ensaio- melancolia e sêneca

Upload: thalisson-machado

Post on 27-Feb-2018

223 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca

    1/15

    Fatalismo melanclico

    (John Everett Millais, Ophelia, 1851-52)

    Parte I: O prembulo

    Parece que o cansao de viver acompanhou o homem desde a antiuidade, pelo menos

    no !cidente" !s nomes dessa maneira de lidar como o mundo variaram con#orme as $pocas" %a

    literatura, na arte, na poesia, na #iloso#ia, na relii&o, so'retudo at$ meados do s$culo * ania,

    apatia, taedium vitae, ac+dia, melancolia, neurastenia, mal do s$culo,spleen, a'surdo, nusea etc"

    p.s esse per+odo esse cansao adquiri outra denomina&o, passa ent&o a ser chamado de

    depress&o"

    !s estoicos procuraram tratar o tema de um modo #ilos.#ico" Preavam que os homens

    deveriam aceitar o que decorria inevitavelmente da nature/a e n&o se revoltar" ! s'io deveria

    viver numa esp$cie de 0#ortale/a interior e o'edecer a mima que lhe recomendava suportar e

    se a'ster de participar do mundo" ssim, o s'io deveria controlar as suas representa3es do

    mundo de modo a escapar do so#rimento" !s estoicos de#endiam um ideal de estado chamado

  • 7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca

    2/15

    apatia, estado de insensi'ilidade emocional ou esmaecimento de todos os sentimentos" 4al

    movimento era alcanado atrav$s do alaramento da compreens&o #ilos.#ica" Em ltima anlise,

    um estado em que a alma n&o #ique suscet+vel a como&o, uma indi#erena 0controlada"

    67neca #oi para um dos primeiros na antiuidade a descrever os sintomas desse estado, e

    por ele era chamado detaedium vitae" 67neca esta'eleceu uma distin&o entre 0taedium (t$dio)

    e 0aeritudo (desosto, esotamento, tam'$m no sentido #+sico)" %o ltimo, para 67neca, n&o $

    a mesma coisa que o outro, impossi'ilitando soci-los como sinnimos" ! t$dio seria ent&o $ um

    mal-estar que envolve quest3es eist7ncias, $ mais insidioso, paralisa a decis&o, e n&o sendo t&o

    atitudinal, como no luto ou no #uror, parece desencora9ar qualquer atitude" :ontudo, a virtuosa

    o'ra de 67neca parece nos levar para o lado contrrio da melancolia" Em seus tetos ou em

    rande maioria deles, 67neca tenta eprimir que $ atrav$s da #iloso#ia que $ poss+vel a#astar esse

    cansao de viver"J em ;audelaire, a vis&o de melancolia tam'$m est lida ao ser criativo, que produ/

    arte" Pois $ atrav$s desse desa9uste com as normas vientes de sua $poca $ que se $ capa/ de sair

    de si e perce'er n&o somente a si mesmo mas tam'$m o outro atrav$s da produ&o po$tica" !

    chamado spleen$ a #orma moderna de acedia, o spleen$ a melancolia para a era moderna e

    so'retudo pode ser caracteri/ada pela #iura do poetaflanurque transita em meio a multid&o,

    mas se sente n&o encaiado nela, s&o pertencente 1?), o luto e a melancolia coeistem em cenrios semelhantes" !

    luto $ representado como uma rea&o relativa < perda de alo ou alu$m" J a melancolia $

    sinnimo de depress&o, $ uma triste/a mais pro#unda do que o luto e eralmente tem uma

    dura&o mais prolonado em rela&o ao luto" ! luto, apesar da lia&o direta com o sentimento

    de perda, n&o est necessariamente liada < morte"

    @eralmente o luto $ um estado relacionado < perda, n&o havendo oriem patol.ica"

    Mas $ importante o'servar se essa perda #oi superada dentro de um determinado tempo, via de

  • 7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca

    3/15

    rera, entre um a dois anos" :aso o paciente em luto n&o se9a estimulado de #orma adequada, as

    caracter+sticas do luto podem se aproimar as mani#esta3es da melancolia" AesBnimo, perda de

    interesse pelas atividades cotidianas e mesmo perda de apetite" ! sentimento de auto-

    recrimina&o e culpa ocorre em pessoas que tem a predisposi&o sociocultural a desenvolver tal

    estado" C neste aspecto que Dehl (2>) escreve em seu livro O tempo e o Co, que os sintomas

    psicol.icos est&o necessariamente liados a vida em sociedade e que os sintomas cl+nicos s&o

    rever'era3es do que o su9eito n&o conseue suportar acerca do que lhe $ eiido socialmente"

    %o Futo normal, pela perda de um ente, h a di#iculdade de adotar outro alvo de amor" !casiona

    ent&o, o desvio de realidade" 6omente com o passar do tempo e com o desvio de #oca $ que

    paulatinamente o luto ser superado"

    inda seundo os pensamentos de =reud (1>1?), melancolia $ uma altera&o ps+quica

    relacionada a uma ela'ora&o anormal do luto em que h di#iculdade na rela&o entre o su9eito ea realidade quando ocorre aluma perda"Em aluns casos pode ser averiuada a perda, por$m,

    n&o se sa'e precisamente o que se consumiu" 6a'e-se, por eemplo, quem se perdeu, mas n&o se

    sa'e o que se perdeu nessa pessoa" %o melanc.lico n&o se pode ver eatamente qual o contedo

    da perda" Perder este o'9eto a'soluto sini#ica perder-se de si " ! luto se apresenta como perda da

    auto-estima e pode estar associada a insnia e perda do apetite" 6eundo =reud a li'ido nesse

    caso sem ter direcionamento, deloca-se o eo esta'elecendo uma compara&o com o ente

    perdido" contece a perda de uma parcela da identidade, o a#eto volta-se contra o 0eo oriinal

    do paciente, #a/endo so#rer com este con#lito interno" Eitem casos em que a melancolia

    desdo'ra-se em suic+dio como hostilidade ao mundo eterno"%a melancolia o eo sucum'iria ao

    mesmo e na mania 9 o teria superado, resultando disso um estado de aleria por al+vio, de

    economia de eneria" %&o que a mania se9a resultado rem$dio para a melancolia, mas alo que

    #a/ parte do con9unto estado"

    Por isso a melancolia, no tocante aos motivos, pode ultrapassar

    'astante o luto, que via de rera $ desencadeado somente pela perda real, amorte do o'9eto" Portanto, na melancolia travam-se inmeras 'atalhas em

    torno do o'9eto, nas quais .dio e amor lutam entre si, um para desliar a li'ido do

    o'9eto, o outro, para manter essa posi&o da li'ido contra o ataque" (=reud, 1>1?, p" 1G1,

    1G2)

  • 7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca

    4/15

    %as palavras de =reud, o luto se di#erencia da melancolia, pois a melancolia $ um luto

    sem luto" melancolia aqui $ como um sintoma da vida em sociedade e o que ela (a sociedade)

    intro9eta em cada su9eito" n&o concreti/a&o dos o'9etos tidos normais em uma determinada

    sociedade e automaticamente tidos como desa9ustado"

    J por outro lado e mais recentemente a depress&o, o novo Hmal do s$culoI tam'$m

    poderia ser chamado por muitos de melancolia, 9 que a pr.pria palavra melancolia teve suas

    apropria3es"C da teoria da '+lis nera que se cunha o termo melancolia" Este $ derivado do

    reo melas (nero) e khol ('ile) que corresponde < translitera&o latina melaina-kole"

    ntiamente, predominou a teoria hipocrtica que dividia a humanidade em quatro humores

    (l+quidos corporais)* o melanc.lico ('+lis nera), o col$rico ('+lis amarela), o sanu+neo (sanue)

    e o #leumtico (ua)" melancolia decorreria de um ecesso da '+lis nera circulando pelo

    corpo e causando sentimentos neativos (apatia, triste/a, autopuni&o)" :om o decorre dostempos a melancolia apareceu como taedim vitae, como acedia, comospleene alumas outras

    nomenclaturas" nclusive, no s$culo como depress&o, contudo n&o h consenso so're a

    nomenclatura muito menos com os sintomas atri'u+dos < ela"

    Maria ita Delh (2>) tenta di#erenciar a depress&o de melancolia, num estudo

    temporal so're a depress&o*

    Mas $ importante n&o con#undir depress&o e melancolia" Muito menos imainar que a

    di#erena entre uma e outra se9a de rau, sendo a melancolia uma #orma mais rave de

    depress&o" pesar das diversas coincid7ncias sintomticas, a depress&o $ muito

    di#erente da melancolia" desesperana no melanc.lico, por eemplo, tem a ver com o

    #ato de o !utro, em sua primeira vers&o imainria (materna), n&o ter con#erido ao

    rec$m-nascido um luar em seu dese9o" ! melanc.lico #icou preso em um tempo morto,

    um tempo em que o !utro deveria ter comparecido, mas n&o compareceu" J o tempo

    morto do depressivo #unciona como re#io contra a ur7ncia das demandas de o/o do

    !utro" Em seu re#io, o depressivo tenta se poupar do imperativo de satis#a/er o !utroK

    no entanto, quanto mais ele se esconde, mais #ica < merc7 Aele" (Dehl, 2>, p" 2, 21)

    Dehl tam'$m chama a aten&o para o que ela chama de sintoma social" Em seu livro ela

    de#ende que as depress3es, desde a dade M$dia ocupavam um papel de sinali/ador do Hmal

    estarI da sociedade" t$ a modernidade o luar do melanc.lico era de um su9eito ecepcional,

    ec7ntrico" Mas com a Psicanlise e a apropria&o #eita por =reud, o melanc.lico passa a ter um

  • 7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca

    5/15

    outro luar dentro da sociedade" Ele $ tido como o su9eito que silenciosamente rui as sustenta3es

    dos 'em-resolvidos na vida moderna" Dehl ainda re#ora, 0depress&o $ sintoma social porque

    des#a/, lenta e silenciosamente, a teia de sentidos e de crenas que sustenta e ordena a vida social

    desta primeira d$cada do s$culo "(DELF, 2>, p22)

    Por outro lado h aqui aqui um em'ate entre a teoria tecida por =reud e as considera3es

    esta'elecidas por Dehl so're as perspectivas de =reud so're a melancolia e sua posi&o

    arumentativa a n.s contemporBnea" 6e =reud $ uma esp$cie de divisor de uas nos estudos da

    melancolia $ porque ele tra/ para dentro da #am+lia a culpa das mani#esta3es melanc.licas em

    determinados su9eitos" melancolia pr$-#reudiana era encarada com uma esp$cie de dualidade -

    9usti#icando os momentos de pro#unda triste/a em que supostamente o su9eito, em seu del+rio,

    conseuisse interpretar o mal-estar social daquele momento, transpondo-se de si pra o !utro"

    Ent&o o su9eito era tratado como melanc.lico-criativo" J que suas anstias eram, de aluma#orma, tradu/idas atrav$s de composi3es po$ticas"

    Em =reud, essa concep&o de melanc.lico liada a produ&o art+stica $ deiada um

    pouco de lado na inser&o por eemplo do compleo de Cdipo na constru&o, ou melhor, no que

    se poderia chamar de prot.tipo de melancolia" semente estaria liada < #am+lia e n&o

    necessariamente seria um sintoma social" :omo #ica mais claro nesta cita&o"

    (""") as condi3es da melancolia para a psicanlise, de acordo com a desina&o

    #reudiana" o romper com o paradima psiquitrico da psicose man+aco-depressiva e

    tra/er o sini#icante melancolia para o campo da vida #ami- liar, via compleo de Cdipo,

    =reud nos #ora a a'andonar esse sini#icante como indicativo do sintoma social" !s

    +ndices alarmantes divulados pela !M6 indi- cam que $ poss+vel que a melancolia

    tenha sido su'stitu+da pela depress&o como o nome mais adequado < epress&o

    contemporBnea do mal-estar, herdeira do que teria sido a melancolia pr$-#reudiana"

    (DELF, 2>, p" 82)

    E complementa"

    %&o eiste su'stitui&o que nos poupe da perda" o trocar a denomina&o do

    0melanc.lico pela do 0depressivo para manter a linha anal+tica que articu- lava a

    antia melancolia ao sintoma social, parte do 'rilho e do valor atri'u+do pela tradi&o

    ocidental a essa #orma de mal-estar teve de ser deiada para trs" !s queiosos, os

    autotorturados caracter+sticos da melancolia #reudiana, tam'$m n&o #a/em por merecer

  • 7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca

    6/15

    essa herana" C preciso admitir que a aura romBntica, tanto re#leiva quanto criativa,

    (mal-)equili'rada na tensa #ronteira entre o 7nio e a loucura N a aura dos antios

    melanc.licos N, perdeu-se" 0Pode-se di/er que um trao caracter+stico do 7nio po$tico $

    sa'er muito mais do que ele sa'e, escreveu 6chleel" (DELF, 2>, p")

    C nesse sentido que #ala Dehl que h um deslocamento no sentido entendido no que era

    ser melanc.lico antes e depois o sini#icado que $ atri'u+do ap.s as considera3es de =reud" Ela

    a#irma que atualmente os depressivos que procuram cl+nicas psicanal+sticas est&o lone de se

    parecerem com os 7nios po$ticos de outrora" Em'ora, pudessem s7-lo, n&o lhes passa a ca'ea

    que tal #ato poderia estar liado a outro simplesmente por mudanas te.ricas"

    Parte III: O filme e teorias

    Meu o'9etivo aqui neste ensaio, al$m de #a/er um percurso so're a melancolia, tam'$m

    $ de apontar 67neca como sinali/ador do Hmal estarI social antes mesmo inclusive dos

    representantes na dade M$dia como apontou anteriormente aqui a Psicanalista Maria Dehl"

    inten&o $ de propor de que #orma alumas passaens dos tetos latinos de 67neca est&o liados

    ao #ilme Melancolia, de Fars von 4rier e ao tema melancolia, evidentemente"

    Dados tcnicos:

    4+tulo* Melancolia4+tulo oriinal* Melancholia

    Elenco* Dirsten Aunst, :harlotte @ains'our, leander 6Oarsrd

    Pa+s* =rana, Ainamarca, 6u$cia, lemanha

    no* 211

    Aura&o* 12> minutos

    Aire&o* Fars von 4rier

    Sinopse:

    ! #ilme-catstro#e narra o #im do mundo em duas partes, ao som de ichard Qaner" %a

    primeira, acompanhamos o casamento de Justine (Dirsten Aunst), orani/ado com /elo por sua

    irm&, :laire (:harlotte @ains'our)" %a seunda, am'ientada nas semanas que sucedem a #esta,

  • 7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca

    7/15

    9 $ poss+vel notar no c$u a aproima&o do planeta Melancolia, que passou s$culos RescondidoR

    atrs do 6ol e aora se aproima ameaadoramente da 4erra"

    (Melancolia, "15"?min)

    %a primeira parte, h um cenrio que lem'raria =esta de =am+lia, com sua lavaem

    coletiva de roupa su9a, mas a encena&o do dinamarqu7s est mais pr.ima do humor nero e da

    cria&ofakede situa3es de ! @rande :he#e" ! cinismo #ica pontuado nos diloos - 9 sa'e-se

    da catstro#e iminente, e o teto n&o deia perder a escala" Mas o tom de #arsa do encontro deJustine com seus convidados tira dessas situa3es sua ravidade" Justine, nessa primeira parte do

    #ilme parece ser alu$m 9 n&o est em consonBncia com o resto dos convidados e parentes"

    ! atraso devido a uma Fimusine que era rande de mais para passar por um caminho a

    uma propriedade no interior cansa o espectador e d a entender que tanto o horrio de atraso

    quanto o pr.prio casamento parecem n&o ser importantes" Justi#icando isso, o casal cheando

    muito atrasado para a recep&o, Justine pre#ere ainda rever um cavalo no haras do que ir

    cumprimentar seus convidados"

    !utro ponto que $ impostante ressaltar nesse primeiro ato $ o esmaecimento da

    personaem Justine durante o 9antar de casamento" 4odos parecem estar preocupados com ela,

    em como ela esta lidando com o casamento ect, eceto sua m&e que parece incorporar uma

    entidade realista-cruel" %em mesmo os arados do rec$m esposo #a/ com que Justine consia

  • 7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca

    8/15

    desprender-se das amarras que parecem su#oc-la" :omo #ica melhor visuali/ado nesta frame

    retirada nos primeiros minutos do lona"

    (Melancolia, "5">min")

    L em Justine, pelo menos no in+cio de lona, uma certa tentativa de escapar das

    condi3es que a levam a #icar deprimida" Em'ora, parea que ela n&o sa'e muito 'em o que lhe

    deia t&o cansada de viver" Pois o casamento era para ser uma das mais #eli/es passaens de

    alu$m, sini#icaria estar com alu$m que se ama" l$m disso, Justine $ uma pu'licitria

    renomada, tra'alha em uma empresa cu9o se patr&o a admira a ponto de lhe o#erecer uma

    promo&o em pleno casamento" Em tese, era para tudo estar 'em, mas n&o est"

    Penso que uma das condi3es mais sini#icativas do #atalismo 'en9aminiano, que

    tam'$m poderemos chamar de con#ormismo, na sociedade contemporBnea N e que

    atinem #ortemente adolescentes e 9ovens N, tenha sua oriem na sedu&o eercida pelas

    #orma3es imainrias predominantes no estio atual do capitalis- mo" 4ais condi3es

    da vida social n&o s&o alheias ao su9eito da psicanlise, tomado a partir da sinularidade

    de sua posi&o nas estruturas cl+nicas" (DELF, 2>, p" >)

    C so' tal conteto que Justine, a persona principal do lona parece estar inserida e

    lentamente comea a mostrar-se en#adada ou cansada de todo o teatro criado no dia de seu

    casamento"

  • 7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca

    9/15

    cr+tica que entendo que $ tecida pelo diretor dinamaqu7s $ cruel" Ele aponta elementos

    que na sociedade ocidental $ tido com essencial" %a #esta, ele apresenta&o a con#iura&o

    #am+lia totalmente #ramentada, a ponto de estar destru+da, ou se9a, Justine em seu momento

    melanc.lico n&o tem a quem recorrer" %em seu pai que parece no #ilme como uma esp$cie de

    'o'o da corte, mas $ entil com a #ilha, tenta entend7-la, mas n&o hora que ela, de #ato, o

    procura, ele 9 havia ido em'ora" Por outro lado, sua m&e $ dura, parece n&o se importar com os

    sentimentos da #ilha, em'ora reconhea-os" Ela (a m&e) parece alu$m que quer epor para a

    #ilha que n&o adianta casamento que em ltima instBncia, n&o adianta nada" Sue tudo 9 est

    perdido" Ela $ amarurada e parece estar resinada a respeito do seu destino"

    pu'licidade tam'$m $ outro #ator criticado pelo diretor, ao meu ver, pois Justine

    demiti-se do caro que aca'ara de rece'er" 4udo acontece num diloo repleto de cara neativa,

    como se a pu'licidade tam'$m #osse mais um ponto que pesasse o #ardo que tanto temdi#iculdade de suportar" pu'licidade a meu ver $ o rande motor da vida na sociedade de

    consumo" Aita reras e cria conceitos como 9 #e/ as institui3es reliiosas em outras $pocas"

    Esse campo miditico que cria a sociedade de consumo tam'$m $ responsvel por mant7-la, em

    at$ certo ponto, depressiva" Lo9e o su9eito s. $ alu$m respeito mediante , p" 8G)

  • 7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca

    10/15

    Aesse modo, o #atalismo pode tam'$m estar liado ao modus vivendi capitalista, cu9a

    op3es de #ua parecem cada ve/ mais escassas" E al$m do mais o modo capitalista da sociedade

    industrial avanada se tornou uma relii&o mais a'ranente do que o pr.prio cristianismo no

    ocidente" 4ornando-se em certa medida a mais opressora das relii3es, lem'rando o teto de

    Qalter ;en9amin no livro O capitalismo como religio onde o capitalismo responderia

  • 7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca

    11/15

    #orma, tentar linc-lo com meu vi$s de pensamento so're a melancolia e dar conta do #ilme

    tam'$m"

    suspeita, no retorno 85, p" G>)

    67neca tenta consolar o inconsolvel e n&o convence a si mesmo com suas palavras"

    Parece entristecido, mas con#ormado com a dor que $ viver" l$m do mais, ele parece 9 n&o

  • 7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca

    12/15

    acreditar mais no que antiamente escreveu so're ter coraem e intervir na vida p'lica,

    so'retudo, porque tudo o que #e/ n&o mudou o #ato de que %ero era um tirano e que oma estava

    a merc7 de alu$m que n&o tinha escrpulos e que ele e toda a oma estavam caminham para a

    ru+na" sso 9usti#ica sua posi&o de retirada da vida p'lica e no caso dele at$ da vida em

    sociedade como #oi o caso do seu e+lio"

    (Melancolia, "WW"WXmin)

    C dessa mesma #orma que ve9o Justine, alu$m que conseue ver atrav$s do v$u ilus.rio

    como 67neca, mas que talve/, di#erente dele, at$ pelo #ato dos est+mulos ho9e serem muitos

    di#erentes dos est+mulos da $poca de 67neca e muito mais intensos, ela se deia a'ater" %&o v7

    mais sa+da para ela a para os outros" Essa desist7ncia da vida, em ltima instBncia acarreta

    sintomas #+sicos at$ mesmo de paralisia corporal e perda de qualquer sentido na intera&o e

    crena no #im de tudo"

    ! depressivo $ aquele que se retira da #esta para a qual $ insistentemente convidadoK

    sua produ&o imainria empo'recida n&o sustenta as #antasias que deveriam promover

    a crena na com'ina&o aparentemente in#al+vel entre o espetculo e o capital15W" !s

    depressivos, cu9o nmero parece aumentar na propor&o direta dos imperativos de

  • 7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca

    13/15

    #elicidade, s&o incmodos na medida em que questionam esse pro9eto" Aa+ seu

    parentesco com os melanc.licos pr$-modernos, que so#riam por ter ca+do do (suposto)

    luar de onde pretendiam atender < demanda do !utro" (DELF, 2>, p" 1G)

    ! diretor parece #a/er uma anlise 'astante pessimista no que se re#ere a transposi&o daimaem da protaonista, Dristin Aust, para a vida real" 6ua apropria&o anloa vai ao encontro

    do #uturo desta sociedade industrial avanada" cr+tica a dissolu&o da #am+lia $ uma das

    evid7ncias que para ele essa sociedade est #adada ao #racasso e isso pode acontecer como aponta

    ele com uma desist7ncia da vida"

    Em'ora encontra-se contradi3es no #ilme a #im de mostrar a #ace daqueles que n&o

    perce'em o que est acontecendo ao seu redor" Mas serve muito mais como modo de a#irma&o

    de que de, de #ato, n&o h mais 9eito, no sentido de salva&o" Pois :laire, irm& de Justine nutri um

    amor ou uma ami/ade muito rande pela irm&, tenta n&o se eiar a'ater pela situa&o da irm& e

    pelo imin7ncia do planeta Melancolia em rota de choque com a 4erra" Ela, alicerada pelo

    marido, tenta air com pela ra/&o e n&o deiar o caminho da o'scuridade tom-la"

    aceita&o #orada do #im de :laire $ 'em di#erente da resina&o encontrada em

    Justine que no meio do #ilme se mostra totalmente entre a melancolia, mas que com a maior

    proimidade do planeta que ir colidir com a 4erra, Justine tem um ltimo #leo possivelmente

    impulsionada pelo est+mo de t$rmino do so#rimento, como o #im de tudo" Ela aceita a parece estar

    em pa/ com esse #im"Aa mesma #orma, pensando 67neca nesta cena de melancolia, acho que ele muda a

    chave de seus escritos para tentar desarticular esse sintoma social sentido desde o aue do

    mp$rio omano" Evidentemente, o tecnicismo eacer'ado dos tempos atual $ 'em di#erente das

    condu3es de vida romana da $poca, contudo devo salienter que independente da $poca, me

    parece haver sempre alo que impulsiona, ou melhor, pressiona o indiv+duo socialmente a ponto

    dele n&o suportar tais ei7ncias" ! dese9o n&o cessa nunca e esse va/io interno desem'oca em

    sintomas como melancolia" sso acontece quando se perce'e que tais metas s&o inalcanveis eou s&o o oriem controladora ent&o perdem sua validade e tais caracter+sticas 9 n&o querem ser

    conquistadas" conquista de metas imprime um preo alto demais cu9o indiv+duo n&o est

    disposto a paar"

  • 7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca

    14/15

    (Melancolia, 2"W"2Gmin)

    eferncias:

    M!"#$%O"I#" Aire&o de Fars von 4rier" Ainamarca* Fars von 4rier, 211" 6on", color"

    Feendado"

    DELF, Maria ita" O tempo e o %&o" 6&o Paulo* ;oitempo, 2>" 2> p"

  • 7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca

    15/15

    67%E:, nnus" 6o're a 'revidade da vida" n* 67%E:, nnus" %ompila'&o de te(tos de

    Sneca) 6&o Paulo* ;oitempo, 1>>?" p" 1-15" Aispon+vel em*

    Yhttp*ZZpensamentosnomadas"#iles"[ordpress"comZ21GZ1ZW-so're-a-'revidade-da-vida-

    lendo"pd#\" cesso em* 1G 9ul" 121G"

    67%E:, nnus" A 4%S]FAAE A FM" n* ^4!E6, Urios" Os pensadores)

    6&o Paulo* 'ril :ultural, 1>85" p" G1-GG"

    ;E%JM%, QalterK F_Q , Michael (!r")" O capitalismo como reli*i&o) 6&o Paulo*

    ;oitempo, 21W"

    =E^A, 6imundK DELF, Maria itaK :!%E, Modesto" "uto e melancolia) 6&o Paulo*

    :osacnai#, 212"