ensino religioso: uma proposta participativa para...
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ENSINO RELIGIOSO: UMA PROPOSTA PARTICIPATIVA PARA A S
ESCOLAS DOMINICANAS
GONÇALVES; Adalgisa de Oliveira1- PUCPR
FERREIRA, Miriam Cristina2 - CNSR
Grupo de Trabalho - Ensino Religioso Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo Este artigo tem o objetivo de compartilhar a proposta de Ensino Religioso Escolar (ERE) da Rede de Escolas Dominicanas (Irmãs Dominicanas de Nossa Senhora do Rosário de Monteils) que foi elaborada a partir de uma construção coletiva envolvendo as Províncias Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora de Guadalupe e Madre Anastasie. A Equipe de Educação da Rede, impulsionada pela LDB 9.394/96, assumiu construir uma proposta de ERE que partisse da metodologia participativa. Tendo estabelecido o objeto de estudo – Dimensão religiosa do ser humano e suas manifestações –, foi elaborada uma Matriz Curricular para o ERE, tendo presente o projeto de Educação Religiosa geral, que contemplava o ERE, mas também a Pastoral Escolar e a Iniciação Cristã. Era relevante para a equipe marcar decisivamente a natureza pedagógica do ERE. Nesse sentido, buscou-se os documentos oficiais que embasavam o ERE até aquele momento, como os elaborados pelo Fórum Permanente de Ensino Religioso – FONAPER. O pressuposto da Educação Religiosa Dominicana é o desafio da educação do século XXI, apresentado por Delors (1996), isto é, aprender a conhecer, aprender a aprender, aprender a ser e aprender a conviver. Além disso, pauta-se nos fundamentos propostos nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a área das Ciências Humanas que é formar integralmente o ser humano, preparando-o para conviver com a diferença religiosa sem preconceitos ou discriminações. Esta proposta de ERE se fundamenta em três princípios que são a base para a prática pedagógica: a dimensão humana e suas manifestações religiosas, os valores e as atitudes, buscando um agir religioso celebrativo e transformador. Palavras-chave: Educação Religiosa Dominicana. Ensino Religioso Escolar. Matriz Curricular.
1 Doutora em Ciências Humanas, Mestre em Educação. Professora da Escola de Comunicação e Artes da PUCPR. Assessora do Projeto. 2 Pedagoga. Especialista em Gestão Escolar. Diretora do Colégio Nossa Senhora do Rosário (CNSR)x, de Curitiba, Província Dominicana Nossa Senhora do Rosário.
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Introdução
A equipe que elaborou essa proposta de ERE para a Rede de Escolas Dominicanas
(Irmãs Dominicanas de Nossa Senhora do Rosário de Monteils) das Províncias Nossa Senhora
do Rosário, Nossa Senhora de Guadalupe e Madre Anastasie partiram de uma pesquisa
diagnóstica de todo o trabalho que vinha sendo feito em todas as Escolas da Rede em anos
passados. Debruçaram-se sobre o material, analisando item por item, distinguindo os
elementos que correspondiam às expectativas do Ensino Religioso do momento atual e
aqueles que se aproximavam mais de uma prática pastoral ou catequética. Depois de proceder
essas triagem iniciou-se o trabalho de construção de uma Matriz Curricular para o ERE,
partindo da premissa ensejada pela LDB 9.394/96, no art. 33 § 1º "Os sistemas de ensino
regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e
estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores". O resultado desse
processo de construção é o que será apresentado a seguir.
Traços da Educação Religiosa nas Escolas Dominicanas
Antes do Concílio Vaticano II (1962 a 1965), a linha de trabalho era meramente
catequética e tinha como subsídio, principalmente, o livro História Sagrada, com o objetivo
de facilitar o entendimento da Bíblia. A Catequese e as aulas de Religião eram ministradas
somente pelas religiosas. Era dada importância à preparação para a Primeira Comunhão,
celebrações com ritos e orações, como: missa, reza do terço, novenas, tríduos, coroação de
Nossa Senhora, retiros espirituais.
Depois do Concílio Vaticano II, algumas dessas práticas foram sendo abolidas e outras
permaneceram por mais tempo. Foi dada menor importância aos aspectos devocionais e
rituais. Nessa época, por influência das diretrizes do Concílio, organizaram-se movimentos de
jovens, contribuindo para um novo enfoque de religiosidade. Em algumas escolas, essa
tendência foi colocada em prática, por iniciativa das irmãs e com significativo envolvimento
dos jovens.
As aulas de religião, ainda sob a responsabilidade das religiosas e seminaristas,
gradativamente, foram sendo assumidas por leigos e leigas, primeiro, nas séries iniciais, e a
Catequese continuava sob a orientação das irmãs.
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As aulas de Religião com a metodologia Ver, Julgar e Agir deram forte enfoque à
formação humana ou educação para a vida, explorando temas gerais, como: amor, amizade,
namoro, drogas, sexualidade, identidade e outros. Eram promovidas reuniões de planejamento
e cursos de capacitação para a organização e a avaliação das atividades religiosas na escola.
Os primeiros livros didáticos eram recheados de roteiros catequéticos como instrumento de
trabalho na ótica da Doutrina Social da Igreja Católica, privilegiando temas bíblicos ligados à
realidade sociorreligiosa do país. As principais editoras da época procuravam estabelecer,
através dos conteúdos programáticos, diálogo entre ciência e fé, valorização da vida e da
natureza e, consequentemente, a valorização e o respeito às demais religiões.
A partir das Conferências dos Bispos da América Latina em Medelin (1968), em
Puebla (1979) e dos ideais da Teologia da Libertação, instalou-se uma mudança na visão das
escolas católicas em relação ao Ensino Religioso e demais atividades escolares, enfatizando a
opção preferencial pelos pobres e pela juventude. Paralelamente a este trabalho, as escolas
envolveram-se na proposta da CNBB de Campanhas da Fraternidade que refletiam as
necessidades de mudanças profundas para a preservação da vida e da dignidade humana.
Com o advento da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394, de
1996, definiu-se a escolarização do Ensino Religioso como área de conhecimento nas escolas
públicas. Criou-se, inicialmente, nas escolas dominicanas, um impasse na definição de como
este assunto iria ser tratado, sem que se abandonasse a identidade cristã e o carisma
dominicano. Agora, com uma presença significativa de leigos como professores de Ensino
Religioso se percebeu a necessidade de um aprofundamento no conhecimento da nova
concepção. Nessa época, foram oferecidos cursos, encontros e estudos por iniciativa de
entidades católicas.
Através de estudos, reflexões, descobertas, participação efetiva e afetiva de cada
componente da equipe, usando a metodologia do Planejamento Participativo, foi construída a
proposta de Educação Religiosa Dominicana.
Matriz Curricular para o Ensino Religioso
Com base nos estudos de Meslin (1992), Figueiredo (1993, 1994), Charlot (2000),
Junqueira e Wagner (2011), entre outros, foi sendo construída uma ideia do que se queria para
o componente curricular que estava nascendo. Estipulou a partir da experiência de outros
componentes uma estrutura que deveria ser desenvolvida para as Escolas Dominicanas:
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� Objeto de estudo do Ensino Religioso
� Os eixos estruturadores da disciplina
� Os eixos temáticos
� Conteúdos significativos para todos os segmentos
Objeto de Estudo do Ensino Religioso nas Escolas Dominicanas
A dimensão religiosa do ser humano e suas manifestações.
Objetivo do Ensino Religioso
Propiciar o desenvolvimento da dimensão religiosa do ser humano e a compreensão do
fenômeno religioso sob a perspectiva da experiência religiosa e do sagrado, para colaborar na
busca de respostas aos anseios existenciais e ressignificar a vida.
Eixos Estruturadores do ERE
Os eixos estruturadores se voltam para a organização interna do componente curricular
Ensino Religioso, os eixos temáticos situam os conteúdos significativos nos âmbitos das
idades e dos anos escolares, facilitando uma ação contextualizada e interdisciplinar.
Os eixos que estruturam a Matriz Curricular de Ensino Religioso das Escolas
Dominicanas são: Conhecimento Religioso, Linguagem Religiosa, Relações Religiosas e
Legado Dominicano.
Conhecimento Religioso
Esse eixo inscreve-se no contexto do conhecimento religioso. A relação do sujeito
com o objeto religioso recebe tratamento investigativo de interpretação, reinterpretação e
produção de conhecimento por meio de análises, reflexões críticas, pesquisas e
aprofundamentos dos valores e produções sociais, culturais, éticas, espirituais e religiosas.
Integram esse eixo as manifestações históricas e culturais e os elementos constitutivos
das religiões. Trata-se do conjunto de afirmações e conhecimentos elaborados pelas religiões
no decorrer da história e que chamamos de teologias. As teologias representam, de certa
forma, a busca de respostas para as perguntas fundamentais da existência humana. Elas são as
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múltiplas faces e expressões do sagrado, nas diferentes culturas. Este eixo volta-se para a
hermenêutica dos textos sagrados como experiência vivida e ressignificada pelos povos. A
religiosidade exerce, nesse contexto, a função de um componente de base que caracteriza a
dimensão religiosa do ser humano. O Conhecimento Religioso ajuda a compor a identidade e
influencia na formação das diferentes sociedades. Além disso, no contexto da educação
básica, ajuda o educando a dar mais consistência e transparência ao seu projeto pessoal de
vida.
Linguagem Religiosa
O eixo Linguagem Religiosa, como salienta Croatto (2004), circunscreve-se no
contexto da interpretação e decodificação do elemento/fato religioso não apenas para decifrar
os códigos religiosos da sociedade, mas também para rever posicionamentos, posturas e
condutas perante esses elementos.
A compreensão da linguagem religiosa está intimamente ligada à experiência do
sagrado que a própria linguagem quer comunicar. Compreender a linguagem religiosa a partir
da experiência do sagrado é condição para irmos além do conceito e nos aproximarmos da
vida real, do contexto histórico e cultural em que a experiência é vivida e partilhada.
A linguagem religiosa descreve a experiência do ser humano em relação ao sagrado,
proporcionando a interpretação de ritos, mitos, textos sagrados, ethos, símbolos para
problematizar, transformar, iluminar e transcender as situações sociorreligiosas
contemporâneas.
Relações Religiosas
O ser humano delineia as suas características históricas e culturais nas relações sociais
e interpessoais que estabelece. Essas relações geram algumas ações, como compromisso
social e transformação da realidade a partir da experiência religiosa; apelo à solidariedade;
testemunho de vida religiosa, pessoal e social; apreensão de uma ética a partir de valores
religiosos, e, também, a alteridade e os limites éticos que sustentam as relações.
A análise e observação dos procedimentos e das várias formas de manifestação
ajudarão a compreender e reconhecer processos que incluem o cuidado e a solidariedade
como forma de ser e estar no mundo. O acolhimento e a inclusão das diferenças enriquecem e
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evidenciam uma postura ética e crítica necessária perante relações de poder – presentes
também no campo religioso – e perante a consciência planetária.
Legado Dominicano
O Legado Dominicano contempla a herança cultural, histórica, social, política,
econômica, ética, intelectual e espiritual deixada por todos aqueles que comungaram e
comungam do ideal dominicano. Consideramos que o conhecimento dessa rica herança
ajudará a compreender, por meio da experiência de vários séculos, que é possível a vivência
de valores como: verdade, justiça, oração, compaixão, misericórdia, contemplação, estudo.
Este legado é construído por meio da história, e se faz, em cada tempo, por pessoas
audazes, com projeto de vida comprometido com direitos humanos, justiça, paz e ética,
construindo novos significados e sentidos para a religião, a igreja, a sociedade e a vida. Na
Figura 1, apresentamos a síntese da especificação da estrutura do componente curricular
Ensino Religioso.
Figura 1 – Especificação da estrutura do componente curricular Ensino Religioso
Fonte: Plano Curricular do Ensino Religioso da Província Dominicana Nossa Senhora do Rosário
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Eixos Estruturadores e respectivas competências
Conhecimento Religioso
- Compreender o fenômeno religioso à luz de diferentes experiências religiosas e
culturais de modo a interpretá-lo de forma crítica, ressignificando-o.
- Conhecer, compreender e relacionar os elementos constitutivos das religiões, relendo
os componentes identitários dos vários grupos no campo das culturas religiosas.
- Compreender a dimensão religiosa como um dos elementos constitutivos do ser
humano.
- Compreender a origem e o desenvolvimento das tradições religiosas na sociedade em
seus desdobramentos: humanos, políticos, econômicos, sociais e culturais.
- Compreender o papel ideológico das instituições religiosas, associando-as às práticas
dos diferentes grupos e princípios que regulam a convivência na sociedade.
- Mobilizar o conhecimento religioso para a busca de respostas às questões
existenciais do ser humano e para a busca do sentido da vida.
Linguagem Religiosa
- Decodificar, nomear, interpretar a linguagem religiosa.
- Compreensão e valorização pluralidade religiosa que permeia as diferentes culturas.
- Dominar a linguagem religiosa para compreensão dos fenômenos, das manifestações
religiosas e textos sagrados a fim de estabelecer diálogo inter-religioso.
- Entender o significado da linguagem religiosa e perceber a sua essência transparente,
profunda, aberta, profética, transcendente.
- Problematizar, transformar, iluminar as situações sociorreligiosas contemporâneas.
Relações Religiosas
- Compreender as relações religiosas nos processos sociais, éticos e culturais,
promovendo posicionamento consciente e crítico, acolhendo, cuidando, respeitando a
pluralidade religiosa e enriquecendo-se com ela, para um convívio harmonioso consigo
mesmo, com o outro e com o mundo, a fim de construir novas formas de relacionamento e de
compromisso responsável diante da vida.
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- Vivenciar a alteridade nas relações religiosas, fortalecendo as identidades, num
intercâmbio de construção e enriquecimento mútuos, para a promoção da interculturalidade,
do diálogo, do entendimento, do respeito, da convivência entre pessoas diferentes.
- Reconhecer e ressignificar o papel das comunidades humanas como lugar de
manifestações de interculturalidade, de ampliação dos pertencimentos e de enriquecimento da
própria identidade.
Legado Dominicano
- Conhecer, interpretar e ressignificar o Legado Dominicano.
- Conhecer e valorizar a contribuição do Legado Dominicano no entendimento do ser
humano, da religião, da Igreja, da sociedade, do mundo.
- Conhecer e partilhar valores dominicanos como a verdade, a justiça, a oração, o
estudo, a compaixão, a contemplação, o profetismo; confrontando, analisando e revendo o
próprio projeto de vida.
- Comprometer-se eticamente ético com o mundo e com a comunidade humana.
Aprendizagem no Ensino Religioso
A aprendizagem é um processo de assimilação, negociação, significação, interação,
construção e reconstrução que se inicia já no nascimento. Isso vale também para o aspecto
religioso. Nascemos inseridos numa cultura em que está presente, entre outros, os elementos
religiosos que vamos assimilando e experimentando no decorrer da vida.
Portanto, quando a criança chega à idade escolar, ela traz consigo experiências e
vivências que devem ser consideradas no processo de aprendizagem. A criança deve ser
reconhecida e acolhida como uma pessoa que tem uma visão própria de si, do mundo e do
transcendente, com as possibilidades de sua faixa etária. Por isso a aprendizagem em ER não
é meramente definição de conceitos ou relato de fatos históricos sobre a origem das tradições
religiosas, mas, sim, negociação e renegociação de sentidos e significados do fato religioso.
O ER favorecerá essa reflexão, análise, fomentando a criticidade, assim como a interpretação
e reinterpretação dos discursos e das práticas religiosas.
Se por um lado há uma dimensão de interpretação/análise/crítica, por outro há uma
especificidade no ER, que é aprendizagem de signos, princípios, conceitos e textos. A
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aprendizagem de signos diz respeito ao contato com a linguagem, com o discurso religioso,
vinculado a cada cultura. A aprendizagem dos princípios ajuda, desenvolve e amplia o olhar
para uma melhor análise das relações religiosas e das suas implicações na transformação das
realidades. Sem a compreensão dos princípios que regem a ação e o discurso religiosos é
insustentável a aprendizagem do saber conviver. No nível da aprendizagem dos conceitos e
dos textos, podemos abordar temas como a relação entre ciências, fé e religião sem nos deixar
levar por fundamentalismos, proselitismo ou vãs ideologias. Ampliar o mapa conceitual
acerca do fenômeno religioso e estudar os textos sagrados ajudará a alargar as possibilidades
de busca/resposta do sentido da vida e das questões fundamentais da existência humana.
A aprendizagem em Ensino Religioso requer, antes de tudo, atitude de abertura ao
transcendente, por parte de professores e alunos, na certeza de que o ser humano é um ser que
traz em si a inerência religiosa.
Avaliação no Ensino Religioso
A avaliação deve ser processual e formativa, como propõe Hadji (2001). Dessa forma,
ela se torna fundamento para um percurso de excelência de ensino e de aprendizagem. Ao
assumir esse aspecto da avaliação, estamos assumindo também fazer com que a avaliação seja
um momento privilegiado de aprendizagem. Para tanto a avaliação pode exercer suas funções
diagnóstica e somatória sem perder de vista a sua função formativa. Esta função da avaliação
será responsável pela escolha de instrumentos que favoreçam o acompanhamento do processo
de aprendizagem, identificando imediatamente os possíveis desvios ou dando novo tratamento
ao erro. A avaliação não pode ser apenas instrumento de verificação de resultados para fins de
quantificação e classificação de aprendizagens, mas, sim, momento de análise da qualidade da
aprendizagem.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino Religioso (PCNER), a
avaliação é necessária em todos os empreendimentos humanos, passando por todas as
dimensões: sociais, políticas, econômicas, religiosas, ideológicas, dentre outras. Todavia, no
ER, para corresponder a um paradigma atual de educação que pensa o aluno como parceiro e
ator no processo de aprendizagem, a avaliação deve ser contínua e sistemática no sentido de
retroalimentar e sustentar as práticas pedagógicas. A avaliação pressupõe ação mediadora,
sendo que a avaliação também exerce papel de mediação, como afirma Hoffmann (2005), em
que pese a valorização das experiências e dos conhecimentos prévios dos alunos.
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Assumir a avaliação mediadora e processual supõe interferências na prática
pedagógica, pois o professor passa a avaliar-se também e a rever os seus procedimentos
didático-metodológicos. Na medida em que o professor acompanha o caminho de
aprendizagem de cada estudante e também da turma ele terá que rever seus planos de aula,
fazendo reajustes e adaptações na sua forma de planejar o ensino e mediar a aprendizagem,
propondo situações didáticas de excelência. A avaliação processual permite reflexão. A ação-
reflexão-ação é o principal princípio metodológico recomendado para a atuação do professor
de Ensino Religioso.
Os instrumentos mais adequados para a avaliação em Ensino Religioso são: portfólios,
autoavaliação, observação sistemática (diários de classe, relatórios, tabelas, listas) e
participante (presença constante), análise das produções e cadernos, entrevistas, saídas a
campo (visitas a lugares e espaços religiosos), trilhas urbanas, etc.
Essa modalidade de avaliação exige metodologias adequadas. Portanto, supõe-se que
os procedimentos metodológicos privilegiem a reflexão sobre a ação, terminando no processo,
já mencionado, de ação-reflexão-ação. Nesse processo, todos os atores, tanto estudantes
quanto professores, terão oportunidade de criticar as suas próprias práticas. Isso é
protagonismo.
É muito importante que se tenha presente no processo avaliativo as competências
propostas para a educação religiosa. A avaliação de competências requer um olhar mais
abrangente sobre o processo de aprendizagem. Por isso insistimos no aspecto da
diversificação de instrumentos avaliativos.
Conteúdos significativos para o Ensino Religioso
As tabelas apresentadas abaixo trazem o Eixo temático, Objetivos de Aprendizagem e
Conteúdo de cada segmento da Educação Básica. O escopo deste trabalho é oferecer ao corpo
docente uma Matriz Curricular mínima para o Ensino Religioso, que o ajude a compreender a
dinamicidade pedagógica do ERE.
Tabela 1 – Matriz Curricular de Ensino Religioso: Educação Infantil EDUCAÇÃO INFANTIL
1, 2, 3 ANOS Eixo temático Objetivos de aprendizagem Conteúdo
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O fato religioso nas vivências cotidianas
Perceber o fato religioso na vivência do dia-a-dia, para encantar-se e sensibilizar-se com a criação e aprender a admirar o belo.
• O corpo cria, faz, escolhe, partilha, celebra • As vivências da criança na natureza: cuidado e
respeito • A riqueza dos relacionamentos: semelhanças e
diferenças • Momentos e espaços de religiosidade da família na
escola: Campanha da Fraternidade, Páscoa, Festa Junina e Natal. Celebração da Vida na linha Ecumênica
• Diferentes formas de oração: Agradecimento e Pedido
• Celebração da vida: Páscoa, Ação de Graças e Natal • Legado Dominicano
4, 5, 6 ANOS Eixo temático Objetivos de aprendizagem Conteúdo
O fato religioso nas vivências cotidianas
• Perceber o fato religioso na vivência do dia-a-dia, para encantar-se e sensibilizar-se com a criação e aprender a admirar o belo.
• Celebrar momentos significativos da vida para valorizá-la e fortalecer a convivência.
• O corpo cria, faz, escolhe, partilha, celebra • As vivências da criança na natureza: cuidado e
respeito • A riqueza dos relacionamentos: semelhanças e
diferenças • Momentos e espaços de religiosidade da família na
escola: Campanha da Fraternidade, Páscoa, Festa Junina e Natal
• Diferentes formas de oração: Agradecimento, Súplica e Perdão.
• Celebração da Vida na linha Ecumênica • Celebração da vida: Páscoa, Ação de Graças e Natal • Legado Dominicano
Fonte: Plano Curricular do Ensino Religioso da Província Dominicana Nossa Senhora do Rosário.
Tabela 2 – Matriz Curricular de Ensino Religioso: Ensino Fundamental
ENSINO FUNDAMENTAL – ANOS INICIAIS 2º ANO: 7 ANOS
Bloco temático Objetivos de aprendizagem Conteúdos
O fato religioso na família
• Conhecer os costumes religiosos, para identificar os valores de cada grupo religioso presente na turma.
• Cultivar atitudes de cuidado e respeito à diversidade religiosa, para fortalecer as relações.
• Reconhecer valores que fundamentam uma boa convivência: a acolhida, a bondade e a solidariedade...
• Costumes religiosos das famílias: Orações, Celebrações, Gestos, Rituais
• Valores que aproximam pessoas e marcam a comunidade dominicana: Bondade, Acolhida Solidariedade, Perdão, Respeito, Tolerância, Não-violência, Paz
• A construção da memória e da identidade religiosa na vivência cotidiana
• Diferentes grupos religiosos e seus símbolos • Vivência da Oração • Religiosidade e natureza
3º ANO: 8 ANOS
Bloco temático Objetivos de aprendizagem Conteúdos
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O fato religioso na família e na escola
• Conhecer situações concretas de diversidade religiosa, a fim de cultivar o cuidado e o respeito à pluralidade religiosa
• Reconhecer atitudes de amor, amizade e compaixão, como valores necessários para a convivência
• Identificar gestos religiosos, ritos e celebrações no cotidiano, para cultivar respeito e convivência harmoniosa
• Gestos religiosos na família e na escola: Rituais, Celebrações, Orações.
• Os hábitos religiosos: cuidado, escuta, silêncio, admiração e encantamento, gestos de reverência. Perdão, gratuidade.
• As experiências religiosas encontradas em: livros sagrados, dias sagrados, comemorações sagradas, folclore, literatura infantil.
• Valores que aproximam pessoas e marcam a comunidade dominicana: amor, amizade e compaixão.
• Santos Dominicanos
4º ANO: 9 ANOS Bloco temático Objetivos de aprendizagem Conteúdos
Diversidade religiosa na sociedade local
• Conhecer as manifestações religiosas presentes na sociedade local, para perceber a pluralidade existente.
• Compreender o significado das manifestações artísticas religiosas e dos espaços sagrados, para aprender a conviver com a diferença e enriquecer-se com ela.
• Reconhecer lideranças religiosas nas Instituições e nas comunidades locais, para identificar valores que fundamentam a boa convivência.
• Diversidade religiosa na sociedade: diferentes formas de viver a religiosidade
• Expressões artístico-religiosas, espaços sagrados, festas, símbolos
• Lideranças religiosas das comunidades locais: o líder na comunidade, liderança na comunidade dominicana — Anastasie e Domingos
• As experiências vividas nas comunidades de fé: perdão, partilha, comunhão
• Vivência da Oração
5º ANO: 10 ANOS Bloco temático Objetivos de aprendizagem Conteúdos
Manifestações e lideranças religiosas no Brasil
• Identificar as influências das diversas culturas religiosas no Brasil, para compreender a realidade e os costumes religiosos
• Adquirir conhecimentos sobre lenda, símbolo e sagrado, para compreender a linguagem religiosa em diferentes contextos
• Identificar valores que norteiam as relações interpessoais na sociedade plural, para perceber a riqueza advinda da diversidade religiosa
• Heranças religiosas: práticas religiosas, histórias religiosas, rituais
• Expressões religiosas na cultura brasileira: festas, rituais, músicas, orações, vestuários, livros sagrados, alimentos...
• Lideranças religiosas no Brasil e suas influências na realidade
• Lideranças Dominicanas • Lendas, símbolos sagrados • Conceito de religião e religiosidade
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6º ANO: 11 ANOS
Eixo temático Objetivos de aprendizagem Conteúdos
Relações Sociorreligiosas no Cotidiano
• Compreender as relações sociorreligiosas, a partir de situações concretas para cultivar atitudes de diálogo e respeito
• Adquirir conhecimentos sobre religião e religiosidade para compreender as diferenças presentes nas tradições religiosas
• Identificar valores presentes nas tradições religiosas para melhorar a qualidade das relações humanas
• Conceito de religião e religiosidade • A relação do ser humano com o sagrado • A manifestação religiosa na vida das comunidades • Diversidade e liberdade religiosas: o valor das
diferenças • Valores religiosos: compaixão, empatia,
solidariedade, liberdade, e acolhida • Celebração como possibilidade de descoberta,
encontro e valorização da vida • Compromisso social nas religiões
7º ANO: 12 ANOS Eixo Temático Objetivos de Aprendizagem Conteúdos
As religiões e a busca de sentido da vida
• Conhecer as diversas contribuições que as tradições religiosas nos oferecem para entender o sentido da própria vida
• Identificar a linguagem da experiência religiosa para reconhecer diferentes caminhos na busca do sentido da vida
• O ser humano em busca da felicidade • A compreensão do sofrimento nas tradições religiosas • Mito, rito e magia • Identidade religiosa e projeto de vida • Experiência religiosa e mudança
8º ANO: 13 ANOS Eixo Temático Objetivos de Aprendizagem Conteúdos
Expressões religiosas e a construção do projeto de vida
• Conhecer as grandes religiões do mundo, as religiões brasileiras e as classificações das divindades para identificar as diferentes linguagens e experiências religiosas.
• Conhecer as relações presentes nas diversas religiões, para fortalecer a identidade religiosa pessoal e coletiva.
• As diversas formas religiosas: Politeísmo, Monoteísmo, Animismo, monolatria
• As grandes religiões da humanidade: hinduísmo, cristianismo, judaísmo, budismo, islamismo
• Matrizes religiosas presentes nas origens do Brasil • Religiões Afro-Brasileiras e Espiritismo • Religiões Indígenas • Sincretismo religioso, diálogo inter-religioso e
ecumenismo. Multiculturalismo • Manifestações coletivas do fenômeno religioso • A construção do projeto de vida • Celebração: a pluralidade na oração • Religião e Sexualidade
9º Ano: 14 ANOS Eixo Temático Objetivos de Aprendizagem Conteúdos
Dimensão religiosa no projeto de vida
• Compreender a importância da dimensão religiosa na vida humana, para significar o compromisso pessoal e social
• Conhecer as situações sociorreligiosas contemporâneas para compreender a vivência religiosa atual.
• Diálogo entre ciências e religiões • Gnosticismo e ateísmo militante • A vivência religiosa contemporânea • As ideias de imortalidade (cristianismo, judaísmo,
hinduísmo e budismo) • Os sentidos de vida e morte nos textos sagrados. • Religião e culturas juvenis • Necessidade de espiritualidade para existência
humana. • Direitos humanos, Valores Cristão/Católicos: Justiça,
verdade, Solidariedade... Fonte: Plano Curricular do Ensino Religioso da Província Dominicana Nossa Senhora do Rosário.
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Tabela 3 – Matriz Curricular de Ensino Religioso: Ensino Médio ENSINO MÉDIO
1º ANO Eixo Temático Objetivos de Aprendizagem Conteúdos
Religião e Sociedade
• Compreender como se processam as relações entre religião e sociedade para desenvolver o senso crítico e a convivência harmoniosa
• Ressignificar os valores sociais à luz da verdade e da justiça para fortalecer o ser humano no seu projeto de vida.
• Experiência do sagrado e sentido da vida nas denominações religiosas
• As Religiões e a formação dos Estados • O sentido do Sagrado na formação cultural dos povos • As novas matrizes religiosas no mundo contemporâneo • Legado Dominicano
2º ANO Eixo Temático Objetivos de Aprendizagem Conteúdos
Religião e Política
• Compreender a complexidade das relações de poder no campo da política e da religião e suas interferências na sociedade para exercer a cidadania responsável
• Compreender a evolução das sociedades a partir da influência das religiões para um comprometimento político e social com a verdade e a justiça
• Religião: uma forma de convivência e organização • Religião e a construção dos mecanismos de poder e
domínio • Poder e força política da religião • Ideologias religiosas: fundamentalismo, fanatismo,
sectarismo, proselitismo • Sistemas políticos e religiões • Legado Dominicano
3º ANO Eixo temático Objetivos de aprendizagem Conteúdos
Religião e Ética
• Tomar consciência do potencial de atuação e transformação na sociedade, mobilizando os conhecimentos sobre a dimensão religiosa, para uma vivência ética, solidária e comprometida com a verdade e com a justiça
• Síntese do caminho feito a partir de alguns elementos como: ética, cidadania, responsabilidade social, concepções religiosas
• Importância das ações éticas e solidárias nas escolhas • A construção de sentido para a vida • Legado Dominicano
Fonte: Plano Curricular do Ensino Religioso da Província Dominicana Nossa Senhora do Rosário.
Considerações finais
O conhecimento religioso, como patrimônio da humanidade, necessita estar à
disposição na escola. O ER, em vista da operacionalização desse processo, deve buscar a
compreensão desse conhecimento e explorar temas interessantes, de forma interdisciplinar,
com estratégias que considerem um novo perfil de indivíduos, estimulando, sobretudo, o
diálogo. Portanto, essa disciplina, como as demais, deve ser mantida sobre o fundamento do
conhecimento.
O Ensino Religioso deve abranger as expressões religiosas presentes na escola
e na sociedade, para garantir o direito de livre expressão de culto e de conhecimento dos
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fundamentos básicos de cada uma delas, levando em consideração a sua história, o fenômeno
religioso, as doutrinas religiosas, a ética e a cidadania.
A escola se compromete em prover os educandos de oportunidades para se
tornarem capazes de entender os momentos específicos das diversas culturas, cujo substrato
religioso colabora no aprofundamento para a autêntica cidadania. A sala de aula é um espaço
privilegiado de reflexão sobre as religiões.
Com a apresentação da Matriz Curricular de Ensino Religioso das Escolas
Dominicanas de Monteils neste artigo, espera-se que tenhamos podido contribuir ainda que de
maneira simples e inacabada para a efetivação da natureza pedagógica do Ensino Religioso.
Nesses momentos de globalização precisamos aprender a compartilhar nossas autorias,
favorecendo dessa forma uma escrita contemporânea em muitas mãos. A pesquisa continua,
sem perder de vista que o ER exige uma construção e uma aprendizagem que seja processual,
progressiva e permanente que sensibiliza para o mistério, na alteridade. É um conhecimento
que constrói significados e desenvolve a tríplice relação: educando-conhecimento-educador.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional (Lei 9.394/96). Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997.
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