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Explorando Novas Prticas Organizacionais em Economia Solidria: Conceito e Caractersticas dos Bancos ComunitriosAutoria: sia Alexandrina Vasconcelos Duran Passos

Resumo Abordando a Economia Solidria como um campo plural de prticas organizacionais, composto por diversas experincias que se balizam no princpio da solidariedade, focamos nossa discusso em uma organizao de Finanas Solidrias, a saber, os Bancos Comunitrios. Desenvolvemos entre 2006 e 2007, no mbito do Mestrado Acadmico em Administrao, uma pesquisa sobre Bancos Comunitrios, cujo objetivo geral foi caracterizar os Bancos Comunitrios e compreender a forma como se sustentam. Podemos identificar o carter singular dessas experincias, que so compreendidas como servios financeiros solidrios em rede, de natureza associativa e comunitria, voltados para a gerao de trabalho e renda na perspectiva de reorganizao das economias locais, tendo por base os princpios da Economia Solidria. Desta forma, no presente artigo, nosso objetivo discutir o conceito de Banco Comunitrio, situando-o no campo das Finanas Solidrias, e caracteriz-lo, a fim de identificar o que o torna singular no campo onde se insere. 1 Introduo Diante da consagrao do neoliberalismo, percebemos que o capitalismo produziu uma massa de pobres e excludos como jamais se viu. Contudo, nem o Mercado e nem o Estado, pelos seus mecanismos econmicos e redistributivos tradicionais, conseguem equacionar os graves problemas sociais que o mundo enfrenta. Essa incapacidade de soluo estimula o surgimento de experincias que nascem do seio da sociedade civil sob a gide dos mecanismos de reciprocidade e do voluntarismo, que no possuem fins lucrativos e que pretendem trabalhar para a eliminao da excluso social e por uma cultura da solidariedade. Dentre essas experincias esto as organizaes que se enquadram no terceiro setor; as cooperativas e empresas autogestionrias; as organizaes filantrpicas; e os empreendimentos da Economia Solidria (MOURA E OUTROS, 2004). O MTE publicou em 2006 o Atlas da Economia Solidria no Brasil, com o resultado do primeiro mapeamento da Economia Solidria. Foram identificados 14.954 Empreendimentos Econmicos Solidrios (EESs), onde esto associados mais de 1 milho e 250 mil pessoas. O mapeamento mostrou que os EESs esto presentes em todos os estados brasileiros, embora com distribuio concentrada na regio nordeste - 44% (ATLAS..., 2006). Compreendemos a Economia Solidria como um campo de prticas organizacionais, plural, composto por diversas experincias que se balizam no princpio da solidariedade. A dificuldade de acesso ao crdito um dos principais problemas enfrentados por essas experincias e, por isso, buscar formas de financiar a Economia Solidria fundamental para a sobrevivncia das mesmas. As Finanas Solidrias esto hoje em pauta, tendo lugar, principalmente, entre os grupos de trabalho no mbito das redes e dos fruns de Economia Solidria. O termo Finanas Solidrias refere-se a um conjunto de experincias que, no mbito da Economia Solidria, contribui para a democratizao do sistema financeiro, priorizando os excludos do sistema bancrio tradicional, pautando-se na tica e na solidariedade e apontando para o desenvolvimento humano integrado e sustentvel. Dentre as diversas experincias, encontramos as cooperativas de crdito, as OSCIPs de Microcrdito, os Fundos Rotativos / Solidrios e os Bancos Comunitrios, sendo estes ltimos o foco do nosso estudo. Deste modo, assim como Silva Jnior (2004), entendemos os Bancos Comunitrios como uma forma de expresso da Economia Solidria, particularmente, das Finanas Solidrias. Em tais experincias podemos identificar claramente as caractersticas apontadas por Frana Filho e Laville (2004)(vide pgina 4), e outras que identificamos como especficas 1

dos Bancos Comunitrios, que tornam esta experincia singular em relao s outras no campo das Finanas Solidrias. O primeiro Banco Comunitrio no Brasil foi o Banco Palmas, inaugurado em Janeiro de 1998 em Fortaleza / CE. Inspirado nele, outras experincias foram se espalhando pelo Brasil, de modo que, em 2006, formou-se a Rede Brasileira de Bancos Comunitrios. No mbito do Mestrado Acadmico em Administrao, desenvolvemos uma pesquisa entre 2006 e 2007 a respeito de Bancos Comunitrios, sendo orientados pelo seguinte problema: O que so Bancos Comunitrios e como se sustentam? No desenvolvimento da pesquisa, buscamos caracterizar os Bancos Comunitrios e compreender a forma como se sustentam, sendo este nosso objetivo geral. Foram objetivos especficos da pesquisa: situar o Banco Comunitrio no campo das Finanas Solidrias; apresentar a Rede Brasileira de Bancos Comunitrios; apresentar o conceito de Banco Comunitrio; caracterizar o Banco Comunitrio, sua dinmica e forma de funcionamento, a partir de duas experincias: Banco Palmas / CE e Banco Bem / ES; e, levantar elementos para compreender como se d a sustentabilidade dos Bancos Comunitrios. Para alcanar tais objetivos, desenvolvemos um estudo exploratrio, acompanhando as atividades da Rede Brasileira de Bancos Comunitrios desde a sua criao e utilizando dois estudos de caso: o Banco Palmas (Fortaleza / CE), o primeiro Banco Comunitrio no Brasil, e o Banco Bem (Vitria / ES) ambos articulados Rede Brasileira de Bancos Comunitrios. Identificamos, no referido estudo, o carter singular dessas experincias e apontamos caractersticas que esto diretamente relacionadas forma como essas experincias se sustentam, sendo esta uma sustentabilidade plural, que se d na articulao de diversas dimenses - econmica, social, poltica, gesto, cultural e ambiental. A produo cientfica acerca de Bancos Comunitrios muito incipiente; so poucos os artigos, ensaios tericos e publicaes que refletem sobre essas experincias. Posto isso, no propomos aqui a expor algumas discusses da nossa pesquisa. Silva Jnior (2006) apontou anteriormente para a necessidade de uma sistematizao conceitual acerca de Bancos Comunitrios e, nesse sentido, nosso objetivo no presente artigo discutir o conceito de Banco Comunitrio, situando-o no campo das Finanas Solidrias, e caracteriz-lo, a fim de identificar o que o torna singular no campo onde se insere. Deste modo, o texto est dividido em seis partes, alm desta introduo. Na prxima seo, lanamos um olhar sobre o fenmeno da Economia Solidria, caracterizando os EES. Em seguida, apresentamos brevemente o campo das Finanas Solidrias, traando limites entre Microfinanas, Microcrdito e Finanas Solidrias. Na quarta seo do artigo, contextualizamos o surgimento dos bancos comunitrios no Brasil e sua expanso, apresentando a Rede Brasileira de Bancos Comunitrios. Na quinta seo discutimos o conceito e as caractersticas dos bancos comunitrios, e, na penltima seo, discutimos alguns elementos para a construo de um marco terico-analtico acerca dessas experincias. Resta ainda a seo final, onde expomos nossas ltimas consideraes. 2 A Economia Solidria como um Campo de Prticas Organizacionais Conforme Moura e Meira (2002), na prtica, o termo Economia Solidria identifica diversas experincias de carter econmico baseadas em novas e antigas formas de solidariedade, que podem estar fundadas em perspectivas diferenciadas: alternativa problemtica do desemprego e da excluso social, modelo alternativo ou diferenciado do capitalismo e / ou utopia experimental da vivncia de novas formas de sociabilidade e de valores relacionados chamada Nova Era, expressando uma possibilidade de interao entre o trabalho e o modo de ser cuidado. Essas experincias podem assumir diversos formatos organizacionais, tais como: cooperativa, empresa autogestionria, rede e outras formas de associao para produo e / ou aquisio de produtos e servios. 2

Compreendemos Economia Solidria como campo complexo formado por diferentes iniciativas. Frana Filho (2006) distingue nesse campo trs modalidades principais: Entidade de Apoio e Fomento (EAF), Formas de auto-organizao poltica e Empreendimento Econmico Solidrio (EES). Segundo Frana Filho (2006), as EAFs desempenham um importante papel na estruturao desse campo. Trata-se de organizaes que suportam os EESs atravs de capacitao, orientao, financiamento, parcerias, elaborao de projetos, assessoria gesto e comercializao, alm da divulgao do movimento. O autor destaca nesse segmento a atuao da Critas,i das ITCPsii e da ADSiii. Ao tratar de Formas de auto-organizao poltica, Frana Filho (2006) se refere a espaos de articulao, citando como exemplos as redes e os fruns de Economia Solidria. No contexto brasileiro, no h dvidas de que a RBSES exerceu, e ainda exerce, um papel de destaque. Atualmente, o FBES seja no nvel estadual ou nacional - tem aglutinado um maior nmero de participantes. Nessa forma de organizao, participa tambm o poder pblico; nesse caso, a Secretaria Nacional de Economia Solidria do Ministrio do Trabalho e Emprego (SENAES / MTE) desempenha importante papel. Se, de um lado, a RBSES articula os EESs, o Frum se constitui num espao onde esto representados os mais diversos atores: EAF, universidades, pesquisadores, ONGs, gestores pblicos, etc. Por fim, a terceira modalidade apontada, os EESs so [...] as iniciativas que operam a economia solidria na ponta (FRANA FILHO, 2006, p. 60). Podemos afirmar que esta a modalidade mais importante, sendo confundida ela mesma com a Economia Solidria, posto que so a razo de tudo; as outras duas modalidades existem em funo desta. Eles podem assumir diversos formatos como clubes de troca, cooperativas populares, associaes ou empresa autogestionria. Dentre os EESs, Frana Filho (2006) situa as experincias de Finanas Solidrias, sob a denominao genrica de bancos populares:Encontramos, no universo brasileiro, um nmero em franca expanso de iniciativas de finanas solidrias sob a denominao genrica de bancos populares. Trata-se, na maior parte dos casos, de cooperativas de crdito que generalizam a prtica do microcrdito para as pequenas iniciativas de organizaes coletivas populares. Estas iniciativas de finanas solidrias contam, em geral, com apoios institucionais, seja da parte dos poderes pblicos, seja proveniente da prpria sociedade civil atravs da ao de algumas ONGs (FRANA FILHO, 2006, p. 61).

2.1 Caracterizao: Alguns Critrios para identificao de EES Designar com clareza o que ou no Economia Solidria no tarefa fcil. Frana Filho e Laville (2004) do uma importante contribuio nesse sentido, traando critrios para a definio de organizaes que se situam no mbito da Economia Solidria: a) Pluralidade de princpios econmicos as experincias de Economia Solidria tendem a articular distintas fontes de recursos: mercantis (atravs da venda ou prestao de servios mediados pelo mercado); no mercantis (atravs das vrias formas de subsdios e subvenes provenientes de organizaes governamentais e no-governamantais); e no monetrios (obtidos atravs de prticas reciprocitrias, como a ajuda mtua, o trabalho voluntrio, as redes de troca e as doaes). b) Autonomia institucional as organizaes de Economia Solidria guardam independncia em relao a outras instituies, evitando, assim, formas de controle externo e assumindo uma gesto autnoma, que no exclui, no entanto, relaes de interdependncia; c) Democratizao dos processos decisrios nesse tipo de organizao, os mecanismos de deciso so [...] coletivos baseados no ideal de participao democrtica dos seus associados (FRANA FILHO; LAVILLE, 2004, p. 168); d) Sociabilidade comunitrio-pblica Segundo Frana Filho e Laville (2004), as 3

organizaes de Economia Solidria combinam, em suas relaes, padres comunitrios com prticas profissionais; e) Finalidade multidimensional Esse critrio indica que, ao lado da dimenso econmica, a organizao internaliza uma dimenso social, cultural, ecolgica e poltica, no sentido de projetar-se num espao pblico. (FRANA FILHO; LAVILLE, 2004, p. 169). Logo, essas organizaes possuem vrias finalidades, que inclusive no se limitam a atender as questes de seus membros, mas esto voltadas para resolues de questes que envolvam o territrio ao qual pertencem. Alm dessas caractersticas, Azevedo e Bandeira (2003) destacam a insero cidad das iniciativas, ou seja, respeito ao consumidor e ao meio ambiente e participao ativa na comunidade em que est inserida, que vai ao encontro de Frana Filho e Laville (2004). No entanto, ao falar da finalidade multidimensional e da projeo no espao pblico, Frana Filho e Laville (2004) se referem atuao da organizao, enquanto que a insero cidad de que Azevedo e Bandeira (2003) tratam refere-se a cada indivduo como ator social, seu desenvolvimento e emancipao atravs da organizao. Para Singer (2000; 2005), a autogesto um elemento fundamental na caracterizao das experincias de Economia Solidria. E, embora Frana Filho e Laville (2004) falem em Democratizao dos processos decisrios, entendemos que gesto democrtica e autogesto no so sinnimos, j que a primeira pode se dar em diversos nveis, conforme apresentado por Canado (2004)iv. Deste modo, preferimos usar o termo autogesto para caracterizar o modelo de gesto praticado nas organizaes situadas no mbito da Economia Solidria. Isso posto, temos alguns elementos que nos permitem caracterizar as organizaes que situadas no campo da Economia Solidria. Tal caracterizao nos permitir mais adiante distinguir o Banco Comunitrio de outras formas de democratizao de crdito, confirmandoo como expresso legtima da Economia Solidria. 3 Entre a Democratizao do Sistema Financeiro e a Economia Solidria: as Finanas Solidrias Conforme colocado na nossa introduo, percebemos Banco Comunitrio como uma forma de Finanas Solidrias, e, por isso, pretendemos apresentar brevemente esse segmento da Economia Solidria nesta seo. Observamos que os Bancos Comunitrios so associados a diferentes conceitos, por isso, pretendemos aqui esclarecer a que se refere as Finanas Solidrias, buscando diferenci-las das Microfinanas e do Microcrdito. Junqueira e Abramovay (2005) comentam que diversos termos so empregados para definir iniciativas que oferecem servios financeiros a populaes pobres, cujo objetivo principal alcanar aqueles que no interessam ao sistema financeiro tradicional:Podem-se citar o microcrdito, as microfinanas, as microfinanas descentralizadas, as microfinanas de proximidade ou ainda as finanas solidrias como os termos mais empregados para definir tais iniciativas. Esses termos so operacionalizados pelos bancos de desenvolvimento, pelas cooperativas de poupana e crdito, pelos bancos cooperativos e pelas instituies de microfinanas, algumas delas representadas pela chamada indstria das microfinanas. (JUNQUEIRA; ABRAMOVAY, 2005, p. 3)

A noo de finanas comumente est associada a uma dimenso monetria. Numa viso econmica, finanas inclui circulao de moeda, crdito, investimentos e servios bancrios. Coelho (2003) comenta que tal viso funcional, apresentando finanas como a cincia que trata da utilizao do dinheiro (custo, rendimento, captao, controle, proteo), excluindo os atores, o processo de intermediao e seus objetivos. Tal viso s seria superada com o surgimento das Microfinanas como alternativa para a populao sem acesso ao sistema financeiro tradicional (COELHO, 2003). O termo Microfinanas designa a oferta de servios financeiros para a populao de 4

baixa renda e / ou excluda do sistema financeiro tradicional (COELHO, 2003; PARENTE, 2002), e ainda, caracteriza-se por utilizar produtos, processos e gesto diferenciados (ALVES; SOARES, 2006, p. 28) para atingir seu pblico. Dentre os servios financeiros oferecidos, podemos citar: seguros, poupana, servios bancrios e Microcrdito. Diante desse conceito, Coelho (2003) identifica que as Microfinanas nascem com a idia de democratizao do recurso financeiro. No entanto, ele afirma que, distante de sua origem, as Microfinanas se limitaram a sistemas de pequenos crditos, ou seja, a um servio financeiro apenas, negligenciando os demais (embora tenham surgido como proposta de democratizao do sistema financeiro). Por isso, Microfinanas muitas vezes so tratadas como sinnimo de Microcrdito, posto que a sua prtica, de fato, limitou-se a isso, e a reside a ineficincia de sua proposta, posto que[...] o acesso ao crdito raramente se acompanha da possibilidade de uso do conjunto de servios que o sistema bancrio tem a vocao de oferecer. A transferncia de recursos creditcios acaba no se traduzindo numa dinmica de investimentos capaz de representar um salto qualitativo na luta contra a pobreza (ABRAMOVAY, 2003, p.2).

O termo Microcrdito, portanto, designa a oferta de crdito para a populao de baixa renda e / ou excluda do sistema financeiro tradicional. Microcrdito se refere a emprstimos de pequenos montantes de recursos (em geral, at U$ 500,00) (JUNQUEIRA; ABRAMOVAY, 2005, p. 3) e est menos associado concesso de emprstimo populao de baixa renda que a emprstimo concedidos a microempresas. Alves e Soares (2006) associam o Microcrdito ao empreendedorismo, e destacam a metodologia utilizada, marcada pela utilizao de agente de crdito, garantia solidria, prazos curtos e valores crescentes. Esta concepo de Microcrdito se d, dentre outros motivos, em virtude da disseminao do conceito de Microcrdito Produtivo Orientado (MPO), consolidado pela Lei 11.110, de abril de 2005 (ALVES; SOARES, 2006, p.29). Para Coelho (2003), o conceito de Finanas Solidrias resgata e amplia a idia inicial das Microfinanas, designando formas de democratizao do sistema financeiro que priorizam os excludos do sistema bancrio tradicional, pautados na tica e na solidariedade, e contribuindo para o desenvolvimento humano integrado e sustentvel. Trata-se de instrumentos financeiros que buscam a democratizao das relaes econmicas, em contraposio concentrao gerada pelo modelo capitalista. Segundo Coelho (2003), tais instrumentos devem responder a necessidades bsicas de cada comunidade, fortalecendo o trabalho social acumulado em cada territrio. As experincias de Finanas Solidrias so recentesv, tendo o setor se expandido no Brasil somente em meados dos anos 90. Para Coelho (2003), suas referncias principais so: Federao Nacional de Apoio aos Pequenos Empreendedores (FENAPE), PORTOSOL (Porto Alegre), VIVACRED (RJ) e o Banco de Braslia (BRB). Segundo Coelho (2003), o crescimento das Finanas Solidrias na dcada de 90 est associado a uma ruptura nos padres de pensamento poltico dos movimentos sociais, expressa no crescimento de organizaes econmicas de base, que pensam a democratizao no s no campo social, mas tambm no campo econmico e de mercado. Assim, as experincias de Finanas Solidrias vo contribuir para a construo de uma economia alternativa, indo alm do acesso ao mercado, discutindo a solidariedade no interior do processo produtivo e a democratizao das relaes econmicas. Alm disso, nas Finanas Solidrias, o elemento estruturante das relaes econmicas no o capital, e sim o trabalho individual, coletivo e social acumulado. Coelho (2003) destaca ainda uma particularidade dessas experincias, que reside na sua relao com a comunidade e com o desenvolvimento local. Segundo ele, a construo dos produtos financeiros alternativos passa, portanto, por uma dimenso de integrao 5

comunitria e territorial que a diferencia de uma viso de setor econmico de microfinanas (COELHO, 2003, p. 162). Em seguida, esclarece tal aspecto:A organizao de base popular constitui redes locais que, por relaes de vizinhana, pela histria comum do lugar e pela proximidade, constroem identidades territoriais e criam relaes de pertencimento. A consolidao e sustentabilidade destes grupos produtivos locais necessitam tanto criar elos com redes solidrias mais amplas como, tambm, constituir uma ambincia produtiva capaz de contribuir para a sustentabilidade destes grupos (COELHO, 2003, p. 163).

As Finanas Solidrias no dizem respeito, portanto, a todas as Instituies de Microfinanas, mas quelas pautadas na tica e na solidariedade, e que possuem em maior ou menor grau - as caractersticas apresentadas na seo anterior. Ento, quem opera Finanas Solidrias? A fim de destacar aqueles que seriam os principais atores, recorremos s discusses no mbito da I Conferncia Nacional de Economia Solidrias (CONAES), que nos parecem bastante representativas. No eixo temtico III Prioridades e estratgias de atuao para as polticas e programas de Economia Solidria e mecanismos de participao e controle social - esto as proposies relativas a Crdito e Finanas Solidrias. Na proposio 78 so elencadas as formas de Finanas Solidrias, que devem ser fortalecidas e expandidas para a criao do Sistema Nacional de Finanas Solidrias:Uma ao voltada democratizao do crdito dever valorizar iniciativas existentes na rea das finanas solidrias. No que se refere s agncias de financiamento, devem ser estimuladas as cooperativas de crdito, as OSCIPs de microcrdito, os bancos comunitrios, as fundaes pblicas e os fundos pblicos de desenvolvimento, alm dos fundos rotativos e os sistemas de moedas sociais circulantes locais, lastreados em moeda nacional (Real) e outros sistemas de moeda social como formas criativas de lastros. A democratizao do crdito e acessibilidade, pelos empreendimentos solidrios exige que se consolide e se amplie a presena de uma vasta rede destas organizaes pelo pas, criando um Sistema Nacional de Finanas Solidrias [...] (DOCUMENTO..., 2006, p. 19-20).

Dentre as expresses de Finanas Solidrias mencionadas, interessa-nos particularmente os Bancos Comunitrios, dos quais trataremos a seguir. 4 Bancos Comunitrios no Brasil: Surgimento e Expanso Nesta seo, situamos o surgimento e a expanso dos Bancos Comunitrios no Brasil, com a criao da Rede Brasileira de Bancos Comunitrios. Mais adiante, pautamo-nos em discusses no mbito desta Rede para discutir o conceito de Banco Comunitrio e seu marco terico-analtico. O primeiro Banco Comunitrio no Brasil foi o Banco Palmas, criado a 10 anos no Conjunto Palmeiras, em Fortaleza / CE. Ele um projeto da Associao de Moradores do Conjunto Palmeiras (ASMOCONP) e sua finalidade gerar emprego e renda e promover o desenvolvimento comunitrio atravs de instrumentos de Finanas Solidrias para estimular a produo e o consumo local. O Banco Palmas reconhecido como uma experincia de sucesso, tendo sua metodologia se espalhado e influenciado os demais. Ele referncia para as outras experincias e o principal responsvel pela difuso deste modelo, principalmente atravs de palestras, publicaes, oficinas e assessoria tcnica do Instituto Banco Palmas. O Instituto Banco Palmas de Desenvolvimento e Socioeconomia Solidria foi criado em 2003 com o objetivo de gerir o conhecimento e difundir as prticas do Banco Palmas, atuando na implantao e replicao da metodologia. Inicialmente, passou-se a discutir sua replicao em vrios municpios do Cear. A primeira replicao da metodologia ocorreu em setembro de 2004, quando o Instituto assessorou a criao do Banco Par no municpio de Paracuru, a 70 km de Fortaleza. Este foi o segundo Banco Comunitrio no Brasil, criado com as mesmas caractersticas do Banco Palmas (INSTITUTO..., 2006). 6

Em 2005, a SENAES / MTE firmou parceria com o Instituto para transferir a metodologia para outros municpios do Brasil, atravs do Projeto de Apoio Organizao de Bancos Comunitrios. Como fruto do projeto, foram implantados, s em 2005, mais quatro bancos e, ainda em 2005, mais nove bancos j estavam em fase de implantao. Alm disso, foram articuladas aes em quinze municpios e cinco estados brasileiros (SILVA JUNIOR, 2006). O Banco Palmas sempre foi referncia para os demais bancos implantados. Embora tenha sido o ponto de partida para a multiplicao da metodologia, aps anos de experincia, ele foi se tornando uma referncia cada vez mais distante da realidade dos outros, ainda em processo de implantao e consolidao. At 2004, o Banco Palmas era o nico Banco Comunitrio no Brasil; em 2005, eram seis. Ao longo do amadurecimento da metodologia e das reflexes em torno de sua replicao, surgiu a necessidade de apresentar um conceito de Banco Comunitrio; tal conceito deveria refletir aquilo que vinha sendo construdo nas prticas, para que servisse de referncia. Com este objetivo, o Instituto organizou uma oficina com a finalidade de discutir, a partir das experincias ento em curso, a concepo de Banco Comunitrio. Em se tratando de uma organizao comunitria, claro que seu formato, estrutura e instrumentos dependeriam do perfil da comunidade e de suas necessidades, mas era preciso discutir um DNA comum ou aquilo que os identificava enquanto Bancos Comunitrios. A I Oficina Metodolgica dos Bancos Comunitrios foi realizada em 14/01/06 com todos os Bancos Comunitrios em funcionamento ou em fase de implantao, atravs do Projeto de Apoio Organizao de Bancos Comunitrios. A oficina foi orientada a partir de trs perguntas-chave: O que caracteriza os Bancos Comunitrios, ou seja, quais seus produtos, processos, pblico-alvo etc.? Como os Bancos Comunitrios se distinguem de outras formas de democratizao de servios financeiros? Que contribuies e resultados os Bancos Comunitrios permitem alcanar que no podem ser alcanados por outras formas de democratizao de servios financeiros? So resultados deste encontro: a criao da Rede Brasileira de Bancos Comunitrios, uma cartilha sobre Bancos Comunitrios (que apresenta o conceito, as caractersticas bsicas e as experincias em curso) e um termo de referncia. Alm disso, foi iniciada uma discusso em torno de um marco terico-analtico. O II Encontro da Rede Brasileira de Bancos Comunitrios foi realizado no Cear, entre 18 e 21 de abril de 2007. Neste encontro foi discutido o marco terico-analtico de Banco Comunitrio (ver prxima seo), que vinha sendo elaborado pelo Prof. Genauto Carvalho de Frana Filho (FRANA FILHO, 2007), colaborador da Rede. Tambm foram levantadas as principais bandeiras e princpios da Rede, que devem orientar todas as experincias. Atualmente, a Rede Brasileira de Bancos Comunitrios encontra-se em fase de consolidao. Organizamos abaixo a cronologia dos fatos em torno da construo da Rede Brasileira de Bancos Comunitrios e, logo a seguir, o Quadro 1 sintetiza a atual constituio da Rede. 2003: Criao do Instituto Banco Palmas, que passou a replicar a metodologia inicialmente em outros municpios do Cear Setembro de 2004: Inaugurao do Banco Par, segundo Banco Comunitrio, fruto da atuao do Instituto Banco Palmas no municpio de Paracuru / CE 2005: Projeto de Apoio Organizao de Bancos Comunitrios (Instituto Banco Palmas e SENAES) - implantao de mais 4 Bancos Comunitrios: Banco Bassa e Banco Serrano, ambos no Cear, e ainda os bancos Bem e Terra, no Esprito Santo Janeiro de 2006: Oficina Metodolgica dos Bancos Comunitrios - discusso acerca do conceito de Banco Comunitrio e da formao da Rede, com a participao de 9 7

experincias Abril de 2006: divulgao da Cartilha de Bancos Comunitrios Abril de 2007: II Encontro da Rede de Bancos Comunitrios discusso acerca do marco terico-analtico e definio das bandeiras e dos princpios da RedeBanco Comunitrio Banco Palmas Quadro 1: Rede Brasileira de Bancos Comunitrios Entidade Territrio onde atua Circulante Inaugurao Responsvel (n hab) Local Jan/1998 Associao dos Moradores do Conjunto Palmeiras (ASMOCONP) Centro de Desenvolvimento Solidrio de Santa Luzia e Regio Frum dos Assentamentos de Santana do Acara Associao para o Desenvolvimento Sustentvel de Palmcia Nov/2005 Conjunto Palmeiras (30 000 hab) Palmas Municpio / Estado Fortaleza / CE

Banco Comunitrio Eco-Luzia Banco Bassa

Comunidade Santa Luzia (500 hab)

Trilha

Simes Filho / BA

Nov/2005

Todo o Municpio (26 Santana 000 hab) Todo o Municpio (10 Palmeira 000 hab)

Santana do Acara / CE Palmcia / CE

Banco Serrano

Dez/2005

Paju

Dez/2006 Associao dos Moradores da rea verde de Pajuara Fev/2007 Associao de Produtores Rurais e Arteso do Missi Mai/2006

Comunidade Pajuara Maracan (40 000 hab) Missi (3 000 hab) Ta

Maracana / CE Irauuba / CE

Bancart

ONG Banco dos Empreendedores CREDMACIO de Maranguape Bandesp Frum dos Assentados de Beberibe

Comunidade Prata Sapupara (3 000 hab)

Maranguape / CE

Em fase de implantao (Previso: Dez/07)

Todo o Municpio (18 Ab 000 hab)

Beberibe / CE

Banco Par

Associao Banco Set/2004 Par de Desenvolvimento e Economia Solidria Set/2006 Associao Comunitria para o Desenvolvimento do NE de Amaralina (ACODE) Comunidade Quilombola Em fase de implantao (Previso: Dez/07)

Boa Esperana e Riacho Doce (3 500 hab) Nordeste de Amaralina (100 000 hab)

Par

Paracuru / CE

Banco Guia (BG)

Atualmente sem moeda

Salvador / BA

Banco Comunitrio Quilombola

Comunidade Quilombolas em Alcntara

Guar

Alcntara / MA

8

Banco Pirapir Banco Bem

Mulheres em Movimento Associao de Arteso Ateli de Idias (Artidias) ONG MOVIVE

Jul/2006 Out/2005

Todo o Municpio (180 000 hab) 5 bairros e 3 comunidades na cidade de Vitria (31 000 hab) Barro Vermelho (10 000 hab)

Pirapir Bem

Dourados / MS Vitria / ES

Banco Terra

Nov/2005

Terra

Vila Velha / ES

Fonte: Elaborao prpriavi

5 Banco Comunitrio: Conceito e Caractersticas Tendo acompanhado alguns encontros e discusses da Rede, sistematizamos o conceito de Banco Comunitrio, suas caractersticas e o marco terico assumido pela Rede. Inicialmente, cumpre destacar que ainda incipiente a discusso terico-conceitual acerca de Bancos Comunitrios. Foi do Instituto Banco Palmas e da Rede Brasileira de Bancos Comunitrios a iniciativa de formulao desse conceito, que, em certa medida, se imps como uma necessidade para a replicao destas experincias. A discusso acerca de Banco Comunitrio amadureceu com a replicao da metodologia. O Banco Palmas deixou de ser o nico banco, de modo que olhar para o conjunto de experincias passou a ser imprescindvel para formular um conceito e definir as caractersticas centrais de um banco comunitrio. Conforme dito anteriormente, isso foi discutido na I Oficina Metodolgica dos Bancos Comunitrios e sistematizado na Cartilha Banco Comunitrio: Servios Financeiros Solidrios em Rede. Nesta cartilha, a Rede Brasileira de Bancos Comunitrios apresenta Bancos Comunitrios como servios financeiros solidrios em rede, de natureza associativa e comunitria, voltados para a gerao de trabalho e renda na perspectiva de reorganizao das economias locais, tendo por base os princpios da Economia Solidria. A seguir, comentamos este conceito e suas implicaes. a) servios financeiros solidrios... - Conforme discutimos anteriormente, servios financeiros no se limitam a concesso de crdito, podendo incluir servios bancrios, seguros e poupana. O conceito de Microfinanas sugere produtos, processos, gesto e metodologia diferenciados, tomando como referncia o sistema financeiro tradicional. No caso das Finanas Solidrias, onde se insere o Banco Comunitrio, trata-se de oferta de servios financeiros baseados na tica e na solidariedade (COELHO, 2003), representando uma legtima expresso de Economia Solidria, posto que este termo designa experincias de carter econmico baseadas em novas e antigas formas de solidariedade (MOURA; MEIRA, 2002). b) ...em rede - No caso do Banco Comunitrio, destaca-se que seu arranjo em forma de rede, isto , um conjunto de indivduos ou organizaes articulados, de forma democrtica e participativa, em torno de objetivos comuns. Rede uma palavra antiga, cuja raiz vem do latim retis, que quer dizer entrelaamento de fios, que formam uma espcie de tecido (LOIOLA; MOURA, 1996). Mance (2002) explica que a rede solidria um projeto de desenvolvimento ecolgica e socialmente sustentvel, que tem como objetivos gerar trabalho e renda, melhorar o padro de consumo, proteger o meio ambiente e construir uma nova sociedade, onde no haja explorao das pessoas ou degradao do equilbrio ecolgico: O objetivo da rede produzir tudo o que as pessoas necessitam para realizar o bem-viver de cada uma, de maneira ecolgica e socialmente sustentvel (MANCE, 2002, p. 83). c) natureza associativa e comunitria - A natureza associativa dos Bancos Comunitrios se expressa nos laos sociais estabelecidos. As atividades so desenvolvidas no prprio tecido das relaes sociais. No caso dos bancos, a aprovao 9

do crdito, por exemplo, depende da confiana e da relao de proximidade. Essas experincias tambm carregam em seu nome e conceito a idia da projeo no espao pblico explanada por Frana Filho e Laville (2004), ao caracterizarem um EES. Essa natureza se refere sua forma de atuao, voltada para o enfrentamento dos problemas locais. Se Coelho (2003) sugere que as Finanas Solidrias guardam estreita relao com o territrio, com a comunidade onde se insere, muito mais o Banco Comunitrio. d) voltados para a gerao de trabalho e renda na perspectiva de reorganizao das economias locais - O conceito de Banco Comunitrio, tambm chamado de Banco Comunitrio de Desenvolvimento, carrega uma dimenso importante, que se refere ao desenvolvimento da economia local; mais que isso, refere-se ao desenvolvimento local em suas diversas dimenses. Alm do Microcrdito, o Banco Comunitrio investe em diversas aes buscando movimentar recursos e aquecer a economia local, como moeda social circulante local, clubes de trocas, feiras, balco de emprego, dentre outras. Assim, segundo a Rede Brasileira de Bancos Comunitrios (2006), ele[...] assume um destacado papel de promotor do desenvolvimento local e da organizao comunitria, ao articular simultaneamente produo, comercializao, financiamento e capacitao da comunidade local (REDE..., 2006, p. 3)

A Rede Brasileira de Bancos Comunitrios (2006) tambm elenca as caractersticas bsicas de um Banco Comunitrio: criado e gerido pela prpria comunidade; Atua com linhas de crdito em moeda nacional e em moeda social circulante local; Promove o desenvolvimento local de forma endgena, atravs do financiamento produo e ao consumo local; Fomenta a comercializao dos empreendimentos locais, articulando produtores e consumidores em rede de prossumidores; Atua em comunidades com alto grau de excluso e desigualdade; Seu pblico se caracteriza pelo alto grau de vulnerabilidade social; Sua sustentabilidade financeira, em mdio prazo, deve ser subsidiada. Melo Neto Segundo e Magalhes (2005a), identificam no Banco Palmas trs caractersticas principais:O Banco Palmas tem trs caractersticas centrais: gesto feita pela prpria comunidade, envolvendo a coordenao, gesto e administrao de recursos; sistema integrado de desenvolvimento local que possibilita o crdito, produo, comercializao e capacitao ao mesmo tempo e o circulante local (PALMAS), complementar moeda oficial (Real (R$)), que aceita e reconhecida por produtores, comerciantes e consumidores do bairro, criando um mercado solidrio e alternativo entre as famlias (MELO NETO SEGUNDO; MAGALHES, 2005a, p. 13).

Nesse sentido, podemos afirmar que o Banco Comunitrio sustentado pelo seguinte trip: gesto comunitria, sistema integrado de desenvolvimento e a moeda social circulante local. Cada um desses aspectos aponta particularidades desse tipo de organizao. Quanto ao modo de gesto, destacamos que, alm de identificar a prtica da autogesto, observamos a interferncia de toda a comunidade na gesto do banco. Mesmo que isso no se d de forma direta, a comunidade quem traa as estratgias gerais e exerce o controle social sobre as aes do banco. De um modo geral, os bancos so geridos por associaes ou fruns locais (vide Quadro 1); eles no possuem personalidade jurdica prpria, constituindo-se, em alguns casos, de projetos inseridos numa dinmica associativa e democrtica. Em relao ao sistema integrado de desenvolvimento, cumpre destacar que o Microcrdito disponibilizado pelo banco se destina a financiar consumo e produo, visando o desenvolvimento de um territrio especfico. Logo, um critrio universal para acessar recursos do Banco Comunitrio pertencer comunidade. Mesmo visando atender a uma 10

comunidade, o Banco Comunitrio atende a um pblico especfico, situado nos degraus 1 e 2 do desenvolvimentovii os pobres. Aqueles que acessam os servios do banco passam a integrar uma rede local de produo e consumo, sendo essa articulao o que caracteriza uma rede solidria. Nas operaes, os juros cobrados so sempre abaixo do mercado; em caso de emprstimos em moeda social circulante local, no so cobrados juros; e as taxas administrativas ou de abertura de crdito so muito baixas (entre 1% e 3%). A fim de disponibilizar o crdito para pessoas normalmente excludas dos sistemas financeiros tradicionais, no so exigidos documentos, nem feita consulta a rgos de proteo como Servio de Proteo ao Crdito (SPC), Serasa, Cadastro de Inadimplncia (CADIN), nem se solicita fiador. O crdito concedido atravs do aval solidrio, ou seja, vizinhos e pessoas da comunidade se responsabilizam conjuntamente pelo crdito. Isso pode nos fazer pensar que a taxa de inadimplncia alta, mas, ao contrrio, geralmente baixa, no ultrapassando 5%. Isso ocorre devido s relaes de confiana e de responsabilidade da comunidade em relao ao banco. Os clientes sabem que, em caso de calote, a prpria comunidade ser prejudicada. Os Bancos Comunitrios no possuem nenhuma metodologia de crdito especfica, podendo oferecer vrias formas de crdito j existentes, como o MPO, os Fundos Solidrios, o crdito assistido, os grupos solidrios e outras modalidades. A Rede Brasileira de Bancos Comunitrios (2006) aponta algumas condies que precisam ser obedecidas para o bom funcionamento do sistema de crdito de um Banco Comunitrio, dentre as quais o Sistema de crdito evolutivo com juros evolutivosviii, tendo em vista a distribuio de renda, e a devoluo obrigatria dos recursos emprestados, para a manuteno do fundo de crdito. Destacamos ainda a assessoria e orientao ao crdito, realizados, principalmente, pelo agente de crdito, que cumpre fundamental papel na dinmica do banco. O agente de crdito avalia primeiramente o objetivo da solicitao de crdito; para ser aprovado, ele deve contribuir, sobretudo, para o desenvolvimento local. Alm de avaliar, o agente de crdito orienta os tomadores de crdito a respeito dos potenciais produtivos (tendo em vista o resultado do mapeamento de produo e consumo local), fazendo o acompanhamento a posteriori da aplicao dos recursos. Para aprovao do crdito, o agente tambm visita a vizinhana, estabelecendo, assim, laos estreitos entre o banco e a comunidade, principalmente considerando que este agente tambm pertence comunidade. Por fim, a moeda social circulante local, ou simplesmente circulante local (MELO NETO SEGUNDO; MAGALHES, 2005a) o principal instrumento utilizado para promover o desenvolvimento econmico local. No se trata de dinheiro, mas uma moeda que circula somente no local, garantindo que a riqueza seja gerada na comunidade. Ela pode desempenhar a funo de instrumento de troca em uma feira solidria, ou ir alm, fazendo com que os recursos circulem localmente, gerando emprego e renda, e beneficiando os produtores locais. Destacamos que o circulante local no se limita ao aspecto econmico, contribuindo com o processo de capacitao, organizao e empoderamento da comunidade (MELO NETO SEGUNDO; MAGALHES, 2005a). O circulante local deve possuir um lastro em real (R$). Ou seja, para cada 100,00 moedas sociais circulando no mercado local, o banco deve possuir em caixa R$ 100,00. Melo Neto Segundo e Magalhes (2005a) ressaltam que no possvel implantar um processo de desenvolvimento socioeconmico em bairros populares sem estabelecer um estreito vnculo entre a Economia Solidria e a economia capitalista. Assim, o Banco Comunitrio deve tambm disponibilizar um sistema de cmbio, para que, a depender de sua necessidade, o cliente possa trocar as suas moedas (circulante local em Reais e vice-versa).

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6 Elementos para uma Discusso Terico-Analtica Acerca de Bancos Comunitrios Conforme comentado anteriormente, uma discusso terico-analtica acerca de Banco Comunitrio esteve na pauta do II Encontro da Rede. Procuramos aqui apresentar os principais pontos levantados, articulando-os com outras contribuies no mesmo sentido. Frana Filho (2007) destaca alguns aspectos que, segundo ele, conferem originalidade aos Bancos Comunitrios no campo onde atuam, dentre os quais a construo conjunta de oferta e demanda e a hibridao de economias. Segundo Frana Filho (2007), Bancos Comunitrios so[...] uma iniciativa associativa, envolvendo moradores num determinado contexto territorial que buscam a resoluo de problemas pblicos concretos relacionados sua condio de vida no cotidiano, atravs do fomento criao de atividades scioeconmicas (FRANA FILHO, 2007, p. 2).

Assim, a criao destas atividades scio-econmicas se d em funo das necessidades de cada comunidade (COELHO, 2003; FRANA FILHO, 2007). Deste modo, procura-se integrar a demanda e a oferta, articulando em rede os consumidores e produtores.[...] o objetivo da rede a ruptura com a dicotomia habitual (em regimes de mercado supostamente auto-regulado) entre a produo e o consumo (pelos seus efeitos danosos muitas vezes em termos sociais...) e o estmulo livre associao entre produtores e consumidores (ou prestadores de servios e usurios), permitindo a afirmao do conceito de prossumidores (FRANA FILHO, 2007, p. 2).

Quanto forma de constituio, h diferentes metodologias. Mance (2002) nos diz que o mais importante partir da realidade local. O elemento fundamental, que, para ele, ir caracterizar a rede a integrao de consumidores e produtores, formando assim uma rede de prossumidores. No caso dos Bancos Comunitrios, utiliza-se a metodologia do mapeamento de consumo e produoix, para, a partir dele, constituir a rede, considerando aquilo que consumido pela comunidade, aquilo que produzido e os potenciais negcios. Em relao dinmica da rede, Mance (2002) afirma que deve integrar consumidores com produtores (de bens e servios) na prtica do consumo solidrio, integrando cada vez mais pessoas, at que se completem as cadeias produtivas. Desta maneira, a dinmica da rede gera um crculo virtuoso:Assim, quanto mais se distribui a riqueza na rede, mais os seus produtos so consumidos, mais oportunidades de trabalho que geram riqueza so criadas e um nmero maior de pessoas passa a integrar a rede como produtores e consumidores (MANCE, 2002, p. 87).

A questo da cadeia produtiva muito importante. Eid e Pimentel (2005) lembram que o ideal que haja EESs em todos os pontos da cadeia, mas esse pode ser um processo difcil e demorado. Por esta razo, esses autores sugerem que preciso aceitar parcerias com a iniciativa privada, contanto que os princpios sejam mantidos. Para sustentao da rede, Mance (2002) sugere que uma parte do excedente seja reinvestida na prpria rede para a gerao de outros empreendimentos para atender s necessidade dos participantes da rede. O sistema da rede no s composto de consumo, produo, devendo tambm incluir comrcio e crdito solidrio, sendo os dois ltimos elementos, normalmente, os mais difceis de se concretizar. A comercializao e o acesso ao crdito so, de fato, os maiores desafios enfrentados pelos EESs. Por este motivo, o Banco Comunitrio deve ser entendido enquanto componente fundamental de uma rede local de Economia Solidria, sendo ele prprio um instrumento de desenvolvimento econmico. A construo conjunta de oferta e demanda tambm implica em uma outra forma de consumo, o que Mance (2002) chama de consumir para o bem-viver. Alm disso,[...] supe ainda, no nvel da ao, uma articulao fina entre as dimenses scioeconmica e scio-poltica. Isto porque a elaborao das atividades scio-produtivas conjuga-se a uma forma de ao pblica: trata-se de moradores num determinado

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territrio debatendo politicamente seus problemas comuns e decidindo seu destino. Isto coerente com o fato de que o banco comunitrio como vetor (de desenvolvimento) scio-econmico (da rede) inscreve-se numa dinmica associativa local. Tais iniciativas tem vocao, desse modo, a constituir-se tambm como formas inditas de espao pblico em seus respectivos territrios de pertencimento (FRANA FILHO, 2007, p. 3).

Assim, podemos dizer que, para alm das Finanas Solidrias, Um banco comunitrio um instrumento econmico a servio da vida (MELO NETO SEGUNDO, 2002, p. 122), ou melhor, da reproduo ampliada da vida (ARRUDA, 2003). Para Frana Filho (2007),Atravs destas caractersticas o papel dos bancos comunitrios contribuir para a refundao de uma outra economia (ou de uma economia solidria), efetivamente centrada no ser humano e na importncia do fortalecimento dos seus vnculos sociais (FRANA FILHO, 2007, p.9).

Quanto hibridao de economias, se para Frana Filho (2007), a Economia Solidria articula economia mercantil, no mercantil e no monetria, tal hibridao est particularmente presente na dinmica dos Bancos Comunitrios:Devido natureza dos servios prestados, assim como pelas suas fontes bastante diversificadas de gerao e captao de recursos, os bancos comunitrios combinam (ou agenciam) diferentes lgicas na sua dinmica (ou ao) (FRANA FILHO, 2007, p. 3).

7 Consideraes Finais Desenvolvemos este texto com o propsito de discutir o conceito de banco comunitrio, situando no campo da Economia Solidria, em particular, das Finanas Solidrias. Diante do exposto, afirmamos, a singularidade dos Bancos Comunitrios, pautados em: seu carter comunitrio; o uso da moeda social circulante local; a construo de uma rede solidria que tem por fim ltimo o desenvolvimento local; relaes de confiana e proximidade; comprometimento com o territrio; o atendimento a um pblico excludo do sistema financeiro tradicional. No afirmamos que tais caractersticas so exclusivas do Banco Comunitrio, mas sim que nenhuma outra forma de Finana Solidria articula todas elas de modo to consistente. Embora as experincias estejam intrinsecamente condicionadas pelo territrio, possvel perceber caractersticas comuns. Nesse sentido, identificamos como DNA do Banco Comunitrio o financiamento da produo e consumo local, fomentando uma rede de prossumidores, e a propriedade da comunidade, que gere e exerce controle sobre o banco. Quanto s limitaes do nosso estudo, reconhecemos primeiramente que, por ser este um trabalho fruto de pesquisa exploratria, no aprofundamos diversas questes que nos parecem muito pertinentes. Embora no tenhamos aprofundado tais questes, acreditamos que a sistematizao do conceito e a caracterizao do Banco Comunitrio so importantes contribuies que abrem diversas janelas de estudos organizacionais. Recomendamos, assim, para trabalhos futuros: anlise da estrutura organizacional de um banco comunitrio; reflexo acerca das contribuies dos Bancos Comunitrios para o desenvolvimento local; anlise da replicao da metodologia; discusso acerca da construo de um marco legal regulatrio para os Bancos Comunitrios. 8 Referncias ABRAMOVAY, Ricardo. Finanas de proximidade e desenvolvimento territorial no semi-rido brasileiro. In: COSSO, Maurcio Blanco (Org.). Estrutura agrria, mercado de trabalho e pobreza rural no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA, 2003. Disponvel em: . Acesso em: 20 jul. 2007. ALVES, Srgio Darcy da Silva; SOARES, Marden Marques. Microfinanas, democratizao do crdito no Brasil: atuao do Banco Central. 3. ed. rev e ampl. Braslia: BCB, 2006. 91 p. ARRUDA, Marcos. Socioeconomia Solidria. In: CATTANI, Antnio David (Org.). A 13

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Critas uma instituio da Igreja Catlica que atua apoiando Projetos Alternativos Comunitrios (PACs) desde 1984, contando com recursos da cooperao internacional. As Incubadoras Tecnolgicas de Cooperativas Populares so iniciativas formadas no interior das universidades, compostas por professores, estudantes e pesquisadores de diversas reas, que atuam organizando grupos, prestando assessoria e divulgando os princpios cooperativistas. Criada pela CUT em 1999, a ADS atua na difuso de valores e prticas da Economia Solidria. Canado (2004) nos esclarece que, entre a heterogesto e a autogesto, h vrios nveis de democratizao da gesto. Baseado nos nveis de participao de Bordenave, o autor apresenta seis nveis de democratizao: Informao, Consulta facultativa, Consulta obrigatria, Elaborao / Recomendao, Co-gesto e Delegao. Ao mesmo tempo, essas experincias resgatam antigas prticas solidrias, como a poupana comunitria. Elaborado a partir dos quadros apresentados em Rede Brasileira de Bancos Comunitrios (2006), em Melo Neto Segundo e Magalhes (2006) e dados atualizados at dez/07obtidos atravs da Rede. Melo Neto Segundo e Magalhes (2005b) identificam em qualquer territrio (bairro, comunidade ou municpio) quatro degraus na escala do desenvolvimento. No primeiro degrau, chamado de fase de assistncia, esto aqueles que dependem de ajuda governamental; so os mais pobres, os desempregados, com baixo grau de escolaridade e sem capacitao profissional. No segundo degrau, chamado de fase de subsistncia, esto as famlias que vivem de pequenos biscates, subempregadas ou assalariadas, e tambm os pequenos produtores, cujos negcios so instveis. A fase de sustentabilidade o degrau seguinte, onde as famlias e os empreendimentos atingiram a estabilidade e o ponto de equilbrio, e embora haja uma dependncia externa menor, dependem do acesso ao crdito para manter e expandir o negcio. Por fim, na

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produo em escala, esto aqueles que possuem reserva de capital de giro, mquinas e equipamentos industriais, podendo acessar crdito junto ao sistema financeiro tradicional para a expanso dos negcios. Deste modo, quanto maior o crdito, maior a taxa de juros; assim, possvel subsidiar taxas de juros menores para os mais pobres. Levantamento das prticas de consumo e produo da comunidade com vistas a orientar a atuao do banco para atender a demanda local.

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