entre fios e cores, mulheres tecem no filé as estratégias de vida

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Alice Oliveira, Cleide Crisostomo, Daniela de Oliveira, Ivanilda da Silva, Luciana Crisostomo de Oliveira, Kátia Maria, Santana Maria de Aquino e Risoneide Marques residem na comunidade Trindade, zona rural do município de Pereiro, região Vale do Jaguaribe, no Ceará. Elas formam o grupo de mulheres do núcleo “Unidas para Vencer”, e fazem da técnica do filé (artesanato) seu de entretenimento e uma hobby renda a mais para o sustento familiar. Entre fios e cores, dedos, olhares e sentimentos entrelaçam-se, dando formas a pequenas peças ornamentais e artigos para cama, mesa e banho. O trabalho artesanal desenvolvido pelas mulheres da comunidade Trindade faz parte de uma rotina histórica na região do Vale, quando, no século passado, mulheres descobriram que com a arte poderiam aproveitar melhor o tempo ocioso e garantir mais renda familiar. Após o período chuvoso as famílias sentavam tecendo a malha, ou a tela, para vender em Jaguaribe, principal sede da atividade na região, onde a arte era finalizada. No ano de 2008, as mulheres de Trindade foram convidadas para participar de um Curso de Capacitação promovido pela Associação dos/as Produtores/as de Artesanato de Pereiro (ASPAPE). Com o curso, elas aprenderam a formar os desenhos na tela, que até então eram vistos como um desafio para a finalização da arte. “Nesse primeiro curso a gente aprendeu muita coisa sobre artes”, conta Daniela, acrescentando que os cursos seguintes proporcionaram conhecimento diversificado e maior aperfeiçoamento. “Em cada curso a gente aprendia uma coisa diferente”, conta Santana, artesã e também coordenadora do núcleo. A partir de então se associaram à ASPAPE, e consolidaram o grupo de mulheres artesãs em Trindade, ao qual deram o nome de “Unidas para Vencer”, e tem como coordenadora Santana Maria de Aquino. O grupo trabalha coletivamente. Quando tem Ceará Ano 6 | nº 991 | Outubro | 2012 Pereiro - Ceará Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Entre fios e cores, mulheres tecem no Filé as estratégias de Vida 1 As peças são tecidas na grade O trabalho coletivo fortalece o grupo

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Alice Oliveira, Cleide Crisostomo, Daniela deOliveira, Ivanilda da Silva, Luciana Crisostomode Oliveira, Kátia Maria, Santana Maria deAquino e Risoneide Marques residem nacomunidade Trindade, zona rural do município dePereiro, região Vale do Jaguaribe, no Ceará. Elasformam o grupo de mulheres do núcleo “Unidaspara Vencer”, e fazem da técnica do filé(artesanato) seu de entretenimento e umahobbyrenda a mais para o sustento familiar.

Entre fios e cores, dedos, olhares e sentimentosentrelaçam-se, dando formas a pequenas peçasornamentais e artigos para cama, mesa e banho.O trabalho artesanal desenvolvido pelasmulheres da comunidade Trindade faz parte deuma rotina histórica na região do Vale, quando,no século passado, mulheres descobriram quecom a arte poderiam aproveitar melhor o tempoocioso e garantir mais renda familiar.Após o período chuvoso as famílias sentavam tecendo a malha, oua tela, para vender em Jaguaribe, principal sede da atividade na região, onde a arte era finalizada.

No ano de 2008, as mulheres de Trindade foram convidadas para participar de um Curso deCapacitação promovido pela Associação dos/as Produtores/as de Artesanato de Pereiro (ASPAPE).

Com o curso, elas aprenderam a formar osdesenhos na tela, que até então eram vistos comoum desafio para a finalização da arte.

“Nesse primeiro curso a gente aprendeu muitacoisa sobre artes”, conta Daniela, acrescentandoque os cursos seguintes proporcionaramc o n h e c i m e n t o d i v e r s i f i c a d o e m a i o raperfeiçoamento. “Em cada curso a genteaprendia uma coisa diferente”, conta Santana,artesã e também coordenadora do núcleo.

A partir de então se associaram à ASPAPE, econsolidaram o grupo de mulheres artesãs emTrindade, ao qual deram o nome de “Unidas paraVencer”, e tem como coordenadora SantanaMaria deAquino.

O grupo trabalha coletivamente. Quando tem

Ceará

Ano 6 | nº 991 | Outubro | 2012Pereiro - Ceará

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Entre fios e cores, mulheres tecemno Filé as estratégias de Vida

1

As peças são tecidas na grade

O trabalho coletivo fortalece o grupo

encomenda se reúne na casa de Kátia, ondediscute sobre as peças e as confeccionam.Outras vezes fazem em casa e se reúnemapenas para discutir o preço. “O trabalho é umaterapia e quando a gente se reúne é melhorainda, uma diversão. É todo mundo juntobordando. A gente faz uma festa”, comemoraRisoneide. .

Além de atender a encomendas, as mulherescostumam fabricar também para vender fora.Geralmente mandam para Fortaleza e SãoPaulo, onde, segundo as mesmas, conseguemvender por um preço melhor, pois em Jaguaribe,onde corriqueiramente é vendido, é bem maisbarato.

Kátia conta que a falta de mercado e recursosfinanceiros para comprar os fios ainda é a maiorbarreira enfrentada. Às vezes têm peças e não conseguem vender, outras vezes, têm encomenda e nãotêm fios para fabricar as peças. “Não temos capital de giro e nem um local fixo de venda. Muitas vezesficamos paradas. Por conta da falta de dinheiro compramos o fio do atravessador e isso encarece omaterial”, lamenta Daniela.

Mesmo diante desses desafios, elas reconhecem os benefícios que o trabalho vem trazendo. “Melhoroumuito a nossa renda. Tem mês que apuramos mais de 150 reais. Não é o ideal, mas já contribuembastante com as despesas de casa, que antes eram pagas apenas com o Bolsa Família - benefícios doGoverno Federal”, comenta Kátia.

“Esse trabalho melhorou muito a vida da gente. Com o dinheiro podemos comprar mais alguma coisa.Quando não tinha meu trabalho na tela tudo era mais difícil”, diz Ivanilda, a Nana, como é conhecida pelacomunidade. Outro benefício apontado pelas mulheres é a solidariedade e a coletividade com quedesenvolvem o trabalho. “Quando uma não tem fio, quem tem, compartilha do seu”, evidencia Cleide.

A expectativa é que o trabalho seja mais bem reconhecido e consigam outros cursos para aprimorar aarte. “Temos muita vontade de crescer enquanto artesãs, e que através dessa associação a gente sejabeneficiada com cursos, e que apareça mais encomendas para ter mais trabalho”, almeja Santana.

Elas acreditam que com aAssociação poderão conseguir banco de fios e fazer exposições para divulgarmelhor o trabalho, além de incentivar outras pessoas a trabalharem em equipe, desenvolvendo oespírito de solidariedade para melhor conviver na região. “O trabalho coletivo favorece a troca deconhecimento. Uma pessoa sozinha não vai muito longe, com outras é possível, porque a união faz aforça”, Daniela.

História - De acordo com a história, o filé é um tipo de artesanato que surgiu há 200 anos, em Alagoas.Começou pelas mulheres como imitação das redes de pescadores. Quando os homens saiam parapescar elas ficavam em casa e depois das atividades domésticas começavam a trabalhar. Em Pereiro,não é diferente, o trabalho é realizado também pelas mulheres ao terminarem os afazeres de casa.

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Tela pronta para ser bordada

Boletim Informativodo Programa Uma Terrae Duas Águas Ceará

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