ensaio-v03

Upload: getulio

Post on 07-Mar-2016

215 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Inovação publica no Brasil

TRANSCRIPT

  • Universidade Federal de Pernambuco

    Departamento de Cincia Poltica

    Mestrado Profissional em Polticas Pblicas

    Disciplina: Gesto Pblicas

    Inovao e Gesto Pblica no Brasil.

    (Ensaio para fins de avaliao da disciplina

    de xxxxx)

    .

    Professora: Michelle Fernandez

    Aluno: Getlio Tito

    Recife, 2015

  • 1

    1. A Gesto Pblica brasileira e suas novas abordagens

    Perfazendo uma breve leitura da histria recente ps-perodo militar, seja em face das

    demandas oriundas do movimento de redemocratizao do pas, seja pelos desafios da nova

    dinmica econmica local e internacional, nota-se que a Gesto Pblica no Brasil submeteu-se

    a um significativo processo de transformao. O anseio pela maior participao dos cidados

    em um novo modelo democrtico impulsionou o fortalecimento de organizaes sociais

    externas esfera estatal, ao passo que o esgotamento do modelo desenvolvimentista lastreado

    pelos altos nveis de interveno do Estado exigiam uma mudana na metodologia de gesto.

    Dentro desses dois aspectos (anseio por instrumentos que consolidassem a participao

    democrtica da sociedade e necessidade de ajustes no nvel de interveno estatal) que surgem

    como vertentes de inovao da Gesto Pblica os modelos de Administrao Pblica Societal

    e Administrao Pblica Gerencial.

    2. A Administrao Pblica Societal

    A Administrao Pblica Societal surge como consequncia da tradio mobilizatria

    brasileira que teve, na dcada de 70, a Igreja Catlica em suas Comunidades Esclesiais de Base

    (CEBs) como importante fomentador do debate poltico em torno das demandas sociais (DE

    PAULA, 2005). Alm das CEBs surgiam os Centros Populares, que posteriormente vieram a

    se tornar organizaes no-governamentais (ONGs). (PAES DE PAULA, 2005). Para Doimo

    (1995) citado por Paes de Paula (2005) consolidava-se ento o campo movimentalista,

    composto pelos movimentos populares e sociais, o movimento sindical, as pastorais sociais, os

    partidos polticos de esquerda e centro-esquerda e as ONGs.

    Alm da reivindicao de demandas relacionadas, por exemplo, melhor prestao de

    servios pblicos, os grupos movimentalistas empreendiam o momento poltico de

    redemocratizao do Brasil, exigindo tambm uma maior participao da sociedade civil na

    gesto pblica. Entendia-se que no bastava exigir do Estado: era preciso inserir os grupos

    sociais como atores ativos do processo. Aes prticas nesse sentido encontraram guarida em

    Governos locais de oposio na dcada de 80 que implementaram em seus projetos polticos

    elementos de fomento participao popular, influenciando inclusive no processo de

    construo da constituio cidad de 1988. (Farah apud Spinelli, 2010).

    A partir dessa concepo de participao popular externa esfera pblica estatal, o

    fenmeno da Administrao Pblica Societal ganha corpo como uma alternativa de modelo

    para o desenvolvimento brasileiro, pautando-se na dimenso sociopoltica e mostrando-se mais

    sensvel s demandas e peculiaridades socioculturais do seu pblico-alvo (PAES DE PAULA,

    2005). Ultrapassa as fronteiras dos governos locais e ganha contornos nacionais quando o

    Partido dos Trabalhadores PT assume a presidncia da repblica em 2003. Contudo, o que se

    observa que apesar da forte influncia ideolgica do PT em capitanear um projeto poltico

  • 2

    alinhado a inovaes com nfase na participao popular, a sustentabilidade das dimenses

    econmico-financeira e institucional-administrativa (e consequente manuteno da governana

    como um todo) fazem com que mudanas nessa linha sejam predominantemente incrementais.

    3. A administrao pblica gerencial

    Com o esgotamento do ciclo de crescimento proporcionado pelo perodo ps-Segunda

    Guerra e advento da crise do Petrleo de 1973, as naes desenvolvidas se viram em uma

    condio de estagnao econmica e crescente inflao, condio que afetou colateralmente

    toda a economia global. O Estado at ento burocrtico, balizado nas solues

    macroeconmicas keynesianas (respaldadas na filosofia do Bem Estar Social), alm de no

    prover satisfatoriamente as demandas do modelo intervencionista, j no conseguia responder

    ao quadro recessivo daquela poca. Como alternativa de soluo, abre-se espao retomada da

    ideologia liberal, sob a expresso adotada por muitos de neoliberalismo.

    Enquanto que o foco das inovaes trazidas pela Administrao Pblica Societal

    reside no incremento da participao popular no processo da gesto pblica, o movimento

    gerencialista prope inovaes estrutura e metodologia de funcionamento do aparelho do

    Estado. Trata-se de uma soluo de gesto que emergiu no Brasil no incio da dcada de 90

    (como reflexo das experincias da Inglaterra com Margareth Thatcher, em 1979, e sobretudo

    do governo norte-americano de Ronald Reagan, em 1980) em face do cenrio de estatismo

    protecionista, indisciplina fiscal gerada pelo populismo, bem como conjuntural crise fiscal que

    incapacitava o Estado de prover adequadamente as demandas sociais (OCONNOR apud

    BRESSER PEREIRA, 1991). Dessa forma, a Administrao Pblica Gerencial concentra-se

    na otimizao das ferramentas de gesto e do desenho institucional em prol de uma maior

    eficincia do Estado. Para tanto, passa a utilizar-se de mtodos e conceitos de gesto j

    amplamente explorados pelo ambiente competitivo das organizaes privadas.

    Buscando implementar essa nova abordagem gerencial, o governo de Fernando

    Henrique Cardoso FHC (1995) encampou em seu primeiro mantado um movimento de

    Reforma do Estado sob a tutela de Bresser Pereira, ento Ministro da Administrao Federal e

    Reforma do Estado MARE. Tal reforma foi conduzida por meio do Plano Diretor de Reforma

    do Aparelho do Estado PDRAE, documento que tinha como principais nortes de ao (1) a

    diminuio do papel do Estado na economia (reforma da desestatizao) para uma maior

    concentrao do mesmo nas funes estatais exclusivas de regulamentao, fiscalizao,

    fomento, segurana e seguridade social (PECI, 2007; MELO 2002), e (2) a busca pela

    flexibilizao da gesto pblica atravs da criao de novas solues institucionais, a exemplo

    dos novos modelos administrativos de Organizao Social (OS), Organizao da Sociedade

    Civil de Interesse Pblico (OSCIP), Agncia Executiva e Agncia Reguladora.

  • 3

    4. Abordagem gerencial x societal

    Os dois modelos de gesto brevemente abordados nesse ensaio demonstram vises

    peculiares da Administrao Pblica. No so modelos excludentes, da mesma forma que no

    podem ser entendidos simplesmente como abordagens complementares, em face do forte

    componente ideolgico que trazem em seus respectivos processos de evoluo (PAES DE

    PAULA, 2005). Podemos inferir que se tratam de solues inovadoras que focalizam

    problemticas diferentes. Enquanto a Administrao Gerencial prima pela eficincia dos

    processos de gesto pblica (centrando-se no aspecto estrutural-funcional da organizao

    Estado) o modelo Societal prioriza a inovao do sistema democrtico (centralizando-se em

    solues voltadas participao popular no processo decisrio da gesto pblica). Sob o ponto

    de vista econmico-financeiro, em face dos escassos recursos pblicos, o pragmatismo em prol

    da eficincia faz com que as solues da abordagem gerencial encontrem maior receptividade

    na Administrao Pblica do que as solues societais.

  • 4

    Referncias

    Fernandez. Michelle. Slides - Gesto Pblica Conceitos e Inovaes Mestrado Profissionalizante em Polticas Pblicas, 2015.

    BRESSER-PEREIRA, L.C. A Reforma do Estado dos Anos 90: lgica e mecanismos de

    controle. Cadernos Mare da Reforma do estado. Braslia. V.1, 1997. Disponvel em:

    http://www.planejamento.gov.br/secretarias/upload/Arquivos/publicacao/seges/PUB_Seges_

    Mare_caderno01.PDF. Acesso em 13 de novembro de 2014.

    . ERA

    A crise da Amrica Latina: consenso de Washington ou crise fiscal? Pesquisa e Planejamento

    Econmico, v.21, n 1, abril, 1991. Disponvel em:

    http://ppe.ipea.gov.br/index.php/ppe/article/viewFile/883/820. Acesso em 13 de novembro de

    2014.

    Paes de Paula, A.P. Administrao Pblica brasileira entre o gerencialismo e a Gesto Social.

    RAE Revista de Administrao de Empresas, vol.55, n. 4, julho-agosto 2015. Disponvel em:

    http://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/artigos/10.1590_S0034-75902005000100005.pdf.

    Acesso em 12 de julho de 2015.

    Zani, F.B. e Spinelli, R. Q. Inovao na Gesto Pblica: Eficincia com Participao? XXXIV

    Encontro da ANPAD. Disponvel em: http://www.anpad.org.br/admin/pdf/apb139.pdf Acesso

    em 12 de julho de 2015.

    MELO, M.A. As agncias regulatrias: gnese, desenho institucional e governana. In: ABRUCIO, F. L.; LOUREIRO, M. R. (Orgs.). O Estado numa era de reformas: os anos

    FHC. Braslia: MP/Seges, 2002. Disponvel em:

    http://www.planejamento.gov.br/secretarias/upload/Arquivos/seges/PMPEF/publicacoes/man

    uais_doc/081016_PUB_ManDoc_estado2.pdf. Acesso em 10 de novembro e 2014.

    PECI, A. Reforma regulatria brasileira dos anos 90 luz do modelo de Kleber

    Nascimento. Rev. adm. contemp. vol.11 no.1 Curitiba Jan./Mar. 2007. Disponvel em:

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s1415-65552007000100002&script=sci_arttext. Acesso

    em: 11 de novembro de 2014.