu comuma gradual perda de confiança numa ciência quese tornou demasiado complexa para o cidadãocomum, e uma decadência das religiõestradicionais. A astrologia pode fornecer exemplosdidácticos graças à sua antiguidade e globa-lização, mas, na verdade, é apenas um sintomagenérico para diagnosticar o verdadeiro cerne doproblema: se a sua popularidade em cada épocaé um barómetro da relação entre socie-dade eciência, então no início deste milénio estas estãoa virar as costas.

Uma boa parte da culpa por este estado decoisas pode ser atribuído aos media, na suaqualidade de oleiros das mentalidades. É maisfrequente estes retratarem a ciência como umafaca de dois gumes nas mãos de uma elite nemsempre de confiança, do que como uma aventuraapaixonante de toda a humanidade, cujospraticantes desejam partilhar os seusconhecimentos e emoções. Quando foi a últimavez que viram no cinema a figura dum cientista aservir de modelo? Ou a afirmar que a ciência éuma actividade entusiasmante? Quando foi aúltima vez que ouviram uma criança dizer quequer ser cientista quando for grande?

Além disso, os media servem-nosindiscriminadamente uma salada de ciência epseudo-ciência (superstição disfarçada comtermos e conceitos científicos) que o cidadãocomum tem dificuldade em digerir. É provável quenas estantes de qualquer livraria generalista sejadado o mesmo destaque à divulgação científica

“Quando for grande quero ser feiticeiro, para fazer desaparecer as pessoas”(Eduardo, 7 anos)

Por Gonçalo Figueira

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e aos livros de “ciênciasocultas” e esotéricos quegerminam, oriundos de todos oslugares e de todas as eras. Seligarmos a televisão, a meio de

uma manhã de semana, emqualquer um dos três canaisnacionais de maior audiência, émuito provável darmos de carascom a astróloga de serviço emplenas funções4: elaborarhoróscopos assistidos porcomputador, em directo, a umespectador que está aotelefone, por vezes à espera deconselhos sobre questõesdecisivas para a sua vida. Apresença do computador e decomplicadas cartas astrais fazaparentar que se trata deresultados apoiados pelaciência, e o público escuta coma mesma atenção respeitosaque devota ao médico defamília. Mesmo em talk-shows e“programas do além” em horárionobre, não é difícil encontrar-mos médiuns que comunicamcom outras dimensões, clarivi-dentes que captam as vibrações

moleculares dos objectos,terapeutas que usam energiasarmazenadas em cristais paraharmonizar os seus chakras,crentes em OVNI’s movidos aanti-gravidade através deburacos de verme, hipnotiza-dores instantâneos, astrólogose tarólogos da moda e outrosmísticos, com um discursofrequentemente revestido determos pseudo-científicoscomo “campos energéticos”,“ondas mentais” ou “curasmagnéticas”.

Por outro lado, é preo-cupante como muitas daspessoas cingidas a habitatsacadémicos e intelectuais– como os cientistas –desdenham e menospre-zam estas influências,considerando-as modaspassageiras e socialmenteirrelevantes. Principal-mente se considerarmosque outra parte da culpatem que ser assumida por elespróprios, enquanto protago-nistas e herdeiros da tradiçãocientífica. A sua missão deveser avançar e descobrir, ecomunicar os seus avanços eas suas descobertas aos seuspares, mas também mostraraos leigos porque é que aciência é a melhor respostaque temos para a realidade. Adivulgação científica - ou,talvez melhor, educação paraa ciência - deveria ser umacomponente tão importanteda actividade científicaquanto o ensinar, escreverartigos ou participar em

conferências.

No entanto, há queultrapassar, pelo menos,duas grandes dificul-dades iniciais. A pri-meira é que muitoscientistas tendem aconsiderar a divul-gação científica comouma actividade secun-dária (ou mesmo avil-tante), própria de indi-víduos ociosos em bus-

ca de protagonismo – o queacaba por funcionar apenascomo desculpa para o seu pró-prio conformismo, e demonstraque, no íntimo, a tomam pordivulgação do cientista. Asnovas gerações, provavelmenteatraídas para a ciência graças aalguns dos grandes nomes dadivulgação, saberão dar-lhe odevido valor, e contribuirão paramudar esta mentalidade.

A segunda é considerar quequalquer não-cientista éincapaz de apreender noçõesbásicas de ciência, e que, porisso, não vale a pena o esforço.Não é verdade: as pessoas sãocuriosas e sentem uma neces-sidade natural de compreendero mundo à sua volta. E estãodispostas a escutar alguém quetenha a disposição e a paciên-cia para lhes explicar da melhorforma que souber. Se nãohouver cientistas activamentedispostos a preencher essalacuna, há legiões de pseudo-cientistas – desde os charlatãesoportunistas aos genuinamen-te convictos das suas crenças -prontos para ocupar o seulugar, parasitando e minando oprestígio da ciência, paragáudio dos arautos do relati-vismo pós-moderno (mas isso éoutro assunto…). E se os medianão parecem capazes dediscriminar positivamente,talvez esteja nas mãos dospróprios cientistas intervir paragarantir a sobrevivência do seuprestígio e do seu papel nasociedade. Ora este é que deve

Quod

superius,

sicut

inferius -

metade dos

portugueses

considera a

astrologia

uma área

científica.

Pseudo-ciência e misticismo

nos

media - deseducar o

público

às custas da ciência

"quero ser feiticeiro…"

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ser o verdadeiro objectivo da divulgação:focalizar a curiosidade natural do público emdirecção à ciência, e mostrar-lhe que é umaactividade muito mais interessante – e,sobretudo, que funciona melhor (!) – que apseudo-ciência.

Uma iniciativa recente que decorreu noPavilhão do Conhecimento, em Lisboa, fazprecisamente uso desse direccionamento decuriosidade, de uma forma singularmentedivertida e eficaz. Uma noite por semana, umgrupo de crianças dos 7 aos 10 anos, emindumentária de inspiração potteriana, percorrea “Escola de Feiticeiros” – um conjunto deactividades interactivas onde se demonstramprincípios científicos que quase poderiam passarpor magia, como líquidos que mudam de cor,balões que se enchem misteriosamente usandopoções químicas, ou substâncias que brilham noescuro. No final, encantados com asdemonstrações a que assistiram, recebem umdiploma de feiticeiro mas percebem que não épreciso ser um para realizar coisas espantosas.

A ciência pode não nos deixar usar vassouraspara sair a voar por uma janela mas permite-nos

descobrir o porquê. E, com mais um bocado deesforço, pode-nos ensinar a construir váriosaparelhos que permitem voar e que nos levamaté fora do nosso planeta, a conhecer outrosmundos; a pseudo-ciência nunca passou da erada vassoura e Marte e Júpiter continuam a serapenas esferas simbólicas à deriva na roletafantasiosa do zodíaco. Se houver cientistasinteressados em explicar isto, até uma criançapercebe. E, daqui a outro meio milénio, comcerteza nos estarão gratas.

Notas:

1) Por exemplo, através do Google é possívelverificar que o número de páginas web de Portugalque falam sobre “astrologia” (42 mil) é o triplodaquelas que mencionam “astronomia” (14 mil),e cerca de um terço das que contêm “ciência”(120 mil). Por sua vez, “horóscopo” (67 mil),apesar de abaixo de “física” (90 mil) e“matemática” (71 mil), consegue ultrapassar“química” (50 mil) e “biologia” (24 mil) [valoresde Agosto/2003].

2) Nostradamus deixou-nos ficar as suas“profecias” sobre a forma de vários milhares dequadras metafóricas e crípticas reunidas nasCentúrias, que apresentam a convenientepeculiaridade de só se conseguirem intepretarapós os acontecimentos a que, supostamente,se referem. Na altura, surgiram re-edições ad-hoc das Centúrias com cintas a destacar queNostradamus tinha previsto os atentados emNova Iorque. Sabendo que circulavam quadrastoscamente apócrifas sobre o assunto, escrevi aum dos editores portugueses a fim de perguntaronde exactamente é que estavam tais previsões,mas até hoje não recebi resposta. Como seria deprever…

3) Dois casos paradigmáticos – os EstadosUnidos e a França, respectivamente – sãoanalisados em detalhes nas seguintes obras:

- C. Sagan, “Um mundo infestado dedemónios”, Lisboa, Gradiva – Col. Ciência Aberta(1997)

- G. Charpak, H. Broch, “Feiticeiros e cientistas– o oculto desmascarado pela ciência”, Lisboa,Gradiva – Col. Ciência Aberta (2002)

Além de instrutivos, ambos os livros são deleitura extremamente agradável, e mesmo o leitormais bem informado não deixará de sesurpreender com o conteúdo.

4) As astrólogas chegam a ser disputadas entreestações a troco de salários milionários, ao estilodo futebol. O caso da RTP é particularmentegrave, porque é suposto tratar-se de um serviçopúblico, e financiado pelos contribuintes. Há unsmeses atrás, um grupo de cientistas portuguesesindignados enviou uma carta aberta ao Governoonde sugeria que o dinheiro empregue para dartempo de antena à pseudo-ciência fosse antesinvestido em bolsas para jovens investigadores.Aparentemente, os nossos governantes nãoacharam que tal opção fosse mais proveitosa aum país em que metade dos eleitores consideraa astrologia científica.

A arquetípica árvore do

conhecimento, ou uma

metáfora para o desejo

humano de conhecer mais

além."

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Às vezes tenho a sensação de viver sobreuma bola de algodão doce. Avanço nasruas, como na vida, às apalpadelas, emchão de veludo, caminhando sobre umatoalha que alguém segura pelas pontas.Como quem desce uma escada e calculaque existe mais um degrau do que narealidade há. Vivo aos sustos, sempre àespera do degrau que nunca há antes daqueda. E quem fala de uma escada quedesce não ignora uma que sobe. Sou umasonhadora inveterada, uma ingénuateimosa, uma espontânea incorrigível. Porisso, espero mais do que o melhor, eacabo às turras com os que amo. E depoisimagino tudo. Detesto-me por meantecipar assim aos acontecimentos,porque não visualizo um só caminho, masinúmeras possibilidades, o que abate asurpresa que é o futuro. Não quenormalmente acerte, porém torna-se porvezes difícil distinguir o pensamento doimaginado, o tacto da crença. Reconheçoas minhas limitações mas nem por isso asaceito.

Rute Martins

Por Rute Martins

Um moleiro pretende transportar 100 sacas de trigo, de 100kg cada, de sua casa até o moinho que fica a 100km de distância. Para tal usa um burro que ele sabe não suportar mais de 100 kg de peso. Ora, o problema éque o burro, quando carregado, precisa de ingerir 1 kg de trigo por cada km que precorre. Quanto trigoconsegue o moleiro fazer chegar até o moinho? (As sacas têm peso nulo).

Armando Vieira

a solução aparece no site na próxima semana www.fisica.ist.utl.pt/pulsar

Armando Vieira

Instituto Tecnológico e Nuclear

Estrada Nacional 10, 2685

Sacavem

Email: [email protected]

O número e = 2.71828... é uma das constantesque maior fascínio exerceu sobre os matemáticose os físicos. Talves apenas o número π o ultrapasseem popularidade.

O número e designa-se número de Neper,mas foi o famoso matemático suiço Euler que oestudou intensivamente. Este número têmpropriedades interessantes. A mais famosa é arelação descoberta por Euler, eiπ=-1, e talvez a maisimportante é o facto da derivada da função

exponencial, ex , ser a única que iguala a própriafunção.

A fórmula mais conhecida para obter onúmero de Neper é:

en

n

n

n

n n

n= →∞

+

= →∞ +

lim lim

11

1

Esta nota apresenta um pequeno problema abaixocolocado cuja solução é expressa em termos dee. Por ser um problema com algumas particularidescuriosas, penso que é interessante divulgá-lo.

À Procura do Número e

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