eng a as ocupaÇÕes em mato grosso e mato grosso do sul no perÍodo de 2000 a 2012

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AS OCUPAÇÕES EM MATO GROSSO E MATO GROSSO DO SUL NO PERÍODO DE 2000 A 2012 1  Danilo Souza Melo Mestrando em geografia no Programa de Pós-Graduação na Universidade Federal de Mato Campus de Três Lagoas Grosso do Sul    Bolsista CAPES   [email protected]  RESUMO: Objetivamos compreender as ocupações em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul no período de 2000 a 2012 a partir dos dados do DATALUTA, permeando as contradições  presentes na agricultura capitalista dos estados. Deste modo, o desenvolvimento do capitalismo no campo desigual e combinado e sua expansão produz problemas sociais intensos. Parte dos conflitos é resultante da expropriação de povos indígenas, quilombolas e  posseiros ocorrida no processo de ocupação dos estados e apropriação capitalista das terras, aliados a trabalhadores rurais sem terra atraídos pela possibilidade de trabalho na expansão da agricultura capitalista no campo. Nessa perspectiva, a luta pela terra em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul é complexa e heterogênea, sendo as ocupaçõe s de terras parte da estratégia d os movimentos socioterritoriais na luta pelo território. PALAVRAS-CHAVE: OCUPAÇÕES, MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS, MATO GROSSO, MATO GROSSO DO SUL, DATALUTA.  ABSTRACT: We aim to understand the occupations in Mato Grosso and Mato Grosso do Sul in the period from 2000 to 2012 from DATALUTA data, permeating the contradictions in capitalist farming States. Thus, the development of capitalism in the uneven field and combined and its expansion produces intense social problems. Part of the conflict is a result of the expropriation of indigenous, quilombolas and squatters occurred in the process of occupation of States and capitalist appropriation of lands, coupled with landless workers attracted by the opportunity to work on the expansion of capitalist agriculture in the country. In this perspective, the struggle for land in Mato Grosso and Mato Grosso do Sul is complex and heterogeneous, being the occupations of land part of the strategy of socioterritoriais movements in the fight for territory. KEYWORDS:  OCCUPATIONS, SOCIOTERRITORIAIS MOVEMENTS, MATO GROSSO, MATO GROSSO DO SUL, DATALUTA.  EIXO TEMÁTICO: 6 - Movimentos Sociais, Luta pela Terra e Reforma Agrária. INTRODUÇÃO Este trabalho é resultado de discussões realizadas no Grupo de Estudos Terra e Território (GETT) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e pesquisa de mestrado intitulada ESTUDO SOBRE AS OCUPAÇÕES E MANIFESTAÇÕES DO CAMPO NOS ESTADOS MATO GROSSO E MATO GROSSO DO SUL NO PERÍODO DE 2000 A 2012: 1  Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa “PROJETO: Questão Agrária e Transformações Socioterritoriais nas microrregiões do Alto Pantanal e Tangará da Serra/MT na última década censitáriada Rede Centro-Oeste de Pós-Graduação, Pesquisa e Inovação    Rede PRO-CENTRO- OESTE financiado pelo CNPq e coordenado pela Prof. Drª Rosemeire Aparecida de Almeida.  

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Objetivamos compreender as ocupações em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul no período de 2000 a 2012 a partir dos dados do DATALUTA, permeando as contradições presentes na agricultura capitalista dos estados. Deste modo, o desenvolvimento do capitalismo no campo desigual e combinado e sua expansão produz problemas sociais intensos. Parte dos conflitos é resultante da expropriação de povos indígenas, quilombolas e posseiros ocorrida no processo de ocupação dos estados e apropriação capitalista das terras, aliados a trabalhadores rurais sem terra atraídos pela possibilidade de trabalho na expansão da agricultura capitalista no campo. Nessa perspectiva, a luta pela terra em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul é complexa e heterogênea, sendo as ocupações de terras parte da estratégia dos movimentos socioterritoriais na luta pelo território.

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AS OCUPAÇÕES EM MATO GROSSO E MATO GROSSO DO

SUL NO PERÍODO DE 2000 A 20121 

Danilo Souza Melo

Mestrando em geografia no Programa de Pós-Graduação na Universidade Federal de MatoCampus de Três Lagoas Grosso do Sul –  Bolsista CAPES –  [email protected] 

RESUMO: Objetivamos compreender as ocupações em Mato Grosso e Mato Grosso do Sulno período de 2000 a 2012 a partir dos dados do DATALUTA, permeando as contradições

 presentes na agricultura capitalista dos estados. Deste modo, o desenvolvimento docapitalismo no campo desigual e combinado e sua expansão produz problemas sociaisintensos. Parte dos conflitos é resultante da expropriação de povos indígenas, quilombolas e

 posseiros ocorrida no processo de ocupação dos estados e apropriação capitalista das terras,aliados a trabalhadores rurais sem terra atraídos pela possibilidade de trabalho na expansão daagricultura capitalista no campo. Nessa perspectiva, a luta pela terra em Mato Grosso e MatoGrosso do Sul é complexa e heterogênea, sendo as ocupações de terras parte da estratégia dosmovimentos socioterritoriais na luta pelo território.

PALAVRAS-CHAVE: OCUPAÇÕES, MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS, MATOGROSSO, MATO GROSSO DO SUL, DATALUTA. 

ABSTRACT: We aim to understand the occupations in Mato Grosso and Mato Grosso do Sulin the period from 2000 to 2012 from DATALUTA data, permeating the contradictions incapitalist farming States. Thus, the development of capitalism in the uneven field andcombined and its expansion produces intense social problems. Part of the conflict is a result ofthe expropriation of indigenous, quilombolas and squatters occurred in the process of

occupation of States and capitalist appropriation of lands, coupled with landless workersattracted by the opportunity to work on the expansion of capitalist agriculture in the country.In this perspective, the struggle for land in Mato Grosso and Mato Grosso do Sul is complexand heterogeneous, being the occupations of land part of the strategy of socioterritoriaismovements in the fight for territory.

KEYWORDS:  OCCUPATIONS, SOCIOTERRITORIAIS MOVEMENTS, MATO

GROSSO, MATO GROSSO DO SUL, DATALUTA. 

EIXO TEMÁTICO: 6 - Movimentos Sociais, Luta pela Terra e Reforma Agrária.

INTRODUÇÃO

Este trabalho é resultado de discussões realizadas no Grupo de Estudos Terra eTerritório (GETT) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e pesquisa de mestradointitulada “ESTUDO SOBRE AS OCUPAÇÕES E MANIFESTAÇÕES DO CAMPO NOSESTADOS MATO GROSSO E MATO GROSSO DO SUL NO PERÍODO DE 2000 A 2012:

1  Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa “PROJETO: Questão Agrária e Transformações

Socioterritoriais nas microrregiões do Alto Pantanal e Tangará da Serra/MT na última décadacensitária” da  Rede Centro-Oeste de Pós-Graduação, Pesquisa e Inovação  –   Rede PRO-CENTRO-OESTE financiado pelo CNPq e coordenado pela Prof. Drª Rosemeire Aparecida de Almeida. 

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DIFERENÇAS E SIMILITUDES”  em que buscamos compreender a luta pela terra nosestados a partir dos dados do DATALUTA2.

 Nossa metodologia consiste na análise histórica do avanço da agricultura capitalistanos estados e suas contradições. Assim apresentamos e analisamos por meio de gráficos,tabelas e mapas dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA),

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Comissão Pastoral da Terra (CPT)entre outros. Buscando compreender a trajetória da luta pela terra nos estados, analisamos osdados de ocupações do DATALUTA aliados à entrevistas com membros de movimentossociais.

Iniciamos este trabalho apontando as contradições presentes no campo dos estados deMato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde ao mesmo tempo em que se produzem commodities

 por meio de implementos modernos há, também, forte presença do trabalho escravo e umgrande número de trabalhadores em luta por um pedaço de terra. Nessa perspectiva, os dadosdo IBGE, EMBRAPA e CPT nos auxiliam a entender esse cenário, a começar pela estruturafundiária concentrada, uma similitude entre os estados, tanto pelo processo histórico como

 pela importância política/financeira do controle de grandes quantidades de terra.

Muito mais do que reserva de valor, é reserva patrimonial. A retenção daterra não é feita com fins de colocá-la para produzir, motivo pelo qual amaioria das terras deste país mantém-se improdutiva. Mais do que isso, estaterra improdutiva é retida com a finalidade de constituir instrumento a partirdo qual se vai ter acesso por parte, evidentemente, das elites às políticas doEstado (OLIVEIRA, 2001, p. 199). 

A estrutura fundiária dos estados se encontra concentrada devido ao processo históricode apropriação de terras devolutas por meio de leis e decretos. Na história do antigo MatoGrosso, atual Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, é possível observar a trama desenvolvida

em torno da regularização da compra/venda de terras devolutas por políticos e capitalistas daregião. Dessa maneira, desenvolveu-se no estado oligarquias que constantemente disputaramo controle político, ao norte os produtores de cana-de-açúcar e no sul pecuaristas.

Assim, no início do século XX grupos oligárquicos se estabeleceram tantono norte, representados pelos usineiros de açúcar, como no sul do estado,representados pelos grandes pecuaristas ervateiros, os quais se articulavamem função dos interesses econômicos em jogo (MORENO, 2007, p.43).

O interesse capitalista em adquirir grandes extensões de terras, revela uma contradiçãono sistema hegemônico, afinal, terra é uma unidade produtiva e seu monopólio se revela umempecilho ao desenvolvimento do capital. Entretanto, no Brasil temos um capitalismo atípicodo que o mundial, assim como em Mato Grosso o capitalista e o latifundiário geralmente sãoa mesma pessoa. A aliança terra-capital como aponta (ALMEIDA, 2009, p.01) explica essacaracterística.

Esta lógica de desenvolvimento é explicada por uma característica que ocapitalismo assumiu no Brasil: o predomínio dos latifúndios não representa,

2 O DATALUTA –  Banco de Dados da Luta pela Terra  –  é um projeto de pesquisa e extensão criado

em 1998 no Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária  –   NERA, vinculado aoDepartamento de Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNESP, campus de PresidentePrudente. A elaboração do primeiro Relatório DATALUTA em 1999, com os dados de 1998, foi o

início desta publicação de categorias essenciais da questão agrária brasileira, superando a dificuldadede acesso aos dados sistematizados sobre ocupações e assentamentos. Em 2004, incorporamos ascategorias movimentos socioterritoriais e estrutura fundiária, com a apresentação de gráficos, tabelas,quadros e mapas (DATALUTA, 2011, p.01). 

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em momento algum, entrave para o capital. É sim, a possibilidade, por meioda aliança de classe entre capitalistas e proprietários de terra, de se gerarlucro e renda.

A aliança terra-capital explica a existência do latifúndio em tempos de grandes produções e base técnica produtiva moderna.

 No Brasil, esta aliança fez com que, ao invés de a burguesia atuar no sentidode remover o entrave (a irracionalidade) que a propriedade privada da terratraz ao desenvolvimento do capitalismo, atuasse no sentido de solidificar,ainda mais, a propriedade privada da terra (OLIVEIRA, 2001, p.186).

O novo na realidade é a velha estrutura baseada no latifúndio e exportação, aliados ànova base técnica impulsionada pela revolução verde3. Revolução pautada no discurso decombate a fome, mas que na realidade possibilitou a expansão da agricultura capitalistadenominada agronegócio e a produção de commodities em detrimento da expropriação doscamponeses brasileiros.

Assim, a chamada modernização da agricultura não vai atuar no sentido datransformação dos latifundiários em empresários capitalistas, mas, aocontrário, transformou os capitalistas industriais e urbanos  –   sobretudo doCentro-Sul do país –  em proprietários de terra, em latifundiários. A políticade incentivos fiscais da Sudene e da Sudam foram os instrumentos de política econômica que viabilizaram esta fusão. Dessa forma, os capitalistasurbanos tornaram-se os maiores proprietários de terra no Brasil, possuindoáreas com dimensões nunca registradas na história da humanidade(OLIVEIRA, 2001, p.186).

 Nesse sentido, MT e MS possuem uma agricultura cuja base técnica é moderna,

contudo, baseada no latifúndio e exportação de monocultura. Esta aliança configura aagricultura capitalista nestes estados. O desenvolvimento do capitalismo no campo deixarastros de intensos problemas sociais e o campesinato é parte fundamental nessa discussão dosconflitos gerados pelo agronegócio.

Por não assentar-se em relações tipicamente (e predominante) capitalistas, ocampesinato luta para entrar na terra (e nela permanecer), além de desenvolver seu modo devida centrado na reprodução do grupo familiar. Sua (re) existência é relevante para asociedade, pois produzem excedentes, em sua maioria de consumo popular. Assim osmovimentos socioterritoriais lutam pelo retorno dos camponeses a terra de trabalho. 

A situação conflitiva vivenciada pelos camponeses na busca do retorno a

terra é uma luta pela (re) criação de sua condição de classe  sui generis, umaclasse cuja natureza econômica e social encontra-se alicerçada nacontradição: é formada por sujeitos que são, ao mesmo tempo, proprietáriosde terra (e dos meios de produção) e trabalhadores; porém, um trabalhadordiferente do operário porque não se defronta cotidianamente com aexploração de seu trabalho e com os mecanismos de ocultamento/alienação próprios desta condição. (ALMEIDA, 2003, p. 355).

3

  [...] mudanças na base técnica da agricultura brasileira sem modificação nas relações sociais de produção, o que produziu a chamada “modernização conservadora”. Sua aparência de novo, irradia, portanto de sua eficiência política capaz de embalar o mito da produtividade/modernidade secolocando como categoria homogeneizadora [...] (ALMEIDA, 2009, p. 4). 

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Os camponeses de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul lutam pelo retorno a terra queoutrora lhe pertenciam, mas que foram expulsos no processo de formação da estruturafundiária do antigo Mato Grosso ou cercados pela expansão da agricultura capitalista.

Esta se apresenta atualmente como “carro chefe” do crescimento econômico dos doisestados. As novas tecnologias implantadas na agricultura aliadas a investimentos públicos e

 privados proporcionam recordes anuais na produção e exportação. Com a produção de 23,5milhões4 de toneladas de soja em 2013, Mato Grosso se configura como maior produtor do país. Já Mato Grosso do Sul apresenta índices menores comparados ao MT, mas que nãodeixam de ser expressivos. Vejamos a série histórica (2000  –  2012) da produção de soja nosreferidos estados;

Gráfico 1 –  Produção de Soja em Toneladas por estado

Fonte: EMBRAPA, 2014

A soja é a principal commoditie cultivada entre os estados, destacando-se as cidadesmato-grossenses, no qual treze compõem as vinte cidades maiores produtoras de soja do país,cuja liderança é Sorriso - MT. Outra cultura com presença significativa é a cana-de-açúcar,

 principalmente em Mato Grosso do Sul, com uma expansão expressiva da área em hectares

cultivada.Gráfico 2 –  Área (ha) cultivada de cana-de-açúcar por estado

4 EMBRAPA disponível em: http://www.cnpso.embrapa.br/index.php?op_page=294&cod_pai=16 

8,89,6

11,712,9

15

17,916,7

15,3

17,8 17,918,7

20,421,6

2,5 3,1 3,24,1

3,3 3,8 4,4 4,8 4,5 4,15,3 5,1 4,6

0

5

10

15

20

25

MT MS

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Fonte: INPE/CANASAT, 2014

Além da cana-de-açúcar, pecuária e algodão, o eucalipto ( pinus) cresceu rapidamentena região Leste de MS, principalmente na região de Três Lagoas. Nesse sentido, algumascidades se destacam pela forte presença do agronegócio, como é o caso de Sapezal-MT, entreas maiores 5 produtoras de soja do país. Este modelo de agricultura baseia-se na grande

 propriedade, portanto, o monopólio da terra é parte importante em nosso estudo, por se tratarde uma reserva de valor do qual será extraída a renda da terra, isso faz com que capitalistas setornem proprietários de terras (OLIVEIRA, 2007). Nessa perspectiva, é possível compreendera estrutura fundiária a seguir;

Quadro 1 – 

  Mato Grosso do Sul - Número de estabelecimentos e Área dosestabelecimentos agropecuários por grupos de área total - série histórica

ANO 1985 1995 2006

Variável Quant Área % Quant Área % Quant Área %

Menos de 10 ha 14.916 0,21 9.170 0,13 13.398 0,21

10 a menos de 100 ha 18.750 2,16 17.753 2,06 29.277 2,89

Menos de 100 ha 33.666 2,36 26.923 2,19 42.675 3,1

100 a menos de 1000ha

14.674 17,38 15.423 19,37 15.228 19,79

1000 ha e mais 6.215 80,26 6.902 78,45 6.661 77,11

Fonte: IBGE/SIDRA

Observa-se que a concentração fundiária em Mato Grosso do Sul continua praticamente inalterada, com 6.661 estabelecimentos, possuindo 77,11% de toda a área doestado. O mesmo pode ser observado em Mato Grosso, com 77,93% de suas terras

 pertencentes a 8.744 estabelecimentos.

Quadro 2  –   Mato Grosso - Número de estabelecimentos e Área dosestabelecimentos agropecuários por grupos de área total - série histórica

ANO 1985 1995 2006

5Informações disponíveis em: http://www.aprosoja.com.br/ 

656,683

287,947

0

100

200

300

400

500

600

700

MS MT

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Variável Quant Área % Quant Área % Quant Área %

Menos de 10 ha 25.705 0,3 9.801 0,09 14.989 0,12

10 a menos de 100 ha 29.368 2,91 37.076 3,19 61.781 5,3

Menos de 100 ha 55.073 3,21 46.877 3,28 76.770 5,42

100 a menos de 1000

ha

17.280 13,3 23.861 14,52 26.457 16,64

1000 ha e mais 5.561 83,49 8.010 82,2 8.744 77,93

Fonte: IBGE/SIDRA

Assim, nos campos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul o velho se esconde por trásda aparência do novo, do moderno, mas a barbárie continua presente no campo, um exemplodesta é o número de trabalhadores em situação de escravidão nos estados de Mato Grosso eMato Grosso do Sul.

Gráfico 3  –  Mato Grosso e Mato Grosso do Sul - Número de trabalhadores emsituação de escravidão

Fonte: CPT, 2014

Grande parte dos trabalhadores em situação de escravidão é migrante de outras regiõesdo país atraídos pelo discurso desenvolvimentista do agronegócio e que chegaram até MT eMS em busca de oportunidades e melhores condições de vida. Muitos trabalhadores chegarama estes estados em busca de oportunidade e acesso a terra, todavia, a dura realidade fez comestes integrassem movimentos sociais que lutam pelo acesso a terra.

Deste modo, entendemos que a utilização do conceito de movimento socioterritorial é pertinente em nossa pesquisa, pois;

[...] Todos os movimentos produzem algum tipo de espaço, mas nem todosos movimentos têm o território como trunfo. Existem movimentossocioespaciais e movimentos socioterritoriais no campo na cidade e na

floresta. Esses fatos validam os conceitos de movimento socioespacial e demovimento socioterritorial (FERNANDES, 2005, p.03).

136206

723

1268

1012

1958

953

315

608

308

89 109 8618026 26 39

1634

245

22 22

1293

34

0

500

1000

1500

2000

2500

MT MS

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A luta pela terra é uma importante dimensão da questão agrária e a grandeza dessadimensão é demonstrada pelas manifestações e ocupações realizadas pelos movimentossocioterritoriais (FERNANDES, 2001). Sistematizando as notícias referentes à luta peloterritório, o DATALUTA é uma importante fonte de dados das ações dos movimentossocioterritoriais registrando as ocupações de terra e manifestações.

DESENVOLVIMENTO

As ocupações são parte importante da luta pela terra, essa estratégia é utilizada hádécadas, o MST a partir dos anos de 19(80) ocupa em massa áreas com problemas detitulação6  e/ou improdutivas reivindicando a desapropriação para reforma agrária, pois “Senão ocupamos, não provamos que a lei está do nosso lado. É por essa razão que só houvedesapropriações quando houve ocupação [...] A lei só é aplicada quando existe iniciativasocial, essa é a norma do direito” (STÉDILE, FERNANDES, 1999, p.115).

A ocupação coloca em disputa uma fração do território, resultado de um modelo dedesenvolvimento concentrador e excludente, revelando sua conflitualidade.

A ocupação não é o começo da conflitualidade, nem o fim. Ela édesdobramento como forma de resistência dos trabalhadores sem-terra. Ocomeço foi gerado pela expropriação, pelo desemprego, pelas desigualdadesresultantes do desenvolvimento contraditório do capitalismo (FERNANDES,2005, p.8).

A conflitualidade é resultado da questão agrária produzida pelo avanço do capitalismono campo, tendo como contraponto os camponeses e povos tradicionais lutando por territórioque lhes pertenceu outrora. A ocupação é uma estratégia dos movimentos socioterritoriais

desde as décadas de 19(70) e 19(80) na luta pela democratização da terra e direito dostrabalhadores rurais, seguidas pela forte repressão do Estado assim como dos fazendeiros emdefesa da propriedade privada.

 Na luta pela terra, a ocupação é uma comprovação que o diálogo não éimpossível. Ao ocupar a terra, os sem-terra vêm a publico e iniciam asnegociações, os enfretamentos com todas as forças políticas. Ao ocuparespaços políticos, reivindicam seus direitos. Quando o governo criminalizaessas ações, corta o diálogo e passa dar ordens. Tenta destruir a luta pelaterra sem fazer a reforma agrária (FERNANDES, 2001, p.36). 

A luta indígena, camponesa e quilombola fazem parte da luta pelo território nosestados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Suas ocupações7 e manifestações fazem partedo processo de espacialização da luta. A espacialização e territorialização são dimensões daluta pelo território decorrentes das ações dos movimentos socioterritoriais, dimensões estasindissociáveis, ocorrendo muitas vezes de forma simultânea. O movimento se espacializa aorealizar suas lutas (manifestações, ocupações), nelas a luta se faz conhecida, ganha adeptos eopositores, assim;

6  Segundo Oliveira 2013: Metade dos documentos de posse de terra no Brasil é ilegal. Disponível em:

http://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/metade-dos-documentos-de-posse-de-terra-no-brasil-e-ilegal-7116.html. Acesso em 12/05/2014.7 Consideramos as ocupações dos povos tradicionais como retomadas, devido as áreas ocupadas terem pertencido a estes povos, assim eles lutam por sua reterritorialização. 

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[...] espacializar é: registrar no espaço social um processo de luta. É omultimensionamento do espaço de socialização política. È escrever noespaço por intermédio de ações concretas como manifestações, passeatas,caminhadas, ocupações de prédios públicos, negociações ocupações ereocupações de terras, etc (FERNANDES, 1996, p. 136).

 No processo de ocupação, a escolha da fazenda não é aleatória, são fazendas passiveisde reforma agrária, seja por improdutividade ou irregularidades, assim evidencia-se a luta dosmovimentos socioterritoriais contra o modelo capitalista de agricultura;

Os sem-terra ocupam terras, predominantemente, em regiões onde o capital já se territorializou. Ocupam latifúndios  –  propriedades capitalistas  –  terrasde negócio e exploração –  terras devolutas e/ou griladas. As lutas por fraçõesdo território [...] representam um processo de territorialização na conquistada terra de trabalho contra a terra de negócio e de exploração. Essa é adiferença fundamental, porque o grileiro, o latifundiário, o empresáriochegam onde o posseiro está. Os sem-terra estão ou chegam onde o grileiro,

o empresário, o latifundiário estão. (FERNANDES. 2000 p. 67).

 No quadro geral, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul no período de 2000 a 2012apresentam um decréscimo nas ocupações salvo de pequenas variações, vejamos;

Gráfico 4 - Ocupações em Mato Grosso do Sul de 2000 a 2012

Fonte: DATALUTA 2014.

Como um total de 231 ocupações, Mato Grosso do Sul apresenta picos de ocupaçõesno ano de 2000 (80), 2001 (27), 2004 (28) e um declínio nos anos seguintes. As oitentaocupações no ano de 2000 são resultantes da pressão dos movimentos socioterritoriais,

 principalmente a CUT e a CONTAG com 33 e 21 ocupações, respectivamente.

Em Mato grosso ocorreram 64 ocupações entre 2000 e 2012, sendo que os picos deocupações aconteceram nos anos de 2003 (19 ocupações) e 2005 (12 ocupações). Certamente,

motivadas por promessas políticas, um vez que a eleição do presidente Luis Inácio Lula daSilva criou um ambiente de otimismo junto aos movimentos sociais, principalmente o MST, pois, com a entrada de um governo popular se esperava a desapropriação e criação de mais

26

3

19

412

4 2 2 3 2 2 3

80

27

414

2820

115 6 8

48

16

1

MT MS

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assentamentos, nesse sentido as ocupações se intensificaram entre os primeiros anos dogoverno Lula (2003, 2004 e 2005).

O Brasil entra em um novo contexto político a partir de 2000 com a eleição de LuisInácio Lula da Silva. Esse novo cenário político efervesceu os movimentos socioterritoriais,que com a entrada de um governo popular esperavam a desapropriação e criação de mais

assentamentos, nesse sentido as ocupações se intensificaram entre os primeiros anos dogoverno Lula (2003 2004 e 2005). A reforma agrária não ocorreu como na expectativa dosmovimentos, assim, as ocupações caíram nos anos seguintes devido a desistência das famíliasacampadas como afirma8 uma das lideranças do MST-MT.

Aqui é um período que quando o PT assumiu o governo, o superintendentedo INCRA foi em cadeia nacional e disse “só vou assentar quem estiveracampado”, isso estimulou o sem-terra a fazer luta ir para o acampamento.Ai vem caindo de novo, porque a partir que isso aqui não acontece, asfamílias vão desistindo e cada vez mais difícil fazer ocupação, por quê?Porque as famílias ficam muito tempo acampadas, um ano dois anos, hojecinco anos. Então se eu vejo meu vizinho acampando há cinco anos eu não

me encorajo de ir.

Esse contexto explica a redução significativa de 2000 a 2012 tanto em Mato Grossocomo em Mato Grosso do Sul.

Gráfico 5 - Famílias em ocupações em Mato Grosso de 2000 a 2012

Fonte: DATALUTA 2014.

Mato Grosso do Sul apresenta variação semelhante a Mato Grosso, cabe ressaltar emnúmeros totais a quantidade de famílias que participaram de ocupações em Mato Grosso doSul no ano de 2000.

Gráfico 6 - Famílias em ocupações em Mato Grosso do Sul de 2000 a 2012

8 Entrevista realizada em 05/06/2014 na secretaria do MST em Cuiabá-MT. 

360

2.2502.600

7.400

1.750

2.137

230 450170 186 140 60

780

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Fonte: DATALUTA 2014.

A morosidade da reforma agrária e a não realização provocam a desistência dasfamílias e a redução do contingente de famílias sem-terra nas ocupações. O impacto dos

 programas sociais como bolsa família, afetaram consideravelmente no trabalho de baserealizado pelos movimentos socioterritoriais para convocar as pessoas para a luta.

 No trabalho de base os movimentos procuram encontrar pessoas com perfil da luta pela terra, que já foram trabalhadores rurais ou sempre moraram na cidade, mas almejam umaqualidade de vida melhor. Algumas estratégias são adotadas a fim de manter as famílias naluta, como, por exemplo, a permissão para que as famílias possam passar o dia na cidadetrabalhando, ou até mesmo algumas concessões para as famílias só retornarem ao

acampamento nos finais de semana.

O mapeamento das ocupações por meio dos dados do DATALUTA apresenta aespacialização da luta pela terra nos estados estudados. As regiões com maior número deocupações são o Sul de Mato Grosso e Centro-Sul de Mato Grosso do Sul como mostra osmapas.

11.249

3.208

700

4.150

7.933

4.1783.756

750305 377 566

973 784

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Mapa 1 –  Mato Grosso ocupações por município (2000 a 2012)

Fonte: DATALUTA 2014.

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O Sul de Mato Grosso possui maiores números de ocupações parte devido pelaorganização do MST na região principalmente em Cuiabá e Cáceres.

Mapa 2 –  Mato Grosso do Sul ocupações por município (2000 a 2012)

Fonte: DATALUTA 2014.

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Em Mato Grosso do Sul destacamos a região Sul do estado, em que a luta indígena sedestaca pelo número de retomadas e conflitos com fazendeiros. São nestas regiões (MT e MS)que a espacialização da luta pela terra é mais intensa e que possuem histórias de lutas econquistas de territórios, atraindo mais pessoas para a luta.

CONCLUSÃO

A questão agrária em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul apresentam característicassemelhantes, começando pela história da apropriação capitalista das terras do antigo MatoGrosso (atual Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), no qual a burla da legislação permitiu quegrandes extensões de terras devolutas fossem apropriadas. Essa similitude faz com que ambosos estados apresentem forte presença do agronegócio, em que se destacam pela produção decommodities. Assim, o desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo, ao mesmotempo em que gera riquezas também produz grandes problemas sociais, entre eles o acesso àterra dos pobres do campo e retorno dos povos tradicionais expropriados ao longo da história.

 Nesse contexto, os movimentos socioterritorias utilizam as ocupações de terras como

estratégia para pressionar o Estado a realizar a reforma agrária.

Os estados apresentam tendência semelhante no número de ocupações, exceto peloano de 2000 em Mato Grosso do Sul onde a luta se encontrava acirrada, resultando no grandenúmero de ocupações. As semelhanças continuam quando analisamos o número de famíliasnas ocupações realizadas e o motivo da redução. O desgaste físico-mental provocado pelalonga espera, vivendo em condições difíceis, faz com que as famílias desistam da luta. Nessesentido, os movimentos socioterritorias adotam estratégias que possibilitam a permanênciadas famílias na luta pela terra, entre as estratégias é a presença dos acampados somente nosfinais de semana. Essa estratégia permite que o acampado trabalhe durante a semana nacidade ou em fazendas da região, garantido sua independência econômica e qualidade de vida

no acampamento.

É possível observar a partir dos dados do DATALUTA a similitude quanto aosmovimentos socioterritoriais presentes nos estados, contudo, observamos que há diferençassignificativas no protagonismo dos movimentos entre os estados entre 2000 e 2012.

Tabela 1  –  Ocupações por movimento socioterritorial.

MATO GROSSO DO SUL MATO GROSSO

MOVIMENTO OCUPAÇÕES MOVIMENTO OCUPAÇÕES

INDÍGENAS 58 MST 33

MST 49 SEM INFORMAÇÃO 9

CUT 39 MTAA 3

CONTAG 25 INDÍGENAS 2

SEM INFORMAÇÃO 11 MAB 1

MTR 8 MTR 1CPT 1

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FUVI 1

FERAESP 1

TERRA LIVRE 1

 Nota-se que o movimento indígena realizou mais ocupações em Mato Grosso do Sul

(58) seguido pelo MST (49) e CUT (39). No início da década (2000 a 2006) o MST era

responsável pela maioria das ocupações, esse protagonismo muda a partir de 2007 quando a

luta indígena inicia uma série de retomadas. Diferentemente em Mato Grosso, onde o MST

(33) foi o principal protagonista das ocupações, acompanhado de MTAA (3) e Movimento

indígena (2).

Os estados de MT e MS possuem diferenças quanto ao protagonismo dos movimentossocioterritoriais nas ocupações, contudo, a queda no número de ocupação e famílias em

ocupações ocorre em ambos os estados. Nessa perspectiva, os movimentos utilizam novas

estratégias para garantir que as famílias continuem na luta pela terra que necessitam ser

analisadas. 

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