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enlinh@ Revista Digital da Escola Secundária com 3º Ciclo do Ensino Básico de Adolfo Portela NÃO TENHO JEITO PARA LÍNGUAS… Assim se conformam os alunos VISITA DE ESTUDO A LISBOA - Centro Cultural de Belém ARGUMENTAR... AD HOMINEM – Ensaio sobre o “ataque ao homem” RACIONALIDADE, LIBERDADE E VERDADE Só a discussão racional e livre conduz à verdade Pelo Sonho é que vamos, comovidos e mudos. Chegamos? Não chegamos? Haja ou não haja frutos, pelo sonho é que vamos. Basta a fé no que temos, Basta a esperança naquilo que talvez não teremos. Basta que a alma demos, com a mesma alegria, ao que desconhecemos e do que é do dia-a-dia. Chegamos? Não chegamos? - Partimos. Vamos. Somos. (Sebastião da Gama)

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Enlinha 7 Dezembro/2012

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enlinh@

Revista Digital da Escola Secundária com 3º Ciclo do Ensino Básico

de Adolfo Portela

NÃO TENHO JEITO PARA LÍNGUAS… Assim se

conformam os alunos

VISITA DE ESTUDO A LISBOA - Centro

Cultural de Belém

ARGUMENTAR... AD HOMINEM – Ensaio sobre

o “ataque ao homem”

RACIONALIDADE, LIBERDADE E VERDADE Só a discussão racional e livre conduz à verdade

Pelo Sonho é que vamos, comovidos e mudos.

Chegamos? Não chegamos? Haja ou não haja frutos,

pelo sonho é que vamos. Basta a fé no que temos,

Basta a esperança naquilo que talvez não teremos.

Basta que a alma demos, com a mesma alegria,

ao que desconhecemos e do que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos? - Partimos. Vamos. Somos.

(Sebastião da Gama)

“Antigamente, pois, as pessoas eram menos súbitas … e porque eram a noite e o dia, e tinham dentro de si uma

longa tarde, lentas se davam, lentas sorriam, e lentas (uma a uma) entardeciam.” (Pedro Alvim)

Torna-se cada vez mais claro que o padrão e as comodidades da vida moderna se alcançaram com elevados custos sociais, ambientais e pessoais. Entre muitos, salienta-se a aceleração intensa, definida pela pressa, pelo sucesso, pelos “objetivos”, pela competição. Essa aceleração, apesar de determinada pelo ritmo do mundo exterior, tem, naturalmente, um impacto profundo no ritmo do mundo interior - na nossa forma de pensar, de sentir e de agir. Sem tempo para tudo o que temos de fazer, instala-se, progressivamente, a inquietude, o alvoroço, o stress, a depressão. Cada vez com menos tempo próprio, passamos ao de leve pelas coisas, sem aprofundamento possível, sem realmente as entender. A cultura vigente diz-nos que mais rápido é melhor, mas a velocidade a que as sociedades evoluem é superior àquela a que conseguimos operar a mudança interior e adaptar-nos. Cada vez mais abdicamos do tempo de contemplação de que precisamos para nos sentirmos confiantes, para fazermos opções mais corretas, para educarmos melhor os nossos filhos… Mas como desacelerar e ganhar qualidade de vida? Na prática, não é fácil nem talvez possível contrariar o ritmo e as tendências externas. Em certos casos, esse ritmo é inevitável ou até necessário. Noutros casos, podemos mesmo desejar a aceleração e a falta de tempo, na medida em que nos desobrigam de responder a perguntas difíceis, como “Sinto-me bem?”, “Satisfazem-me as minhas opções de vida?”, “Os meus filhos estão a ser educados adequadamente?”, “Os políticos estão a representar-me de maneira correta?”.

Seja como for, se nos incomoda a direção em que estamos a caminhar, é prudente reconsiderarmos o percurso. Na impossibilidade de mudar o mundo, podemos repensar a forma como somos nesse mundo. Uma solução é desacelerar o ritmo pessoal para um padrão mais próximo do ritmo da natureza. Sem isso, continuaremos como o coelho da Alice no País da Maravilhas: sempre com pressa e sempre atrasados. Precisamos de fazer as coisas com mais serenidade, de viver o momento presente, de estar atentos aos detalhes, de ter consciência de cada coisa. E isto não significa preguiça nem viver a passo de caracol; significa viver melhor no frenético mundo moderno, eliminar o supérfluo, redefinir prioridades, encontrando um equilíbrio entre o rápido e o lento. Significa fazer as coisas o melhor possível, ao contrário de o mais rapidamente possível, a qualidade sobrepondo-se à quantidade em tudo, desde o trabalho, à alimentação, à educação dos filhos. Aproveitemos, assim, esta pausa natalícia para desacelerar, para conversar longamente, para apreciar os sabores e os aromas, para escutar o crepitar indolente da lareira, para rir dos inevitáveis imprevistos, em suma… para Amar. Bom Ano Novo!

Professora Luísa Alcântara

ÍNDICE 03 04 05 06 07 10 12 14 15 16 17 18 21 22 23 25

Sem humildade não há aprendizagem As pessoas sentam-se e conversam ESAP – Secundário Superior A ESAP em dia com os Direitos Humanos Visita de Estudo a Lisboa - CCB Não tenho jeito para línguas A invenção do tempo 12 homens numa… caixa 12 homens em fúria O menino de 10 anos que morreu aos 100 O argumento clássico do desígnio Argumentar… ad hominem Racionalidade, liberdade e verdade Os sonhos Receitas Memor(i)áveis Natal

FICHA TÉCNICA Edição: 7 Data de publicação: dezembro 2012 Coordenadores: Alda Rita, Luísa Alcântara Publicação da Escola ES/3 de Adolfo Portela Rua Joaquim Valente de Almeida 3750-154 ÁGUEDA / Tel. 234.623.808

Todas as formas de colaboração dos leitores (alunos, encarregados de educação, professores, funcionários)

devem ser enviadas para: [email protected]

PRAZO DE RECEÇÃO DE MATERIAIS PARA A PRÓXIMA EDIÇÃO: FEVEREIRO 2013

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Editorial

SEM HUMILDADE NÃO HÁ APRENDIZAGEM “Muitos teriam sido sábios se não tivessem acreditado

demasiado cedo que já o eram.” (Séneca)

Achamos (talvez todos) que somos entendidos, que dominamos esta ou aquela matéria. Porque estudamos, porque em tempos nos ensinaram, porque já vimos e ouvimos… já sabemos. Mesmo que tudo esteja em mudança permanente…

Mas não podemos ou devemos saborear o que sabemos, o que aprendemos, o que sentimos que fazemos bem? Claro que sim… mas convém colocar aqui um ingrediente: a humildade.

O ingrediente que não nos retira o sabor do que já foi alcançado, mas que nos mantém recetivos, que nos faz querer ouvir os outros, partilhar e questionar o que fazemos, sem medo.

O ingrediente que nos faz questionar o nosso papel nos resultados insatisfatórios. O ingrediente que nos leva a não esperar um resultado diferente se fizermos sempre o mesmo (se semearmos milho não iremos colher feijões).

O Diretor

Escola

03

AS PESSOAS SENTAM-SE E CONVERSAM Professora Paula Bastos

Alguém dizia, no outro dia, que «as pessoas sentam-se e conversam». Sim, creio que é isso que faz de nós pessoas: sermos capazes de oferecer as melhores razões para que os outros aceitem as nossas opiniões, entendam as nossas decisões, compreendam as nossas opções. Sermos, simultaneamente, capazes de exigir as melhores razões para aceitar as opiniões dos outros, aceitar as suas decisões, compreender as suas opções. Creio, ainda, que estaremos todos de acordo quanto a isto. Pelo menos no plano dos princípios… Já a prática, a ação, desmente muitas vezes o que afirmamos mais ou menos convictamente, mais ou menos genuinamente.

Por isso (não só por isso, mas também e sobretudo por isso) a prática da discussão, da disputa subordinada a princípios éticos, é fundamental na educação. Se queremos ajudar a formar pessoas, teremos de ser capazes de as ensinar a dia-logar, a preferir conquistar consciências em vez de impor ideias, a persuadir sem manipular. Teremos de lhes mostrar o valor e importância do esforço argumentativo, reconhecendo o outro como sujeito racional e livre, isto é, dotado de inteligência capaz de escrutinar as razões expostas e de vontade soberana que lhes permitirá sempre, no final, discordar de nós.

São estes os pressupostos do concurso de debate Dia-Lógico que, na sua 2ª edição, conta com a participação de vinte equipas, contra as seis do ano passado, algumas das quais repetentes. O auditório do pavilhão B tem recebido muitos alunos que, nas tardes livres de aulas de quarta e sexta-feira, escolhem debater, disputar, discutir ideias ou assistir a tal disputa. Nas várias eliminatórias tem sido possível ver jovens adolescentes a esgrimir argumentos na defesa de posições que não escolheram, a propósito de temas que também não escolheram. E isso,

que a um olhar menos atento ou cuidadoso pode parecer falta de convicção ou mero espírito de competição é, na verdade, o contrário: revela a disponibilidade para assumir o lugar do outro, o seu ponto de vista, a sua perspetiva, de forma a melhor o compreender. Aquilo que poderia parecer – a um olhar descuidado, precipitado – mero exercício formal e técnico, retórica vazia é, afinal, o contrário disso. É disponibilidade para suspender as crenças pessoais, para investigar os fundamentos daquelas crenças que não só não são as próprias como, por vezes, vão contra as convicções pessoais.

O resultado só pode ser positivo: ou essas crenças pessoais saem reforçadas porque mais bem fundamentadas ou são revistas porque não sobreviveram ao duro exame do questionamento crítico.

Sendo uma competição, o Dia-Lógico é um exercício de cidadania e de humanidade. O desafio é «sentar e conversar», mas sempre de boa-fé, com bondade, isto é, de forma ética. Tudo é discutível, mas não de qualquer modo ou a qualquer preço. É difícil traçar este limite, esta fronteira, entre a argumentação ética e a retórica manipuladora. Mas mais difícil ainda é, traçado esse limite, obedecer-lhe. Seria tentador dizer que essa dificuldade é acrescida quando se trata de jovens adolescentes participantes num concurso onde, inevitavelmente, uma equipa ganhará e outra perderá. Seria tentador, mas também seria injusto. Já vi o contrário disso: já vi equipas a escolher não a argumentação mais eficaz, mas a mais justa; já vi equipas a não ceder à

vontade de ganhar, subordinando-se ao imperativo que ordena a bondade

na disputa. Já vi jovens adolescentes a levar tão a

sério este exercício dialógico subordinado a princípios éticos que, no momento de responder aos

adversários, escolheram ser justos em vez de vencedores. Escolheram colocar a inteligência ao serviço da bondade e não da vontade de ganhar. Só por isso já valeu a pena. Também por isso lhes agradeço.

Testemunho

04

ESAP - Secundário Superior Leonor Martins, 11ºC

No ano passado inscrevi-me em cursos extracurriculares, patrocinados pela escola, mas que funcionaram fora da instituição; este ano estava ansiosa por repetir a experiência. A iniciativa Secundário Superior não só proporcionava essa oportunidade como também permitia que, em articulação com o meu horário escolar, pudesse participar em diversos cursos, das mais variadas áreas, sem que tal sobrecarregasse o meu tempo de estudo ou me privasse do meu tempo livre.

Desde o primeiro momento em que me foi mencionada esta iniciativa fiquei curiosa. Procurei informar-me acerca das oportunidades oferecidas, ficando cativada não apenas por um mas por diversos cursos. A variedade de propostas tornou difícil priorizar o que mais me interessava. Felizmente, dado o calendário, poderei frequentar a maioria dos cursos que despertaram a minha atenção.

O Secundário Superior é, na minha opinião, a minha última oportunidade de aprofundar conhecimentos sobre áreas que me interessam mas que ou não pretendo seguir profissionalmente, ou não me serão proporcionadas ao longo do meu percurso escolar com este detalhe e aprofundamento.

Os cursos mais práticos são também uma forma de realizar, de fazer eu própria, constituindo um leque de novas experiências que não chegam a ser mencionadas no currículo escolar.

Pretendo seguir um curso universitário que, sei de antemão, não me deixará tempo para iniciativas deste género, com a agravante de a oferta neste campo ser na maioria das vezes escassa e honorária.

Na atual conjuntura, temos uma noção gritante do futuro que nos espera e sabemos que, para manter a mais vaga esperança de viver nas condições que desejamos, é necessário, sem qualquer dúvida, optar pela

excelência, não só em termos académicos mas também pessoais. O futuro desejável exige a excelência de caráter e ao nível dos conhecimentos e o Secundário Superior parece responder a essa exigência,

permitindo-nos aperfeiçoar as qualidades que já possuímos.

É importante referir que, contrariamente a uma opinião generalizada, estes cursos não são apenas ocupação de tempos livres. Permitem, para além do impacto extremamente

positivo no nosso futuro (para uma maioria de caráter universitário), uma aplicação imediata nas diversas disciplinas dos cursos que frequentamos; permitem adquirir e

desenvolver novas capacidades e técnicas, proporcionando um mais alargado e aprofundado conhecimento sobre matérias que farão parte do nosso currículo

escolar.

Em suma, penso ser de louvar esta iniciativa da Escola, por permitir a alunos, como eu, dedicarem-se

a interesses que não saberiam como explorar, nem teriam os

meios para isso, se não nos fosse dada esta

oportunidade.

05

A ESAP EM DIA COM OS DIREITOS HUMANOS Professor Vítor João Oliveira

Em Dia dos Direitos Humanos, o Grupo de Filosofia decidiu celebrar o humano evocando a vida. Pasme-se: em vez de revisitar a história e a sociologia dos direitos humanos, de analisar a filosofia dos direitos civis, políticos, económicos e sociais, das minorias e das gentes, de discutir a relatividade ou objetividade dos direitos humanos, o dia 10 de dezembro serviu para parar e… pensar outra vez! Sobre o quê? Sobre o valor da vida em tempos de banalização do ato de matar.

É claro que em tempos sombrios, como aqueles em que vivemos, os desatentos

acharão este gesto inusitado. É claro que em tempos sombrios, como aqueles em

que vivemos, os desatentos acharão este gesto desinteressante e

inútil. Não sabem que em tempos sombrios parar para

pensar, para pensar a sério, é ainda mais

urgente porque mais vital. Nessa altura, «o quê» e o «porquê» tomam conta do

tempo e do espaço e mostram como é estúpido não perceber

que a metafísica se liga à ética e que a ética se liga a nós, a cada um de

nós, especialmente nas margens da vida.

No dia 10 de dezembro, para nos ajudar a navegar à vista,

recebemos o lente Roque Cabral, sj, professor jubilado da Universidade

Católica Portuguesa, que, do alto de uma sageza de quase um século, também

mostrou saber ouvir cantar e dizer. Bem haja[m]!

06

VISITA DE ESTUDO A LISBOA - C E N T R O C U L T U R A L D E B E L É M Professoras de História A da ESAP

No passado dia 19 de outubro, bem cedo, partiu rumo a Lisboa um grupo de alunos das turmas dos 10º e 12º anos do Curso Científico-Humanístico de Línguas e Humanidades da nossa Escola. A acompanhar o grupo

foram as professoras de História A, Língua Portuguesa e Educação Moral e Religiosa. Na mente e num guião escrito, levavam o programa, para aquele dia, antecipadamente arquitetado pelas professoras de História A, que pretendiam proporcionar aos seus alunos situações de enriquecimento cognitivo em contextos de aprendizagem diferentes e alargar os seus horizontes culturais. O destino era, concretamente, o CCB - Museu Coleção Berardo, Museu Nacional de Arte Antiga e Museu

da Presidência da República.

Os objetivos estavam traçados: consolidar conhecimentos adquiridos, relembrar e aprofundar conteúdos já lecionados em anos anteriores e, essencialmente, aprender num contexto mais real e motivador, desbravando, assim, caminho para novas aprendizagens.

MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA

No Museu Nacional de Arte Antiga, a curiosidade e o espírito aberto estiveram presentes e visíveis nos olhares atentos e questões colocadas pelos alunos do 10º ano ao longo da explicação e interpretação das obras mais emblemáticas do museu, relacionadas com a temática dos Descobrimentos, que será alvo de abordagem nas aulas este ano letivo.

Em frente à Custódia de Belém (Fig.1), da autoria do ourives Gil Vicente, os olhares cintilaram de espanto devido à quantidade de ouro e diamantes nela contidos.

Com efeito, D. Manuel I mandou lavrar esta custódia que ofereceu ao Mosteiro de Santa Maria de Belém (Jerónimos) com o ouro do tributo pago por Quíloa (costa oriental de África) que Vasco da Gama trouxe para Lisboa, no regresso da segunda viagem à Índia, em 1503.

Perante os seis Painéis do Retábulo de São Vicente (Fig.2), atribuído a Nuno Gonçalves, pintor do rei D. Afonso V, um dos mais notáveis retratos coletivos da pintura europeia do séc. XV,

Fig.1

Fig.2

07

os alunos ouviram a explicação da Técnica Superior do Museu. Esta obra é uma fonte inesgotável de leituras e interpretações e um segmento considerável da recente historiografia, centrando-se a representação na Veneração a São Vicente no contexto das campanhas da Dinastia de Avis contra os mouros, em Marrocos. Os alunos reconheceram os grupos sociais nela estampados - nobres e cavaleiros, frades, clérigos e pescadores; distinguiram trajes e tecidos; identificaram a armaria, as jóias e as relíquias.

Em frente aos Biombos de Namban (Fig.3), uma pintura atribuída ao pintor Kano Domi, que retrata, de forma

detalhada, aspetos do marcante relacionamento estabelecido durante cerca de um século entre Portugal e o Japão, dando especial destaque à ação proeminente dos Jesuítas, os alunos partiram para a interpretação das várias cenas neles contidos. O pormenor que mais alimentou a sua curiosidade foi a forma como os Japoneses retratavam os portugueses, com narizes avantajados e como homens que nada abonavam em favor da beleza.

MUSEU BERARDO

Na visita de estudo ao Museu Berardo, no Centro Cultural de Belém, os alunos do 12º ano puderam apreciar algumas das obras plásticas que fazem parte desta coleção - as vanguardas artísticas (Fauvismo, Surrealismo, Cubismo, Abstracionismo) e ainda Arte

Pop, o Hiper-realismo, a Arte Minimalista e a Arte Concetual, entre outras.

A visita foi conduzida por um guia que explicou pormenorizadamente algumas das obras de artistas europeus e americanos, tais como, Max Ernst, Salvador Dali, Andy Warhol e tantos outros.

Contudo houve obras que mereceram uma maior atenção, a saber: “Perfeita Harmonia” (Fig.4), de Piet Mondrian, e “White aphrodisiac telefone” (Fig.5), uma escultura de Salvador Dali, no âmbito do surrealismo.

Mas o ponto alto da visita a este museu revelou-se com o

visionamento/explicação da obra de Pablo Picasso, intitulada “Femme dans un Fauteuil (Metamorphose)” – 1929 (Fig.6).

Esta pintura cubista re-presenta a metamorfose do rosto de uma mulher que, segundo consta, foi criado num momento em que a própria vida sentimental do pintor sofrera uma mudança.

Esta é uma das obras mais valiosas da coleção e está avaliada em cerca de 18 milhões de euros.

Depois de um almoço descontraído nos jardins de Belém, decorado com um cenário recheado de História, com monumentos marcantes da identidade nacional, como o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, alunos e pro-fessores não dispensaram a

Fig.3

Fig.4

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degustação do exlibris gastronómico, os famosos Pastéis de Belém da capital, na centenária Fábrica dos Pastéis de Belém.

MUSEU DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

Já com mais descontração, e com o intuito de ampliar o universo cultural, de conhecer o espaço onde decorre o dia-a-dia do Presidente da República, bem como de conhecer pormenores que se relacionam com os símbolos nacionais e aspetos do protocolo quando decorrem Visitas de Estado, entre outros, partiram todos para o Museu da Presidência da República. Lá, os alunos alimentaram a sua curiosidade, apreciando à entrada o

estandarte hasteado, sinalética que indica a presença do Presidente da República em trabalho, naquele momento, no Palácio de Belém.

Desta forma, as visitas superaram as expectativas, na medida em que, de uma forma salutar e cativante, alunos e professores assistiram a aulas inseridas num contexto espácio temporal mais real e, sem dúvida, mais motivador e enriquecedor.

Não menos importante foi o saudável convívio entre os professores e alunos dos 10º e 12º anos, o interesse, a curiosidade intelectual e o sentido de responsabilidade por estes evidenciados nos locais visitados.

Fig.5

Fig.6

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NÃO TENHO JEITO PARA LÍNGUAS... Professora Corália Almeida

É comum ouvir os nossos alunos dizerem, a propósito de resultados menos encorajadores nas línguas estrangeiras, que... línguas, não é com eles... não dão pr’a isso... não têm jeito pr’a línguas... E assim se conformam, não investindo na sua aprendizagem!

Respeitando as apetências naturais de cada um para a aprendizagem de determinada matéria, que a psicologia explica pelas diferentes inteligências (uns gostam mais de números, outros de línguas, outros de desenho, outros de ciências, outros de desporto,...), cabe à escola, e aos professores em particular, contrariar esta postura, reafirmando a importância de saber línguas, hoje, e praticando um ensino de acordo com as competências exigidas ao desenvolvimento da comunicação em determinada língua estrangeira. E cabe também aos pais e encarregados de educação incentivar e valorizar o esforço dos filhos e educandos na aprendizagem das matérias escolares, nomeadamente das línguas estrangeiras.

É que aprender línguas estrangeiras, hoje, não é uma questão de jeito, mas antes uma necessidade inevitável! Não é por acaso que as autoridades nacionais estão a investir, já na escola primária, na aprendizagem precoce de uma língua estrangeira; também não é por acaso que o

sistema educativo português oferece, no 3º ciclo, a aprendizagem de uma segunda língua estrangeira; não será, finalmente, por acaso que o Ministério da Educação e Ciência tenha imposto, recentemente, o Inglês como língua obrigatória, a partir do 5º ano de escolaridade. De facto, o nível de desenvolvimento das sociedades do 3º milénio exige o domínio de línguas estrangeiras, isto é, para além da língua materna, os cidadãos têm que desenvolver competências comunicativas noutras línguas. Não há volta a dar: a globalização, o desenvolvimento tecnológico e a modernidade em que vivemos obrigam-nos à sujeição destas exigências. E, por isso, a União Europeia elegeu a aprendizagem de línguas estrangeiras como prioridade importante. Na declaração conjunta do Conselho da Europa/Comissão Europeia, por ocasião do 10º aniversário do Dia Europeu das Línguas, em 26 de setembro de 2011, pode ler-se “O respeito pela diversidade cultural e linguística e o acesso de todos os cidadãos à aprendizagem das línguas são princípios fundamentais do Conselho da Europa e da União Europeia. A capacidade de compreender e de utilizar diversas línguas permite que os cidadãos explorem plenamente as suas potencialidades, tanto no plano social como profissional. As competências linguísticas são fundamentais para a equidade e a integração. Perante a

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crescente mobilidade, a globalização da economia e a alteração das tendências económicas a que se assiste atualmente, a necessidade de aprender línguas e de desenvolver uma educação multilingue e intercultural é mais evidente do que nunca.”. Como vemos, o domínio de línguas estrangeiras na Europa de hoje é praticamente uma necessidade básica, como o é saber ler, escrever e contar. Percebemos que, atualmente, o conhecimento de línguas já não acontece apenas por gosto e prazer intelectual; à sua aprendizagem presidem finalidades práticas e funcionais. Isto é, saber línguas é uma questão de sobrevivência num mundo competitivo de mercado único e multilingue. Em época de crise económica, como a que vivemos hoje, saber línguas pode abrir caminhos...

As vantagens associadas à aprendizagem e ao conhecimento de línguas estrangeiras são muitas:

• Acrescenta possibilidades de conseguir um emprego ou um emprego melhor. Hoje, no campo profissional, é imprescindível o domínio de, pelo menos, uma língua estrangeira: o Inglês. De facto, esta é a língua universal da economia; o mundo empresarial, dos negócios, o mundo tecnológico e também o mundo da ciência expressam-se e entendem-se quase exclusivamente em inglês.

• Facilita grandemente o acesso ao conhecimento e à informação. A internet é uma fonte inesgotável de informação; o conhecimento de línguas favorece a procura, a seleção e o

tratamento dessa informação. • Facilita a mobilidade. A Europa tornou-se um espaço

sem fronteiras, onde todos os cidadãos têm o direito de viver, estudar ou trabalhar... ou simplesmente viajar. O conhecimento de línguas evita problemas de comunicação e favorece a integração.

• Enriquece a vida social e cultural. A língua é veículo de cultura. Saber comunicar em línguas estrangeiras permite o acesso a outras formas de pensar e de viver, a outras culturas e valores. Além disso, quanto melhor conhecermos a língua e a cultura do outro, mais nos apercebemos das diversidades e das diferenças e/ou semelhanças e mais confiança desenvolvemos nas relações sociais.

Enumeradas algumas das razões que pretendem explicar o impacto positivo que o conhecimento e a aprendizagem de línguas têm nos planos da realização pessoal e profissional, importa aceitar e valorizar a escola como espaço privilegiado na aprendizagem inicial de línguas, importa que alunos, pais e professores acreditem que o jeito se educa, a vontade de aprender se constrói, as capacidades se treinam e as competências se desenvolvem... neste espaço.

A exclusão linguística não tem lugar nas sociedades de hoje.

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A INVENÇÃO DO TEMPO Professor Álvaro Folhas

“Não tenho tempo para nada!”, ”Quem dera que o dia tivesse mais de vinte e quatro horas…”, “…o tempo passa a voar…” são lamentos que dizemos quando os afazeres se multiplicam e sentimos dificuldade em gerir esse conceito chamado Tempo.

Hoje, a nossa vida é comandada pelo relógio e, se no nosso país os atrasos até são normalmente bem tolerados, outros há que são muito mais rigorosos com o tempo. Lembro-me de um japonês meu amigo que, aguardando na estação de Aveiro pela chegada do comboio que contava já cerca de 25 minutos de atraso, olhava em desespero o relógio como se o próprio mundo tivesse deixado de funcionar. Dizia-me ele que, no Japão, um minuto de atraso no comboio seria notícia de abertura dos telejornais.

Por termos nascido numa era em que o tempo estava já definido, poucos pensarão o que é afinal uma hora, ou um segundo, e como é que estas grandezas foram definidas. Vamos então falar do tempo, e muito rapidamente, pois este artigo corre o risco de não chegar a tempo de integrar esta edição do enlinh@.

No Período Paleolítico, os caçadores perceberam que a posição dos astros se repetia, de tempos a tempos, e daí resultavam alterações na natureza que, também elas, se repetiam de igual forma. Isto era para eles de extrema importância porque determinava o sucesso na caça e, com ele, a capacidade de arranjar provisões. Esta necessidade de avaliar as estações do ano pelos astros levou os hominídeos do neolítico a fazer as sementeiras

em determinadas épocas, a que chamamos hoje “estações do ano”, para que a colheita acontecesse em época propícia. Existem evidências arqueológicas que indiciam a existência de indivíduos em cada tribo responsáveis pela medição do tempo, fosse por motivos religiosos, agrícolas ou de conhecimento dos fenómenos celestes. Esta necessidade de conhecer o tempo levou à criação de monumentos neolíticos como Stonehenge no

sul de Inglaterra, ou o recinto megalítico dos Almendres (Évora), classificado como o maior monumento megalítico da Península Ibérica e um dos mais antigos monumentos da Humanidade (2000 anos antes de Stonehenge).

Com a invenção da escrita e dos primeiros sistemas de numeração, e face à necessidade de organizar o calendário, os Sumérios (povo da Mesopotâmia1) dividiram o ano em 12 meses de 30 dias cada, sendo que os dias eram divididos em 12 períodos (cada período equivaleria a duas horas) e cada um destes períodos em 30 partes (aproximadamente 4 minutos). Porquê a escolha dos números 12 e 30? Bom, acredita-se que os sumérios, dado que a matemática ainda só estava a dar os primeiros passos (“isso é que chamava sorte!”, dirão alguns alunos), tinham que arranjar valores que não complicassem muito as contas nas divisões, e estes números podiam facilmente dividir-se por 2, 3, 6 resultando em inteiros. Por seu lado, os Egípcios criaram um calendário baseado no movimento aparente da estrela Sírius, que passa próxima ao Sol a cada 365 dias, coincidindo com a inundação anual do Nilo. Definiram assim o ano.

Na antiguidade, para avaliar o dia, usavam um gnómon2 colocado numa concavidade e orientado na direção norte, de modo a que a sua sombra caísse no bordo da concavidade e, ao longo do dia, se deslocasse de oeste para leste (ao contrário do movimento do sol). Estando este percurso dividido em 12 partes (já sabemos porquê), cada uma das quais passou a definir a hora3. Assim, o dia

1 Mesopotâmia significa "terra entre dois rios" e está localizada no Médio Oriente, delimitada entre os vales dos rios Tigre e Eufrates, ocupada pelo atual território do Iraque. Foi aqui que surgiram as primeiras civilizações e se inventou a escrita e a matemática. 2 É a parte do relógio solar que possibilita a projeção da sombra. 3 As Horas (em grego: Ώρες; em latim: Horae) constituíam, na mitologia grega, um grupo de deusas que presidiam às estações dos anos.

Fig. 1-Complexo Megalítico de Almendres (Évora).

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começava com o nascer do sol e a primeira hora seria 1/12 do total do tempo de duração do dia solar. Assim, quando a Bíblia refere a “décima segunda hora”, tal não significava o meio-dia ou a meia-noite, mas sim que faltava 1/12 do tempo diurno antes do pôr-do-sol.

A palavra inglesa noon resulta da expressão latina “nona

hora”, ou seja, quando já tinha decorrido ¾ do dia (por outras palavras, meio da tarde – hora do almoço). Por esse motivo, os anglófonos passaram a usar o forenoon e o afternoon, que hoje associamos ao antes e depois do meio-dia. Talvez por isso, na minha terra, damos as boas tardes só depois de almoço.

Todos nós sabemos que, aqui na nossa latitude, durante o verão os dias são maiores que as noites e, durante o inverno, acontece precisamente o contrário. Assim, o tempo de um dia solar varia ao longo do ano e, deste modo, teríamos “horas” maiores e “horas” mais pequenas, conforme a altura do ano. Houve por isso a necessidade de uma nova abordagem: se apontarmos diretamente para o centro do céu, dizemos que estamos a apontar para o “zénite” (origem árabe que significa “por cima da cabeça”) e, se traçarmos uma linha imaginária de norte para sul que passe no zénite, o céu ficará dividido em duas partes iguais. Essa linha chama-se meridiano, e o sol atravessa-a ao meio-dia, em qualquer estação do ano (mais a sul no inverno do que no verão, mas sempre ao meio do meridiano). Usando as expressões latinas teremos o antemeridian (AM) para o período do dia antes do sol cruzar o meridiano, e o postmeridian (PM) para o restante período diurno. Assim, o meio-dia passou a dividir o dia em horário AM e PM. Estava resolvido o problema. Não importava agora se numa dada região havia montanhas que levavam o dia a começar mais tarde, ou se os dias iam ser muito ou pouco nublados, ou qual era a estação do ano. O meio-dia seria sempre o mesmo relativamente ao sol.

Mas temos ainda a noite, e como o período “dia”, para se repetir, teria que comtemplar a noite, passou a dividir-se o dia em 24horas. O dia começaria não ao meio-dia mas sim à meia-noite, talvez por se considerar ser mais vantajoso mudar a data durante o período em que todos

estavam a dormir e não no período diurno, quando estavam em atividade, o que poderia criar problemas nos registos de negócios ou outros.

A divisão da hora em sessenta minutos e dos minutos em sessenta segundos tem ainda por base a matemática suméria, na qual se dividia um grau de arco em 60

minutos de arco, e cada minuto de arco, por sua vez, em 60 segundos de arco, tendo sido escolhido o número 60 por ter muitos divisores (2, 3, 4, 5, 6, 10, 12, 15, 20 e 30), o que facilitava as contas.

Fazendo o balanço do texto aqui apresentado, ficamos a perceber que o ano tem 365 dias devido à Sírius; que devido ao sol, temos dias com 24 horas, horas com 60 minutos e minutos com 60 segundos, sendo estes valores porque os sumérios sabiam escolher os números que dessem menos dores de cabeça; e algumas curiosidades acerca do “digo bom dia porque ainda não almocei”.

Mas hoje podemos ser mais rigorosos do que os sumérios (afinal já temos calculadoras) e, se considerarmos o dia solar com 24 horas, 0 minutos e 0 segundos, o dia sideral (no qual consideramos uma rotação da Terra em relação ao Universo) terá 23h,56m e 4s, portanto 3 minutos e 56 segundos a menos do que contabilizamos, devido à Terra se estar a mover não só em torno de si própria, mas também em torno do sol. Deste modo, ao cumprir uma volta ao sol, a Terra acabou de completar também uma volta sobre si mesma.

Bom, muito mais poderia dizer sobre os diferentes calendários ao longo da história e até sobre a designação dos meses e dos dias da semana, mas deixo isso para pesquisar no Google, na wikipédia e nos livros que nos ensinam coisas. Agora, vou dar corda ao relógio, que se faz tarde, e esperar que os meus amigos percam um pouco de “tempo” para ler este texto e melhor perceber o “tempo”.

Votos de um Feliz Natal para todos e que a nova translação da Terra à volta do Sol nos proporcione melhores dias e bons momentos,…, mais minuto, menos minuto.

Fig. 1- O movimento aparente do sol de este para oeste cruza a linha norte-sul ao meio-dia

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12 HOMENS NUMA…. CAIXA Professor Vítor João Oliveira

Acredito que são cada vez mais escassas as oportunidades de ver a essência da democracia tão de perto, de perceber o franco e merecido elogio da sabedoria do povo como na peça «12 homens e uma sentença», de Reginald Rose. Numa sala claustrofóbica, longe dos milhões gastos em campanhas, da retórica oca de candidatos contrafeitos, Rose expõe o mosaico da América comum, cada vez mais o retrato fiel das sociedades contemporâneas, multiculturais e hipercomplexas, e prova que a única coisa que nos separa da mentira, da confusão, do que distrai, de governos desregulados e políticos idiotas são 12 homens comuns e diversos, mas inteligentes e razoáveis.

Durante cerca de hora e meia, Reginal Rose faz com que o público suspenda as suas crenças colocando-o face a face com 12(?!) individualidades capazes de, num ápice e através da arte da persuasão, ultrapassar a ignorância preconceituosa da massa e

aspirar a formas mais elevadas de humanidade – o uso da razão para vencer a paixão animal -; capazes de, num ápice e através da arte da persuasão, nos levar da guerra à paz.

Durante cerca de hora e meia, Reginal Rose expõe o indivíduo ao dever de defender perante o grupo o modo como idiossincraticamente se apropria da noção abstrata de «dúvida razoável» para depois o grupo alcançar uma conclusão unânime que esteja para além da opacidade dos factos e das suas interpretações.

Durante cerca de hora e meia, foi isto que a ESAP viu no dia 8 de dezembro, no Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra. Foi este drama imemorial que o Grupo TAPA, liderado por Eduardo Tolentino, recriou de forma magistral e que os alunos da ESAP puderam presenciar. Da parte da ESAP ficaram as palmas lá e um MUITO OBRIGADO aqui.

Ensaios

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12 HOMENS EM FÚRIA Eduardo Magalhães, 11º E

Em 1957, Hollywood encontrava-se numa crise de criatividade. A era dourada há muito tempo tinha terminado. Wilder descrevia em “Sunset Boulevard” (1957) o apocalipse dessa mesma Hollywood, na qual péssimos filmes comerciais eram feitos, realizadores estrangeiros eram nacionalizados (Hitchcock) ou expulsos (Chaplin ou Orson Welles). Enfim, era preciso uma lufada de ar fresco… Jovens precisavam-se! E, do nada, aparecem visionários, como Stanley Kubrick e Sydney Lumet, que o ano de 57 vem projectar, especialmente este último com o seu primeiro filme, “12 Homens em Fúria”.

Este filme é, sem dúvida especial, renegando tudo o que há de convencional e comercial na sétima arte. Saliente-se desde logo o facto de não contar com um grande número de “stars” que possam distrair o público, mas com um elenco de grandes atores de teatro, com a exceção de Henry Fonda (o herói do filme), a prender qualquer auditório. Já para não falar na fotografia que lembra Dziga Vertov (não constasse o nome do irmão na ficha técnica), a existência de grandes planos, a excelente direcção artística e o tema musical que cria uma atmosfera de suspense e mistério.

Concentremo-nos agora na história, que decorre integralmente numa sala de tribunal e gira sobretudo à volta de dois assuntos: o número 12 e a

condenação à morte ou libertação dum jovem acusado de homicídio. O primeiro está omnipresente e não deixa de fazer pensar o público “da vinciano”, pois é preciso ver que só a votação unânime pode decidir o segundo assunto. Culpado? Inocente? Ninguém sabe ao certo… Todas as acusações constituem um grupo de suposições bastante indicativas da culpabilidade do réu, por isso a votação à partida seria bastante clara, contudo, um voto a favor da inocência vem modificar totalmente o rumo do filme. Porquê? Pelas mesmas razões que fazem supor a culpa, por suposições, palpites, que através de múltiplas perspetivas e espelhos nos fazem rodar à volta dum círculo extenuante, embora elucidativo, no qual tanto prós como contras ajudam a chegar a um veredito final. Para esse veredito foi preciso fazer passar pela tela as identidades dos jurados e da própria América, pois todos estão lá: imigrantes, reformados (fundamentais para o veredito), combatentes, operários, professores, homens de negócios, pais, filhos...

Todos eles se aperceberam, através da desconstrução da aparentemente óbvia unanimidade por parte dum arquiteto, que constituem a base da sociedade e, mais importante ainda, que a justiça humana é imperfeita.

Portanto, negar a convencionalidade do filme significa louvar a originalidade e o “esqueleto estrutural” muito bem pensado por Lumet que, aplicado mais vezes, poderia ter reanimado Hollywood.

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O MENINO DE 10 ANOS QUE MORREU AOS 100 Inês Filipe

No passado dia 17, o Cineteatro Caracas, em Oliveira de Azeméis, recebeu o monólogo “Óscar e a Senhora Cor de Rosa”, um texto interpretado por Lídia Franco, com encenação de Marcia Haufrecht e com base na obra do mesmo título do francês Éric-Emmanuel Schmitt. E a ESAP esteve lá, na primeira fila.

“Querido Deus, eu sou o Óscar, tenho dez anos, vivo no hospital por causa do meu cancro e nunca te dirigi a palavra porque nem sequer acredito que tu existas” - assim se deu início a cerca de uma hora e meia de teatro durante a qual o público ficou preso à cadeira. Lídia Franco, envergando apenas uma bata e uma touca brancas, desdobrou-se num sem fim de personagens, naquilo que se revelou um desempenho notável.

Óscar é efetivamente um menino de dez anos, com leucemia, que acabou de descobrir que os tratamentos a que foi sujeito não funcionaram. Graças à “Vóvó Rosa”, voluntária na área de pediatria do hospital, passa a viver cada dia como se este equivalesse a dez anos, experienciando assim todas as fases da vida – desde as revoltas da puberdade e a sabedoria que se julga ter aos vinte anos até aos problemas do casamento e às crises de meia-idade. No fim de cada “década” escreve uma carta a Deus, em quem vai começando a

depositar alguma fé, relatando as peripécias que vive em conjunto com as outras crianças do hospital, despedindo-se sempre com um “Até amanhã, beijinhos, Óscar”.

É com este texto extraordinário que Lídia Franco se destaca, por vezes ao som do Quebra-Nozes de Tchaikovsky, fazendo o público passar da gargalhada à lágrima num ápice. Tendo somente algumas cortinas, uma cama e uma cadeira – tudo branco – como adereços, a atriz soube deslocar-se no palco e criar uma empatia com a audiência que se notou ao longo de toda peça. De destacar ainda o excelente trabalho da luminotecnia que tornou a encenação ainda mais envolvente e harmoniosa.

No final, os mais pacientes e curiosos tiveram ainda a oportunidade de colocar algumas questões à atriz que, num tom divertido e jovial, explicou como tinha sido construída e preparada a exibição. Lídia Franco publicitou ainda a tradução de “Oscar et la Dame Rose”, da sua autoria e com a colaboração de Ivone Moura, que será publicada no início do próximo ano. De uma noite de sábado bem passada, fica a memória de Óscar que, apesar de morrer uns dias depois, com cerca de “100 anos”, segue em digressão pelo país para demonstrar que “Não há solução para a vida senão viver”.

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O ARGUMENTO CLÁSSICO DO DESÍGNIO Gisela Sousa Ferreira, 10º A

O argumento do desígnio é um argumento clássico a favor da existência do deus teísta, quer dizer, de um deus criador e generoso, omnisciente, omnipotente e omnipresente. Apesar das inúmeras formulações, vou considerar aqui a expressão canónica da formulação apresentada por David Hume, em Diálogos sobre a Religião Natural (Hume 1776:15):

Premissa 1: «[…] A curiosa adaptação de meios a fins, em toda a natureza, assemelha-se exatamente, apesar de exceder em muito, aos produtos do artifício humano: ao desígnio, pensamento, sabedoria e inteligência humanos.»

Premissa 2: «Se os efeitos se assemelham entre si, somos conduzidos a inferir que as causas também são semelhantes.»

Conclusão: «Logo, o Autor da Natureza é de algum modo análogo ao espírito humano, apesar de estar dotado de faculdades muito maiores, proporcionais à grandiosidade da obra que executou.»

O que importa saber agora é que este argumento assenta numa analogia cuja força determinará a sua bondade. Ora, a primeira premissa não é verdadeira porque a Natureza não é de nenhum modo semelhante aos produtos do artifício humano: a prova disso é a existência de muitas coisas que não conseguimos compreender nem explicar. Na verdade, não é a Natureza que se assemelha aos produtos do artifício humano, mas sim o oposto, pois a Natureza já existia antes dos seres humanos. A única razão pela qual a Natureza se parece assemelhar ao artifício humano é porque ela é a referência que usamos para muitas das nossas criações (exemplo: um avião e um pássaro). A segunda premissa é ainda mais problemática, pois algo que tem as mesmas causas não tem necessariamente os mesmos efeitos: por exemplo, eu posso ter-me constipado por ter andado à chuva ou por alguém me ter «pegado» a constipação - mesmo efeito, diferentes causas.

Se as premissas são falsas, concluo que a analogia é fraca e o argumento não serve para provar a existência do deus teísta.

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ARGUMENTAR… AD HOMINEM Ana Luísa Martins, 11º G

O presente ensaio serve para responder ao problema “Argumentar ad hominem nem sempre é falacioso.” Começarei por identificar e esclarecer os usos falaciosos da argumentação ad hominem: abusivo, circunstancial, tu quoque e “poço envenenado”. De seguida, mostrarei que nem sempre este tipo de argumentação é falacioso. Finalmente, analisarei um exemplo concreto da vida política recente para determinar usos legítimos e ilegítimos do ataque pessoal.

Um argumento é falacioso quando parece bom, mas é mau. Ad hominem significa “ataque ao homem” e é uma argumentação comummente utilizada de forma falaciosa, por exemplo, em discursos políticos. Neste tipo de argumentação critica-se o caráter, a integridade e as circunstâncias pessoais do argumentador e não o seu próprio argumento. É, portanto, uma forma enganosa e perigosa de argumentação que conduz à raiva e à frustração do atacado.

O argumento ad hominem abusivo é talvez o mais comum e é aquele que ataca diretamente a pessoa, que a difama e que tenta pôr em evidência a sua falta de integridade através de referências a ações passadas do argumentador, à sua etnia, às crenças religiosas ou políticas, ainda que sejam irrelevantes para o assunto primeiramente discutido. O ataque pessoal abusivo é normalmente dirigido à falta de honestidade e de credibilidade mental e racional do argumentador com o objetivo de descredibilizar através de razões externas à argumentação. Ora, pelo facto de termos uma imagem negativa de alguém, daí não se segue que a sua argumentação sobre um dado tópico seja má ou inválida. Na realidade, a sua argumentação pode ser bastante sólida, independentemente da sua conduta ou próprias crenças.

Douglas N. Walton refere um exemplo de ataque pessoal abusivo contra Richard Nixon, que, apesar de ter sido corrupto no escândalo de Watergate, tal não significa que todas as suas declarações sobre política fossem erradas, nomeadamente as declarações sobre política externa relativas à China, área na qual Nixon era reconhecidamente experiente.

Outro uso falacioso da argumentação ad hominem é a do tipo circunstancial. Trata-se de um argumento que passa mais despercebido e que alega que as circunstâncias do argumentador em nada apoiam a sua argumentação. Nesta situação, o argumentador é criticado por ser um mentiroso e um hipócrita, que não segue, na sua própria conduta, os princípios que defende para os outros. Assim, quem diz “olha para o que digo e não olhes para o que faço” jamais poderá ser tomada em consideração. Douglas N. Walton dá-nos o exemplo de um filho que, após o seu pai fumador lhe dizer que o tabaco é prejudicial e que, portanto, não deveria fumar, o ataca dizendo que ele próprio (o pai) fuma. Neste caso, o filho tenta refutar o argumento do pai com base na incoerência entre o que este

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defende e a sua situação pessoal de fumador. Neste ataque pessoal, o erro está na confusão entre duas interpretações da conclusão do argumento. O filho interpretou-a de forma pessoal e, assim, o pai (e não o seu argumento) ficou vulnerável ao ataque.

Uma variante da argumentação ad hominem circunstancial é a chamada réplica tu quoque (você também) em que a pessoa atacada devolve o ónus da prova ao atacante. Walton dá-nos o exemplo de um estudante que acusa um comerciante de vender armas para países que as usam para matar inocentes, ao que o comerciante responde que a universidade que o estudante frequenta investe em empresas fabricantes de armas, pelo que o estudante também “não teria as mãos limpas”. Nesta situação, a resposta a um ataque pessoal circunstancial é um segundo ataque pessoal circunstancial. O estudante critica os países que usam armas para matar inocentes e o comerciante por vendê-las, ao passo que este apenas ataca o facto daquele frequentar uma universidade que investe em empresas de armas. O argumento do comerciante é fraco porque não ataca diretamente o estudante, mas a universidade que este frequenta.

Por fim, o argumento do tipo “poço envenenado” é mais um exemplo de argumentação ad hominem. Consiste em atacar a pessoa alegando a sua parcialidade em determinado assunto. Embora falaciosa, é uma argumentação forte pois leva à desacreditação do oponente devido à possível tentativa de manipulação de ideias mediante os seus interesses ou crenças pessoais.

A argumentação ad hominem nem sempre é falaciosa porque, por vezes, “questões relativas ao caráter, conduta ou circunstâncias pessoais são legítimas e pertinentes à questão” (Douglas N. Walton, 2006: p.187). Foi o que aconteceu no caso de um candidato à presidência cujas relações extraconjugais foram tornadas públicas porque era relevante questionar a integridade, caráter e confiabilidade do candidato, uma vez que em causa estava a avaliação da capacidade que o candidato teria para conduzir o país.

Portanto, se os ataques à pessoa são relevantes para refutar determinada ideia, o seu uso é legítimo. Como refere Douglas N. Walton, um ataque pessoal pode ser uma crítica razoável à posição de um argumentador (Cfr. Douglas N. Walton, 2006: p. 216) se as suas crenças forem incoerentes com o que defende na sua argumentação. Assim, o argumento contra a pessoa pode ser eficaz e constituir uma forma razoável de contestação.

Passemos agora à análise de um exemplo concreto que ocorreu num debate quinzenal da Assembleia da República, em maio de 2008, entre Francisco Louçã, líder do Bloco de Esquerda, e José Sócrates, à data Primeiro-Ministro. O assunto era o código de trabalho e encontramos vários argumentos ad hominem no discurso de ambos.

Francisco Louçã começa por apresentar um argumento ad hominem legítimo de tipo tu quoque, ao criticar a incoerência de Sócrates na sua conduta, que apesar de se mostrar em

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desacordo com João Proença (enquanto Secretário da UGT) em relação ao código do trabalho, anda pelo país com João Proença (enquanto dirigente da comissão política do PS) a explicar o código do trabalho aos apoiantes do seu partido. Deste modo, Francisco Louçã ataca legitimamente as circunstâncias de Sócrates por este andar a “pregar” pelo país algo que não defende, pelo simples facto de João Proença ser do seu partido, o PS. Assim, como refere Douglas Walton, “quem defende o que não pratica não deve ser levado a sério”. E, ao acusar Sócrates, Louçã descredibiliza-o, legitimamente, deixando implícita a hipocrisia do Primeiro-Ministro.

Para se defender ou refutar a acusação feita por Louçã, José Sócrates não explica de facto qual é a sua opinião quanto ao código do trabalho (que era o que devia ter feito), apenas nega a acusação que lhe foi dirigida. Depois prossegue chamando mentiroso a Louçã e afirmando que este só mente para atacar a UGT. Para salientar o seu ataque abusivo ilegítimo, José Sócrates afirma que Louçã, sempre que vai ao Parlamento, mente e lança insinuações sobre deputados do PS, dando o exemplo de Jorge Coelho. Finalmente, acusa Louçã de se fazer de vítima.

Ora, é bem percetível que Sócrates não ataca a acusação feita inicialmente por Louçã, mas o próprio Louçã remetendo para situações do passado. “Mentir” é algo muito vago e se é possível que Louçã tenha mentido uma vez, daí não se segue que minta sempre. O que Sócrates faz nesta intervenção é questionar a integridade e caráter de Louçã, o que constitui um ataque ad hominem abusivo falacioso, pois o que refere é irrelevante quanto ao código laboral e visa apenas descredibilizar o líder do Bloco de Esquerda. O que se pode perceber, de uma forma geral, é que Sócrates se apoia nos insultos a Louçã para descredibilizar a sua argumentação, quando se deveria ter apoiado numa argumentação forte e não-falaciosa para sua própria defesa. Assim, na minha opinião, é ele próprio (Sócrates) quem sai descredibilizado.

Bibliografia

Walton, Douglas N. (2006). Lógica Informal. São Paulo: Martins Fontes, pp. 187-239

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RACIONALIDADE, LIBERDADE E VERDADE Eduardo Magalhães, 11ºE

Este ensaio visa provar que só a discussão racional e livre conduz à verdade. Começo por clarificar os conceitos «discussão racional e livre» e «verdade». A discussão racional e livre resulta da apresentação, defesa e debate de argumentos não falaciosos entre locutor e interlocutor, obedecendo a um conjunto de regras formais e informais, de modo a existir um ambiente propício à troca e difusão de ideias e opiniões. Quanto à verdade, cuja definição é multifacetada, devido às várias perspetivas latentes no nosso quotidiano, tanto pode significar correspondência entre a descrição dos estados do mundo e os estados do mundo de facto, como a apropriação conveniente de algo para a afirmação duma crença (como acontece na sofística). Todavia, creio que a noção mais adequada para a compreensão do que irei apresentar é a da verdade como coerência, em que o que está em causa é a ausência de contradição entre uma dada proposição e um conjunto de proposições que acreditamos ser verdadeiro.

Acredito que só a discussão racional e livre conduz à verdade porque só numa discussão racional e livre não há espaço para a eliminação, silenciamento ou ridicularização de opiniões. Sempre que isso acontecer, a discussão assentará na ignorância e na violação de princípios éticos fundamentais que impedirão que opiniões potencialmente verdadeiras se tornem públicas, o que significará sempre o afastamento da verdade e a ocultação da nossa falibilidade. Um bom exemplo de como este silêncio é um erro crasso foi o confronto entre Igreja Católica Romana e os defensores da teoria heliocêntrica em oposição à geocêntrica, durante séculos. Ilustres nomes das ciências como Copérnico, Galileu ou Giordano Bruno foram perseguidos e até condenados pelo Tribunal do Santo Ofício (Inquisição Católica). Porém, estes sábios não fizeram mais do que defender uma teoria verdadeira não só por ser coerente, mas adequada aos factos criticamente observados. Para além de que, à medida que esta ideia foi ganhando apoiantes, o Catolicismo teve de libertar-se dos seus dogmas e aceitá-la. Esta é mais uma prova de falibilidade e também de “incoerência” com o próprio passado, pois a Igreja Católica, ao perseguir, esquece-se de que foi alvo de perseguidores como o Império Romano, por mentes tão credíveis como Marco Aurélio.

Acredito que só a discussão racional e livre conduz à verdade, porque só esta promove a afirmação da diferença. Exemplificando, pode existir uma maioria que defende uma opinião verdadeira, mas também uma minoria que, apesar de ter um ponto de vista

diferente, detém uma quota- -parte da verdade (Cfr.

J.S. Mill, “A liberdade”: p. 80). Logo, só

o confronto entre elas

resultaria na “reprodução

da verdade” (Cfr. J. S. Mill, “A

liberdade”: pp. 80-1). Um exemplo indiscutível que promove a liberdade de expressão que defendo é a discussão entre jurados nos tribunais norte-americanos, nos quais o veredicto só pode ser unânime. Existindo à partida, assim, todo um rol de possibilidades com graus diversos de probabilidade, entre elas a de um contra todos (a favor da inocência ou culpabilidade do réu), comprova-se a necessidade da discussão livre e racional para se chegar à verdade. Para o bom funcionamento desta discussão, neste caso entre jurados, é fundamental o apelo a uma argumentação cogente e imparcial, livre de dogmas e preconceitos.

Só à luz destas razões suportadas em exemplos é que podemos concluir a nossa falibilidade, isto é, perceber que não somos “donos” da verdade, porque se nos focarmos numa amostra e discutirmos um assunto, nunca haverá uma homogeneidade de posições. Outra lição que tiramos é que “o choque de ideias” (J. S. Mill, “A liberdade”: p. 81) é fundamental para a consolidação e produção da verdade e que não existem autoridades máximas no domínio das opiniões, pois até aqueles que se autointitulam defensores da moralidade e fé dos povos podem cair no ridículo, como foi o caso Igreja Católica na condenação do heliocentrismo e na recusa em reconhecer a separação da religião e da ciência.

Finalmente, devemos encarar a liberdade de expressão como direito e dever, caso contrário, estaremos a ceder à maioria, a negar um direito e a impedir a aproximação à verdade pela discussão.

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OS SONHOS Professora Adília Esteves

Os sonhos, de tão imateriais, são matéria difícil de abordar. E de concretizar.

É preciso vontade. E coragem. E destreza. Pensá-los. Desejá-los gulosamente. E deitar mãos à obra.

Quando nos aparecem na mente vêm já avolumados e perfeitos.

Mas depois verificamos que é preciso ir por partes. Porque quando o sonho está prestes a chegar ao seu horizonte, ao todo se junta um novo e pequeno elemento que causa um inesperado desarranjo. E é preciso, com paciência, ir ajustando essa novidade ao que já era, misturá-la com meticuloso cuidado até que também esse apêndice se integre por inteiro naquela nova e quase definitiva massa em que o sonho se transformou.

Mais contentes com a consistência do sonho pronto a concretizar-se, lá vamos nós de encontro a mais um corpo de pequeninos desejos agarradinhos que… saltam para dentro do sonho, alterando os aromas de algo que estava mesmo prestes a acontecer!

Novos e morosos e pacientes e talvez, também, enérgicos ajustes.

Mais volume ganha o sonho, mais amplos os desejos, mais nítidas as cores, prestes a serem matéria… algo de novo nos salta para dentro do sonho.

Quase temos vontade de desistir, de o largar ali, incompleto, inconsistente.

Mas uma súbita garra, uma súbita fome de sonho, nos obriga a pôr mãos à massa e a ajudá-lo a crescer.

A um dado momento decidimos que está pronto, que não podemos esperar mais, que é preciso que ele se torne realidade e que temos de o viver. Se calhar em pequenas porções é mais fácil, pequenos sonhos lado a lado a crescer, a crescer, na ardência das esperas.

Na urgência de os ver crescer é preciso picá-los, picá-los para que não se afundem e quase rebentem dentro de nós e possamos ver-lhes a alma, aquele espaço oco onde cabem todos os doces mistérios, todos os espantos de boca aberta…

Se tudo tiver sido feito no tempo e na cadência certa, com mãos suaves e enérgicas e acreditando em novos aromas, novos deleites, eles crescerão e caberemos lá dentro e nos deliciaremos com a sua doçura, a sua leveza.

Depois poderemos acrescentar-lhes doces essências, escorrendo pelos dedos lambuzados. Eu prefiro-os simples, servidos numa travessa e polvilhados com açúcar e canela.

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Palavras

RECEITAS MEMOR(I)ÁVEIS Como motivação ao estudo da obra Memorial do Convento, foi proposto aos alunos do 12º ano que elaborassem receitas sugestivas, nomeadamente, para fazer voar a Passarola; para tornar os trabalhadores do Convento homens livres; para fazer felizes as rainhas do século XVIII; para tornar os líderes portugueses homens sensatos... Seguem-se alguns resultados.

RECEITA PARA TORNAR FELIZES AS RAINHAS DO SÉC. XVIII - 1 Ingredientes:

- União familiar 3 Chávenas - Felicidade 3 Chávenas - Mistério 1 Chávena - Segredo 1 Chávena - Amor 3 Chávenas

Pessoas: Sexo Feminino Dificuldade: Média Tempo: Alguns anos Preparação: Começar por ligar o forno da infância a 360ºC e viver esse momento de forma intensa e calorosa. De seguida, untar a forma da vida como união familiar e felicidade. Numa taça à parte, misturar o segredo de uma adolescência cheia de recordações e obter a sua liberdade. Juntar o preparado à forma e realizar o seu desejo. Depois, cobrir cuidadosamente o seu sonho com amor. Finalmente, saborear a vida e descobrir o quão real pode ser a felicidade.

Carlos Almeida e Cassandra Farias, 12ºD

RECEITA PARA TORNAR FELIZES AS RAINHAS DO SÉCULO XVIII - 2 Ingredientes:

- 1kg de sensualidade - 300g de pedras preciosas - 2kg de aias - 1 Colher de sobremesa de amantes - 1 Chávena de chá de simpatia - 1 Pitada de beleza

Paciência para aturar o marido Decorar com maquilhagem a gosto Preparação: Junte 1kg de sensualidade aos 300g de pedras preciosas e, de seguida, polvilhe com os 2kg de aias. Bata até ficar cremoso e, posteriormente, adicione 1 colher de sobremesa de amantes. Deixe repousar a massa durante 30minutos e adicione 1 chávena de chá de simpatia. Após o preparado estar bem consistente, junte 1 pitada de beleza e uma dose dupla de paciência para aturar o marido. Para terminar, polvilhe a forma com farinha de maquilhagem a gosto. Aqueça o forno a 150 graus e deixe cozer durante 1 hora. No fim, sirva em tacinhas individuais acompanhadas com um flute de loucura.

Adriana Santos e Mafalda Fernandes, 12ºD

TORNAR OS LÍDERES PORTUGUESES HOMENS SENSATOS Atenção: Para apenas 1 pessoa Ingredientes:

- 1 Tacho de honestidade - 5 Kg de humildade - 1 Pitada q.b. de superioridade - 2 Latas de caráter - 2 lts. de coragem - 3 Pás de imparcialidade - Raspas de paciência para decorar - Freio para untar

Preparação: Junte os ingredientes num alguidar, bata cerca de 5 horas e de seguida deixe a levedar durante 1 dia. Depois de a massa estar suficientemente compacta, unte a forma com freio e componha-a com a pasta. Por fim, leve-a ao forno, deixando-a cozer durante dois meses. Sugestão: Use raspas de paciência para decorar. Dica: Ofereça este preparado a todos os líderes portugueses, porque bem precisamos.

Andreia Branco e Ana Luísa, 12ºD

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RECEITAS MEMOR(I)ÁVEIS

RECEITA PARA FAZER VOAR A PASSAROLA Ingredientes: - 1lt de vontades - 700g de empenho - 200g de persistência - 50 g de ambição - 2 loucos Modo de Preparação: Colocar as 700 g de empenho a bater com os 2 loucos até ficarem loucos de empenho, este será o primeiro passo. Entretanto, coloca-se as 50 g de ambição a derreter e junta-se ao empenho dos loucos. Mas atenção, a ambição não poderá ser colocada toda de uma vez só sobre o projeto, pois cozerá em demasia os loucos. Em seguida, acrescenta-se 1lt de vontade e 200g de persistência, mexendo bem. Por fim, deita-se a mistura sobre a estrutura, esperando a concretização do projeto. Nota: Se antes de colocar sobre a estrutura, houver pouca convicção deverá acrescentar-se um pouco mais de persistência. Dica: Coloque sobre o recheio pozinhos de sorte e de criatividade.

Ana Costa e Rodrigo Coelho, 12º D

RECEITA PARA FAZER VOAR A PASSAROLA Ingredientes:

- 1kg de engenho e arte - Vontade q.b - 2kg capacidade de inovação - Fé q.b - Ambição q.b - Preconceito - Medo - Receio - Coragem - 1 chávena de educação -

Modo de preparação: Num seio de uma mulher, mistura-se antecipadamente um quilo de engenho e arte e dois quilos de inovação, deixando fermentar durante nove meses. Enquanto isso, tritura-se todo o preconceito, todo o medo e todo o receio que se conseguir reunir de modo a que não atrapalhe a cozedura futura do bolo. Ao fim dos noves meses, junta-se uma chávena de educação e o quanto baste de vontade, fé e ambição, mistura-se tudo e leva-se ao forno durante alguns anos. Quando cheirar, retira-se o bolo do forno e recheia-se abundantemente com coragem. Serve-se a gosto. Nota: Se confecionado convenientemente, será levado, certamente, às nuvens.

Artur Duarte e José Lima, 12º D

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NATAL Professora Ana Brito Gostava de partilhar uns versos, mas parece mais difícil do que imaginava, quando a mente está cansada e, nem por isso, infeliz. Ao contrário do que muitos podem imaginar, também é preciso estar de alguma maneira, numa hora qualquer, um papel acabado de rasgar ou uma mesa desarrumada, ouvindo a lenha a crepitar e a televisão a palrar. É também preciso estar com fome ou com sede, quem sabe… é preciso sentir as letras e as palavras porque elas também imperam um pouco em nós… É preciso apagar e voltar a escrever e tudo parece fazer sentido quando, num segundo, outras palavras vão surgindo paralelas às anteriores, mas sem qualquer pausa, fadiga ou solidão. Elas aparecem do nada, tão aconchegadas e harmoniosas vão aparecendo nos meus dedos e eu escrevo, escrevo e não paro mais…

Neste Natal Queria paz e um sorriso Em vez de uma lágrima qualquer Neste Natal Queria ver-te feliz Em vez de triste numa noite perfeita Neste Natal Oferecia-te magia Em vez de um dia sem alegria Neste Natal Olhava por ti, dava-te uma prenda

Embrulhada em cetim Neste Natal Deitava-me ao teu lado Olhando o céu estrelado Pedia por ti e por mim. Neste Natal as palavras mais simples São de amor e carinho Que sejam para todos nós Luzes presentes no nosso caminho.

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No âmbito da disciplina de Língua Portuguesa, os alunos das turmas A e B do 7º ano construíram acrósticos subordinados ao tema do NATAL. Aqui se apresentam alguns…

N A TAL! FA Z AS RABANADAS

EMBRULHA AS PR E NDAS V AI LÁ PARA FORA

IMAG I NA O PAI-NATAL NO SEU TRE N Ó BESTIAL.

H OJE É UM DIA FENOMENAL É O DIA DE NATAL!

Maria Oliveira e João Claro, 7ºA

P RENDINHAS A CHEGAR…. A VOZINHA A COZINHAR… I GUARIAS NUNCA ANTES VISTAS

É N ATAL! O BACALH A U JÁ ESTÁ PRONTO!

T AL COMO AS RABANADAS… A FAMÍLIA REUNIDA.

COM A L AREIRA ACESA! Mariana Liberal, 7º A

P ARA O PAI NATAL CHEGAR NAS SUAS R ENAS GRANDES E BONITAS S EMPRE BEM ENFEITADAS E BEM HUMORADAS. N O NATAL T ODAS AS

P E SSOAS SÃO AMIGAS E GENEROSAS Rodrigo Almeida e José Estima, 7ºB

N ATAL! A SSIM COM MUITA TERNURA T ODOS REUNIDOS À VOLTA DA LAREIRA A NSIAMOS UMA PRENDA FUTURA L UME QUENTINHO. É TUDO À MINHA MANEIRA! Francisca Carreira, 7ºB

E SPERANÇA E AMOR NUMA GRANDE NOITE. POI S É O QUE NÓS DEVEMOS TER!

P ALAVREADO NESTA NOITE É O QUE NÃO PODE HAVER. I MAGINAR O GRANDE DIA COM GRANDE INSPIRAÇÃO! R ESPIRAR BEM FUNDO, POIS ISSO NÃO É EM VÃO.

FEL I CITARMO-NOS A TODOS DA SORTE QUE TEMOS, ES T ARMOS TODOS JUNTOS NUMA NOITE EM DEZEMBRO.

Ó LARILÓLÉ É NATAL ESTÁ BEM DE VER! João Marques, 7ºA

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Ainda em torno do tema do Natal, os alunos das turmas C e D do 7º ano escreveram poemas em que não era permitido usar a palavra… Natal! Todos os anos Ele é a personagem principal A distribuir presentes pelo mundo inteiro Nesta época especial. Canções sobre esta época Todos gostam de cantar Há felicidade no mundo Há alegria no ar. Nestes belos tempos Todos gostam de dar e receber Encontram-se na rua Sem saber o que oferecer. Na ceia desse tão esperado dia Bacalhau é o prato principal Passas e rabanadas ficam para último Pelo seu sabor especial. As crianças abrem presentes E explodem de alegria O momento mais esperado Deste tão esperado dia. Margarida Pardal e João Santos, 7º D

Isto é um poema encantador Que te vai dar muito amor. Retrata uma festa importante E há muita gente ao volante. Há muita animação E toda a gente canta a mesma canção. O bacalhau e a rabanada Fazem parte da jantarada. Há muitos presentes E quase todos são diferentes. As pessoas estão contentes E com o frio batem os dentes. Têm uma árvore para decorar E todos tem de colaborar. O presépio vão fazer E depois vão comer. Margarida Pardal e João Santos , 7º D

Quem é? É um dia diferente Há harmonia no ar Prendas para toda a gente E o amor a reinar As botinhas na lareira Prontinhas a receber Chocolates e bombons Deliciosos de morrer O pinheiro sempre a brilhar´ Lindo de encantar Trás o presépio a acompanhar Para nada faltar Agora vou terminar Este poema a rimar Pois quero ir brincar E as prendas desembrulhar Filipa Santos e Joana Amaral, 7ºC

Naquele dia especial Nasceu um menino fora do normal. Ele foi o Salvador E trouxe Paz e Amor. O homem de vermelho vai chegar Com prendas para dar. Contentes as vamos receber Poderão ser livros para ler. O pinheiro enfeitado Com o presépio montado Com o Menino Jesus no meio Feliz lá deitado. A família reunida Na mesa a comida E para acabar Presentes vamos partilhar. Bruna Alves e Rui Pereira, 7ºC

Os alunos estão felizes pois acabaram as aulas. Agora já não são precisas aquelas mochilas pesadas. Está a chegar, aquele dia tão especial. Como é bom festejar este dia sem igual. A cidade iluminada, as lareiras acesas, que quentinho está e que lindas estão as mesas. O famoso bacalhau, Filhoses, rabanadas, enfim... Tudo o que há de bom, tudo para mim. Bebiana e Gonçalo, 7ºC

As renas a Voar, os Presentes vão Levar! Os laços a Entrelaçar as Prendas que vão guardar. Os presentes a Passear na Árvore vão Ficar! Os bonecos a Brincar para as Mãos das Crianças vão Saltar! Por fim As crianças a Adorar, mas Que para elas É melhor dar!! Nicole Silva e Cristiana Magalhães, 7ºC

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