ensinar e aprender filosofia hoje

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  • 8/18/2019 Ensinar e Aprender Filosofia Hoje

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    ENSINAR E APRENDER FILOSOFIA HOJE: UMA ABORDAGEM

    CENTRADA NO CONCEITO DE CURRÍCULO

    Ana Maria Fonseca*

    A autora reflete sobre o importante papel que a Filosofia desempenha nos currículosde ensino médio e superior, enfatizando o aspecto formativo da disciplina e toda a sua potencialidade para desenvolver estes aspectos. Mas, o foco da discussão consiste nodescompasso entre o que a disciplina propõe e oportuniza e o modo como ela se oranizadidaticamente num marco de condi!ões que permita efetivamente a aprendizaem. Assimsendo, constitui em ob"etivo deste estudo apontar que o problema do ensino da Filosofia noconte#to atual não é de cunho epistemol$ico, mas sim de ordem did%tico&peda$ica.

    Palavras-chave: filosofia, ensino, currículo.

    'ste estudo tem como ponto de partida a tomada de posi!ão de que é possívelfilosofar e ensinar Filosofia. (endo assim, a Filosofia constitui&se em mais um componentecurricular, tanto em nível de ensino médio como universit%rio, tendo ela, nesse sentido, um papel e um ob"etivo a cumprir. Ao tentar compreend)&la dentro de uma concep!ão decurrículo, perunta&se +ual o papel e o luar da Filosofia no currículo do atual conte#toeducativo

    -ara come!ar responder a esta questão, entende&se currículo/, de acordo com0imeno 123324, como um sistema em que diferentes dimensões, inter&relacionadas, no maisdas vezes tensionadas, eruem&se em um marco de condi!ões que precisam desvelar5 ao passo que, de outro modo, a compreensão e a potencial interven!ão sobre o ensinoresultaria invi%vel por apresentar&se desconte#tualizada e in)nua. Fala&se do currículo, portanto, como uma estrutura de condi!ões que determina a pr%tica educativa.

    'm conson6ncia com as idéias de 0imeno e -erez 0omes 123374 quatro fontes

    alimentam o currículo. (ão elas sociol$ica, epistemol$ica, psicol$ica e peda$ica.

    O es!" #a F!l"s"$!a " c"%e&%" a%'al: '(a a)r"&!(a*+" c"( a $"%es"c!"l,!ca #" c'rr.c'l"

    -rev) a 8ei no 3.93:;3ases da 'duca!ão >rasileira, em

    seu Art. 2o A educa!ão dever% abraner os processos que se desenvolvem na vida familiar,

    na conviv)ncia humana, no trabalho, nas institui!ões de ensino e pesquisa, nos movimentos

    sociais e oraniza!ões da sociedade civil e nas manifesta!ões culturais/.

    * =outora em Filosofia e ?i)ncias da 'duca!ão. -rofessora ad"unta do =epartamento de educa!ão e ?i)nciasdo ?omportamento da Funda!ão @niversidade Federal do io 0rande B io 0rande;( B Av. Ct%lia, Dm 7&?ampus ?arreiros B '&mail anfomaEvia&rs.net

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    Frente a isso, a sociedade espera da escola uma forma!ão não meramente instrutiva,

    mas a continua!ão da tarefa formativa come!ada na família e prevista, também, para todas

    as fases de ensino subseqentes.

    +ual seria, então, o papel da Filosofia na educa!ão escolarizada, como processo de

    socializa!ão

    'm época de lobaliza!ão, observa&se que o pensamento sistem%tico, a refle#ão

    analítica ou a mera "ustificativa do que se afirma, t)m, sobretudo na escola, alo de

    desvalorizado e arcaico. G espa!o do pensamento foi substituído por um espa!o comum da

    mídia, produtor de usu%rios d$ceis e espectadores passivos. A Filosofia não é sedutora em

    nossos tempos. -elo contr%rio, parece um estorvo pouco pr%tico. Hão nos arante a

    felicidade ou a solu!ão r%pida dos nossos problemas5 e coloca, por outro lado, novas

    questões, talvez mais comple#as e profundas do que as comumente postas.+ue sentido h%, ho"e em dia, em complicar a vida, merulhando no fundamento das

    coisas, quando tudo é oferecido de forma direta e espetacular G impacto imediato da

    imaem torna obsoleta e aborrecida a interven!ão mediadora da refle#ão. ' o pior, tudo o

    que não tem lucro imediato termina sendo uma irremedi%vel perda de tempo.

    Adaptada aos tempos atuais, de pr%ticas e produtos light , presencia&se a e#pansão

     proressiva de uma forma de pensamento também light , e#tremamente ali"ada das

     pretensões críticas ou fundacionais da velha razão moderna 1humana, universal e ob"etiva4.

    'sse pensar, que também tem a pretensão de substituir a razão ilustrada, costuma esotar&se

     por completo em uma pr%tica servil, orientada pela busca da efici)ncia e por uma melhor 

    adapta!ão Is condi!ões dominantes B ou se"a, uma racionalidade meramente instrumental.

    Jem&se dito que a institui!ão escolar moderna, de cunho iluminista, propaadora do

    saber, promotora do pensar autKnomo e, portanto, formadora de seres livres, encontra&se em

    uma encruzilhada ou desaparece como tal, ou se atualiza. G sinificado de atualizar&se/

     poderia ter sido, talvez, um interessante tema de debate e discussão pLblica, mas a

    economia e o mercado parecem "% ter atribuído I escola uma tarefa e um luar, aos quais,

    mais ou menos traumaticamente, ela vai se adaptando.

    A aula de Filosofia transformou&se, então, em um espa!o comple#o, para o qual

    confluem inquieta!ões diferentes.

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    Mas deve a Filosofia resinar&se diante desse panorama aparentemente desolador A

    escola passar% a ser um 6mbito em que a Filosofia não mais tem luar (inificaria

    reconhecer a derrota do pensamento, a impossibilidade de poder pensar essa realidade em

    outro luar, além daquele "% estabelecido pelo capitalismo universal do fim do Lltimo

    século.

    Jestemunha&se que a educa!ão escolarizada trabalha independente do nível de

    ensino 1em melhor satisfazer os para qu)/ socialmente reconhecidos4, a fim de levar os

    que passam pelas suas aulas a inserir&se passivamente na sociedade e em suas leis de

    mercado. Ha verdade, para que escolham o que para eles "% foi escolhido, para que se"am

    mais eficazes em suas a!ões de produzir e consumir, aindo por meio de estratéias que

    aperfei!oem ou melhorem as condi!ões de um sistema estendido a quase todos os recantos

    da vida.=esse modo, assiste&se, a contraosto, ao espet%culo da Filosofia transformada em

    utilidade, em ferramenta para aceitar a l$ica, a ret$rica, a política ou a estética do que é

    dado, especialmente quando vira mero e#ercício técnico, apenas um con"unto de

    habilidades, tornando&se, assim, Ltil para entender e ordenar, para "ustificar e e#plicar, mas

    nunca para questionar e subverter.

    G sentido da Filosofia é encontrado na perunta para qu)/. -ara ?erletti e ?ohan

    12333, p. 334, a Filosofia se lia ao social, "% que todos os seres humanos vivem em

    comunidade, e este se torna o Lnico conte#to no qual o ser humano pode ser como é/. 'sse

    é o velho sentido da pólis rea quando o ser humano se estabelece em uma comunidade

    de sentido e de rela!ões sinificativas que o constituem como ser social. =essa forma, a

    constitui!ão do ser humano em uma comunidade de sinificado desperta o sentido da

    Filosofia como questionamento radical da ordem estabelecida. Ha  pólis, a Filosofia torna&se

    crítica radical do status quo viente na política, na ci)ncia, na arte e em todas as formas

    sociais e culturais dominantes.

    O c"hec!(e%" $!l"s,$!c": '(a a)r"&!(a*+" c"( a $"%e e)!s%e("l,!ca #"

    c'rr.c'l"

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    >uscar a concep!ão epistemol$ica de uma ci)ncia sinifica conceb)&la abstrata e

    intelectualmente enquanto conhecimento, com identidade pr$pria, oriunda de características

    erais que são a ela peculiares e que a definem como tal.

    +uando se busca uma apro#ima!ão com a fonte epistemol$ica do currículo da

    Filosofia, encontra&se na pr$pria disciplina esse fundamento, na medida em que o ato de

    ensinar&aprender Filosofia "amais se dissocia da episteme filos$fica.

    =esde a Antiidade até os nossos dias, tem&se reconhecido na Filosofia alumas

    dimensões típicas e e#tremamente peculiares desse tipo de conhecimento. (ão elas

    & como sabedoria te$rica e especulativa, a Filosofia pretende asseurar a unidade e a

    universalidade do saber5

    & como sabedoria refle#iva, pretende arantir sua pr$pria interioridade e intimidade5

    & como linuaem, pretende arantir a pr%tica filos$fica e a possibilidade doensinar;aprender.

    A F!l"s"$!a c"(" sa/er0 re$le&+" e l!'ae(

    A Filosofia como saber é, sem dLvida, a mais antia dentre as concep!ões.

    ?onhecer é o movimento primeiro da inteli)ncia, o verdadeiro impulso do filosofar. ?om

    os pré&socr%ticos aparece pela primeira vez a idéia de ci)ncia total e, com ela, uma tarefaideal de fins ilimitados, concep!ão impens%vel nos dias que correm, depois da constitui!ão

    das ci)ncias. 'm =escartes a Filosofia dei#a de ser o coroamento das ci)ncias para, através

    da Metafísica, ser o seu fundamento, a sua arantia. Mas a unidade da ci)ncia permanece

    como ideal.

     Ho século NCCC as metafísicas racionalistas caem em descrédito e o -ositivismo

    reduz a Filosofia I síntese das ci)ncias. A partir de 27OP os sistemas declinam e buscam&se

    novos métodos 1intui!ão em >erson, descri!ão fenomenol$ica em Qusserl...45 prea&se

    uma volta ao imediato, Is coisas mesmas/. Mas o tema da universalidade, da unidade, da

    totalidade, permanece, e conclui&se, então, que a Metafísica corresponde a uma necessidade

    imprescindível do espírito humano e constitui&se no primeiro passo do conhecimento

    filos$fico.

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    Jodavia, esse conceito de saber liado ao pensamento de si mesmo 1e#peri)ncia

    metafísica4 não pode, seundo (antiuste e Nelasco 1237:4, manter&se, na atualidade, como

    unívoco, pois é preciso saber distinuir entre o saber científico e o filos$fico. -or amplas

    que se"am as teorias científicas, o saber científico é sempre parcial, reional, enquanto o

    saber filos$fico, renunciando a toda a totaliza!ão enciclopédica, permanece, em sua

    inten!ão, universal.

    Qeideer tinha razão ao afirmar que o rau de desvelamento do ser não coincide

    com a soma dos entes. 'nquanto o saber científico é ob"etivo, o saber filos$fico é refle#ivo.

    A ci)ncia, atividade construtiva, vai do su"eito ao ob"eto, de dentro para fora5 a Filosofia, a

    atividade refle#iva, vem do ob"eto ao su"eito, do mundo ao espírito.

    A refle#ão constitui&se na seunda dimensão do conhecimento filos$fico. 'la não se

    constitui em uma atitude natural, mas tem alo de prazeroso, desinteressado, lLdico. R aconsci)ncia da consci)ncia, é um voltar do espírito sobre si mesmo. -ressupõe uma prévia

    e#tensão do saber, com aquela intera!ão mental que é a sua conseq)ncia, o choque dos

    espíritos, a contradi!ão das opiniões, o nascimento da dLvida, a busca de uma norma para o

     "usto e o verdadeiro. G di%loo e#terior convida para o di%loo interior é um momento

    essencial do conhecimento filos$fico, como se fosse seu seundo nascimento.

    A ironia socr%tica, a reminisc)ncia platKnica, a confissão aostiniana, o coito

    cartesiano, a intui!ão bersoniana, a redu!ão husserliana, o rior orteuiano etc., são

    formas especializadas de refle#ão, de muitos variados estilos e import6ncia. (implificando,

     pode&se dizer que a crítica do saber é seuramente um dos principais benefícios da refle#ão.

    @ma dimensão mais moderna da Filosofia diz que o conhecimento filos$fico é

    essencialmente um conhecimento abstrato, isto é, linístico. (omente na linuaem B e

    através dela B se faz Filosofia. Mas, seundo Sittenstein 1Cnvestia!ões Filos$ficas, C, no

    234, imainar uma linuaem é imainar uma forma de vida. A linuaem é parte essencial

    da vida que se vive e, dessa forma, seu sentido e realidade. Aqui se encontra a rela!ão da

    Filosofia com o seu ensino e aprendizaem.

    G fato de estar&se com alunos, semanalmente, durante muitos meses do ano,

    constitui&se indubitavelmente em uma forma de vida professor e aluno reLnem&se para uma

    determinada finalidade, que é, pelo visto, adquirir determinados conhecimentos,

    oranizados previamente em um prorama.

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    Gra, essa finalidade seleciona uma série de atos5 aluns muito v%lidos e outros

    improcedentes. Jodos esses atos, repetidos dia a dia, causam uma variada ama de

    conota!ões emotivas, constituindo&se em refor!o neativo ou positivo na conduta da classe.

    ' tudo isso produz h%bitos que vão orientando e reorientando toda a atividade e construindo

    um comple#o universo vital, capaz de fazer com que os participantes desse universo

    limitem&se a selecionar, entre o acervo linístico da comunidade lobal em que vivem,

    aqueles termos de que necessitam para e#pressar a forma de vida que v)m realizando.

     Has palavras de Grio de Miuel 1233O4, o meio crítico, isto é, a forma de vida na

    classe, o que é dito, como é conduzido e como é proposto, é o conteLdo filos$fico mais

    importante, mais sutil e, possivelmente, o mais decisivo no trabalho do professor.

    G que se acaba de dizer pode valer para qualquer tipo de conhecimento, mas tem

    uma particular relev6ncia na transmissão do conhecimento filos$fico. Ha maioria dasdisciplinas o ato de conhecer e o ob"eto a ser conhecido são diferentes. Ao contr%rio, o

     professor de Filosofia ocupa&se em conhecer e transmitir o mesmo conhecimento, de

    maneira que ha"a coincid)ncia entre o ato de conhecer e o ob"eto a ser conhecido. ?onteLdo

    e método são o mesmo, ou se"a, o que est% sendo transmitido também est% sendo construído

    no ato mesmo de transmiti&lo. =aí decorre, por esse ato essencialmente linístico, um ato

    essencialmente criativo, Lnico, irrepetível. Hesse sentido, as disciplinas filos$ficas, em

    especial a Filosofia, possuem o priviléio de terem em mãos a cria!ão contínua e din6mica

    de uma série de rela!ões pessoais, de tal modo a provocarem situa!ões intelectualmente

    críticas, linisticamente formuladas.

    Os al'"s 1'e c'rsa( F!l"s"$!a: '(a a)r"&!(a*+" c"( a $"%e )s!c"l,!ca #"

    c'rr.c'l"

    A fonte psicol$ica do currículo refere&se ao desenvolvimento do processo de

    aprendizaem dos alunos, quer dizer, ao que é possível ser aprendido por eles, e como faz)&

    lo. -ara otimizar esse processo é preciso situar o educando em um paradima conitivo

    capaz de realizar a media!ão do efeito do ensino sobre a sua aprendizaem.

    =essa forma, é preciso conhecer aluns tra!os que caracterizam os "ovens que

    freqentam as aulas de Filosofia, quer no ensino médio, quer na universidade, para poder 

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    compreender que tipos de processos conitivos são capazes de desenvolver, favorecendo,

    assim, uma maior adequa!ão entre o plane"amento peda$ico do professor e a

    aprendizaem efetivamente realizada.

    Ao tratar da questão do paradima conitivo em que se situam esses "ovens alunos

    de Filosofia, Jrillo 1233O4, seuindo 'lliot 1233P4, v) a necessidade de diferenciar o

     processamento da informa!ão em rela!ão I sinifica!ão ou compreensão da mesma. -or 

    isso, é preciso separar os processos conitivos b%sicos 1observar, reunir dados, comparar e

    relacionar, resumir, ordenar, classificar etc.4, em sua acep!ão mais reducionista de mero

     processo de codifica!ão, dos processos metaconitivos 1predizer, interpretar, verificar,

    comprovar os procedimentos empreados, valorizar tarefas propostas etc.4 que, desde o

    suposto de sua sinifica!ão para o aluno, permitem a ele avaliar, planificar e reular sua

     pr$pria aprendizaem, mediante a autovaloriza!ão das suas pr$prias compet)ncias e aautodire!ão na consecu!ão das mesmas./ 1Jrillo, 233O, p. T34

    As idéias de Jrillo 1233O4 posicionam&se a favor de que os alunos, independente da

    defasaem 1defici)ncias mLltiplas em seu aprendizado4 sofrida nas séries anteriores,

    encontram&se aptos a envolverem&se em uma aprendizaem que provoque muito além da

    repeti!ão de informa!ões, até porque processar a informa!ão não fornece a arantia de que

    o su"eito a sinifique./ 1Jrillo, 2373a4. Mais que empreender meramente processos

    conitivos b%sicos, os "ovens são capazes, podem e devem trabalhar com processos

    metaconitivos, que vão ao encontro de uma aprendizaem autKnoma. Hão obstante, isso

    s$ se torna possível se os professores tiverem claros os tipos de atividades e de tarefas a

    serem propostas para atinir determinados fins. Hesse sentido, a Filosofia mostra&se como

    um campo fértil para o desenvolvimento da metaconi!ão.

    'sses "ovens alunos encontram&se na chamada idade metafísica/. '#aminar idéias

    sobre a natureza do homem, a reliião, os sistemas sociais e os princípios éticos, a política,

    a vida, a morte, a alma é alo que se mostra interessante e mesmo que, muitas vezes, sem a

    necess%ria profundidade, possuem interesse em discutir. -or isso, alumas tem%ticas

    apresentam&se mais sinificativas, embora não em rande nLmero, para que eles

    questionem a utilidade da disciplina para a sua vida futura e o seu trabalho.

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    (abe&se que o "ovem possui um au!ado senso crítico. 'le vai formando a sua

     personalidade em contraste com outros modelos sociais, emocionais, afetivos e de conduta

    individual e coletiva, sem dei#ar de criticar principalmente o "% instituído.

    Faz&se importante, nesse est%dio da vida, a conviv)ncia em rupo, onde ele pode

    confrontar sua identidade com a de outras pessoas. Hessa dire!ão, os primeiros escritos de

    8eUin 123:T&:74 "% demonstram o valor e a utilidade da comunica!ão interpessoal nos

    conte#tos de rupos para a aprendizaem e para as modifica!ões de conduta e incorpora!ão

    de novos valores.

    @m outro fator que não se pode dei#ar de considerar é a curiosidade intelectual da

     "uventude. Csso era uma atitude favor%vel, na medida em que predispõe o aluno para a

    aquisi!ão e a viv)ncia dos conteLdos, o que é e#tremamente positivo sob a $tica da

    transmissão do conhecimento, possibilitando não s$ o desenvolvimento da capacidadeintelectual, mas também a descoberta do sinificado e a rela!ão entre as idéias.

    Frente a tudo isso, o enfoque dado pela Filosofia deve ser muito cuidadoso e

     permanentemente revisado, para que se aproveite, por um lado, o e#cepcional car%ter 

    formativo da disciplina e, por outro, o potencial dos "ovens, em sua maioria predispostos a

    inLmeros questionamentos de cunho antropol$ico, cu"a norma direciona para a

    consecu!ão do equilíbrio pr$prio da personalidade adulta, bem orientada para o mundo em

    que vive e livremente aberta Is rela!ões humanas e I dupla aceita!ão de si mesmos e do

    outro.

    Es!ar e a)re#er F!l"s"$!a: '(a a)r"&!(a*+" c"( a $"%e )e#a,!ca #"

    c'rr.c'l"

    A fonte peda$ica, recolhendo as contribui!ões e#istentes na teoria e na pr%tica

    docente, é a que proporciona os elementos indispens%veis I elabora!ão do currículo em

    suas fases de oraniza!ão e em seu posterior desenvolvimento. Jrata&se, aqui, de como o

     professor oraniza efetivamente a sua pr%tica peda$ica.

     Heste momento, convém lembrar que o currículo constitui&se no ambiente

    especializado em aprendizaem, deliberadamente ordenado, com o ob"etivo de diriir os

    interesses e as capacidades dos alunos para a eficiente participa!ão na vida da comunidade

    e da na!ão. 'le diz respeito ao au#ílio dado aos alunos para o enriquecimento de suas

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     pr$prias vidas, contribuindo para o aperfei!oamento da sociedade através da aquisi!ão de

    informa!ões, habilidades e atitudes. Ha maioria das escolas e universidades trabalha&se com

    o currículo centrado nos professores, isto é, tendo eles a responsabilidade de oranizar a

     pr%tica peda$ica da forma que melhor lhes aprouver e que, no seu entendimento, conflua

     para os interesses e e#pectativas dos alunos.

    ?onstituem&se em componentes curriculares os ob"etivos de ensino, as

    metodoloias, os conteLdos, os recursos did%ticos, a avalia!ão, o professor e os alunos. A

    an%lise de cada um desses componentes curriculares seria assunto para um capítulo de livro

    ou mesmo para uma disserta!ão. Ha impossibilidade de, por ora, e#aminar cada um deles,

    conclui&se compartilhando do pensamento de Machado 1VPP24. (eundo a autora, duas são

    as idéias norteadoras da fonte peda$ica do currículo. 'i&las

    2a4 G professor constitui&se, sem dLvida, no mais importante aente curricular, namedida em que oraniza, e#ecuta e avalia o plane"amento de ensino. Ho caso específico da

    Filosofia, precisa o professor nortear sua atividade did%tico&peda$ica por aluns

     princípios específicos da sua disciplina, a saber

    & a familiaridade com os procedimentos de an%lise filos$fica empreados no

     processo de ensino&aprendizaem5

    & o domínio da linuaem, bem como o domínio da arumenta!ão, nas suas mais

    variadas formas, que se estendem desde a demonstra!ão estrita até os procedimentos

     puramente persuasivos, sempre atentando&se aos riscos e limita!ões que seu uso lhe impõe5

    & a capacidade de ilumina!ão de fatos e dados, indispens%vel para dar penetra!ão e

    amplitude ao pensamento5

    & a sensibilidade afinada com a situa!ão vital do aluno, que permite ao professor 

    utilizar refle#ivamente a e#peri)ncia do "ovem, motivando&o adequadamente, tomando sua

    e#ist)ncia como ponto de partida para o ensino da matéria Filosofia.

    Va4 Ha pr%tica peda$ica atual, o plane"amento de ensino constitui&se em uma a!ão

     peda$ica essencial5 isto é, na pr%tica di%ria do professor, não deve haver luar para

    improvisa!ões. -or conseuinte, o plane"amento não pode mostrar&se frament%rio e

    desarticulado do todo social, mas precisa ser repensado para concretizar uma a!ão

     peda$ica crítica e transformadora, que possibilite ao professor ter maior seuran!a acerca

    daquilo que ocorre na sala de aula e na escola. Hesse sentido, a interven!ão docente

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    necessita traduzir&se em uma a!ão peda$ica direcionada de modo a interar o professor 

    dialeticamente ao concreto do educando, buscando transformar essa realidade. Csso não

    sinifica dizer que a interven!ão docente tenha de basear&se em manuais diretivos. =eve ela

    alicer!ar&se sobretudo em uma e#i)ncia interna, que se impõe por si pr$pria, isto é,

    refle#iva, crítica e transformadora.

     

    C"cl's+"

    Gb"etivou&se, dentre outras coisas, ao lono de anos de estudo e de doc)ncia voltada

     para o ensino da Filosofia, tentar compreender e elucidar o marco de condi!ões que

    determina a pr%tica do ensino da Filosofia, bem como identificar e propor aluns modelos

    alternativos.

    Jem&se claro que, mediante o ensino da Filosofia, como disciplina relevante nos

    currículos do ensino médio e superior, o estudante vai ena"ar&se na compreensão da

    realidade, através do estudo da sinifica!ão de seus c$dios5 vai entender as condi!ões

    efetivas que determinam a constru!ão do ser hist$rico5 vai penetrar criticamente no mundo

    do conhecimento e em toda a sua estrutura a#iol$ica5 e, por fim, vai dotar&se de um

    instrumental ético imprescindível para o estabelecimento das possibilidades e dos limites

    do ser humano. =essa forma, ensinar e aprender Filosofia ultrapassa uma atividademeramente instrutiva, visto que recupera plenamente todo o seu sentido formativo, alo que

    est% claramente previsto na nova 8ei de =iretrizes e >ases que reula o ensino brasileiro.

    ?ontudo, ao mesmo tempo em que a disciplina conrea todas as potencialidades deum saber formativo, os professores apresentam inLmeras dificuldades em oranizar a sua pr%tica peda$ica em conson6ncia com toda essa riqueza, donde se conclui que o problema do ensinar&aprender Filosofia é muito mais did%tico&peda$ico do queepistemol$ico.

    A deficiente forma!ão did%tica dos professores constitui&se em um problema

    end)mico para o ensino da Filosofia e representa um verdadeiro desafio para todos aquelesque e#ercem a doc)ncia dessa disciplina.

    'sse quadro estrutural mostra um presente incerto e um futuro indefinido para

    atinir a otimiza!ão do processo ensino&aprendizaem da Filosofia, além de contribuir para

    a falta de identidade da disciplina, problema que se arrasta desde tempos coloniais.

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    G futuro reserva um muito por fazer no 6mbito da did%tica filos$fica, priorizando a

     possibilidade de um ensino sustentado e fundamentado nas quatro fontes cl%ssicas do

    currículo a epistemol$ica, a psicol$ica, a sociol$ica e, especialmente, a peda$ica.

    (omente na dialética entre a denLncia do que se vive e a constru!ão do que se quer 

    viver é possível arantir o status do ensino da Filosofia como disciplina de pleno direito no

    currículo do ensino médio e superior brasileiro.

    B!/l!"ra$!a

    ?'8'JJC, Ale"andro5 DGQAH, Salter. A F!l"s"$!a " es!" (2#!": caminhos para pensar o seu sentido. Jrad. de Horma 0uimarães Azeredo. >rasília 'ditora da

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  • 8/18/2019 Ensinar e Aprender Filosofia Hoje

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