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ANO 4 Nº 18 Goiânia, setembro/outubro de 2009 CONCURSO DE REDAÇÃO Vencedor do concurso de redação sobre segurança pública promovido pelo MP, Alexandre Trindade Brito virou celebridade onde mora. Confira o que mudou na vida do menino na reportagem especial. > 8 > POLÍTICAS PÚBLICAS ENFRENTAR A VIOLÊNCIA PARCERIA EM FAVOR DA EDUCAÇÃO Coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal, promotor José Carlos Miranda Nery Júnior detalha em entrevista os projetos e os desafios da função. > 6 Mais uma iniciativa de aproximação do MP com a sociedade, Projeto Bem Educar dá os primeiros passos em escolas de Aparecida de Goiânia. Comunidade escolar busca soluções para melhoria do ensino. > 3 O MINISTÉRIO PÚBLICO DE GOIÁS TEM CAMINHADO NOS ÚLTIMOS TRÊS ANOS NA CONSTRUÇÃO DE PROPOSTAS DE TRABALHO VOLTADAS AO APRIMORAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS, TRILHANDO UM CAMINHO DELINEADO A PARTIR DA PERCEPÇÃO DA NECESSIDADE DE MAIOR EFETIVIDADE NA ATUAÇÃO INSTITUCIONAL. A IDEIA É DIRECIONAR ESFORÇOS PARA AÇÕES QUE TENHAM, DE FATO, O PODER DE TRANSFORMAR A REALIDADE SOCIAL, COM ATUAÇÃO, SOBRETUDO, NA FORMA PREVENTIVA. EXEMPLOS DESSA ALTERNATIVA ESTÃO EM DOIS PROJETOS NASCIDOS DE PARCERIAS COM O MINISTÉRIO DA JUSTIÇA: O NÚCLEO DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS (NA PRIMEIRA FOTO) E OS NÚCLEOS DE APOIO AO COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER (NA SEGUNDA FOTO). > 4 e 5 A construção de um MP resolutivo Cristina Rosa Franco

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Page 1: ENFRENTAR - mp.go.gov.br · ANO4 Nº 18 Goiânia, setembro/outubro de 2009 CONCURSO DE REDAÇÃO Vencedor do concurso de redação sobre segurança pública promovido pelo MP, Alexandre

ANO 4 �� Nº 18 �� Goiâ nia, setembro/outubro de 2009

CONCURSO DE REDAÇÃOVencedor doconcurso de redaçãosobre segurançapública promovidopelo MP, AlexandreTrindade Brito viroucelebridade ondemora. Confira o que mudou na vida do menino na reportagem especial. > 8

> POLÍTICAS PÚBLICAS

ENFRENTARA VIOLÊNCIA

PARCERIA EM FAVOR DA EDUCAÇÃO

Coordenador do Centro de Apoio OperacionalCriminal, promotor JoséCarlos Miranda Nery Júniordetalha em entrevista osprojetos e os desafios da função. > 6

Mais uma iniciativade aproximação doMP com asociedade, ProjetoBem Educar dá osprimeiros passos emescolas de Aparecida de Goiânia. Comunidadeescolar busca soluções para melhoria do ensino. > 3

O MINISTÉRIO PÚBLICO DE GOIÁS TEMCAMINHADO NOS ÚLTIMOS TRÊS ANOSNA CONSTRUÇÃO DE PROPOSTAS DETRABALHO VOLTADAS AOAPRIMORAMENTO DE POLÍTICASPÚBLICAS, TRILHANDO UM CAMINHODELINEADO A PARTIR DA PERCEPÇÃODA NECESSIDADE DE MAIOR EFETIVIDADENA ATUAÇÃO INSTITUCIONAL. A IDEIA ÉDIRECIONAR ESFORÇOS PARA AÇÕESQUE TENHAM, DE FATO, O PODER DETRANSFORMAR A REALIDADE SOCIAL,COM ATUAÇÃO, SOBRETUDO, NAFORMA PREVENTIVA. EXEMPLOS DESSAALTERNATIVA ESTÃO EM DOIS PROJETOSNASCIDOS DE PARCERIAS COM OMINISTÉRIO DA JUSTIÇA: O NÚCLEO DEENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DEPESSOAS (NA PRIMEIRA FOTO) E OSNÚCLEOS DE APOIO AO COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICAE FAMILIAR CONTRA A MULHER (NA SEGUNDA FOTO). > 4 e 5

A construção de um MP resolutivo

Cristina Rosa Franco

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Informativo oficial do Ministério Público do Estado de Goiás

Rua 23 esq. c/ Av. B, qd. A-6, lts. 15-24, JardimGoiás, Goiânia-GO, CEP 74805-100Telefone geral: (62) 3243-8000 ou Ligue 127E-mail: [email protected]

Procurador-Geral de JustiçaEduardo Abdon Moura

Assessor deComunicação SocialRicardo Santana - DRT 7767P

Assessora de ImprensaAna Cristina ArrudaDRT-GO 894

CoordenaçãoMac Editora e Jornalismo Ltda.

EditorMírian Tomé DRT-GO 629

ReportagemFernando Dantas DRT-GO 4895

FotografiasJoão Sérgio Araújo

DiagramaçãoNilton Oliveira

Fotolito e ImpressãoEllite Gráfica e Editora Ltda.

2 GOIÂ NIA, SETEMBRO/OUTUBRO DE 2009

Es pa ço do Cidadão“As recentes obras com o intuito de melhorar otrânsito na cidade, como o viaduto da Avenida T-63, ilustram bem a boa atuação do MinistérioPúblico no acompanhamento e monitoramento docrescimento ordenado de Goiânia.”

Valdeir Júnior, diretor de criação

“O MP é a voz do cidadão. É autônomo, masmesmo assim se importa com as questões de

direito social.”Gabriela Costa, estudante de Direito

O Ministério Público está para a sociedadeassim como o juiz está para a partida defutebol. A instituição fiscaliza a conduta, nointuito de harmonizar as relações entre aspessoas. Sem o MP, o cidadão se cala.”

Sheyla Arantes, advogada

EXPEDIENTE

!! Fique Atento !!

De olho no transporte rodoviárioEmbora esteja em vigor desde 7 de

julho deste ano, a nova lei sobre vendade passagens de ônibus do transporte ro-doviário (Lei Federal nº11.975/09), queampliou os direitos do consumidor, aindadepende da regulamentação de algunsartigos para ter plena validade. Essa foi aavaliação feita pelo coordenador doCentro de Apoio Operacional (CAO) doConsumidor do Ministério Público deGoiás, Érico de Pina Cabral, durante reu-nião no dia 5 de agosto, na sede do MP,com representantes dos Procons estaduale municipal, da Agência Goiana de Re-gulação (AGR) e de uma das empresasde transporte rodoviário que opera emGoiás, a Gontijo.

Conforme destacou o coordenadordo CAO durante as discussões, o cumpri-mento de algumas determinações da no-va lei ainda não podem ser exigidas, poishá dispositivos que precisam ser discipli-nados, para que não haja prejuízo aos di-reitos dos passageiros nem cobrança in-justificada às empresas. Entre as questõesque precisam ser regulamentadas estão avalidade da passagem por até um ano; oprazo que o passageiro tem para avisar aempresa da desistência da viagem; o va-lor (porcentagem) da comissão de vendaque será descontada da restituição aopassageiro e a fixação das regras aousuário nos terminais de ônibus. Ao todo,segundo levantamento da própria Agên-cia Nacional de Transportes Terrestres(ANTT), são oito artigos pendentes de re-

gulamentação. A lei tem 16 artigos.De acordo com nota divulgada pela

ANTT, ainda em julho, até que esses disposi-tivos sejam disciplinados, “permanece váli-da” a legislação antiga aplicável ao assunto– no caso, o Decreto nº 2.521/98, o Códi-go Civil, a Lei nº 8.078/90 e a Resolução nº978/05, da ANTT. A estimativa da agência,conforme divulgado recentemente pela im-prensa, é que até o início de outubro a regu-lamentação da Lei nº 11.975/09 estejaconcluída.

DDIIRREEIITTOOSS GGAARRAANNTTIIDDOOSSApesar dessa pendência jurídico-bu-

rocrática, o promotor Érico de Pina Cabralsalienta que os demais artigos da lei, quenão dependem de regulamentação, já es-tão valendo e seu cumprimento pode serexigido e precisa ser fiscalizado. Entre es-tas determinações estão a garantia doreembolso em caso de desistência antesdo embarque; o direito à alimentação e àhospedagem durante atraso ou interrup-ção da viagem, se for o caso, e a emissãode bilhetes sem a data e horário de em-barque definidos.

A ANTT também sustenta que a au-sência de regulamentação destes oito arti-gos não retira do consumidor nenhum dosdireitos que a nova lei assegura, mesmoporque a legislação anterior já contemplavaboa parte dos benefícios assegurados na Leinº 11.975/09. (Ana Cristina Arruda, com in-formações do site da ANTT, do Portal doConsumidor e do portal de notícias G1)

F a l e c o n o s c o

Telefone Geral (Goiânia):3243-8000

Para falar com o MP em todo o Estado:127

Denúncia de NepotismoPortal do MP (www.mp.go.gov.br)

Centros de Apoio Operacionais(CAOs):�CAO de Defesa do Cidadão3243-8077

�CAO de Defesa do Consumidor3243-8038

�CAO do Meio Ambiente3243-8026

�CAO do Patrimônio Público3243-8056

�CAO da Infância e Juventude3243-8029

�CAO de Combate a OrganizaçõesCriminosas3233-0049

�CAO Criminal e de Controle Externo da Atividade Policial3243-8050

Escola Superior do Ministério Público3243-8068Assessoria de Comunicação Social3243-8525/8499/8307/8498

Editorial

Do particular ao universal“Esse garoto sente que pode seguir um caminho mais bonito, con-

tribuir para um mundo melhor, sendo honesto, íntegro, justo,leal e amando o seu irmão, independente de cor ou posição so-

cial. E, então, cresce dentro dele um grande desejo de lutar e fazer a diferença.”Este trecho da redação vencedora do concurso promovido pelo Ministério Pú-blico de Goiás para premiar os melhores textos sobre a melhoria da segurançapública traz na sua eloquente simplicidade, uma mensagem direta sobre a im-portância de cada cidadão na construção de uma nova realidade, seja no âmbi-to pessoal ou num contexto mais amplo, que abrange a coletividade.As palavras do pequeno Alexandre Trindade Brito, de apenas 10 anos, mora-dor do distrito de Trajanópolis, município de Padre Bernardo, que integra aproblemática região do Entorno doDistrito Federal, desmistificam odiscurso dos que colocam sobre osombros do Estado todo o dever etoda a responsabilidade pela garan-tia da segurança pública. Ao assumirque cada um de nós tem, sim, umpapel importante a desempenharpara “um mundo melhor”, Alexan-dre nos ensina novamente uma ve-lha lição: qualquer revolução, paraflorescer, tem de vir de dentro. Sequeremos mudar o mundo, mude-mos primeiro a nós mesmos. E Alexandre tem muito mais a nosensinar, como será possível conferir na página 8 desta edição. O texto espe-cial produzido com o garoto inaugura uma nova seção do Jornal MP Goiás,dedicada a reportagens especiais. A ideia é aproximar mais o nosso olhardaquelas pessoas que são as destinatárias primordiais de toda e qualqueração do Ministério Público. Conhecer quem são, como vivem, o que so-nham – pode ser este o caminho para nos identificarmos e nos solidarizar-mos com suas dores, seus anseios, suas angústias, suas necessidades. Ao darvoz ao Alexandre, queremos despertar o MP para reconhecer e ouvir osmilhares de Alexandres que estão por aí. E também mostrar que podemosfazer a diferença para alguém.

Trecho da redação vencedora do concursopromovido pelo Ministério Público de Goiás

RECLAMAÇÕES>Geral (e transporte interestadual)ANTT:Fone: 0800-610300

Transporte intermunicipal (Goiás)AGR: Fone: (62) 3226-6400E-mail: [email protected]

Procon Goiás:Fone: 151E-mail: sugestõ[email protected]

Defesa de direitos coletivos:CAO do Consumidor – MP-GOFone: (62) 3243-8039/8040 ou 127E-mail: [email protected]

Bilhete de valorConfira as principais mudanças trazidas pela Lei 11.975:Passagens terão validade de até um anoBilhetes com data definida poderão ser remarcadosPassageiro terá direito assegurado ao reembolsoda passagem, em caso de desistênciaAtraso na partida permitirá o ressarcimento do valor do bilheteSe houver atraso ou interrupção da viagem, hospedagem e alimentação dopassageiro serão de responsabilidade das empresas concessionárias

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GOIÂ NIA, SETEMBRO/OUTUBRO DE 20093PROJETO BEM EDUCAR>

Coordenador do CAO Infância, Everaldo Sebastião de Sousa, durante audiência pública; grupo de articuladores discute medidas: momentos do projeto

Parceria entre MP e comunidade escolarbusca melhoria na qualidade da educaçãoViolência, falta de infraestrutu-

ra, má remuneração dos pro-fessores e aulas com conteú-

do aquém do desejado são alguns dosproblemas do ambiente escolar quetêm prejudicado severamente a quali-dade do ensino público no País. Com oobjetivo de tentar encontrar, junto coma comunidade escolar, soluções paracontornar as dificuldades e mudar essarealidade, pelo menos em Goiás, o Mi-nistério Público estadual lançou, emmarço deste ano, o Projeto Bem Edu-car. Idealizado pelo promotor PauloMiranda Ferreira, da comarca de Apa-recida de Goiânia, em conjunto com oCentro de Apoio Operacional (CAO)da Infância, Juventude e Educação, oprojeto visa ampliar a interação entre oMP e a comunidade escolar na buscapor uma educação pública de qualida-de. Para isso, a intenção é fazer o acom-panhamento do dia a dia das escolaspúblicas em Goiás e o diagnóstico dosproblemas vivenciados nas instituiçõesde ensino e comunidade local, suascausas e possíveis soluções. O pilotodo projeto abrange escolas públicas deAparecida de Goiânia.

Com caráter experimental, o proje-to iniciou suas atividades na região Su-doeste de Aparecida de Goiânia, abran-

gendo oito escolas públicas, das redesestadual e municipal de ensino – EscolaMunicipal de Educação Integral Mon-teiro Lobato, Escola Municipal da Paz,Colégio Estadual Jardim Tiradentes,Escola Modelo, Escola Estadual Joãoda Costa Carvalho, Colégio EstadualNova Cidade, Colégio Estadual PedroNeca e Escola Municipal Cora Corali-na. Duas audiências públicas foram rea-lizadas em março, visando estabelecer a

parceria do MP com a comunidade ediscutir os principais problemas enfren-tados. Cada encontro teve a participa-ção de mais de 100 pessoas: o primeiro,na Escola Monteiro Lobato e o segun-do, na Escola Municipal da Paz. Nestasreuniões, foram apresentados o projetoe seus objetivos, e formados os gruposde trabalho, com os representantes dacomunidade escolar que se inscreverampara integrar definitivamente o progra-

ma, atuando nos núcleos de articulação.

METODOLOGIA SISTÊMICAComo a metodologia de trabalho

(teoria sistêmica) utilizada no ProgramaParceria Cidadã (também desenvolvidopelo MP) embasa as ações do projetoBem Educar, os grupos receberam trei-namento sobre o procedimento sistê-mico antes da definição dos problemasa serem trabalhados. “Os grupos foram

orientados sobre a teoria sistêmica e co-mo se resolve um problema por meiodessa metodologia, para só depois co-meçarem a buscar soluções”, ressalta ocoordenador do CAO da Infância, Ju-ventude e Educação, Everaldo Sebas-tião de Sousa.

Entre os principais problemas queafetam o ambiente escolar detectadosnas audiências públicas, cinco foram es-colhidos pela comunidade para seremresolvidos. A partir da positivação, fo-ram definidos os seguintes temas paraserem trabalhados de forma integrada:“Construindo a Paz com Respeito naEscola”, “Melhoria na Infraestrutura”,“A Família na Escola”, “Permanência eCapacitação de Funcionários e Profes-sores” e “Alunas e Alunos Frequentes”.

De acordo com Everaldo, com oresultado do trabalho realizado emAparecida, será possível ampliar o pro-jeto para outras escolas, em Goiânia eno interior. “É uma questão experi-mental. Por recomendação do procura-dor-geral de Justiça, Eduardo AbdonMoura, a tentativa é de primeiro mos-trar o que é o projeto, que já foi muitobem aceito pela comunidade. Depois,quando avaliarmos os resultados, pode-remos ter um ‘piloto’ para outras locali-dades do Estado”, acrescenta.

Idealizador da iniciativa, promotor Paulo Miranda apresenta proposta em audiência pública

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4 GOIÂ NIA, SETEMBRO/OUTUBRO DE 2009

> POLÍTICAS PÚBLICAS

Núcleos Maria da Penha surgem comproposta de enfrentar violência domésticaEm busca da efetivação da Lei

Maria da Penha (Lei nº 11.340/06) em Goiás, o Ministério Pú-

blico elaborou projeto piloto para cria-ção e implantação de três Núcleos deApoio ao Combate à Violência Do-méstica e Familiar Contra a Mulher(Núcleos Maria da Penha), em Apareci-da de Goiânia, Luziânia e na capital

goiana. Os núcleos darão suporte àspolíticas públicas e atuarão de formapreventiva, com ações de atenção à víti-ma, ao agressor e à família.

O projeto de criação dos núcleos, jáaprovado pelo Ministério da Justiça, pas-sou por reformulação em junho, princi-palmente na questão da aplicação das ver-bas. O MP recebeu do Ministério cerca de

R$ 450 mil para a execução do convênio einstalação dos três núcleos. Com a modi-ficação no projeto, os recursos que seriamgastos com contratação do pessoal neces-sário para realizar o atendimento às víti-mas de violência doméstica, aquisição deequipamentos e demais bens para os nú-cleos, agora serão investidos também emcampanhas de conscientização, com a uti-

lização, entre outras ferramentas, de carti-lhas e, também, inserção de material insti-tucional em mídia impressa, rádio e TV.

Em reunião no dia 28 de maio, nasede do MP, coordenada pelo Centro deApoio Operacional Criminal e do Con-trole Externo da Atividade Policial(CAO Criminal), definiu-se ainda que oprojeto será institucionalizado no âmbito

do MP pelo procurador-geral de Justiça,Eduardo Abdon Moura, que designaráos promotores responsáveis pelos trêsnúcleos. Segundo o coordenador doCAO Criminal, José Carlos Miranda Ne-ry Júnior, a intenção é formalizar os nú-cleos. “Será um projeto piloto para queos núcleos possam ser instituídos, poste-riormente, em outras comarcas”, explica.

Diretora da Escola Superior do Mi-nistério Público (ESMP), Alice de Almei-da Freire Barcelos – que era coordenado-ra do CAO Criminal na época da criaçãodo projeto dos Núcleos Maria da Penha eda parceria com o Ministério da Justiça –,salienta ser preciso deixar bem claro quaisserão as funções dos núcleos. “O local pa-ra receber denúncias continuará sendo asdelegacias e as promotorias especializadas.Os núcleos poderão atuar no direciona-mento das vítimas a abrigos, encaminha-mento para tratamento e na prevençãopor meio de campanhas educativas”, ob-serva. O trabalho preventivo, esclareceAlice, será realizado não só com a possívelvítima, que é a mulher, mas também coma família. “A lei não trata apenas da mu-lher, mas dos familiares também. É umalei de combate à violência doméstica e fa-miliar. Inclusive, o próprio agressor é atornesse processo, no sentido de merecer aatenção das ações desenvolvidas para efe-tivação da lei”, pondera a promotora.

O primeiro passo para a implantaçãodos núcleos será a aquisição de equipa-mentos e o desenvolvimento de um ca-dastro nacional, com dados sobre casosde violência doméstica e familiar contra amulher, numa ação de gestão do conheci-mento. Esse cadastro será importante pa-ra monitorar os casos de violência regis-trados em Goiás, notadamente no âmbitodas comarcas que vão abrigar os primei-ros núcleos. Ele servirá ainda para subsi-diar a adoção de ações preventivas pelosórgãos envolvidos na proteção à mulher.

Outra ação será a qualificação dospromotores e servidores que atuarão nosnúcleos, com o intuito de humanizar as in-tervenções judiciais e extrajudiciais na bus-ca da proteção integral da mulher em si-tuação de violência. Há também a previ-são de contratação de estagiários em áreasmultidisciplinares, como assistência social,psicologia etc. Serão realizadas, ainda,campanhas educativas, com a distribuiçãode material adequado ao esclarecimentoda comunidade, da vítima e família. O ma-terial está sendo produzido pelo MP, pormeio do CAO Criminal e da ESMP, e serádistribuído durante as inaugurações dosnúcleos, além de escolas e demais eventos.

Segundo o coordenador do CAOCriminal, José Carlos Miranda Nery Jú-nior, após a prestação de contas da estru-turação dos três núcleos em Goiás, a in-tenção é propor ao Ministério da Justiça aampliação do convênio, com a instalaçãode núcleos em Anápolis, Trindade, Sena-dor Canedo, Bela Vista, Itumbiara, RioVerde, Jataí, Morrinhos, Goianira, Pora-gantu, Águas Lindas, Formosa, Cidade

Ocidental e Planaltina. Para ele, mesmo sea ampliação desse acordo de cooperaçãonão for possível, os três núcleos que vãofuncionar em Goiás poderão servir deexemplo para que as promotorias de co-marcas do interior possam promoverações preventivas de combate à violênciadoméstica e familiar, bem como de divul-gação das políticas públicas de defesa damulher e proteção integrada à família.

Para a implantação dos núcleos, foifirmada, até o momento, a parceria com oMinistério da Justiça, que vigorará até

2010, podendo ser alterada mediante ter-mo aditivo. Foi essa parceria que viabili-zou o repasse de recursos para a instala-ção das três unidades em Goiás. A pro-motora Alice Freire, que elaborou o pro-jeto, detalha que o convênio possibilita arealização de outros acordos no desenvol-vimento das ações. “Em Aparecida deGoiânia, por exemplo, o núcleo terá a par-ceria do município na construção de umabrigo para as vítimas de violência domés-tica e familiar. O prefeito Maguito Vilela jáautorizou a concessão de um terreno paraa construção desse abrigo”, revela.

O MP dialoga com outras instituiçõespara agregar parceiros ao projeto. O Tri-bunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) é umadelas. O procurador-geral de Justiça,Eduardo Abdon Moura, encaminhou ofí-cio ao presidente do TJ, desembargadorPaulo Teles, solicitando a instalação de jui-zados especiais de violência doméstica efamiliar nos locais onde serão instaladosos núcleos – a proposta está em discussão.Outro órgão que deverá integrar o proje-to é a Secretaria de Estado de Políticas pa-

ra Mulheres e Promoção da IgualdadeRacial (Semira), com o qual o MP já sereuniu algumas vezes.

Segundo pesquisa realizada pelo Ibo-pe/Instituto Patrícia Galvão, encomenda-da pelo Instituto Avon, em três anos, cres-ceu em 4 pontos porcentuais o númerode pessoas que conhece ao menos umamulher que sofre agressões de seu parcei-ro. Em 2006, eram 51%, e agora, em2009, são 55%. Com o título de “Percep-ções sobre a Violência Doméstica contraa Mulher no Brasil”, a pesquisa mostrouainda que o alcoolismo aparece em pri-meiro lugar na lista das possíveis causasdas agressões contra a mulher.

Do total de 2 mil pessoas entrevista-das em todo o Brasil em fevereiro desteano, 78% afirmaram que conhecem a LeiMaria da Penha. Outro número reveladopela pesquisa: 17% dos entrevistadosacreditam que as mulheres não abando-nam o companheiro agressor por medode serem mortas.

Audiência pública sobre Núcleo Maria da Penha emAparecida de Goiânia: município vai colaborar com projeto

Secretária de Políticas para Mulheres, Denise Carvalho(primeira à esq.), participa de reunião no MP: parceria

ENTENDA>A Lei nº 11.340, em vigor desde2006, criou mecanismos para

coibir a violência doméstica e familiarcontra a mulher, determinando ainstalação de varas especializadas emedidas de proteção e assistência àsmulheres, entre outras questões.

O que é a Lei Maria da Penha?

Arthur Felício

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Dados do Ministério da Justiça re-velam que existem mais de 250rotas nacionais e internacionais

de tráfico de pessoas no Brasil, relaciona-das, principalmente, ao cárcere privado, àexploração sexual e ao trabalho escravo.Para tentar mudar essa realidade, estãosendo implantados em todo o País oschamados Núcleos de Enfrentamento aoTráfico de Pessoas. Goiás foi um dos Es-tados (são seis ao todo) que passaram acontar, em 2008, com estrutura própriapara contribuir nas ações de prevenção enas políticas públicas de amparo e atendi-mento às vítimas desse tipo de crime,bem como na repressão.

O Núcleo de Enfrentamento ao Trá-fico de Pessoas (NETP) iniciou suas ativi-dades no Estado em dezembro do anopassado, com sua instalação no edifício-se-de do Ministério Público. E desenvolveum plano de ações para 2009. Resultadode um convênio firmado entre o MP e oMinistério da Justiça, o núcleo está sob acoordenação do promotor de Justiça Sau-lo de Castro Bezerra e conta ainda com aatuação de duas servidoras: uma técnicajurídica e uma assessora especial, com for-mação em relações internacionais.

O convênio firmado entre as institui-ções prevê o repasse anual de R$ 100 milpara o funcionamento do núcleo. Umadas primeiras ações em Goiás foi a buscade parceria com órgãos públicos e orga-nizações não governamentais (ONGs).Integrantes do MP estadual e das mais de39 entidades parceiras, como Polícias Fe-deral, Militar e Civil, Ministério PúblicoFederal, Ministério Público do Trabalho,Abin, poderes Legislativo, Executivo eJudiciário, entre outras, formam o Cole-giado do NETP, que se reúne toda pri-meira terça-feira de cada mês, nas chama-das “reuniões ordinárias”, para discutirações de prevenção, atendimento e com-

na região e os programas de assistência so-cial em que as vítimas do tráfico podemser incluídas. “Vamos contar com o apoiotambém da Assembleia Legislativa e deCâmaras Municipais, para que nos infor-mem sobre a existência de leis ou projetosde lei no sentido de amparar as vítimas dotráfico de pessoas”, acrescenta Saulo.

Uma das preocupações do núcleotem sido exatamente a falta de programasde apoio às vítimas desse tipo de crimeno Estado, observa o promotor. “Quan-do tiramos trabalhadores flagrados nacondição de escravos do meio rural, nãotemos um local para os levarmos nem pa-ra passar um dia sequer. O mesmo ocorrecom a mulher levada para a prostituiçãono exterior”, lamenta.

PREVENÇÃO E REPRESSÃO Com o desenho do mapa do tráfico

interno e externo de pessoas em Goiás, oNETP definirá ações de prevenção em to-do o Estado. Saulo de Castro já adiantaque elas serão realizadas de forma pontuale segmentada, e que a linguagem adotadaserá diferente para cada público trabalha-do. “Serão diferentes pessoas e diferentesmensagens, porém, o conteúdo e os obje-tivos serão os mesmos. É preciso mostraràs pessoas que as promessas de mudançade vida repentina, com pouco trabalho emuito dinheiro, não são reais”, explica.Para isso, reforça, será fundamental aparticipação da população.

O levantamento permitirá ainda in-tensificar as medidas de repressão e res-ponsabilização penal, principalmente noslocais de maior incidência do tráfico depessoas, com a execução de ações pon-tuais e de forma mais eficiente. Está pre-visto ainda a instalação de postos de aten-dimento no Aeroporto Internacional deGoiânia e em terminais rodoviários dedeterminados municípios goianos.

bate ao tráfico de pessoas. No encontrode junho, o MP apresentou aos parceirosos resultados do 1º Colóquio – Tráfico dePessoas em Goiás, evento realizado emmaio (confira texto nesta página). Tambémforam formalizadas mais duas coopera-ções: com a Secretaria de Segurança Pú-blica de Goiás e com a Pastoral do Imi-grante. Nos primeiros encontros, ficoudefinido que o núcleo atuará em três fren-tes – prevenção, atendimento às vítimas eno enfrentamento à exploração sexual,tráfico de crianças, de órgãos e de pessoas

em condições análogas à escravidão. Entre as ações em andamento estão a

elaboração de um regimento interno, a or-ganização de um 2º Colóquio e a definiçãode um plano de divulgação de uma campa-nha nacional de enfrentamento ao tráficode pessoas, que ainda está sendo concebida.

MAPEAMENTO Uma ação realizada é o levantamento e

diagnóstico da realidade do tráfico externoe interno em Goiás, numa parceria das ins-tituições estaduais e municipais. De acordo

com o promotor Saulo Bezerra, todas asentidades foram contactadas para o enviode dados sobre as políticas públicas adota-das em cada município. O levantamentofeito por meio de um formulário, com amontagem de uma base de dados, e, a partirde setembro, será formatado em um docu-mento pelo MP.

Com as informações, será possívelidentificar em quais locais há tráfico depessoas, seja para a exploração sexual outrabalho escravo, a proporção em que issoocorre, as ações de prevenção promovidas

GOIÂ NIA, SETEMBRO/OUTUBRO DE 20095

Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico dePessoas vai priorizar atuação preventiva

Reuniões ordinárias do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas são realizadas mensalmente e contam com a participação,entre outros, de policiais federais (ao centro); realização do 1º Colóquio (foto à dir.) foi uma das ações do primeiro semestre

Coordenador do NETP, promotor Saulo de Castro Bezerra discursa na abertura do 1º Colóquio

Colóquio dá início a ações de capacitaçãoO Ministério Público, por meio do

Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico dePessoas em Goiás (NETP), realizou nosdias 28 e 29 de maio, na sede da instituição,o 1º Colóquio – Tráfico de Pessoas no Es-tado de Goiás. O evento reuniu mais de100 pessoas, previamente inscritas, queparticiparam de debates sobre a área deatuação do núcleo, com a intenção deidentificar as vítimas, a melhor forma deatendê-las e estabelecer ações preventivas.

Os temas foram expostos por profis-sionais renomados da área, como o pro-

curador da República em Goiás Daniel deResende Salgado; a presidente da Asso-ciação Brasileira de Defesa da Mulher, daInfância e Juventude (Asbrad), Dalila Eu-gênia Maranhão; a coordenadora do Co-mitê Estadual de Enfrentamento ao Trá-fico de Pessoas de Mato Grosso do Sul,Estela Márcia, e a coordenadora-geral doCentro de Apoio Humanitário à Mulher,Maria Jaqueline de Sousa Leite.

As palestras integraram a programa-ção de atividades do núcleo para o pri-meiro semestre e serviram como capaci-

tação dos integrantes do projeto. “Trou-xemos pessoas que já têm experiênciacomprovada no assunto para promover acapacitação de todos os membros quevão atuar nas três vertentes do núcleo:prevenção, atendimento e repressão”,destaca o coordenador do NETP, Saulode Castro Bezerra. Foram convidadosainda a participar do colóquio represen-tantes das cidades com maior incidênciade casos de aliciamento de vítimas, comomunicípios do Entorno do Distrito Fede-ral e do médio norte goiano.

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Que paralelo há entre aatuação como promotor nu-ma comarca de entrância in-termediária e a coordenaçãode um Centro de Apoio Ope-racional?

São perspectivas bem diferentes.Na Promotoria de Justiça de Iporá,atuava como órgão de execução e nor-teava as minhas ações com base nasnecessidades locais ou, quando muito,de acordo com a necessidade da re-gião. No Centro de Apoio Operacio-nal Criminal, o foco passa a ser a reali-dade comum do Estado, com suas pe-culiaridades e a atuação voltada maispara a elaboração e implementação deações e projetos direcionados ao cum-primento das metas institucionais.

De que forma sua expe-riência no interior poderácontribuir para o trabalho noCAO Criminal?

Atualmente, a maioria dos promo-tores de Justiça trabalha no interior,onde é comum a atuação cumulativaem várias áreas, o que torna o desafiode atingir as metas institucionais aindamais complicado. O conhecimentodesta realidade é importante para pla-nejar a forma de atuação de modo aconferir efetividade às ações. Por outrolado, vou tentar aproveitar a experiên-cia de sempre ter trabalhado na áreacriminal, com atribuição em todas asfases da persecução penal, inclusive nocontrole externo da atividade policial,para a realização das atividades doCentro de Apoio.

Qual o principal desafioem assumir o CAO Criminaldo MP de Goiás?

São vários os desafios. O princi-pal deles, acredito, é conseguir dar osuporte técnico e operacional neces-sário para que os colegas com atua-

ção na área criminal possam atingir,efetivamente, o objetivo institucionalde reduzir os índices de criminalidadeno Estado de Goiás, estabelecidodentro Planejamento Estratégico2009/2022 e no Plano Geral deAtuação (PGA) 2009. Alcançar esteobjetivo não é tarefa fácil, pois sãonecessárias ações que vão muito alémda obtenção, ainda que célere e efi-caz, da prestação jurisdicional. Não éà toa que, no planejamento estratégi-co, estão previstas iniciativas que vãodesde o diagnóstico das causas da cri-minalidade até a implementação to-dos os preceitos da Lei de ExecuçãoPenal nas comarcas do Estado.

O que foi planejado para

o combate à criminalidade?A redução dos índices de crimi-

nalidade é tarefa complexa, que de-pende de inúmeras ações. Por outrolado, temos que dar um passo de ca-da vez e definir prioridades. Os dadoscolhidos no Centro de Apoio de-monstram que os índices de reinci-dência criminal no Estado são alar-mantes. Tenho algumas ideias volta-das para a melhoria do sistema deexecução da pena, principalmente so-bre a questão da reinserção do reedu-cando no meio social. Essas ideias jáestão se materializando em projetosque serão apresentados e discutidoscom os colegas, antes de serem im-plementados. Existe a preocupaçãode construir projetos que se adequem

à realidade de cada região, e que te-nham objetivos mensuráveis, a seremalcançados dentro de um tempo deexecução determinado.

Esse planejamento tam-bém inclui a construção deparcerias?

O fortalecimento das alianças tam-bém é objetivo estabelecido no Plane-jamento Estratégico. No Centro deApoio, já existem alguns projetos emandamento voltados para o trabalhoem parceria, como é o caso do Parcei-ros da Paz. Estabelecer parcerias comoutras instituições e com a sociedade, eatuar de forma coesa internamente sãopassos necessários, acredito, para o su-cesso das ações a serem desenvolvidas.

Qual a importância dotrabalho realizado pelo CAOCriminal para o MP e para asociedade?

A importância do CAO Criminal,seja para o próprio Ministério Público,seja para a sociedade, é facilmente ex-traída das suas atribuições legais; afinal,lhe compete a construção de políticasde atuação institucional na área da se-gurança pública, uma das mais impor-tantes para o equilíbrio social, o forne-cimento de subsídios técnicos e jurídi-cos necessários para a atuação dos pro-motores e procuradores de Justiça, amanutenção de contato e intercâmbiocom outros órgãos e com a inciativaprivada para consecução dos objetivosinstitucionais, entre outros.

6 GOIÂ NIA, SETEMBRO/OUTUBRO DE 2009

> ENTREVISTA ~ JOSÉ CARLOS MIRANDA NERY JÚNIOR

Redução dos índices de criminalidadeé o grande desafio do CAO CriminalC oordenador do Centro de Apoio Operacional (CAO) Criminal e do Controle Externo

da Atividade Policial do Ministério Público de Goiás, o promotor de Justiça JoséCarlos Miranda Nery Júnior conta com uma equipe técnica formada por nove

servidores, além de dois Núcleos de Apoio Técnico (NAT’s) – um com atuação específica naárea criminal e outro para a área do controle externo da atividade policial, cada um composto

por três promotores de justiça. Titular da 1ª Promotoria de Justiça de Iporá desde 2002, José Carlos aceitou o convite doprocurador-geral de Justiça, Eduardo Abdon Moura, para coordenar o Centro de Apoio, funçãoque exerce desde 20 de abril. Nesta entrevista, o promotor José Carlos fala sobre as atividadesassumidas com a coordenação do CAO Criminal e os principais projetos em andamento. Confira.

“Os dados colhidosno Centro de Apoiodemonstram que

os índices dereincidência

criminal no Estadosão alarmantes”

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GOIÂ NIA, SETEMBRO/OUTUBRO DE 20097GIRO MP>

PERDIGÃO ENTREGA LEVANTAMENTO DE DADOS E IMAGENS DO SUDOESTE GOIANO A Perdigão Agroindustrial S/A apresentou ao Ministério Público, em 29 de julho, oresultado final do levantamento de dados do município de Rio Verde e de imagens daRegião Sudoeste de Goiás (foto). O material foi entregue por representantes da empresa àcoordenadora do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente, Sandra MaraGarbelini, e ao promotor de Justiça Lúcio Cândido de Oliveira Júnior. Os dadosapresentados atendem a uma das obrigações estabelecidas em termo de ajustamento deconduta (TAC) firmado em outubro de 2007 entre o MP e a Perdigão, como forma decompensação pelos danos ambientais provocados pela empresa com o despejo irregularde material de origem animal no Córrego Abóbora. Conforme apurado pela 6ªPromotoria de Justiça de Rio Verde, a poluição causou riscos potenciais à saúde pública eao meio ambiente. A empresa admitiu as responsabilidades ambiental, civil eadministrativa decorrentes do lançamento dos poluentes e assumiu uma série deobrigações para contornar os danos. A aquisição de imagens de satélite de toda a regiãoSudoeste do Estado, o cadastramento, demarcação e qualificação das propriedades ruraisde Rio Verde e a identificação e delimitação das Áreas de Preservação Permanente (APPs)e de Reserva Legal (RL) averbadas nas propriedades rurais foram algumas das açõesprevistas no TAC e realizadas pela empresa NHL, de engenharia e geotecnologia,contratada pela Perdigão. O trabalho contempla toda a hidrografia de Rio Verde, APPs domunicípio e por propriedade, as Reservas Legais da região, levantamento dos proprietáriosrurais, além das imagens por satélite de todo o Sudoeste do Estado. Segundo SandraGarbelini, o mapeamento, inédito em Goiás, fornecerá uma importante base de dadospara a atuação do MP na área ambiental, devendo ser compartilhado com outros órgãospara que a sociedade goiana possa ser beneficiada com as informações do estudo.

ACORDOS BUSCAM COIBIR ABUSOS EM EMPRÉSTIMOS PARA SERVIDORESO MP e o Município de Goiânia firmaram, em 22 de julho, termo deajustamento de conduta (TAC) para regularizar os empréstimosconsignados em folha dos servidores da Prefeitura (na foto, opromotor Érico de Pina Cabral e o diretor do Procon municipal, JosuéGouveia). A medida prevê, entre outras obrigações, a divulgação darelação de taxas das financiadoras conveniadas no site daadministração municipal, a recusa de autorização para empréstimos seas prestações ultrapassarem 30% da remuneração e forem superioresa 48 meses, e o compromisso de negociar a menor taxa de juros emfavor dos servidores. O Município de Goiânia tem 60 dias para seadequar. Com o o objetivo de ampliar a atuação preventiva emrelação aos consignados em todo o Estado, o Centro de ApoioOperacional do Consumidor enviou minutas de TACs similares aospromotores de 120 comarcas, com sugestão para adoção da medida.Neste sentido, o promotor Márcio Lopes Toledo já conseguir celebraracordos com os municípios de Rio Verde, Castelândia e Montividiu.

A Comissão Especial Temporáriado Senado instituída para examinar oprojeto de lei de reforma do Código deProcesso Penal realizou audiência pú-blica sobre o tema em Goiânia, no dia20 de agosto, no auditório do Ministé-rio Público de Goiás. Presidida pelo se-nador Demóstenes Torres e integradaainda pelos senadores Renato Casa-grande (relator) e Romeu Tuma, a co-missão ouviu a opinião de especialistasde diversas áreas dentro do campo jurí-dico, incluindo promotores de Justiça,advogados, delegados de polícia, juízes,professores, procuradores do Estado,entre outros, sobre as propostas de mu-danças contidas no anteprojeto elabo-rado por uma comissão de juristas eque se converteu no Projeto de Lei nº156/09. O objetivo do texto legal é fa-zer a atualização das normas proces-suais penais brasileiras, que datam de1941, para corrigir suas distorções e as-segura meios para tornar mais rápidasas decisões judiciais. O MP brasileiro,conforme proposta do procurador-ge-ral de Justiça de Goiás, Eduardo AbdonMoura, deverá entregar à comissão umdocumento único com as sugestões pa-ra melhoria do projeto de lei.

AUDITÓRIO DO MPSEDIA AUDIÊNCIAPÚBLICA SOBREREFORMA DO CPP

A Comissão Nacional de Apoio àsPenas e Medidas Alternativas (Conapa)divulgou em julho o texto final da Car-ta de Goiânia, documento que contémas conclusões e proposições dos deba-tes e reflexões ocorridos no V Con-gresso Nacional de Execução de Penase Medidas Alternativas (V Conepa),realizado em maio na capital goiana eque reuniu mais de mil congressistas. ACarta de Goiânia possui as moções deapoio aprovadas no congresso, as pro-postas específicas definidas a partir dasdiscussões nas oficinas temáticas, alémdo texto-base sobre execução penal al-ternativa no País. O texto-base foiapresentado em agosto na 1ª Conferên-cia Nacional de Segurança Pública(Conseg), dentro do eixo dedicado aosistema penitenciário.

CARTA DE GOIÂNIACOM CONCLUSÕES EPROPOSIÇÕES DO VCONEPA É DIVULGADA

O procurador-geral de Justiça,Eduardo Abdon Moura, encaminhourecomendação ao governador AlcidesRodrigues para a adoção de medidasvisando à substituição do sistema detecnologia da informação do Detran. Aorientação se fundamenta eminvestigações realizadas pelo MP, emparceria com a Secretaria da Fazenda,que constataram a precariedade e avulnerabilidade do sistema deinformática instalado no órgão, o quepossibilita a prática de inúmeras fraudespela utilização de senhas de acesso. Otrabalho de investigação do MP teveinício após denúncia de servidor doDetran, que verificou a ocorrência debaixas irregulares de veículos alienados.Segundo Eduardo Abdon, além dosprejuízos à moralidade pública, oEstado também perde recursosfinanceiros com este tipo de fraude. Narecomendação, o procurador-geralafirma que é possível evitar as fraudescom a modernização do sistema detecnologia da informação, o que já foifeito em outros Estados. Ele cita oexemplo do Detran do Distrito Federal,que teve um aumento de 30% naarrecadação de tributos no mês seguinteà instalação de uma sistema mais seguro.Caso a recomendação seja acolhida pelogovernador, o MP propõe aformalização de um compromisso deajustamento das ações, com a intençãode acabar com o problema o maisrápido possível.

FRAUDES LEVAM MP A RECOMENDARTROCA DO SISTEMA DEINFORMÁTICA DO DETRAN

Fabrizio Franco

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Um menino, um computador e o mundoCristina Rosa, de Padre Bernardo

Obrilho no olhar e o sorriso fácil daconquista não saem do rosto infantilde Alexandre Trindade Brito. Aos

10 anos, ele foi o grande vencedor do concur-so de redação sobre segurança pública pro-movido pelo Ministério Público de Goiás e,no dia 29 de junho, esteve na sede do MP parareceber o prêmio. Um computador!

No universo simples de seu cotidiano, eletornou-se uma pequena celebridade. No dis-trito de Trajanópolis, onde mora com os paise dois irmãos, agora é conhecido como o ga-roto que ganhou o concurso de redação. Umafaçanha que, inicialmente, parecia impossível aum menino de apenas 10 anos, de escola pú-blica do interior e que concorreu com outras35 mil crianças.

O tema da redação, segurança pública, foiabordado por Alexandre a partir de notícias aque ele assiste diariamente pela televisão. Em-bora resida no Entorno de Brasília, a violêncianão faz parte do dia a dia do menino, comoele mesmo confirma. “Aqui é tranquilo, mastodo o dia vejo o que anda acontecendo poraí. Tem muita gente má”, responde.

Apesar da timidez, Alexandre revela queera um sonho ter um computador só seu. Oentusiamo, porém, não arranha a generosidade- ele garante que vai “dividi-lo” com os irmãos.

A ESCOLAQuem chega à Escola Municipal Diogo

Botelho, no distrito de Trajanópolis, perten-cente ao município de Padre Bernardo, perce-be que o garoto ganhou bem mais que umcomputador. As faixas destacando seu feitoestão espalhadas pelo prédio. Depois de vivera emoção da vitória em Goiânia, Alexandrenem pôde retornar direto para casa: foi levadopara a sede do município, onde ganhou recep-ção digna de celebridade.

Em termos de estrutura física, a escola es-tá longe do ideal. Traz nas paredes descasca-das, na falta de vidros em algumas janelas e nobanheiro interditado os sinais do desgaste. De

outro lado, conta com salas de aula arejadas,horta própria, biblioteca e uma quadra polies-portiva coberta, que serve tanto aos alunosquanto à comunidade. O diferencial, contudo,parece ser o que se revela somente depois dosmuros - as pessoas que ali trabalham.

A secretária Ivonete relata com satisfaçãoque foi no seu carro até Padre Bernardo, dis-tante de Trajanópolis cerca de 12 quilômetros,para enviar pelo correio as redações seleciona-das . A diretora, Mariza, também não poupouesforços para que os alunos pudessem estarem Goiânia no dia da premiação. Pediu ajudae conseguiu o transporte para percorrer os

240 quilômetros que separam a cidade da ca-pital - além de, é claro, estar à frente da escola.

A MÃE“Eu falo para os meus meninos: eles têm

que procurar nos livros para conhecer o mun-do lá fora.” A lucidez das palavras da mãe, Ro-sângela, dão uma boa ideia de onde vem o in-teresse de Alexandre. A simplicidade do am-biente da casa em nada se assemelha à articu-lação da mulher ao descrever a criação dos fi-lhos. Na sua rotina de dona de casa, a maiorparte do tempo é dedicada aos três rebentos.Além de Alexandre, Lucas, de 8 anos, e a ca-

çula Cláudia, 5, dividem as atenções da mãe. A exigência quanto ao aprendizado das

crianças não é via de mão única. Rosângela es-força-se igualmente nos estudos. Recentemen-te, fez um supletivo e completou o ensino mé-dio. Até arriscou o vestibular e foi aprovadapara Pedagogia numa faculdade de Padre Ber-nardo. “Mas agora que meu marido está de-sempregado, tenho que adiar este sonho.”

O pai, que é caminhoneiro, “é muito fe-chado”, como Alexandre define. A mãe com-pleta: “É mesmo. Ele é muito sério, mas, nodia em que Alexandre chegou de Goiânia, fi-cou bastante emocionado; não deu para es-conder”, conta.

O MENINODas brincadeiras, a preferida de Alexan-

dre é o futebol. No entanto, afirma que nuncapensou em ser jogador. Quando crescer, querser médico, “para ajudar as pessoas”.

Além da bola, a leitura é um de seuspassatempos preferidos. Hoje tem espetáculo:No país dos prequetés, de Ana Maria Machado,foi o livro de que mais gostou. Agora, terávárias opções. Alexandre mostra satisfeitoos livros que ganhou do MP, também comopremiação do concurso.

No quarto simples que divide com osdois irmãos, o menino mostra os presentesque já ganhou: uma escrivaninha, cadeira gira-tória, impressora e um curso de informática.Desde que retornou à cidade, recebeu tam-bém faixas de homenagem na escola, na praçacentral de Padre Bernardo, concedeu entrevis-tas para rádio e até para a televisão.

O ponto alto dessa jornada foi o dia 28de agosto, quando, finalmente, Alexandre e aprofessora de Português, Aline, receberam,de fato, o computador. A cerimônia foi umahomenagem ao garoto e a outros alunos daescola que participaram das Olimpíadas Es-colares de Goiás. Se é verdade que nossoolhar sobre o mundo muda o mundo, oolhar brilhante e determinado de Alexandre,com certeza, irá mudar ainda mais a vida delee de seus familiares.

Alexandre, o irmão Lucas (de boné), a mãe, Rosângela, e a irmã, Cláudia

Faixa na Escola Diogo Botelho destaca o feito de Alexandre

8 GOIÂ NIA, SETEMBRO/OUTUBRO DE 2009

> REPORTAGEM ESPECIAL

Fotos: Cristina Rosa Franco

Leia a íntegra da reportagem no site do MP-GO (www.mp.go.gov.br).