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2º CICLO DE ESTUDOS EM PORTUGUÊS LÍNGUA SEGUNDA/ LÍNGUA ESTRANGEIRA Ensino/ Aprendizagem de Falsos Amigos em Línguas com a mesma origem: Português e Espanhol Mónica Filipa Martins Guedes M 2017

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  • 2 CICLO DE ESTUDOS EM PORTUGUS LNGUA SEGUNDA/ LNGUA ESTRANGEIRA

    Ensino/ Aprendizagem de Falsos Amigos em Lnguas com a mesma origem: Portugus e Espanhol Mnica Filipa Martins Guedes

    M 2017

  • 2

    Mnica Filipa Martins Guedes

    Ensino/ Aprendizagem de Falsos Amigos em Lnguas com a

    mesma origem: Portugus e Espanhol

    Relatrio realizado no mbito do Mestrado em Portugus Lngua Segunda/ Lngua

    Estrangeira, orientada pela Professora Doutora Isabel Margarida Duarte

    Faculdade de Letras da Universidade do Porto

    setembro de 2017

  • 3

    Ensino/ Aprendizagem de Falsos Amigos em Lnguas com a

    mesma origem: Portugus e Espanhol

    Mnica Filipa Martins Guedes

    Relatrio realizado no mbito do Mestrado em Portugus Lngua Segunda / Lngua

    Estrangeira, orientada pela Professora Doutora Isabel Margarida Ribeiro de Oliveira Duarte

    Membros do Jri

    Professora Doutora Isabel Margarida Ribeiro de Oliveira Duarte

    Faculdade de Letras - Universidade do Porto

    Professora Doutora ngela Cristina Ferreira de Carvalho

    Faculdade de Letras Universidade do Porto

    Professor Doutor Rogelio Ponce de Len Romeo

    Faculdade de Letras - Universidade do Porto

    Classificao obtida: 17 valores

  • 4

    A todos aqueles que realmente o so.

    Hlder Ferreira Montero

  • 5

    Sumrio

    Agradecimentos ..7

    Resumo .......................8

    Abstract ..9

    Resumen ...10

    ndice de Ilustraes .11

    ndice de Quadros .12

    ndice de Tabelas ..13

    Lista de Abreviaturas 14

    Introduo .15

    Captulo 1- Fundamentos Tericos

    1. A relao entre as lnguas portuguesa e espanhola .18

    2. Lingustica Contrastiva e os seus modelos ....19

    2.1. Anlise Contrastiva ..19

    2.2. Origem da Anlise de Erros ...22

    2.3. Interlngua e Anlise de Erros 22

    2.4.O papel da Lngua Materna 26

    3. Os Falsos Amigos .30

    3.1. Definio do conceito ....30

    3.2. Distino de conceitos ...32

    3.3. Formao dos Falsos Amigos 33

    3.4. Diferentes Tipos de Classificao .35

    4. A aprendizagem do lxico em Lngua Portuguesa 37

    Captulo 2 - Anlise da Prtica Docente

    1. Contexto de estgio pedaggico .40 1.1. A Escuela Oficial de Idiomas de Len .................................................40 1.2. Descrio do ncleo de estgio 41 1.3. Caracterizao da turma ...41

    2. Diagnstico Inicial .42 2.1. Caracterizao do inqurito inicial ..42 2.2. Anlise dos resultados obtidos no inqurito inicial ..43

    3. Metodologia adotada em aula..57 3.1. Propostas de atividades 58

  • 6

    4. Inqurito Final ...75

    4.1. Anlise dos resultados obtidos no inqurito final 75

    Concluses ...87

    Referncias Bibliogrficas 89

    Anexo 1 93

    Anexo 2 94

    Anexo 3 95

    Anexo 4 96

    Anexo 5 97

    Anexo 6 98

    Anexo 7 99

    Anexo 8 ..100

    Anexo 9 ..101

    Anexo 10 102

    Anexo 11 103

    Anexo 12 104

    Anexo 13 105

  • 7

    Agradecimentos

    Gostaria de agradecer a todos aqueles que fizeram parte deste projeto de forma direta e

    indireta.

    Em primeiro lugar, Professora Doutora Isabel Margarida Duarte, por todo o tempo que

    dispensou e toda a ajuda prestada na criao deste relatrio.

    Professora Gabriela Amandi, pela oportunidade e confiana que depositou em mim e

    no meu trabalho ao longo de todo o ano letivo, para alm da amizade construda.

    Aos meus pais e irm, parte fundamental de todo o meu percurso acadmico e pessoal,

    sem eles nada disto seria possvel.

    minha famlia mais prxima que de uma forma ou outra esteve presente em todos os

    momentos da minha vida.

    Mrcia e a Catarina, amigas de toda a vida, pela eterna amizade que se tornou num dos

    pilares deste projeto.

    A las mejores compaeras de casa, Natlia, Klaudia, Alejandra y Anglica, sin vosotras

    mi ao no sera la misma cosa, gracias por todo el apoyo y amistad.

    A ti, porque incluso estando del otro lado del mundo me sigues apoyando a cada da.

    A todos, o meu muito obrigada!

  • 8

    Resumo

    Este relatrio tem como principal objetivo averiguar as dificuldades aquando da

    aprendizagem do lxico falso amigo nos alunos espanhis, no contexto da aprendizagem

    do portugus como lngua estrangeira. Dois idiomas to semelhantes, separados pelo

    tempo e pela histria, que partilham 85% do vocabulrio, requerem atenes redobradas,

    no momento da aprendizagem.

    O meu principal objeto a aprendizagem dos falsos amigos e a reviso dos mtodos mais

    eficazes para faz-lo, j que ainda hoje escasso o material disponibilizado pelos manuais

    e grande parte das vezes este material no est adequado ao contexto especfico de ensino.

    Este estudo parte da anlise contrastiva das lnguas em causa, para apresentar a realidade

    do grupo de estgio, passando pela exposio crtica de vrias propostas bem conseguidas

    que fomentam uma melhor aprendizagem do tema em questo.

    Palavras-chave: Anlise Contrastiva, Interlngua, Falsos Amigos, Portugus Lngua

    Estrangeira, Espanhol.

  • 9

    Abstract

    This report has as main concern to ascertain the difficulties demonstrated whilst learning

    the false friend lexicon with Spanish students in the context of learning Portuguese as a

    Foreign language. Two languages, remarkably akin, separated by time and history, yet

    sharing 85% of the vocabulary, demand more attention when learning.

    My main target is the learning of false friends and to revise the most effective methods to

    do so, since there is still scarce material available in manuals and, most of the time, this

    material is not proper in the teaching context.

    This study starts from the contrastive analysis of both languages up to the trainees group

    experiment, fleeting through several successful proposals that promote a better learning

    of the subject here written.

    Keywords: Contrastive Analysis, Interlingua, False Friends, Portuguese as a Foreign

    Language, Spanish.

  • 10

    Resumen

    Este relatrio tiene como objectivo principal averiguar las dificultades en el momento del

    aprendizaje del lxico falso amigo en los alumnos espaoles en el contexto de aprendizaje

    del portugus como lengua extranjera. Dos idiomas tan semejantes, separados por el

    tiempo y la historia que compartillan un 85% del vocabulrio, merecen una doble atencin

    en el momento del aprendizaje.

    El tema en que me enfocar es el aprendizaje de los falsos amigos y el repasso de los

    mtodos ms eficazes para hacerlo, ya que hoy sigue siendo muy poco el material

    disponible en los manuales y gran parte de las veces, este material no es adequado al

    contexto de enseanza.

    Este estdio va desde el anlisis contrastivo de las dos lenguas en questin hasta la

    realidad del grupo de prticas, passando por variadas propuestas bien conseguidas que

    logran un mejor aprendizaje de este tema.

    Palabras Clave: Anlisis Contrastivo, Interlengua, Falsos Amigos, Portugus Lengua

    Extranjera, Espaol.

  • 11

    ndice de ilustraes

    Ilustrao 1: Sistema da interlingua24

  • 12

    ndice de Grficos

    Grfico 1: Contato com a lngua portuguesa fora da aula ...43

    Grfico 2: Competncia mais difcil aquando da aprendizagem ....44

    Grfico 3: Palavra mais problemtica propina 45

    Grfico 4: Palavras mais problemticas na traduo para o espanhol 50

    Grfico 5: Palavras mais problemticas na traduo para o Portugus ..53

    Grfico 6: Palavras com melhores resultados nos exerccios de traduo 55

    Grfico 7 : Anlise comparativa da palavra propina ..76

    Grfico 8: Evoluo das palavras assinatura e sobremesa ..77

    Grfico 9: Comparao dos resultados da palavra trampa .78

    Grfico 10: Comparao da evoluo da palavra berros 79

    Grfico 11 : Comparao da evoluo da palavra refranes 79

    Grfico 12: Comparao da evoluo da palavra tostn .80

    Grfico 13: Comparao da evoluo da palavra ciruelas .80

    Grfico 14: Comparao da evoluo das palavras ancdota e balcn 81

    Grfico 15: Comparao da evoluo da palavra vulto .83

    Grfico 16: Comparao da evoluo das palavras exquisito, ferias e buzo.83

  • 13

    ndice de tabelas

    Tabela 1: Falsos amigos usados no exerccio de completar espaos .......45

    Tabela 2: Falsos amigos usados no exerccio de traduo para o espanhol .49

    Tabela 3: Falsos amigos usados no exerccio de traduo para o portugus ...52

    Tabela 4: Falsos amigos do texto La presunta abuelita ...60

    Tabela 5: Falsos amigos presentes no exerccio n 1 ..62

    Tabela 6: Falsos amigos presentes no exerccio n2 ..64

    Tabela 7: Correo do exerccio n2 ..66

    Tabela 8: Falsos amigos presentes no exerccio n 3 ..67

    Tabela 9: Falsos amigos presentes no exerccio de compreenso oral ...73

  • 14

    Lista de abreviaturas

    AC- Anlise Contrastiva

    LM- Lngua Materna

    LE- Lngua Estrangeira

    IL- Interlngua

    L2- Lngua Segunda

    FA- Falsos Amigos

    PLE- Portugus Lngua Estrangeira

  • 15

    Introduo

    Nos ltimos anos, o ensino de portugus lngua estrangeira tem crescido de forma notvel

    tanto em Portugal como pelo Mundo. Os alunos so levados a estudar este idioma por

    diversas razes desde pessoais a profissionais. Dada a expanso deste ensino pelo mundo,

    existe uma necessidade crescente de dar uma formao adequada ao professor. Deve para

    alm de ensinar uma lngua, uma cultura, conhecer ao mximo, se possvel, a lngua

    materna do aluno e tentar fazer um paralelo entre ambas.

    Este relatrio est especificamente direcionado para a relao entre o portugus e o

    espanhol, no querendo dizer que parte dele no possa interessar a outras relaes

    lingusticas entre outras lnguas.

    O ensino de Portugus Lngua Estrangeira (PLE) em contexto espanhol, primeira vista

    parece uma tarefa fcil tanto para o professor como para os alunos. Duas lnguas com

    origem comum e com grande parte do vocabulrio partilhado levam a que os alunos

    achem que podem facilmente entender e compreender tudo o que lhes transmitido,

    sem grande esforo de aprendizagem da parte deles.

    O meu interesse, neste estudo, verificar at que ponto o lxico comum, no caso dos

    Falsos Amigos, pode afetar a aprendizagem e futura comunicao na lngua alvo.

    Este relatrio apresenta-se dividido em duas grandes partes. Uma primeira terica, que

    posso subdividir em dois grupos: o primeiro onde se centra a investigao da Anlise

    contrastiva, Anlise de Erros e Interlngua teorias que explicam a relao entre as lnguas

    e o porqu das falhas existentes nos alunos; o segundo onde explicado com algum

    pormenor, o tema central do estudo: os FA com todas as suas caractersticas e os

    diferentes pontos de vista de vrios investigadores sobre eles.

    A segunda grande parte que compe este relatrio a parte prtica, onde descrevo de

    forma exaustiva toda a minha experincia durante o perodo de estgio. Nesta parte

    podemos analisar os resultados iniciais que obtive sobre os FA, os mtodos e propostas

    didticas que usei para combater os erros e, por isso, tambm uma ltima avaliao para

    verificar a evoluo do grupo.

    Acima de tudo, este relatrio surge com uma simples funo: ajudar os alunos desde o

  • 16

    incio da aprendizagem a desproblematizar este tema to pouco falado, criar mtodos

    adequados que facilitem a aprendizagem e, fundamentalmente fazer com que os FA

    deixem de ser um bicho de sete cabeas que impedem os alunos de comunicar tanto em

    aulas como com nativos, por medo de fazerem m figura e de dizerem alguma coisa sem

    sentido.

    Elenque-se agora os principais motivais que me levaram escolha do tema, Ensino/

    Aprendizagem de Falsos Amigos em Lnguas com a mesma origem: Portugus e

    Espanhol, foi uma escolha apenas minha, tendo em conta a minha experincia como aluna

    de lngua espanhola e professora de Portugus a alunos espanhis.

    A minha ligao com as duas lnguas j existe h alguns anos, e desde os primeiros

    estudos em lngua espanhola que senti uma enorme curiosidade pelo tema dos Falsos

    Amigos e pela conexo entre as duas lnguas. Durante a licenciatura, fiz um perodo de

    estudos ao abrigo do Programa Erasmus, em Salamanca, onde tomei contacto pela

    primeira vez com as dificuldades que os alunos espanhis tm no momento de aprender

    os FA, pois a bibliografia sobre o tema bastante reduzida e ainda hoje no existem

    manuais dedicados ao tema, e os manuais existentes quase no fazem referncia a um dos

    aspetos mais problemticos na aprendizagem de lnguas cognatas. Para alm disso, o

    professor de Portugus Lngua Estrangeira obrigado a criar e inventar exerccios e

    mtodos, adequados s necessidades dos alunos, pois deve ser prioritrio pr de parte as

    infindveis listas bilingues de palavras, j que os alunos no lhe prestam a devida

    importncia pois um mtodo velho e completamente desinteressante, alm de ser pouco

    eficaz.

    Aps terminar a minha licenciatura, tive a oportunidade de trabalhar numa Escola de

    lnguas em Espanha como Auxiliar de Conversao. Foi nesse momento em que tive pela

    primeira vez a oportunidade de ajudar os alunos num dos temas que eu achava mais

    importante e que era muitas vezes desprestigiado.

    O mestrado cujo relatrio agora apresento conseguiu superar as minhas expectativas e fez

    uma juno perfeita entre os meus idiomas de eleio. O estgio pedaggico em Espanha,

    foi uma das peas chaves para a realizao deste relatrio e para, por fim, poder analisar

    a fundo um tema que merece mais ateno do que aquela que lhe prestada. Como

  • 17

    professora de PLE e como investigadora deste tema, posso confirmar o que j vrios

    autores referiram: que h falta de bibliografia fundamentada sobre este assunto. Sendo o

    portugus e o espanhol to falados no mundo atual, no encontro justificao possvel

    para tal desinteresse acontecer. O meu papel neste relatrio combater esse desinteresse

    e essencialmente ajudar alunos e professores e, alm disso, pretendo passar uma

    mensagem sobre a minha experincia e mencionar algumas tentativas e mtodos que

    funcionaram durante o meu processo de estgio.

  • 18

    Captulo 1 Fundamentos Tericos

    1. A relao entre as Lnguas Portuguesa e Espanhola

    Portugal e Espanha, at certa altura partilharam uma histria e um percurso comum, desse

    modo, partilharam tambm lnguas que esto na base do Portugus Europeu e do

    Espanhol Peninsular. Devemos ter em conta que, tendo tido uma origem comum, mas

    tendo sofrido caminhos e evolues diferentes, as duas lnguas aproximam-se e afastam-

    se ao mesmo tempo, dando assim origem a zonas de lngua comum e outras com

    diferenas acentuadas.

    natural, devido histria e origem comum que haja uma grande semelhana entre as

    lnguas e os dialetos peninsulares na atualidade. As lnguas peninsulares atuais, exceo

    do vasco, possuem grandes semelhanas, o que facilita a compreenso entre os falantes

    de um modo geral. Takeuchi (1980 apud Grelo, 2012, p.2) afirma que as lnguas

    portuguesas e espanhola possuem um nmero baixo de palavras diferentes e uma grande

    variedade de vocbulos comuns.

    Grande parte das palavras destas duas lnguas procedem do latim, lngua que foi falada

    durante vrios sculos em partes da Europa como Portugal, Espanha, Frana, Itlia e

    Romnia. Esta expanso da lngua latina foi uma lgica consequncia da grandeza do

    Imprio Romano, como todos sabemos.

  • 19

    2. Lingustica Contrastiva e os seus modelos

    A lingustica contrastiva inclui, geralmente, pelo menos trs modelos de anlise: a anlise

    contrastiva (AC), anlise de erros (AE) e interlngua (IL).

    Guillemas (2004 apud Gonalves 2013, p.52) entende que o ensino e a aprendizagem de

    lnguas estrangeiras se desenvolvem segundo estes trs modelos, pois possvel retirar,

    deles, diferentes solues e mtodos didticos para os problemas do ensino: - a

    lingustica contrastiva um continuum que transita por trs etapas complementares e cada

    uma delas oferece informao suficiente para poder super-la e aceder (etapa) seguinte,

    de tal modo que no se pode explicar uma sem a outra. (Guillemas 2004 apud Gonalves

    2013, p.52).

    2.1 Anlise Contrastiva

    O modelo de investigao da AC de uma lngua estrangeira foi apresentado pela primeira

    vez nos trabalhos de Charles Fres (1945) e Robert Lado (1957). Estes autores propem

    nas suas obras uma comparao sistemtica de duas lnguas, a lngua materna do aluno e

    a lngua estrageira que este aprende. A divergncia entre os dois sistemas lingusticos, a

    LM e a LE, um dos fatores que provoca e explica o erro e a interlngua.

    Um contraste deste tipo pode e deve delimitar as diferenas e semelhanas entre os dois

    idiomas. Deste modo, ser possvel definir as reas de estudo que causam mais problemas

    ao aluno e assim tentar ultrapass-los durante o processo de aprendizagem.

    Fres (1945 apud Gargallo 1993, p.33), sobre este assunto, afirma que Los materiales

    ms eficientes son aquellos basados en una descripcin cientfica de la lengua que vamos

    a estudiar, cuidadosamente comparada con una descripcin de la lengua del estudiante.

    Lado (1957 apud Gargallo 1993, p.34) segue a mesma linha de pensamento que Fres,

    fazendo com que toda a investigao tenha como fim identificar as reas de maior

    dificuldade de aprendizagem de uma LE.

    El plan de este libro descansa en la afirmacin de que podemos predecir

    y describir las estruturas que causarn dificultad en el aprendizaje, y

    aquellas que no entraarn dificultad, mediante la comparacin

  • 20

    sistemtica de la lengua y cultura que va a ser aprendida con la cultura

    y la lengua nativa del estudiante.

    Podemos retirar das afirmaes dos autores que os alunos tendem a transferir

    vocabulrio e estruturas da sua LM no momento em que aprendem uma LE, tanto

    durante a produo bem como na compreenso dessa lngua.

    Podemos resumir as caractersticas destes modelos nos seguintes pontos:

    -comparacin sistemtica y exhaustiva de dos sistemas lingusticos;

    - determinacin de diferencias y similitudes;

    -estudio sincrnico y binrio;

    - comparacin en niveles horizontales;

    - aplicacin de los resultados a la didctica;

    - estdio interasado en el processo;

    - su objectivo es la construcin de una gramtica contrastiva: una

    descripcin de dos lenguas basadas en las diferencias y semejanzas de

    ambas. (Gargallo 1993, p.34-35)

    Um dos conceitos bsicos em que baseia a AC o da interferncia. Diz-se que

    existe interferncia quando o aluno utiliza na LE, traos morfolgicos, sintticos,

    fonticos ou lexicais caractersticos da sua LM.

    Numa fase inicial da AE, alguns linguistas acreditam que a hiptese da

    interferncia capaz de explicar quase todos os erros na LE. No entanto, Lado

    (1957, p.72) adverte que la lista de problemas resultantes de la comparacin

    entre la L1 la L2 [...] debe considerarse una lista de problemas hipotticos, en

    tanto no se confirme su existncia en el habla de los alunos.

    O ensino de uma L2, segundo os estudos contrastivos, deve ser composto por

    uma gradual apresentao da lngua que se vai aprender, criando assim nos

    alunos uma conscincia das semelhanas e diferenas das estruturas em relao

    s da sua LM.

  • 21

    O professor dever aplicar os conhecimentos de lingustica contrastiva tendo em

    conta a situao em que est inserido e constantemente, analisar as dificuldades

    dos alunos ao aprenderem novas estruturas:

    Los resultados de un Anlisis Contrastivo pueden ser de gran utilidad

    para el profesor de lenguas extranjeras, ya que el conocimiento de las

    diferencias y similitudes entre la lengua del estudiante y la lengua

    extranjera, le har saber cules son los problemas reales y podr

    oferecer una mejor manera de ensenarlos. (Lado 1957, p.2)

    Politzer (1978 apud Gargallo 1993, p.60) cria uma experincia para verificar o

    que se deve aprender primeiro: -se as estruturas que so diferentes ou aquelas

    que coincidem estruturalmente. Realizou uma investigao com estudantes

    iniciantes de francs e espanhol, e o resultado que observou foi que as estruturas

    contrastivas em que h diferenas deviam ser as primeiras a ser ensinadas. O

    ensino deste tipo de estruturas implica uma insero simultnea das estruturas

    do sistema da LE com as correspondentes da LM, -ainda que existam autores

    como Hadlinch (1968 apud Gargallo 1993, p.60) e Richards (1974 apud

    Gargallo 1993, p.60) que acreditam que este mtodo mais do que prevenir erros,

    provoca-os.

    Todos podemos afirmar que ao longo dos tempos o mtodo de traduo mental

    foi um dos mais utilizados pelos professores de lnguas estrangeiras. Este mtodo

    foi apoiado por uns e detestado por muitos outros. Di Pietro (1970 apud Gargallo

    1993, p.60) refere que a traduo inevitvel nas partes do sistema em que as

    estruturas da L2 correspondem s da LM, pois o aluno no deixa de pensar na

    LM enquanto aprende uma nova lngua.

    Por contrapartida, o uso da traduo pode ser prejudicial se comear a tornar-se

    um hbito, nos nveis mais avanados. Hoje em dia, h um sentimento de

    rejeio da traduo por grande parte dos linguistas e professores ainda que

    alguns proponham uma reabilitao deste mtodo (Hurtado 1987 apud Gargallo

    1993, p.61).

  • 22

    2.2 Origem da Anlise de Erros

    O modelo da anlise de erros (AE) surge como uma ligao entre a AE e a

    Interlngua. Corder (1967) foi o responsvel pelas primeiras formulaes

    tericas sobre este tema. Apoiado nas teorias de Chomsky (1965 apud

    Gargallo,1993), questiona as bases da AC e a teoria da aquisio da lngua de

    Skinner (1957), o que o leva a uma nova reformulao das teorias da

    aprendizagem bem como do tratamento dos erros, que passariam a ser mais

    tolerados por parte dos professores de LE.

    Segundo Corder (1967 apud Vita 2005, p.20,) a AE est dividida em duas

    categorias: erros de interferncia ou interlingusticos e erros intralingusticos. Os

    de interferncia, no eram considerados os mais importantes e eram vistos de

    maneira diferente daquela que apresentava a AC. Estes erros so provocados

    pela influncia da LM, pois o aluno coloca a hiptese de regras da LE serem

    iguais s da sua LM. J os intralingusticos ocorrem quando o aluno supe regras

    para a LE simplificando as da sua LM, sendo este tipo de erro pouco fcil de

    prever.

    2.3 Interlngua e Anlise do Erro

    O conceito de IL foi analisado ao longo dos anos por vrios autores e professores

    de lnguas estrangeiras. A aquisio de uma LE como o portugus, por parte de alunos

    espanhis um processo demorado, marcado por comportamentos lingusticos

    especficos dos alunos. Os desenvolvimentos tanto orais como escritos na lngua alvo

    permitem ao professor verificar a evoluo progressiva de cada competncia. Essa

    evoluo constitui assim uma IL, pois os alunos tm tendncia em apoiar-se em e

    recorrer frequentemente sua LM e, em espacial no caso de lnguas como o portugus

    e o espanhol, que partilham a mesma origem. Este fenmeno apresenta alguma

  • 23

    complexidade o que poder levar o professor a pensar numa forma de o contornar e

    assim facilitar o ensino de uma nova lngua.

    O conceito de IL foi introduzido pela primeira vez em 1972, por Selinker.

    Segundo Torras (1994), este conceito foi utilizado para definir um sistema lingustico

    aproximado, uma gramtica mental que o aprendiz de uma lngua vai construindo

    durante o processo de aquisio da mesma. Este sistema ou IL no pode ser considerado

    pelo professor como uma verso errada da lngua, mas sim como um sistema em si.

    Implica que o aluno nem fale a sua L1 nem a L2, ainda que o modo como fala contenha

    uma juno de ambas.

    Corder (1981) foi tambm um dos investigadores que estudou este fenmeno, ao

    qual atribuiu uma definio um pouco diferente:

    The study of interlanguage is, then, the study of the language systems

    of language learners, or simply the study of language learners

    language. Other names for learners language have been proposed.

    James coined the term interlingua and Namser offered approximative

    systems. I myself have written about the learners transitional

    competence. Each of these terms draws attention to the different aspect

    of the phenomenon. The terms interlanguage and interlingua suggest

    that the learners language will shaw systematic features both of the

    target language and the other languages he may know, most obviously

    of his mother tongue. (Corder 1981, p. 66-67)

    Inicialmente os autores apresentam um pequeno esquema de como seria a IL no

    incio do processo de apredizagem, que adaptei realidade das lnguas em

    estudo.

  • 24

    Ilustrao 1: Sistema da interlngua

    Ambos os autores concordam que a lngua criada pelo aluno estruturamente

    interna e nela existe uma evoluo, um desenvolvimento que se faz sentir ao

    longo da aquisio. Uma IL est em constante mudana, pois vai-se dando uma

    evoluo ao longo do processo de aprendizagem e cada vez mais so inseridos

    na IL elementos da LE. No entanto Selinker tambm acredita que pode gerar-se

    um processo de fossilizao da IL, caso o input da lngua alvo seja apenas

    durante o horrio de aulas. Se o aluno no recebe outro tipo de input dificilmente

    a IL evoluir de uma maneira positiva.

    Baralo (2004, p.378 apud Fernandes 2013, p.23), vai ao encontro da mesma ideia

    de Selinker: - refere que fossilizao un mecanismo por el que un hablante

    tiende a conservar en su IL ciertos tems, reglas y subsistemas lingsticos de su

    lengua maternal en relacin a su lengua objeto dada..

    Deste modo a IL e a fossilizao caracterizam todo o processo de aquisio de

    uma LE. Selinker(1972 apud Liceras 1991, p.84) enumera cinco princpios que

    fazem parte da IL dos alunos de LE: la transferencia lingstica, la transferencia

    de instruccin, las estrategias de aprendizaje de la lengua segunda, las estrategias

    de comunicacin en la lengua segunda y la hipergeneralizacin del material

    lingstico de la LE

    Nestes principais processos, pode-se observar uma certa instabilidade e algumas

    inadequaes que marcam a passagem da L1 a uma L2- Lngua alvo, e que vrios

    autores viam como um erro.

    Lngua Materna Espanhol

    Lngua Alvo Portugus

    Interlngua

  • 25

    Como podemos, ento, definir o erro?

    Erros e falhas so acontecimentos recorrentes durante uma conversa ou qualquer

    outro tipo de comunicao tanto de falantes nativos como de no nativos. A

    definio dos erros a que nos referimos, neste estudo em concreto, diz respeito

    apenas a hispano-falantes aprendente do portugus como LE. Como foi

    anteriormente dito, o erro faz parte do processo de aprendizagem de um novo

    idioma e, para o professor, este fenmeno sinal da evoluo do aluno, pois o

    objetivo principal deste a comunicao, expressar a sua opinio e necessidades.

    Trata-se assim de uma aprendizagem realizada passo a passo onde o erro

    considerado normal.

    O conceito de erro tal como o estamos a encarar foi formulado por Corder

    (1967). Existem ainda outros conceitos que muitas vezes so usados como

    sinnimos, que merecem a pena ser esclarecidos aqui. Segundo Norrish (1983,

    p.7 apud Gargallo 1993, p.78), um erro um desvio sistemtico, uma falta

    um desvio inconsciente e eventual e um lapso um desvio devido a fatores

    extralingusticos, como a falta de concentrao, memria curta, etc.

    Corder (1967) refere a aprendizagem da L2 e analisa as oraes produzidas nesta

    L2 ou numa LE. Estas oraes podem ser de dois tipos: oraes errneas e

    idiossincrticas. Corder, citado por Liceras (1992, p.68), defende que:

    Las nicas oraciones a las que con justicia podra llamarse errneas

    seran aquellas que son el resultado de algn fallo de actuacin.(...) Lo

    que destaca de ellas es que normalmente son corregidas o corregibles

    por el hablante mismo(...) por el contrario, las que denomino oraciones

    idiosincrsicas no entraan un fracaso de realizacin y no pueden ser

    corregidas por el alumno precisamente porque reflejan las nicas reglas

    que l conoce, las de su dialecto transicional.

    Este dialeto transitrio apresenta as seguintes caractersticas, segundo Gargallo

    (1993): um sistema lingustico com uma gramtica prpria; pouco estvel e

    est em mudana contnua; as oraes, mesmo quando no obedecem a regras

    da lngua, no so consideradas desvios nem erradas, so sim idiossincrticas;

  • 26

    pode ser um sistema individual ou de um grupo com a mesma formao.

    Deste modo Corder define as bases para um modelo da anlise de erros, onde o

    erro a todo o momento considerado um ponto fundamental no processo de

    aprendizagem de uma L2: - el estudiante est usando un sistema finito de

    lengua en cada punto del processo, aunque no es () el de la segunda lengua

    () los errores del estudiante son evidencia de este sistema y son en s mismos

    sistemticos. Corder (1967, p.166).

    Por norma, os erros so fruto da IL, ou seja, so transferncias da lngua inicial

    na lngua alvo. Durante as aulas de LE, os primeiros erros so principalmente de

    pronncia, coerncia e ortografia. Podemos considerar os professores tambm

    fontes de erros, pois por vezes uma m organizao e gesto da aula pode

    influenciar a aprendizagem dos alunos. Fatores como as tcnicas de ensino,

    temas em demasia ou desadequados ao nvel de proficincia dos alunos, m

    gesto do tempo, falta de tempo na sala de aula para esclarecer dvidas, etc.

    podem contribuir para os erros. Cabe ao professor facilitar e articular mtodos

    que favoream a aprendizagem correta e progressiva dos alunos.

    Neste estudo, prestarei ateno apenas s interferncias semnticas, as que

    implicam a no correspondncia no lxico, no sentido, entre a LM e a LE, neste

    caso nos falsos amigos.

    2.4. O papel da lngua materna

    Na aprendizagem de uma lngua estrangeira ningum parte do zero. Todos trazemos uma

    carga lingustica e cultural da nossa lngua materna que funciona como apoio, como guia

    consciente e inconsciente na aquisio de uma nova lngua. Deve ento o professor de LE

    conhecer e usar em aula a LM do seu grupo de alunos?

    Em primeiro lugar, teramos de ter um grupo homogneo e com uma LM comum, o que

    facilitaria o trabalho do professor, caso contrrio era quase impossvel o professor ter

    bons conhecimentos em vrias lnguas.

  • 27

    Como aluno de idiomas e como docente de PLE, acho que faz sentido o professor ter

    conhecimento da LM dos alunos. Estes conhecimentos justificam-se mais quando

    falamos de lnguas prximas, pois deve existir um saber mais profundo por parte do

    professor para distinguir quais so os aspetos lingusticos que variam e a que pontos deve

    dar mais ateno pois podem causar interferncias lingusticas, devido origem comum

    dos idiomas. Se assumirmos que a LM um elemento sempre presente, h que repensar

    em alguns aspetos. Qual o perfil do grupo? Quais as metodologias usadas? At que

    ponto importante o contexto de ensino? O que pensam os professores de LE? O que

    acontece na realidade dentro de uma sala de aula? O nosso trabalho no poder,

    obviamente, responder a todas estas perguntas, mas elas subjazem s nossas

    preocupaes.

    Podemos ver, na evoluo histrica do ensino de LE, que, desde sempre, a LM esteve

    presente durante o ensino: quase todos aprendemos um idioma estrangeiro com listas

    infindveis de vocabulrio na sua verso bilingue para que ningum tivesse dvidas do

    seu significado. Ainda que seja um aspeto que sempre existiu, o uso da LM passou a ser

    mal visto, considerado uma m pratica docente, a partir de meados do sculo XX. Os

    manuais da poca, principalmente de ingls para estrangeiros passaram a adotar uma

    poltica monolingue defendida pelos tericos e autores da poca.

    Para Cook este fenmeno de rejeio do uso da L1 em aula, deu-se em todas as propostas

    metodolgicas, na formao de professores e nos manuais criados, de modo que the first

    language has became an invisible and scorned element in the classroom (Cook, 2001,

    p.153).

    Vrias so as definies para o conceito de LM. Passarei a citar a definio do

    Diccionrio de Trminos clave de ELE, que me parece ser a mais completa, pois trata-se

    de uma definio proposta por grande parte dos estudiosos e que vai ao encontro do estudo

    em questo:

    Por lengua materna o L1 se entiende la primera lengua que aprende un

    ser humano en su infancia y que normalmente deviene su instrumento

    natural de pensamiento y comunicacin. Con el mismo sentido tambin

    se emplea lengua nativa y, con menor frecuencia, lengua natal. Tal

  • 28

    como se desprende de su apelativo, suele ser la lengua de la madre,

    aunque tambin puede ser la de cualquier otra persona: padre, abuelos,

    niera, etc. Quienes comparten una lengua materna son considerados

    hablantes nativos de la lengua en cuestin, p. ej., hispanohablantes

    nativos. El trmino lengua materna se suele emplear en contraposicin

    a lengua extranjera(LE) o a lengua segunda (L2). [...]

    Nesta entrada do dicionrio, faz-se ainda referncia a alguns aspetos que caracterizam

    este conceito, como por exemplo ser, a LM, a lngua familiar, ou seja, aquela que

    transmitida de gerao em gerao; ser a primeira lngua que se aprende e pela qual se

    conhece o mundo; ser lngua em que se pensa, a que se conhece melhor e na qual se

    comunica com espontaneidade.

    Durante este estudo, assumirei sempre o uso de Lngua Materna (LM) e terei em conta os

    aspetos numerados na citao acima para considerar a LM do grupo de alunos.

    Esta definio confronta-se com a L2 ou LE, tambm do Diccionrio de

    Trminos clave de ELE:

    a la lengua que constituye el objeto de aprendizaje, sea en un

    contexto formal de aprendizaje o en uno natural. El trmino engloba los

    conceptos de lengua extranjera (LE) y de lengua segunda (L2), si bien

    en ocasiones estos trminos se emplean como sinnimos.

    Krashen (1984) analisa os momentos em que a LM substitui a LE na sala de aula.

    Segundo o autor existe um uso de protesto e um uso positivo.

    Para o uso de protesto apresenta os seguintes aspetos:

    1. Quando a interao em LE percebida como um exerccio puramente

    formal, como a exercitao de certas estruturas gramaticais e lexicais.

    Contrastivamente, a LM percebida como veculo de tudo o que

    comunicao verdadeira ou mensagem importante. Para o professor,

    explicaes de gramtica, disciplina, organizao das aulas, digresses,

    apartes; para os alunos, pedidos de esclarecimentos, queixas, pedidos,

    comunicao em voz baixa.

    javascript:abrir('lenguameta',650,470,'yes')

  • 29

    2. A interao tratada como uma representao. Quando os atores se

    tornam eles prprios, a linguagem autntica semelhante torna-se a

    LM.

    3. A interao concebida pelos alunos como um exerccio de

    autoridade por parte do professor, que se exprime pelo domnio da LE.

    Para a contrabalanar, os alunos utilizam a LM.

    4. A interao vista como obrigao de adotar um comportamento

    estrangeiro, e os alunos, procurando distanciar-se dele, usam a sua

    prpria lngua, sobretudo em parte com os colegas. Este

    comportamento toma ento a forma de bavardage em LM

    (murmrios, apartes), recusa de responder em LE ou mutismo e

    ausncia de participao. (Frias, 1992, p.124)

    A autora citada refer tambm algumas caractersticas para o uso positivo da LM,

    as utilisations positives:

    5. Quando a interao percebida como uma negociao de sentido

    entre os membros do grupo, as deficincias lexicais so compensadas

    por transferncias ou emprstimos diretos LM; os interlocutores

    mudam de uma lngua para a outra medida das suas necessidades

    (code switching); o emprego da LM aqui uma entre as vrias

    estratgias de comunicao. usada pelos alunos, mas tambm pelo

    professor, quando no quer interromper o ritmo do discurso com longas

    explicaes ou parfrases em LE.

    6.A interao sentida como interpretao e compreenso mtua. A

    mensagem torna-se to importante que a LM vem substituir

    temporariamente a LE sentida como um obstculo.

    7.A interao compreendida como a construo de um discurso em

    colaborao. Torna-se ento objeto de observao e reflexo pelos

    participantes e a LM usada como metalinguagem. (Frias, 1992, p. 124,

    125)

  • 30

    Segundo Kramsch deveria existir ento uma reformulao do uso da LM em

    aula. A LM no deve ser nunca usada como meio de ensino, sendo considerada

    um parasita. No entanto, deve estar presente em aula, para ajudar e sensibilizar

    o aluno em alguns processos, podendo ser aceite nestas trs vertentes:

    1. Funo comunicativa: estratgias de comunicao e produo

    (transferts, code switching).

    2. Funo regulativa: assegura o bom desenrolar da interao

    (disciplina, organizao da aula, estabelecimento de um quadro

    situacional para a realizao de exerccios). Esta funo ser ocupada o

    mais cedo possvel pela LE, face a uma aprendizagem sistemtica de

    formas lingusticas e comportamentos necessrios.

    3. Funo metalingustica: torna os alunos conscientes do carcter

    interactivo da lngua falada e escrita e da maneira como construir o

    discurso estrangeiro, em comparao com o materno. Tem por fim

    desenvolver a autonomia. (Frias, 1992, p. 125)

    Como podemos ver, a utilizao da LM em aula foi quase anulada e cada vez

    mais substituda por elementos audiovisuais que fazem o seu trabalho.

    Podemos concluir que o uso da LM em aula de LE cada vez um mtodo mais

    depreciado pelos investigadores, embora alguns defendam o seu uso

    principalmente em nveis iniciais e em casos de emergncia devendo sempre

    existir um progressivo incremento da LE, para que, deste modo, o aluno entenda

    a hierarquia das lnguas a utilizar.

    3. Os Falsos Amigos

    3.1. Definio do conceito

    A expresso falsos amigos surge em 1928, em Frana pelos autores Maxime Koessler

    e Jules Derocquigny no livro Les Faux- Amis. Os autores definem o termo falsos amigos

    como sendo o lxico de duas lnguas, de uma mesma famlia lingustica, que podem ter

  • 31

    forma semelhante, mas diferem nos significados, de modo parcial ou total. Segundo o

    Diccionario de Trminos Clave de ELE, o termo falso amigo:

    se emplea para referirse a aquellas palabras que, a pesar de

    pertenecer a dos lenguas distintas, presentan cierta semejanza en la

    forma mientras que su significado es considerablemente diferente. Se

    dan en lenguas emparentadas en mayor o menor rasgo.

    O professor Alberto Gmez Bautista (2011) tambm faz referncia a esta

    expresso num dos seus artigos desenvolvido no mbito do congresso de

    professores de espanhol, lngua estrangeira em Portugal. A definio por ele

    atribuda semelhante dos criadores da expresso. Para ele, o termo falsos

    amigos faz referncia a palavras que apresentam em dois idiomas afinidades

    morfolgicas, mas cujos significados no coincidem em uma ou vrias acees.

    Vrios autores so unnimes na definio da expresso falsos amigos, como o

    caso de Montero (1994) que, pensando nas lnguas portuguesas e espanhol, os

    define como aquellos trminos portugueses y espaoles que, por sus

    semejanzas ortogrficas y/o fnicas pareciesen a primera vista fciles de

    entender y/o traducir y que, sin embargo, escondan peligrosas trampas para el

    ingenuo estudiante o simple usurio ocasional ().

    Casteleiro e Reis (2007) definem este termo como sendo um termo apenas

    lingustico, fundamentando que:

    () o falso amigo aquele signo que, geralmente pelo efeito de

    uma partilha de uma mesma etimologia, tem uma estrutura externa

    muito semelhante ou equivalente de um outro signo numa segunda

    lngua, cujo sentido completamente diferente. Essa comunidade de

    formas e aparncias leva o falante bilingue a estabelecer uma

    correspondncia de significados ou, aproveitando a mesma

    terminologia, a acreditar numa relao de semntica falsa. (Casteleiro e

    Reis, 2007, p.3 apud Domingos de Almeida, 2013)

    Gmez Bautista (2011) e Maillot (1997), nas suas definies, fizeram referncia

  • 32

    necessidade de analisar este tipo de palavras inseridas nos seus contextos: la

    polissemia viene a complicar el problema, al enfrentar dos trminos que son

    falsos amigos en una acepcin y no en otra (Maillot, 1997, p. 57 apud Silva,

    2016). Teremos, portanto, de ter em conta os contextos, para podermos decidir,

    face a eles, se estamos perante um par que um falso amigo num contexto, mas

    no em outro.

    3.2. Distino de conceitos

    Falsos amigos, falsos cognatos e heterossemnticos, mas afinal sero estas trs expresses

    sinnimas?

    O termo falsos cognatos surge-nos diversas vezes em vrios artigos sobre este tema e

    usado vrias vezes como sinnimo de falsos amigos, no entanto no h referncia

    origem deste termo.

    Supe-se que este tema venha do mbito da lingustica e signifique o vocabulrio que

    tem origem comum com outros Vita (2005, p.31). Quando aplicado a lnguas

    estrangeiras, designa palavras de lnguas diferentes que procedem de uma mesma raiz.

    Esta definio vem ao encontro das definies apresentadas pelos autores anteriores, j

    que todos defendem a ideia de uma mesma raiz, a mesma famlia, a mesma etimologia.

    Segundo Vita (2005, p.31) os falsos cognatos podem ser definidos da seguinte maneira:

    () falsos cognatos, envolvendo lnguas diferentes, so as

    palavras que, por sua semelhana formal levariam a supor que so

    vocbulos de uma mesma etimologia e que, consequentemente,

    possuem mesmos valores, quando na realidade no possuem parentesco

    e divergem total ou parcialmente em significao. ()

    Esta definio remete-nos para a mesma ideia que defende Montero (1994), quando

    defende que os falsos amigos podem induzir o leitor mais ingnuo e desatento em erros,

    traduzindo assim as palavras de maneira errnea.

  • 33

    Tal como o termo falsos cognatos, tambm no h muitas referncias sobre o surgimento

    do conceito de heterossemnticos. Alguns autores como Vita (2005) e Gonalves (2013),

    acreditam que a origem est na Gramtica para uso dos brasileiros de Antenor Nascentes,

    de 1934.

    Nascentes define o conceito de heterossemnticos como palavras semelhantes com

    significados diferentes (Nascentes, 1934 apud Vita, 2005, p.32), mas em nenhum

    momento o autor refere a origem comum dos vocbulos.

    J em 1967 Becker, no seu livro Manual de espaol volta a fazer referncia a este

    conceito, definindo-o como vocablos de semejanza grfica, prosdica y, sobre todo,

    semntica- cuya identidade de sentido no se realiza. (Becker, 1967 apud Vita, 2005,

    p.52). Segundo Vita (2005), este livro teve um grande impacto nos estudantes brasileiros

    que aprendiam espanhol. Este conceito apresentado como de uso exclusivo no Brasil.

    Becker, em comparao com Nascente, tambm no faz referncia, nos seus estudos, a

    uma origem comum.

    Analisados e descritos brevemente os 3 conceitos que sero de extrema importncia no

    estudo realizado, na continuao do relatrio, farei apenas uso do conceito Falsos Amigos

    (FA) dada a sua maior relevncia e talvez uma maior concordncia entre os diversos

    autores sobre a sua definio, sem questionar a facilidade de uso do conceito j que do

    entendimento do pblico em geral.

    3.3. Formao dos Falsos Amigos

    Vaz da Silva & Vilar (2003, p.79) so das poucas autoras que abordam resumidamente o

    tema do processo de formao de FA, sendo a minha nica referncia sobre este tema.

    No seu estudo, propem-se a responder seguinte pergunta: Quando que se produz o

    falso amigo?.

    Segundo as autoras o processo de formao de um falso amigo no est concludo at

    que o elemento semntico entre em jogo e que, portanto, o processo significante >

    significado pode levar-nos a concluses precipitadas (Vaz da Silva & Vilar, 2003, p.79-

  • 34

    80).

    Este processo de formao de FA parte da interlngua criada pelo aluno, pois socorre-se

    da sua primeira lngua para tentar aproximar-se o mais possvel da lngua alvo e, desse

    modo, dar uma resposta correta a uma dificuldade sentida.

    O autor faz referncia a que o aspeto externo da palavra no deve ser o nico a ser tido

    em conta, j que o aspeto semntico o fundamental, tal como a evoluo da palavra.

    Para alm disso, o autor alerta os estudantes para a ateno redobrada que devem ter:

    deixem ver a prudncia que a aprendizagem do portugus exige ao falante de Espanhol

    e como as tentativas de conseguir uma traduo fcil so frustradas. (Vaz da Silva &

    Vilar, 2003, p.80). Tal como j referi anteriormente em outros pontos, o ensino do

    portugus a hispano-falantes apesar de ser mais fcil, pelo menos no incio, a nvel de

    compreenso, exige um esforo extra e ateno redobrada. A professora Daz Ferrero

    tambm comenta este tpico. Remete-nos para est falsa amizade entre as duas lnguas:

    La semejanza de las lenguas romnicas, especialmente del espaol y el portugus,

    facilita y agiliza el apendizaje, pero al mismo tiempo se convierte en una trampa y en una

    fuente de errores para la traduccin. (Daz Ferrero apud Vaz da Silva & Vilar, 2003,

    p.84)

    Um dos principais aspetos referidos pelas autoras para o aparecimento dos FA a

    existncia de duas lnguas na cabea do aluno a trabalhar em simultneo durante a

    aprendizagem, considerando-os assim bilingues:

    Como se sabe, o uso ou conhecimento de dois idiomas por parte de um

    mesmo falante no deve ser total para se considerar bilinguismo em

    toda a regra, pois mesmo que exista apenas compreenso escrita ou

    falada de uma segunda Lngua, assim como produo s escrita ou s

    falada, o fenmeno do bilinguismo considera-se realizado. Quer isto

    dizer que os estudantes espanhis de Portugus, mesmo na sua fase de

    iniciao, j comeam a exercer bilinguismo e, portanto, os processos

    de interferncias lingusticas podem comear a aparecer em qualquer

    momento. (Vaz da Silva & Vilar 2003, p. 81)

  • 35

    O processo de formao de FA, segundo as autoras, deve ser um dos aspetos a

    ter em ateno durante a traduo, pois tanto na aprendizagem como na traduo,

    constante a formao deste tipo de erros.

    3.4. Diferentes tipos de classificao

    Brown (2011) classifica os falsos amigos em cinco tipos. Os FA de tipo 1 tm em

    comum vrias acees e a classe da palavra. No entanto, deste conjunto partilhado de

    acees, uma das lnguas selecionou por frequncia de uso uma delas que no coincide

    com a selecionada pela outra lngua. Exemplo de FA: luego/logo, a forma em espanhol

    significa depois, enquanto que em portugus significa imediatamente. Ambas so

    advrbios e derivam do latim locus. (Brown, 2011, p.25)

    Os FA intitulados de tipo 2 partilham a mesma classe de palavras e uma srie de

    acees. Porm numa e noutra lngua tornou-se mais frequente uma aceo no

    partilhada. Em alguns casos essa aceo pode estar na outra lngua, e noutros no. Como

    exemplo temos a palavra jornal, que em portugus significa dirio e em espanhol

    pagamento por um dia de trabalho, aquilo a que, em portugus, chamaria numa

    variedade um pouco antiquada e popular, jorna. Trata-se de substantivos, e a aceo

    portuguesa excluda pelo dicionrio espanhol. (Brown, 2011, p.26)

    No grupo dos FA de tipo 3 tambm existe a mesma classe de palavra e vrias acees

    comuns. Contudo, numa ou noutra lngua tornou-se mais frequente o uso de uma aceo

    no partilhada. Em alguns casos essa aceo pode estar na outra lnguas, e em outros no.

    Estas ocorrncias diferenciam-se das de tipo 2 pois pode existir mudana na classe de

    palavra. En cuanto/ enquanto so exemplos de FA do tipo 3. A primeira uma locuo

    adverbial e a segunda um advrbio. (Brown, 2011, p.26)

    So denominados FA do tipo 4 aquelas palavras que no partilham acees, mas tm

    forma e classe de palavra comum. Como exemplo a palavra talher que em espanhol se

    confunde com taller, que significa espao de trabalho. (Brown, 2011, p.27)

    Os FA do tipo 5 so aqueles que no partilham nem significados nem classe de palavra,

    mas tm uma forma comum. Solo uma palavra comum, nas duas lnguas, contudo em

  • 36

    portugus trata-se de um substantivo que significa uma poro de superfcie e em

    espanhol de um adjetivo com o significado portugus de sozinho. (Brown, 2011, p.28)

    Carita (1999) apresenta uma classificao dividida em quatros grupos, idnticas de

    Brown, onde destaco apenas o primeiro grupo que integra os FA no sentido mais completo

    da expresso, ou seja, este grupo constitudo por vocbulos que tendo, em ambas as

    lnguas, a mesma grafia, apresentam, em cada uma das lnguas, sentidos absolutamente

    diferentes, como por exemplo aceitar que em portugus significa receber com agrado,

    admitir, estar conforme com e, em espanhol, refere-se a untar, banhar em azeite.

    J o professor Hlder Montero atribui uma classificao bastante diferente, presente em

    vrios artigos e tambm no Diccionrio de Falsos Amigos da sua autoria. O autor dividiu

    os FA em dois grandes grupos. O primeiro o dos: 1) Falsos Amigos Grficos: palabras

    que coincidiendo en una y outra lengua en la ortografia, no coinciden o pueden no

    coincidir, sin embargo, en la pronunciacin() (Montero, 1994, p.191).

    Temos como exemplo a palavra polvo que em portugus se refere a molusco

    cefalpode com oito tentculos, ora j a mesma palavra, em espanhol, significa p,

    poeira. 2) Falsos Amigos Fonticos: Trminos que, no coincidiendo en la ortografia,

    coinciden o pueden llegar a coincidir en la pronunciacin debido a un deficiente

    conocimiento de la fontica de una u outra lengua() (Montero, 1994, p.191)

    Por exemplo a palavra coelho que em portugus faz referncia a um mamfero roedor

    e em espanhol pescoo, parte delgada que une a cabea ao corpo.

    Para alm destes dois grandes grupos, o autor acrescenta-lhe um terceiro, denominado de

    Falsos Amigos Aparentes: aquellas palabras que, sin escribirse igual y sin possibilidades

    de llegar a pronunciarse igual, recuerdan, por su forma significados y sentidos distintos

    de los que posee en realidade. (Montero, 1994, p.192)

    A palavra cadeira que em portugus um objeto para se sentar, parece-nos, primeira

    vista, semelhante a palavra espanhola cadera que significa anca, quadris.

    Uma outra classificao ligeiramente diferente surge-nos pela mo de Daz Ferrero (apud

    Vaz da Silva, 2003, p.84-85) pode descrever-se em:

  • 37

    1. Diferente sentido e forma idntica ou semelhante:

    1.1. Homogrfos: borracha, tela, vaso, garrafa, apagar, ()

    1.2. Homofnos: talher, balco, ninho, ()

    2. Diferente gnero gramatical: o nariz, a arte, a rvore, ()

    3. Diferente pronncia: academia, embolia, sintoma, ()

    4. Diferente registo lingustico: dano, perdo, excelentssimo, ()

    5. Diferente grafia: livro, cascavel, aprovar, (). (Vaz da Silva, 2003,

    p.84-85)

    Esta classificao est basada nos aspetos internos e externos das palavras.

    Para facilitar a compreenso do que ou no um FA, recorro a uma afirmao

    de Vaz da Silva, 2003, que esclarece muito bem a complexidade de ensinar as

    duas lnguas peninsulares e que, enfim, resume os aspetos que irei abordar mais

    frente.

    Sobre a considerao daquilo que ou no um verdadeiro falso amigo

    recaem diversos fatores. Para alm dos que j temos comentado

    anteriormente um dos mais conflituosos o uso que o signo lingustico

    recebe por parte dos falantes. evidente que a utilizao social que se

    faz das palavras determinante na sua semntica, atendendo a que, por

    vezes, o prprio uso que acaba por desviar o termo para um

    determinado significado. Por isso, nem sempre suficiente, no estudo

    dos falsos amigos, contar apenas com o significado, pois fora das

    disparidades ou afinidades semnticas que as lexias de duas Lnguas

    possam apresentar, o desuso de uma dessas formas torna inexistente o

    par lingustico que constitui o falso amigo. (Vaz da Silva & Vilar 2003,

    p. 86)

    4. A aprendizagem do lxico em lngua portuguesa

    A compreenso de uma dada LE sempre favorecida quando existem semelhanas com

  • 38

    a LM.

    Idiomas como o portugus (LE) e o espanhol (LM) so muitos parecidos, pois 85 % do

    vocabulrio destas duas lnguas comum. Takeuchi (1980 apud Natel, 2002) afima que

    estes dois idiomas possuem um pequeno nmero de palavras diferentes. Deste modo, os

    alunos espanhis podem pensar que as palavras e os seus significados possuem o mesmo

    sentido em ambas as lnguas.

    El portugus suele considerarse lengua fcil. Cualquier

    hispanohablante, por el hecho de serlo, cree que al menos puede

    entender y hacerse entender al estabelecer un dilogo con una persona

    de lengua portuguesa. Este hecho, apoyado adems por la facilidade

    com que se puede entender un texto escrito en portugus com muy

    pocas nociones que se tengan de este idioma, provoca un rechazo o un

    desprecio, si no por la lengua, si por su estdio profundo y sistemtico.

    Cuando ste, finalmente, se emprende, las dificultades parecen

    insalvables y es fcil caer en el desnimo, especialmente a la hora de

    usar oralmente la lengua (hablarla y enterderla). () La similitude entre

    las lenguas espaola y portuguesa es, sin duda, una ventaja para el

    aprendizaje rpido. Sin embargo, es tambin un arma de doble filo, pues

    el hispanohablante encontrar multitude de formas similares a su lengua

    que poseen un uso y un significado completamente diferente. Deber,

    por lo tanto, prestar ms atencin que cualquier outro estudiante a las

    particularidades del portugus y, en consecuencia, debe evitar guiarse

    slo por las estruturas y el lxico del castellano sin cercionarse con

    anterioridad sobre su uso en portugus. (Carrasco Gonzlez, 2001, p. 3)

    Quando se trata de lnguas cognatas, a proximidade um dos fatores que favorece a

    aprendizagem, pois a fase inicial um processo mais simples e fcil, o que se verifica no

    progresso rpido por parte dos alunos nessa mesma fase. Para Almeida Filho (1995 apud

    Natel, 2002, p.825), hasta las personas poco ansiosas son capaces de arriesgarse,

    pudiendo avanzar y adquirir proficincia ms rapidamente en una lengua prxima de que

    lo haran con lenguas tipologicamente ms distantes ().

  • 39

    Como j vimos antes, a semelhana entre os idiomas uma das fontes da formao de

    erros, visto que os alunos usam a LM de forma auxiliadora na aquisio da LE. Neste

    caso, o uso dos FA em contextos inadequados revela um conhecimento incorreto da

    lngua objeto de estudo, pelo que devemos trabalh-los em conjunto, para assim evitar

    usos imprprios. Grande parte das vezes, o uso incorreto de um FA no afeta a

    comunicao de modo negativo, mas causa reaes cmicas por parte dos nativos e dos

    professores.

    O processo de aprendizagem dos FA implica tanto para os falantes de portugus como de

    espanhol, a atribuio de um significado diferente ou parcialmente diferente a um mesmo

    significante, ou a um, em alguns casos, parecido. Torna-se um processo mais demorado,

    j que existe uma forte interferncia das formas e significados da LM.

    A partir de este momento, no meu estudo, passarei a fazer uma anlise explicativa dos

    mtodos de trabalho utilizados, da seleo de vocabulrio problemtico, aos resultados

    positivos, passando por todas as fases da aprendizagem dos cognatos, incluindo dicas e

    mtodos que cativem a aprendizagem dos alunos. Sero apenas analisados os sistemas de

    lngua peninsulares do Espanhol e do Portugus.

  • 40

    Captulo 2. Anlise da Prtica Docente

    1. Contexto de estgio pedaggico

    1.1. A Escuela Oficial de Idiomas de Len

    As Escuelas Oficiales de Idiomas (EEOOII), em Espanha, fazem parte de uma vasta rede

    de centros oficiais de nvel no universitrio, dedicados ao ensino especializado de

    idiomas modernos. Oferecem populao adulta a possibilidade de aprender e

    aperfeioar, ao longo da vida, uma grande variedade de lnguas estrangeiras em regimes

    especiais.

    A primeira EEOOII foi fundada em Madrid a 1911 e a era possvel aprender Ingls,

    Francs e Alemo. Atualmente, mais de cem anos depois, os alunos tm acesso a um

    leque de 23 idiomas divididos por nveis de competncias, desde os mais bsicos, desde

    o nvel A2 ao nvel C2 do Quadro Comum de Referncia para as Lnguas, do Conselho

    Europeu.

    A Escuela Oficial de Idiomas de Len, em Len, Espanha, instituio onde realizei o meu

    estgio pedaggico, um centro pblico, que se fundou no ano letivo de 1986/87 como

    Escuela Oficial de Idiomas dependente do Ministrio de Educao e Cincia e a partir do

    ano 2000/01, da Junta de Castela e Len.

    Atualmente so lecionados os seguintes idiomas: Ingls, Francs, Alemo, Italiano,

    Portugus e Espanhol para estrangeiros em sete nveis agrupados em A2, B1, B2 e C1 do

    Conselho da Europa. A oferta educativa estende-se tambm a outras modalidades mais

    flexveis e adaptadas s necessidades da populao como cursos intensivos, cursos

    especficos, ingls distncia, clubes de conversao, cursos de formao para

    professores, entre outras.

    No ano de 2016/17, estavam matriculados oficialmente 3.255 alunos, sendo que 64% so

    mulheres. Esta instituio fundamentalmente para adultos e adolescentes. Desse mesmo

    modo, s possvel fazer a inscrio depois de atingir os 14 anos de idade. A idade mdia

    dos alunos entre os 20 e os 50.

  • 41

    1.2. Descrio do ncleo de estgio

    Tendo feito estgio ao abrigo do Programa Erasmus +, realizei-o sozinha, isto , sem

    outro colega estagirio.

    No obstante, a presena de um leitor portugus na escola fez com que houvesse partilha

    de conhecimentos, opinies e sugestes de propostas de atividades a desenvolver com o

    grupo de alunos e, por vezes, atividades coletivas desenvolvidas de modo a promover a

    lngua portuguesa em toda a comunidade escolar.

    1.3. Caracterizao da turma

    O grupo com que trabalhei chamava-se Avanado 2, correspondendo a um nvel de

    B2.2, sendo o nvel final de portugus na escola onde estive inserida.

    Era um grupo composto por 12 alunos, 3 do sexo masculino e 9 do sexo feminino, com

    idades compreendidas entre os 25 e os 50 anos. Todos os alunos so de nacionalidade

    espanhola, exceo de uma aluna com origem na Costa Rica, tendo todos como lngua

    materna o Espanhol.

    um grupo muito homogneo, pois quase todos os alunos tm estudos superiores em

    diversas reas. Uma grande maioria fez Erasmus em Portugal ou no Brasil o que fomenta

    o interesse em aprender Portugus.

    Tratava-se de um grupo participativo e ativo que mostra interesse em aprender o idioma

    e a cultura do pas vizinho. No existiram graves problemas no momento de aprender o

    idioma, a nica questo prioritria que destacaria, como um problema, a pronncia

    correta do portugus j que o sotaque espanhol ainda est muito presente aquando

    momento da comunicao em aula. Outro fator que considero problemtico a falta de

    comparncia s aulas, j que, sendo um grupo de pessoas que trabalham, nem sempre era

    possvel que os alunos assistissem a grande parte das aulas.

    Destaco a convivncia entre os alunos e particularmente comigo, pois todos sempre foram

    muito educados e respeitosos tanto comigo como com o trabalho que eu desenvolvia em

    aula. Havia uma grande compreenso e apoio por parte deles ao trabalho de um professor

    estgio. Posso afirmar que so um grupo extremamente simptico e fcil de se relacionar.

  • 42

    2. Diagnstico Inicial

    2.1Caracterizao do inqurito inicial

    Para a primeira aula que lecionei, optei por preparar um inqurito orientador para este

    relatrio. Trata-se de um inqurito escrito individual que cada um dos 12 alunos,

    respondeu em aula na minha presena e da professora orientadora do estgio. Em nenhum

    momento os alunos deveriam colocar questes s professoras, nem aos colegas, pois o

    objetivo final era fazer um diagnstico daquilo que os alunos sabiam acerca do tema e

    tambm potenciais falhas de aprendizagem nos nveis anteriores.

    O inqurito era composto por exerccios e sete perguntas orientadoras (ver Anexo de 1 a

    6), nas quais pretendia conhecer a experincia e o contacto dos alunos com a lngua

    portuguesa e tambm com o tema dos FA. Em seguida, foi apresentado um conjunto de

    frases em que os alunos deveriam preencher o espao em branco com a palavra correta

    inserida num quadro de palavras, onde existiam tambm muitos FA que podiam levar o

    aluno a cometer vrios erros.

    Nos dois exerccios seguintes, o objetivo era a traduo correta das frases. Inicialmente

    proponho a traduo do portugus para o espanhol de 8 frases; j no exerccio seguinte, a

    traduo inversa, ou seja, do espanhol para o portugus. Cada uma destas frases

    apresenta um FA cujo significado, muitas das vezes, no parece ser to evidente.

    No exerccio final, os alunos devem fazer corresponder duas colunas de palavras, uma

    delas em portugus e outra em espanhol.

    Os FA escolhidos neste inqurito no estavam divididos por categorias nem campo

    semnticos; foram escolhidas palavras mais frequentes no uso tanto no portugus como

    no espanhol, que surgem diversas vezes nas aulas, pois todas esto relacionadas com

    temas estudados nos nveis anteriores de ensino. Na totalidade, em todo o inqurito, foram

    inseridas 53 palavras Falsas Amigas.

    O mesmo inqurito voltaria a ser usado no final do ano letivo para verificar se existiu ou

    no evoluo por parte dos alunos. A seguir, passarei a analisar os resultados obtidos do

    dado inqurito.

  • 43

    2.2.Anlise dos resultados obtidos no inqurito inicial

    Neste ponto do meu estudo, passarei a analisar grande parte das respostas dos alunos e a

    focar-me nos aspetos em que tm maior dificuldade, afim de criar uma metodologia

    apropriada para super-las nas aulas que iria lecionar.

    Na primeira pergunta orientadora, fazia-se referncia ao contacto que os alunos

    estabeleciam com o portugus fora de aula.

    Grfico 1: Contato com a lngua portuguesa fora da aula

    Podemos observar que, apesar da proximidade geogrfica e do fcil acesso a informao,

    ainda existem 3 alunos que no estabelecem nenhum contacto fora da sala de aula com a

    LE.

    Na segunda pergunta, queria saber qual a competncia mais difcil aquando da

    aprendizagem do portugus como LE.

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    3

    3,5

    4

    4,5

    Contacto com a lngua portuguesa fora da aula

    nenhum contato

    familia e amigos

    viagens

    filmes, msica, livros

  • 44

    Grfico 2: Competncia mais difcil aquando da aprendizagem

    A expresso oral e a pronncia foi uma das competncias mencionadas como uma das

    mais difceis. Quando se trata de lnguas prximas em que grande parte do vocabulrio

    igual, tem de existir um esforo extra do aluno para se aproximar o mais possvel da

    pronuncia de um nativo. Deste modo, percebo o motivo de os alunos acharem esta

    competncia mais difcil. Em relao competncia de gramtica que tambm quatro dos

    alunos mencionaram, no posso ressaltar nenhum ponto em especfico. Sabemos que a

    lngua portuguesa tem uma gramtica complexa, sobretudo na morfologia verbal, mas

    comparada com a LM dos alunos bastante similar. Ttalvez a falta de conhecimentos

    nessa rea na LM possa influenciar a aprendizagem da LE.

    As restantes perguntas abordavam todas a experincia dos alunos com a lngua portuguesa

    e em concreto com os FA. Atravs das respostas dadas por eles, posso ressaltar os

    seguintes pontos:

    -Nenhum aluno passou por uma situao complicada ou embaraosa devido a

    erros de comunicao com um nativo que tivesse sido influenciada por um FA;

    -Grande parte dos alunos prefere aprender FA de uma maneira mais divertida,

    com jogos, anedotas, ou seja, uma maneira mais acessvel para que possam relembrar

    facilmente a aprendizagem;

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    3

    3,5

    4

    4,5

    competncias

    Competncia mais difcil na hora da aprendizagem

    expresso oral e proncia gramtica e verbos compreenso oral expresso escrita

  • 45

    -Uma das formas de melhor memorizar um FA tambm com listas de

    vocabulrio nas duas lnguas, pois, apesar de ser um mtodo arcaico, os alunos ainda o

    utilizam aquando do estudo;

    - A maioria dos alunos, quando ouve ou l um FA no sabe automaticamente a

    que este se refere na LE;

    - Nenhum dos alunos tem um mtodo caseiro que utilize aquando de estuda os

    FA.

    O primeiro exerccio, j descrito no ponto acima, apresentou resultados bastante

    dispersos. Os FA que integravam este exerccio eram os seguintes:

    Portugus

    Traduo para Espanhol

    Traduo Errnea e

    Correspondente em

    portugus

    Copo Vaso Copo (floco)

    Presunto Jamn Presunto (suposto)

    Assinatura Firma Asignatura (disciplina)

    Sobremesa Postre Sobremesa (pano para

    pr sobre a mesa)

    Polvo Pulpo Polvo (p, poeira)

    Bolsa Beca Bolsa (saco plstico)

    Propina Matricula Propina (gratificao por

    algum servio)

    Vaso Florero Vaso (copo)

    Secretria Escritorio Secretaria (pessoa que

    trabalha em escritrios)

    Manco Cojo Manco (pessoa que

    perdeu brao ou mo)

  • 46

    Rabanadas Torrijas Rebanadas (fatias de po)

    Ordenado Sueldo Ordenado (arrumado)

    Tabela 1: Falsos amigos usados no exerccio de completar espaos

    Apenas dois dos doze alunos foram capazes de completar corretamente o exerccio na

    totalidade. Destaco em seguida o caso mais problemtico:

    Grfico 3: Palavra mais problemtica propina

    Em portugus, segundo o Priberam, dicionrio online, propina significa:

    (latim propina, -ae, alterao de popina, ae, taberna, tasca, estalagem)

    substantivo feminino

    1. Gorjeta, gratificao.

    2. Quantia que se paga ao Estado para fazer uma matrcula, um

    exame, obter a equivalncia de diplomas e outros actos.

    3. Quantia paga para frequentar um estabelecimento de ensino

    superior.

    4. [Pouco usado] Jia que em algumas associaes paga aquele que delas quer fazer parte.

    5. [Brasil,Informal] Dinheiro ou bem que se oferece a algum em

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    Palavra mais problemtica "propina"

    Certo Errado

  • 47

    troca de favor ou negcio lucrativo, geralmente ilcito (ex.: denunci

    ado esquema da propina). = SUBORNO

    J segundo a RAE, Real Academia Espaola, dicionrio online, a palavra

    propina apresenta as seguintes acees:

    Del b. lat. propina.

    1. f. Agasajo que sobre el precio convenido y como muestra desatisfaccin se da por algn servicio.

    2. f. Gratificacin pequea con que se recompensa un servicio eventual.

    3. f. Colacin o agasajo que se reparta entre los concurrentes a una

    junta, y que despus se redujo a dinero.

    Podemos observar que ambas as lnguas apresentam a mesma origem derivada

    do latim e tambm a primeira aceo para a palavra, embora, na lngua

    portuguesa, esta aceo esteja cada vez mais em desuso.

    Destaco tambm as palavras que foram completadas com sucesso. Todos os

    alunos as realizaram de forma correta. Vejamos as diferentes acees das

    palavras presunto, polvo e manco.

    Segundo o Priberam, presunto significa:

    presunto

    (latim *presunctum, alterao de *persunctum, derivado de sunctum,

    alterao de suctus, -a, -um, particpio passado de sugo, -ere)

    substantivo masculino

    1. Perna ou espdua posterior do porco, depois de salgada e curada.

    2. [Brasil] Carne de porco, geralmente de presunto cozido, preparada

    para ser comida fria. = FIAMBRE

    3. [Informal] Corpo de pessoa morta, geralmente assassinada. =

    CADVER

    4. [Agricultura] Variedade de pra de Lamego.

    5. [Portugal, Informal] Coxa ou perna.

    6. [Portugal, Informal] P grande.

    Segundo a RAE:

    presunto, ta

    Del lat. praesumptus, part. pas. de praesumre.

    1. adj. supuesto.

    2. f. desus. Presuncin, orgullo.

    http://dle.rae.es/?id=YmdRwDm#RQhQYKD

  • 48

    A prxima palavra cujo significado no levantou dvidas por parte dos alunos

    foi polvo.

    Para o Priberam polvo :

    polvo ||

    (latim polypus, -i)

    substantivo masculino

    [Zoologia] Molusco cefalpode com oito tentculos guarnecidos

    de ventosas (octpodes), que vive nas covas dos rochedos, perto da

    costa, e que se alimenta de crustceos, de moluscos, etc.

    [Culinria] Prato confecionado com esse molusco (ex.: polvo

    assado).

    Para a RAE:

    Polvo

    Del lat. vulg. *pulvus, y este del lat. pulvis.

    1. m. Parte ms menuda y deshecha de la tierra muy seca, que

    concualquier movimiento se levanta en el aire.

    2. m. Residuo que queda de cosas slidas, molindolas hasta

    reducirlas apartes muy menudas.

    3. m. Porcin de cualquier cosa menuda o reducida a polvo, que

    se puedetomar de una vez con las yemas de los dedos pulgar e

    ndice.

    4. m. Conjunto de partculas slidas que flotan en el aire y se

    posan sobrelos objetos.

    5. m. coloq. coito. ECHAR un polvo.

    6. m. jerg. En el lenguaje de la droga, herona.

    7. m. pl. Producto cosmtico de diferentes colores que se utiliza

    para el maquillaje.

    Como podemos ver, estas duas palavras, apesar da sua igual grafia e pronncia

    no possuem nem a mesma origem nem nenhuma aceo comum.

    De acordo com o Priberam, manco faz referncia a:

    manco

    (latim mancus, -a, -um, maneta, privado de mo ou de brao)

    adjectivo e substantivo masculino

    1. Que ou quem tem um membro, geralmente um dos membros

    http://dle.rae.es/?id=9i4WdJv

  • 49

    inferiores, a menos ou o tem estropiado ou defeituoso. = ALEIJADO

    2. Que ou quem tem um andar irregular. = CAMBADO, COXO

    adjectivo

    3. [Por extenso] Diz-se do mvel a que falta uma perna.

    4. [Figurado] Imperfeito, defeituoso (por falta de parte necessria).

    substantivo masculino

    5. [Marinha] Pea curva entalhada nos gios.

    De acordo com a RAE:

    manco, ca

    Del lat. mancus.

    1. adj. Que ha perdido un brazo o una mano, o el uso de cualquiera de estos miembros. U. t. c. s.

    2. adj. Dicho de una cosa: Defectuosa, falta de alguna parte necesaria. Obra manca. Verso manco.

    3. adj. Mar. desus. Dicho de un bajel: Que no tiene remos.

    4. m. coloq. Chile. caballo ( mamfero).

    J a palavra manco tem a mesma grafia e pronncia e tambm a mesma origem. Apesar

    de as palavras das duas lnguas terem acees diferentes, existe um consenso em que o

    seu significado pode ser similar, pois em ambas as lnguas se refere a uma perda de uma

    parte do corpo.

    O exerccio de tradues foi um dos mais problemticos, pois a dificuldade era maior e,

    mesmo com os FA includos em contexto de uso, existiram vrias situaes de erro. Os

    FA apresentados em portugus para traduo foram os seguintes:

    Portugus

    Traduo para Espanhol

    Traduo Errnea e

    Correspondente em

    portugus

    Salsa Perejil Salsa (molho)

    sorte Al azar Mala sorte (azar)

    Armadilha Trampa

    Escritrio Mesa de trabajo Escritrio (mesa,

    http://dle.rae.es/?id=6OPHOdx#JxiLKQn

  • 50

    secretria)

    Agries Berros

    Escova Cepillo Escoba (vassoura)

    Talheres Cubiertos Taller (oficina de

    reparaes)

    Nota Billete Nota (anotao)

    Tabela 2: Falsos amigos usados no exerccio de traduo para o espanhol

    Destaco as duas palavras mais problemticas: trampa e berros.

    Grfico 4: Palavras mais problemticas na traduo para o espanhol

    Trampa segundo o Priberam refere-se a:

    trampa

    (espanhol trampa)

    substantivo feminino

    1. [Informal] Excremento; sujidade.

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    14

    "Trampa" "Berros"

    Palavras mais problemticas na traduo para o espanhol

    Certo Errado

  • 51

    2. [Informal,Figurado] Coisa sem importncia, sem valor, sem

    qualidade. = BAGATELA, PORCARIA

    3. [Antigo] Ao ou dito que pretende enganar ou prejudicar algum.

    = ARDIL, ENGANO, ENREDO, MENTIRA, TRAMA, TRAPAA

    4. [Antigo] Armadilha para pssaros. = ALAPO

    J segundo a RAE:

    trampa

    De la onomat. tramp, gemela de trap.

    1. f. Artificio de caza que atrapa a un animal y lo retiene.

    2. f. Puerta en el suelo, para poner en comunicacin cualquier

    parte de unedificio con otra inferior.

    3. f. Tablero horizontal, movible por medio de goznes, que suelen

    tenerlos mostradores de las tiendas, para entrar y salir con

    facilidad.

    4. f. Tira de tela con que se tapa la abertura de los calzones o

    pantalones por delante.

    5. f. Dispositivo que sirve para retener una sustancia separndola de

    otras.

    6. f. Contravencin disimulada a una ley, convenio o regla, o maner

    a deeludirla, con miras al provecho propio.

    7. f. Infraccin maliciosa de las reglas de un juego o de una

    competicin.

    8. f. Ardid para burlar o perjudicar a alguien.

    9. f. coloq. Deuda que se tarda en pagar.

    A palavra portuguesa tem origem na palavra espanhola, mas apenas contm uma aceo

    comum, apresentada em ltimo lugar e referida como sendo uma aceo antiga.

    A segunda palavra mais problemtica, que nenhum dos alunos foi capaz de identificar,

    foi berros, que o Priberam define como:

    berro ||

    substantivo masculino

    1. Grito ou voz do boi e de outros animais.

    2. Grito.

    3. Rugido.

    4. [Entomologia] Insecto que vive entre o plo dos bovdeos.

  • 52

    J a definio na lngua espanhola a seguinte:

    berro

    Del celta *brro-.

    1. m. Planta de la familia de las crucferas, que crece en lugares aguanosos, con varios tallos de unos 30 cm de largo, hojas

    compuestas dehojuelas lanceoladas, y flores pequeas y blancas.

    Toda la planta tiene ungusto picante y las hojas se comen en ensala

    da.

    No existe nenhuma ligao entre as palavras, apenas a sua grafia igual. Sendo

    estas duas palavras to diferentes em termos de acees, os alunos devem ter em

    ateno os seus significados distintos nas duas lnguas, pois, como ainda vamos

    observar grande parte dos falsos amigos possuem algumas acees comuns.

    J no exerccio de traduo inversa, do espanhol para o portugus, os resultados

    encontrados no foram muito diferentes. Apresento, de seguida, a lista de FA:

    Espanhol

    Traduo para o

    Portugus

    Traduo Errnea e

    Correspondente em

    espanhol

    Salsa Molho Salsa (perejil)

    Refranes Provrbios Refro (estribillo)

    Tostn Levar uma seca (col.) Tosto (moneda

    portuguesa antigua)

    Chimenea Lareira Chamin (chimenea)

    Ancdota Histria Anedota (chiste)

    Ciruelas Ameixas Ceroulas (calzas)

    Balcn Varanda Balco (barra de bar)

    Baln Bola Balo (globo)

  • 53

    Tabela 3: Falsos amigos usados no exerccio de traduo para o portugus

    As palavras que mais estranheza causaram aquando da traduo para o portugus foram

    refranes, tostn e ciruelas.

    Grfico 5: Palavras mais problemticas na traduo para o Portugus

    Observemos ento os significados destas palavras e as suas origens.

    Segundo a RAE:

    refrn

    Del fr. refrain.

    1. m. Dicho agudo y sentencioso de uso comn.

    J em lngua portuguesa, segundo o Priberam:

    refro

    (espanhol refrn)

    substantivo masculino

    1. Verso ou versos que se repetem no fim de cada estrofe. = ESTRIBILHO

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    14

    "Refranes" "Tostn" "Ciruelas"

    Palavras mais problemticas na traduo para o Portugus

    Certo Errado

  • 54

    2. Palavra ou expresso que se repete. = ESTRIBILHO

    3. Frase, geralmente curta, que encerra uma moral ou um ensinamento

    . = ADGIO

    4. [Msica] Parte de certas peas musicais que se repete. = CORO,

    ESTRIBILHO

    Apesar de a palavra portuguesa ter origem na espanhola, as suas acees no coincidem

    em nenhum momento, mas as grafias semelhantes podem levar o aluno ao erro.

    Em relao palavra tostn, a sua realidade no difere da palavra anterior, ou seja, tm

    parecenas na grafia, apesar de terem origens diferentes, mas, como podemos ver abaixo,

    as acees so muito divergentes.

    Para a RAE:

    tostn

    De tostar.

    1. m. torrado.

    2. m. Rebanada de pan tostado empapado en aceite nuevo, que se

    unta con ajo y se adereza con sal o azcar y zumo de naranja.

    3. m. Trozo pequeo de pan frito, generalmente en forma de cubo,

    que seaade a las sopas, purs, etc. U. m. en pl.

    4. m. Cosa demasiado tostada.

    5. m. Cochinillo asado.

    6. m. Dardo hecho con una vara tostada por la punta para endurecer

    7. m. coloq. Tabarra, lata.

    8. m. coloq. Persona habladora y sin sustancia.

    Para o Priberam:

    tosto

    (francs teston)

    substantivo masculino

    1. Antiga moeda portuguesa no valor de 100 ris ou de 10 centavos.

    2. Moeda de ouro no valor de 1200 ris cunhada no tempo de D.

    Manuel I.

    3. [Botnica] Planta herbcea tambm conhecida por erva-tosto.

    4. [Informal] Dinheiro.

    A ltima palavra que ressalto deste exerccio ciruela, segundo a RAE:

    ciruela

    Del lat. cerela [pruna]; literalmente '[ciruelas] de color de cera'.

    http://dle.rae.es/?id=a7FT6Hr

  • 55

    1. f. Fruto del ciruelo. Es una drupa, muy variable en forma, color y

    tamao segn la variedad del rbol que la produce. El epicarpio

    suelesepararse fcilmente del mesocarpio, que es ms o menos

    dulce y jugoso ya veces est adherido al endocarpio.

    Segundo o Priberam:

    ceroulas

    (rabe sarawil, calas)

    substantivo feminino plural

    Pea de roupa interior masculina que cobre as pernas separadamente,

    da cintura at aos ps, e que se veste por baixo das calas, para

    proteger do frio (ex.: estava descalo e s de ceroulas). = CEROILA,

    CEROULA

    Tal como a palavra anterior, ciruela apresenta uma grafia e pronncia semelhantes em

    ambas as lnguas, no entanto no existe nenhuma origem comum entre as palavras.

    Nas duas partes do exerccio de traduo, apenas houve uma palavra (escritrio) onde a

    taxa de correo foi de 100%, no entanto a palavra sorte, molho e lareira foram

    as trs onde a taxa de erros foi menor.

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    14

    sorte Escritrio Molho Lareira

    Palavras com melhores resultados nos exerccios de traduo

    Certo Errado

  • 56

    Grfico 6: Palavras com melhores resultados nos exerccios de traduo

    A palavra escritrio igual em grafia e pronncia nas duas lnguas, muitas vezes um

    erro frequente de principiantes no portugus, pois a sua semelhana evidente, a origem

    parece ser comum, e contm apenas uma aceo comum, aceo essa que induz o erro.

    Em portugus o Priberam define-nos como:

    escritrio

    substantivo masculino

    1. Sala ou gabinete onde se escreve, se faz o expediente, se tratam negcios.

    2. Gabinete de trabalho; secretria.

    3. Mvel que era uma espcie de secretria ou escrivaninha.

    J em espanhol, segundo a RAE:

    escritorio

    Del lat. scriptorium.

    1. m. Mueble cerrado, con divisiones en su parte interior para guardarpapeles y, a veces, con un tablero sobre el cual se escribe.

    2. m. Mesa de despacho.

    3. m. Mueble de madera, comnmente con embutidos de marfil,

    concha uotros adornos de taracea, y con gavetas o cajones pequeos

    para guardarjoyas.

    O ltimo exerccio, fazer correspondncia entre uma coluna de palavras em espanhol e

    uma em portugus, teve um resultado bastante surpreendente. Tratava-se de um exerccio

    de maior dificuldade, embora o mtodo de correspondncia seja simples, e os alunos no

    mostraram grandes dificuldades, encontrando assim um nmero generoso de respostas

    corretas em todos os alunos. Destaco aqui apenas uma palavra, pois foi a nica cuja

    correspondncia nenhum aluno fez corretamente: trata-se da palavra vulto que pode ser

    confundida com a palavra em espanhol bulto. Veremos, em seguida, as diferenas de

    significados de ambas as palavras

    Em portugus, segundo o Priberam:

  • 57

    vulto

    (latim vultus, -us)

    substantivo masculino

    1. Rosto, semblante, face.

    2. Corpo, figura.

    3. Pessoa que no se conhece ou de que no se podem distinguir as

    feies.

    Em espanhol, segundo a RAE:

    bulto

    Del lat. vultus 'rostro'.

    1. m. Volumen o tamao de una cosa.

    2. m. Cuerpo indistinguible por la distancia, por falta de luz o por este

    recubierto.

    Apesar da origem comum e de algumas acees comuns, no caso concreto deste exerccio

    era possvel que os alunos cassem em erro e fizessem corresponder a palavra portuguesa

    Vulto a bulto, mas contendo outras opes mais corretas e mais familiares por

    questes de uso, esta traduo deve ser considerada incorreta.

    Neste exerccio existiram vrias respostas dadas corretamente por todos os alunos, entre

    elas so os FA, na sua forma em espanhol, encargos, contestacin, embarazo,

    grasa, embutidos e gracia.

    A mdia de erros cometidos neste inqurito inicial foi de aproximadamente 14 palavras.

    Relembro que faziam parte da testagem 53 palavras FA, sendo que houve uma

    percentagem de 26,4% de erro no grupo de alunos do nvel B.2.2..

    3. Metodologia adotada em aula

    Sendo o tema dos falsos amigos, ainda pouco aprofundado nos cursos de PLE, dada

    tambm a falta de material nos manuais adotados pelos professores, foi de grande

    necessidade criar e encontrar novas formas de tornar est aprendizagem mais simplificada

    e ao mesmo tempo eficaz. Os FA que fizeram parte das diversas propostas de atividades

    realizadas em aula, no esto divididos nem por campos semnticos, nem por categorias,

  • 58

    pois depois de realizado o inqurito inicial e de verificar as dificuldades dos alunos, era

    necessrio focar-me naquelas palavras que causam mais problemas de comunicao.

    Tratando-se tambm de um grupo de nvel B.2.2, onde os conhecimentos sobre este tema

    ficaram um pouco aqum do resultado esperado, relembro que existiu em mdia uma

    percentagem de 26% de erros.

    De seguida, descreverei em pormenor cada exerccio feito em aula. Cada um apresentar,

    no final da explicao, uma tabela detalhada das palavras abordadas e com os seus

    distintos significados nas duas lnguas.

    Optei por realizar vrias atividades onde punha prova as variadas competncias dos

    alunos, desde exerccios de completar espaos, a expresses orais e inclusive um

    exerccio de compreenso oral de um programa humorstico, onde o nvel de dificuldade

    era mais elevado.

    3.1. Propostas de atividades

    A primeira atividade que realizamos em aula, foi uma traduo de um texto 'La Presunta

    Abuelita' dos autores Guillermo Alvez de Oliveyra e Mara Eulalia Alzueta Bartaburu

    (HISPANIA EDITORA a detentora dos direitos do texto) adaptado por mim ao espanhol

    peninsular, j que se tratava de uma variedade latina do espanhol.

    Cada aluno deveria em primeiro lugar ler o texto com ateno, selecionando e

    sublinhando ao mesmo tempo os 36 FA nele presente. Este texto uma espcie de conto

    infantil, onde a maioria das palavras era de dificuldade reduzida e de uso dirio. Em

    seguida, cada aluno deveria traduzir o texto individualmente, sem recorrer a nenhum

    dicionrio e sem questionar o professor em algum momento. O texto foi entregue para a

    correo a posteriori. Aps a correo, foi devolvido aos alunos para verem quais os

    principais erros a nvel de traduo em geral e tambm quais as palavras em que ainda

    apresentavam dificuldades.

    De seguida, o texto que foi proposto aos alunos:

  • 59

    N LA PRESUNTA ABUELITA

    Haba una vez una nia que fue a pasear al bosque. De repente se acord de que no le

    haba comprado ningn regalo a su abuelita. Pas por un parque y arranc unos lindos

    pimpollos rojos. Cuando lleg al bosque vio una carpa entre los rboles y alrededor unos

    cachorros de len comiendo carne.

    El corazn le empez a latir muy fuerte. En cuanto pas, los leones se pararon y

    empezaron a caminar atrs de ella. Busc algn sitio para refugiarse y no lo encontr. Eso

    le pareci espantoso. A lo lejos vio un bulto que se mova y pens que haba alguien que

    la podra ayudar. Cuando se acerc vio un oso de espalda. Se qued en silencio un rato

    hasta que el oso desapareci y luego, como la noche llegaba, se decidi a prender fuego

    para cocinar un pastel de berro que sac del bolso. Empez a preparar el estofado y lav

    tambin unas ciruelas.

    De repente apareci un hombre calvo con la chaqueta llena de polvo que le dijo si poda

    compartir la cena con l. La nia, aunque muy asustada, le pregunt su nombre. l le

    respondi que su apellido era Gutirrez, pero que era ms conocido por el apellido Pepe.

    El seor le