encontros [des]encontros da vila madalena

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Marcelo Peixoto Beretta Trabalho Final de Graduação - TFG Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade Presbiteriana Mackenzie São Paulo, Junho de 2016

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ENCONTROS

Marcelo Peixoto Beretta

[DES]ENCONTROS DA VILA MADALENA

Trabalho Final de Graduação Junho de 2016

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Trabalho Final de Graduação apresentado por Marcelo Peixoto Beretta como exigên-cia do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie sob orientação do Professor Doutor Alessandro José Castroviejo Ribeiro.

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Agradeço à Alessandro Castroviejo, Carlos Heck e aos demais professores por todo o conhecimento e experiência

transmitidos.

À todos os meus amigos e especialmente à Carolina por toda ajuda e companherismo durante o percurso na facul-

dade.

À meus pais Alice e André, minha irmã Luciana e toda minha família pela base e apoio.

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“Um prédio não é um artefato isolado, um objeto de consumo

para embrulhar”Paulo Mendes da Rocha

“Cada nova situação requer uma nova arquitetura”

Jean Nouvel

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Neste trabalho buscou-se recolher carac-terísticas e visões sobre o bairro da Vila Madale-na, Zona Oeste de São Paulo. A partir de entrev-istas com o artista plástico Enio Squeff e com o incorporador Otávio Zarvos, e também de um percurso feito pela arquitetura do bairro, definiu-se o perfil de um bairro único e extremamente democrático, que poderia até ser usado como exemplo para as demais regiões da cidade. A calçada é o ponto de ENCONTRO en-tre muitas classes sociais e nichos de pessoas. É lá onde o bairro tem sua principal característica, de apropriação do espaço público. A proximi-dade com o terminal de metrô Vila Madalena, a Marginal Pinheiros e a USP faz com que a Vila seja um local com fluxo intenso de pessoas. Como conclusão, após a análise de todo o material reunido, um projeto foi pensado para um lote na Rua Girassol, adequando-se às car-acterísticas da região. Nele, estão demonstradas as possibilidades que a Vila Madalena pode ofe-recer.

RESU

MO

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SUMÁRIOINTRODUÇÃO

DA FAZENDA AO BAIRRO1518

CHEGADA DA BOEMIA 20VISÃO DE UM ARTISTA 22

DESENVOLVIMENTO IMOBILIÁRIO ATUALIDEA ZARVOS

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UM PERCURSO PELA ARQUITETURA DA VILA 63VILA ASPICUELTA 76

VILA GIRASSOL - UMA IDEIA PARA O BAIRRO 81

ÍNDICE DE IMAGENS 105

ABREVIATURAS E SIGLAS 109

BIBLIOGRAFIA 111

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INTRODUÇÃO

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Pode-se dizer que a Vila Madalena é um dos bairros mais democráticos da cidade de São Paulo. Situada na Zona Oeste, está a cerca de seis quilômetros do centro e ligada pela linha verde do metrô, a “Vila”, como é chamada, é ponto de encontro de diversos nichos e classes sociais. Prédios residenciais de classe média alta se misturam com sobrados simples. Lojas de grife confundem-se com brechós. Bares caros com carros de luxo parados na porta estão entre botecos precários com churrasco na rua. A calçada é o foco. É lá que a vida acon-tece. Árvores, mesas, lixo, bicicletas, pessoas, cachorros, arte, vendedores. Tudo é encontrável nas calçadas da Vila. Este trabalho procurou buscar modos de adensar a região da Vila Madalena e produzir uma relação saudável entre o tradicional uso da calçada no bairro e o uso residencial. Duas ent-revistas foram feitas para aprofundar a discussão: Enio Squeff, artista plástico morador e atuante em discussões urbanísticas do bairro, e Otávio Zarvos, morador e incorporador de grande in-fluência na Vila.

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Segundo a história popular da Vila Madale-na, sua ocupação teve início como propriedade de um fazendeiro, produtor de leite e verduras. Era um local afastado da cidade, totalmente ru-ral. Com sua morte, o terreno foi dividido entre suas três filhas, Ida, Beatriz e Madalena. Daí viria o nome dos bairros. No início do século XX uma primeira di-visão de lotes e um arruamento precário foram feitos. Famílias de baixa renda, boa parte escra-vos, habitaram um princípio de bairro, ainda ru-ral, chamado de Vila dos Farrapos. O acesso do bairro ao resto da cidade era feito apenas a pé ou a cavalo. A cidade de São Paulo começou a se ex-pandir. Em 1928 a luz chegou à região e muitos imigrantes portugueses, a maioria trabalhadores da Light, instalaram-se na Vila. Cerca de dez anos depois, a primeira linha de bonde chegava ao bairro pela Rua Fradique Coutinho.

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Na década de 1970 ocorreu uma grande mudança no bairro. Na ocasião, ele já estava bastante desenvolvido em relação a comércios, arruamento, habitação e saneamento básico, e pode-se dizer que era um bairro de classe mé-dia baixa. Na década de 60 a ditadura militar fechou o Crusp onde diversos estudantes de baixa renda residiam. Diante da impossibilidade de pagarem aluguéis caros próximos à universi-dade encontraram na Vila Madalena um local barato e acessível. A nova ocupação por uni-versitários no bairro passou a requerer um novo tipo de comércio. Bares e botecos começaram a surgir, e, com isto, a atual característica mais conhecida do bairro foi criada. A partir desse momento as misturas de pes-soas começaram a acontecer e os comércios de bairro expandiram-se. Universitários e peque-nos comerciantes misturavam-se nas calçadas da região. Desde então esses encontros fazem parte do dia-a-dia do bairro.

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O livro “Vila Madalena: crônicas históricas e sentimentais” foi escrito pelo artista plástico Enio Squeff. Gaúcho que, porém, se diz comple-tamente cidadão paulistano, não tendo mais identificação com sua terra natal e nem preten-dendo morar em outro local a não ser a cidade de São Paulo. No livro criou personagens que contam histórias das mais variadas da construção do bairro da Vila Madalena, onde, apaixonado pelo bairro, mora até hoje. Seu conteúdo per-corre desde uma aldeia do distrito de Pinheiros, passando pelos novos moradores universitários da década de 1970, os intelectuais, artistas e boêmios chegando até o mercado imobiliário mais recente. Para ele a Vila é sua casa, seu es-paço de trabalho, mas a história recente tem criado grandes problemas que devem ser solu-cionados, como a gentrificação (fuga dos anti-gos moradores, geralmente pelo custo elevado do terreno) e a mudança drástica da paisagem pela construção dos novos prédios. Entrevista com Enio Squeff em seu ateliê na Rua Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, em Pinhei-ros, ao lado da Vila Madalena, no dia 06 de abril de 2016:

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Turistas caminhando pelos grafites do Beco do Batman.

No livro eu tenho um indicativo da destru-ição da Vila pela exploração imobiliária. Que mostra que o Brasil é um país que tem que ter uma reforma urbana, além da agrária. Um dia eu estava falando com um arquiteto e estáva-mos exatamente levantando esta questão. A re-forma urbana pode ser uma consequência da reforma agrária, mas ela é fundamental. Primeiro as pessoas começam a se instalar

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próximas às nascentes dos rios, que é onde existe possibilidade de invadir. E a esculhambação da cidade é total. Cidades como São Paulo ou Rio de Janeiro não têm o menor planejamento. Até que as favelas do Rio dão um colorido na pais-agem, embora sejam uma excrescência. Com isso as cidades se destroem. A Vila Madalena é um exemplo típico disso. A grande característica da Vila eram as cadeiras nas calçadas, as pessoas conversando no fim de tarde. Hoje é impossível imaginar esse cenário. Eu tenho me encontrado com alguns amigos da minha geração, pessoal da faculdade, artistas e tal, todos os sábados. A única maneira de você sentar na calçada é agora num bar. Já não tem mais aquele costume das pessoas ficarem senta-das na calçada, batendo papo no fim de tarde, como se fosse uma cidade do interior, isso ocor-ria trinta anos atrás. O caso dessa explosão de pessoas na Vila se dá pela proximidade com a universi-dade. Muita gente veio pra cá porque o local mais barato e mais próximo da USP e mesmo do Mackenzie era aqui. Também na época do fe-chamento do Crusp na ditadura militar o bairro recebeu um grande fomento. O local era aces-

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sível porque quase todas as casas tinham edícu-las nos fundos dos terrenos, que supunha a pos-sibilidade dos filhos morarem quando casassem até encontrarem uma outra casa. A região era habitada por filhos de portugueses, espanhóis, judeus e também remanescentes da antiga Vila dos Farrapos, escravos fugidos. Aqui a região de Pinheiros era um local de difícil acesso e as pes-soas que chegavam aqui tinham que enfrentar os bandos dos escravos, como se eles tivessem alguma outra alternativa a não ser escravos ou roubar. Uma vez escravos fugidos só lhes restava roubar. O caso extremo em que você comete um mal porque já um mal foi cometido contra você. A formação da Vila se dá muito em cima disso. Um local que até certo período foi aban-donado, onde hoje é o BNH, eram campos de futebol. Eu entrevistei moradores mais antigos, lá dos tempos passados, eles pescavam nos baixios e nas proximidades do Rio Pinheiros, pescavam nas poças de água que ficavam das enxurra-das. Isso mais para baixo perto do Rio Pinheiros e também no Córrego das Corujas. Veja que cidade maravilhosa era São Paulo, era uma ci-dade com características de cidade do inte-

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rior. Algumas cidades da América Latina ainda mantêm, por exemplo Bogotá. Em Bogotá é fácil encontrar burricos andando pela rua, e uma coisa interessante que eu vi lá anos atrás era os patinhos esperando para atravessar a rua com a pata, e a pata seguindo seu dono. Até me lembro do Darci Ribeiro, que quando chegou lá deu uma entrevista dizendo “olha que coisa maluca, vocês têm uma cidade de 6 milhões de habitantes e é uma cidade que guarda traços rurais, tais como lhama, burro, patos pelas ruas.” Como você pode conceber patos andando no meio da cidade de São Paulo? É capaz de virem os helicópteros da Globo filmarem essa cena in-sólita. Cavalos estão proibidos de puxarem car-roças por exemplo. Em Porto Alegre ainda ex-istem traços da tradição e cultura gaúcha, que em uma certa medida cultiva cavalos. Então é muito comum ver no trânsito carroças. A Vila nasce nessa conjugação de fatores positivos. Ou seja, a existência de muitas casas com edículas que eram alugadas mediante a palavra. Os portugueses, espanhóis, quem quer que fosse, tinham uma relação mais pessoal do que contratual com seus inquilinos. Que no final foi adotado pela justiça, se você mora de

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aluguel , você não precisa de um contrato ne-cessariamente. Havia uma solidariedade muito grande desses grupos de estudantes que pas-saram a ocupar as grandes edículas. A Vila se transformou em uma festa permanente, eram jovens da sua idade que começaram a se reunir nas próprias casas e edículas. Depois os bares que havia, os primeiros foram o Sujinho e o Empa-nadas. O resto não passavam de botequinhos que mesmo assim eram frequentados. Esse deve ser mais ou menos o mesmo processo da maioria dos bairros boêmios pelo mundo, as característi-cas devem ser muito parecidas. Jovens, pouco dinheiro e imóveis baratos. Aqui ainda não aconteceu um fenômeno de ocupar as grandes fábricas por ai porque o Brasil realmente é um país sem lei. Você tem um quarteirão inteiro com uma fábrica, ela fica desocupada, existem milhões de pessoas pre-cisando ser abrigadas, essas fábricas poderiam se abrir de alguma forma ao aluguel. Acontece que o imposto que incide sobre os prédios deso-cupados é muito pequeno. Aqui ao lado, com essa crise, o prédio aqui ao lado está desocupa-do, porque o imposto era de cinquenta mil por mês. Do outro lado a mesma coisa.

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Utilização da calçada da Rua Wizard por bares e lojas com mobiliário de permanência.

Do governo militar para cá, a Vila passa a ser um local de constante vigilância pela polícia porque onde se reúnem jovens, e já na época a maconha transitava muito entre os jovens, e out-ras coisas também. Você tem ali um discurso lib-ertador, um discurso liberal no sentido americano da palavra. Você não colocar peias às questões que você levanta, não ter pré-conceitos. E ha-via sim um pré-conceito em relação à ditadura.

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Então começou a ser um local perigoso para o governo, um local que precisava ser contro-lado. Até porque era também uma época de libertação feminina, portanto os bons costumes que a ditadura tentou preservar estavam ali se-guramente ameaçados. Por outro lado, havia também um sentimento que algumas coisas que não podiam ser feitas nos outros bairros eram até tolerados na Vila. Um exemplo típico é o uso da maconha. Um pessoal foi pego usando ma-conha e o guarda disse “mas porque que vocês não vão fazer isso na Vila?”. Hoje isso é piada, a polícia nem aceita você ser preso por estar fu-mando maconha, porque senão pegam a Vila Madalena inteira e não tem mais lugar para prender. Então passou a ser conhecido como um bairro liberal por um lado. De outro lado um local de muita alegria. Aqui na Vila Madalena, várias coisas se conjugaram. E várias coisas também estão con-tribuindo pra acabar com a Vila. Você pode ver que a construção ali é um horror. As pessoas di-zem “vai morar na Vila Madalena, um lugar boê-mio da cidade de São Paulo.” É conhecido no Brasil inteiro como um bairro boêmio. O que vai restar desse bairro boêmio com todas essas con-

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struções que estão acontecendo? Não se sabe. Uma cunhada minha foi morar na ponta da Rua Morato Coelho com a Rua Cardeal Arcoverde. Evidentemente teve que vender o imóvel. Minha ex-mulher mora na Morato Coelho, mas o apar-tamento é lá nos fundos, é um daqueles prédios bem antigos, e então o barulho não atrapalha tanto. Agora, as pessoas que moram de frente para as ruas tem todos os problemas possíveis. Acho que esse processo se espalhou para outros bairros, porque a Vila Madalena tem um perfil mais popular, apesar de alguns bares e res-taurantes muito chiques. A Vila Madalena serve de modelo, mas hoje tem a Vila Mariana, Itaim e outros locais. Eu me surpreendi positivamente quando estive na Praça da Sé na última mani-festação (01 de abril de 2016, contra impeach-ment) e perambulando pelo centro à noite, vi a quantidade de bares abertos pela cidade, e bares bonitos, bares realmente de uma cidade do porte de São Paulo, altamente sofisticados, não são bares caros, frequentados pelo pessoal dos tribunais próximos. No dia em que essa ci-dade se civilizar, e o que significa civilizar: despo-luir os rios para começar. E eu sei que tem muitos engenheiros e arquitetos que ficam escandal-

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izados quando se fala em despoluir os rios. Um deles é o arquiteto Ruy Ohtake. Uma vez estava participando de uma discussão e ele disse “não, não tem nada desse papo de vocês.” Imagina, ele fez o Parque Ecológico do Tietê, quem é que vai frequentar um Parque Ecológico com um rio fedorento ao lado? E o sujeito acha que isso não é importante. Uma engenheira americana foi chamada às pressas para a crise hídrica e disse ao chegar em São Paulo que não sabia onde estava faltando água, porque sobrevoou a ci-dade e tinha avistado diversos rios cheios. Na minha infância em Porto Alegre, me lembro que eu nadava nas noites enluaradas no Rio Guaíba. Pegávamos um barco, íamos até o meio e mergulhávamos no rio. Recentemente a cidade de Porto Alegre está retomando suas ori-gens em relação ao rio, pois ele começou a ser assumido pela população. É o caso das praças, a Praça do Por do Sol era um recanto de margin-ais antigamente, hoje é um local que foi ocupa-do pela população, pelos jovens. Nós podíamos ter isso nos rios por exemplo. Já imaginou marcar um encontro no rio Pinheiros onde existiria um bar? A Vila está condenada a desaparecer, ao

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seguir esse rito de verticalização. A crise está tra-zendo dificuldades para vender imóveis, então pode ser algo benéfico para o bairro. A Vila ai-nda tem características antigas, ainda tem mui-tas galerias, escritórios de arquitetura, estúdios, a Livraria da Vila, sebos. Enfim, ela ainda tem essa face cultural, mas não sei até onde vai isso. Agora, a Vila tem uma história que tem a ver com a história de Pinheiros e Pinheiros é o se-gundo bairro mais antigo de São Paulo, era uma aldeia. A industrialização de São Paulo se faz em cima da destruição, que aliás é o processo que aconteceu em todo o mundo. Mas nós pegamos a segunda onda da industrialização, poderíamos então ter preservado. Eu disse uma vez em uma debate com a Aracy Amaral, e ela começou a falar bem do Prestes Maia. Eu disse “Aracy, nós que vivemos esse mundo intelectual, artístico, não podemos acender vela pra santo errado, e esse foi um dos destruidores da cidade de São Paulo. Esse é o anti-urbanista, aliás a cidade ho-menageia os caras que a destruíram. Faria Lima constrói, antes de canalizar o rio, marginais, que como o próprio nome, grandes vias perimetrais na beira do rio, como se o rio fosse obedecer o entento do Brigadeiro Faria Lima e não ter che-

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ias sazonais. Prestes Maia tinha a possibilidade de construir metrô, achava que a indústria au-tomobilística não iria vir para São Paulo se ele construísse metrô, como se Buenos Aires deixasse de ter a sua industrializa automobilística porque começou a fazer os seus metrôs na década de 20. Hoje sem dúvidas São Paulo é uma cidade de serviços, e tem todas as condições de se tor-nar uma bela cidade, desde que os homens que a enfeiaram se preocupem em troná-la bonita e agradável. Foram os homens que destruíram a cidade, logo vamos reconstruí-la dentro de uma outra visão, assim como as cidades europeias foram destruídas e reconstruídas. Para tal você precisa ter metrô, muito transporte e espaços públicos. O Haddad fez muita besteira, espera-va muito mais dele. Mas essa ideia por exemplo de colocar aquela espécie de jardins na frente de logradouros em algumas regiões (parklets) é uma boa ideia, a cidade começa a ficar bo-nita. O carnaval que todos diziam que era pés-simo, fez com que a cidade fosse usada, vivida, e pegou todo mundo de surpresa.

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DESENVOLVIMENTO IMOBILIÁRIO ATUAL

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Em 1998 a estação do metrô Vila Ma-dalena foi construída. Com a chegada da linha verde na região o bairro começou a se desen-volver verticalmente. Novos prédios habitacio-nais foram construídos nos arredores da estação, que faz ligação com polos comerciais, como a Avenida Paulista e o centro de São Paulo. Assim, uma nova paisagem começou a aparecer na Vila: onde existiam sobrados, agora edifícios ver-ticais. Mais recentemente, com a criação do Novo Plano Diretor, diversos prédios foram con-struídos, principalmente pela incorporadora Idea Zarvos. A característica interessante é a nova tipologia dos prédios, que fogem dos pa-drões de pavimentos tipo ou varandas gourmet, e outras muitas tipologias mercadológicas que são construídas em São Paulo. Cada projeto é concebido por arquitetos renomados que têm maior liberdade projetual, procurando caracter-ísticas que levam em consideração o terreno, a envoltória, o percurso, a rua ou outros pontos im-portantes.

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Otávio Zarvos é filho de Tito Zarvos, dono da conhecida e antiga construtora que leva o nome da família. Ao contrário de seu pai engen-heiro, Otávio formou-se em administração de empresas com foco em incorporação de imóveis pela FAAP. Na década de 1990 o administrador jun-tou-se ao seu irmão engenheiro civil para fundar uma incorporadora, a Idea Zarvos. No início, os projetos eram concentrados no bairro Cidade Jardim e eram predominantemente vilas resi-denciais. Porém, dada a pouca experiência do começo do negócio, construía arquiteturas co-muns às encontradas na maior parte da cidade. Com o passar do tempo resolveram se destacar no mercado e contrataram o renomado Marcos Acayaba para um projeto. Foi o início da fama da empresa. Morador do bairro da Vila Madalena, Otávio começou a focar seus empreendimentos na região, atraído pela diversidade de usos e de pessoas, mas também com a grande quantidade de terrenos vazios ou subutilizados. Ali construiu seu conjunto de escritórios, o Corujas, inspirado em empresas da Califórnia. O conceito é o de morar próximo a seu trabalho e o desenho nada

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Vista interna do conjunto comercial Corujas, projetado pelo escritório FGMF, consttruído pela Idea Zarvos.

convencional à lajes coorporativas promove a relação entre as pessoas, com um grande pátio central e integração com o exterior. Com o sucesso da locação de espaços comerciais no conjunto, a incorporadora foi ganhando forma, com novos sócios e uma forte publicidade, inovadora no mercado imobiliário. Os projetos construídos também não são tão usuais. Apartamentos de 300 m² são misturados

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no mesmo edifício com apartamentos de 80 m². Os terrenos disponíveis na Vila estão entre 500 m² e 2000 m², possibilitando edifícios médios. Porém, a grande quantidade desses terrenos fez com que os prédios se espalhassem por todo o bairro. Mais uma marca da empresa é promover plantas flexíveis para os compradores. O proces-so projetual e o de vendas ocorrem simultanea-mente. O cliente participa e interfere no projeto, ao contrário do usual, que é receber a planta pronta. Aliado à publicidade, Otávio pretende valorizar a arquitetura contemporânea e, com isto, valorizar seu produto. Os consumidores es-tão acostumados a uma arquitetura replicada e de má qualidade. Portanto, a incorporadora tenta promover uma “reeducação” em relação à arquitetura, mostrando o quão interessante pode ser algo novo na paisagem acinzentada de São Paulo. Outra questão importante que a empresa considerou foi o a preço do metro quadrado. Claramente com tanta inovação e arquitetura de boa qualidade com arquitetos renomados, o valor do metro quadro tenderia a subir. Desse modo, para manter os preços próximos aos do

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À esquerda o edifício Oito e à direita o Oka. Ambos pro-jetados por Isay Weinfeld e consttruídos pela Idea Zarvos.

mercado, as áreas sociais foram são reduzidas dando lugar a mais apartamentos, e até a quan-tidade de elevadores é menor. Geralmente, a construção é feita por pequenas construtoras, que conseguem ter uma relação de preços mais próxima à incorporadora e também ao cliente. Os arquitetos procurados pela Idea Zar-vos podem ser considerados jovens arquitetos, porém de nome importante. A incorporadora

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não está em busca de arquitetos acostumados com o mercado, que produzam e aprovem rapi-damente o prédio. O importante é uma maior liberdade de criação, a parte de legislação e de burocracia fica por conta da própria Zarvos. Atualmente, a incorporadora abriu espa-ço para outras que investem na produção de uma arquitetura diferenciada e de qualidade para a cidade, como a Moby e a Huma. Talvez a “reeducação” feita pelo marketing da Idea Zarvos tenha surtido efeito. Entrevista com Otávio Zarvos em uma sala de reunião de frente para um terraço arboriza-do, em seu conjunto Corujas na Vila Madalena, no dia 24 de fevereiro de 2016: No começo dos anos 90 começaram a surgir alguns prédios de gabarito mais alto na Vila Madalena, mas mais recentemente houve uma nova e intensa verticalização na região. O que você acha da verticalização mais recente da Vila Madalena? A verticalização mais forte na Vila Ma-dalena não será no lugar que as pessoas estão mais acostumadas, próximas aos bares e restau-rante, vai ser mais próxima ao metrô. Porém, es-tou mais preocupado com a verticalização mais

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perto daqui (Edifício Corujas, Rua das Corujas) onde não se podiam construir prédios, somente três andares, e não tem transporte público fácil. Em relação a essa verticalização, estou me en-gajando pra ser contra. Mandei pra todo mundo que conheço, associação, vereadores, para que isso não aconteça. Vai ser uma grande transfor-mação nessa zona próxima ao meu prédio e todas essas casas e também perto do Beco-do-Batman. Eram lugares que era permitido até três andares e agora serão permitidos oito. Acho que esse impacto é muito mais alto do que a verti-calização mais próxima ao metrô, que entendo ser coerente. Em qualquer lugar do mundo você deve usar aquela infraestrutura. Não acho que seja aceitável ter algo que custe bilhões de reais de infraestrutura e só ter casas subutilizadas em volta, que é o que acontece na Vila. Se você pega o metrô na Vila, eu uso bastante, vir do centro pra cá, o metrô vem vazio, não chega praticamente ninguém no bairro. Então sou fa-vorável a essa verticalização. Não acho que ela precisa ser tão grande também, quanto eles falam, não de altura... ...mas de adensamento?... ...sim, de adensamento. Acho que eles

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foram para quadras mais distantes do metrô. Penso que poderia ficar mais próximo, mas eu sou sim favorável a essa verticalização nessa região. No meio da Vila vai continuar igual, na verdade até um pouco mais restritivo. Onde existem os prédios de oito andares, onde eu construía, por exemplo, com o Novo Plano Diretor vai ficar mais inviável. Tem três tipos de altura: de três, de oito e agora vai ter uma sem limite, perto do metrô. A de oito andares continua de oito. A de três irá passar para oito. Essa eu sou totalmente contra. A que já era de oito, agora tem que pagar uma outorga que é caríssima, isso vai restringir muito a construção de prédios, vai ficar bem mais difícil. A tendência é que eles vão para o metrô ou para essas áreas que era três e vai virar oito. E sobre o adensamento e a relação com transporte público, escola, infraestrutura em ger-al e os diferentes usos? Você entende que isso seja importante para a implementação e suces-so dos seus prédios e também para o funciona-mento da cidade como um todo? Todos os bairros deveriam ser assim. Moro aqui, moro na Vila Madalena, o bairro, indepen-dente do novo zoneamento, já é misto, já existe uma diversidade de usos. Agora isso só vai ser

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Conjunto comercial sustentável Harmonia 57, projetado pelo escritório franco-brasileiro Tryptique.

catalisado. Eu sou favorável que todos os bair-ros tenham essa diversidade de usos. Tem muita gente que não quer uso comercial no seu bairro, mas quer pegar o carro, trabalhar em outro e uti-lizar a infraestrutura de lá, e não ter no dele. É algo injusto para a cidade. Você é contra a cidade ter zonas de co-mércio e de residências separadas? Sim, sou contra, a cidade é para todos.

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Vista interna do conjunto comercial Corujas, projetado pelo escritório FGMF, consttruído pela Idea Zarvos.

Porque que uns tem determinadas regras e priv-ilégios em relação a outros? Isso está errado. Ag-ora, o que eu acho mais errado é que está se discutindo a diversidades de usos e se será um prédio, a sua altura, se pode a floricultura, ou a loja de aquário. Mas a discussão boa seria a de trazer as pessoas mais pobres para morarem aqui. Essa é a discussão mais importante. Em contraponto levar trabalho para áreas

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mais afastadas também? Acho mais fácil trazer as pessoas do que levar o trabalho, temos que ser realistas. Quem está aqui não quer que venham mais pobres morarem, por isso esse discurso sempre está pre-sente. Mas isso não acontece, os trabalhos já es-tão aqui. Quem está aqui também não quer ir trab-alhar longe... ...sim, já moram aqui, e quem decide são essas pessoas, a classe média alta, não o trabal-hador mais pobre. Então, existe uma cortina de fumaça no Plano Diretor, e isso passou batido. O certo seria em cada bairro se destinar uma parte para moradia econômica. Não neces-sariamente o morador de favela. Quem ganha dois mil, três mil, não tem condições de morar aqui, então moram em regiões periféricas, e esse deslocamento para os centros comerciais aca-bam agravando o trânsito por exemplo. Enten-do que essa discussão é muito mais importante do que a de oito andares ou dez. Essa discussão da classe media é muito egoísta, porque as pes-soas esquecem que a classe média alta aqui de São Paulo não chega a 10%. Os outros 90% nem podem entrar nessa discussão, não estão nem

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aí para andar de um lado pro outro da cidade. Servem a esses 10%, salários muito baixos, e nin-guém fala deles. Ficam discutindo essas outras coisas. É uma discussão egoísta e é um absurdo. Eu moro aqui na Vila, posso morar em qualquer lugar que eu quiser, no mundo inclusive, não pre-ciso morar aqui, qualquer bairro e tal. Eu moro aqui, tem diversidade de pessoas, tem mora-dias muito mais pobres, tem infraestrutura, mas eu acho que poderia existir um incentivo aqui e nos outros bairros, para que a gente tenha mais moradias acessíveis. Eu acho que isso seja muito mais importante que toda essa discussão. Outra característica do bairro é ele ser muito boêmio, o que você acha dessa relação entre residência e bares? Principalmente no car-naval, Copa do Mundo, Olimpíadas, os acon-tecimentos mais recentes, a Vila Madalena vi-rou uma confusão, e tem muita gente que mora aqui. O que você acha dessa relação? Acho que é um problema sim. Eu acho que a Vila Madalena tem uma característica de receber pessoas de fora para ir a bares, e sinto que deve ser mantida. Mas até então essas coi-sas estavam dentro de certo limite. O que se viu no carnaval, na Copa e tal foi um exagero dessa

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condição, mas não é por culpa dos bares, não são os bares que fazem isso, isso tem que ficar cla-ro. Quem faz isso são as empresas que vendem bebida, aliada aos ambulantes que compram dessas empresas e revendem. Claro que os bares fizeram muito barulho, mas estão aprendendo a se comportar, aqui já foi muito pior e eles têm a sua parcela de culpa, claro que tem bares que fazem mais barulho. Mas os vilões dessa historiam não são os bares. Pelo contrário, eles têm que fechar inclusive, colocar grade, porque os caras destroem o bar. Eu acho que o vilão é quem está vendendo bebida e os ambulantes que são proibidos, tem que ter a carteirinha, e sabe-se que existe suborno. É uma grande sacanagem, isso que tem que ser coibido. Receber as pes-soas na Vila com bares legais, com show, isso é normal, obviamente deveriam ter uma cober-tura acústica, é um incomodo para as moradias imediatamente próximas. Por isso, entendo que deveria ter um zoneamento na Vila em que tem uma zona de amortecimento para o bar, que se-ria um prédio de escritórios por exemplo. A mo-radia não precisa grudar no bar, mas o prédio de escritórios pode, não tem problema, muitas vezes até é cômodo, sai do trabalho, vai ao bar,

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e volta. São coisas do zoneamento que não são muito pensadas, porque são feitas por tecnocra-tas, teóricos que não ouvem o empresário, tam-bém não ouvem a população. Um não confia no outro, então não ocorre essa troca de conhe-cimentos. Tem o conhecimento acadêmico, tem o conhecimento do empreendedor, tem o con-hecimento da população, dos moradores, mas um desconfia do outro, então esse debate não existe de uma maneira legal, é sempre “aquele cara vai me sacanear”, o outro fala “o profes-sor da USP não sabe nada, o cara não está vi-vendo aqui, é teoria”. Acho que isso é um pro-cesso que mostra que a nossa sociedade não está educada para morar na cidade, ela está aprendendo. Essa discussão, confusão, um falar mal do outro, é um pouco o processo de apren-dizado. Daqui a dez anos, no próximo Plano Di-retor, com certeza será melhor. Só que a gente tem que levantar essa dúvida, falar que a gente tem que se educar. A cidade é para todos, não é o meu quintal, a minha jabuticabeira, a gente tem que pensar na cidade como um todo. To-dos os cidadãos são responsáveis pela cidade, desde o empresário fazer besteira, o acadêmico não pensar em coisas impossíveis e o morador

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também não imaginar que ele pode morar soz-inho no mundo. Você disse que pensariam em abrir uma passagem em um terreno cortando o quarteirão e ligando duas ruas, mas que não existe essa possibilidade por conta da legislação. É assim, no Plano Diretor novo vai ser pos-sível fazer isso. Como o projeto foi aprovado no Plano Diretor antigo era proibido. Nós adoraría-mos fazer, mas era proibido. Espero que talvez mais pra frente eles permitam que a gente abra de alguma forma mesmo tendo aprovado an-tes. De qualquer forma, pensamos em duas coi-sas que amenizem a construção do projeto para a Vila. Vamos criar uma pocket-park na rua de baixo, uma parte a gente vai deixar pública e vamos deixar uma calçada com lugar para sen-tar em nichos para parar um food-truck ou um vendedor de comida na frente e as pessoas po-dem utilizar da calçada. Na outra parte temos duas coisas legais. Uma será um teatro, o pri-meiro teatro que a Vila vai ter e ele é publico. Toda a entrada do prédio que mistura com o foyer do teatro é pública, tem um bar, a pessoa pode entrar no prédio e só precisa se identificar lá na frente, tem uma hora que não tem jeito.

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Edifício 727, projetado pelo escritório Tryptique e construí-do pela Idea Zarvos.

Então você acha que esses espaços pú-blicos dentro de um lote privado são importantes para a cidade? Eu acho que é o que tem que acontecer. Nessa relação do público com o privado tem que ter uma zona de transição. Tem uma hora que ela é privada mesmo, tem uma hora que ela é pública, mas tem que ter uma transição, e eu acho que a incorporadora tem que ter essa

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boa educação de prover isso ao bairro. É claro que é um incômodo para o bairro fazer um pré-dio, é uma mudança na região, mas é uma mu-dança que traz benefícios. Ele mexe com a eco-nomia, ela mantém as pessoas no bairro, ela cria empregos e isso é muito importante para qual-quer bairro, para ele ficar mais próspero. Queira ou não quando você cria um prédio você está atraindo mais moradores, você está pagando mais IPTU, essas pessoas vão consumir preferen-cialmente no bairro. Além disso, ele tem que ser bonito, vai estar lá para sempre e tem que ter essa educação do entorno imediato que é ime-diatamente você prover maneiras de o prédio conversar um pouco melhor com o pedestre. Como você acha que vai ser o bairro no futuro e como você espera que seja? Você acha que esse uso misto vai continuar? Esse adensam-ento vai trazer melhorias ou problemas? Eu estou bem otimista. A única coisa do zoneamento que eu repito que eu sou contra é essa questão da ZN1 permitir fazer prédios de oito andares. Eu acho que isso vai provocar uma gentrificaçao nessa região do bairro, que é uma região que tradicionalmente abriga as pessoas mais pobres. Na hora que você permite isso, não

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é que na manhã seguinte vai virar um monte de prédio, demora muitos anos isso, décadas pra vi-rarem prédios. Pode até ser que não virem, mas os preços dos aluguéis imediatamente aumen-tam. Porque iguala esse pedaço que não podia fazer uma coisa com um pedaço que podia. “O meu agora tem que ter o mesmo valor que aquele”. Isso se reflete no preço da propriedade, automaticamente no preço do aluguel. E dai automaticamente o dono da casa fala “amigo, você pagava mil de aluguel, agora quero dois mil”. Ai o cara tem que ir embora. ...e vai indo pra periferia cada vez mais, agravando o problema das favelas. E provoca uma gentrificaçao no bairro, porque são pessoas que estão a muito tempo lá. Eu sei que o bairro se valoriza e isso não é uma coisa ruim, é positivo, mas a gente tinha que ter uma política que ao mesmo tempo mantenha uma parte do bairro de moradia acessível para essas pessoas. Tirando isso, que é uma coisa que me preocupa, não é que vai acabar com o bairro, mas poderia não acontecer, o resto eu sou bem otimista, porque eu acho que o ad-ensamento do metrô é importante pra cidade inteira, vão ter apartamentos mais baratos próxi-

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mos ao metrô, porque fica mais barato produzir com essa nova regra da prefeitura, e esses apar-tamentos não tem vaga de garagem, ou têm pouquíssimas. Então isso vai também permitir que pessoas mais jovens que gostariam de morar no bairro venham morar, isso não era possível. Eu acho que um jovem que saiu da faculdade ou que está no primeiro emprego ainda consider-ava a Vila muito cara para morar. Essa quanti-dade de imóveis que serão construídas vão se-gurar o preço, vai ter bastante oferta e isso vai atrair bastante gente pra cá, que pode trabal-har também no bairro. O bairro tem uma carac-terística mista que eu acho que vai ser mantida. E a parte de bares e restaurantes também está consolidada, ela não vai aumentar porque o bairro hoje já é muito caro, para o cara abrir um bar não é tão simples assim. É muito mais fácil abrir bares nas regiões que estão degradadas. Não é o caso da vila, ela não está degradada. Se o cara do bar fizer qualquer porcaria e quiser alugar uma coisa barata e não respeitar a lei, ele não vai conseguir se instalar aqui. E eu acho que quanto mais moradores no bairro ou gente no trabalho, mais vigilância vai ter nos bares que não respeitam as regras. Acho importante que

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tenham moradores, para saber que não é “terra de ninguém”. Porque uma época na vila já foi assim, tinha muito pouco morador e tinha muito bar. Então o bar era um câncer, ele entra, afasta os moradores imediatamente e vai se alastrando e cada vez tem menos gente morando porque não quer o bar perto, e o bar fica com tudo aqui pra ele. Agora não é assim na vila, repito, esse negócio do carnaval não tem nada a ver com os bares, os bares são até vítimas. Claro, têm uns que exageram e têm que ser punidos e tem mui-ta gente que faz o trabalho correto. E eu como morador não gostaria que a Vila não tivesse bar, e olha que eu nem bebo, nem em bar eu vou. Mas eu acho que o bar é importante, faz parte da história daqui. As pessoas se encontram, é um lazer. Exatamente, o encontro que justamente você falou, eu acho que é a principal caracter-ística da Vila Madalena e eu acho que vai ser o grande trunfo da Vila Madalena pra se sobressair em relação aos outros bairros da cidade, porque a juventude com educação cada vez mais quer o encontro. É com o encontro que o conheci-mento vai se proliferar, que vão surgir novas ide-ias, eu acho que isso é o grande combustível da

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Galeria Idea Zarvos. Neste ponto, a incorporadora apre-senta seus empreendimentos para clientes como se fos-

sem peças em um museu.

Vila Madalena nas próximas décadas Você acha que o bairro da Vila Madalena pode ser um exemplo para a cidade? Eu acho que já é. Tanto o encontro de pes-soas intelectuais, como intelectuais com pessoas mais pobres, que também é uma troca muito im-portante que acontece aqui, como encontro de gente que trabalha, gente que mora, encontro nos bares que é de felicidade, de alegria. Isso

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Edifício Simpatia 236, do escritório Grupo SP, construído pela Idea Zarvos.

tudo é muito importante. É um combustível que deixa a vida numa situação privilegiada. Não acontece isso no Morumbi, no Itaim também não acho que é um lugar de encontro. Então o bar é um símbolo do encontro, o bar tem que ser sempre mantido, porque o bar é o primeiro ponto de encontro que você imagina. Existe o encontro na rua, no escritório, em outros prédios, mas o bar é um símbolo.

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Para investigar os novos empreendimentos construídos na Vila Madalena, um percurso pelo bairro foi decidido, passando por construções consideradas importantes. O percurso foi ini-ciado pela Rua Fidalga, mais precisamente em uma pequena e descuidada praça, a Praça Éder Sader. O primeiro prédio a ser observado é o Ed-ifício Fidalga 772, do escritório Andrade Moret-tin. Sua principal fachada fica de frente para a vegetação de um pátio arborizado de uma es-cola pública. Painéis que aparentam madeira em diferentes cores foram colocados “aleatoria-mente” com vidros e aberturas de varandas. As plantas do edifício refletem muitas tipologias de apartamentos. De um dormitório, dois, três, du-plex, studio, com varandas maiores ou menores. Essa variação demonstra a diversidade de com-pradores, podendo ser famílias maiores ou pes-soas solteiras. Os pés-direitos duplos espalhados também produzem um visual interessante, dife-rente do visto nos prédios comuns de São Paulo. O arquiteto diz que, com tantos locais de cultura e lazer disponíveis no bairro da Vila Madalena, não era necessário projetar espaços comuns no térreo, possibilitando construir mais apartamen-

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Edifício 727, projetado pelo escritório Tryptique e construí-do pela Idea Zarvos.

tos. Do outro lado da rua outra construção que se destaca é o Edifício Fidalga 727, do es-critório franco-brasileiro Triptyque. A fachada pintada de preto já demonstra que é um prédio incomum. As janelas distribuídas aleatoriamente também revelam que as plantas são diferentes umas das outras. A apresentação do projeto pelo escritório reforça os contrapontos em re-

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lação à arquitetura tradicional paulista e uma posição diante à imposição da prefeitura no de-senho dos edifícios. O bloco do prédio definido pelo coeficiente de aproveitamento foi dividido em três partes. A central é a circulação verti-cal, nas laterais os apartamentos. Ao contrário do que a escola moderna paulista produziu, de plantas tipo e apartamentos horizontais, nesse projeto, o Triptyque procurou diversificar as tipo-logias de apartamentos, com fachadas únicas. Outro ponto importante é a relação com a rua. A necessidade de separação entre público e privado é indiscutível em um edifício residencial na perigosa cidade de São Paulo. Porém, os ar-quitetos conseguiram produzir uma relação am-istosa dessa divisão. Na entrada de pedestres, a “barreira” é inteiramente de vidro, permitindo a visualização entre dentro e fora. Além disso, ela está afastada da calçada, o caminho até lá pa-rece uma pequena ponte de madeira, cercada por uma vegetação rasteira. Do mesmo modo que o anterior, este também se deu o direito de não ter espaços comuns de lazer, permitindo mais um apartamento no pavimento térreo, di-minuindo os gastos dos condôminos. Continuando o percurso pela Rua Fidalga,

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Rua Luís Anhaia, rua estreita e residencial, é fechada pelos moradores durante a noite por motivos de segurança, for-mando uma vila.

passamos por muitas casas mais antigas, pos-sivelmente do início da ocupação do bairro. Em sua maioria sobrados pequenos, com uma vaga para carro na frente, uma porta e uma janela para a rua. Algumas já se transformaram em pequenos comércios, brechós, manicures, ca-belereiros etc. Esse é o visual mais tradicional da Vila, um bairro com cara de cidade de interior. Na esquina com a Rua Wizard, um pequeno pré-

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dio de três andares, também não tão recente. Mais à frente, na mesma rua, encontra-se o primeiro projeto construído no bairro pela In-corporadora Idea Zarvos, o Módulo Fidalga. Bem diferente das obras mais recentes da incorpora-dora, o conjunto comercial é mais parecido com as construções “tradicionais” da Vila Madalena, com tijolos de barro aparentes e estrutura metáli-ca pintada de verde. O acesso se dá por uma grande porta de madeira. O pátio central par-cialmente coberto se assemelha a uma galeria, e os acessos e as aberturas das salas comerciais se dão por ali. O ambiente parece acolhedor para um ambiente de trabalho. Para se sentir mais à vontade os usuários podem trabalhar e se encontrar no pátio, para sentir um pouco do sol que entra e do paisagismo no fundo. Na rua paralela, Girassol, encontra-se um terreno de um estacionamento de veículos que foi usado em um ensaio de projeto para o bairro da Vila Madalena, que será apresentado pos-teriormente. O terreno é separado por um muro de arrimo e tem uma rampa lateral, dividindo a cota mais alta, no mesmo nível da rua, e outra cinco metros abaixo. Na Rua Girassol, com con-ta mais alta, encontram-se diversos edifícios de

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Box 298, projetado pelo escritório Andrade Morettin e con-struído pela Idea Zarvos

gabarito mais alto, com dez, doze e até quinze pavimentos, construídos em geral nas décadas de 1990 e 2000. Nas cotas mais baixas existem, predominantemente, casas menores, como sob-rados ou dois andares, com comércios em geral. Apenas o Edifício Box 298 se sobressai com gab-arito maior. Voltando ao percurso, na Rua Wizard, está o Edifício Box 298, mais um do Andrade Moret-

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Edifício W305, do Isay Weinfeld, construído pela Idea Zar-vos

tin. Telhas metálicas pintadas de diferentes cores dão a ideia de uma construção industrial, feita por contêineres. As aberturas na fachada tam-bém não são regulares, dando movimento ao prédio e se destacando na paisagem. A entrada do prédio fica em uma das laterais, e um grande hall com pé-direito duplo recebe os usuários. As lajes comerciais dão a impressão de serem flexíveis pelos fechamentos e caixilhos leves.

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Todos os conjuntos possuem uma parte com pé-direito duplo e um mezanino. No centro do edifício, um vazio, permitindo iluminação e venti-lação cruzada nos espaços internos. Logo do outro lado da rua, o Edifício W305, do arquiteto Isay Weinfeld. O edifício, também comercial, está implantado em um terreno em “L”, e sua fachada é mais sutil em relação ao Box 298, feita por painéis de concreto pré-mol-dados, porém, também comercial. Visivelmente, a intenção foi produzir dois volumes, um estreito, com aberturas menores, janelas ou varandas e pé-direito duplo na extremidade norte. Outro, mais quadrado, com grandes fachadas de vidro. Voltando para a Rua Fidalga, mais a fr-ente, temos o Edifício Mix 422, outro de Isay Wein-feld, que causou diversas discussões e polêmicas importantes para a fundamentação deste trab-alho. O terreno faz ligação entre três ruas, a Rua Fradique Coutinho, Rua Fidalga e Rua Aspicuel-ta. No quarteirão implantado e nos adjacen-tes, havia apenas construções de no máximo três pavimentos, casas, lojas galpões. O prédio ocupa o limite da taxa de ocupação e possivel-mente está também no limite de todos os recuos. Além disso, seu gabarito nada se parece com

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Contraste entre o edifício Mix 422 do Isay Weinfeld e as contruções pré-existentes ao lado.

o do entorno, tem doze pavimentos. A fachada é acinzentada e tem pequenas aberturas hori-zontais. Campeão de críticas, e em sua maioria negativas, o edifício produziu uma barreira visual no bairro, como um grande muro de pedras. Um pouco mais afastando do centro da Vila, na Rua Simpatia, temos o edifício de mesmo nome, do escritório Grupo SP. Assim como no Ed-ifício Fidalga 727, do Triptyque. O prédio é dividi-

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Edifício Simpatia 236, do escritório Grupo SP, construído pela Idea Zarvos.

do em dois blocos de apartamentos e um central de circulações verticais. A implantação permitiu um grande vazio central para a incidência solar. Com uma topografia com diferenças de níveis acentuadas, as duas garagens ficam abaixo do nível da rua, porém não são enterradas. O belo hall de acesso tem um espelho d’água e vista livre para a piscina e a rua mais abaixo. A planta dos apartamentos tem caráter mais modernista

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em comparação com outros projetos da incor-poradora. Em contrapartida, a fachada com brises de madeira que se movimentam, produ-zem uma fachada em movimento. Percorrendo agora um grande percurso até a Rua Morás, o canteiro de obras do Edifício Morás, do Studio Arthur Casas. O projeto conta com oito unidades habitacionais de alto pa-drão. A característica interessante é a ideia de sobreposição de casas, já que a maior parte tem dois ou três pavimentos. Apenas três unidades são iguais, todas as outras têm diversas varia-ções, como metragem, quantidade de quar-tos, piscina, varanda, jardim, estacionamento privativo, etc. A fachada também é um ponto interessante. Ao invés de um “terraço gourmet” comum nos prédios de São Paulo, a ideia foi cri-ar uma continuidade entre sala e varanda, utili-zando o mesmo piso e grandes caixilhos que se abrem completamente. Além disso, a varanda está na fachada inteira, e um fechamento por brises móveis de madeira ripada produzem uma sombra para o interior. Indo em direção ao final do percurso, pas-samos por um projeto mais antigo, o BNH da Vila Madalena. Construído em 1969, contém 55

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Conjunto residencial BNH Vila Madalena.

prédios de apartamentos de aproximadamente 68 m². Seguem os padrões de habitação social da época, contendo ainda uma praça, quadra poliesportiva, administração, sede social. Hoje, com o crescimento da Vila Madalena, o preço do metro quadrado já se compara a de aparta-mentos mais novos. Na última rua, a Rua Natingui, observa-se a fase final de obra do Edifício Une, do Gui Mat-

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tos. Em uma localização em que não existia es-critórios, o conjunto comercial busca uma mu-dança dos eixos tradicionais da Vila Madalena e de São Paulo. A alteração do gabarito é forte. Antes, somente sobrados estavam por ali. O pré-dio tem oito pavimentos acima do nível da rua e três abaixo. São 99 unidades com pé-direito duplo e mezanino. O térreo tende a ser de uso semi-público, com cafés e restaurantes. Finalizando o percurso, vemos o conjunto comercial Corujas, do escritório FGMF. Este pro-jeto é o cartão de visitas da Incorporadora Idea Zarvos. No limite entre a Vila Madalena e a Vila Beatriz, o conjunto comercial nada se parece com as lajes comerciais da Avenida Paulista ou Berrini. O gabarito da construção é baixo, três pavimentos acima do nível da rua de acesso e dois abaixo. Ao entrar no conjunto, existe uma área de convivência aberta e livre para todos os escritórios, com mobiliário de praça. A partir dessa área os conjuntos se distribuem. Cada um conta com duas fachadas, uma para a praça interna e outra para um jardim privativo. Os es-critórios são divididos em duas ou três lajes, com mezaninos, escadas e pé-direito duplo, e o lay-out é livre.

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Vista da rua do conjunto residencial Vila Aspicuelta. Parede verde é irrigada durante todo o dia.

O projeto Vila Aspciuelta, do escritório Tacoa Arquitetos, está implantado na rua de mesmo nome, parte baixa do bairro Vila Ma-dalena, próxima a um córrego. O fundo do ter-reno está voltado para o Beco do Batman, con-hecido mundialmente pelos muros e portões grafitados por artistas renomados no ramo. O gabarito é baixo, térreo mais três pavimentos, e o uso é exclusivamente residencial, com oito

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residências. A fachada voltada para a rua contém uma “caixa de madeira” com usos comuns, como guarita e depósito. Nessa parte do prédio uma parede verde regada permanentemente transforma o paredão de concreto em vida. O projeto previu um térreo quase que totalmente livre. Do lado direito, os pilares foram desloca-dos para o muro por grandes vigas invertidas, do outro, as próprias escadas de acesso às casas suportam a construção. Assim, o térreo foi cobe-rto por uma grande laje lisa de concreto, e seu uso foi de garagem. O programa das casas separadamente se inicia pelo acesso à escada. O primeiro pavi-mento é uma laje livre, com balcão para coz-inha, sala de jantar e sala de estar. No pavimento acima, sanitário, dormitório e pequeno terraço. Na cobertura, um pequeno jardim sobre laje. O interessante deste projeto é a alteração da forma do edifício residencial. Ao invés de uma laje padrão ser replicada uma acima da outra, ligadas por uma circulação vertical, o prédio foi “deitado” no chão. Desse modo, ao mesmo tempo consegue-se chegar a um coeficiente de aproveitamento máximo, essencial para a incor-

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Vigas invertidas lliberando o térreo e soltando as cargas em pilares rente ao muro.

poradora, e um gabarito adequado a um bairro tradicionalmente de sobrados. Não é possível que o arquiteto procurou a ideia de um térreo permeável, mas o aspecto de a calçada invadir o lote em um espaço coberto é muito interessante para a cidade. Talvez um uso semi-público pudesse acontecer, criando re-lação entre o público e o privado. Outro ponto que poderia acontecer no projeto é a ligação

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Corredor lateral da Vila Aspicuelta, escadas modelam a fachada e as aberturas.

da Rua Aspicuelta e o Beco do Batman por den-tro do terreno, trazendo mais visitantes para a região. Sabe-se que a cidade de São Paulo tem sérios problemas de segurança, porém o ques-tionamento desses espaços deve acontecer, assim como ocorre no Conjunto Nacional ou no Copan.

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VILA GIRASSOLUMA IDEIA PARA O BAIRRO

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Percorrendo o Bairro da Vila Madalena é possível encontrar alguns lotes subutilizados ou com usos que poderiam ser mais apropriados para a área. Um desses lotes fica na Rua Girassol 555, o qual hoje em dia funciona um estaciona-mento de carros. O terreno faz divisa com o Res-taurante Saj, de comida árabe, que tem apenas um pavimento. Nos fundos do restaurante existe um Hostel de três pavimentos. Do lado oposto, um edifício residencial de oito andares e no fun-do do lote dois prédios de escritório de seis an-dares. Como já mostrado, a topografia do bairro é acentuada. No próprio lote existe um desnível de cinco metros em direção aos fundos. Isto in-fluencia na relação com os vizinhos. O edifício residencial ao lado, por exemplo, fica quatro metros acima, formando um paredão para o ter-reno. Os prédios comerciais ao fundo estão em nível mais baixo, permitindo uma melhor insola-ção e ventilação. A partir de diversas análises apresenta-das aqui, um projeto de empreendimento para o bairro foi desenvolvido. O início do processo projetual foi encontrar um programa adequado para a área. A proximidade com o terminal de

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metrô e terminal de ônibus da Vila Madalena, es-tação Cidade Universitária de trem, a facilidade de acesso pela Marginal Pinheiros, Avenida Far-ia Lima, Avenida Heitor Penteado mostra que chegar ao bairro de diferentes meios de trans-porte é fundamental. Outro ponto importante destacado é a diversidade de usos. No bairro existe comér-cio local, como lavanderias, correios, bancos, padarias. Comércios mais abrangentes, como mercados, restaurantes, lojas de vestuário, bares. Outros usos fundamentais, como escolas, hospi-tais, creches, fora universidades, como a USP. Muitos escritórios, principalmente das áreas de humanas, como publicidade, marketing e ar-quitetura, também estão presentes, aumentan-do a oferta de trabalho. Essa mistura de usos juntamente com a fa-cilidade de acesso à Vila Madalena fundamen-ta a possibilidade de adensamento da região. Portanto, o programa escolhido para o projeto em questão foi de um conjunto residencial. Outra questão importante em relação ao bairro é a inexistência de espaços públicos mais amplos e a grande quantidade de pessoas uti-lizando as calçadas de bares e restaurantes. A

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Vila é um bairro conhecido por estes usos, e pes-soas de toda a cidade vão até lá para o lazer. Porém, os usos concentram-se próximo à rua, praticamente único local público da região. Ex-istem poucas praças e elas são utilizadas basi-camente como áreas verdes, sem outros usos. Então, outra possibilidade de projeto é de uma praça pública, expandindo a calçada para dentro do lote. Com esses dois usos definidos de partida, residências e praça pública, já existe a possibi-lidade de pensar o objeto, começando por sua volumetria e gabarito. A história da Vila Madale-na demonstra seu caráter de cidade do interior paulista. Como o nome já diz, na Vila encon-tram-se sobrados e pequenas vilas residenciais, em que geralmente os moradores se conhecem e passam de geração para geração a casa. Os pequenos comércios de bairro, como as padar-ias, lavanderias, farmácias e pequenos merca-dos ainda permanecem desde o início da con-strução do bairro. É verdade que a Vila Madalena deve e está sendo adensada e a paisagem da região está se alterando, porém o caráter de interior ainda pode e deve ser mantido. A vivência do

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bairro é mais humanizada, mais simples e tranqui-la, diferentemente de outras áreas, como Faria Lima ou Avenida Paulista. Não se deve esquecer esse passado e afugentar os antigos moradores. Com este pensamento, a proposta é de um gabarito médio, com no máximo quatro pavimentos, metade do geralmente construído pelas construtoras e permitido no zoneamento, de oito pavimentos. Assim, a proporção das ca-sas ao redor e do próprio uso da rua em relação ao objeto é menos impactante. Outro aspecto pensado que faz a rela-ção do público e privado menos impactante é a da utilização do térreo público com a cria-ção de uma praça. O acesso privado acontece somente pela escada ou elevador residencial, com entrada controlada somente para mora-dores. Definidos o gabarito e o chão, procurou-se desenhar o volume. Dois projetos foram fun-damentais para o desenvolvimento deste em questão: o Vila Aspicuelta, de Tacoa Arquitetos, e a Unidade Habitacional de Marselha, de Le Corbusier. A Vila Aspicuelta projetada pelo escritório Tacoa em 2013 fica na Rua Aspiculta, na própria

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Vila Madalena. O programa consiste em oito apartamentos de três andares cada. Os ambi-entes são divididos apenas pelos pavimentos e cada casa tem acesso próprio por escadas. No primeiro, temos o setor social, com sala e coz-inha. No segundo, o privativo, com dormitório e banheiro, o último é a cobertura, com um jardim. O térreo é coberto por uma grande laje de concreto, projeção do próprio bloco con-struído. Apesar do uso necessário, de garagens de veículos, essa grande área livre proporciona no nível da rua, uma possibilidade de permea-bilidade da calçada para dentro do lote. Talvez essa ideia não tenha sido realmente pensada pelo arquiteto ou pelo incorporador, porém o re-sultado visual é esse. Pode também ser uma ini-ciativa do arquiteto, para que futuramente out-ros projetos possam ir mais a fundo na questão do térreo livre, relembrando edifícios modernos, como o Copan ou o Conjunto Nacional. A Unidade Habitacional de Marselha de Le Corbusier é um edifício de uso misto de dezoi-to pavimentos. Alguns pavimentos são utilizados para restaurante, escritórios, área comercial, clube, escola, ginásio de esportes, enfermagem, enquanto os outros, uso residencial com 58 uni-

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dades duplex. A ideia de Le Corbusier era pro-duzir um edifício onde todas as necessidades do ser humano pudessem ser cumpridas em um só lugar. O interessante nesse projeto é a circula-ção horizontal das áreas residenciais. A circula-ção ocorre somente a cada três pavimentos. Para isto o corte do projeto é fundamental. A cir-culação horizontal ocorre no centro e o acesso para dois apartamentos acontece um de frente para o outro. Nesse pavimento, o apartamento A (superior) tem uma escada para o andar su-perior e chega até o lado oposto do edifício, passando por cima da circulação horizontal. Em contrapartida, o apartamento B (inferior) passa por baixo da circulação. O estudo deste projeto e o da Vila Aspi-cuelta, apresentado anteriormente, levaram a uma volumetria diferente da comum. Com o térreo livre, o programa da praça pôde ser de-senvolvido. O programa público pretende definir um espaço em que diferentes públicos utilizem o espaço. O acesso pela Rua Girassol é feito por rampa, na lateral, um espaço é reservado para mesas ao ar livre, do restaurante vizinho Saj. Mais abaixo, acima da laje de cobertura da garagem, um platô pode ter diversos usos, como pequenas

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feiras de artesanato, pequenas apresentações artísticas, alimentação periódica. O final do ter-reno é um espaço de rampas e espaços verdes com paisagismo, espaço e permanência, mas também de passagem. O acesso aos apartamentos e para a ga-ragem residencial é feito por uma escada social e um elevador. A circulação horizontal, assim como em Marselha, fica no pavimento central, chamado de térreo, onde os acessos aos apar-tamentos são feitos. A orientação norte está em direção ao edifício residencial vizinho, portanto as melhores orientações (leste-oeste) estão dis-postas para a rua e os fundos do lote, onde as janelas deveriam ser abertas. Para possibilitar as janelas, os apartamentos foram separados por vazios, criando um volume em blocos separa-dos, ligados apenas pelo centro, a circulação horizontal. Mais uma vez reproduzindo a Unidade Habitacional de Marselha do Le Corbusier, mes-mo os apartamentos estando dispostos interca-ladamente, eles são duplex, um passando por cima da circulação e outro abaixo. A solução permitiu uma relação de vila para o conjunto, em que as relações de proximidade dos mora-

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dores são feitas no amplo corredor central. A implantação do conjunto foi definida pelo comprimento do terreno. A projeção fica basicamente em todo o lote, porém as aberturas ficaram na direção leste-oeste, produzindo vazi-os entre os apartamentos. A materialidade fica por conta da estrutura em concreto aparente e os brises e fechamentos em madeira. Por fim, o volume elevado do chão por paredes estruturais e pilares centrais é definido por paralelepípedos ortogonais e minimalistas. Por fim, o projeto procurou adequar-se às necessidades da Vila Madalena, que ao mes-mo tempo deve ser adensada, pela proximi-dade com o terminal de metrô Vila Madalena, mas também precisa de espaços públicos mais amplos e de qualidade espalhados pelo bairro, como pocket-parks que ampliam as calçadas para dentro dos quarteirões. O avanço do mercado imobiliário na região é intenso, portanto deve-se ter o bom senso entre produzir arquitetura de qualidade e em grande escala, e ao mesmo tempo não criar grandes impactos para as pré-existências, sem jogar fora as características tão importantes e saudáveis do bairro.

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BNH - Refere-se ao conjunto residencial financia-do pelo Banco Nacional de HabitaçãoCrusp - Conjunto Residencial da USPFAAP - Fundação Armando Alvares PenteadoGlobo - Rede Globo de TelevisãoIPTU - Imposto Predial e Territorial UrbanoMackenzie - Universidade Presbiteriana Macken-zieLight - Light Serviços de Eletricidade S.A (gera-ção, distribuição, comercialização e soluções de energia elétrica)Parklets - Pequenos espaços de lazer para pedes-tres construídos na rua, voltados para a calçadaPocket-park - Pequena praça pública, projeta-da para o público vizinhoUSP - Universidade de São PauloZN1 - Zona de uso estritamente residencial de densidade demográfica baixa - Novo Zonea-mento da cidade de São Paulo

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Páginas 10/11 – Google Earth – Acervo PessoalPágina 15 – Google Earth e 3D digital – Acervo PessoalPágina 19.1 – Reprodução do livro “Vila Madale-na, Crônica Histórica e Sentimental”Página 19.2 - Reprodução do livro “Vila Madale-na, Crônica Histórica e Sentimental”Página 21.1 - Reprodução do livro “Vila Madale-na, Crônica Histórica e Sentimental”Página 21.2 – Rua Aspicuelta – Acervo PessoalPágina 22 – Beco do Batman – Acervo PessoalPágina 26 - Pop Madalena, Andrade Morettin, Idea Zarvos – Acervo PessoalPágina 29 – Rua Wizard – Acervo PessoalPágina 32 – Beco do Batman – Acervo PessoalPágina 37 – Oka, Isay Weinfeld, Idea Zarvos – Acervo PessoalPágina 40.1 – Une, Gui Mattos, Idea Zarvos – Acervo PessoalPágina 40.2 – Mix 422, Isay Weinfeld, Idea Zarvos – Acervo PessoalPágina 42 – Corujas, FGMF, Idea Zarvos – Acervo PessoalPágina 44 – Oito e Oka, Isay Weinfeld, Idea Zar-vos – Acervo PessoalPágina 48 – Harmonia 57, Tryptique – Acervo Pes-

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soalPágina 49 – Corujas, FGMF – Acervo PessoalPágina 52 – Corujas, FGMF – Acervo PessoalPágina 56 – Fidalga 727, Tryptique, Idea Zarvos – Acervo PessoalPágina 61 – Galera Idea Zarvos – Acervo PessoalPágina 62 – Simpatia 236, Grupo SP, Idea Zarvos – Acervo PessoalPágina 64 – Fidalga 727, Tryptique, Idea Zarvos – Acervo PessoalPágina 66 – Rua Luís Anhaia – Acervo PessoalPágina 68 – Box 298, Andrade Morettin, Idea Zar-vos – Acervo PessoalPágina 69 – W305, Isay Weinfeld, Idea Zarvos – Acervo PessoalPágina 71 – Mix 422, Isay Weinfeld, Idea Zarvos – Acervo PessoalPágina 72 – Simpatia 236, Grupo SP, Idea Zarvos – Acervo PessoalPágina 74 – BNH Vila Madalena – Acervo PessoalPágina 76 – Vila Aspicuelta, Tacoa Arquitetos, Aphins Incorporação Imobiliária – Acervo PessoalPágina 78 – Vila Aspicuelta, Tacoa Arquitetos, Aphins Incorporação Imobiliária – Acervo PessoalPágina 79 – Vila Aspicuelta, Tacoa Arquitetos, Aphins Incorporação Imobiliária – Acervo Pessoal

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Página 81 – Google Earth e 3D digital – Acervo PessoalPáginas 82/83 – 3D digital – Acervo PessoalPágina 85 – 3D digital – Acervo PessoalPágina 87 – desenho de projeto – Acervo PessoalPágina 89 – desenho de projeto – Acervo PessoalPágina 91 – desenho de projeto – Acervo PessoalPágina 93 – desenho de projeto – Acervo PessoalPágina 95 – desenho de projeto – Acervo PessoalPágina 97 – desenho de projeto – Acervo PessoalPágina 99 – 3D digital – Acervo PessoalPáginas 100/101 – 3D digital – Acervo PessoalPáginas 102/103 – 3D digital – Acervo Pessoal

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BIBL

IOG

RAFI

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