entomofauna auxiliar associada À vinha na regiÃo … · tem um lugar e uma função bem definida...

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1 ENTOMOFAUNA AUXILIAR ASSOCIADA À VINHA NA REGIÃO DEMARCADA DO DOURO C.R. Carlos, J.M.A. Domingos, F. Alves & J.M.R. Costa ADVID- Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense. Rua José Vasques Osório,62 – 5º. 5050-280 Peso da Régua. [email protected] RESUMO A fauna auxiliar é o principal factor de limitação natural das pragas. Estes inimigos são muitas vezes dominados por uma ou várias espécies de predadores ou de parasitóides (Reboulet, 1992). Tendo consciência da importância da limitação natural das pragas que atacam a vinha, desenvolveu-se em 2003 um trabalho visando a identificação dos principais insectos predadores associados à cultura na Região Demarcada do Douro e o conhecimento dos seus períodos de actividade, como forma de definir medidas tendo em vista valorizar a sua acção. Assim, procurou-se ainda estudar a influência dos tratamentos realizados na evolução da fauna identificada. Ao longo das 26 semanas de amostragem, realizadas entre Abril e Setembro, foram identificadas onze famílias referidas como incluindo espécies predadoras, isto é, Coccinellidae, Mordellidae, Cleridae, Malachiidae, Staphylinidae, Cantharidae, Carabidae da ordem Coleoptera; Chrysopidae da ordem Neuroptera; Syrphidae da ordem Diptera e Miridae e Nabidae da ordem Hemiptera. Os coccinelídeos foram a família mais abundante, merecendo destaque o género Scymnus sp. que correspondeu a 81 % do total de indivíduos capturados desta família . O período de maior actividade dos adultos capturados foi de uma forma geral o que decorreu entre os meses de Maio a Setembro. Neste período destaca-se o mês de Junho, no qual se capturaram com intensidade cinco famílias, nomeadamente os coccinelídeos, os mordelídeos, os clerídeos, os malaquídeos e os estafilinídeos. É possível que a substância activa dinocape, aplicada num período de intensa actividade dos coccinelídeos, tenha contribuído para a diminuição do número de insectos capturados pertencentes a esta família. Palavras-chave: insectos, predadores, vinha, períodos, actividade, toxicidade, fungicidas

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ENTOMOFAUNA AUXILIAR ASSOCIADA À VINHA NA REGIÃO DEMARCADA DO DOURO

C.R. Carlos, J.M.A. Domingos, F. Alves & J.M.R. Costa

ADVID- Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense.

Rua José Vasques Osório,62 – 5º. 5050-280 Peso da Régua. [email protected]

RESUMO

A fauna auxiliar é o principal factor de limitação natural das pragas. Estes inimigos são muitas

vezes dominados por uma ou várias espécies de predadores ou de parasitóides (Reboulet,

1992).

Tendo consciência da importância da limitação natural das pragas que atacam a vinha,

desenvolveu-se em 2003 um trabalho visando a identificação dos principais insectos

predadores associados à cultura na Região Demarcada do Douro e o conhecimento dos seus

períodos de actividade, como forma de definir medidas tendo em vista valorizar a sua acção.

Assim, procurou-se ainda estudar a influência dos tratamentos realizados na evolução da fauna

identificada.

Ao longo das 26 semanas de amostragem, realizadas entre Abril e Setembro, foram

identificadas onze famílias referidas como incluindo espécies predadoras, isto é, Coccinellidae,

Mordellidae, Cleridae, Malachiidae, Staphylinidae, Cantharidae, Carabidae da ordem

Coleoptera; Chrysopidae da ordem Neuroptera; Syrphidae da ordem Diptera e Miridae e

Nabidae da ordem Hemiptera. Os coccinelídeos foram a família mais abundante, merecendo

destaque o género Scymnus sp. que correspondeu a 81 % do total de indivíduos capturados

desta família .

O período de maior actividade dos adultos capturados foi de uma forma geral o que decorreu

entre os meses de Maio a Setembro. Neste período destaca-se o mês de Junho, no qual se

capturaram com intensidade cinco famílias, nomeadamente os coccinelídeos, os mordelídeos,

os clerídeos, os malaquídeos e os estafilinídeos.

É possível que a substância activa dinocape, aplicada num período de intensa actividade dos

coccinelídeos, tenha contribuído para a diminuição do número de insectos capturados

pertencentes a esta família.

Palavras-chave: insectos, predadores, vinha, períodos, actividade, toxicidade, fungicidas

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INTRODUÇÃO

Todo o animal é consumidor de certos organismos e é consumido por outros. Cada espécie

tem um lugar e uma função bem definida e constitui uma malha de cadeias alimentares por

vezes muito complexa. Os insectos que prejudicam as culturas não fogem a esta regra. Estas

pragas são detidas por uma série de organismos tais como microorganismos patogénicos

(vírus, bactérias, fungos), nemátodes entomoparasitas, vertebrados (pássaros, mamíferos,

répteis) mas sobretudo por artrópodes que se alimentam exclusivamente desses insectos, o

que faz com que sejam considerados entomófagos e recebam desta forma a designação de

entomofauna auxiliar (Jourdheuil, 1974).

Na protecção das culturas tem vindo a merecer destaque o papel dos artrópodes auxiliares,

como factor de limitação natural de espécies fitófagas, procurando-se valorizar a sua acção

(Lavadinho, 1992).

Ainda, para Lavadinho (1992), a utilização de produtos fitofarmacêuticos continuará a ser

ferramenta indispensável à protecção das culturas. Deste modo, a escolha de produtos de

menor toxicidade, que favoreçam, ou pelo menos não contrariem, a acção de limitação natural

devida aos auxiliares, é um objectivo importante.

O objectivo inicial deste trabalho consistiu na identificação e quantificação dos principais

insectos predadores que limitam naturalmente as duas pragas com maior importância na vinha

da Região Demarcada do Douro, nomeadamente a traça da uva e a cigarrinha verde.

Posteriormente, alargou-se o âmbito deste estudo ao conhecimento dos insectos predadores

de outras pragas da vinha. Na medida do possível, procurou-se ainda obter informação sobre

a influência dos tratamentos fitossanitários efectuados à cultura, na evolução das populações

destes auxiliares.

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MATERIAL E MÉTODOS

Colheita de dados e caracterização da parcela

A vinha, situada na freguesia do Pinhão, foi plantada em 1987 segundo uma sistematização do

terreno em patamares de dois bardos, com a casta Touriga Franca enxertada em 99R, e um

compasso de 2,0 m x 1,1 m, conduzida em cordão bilateral de plano ascendente. A parcela

com cerca de 4 ha, tem exposição a Oeste-Sudeste, e o declive inicial da encosta é de 40 %.

No fundo da parcela, a Oeste e Sudoeste desta, existe uma linha de água, oliveiras e citrinos

em número considerável e outras espécies arbóreas em número reduzido tais como aveleira,

pereira e nespereira. A Leste/Sudeste da parcela existe uma mata constituída maioritariamente

por pinheiro, medronheiro e sobreiro (Foto 1). No Quadro 1 é feita uma breve caracterização

das espécies arbóreas/ arbustivas ou coberto vegetal existentes na proximidade do local onde

foram realizadas amostragens.

A captura dos predadores realizou-se com recurso a cinco armadilhas cromotrópicas, no

período que decorreu entre 10 de Abril e 1 de Outubro (26 semanas de amostragens). As

armadilhas eram constituídas por uma placa de acrílico de cor amarela e forma rectangular,

com uma área de cerca de 300 cm² (15 ? 20 cm) e 0,3 cm de espessura, revestidas em ambas

as faces por uma fina camada de cola, específica para insectos. As cinco armadilhas foram

colocadas em diferentes locais da vinha (Foto 1), a uma altura de 1,50 m do solo, sendo fixas

ao arame superior dos bardos.

Foto 1- Vinha onde se efectuou o estudo da fauna auxiliar. Os números (1 a 5) indicam a localização das armadilhas cromotrópicas.

1 2

3 4

5

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Quadro 1- Caracterização das espécies vegetais existentes na proximidade de cada parcela onde se colocou a armadilha cromotrópica

Parcela 1 Parcela 2 Parcela 3 Parcela 4 Parcela 5 oliveiras, pereira, coberto vegetal

com joio e pampilho de micão

Citrinos, oliveiras e nespereira

Acipreste e mata com medronheiro, pinheiro e sobreiro

- -

Relativamente ao revestimento do solo, foi efectuada uma aplicação de herbicida misto na linha

e taludes em meados de Fevereiro, permanecendo a entrelinha com revestimento natural até

14 de Julho, data em que foi realizada uma escarificação do solo. Nas proximidades da

armadilha 1, exactamente um patamar abaixo, não foi aplicado herbicida de Inverno, estando o

solo densamente revestido com pampilho de micão (Coleostephus myconis L.) e joio (Lolium

sp. ).

A recolha dos insectos capturados por cada armadilha foi efectuada semanalmente, recorrendo

para o efeito a um pincel e petróleo. Depois de secos e limpos, eram cuidadosamente

separados e classificados por famílias, com recurso à lupa binocular (Nikon SMZ-645

ampliação 8 a 50 x), e com o auxílio das chaves dicotómicas disponíveis em Borror & Delong,

(1969).

Clima e fitossanidade em 2003

Relativamente à evolução climática durante as amostragens , o mês de Abril foi aquele em que

a precipitação foi mais significativa (Fig. 1). Posteriormente verificou-se precipitação com

alguma intensidade a 29 de Junho, 15 de Julho, 28 de Agosto, 30 de Setembro e 1 de Outubro

(Fig. 1). A temperatura média registou em 2003 valores superiores à média na segunda década

de Junho e principalmente na primeira quinzena de Agosto, onde se verificou a vaga de calor

mais intensa, desde a década de 40 (registo do IM), com duração de 17 dias e máxima na

ordem de 40 ºC IM (2003). (Fig. 1).

Fig. 1- Evolução da temperatura média (Tm) e precipitação (R) durante a realização das amostragens

Do ponto de vista fitossanitário, o ano de 2003 foi propício fundamentalmente ao

desenvolvimento de doenças. A precipitação ocorrida em Abril provocou algumas infecções de

míldio, mas o oídio foi a doença com maior significado na região. Quanto à traça da uva, praga

chave nesta região, a realização da estimativa do risco revelou não ser necessário efectuar

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15

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35 (ºC)

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R T m

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qualquer tratamento insecticida (Fig. 2). Relativamente à cigarrinha verde, foram registadas

apenas as curvas de voo dos adultos (Fig. 3), não se tendo efectuado a estimativa do risco por

contagem de ninfas, pelo facto de se conhecer o historial de ataque da praga e este não ser

significativo neste local. O elevado vigor vegetativo permitiu o desenvolvimento de uma

primeira geração da praga bastante importante. A segunda geração e, fundamentalmente a

terceira geração não seguiram, no entanto, a mesma tendência (Fig. 3).

Análise de dados

Os dados obtidos analisaram-se em termos de evolução do número de capturas ao longo do

tempo e, dentro das limitações existentes em função dos tratamentos fitossanitários realizados.

Para o efeito, procedeu-se em primeiro lugar, a uma comparação em termos de abundância e

diversidade dos indivíduos capturados nas várias armadilhas. A diversidade (D) é expressa

pelo índice de Shannon-Wiener (Magurran, 1988; Krebs, 1987 citados por Nunes, 1996) sendo

este a medida do grau médio de incerteza que prevê a que espécie pertence um indivíduo

capturado ao acaso numa comunidade (Ludwig ? Reynolds, 1988 citados por Nunes,1996).

Este índice baseia-se em dois parâmetros, a riqueza de famílias (R) e a abundância (A),

representando o primeiro o número de famílias presente na amostra, e o segundo o número

total de indivíduos presente na amostra. O índice de diversidade apresenta valores que

normalmente variam entre 1,5 e 3,5, raramente ultrapassando os 4,5 (Magurran, 1988 citado

por Nunes, 1996). Valores elevados de diversidade estão normalmente associados a condições

favoráveis do meio, implicando a existência de numerosas espécies, cada uma delas

representada por um pequeno número de indivíduos. Este valor será máximo se todas as

espécies apresentarem o mesmo número de indivíduos, e será igual a zero se a abundância for

igual a 1 (Ludwig ? Reynolds, 1988) citado por Nunes, 1996).

Posteriormente, procedeu-se a uma análise das curvas de voo das famílias de insectos

capturados, identificando os períodos de maior intensificação, e tentou-se, de alguma forma

comparar esses períodos com os relatados em Acta (1984).

Após ter procedido a uma pesquisa bibliográfica sobre a biologia dos insectos capturados,

hábitos alimentares e toxicidade das substâncias activas utilizadas no ensaio, procurou-se

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50

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Adultos

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13-08

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10-09

24-09

Adultos

012345678

Estragos

Curva de voo adultos Estragos (Ninhos e % ataque)

Fig. 2- Curva de voo e quantificação de estragos da traça da uva em 2003 na vinha em estudo

Fig. 3- Curvas de voo da cigarrinha verde registadas em cinco armadilhas cromotrópicas e respectiva média em 2003 na vinha em estudo

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interpretar os decréscimos verificados nas curvas de voo com a possibilidade da interferência

negativa de algumas substâncias activas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Abundância e Diversidade

O total de capturas efectuado pelas cinco armadilhas foi de 863 indivíduos, pertencentes a 11

famílias, isto é, Coccinellidae, Mordellidae, Cleridae, Malachiidae, Staphylinidae, Cantharidae,

Carabidae da ordem Coleoptera; Miridae e Nabidae da ordem Hemiptera; Chrysopidae da

ordem Neuroptera e Syrphidae da ordem Diptera. No total de capturas é importante frisar que

57,6 % da população pertenciam à família Coccinellidae, 14,1 % à família Mordellidae e 10,6 %

à família Cleridae (Fig. 4).

Fig. 4- Distribuição percentual das famílias de insectos predadores capturados no ensaio.

Relativamente à abundância e à diversidade existem diferenças notórias entre as cinco

armadilhas instaladas na parcela (Quadro 2).

Quadro 2- Abundância (A), Riqueza (R) e Diversidade (D), relativas às capturas registadas nas diferentes armadilhas cromotrópicas

Famílias Arm. 1 Arm. 2 Arm. 3 Arm. 4 Arm. 5 Total Coccinellidae 263 57 79 43 56 498 Cantharidae 9 6 5 1 1 22 Mordellidae 16 25 42 25 14 122

Cleridae 4 14 30 41 3 92 Malachiidae 7 5 20 7 18 57

Staphylinidae 2 9 13 6 10 40 Chrysopidae 10 6 1 2 1 20

Outras famílias 3 4 3 2 0 13 A 314 126 193 127 103 863 R 9 9 10 9 7 - D 0,73 1,66 1,62 1,5 1,33 -

No que respeita à abundância, merece especial destaque pelo maior número de insectos

capturados, a armadilha 1, com 314 indivíduos (36 % do total), dos quais 84 % pertencem à

família Coccinellidae. Esta maior abundância poderá ser explicada quer pela diversidade

Mordellidae14,1%

Cleridae10,7%

Malachiidae6,6%

Staphylinidae4,6%

Outras famílias1,4%

Chrysopidae2,3%

Coccinellidae57,6%

Cantharidae2,5%

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vegetal existente nas proximidades do local onde se encontrava a respectiva armadilha (Foto 1

e Quadro 2), quer pela presença de uma linha de água perto desta parcela, que poderá ter

proporcionado um microclima mais favorável à manutenção dos insectos neste local. Pelo

contrário, a armadilha 5 foi a que capturou menos insectos, tendo-se contabilizado 103

indivíduos (12 % do total). O facto desta armadilha ter capturado um menor número de insectos

poderá estar relacionado com a sua localização na vinha, nomeadamente com o afastamento

quer da linha de água, quer das árvores aí presentes.

A diversidade registou o seu maior valor na armadilha 2 (1,66), sendo o valor mais baixo

registado na armadilha 1 (0,73). Como valores elevados de diversidade estão normalmente

associados a condições favoráveis do meio, isto leva a supor que a parcela 2 apresentava

condições ideais para a existência de numerosas famílias, enquanto a parcela 1 apresentava

condições para o desenvolvimento de um pequeno número de famílias, nomeadamente da

Coccinellidae, uma vez que nesta armadilha as suas capturas foram em elevado número.

Evolução do número de capturas

O período de maior actividade dos adultos capturados foi de uma forma geral o que decorreu

entre os meses de Maio a Setembro (Quadro 3). Destaca-se o mês de Junho, no qual se

capturaram com intensidade cinco famílias, nomeadamente os coccinelídeos, os mordelídeos,

os clerídeos, ou seja as famílias em que se capturaram mais insectos, juntamente com os

malaquídeos e os estafilinídeos. (Quadro 3).

Ordem Coleoptera

? Família Coccinellidae

Esta família foi a que se capturou em maior número, correspondendo a 57,6 % do total de

capturas. As espécies mais representativas em termos de capturas foram Scymnus interruptus

Goeze (41,6 %), Scymnus frontalis Fabricius (39,2 %), Stethorus punctillum Weise (4,8 %),

Coccinella septempuntacta L. (3,4 %) e Exochomus nigromaculatos Goeze (2,8 %).

O período no qual se verificou uma intensificação do número de capturas desta família foi no

que decorreu entre os meses de Junho a Setembro, tendo-se registado o máximo de 50

capturas a 18 de Setembro. Em finais de Agosto, inícios de Setembro, verificou-se um

decréscimo acentuado do número de capturas. Não nos é possível explicar se tal diminuição

nas capturas ocorreu por motivos climáticos nomeadamente pela ocorrência de alguma

precipitação, ou por questões que se prendem com a biologia dos insectos capturados (Fig. 5-

a).

Comparando os períodos de actividade obtidos neste estudo (Quadro 3) com os recolhidos

numa pesquisa bibliográfica (Quadro 4), podemos verificar que, relativamente ao género

Scymnus, existem condições nesta parcela que favorecem a presença destes indivíduos até ao

mês de Setembro, onde foram capturados em maior número, apesar de Acta (1984) referir uma

maior presença nos meses de Julho e Agosto (Quadro 4).

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10-Abr

24-Abr

8-Mai

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5-Jun

19-Jun

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31-Jul

14-Ago

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Nº adultos

A 1 A 2 A 3 A 4 A 5 Média

1 2 3 4 5

c- Clerídeos

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Nº adultos

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31-Jul

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Nº adultos

A 1 A 2 A 3 A 4 A 5 Média

1 2 3 4 5

e- Estafilinídeos

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Nº adultos

A 1 A 2 A 3 A 4 A 5 Média

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11-Set

25-Set

Nº adultos

A 1 A 2 A 3 A 4 A 5 Média

1 2 3 4 5

f- Cantarídeos

Fig. 5- Curvas de voo dos predadores capturados com recurso a armadilhas cromotrópicas colocadas nas várias parcelas (A1, A2, A3, A4, A5) e respectiva média. Os números indicam os tratamentos fitossanitários realizados na vinha em estudo (Quadro 5). Os períodos de maior actividade estão assinalados a cheio ( )

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Nº adultos

A 1 A 2 A 3 A 4 A 5 Média

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g- Carabídeos

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19-Jun

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17-Jul

31-Jul

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Nº adultos

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19-Jun

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17-Jul

31-Jul

14-Ago

28-Ago

11-Set

25-Set

Nº adultos

A 1 A 2 A 3 A 4 A 5 Média

1 2 3 4 5

h- Crisopídeos

a- Coccinelídeos b- Mordelídeos

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Quadro 3- Períodos de actividade dos adultos das várias famílias de predadores capturados na vinha em estudo em 2003

Período de actividade dos adultos Ordem Famílias

A M J J A S Coccinellidae

Mordellidae Cleridae Malachiidae Staphylinidae Cantharidae

Coleoptera

Carabidae Neuroptera Chrysopidae Diptera Syrphidae Miridae

Hemiptera

Nabidae .

Legenda:

-Período de presença do auxiliar - Período de presença intensa do auxiliar - Período de ausência do auxiliar

Quadro 4–Hábitos alimentares, biologia e principais períodos de actividade das famílias Coccinellidae, Mordellidae, Cleridae, Malachiidae, Staphylinidae, Cantharidae, Carabidae, Chrysopidae, Syrphidae, Miridae e Nabidae. Revisão bibliográfica.

Fonte: 1- Acta (1984), 2- Frank & Mizell (2002), 3-Flint (2002), 4- Reboulet (1999) citado por Amaro (2001), 5- Apgar et al. (1999), 6- Hill (1992), 7-Anónimo A (s.d.), 8- Schroeder (1999), 9- Anónimo B (s.d), 10- Anónimo C (2001), 11- Anónimo D (s.d.), 12- Anónimo E (s.d.), 13- Steiner (1974), 14- Weeden et al. (s.d.), 15- Anónimo F (s.d.), 16- Anónimo G (s.d.), 17- Weseloh et al. (1995), 18- Stork (S.D.), 19- Riddick (s.d.), 20- Weeden et al. (s.d.), 21- Anónimo H (s.d.), 22- Anónimo I (s.d.), 23- Boyd (s.d.), 24- Buigues (1999) citado por Van Helden (2000), 25- Anónimo J (s.d.), 26- Mahr (s.d.)

Legenda

J F M A M J J A S O N D

Coccinellidae Scymnus sp.afídeos

1, cochonilhas

2, moscas brancas

3 e cigarrinhas

verdes4 adulto 1 1 a 21

Chilocorus sp. cochonilhas1 adulto 1 3 1

Coccinella septempunctata sp. afídeos1 adulto 1 1 1

Stethorus ácaros1 adulto 1 3 a 4 1

Mordellidae - dípteros5 e térmitas

6 - 1 7 ?

Cleridae -escolitídeos8, ovos de gafanhoto, larvas de lepidópteros e

coleópteros9 larva, pupa ou adulto

101 a 2

9 ?

Malachiidae - escolitídeos, larvas de curculionídeos e lepidópteros11 - ? ?

Staphylinidae - dípteros, escolitídeos, ovos e larvas de lepidópteros,

ácaros12

, tripes e aleurodídeos13 larva

12 2

14 ?

Cantharidae -afídeos, ovos gafanhoto, larvas de lepidópteros e

coleópteros15

, lesmas13 larva

15 1

1 a 2

15 ?

Carabidae -larvas e pupas de lepidópteros

16, 17, afídeos, formigas e

térmitas18, caracóis e minhocas16, coleópteros19 larva16

ou adulto16,19

1 1,16

a 2 19

Chrysopidae -afídeos, ácaros, tripes, moscas brancas, larvas de

lepidópteros e coleópteros, cicadelídeos e cochonilhas20

larva21

, pupa21

ou adulto 20, 21 2 a 4 1

Syrphidae A Episyrphus sp. afídeos 1 adulto 1 várias 1

Syrphidae B - afídeos 1 larva 1 1 1

Syrphidae C Syrphus sp. afídeos 1 larva 1 várias 1

Miridae -afídeos 1, cicadelídeos22, 23,24, psilas23, cochonilhas23, mosca

branca23 e ácaros22 ovo 1 ou adulto 1 1 a 2 1

Nabidae -afídeos, ovos e larvas de lepidópteros25 e coleópteros26,

cicadelídeos25, 26

, psilas25

e ácaros26 ovo 1 ou adulto 1 1 1

Período de actividade 1

Família Género, espécie Presas Forma hibernanteNº ger./

ano

- Período de actividade intensa do auxiliar - Período de ausência do auxiliar (migração para outras culturas) - Período de presença do auxiliar mas com actividade fraca ou nula

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? Família Mordellidae

Os mordelídeos foram a segunda família mais abundante em termos de capturas,

correspondendo a 14,1 % do total de insectos. Foram capturados indivíduos ao longo de todo o

período de amostragens, tendo-se no entanto verificado uma intensificação das capturas entre

meados de Junho e meados de Agosto (Quadro 3). O pico de capturas, 7 indivíduos, foi

atingido a 25 de Junho na armadilha 4 (Fig. 5-b).

Relativamente ao período de actividade da família Mordellidae, assim como o das famílias

Cleridae, Malachiidae, Staphylinidae e Cantharidae não se encontrou qualquer referência.

? Família Cleridae

Os insectos desta família foram capturados no período compreendido entre meados de Abril e

fim de Junho com um máximo de capturas que ocorreu a 16 de Maio com 25 indivíduos na

armadilha 4 (Fig. 5-c). Os meses de Maio e Junho foram no entanto aqueles em que as

capturas se intensificaram (Quadro 3).

? Família Malachiidae

As capturas de malaquídeos corresponderam a 6,6 % do total de insectos capturados. Estas

verificaram-se num período bastante longo, entre 8 de Maio e 11 de Setembro, no entanto a

sua intensificação verificou-se entre 5 de Junho e 3 de Julho, tendo-se capturado o máximo de

6 insectos a 19 de Junho (Fig. 5-d e Quadro 3).

? Família Staphylinidae

Os estafilinídeos corresponderam a 4,6 % do total de insectos capturados. O período no qual

se capturaram insectos desta família foi o compreendido entre 17 de Abril a 18 de Junho. O

máximo de capturas, 8, verificou-se a 18 de Junho na armadilha 3 (Fig. 5-e, Quadro 3).

? Família Cantharidae

Os adultos de cantarídeos foram capturados no período compreendido entre 24 de Abril e 18

de Junho, embora em número reduzido, tendo-se registado o máximo de quatro capturas a 16

de Maio na armadilha 1 (Fig. 5-f e Quadro 3) . Até ao fim das amostragens só foi efectuada

mais uma captura a 14 de Agosto na armadilha 5 (Fig. 5-f).

? Família Carabidae

Os carabídeos foram capturados em número reduzido, apenas seis, cinco dos quais entre

meados de Abril e inícios de Junho, nas armadilhas 1, 2 e 4. O máximo de capturas verificou-

se a 22 de Maio, com 2 indivíduos capturados. A 31 de Julho verificou-se a última captura de

insectos desta família na armadilha 2 (Fig. 5-g).

Os carabídeos capturaram-se com maior intensidade num período de tempo relativamente

curto, em Maio, quando comparado com o referido por Acta (1984), que aponta para uma maior

actividade entre Maio e Setembro (Quadro 3 e 4).

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Ordem Neuroptera

? Família Chrysopidae

No acompanhamento efectuado às armadilhas cromotrópicas capturou-se um número muito

reduzido de insectos pertencentes a esta família, 20 indivíduos apenas, representando este

valor 2,3 % do total de capturas efectuadas no ensaio. Os crisopídeos foram capturados de

forma irregular durante o período de amostragens, tendo sido capturado apenas um adulto nas

datas de 17 de Abril, 8 de Maio e 11 de Junho na armadilha 2. A 23 de Julho registou-se um

aumento generalizado de capturas de adultos desta família, ocorrendo o máximo de cinco

capturas na armadilha 1. Esta continuou a capturar crisopídeos em maior número que as

restantes na seguinte amostragem a 30 de Julho (Fig. 5-h). A partir desta data verificou-se

apenas a captura de mais um adulto a 28 de Agosto e na última amostragem a 1 de Outubro.

Relativamente ao referido por Acta (1984) os crisopídeos apresentaram um período de

actividade mais tardio e menos prolongado (Quadro 3 e 4). O facto da armadilha 1 ter sido a

que capturou um maior número de crisopídeos poderá ser explicado pela maior disponibilidade

de presas neste local, nomeadamente de cigarrinha verde (Fig. 3) já que esta praga é referida

como sendo uma das suas presas (Quadro 4), assim como pelo microclima aí existente.

Ordem Diptera

? Família Syrphidae

No estudo efectuado foram só capturados dois indivíduos pertencentes a esta família nas datas

de 8 de Maio na armadilha 3 e 18 de Junho na armadilha 2. A fraca presença deste auxiliar

poderá talvez ser explicada pela sua grande especificidade alimentar, nomeadamente de

afídeos (Quadro 4), praga que não é vulgar encontrar-se na vinha desta região. Como é visível

no Quadro 4 existem diferenças na biologia das várias espécies de sirfídeos. Como não se

procedeu à identificação das espécies capturadas, não nos é possível comentar os seus

períodos de actividade.

Ordem Hemiptera (Subordem Heteroptera)

? Família Miridae

No estudo efectuado foram só capturados dois exemplares de mirídeos, um deles a 28 de

Maio, na armadilha 4 e o outro a 25 de Junho na armadilha 3, o que não permite tirar

conclusões acerca da sua biologia.

? Família Nabidae

Ao longo de todo o período de amostragens só foi possível efectuar a captura de dois

indivíduos desta família, um a 23 de Julho e outro a 30 de Julho nas armadilhas 3 e 1

respectivamente, o que não permite tirar conclusões acerca da sua biologia.

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Relativamente ao número total de insectos capturados nas cinco armadilhas, verifica-se a

ocorrência de dois picos de capturas, o primeiro a 18 de Junho em que foram contabilizados

82 insectos predadores e o segundo, a 18 de Setembro, em que se capturaram 86 indivíduos

(Fig. 6).

Fig. 6- Evolução do número total de insectos capturados pelas cinco armadilhas cromotrópicas na vinha em estudo

Efeito dos tratamentos fitossanitários

Ao longo de todo o período de amostragens verificaram-se vários decréscimos no número de

capturas dos adultos pertencentes às famílias estudadas Fig. 5 (a-h). Pensamos que estes

possam ter sido provocadas por diversos factores, entre os quais, aqueles que se prendem

com a biologia dos insectos, a escassez de presas, as condições climáticas e por fim com a

possível interferência negativa de um tratamento fitossanitário.

Salientam-se, pela sua ocorrência no período de maior actividade de alguns dos auxiliares

capturados, a precipitação e consequente descida de temperatura verificada a 29 de Junho e

27 e 28 de Agosto (Fig. 1), a dinâmica da traça da uva e cigarrinha verde em 2003 (Fig. 2 e 3)

e, por fim, a ocorrência dos tratamentos fungicidas efectuados à vinha (Quadro 5).

Desconhece-se até que ponto a precipitação ocorrida nos dias referidos pode ter influenciado o

voo dos insectos capturados ao longo de uma semana de amostragem. A descida de

temperatura, ocorrendo num período mais alargado (Fig. 1) poderá ter tido uma influência

acrescida. Relativamente às pragas, as oscilações de capturas quer de traça (Fig. 2) quer de

cigarrinha verde (Fig. 3), prendem-se fundamentalmente com o ciclo biológico das pragas, não

tendo sido possível quantificar semanalmente ovos ou lagartas da traça da uva e ninfas de

cigarrinha verde, presas de alguns dos auxiliares capturados. Finalmente relativamente aos

tratamentos fungicidas efectuados no ensaio (Quadro 5), fez-se uma pesquisa bibliográfica

com o objectivo de reunir informação relativamente à toxicidade das suas substâncias activas.

0

25

50

75

100

10-Abr

24-Abr

8-Mai

22-Mai

5-Jun

19-Jun

3-Jul

17-Jul

31-Jul

14-Ago

28-Ago

11-Set

25-Set

Nº total adultos

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Quadro 5- Tratamentos fitossanitários efectuados na vinha em estudo

Relativamente à informação toxicológica dos fungicidas aplicados face aos auxiliares, Gendrier

& Reboulet (2000) fazem referência à toxicidade média que apresentam as formulações

molháveis do enxofre para coccinelídeos enquanto que Jacas & Vinuela (1993) em ensaios

laboratoriais verificaram que, relativamente aos crisopídeos, esta substância activa

apresentava ausência de toxicidade a toxicidade moderada, toxicidade ligeira em sirfídeos e

toxicidade moderada a toxicidade efectiva em coccinelídeos. No entanto, as pequenas

reduções nas capturas verificadas a 24 de Abril nos coccinelídeos (Fig. 5-a), nos mordelídeos

(Fig. 5-b), nos clerídeos (Fig. 5-c), nos estafilinídeos (Fig. 5-e), nos carabídeos (Fig. 5-g) e nos

crisopídeos (Fig. 5-h) e a 28 de Maio nos estafilinídeos (Fig. 5-e) e nos carabídeos (Fig. 5-g)

não nos parecem significativas, para poder relacioná-las com as aplicações de enxofre em pó

(Quadro 5).

Na amostragem realizada a 3 de Julho verificou-se um novo decréscimo de capturas, desta vez

mais acentuado nos coccinelídeos (Fig. 5-a) e nos mordelídeos (Fig. 5-b). Nesta data foram

recolhidos insectos que foram capturados num período que coincidiu com a ocorrência de uma

precipitação de 28 mm (29 de Junho) e descida de temperatura e com a aplicação de dinocape

e cimoxanil + oxicloreto de cobre + propinebe (Quadro 5). Quanto ao dinocape, Gendrier &

Reboulet (2000) referem que, relativamente aos coccinelídeos, esta substância activa

apresenta uma toxicidade média. Não encontramos informação relativamente à toxicidade das

outras substâncias activas em mistura, apesar do oxicloreto de cobre ser referido por Jacas &

Vinuela (1993) como inofensivo em laboratório para coccinelídeos e moderadamente tóxico em

laboratório para crisopídeos mas inofensivo para os mesmos em condições de campo.

Estes dados, apesar de não conclusivos, sugerem uma possível interferência da substância

activa dinocape sobre os coccinelídeos, quando aplicada numa fase em que esta família já se

encontrava em actividade intensa (Quadro 3).

Tratamento Nº

Data Nome comercial

Substância activa Dose / Concentração

Inimigo Estado fenológico

1 14-20 Abril - enxofre em pó 50 kg / ha oídio Cachos visíveis

Milraz Super cimoxanil+oxadicil+ propinebe

250 g / hl míldio 2 6 Maio

Horizon EW tebuconazol 40ml / hl oídio Flores separadas

Milraz Super cimoxanil+oxadicil+ propinebe 250 g / hl míldio

3 27 Maio Horizon EW tebuconazol 40ml / hl oídio

Alimpa / Bago de chumbo

4 12 Junho - enxofre em pó 70 kg / ha oídio Bago de ervilha

Milraz Cobre cimoxanil + oxicloreto de cobre + propinebe

350g / hl míldio 5 27 Junho

Dinogil dinocape 150g / hl oídio Cacho fechado

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CONCLUSÃO

Os resultados obtidos, mostraram-nos que a vinha em estudo possuía um complexo de

predadores relativamente rico mas pouco diversificado. Assim, com a técnica de amostragem

utilizada foi possível identificar 11 famílias, isto é, Coccinellidae, Cantharidae, Mordellidae,

Cleridae, Malachiidae, Staphylinidae, Carabidae da ordem Coleoptera; Miridae e Nabidae da

ordem Hemiptera; Chrysopidae da ordem Neuroptera e Syrphidae da ordem Diptera. No total

de capturas, 57,6 % da população pertenciam à família Coccinellidae, merecendo destaque o

género Scymnus sp. que correspondeu a 81 % do total de indivíduos capturados desta

família.

Relativamente ao número de insectos capturados nas cinco armadilhas cromotrópicas,

verificou-se que a armadilha 1 foi a que capturou um maior número de insectos, não sendo de

negligenciar a importância da diversidade vegetal neste local.

O período de maior actividade dos adultos capturados foi de uma forma geral o que decorreu

entre os meses de Maio a Setembro. Destaca-se o mês de Junho, no qual se capturaram com

intensidade cinco famílias, nomeadamente os coccinelídeos, os mordelídeos, os clerídeos, os

malaquídeos e os estafilinídeos.

A aplicação de dinocape num período de intensa actividade dos coccinelídeos, pode ter

contribuído para um efeito negativo naqueles auxiliares, dada a conhecida toxicidade desta

substância activa sobre esta família, sendo importante em futuros trabalhos estudar esta

problemática, dada a complexa interacção com factores relacionados com o ciclo biológico dos

auxiliares, ocorrências climáticas e relação presa/predador.

Por fim, e dada a escassez de trabalhos no nosso país relacionados com o estudo da fauna

auxiliar, importará referir a necessidade da realização de estudos orientados por um lado para

o conhecimento dos artrópodes predadores existentes na vinha e da sua importância na

limitação das pragas, e por outro para o estudo da toxicidade das várias substâncias activas

homologadas em protecção integrada face a estes auxiliares.

AGRADECIMENTOS

Á equipa técnica da Quinta do Bomfim, nomeadamente aos técnicos Paulo Macedo, Miles

Edellman e José Guerra pela disponibilidade de meios, ajuda na caracterização das parcelas e

cedência de dados.

Á Bayer Cropscience pela cedência de parte dos fungicidas aplicados no ensaio.

Ao Engº Monteiro Guimarães da DGPC pela identificação de alguns heterópteros e à Drª Isabel

Martins da DGPC pela identificação das espécies de coccinelídeos.

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