entre a fotografia, o cinema, o vídeo e as novas mídias

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Passagens das imagens entre a fotografia, o cinema, o vídeo e as novas mídias Antonio Fatorelli Projeto de pesquisa

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Passagens das imagens entre a fotografia, o cinema, o vídeo e as novas mídias

Antonio Fatorelli

Projeto de pesquisa

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1

Sumário

1. Apresentação ------------------------------------------------------- p. 2

2. Objetivos gerais ------------------------------------------------------- p. 8

3. Objetivos específicos ------------------------------------------------------- p. 9

4. Justificativa ------------------------------------------------------- p. 10

5. Metodologia ------------------------------------------------------- p. 17

6. Bibliografia ------------------------------------------------------- p. 20

7. Cronograma ------------------------------------------------------- p. 25

8. Impacto para o desenvolvimento do PPGCOM/UFRJ -------------- p. 25

1. Apresentação

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A disseminação de novos formatos das imagens e as sobreposições entre as

formas visuais serão aqui consideradas desde a perspectiva das hibridizações entre as

imagens fixas e as imagens em movimento, em especial as novas modalidades de

temporalização das imagens surgidas a partir do vídeo e das tecnologias digitais. Por

um lado, as fotografias se expandem, se animam, comportando configurações

imprevistas, em manifesta indiferença às convenções tradicionalmente associadas ao

meio. Por sua vez, o cinema ganha versões para as galerias e museus, onde são

frequentes as projeções em múltiplas telas e a criação de relações temporais paradoxais,

de interrupções e de retardos no transcorrer das imagens, de modo igualmente original.

Nesse território de negociações recíprocas entre as imagens estáticas e as imagens em

movimento, emergem modalidades singulares de inscrição temporal, referidas às

experiências da duração, da simultaneidade e da ubiquidade, irredutíveis às definições

convencionais da fotografia instantânea e do cinema narrativo clássico.

Fotógrafos e cineastas não pararam de produzir, desde os primórdios da

fotografia e do cinema, essas situações limiares e paradoxais, pelo menos no enfoque da

definição convencional. Ao longo de toda a história da fotografia e do cinema, obras

relevantes foram produzidas sob o signo das influências recíprocas entre as imagens

fixas e as imagens em movimento. Fotógrafos – Paul Strand, Man Ray, William Klein,

Robert Frank, entre outros – e cineastas, desde os Lumière – Eisenstein, Dziga Vertov,

Abel Gance, Walter Ruttman, René Clair e Jean Epstein, entre eles – produziram

fotografias e filmes em que são evidentes as influências recíprocas entre os meios,

promovendo uma dinâmica de assimilações e de contágios entre os dispositivos

imagéticos, que viria a ser posteriormente ampliada pela videoarte e pelos formatos

emergentes das imagens digitais.

Essas influências recíprocas entre as artes mecânicas resultou, nas últimas duas

décadas, em um corpo significativo de trabalhos situados na interseção entre as imagens

fixas e as imagens em movimento videográficas e cinematográficas. Diversos artistas,

entre eles Alain Fleischer, Rosângela Rennó e David Claerbout, criaram trabalhos com

fotografias projetadas e mobilizaram os mais diferentes dispositivos com o intuito de

conferir fluidez às imagens fixas, ao passo que inúmeros realizadores, como Bill Viola,

Douglas Gordon e Thierry Kuntzel, promoveram a aceleração, o retardo ou o

congelamento da imagem móvel, de modo a problematizar a concepção convencional do

dispositivo cinematográfico e do fotograma.

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A ultrapassagem das fronteiras entre as formas de expressão propicia o

enfrentamento simultâneo de algumas proposições chaves sobre o papel do espectador

contemporâneo. A percepção das reconfigurações das imagens fixas e das imagens-

movimento no atual contexto de hibridização encontra-se diretamente associada aos

modos de observar e de experimentar as imagens na atualidade. Situadas nesse lugar

intermediário, essas imagens limiares solicitam uma experiência inaugural por parte do

observador, frequentemente solicitado a expandir as suas habilidades perceptivas e

cognitivas. Impuras, miscigenadas, elas provocam um estado de hesitação no

observador, uma vez manifesta a sua incapacidade para decidir de antemão a que

sistema de mídia pertencem.

Do ponto de vista do espectador, importa indagar se a sua experiência com as

imagens proporciona a expansão da sua capacidade de afecção, seu modo próprio de

perceber o mundo e de se sensibilizar. Em se tratando do modo de existência das

imagens, e das imagens tecnológicas em especial, tal indagação desdobra-se em uma

outra inquietação, a de se inferir até que ponto as inovações tecnológicas – e a

emergência da cultura digital – originam modelos de percepção e de cognição

concernentes a um tipo de atitude crítica e participativa própria da contemporaneidade.

No momento atual, as fotografias apresentam-se, muitas vezes, de forma

processual, no curso de uma duração, frequentemente projetadas em vídeo, como na

instalação Postcards, de Lucas Bambozzi, outras vezes sobrepondo vários estratos

temporais, como na série Theaters, de Hiroshi Sugimoto, e nas surpreendentes

fotografias de longa duração de Michael Wesely. Também o cinema experimenta

mutações substanciais, estabelecendo novas relações com a arte ao migrar das salas

tradicionais de exibição para as instituições tradicionais da arte. Transição que resulta,

comumente, na projeção do filme em múltiplas telas e na assimilação das retóricas do

vídeo e da imagem digital.

André Parente empregou a expressão Forma cinema (PARENTE, 2012: 37), para

identificar o modelo hegemônico do cinema narrativo e linear, e chamar a atenção,

‘para uma série de experimentações com o dispositivo cinematográfico que foram

completamente recalcadas pela história do cinema’, como o cinema de atrações, o

cinema expandido e o cinema de museu. De modo semelhante, a história da fotografia

encontra-se marcada por um modelo hegemônico, caracterizado pelo estatuto da

imagem direta e instantânea, que podemos nomear de Forma fotografia, igualmente

acompanhado de inúmeros movimentos nem sempre legitimados, como a fotografia

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pictorialista, a produção fotográfica das vanguardas históricas e as recentes

configurações híbridas e temporalmente complexas da fotografia.

Estaremos especialmente atentos às obras produzidas sobre o signo da

experimentação: elas terminaram por expandir as noções historicamente estabelecidas

acerca do que são, ou do que deveriam ser, as imagens fixas e as imagens móveis, no

âmbito técnico, estético e conceitual. Exatamente porque atravessam os campos

tradicionalmente associados a um meio específico, as obras aqui discutidas encontram-

se frequentemente nesses territórios negligenciados pela Forma fotografia e pela Forma

cinema. Uma vez abordados de modo relacional, evidencia-se uma trajetória de

contaminações mútuas entre fotógrafos e cineastas, de fotógrafos que trabalharam na

fronteira da imagem-movimento e de diretores motivados pela lógica das imagens fixas,

numa trajetória de contínua reinvenção dos dispositivos fotocinemáticos.

Os diferentes modos de inscrição do tempo, diretamente relacionadas às

modalidades de participação do observador, destacam-se como o denominador comum

dessas obras e, do ponto de vista teórico, encerram a problemática central do projeto.

Diversas imagens do tempo – tempo intensivo, tempo bifurcado, tempo paradoxal,

tempo complexo, tempos simultâneos –, foram empregadas com o intuito de descrever

os efeitos, muitas vezes desestabilizadores, proporcionados pelas narrativas não-

lineares e pela inscrição processual da imagem fixa. Por um lado, essas figuras do

tempo – em confrontação com a concepção cronológica, linear e divisível –, comportam

sobreposições e atravessamentos entre diferentes estratos temporais, demonstrando-se

especialmente apropriadas à apreciação das configurações híbridas entre o cinema e a

fotografia. E, de modo ainda mais incisivo, nesse momento transicional marcado pela

convergência tecnológica, essas concepções temporais parecem encerrar a própria

lógica constitutiva dos híbridos foto-cine-vídeo-digitais. Por sua vez, no âmbito

conceitual, essas concepções temporais encontram correspondência nas formulações de

Gilles Deleuze sobre o cinema moderno, caracterizado pela imagem cristal, uma

imagem direta do tempo, que dá a ver o tempo puro, na sua perpétua bifurcação entre

um presente que passa e um passado que se conserva (DELEUZE, 1990: 102).

Diante dos novos estados da imagem facultados pelas tecnologias eletrônicas e

digitais, priorizaremos o estabelecimento dos nexos com os movimentos historicamente

relevantes da fotografia e do cinema, destacando as linhas de continuidade, mais do que

as supostas relações de ruptura, com as formas analógicas precedentes. Por sua vez,

relativamente às modalidades singulares de experiência sancionadas pelas

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características modular e fractal do código digital, buscaremos ressaltar a atual

condição do espectador, mais participativo e fisicamente envolvido sem, contudo,

atribuir a essas inflexões o papel de ruptura com os modelos históricos de observação.

Privilegiaremos a releitura e a valorização dos híbridos modernos como uma

estratégia suplementar à lógica dos discursos de legitimação das novas mídias,

frequentemente articulados de modo a condicionar os processos de hibridação ao

digital. Abordaremos a fotografia e o cinema desde o ponto de vista das relações

complexas entre o estático e o movimento, entre a temporalização da imagem fixa e a

alteração da velocidade regular da imagem em movimento, a partir das contribuições

teóricas de Raymond Bellour, Philippe Dubois, Lev Manovich e Roland Barthes e,

igualmente relevante, em referência aos trabalhos fotográficos e cinematográficos das

vanguardas históricas, aos filmes de Andy Warhol e às obras de artistas

contemporâneos, como Jeffrey Shaw, Douglas Gordon, David Claerbout, Abbas

Kiarostami e Thierry Kuntzel. A nossa pesquisa parte desse cenário histórico e

conceitual para, em uma abordagem pontual, voltar-se particularmente à produção dos

artistas latino-americanos, entre eles Lucas Bambozzi, Rosângela Rennó, Giselle

Beiguelman, André Parente, Rejane Cantoni, Leonardo Favio, Marcello Mercado,

Iván Marino e María Paz Encina.

Ao contrário das obras dos artistas do hemisfério norte, objeto de uma extensa

bibliografia e do amplo reconhecimento por parte da crítica, a produção latino-

americana encontra-se dispersa e, frequentemente, destituída de visibilidade. No

conjunto, os trabalhos desses artistas funcionam como instâncias dinamizadoras e, por

vezes, ativadoras das relações tópicas engendradas pela sobreposição de mídias no

contexto dos ambientes socioculturais latinoamenricano, singularizados por uma

radical assimetria tecnológica no interior dos próprios territórios nacionais.

As passagens e os movimentos entre as imagens proporcionam a emergência

de novos modos de encadeamento, de interrupções, de retardos e de acelerações,

alterando significativamente as margens de indeterminação do sujeito e o seu domínio

afectivo. Defrontado com estas imagens incertas e com esses movimentos

improváveis, como identificou Dubois (DUBOIS, 2003: 4), na impossibilidade de dar

conta dessas experiências estéticas unicamente a partir das suas convicções

pressupostas e dos seus hábitos perceptivos, o observador é solicitado a empreender

um trabalho interno de assimilação, tão incerto e imprevisível quanto as imagens com

que se defronta. Uma disposição física e psíquica do espectador, ele mesmo

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confrontado com os pressupostos da variabilidade, da instabilidade e da

multiplicidade proporcionada pela dinâmica de atravessamento das imagens.

As recentes inovações tecnológicas são muitas vezes mobilizadas com o

intuito de expandir o hiato entre percepção e ação, potencializando a importância do

corpo na experiência estética. Nas condições de instabilidade e de quase

imaterialidade das imagens contemporâneas, o corpo e os processos propioceptivos

são convocados a suplementar esse déficit de substancialidade – ausência de suporte

estável, projeções randômicas –, ele mesmo instado a participar de modo criativo nos

processos de aquisição perceptiva e cognitiva.

Algumas relações apresentam-se significativamente alteradas no contexto atual,

a ponto de provocarem uma reconfiguração das relações entre imagem e observador.

“Sabe-se que, na terminologia moderna, a noção de limiar define a intensidade mínima

para que um estímulo possa suscitar uma resposta ou uma sensação. Ainda que esta

noção permaneça válida do ponto de vista fisiológico, ela remete a um tipo de

investigação que supõe limites claros entre diferentes tipos de estímulo e de resposta,

entre sujeito e objeto, percepção e ação” (FATORELLI e BRUNO, 2006: 13). O atual

status da imagem técnica contemporânea emerge nesse momento no qual não é mais

possível distinguir claramente esses dois polos segregados no espaço e

constitutivamente diferentes, que tradicionalmente demarcaram limiares perceptivos

estáveis.

Certamente, não está em jogo, nesse momento transicional, a perda do real ou

da referência e, muito menos, a disseminação de um tipo de visão abstrata e

desencarnada. Ao deslocar a imagem do seu contexto espacial e temporal de origem,

como definiu Benjamin, ou ao subordiná-la a uma dimensão crescentemente

maquínica, as tecnologias imagéticas recentes não produzem uma imagem de natureza

puramente mental, alucinatória ou dissociada do real, e nem tampouco reconfiguram a

visão em um plano fora do observador humano e sem referência ao mundo real.

Convém, de modo bem diverso, perceber as mudanças processuais e perceptivas

proporcionadas pelas transformações técnicas implementadas desde a modernidade,

em especial, a nova lógica de criação e de circulação das imagens inauguradas pela

fotografia e pelo cinema e, mais recentemente, pelas tecnologias eletrônicas e digitais.

Tais mudanças estão reencenando os modelos realistas e, simultaneamente, ampliando

o poder produtivo do corpo no processo de aquisição perceptiva. Mais especificamente,

trata-se de considerar o modo como os dispositivos híbridos do cinema-vídeo-digital

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reafirmam, em várias instâncias, os códigos e as convenções realistas historicamente

associadas ao modelo de representação analógica e, por outro lado, ressaltar como

esses mesmos dispositivos são mobilizados por diferentes artistas que investem em

uma estética háptica enraizada na afectividade do corpo.

O trabalho de identificação dos pontos de continuidade entre as formas

híbridas modernas e contemporâneas, um campo de investigação especialmente

sensível nesse momento de passagem generalizada para a cultura digital, tem o

sentido de destacar a importância das práticas modernas intertextuais, inclusive a sua

influência no desenvolvimento da estética contemporânea. Lev Manovich enfatiza

essa relação ao inferir que “um dos efeitos gerais da revolução digital é o fato de que

as estratégias estéticas das vanguardas históricas foram incorporadas aos comandos e

às interfaces metafóricas dos programas de computador. Em resumo, as vanguardas

foram materializadas no computador” (MANOVICH, 2001: 15). Entretanto, cabe

apontar, simultaneamente, as singularidades das mudanças em curso, sobretudo as

novas possibilidades expressivas proporcionadas pela emergência das tecnologias

imagéticas emergentes.

Uma diferença relevante entre o moderno e o contemporâneo é a de que a

produção moderna inscreve-se no interior de uma dialética de oposições excludentes,

muitas vezes fixada em referência a um modelo idealizado, enquanto atualmente

prevalecem as associações, as superposições e as interseções de imagens e de mídias,

sem que se possam demarcar campos antagônicos ou determinações hierárquicas.

A fixação das distribuições hierárquicas, consagradas pela forma fotografia e

pela forma cinema, impõe um duplo corte: uma cisão relativamente aos movimentos

das vanguardas históricas e a reconfiguração dos lugares relativos dos movimentos

precedentes, como o pictorialismo e o cinema de atrações, que passam a ser

dimensionados negativamente, a partir de uma concepção evolutiva, técnica e formal

do meio. Essa mesma lógica irá prevalecer em outros dois momentos posteriores da

história dos dispositivos imagéticos de matriz tecnológica. Nas décadas de 1950/1960,

época que coincide com o esgarçamento de alguns dos critérios valorativos essenciais

do modelo convencional e, mais recentemente, nos anos 80/90, uma conjuntura em

que se estabelecem novos trânsitos entre as imagens, favorecidos pelos dispositivos

eletrônicos e digitais.

A identificação dessas quatro fases cruciais na trajetória da fotografia e do

cinema distingue quatro conjunturas em que os discursos críticos e as práticas

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artísticas encontraram-se em flagrante disputa de legitimidade. Tanto no âmbito da

arte quanto nos circuitos da crítica e do pensamento teórico, é recorrente

encontrarmos uma atitude de acolhimento ou de ceticismo relativamente a essas

conjunturas decisivas.

Uma outra distinção refere-se aos modos de temporalização da imagem. A

crença no progresso material e nas utopias políticas promoveu, até o entreguerras, um

fascínio pela velocidade que encontrou nos dispositivos imagéticos de última geração

um potente aliado. Por sua vez, principalmente a partir dos anos 1950, acompanhamos

o desenvolvimento, principalmente entre cineastas e artistas experimentais, de uma

estética do lento e da desaceleração.

O trânsito das imagens e entre as imagens inaugurado pela mobilidade da

fotografia e expandido pelas tecnologias imagéticas eletrônicas e digitais estabelecem

novas dinâmicas entre a obra e a sua percepção, da ordem da mutabilidade, que nos

permitem, como observa Jorge La Ferla, ‘revisar a história dos meios audiovisuais’(LA

FERLA, 2009: 29). Nossa tese é a de que essas reconfigurações produzem

deslocamentos significativos, sem entretanto promoverem uma ruptura na relação

histórica entre o observador e a imagem.

2. Objetivos gerais

De modo a dimensionar a extensão destas mutações estabelecemos um percurso

de pensamento que se inicia com a identificação das características inerentes ao

fotográfico e ao cinematográfico, complementada por algumas questões relevantes

relativas ao espectador para, a seguir, abordar as singularidades da cultura digital no

âmbito dos trabalhos multimídia realizados na américa latina ao longo das últimas três

décadas. O fio condutor dessa trajetória é a tese de que o repertório destas novas

imagens confirmam, desde as suas origens, a temporalidade complexa da fotografia e do

cinema, propiciando o surgimento, no contexto das representações figurativas, de novas

modalidades de participação do corpo. Uma trajetória, portanto, de assimilações e de

contágios com a codificação analógica.

A partir dos pressupostos teóricos e estéticos apresentados, iremos repertoriar e

analisar uma série de obras multimídia com base na fotografia e do cinema e, igualmente,

obras destinadas a espaços imersivos virtuais, criadas por artistas latinoamericanos, que

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apresentam uma temporalidade complexa e que mobilizam a participação corpórea e a

percepção háptica do observador.

Retomando as proposições de Bergson, observamos que as imagens eletrônicas e

digitais, como também as imagens fotográficas e cinematográficas, podem solicitar a

colaboração produtiva e criativa do corpo, de modo a aumentar as margens de

participação e de afectibilidade do centro de indeterminação. No campo da arte, o que se

apresenta relevante é a intensificação da experiência estética, irredutível à infraestrutura

técnica ou à especificidade dos suportes. As formas híbridas decorrentes do atual trânsito

das imagens e entre as imagens, as assimilações, sobreposições e atravessamentos entre

fotografia, cinema, vídeo e imagem digital suscitam, no cenário contemporâneo, novas

dinâmicas entre a obra, o corpo e o pensamento, da ordem do estranhamento e da

variabilidade sem, entretanto, provocarem uma mudança de paradigma, ou uma

revolução nos regimes estéticos. Importa, nesse contexto, perceber as alterações

significativas promovidas pela tecnologia digital nos domínios do espectador e da

imagem sem, entretanto, circunscrevê-las às teses da ruptura.

3. Objetivos específicos

• Repertoriar as principais instalações realizadas na américa latina que integram cinema e

fotografia com o intuito de estabelecer uma abordagem crítica-teórica desses trabalhos.

• Estabelecer vínculos institucionais permanentes entre o Grupo de Pesquisa Fotografia,

imagem e pensamento e o N-Imagem – Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Imagem,

ambos da ECO/UFRJ, e o grupo de pesquisa do supervisor, com o objetivo de

problematizar a produção experimental latinoamericana situada nesse cruzamento entre

diferentes mídias.

• Organizar um livro com os artigos redigidos nessa pesquisa, acompanhado de

exposições dos trabalhos comentados, em museus ou galerias, no Rio de Janeiro e em

Buenos Aires.

• Fomentar a integração entre grupos de pesquisa sediados em universidades

latinoamericanas que dialoguem com o recorte conceitual desse projeto.

• Promover o intercâmbio entre programas de pós-graduação, em especial entre o

PPGCOM/UFRJ e o programa de pós-graduação do supervisor, se possível envolvendo a

participação do Professor Jorge La Ferla como professor visitante do PPGCOM/UFRJ,

em 2014.

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4. Justificativa A importância de Bergson para os artistas e teóricos da arte decorre do

reconhecimento e da importância que ele atribuiu ao intervalo entre a percepção e a ação

pragmática. Diferentemente da imagem-ação, que mobiliza os mecanismos sensório-

motores, montados sobre os hábitos adquiridos e os automatismos da percepção, sempre

de modo a prolongar os estímulos recebidos em ações consecutivas, a imagem-afecção

mobiliza a memória pura na criação de uma nova entidade, alterada ou mesmo produzida

de modo mais ou menos autônomo.

Bergson destaca essas duas direções possíveis do trabalho exercido pelo corpo.

Por um lado, quando referido aos automatismos perceptivos e ao hábito, uma vez

defrontado com os desafios de uma ação iminente, o centro de indeterminação se limita a

prolongar os estímulos objetivos recebidos em ação prática. Por outra via, uma vez

desencadeados os processos afectivos, abrindo um hiato entre a percepção e a ação, o

corpo expande a sua margem de indeterminação, deixando entrever o seu papel

produtivo. Estabelece-se, nesse momento, uma relação singular com o virtual, com as

outras imagens mentais e materiais, que vai marcar o conjunto dos elementos envolvidos

nesse circuito.

A condição de indiscernibilidade entre o atual e o virtual dissolve as verdades

constituídas sob o regime das oposições dualistas, de modo a colocar em questão as

formulações difundidas pela opinião corrente. Trata-se, sobretudo, de desviar-se dos

automatismos perceptivos e psíquicos de modo a, uma vez considerado o corpo e suas

instâncias afectivas, conceber as condições de acesso a circuitos mais complexos. Ao

indagar-se sobre a relação entre a percepção e a memória, após concluir que “criamos ou

reconstruímos a todo momento” (BERGSON, 1990: 82), Bergson sublinha que a

percepção atenta, também chamada de percepção reflexiva, funciona como “um circuito,

onde todos os elementos, inclusive o próprio objeto percebido, mantêm-se em estado de

tensão mútua como num circuito elétrico” (BERGSON, 1990: 83), para logo a seguir

complementar que “o progresso da atenção tem por efeito criar de novo, não apenas o

objeto percebido, mas os sistemas cada vez mais vastos aos quais ele pode se associar”

(BERGSON, 1990: 84).

Algumas das mais instigantes proposições inspiradas nas teses de Bergson

fundamentam-se, no campo teórico, na tradição do pensamento deleuziano sobre a

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imagem cinematográfica e sobre o trabalho da arte. Igualmente determinante, a

emergência de novos formatos audiovisuais, amplamente disseminados nas últimas três

décadas, terminaram por reconfigurar os modelos hegemônicos do cinema e das artes

visuais pouco ou nada perceptíveis, pela crítica, até os primórdios da década de 1980.

As teses defendidas por Mark Hansen, uma das mais consistentes nesse contexto

das formas imagéticas emergentes, sustentam-se nessas duas vias. Pretendem reanimar

as proposições de Bergson, principalmente em relação ao papel produtivo desempenhado

pelo corpo e, de modo complementar, introduzir um conceito original de imagem digital,

em um contexto de identificação e de legitimação do potencial inovador das novas

mídias. Esses dois polos se reforçam mutuamente na argumentação de Hansen, de modo

a confirmar a existência de um marco inaugural, a condição singular de nos

encontrarmos atualmente confrontados a uma transformação substancial das imagens e

dos sistemas de mídia.

No âmbito teórico, Hansen confronta-se com a classificação, sugerida por

Deleuze, dos regimes da imagem cinematográfica, a imagem-movimento e a imagem-

tempo, mas posiciona-se criticamente em relação ao que vai chamar de progressiva

“desencarnação do centro de indeterminação” (HANSEN, 2004: 70) em que teria

incorrido o pensamento de Deleuze, no momento crucial da passagem para o regime da

imagem-tempo. Para Hansen, a imagem-tempo pressupõe a ênfase sobre as operações de

pensamento – uma paralisia motora e uma valorização dos nexos mentais – em

detrimento das relações sensoriais de natureza corpórea, exatamente aquelas que as

imagens digitais colocaram na ordem do dia.

O ponto de vista de Hansen em relação aos recentes desenvolvimentos

tecnológicos é o de que as transformações proporcionadas pela codificação digital são

significativas ao ponto de estabelecer um novo paradigma, de provocar uma revolução

nas relações pressupostas entre corpo e imagem, como propõe a seguir,

Do meu ponto de vista, a digitalização nos exige reconsiderar a correlação entre o corpo do usuário e a imagem de uma maneira ainda mais profunda. [...] Especificamente, devemos aceitar que a imagem, mais do que encontrar instantaneidade em uma forma técnica privilegiada (incluindo a interface com computador), agora demarca o próprio processo através do qual o corpo, em conjunção com os vários aparatos que tornam a informação perceptível, dá forma a ou in-forma a informação. Em suma, a imagem já não pode ser restrita ao nível da aparência superficial, mas deve ser expandida para abranger todo o processo pelo qual a informação se torna perceptível através de uma experiência corporificada. A isso eu proponho chamar de imagem digital (HANSEN, 2004: 10).

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Às proposições teóricas sobrepõem-se, nesse momento, as contextualizações

históricas, vindo a confirmar as previsões de que as novas mídias deflagram relações

temporais e espaciais inaugurais, irredutíveis às mídias analógicas, entre elas a fotografia

e o cinema. Sua tese central é a de que, na ausência dos suportes materiais específicos

que singularizaram as mídias analógicas, as novas mídias passam a convocar o corpo

como um processador de informação, agora chamado a desempenhar as funções seletivas

anteriormente delegas às interfaces midiáticas. Igualmente fundamental no contexto da

definição de imagem digital como fluxo de informação, a noção de enquadramento se

dissocia da definição técnica vinculada aos sistemas de mídia, para referir-se diretamente

ao corpo, entendido como enquadramento:

Em relação à tecnosfera eletrônica de hoje em dia, no entanto, a teorização de Bergson sobre este processo de seleção incorporada precisa ser atualizada em pelo menos um aspecto importante: ao invés de selecionar imagens pré-existentes, o corpo agora opera diretamente filtrando informação e, através desse processo, criando imagens. Correlacionado ao advento da digitalização, portanto, o corpo experimenta certo aumento de poder, uma vez que emprega sua própria singularidade constitutiva (afeto e memória) não para filtrar um universo de imagens pré-constituídas, mas para enquadrar algo (informação digital) que é originalmente amorfo (HANSEN, 2004: 9/10).

Na impossibilidade de identificação das singularidades técnicas e processuais de

cada mídia, o corpo é convocado a desempenhar as funções de diferenciação

anteriormente delegadas aos sistemas de mídias. Prevalece nessa passagem a noção de

deslocamento das funções seletivas das interfaces midiáticas para o corpo, segundo a

lógica compensatória de que “à medida que as mídias perdem sua especificidade

material, o corpo assume uma função mais proeminente como um processador seletivo

de informação” (HANSEN, 2004: 21).

O enfrentamento com outros críticos e a análise de obras pontuais podem dar

conta de alguns dos efeitos decorrentes dessa proposição teórica. Ao questionar as

considerações de Rolisand Krauss sobre o trabalho Box, de James Coleman, no contexto

do que ela chamou de “estética do pulso”, Hansen argumenta que nessa abordagem “o

trabalho – e não o corpo – permanece como o termo privilegiado na equação estética” e,

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a seguir, referindo-se ao trabalho 24-Hour Psycho (1993), de Douglas Gordon,

acrescenta:

Aqui, não estamos apenas distantes da estética modernista do choque, mas a lentidão da projeção retira do trabalho qualquer ‘conteúdo’ representacional (i.e. seu desdobramento como movimento por repetição) de tal modo que qualquer coisa que possa ser dito como constituinte do conteúdo do trabalho é gerado apenas em e através da experiência corpórea e afetiva do espectador, como uma criação quase autônoma (e não, de forma importante, como um eco da objetiva condição auto-diferencial do médium (HANSEN, 2004: 29).

A expressão empregada nesse momento para marcar o papel desempenhado pelo

corpo na experiência artística é o de “uma criação quase autônoma”, bastante

significativa se considerarmos que, no âmbito das proposições teóricas, o corpo será

associado a um exercício de criação autônoma (cf. a citação acima, HANSEN, p.19). A

transição da função “quase autônoma” para a de função “autônoma” não se encontra

devidamente esclarecida ao longo do texto, deixando margens para diferentes

interpretações. Estaríamos diante de uma relativização radical do papel tradicional

desempenhado pelo corpo e pela imagem?

As noções de meio agregado e de meio auto-diferenciado, defendidas por Krauss

no contexto da condição pós-midiática (KRAUSS, 1999: 24 e segs.), deixam entrever o

embate desencadeado entre o trabalho de arte e o observador, desde os primórdios do

modernismo até os dias de hoje. Essa tese supõe a flexibilização do conceito

greenberguiano de autonomia dos meios sem, entretanto, defender a ruptura ou a

superação das operações singulares desencadeadas por cada forma visual. Não

pretendemos proceder à defesa desses argumentos, bastante problemáticos, mas

unicamente perceber como eles foram apropriados no contexto de legitimação das

proposições defendidas por Hansen. A confrontação com as noções de Krauss tem o

sentido preciso de autorizar a ultrapassagem do moderno em direção ao contemporâneo

segundo a perspectiva da base material tecnológica, supondo que a singularidade do

código digital proporciona uma modalidade inaugural de participação do corpo,

substancialmente diferente daquelas associadas à experiência estética modernista.

Esse corpo ampliado, chamado a desempenhar as funções anteriormente

atribuídas às mídias modernas passa, nessa nova condição de operador de uma interface

pós-cinemática, a filtrar e a criar imagens por si mesmo. O emprego das novas

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tecnologia na arte, em especial nas obras de Jeffrey Shaw analisadas por Hansen,

desempenha um papel singular nesse projeto teórico, de “suplemento do corpo e, assim,

um meio de expandir tanto a função do corpo como um centro de indeterminação quanto

sua capacidade de filtrar imagens” (HANSEN, 2004: 51). A função produtiva da

tecnologia encontra-se, nesse contexto, diretamente associada à natureza técnica,

programável e manipulável do código digital, entendido como fluxo de informação,

passível de ser convertido em arquivo sonoro, imagem estática ou em um mundo

interativo e, decisivo na sua argumentação, na ausência de um suporte material que a

especifique. É sobre essa condição singular de variabilidade funcional e de flutuação no

espaço, dois atributos genéticos associados a estrutura técnica do código, que a imagem

digital marcaria a sua distância relativamente às formas imagéticas precedentes.

No entanto, em consideração aos determinantes técnicos, podemos interpor que o

suporte de armazenamento do código digital, de dimensão progressivamente reduzida,

permanece dependente de um meio físico material. Também nas situações de exibição da

imagem digital, o suporte material, entendido como tela, écran ou anteparo, permanece

imprescindível, mesmo nos caso em que se encontrem reduzidas a sua expressão

mínima. Cabe exercer a crítica dos argumentos de natureza técnica sustentados sob a

suposta desmaterialização da imagem digital, em especial nos casos em que a

infraestrutura material do meio digital funciona, no âmbito discursivo, como instância de

legitimação das teses da ruptura histórica dos sistemas de representação.

A retomada das formulações de Bergson no atual contexto pós-midiático, se

realiza sob o pano de fundo das inquietações despertadas pelas transformações

tecnológicas processadas na atualidade. Entretanto, não encontramos em Bergson

nenhuma formulação que sancionasse esse trabalho do corpo de gerar e de criar imagem

de modo autônomo, como proposto por Hansen. Mesmo nas situações hipotéticas

provisórias em que Bergson apoia o seu argumento, não encontramos nenhuma

referência ao que Hansen designa de “função autônoma do corpo”. Pelo contrário, via de

regra os casos excepcionais funcionam no conjunto dos argumentos de Bergson como

um contraponto, fazendo ver a natureza irremediavelmente relacional da percepção.

Hansen estabelece, nesse particular, uma ruptura com o pensamento de Bergson, inscrita

sob a rubrica de um neobergsonismo, exatamente quando o corpo deixa de apresentar-se

como tela ou como filtro que seleciona imagens préexistentes para encontrar-se investido

da função de filtrar informação diretamente e, nesse percurso, gerar imagens. Modifica-

Page 16: entre a fotografia, o cinema, o vídeo e as novas mídias

15

se, desse modo, a dinâmica relacional trabalhada por Bergson, entre o corpo, ele mesmo

entendido como imagem, e as imagens-mundo.

As recorrentes menções de Hansen às teorias da percepção corpórea de Francisco

Varela parecem ter o sentido de suprir a ausência de qualquer referência a essa

modalidade de percepção autônoma nos textos de Bergson. Contudo, nem mesmo as

proposições de Varela concernentes “à plasticidade do sistema nervoso e ao papel

operativo da mobilidade do corpo na produção da percepção” (HANSEN, 2004: 39),

parecem suficientes para autorizar esse trabalho autônomo do corpo uma vez

confrontado às tecnologias digitais.

De certo, não há percepção sem corpo, e esse corpo que percebe encontra-se a

todo tempo em movimento. O que permanece problemático nessa análise é a

desconsideração do trabalho realizado pelo corpo e pelos processos afectivos no

contexto das antigas formas visuais. Ainda que relacione o virtual à atividade humana

em geral e que o associe à capacidade do corpo de gerar excesso e de transespacializar,

Hansen permanece conferindo à imagem digital um lugar privilegiado na história das

imagens, supondo que a tecnologia potencializa, de modo inédito, as funções afectivas

associadas ao corpo. A defesa desse lugar paradigmático da imagem digital parece

recair, uma vez mais, sobre um mal entendido acerca das antigas mídias.

Supõem-se que a condição de imobilidade exigida pela sala escura do cinema

convencional implica em um predomínio das funções visuais e no estabelecimento de

uma experiência fundada na ilusão ótica, enquanto as novas mídias digitais

proporcionam uma experiência afectiva qualitativamente diferente. Segundo Hansen, e

essa é uma das suas apostas fundamentais, a imagem digital solicita a dimensão afectiva

e criativa do corpo, desse corpo em movimento, priorizando sua base sinestésica e

conferindo uma maior importância ao tato, relevante ao ponto de estabelecer a passagem

de uma estética ocularcentrista para uma estética háptica, enraizada na afectibilidade do

corpo.

Esse argumento, reiteradamente atualizado pelos discursos de legitimação do

digital, ressalta a natureza interativa das novas mídias, associada a uma demanda

participativa do espectador, muitas vezes solicitado a determinar o encadeamento

narrativo da obra. Essas formulações conceituais, fundamentadas na contraposição entre

a interatividade imersiva proporcionada pela estética háptica, diretamente associada as

funções corpóreas multissensoriais, e a exterioridade espectatorial atribuída à estética

Page 17: entre a fotografia, o cinema, o vídeo e as novas mídias

16

ocularcentrista, incorrem habitualmente em uma dupla redução: circunscrevem o visual

ao ótico e inibem o reconhecimento das formas híbridas da cultura moderna.

As relações interativas não se encontram exclusivamente dependentes do

deslocamento físico ou das ações desencadeadas pela presença de sensores e de recursos

participativos. Antes de afigurar-se como uma função do digital, a implicação dinâmica

entre o espectador e a obra perpassa a arte, a fotografia e o cinema, em todos as suas

formas e mutações históricas. Mesmo considerada na acepção motora, relativamente às

situações em que prevalece a mobilidade física do espectador, a interatividade não é uma

prerrogativa do digital. As instalações panorâmicas dos séculos XVIII e XIX, o cinema

de atrações, as iniciativas menos convencionais do cinema experimental dos anos 1920 e

1930, as instalações da videoarte nos anos 1970 e 1980, a fotografia expandida, o cinema

expandido e o cinema de museu são configurações que solicitaram uma modalidade de

participação motora igualmente determinante por parte do espectador.

A ideia de revolução digital defendida por Hansen justifica plenamente a reação

de Tom Gunning, ao manifestar-se “entusiasmado mas também um tanto desanimado

com a discussão corrente sobre a nova mídia emergente” (GUNNING, 2008: 23).

Entusiasmado, por um lado, pela possibilidade de repensar a história das formas visuais

e, simultaneamente, decepcionado com o olhar tendencioso e reducionista sobre as

antigas mídias da fotografia e do cinema, entre outras, que muitas vezes prevalece nesses

discursos. O “discurso da novidade” despertado pelas novas imagens, desse modo

capturado pela lógica opositiva modernista, insere-se no contexto dos “discursos de

escolta”, como identificou Dubois (DUBOIS, 2004: 34), que se sucederam às mutações

de natureza técnica ocorridas ao longo da história das formas visuais.

Extensamente mobilizado quando da emergência da fotografia, com ressonâncias

negativas ainda hoje evidentes, esse discurso ressurge no atual contexto de disseminação

da cultura digital revestido de traços ainda mais corrosivos. Se, nas primeiras décadas do

século XIX, os discursos de legitimação do novo meio confrontaram-se negativamente

com a tradição das belas artes e com o ideário romântico, exemplificado pelas assertivas

inflamadas de Baudelaire, entre outros poetas e críticos, na atual conjuntura esse

procedimento, que opõe a novidade das novas mídias às velhas formas visuais, impõe-se,

habitualmente, em desconsideração às potências desencadeadas pelas formas

tecnológicas modernas, pela fotografia, pelo cinema e pelo vídeo.

Page 18: entre a fotografia, o cinema, o vídeo e as novas mídias

17

5. Metodologia

A instalação, esse dispositivo da arte complexo e aberto a diferentes arranjos e

formas, exibe esses estados múltiplos da imagem, diretamente associados às variações

temporais e espaciais processadas no âmbito da experiência contemporânea.

Prevalece, nesses ambientes, a lógica associativa da sobreposição de diferentes

formas imagéticas, dispostas de modo a deflagrar um jogo de confrontação entre as

convenções visuais e as expectativas historicamente referidas à fotografia, ao cinema,

ao vídeo e às artes plásticas. Nessas cenografias as questões relativas às

singularidades e à identidade dos meios encontram-se deslocadas, substituídas pelas

sobreposições e atravessamentos das imagens e dos sistemas de mídias.

Os hiatos provocados pelos interstícios e pelos intervalos entre as imagens

proporcionam o surgimento de novos modos de encadeamento, de paradas, de

suspensões ou de acelerações, alterando significativamente as margens de

indeterminação do sujeito e expandindo o domínio afectivo. Esse trabalho entre as

imagens, entre a imagem fixa e a imagem-movimento, realiza-se sob o signo do

estranhamento, desestabilizando as convicções tradicionalmente associadas aos meios,

frequentemente de modo a acrescentar uma interrogação e uma suspeita por parte do

observador.

Defrontado com estes ‘movimentos improváveis’, como nomeou Dubois

(DUBOIS, 2003), na impossibilidade de dar conta dessa experiência estética unicamente

a partir das suas convicções pressupostas e dos seus hábitos perceptivos, o espectador é

solicitado a realizar um trabalho interno de assimilação, tão incerto e imprevisível

quanto as imagens com que se defronta. De modo simultâneo, esses dispositivos híbridos

propiciam relações inaugurais por parte do espectador, de participação, de interação e de

interferência nos modos de encadeamento e de temporalização da narrativa. Portanto,

uma disposição física e psíquica por parte do observador, ele próprio confrontado com

os pressupostos da variabilidade, da instabilidade e da multiplicidade dos dispositivos

imagéticos.

As máquinas de imagens são ‘máquinas de explorar o tempo, de maquinar o

tempo’, assinala Deleuze (apud PELBART, 1988: 180), ressaltando que a técnica

proporciona o engendramento de novos tempos. Esses diferentes modos de

temporalização das imagens, produzidos pelos dispositivos maquínicos, não se

encontram circunscritos à lógica do aparelho ou às propriedades técnicas da imagem

Page 19: entre a fotografia, o cinema, o vídeo e as novas mídias

18

associadas à infraestrutura material do suporte – analógico ou digital, estático ou

móvel. Desde o ponto de vista estético, cabe considerar, nessas mutações temporais

tecnicamente engendradas, os deslocamentos provocados pelos intervalos e

interrupções entre as imagens e a correspondente expansão do domínio afectivo por

parte do observador. Prevalecem, nesse casos, certos modos de presentificação das

imagens especialmente dotados do poder de proporcionar a ampliação das margens de

indeterminação do sujeito, suas potencialidades perceptivas e críticas.

A percepção exerce-se, irremediavelmente, no curso de uma duração, na qual

se processa uma mudança qualitativa. Bergson mobilizou a imagem diagramática de

um cone para descrever a amplitude da percepção, estreita em um primeiro momento,

uma vez informada pelo hábito e pelos automatismos, e expandida, a seguir, na

proporção da intervenção da memória e das associações de natureza subjetiva, como o

sonho, o devaneio e as figuras do imaginário. Na sua base mais estreita, o diagrama

exibe uma atividade em que a percepção prolonga-se imediatamente em uma ação

interessada enquanto, na extremidade oposta, interpõe-se, entre a percepção e a ação,

a mediação mais ou menos incidente da afecção. Prevalece, nessa proposição de

Bergson, uma confrontação com a imagem dogmática, território da recognição, do

reconhecimento automático e dos clichês desprovidos de espessura. Em contraposição

a esse esquema sensório-motor, que encadeia automaticamente as percepções em

ações consecutivas, delineia-se, pela participação das instâncias afectivas, as

condições de uma percepção inaugural e criativa.

O tempo é o operador fundamental dessa passagem entre a percepção

automática e a percepção criativa. Ordenado, encadeado, sucessivo e cronológico,

deixando entrever apenas o número, a expressão mensurável e externa de uma

alteração espacial, colocado nos eixos, univocamente direcionado entre o passado, o

presente e o futuro, o tempo não é mais do que o índice das operações de repetição e

de recognição. No extremo oposto, afigura-se a concepção de um tempo crônico,

intensivo, plural e concomitante, em que prevalecem as sobreposições e os

cruzamentos entre presentes, passados e futuros, condição singular de produção do

novo.

Uma simultaneidade que Deleuze associou ao regime da imagem-tempo do

cinema moderno, capaz de oferecer uma imagem direta do tempo, uma imagem ótica

e sonora pura, associada a figuras de tempo complexas – tempo bifurcado,

simultaneidades temporais, tempo espiralado, labirintos do tempo. Nesse regime,

Page 20: entre a fotografia, o cinema, o vídeo e as novas mídias

19

prevalecem os movimento aberrantes e os intertícios entre as imagens, como observa

Pelbart sobre a imagem-tempo:

Na medida em que o tempo ganha autonomia e deixa de curvar-se ao eixo do movimento, dos presentes e de seu encadeamento sensório-motor, ele passa a promover por si movimentos aberrantes. Aberrações que obcecavam o cinema desde o início ganham novo impulso e uma renovada liberdade, e o próprio intervalo da montagem, que antes servia para conjurá-las, revela-se como um novo centro: é a ‘liberação do interstício” que Deleuze tanto valoriza, pois forja outro tipo de reencadeamento entre as imagens (PELBART, 1998: 14)

Mas como apreender esse tempo múltiplo, simultaneamente passado, presente

e futuro, nas imagens fotográficas ditas instantâneas, frequentemente consideradas

como decorrentes de um corte no transcorrer do tempo sucessivo? Como destacar

nessa imagem dita pontual a coexistência do passado e do presente, as bifurcações do

tempo e o trabalho da duração, dessa temporalidade expandida em que se processa

uma mudança qualitativa e a criação de uma nova entidade, irredutível à realidade

prévia e ao tempo decorrido? As reflexões empreendidas por Raymond Bellour, no

livro ‘Entre-imagens – foto, cinema, vídeo’, oferecem uma chave de entendimento da

fotografia em seus múltiplos formatos, em especial dos efeitos proporcionados pelas

longas tomadas e uma vez sobrepostas às imagens do cinema, do vídeo e das

tecnologias digitais. As figuras do tempo ocupam um lugar central na análise de

Bellour sobre as imagens de William Klein, considerando que as imagens tremidas

“restituem à fotografia as aventuras da linha e da profundidade, que induzem a uma

duração, para lá da captação do olhar e da inversão do tempo...” (BELLOUR, 1997:

100).

O outro grande eixo do pensamento de Bellour direciona-se às passagens entre

as imagens, potencializadas pelo vídeo e expressas na noção de entre-imagens:

O vídeo, ao contrário, comumente abordado como uma arte em si, deve ser compreendido do ponto de vista do que representará, creio, principalmente do ponto de vista histórico: um lugar de passagem e um sistema de transformação das imagens umas nas outras – as que o precedem, pintura, foto e cinema; as que ele mesmo produz; e, por fim, as que ele introduz, “as novas imagens”, que já constituem uma espécie de pré-história, e das quais ele é também parte integrante (BELLOUR, 1997: 17).

E, a seguir,

Page 21: entre a fotografia, o cinema, o vídeo e as novas mídias

20

... o entre-imagens é espaço de todas essas passagens. Um lugar, físico e mental, múltiplo... ele opera entre as imagens no sentido muito geral e sempre particular dessa expressão. Flutuando entre dois fotogramas, assim como entre duas telas, entre duas espessuras de matéria, assim como entre duas velocidades, ele é pouco localizável: é a variação e a própria dispersão (BELLOUR, 1997: 14/15).

As relações temporais perpassam, também, as análises empreendidas por

Philippe Dubois por ocasião da exposição Movimentos improváveis, exibida no Rio

de Janeiro em 2003. As relações complexas entre as imagens móveis e imóveis

constitui o eixo conceitual das obras dessa exposição, que contou com trabalhos de

Thierry Kuntzel, Alain Fleischer e Hélio Oiticica, entre outros. No texto de

apresentação do catálogo da exposição, Dubois destaca as relações temporais

paradoxais despertadas pelas obras e assinala, de modo desafiador, que “as imagens

não são coisas inertes, mesmo quando são ditas ‘fixas’, elas se mexem, circulam, se

deslocam. A imagem ‘é um complexo, e é essa complexidade que coloca questões”

(DUBOIS, 2003: 4).

Colocar questões, fazer problema, significa evidenciar as temporalidades

múltiplas das imagens, reconhecer as várias formas do fotográfico e do

cinematográfico, associadas ao tempo complexo e heterogêneo, um tempo que produz

dobras e comporta diferentes estratos. As contribuições teóricas de Dubois e Bellour

despertam a percepção dessas relações temporais das imagens contemporâneas, nesse

momento de passagens e hibridizações proporcionadas pelo vídeo e pelas tecnologias

digitais.

As noções de ‘efeito filme’ (DUBOIS, 2004a: 230), de ‘efeito cinema’

(DUBOIS, 2009: 85) e de ‘fotográfico’ (DUBOIS, 2009: 89), recobrem essas

implicações entre o cinema e a arte contemporânea, em especial a fotografia, na forma

de inúmeros procedimentos, como os retardos e os congelamentos do filme, a

inscrição do movimento na fotografia e as expansões do quadro fotográfico pelo

efeito de deslocamento do enquadramento, como observado no panorama fotográfico.

6. Referências bibliográficas

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7. Cronograma

8. Impacto para o desenvolvimento do PPGCOM/UFRJ

Nos últimos anos a pós-graduação da Escola de Comunicação da Universidade

Federal do Rio de Janeiro tem recebido nos cursos de mestrado e doutorado muitos

artistas e críticos para o desenvolvimento de suas pesquisas em arte contemporânea

brasileira. Acreditamos que a aprovação do presente projeto representará um avanço

para as condições do aprofundamento das questões emergentes no campo da arte e

tecnologia e também para a produção experimental desta área no âmbito da américa

latina.

Mês/Atividades Planejamento Pesquisa Redação Produção e Pós-produção do livro

Vínculo com diferentes grupos de pesquisa

Divulgação dos resultados

Janeiro

Fevereiro

Março

Abril

Maio

Junho

Julho

Agosto

Setembro

Outubro

Novembro

Dezembro