ensino de química: atividades envolvendo a extração mineral … · 2014-11-09 · das ciências...

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Congreso Iberoamericano de Ciencia, Tecnología, Innovación y Educación 1 ISBN: 978-84-7666-210-6 – Artículo 1523 Ensino de Química: atividades envolvendo a extração mineral com uma abordagem CTS. GREICE C. B. SANTOS; ANDREA, S. L.; LUIZ A. V. DE FIGUEIREDO; MIRANDA Jr., P

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ISBN: 978-84-7666-210-6 – Artículo 1523

Ensino de Química: atividades envolvendo a extração mineral com uma abordagem CTS.

GREICE C. B. SANTOS; ANDREA, S. L.; LUIZ A. V. DE FIGUEIREDO; MIRANDA Jr., P

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ISBN: 978-84-7666-210-6 – Artículo 1523

Ensino de Química: atividades envolvendo a extração mineral com uma abordagem CTS

Greice C. B. Santos1*; Andrea, S. Liu1; Luiz A. V. de Figueiredo² e Pedro Miranda Jr1. (1) Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo- IFSP, Campus São Paulo, Rua Pedro Vicente, 625, Canindé, CEP: 01109-010. São Paulo- SP. (2) Centro Universitário Fundação Santo André- FSA, Av. Príncipe de Gales, 821, Bairro Príncipe de Gales, CEP: 09060-650. Santo André- SP. *[email protected]

Resumo

O presente trabalho analisou através de atividades como a temática da extração mineral com enfoque CTS¹ ligada à construção civil, colabora para o ensino de química, já que envolve assuntos da ciência, tecnologia e sociedade. Os minerais se tornaram influentes sobre o desenvolvimento econômico de um país, devido ao processo de urbanização que continua crescendo; e para atender a essa demanda a construção civil precisou crescer. Dessa forma os recursos naturais que acompanham esse processo sem controle, sofrem impactos irreversíveis e muitas vezes desconhecidos por parte da população brasileira. Utilizando esta interface entre a extração mineral e a construção civil, uma atividade com abordagem química foi planejada para duas turmas de 1° ano do Ensino Médio de ensino Municipal, atividades estas realizadas na zona leste de São Paulo- SP, com o intuito de aprimorar habilidades dos alunos e suas capacidades de reflexão e comunicação frente às questões ambientais.

Palavras- chave: ensino de química, extração mineral, CTS.

Introdução

Sabe- se que na natureza existem milhares de minerais, logo existiu a necessidade de Ciências que se dedicassem ao estudo dos mesmos; e uma das que trabalha nesta linha de pesquisa, análise e identificação, é a Mineralogia, que é o ramo das Ciências Geológicas que estuda os minerais, no que tange as suas características físicas e químicas; esta última se relaciona à estrutura, sua composição, propriedades e a maneira de ocorrência na natureza.

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A Química por ser uma das ciências que estuda os minerais, a qual foi o foco deste trabalho, especificamente utilizada no âmbito educacional; destacou os problemas e benefícios da mineração, com o intuito de desenvolver competências e habilidades dos alunos do ensino médio tradicional.

Atualmente diversas atividades ainda são desenvolvidas e executadas em sala de aula por docentes com o objetivo de motivar o aluno ou comprovar fatos e teorias previamente vistos em sala de aula, esta visão é errônea, pois dados demonstram a ineficiência desta prática no momento de desenvolver as habilidades do aluno, impedindo-os de aprender.

Estudos comprovam que ao invés de utilizar métodos que são ineficazes, seria primordial a aplicação de metodologias de ensino que levem em consideração a motivação e a ativa participação dos alunos.

Uma das tarefas do professor é a busca incessante por metodologias que façam com que os discentes tornem- se capazes de investigar situações e tomem conclusões por si mesmos, comparando seus estudos com o que há em seu cotidiano e que no processo de aprendizagem se tornem cidadãos capacitados a aprender com o seu próprio esforço.

Um fator extremamente importante de ser tratado nas instituições de ensino é a extração dos minerais, visto que há impactos consideráveis decorrentes dessas ações, à medida que rejeitos, frutos dessa atividade, podem contaminar lençóis freáticos e mananciais (RICARDO, 2007) e, além disso, a vegetação e a fauna ficam totalmente comprometidas à exploração. Observando esse contexto, se faz necessário que os órgãos envolvidos tenham um cuidado apropriado com as regulamentações que permeiam a extração de minérios, já que a mesma envolve toda uma questão ambiental e social.

Ainda sobre a extração mineral e seus impactos, é perceptível que a obtenção de materiais comuns, por exemplo, o ferro, o cobre, o níquel e o zinco, são indispensáveis na vida cotidiana, mas principalmente ilustram a aproximação e a importância de tais minerais para atender as necessidades da população.

Não existem dúvidas que os minerais são extremamente importantes no desenvolvimento de um país, especialmente com o excessivo crescimento demográfico, sendo necessária uma quantidade maior desse recurso natural para atender às crescentes demandas (LUZ; LINS, 2008).

Devido a essa exploração inadequada, os processos de extração causam impactos irrecuperáveis ao meio ambiente. Segundo Sattler e Pereira (2006) para que o ambiente natural se harmonize com o ambiente construído, é primordial que o conhecimento sobre sustentabilidade aflore por meio de uma educação e conscientização, de modo que atinja a sociedade vigente, priorizando princípios éticos. De acordo com Correia (2004):

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Percebe- se que à medida que a sociedade se desenvolve, a capacidade de transformar e modelar o ambiente natural aumenta, e a substituição gradual dos processos naturais pelos artificiais acaba resultando em complexas contradições com a preservação. Por outro lado, dadas às dificuldades de sobrevivência e diminuição da qualidade de vida, cada vez mais evidentes, o homem se viu obrigado a rever este processo de degradação ambiental e do uso irracional dos recursos naturais.

Por isso, a interação do movimento CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade) com conteúdos programáticos vem crescendo gradualmente no território brasileiro. No processo de ensino e aprendizagem de Química não é diferente, apesar da aderência desta técnica por parte dos profissionais da educação, a utilização de abordagens temáticas com enfoque CTS remetem o aluno à atuação participativa cidadã no âmbito social.

É evidente que existem problemas relacionados ao processo de ensino- aprendizagem de Química, devido à falta de relação entre a metodologia adotada e o cotidiano do discente, porém o desenvolvimento da estrutura curricular com enfoque na Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) busca contribuir na construção de conhecimento voltado para a cidadania e consequentemente uma conexão com a Educação Ambiental (EA) (SANTOS; MALDANER, 2011).

Algumas indagações nos permitem refletir sobre a necessidade de inovar e quais são as influências sociais e suas relações incorporadas nas propostas de ensino (SANTOS; MORTIMER, 2002). Na educação atual, tornou- se primordial trabalhar aspectos que inter-relacionassem os alunos ao seu meio de vivência, principalmente a partir do crescimento e desenvoltura da Ciência e da Tecnologia (C&T) (SANTOS; MORTIMER, 2002).

Foi pensando nessas questões que foram planejadas atividades no Ensino de Química relacionadas à construção civil para duas turmas de 1° ano do ensino médio,

“Nos dias atuais, busca-se a preservação do patrimônio

ambiental global, isto é, considerando em todas as suas manifestações,

em face da atuação conjunta dos fatores: especulação imobiliária sem

controle; pressões advindas da imposição de um sistema viário incapaz de

comportar o crescente número de veículos; e ainda, a persistência da falta

de tradição generalizada no que concerne à conservação de bens naturais

e culturais, que configurou num curto espaço de tempo aquilo que se

convencionou chamar simplesmente de destruição do patrimônio

ambiental urbano”.

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com 40 alunos cada, de uma escola pública da região leste de São Paulo, com o intuito de aprimorar habilidades dos alunos (SUART; MARCONDES, 2008) e suas capacidades de reflexão e comunicação frente às questões ambientais relacionadas à temática ligada à extração mineral, com enfoque na Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS).

Procedimentos

Inicialmente, os alunos escolheram metais como o alumínio, ferro e cobre para desenvolver uma pesquisa, destacando sua ocorrência na natureza, a obtenção industrial, as propriedades e a utilização na construção civil. Nesta atividade, os alunos analisaram a problemática da utilização destes recursos naturais e suas consequências ambientais, econômicas e sociais.

Em seguida, frases relacionadas aos aspectos positivos e negativos da atividade mineradora foram distribuídas entre 4 grupos, tais frases estavam com as palavras recortadas para montagem da sentença, posteriormente; os grupos discutiram e trocaram opiniões, cada um defendendo seu ponto de vista.

Por fim, algumas imagens retratando a degradação das paisagens causada por atividades mineradoras levaram os alunos a desenvolver o seu senso crítico, sendo perceptível a reflexão sobre as maneiras que o homem interfere no meio- ambiente, transformando-o conforme seus interesses e necessidades.

Resultados e discussões

Conhecendo o Alumínio, Ferro e Cobre

A favor do estímulo do interesse dos alunos do primeiro ano do ensino médio ao conhecimento químico; e para que esses complementassem o seu conhecimento prévio através de assuntos como a sustentabilidade e a conservação do meio ambiente, a princípio os estudantes desenvolveram uma pesquisa que abordava a relação dos materiais utilizados na construção civil com aspectos ligados à atividade mineradora envolvida com as suas ações exploratórias.

A pesquisa entregue pelos alunos relacionou aspectos referentes ao contexto nacional e mundial, correlacionando Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA), além de apresentar um caráter multidisciplinar, o qual envolveu Biologia, através de relatos sobre os impactos causados ao ecossistema, também a área da

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Geografia foi citada, pois alguns alunos acharam necessário colocar em sua pesquisa mapas com a localização dos pontos de minérios (Fig. 1), justamente para ilustrar que o Brasil é um dos principais produtores desses recursos.

Fonte: IBGE

Fig. 1: Mapa do território brasileiro com as reservas minerais

Levando em consideração a maioria das pesquisas realizadas, foram perceptíveis as dificuldades que alguns discentes apresentaram ao escrever de modo que as ideias fossem interligadas de maneira coesa, porém o interessante é que no decorrer das atividades tal pesquisa colaborou para discussões referentes às características de alguns minerais, a sua localização no território brasileiro e quais os processos industriais envolvidos para a obtenção de determinados materiais, por exemplo, o cimento, tijolo, esquadrias, janelas, dentre outros.

Um dos grupos que escolheu o metal Ferro para discutir em sua pesquisa soube agregar todos os requisitos importantes, além de ressaltar que ele é o principal recurso mineral do Brasil. Realmente, “as reservas medidas correspondem a algo em torno de 33 bilhões de toneladas (CANTO, 2010); localizadas em diferentes regiões, como Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Pará”, este último bem lembrado pelos alunos possui uma reserva que é considerada a maior reserva mundial de minério com

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alto teor de ferro, além de importantes jazidas de ouro e de minérios de alumínio, de cobre, de manganês, de níquel e de Estanho. Esta reserva, conhecida como “Serra de Carajás”, é essencial para o desenvolvimento econômico do país, porém existem evidências dos malefícios ao meio ambiente, exemplificando, o desmatamento para a construção das mineradoras.

No momento da entrega da pesquisa, fez- se necessário abrir uma discussão sobre diferentes aspectos relacionados à atividade mineradora, pois por se tratar do primeiro ano do ensino médio alguns conceitos químicos não haviam sido tratados, neste caso, as reações químicas, as quais despertaram interesse dos alunos no momento da busca.

Os estudantes declararam apresentar certa curiosidade durante a investigação, principalmente sobre os processos industriais relacionados tanto na obtenção de determinado mineral, quanto na fabricação de materiais como o vidro, pois nas aulas de Química anteriores estudaram um tópico de conhecimento denominado fenômenos físicos e químicos.

Primeiramente, os alunos demonstraram durante a discussão oral que a atividade mineradora seria prejudicial à fauna e flora e não apresentava benefícios consideráveis para o âmbito social, 1A1: ¨ Pesquisei que quando uma mineradora é implantada em um local, muitas coisas ruins acontecem como a devastação de florestas, os ruídos de máquinas e tratores são estrondosos e ainda eu queria saber pra onde os rejeitos de tanta exploração vão? A química tem um pouco de culpa”.

Para desmistificar a ideia que a química é a culpada pelos problemas

relacionados à mineração foi explicada aos alunos que esta área é uma Ciência e com base na fala de Canto (2004), por ser uma Ciência;

Para colaborar na consolidação do aprendizado, uma tabela (Tabela 1) foi

entregue a cada aluno contendo a substância mineral, a localização, os problemas e as ações preventivas.

“... não pode ser culpada pelo mau uso que se faz de seus princípios, o que é obra de pessoas que ignoram as maléficas consequências disso ou que, mesmo as conhecendo, usam de má fé, motivadas por ganância, falta de escrúpulos ou irresponsabilidade social e humana.”

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1A1: Aluno 1- sigla utilizada para nomear o aluno preservando sua identidade.

Tabela 1: Principais impactos ambientais da mineração no Brasil (FARIA, G., 2002).

Substância Mineral Estado Principais problemas Ações Preventivas e/ ou corretivas

Ferro MG Antigas barragens de contenção, poluição de águas superficiais.

Cadastramento das principais barragens de decantação em atividade e as abandonadas; caracterização das barragens quanto à estabilidade; preparação de estudos para estabilização.

Ouro

PA

Utilização de mercúrio na concentração do ouro de forma inadequada; aumento da turbidez, principalmente na região de Tapajós.

Divulgação de técnicas menos impactantes, monitoramento de rios onde houve maior uso de mercúrio.

MG Rejeitos ticos em arsênio; aumento da turbidez.

Mapeamento e contenção dos rejeitos abandonados.

MT Emissão de mercúrio na queima de amálgama.

Divulgação de técnicas menos impactantes.

Chumbo, Zinco e Prata.

SP Rejeitos ricos em arsênio. Mapeamento e contenção dos rejeitos abandonados.

Chumbo BA Rejeitos ricos em arsênio. Mapeamento e contenção dos rejeitos abandonados.

Zinco RJ

Barragem de contenção de rejeitos de antiga metalurgia, em péssimo estado de conservação.

Realização das obras sugeridas no estudo contratado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro

Carvão SC

Contaminação das águas superficiais e subterrâneas pela drenagem ácida proveniente de antigos depósitos de rejeitos.

Atendimento às sugestões contidas no Projeto Conceitual da Bacia Carbonífera Sul Catarinense.

Agregados para a

Construção civil

RJ

Produção de areia em Itaguaí/ Seropédica: contaminação do lençol freático, uso futuro da terra comprometido devido à criação desordenada de áreas alagadas.

Disciplinamento da atividade; estudos de alternativas de abastecimento.

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SP

Produção de areia no Vale do Paraíba acarretando a destruição da mata ciliar, turbidez, conflitos com uso e ocupação do solo, acidentes nas rodovias causados pelo transporte.

Disciplinamento da atividade; estudos de alternativas de abastecimento e transporte.

RJ e SP

Produção de brita nas Regiões Metropolitanas do Rio de Janeiro e São Paulo, acarretando: vibração, ruído, emissão de particulado, transporte, conflitos com uso e ocupação do solo.

Aplicação de técnicas menos impactantes; estudos de alternativas de abastecimento.

Calcário MG e SP

Mineração em áreas de cavernas com impactos no patrimônio espeleológico

Melhor disciplinamento da atividade através da revisão da Resolução Conama n° 5 de 06/08/1987 (proteção patrimônio espeleológico).

Gipsita PE

Desmatamento da região Araripe devido à utilização de lenha nos fornos de queima da gipsita.

Utilização de outros tipos de combustível e incentivo ao reflorestamento com espécies nativas.

Cassiterita RO e AM

Destruição de florestas e leitos de rios.

Racionalização da atividade para minimizar os impactos.

Através do estudo desta tabela as turmas de 1° ano esclareceram suas dúvidas e perceberam o quando a Química é essencial para amenizar impactos ambientais provenientes de práticas industriais, principalmente a poluição envolvida nos processos, colaborando para melhorias no âmbito social sem prejudicar a lucratividade.

Ao empregar os conhecimentos existentes nesta tabela, foi visível o entendimento o interesse por parte dos educandos e a ciência Química, a qual inicialmente era vista como algo prejudicial, passou a ser percebida por estudar os fenômenos que ocorrem na natureza.

O que mais chamou a atenção dos alunos foi o tópico “Agregados para a Construção Civil” por se tratar de megalópoles brasileiras (Rio de Janeiro e São Paulo) e abrigarem uma grande quantidade de pessoas que apesar de necessários para a construção de prédios, casas, escolas e hospitais; causam grandes impactos e arriscam a vida da população local devido aos principais problemas relatados na tabela.

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Atividade mineradora: prós e contras

A princípio, a atividade foi explicada aos alunos, os quais estavam divididos em quatro grupos, sendo que dois grupos foram intitulados de “lado A” e dois de “lado B”, os alunos não sabiam, mas um “lado A” da classe receberia frases que apresentavam opiniões positivas e o outro (lado B), opiniões negativas frente à atividade mineradora.

No quadro a seguir estão as frases utilizadas para o desenvolvimento da atividade:

Quadro 1: Frases com aspectos positivos e negativos da mineração Positivos (Lado A) Negativos (Lado B)

Os minerais são importantes para a sociedade, porque colaboram na geração de empregos.

Os pontos de mineração, devem se multiplicar no próximo período, como a exploração do ferro, manganês, cobre e níquel2.

A venda e consumo dos materiais extraídos melhoram a infraestrutura e a economia brasileira, além de atender as necessidades da indústria e da população.

O crescimento da atividade mineradora gera consequências preocupantes como o rompimento da barragem de contenção de rejeitos da mineração na região de Área de Proteção Ambiental (APA)2.

Tais frases estavam com as palavras recortadas, para posterior montagem da

sentença (Fig. 2 e 3) e uma opinião escrita dos participantes.

2 Frases inspiradas em: HASHIZUME, M. Muito minério e pouco desenvolvimento ativam manifestações. Disponível em: <http://reporterbrasil.org.br/ 2012 /02/um-posicionamento-em-favor-da-liberdade-na-internet/>. Acesso em 15 fev. 2014.

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Fig. 2 e 3: alunos construindo as frases a partir das palavras

Após o término da montagem das frases, os grupos discutiram e trocaram opiniões, cada um defendendo seu ponto de vista. Esta atividade levou o aluno a ter uma visão crítica e a desenvolver a capacidade de relacionar os fatores de interferências negativos e positivos em relação à extração mineral. Durante as discussões, inicialmente; parte dos alunos (lado B) demonstrou uma opinião totalmente contra a exploração dos recursos geológicos, porém após o “lado A” ter lido as suas frases e ter expressado sua opinião, todos entraram em um consenso de que a extração mineral é necessária para atender às necessidades da população, porém causa impactos no meio ambiente.

Após a análise das frases e das opiniões escritas pelos alunos, algumas foram escolhidas como exemplo e se encontram abaixo:

Grupo 1- Lado A

Frase construída - “A indústria brasileira, além de atender as necessidades da população melhoram a infraestrutura e a economia e consumo e venda dos materiais extraídos”.

Opinião grupo 1: “Concordamos, as indústrias brasileiras, sendo os principais meios de crescer economicamente, ainda atendem às necessidades da população,

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melhorando a infraestrutura e o aumento do consumo e venda dos materiais extraídos. Mesmo não sendo 100 % dedicado à população local, estes trabalhos ajudam os moradores, principalmente os que vivem próximo às áreas de extração.”

Grupo 2- Lado A

Frase construída- “Os minerais são importantes para a sociedade, porque colaboram na geração de empregos”.

Opinião grupo 2: As mineradoras fornecem muitas vagas de emprego, e sua importância vem daí, por ser fonte de renda de muitos Estados como o Pará, por exemplo, e os minerais aumentam e valorizam a economia brasileira por causa dos materiais que podem ser produzidos a partir dos minerais como o vidro, as esquadrias de ferro ou alumínio, o tijolo e o cimento e o aço que são materiais utilizados na engenharia.

Durante o desenrolar da montagem das frases pelos alunos do “lado A” foi perceptível maior facilidade, quanto à expressão de opiniões por meio da escrita, a maioria concordou que existem benefícios no momento de implantar uma mineradora em determinada região, porém as frases contrapunham o pensamento da maioria dos alunos, os quais sabiam e discutiam sobre inúmeros aspectos negativos relacionados ao extrativismo mineral.

Grupo 3- Lado B

Frase construída- “Os pontos de exploração do ferro, devem se multiplicar no próximo período, como a mineração, manganês, cobre e níquel”.

Opinião grupo 3: Hoje em dia com o aumento da exploração de minerais no Brasil, também aumentam os impactos ambientais, porque de certa forma o solo do local fica bem prejudicado com as escavações, sem contar no desmatamento enorme que as empresas que trabalham nesta área fazem.

Grupo 4- Lado B

Frase construída- “O crescimento da atividade gera consequências preocupantes como o rompimento da barragem de contenção de rejeitos da mineração na região da Área de Proteção Ambiental (APA)”.

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Opinião grupo 4: Nós sabemos que o crescimento da área de mineração gera consequências como o desmatamento, prejudica espécies animais, as águas dos rios e lagos são afetadas por alguns rejeitos, além de tudo ainda acontece a perturbação sonora, mas apesar de tudo isso a mídia defende que gera muitos empregos e alta na economia brasileira.

Apesar da falta de coesão e coerência na montagem de algumas frases, esta atividade permitiu que os alunos refletissem sobre a responsabilidade ecológica de uma indústria de mineração, que legalmente é obrigada a preservar os diferentes ecossistemas ao redor, bem como a essencialidade de recuperação da área degradada pela sua exploração.

Esta atividade colaborou para que os alunos identificassem os diferentes aspectos relacionados à extração mineral de maneira a colaborar no discernimento de diversas situações que possam surgir durante sua formação como cidadão crítico, contudo; formando cidadãos que possam vir a auxiliar na elaboração de estratégias para resolução de problemas em micro e macro escala, contribuindo de forma eficiente com a comunidade.

Imagens como mediadoras do aprendizado

De acordo com Matias (2006), as imagens podem funcionar para colaborar no pensamento crítico sobre determinado espaço. O autor entende que mapas, gráficos e fotografias são ferramentas não apenas para os profissionais da Geografia, mas também para os educadores em geral, pois podem registrar fenômenos, eventos ou fazer representações.

Para Peluso (2003), as ciências estão próximas entre si e é possível desenvolver uma interdisciplinaridade, partindo do pressuposto da realidade vivida pelas pessoas, inclusive avaliando as diversas culturas de diferentes locais. Por isso, torna- se essencial à criação de um núcleo único, capaz de tratar os problemas sociais mais expressivos da atualidade.

Foi pensando nisso que a estratégia de mostra visual foi elaborada e aplicada, dentro de uma temática ambiental que fosse condizente com a realidade do contexto brasileiro e consequentemente com os integrantes desta realidade. Esta atividade complementou o aprendizado e colaborou para a formação de alunos questionadores, pesquisadores e interessados em aprender temas químicos relacionados ao cotidiano (BRASIL, 2004).

Por isso durante esta etapa, algumas imagens retratando a degradação das paisagens causada por atividades mineradoras levaram os alunos a desenvolver o senso crítico, sendo perceptível a reflexão sobre as maneiras pelas quais as atividades humanas interferem no meio-ambiente, transformando-o conforme seus interesses e necessidades.

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Ao observarem as imagens, os alunos questionaram sobre a incidência mineral no território brasileiro, novamente a figura do mapa (Fig. 1) contendo a ocorrência de minérios no Brasil, sendo este; introduzido durante uma aula expositiva e dialogada para os alunos com a intenção de dar sequência à atividade e interligar esta etapa com a pesquisa realizada, utilizando neste momento o interesse dos discentes como motivador para a continuação das etapas, sempre relembrando da etapa inicial, a pesquisa sobre o alumínio, ferro e cobre .

As sequências de imagens abordadas nesta etapa do trabalho levou em consideração um conjunto de questões que envolveram conceitos científicos, as quais foram discutidas com os alunos participantes.

Logo abaixo estão dispostas algumas das imagens trabalhadas com os

alunos.

Fig. 2: Exploração de ouro, Serra Pelada- Pará. Fig. 3: Minério de cromo Mazagão-

Amapá

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Fig. 4: Mina de Ferro, Mariana- Minas Gerais. Fig. 5: Mina de cobre, Sossego- Pará.

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Fig. 6: Hidrelétrica de Tucuruí- Pará. Fig. 7: Mina de Ferro de Carajás- Pará

Fig. 8: Desmatamento em Jamanxim na Amazônia Fig. 9: Caminhões trabalhando- Mina de

Ferro.

Durante a observação das imagens pelos alunos, foram tratadas as perspectivas ambientais envolvidas, ressaltando aspectos ligados ao solo, como a erosão, contaminação e a modificação do relevo. A importância do uso racional destes recursos foi ressaltada, por se tratar de um bem não renovável, apontando que as modificações das paisagens locais também sofrem influencia do garimpo desenfreado, ainda a questão da poluição das águas de rios e lençol freático foi abordada devido à utilização de elementos químicos, como exemplo o mercúrio que é empregado na extração do ouro e possui alto teor contaminante tanto para os animais quando para os humanos.

Quanto à fig. 6, sobre a hidrelétrica de Tucuruí, localizada no Pará na região Norte brasileira, foi explicitado para os alunos a capacidade que essa usina apresenta

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de fornecimento de energia elétrica para processos industriais durante a obtenção de alumínio.

Um dos fatos mais interessantes levantados pelos alunos foi que a responsabilidade das empresas/ indústrias envolvidas é primordial, neste momento foi solicitado que os discentes listassem alguns deveres destes órgãos, dentre a listagem está:

• Reflorestamento; • Área de preservação permanente; • Reciclagem dos materiais formados; • Destino correto para os resíduos para que sofram o devido tratamento;

Foi perceptível a dificuldade que os alunos tiveram em listar outras relações que as empresas e indústrias possuem com os deveres envolvidos para colaborar na preservação do meio.

Como um ato de encerramento, para complementar a iniciativa anterior, foram retratados os diferentes procedimentos atitudinais que a sociedade, e consequentemente que os próprios alunos podem realizar para ajudar a preservar os recursos naturais.

A fig. 9 demonstra latas de alumínio separadas para o reciclo, durante a

visualização desta figura pelos alunos, foi destacado a grande valia da reciclagem,

pois a partir da realização desta prática a economia de energia aumenta, além da

diminuição na procura por jazidas de minerais.

Fig. 9: Latas de alumínio para reciclagem

A partir da visualização das imagens, foi perceptível que a pesquisa realizada colaborou para que os alunos questionassem importantes conceitos para o entendimento químico relacionado à extração, como os processos industriais e a utilização destes minérios no cotidiano, alguns questionamentos estão dispostos a seguir:

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• Qual a diferença entre minério e mineral? • Como são formados os minerais na natureza? • Qual é a relação da indústria com a obtenção de um elemento metálico? • A água contaminada com metais pode ser tratada? • O que acontece quando um metal é cromado? • O cromo serve para que?

Como o Cromo não participou da pesquisa inicial dos alunos, a fim de esclarecer as dúvidas dos discentes ligados a este elemento, o fluxograma 1 abaixo demonstra o que a metalurgia envolve em seus vários processos para a obtenção de diferentes materiais.

Fonte: CETEM, 2008; PAPP, 1994.

Fig. 10: Fluxograma de produtos químicos de Cromo e usos finais

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Durante a realização desta atividade, além de desenvolver a capacidade descritiva e de observação das diferentes paisagens, os alunos foram levados a discutir sobre a utilização dos bens minerais pela sociedade e a entender como estes materiais são extraídos do meio natural, colaborando para o desenvolvimento do espírito crítico quanto à atitude com que a sociedade moderna consome a matéria- prima, inclusive a energia.

Considerações finais

Foi perceptível que os educandos participaram das atividades com grande empenho e interesse na discussão de conceitos químicos relacionados ao tema. A abordagem CTS mostrou-se apropriada para trabalhar o tema escolhido, aproximando os alunos do conflito social da extração mineral, pois além de motivá-los, foi perceptível o desenvolvimento de habilidades de observação, organização de ideias e raciocínio lógico, destacando a relevância da química no dia-a-dia.

Diante desses fatos, o processo educativo passa a ter fundamental importância para o desenvolvimento individual e coletivo na busca de uma formação integral e crítica em relação às questões ambientais. Costuma- se falar quanto a esta questão “Educação Ambiental”, mas não é possível conceber uma Educação não ambiental, isto é, um processo de ensino- aprendizagem desvinculado da análise das relações do homem e o ambiente em que ele vive, seja na ciência, na tecnologia ou na própria sociedade.

Não é preciso novas disciplinas ou modismos no sistema educacional, mas sim encontrar propostas de reflexão sobre a atuação do ser humano, considerando os processos de aprendizagem dos alunos, de maneira que eles sejam os protagonistas das dos diversos temas abordados.

Portanto, devemos assumir o papel social como cientistas e educadores para propor um curso que leve os alunos a ter um contato mais íntimo com a realidade em que os mesmos estão inseridos, tornando-os responsáveis, capazes de transformar a contestação dos efeitos causados no meio ambiente numa compreensão dos processos envolvidos, instigando a reflexão sobre como amenizar tais problemas.

Agradecimentos

A CAPES, a gestão e alunos da escola envolvida pelo envolvimento e apoio recebido,

ao IFSP- Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – Campus

São Paulo e ao Congresso Ibero Americano pela oportunidade de divulgar o trabalho.

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ISBN: 978-84-7666-210-6 – Artículo 1523

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