encontro luso-brasileiro de conservação e restauração

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1 ENCONTRO LUSO-BRASILEIRO de CONSERVAÇÃO e RESTAURAÇÃO 2 ° Caderno de Resumos: Pôsteres - v.3 São João del Rei - MG 2013

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AUGUSTIN, SILVA, VEIGA. Gestão, Inventário e Conservação Do Acervo Em Gesso Do Museu Da Escola de Arquitetura Da UFMG

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Page 1: Encontro luso-brasileiro de conservação e restauração

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ENCONTROLUSO-BRASILEIRO de CONSERVAÇÃOe RESTAURAÇÃO

Caderno de Resumos:Pôsteres - v.3

São João del Rei - MG2013

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Biblioteca da Escola de Belas Artes da UFMG, MG, Brasil)

Caderno de resumos expandidos: pôsteres- II Encontro Luso-Brasileiro de Conservação e Restauração. (3. : 2013 : São João del-Rei)

2. Encontro Luso-Brasileiro de Conservação e Restauração . agosto de 2013. - São João del-Rei: PPGA-EBA-UFMG, 2013- 104p. : Inclui Bibliografia ISBN: 978-85-88587-16-8

1. Artes, 2. Conservação-Restauração. I. Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Belas Artes. II. Série

CDD: 700 CDU: 7

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II Encontro Luso Brasileiro de Conservação e Restauração

Local: Teatro e Anfiteatro da Biblioteca do Campus Santo Antônio - UFSJEndereço: Campus Santo Antônio - Praça Frei Orlando 170 - Centro - São João del-Rei

Coordenação:Yacy-Ara Froner – UFMGLuiz Antônio Cruz Souza – UFMG Gonçalo de Vasconcelos e Sousa

Brasil:Grupos de pesquisa Arche e LacicorCECOREscola de Belas ArtesUniversidade Federal de Minas GeraisPortugal:Departamento de Arte e Restauroda Escola das Artes da UniversidadeCatólica Portuguesa (Porto).CITAR - Centro de Investigação emCiência e Tecnologia das Artes(EA-UCP-Porto).

Realização

Comissão Científica:BrasilAlessandra RosatoAna Panisset Antônio Fernando Batista SantosIsolda MendesJussara Vitória de Freitas Maria Luisa Ramos de Oliveira Soares Roberto HeidenPortugalCarolina Barata Eduarda Vieira

FAPEMIGPAEP- CAPESPro-reitoria de Extensão - UFMGPro-reitoria de Planejamento - UFMGPro-reitoria de Pós-Graduação - UFMGPPGA-EBA - UFMGUniversidade Federal de São João Del ReyUniversidade Federal do Rio de JaneiroUniversidade Federal de Pelotas

Apoio

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Índice

Pôster 1 - Diagnóstico Geral e Ações de Conservação Preventiva e Segurança

Claudia Cristina Cardoso - Palácio Da Calheta: Diagnóstico Geral e Ações de Conservação Preventiva e Segurança (junho/2011)

Anahí Meyer Riera - O papel na arte contemporânea: o impacto das intervenções de umidificação e prensado

Isabel Halfen da Costa Torino; Andréa Lacerda Bachettini - Um leque mandarim do Museu da Baronesa, Pelotas-RS: história, simbolismos e circunstâncias de restauro.

Angela Marina Macalossi; Keli Cristina Scolari; Andréa Lacerda Bachettini - “Senhoras tomando chá” - Pinacoteca Matteo Tonietti –, Rio Grande – RS: o papel do conservador e restaurador na análise do estado de conservação e a discussão preliminar ao restauro

Isamara Lara de Carvalho - Minas Novas: uma experiência de Educação Patrimonial

Pôster 2 - Políticas públicas e a gestão do Patrimônio Cultural

Bruno Chiossi; Elliana Ursine da Cunha Mello; Rita Rodrigies Lages - Avaliação dos projetos de ação e formação artística e cultural - Arena da Cultura: Patrimônio Cultural: Memória, Identidade e Cidadania

Heloisa Maria Nascimento Martins; Marina Myumi de Souza; Yacy-Ara Froner • Experiências na elaboração das metodologias de registro, higienização e acondicionamento da reserva técnica do Museu Arqueológico da Lapinha – o apoio do Ministério Público Federal, MEC e IPHAN

Cristina Sanches Morais; Grabriela de Melo Bakiewics; Fernanda Mokdessi Auada - Nova tecnologia em Biocelulose para preservação

Carlo Pagani - O legado italiano nas políticas públicas para formação de conservadores/restauradores.

Samara de Souza Soares; Eduarda Vieira - Contribuição para a Conservação e Restauro do Patrimônio em Estuque. Desenvolvimento de uma Metodologia a partir do caso de estudo dos Edifícios Históricos do Recife

Pôster 3 - Novas Tecnologias para a gestão do Patrimônio Cultural

Leonor Sá - Projeto SOS azulejo: pela salvaguarda do património português e de tradição ortuguesa

Beatriz Maria Fonseca Silva - Conservação preventiva em suporte expográfico: estudo de caso da exposição do Museu Arqueológico de Lagoa Santa.

Tatiana Ribeiro Christo - Conservação do acervo cartográfico da Fundação Biblioteca Nacional e um estudo de caso.

Eliana Ursine da Cunha Mello; Luiz Antônio Cruz Souza; Alessandra Rosado - Proposta de fixação de azulejos artísticos em painéis modulares, por sistema de encaixe do tipo macho/fêmea: estudo

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para conservação preventiva

Fernando Menezes Amaro - Cápsula do tempo, encontrada no Porto do VALONGO a pedra fundamental da Docas D. Pedro II – Rio de Janeiro: pedra fundamental

Jeferson Dutra Salaberry - Conservação iconográfica: representação científica dos bens culturais

Pôster 4 - O Papel da Ciência da Conservação na gestão do Patrimônio Cultural

Ana Carolina M. R. Montalvão - Manual de Estratégias Básicas para Gestão da Coleção do LEACH: a atuação do Conservador em acervos arqueológicos.

Edmar Moraes Gonçalves; Margareth Fontaine Ferreira da Silva - Gerenciamento de risco: a experiência na Fundação Casa e Rui Barbosa

Mônica Elisque - Trilhos e memória: preservação do acervo documental do patrimônio ferroviário

Alexandre Leão; Danielle Luce Cardoso - Criação e Aplicação de Metodologia de Documentação Científica para Acervos Arqueológicos: geração de imagens do acervo arqueológico do Museu da Lapinha

Rita Rodrigues - A luz da ciências: os materiais e técnicas utilizados por Damião Bustamante em pinturas de caixotão

Ana Cecília Rocha Veiga; Fernando José da Silva; Raquel França Garcia Augustin - Gestão, inventário e conservação do acervo em gesso do Museu da Escola de Arquitetura da UFMG

Maria Fernando Gomes; Eduarda Vieira - Estudo das Condições Higrotérmicas do Exterior do Edifício da Câmara Municipal de Matosinhos

Pôster 5 - A formação do Conservador-Restaurador: graduação e estudos pós-graduados

Willi De Barros Gonçalves; Tatiane Aparecida Damião From; Eduardo Brandão Alves • Produção de material didático para o ensino de Conservação Preventiva de bens culturais em nível de graduação

Fernando António Baptista Pereira; Alice Nogueira Alves; Fernando Rosa Dias - O Ensino da Conservação e Restauro na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa

Daniele Baltz da Fonseca; Mara Denise Nizolli Rodrigues; Mariana de Araujo Isquierdo • Restauro de estuque lustrado na antiga Escola de Belas Artes da Universidade Federal De Pelotas

Andréa Lacerda Bachettini; Márcia Regina dos Santos Dutra; Mariana de Araujo Isquierdo - Estudo das pinturas murais do Theatro Guarany: formação complementar aos alunos de graduação.

Amanda C. A. Cordeiro; Luiz Antônio Cruz Souza; Renata Peters - Danzantes de la Luz: estudo dos materiais e das técnicas construtivas presentes nos trajes bolivianos utilizados nas festividades religiosas na região do Sucre e Potosí colonial

Mariana Gaelzer Wertheimer; Bianca Servi Gonçalves; Priscilla Pinheiro Lampazz - Estudo do patrimônio de vitrais executados no século XX: inventário dos vitrais na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul.

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Pôster 6 - Laboratórios e Centros de Pesquisa voltados para Bens Culturais

Isolda de Castro Mendes; Maria Regina Emery Quites; Rita de Cássia Cavalcante - Adesivos usados na conservação-restauração: análise de protótipos executados de 1989 a 2012

Jaime Mujica Sallés; Ana Paula da Rosa Leal; Taciane Silveira Souza • Laboratório multidisciplinar de investigação arqueológica (LÂMINA) - Instituto de Ciências Humanas/Ufpel: apresentação de atividades de conservação em materiais arqueológicos

Valquíria de Oliveira Silva; Luciana Bonadio; Isolda Maria Mendes Castro • Estudo e avaliação de tratamentos experimentais em uma pintura colonizada por fungos

Edmar Moraes Gonçalves; Ana Roberta Tartaglia - Estudo das encadernações de livros do século XIX na Coleção Rui Barbosa: programa de Incentivo à Produção do Conhecimento Técnico e Científico na Área da Cultura /2009-2011.

Gerusa De Alkmim Radicchi - O Laboratório de Estudos Antárticos em Ciências Humanas da UFMG e o Patrimônio Arqueológico Antártico

Mariana Gaelzer Wertheimer; Ellen Marianne Röpke Ferrando • Edital de intercâmbio e difusão cultural do ministério da cultura: possibilidades para a formação do conservador-restaurador

Agesilau Neiva Almada • Materiais e técnicas para intervenção em peças cerâmicas: o caso da experiência vivenciada no México

Pôster 7 - Profissionais do Patrimônio: projetos de Conservação e Restauro

Isolda C. Mendes; Ana Carolina Montalvão; Marcos Gohn - Conservação de acervos arqueológicos: estudo de caso de uma vasilha tupi-guarani

Jaime Mujica Sallés; Susana dos Santos Dode; Taciane Silveira Souza - Conservando uma Baioneta Oitocentista: procedimentos, êxitos e problemas.

Jaime Mujica Sallés; Daiane Valadão Pereira; Susana Dos Santos Dode - Aplicação de métodos de conservação em materiais arqueológicos.

Glaucia Silva Marques deSouza; João Cura D’Ars de Figueiredo Junio; Luiz Antônio Cruz Souza - Caracterização e redução eletrolítica de produtos de corrosão em aços arqueológicos da Antarctica

Micheli Martins Afonso; Salomé de Carvalho; Juliane Conceição Primon Serres - Casa Museu Fernando de Castro: diagnóstico de conservação de uma amostragem da coleção de pintura.

Rita Cunha; Marlúcia Neri - Projeto slides de vidro do Centro de Memória da Educação Brasileira/CMEB e Instituto Superior de Educação RJ/ISERJ

Keli Cristina Scolari; Raíssa Piedade Gará - Conservação e restauração de três obras do artista Victor Scharf

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Palácio Da Calheta: Diagnóstico Geral e Ações de Conser-vação Preventiva e Segurança (junho/2011)

Claudia Cristina Cardoso – Museóloga, Mestre em Museologia e Museografia MHNJB/UFMG

IntroduçãoO trabalho diz respeito à realização de Diagnóstico Geral e Ações de Conservação Preventiva e Segurança para o Palácio da Calheta, construção do século XVII localizada no interior do Jardim Botânico Tropical do Instituto de Investigação Científica Tropical em Belém, Lisboa/Portugal, apresentado em cumprimento às exigências da Cadeira de Conservação Preventiva e Teoria do Restauro do Curso de Mestrado em Museologia e Museografia da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Teve por objetivo elencar as condições físico-ambientais de conservação e segurança do Palácio da Calheta, bem como do patrimônio-científico cultural do IICT exposto no Palácio, visando à recomendação de ações e medidas preventivas direcionadas à proteção e integridade daqueles bens.

Breve histórico. Pertenceu a D. João Gonçalves da Câmara, 4º Conde da Calheta tendo servido como residência de veraneio em meados do século XVII. Séc. XVIII foi adquirido por D. João V. Após o Terremoto de 1755: Palácio das Secretarias (Secretarias de Estado e Arquivo Militar) perdurando até 1845. Final séc. XIX: manteve-se desativado. Séc. XX: reformas, sendo utilizado como residência para ex-funcionários Casa Real. Entre 1914-16: adaptações para instalação do Jardim e Museu Agrícola Colonial - exposição de coleções pedagógicas de produtos agrícolas e florestais ultramarinos. Década de 40: restaurado para recuperação da feição de casa setecentista - Exposição do Mundo Português. Décadas de 50 a 90: obras e melhoramentos (fachada, muro, rede elétrica). Início séc. XXI: Centro de Documentação e Informação (CDI). Em 2010-2012: realização da Exposição “Viagens e Missões Científicas nos Trópicos 1883-2010”. Atualmente: processo de readequação parcial de sua estrutura funcional e implantação de medidas de conservação.

O edifício: aspectos gerais. Acesso pela Calçada do Galvão e Rua General João Almeida. Estrutura: telhado em 2, 3 e 4 águas; 88 janelas; 4 portais; 1 cave. Entorno: Jardim atua como fator neutralizador de agentes atmosféricos externos. Assentado sobre solo basáltico – fator maior resistência. Materiais: paredes autoportantes; alvenaria mista, rebocada e pintada; cantaria de calcário; tanque (lago artificial); estuque; ferro forjado; madeira e vidro; azulejaria decorativa (interior) 1º piso: CDI e Biblioteca - 2º piso: Salas de Exposição e Reservas Visitáveis.

Conservação Preventiva: “conjunto de medidas e ações, quer sejam diretas ou indiretas sobre os bens culturais, que tenham por objetivo prevenir ou retardar o processo de degradação ou perdas futuras desses mesmos bens. Estas são implementadas no contexto ou na área circundante de um bem cultural ou conjunto de bens, qualquer que seja a sua idade ou condições”¹

As variações exteriores podem ser transmitidas para o interior. Temperatura, Umidade e Poluição: fatores externos importantes para conservação preventiva. Importância e necessidade do monitoramento ambiental periodicamente. Estudo e Relatório Técnico de Iluminação - equipe conservadores do IICT e técnicos convidados (5 salas e as 11 h): resultados alarmantes com índices entre 160 e 330 lux.

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Conservação/Problemas. Falta de manutenção geral (janelas e portas com pintura descascada; ferrugens; escorrências; fissuras e fraturas; crescimento de colonização biológica – fungos; encanamentos antigos e constantes entupimentos instalações sanitárias); infiltrações no teto e janelas, degradação da parede e piso causada pela umidade; oscilações climáticas constantes (desprendimento de reboco e azulejos); falta de desinfecção periódica (aparecimento de pragas e infestação); trepidações no piso superior (problemas com estabilidade acervo); alta incidência de luz natural pelas janelas com cortinas inadequadas (apenas do lado sul – fachada para o Jardim); acúmulo de materiais e equipamentos variados na cave (inclusive de limpeza), próximos a documentos arquivísticos.

Segurança/Problemas. Alarme com sensores de intrusão e splinkers apenas no piso inferior (Central com comunicação Corpo Bombeiros) e não há vigilância presencial (Definição aprovada no 15º Encontro Trienal ICOM-CC, Nova Dehii, 2008). Contratada; ausência de monitores para acompanhamento nas exposições; má distribuição dos extintores com 13 equipamentos piso inferior e apenas 2 superior (desativados); falta de sinalética indicativa de segurança e emergência; inexistência de Plano de Segurança e Regulamento Interno; fragilidade de portais - sinais de apodrecimento da madeira e fechadura com pouca segurança; existe 1 porta corta-fogo na cave e está obstruída por arquivos; claviculário (porta-chaves) deficitário, necessitando revisão e troca de etiquetas; segurança regular dos muros; ausência de regras ao uso e entrada de malas e outros materiais e equipamentos.

Ações para Conservação Preventiva e Segurança: Manutenção do edifício (reforma da pintura, revisão de portas, sistema hidráulico), equipamentos, limpezas regulares, treinamentos periódicos da equipe responsável e definição de local para guarda do material e produtos; elaboração de um Plano de Limpeza para todo mobiliário museográfico e higienização do acervo exposto; estudo para rotação parcial dos objetos expostos, principalmente os mais sensíveis; estudo e avaliação técnica sobre os problemas de infiltrações estruturais e possibilidades de intervenções; vedação de frestas em portas e janelas; controle e atenção nas áreas para refeições; limpeza e desinfecção diária de contentores de lixos; colocação e substituição periódica de armadilhas para insetos em toda a área do edifício; monitoramento e controles ambiental e biológico regulares interno/externo (UR, temperatura, luz, poluentes, pragas) – aquisição de aparelhos técnicos (datalogers, luxímetro, medição de choques e vibrações). No caso de correções climáticas para uma estabilização (sem oscilações bruscas e de forma gradual) avaliar capacidades e manutenção do equipamento e econômica da instituição (uso sustentável); redução do nível de iluminação (natural e artificial) visando o equilíbrio entre a visibilidade e segurança da peça. (substituição das cortinas black-out pela do tipo microperfurada; redução das tiras de leds, desligamento da energia em ausência de público); inspeções periódicas ao estado de conservação das peças; calafetar portas e janelas para diminuição variações termohigrométricas; colocação de revestimento antitrepidante nas prateleiras das vitrines (a base de poliestileno); confecção de estrutura para apoio das peças de madeira, evitando sobrecarga no painel azulejado; confecção de plintos para elevação dos objetos dos pisos; uso do melinex em alguns documentos e retirada das etiquetas originais de algumas peças; retirada de peças expostas no topo dos armários e elementos perecíveis da exposição; maior proteção do mobiliário museográfico e ambientação (fechamento, colocação de vidro e cordão de isolamento); elaboração de Plano de Segurança e Emergência (segurança das pessoas e do patrimônio – intrusão, roubo, catástrofes, vandalismo, agressões) e Regulamento Interno do Palácio; recarga periódica dos extintores e a previsão de mais equipamentos para o piso superior assim como a colocação de sensores de alarme; colocação de Sinalética de Emergência; manuseamento cuidadoso das peças em operações de circulação ou retirada da exposição;

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renovação das etiquetas do claviculário (porta-chaves); vigilância presencial (bolsistas, voluntariado); ampliação do número de bancos de descanso.

Conclusão: Palácio da Calheta: importante centro de ciência, cultura e lazer. Local para implementação de projetos voltados para desenvolvimento e divulgação da investigação científica e acesso ao vasto patrimônio histórico e científico do IICT. Exposições com patrimônio científico e museológico - exemplo marcante de dinamismo e maior visibilidade, comunicação e diálogo com a comunidade - funcionamento adequado e responsável. O edifício necessita maior atenção dos órgãos públicos no qual está diretamente ligado para solução de problemas que podem comprometer a dimensão de seu potencial enquanto espaço de educação e ciência; deficiências e ações propostas - orientação básica para prevenir ou combater os problemas encontrados no Palácio da Calheta; inúmeras dificuldades incapacitam a execução de melhorias em seus espaços abertos ao público: falta de recursos financeiros e materiais, insuficiência de profissionais especilaizados para averiguações técnicas de engenharia, iluminação; importância do apoio do IICT na viabilidade de ações de conservação preventiva e segurança, para inclusão dessas ações no planejamento de atividades e orçamento anual. Esforço de todos os profissionais, funcionários e dirigentes para busca de alternativas que possibilitem a garantia da preservação deste importante patrimônio cultural.

Referências » ASHRAE, Handbook. Heating, Ventilating and Air – Conditioning Applications, 1999.

» Casanovas, Luis Elias. Segurança e Prevenção nos Museus. Boletim do Grupo de Amigos do Museu D. Diogo de Sousa. n.2, set. 1990.

» _________ Algumas considerações sobre climatização museológica: a evolução dos objectivos, os equipamentos. Arquivo de Cascais. Boletim Cultural do Município, Câmara Municipal de Cascais. n.7, p 275-286, 1988.

» _________ Conservação Preventiva e Preservação das Obras de Arte. Lisboa: Medialivros – Actividades Editoriais, dez. 2008. 231 p.

» CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO. O Palácio da Calheta. Texto impresso. Lisboa, 2 p.

» MINISTÉRIO DA CULTURA. INSTITUTO DOS MUSEUS E DA CONSERVAÇÃO. Temas de Museologia. Plano de Conservação Preventiva. Lisboa, 2007. 134 p.

» USP. Museums, Libraries and Archives Council. Museologia Roteiros Práticos. Conservação de Coleções. Trad. Maurício O. Santos e Patrícia Souza. São Paulo: USP. Fundação Vitae, 2005. 224 p.

» SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE LISBOA. A Sustentabilidade Climática em Espaços Culturais. Museus- Arquivos- Bibliotecas. Conferência. Lisboa, 24 mai 2011. 23 p.

» SEQUEIRA, Sílvia; MOURA, Laura. Relatório sobre a avaliação das condições de iluminação na exposição “Viagens e Missões Científicas nos Trópicos – 1883-2010, Palácio da Calheta. Lisboa, 13 jan. 2011.

» Palácio Calheta. Palácio do Pátio das Vacas. Disponível em http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=11278 Acesso em: 02 mai. 2011.

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O papel na arte contemporânea: o impacto das intervenções de umidificação e prensado

Dra. Anahí Meyer Riera, Licenciada em Historia de Arte e Conservação- Restauração (Mestrado em Preservação de Arte Contemporânea no Museo Centro de Arte Reina Sofia e Universidad Complutense de Madrid)

IntroduçãoDeram-se alterações substanciais no mundo da conservação do papel. Por um lado a transformação do fato artístico levou ao uso de novos materiais, e a um uso inédito de materiais já existentes, e por outro, o desenvolvimento da restauração científica passou a aplicar a regra da intervenção mínima. Neste sentido, a restauração, procurando adaptar-se às transmutações do objeto artístico, questiona duas das intervenções mais praticadas na conservação de obras sobre papel: a umectação da folha, realizada por banhos de imersão e sua aplanação por meio de pressão. Estas operações são realizadas de forma rotineira, com o propósito de eliminar as deformações do papel e estabilizar a acidez.

Com o objetivo de desmistificar a necessidade de efetuar estas operações submeteram-se 10 tipos de papéis a um protocolo de banhos de imersão e aplanamento por prensado. A quantificação das variações físicas- químicas sofridas pelo material permite avaliar o impacto da intervenção.

Intuindo que as alterações poderiam ser maiores em obras contemporâneas foram selecionados para o estudo suportes celulósicos fabricados na atualidade.

As questões apresentadas são: Porquê umectar ou aplanar o papel pode não ser desejável? É preciso umedecer e aplanar as folhas de papel, especialmente, sendo suporte de obras contemporâneas? Quais são os possíveis tratamentos? E, qual deles o mais adequado? Pretende-se, através dos resultados obtidos, convidar o restaurador a questionar o seu modus operandi perante cada uma das obras a intervir.

As operações de umectação e prensado: a dificuldade na Arte ContemporâneaO risco implícito na prática das referidas intervenções é agravado em vários tipos de obras contemporâneas, por dois motivos principais: O uso que o artista realiza de todo tipo de materiais sem pensar na perdurabilidade das obras. E as modificações sofridas pelas matérias-primas e as novas técnicas de fabrico do papel.

O conservador- restaurador se encontra perante suportes “jovens” e desconhecidos, enfrentando, entre outros problemas, o secretismo industrial, e tendo que intervir obras diversas, cujo suporte pode estar configurado por pastas mecânicas, semi-químicas, químicas. Além de papeis que ora são produzidos artesanalmente ora seguem métodos de fabrico atuais, distantes dos utilizados pela antiga produção de pasta de papel de trapo.

Estudo técnico Para a materialização do estudo selecionou-se os seguintes papéis:

Papeis para uso artístico: papel feito à mão 100% algodão, papel vegetal e papel para desenho Canson®; procedentes da indústria do artesanato, arquitetura, desenho industrial e belas artes, respetivamente.

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Papeis para uso quotidiano: papéis kraft e papel estraza/pardo, provenientes da indústria de embalagem; cartolina colorida e office paper utilizado para impressão, oriundo da indústria de material de escritório (material fungível).

Papeis para ambos os usos: papel 100% poliéster derivado da nova indústria processadora de produtos sintéticos; papel fotográfico Canson®, na indústria fotográfica.

Um estudo das caraterísticas físico – químicas dos suportes realizou-se previamente e posteriormente às operações de umectação e prensado das folhas. O protocolo de atuação utilizado foi o seguinte:

Registro das medidas dimensionais (da espessura e superfície) e das medições de pH;

Umectação das folhas;

Escorrimento e prensado das folhas. Efetua-se um segundo registro das medições de pH. Pressão media- baixa de 11,50 gr/cm2 (P pressão =F força /A área);

Segundo registo das medidas dimensionais, e terceira medição de pH (24 horas depois de retirar o papel da prensa);

Análises à gota;

“Tinção de Weisner”.

Resultados Variações de pH: Aumento de pH de entre 0,5 e 1,5%. É habitual que em médio aquoso se dê a dissolução de agentes ácidos e de partículas de sujidade, pelo que o suporte resulta ligeiramente mais alcalino. Pelo contrário, nos papéis que já possuem uma basicidade elevada observa-se uma diminuição do pH, que baixa entre 0,5 e 1%. Este resultado pode dever-se à dissolução das colas, ou certas cargas inertes presentes na composição da folha de papel.

Variações dimensionais: As medidas são registadas em sentido horizontal da folha cross direction (CD) e longitudinal machine direction (MD).

Nos papéis cujas fibras estão orientadas em sentido MD (papeis mecanizados), a variação é sempre maior num sentido que noutro: acortamento de MD (entre 2,4% e 0,40%), crescimento em CD (de 0,2 al 0,75%).

Nos papéis sem direção das fibras, os resultados são diferentes, as variações são idênticas em todas as direções.

No que diz respeito às variações de espessura, a quase totalidade dos papéis analisados apresentam uma redução da área superficial, produzido pelas forças que exercem a tensão pressão superficial durante o tempo da secagem a baixo peso.

Variações produzidas na superfície fibrilar: Observa-se um aumento da capacidade de absorção de água do suporte; isto é, uma menor resistência à umidade.

Considerações finaisNão há duvida que ao finalizar os processos de umectação e prensado a folha fica diferente da que tínhamos originalmente. Tem lugar uma “alteração da forma anterior” (Muñoz, 2009),

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representada por: a variação das dimensões da folha (sendo mais notório no sentido transversal das fibras de celulose e menos no sentido longitudinal); a perda das texturas e relevos (sendo habitual a “hornificação” ou aplastamento das fibras); as variações dos compostos localizados na superfície fibrilar; e, a dissolução de aditivos presentes na composição do papel.

No que respeita aos papeis de fabrico atual encontramo-nos perante o chamado problema da permanência. A maioria dos papéis analisados não são suportes qualificados para durar, pois são fabricados pela indústria para uso efémero.

Referências » BALLIU BADIA, M. Carme. “El Papel en l’Art Contemporani” en Curs de Art Contemporani:

aproximació als nous material i tècniques de producción. Centre de Conservació i Restauració de Béns Mobles de Catalunya (CRBMC), 27 Septiembre 2012 (inédito).

» BLASER, Linda; PECKHAM, Susan.“Overall and local Humidification and Flatenning: tips and tricks” en The Book and Paper Group Annual, 25, pp. 43 – 48, 2006.

» FARDIM, Pedro. “A Superficie Da Fibra e a Química Da Parte Úmida” en O Papel, vol. Abril, pp. 97-107, 2002. Disponible en: http://www.revistaopapel.org.br

» MUÑOZ VIÑAS, Salvador “The Impact of Conservation Pressure-Flattening on the Dimensions of Machine-made Paper” en Restaurator, pp. 181- 198, 2009.

» MUÑOZ VIÑAS, Salvador. La Restauración Del Papel. Madrid: Tecnós, 2010(a).

» RODRÍGUEZ LASO, María D. Conservación y Restauración de la obra gráfica, libros y documentos. Bilbao: Servicio Editorial de la Universidad del País Vasco, 2004.

» TACÓN CLAVAÍN, Javier. La restauración en libros y documentos: técnicas de intervención. Madrid: Ollero y Ramos, 2009.

» VIÑAS LUCAS, Ruth. Estabilidad del papel en las obras de arte. Madrid: Fundación Mapfre, 1996.

» WATKINS, Stephanie. “Practical Considerations for Humidifying and Flattening Paper” en AIC 30th Annual Meeting, the Book and Paper Group. Miami – Florida, 6- 11 Junio, pp. 61- 76, 2002.

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Um leque mandarim do Museu da Baronesa, Pelotas-RS: história, simbolismos e circunstâncias de restauro.

Isabel Halfen da Costa Torino- UFPel

Andréa Lacerda Bacnhettini-UFPel

IntroduçãoEste trabalho trata do processo de restauração de um leque mandarim do século XIX, que pertence ao acervo do Museu Municipal Parque da Baronesa. Visando a sua recuperação física e estrutural como objeto museológico, assim como a preservação de seu valor simbólico e histórico, esta pesquisa quer mostrar, também, que esse objeto, ao longo da história, teve muitos papéis e significados além do simples caráter utilitário que sempre lhe atribuíram, constituindo-se, em alguns momentos, em verdadeiros espaços de manifestações artísticas, culturais, políticas e até ideológicas.

O desenvolvimento desta investigação, além dos resultados da prática do trabalho de restauro do leque, teve como embasamento uma dissertação de mestrado desenvolvida por Andreia Peres na Universidade Nova de Lisboa, em Portugal, onde a restauradora realizou, durante a intervenção, vários exames para a caracterização técnica e material de dois leques mandarim. A partir da semelhança entre os exemplares, do cruzamento de informações e da prática do processo de recuperação do leque estudado, pretendeu-se traçar uma comparação entre essas peças, que possuem as mesmas características técnicas e matérias-primas: madeira (varetas), laca (proteção das varetas), papel (folha do leque), seda (roupas dos mandarins) e marfim (cabeça dos mandarins).

Buscou-se, também, a partir da caracterização das técnicas construtivas e do estudo sobre os materiais constituintes do leque e seus comportamentos entre si, entender melhor a interação desses elementos, respondendo de maneira favorável a um desafio complexo: o desenvolvimento de estratégias de intervenção eficientes e, ao mesmo tempo éticas, frente à escolha de materiais adequados e compatíveis com a composição diversa dos elementos constituintes desse objeto e os parâmetros ambientais locais.

Paralelamente, foi realizada pesquisa histórica sobre o leque como objeto, sua evolução desde a antiguidade até o século XX, seu papel como transmissor de mensagens, seus simbolismos e sua linguagem gestual e, ainda, pesquisa sobre os leques chineses, mais especificamente sobre o leque mandarim, também denominado “Leque das cem caras”. Procurou-se contextualizar o leque mandarim abordando as marcas da China deixadas em nosso país por meio das relações sino-brasileiras durante o período colonial, quando o Brasil era rota comercial entre Portugal e suas colônias na Ásia (LEITE, 1999, p.9). Esta pesquisa identificou-o como sendo produzido no Porto de Cantão, no Sul da China, por um tipo de leque que era confeccionado exclusivamente para exportação à Europa e continente americano, como fotografias ou cartões postais que se leva de recordação (PERES, 2009, p.5). Segundo a autora, devido a sua beleza, aliada ao seu baixo custo, essa tipologia era a mais apreciada no século XIX. A pesquisa bibliográfica permitiu situar, também, o leque mandarim como produzido na primeira metade do século XIX pelo número de figuras representadas em sua folha, já que até 1820 eram utilizadas, para isso, no máximo 15 figuras na folha. A partir desse ano, começaram a aumentar gradativamente o

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número de figuras representadas, podendo chegar a cem. (WEBER, 1984, p.49).

Intervenção realizadaNo leque: Desinfestação, higienização e limpeza. Na folha: enxertos, obturações com polpa de papel japonês, colagem das roupas de seda e realinhamento dos fios, reintegração cromática das lacunas com a técnica de pontilhismo e aplicação de camada de proteção. Nas varetas: limpeza, consolidação de microfissuras, aplicação de camada de proteção. Confecção de embalagem em papel de pH neutro para armazenagem.

Considerações finaisConsiderando-se que o objetivo desse trabalho era a recuperação física, estrutural e estética do leque mandarim, avalia-se como positivo o resultado alcançado. Durante todo o processo de restauro, além de apoiar-se no resultado de pesquisa sobre as técnicas construtivas, os materiais componentes do leque e seus comportamentos, buscou-se o uso de produtos inócuos, que apresentassem boa interação entre si e com o conjunto, satisfazendo, assim, o princípio da utilização mínima de materiais em uma intervenção.

Referências: » BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. Cotia, São Paulo: Ateliê Editorial, 2004

» CARVALHO, Ana Godinho. A papeleira miniatura chinesa da Casa-Museu Anastácio Gonçalves e o comércio do século XVIII. 2010. Dissertação (mestrado em Arte Patrimônio e Teoria do Restauro)- Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa, Portugal. Disponível em: http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/1998/1/ulfl079942_tm.pdf dia 28/10/2011.

» FREYRE, Gilberto. Sobrados e mucambos. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 7º edição, v. 2, 1985.

» KLEINER, Liliane Masschelein. Os solventes. In: Restauração Ciência e Arte. Rio de Janeiro. Editora UFRJ; Iphan, 2005. p. 21-171.

» LEITE, José Roberto Teixeira. A China no Brasil: influências, marcas, ecos e sobrevivências chinesas na sociedade e na arte brasileiras. Campinas: Ed. Unicamp. 1999.

» MISSÃO DE MACAU EM LISBOA. Da folha de palmeira à peça de museu - O leque chinês. Lisboa: Ministério da Cultura, 1999.

» PERES, Andreia Santos. Um segredo bem guardado: Leques mandarim-caracterização material e conservação. 2009. Dissertação (mestrado Conservação e Restauro) Faculdade de Ciências e Tecnologia- Universidade Nova de Lisboa, Portugal.

» RONDON, Ana. Conservação e Restauração de Pintura Sobre madeira. In: Conservação e Restauro. Rio de Janeiro. Editora Rio. 2003. p. 51-72.

» SOUZA, Luis Antônio Cruz; FRONER, YACY-ARA. Reconhecimento de materiais que compõem acervos. In: Tópicos em Conservação Preventiva. Belo Horizonte-MG. 2008. Disponível em: http://www.lacicor.org/demu/pdf/caderno4.pdf. Acesso em 12/09/2012.

» VIÑAS, Salvador Muñoz. La Restauración del papel. Madrid: Editorial Tecnos, 2010.

» VIÑAS, Salvador Muñoz. Teoría contemporánea de la Restauración. Madrid: Editorial Síntesis,

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2010.

» WEBBER, Pauline. The Conservation of Fans. The Paper conservation. Inglaterra, v. 8, p. 40-58, 1984. Disponível em: http://web.mac.com/elandbas/papier_sem-3/waaiers_files/IPC%2084%2003.pdf. Acesso em 04/11/2012.

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“Senhoras tomando chá” - Pinacoteca Matteo Tonietti –, Rio Grande – RS: o papel do conservador e restaurador na análise do estado de conservação e a discussão preliminar ao restauro

Ms. Ângela Marina Macalossi - UFPEL

Dra. Andréa Lacerda Bachettini - UFPEL

Keli Cristina Scolari - UFPEL

Introdução Nesta pesquisa discutimos e propomos a restauração de uma pintura em óleo sobre tela juntamente com sua moldura pertencentes ao acervo da Pinacoteca Municipal Matteo Tonietti da cidade do Rio Grande-RS/ Brasil.

A pintura “Senhoras Tomando Chá” tem como tema uma cena de interior, onde senhoras estão tomando chá. As dimensões da obra são de 164 cm x 218 cm x 6,5 cm com moldura e sem moldura 140 cm x 195 cm. Não se tem registros de atribuição de autoria para a obra, mas no canto inferior direito notam-se indícios de uma assinatura, que com o restauro espera-se poder visualizá-la e identificá-la.

Metodologia e resultados.A obra foi doada ao município do Rio Grande pelos Bancos Escandinavos, na década de 1950. Há algum tempo, a mesma não participa de exposições devido ao seu frágil estado de conservação, portanto para que ela volte a participar de exposições é necessária sua restauração.

Para isso foi estabelecida uma parceria entre o Laboratório de Conservação e Restauro de Pinturas do Bacharelado em Conservação e Restauração de Bens Cultuais da UFPel e a Secretaria de Cultura do Rio Grande através do Centro Municipal de Cultura Inah Emil Martensen onde está lotada a Pinacoteca do Município. Esta pesquisa está vinculada ao Projeto de Extensão Documentação, Restauração e Exposição da obra Senhoras Tomando chá da Pinacoteca Matteo Tonietti – Rio Grande – RS, coordenado pela Professora Andréa Lacerda Bachettini.

A pesquisa tem por objetivo principal identificar as patologias e intervenções presentes na obra “Senhoras Tomando Chá”. É almejado verificar se os materiais empregados nessas intervenções encontram-se em bom estado de conservação ou se estão prejudicando a integridade física e interferindo na leitura estética da obra.

Tem como tema principal a tomada de decisão de remover intervenções anteriores de restauração. Os critérios utilizados para remoção ou não remoção de intervenções da obra “Senhoras Tomando Chá” foram baseados nas teorias e nos critérios contemporâneos de restauro preconizados atualmente pelo ICOM-CC (Conselho Internacional de Museus – Comitê de Conservação): princípios da autenticidade, compatibilidade, estabilidade, reversibilidade e retratabilidade.

Considerações Finais

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Sendo assim, a pesquisa será debruçada sobre as questões teóricas e técnicas que precedem as intervenções de bens culturais. É fundamental ao conservador-restaurador conhecer a obra de arte que irá intervir, este conhecimento auxilia e fomenta a tomada de decisão dos procedimentos que serão aplicados no bem cultural.

A pesquisa aqui proposta tem por finalidade gerar conhecimento sobre a conservação e restauração de pinturas a óleo sobre tela, a partir da analise, observação, sugestão de hipóteses e proposta de realização do processo de restauro propriamente dito na obra em questão.

Este ícone artístico que faz parte dos momentos da história comercial da cidade, sua restauração também se justifica, para que possamos lhe devolver a integridade da leitura de sua plasticidade, utilizando todos os procedimentos técnicos da conservação/restauração tão necessários neste momento para a volta da obra às exposições da Pinacoteca Matteo Tonietti.

Referencias principais. » BAUDELAIRE, Charles. O Pintor da Vida moderna. Organizado por: Jérôme Dufilho e

Tomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.

» BRAGA. Marcia Dantas. Conservação e restauro: pedra, pintura, mural e pintura em tela. Rio de Janeiro, 2003.

» BRANDI, Césare. Teoria da Restauração, (Tradução de Beatriz Mugayar Kühl) Ateliê Editorial, São Paulo, 2004.

» CALVO, Ana. Conservación y restauración de pintura sobre lienzo. Barcelona: Ediciones Del Serbal, 2002.

» JANSON, H.W., História Geral da Arte – O Mundo Moderno. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

» KÖHLER, Carl. História do vestuário. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.

» MENDES, Marylka (Org.), BAPTISTA, Antônio Carlos Nunes (Org.). Restauração: ciência e arte. 3.ed. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2005.

» POUSSIN, Nicolas. Restauração: Hymeneus travestido assistindo a uma dança em honra a Príapo. São Paulo: Instituto Totem Cultural 2009.

» VIÑAS, Salvador Muñoz. Teoría contemporánea de la Restauración. Madrid: Síntesis, 2003.

» Referencias eletrônicas

» FRONER, Yacy Ara; SOUZA, Luiz Antônio. Preservação de bens patrimoniais: conceitos e critérios. 2008. Disponível em: < http://www.patrimoniocultural.org/demu/pdf/caderno3.pdf. > Acesso em 11 de fevereiro de 2013.

» SCHÄFER, Stephan. O Desencontro entre os princípios éticos e a prática de restauro - uma questão de (pre) conceitos e de formação profissional? In: XII Congresso Internacional da Associação Brasileira de Conservadores e Restauradores de Bens Culturais. Fortaleza, 28 agosto - 01 de setembro de 2006. Disponível em: < http://www.stephan-schafer.com/pdfs/desencontro-dos-principios-eticos-s-shafer.pdf > Acesso em 27 de fevereiro de 2013

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Minas Novas: uma experiência de Educação Patrimonial

Isamara Lara de Carvalho – conservadora-restauradora – Fundação Biblioteca Nacional

Introdução do resumo expandidoEm 2004, recém-formada no curso técnico de Conservação e Restauração de Bens Culturais da Fundação de Arte de Ouro Preto, fui convidada para um desafio: ministrar um curso de “Restauração de Patrimônio Histórico” numa cidade a cerca de 530 km ao norte de Belo Horizonte, no Vale do Jequitinhonha, durante 45 dias. A proposta inicial da parte da então Associação Atelier de Artes e Ofícios Yara Tupynambá (AYT), hoje Instituto, era capacitar moradores da comunidade local em uma atividade econômica, uma vez que os recursos provinham do Fundo de Amparo ao Trabalhador (convênio PlanTeQ-MG/Secretaria de Estado de Trabalho e Emprego – Ministério do Trabalho).

Aceito o desafio, parti para a adaptação do tema e da apostila existente à minha própria proposta, que seria um curso voltado à conscientização e valorização do patrimônio cultural local. Vi nesse contrato uma excelente oportunidade de colocar à prova o conhecimento adquirido no curso. Preparei a lista de materiais, fui às compras, revisei a apostila e embarquei, sozinha, rumo a uma nova experiência.

Recebi várias incumbências, além de ministrar aulas: realizar todos os trabalhos burocráticos, desde enviar listas de presença semanais, providenciar lanche, fotografar, até organizar passeios e conseguir local para o curso. As aulas duravam seis horas diárias de segunda a sábado, em esquema intensivo. O curso foi gratuito e todo o material foi fornecido pela AYT, bem como um pequeno lanche e vale-transporte. O público-alvo eram principalmente jovens recém-formados no ensino médio e à procura de qualificação profissional. Entre os alunos, além dos jovens egressos do ensino médio, havia outras pessoas da comunidade como auxiliares de paróquia, artistas plásticos, artesãos, funcionários públicos e agentes de turismo.

Ao chegar à cidade, me deparei com uma série de dificuldades para a implantação do curso, mas que foram sendo superadas e me mostraram que ainda era dada relativamente pouca importância ao patrimônio cultural, tanto pela política local quanto pelo desconhecimento da própria comunidade de seu real valor. Apesar disso, contamos com o apoio da Secretaria de Cultura do município e da rádio local para a divulgação, bem como da Paróquia e da Prefeitura para a realização do curso com a cessão de espaço e de obras para os trabalhos.

Mesmo dispondo de apenas seis semanas, o início do curso teve que ser de muita conversa, discussão, visitas, palestras, teoria, leitura e produção de textos, desenhos e tabelas de cores, para só após a segunda semana poder ser introduzida alguma prática (obrigatória por ser um curso de qualificação). O objetivo era qualificar auxiliares de restauração, ou seja, oferecer um curso introdutório para interessados em trabalhar nas futuras obras de restauração da cidade, bem como aos interessados apenas em obter ou ampliar os conhecimentos sobre o tema.

Na primeira fase da etapa prática, que consistiu em embalar, transportar e higienizar peças de escultura em madeira policromada, pintura em tela e outros objetos, o resultado das primeiras semanas foi visível: os alunos desempenharam as tarefas com absoluto cuidado e atenção, demonstrando envolvimento e apreensão do conteúdo ministrado. A segunda fase prática consistiu em preparar colas, massas, tintas e similares, e na demonstração do uso desses

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materiais na conservação e/ou restauração em algumas etapas. Como complemento às aulas, organizamos, em parceria, viagem a Diamantina, com aula de história da arte.

Finalizamos o curso com uma tarefa: a produção, em grupo, de uma cartilha de informação à comunidade. Os alunos produziram e imprimiram, com apoio da gráfica local, um folheto de quatro páginas com informações básicas sobre o patrimônio, sobre sua importância e os cuidados básicos e possíveis de serem tomados para sua preservação. A etapa posterior seria sua distribuição.

A década seguinte: ações desenvolvidas no municípioApós minha despedida, fiquei um tempo sem notícias de Minas Novas, até que, já estabelecida no Rio de Janeiro, resolvi procurar informações. Qual não foi minha surpresa ao descobrir que havia, sim, muitas e boas notícias. Várias restaurações já haviam sido feitas e outras estavam em andamento, inclusive, ações de educação patrimonial, todas pelo IEPHA. As igrejas que visitei, com forros deteriorados, as pinturas já quase totalmente perdidas, as imagens comidas por cupins que fotografei, várias delas estão finalmente recebendo atenção do poder público. Verbas, ainda que insuficientes, estão sendo destinadas ao patrimônio da cidade, bem como da região do Jequitinhonha e outras regiões de Minas. Inúmeras reportagens em sites de jornais, TVs, blogs e do próprio IEPHA relatam os trabalhos realizados.

Considerações finaisTer realizado esse trabalho na cidade de Minas Novas foi para mim um grande desafio, e hoje ainda mais um motivo de orgulho na minha carreira. Mesmo que aqueles alunos a quem ensinei “Noções Básicas de Conservação e Restauração do Patrimônio Cultural”, como preferi denominar o curso, não tenham seguido na área e trabalhado nas restaurações, acredito que uma semente foi plantada. A cartilha produzida e distribuída por eles, e particularmente uma cena tão bonita como a higienização do altar principal da Igreja do Rosário, de iniciativa da própria turma, que assumiu o compromisso de eleger uma igreja a cada quinzena para ação semelhante – são pequenas coisas que dão resultado, ainda que a médio e longo prazos. Claro que tudo é resultado, também, de um outro momento – vivemos uma década de maior pujança econômica e, em consequência, maior investimento no setor cultural. Soma-se a isso a expansão da própria profissão, com o início da graduação de nível superior e a iminente regulamentação da atividade profissional. Sinto, portanto, que vivemos tempos melhores para o nosso patrimônio, e particularmente, que a atividade de ensino, treinamento e conscientização é parte fundamental da profissão que escolhi.

Referências » ATELIÊ de conservação e restauração do IEPHA abre as portas para a comunidade. In:

Agência Minas, 11/12/2012. Disponível em: < http://www.agenciaminas.mg.gov.br/noticias/atelie-de-conservacao-e-restauracao-do-iepha-abre-as-portas-para-a-comunidade/> Acesso em 30/04/2013.

» BLOG Restauração de Acervos. In: iepha.mg.gov.br. Disponível em: < http://www.iepha.mg.gov.br/component/content/article/3306-blog-restauracao-de-acervos/1136-blog-restauracao-de-acervos> Acesso em 30/04/2013.

» FRADE, Fabiano. Restauração Igreja Histórica de Minas Novas. In: Blog Fabiano Frade. Disponível em: < http://fabianofrade.blogspot.com.br/2011/06/restauracao-igreja-historica-de-minas.html> Acesso em 30/04/2013.

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» FROIS, Erik. Minas Novas conclui restauração de imagem de São Francisco. In: Diário do Jequi, 21/06/2010. Disponível em: <http://www.diariodojequi.com.br/index.php?news=1431> Acesso em 30/04/2013.

» INSTITUTO Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais. Disponível em: < http://www.iepha.mg.gov.br/> Acesso em 30/04/2013.

» http://www.iepha.mg.gov.br/banco-de-noticias/979-iephamg-informa-obras-de-restauracao-atendem-a-diversos-municipios

» http://www.iepha.mg.gov.br/component/content/article/3306-blog-restauracao-de-acervos/1136-blog-restauracao-de-acervos

» http://www.iepha.mg.gov.br/banco-de-noticias/515-iepha-entrega-imagem-restaurada-a-minas-novas

» http://www.iepha.mg.gov.br/banco-de-noticias/517-santa-volta-a-minas-novas-para-festejos-em-sua-homenagem

» http://www.iepha.mg.gov.br/programas-e-acoes/municipalizacao-do-patrimonio-cultural

» INSTITUTO Yara Tupynambá. Disponível em: <http://www.yaratupynamba.org.br/> Acesso em 30/04/2013.

» ROCHA, Leo. IEPHA realiza curso de proteção patrimonial em Minas Novas. In: Diário do Jequi, 12/06/2010. Disponível em: <http://www.diariodojequi.com.br/index.php?news=1390> Acesso em 30/04/2013.

» VIEIRA, Bernardo. Minas Novas: aprovada a restauração do imóvel que sediará o Museu de Percursos. In: Blog do Jequi. Disponível em: < http://blogdojequi.blogspot.com/2012/12/minas-novas-aprovada-restauracao-do.html> Acesso em 30/04/2013.

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Avaliação dos projetos de ação e formação artística e cul-tural - Arena da Cultura: Patrimônio Cultural: Memória, Identidade e Cidadania

Bruno Chiossi – graduanda do Curso de Conservação-restauração de Bens Culturais Móveis – UFMG – bolsista FUNDEP/ARENA

Eliana Ursine da Cunha Mello – graduanda do Curso de Conservação-restauração de Bens Culturais Móveis – UFMG – bolsista FUNDEP/ARENA

Dra. Rita Rodrigues Lages - professora do Curso de Conservação-restauração de Bens Culturais Móveis - UFMG

Introdução Esse trabalho aborda os estudos realizados pela área de Patrimônio Cultural da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais- UFMG, no âmbito do Projeto de Avaliação de Formação Artística e Cultural, sobre as estratégias de construção da memória, identidade cultural e cidadania, identificadas nas oficinas do programa Arena da Cultura, vinculado ao Departamento de Integração e Articulação Institucional da Diretoria de Ação Cultural – Fundação Municipal de Cultura da Prefeitura de Belo Horizonte. A coordenação geral do projeto da UFMG é dos professores Luiz Antônio Cruz Souza e Yacy-Ara Froner. A área de patrimônio, inicialmente sob coordenação da professora Yacy-Ara Froner, a partir de setembro de 2012 ficou a cargo da professora Rita Lages Rodrigues.

O Arena da Cultura foi criado pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Cultura (SMC), em 1998, para cumprir metas de um programa de descentralização cultural, atendendo nove regiões administrativas de Belo Horizonte.

De acordo com o Plano de Ação - Quadriênio 2009-2012, as linhas de atuação do Arena da Cultura, podem ser divididas em quatro eixos:

• Formação e Capacitação;

• Difusão Cultural

• Pesquisa e Experimento

• Memória e Patrimônio

A especificidade da área de Patrimônio Cultural, inserida no quarto eixo de atuação, resulta de sua operação transversal no Arena da Cultura, tendo em vista sua capacidade de flexibilização e acolhimento da diversidade também por constituir um campo de ação prática de Difusão Cultural, por meio de suas oficinas de sensibilização.

O objetivo da avaliação realizada pelos grupos coordenadores da Escola de Belas Artes e apresentado sob a forma de relatório técnico foi conhecer, refletir, discutir e propor conteúdos programáticos, metodologias, infraestrutura, materiais, adequação e logística de espaços, recursos humanos, formas de avaliação e perspectivas teóricas.

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Para desenvolver uma adequada metodologia de diagnóstico, o projeto de Avaliação de Formação Artística e Cultural criou em 2011 as coordenações das áreas artísticas em três linguagens – Artes Cênicas, Artes Plásticas e Música – responsáveis pela formulação dos parâmetros de construção, acompanhamento e avaliação dos trabalhos propostos. A nomenclatura das áreas foi modificada em 2011, utilizando-se Teatro e Artes Visuais como reconhecimento dos campos específicos, e outras áreas foram criadas, a de Dança e a de Patrimônio Cultural.

MetodologiaA metodologia de avaliação implementada pela área de Patrimônio Cultural considerou os aspectos quantitativos e qualitativos dirigidos à compreensão das estratégias educativas para abordagem das vivências culturais tradicionais. Nesse sentido, três etapas estruturaram este diagnóstico:

As reuniões preliminares e a leitura da documentação-base fornecida pela FUNDEP para a definição das bases metodológicas, ferramentas e indicadores;

A definição da amostragem e cronograma das visitas dos monitores às oficinas, a aplicação da metodologia, registros fotográficos e a análise dos dados levantados;

O encontro com as coordenações (geral e de área), a aplicação dos questionários e a discussão da estrutura do projeto.

Ao final destas etapas, a análise ampliada irá propor determinadas ações visando potencializar o projeto que, considerando seu histórico e mérito, já tem uma ação efetiva no cenário cultural da cidade de Belo Horizonte.

Considerações finaisO processo de diagnóstico do Arena da Cultura pela UFMG continuou ao longo do ano de 2012 e 2013 e seu término está previsto para agosto de 2013.

A área de patrimônio conta atualmente com oficinas relacionadas a saberes populares associados a uma prática desses saberes por parte dos educadores.

O trabalho da UFMG nessa segunda fase do processo de diagnóstico busca olhar atentamente as oficinas do Arena da Cultura na área de Patrimônio que associam a memória e a criação a partir da tradição, como as oficinas de Brinquedos e Brincadeiras, de saberes populares, de reflexões sobre o patrimônio da comunidade e com a produções de textos e de material imagético pelos participantes.

A equipe da UFMG encontra-se em processo de finalização do estudo e mapeamento das ações de formação artística e patrimônio a fim de permitir ao Arena da Cultura uma visão mais ampla da sua atuação.

Referências » UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS – UFMG/ESCOLA DE BELAS ARTES- (Org.,

FRONER, Yacy-Ara, SOUZA, Luiz. Relatório Técnico – Área de Patrimônio Cultural. Belo Horizonte. Abril/2012

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Experiências na elaboração das metodologias de registro, higienização e acondicionamento da reserva técnica do Mu-seu Arqueológico da Lapinha – o apoio do Ministério Público Federal, MEC e IPHAN

Heloisa Maria Nascimento – graduanda do Curso de Conservação-restauração de Bens Culturais Móveis – UFMG – bolsista PROEXT-MEC

Marina Mayumi de Souza – graduanda do Curso de Conservação-restauração de Bens Culturais Móveis – UFMG – bolsista PROEXT-MEC

Dra. Yacy-Ara Froner – professora do Curso de Conservação-restauração de Bens Culturais Móveis - UFMG

Introdução:O presente estudo busca colaborar na elaboração de metodologias de gestão e preservação de acervos arqueológicos em Reserva Técnica, adotados no trabalho realizado no Museu Arqueológico da Lapinha, vinculados ao “Projetos Integrados para a Consolidação do Centro Arqueológico da Região de Lagoa Santa – Parque Estadual do Sumidouro”.

Histórico:O Museu Arqueológico da Lapinha, localizado na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, foi fundado em 1972 pelo húngaro Mihály Bányai, cujo acervo é estimado em torno de 8000 peças composto por ossadas humanas, artefatos cerâmicos e líticos, fósseis, minerais e animais taxidermizados. Esses objetos foram obtidos através da escavação do próprio fundador ou adquiridos por compras. A maior parte deles, encontrados em sítios arqueológicos situados em Lagoa Santa e regiões próximas. A Reserva Técnica do Museu, localizada numa edificação no entorno imediato junto a fachada posterior desse, compreende uma área de aproximadamente 5 m² e é um espaço não apropriado para o armazenamento das coleções, pois não possui um devido monitoramento das condições ambientais.

O Projeto:O projeto de elaboração de um Inventário do acervo do Museu da Lapinha iniciou-se em 2010, vindo de uma demanda do Ministério Público Federal e IPHAN-MG à equipe técnica da área de Conservação-Restauração da Escola de Belas Artes da UFMG.

Partindo dessa experiência inicial, em 2011 a Escola de Belas Artes da UFMG encaminhou uma proposta técnico-científica de documentação museológica e organização do acervo ao edital PROEXT-MEC, visando o potencial de pesquisa e de exposição das coleções.

A partir de protocolos de registro museológico, criou-se um Banco de Dados baseado, principalmente, nos seguintes campos: número de registro do objeto, fotografia do objeto com consistência cromática, procedência, classificação por material, descrição arqueológica e do estado de conservação e possíveis intervenções anteriores.

Também, foram estabelecidas diretrizes para nortear o trabalho da Reserva Técnica (RT):

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• Retirada dos objetos das antigas caixas;

• Higienização das peças com trinchas suaves para não danificá-las;

• Preenchimento do Banco de Dados;

• Fotografia com luz visível com ajuste cromático;

• Embalagem;

• Acondicionamento final na RT;

De acordo com (FRONER, 2008) a escolha dos suplementos de acondicionamento é extremamente importante. Deve-se priorizar o uso de materiais para embalagem de caráter neutro, inerte e estável tendo por finalidade proporcionar um suporte seguro às peças evitando, assim, possíveis impactos mecânicos e/ou degradações químicas.

É importante ressaltar sobre a necessidade de se estabelecer áreas onde serão realizadas as etapas descritas acima. A devida organização espacial proporciona a fluidez das atividades, como também evita possíveis acidentes no trabalho, que poderiam colocar em risco a integridade do próprio acervo.

É significativo ressaltar a importância de se trabalhar em equipe interdisciplinar em função da complexidade do acervo, pois os perfis dinâmicos e a atuação conjunta possibilitam alcançar, de uma forma mais eficaz e utilizando ferramentas que estão ao alcance, resultados positivos no que se refere às condições próximas ou ideias de acervo. São integrantes da equipe, estudantes inseridos nas áreas de Arqueologia, Fotografia e Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis.

Outrossim, a metodologia é uma convenção que condiciona uma melhor comunicação e interferência sobre as peças. Funcionam como diretrizes norteadoras para o desenvolvimento de técnicas de tratamento de acervos específicos.

Considerações finais:Portanto, o atual estudo de caso buscou ilustrar, de forma sucinta, as abrangências de um projeto realizado durante, aproximadamente, dois anos, cuja proposta foi a elaboração de novas metodologias, visando o contínuo estudo nessa área e o avanço na parceria Arqueologia-Conservação.

Referências: » FRONER, Yacy-Ara. Tópicos em conservação preventiva – caderno 8: Reserva Técnica. Belo

Horizonte: LACICOR-Escola de Belas Artes-UFMG, 2008. 24p.

» MUSEUMS & GALLERIES COMMISSION. Standards in the museum care of archaeological collections. London, 1992.

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Nova Tecnologia em Biocelulose para Preservação

Cristina Sanches Morais – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

Gabriela de Melo Bakiewicz – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

Fernanda Mokdessi Auada – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

Introdução Visando a realidade e as necessidades do profissional conservador restaurador de obras em papel, o laboratório NUCLEM, da Escola SENAI Theobaldo De Nigris, investiu em projetos de Inovação Tecnológica.

O presente trabalho compreende na otimização do processo de consolidação de suporte em papel, utilizando uma manta de membrana celulósica, composta por microfibrilas de celulose pura, formando um material de excelentes qualidades arquivísticas, economicamente viável e sustentável para o meio ambiente.

Metodologia Em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas e o Laboratório de Papel da Escola SENAI Theobaldo De Nigris, foram analisados os parâmetros estruturais,parâmetros de resistência, parâmetros de aparência e ensaios de envelhecimento em mais de 300 amostras.

Os testes consistiram da aplicação sistemática de adesivos Neutral pH Purê Wheat Starch® e Neutral pH Purê Methyl Cellulose®, em amostras selecionadas de papel off set e em papéis de pasta química, pasta mecânica e papel de trapo.

Em todos os testes realizados, foram utilizados os padrões de Normas ISO, como base para referencia dos testes. Resultados e discussões durante a aplicação das amostras e desenvolvimento dos testes, constatamos que a membrana é um material resistente a altas temperaturas, pressão e resistente a quase todos os tipos de produtos químicos, sendo insolúvel apenas em solventes orgânicos.

O material apresentado possuí grande resistência mecânica, maleabilidade, plasticidade e é impermeável à líquidos, fato este de extrema importância em casos de materiais atingidos por sinistro, uma vez que a membrana criará uma película envoltória protegendo o documento ou obra de arte.

A membrana celulósica não possuí sentido de fibra, facilitando a aplicação do material na obra, tornando a atividade do conservador mais ágil. A membrana celulósica também pode ser utilizada como uma massa espessa, adquirida através de processamento em liquidificador, podendo ser usada nos processos de obturações no papel.

A manta celulósica apresenta grande sustentabilidade frente aos materiais já existentes, uma vez que é produzida através de microorganismos não sendo necessário o corte de árvores para sua produção, por ser produzida em meio de cultura apropriada sem necessidade de controle de umidade relativa do ar ou renovação do ar presente no ambiente durante o cultivo, utiliza pouca quantidade de água em sua preparação e todos os resíduos do processo de fabricação são tratados diretamente em uma estação de tratamento própria, causando baixo impacto no meio

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ambiente.

Considerações finais A utilização da membrana celulósica em atividades de conservação e restauro tem se mostrado de extrema eficácia e versatilidade mostrando que é possível desenvolver e utilizar um material sustentável e aplicar um método correto e seguro para o tratamento de obras em suporte papel.

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O legado italiano nas políticas públicas para formação de conservadores/restauradores.

Ms. Carlo Pagani - doutorando em Políticas Públicas para Formação Humana (PPFH) - UERJ.

Introdução As políticas públicas para conservação e restauração de bens culturais envolvem conceitos referentes a questão da relação memória - identidade. Nesse sentido deve-se entender que a memória de uma sociedade, de uma nação ou simplesmente de um grupo social está vinculada a escolhas sobre o que se preserva , seja pensar a memória como “memória do poder” ou “poder da memória”.

Ao longo da historia do homem, muitos são os casos onde se pode confirmar esta afirmação, entre eles a constituição dos estados nações . assim como a significação dada a determinados fatos históricos, e seus heróis e símbolos correspondentes .

Segundo Hungues de Varine-Boham (apud Oriá, 2002, p. 133) são definidas três grandes categorias de patrimônio cultural:

os elementos pertencentes à natureza e ao meio ambiente;

os bens culturais que se referem ao conhecimento, às técnicas, ao saber fazer e aos bens intangíveis;

os bens culturais propriamente ditos que incluem os objetos, artefatos, obras e construções obtidos a partir do próprio meio ambiente e do saber fazer dos homens.

A expressão “patrimônio histórico” passa a ser substituída pela mais abrangente, de patrimônio cultural, e inclui tanto os patrimônios: histórico, ecológico, artístico e cientifico.

A partir daí, surgem novas concepções de museus (comunitários, eco-museu, museus territoriais) que não priorizam a apropriação dos bens culturais no sentido de uma ampliação da difusão das significações produzidas, apenas pelos agentes institucionais. O conceito se amplia, vai além ao valorizar os bens relacionados à vida sociocultural em meios sociais múltiplos e contraditórios com base em um determinado território.

As políticas de preservação e conservação do patrimônio histórico cultural foram se desenvolvendo na Europa, principalmente na Itália, com os teóricos, franceses, ingleses e italianos. A importância da contribuição italiana no que se refere a estas políticas é estudada e redefinida de forma dialética, embora ainda hoje seja referencial a contribuição de teóricos como Cesare Brandi e Giulio Carlo Argan

A grande aproximação entre o Brasil e a Itália, a partir das grandes imigrações, estudadas por diferentes autores, marca a grande contribuição que os italianos no Brasil deram as artes plásticas, arquitetura, literatura e aos múltiplos saberes nos campos da ciência e da vida social . Neste contexto o legado italiano, seja ele a partir das contribuições provenientes das terras além do oceano ou nas possíveis influencias dos artistas e intelectuais italianos em terras brasileiras, se faz presente nas políticas que tiveram como seus idealizadores Rodrigo de Melo

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Franco, Mario de Andrade, Gustavo Capanema, Lucio Costa entre outros.

Estudar as políticas públicas que foram construídas e implementadas no Brasil, no que se refere à preservação e conservação dos bens culturais, com um olhar para as políticas publicas para a formação de conservadores/restauradores pode levar–nos a compreender melhor o percurso das politicas de formação de mão-de-obra em seguidos contextos históricos.

Considerações finaisA pesquisa em andamento no programa de Políticas Públicas Para Formação Humana (P30FH - UERJ) tem como objetivo entender as políticas públicas em curso para a formação de conservadores/restauradores para preencher um setor da formação que, apesar dos cursos universitários (graduação e pós-graduação) de excelências já existentes, ainda é carente.

Parte da pesquisa será desenvolvida a partir das instituições brasileiras, mas terá como um dos objetivos a comparação com o sistema formativo italiano com ênfase no ISCR (Istituto Superiore per la Conservazione ed il Restauro - Roma).

Com estes pressupostos e objetivos queremos contribuir para as discussões sobre os aspectos formativos na área de conservação e restauração assim como trazer resultados que possam reverter uma situação de carência de profissionais de nível médio e superior.

Referências » ARGAN, Giulio Carlo. A Historia da Arte como Historia da Cidade. São Paulo: Martins Fontes,

1992.

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» LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas: Editora da Unicamp, 2003.

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Contribuição para a Conservação e Restauro do Patrimônio em Estuque. Desenvolvimento de uma Metodologia a partir do caso de estudo dos Edifícios Históricos do Recife

Ms. Samara de Souza Soares - Mestrado em Restauración y Rehabilitación de Edificios, grau obtido na Universidade Politécnica da Catalunha, Escola Superior de Arquitectura (Barcelona).

Dra. Eduarda Vieira - Professora Auxiliar do Departamento de Arte, Conservação e Restauro da Escola das Artes – Universidade Católica Portuguesa (Porto).

IntroduçãoO presente trabalho tem como objeto de estudo a técnica tradicional do estuque em sua função decorativa, aplicada em interiores de edifícios históricos da Cidade do Recife-PE, principalmente no período imperial e republicano de Brasil, no qual se enquadram os maiores expoentes desta arte.Recife, fundada em 1537, foi uma das primeiras zonas do Brasil a ser colonizada pelos portugueses. Na época estudada, Recife, em conjunto com o Rio de Janeiro e Belém, era considerada um dos centros urbanos mais importantes do litoral de Brasil. Pelo porto da cidade se exportava todo o açúcar e algodão do nordeste. O contacto direto com Europa possibilitava a importação de materiais e mão –de- obra especializada, o que explica a qualidade alcançada na arquitectura e a integração aos modelos internacionais de a época. O acervo patrimonial do Recife, constituído por notáveis exemplos de fundamental importância para a história de a arquitetura brasileira, deve ser conservado, o que implica, em alguns casos sua restauração, para que esta herança se transmita as futuras gerações em total integridade. Este trabalho tem como objetivo dar sugestões para o desenvolvimento de uma metodologia de intervenção adequada à conservação e restauração deste património.Um fato que dificulta o estudo e a conservação do estuque como arte decorativa são os problemas relativos à escassez de fontes documentais. Esta carência de literatura gera nos profissionais responsáveis pela preservação o desconhecimento das antigas técnicas de construção o que constitui um risco para o património em causa. Esta pesquisa teve os seguintes objetivos específicos: 1.Conhecer como e quando foi introduzida a arte do estuque na cidade de Recife. 2.Realizar um breve “inventário” da arquitetura produzia em Recife no século XIX e XX, com o objetivo de identificar as técnicas e tipologia existente nesta região; 3.Analisar os “materiais e meios” empregados na atualidade para a conservação e restauração do patrimônio em estuque, tomando como exemplo, casos de intervenção realizados em Recife; 4.Contribuir para a recuperação da técnica tradicional do estuque através da toma e processamento de dados existentes.

Foi uma prioridade evidenciar as técnicas, seus tipos e estilos, assim como também conhecer os suportes e materiais empregados no processo construtivo do estuque do nordeste do Brasil. Segundo AFONSO (2002) “A disponibilidade dos materiais – influenciada pela região e época da execução da obra – e a cultura técnica do executor são determinantes para a especificação dos componentes das argamassas e do traço desta” Se a composição das massas dos estuques varia de acordo com os materiais disponíveis em cada localidade e técnica, possivelmente, se encontrarão quadros de patologias diferentes, em conseqüência, o material de restauração deverá ser compatível com essas diferenças. O novo mercado de construção e restauração exige o desenvolvimento de novas tecnologias, mais adequadas às especificidades e problemas locais. Para alcançar uma

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metodologia de conservação mais eficiente, se propõe para estudos futuros, uma abordagem científica como base para o conhecimento profundo dos materiais e técnicas originais, empregando o recurso de análises em laboratório. Atuar em obras de restauro exige uma prática minuciosa, idealmente deverão de se promover operações de conservação utilizando materiais compatíveis, que respeitem ao máximo os materiais históricos e sistemas construtivos originais. Princípios como autenticidade, reversibilidade e compatibilidade entre materiais e técnicas, asseguram a correta preservação deste patrimônio edificado.

MetodologiaO processo começou por uma exaustiva revisão da bibliografia e sistematização informação existente nas principais bibliotecas disponíveis e primeiras academias de ensino. Em paralelo a isto, se coletou informação oral sobre a prática profissional de artífices estucadores, através de consultas a especialistas, mestres estucadores em exercício do oficio, profissionais dedicados à preservação do patrimônio e órgãos responsáveis. A segunda fase se tentou caracterizar a arte decorativa do estuque através da realização de um inventario no terreno. Este tinha por finalidade evidenciar as técnicas, tipos e estilos presentes no patrimônio edificado daquela região. Partindo de uma análise crítica dos estuques funcionais e ornamentais destoes edifícios, se realizou a eleição de estudos de caso. O principal objetivo deste estudo era recolher informação pertinente sobre o tipo de estuque empregado, e saber como se estão realizando na atualidade, ações de conservação e restauração.

Considerações FinaisAs obras de restauro, requerem cada vez mais a atuação de uma equipe multidisciplinar. A complexidade material e técnica da sua execução na origem exige ums sistematização de processos. Este conjunto de acções contempla a realização do mapeado de danos, diagnóstico, prospecções e inúmeros instrumentos de análise que permitam uma leitura clara do objeto como um todo, direcionando a definição e implantação de um projeto de intervenção. Também requer que na fase de inspeção do edifício e interpretação dos resultados, participem especialistas nas técnicas e materiais analisados. Estes fatores fazem que o trabalho de restauração seja lento e tenha custos elevados, razão pela qual, alguns profissionais optam por basear seus projetos em estudos simplificados. Não obstante os custos elevados deste tipo de trabalhos e a necesidade de os contabilizarmos no programa de recuperação de um edifício, o objectivo de preservação da autenticidade material e contextual justificará uma aturada selecção de meios. Devem-se pesar os problemas que podem causar restaurações incompetentes e os danos, nem sempre gerados imediatamente, a um patrimônio de valor. A atuação de técnicos experimentados utilizando um enfoque científico, se justifica para garantir a durabilidade da intervenção ao longo dos anos, colaborando na tomada de decisões, além do que, permite o avance do conhecimento referido aos materiais históricos e técnicas empregadas.

Referências » AFONSO, Marcelo d´Avila. Estudo de técnica para consolidação de forro em argamassa de estuque.

Tese de Mestrado. Habitação: Planejamento e Tecnologia. Instituto de Pesquisas Tecnológicas. São Paulo: 2007.

» CALDAS, Wallace. Restauração de Elementos em Estuque. In: Conservação e restauro:-madeira, pintura sobre madeira, douramento, estuque, cerâmica, azulejo e mosaico. Editora RIO Restauradores Bens Culturais. Rio de Janeiro, 2003.

» MASCARENHAS, Alexandre. Cadernos de ofício/Estuque. Minas Gerais: Ed.Secretaria de Estado

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de Cultura e de MG: Fundação de Arte de Ouro Preto, 2008.

» VIEIRA, Eduarda Moreira da Silva. Técnicas tradicionais de stuccos em revestimentos de interior portugueses. História e tecnologia. Aplicação à conservação e restauro. Tese de doutorado. UPV, Valencia: 2008.

» SEGURADO, João Emilio dos Santos. Acabamentos das construções - estuques, pinturas, etc.. 2.ed. Rio de Janeiro: Francis, [19--] (Biblioteca de Instrução Profissional.)

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Projeto SOS azulejo: pela salvaguarda do património portu-guês e de tradição ortuguesa

Ms. Leonor Sá- Projeto SOS Azulejo, Museu de Polícia Judiciária

O projecto ‘SOS azulejo’ é de iniciativa e coordenação do Museu De Polícia Judiciária e nasceu da necessidade imperiosa de combater a grave delapidação do património azulejar português que se verifica, de modo alarmante, sobretudo por furto - destinado ao tráfico ilícito nacional e internacional - mas também por vandalismo e incúria.

O património azulejar português e de tradição portuguesa ocupa um lugar de relevo não só no património histórico e artístico de Portugal e dos países de expressão portuguesa, como no património da humanidade e urge, por isso, defendê-lo e preservá-lo a todo o custo.

Optando por uma abordagem global ao problema – que abarca não só a prevenção criminal mas também a conservação preventiva e a sensibilização da população – o projecto conta com várias valências e obteve as seguintes parcerias: - Associação Nacional de Municípios Portugueses; - Direção Geral do Património Cultural;- Instituto Politécnico de Tomar; - Rede Temática em Estudos de Azulejaria e Cerâmica João Miguel Santos Simões – Instituto de História de Arte – Faculdade Letras – Universidade Lisboa;- Guarda Nacional Republicana;- Polícia de Segurança Pública .

A partir de 2007 o ‘SOS azulejo’ desenvolveu uma série de iniciativas nas áreas da segurança, conservação e valorização do património azulejar português com resultados muito positivos, como por exemplo: a diminuição dos furtos registados de azulejos históricos e artísticos em mais de 80% e nova regulamentação prestes a entrar em vigor interditando a demolição de fachadas azulejadas e remoção de azulejos das mesmas em Lisboa.

Em 2013 foi atribuído ao projeto SOS azulejo o galardão europeu ‘Prémio Europa Nostra’ na categoria ‘Educação, Formação e Sensibilização’.

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Conservação preventiva em suporte expográfico: estudo de caso da exposição do Museu Arqueológico de Lagoa Santa.

Beatriz Maria Fonseca Silva – UFMG – bolsista PROEXT-MEC

IntroduçãoO Museu Arqueológico de Lagoa Santa, também conhecido com Castelinho, localiza-se em Lagoa Santa no estado de Minas Gerais. Foi fundado por Mihály Banyai em 1972. Esta região sediou inúmeras pesquisas arqueológicas. Podemos destacar as investigações do naturalista dinamarquês Peter Lund em meados do Século XIX; as incursões dos membros da Academia de Ciências de Minas Gerais (também reconhecidos como pioneiros), a Missão Francesa, na década de 1970; o Setor de Arqueologia do Museu de História Natural da UFMG, na década de 1980 e atualmente pesquisadores de antropologia biológica da USP. Estes trabalhos, porém, não priorizaram uma interação com a comunidade local. Ressaltamos ainda que as primeiras publicações sobre a arqueologia regional da Missão Francesa saíram em francês e sequer foram encaminhadas cópias às autoridades do município.

A criação do Castelinho preencheu uma lacuna importante para a população, completamente ignorada pelas políticas patrimoniais então vigentes. O museu é referência para a comunidade local e também fonte de pesquisas científicas de caráter nacional e internacional. Sua estrutura similar a um “Gabinete de Curiosidades” carece urgente de um tratamento estrutural e expográfico para garantir a integridade e valorização do acervo ali exposto. Dentro deste contexto insere-se o projeto Tratamento de Conservação em Suporte Expográfico. Estudo de caso da exposição do Museu Arqueológico de Lagoa Santa, que deriva da nossa participação no Projetos Integrados para a Consolidação do Centro Arqueológico de Lagoa Santa - Parque do Sumidouro.

A proposta é direcionada ao processo expositivo do museu, onde foram aplicados conceitos de Conservação Preventiva no acondicionamento e planejamento de espaços museais. Para tanto selecionamos três suportes expográficos existentes na instituição: duas vitrines contendo material orgânico referente a remanescentes humanos e crânios e uma vitrine contendo material diverso como líticos, ósseos e concha.

MetodologiaO projeto compreende a avaliação dos suportes expográficos conforme os conceitos de Conservação Preventiva, aplicados ao gerenciamento de riscos a partir de critérios como vulnerabilidade e visualidade. Analisamos as estruturas envolventes que abrigam o acervo: região (entorno), edificação (museu), sala de exposição, vitrine, objeto e suporte, compondo um banco de dados referente aos agentes de degradação. Desta forma revimos a estruturação das vitrines existentes, a adequação dos suportes internos que sustentam os artefatos, questões de iluminação, temperatura e umidade no interior das mesmas. Os resultados aplicados na expografia e museografia do Museu, especificamente no tratamento de conservação de três vitrines existentes na Sala 1, a saber:

Vitrine 1: simula uma estrutura funerária com esqueletos. Para esta vitrine foi elaborado um projeto de reforma da estrutura existente.

Vitrine 2: para crânios humanos. Elaboramos e executamos um projeto de nova vitrine reunindo

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os cinco crânios da sala, expostos anteriormente individualmente.

Vitrine 3: composta de materiais diversos como líticos, ósseos, cerâmica e concha. Para esta vitrine foi elaborado e executado um projeto de reforma da estrutura existente.

Os projetos contemplam a implementação de sistema passivo regulador de umidade, com a criação de compartimento específico para armazenar sílica gel, instalação de Datalogger, iluminação com mangueira de LED e suportes em acrílico específicos para o acervo. A vitrine para crânios recebeu uma prateleira com base rotatória que movimenta o objeto nela exposto. O planejamento das novas vitrines priorizou a preservação do acervo com sistemas simples e eficientes, de fácil construção, empregando materiais inertes e acessíveis no mercado.

Considerações finaisA proposta reuniu conhecimentos multidisciplinares de conservação de acervos, arqueologia, museologia e educação patrimonial. Foi uma aplicação prática da tomada de decisão do Conservador-Restaurador no planejamento de espaços museais, sua correlação com as demais áreas afins e sustentabilidade.

A elaboração dos projetos ao seguir diretrizes seguras e subsidiadas destaca a relevância de estudos especializados antes da proposição de um projeto museográfico: do geral ao específico, da compreensão da estrutura ampliada (a macro região do museu: A APA Casrte de Lagoa Santa, a edificação “O Castelinho”) ao elemento específico abordado (vitrines e acervo) as ações refletem a interação da Conservação Preventiva com a Museografia na busca de soluções para a salvaguarda e preservação do objeto exposto.

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Conservação do acervo cartográfico da Fundação Bibliote-ca Nacional e um estudo de caso.

Tatiana Ribeiro Christo - FBN

IntroduçãoO presente trabalho tem como objetivo principal informar sobre o programa de conservação do acervo de mapas raros da Fundação Biblioteca Nacional e descrever o tratamento de restauração de um mapa manuscrito como estudo de caso. A apresentação representa a oportunidade de abordar alguns princípios que permeiam a intervenção de restauração e as tecnologias e materiais empregados que podem despertar o interesse de estudantes de preservação de bens culturais, bem como o de profissionais que vem atuando nesta área do conhecimento.

Preservação do acervo cartográfico da Fundação Biblioteca Nacional e um estudo de casoO setor de Cartografia da Fundação Biblioteca Nacional possui um acervo de aproximadamente 30.000 peças. Em 2006, o Banco Caixa Econômica Federal financiou um projeto de conservação de 3.000 mapas. A partir daí, os setores de conservação e restauração subordinados à Coordenadoria de Preservação tem dado continuidade ao tratamento desta coleção composta de mapas manuscritos e impressos que abrangem os séculos XVI a XXI. Os procedimentos de conservação e ou restauração variam de acordo com o tipo de suporte, o grau de deterioração e características da imagem: manuscrita, impressa e ou aquarelada.

O mapa manuscrito “Planta do arraial de Sta. Luzia e suas imediações com as posições occupadas pelos rebeldes e as tropas imperiais [sic] no combate em 20 do mez d’agosto de 1842 sob o comando do Exmo. General em Chefe Barão de Caxias...” desenhado por Henrique Guilherme Fernando Halfeld em ca.1842., deu entrada no Laboratório de Restauração da Fundação Biblioteca Nacional em janeiro de 2013, em mau estado de conservação. Por ter sido produzido sobre papel aparentemente de celulose de madeira, sofreu deterioração acentuada em consequência do manuseio. Os danos apresentavam-se em forma de rachaduras principalmente ao longo das margens e perda do suporte. A fragmentação não foi mais grave por estar colado sobre um tecido, que apesar de puído e também degradado pela ação do tempo, serviu de sustentação ao suporte quebradiço. Como tentativa de reunir as partes que se despegaram, foi aplicada no verso, em algum momento no passado, fita durex, que se deteriorou ocasionando manchas acentuadas no papel.

O primeiro passo foi realizar uma limpeza mecânica com pó de borracha e trincha e remover mecanicamente e com muita cautela, o tecido do verso. Um bisturi com lâmina cega foi utilizado a seco para auxiliar a remoção do tecido na parte central onde o mapa estava mais íntegro. Nas regiões mais vulneráveis, ou seja, ao longo das margens, foi aplicada cola metil celulose na consistência de viscosidade máxima sobre o tecido para facilitar sua remoção e nestas áreas, logo em seguida, o suporte foi reforçado com tiras de papel japonês de baixa gramatura para manter os fragmentos reunidos. A cola antiga remanescente foi removida por meio de “swab”.

Os testes de solubilidade dos pigmentos preto e coloridos foram negativos, mas optou-se por não aplicar umidade excessiva para evitar não só alteração na definição e intensidade das linhas do desenho, bem como o esmaecimento dos pigmentos vermelho e amarelo utilizados

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na produção da imagem.

Como medida que antecede o tratamento aquoso, o mapa foi submetido a um tratamento prévio de umidificação por meio de técnica onde é aplicado o “gore-tex”, membrana de teflon expandido que tem como característica a impermeabilidade, um lado apresenta textura de feltro e o outro lado possui superfície lisa e favorece a penetração de umidade de forma lenta (fig.4). Este procedimento deu início à solubilização de partículas ácidas contidas no papel/suporte e possibilitou que a próxima etapa, a de tratamento aquoso por flutuação, acontecesse em tempo mais reduzido e de forma mais eficaz. O tratamento aquoso por flutuação foi em solução alcalina com adição de álcool (pH 8) e teve duração de 10 minutos. O álcool serviu para facilitar a penetração da solução nas fibras e evitar a movimentação das partículas da camada pictórica. Para o banho por flutuação, foi utilizada uma cuba de PVC. O mapa de 50x60 cm foi colocado sobre uma tela de nylon “monyl” depositados sobre uma colméia, estrutura de plástico utilizada originalmente em sistemas de iluminação, que serviu de apoio ao documento permitindo a interrupção do banho de forma segura em caso de necessidade e evitou que a solução aquosa não escorresse por sobre a imagem voltada para cima (fig.5).

Após o banho e já seco, as partes faltantes foram reconstituídas manualmente por meio de enxertos com papel reciclado de celulose de eucalipto e pinus no tom adequado. A técnica empregada foi a da “agulha”. A parte faltante é delineada com lapiseira sobre a mesa de luz e a linha traçada é perfurada com uma agulha de seringa e o pedaço é destacado e colado com metil celulose na área correspondente. Optou-se por não utilizar a máquina obturadora de papéis para preenchimento das lacunas com o objetivo de mais uma vez não submeter a camada pictórica à umidade causando qualquer alteração na sua integridade.

Para finalizar, o verso recebeu duas camadas de papel japonês para reforçar o suporte fragilizado. A primeira foi uma velatura com papel japonês de 6 g/m² e a cola utilizada foi metilan marca Zellura, e a segunda foi uma laminação com papel japonês de 9 g/m² impregnado com adesivo termoplástico por meio do equipamento “laminadora à vácuo e a vapor” de origem espanhola (figs.7e 8). O mapa foi colocado sobre papel alcalino de 250 g/m² e encapsulado em envelope de poliéster confeccionado por meio da máquina seladora (figs.9 e 10).

Considerações finaisO estudo de caso pode ser considerado de interesse por parte de iniciantes sobre algumas metodologias e tecnologias aplicadas na restauração de mapas de grande formato no Laboratório de Restauração da Fundação Biblioteca Nacional.

Referências » BANCO DE DADOS: materiais empregados em conservação-restauração de bens culturais, 2ª

Ed. Ver. E ampl. / organização: Thaís de Almeida Slaibi, Marylka Mendes, Denise O. Guiglemeti e Wallace A. Guiglemeti. – Rio de Janeiro: ABRACOR, 2011.

» MARSICO, Maria Aparecida de Vries. Conservação de mapas raros. XII Congresso da ABRACOR, Fortaleza, Ceará, 2006.

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Proposta de fixação de azulejos artísticos em painéis mod-ulares, por sistema de encaixe do tipo macho/fêmea: estudo para conservação preventiva

Eliana Ursine da Cunha Mello – Universidade Federal de Minas Gerais

Dr. Luiz Antônio Cruz Souza - Universidade Federal de Minas Gerais

Dra. Alessandra Rosado - Universidade Federal de Minas Gerais

IntroduçãoOs princípios da conservação preventiva prezam a iniciativa profissional do conservador-restaurador na busca de soluções que evitem ou reduzam os riscos futuros de degradações ou perdas no bem patrimonial em processo de intervenção. Sob essa orientação, o trabalho foi direcionado aos azulejos caracterizados como bens culturais e patrimoniais e propôs a fixação das peças, sem a utilização de argamassas ou outros materiais adesivos, utilizando para a montagem um sistema de encaixe do tipo macho/fêmea em plataformas modulares.

A tecnologia de montagem de painéis artísticos azulejares por sistema de encaixe foi desenvolvida durante as pesquisas para elaboração da monografia de conclusão do curso Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis, apresentada à Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, em 2012.

O objetivo desse mecanismo, que respeita a premissa da reversibilidade, é proteger pequenos paineis azulejares em processos expositivos dentro de museus.

Justificativa e desenvolvimentoDe um modo geral, o azulejo é um revestimento inserido na edificação arquitetônica. Todos os trabalhos de conservação e restauro, pautados no conhecimento sobre compatibilidade de materiais, devem ser desenvolvidos sob essa premissa, buscando o resgate da harmonia estética, a preservação da funcionalidade, as referências históricas que possibilitem uma reintegração fidedigna e ainda, sua adequação ao ambiente no qual está incluso.

Mas em alguns casos especiais de comprometimento da edificação arquitetônica, torna-se necessário promover sua transferência de ambiente e pode ocorrer de o novo suporte ser diferenciado do suporte original.

Em nossas pesquisas percebemos que, quando esse acervo é levado aos museus, a escolha por um suporte móvel é quase uma regra. Talvez seja porque, salvo em situações muito específicas de adequação ao espaço museográfico, o caráter transitório de uma exposição não justifica a escolha de assentamento definitivo de uma obra que, por diversos motivos, pode ser encaminhada à reserva técnica.

As investigações que fizemos até aqui, sobre a delicada relação “custo/benefício” entre a estrutura físico-química do azulejo e a argamassa de assentamento, nos incentivaram a investir no desenvolvimento do sistema experimental de encaixe.

Compreendemos que, se os materiais de fixação agem em maior ou menor grau na degradação

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do azulejo, um mecanismo que promova a estruturação de painéis azulejares e ao mesmo tempo, minimize a exposição desse acervo às patologias inerentes aos materiais de assentamento, pode ser uma proposta pertinente ao que diz respeito às ações de conservação preventiva.

Para desenvolver nossa proposta, pensamos em uma estrutura com pinos em sua parte posterior externa que, agindo como um contra-molde, envolva o azulejo de forma a deixá-lo imóvel. O azulejo inserido nessa moldura é então fixado ao painel modular do tipo Honeycomb, preparado previamente com a utilização de um gabarito, de modo que os pinos da estrutura coincidam exatamente com os furos do painel.

Para testarmos a viabilidade de sustentação individual do azulejo no berço acrílico utilizamos do artifício de vibrar intensamente o conjunto, inclusive simulando movimentos de queda e girando em 180º a estrutura. Nenhum azulejo desprendeu-se do berço acrílico, mas algumas fizeram discretos movimentos de acomodação ao chegarem na posição original. Percebemos que quanto mais justas estão as arestas de acrílicos das peças, mais estático permanece o conjunto. Ponderamos que esses testes devem ser realizados sob variações de temperatura ambiente, para melhor serem avaliados os coeficientes de expansão térmica e por umidade, tanto do acrílico quanto da cerâmica.

Para testarmos a conformação do objeto na estrutura de fixação, posicionamos os conjuntos berço acrílico/azulejo na placa Honeycomb antes e depois da inserção do silicone nos vãos preparados. Um fator que não permitiu uma correta apreciação no primeiro momento foi o ligeiro empenamento da placa. Foram necessárias várias tentativas até que encontrássemos a posição correta. Após a colocação do silicone, isso foi sanado, entretanto, quando pressionamos o conjunto já fixado, contra a placa, percebemos um ligeiro movimento. Outro fator que merece atenção é a dureza do silicone. Acreditamos que um material com coeficiente de dureza maior do que aquele que utilizamos (25 shore A) apresentará melhores resultados.

Quanto à segurança do acervo durante a exposição vertical do painel, pensamos que esse quesito precisa ser avaliado com maior tempo, principalmente levando em conta fatores de variação de temperatura. Seria conveniente sua exposição monitorada conjuntamente à utilização de um Datalogger. Mas podemos dizer que, durante o tempo em que ficou exposto, apresentou boa estabilidade.

Em relação à apresentação estética, obtivemos um resultado bastante satisfatório. A transparência do acrílico colabora na minimização da interferência da estrutura de fixação. Podemos dizer que, apesar do espaço de 4mm entre uma peça e outra, a leitura estética do painel não ficou comprometida.

Considerações finaisQuanto ao índice de sucesso da experiência, percebemos que a ideia inicial de proteger o acervo azulejar das degradações provenientes dos sistemas de fixação com argamassas é possível a partir dessa proposta expositiva, com mecanismo de encaixes do tipo macho/fêmea. Porém, torna-se necessário o aprimoramento da metodologia, um criterioso estudo de materiais e testes mediante variações de temperaturas.

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Referências » MELLO, Eliana Ursine da. Proposta de fixação de azulejos artísticos em painéis modulares, por

sistema de encaixe do tipo macho/fêmea: Estudo para Conservação Preventiva.2012.83f. Monografia (Graduação em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis) – Escola de Belas Artes, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012.

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Cápsula do tempo, encontrada no Porto do VALONGO a pedra fundamental da Docas D. Pedro II – Rio de Janeiro: pedra fundamental

Autor Fernando Menezes Amaro – FBN

Introdução do resumo expandidoA cápsula do tempo veio à tona com as escavações arqueológicas realizadas no sítio pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O monitoramento de qualquer área em que aconteça interferência no subsolo é uma exigência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A revelação das ruínas do outrora ponto de passagem e venda de escravos não foi, portanto, uma descoberta fortuita, mas fruto de um minucioso trabalho de escavação desenvolvido com base em estudos prévios. A cápsula do tempo e seu conteúdo podem ser considerados, porém, uma descoberta, uma vez que não se tinha conhecimento da sua existência. O Coordenador de Preservação da Fundação Biblioteca Nacional, Jayme Spinelli Junior, convidado a examinar o conteúdo da cápsula do tempo in loco, assim que ela foi encontrada, constatou que se tratava de papel no interior de sua caixa de madeira, molhado e fungado. Ao longo dos 141 anos entrou água da chuva e eventualmente do mar. Jayme Spnelli orientou para que enviasse “a caixa” para o Laboratório de Restauração da Biblioteca Nacional. Ao chegar no Laboratório, o conservador/restaurador e chefe Fernando Amaro, reuniu-se com a equipe de restauradores para traçar uma meta de conservação e restauração da peça. A caixa de madeira estava completamente molhada, tanto na parte externa quanto no seu interior que é forrada de uma caixa de chumbo. No seu interior continha um aglomerado de papeis molhados e fungados, sem poder ser identificado que tipo de papel se tratava. Dentro de uma capela de exaustão o material (papel) levou duas semanas para secar totalmente e ser retirado da caixa de chumbo. A caixa era muito perigosa de ser manuseada devido ao seu alto teor de fungos e por decisão das chefias o material foi encaminhado ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – IPEN, da Universidade de São Paulo, onde foi esterilizada com irradiação gama com cobalto 60 (Irradiação de cobalto 60 - Esterilização e desinfecção de organismos microbiológicos, insetos, ovos e larvas e fungos), ao retornar ao Laboratório de Restauração da Biblioteca Nacional, começou o trabalho de desfolhamento, e tivemos uma grande surpresa, encontramos dentro do bloco de papel nove moedas oxidadas. Em contato com a equipe do setor de numismática de Museu Histórico Nacional, fomos orientados como proceder na limpeza das moedas, após a limpeza confeccionamos uma caixa de guarda.

Conforme íamos desfolhando descobrimos que se tratava de jornal, a cada separação, mais novidades, depois que conseguimos desfolhar todo o bloco, partimos para o quebra-cabeça, ao final identificamos três títulos de jornais de 15 de setembro de 1871. A Reforma, Diário Oficial do Império do Brasil e O Jornal do Commercio.

Sobre a restauração: No processo de restauração começamos com a limpeza manual com pó de borracha, procedimento que retira a primeira sujidade sólida, passamos para o segundo procedimento, testes de solubilidade e em seguida banhos com água deionizada e desacidificação com produtos químicos próprios para esse fim e reconstituição com a máquina obturadora de papel, tratasse de uma máquina que reconstitui toda a parte faltante do jornal, parte essa que se perdeu ao longo do tempo. A máquina trabalha com fibras de celulose em suspensão aquosa.

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Elas se localizam nas partes faltantes das folhas do papel graças a um processo de sucção. Os técnicos contaram com a preciosa ajuda dos originais dos jornais, guardados na Divisão de Periódicos da Biblioteca Nacional, Com o original ao lado, a reconstituição ficou mais fácil. O passo seguinte foi acondicionar as folhas em envelopes de poliéster, um material (polímero) transparente. Finalmente feito um acondicionamento e devolvido ao Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, órgão ligado à Prefeitura fluminense, planeja levar o material para a Casa da Guarda. Antiga central de segurança do porto do Rio de Janeiro.

Considerações finaisA importância da utilização dos materiais e técnicas corretas faz com que o documento restaurado dure mais tempo de vida.

Referências » CÁPSULA do tempo - moedas e jornais de 1871 emergem da reforma da zona portuária do

Rio de Janeiro. Carta Capital, São Paulo, ano XVII, n.715, p. 14-15, set. 2012.

» ACHADA nas obras do porto a pedra fundamental da Docas D. Pedro II. G1.Globo, Rio de Janeiro, maio. 2012. Disponível em: <http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2012/05/achada-nas-obras-do-porto-pedra-fundamental-da-docas-d-pedro-ii.html>. Acesso em: 05 maio. 2012.

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Conservação iconográfica: representação científica dos bens culturais

Ms. Jeferson Dutra Salaberry – UFPel

O presente paper tem como referencial teórico a conservação iconográfica, disciplina que tem longa história, nascida com a redescoberta das antiguidades durante o Renascimento italiano, desenvolvida até o século XIX através dos antiquários, que estudavam os monumentos, representando-os graficamente e organizando publicações. Ela contribuiu, no final do século XVIII, para a criação da disciplina de História da Arte. (CHOAY, 2001)

A conservação iconográfica consiste na representação gráfica dos bens reconhecidos como portadores de valores culturais. O método vem se desenvolvendo dentro da disciplina mais ampla da conservação e restauração, principalmente a partir da primeira metade do século XIX, com as restaurações de Violet Le-Duc.

A existência da conservação iconográfica se justifica pela impossibilidade de preservar os monumentos do passado em razão da degradação, da falta de políticas públicas de conservação real e/ou do interesse econômico mais forte de substituir os bens culturais, principalmente os monumentos arquitetônicos, continuamente trocados por novos, deixando os objetos e construções antigas de existir. Portanto, é nesse contexto que a conservação iconográfica é extremamente útil, pois através dela preserva-se a informação, da forma mais completa possível, sendo seu conhecimento útil para as futuras construções dos homens, compondo os livros de história da arquitetura ou história da arte.

Para os grandes monumentos nacionais a conservação iconográfica não é tão importante quanto para os pequenos monumentos regionais, pois aqueles têm a sua conservação real garantida, já que governo algum vai deixar ruir os grandes palacetes tombados a nível federal, representativos de uma “identidade nacional”. Por outro lado, muita coisa desaparece diariamente. Como exemplos, podemos citar edificações industriais, residências, conjuntos de casas operárias e os importantes revestimentos antigos de fachadas e interiores (bens integrados). Muitos bens culturais significativos podem facilmente desaparecer, e são realmente destruídos, sem jamais terem sido conhecidos/reconhecidos. (IRIGON, 2012)

Também é importante destacar que a respeito da história dos bens culturais mais simples, pouca ou nenhuma informação existe. É comum os moradores nada conhecerem sobre as edificações históricas que habitam.

Essa metodologia também é significativa para o estudo das antigas técnicas de construção, como a documentação do “cimento penteado”, revestimento de fachada do início do século XX que dia a dia é substituído. Também significativo é o registro das “escaiolas”, técnica de revestimento interno de paredes de grande valor estético e desenvolvimento no final do século XIX e início do XX. Ambas as técnicas são um “saber fazer” perdido, não existem mais artesãos com conhecimento necessário para reproduzi-las, por isso a necessidade de conservá-las de forma real, além de documental e iconograficamente.

Além da conservação iconográfica, o ensaio tem a intenção de discutir a importância de constituir uma representação científica dos bens culturais móveis e dos bens integrados à

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arquitetura, especificamente para as atividades do conservador e restaurador. Para isso, a “nova” representação gráfica deve desvincular-se daquela caracterizada pelo desenho de observação e tradicionalmente vinculada à representação artística dos objetos da natureza; também deve se diferenciar do desenho técnico, arquitetônico e industrial, os quais têm como finalidade principal a construção ou produção de uma obra nova pela indústria.

O desenho técnico e arquitetônico é caracterizado por ser uma representação esquemática, que trata de representar elementos repetitivos, diferentemente dos objetos artísticos, que são singulares. É importante destacar que a representação científica deverá tratar dos objetos que já existem, têm importância cultural e exigem, para sua valorização, uma representação digna que restabeleça sua unidade e singularidade, não podendo seu desenho ser esquemático ou simplificado. Não se poderia desenhar representações padronizadas de obras que são diferentes artisticamente e se distinguem também por seu estado de degradação, danos e desgaste através do tempo.

A representação científica dos bens culturais tem como objetivo principal a representação objetiva, desprovida de qualquer intenção artística, caracterizada por um levantamento métrico preciso. Essa modalidade deve constituir-se como a representação científica dos objetos de arte.

A proposta do ensaio não é simplesmente abandonar o uso das representações esquemáticas e simplificadas, muito úteis para algumas situações específicas, mas não quando necessitamos de uma representação total, para valorização. A representação técnica tradicional é insuficiente para quantificar problemas diagnosticados ou para propor intervenções de restauro. A representação simplista e parcial deve ser utilizada para fins específicos e, quando utilizada, deve ser evidenciado e justificado o motivo pelo qual não existe uma correspondência entre a obra de arte e a sua representação.

Considerações finaisNo curso de Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da UFPel, o autor do presente trabalho, Jeferson Salaberry, vem desenvolvendo várias atividades técnicas de representação gráfica de bens culturais; ora relacionadas a diversos projetos de extensão e pesquisa coordenados pelos professores do curso, ora vinculados a trabalhos dos alunos de graduação e do Programa de Pós-Graduação em Memória e Patrimônio, entre os quais podemos destacar alguns trabalhos: (a)Cristo Crucificado – Igreja Nossa Senhora Auxiliadora; (b)Mobiliário Dourado Museu da Baronesa; (c)Espelhos do Museu da Baronesa; (d)Vasos Faiança Casa 8; (e)Faianças dos Palacetes da Pça. Cel. Pedro Osório;

A metodologia e as ferramentas utilizadas nesta etapa da pesquisa mostraram-se adequadas para o levantamento dos referidos bens culturais. A utilização da tecnologia permitiu a documentação dos bens culturais com eficiência e facilidade, tornando seu emprego viável a laboratórios e entidades de preservação do patrimônio, permitindo a obtenção de vários produtos visando à preservação, como o levantamento cadastral, o diagnóstico, o projeto de intervenção.

Referências » CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. Tradução de Luciano Vieira Machado. São Paulo:

UNESP, 2001.

» IRIGON, Paula; SALABERRY, Jeferson. Representação gráfica dos bens culturais através da ferramenta CAD [recurso eletrônico] Pelotas: Editora Universitária/UFPel, 2012.

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Manual de Estratégias Básicas para Gestão da Coleção do LEACH: a atuação do Conservador em acervos arqueológi-cos.

Ana Carolina M. R. Montalvão – Universidade Federal de Minas Gerais (PROANTAR)

Dr.Andrés Zarankin – Universidade Federal de Minas Gerais (PROANTAR)

Dra. Yacy-Ara Froner – Universidade Federal de Minas Gerais (PROANTAR)

Introdução O Manual de Estratégias Básicas para Gestão da Coleção do LEACH (Figura 1) foi elaborado ao longo do desenvolvimento da Monografia de final de curso intitulada Protocolos De Gestão De Acervo: estudo de Caso do Acervo Arqueológico do Laboratório de Estudos Antárticos em Ciências Humanas da UFMG. O objetivo desta comunicação é apresentar este Manual e o processo de sua elaboração, indicando as principais problemáticas que envolveram essa experiência e como esta pode contribuir para aproximar o diálogo entre Conservadores Arqueólogos.

Além da apresentação desta pesquisa serão abordados alguns resultados observados após a conclusão da mesma e quais as perspectivas futuras para este acervo. Abrindo para uma visão mais ampla esse exemplo servirá de ponto de partida para levantar questionamentos em relação à situação atual da Conservação de Acervos Arqueológicos em geral.

Manual de Estratégias Básicas para Gestão da Coleção do LEACH O Laboratório de Estudos Antárticos em Ciências Humanas (LEACH) abriga o material coletado em escavações arqueológicas, desde 2010, pelo projeto Paisagens em Branco, coordenado pelo Prof. Dr. Andres Zarankin, que anualmente realiza expedições na Antártica com o intuito de pesquisar as estratégias de ocupação do território no início do Século XIX.

O material coletado apresenta uma grande variedade de tipologias, contendo tanto objetos orgânicos - como madeira, couros e peles - como objetos inorgânicos - como metais, pedras e vidros. Este material passa por mudanças bruscas de temperatura e umidade que propiciam o desenvolvimento de agentes de degradação como ataque de microorganismos e corrosão dos materiais metálicos. Além disso, os objetos são danificados pela ação de forças físicas que atuam sobre eles no trajeto e que são potencializadas pela fragilidade estrutural na qual os materiais se encontram. Ao chegar ao LEACH, a coleta é armazenada em freezeres aguardando o tratamento da equipe de conservação, cujo primeiro passo é a de inventariação do acervo, o que garante a manutenção das informações de coleta e fornece dados quantitativos e qualitativos da coleção.

Ao longo do Trabalho de Conclusão do Curso de Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis da UFMG foram discutidos os problemas de gerenciamento das ações de conservação, resultando na elaboração de protocolos para os procedimentos necessários para o preenchimento do banco de dados e acondicionamento do acervo: manuseio, registro, limpeza superficial, embalagem e documentação científica por imagem.

Existe uma máxima famosa sobre gestão chamada a Lei de Pareto que diz que a maioria dos benefícios de uma organização (80%) é alcançada por uma pequena fracção (20%) dos esforços da organização. Após aconselhar os museus sobre a preservação do acervo durante muitos anos,

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chegou-se realmente à conclusão que a maioria da preservação é alcançada por uma breve lista de recomendações a que nós podemos chamar “As estratégias básicas de preservação” ou apenas “estratégias básicas”. Assim, antes de proceder aos refinamentos da gestão de risco, é útil conferir primeiro as coisas básicas (MICHALSKI, 2004, p.62).

Portanto o “Manual de Estratégias Básicas para Gestão da Coleção do LEACH” foi elaborado a fim de orientar novas equipes no tratamento básico do acervo, ou seja, as primeiras medidas de conservação e gestão que devem ser tomadas sempre que uma nova coleta chegar ao Laboratório, antes das demais medidas de gestão de risco. Além do treinamento da equipe de conservação, o Manual se destina também à orientação dos pesquisadores do LEACH, quanto ao manuseio dos objetos, organização da coleção e consulta ao banco de dados.

Segundo o Manual do ICOM, “Como Gerir um Museu: Manual Prático”: A gestão do acervo é o termo aplicado aos vários métodos legais, éticos, técnicos e práticos pelos quais as coleções do museu são formadas, organizadas, recolhidas, interpretadas e preservadas (LADKIN, 2004, p.17).

Algumas ações indicadas no Manual possuem caráter definitivo, sendo aplicáveis para qualquer tipo de acervo, outras, no entanto, consideram as condições deste caso e provavelmente serão alteradas com a evolução das pesquisas. Os protocolos não são estanques, mas diretrizes capazes de se adaptarem à realidade das condições do acervo. Os princípios básicos desenvolvidos, porém, se aplicam em qualquer contexto e permitem ajustes.

A elaboração do Manual não garante por si só a sua aplicação. A manutenção das ações propostas depende da coordenação contínua de um conservador, caso contrário, a coleção poderá padecer de maneira mais acelerada sob as más condições de guarda do que se mantidas em seu local de origem. Essa é a problemática que aflige a maioria dos acervos oriundos de escavações arqueológicas.

Existe no Brasil uma sólida Legislação que garante a salvaguarda do Patrimônio Arqueológico. Já na Constituição Federal este patrimônio é enquadrado como Bem da União, devendo, portanto ser protegido e valorizado, como preconiza seus artigos 215 e 216. No entanto, nenhuma lei vigente regulamenta e especifica quais são essas condições para salvaguarda do patrimônio arqueológico.

É preciso ampliar as contribuições entre Conservadores e Arqueólogos, divulgar os trabalhos bem sucedidos e difundir sua importância, afim de que tal parceria seja cada vez mais aceita como elemento essencial para Preservações de Acervos Arqueológicos.

Referências » Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

» LADKIN, Nicola. Gestão do Acervo. In:____. Como Gerir um Museu: Manual Prático. ICOM, International Council of Museums. Conselho Internacional de Museus, Paris, 2004. P. 17 – 32.

» FRONER, Yacy-Ara; ROSADO, Alesandra. Princípios históricos e filosóficos da Conservação Preventiva. Tópicos em Conservação Preventiva-2. Belo Horizonte - Escola De Belas Artes – UFMG, 2008.

» MICHALSKI, Stefan. Conservação e Preservação do Acervo. In:____. Como Gerir um Museu: Manual Prático. ICOM, International Council of Museums. Conselho Internacional de Museus, Paris, 2004. P. 55 - 98.

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Gerenciamento de risco: a experiência na Fundação Casa e Rui Barbosa

Ms. Edmar Moraes Gonçalves – Fundação Casa de Rui Barbosa. Margareth Fontaine Ferreira da Silva – Fundação Casa de Rui Barbosa.

Objetivos do ProgramaEm setembro de 2011 foi dado início a implantação do Gerenciamento de Risco para o Patrimônio Cultural da FCRB. Esse projeto envolveu uma equipe multidisciplinar de bolsistas e todos os setores responsáveis pela guarda e preservação dos acervos da FCRB. Como bolsista do projeto de Conservação Preventiva Integrada da FCRB, do programa PIPOCA, desenvolvi pesquisa no âmbito da conservação preventiva focada em colaborar com a identificação dos riscos que afetavam ou poderiam afetar os acervos da FCRB e, posteriormente, na análise de três dos riscos identificados. No total foram estudados vinte riscos (de um total de oitenta e um riscos identificados) como sendo de prioridade extrema e alta, de acordo com a tabela do Instituto Canadense de Conservação (Canadian Conservation Institute - CCI), que indica o nível dos riscos de prioridade: catastrófica, extrema, alta, média e baixa. Esse estudo visou à melhora das condições de gestão do patrimônio da FCRB como um todo.

MetodologiaA metodologia utilizada foi baseada na norma técnica australiana e neozelandesa para o gerenciamento de riscos (Risk Management, Australian/New Zealand Standard AS/NZS 4360:2004) e um conjunto de procedimentos específicos que envolveram identificação, análise e priorização de riscos para o patrimônio cultural desenvolvidos conjuntamente pelo Instituto Canadense de Conservação (Canadian Conservation Institute - CCI), Centro Internacional para o Estudo da Preservação e Restauração de Bens Culturais (International Centre for the Study of the Preservation and Restorarion of Cultural Property - ICCROM) e Agência Holandesa de Patrimônio Cultural (Rijksdienst voor het Cultureel Erfgoed – RCE). De acordo com o estudo do Canadian Conservate Institute, os dez riscos mais comuns são: Forças Físicas, Ladrões e Vandalismo, Dissociação, Fogo, Água, Pragas, Poluição, Luz, Ultra Violeta e Infra Vermelho, Temperatura Incorreta, Umidade Relativa Incorreta. Dentre os riscos identificados na FCRB, foram definidos como mais relevantes a serem estudados:

Incêndio de grandes proporções – Museu; Degradação química – coleções em papel; Rompimento da Adutora; Inexistência de cópias de segurança (backup); Incêndio – Prédio Sede; Incêndio – Jardim Histórico; Queda de árvore – Jardim Histórico; Desligamento e/ou Aposentadoria de funcionários; Alagamento – chuvas extremas; Obsolência de hardwares e softwares; Furto de objetos em exposição – Museu; Desgaste físico – Livros e documentos; Biodeterioração – Edificações históricas; Colisões acidentais – Museu; Furto interno; Furto/roubo fora do horário de abertura; Vandalismo – Museu; Danos durante execução de obras internas; Explosão da subestação de energia e Danos por cupins – Edificações históricas.

ResultadosNessa avaliação, foram identificados três riscos de prioridade extrema e dez riscos de alta

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prioridade para o acervo da FCRB. Os outros sete riscos foram considerados como de prioridade média. No total foram identificados oitenta e um riscos na FCRB, sendo que sessenta e um desses foram considerados de média ou baixa prioridade. Esses riscos foram todos avaliados em conjunto com o consultor José Luiz Pedersoli Junior que no seu relatório final da segunda fase considerou que os resultados obtidos em relação à predominância de riscos considerados de prioridade média ou baixa demonstram um gerenciamento bem sucedido dos acervos pela equipe da instituição.

Desses, os riscos sobre Incêndio no jardim histórico, Queda de árvores no jardim histórico e Danos mecânicos aos livros da FCRB foram objeto do meu estudo, produzindo resultados dentro das tabelas propostas pelo gerenciamento de risco. Incêndio no jardim foi considerado, dentro da tabela de Magnitude de Risco, como sendo de grau 10,5 (Prioridade extrema). Risco de queda de árvores no jardim histórico foi considerado como de grau 10,2 (Prioridade extrema) e Danos mecânicos aos livros como de grau 9,5. (Prioridade alta).

A escala numérica utilizada para quantificar os riscos é uma “escala de magnitude” similar à escala Richter para terremotos. Nesse tipo de escala, um acréscimo de 1 ponto no valor da magnitude do risco (por exemplo, de MR=8 para MR=9) indica um risco 10 vezes superior. Acréscimos de 2 ou 3 pontos nos valores de MR indicam riscos que são, respectivamente, 100 e 1.000 vezes maiores. Diferenças de 4 pontos correspondem a um fator de 10.000 entre as magnitudes dos riscos e assim por diante. (JUNIOR, 2012, p.8)

Considerações finais O projeto de Gerenciamento de Risco para o Patrimônio Cultural da FCRB apresentado acima ainda não está concluído. No momento, se encontra na fase de avaliação e ainda precisa passar pelas fases de tratamento, comunicação e monitoramento dos riscos apresentados. Ele é uma ferramenta importantíssima para o desdobramento de projetos futuros na Fundação tanto que atualmente, essa ferramenta está sendo utilizada no projeto de conservação preventiva integrada para FCRB, da qual sou bolsista, como extensão do Gerenciamento de Risco, aplicando a análise em um acervo individual recém adquirido pela FCRB através do AMLB (Arquivo-Museu de Literatura Brasileira). O Gerenciamento de Risco é um processo de constante observação e estudo dentro do campo da conservação preventiva, que trata a instituição como um único organismo, permitindo a troca de conhecimento dentro das diversas áreas de atuação de cada setor envolvido sendo versátil o suficiente para permitir estudos em acervos específicos, caso exista necessidade.

Referências » JUNIOR, José Luiz Pedersoli. Relatório de avaliação de riscos para o acervo da FCRB. Rio de

Janeiro, 2012.

» RISK MANAGEMENT, AS/NZS 4360:2004. Australian/New Zealand Standard: Australia/ New Zealand, 2004.

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Trilhos e memória: preservação do acervo documental do patrimônio ferroviário

Mônica Elisque - Mestranda, MACPS/UFMG

Dra. Yacy-Ara Froner - MACPS/EA/FMG)

IntroduçãoRelato sobre a experiência da Superintendência Estadual do IPHAN em Minas Gerais na recuperação do acervo documental ferroviário que deu início em dezembro de 2007, demarcando sua atuação na preservação do acervo documental da extinta RFFSA S/A, em cumprimento à Lei nº 11.483/2007, que atribui ao IPHAN o dever de “receber e administrar os bens móveis e imóveis de valor artístico, histórico e cultural, oriundos da extinta RFFSA, bem como zelar pela sua guarda e manutenção”.

O acervo que compreende o Patrimônio Cultural Ferroviário engloba bens imóveis, tais como edifícios, glebas, leitos ferroviários, obras de arte, e bens móveis, incluindo material rodante, como por exemplo, locomotivas, vagões, carros de passageiros e outros equipamentos, como mobiliários, relógios, sinos, documentos em diversos suportes e formatos.

A preservação do acervo documental constituído a partir da formação das ferrovias é fonte primária que subsidia estudos e pesquisas sobre a cultura de uma determinada região a partir da instalação das estações, escolas técnicas de formação de ferroviários para montagem e manutenção de locomotivas e vagões e construção de ferrovias.

Explicam a constituição de municípios e povoados que surgiram ou se desenvolveram a partir das edificações de estações ferroviárias, caracterizando suas peculiaridades e integrando o patrimônio cultural brasileiro, conferindo a essas populações um importante valor de identidade.

Objetivo:Organização do espaço, da documentação e dos objetos de valor histórico, artístico e cultural produzidos pela ferrovia no âmbito da cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais, com a finalidade da formação do Centro de Memória da Ferrovia, espaço pioneiro para a preservação da memória ferroviária.

Metodologia:Para realização do trabalho está sendo utilizado o método histórico - com a finalidade de estudar a instituição Rede Ferroviária, possibilitando melhor compreensão da sua natureza e função na sociedade, qual o papel desempenhou, por exemplo, na constituição de vilas, distritos e municípios e quais foram as influências no cotidiano das pessoas envolvidas diretamente ou indiretamente com a formação e manutenção das ferrovias no estado de Minas Gerais. (LAKATOS; MARCONI, 2011, p. 91).

As técnicas utilizadas são a pesquisa documental e bibliográfica e fontes primárias, os próprios acervos da RFFSA e secundária, livros, teses, dissertações, artigos.

Resultados e discussão:

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As primeiras etapas de recuperação do acervo histórico da RFFSA basearam-se nas atividades de conservação e restauração do mesmo, a partir do uso de técnicas consolidadas, profissionais capacitados e principalmente dentro das condições possíveis, que nem sempre são as ideais.

Simultaneamente foi realizado inventário - ferramenta de fundamental importância para garantia da preservação desse valioso acervo ferroviário brasileiro tem como finalidade a identificação, recuperação, preservação e acesso a informação do patrimônio ferroviário, cujo resgate da história da ferrovia tem sido tratado através das ações desenvolvidas pela Superintendência do IPHAN-Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Minas Gerais, desde o ano de 2007, como forma de reconhecimento do conteúdo e subsidiando a atribuição de valor artístico, histórico e cultural, cumprindo a atribuição do IPHAN na definição de critérios de valoração história, artística e cultural para os bens do Patrimônio Cultural de origem ferroviária.

Somam-se a este projeto, o campo de discussão sobre o sentido da memória e o papel do patrimônio histórico e cultural a partir da proposição da constituição, manutenção e difusão do centro da memória ferroviária a ser instalado na capital mineira, cidade de Belo Horizonte.

Considerações finais:A finalidade da construção, formação, organização, manutenção, ampliação e equipamento de museus, bibliotecas, arquivos e outras organizações culturais, bem como de suas coleções e acervos só cumpre seu papel quando políticas eficientes são empregadas e somente desta forma a consciência e a apropriação de um bem cultural pela sociedade se torna fator essencial para a sua preservação.

Na constituição de bibliotecas, arquivos, museus, centros de documentação devem constar normas e procedimentos básicos que visam a preservação do acervo, sendo o fator primordial para a manutenção dos mesmos.

As Instituições de proteção a memória necessitam de profissional conservador, restaurador trabalhando de forma multidisciplinar juntamente com arquivistas, bibliotecários, museólogos, historiadores, cooperando para uma ação eficaz de preservação.

É indispensável que o acondicionamento, armazenamento e treinamento de técnicos da Instituição sejam realizados periodicamente. É fundamental a atualização desses profissionais contemplando questões de segurança e ações em caso de sinistros.

O desdobramento das ações desenvolvidas até o momento é, por meio da pesquisa acadêmica, refletir sobre as bases conceituais que dão suporte às ações de preservação de memória, bem como discussões específicas para a continuidade do trabalho que incluem: a indispensabilidade da sistematização das fontes documentais como acesso à memória do patrimônio construído ferroviário; a vulnerabilidade da documentação histórica e os sistemas de inventário; a prática da Conservação Preventiva dirigida ao acervo documental que potencializa a preservação da memória do patrimônio edificado ferroviário em Minas Gerais; protocolos de ação voltados à preservação no Plano Diretor do Centro da Memória da Ferrovia.

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Referencias: » ALMEIDA. Maria Christina Barbosa de. Planejamento de bibliotecas e serviços de informação.

Brasília: Briquet de Lemos/Livros, 2005

» BECK, Ingrid. Manual de preservação de documentos. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1991.

» BRASIL. Lei nº 11.483, de 31 de maio de 2007. Dispõe sobre a revitalização do setor ferroviário, altera dispositivos da Lei no 10.233, de 5 de junho de 2001, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11483.htm>. Acesso em 25 nov. 2010

» CASTRIOTA, Leonardo Barci. Patrimônio Cultural: conceitos, políticas, instrumentos. Belo Horizonte: Annablume, 2009.

» DIONNE, Jean; LAVILLE, Christian. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: ARTMED, 1999. 340 p.

» FRONER, Yacy-Ara. Memória e preservação: a construção epistemológica da ciência da conservação. In: Memória e Informação, Rio de Janeiro, 2007. Fundação Casa de Rui Barbosa. Disponível em: <http://www.casaruibarbosa.gov.br/template_01/default.asp?VID_Secao=261&VI>. Acesso em 02 nov 2010

» LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade Marconi. Metodologia científica. 6 ed. rev. ampl. São Paulo: Atlas, 2011. 314 p.

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Criação e Aplicação de Metodologia de Documentação Científica para Acervos Arqueológicos: geração de imagens do acervo arqueológico do Museu da Lapinha

Dr. Alexandre Leão – Universidade Federal de Minas Gerais

Danielle Luce Cardoso – graduanda do curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Minas Gerais– bolsista PROEXT-MEC

Werlayne Júlia Santos Silva – graduanda do curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Minas Gerais – bolsista PROEXT-MEC

Introdução do resumo expandidoEste trabalho está vinculado ao “Projetos Integrados para a Consolidação do Centro Arqueológico da Região de Lagoa Santa – Parque Estadual do Sumidouro”, cujo objetivo é gerar metodologias de gestão e preservação de acervos arqueológicos, acervos de museu de vizinhança e museus de território. O projeto prevê ainda o desenvolvimento de um banco de dados específico para esse tipo de acervo, organização da reserva técnica e elaboração conceitual de uma nova exposição para o Museu. O Museu Arqueológico da Região de Lagoa Santa foi fundado em 1972 pelo Sr. Mihály Bányai. Atualmente, o Museu é composto por aproximadamente 6000 peças adquiridas através de compras, doações e coletas feitas por ele próprio na região de Lagoa Santa, constituindo um acervo multicomponencial tanto em termos cronológicos, quanto constitutivos. O acervo desse Museu não foi extensivamente analisado, apesar da importância histórico-arqueológica da região de Lagoa Santa, evidenciada desde as pesquisas pioneiras de Peter Lund no século XIX e culminando com pesquisas atuais nas grutas e abrigos da região. Em 2010, foi realizado um parecer quantitativo e qualitativo do acervo e, a partir dos resultados obtidos, esse projeto foi desenvolvido visando integrar todos os aspectos que singularizam o Museu, desde a diversidade científica do acervo até sua ligação particular com a comunidade local, que possui com o Museu um sentimento de pertencimento e identidade.

A Documentação Científica é uma proposta nova dentro do campo da arqueologia e foi incorporada nesse projeto com o objetivo gerar imagens do acervo com ajuste cromático. Dessa forma, são geradas duas imagens de cada objeto, a primeira contendo uma cartela de referência cromática, uma cartela dimensional e o número de tombo e outra imagem contendo apenas o objeto com a cartela dimensional e número de tombo. Esse ajuste tem o intuito de melhorar visualização dentro do banco de dados, produzindo imagens o mais próximo possível do real objeto, dentro das possibilidades permitidas pelo acervo e pela capitação das imagens dentro do espaço do museu. Dessa forma, podendo produzir imagens documentais como registro e memória dessa coleção.

Através da captura digital de imagens, utilizando uma câmera profissional de médio formato, foi possível registrar a consistência cromática na luz visível dentro de um set up preparado com fontes de luz contínua e fundo infinito. O processamento dos arquivos gerados pela captura é feito em softwares específicos com sistema de gerenciamento de cores para o ajuste em tons de cinza partir do uso da cartela de referência cromática. Desta forma é possível gerar imagens com consistência cromática, para o registro documental do acervo do museu. As imagens geradas

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serão importadas ao banco de dados e disponibilizadas na internet para toda comunidade. A captura destas imagens foi feita por cinco alunos do curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis: Ana Carolina Montalvão, Eliana Mello, Heloísa Nascimento, Marcos Gohn e Marina Mayumi. Esse trabalho tem como proposta apresentar as metodologias estabelecidas para a geração de imagens do acervo arqueológico do Centro Arqueológico da Região de Lagoa Santa – Parque Estadual do Sumidouro.

Considerações finaisA implantação de uma metodologia direcionada a acervos arqueológicos mostra, cada vez mais, uma urgente necessidade para que se tenham informações precisas a respeito dos acervos e para que auxilie a ação dos conservadores restauradores da área.

Referências » LEÃO, Alexandre Cruz. Gerenciamento de cores para imagens digitais. Belo Horizonte, 2005.

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A luz da ciências: os materiais e técnicas utilizados por Damião Bustamante em pinturas de caixotão

Rita Rodrigues- (CITAR-FCT) – Universidade Católica Portuguesa, Porto

Introdução do resumo expandidoEm Portugal, algumas Igrejas e Capelas apresentam tetos revestidos com pinturas em caixotões, género artístico que ganhou maior expressão sobretudo no Barroco Português. As pinturas de tetos em caixotões caracterizam-se por serem pinturas fixas num teto mediante uma estrutura complexa, rematadas por molduras entalhadas. Podem ter vários formatos e tamanhos criando um espaço cénico sobressaindo o colorido das composições em contraste com o dourado das molduras.

A Igreja de Santo André de Avantos situada no Norte de Portugal, em Mirandela apresenta pinturas em caixotões quer na capela-mor, quer no decorrer da nave, revestindo, não só o teto como também as paredes adjacentes. Todo o conjunto forma uma interessante obra pictórica com uma forte componente iconográfica. Segundo indicação numa das pinturas da capela-mor, o pintor terá sido Damião Rodrigues Bustamante, pintor espanhol, que viveu na primeira metade do século XVIII no Norte de Portugal. Este pintor exerceu a sua atividade artística sobretudo durante a primeira metade do século XVIII no distrito de Bragança tanto em Igrejas e Capelas.

O recurso a exames científicos, a análises histoquímicas e a fotografias técnicas (ultravioleta e infravermelho) permitiram analisar as pinturas à luz da ciência caracterizando técnicas e materiais que futuramente irão auxiliar intervenções de conservação e restauro.

Através da recolha de amostras em diferentes pontos de luz e sombra clarificou-se, segundo observação por MO, alguns aspectos relacionados com a técnica utilizada pelo artista. Estes aspectos diferenciaram-se da técnica utilizada noutras pinturas da autoria de Bustamante, como é exemplo da obra da sacristia da Igreja de Santo Cristo de Outeiro em Bragança. Estas pinturas foram igualmente analisadas recorrendo-se aos mesmos métodos de exame e análise e de fotografia.

Considerações finaisÉ, à luz da ciência, que o conservador-restaurador clarifica técnicas e materiais utilizados nas diversas obras de arte. Só mesmo conhecendo essas mesmas técnicas e os materiais é que é possível que a ciência da conservação evolua, travando-se patologias e encontrando formas de intervenção adequadas segundo critérios de compatibilidade e estabilidade.

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Gestão, inventário e conservação do acervo em gesso do Museu da Escola de Arquitetura da UFMG

Dr. Ana Cecília Rocha Veiga – EA - UFMG

Ms. Fernando José da Silva – EA - UFMG

Raquel França Garcia Augustin – EBA - UFMG

Introdução O Museu da Escola de Arquitetura da UFMG conta com uma coleção de réplicas em gesso de obras de arte nacionais e estrangeiras. De acordo com documentos institucionais tal coleção foi formada entre as décadas de 50 e 70, contando hoje com 174 réplicas de bustos, elementos arquitetônicos e painéis; além de algumas fôrmas.

As peças referentes a obras brasileiras foram produzidas na década de 60, elas reproduzem peças assinadas ou atribuídas a Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Já as peças remanescentes de obras internacionais são réplicas que compõem acervos de museus europeus, mais especificadamente franceses e italianos.

Em 2009, um projeto de extensão universitária foi criado com a intenção de viabilizar o acesso ao acervo e promover sua conservação adequada. No decorrer dos anos, o inventário foi iniciado e as peças foram armazenadas. Atualmente estamos finalizando o inventário, reestruturando o armazenamento e desenvolvendo o site do museu.

InventárioA ficha de inventario desenvolvida pelo projeto contempla o estado de conservação, as informações museológicas gerais para gestão da peça (ICOM, 1994, p.36) e as básicas quanto à sua técnica construtiva e histórico. Seu diferencial consiste na introdução do histórico da obra original, da qual a peça é cópia e o registro fotográfico da mesma que proporciona a identificação iconográfica da réplica (PANOFSKY, 1976, p.50).

As fontes de informação utilizadas na pesquisa para o preenchimento de cada ficha são: a própria réplica, antigas ficha patrimoniais da Escola de Arquitetura, pesquisa bibliográfica e nos sites das ou sobre as instituições museológicas a que os acervos pertencem.

Através do inventário podemos constatar que 17,25% referem-se a réplicas de obras nacionais, 15,52% a obras presentes no acervo do Museu do Louvre, 13,22% a obras pertencentes a outros acervos e, 54,01% não foram identificadas. Também que 23,57% foi fabricado pela Cadeira de Modelagem da Escola de Arquitetura da UFMG ou pelo professor Aristocher B. Meschessi, doscente da disciplina; 40,22% provém do Ateliêr de Moldagens da França e 36,21% tem procedência desconhecida.

Registro FotográficoCada peça do acervo recebe uma documentação fotográfica ao ser inventariada. Esta etapa é realizada com o auxílio de um fundo preto, máquina fotográfica digital, tripé, escala e iluminação natural de modo que podemos montar o cenário adequado em locais próximos às obras, gerando uma menor manipulação das peças durante o transporte. Infelizmente não

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dispomos de todos os equipamentos para a realização deste processo como a cartela de cores, o número de inventário e o sistema de controle de iluminação (PANISSET e QUITES, 2011, p. 133), entretanto, com o nosso material e a utilização de um software editor de imagens, obtemos um resultado satisfatório.

HigienizaçãoO gesso é um material que apresenta baixo índice de dureza, podendo perder partes ou ser arranhado facilmente caso sofra impactos/choques; é higroscópico, ou seja, tem afinidade com a água, dilatando-se e contraindo-se de acordo com a variação de umidade ambiente; e tem um nível alto de porosidade, o que implica no acúmulo de sujidades em seus poros, gerando dano à leitura da obra por modificar sua coloração e facilitar diferentes degradações (CHAPMAN, 1997, p.2).

Em virtude destes e fatores e do fato de a maioria de nossas peças serem ocas, o que ocasiona uma fragilidade ainda maior, resolvemos montar protocolos de higienização do acervo, os quais contêm recomendações quanto aos equipamentos e técnicas utilizadas durante a ação, além de noções de manuseio apropriado para o tipo de coleção.

Soluções emergenciaisAs peças que não estão em exibição estão armazenadas em uma Reserva Técnica Temporária, já que o MEA terá novas e definitivas acomodações após a mudança da Escola de Arquitetura para o Campus Pampulha da UFMG, que ocorrerá nos próximos anos. Anteriormente as peças estavam acomodadas em quatro estantes metálicas cujas prateleiras foram dispostas de maneira a abrigar toda a coleção, mas sua localização não impedia o acúmulo de material particulado. Com o tempo conseguimos outra sala que apresenta barreiras mais eficientes contra sujidade e permite acesso controlado de pessoas, como medida preventiva (ICOM, 1994, p.17). Nosso mobiliário de armazenamento ganhou mais duas estantes e duas mapotecas metálicas, assim podemos distribuir intervalos maiores entre as prateleiras das estantes organizando-as de forma a armazenar as peças maiores e mais pesadas na parte inferior e as menores e mais leves na parte superior do mobiliário (UNESCO, 2010, p. 28). Apesar disso, somente doze das réplicas apresentam um pré-acondicionamento, resultante de uma restauração ocorrida em 2012. Em caráter emergencial, enquanto não dispomos de espumas de polietileno expandido, moldamos e forramos pedaços de papelão com papel branco para servirem de base e evitarem o contato direto da peça de gesso com a estante metálica.

Visando facilitar a gestão do acervo, cada peça recebeu uma etiqueta com sua respectiva foto e número de identificação (realizada em papel e acoplada à obra por um cordão de algodão), o mobiliário foi identificado in loco de acordo com um sistema alfanumérico além de ter sido elaborado o mapeamento das peças no ambiente e em arquivo digital.

Considerações finaisDurante os trabalhos gerados pela gestão do acervo, podemos constatar a importância do inventário das peças e manejo da Reserva Técnica (RT), fatores que agilizam e facilitam qualquer tarefa. Além disso, a organização e identificação das peças contribuem para a conservação do acervo ao recolher as informações concernentes às obras e vinculá-las às mesmas. Após o trabalho inicial de organização, restauração e inventário, pretendemos elaborar uma RT adequada à tipologia de acervo no que tange ao mobiliário, embalagens de acondicionamento e sistemas de climatização ativa ou passiva; além de migrar as informações do inventário a um banco de dados, facilitando a gestão e o acesso aos dados do acervo.

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Referências » CHAPMAN, Jennifer. Storing and Handling Plaster Objects. Conserve O Gram, 8/2, Washington

DC, National Park Service, 1997. Disponível Em: http://www.nps.gov/museum/publications/conserveogram/08-02.pdf

» ICOM. Como Gerir um Museu: Manual Prático. Paris: ICOM/UNESCO, 2004.

» PANISSET, Ana; QUITES, Maria Regina Emery. O inventário como ferramenta de diagnóstico e conservação preventiva: estudo de caso da coleção ‘Santos de casa’ de Marcia de Moura Castro. 2011. 262 f. : Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Belas Artes

» PANOFSKY, Erwin. Iconografia e Iconologia: uma Introdução ao Estudo do Renascimento. In: ______. Significado nas Artes Visuais. São Paulo: Perspectiva, 1976.

» UNESCO. Cultural Heritage Protection Handbook N°5. Handling of Collections in Storage. Paris: UNESCO, 2010.

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Estudo das Condições Higrotérmicas do Exterior do Ed-ifício da Câmara Municipal de Matosinhos

Ms. Maria Fernando Gomes - Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa – Centro Regional do Porto, Portugal

Dra. Eduarda Vieira - CITAR – Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia das Artes, EA/UCP, Porto, Portugal

O presente trabalho de investigação incide sobre as condições ambiente do espaço de reserva de instituições museológicas, tendo como caso de estudo as reservas da Câmara Municipal de Matosinhos, na cidade de Matosinhos. A autarquia possui em depósito, um conjunto significativo de obras de arte de artistas portugueses de renome, dos séculos XIX, XX e XXI. Todavia, está previsto que as coleções de arte moderna e contemporânea fiquem armazenadas no Edifício Multifuncional da Fundação de Serralves, que será construído na freguesia da Senhora da Hora, também no concelho de Matosinhos.

Para assegurarmos a preservação de uma coleção, um dos fatores determinantes é conhecermos o passado dos bens culturais em estudo e o ambiente em que permaneceram. Neste sentido foi realizado um estudo sobre as condições ambiente do interior do edifício da Câmara, em concreto da área de reserva, e do clima exterior envolvente, com vista à compreensão das características microclimáticas do local, englobando a recolha e sistematização de um conjunto de dados, que contribuam para fundamentar futuras decisões aquando da deslocação das coleções para o novo imóvel, quer em termos de conservação e de gestão, quer mesmo em termos de sustentabilidade.

O atual poster pretender divulgar os resultados obtidos da análise ao clima da zona, tendo por base a estação meteorológica mais próxima, neste caso a de Porto/Pedras Rubras. A metodologia adotada no projeto de investigação teve como objetivo a avaliação dos parâmetros de temperatura e humidade relativa. A monitorização dos valores termohigrométricos decorreu entre Maio de 2007 e Março de 2008, ou seja por um período de onze meses, à semelhança da avaliação das condições higrotérmicas do interior do espaço de reserva.

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Produção de material didático para o ensino de Conser-vação Preventiva de bens culturais em nível de graduação

Ms. Willi de Barros Gonçalves - Laboratório de Ciência da Conservação, Escola de Belas Artes, UFMG.

Tatiane Aparecida Damião From – graduanda do Curso de Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis, UFMG

Eduardo Brandão Alves – graduando do Curso de Artes Visuais, UFMG

Introdução Nas etapas iniciais do curso de graduação em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da UFMG, as disciplinas estão agrupadas por afinidade, em quatro grupos: Conhecer, Diagnosticar, Preservar e Atividades Integrativas. São ainda estruturadas nos seguintes percursos: conservação-restauração de esculturas, papel, pinturas e conservação preventiva, inserindo-se este último no grupo “Preservar”.

O objetivo principal desse trabalho consistiu em levantar, sistematizar, e viabilizar o acesso a elementos que sirvam como material didático de apoio ao ensino no campo temático específico da conservação preventiva, em nível de graduação; com base na experiência brasileira, voltado para o ensino de graduação, que possa ser utilizado de maneira transversal pelas disciplinas do grupo de conservação preventiva, em primeira mão no curso da UFMG, mas também que possa atender aos outros cursos de graduação que têm surgido em outras universidades no Brasil.

Trata-se de um esforço de pesquisa, compilação, sistematização e facilitação de acesso ao material didático existente, composto principalmente de dissertações e teses produzidas predominantemente no exterior, bem como de sítios de internet, vinculados principalmente a institutos de pesquisa, laboratórios de conservação-restauração e museus, preponderantemente europeus.

MetodologiaA metodologia envolveu etapas de treinamento/capacitação dos bolsistas, sistematização e redirecionamento de levantamento bibliográfico, pesquisa sobre metodologias de ensino de conservação preventiva, reuniões com professores das disciplinas do grupo de Conservação Preventiva, transcrição e tradução de material didático em vídeo.

ResultadosOs resultados obtidos abrangem a transcrição e tradução de seis vídeos, compilação de cerca de 700 documentos eletrônicos (teses e dissertações, livros, manuais, apostilas e similares) para três disciplinas do percurso de conservação preventiva e cerca de 1.100 referencias de sítios de internet referentes aos temas conservação preventiva, arquivologia, digitalização de acervos, empresas, ensino, gerenciamento de riscos, glossários, institutos e agremiações profissionais, museologia, museus, arquivos e bibliotecas, vulnerabilidade de materiais constituintes de bens culturais, museologia, patrimônio cultural material e imaterial, bases de dados e fontes de informação na área.

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Considerações finaisO material tem sido utilizado como base para leituras e exercícios sistematizados em sala de aula e em fóruns de discussão pela internet. A próxima etapa consiste na elaboração e disponibilização do material por meio de uma página de internet para divulgação e acesso aos resultados do projeto, vinculada às páginas do LACICOR e do Curso de Conservação-Restauração da UFMG.

Referências » FRONER, Yacy-Ara e ROSADO, Alessandra. Princípios históricos e filosóficos da conservação

preventiva. Belo Horizonte: EBA / UFMG, 2008. Projeto: Conservação preventiva: avaliação e diagnóstico de coleções. Programa de Cooperação Técnica: IPHAN/UFMG. (Tópicos em conservação preventiva - caderno 2). SOBRENOME,

» OLIVEIRA, M. M. La formación científica como base para el profesional conservador-restaurador. El caso brasileño. Apuntes: Revista de estudios sobre patrimonio cultural. Bogotá: Pontificia Universidad Javeriana. Instituto Carlos Arbeláez Camacho para el patrimonio arquitectónico y urbano (ICAC). V. 19, n. 1, Junho de 2006, 2006a. (Patrimonio brasileño), p. 142-153.

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O Ensino da Conservação e Restauro na Faculdade de Be-las-Artes da Universidade de Lisboa

Dr.Fernando António Baptista Pereira – FBAUL

Dr. Alice Nogueira Alves – FBAUL

Dr. Fernando Rosa Dias – FBAUL

Em 2008 a Faculdade de Belas-Artes iniciou a sua oferta formativa na área da Conservação e Restauro ao abrir a Licenciatura em Ciências da Arte e do Património. Na concepção deste curso foi seguida uma visão generalista, subdividida em três áreas de formação: a Crítica de Arte, a Museologia e Curadoria de Exposições e a Conservação e Restauro de Obras de Arte. Passados quatro anos foi a vez do Mestrado em Ciências da Conservação, Restauro e Produção de Arte Contemporânea ter início, bem como da especialidade em Museologia, Conservação e Restauro do nosso Doutoramento em Belas-Artes. Estas iniciativas visam a implementação desta área no seio da Universidade de Lisboa, até agora inexistente no conjunto dos três ciclos.

Apesar de aparentemente nova, a tradição do Restauro na nossa instituição e suas precedentes, tem já mais de 175 anos, tendo sido iniciada logo a partir de 1836, quando foi instituída a Academia de Belas Artes de Lisboa, que mais tarde ganharia o epíteto de Real.

A orientação das intervenções então realizadas sobre uma enorme colecção de pintura, proveniente das casas religiosas extintas pouco tempo antes, ficou a cargo dos professores da Academia, destacando-se entre eles vários nomes de monta, como António Manuel da Fonseca (1796-1890), Joaquim Gregório Nunes Prieto (1833/7-1907) ou Luciano Freire (1864-1934).

Foi na oficina deste último que se introduziram as bases do Restauro moderno em Portugal. Através do seu trabalho fundamentado em novos critérios de respeito pelo original, a prática da profissão mudou e iniciou-se um novo caminho de respeito pela nossa pintura, muito contribuidor para o desenvolvimento da História da Arte no país.

Esta oficina manteve-se nas instalações da Academia até 1946, quando passou para o novo edifício anexo ao Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa, onde mais tarde seria institucionalizado o Instituto José de Figueiredo, um laboratório exclusivamente dedicado à Conservação e Restauro e suas Ciências analíticas complementares.

Neste percurso ao longo do século assistimos, a partir de 1936, a uma colaboração sistemática entre os métodos de exame e análise, através da implementação do Laboratório no Museu, e os trabalhos efectuados pelos restauradores da Oficina de Restauro de Pintura. Esta ligação fortaleceu-se na prática da profissão e é hoje impensável separar as duas áreas.

Com este “regresso” da Conservação e Restauro às Belas-Artes, pretendemos retomar esta tradição secular, mas adaptada aos novos princípios e critérios da área, numa colaboração estreita com as outras ciências, através da cooperação com a Faculdade de Ciências e o Centro de Física Atómica da Universidade de Lisboa. A colaboração entre docentes e alunos deu já ocasião a propostas de projectos de investigação e orientações de teses partilhadas, num trabalho interdisciplinar muito importante na Conservação e Restauro actual.

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Os três ciclos de estudos referidos anteriormente têm uma forte orientação para a Arte Moderna e Contemporânea. Este aspecto prende-se com dois factores muito importantes. Em primeiro lugar, consideramos que a especificidade destes períodos artísticos necessita de abordagens exclusivas nas disciplinas dos seus planos curriculares. Por outro lado, encontramo-nos num dos centros do ensino das Artes de excelência em Portugal.

Esta componente artística, ligada ao próprio processo de produção, é para nós essencial na formação do futuro Conservador Restaurador. A sensibilidade estética é assim educada, tornando-se um elemento essencial para a realização de uma intervenção fundamentada, não só nas características físicas e químicas do objecto, mas em todas as suas dimensões históricas, estéticas e culturais, valorizadas pelo próprio contexto em que a peça se insere.

O primeiro ciclo tem tido muita procura pelos nossos alunos portugueses, mas também por alunos brasileiros, não só através da frequência dos seus três anos, como em regime semestral, por protocolos com as suas Universidades de origem.

Planos CurricularesLicenciatura em Ciências da Arte e do Património

1.º ano1.º semestre 2.º semestre- Desenho I - Geometria I - Tecnologias Artísticas I - História da Arte I - Química e Física dos Materiais I - Cultura Visual I

- Desenho II - Anatomia I e Antropometria - Tecnologias Artísticas II - História da Arte II - Química e Física dos Materiais II - Cultura Visual II

2.º ano1.º semestre 2.º semestre- Desenho de Património - Teoria e História da Crítica de Arte I- História da Arte Contemporânea I- Estética I - Práticas Laboratoriais de Diagnóstico e Teoria do Restauro I

- Sistemas de Registo do Pat-rimónio - Teoria e História da Crítica de Arte II- História da Arte Contem-porânea II- Estética II - Práticas Laboratoriais de Diag-nóstico e Teoria do Restauro II

3.º ano1.º semestre 2.º semestre- História da Arte Portuguesa I- Arqueologia e Património - Práticas de Restauro I - Teorias da Arte - Projecto Multimédia I

- História da Arte Portuguesa II - Museologia e Museografia - Práticas de Restauro II -Teorias da Arte Portuguesa - Projecto Multimédia II

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Para além deste plano curricular, o aluno deve escolher disciplinas optativas dentro de um enorme leque oferecido pela Faculdade, onde se encontram todos os nossos ramos científicos representados, complementando assim o número de créditos indispensável para a obtenção do grau académico

Mestrado em Ciências da Conservação, Restauro e Produção da Arte Contemporânea

1.º ano1.º semestre 2.º semestre- Temas de Arte Contemporânea I - Conservação, Restauro e Produção deArte Contemporânea I- Laboratório Avançado de Química paraConservação e Restauro - Optativa de outros mestrados da FBAUL

- Temas de Arte Contemporânea II- Conservação, Restauro e Produção deArte Contemporânea II- Laboratório Avançado de Física para Conservação e Restauro - Optativa de outros mestrados da FBAUL

2.º ano1.º semestre 2.º semestre- Seminário - Dissertação / Trabalho de Projecto

- Dissertação / Trabalho de Projecto

Doutoramento em Belas Artes

1.º ano1.º semestre 2.º semestre- Seminário de Belas-Artes I- Seminário de Especialidades I

- Seminário de Belas-Artes II- Seminário de Especialidades II- Seminário de Investigação Orientada

2.º ano1.º semestre 2.º semestre- Seminário de Orientação I - Seminário de Orientação II

3.º ano- Tese

Referências » Alves, Alice Nogueira, “As Práticas de Restauro nas Belas-Artes”, O Restauro regressa às Belas-

Artes, Retratos da Reserva de Pintura, Lisboa, Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, CIEBA, 2011, pp. 36-42.

» PEREIRA, Fernando António Baptista, DIAS, Fernando Paulo Rosa, “Ciências da Arte e Criação Artística: Solidariedades para uma Investigação em Arte”, in Investigação em Arte e Design, Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, Lisboa, 2011, pp. 214-228.

» www.fba.ul.pt

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Restauro de estuque lustrado na antiga Escola de Belas Ar-tes da Universidade Federal De Pelotas

Ms. Daniele Baltz da Fonseca – Docente do Instituto de Ciências Humanas (UFPel)

Mara Denise Nizolli Rodrigues - Graduanda em Conservação e Restauro (UFPel)

Mariana de Araujo Isquierdo – Graduanda em Conservação e Restauro (UFPel)

Introdução do resumo expandidoO crescente interesse pelo patrimônio histórico brasileiro tem influenciado no aumento do número de intervenções nos mesmos, desta forma, foi criado o Grupo de Estudos e Pesquisa em Estuques: GEPE, um projeto de extensão do curso de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Pelotas, na cidade de Pelotas no Rio Grande do Sul. O grupo tem como objetivo a comunicação entre os pesquisadores e estudantes, a fim de aprofundar o conhecimento referente as técnica desenvolvidas nos estuques.

O estuque é um tipo de revestimento executado segundo uma técnica multicamada. Essa técnica pode ser desenvolvida de diferentes formas. O acabamento final pode ser brunido e lustrado, resultando numa parede muito lisa e brilhante. Usa-se pintura a fresco ou pigmentos na própria massa do estuque. A técnica mais frequente na cidade de Pelotas é a do “stucco lustro”.

O trabalho foi desenvolvido durante a disciplina de “Conservação e Restauro de Estuques”. Que tem como objetivo fornecer conhecimento sobre o estuque como acabamento das alvenarias, como bem cultural e como material de construção, entender seu processo de degradação e como é conservado e restaurado.

Metodologia e resultadosDelimitou-se a área de intervenção a uma altura de aproximadamente dois metros. Em seguida fez-se um mapeamento de danos visíveis e das áreas que apresentavam descolamento, que foram detectadas por percussão.

Para realizar o restauro, processos como limpeza, hidratação, consolidação, pintura e acabamento foram necessários. Foi executada a remoção da sujidade superficial e logo uma remoção mais profunda de intervenções anteriores. Utilizou-se água deionizada e algodão, com movimentos circulares. Já a limpeza mais específica foi feita com acréscimo de pó de pedra-pomes, usando a mesma técnica. Mesmo com esses métodos de limpeza, ainda ficaram resquícios de fita adesiva e manchas escorridas de verniz. Utilizou-se bisturi e swab com acetona e álcool, para a remoção. A rachadura foi limpa com pincel seco e macio, para a retirada de partículas soltas.

A seguir, iniciou-se a hidratação das partes a serem consolidadas, feita como uso de borrifadores e a mais profunda por uma sonda adaptada a uma garrafa pet, onde foram trocados os pontos de aplicação, hidratando assim, por inteiro.

Foram aplicadas seis camadas de massa, com o objetivo de nivelar as lacunas. A primeira massa aplicada continha cal hidráulica e areia média em um traço (1:3). A segunda e terceira camadas continham cal hidráulica e areia fina num traço (1:3). As próximas camadas foram

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aplicadas com a finalidade de acabamento, contendo pasta de cal e pó de mármore em traços (3:1), (2:3), (2:3) respectivamente. Para facilitar o alisamento e dar brilho usou-se sabão neutro dissolvido em água, aplicado com pincel. Na aplicação da massa foi utilizado: colher de pedreiro, desempenadeira, espátulas diversas e fratachos. A técnica utilizada na pintura foi médio fresco. O pigmento utilizado foi pó xadrez nas cores: vermelho, marrom, amarelo e azul disperso em água. Aplicado com esponja marinha, pincéis e penas. O acabamento final foi feito com uma camada fina de cera de abelha dissolvida em terebintina.

Os resultados obtidos no processo de limpeza foram extremamente positivos perante as dificuldades encontradas ao longo da execução do trabalho. Em decorrência de um problema estrutural a parede apresenta uma rachadura profunda, causando um desnível acentuado, já que a parte estrutural não era objetivo do projeto, optou-se por usar uma junta de dilatação utilizando um filme de poliéster em toda extensão da rachadura, prolongando assim o tempo de vida da intervenção.

Existem teorias em relação a pintar ou não as partes reconstituídas. Contudo acreditando que a falta de pintura causa um impacto estético-visual muito forte, optou-se por uma reintegração pictórica próxima a original sem causar um falso histórico. Por não possuir uma sequência exata de pinturas decidiu-se aplicar apenas a técnica de esponjado, com esponja marinha em diversas tonalidades e imitação de veios usando pinceis e penas.

Considerações finaisO trabalho proporcionou uma experiência prática dentro da universidade, oferecendo aos alunos, a possibilidade de desenvolverem suas próprias conclusões relativas a materiais e técnicas empregados na conservação e restauração de estuques lustrados.

Dando por encerrada a recuperação do estuque referido, concluímos que o material usado na limpeza se mostrou muito eficiente, pois, removeu a sujidade sem causar perdas e danos. Além disso, a proposta de reintegração da argamassa aconteceu de forma satisfatória, uma vez que todas apresentaram boa aderência. Até o presente momento a junta de dilatação se mostrou efetiva. A reconstituição pictórica aplicada se deu de acordo com a expectativa, sem causar um falso histórico.

Referências » AGUIAR, José. Cor e Cidade Histórica Estudos Cromáticos e Conservação do Patrimônio. Porto:

F.A.U.P., 2002;

» SEGURADO, João Emilio dos Santos. Acabamentos das Construções Estuques, Pinturas, etc. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, s.d.;

» NETO, José Rodrigues Cavacanti. Consolidação de Argamassa de Estuque. 2011. Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo – Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2011.

» FÜLLER, Josef. Manual do Formador e Estucador. 3ª ed. Lisboa/Portugal: Livrarias Aillaud e Bertrand, s.d;

» MASCARENHAS, Alexandre Ferreira & FRANQUEIRA, Márcia. Estuque ornamental: história e restauro. Rio de Janeiro: AERPA Editora, 2007. Publicado na Revista Brasileira de Arqueometria, Restauração e Conservação, Vol. 1, Nº 2, PP. 001-006.

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Estudo das pinturas murais do Theatro Guarany: formação complementar aos alunos de graduação.

Ms. Andréa Lacerda Bachettini – Docente do Instituto de Ciências Humanas (UFPel)

Márcia Regina dos Santos Dutra - Graduanda em Conservação e Restauro (UFPel)

Mariana de Araujo Isquierdo – Graduanda em Conservação e Restauro (UFPel)

IntroduçãoInaugurado no dia 30 de abril de 1921, o Theatro Guarany é patrimônio histórico e cultural da cidade de Pelotas no estado do Rio Grande do Sul, sendo inventariado pelo município. Inicialmente seus proprietários eram Rosauro Zambrano, Francisco Santos e Francisco Vieira Xavier. Após alguns anos a sociedade foi desfeita e Rosauro Zambrano adquiriu as partes dos demais, se tornando único proprietário. Todas as paredes do teatro eram decoradas com pinturas murais, que se dividiam em artísticas e decorativas, atribuídas a Joaquim Lamas e Willy Schimdt. Para comemoração do cinquentenário, o teatro passou por um restauro onde todas as pinturas foram encobertas.

A fim de redescobrir as pinturas murais, foi criado pela professora do curso de Conservação e Restauro de Bens Culturais da Universidade Federal de Pelotas, Andréa Lacerda Bachettini, o projeto de pesquisa e extensão nomeado “Estudo das Pinturas Murais Originais do Theatro Guarany”. Um projeto de longa duração, que tem como proposta a organização de uma base teórica e técnica para um projeto de restauração dessas pinturas, resgatando assim a memória deste importante patrimônio artístico, histórico e cultural da cidade de Pelotas.

Com base nisso, objetiva-se pelo presente trabalho, relatar os procedimentos desenvolvidos na sala da bilheteria do teatro.

Metodologia e resultadosA metodologia aplicada para realização dos exames estratigráficos consiste na escolha do local para abertura de janelas de prospecção, com dimensões pré-determinadas, a fim de encontrar pinturas murais. Toda a documentação gráfica, catalográfica e fotográfica também fazem parte da metodologia utilizada. Após, inicia-se a fase de consolidação da superfície e logo a de reintegração pictórica.

A parede escolhida para realização do trabalho apresentava alguns relevos, assim como descolamentos de tinta em alguns pontos, o que evidenciava a presença de pintura mural. A partir de então, com o auxilio de bisturis, deu-se início às etapas dos exames estratigráficos: aberturas de janelas de 3 cm x 3 cm a fim de confirmar a existência de pintura mural. Após a constatação de sua presença, a janela foi ampliada para 10 cm x 10 cm, para analisar a real situação dos desenhos. Com a constatação de seu bom estado, buscou-se encontrar o padrão decorativo da pintura. Limitando-a em 56 cm X 63 cm.

Com o intuito de verificar as camadas de tinta existentes no local, foi realizada a extração uma a uma. A partir de então se descobriu o número exato de camadas existentes, em um total de quatro. Optou-se pela recuperação da terceira, por apresentar pintura em estado de possível recuperação.

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Foram preenchidas fichas de intervenção, com a finalidade de registrar a composição, a situação da obra e o croqui do desenho.

Sobre a pintura foi aplicado, com pincel, um adesivo a base de Álcool Polivinílico, a fim de fixá-la sobre a parede. As perdas encontradas no revestimento foram corrigidas com uma massa composta por gesso, cal e cola, lixada com o objetivo de recuperar o nivelamento da superfície, o que favorece a reintegração pictórica.

Para executar a reintegração, o primeiro passo é fazer a cópia do motivo encontrado em papel manteiga. A fim de transcrevê-lo a um filme de poliéster de alta clareza, recortam-se as figuras para vazar o molde e utilizá-lo como estêncil. Por ser têmpera a tinta da composição, a mesma foi utilizada para o preenchimento das lacunas. Através de misturas de cores, chegou-se a tonalidade mais próxima à encontrada no pano de fundo. Partindo para reintegração pictórica com a técnica de pontilhismo utilizando o pincel 00. Da mesma forma serão reintegradas as figuras do desenho propriamente dito. Ainda faz parte do projeto a identificação dos materiais constituintes das pinturas murais, como as argamassas e pigmentos, através de exames laboratoriais.

Considerações finaisA pesquisa tem resgatado a memória desse importante teatro, além de integrar alunos e professores com a comunidade pelotense. Até o momento já foram mapeadas e catalogadas 10 tipologias diferentes de pinturas murais, entre elas artísticas e decorativas. Já foi possível também identificar dois períodos diferentes de pinturas no teatro, o primeiro da época da inauguração em 1921 e outro posterior em 1928, essas pintadas por Sobragil Carollo.

Ao final de dois semestres de trabalho, podemos concluir que o projeto tem atingido suas expectativas, nos proporcionando vivenciar a prática de nossas pesquisas.

O bom estado de conservação da pintura mural encontrada está nos propiciando uma recuperação com exatidão do desenho. A tonalidade das cores, obtidas através de mistura de têmperas industriais, está muito próxima à original.

Busca-se, com isso, restaurar e consolidar o espaço trabalhado, já que a exposição das pinturas em janelas de prospecção é de extrema importância para a revitalização de uma memória que estava escondida.

Referências » BACHETTINI, A. L. As Pinturas Murais do Theatro Guarany, 1921, Pelotas, Rio Grande do Sul,

Brasil. Monografia. Pelotas: Programa de Pós-Graduação em Artes, ILA/UFPel, 1997.

» BACHETTINI, A. L. ; HEIDEN, R. ; VASCONCELOS, M. L. C. . O Resgate das Pinturas Murais do Theatro Guarany. In: 3º Seminário Internacional em Patrimônio e Memória, 2009, Pelotas. Patrimônio & Políticas Públicas, 2009.

» BRAGA, Márcia Dantas. Conservação e restauro: pedra, pintura mural e pintura em tela. Rio de Janeiro: Editora Rio, 2003. 13–127p.

» TIRELLO, Regina A (org.). O restauro de um mural moderno na USP: o afresco de Carlos Magano. São Paulo: Comissão de Patrimônio Cultural – Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo (CPC-PRCEU-USP), 2001.

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Danzantes de la Luz: estudo dos materiais e das técnicas construtivas presentes nos trajes bolivianos utilizados nas festividades religiosas na região do Sucre e Potosí colonial

Ms. Amanda C. A. Cordeiro – Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Dr. Luiz Antônio Cruz Souza – Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Dr. Renata Peters – University College of Londo (UCL)

Em 1920 o Museu Etnográfico Juan Bautista Ambrosetti de Buenos Aires adquiriu dois trajes oriundos da Bolívia sendo que, um deles, foi doado e o outro comprado pela instituição. De acordo com registros do museu, os referidos trajes são procedentes da cidade de La Quiaca, em Jujuy, Argentina (LISSA, DI LORENZO, VILLARONGA, 2005, p. 245 ; IRIARTE, HECHT, 2004, p. 368).

Estes trajes são bastante singulares e apresentam uma grande diversidade de materiais em sua fatura, sendo constituídos de madeira, tecidos, prata (IRIARTE, HECHT, 2004, p. 368) e de outros materiais classificados de maneira genérica (LISSA, DI LORENZO, VILLARONGA, 2005, p.245). As indumentárias foram datadas do século XVII/XIX, e são compostas por uma capa, uma jaqueta, uma saia pequena, uma calça e um capacete e outros elementos soltos.

De acordo com Iriarte e Hecht (2004), este tipo de indumentária havia sido utilizada desde a época colonial em festividades religiosas na região do Sucre e de Potosí, na Bolívia. Com efeito, há o registro de uma pintura, referente às Festividades de Corpus Christi, no Museu de Soumaya no México, que apresenta figuras humanas trajadas com indumentárias bastante similares aos trajes pertencentes à coleção do museu etnográfico portenho.

Também, no Álbum de Paisajes, tipos Humanos y Costrumbres de la Bolívia e no Livo Diccionário del Folklore Boliviano há representações e descrições, respectivamente, de trajes vermelhos com placas semelhantes às vestes em questão.

Além dos registros citados, não se pode desconsiderar e um vídeo do Museu de Arte Indígena do Sucre, em uma região denominada Jalq’ a, em que encontramos dançarinos com capas tesas, porém com a parte metálica confeccionada em latão e, utilizadas em um contexto diferente: em reverência a Pachamama.

Em alguns museus e coleções particulares é possível encontrar apenas as chapas de prata soltas que constituem parte da capa pertencente a este tipo de indumentária, sendo os trajes que compõem a coleção do Museu Etnográfico Juan B. Ambrosetti, os únicos que ainda conservam constituição e montagem original (IRIARTE, HECHT, 2004, p.371; LISSA, DI LORENZO, VILLARONGA, 2005, p. 245).

Apesar de referências com representações similares aos trajes do museu portenho, observa-se contradições e variações ao comparar a morfologia dos mesmos ao longo de seu uso, confirmando o comentário de Iriarte e Hecht (2004) que afirmam que há muito para ser investigado sobre a origem exata e a função dessas vestes.

Tal problemática levanta alguns questionamentos que permeiam a conservação de objetos

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etnográficos, ressaltados por Peters (2008): Como o objeto foi produzido? Quando ele foi produzido? Por que ele foi produzido, usado e descartado (ou não)? Por que ele foi alterado (ou não)? O que este objeto pode nos revelar sobre os processos em que em que foi produzido e as pessoas relacionadas com ele?

O fato é que esses trajes com seus diversos tipos de tecidos e materiais, sem dúvida, guardam significações relativas à sua função inicial, que foram, aparentemente, perdidas. Apesar disso, eles não perderam seu caráter de produto, documento e testemunho das condições históricas, sociais e culturais que os geraram. Sendo capazes, portanto, de estabelecer uma conexão entre seu tempo e o presente (PETERS, 2008, p.187), podendo auxiliar, dessa maneira, a resgatar parte das lacunas que encontradas com respeito à origem e função dos mesmos.

Diante desse contexto e considerando a singularidade dos trajes, tal estudo visa investigar, analisar e documentar as técnicas e materiais construtivos dos mesmos, não perdendo de vista, entretanto, questões teóricas relativas ao seu significado associado a sua materialidade.

Sendo assim, as etapas previstas para alcançar os objetivos da pesquisa estão divididas em três partes. Uma relativa à contextualização das peças, considerando identificação e descrição dos trajes; folclore boliviano e danças autóctones e coloniais; uso e função dos trajes em festividades religiosas e o Barroco Andino (arte festiva barroca andina, influência do barroco andino nos têxteis e análise estilística e iconológica dos trajes).

A segunda etapa prevê o desenvolvimento teórico da pesquisa discutindo a relevância do significado dos trajes a partir do mapeamento dos grupos e interesses relativos às peças com seus respectivos impactos. Também, os trajes serão trabalhados como documentos, refletindo o conceito de memória e possíveis mecanismos de preservação (registro).

Na terceira e última etapa será realizada a parte experimental por meio de interpretação de exames científicos realizado nos trajes associado ao registro dos esquemas de construção deles, seguido de compilação de todas estas informações.

Referências » HECHT, Johanna; IRIARTE, Isabel. Parts of two silver-mounted dance costumes. In: The

Colonial Andes. Tapestries and Silverworks, 1530 – 1830. ed. Helena Phipps, Johanna Hecht e Cristina Esteras Martín: Metropolitan Museum of Art, Yale University Press, New Haven and London, 2004.

» LISSA, Patrícia; DI LORENZO, Silvana; VILLARONGA, Pía. Conservación del “traje de danzante” boliviano del Museo Etnografico de Buenos Aires, 2005. In: Recovering the past: the conservation of archaeological and ethnographic textiles. North America Textile Conservation Conference. México, 2005.

» PETERS, Renata. 2008. The Brave New World of Conservation. In Diversity in Heritage Conservation: Tradition, Innovation and Participation - Preprints of the ICOM-CC 15th Triennial Conference. Allied Publishers Pvt Ltd: New Delhi, Vol 1, 185-190.

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Estudo do patrimônio de vitrais executados no século XX: inventário dos vitrais na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul.

Ms. Mariana Gaelzer Wertheimer – Arquiteta, Conservadora restauradora de Vitrais.

Bianca Servi Gonçalves – Graduanda em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis (UFPEL)

Priscilla Pinheiro Lampazzi - Graduanda em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis (UFPEL)

Resumo No Rio Grande do Sul, a trajetória do vitral esteve ligada aos imigrantes europeus do início do século XX. Nos vitrais sulistas, a tradição europeia teve a sua continuação com o uso de seus esquemas compositivos pouco inovadores, representando predominantemente, a presença de um vitral figurativo, com cercadura e marcas de doadores perdurando até as últimas décadas do século XX. A produção rio-grandense foi marcada, inicialmente, pelas tímidas presenças do alemão José Wollman e da vidraçaria Porto- Alegrense de propriedade de Eduardo Peuker, e pela marcante presença dos ateliês Casa Veit e Casa Genta (WERTHEIMER, 2011 p.63).

E é em função da ausência de uma documentação específica e até mesmo estudos relacionados a essa manifestação artística que se desenvolveu o projeto de pesquisa ESTUDO DO PATRIMÔNIO DE VITRAIS EXECUTADOS NO SÉCULO XX NA CIDADE DE RIO GRANDE, NO RIO GRANDE DO SUL, através do Bacharelado de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Pelotas.

O Projeto teve como objetivo recuperar parte dessa memória rio-grandense a partir da difusão da arte milenar do vitral e também contribuir como orientação para ações de restauro em vitrais e para a sensibilização de uma manifestação artística que vem sendo perdida ao decorrer de décadas.

O acervo encontrado em Rio Grande foi objeto de comparação com a produção porto-alegrense dos ateliês Casa Genta e Casa Viet, como já dito anteriormente, ateliês relevantes na produção de vitrais no Brasil e principalmente, no Rio Grande do Sul. Além de ser um segmento do trabalho realizado pela Prof° Arq. Ms. Mariana Gaelzer Wertheimer, entre os anos de 2009 e 2011, com a produção do inventário dos exemplares de vitrais encontrados na Cidade de Porto Alegre, que deu origem a esta última Dissertação de Mestrado. Esta ação é vista como uma forma de mapeamento de vitrais no Rio Grande do Sul, ansiando o interesse por pesquisas futuras ressaltando a necessidade de preservação desta parte da história de cada cidade.

Metodologia e ResultadosO Bacharelado de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Pelotas ofereceu a disciplina de Seminários Temáticos, tendo como eixo a Introdução a Conservação e Restauro do Vitral, ministrada pela Prof° Arq. Ms. Mariana Gaelzer Wertheimer. Dentro da disciplina surgiu o projeto, conciliado junto às aulas uma revisão bibliográfica da trajetória do vitral, desde o surgimento até os dias de hoje, e também um direcionamento

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posterior desses estudos as informações da cidade de Rio Grande.

Alguns alunos participantes do projeto são residentes em Rio Grande, sendo os responsáveis por parte do levantamento. Na totalidade puderam ser caracterizadas assim, treze edificações. A facilidade de residirem na cidade do objeto de estudo facilitou a constatação dos levantamentos prévios, sendo assim reconhecidos, e facilitando o agendamento das visitas, o que contribuiu para que as idas à cidade fossem

Na primeira visita, foi realizado o levantamento de três edificações: Igreja Nossa Senhora de Fátima (dezenove exemplares), Igreja Nossa Senhora do Carmo (vinte e nove exemplares) e Educandário Coração de Maria (dez exemplares).

O procedimento padrão adotado em cada instituição seguia a execução de planta baixa esquemática com orientação cardeal delimitada. A planta possibilitou a localização das janelas e o nome das mesmas. A nomenclatura seguiu padrões de convenção do Curpus Vitrearum Meddie Aevi, segundo a ordem de acesso da fachada principal e a orientação cardeal das janelas. A documentação fotográfica foi feita seguindo uma metodologia repetida em todas as edificações e tiveram como registro: foto da fachada, nave frontal, fundo da nave, foto de cada módulo e por fim, dos detalhes do vitral, analisando os traços característicos do artista como mãos, pés, planejamento e estado e conservação.

O preenchimento das fichas permitiu criar uma relação de registros de vitrais, realizando comparações técnicas entre cidades e mesmo dentro da própria cidade em si. Além de tudo, se obteve um banco de dados os quais permitiram indicar autores ou possíveis autores, datações que acrescentam a história da cidade levantando aspectos como, interesse religioso da população, e seus costumes.

Graças às pesquisas de campo foi possível identificar e avaliar o estado de conservação dos vitrais presentes na cidade. Foi possível também perceber o grande número de intervenções inadequadas junto à falta de recursos e a disposição de funcionários contrastados com a falta de interesse e desconhecimento das pessoas. Em algumas instituições identificamos os mesmos tipos de intervenções, todas sem documentação, como reposição de vidros inadequados, má fixação de partes soltas e técnica mal sucedida a fim de evitar o abaulamento, muitas delas irreversíveis.

Referências » CAPES, Periódicos. Biblioteca virtual. Vitrais medievais: a invenção cristã se transformou

em uma importante forma de arte.(historia ilustrada). Disponível em: http://link.periodicos.capes.gov.br/ Acessado em abr. 2013.

» GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. ALTMAYER, Flávia de Lima; CARNEIRO, Oscar Décio. Caderno de História n°33, Cidade do Rio Grande 270 anos: A mais antiga do Estado. Prefeitura Municipal do Rio Grande. Rio Grande, fevereiro de 2007. p. 42.

» TORRES, Luiz Henrique. Cronologia básica da história da cidade do Rio Grande (1737-1947). UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE. Local: Rio Grande, 2008. p.18.

» Seminários Temáticos, tendo como eixo a Introdução a Conservação e Restauro do Vitral, ministrada pela Prof° Arq. Ms. Mariana Gaelzer Wertheimer.

» Materiais policopiados oriundos das instituições: Escola Estadual de Ensino Fundamental

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Nossa Senhora Medianeira, Escola Sagrado Coração de Jesus, Escola de Ensino Fundamental Coração de Maria. Documentação cedida em: novembro de 2012. s/editora. Rio Grande/RS - Brasil.

» Documentos históricos das edificações de Rio Grande. Prefeitura de Rio Grande. s/editora. s/autor. Novembro de 2012.

» WERTHEIMER, Mariana Gaelzer. Universidade Federal de Pelotas. A arte vitral do século XX em Pelotas, RS. Programa de Pós Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2011.

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ADESIVOS USADOS NA CONSERVAÇÃO-RESTAURAÇÃO: Análise de protótipos executados de 1989 a 2012

Dra. Isolda de Castro Mendes – Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas da UFMG

Dra. Maria Regina Emery Quites – Escola de Belas Artes da UFMG

Rita de Cássia Cavalcante – Escola de Belas Artes da UFMG

Introdução Os adesivos utilizados amplamente na prática da conservação e restauração são empregados principalmente na consolidação de policromias de esculturas em madeira, em pinturas e na conservação e reintegração de documentos em papel. Seu uso implica um conhecimento técnico-científico que direcione sua aplicação de forma adequada. Além disso, é necessário que o profissional da conservação-restauração conheça cada vez mais sobre esses materiais e as alterações que podem ocorrer ao longo do tempo, buscando identificar quais os subprodutos que são formados e quais as alterações que os mesmos podem provocar ao substrato.

O presente estudo envolve análises organolépticas, de espectroscopia de Infravermelho e Espalhamento de luz Raman de adesivos utilizados em procedimentos de conservação-restauração, com o objetivo de identificar as modificações estruturais e a formação de produtos de degradação em protótipos preparados no curso de Conservação e Restauração de Bens Móveis da Escola de Belas Artes entre os anos de 1989 e 2012.

Os protótipos foram produzidos em placas de madeira e acrílico e incluem os seguintes grupos de matérias-primas:

• Adesivos proteicos

• Adesivos à base de polissacarídeos

• Adesivos de base celulósica

• Adesivos sintéticos (vinílicos, acrílicos e epoxídicos)

• Adesivos cerosos

Experimental (Subtítulo sessão)Espectroscopia de infravermelho é uma técnica baseada nas vibrações moleculares características da amostra. O espectro é obtido pela passagem de radiação infravermelha através da amostra, e apresenta a fração de luz incidente absorvida em uma dada energia. A energia na qual ocorre uma absorção corresponde à frequência de uma vibração de uma parte da molécula analisada. (STUART, 2008, p. 110).

Espectroscopia de espalhamento de luz Raman é uma técnica que envolve o estudo da forma na qual a radiação é espalhada por uma amostra. A fonte de radiação utilizada pode ser na região do espectro próxima ao UV, visível ou próxima ao Infravermelho (STUART, 2008, p. 136). A espectroscopia de espalhamento de luz Raman também é vibracional e produz informações

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complementares ao infravermelho.

1. Espectroscopia de InfravermelhoInicialmente as amostras foram submetidas a testes de solubilidade em água destilada, metanol e acetonitrila. Utilizando o solvente que apresentou melhor solubilidade foi preparada, para cada amostra, uma solução qualitativa. Essas soluções foram aplicadas sobre uma lâmina e deixadas em temperatura ambiente por 24h. As amostras que formaram película uniforme sobre a lâmina foram analisadas diretamente no Infravermelho enquanto que as amostras que formaram filmes quebradiços foram moídas com KBr (aquecido a 500°C por aproximadamente 15h) e transformadas em pastilha.

2. Espectroscopia RamanA caracterização analítica a partir do espalhamento de luz Raman foi realizada para identificação dos adesivos e dos produtos de degradação. Não foi necessário o preparo prévio das amostras, por se tratar de uma microanálise não invasiva.

Considerações finaisEsse estudo foi iniciado em 1989 pela professora Beatriz Coelho, quando foram produzidas as primeiras placas de adesivos, e, nas décadas seguintes, foi coordenado pela professora Maria Regina Emery Quites. O material que se acumulou durante esses anos constitui hoje uma fonte de informação importante para os profissionais da área e, através dessas análises, espera-se ser possível responder às questões relativas à degradação dessas matérias-primas ao longo desse período e reconhecer os possíveis danos que cada uma delas pode causar ao substrato.

Referências » ADHESIVES AND COATINGS. London: Crafts Council, c. 1992. (Science for Conservators: v. 3.

Crafts Council Conservation Science Teaching series).

» CASOLI, Antonella; MUSINI, Patrizia C.; PALLA, Gerardo. Gas-chromatographic-mass spectrometric approach to the problem of characterizing binding media in paintings.

» MASSCHELEIN-KLEINER, L. Ancient Binding media, varnishes and adhesives. Trad. Janet Bridgland, Sue Watson, A. E. Werner. ICCROM. Roma, (1985).

» MATTEINI, Mauro; MOLES, Arcangelo. La chimica nel Restauro – I materiali dell’arte pittorica. Nardini Editore: Firenze, 1989.

» SLAIBI, Thais Helna Almeida; MENDES, Marylka; GUIGLEMETI, Denise O.; GUIGLEMETI, Wallace A. Materiais empregados em conservação-restauração de bens culturais. 2 Ed. Rio de Janeiro: ABRACOR, 2011. 372 p.

» STUART, Barbara. Materials conservation. Inglaterra: Wiley, 2008.

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Laboratório multidisciplinar de investigação arqueológica (LÂMINA) - Instituto de Ciências Humanas/Ufpel: apresen-tação de atividades de conservação em materiais arque-ológicos

Dr. Jaime Mujica Sallés – Docente do Departamento de Antropologia e Arqueologia (UFPel)

Ana Paula da Rosa Leal - Museóloga, Graduanda em Conservação e Restauro e Mestranda em Arqueologia (UFPel)

Taciane Silveira Souza - Graduanda em Conservação e Restauro (UFPel)

IntroduçãoO Laboratório Multidisciplinar de Investigação Arqueológica (LÂMINA) foi oficializado em 23 de novembro de 2011. Vincula-se ao Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas (ICH/UFPel). Contempla projetos de ensino, pesquisa e extensão em nível de graduação e pós-graduação. O enfoque do laboratório é essencialmente multidisciplinar, congregando pesquisadores e estudantes das áreas de arqueologia, conservação e restauro, museologia, antropologia, história e geografia. Contudo, os cursos da UFPel atuantes no LÂMINA são: Antropologia/Arqueologia (Graduação e Mestrado), Museologia, Conservação e Restauro de Bens Móveis, Geografia, História, Biologia, Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural, todos da UFPel. Nesse trabalho, focaremos os trabalhos da equipe de Conservação arqueológica do LÂMINA, os quais são coordenados pelo Prof. Dr. Jaime Mujica Sallés.

Dinâmica do laboratórioO LÂMINA possui um espaço destinado às atividades de Conservação e Restauro de Materiais Arqueológicos, desenvolvidas pela equipe de alunos provenientes, majoritariamente, por discentes do curso de Conservação e Restauro e coordenadas, como já dissemos, pelo Prof. Jaime Mujica Sallés.

A área de Conservação tem crescido no Laboratório. Possui convênios com outras instituições, tais como: Centro de Documentación Historica del Río de la Plata y Brasil (Uruguai); Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia da FURG (LEPAN); Instituto Histórico e Geográfico de São José do Norte (RS); Programa de Arqueología Subacuática (PAS) da Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación (UDELAR). Tais convênios têm propiciado trocas de experiência por meio de estágios, cursos e intercâmbios.

MetodologiaA equipe de conservação aplica diferentes intervenções in situ e em laboratório, sendo tudo documentado através de fotografias e fichas de conservação. Essa documentação fará parte de um banco de dados conjunto, que abrigará as demais áreas. A equipe atua nos protocolos de escavação e coleta, ajudando a definir métodos e materiais a serem aplicados na conservação in situ e no laboratório. Recorre, ainda, estudos bibliográficos e troca de experiências com outros profissionais. Dentre os procedimentos prévios de conservação, incluem-se análises do estado de conservação do objeto, do ambiente de enterramento e registro fotográfico das patologias

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a serem tratadas.

Tipos de tratamentosA equipe tem se deparado com distintas tipologias de materiais. As intervenções predominantes são em ossos e metais.

Eis os principais procedimentos: a) limpeza mecânica, cujo objetivo retirar incrustações, usando-se bisturis, pincéis e materiais afins (LORÊDO, 1994); b) limpeza galvânica em metais, que consiste em envolver o objeto com papel alumínio e submergi-lo em uma solução de bicarbonato de sódio em água destilada, para estabilizá-lo e amolecer a corrosão (RODGERS, 2004); c) eletrólise em metais, fazendo-se circular uma corrente elétrica entre o objeto e um metal denominado ânodo de sacrifício, em uma solução de hidróxido de sódio. Objetiva-se estabilizar e soltar as incrustações (HAMILTON, 1998); d) consolidação; segundo Mourey (1987, 68), esta “reforça as estruturas de um objeto, seja porque está quebrado, ou porque se encontra em um estado de fragilidade tal que sua sobrevivência não pode ser assegurada a longo prazo”. Fazemo-las com Cera microcristalina, parafina, cola polivinílica, Paraloid B72 e Primal B60A; e) uso de ácido tânico e ácido cítrico em metais, a fim de estabilizar as corrosões; f) uso de vaselina, parafina, cola polivinílica e óleo mineral em metais, os quais agem como inibidores da corrosão futura.

Após tratá-los, mantemos os materiais sob monitoramento. Em seguida, passamos à conservação preventiva, cujos procedimentos incluem o acondicionamento, controle de umidade relativa, temperatura, fatores físicos e biológicos.

Considerações finaisO LÂMINA é pioneiro, no Brasil, em relação a sua equipe multidisciplinar. O que tem contribuído consideravelmente na formação dos alunos e pesquisadores envolvidos, pois, ao trabalharem conjuntamente, eles adquirem uma visão mais ampla em relação à arqueologia e conservação arqueológica.

A equipe de conservação vem buscando tratamentos simples e de baixo custo para procedimentos in situ e laboratório, visando a contribuir na conservação de acervos arqueológicos na região, e também, de outras instituições que contam com poucos insumos, recursos financeiros e equipe especializada.

Referências » HAMILTON, D. L. Methods of Conserving Underwater Archaeological Material Culture.

Conservation Files: ANTH 605, Conservation of Cultural Resources I. Nautical Archaeology Program, Texas A&M University, 1998.

» LORÊDO, Wanda M. Manual de Conservação em Arqueologia de Campo. Ministério da Cultura. Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural, Departamento de Proteção. Série Técnica, Rio de Janeiro, 1994.

» MOUREY, William. La conservation dês antiquités métalliques de la fouille au musée. L.C.C.R.A. Draguignan, 1987.

» RODGERS, B. A. The archaeologist´s manual for conservation: a guide to non-toxic, minimal intervention artifact stabilization. New York: Kluwer Academic/Plenum publishers, 2004.

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Estudo e avaliação de tratamentos experimentais em uma pintura colonizada por fungos

Valquíria de Oliveira Silva – Graduando em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais

Ms Luciana Bonadio – Departamento de Artes Plásticas da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais

Dr. Isolda Maria Mendes Castro - Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas

O patrimônio cultural é o legado do passado, a bagagem do presente e a herança para as futuras gerações. As pinturas integram o conjunto de bens culturais que fazem parte desse patrimônio e as mesmas estão sujeitas a vários mecanismos de deterioração dentre esses a ação por fungos. Essa é denominada biodeterioração fúngica e leva a fragilização da estrutura pictórica ocasionando manchas e fissuras que impedem a leitura e apreciação estética dessas obras. Este trabalho tem como objetivo principal analisar e comparar os métodos adequados de tratamento dos fungos presentes na pintura de cavalete do século XX, de autoria do pintor Amadeu Luciano Lorenzato. Objetiva-se verificar quais métodos apresentam-se menos nocivos à saúde e ao meio ambiente no que tange a preservação e salvaguarda desta pintura. Para essa investigação e avaliação experimental confeccionaram-se 30 miniprotótipos, baseados na técnica e materiais empregados pelo artista. Foram coletados os fungos da obra original por meio de “swabs” estéreis e transferidos para soluções salinas (0,85% m/v). Os fungos foram semeados em meio de cultura BDA (Batata-Dextrose-Ágar) adequado ao seu crescimento. Posteriormente os fungos foram isolados para a sua identificação taxonômica. Os micélios vegetativos filamentosos de um dos fungos isolados foram inoculados nos miniprotótipos em regiões específicas das pinturas, e colocados em estufa a 37°C por 15 dias. Além disso, houve a inoculação dos miniprotótipos com uma solução de suspensão de 10-8 esporos (1µL) em água destilada estéril. Os miniprotótipos inoculados com solução de esporos serão submetidos a tratamento imediato, sendo propostos três tratamentos para a desinfestação fúngica. Sendo o primeiro tratamento por atmosfera anóxia onde 8 miniprotótipos inoculados serão monitorados e permanecerão em atmosfera anóxia por 30 dias com uso de controladores de oxigênio e umidade. No segundo tratamento, por câmara de fumigação, 8 miniprotótipos serão submetidos à fumigação por 15 dias e o último por radiação gama com fonte de cobalto 60, 8 miniprotótipos serão submetidos à radiação gama com fonte cobalto 60, por cerca de 2 dias em intensidades de radiação graduais. Serão avaliadas a eficiência e a sustentabilidade dos tratamentos resultantes, dentre também as vantagens e desvantagens desses três tratamentos adotados.

Considerações finaisPor fim, será elaborada a proposição de um tratamento adequado à pintura de Lorenzato, baseada nos resultados fornecidos e analisados durante a realização desse trabalho de investigação experimental.

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Referências » SELWITZ, Charles; MAEKAWA, SHIN. Inerte Gases of Museum Insect Pest. The Getty

Conservation Institute:Los Angeles/CA,1998.

» CANEVA, Giulia; Nugari, Maria Pia; SALVATORI; Ornella. Biologia nel Restauro, Nardini: Firenze, 1994.

» Agradecimentos:

» Douglas Boniek

» Maria Aparecida Resende Stoianoff

» Carlos Ladeira

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Estudo das encadernações de livros do século XIX na Coleção Rui Barbosa: programa de Incentivo à Produção do Conhecimento Técnico e Científico na Área da Cultura /2009-2011.

MS. Edmar Moraes Gonçalves (orientador) – Fundação Casa de Rui Barbosa

Ana Roberta Tartaglia - Fundação Casa de Rui Barbosa

Introdução O projeto nasceu da pesquisa para dissertação de mestrado de Edmar Moraes Gonçalves, chefe do Setor de Preservação da FCRB: Estudo das estruturas das encadernações de livros do século XIX na Coleção Rui Barbosa - Uma contribuição para a conservação-restauração de livros raros no Brasil, que investigou as encadernações brasileiras dentro da Coleção Rui Barbosa, através das marcas de procedência e das análises das estruturas dos livros. Portanto, a pesquisa Estudo das encadernações de livros do século XIX na Coleção Rui Barbosa, nasceu da necessidade de estudar mais amplamente o tema abordado anteriormente por Edmar Moraes Gonçalves, com o objetivo de trazer à tona, mais elementos que se mantinham adormecidos na coleção, para que fosse possível montar um panorama desta atividade no século XIX, no Brasil.

No início da pesquisa, o objetivo primeiro era conhecer mais profundamente o contexto social e histórico em se desenvolveu o negócio dos livros, e de identificar como era a atividade de encadernação no século XIX. Não foi surpresa encontrar muito mais material sobre as tipografias e livrarias do século XIX da cidade do Rio de Janeiro, do que sobre as oficinas de encadernação. Porém através deste estudo, foi possível elaborar um pequeno histórico de algumas das livrarias e oficinas freqüentadas por Rui Barbosa, contribuindo assim, para ampliar o conhecimento global da coleção.

Um dos aspectos mais importantes foi à busca das marcas de procedência dos volumes brasileiros: o levantamento e seleção das encadernações brasileiras do século XIX, dentro da coleção Rui Barbosa, para identificação dos volumes que foram encadernados no Brasil, e observação e análise de estruturas e características de encadernação. Rui Barbosa tinha o costume de mandar encadernar muitos de seus livros na França, porém, também se utilizava dos serviços locais. Um dos desafios deste estudo foi tentar identificar, quais eram e se existiam diferenças nas estruturas, estilos e materiais utilizados entre as encadernações produzidas no Brasil e as produzidas no exterior.

Foi necessário fazer um entrelaçamento de várias informações coletadas, para formar um panorama das encadernações de Rui Barbosa, tentando identificar quais possivelmente seriam as encadernações brasileiras, mostrando seu quantitativo, sua variedade, estilo e realizando estudos das estruturas de encadernação, em volumes pinçados do acervo.

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Etapas do projeto• Levantamento bibliográfico específico;

• Levantamento das encadernações brasileiras dentro da Coleção, com foco nas marcas de procedência do Rio de Janeiro;

• Documentação fotográfica de itens selecionados da Coleção Rui Barbosa;

• Seleção de livros encadernados no Rio de Janeiro para análise;

• Análise dos materiais componentes: linhas, tramas e cabeceados;

• Estudo e ilustração das costuras dos livros selecionados.

Identificação dos livros brasileiros na coleçãoA Biblioteca Rui Barbosa é composta por sete salas; como o primeiro estudo realizado por GONÇALVES (2008) focalizou a Sala Constituição, a maior dentre elas, esta pesquisa trabalhou com as outras salas: a Civilista, a Casamento Civil, a Código Civil, a de Haia e o Corredor Ruiano.

Além do levantamento das encadernações que teriam sido realizadas no Brasil, sobre tudo no Rio de Janeiro, através de uma vistoria nos livros da Biblioteca, onde mais uma vez as marcas de procedência seriam fundamentais, outros aspectos como estilo, materiais empregados, tipos de construção e estado de conservação também foram observados. E analisado estes critérios, é possível dividir a Coleção em três grandes grupos: as encadernações feitas de forma manual, com materiais em sua maioria artesanais, chamadas encadernações artesanais; as que apresentam materiais industriais e encadernação parcial ou integral em máquinas, as encadernações industriais; e finalmente as brochuras, que por possuírem capa flexível e costuras muito rudimentares, não foram avaliadas no estudo. Foram identificados 1.926 livros, que possivelmente foram encadernados e/ou impressos no Brasil.

Marcas de procedênciaHoje, por meio das marcas podemos acompanhar os locais em que estiveram estabelecidos, os estilos de anúncios através das décadas, o avanço da tecnologia, e a modernização do comércio e das práticas comerciais. Dentre as marcas de procedência encontradas na coleção, a etiqueta em papel, por sua versatilidade e pela facilidade crescente das técnicas de impressão, foi o tipo de marca mais encontrado. As etiquetas eram feitas para durar para sempre e realmente duraram: algumas etiquetas dos livros da coleção Rui Barbosa, parecem tão frescas como quando no dia em que foram colocadas. Algumas livrarias produziram mais de 50 tipos de etiquetas variando os dizeres, os formatos, as cores, utilizando papéis especiais e até metalizados.

Estudo de casoForam escolhidos cinco volumes para estudos no laboratório de conservação com a intenção de observar suas costuras, seus estilos e materiais componentes. A princípio, foi possível observar a estrutura das encadernações sem ter que desencadernar os livros. Foram desencadernados dois volumes para observar melhor suas costuras e métodos de construção:

• Livraria Clássica, de Nicolao Alves & Cia;

• Livraria Cruz Coutinho, de Jacintho Ribeiro dos Santos;

• Encadernação e Douração Vallelle - volume desmontado;

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• Ao Missal de Lombaerts - volume desmontado.

Encadernação e Douração Farias & FreitasConhecer as estruturas de encadernação utilizadas nesta época é importante por dois motivos principais: em primeiro lugar, para que se tenha registro do fazer antigo, de como era a atividade da encadernação na época em que era praticamente, senão completamente, desenvolvida de modo artesanal.

E em segundo lugar esta pesquisa visa contribuir positivamente para o conhecimento histórico e tecnológico da encadernação brasileira do século XIX, construindo como fonte de consulta um banco de dados, com fotografias, ilustrações e protótipos que reproduzam as técnicas de encadernação de cada representante aqui escolhido.

Para cada um dos volumes estudados foi feita uma ilustração da estrutura da costura e todo o processo de desmontagem foi documentado fotograficamente.

Considerações finaisEsta investigação teve como objetivos: em primeiro lugar, auxiliar o conhecimento global da coleção, revelando as estruturas e estilos mais encontrados como características da época estudada e em segundo lugar, ampliar os estudos de estruturas de encadernação do século XIX para futura aplicação nos tratamentos de conservação-restauração realizados pelo LACRE, o Laboratório de Conservação e Restauração de Documentos Gráficos da Fundação Casa de Rui Barbosa.

Referências » GONÇALVES, Edmar Moraes. Estudo das estruturas de encadernações de livros do século XIX na

coleção Rui Barbosa: uma contribuição para a conservação-restauração e livros raros no Brasil. UFMG: Escola de Belas Artes, 2008 (Dissertação de Mestrado em Artes).

» TARTAGLIA, Ana Roberta. Estudo das encadernações de livros da coleção Rui Barbosa do século XIX, Programa de Incentivo à Produção do Conhecimento Técnico e Científico na Área da Cultura da Fundação Casa de Rui Barbosa. Rio de Janeiro, 2009-2011.

» http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/preservacao/FCRB_Programa_Incentivo_Producao_do_Conhecimento_Tecnico_e_Cientifico_Area_da_Cultura.pdf

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O Laboratório de Estudos Antárticos em Ciências Humanas da UFMG e o Patrimônio Arqueológico Antártico

Gerusa De Alkmim Radicchi – Programa de Mestrado em Antropologia da Universidade Federal de Minas Gerais

Dr. Andrés Zarankin – Coordenador LEACH-UFMG

IntroduçãoAs primeiras pesquisas arqueológicas realizadas no continente antártico tiveram início na década de 90, como resultado do descobrimento de sítios arqueológico na Ilha Livingston (Península de Byers) pelo Instituto Antártico Argentino IAA. Os vestígios dizem respeito aos primeiros exploradores a incorporar a região, em ocupações estratégicas da expansão capitalistas do final do XVIII e início do século XIX para a prática da caça de mamíferos marinhos durante os meses de verão. A partir de 2010 o Laboratório de Estudos Antárticos em Ciências Humanas LEACH da Universidade Federal de Minas Gerais UFMG passou a integrar o Programa Antártico Brasileiro PROANTAR, realizando sucessivas expedições arqueológicas na Península Byers e constituindo o mais numeroso acervo sobre as primeiras explorações capitalistas na Antártida. Neste mesmo ano, o laboratório concretizou parceria com o curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais da UFMG, que disponibilizou uma equipe para a conservação do acervo e ampliou a possibilidade de discussões sobre a coleção e sua relação com a preservação do patrimônio arqueológico mundial.

O patrimônio arqueológico antártico no campo da preservaçãoGrande parte dos trabalhos realizados sobre os vestígios das primeiras ocupações modernas na Antártida têm valorizado de forma dissociada a conservação de objetos resgatados e a realização dos estudos arqueológicos (PEARSON, 2011, p.119). No entanto, sob os esforços realizados por alguns pesquisadores como Ximena Senatore do IIA e Andrés Zarankin, coordenador do LEACH, as evidências arqueológicas foram colocadas sob nova perspectiva, aprimorando o valor das pesquisas em arqueologia antártica orientada para a preservação. Esta nova perspectiva implica os pesquisadores na gestão dos vestígios resgatados durante a tentativa de satisfazer a pesquisa acadêmica, como também na necessidade de realização de contribuição substancial em favor da conservação e fomento da divulgação do bem cultural.

A caracterização do acervo e os desafios para a conservaçãoOs objetos resgatados são em grande parte compostos por materiais orgânicos bastante frágeis, derivados de restos alimentares, utensílios, vestuários e outros artefatos descartados pelos exploradores. Objetos e fragmentos são resgatados molhados, passando posteriormente por inúmeras variações das condições climáticas e ambientais durante o transporte da Antártida até o LEACH. Os dois maiores desafios tomados pela equipe de conservação e restauração coordenada pela profa. Yacy-ara Froner são: o estudo dos tratamentos de conservação mais adequados dados em laboratório e a formatação de protocolos de aplicação de metodologias em campo que proponham a minimização de danos causados durante o resgate e transporte do acervo.

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Considerações finaisAs pesquisas realizadas pelo LEACH objetivam a interpretação dos sítios, a conservação dos objetos, a criação de base de dados e o pleno intercâmbio de estudos e informações entre os países envolvidos com a arqueologia antártica justificando assim a subtração de objetos dos raros sítios antárticos. Os sítios “apresentam alto valor de pesquisa, alto valor patrimonial, são vulneráveis às perturbações humanas (incluindo arqueológicas) e naturais, e são muito difíceis e caros de estudar” ( PEARSON, 2011, p.132). O patrimônio arqueológico é um patrimônio comum a toda a humanidade, sendo assim essencial o desenvolvimento e a manutenção de padrões para a sua gestão e divulgação.

Referências » PEARSON, Michael. Arqueologia polar e patrimônio polar - Pesquisa acadêmica e em conservação

na arqueologia antártica. Vestígios, Ano 2011, Vol. 5, Número 1, p.117-141.

» CARTA DE LAUSANNE. Carta para a proteção e a gestão do patrimônio arqueológico. ICOMOS / ICAHM: 1990.

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Edital de intercâmbio e difusão cultural do ministério da cultura: possibilidades para a formação do conser-vador-restaurador

Ms. Mariana Gaelzer Wertheimer – UFPEL

Ellen Marianne Röpke Ferrando – UFRGS

Introdução Este trabalho visa a divulgação do edital anual do Ministério da Cultura (MinC) “Programa de Intercâmbio e Difusão Cultural” como possibilidade de formação complementar e/ou continuada do conservador-restaurador, seja ele aluno de graduação, pós-graduação ou profissional. A abordagem do tema relaciona a possibilidade de fomento e seu efetivo resultado a partir do estágio “Conservação e restauro de vitrais do Mosteiro de Santa Maria da Vitória em Portugal” realizado ao longo do mês de janeiro de 2010 no Centro de Conservação e Restauro de Vitrais do Mosteiro de Santa Maria da Vitória e em parceria com o curso de Conservação e Restauro da Universidade Nova de Lisboa, em Portugal.

Metodologia: um estudo de casoO Edital Programa de Intercâmbio e Difusão Cultural, lançado regularmente pelo Ministério da Cultura, tem como objetivo primeiro fomentar a divulgação das diversas áreas da cultura dentre elas também o que tange o patrimônio e sua preservação. Dentro deste contexto deve-se, pois propor uma atividade ou projeto de estudo que compreenda uma ou mais das seguintes atividades: participação junto a pesquisas, seminários, cursos, bem como realização de residências e estágios, entre outras. Tais atividades compreendem sempre a valorização da cultura no Brasil, o que não quer dizer que os projetos, como por exemplo, o estágio do qual é tratado aqui, tenham que ter como objeto de estudo primeiro o patrimônio nacional, mas sim ter uma vinculação direta com o mesmo.

O projeto de estágio inscrito no edital visou acompanhar o tratamento do último painel medieval da campanha de restauro no Mosteiro Santa Maria da Vitória - Batalha, em Portugal, iniciada em 1995. O Mosteiro possui um dos mais importantes patrimônios da arte vitral em Portugal e foi por isso elegido neste estágio como oportunidade para observar e aprender sobre patologias de vidros antigos, processos de intervenções e metodologias usadas na atualidade. A complementação do estágio, realizada nos laboratórios do curso de Conservação e Restauro da Universidade Nova de Lisboa permitiu o acesso as mais modernas tecnologias de investigação e tratamento de materiais (no caso, vidro e chumbo).

Para que a inscrição no edital tenha maior possibilidade de êxito, é imprescindível que o candidato tenha claro qual atividade gostaria de exercer, como também esteja em posse de toda a documentação exigida com bastante antecedência, uma vez que a inscrição no edital deve ser realizada aproximadamente dois meses antes da data da viagem. Quanto ao estágio aqui exposto, foi necessária uma vasta documentação (incluindo as cartas de aceite junto às instituições) além de um projeto bastante detalhado. Sendo este um intercâmbio realizado em parceria com duas instituições estrangeiras, foi preciso, em primeiro lugar selecioná-las segundo a pesquisa desejada (neste caso, o restauro específico de vitrais, uma vez que já vinha realizando pesquisas na área) e posteriormente entrar em contato com os profissionais com os

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quais se elegeu trabalhar. É imprescindível que esta primeira etapa seja imbuída de uma vasta pesquisa e que a escolha seja bem fundamentada, uma vez que implica diretamente em uma boa argumentação no envio da candidatura. Ao longo das pesquisas realizadas nos laboratórios elegidos terei contato com as mais novas tecnologias desenvolvidas, o que contribuirá para diferenciados estudos posteriores à minha volta, ainda não realizados no país. Além disso, estarei em contato constante com uma equipe de profissionais portugueses extremamente qualificados o que possibilitará uma troca de idéias, experiências, além da troca de bibliografia específica ainda bastante escassa no Brasil (FERRANDO, 2009, s/p).

A etapa seguinte consistiu na justificativa do projeto: qual a contribuição do mesmo para a cultura e identidade nacional? De que forma ele irá representar o Brasil (caso seja realizado no exterior)? Qual a relevância do projeto para a realização do evento? E ainda, quais seus desdobramentos uma vez o projeto concluído? A fim de responder a tais questionamentos foi necessário se debruçar sobre as instituições elegidas e seus laboratórios, e ainda pesquisar o currículo dos pesquisadores; discorrer sobre minha relação com o campo de atuação proposto; discorrer sobre o vitral histórico e sua tradição no Brasil bem como falar da sua grande possibilidade de perda em território nacional devido à falta de conhecimento e pesquisas acerca do mesmo; e, por último, vincular o estágio a esta última problemática e propor formas de interceder futuramente em projetos desenvolvidos no Brasil. A documentação ainda contou com um detalhado plano de atividades, a saber:

Aprendizagem relativa a exames e diagnóstico de patologias do vitral histórico;

Documentação de estado de conservação e tratamento, segundo normas internacionais do Corpus Vitriarum Meddi Aevi;

Propostas de intervenções;

Pesquisa histórica e pesquisa bibliográfica;

Tratamento de vitrais históricos: diagnóstico do estado de conservação, limpeza, estabilização da pintura à grisalha, colagem de fratura, substituição de fragmento vítreo, preenchimento de lacunas, estabilização da estrutura metálica, registro gráfico e fotográfico (anverso e reverso), acondicionamento dos painéis;

Conhecimento do funcionamento e manuseio dos equipamentos de análise, usados na pesquisa de processos de alteração do vidro e do chumbo;

Visitas a diversos ateliês particulares de fabricação e restauro de vitrais;

Cabe lembrar que pormenores do processo de seleção do edital, desenvolvimento do estágio, como também de seus desdobramentos posteriores acerca de estudos da arte vitral no Brasil (contrapartida prevista no edital), serão tratados mais detalhadamente no decorrer do artigo.

Considerações finaisComo já mencionado, este trabalho se lança à divulgação de um edital de fomento do MinC, pouco divulgado no meio acadêmico, como possibilidade de contribuir na formação do conservador-restaurador. Neste sentido acredito que a exposição trazida aqui possa servir como incentivo a alunos e profissionais a fim de possibilitar futuras ações junto ao patrimônio cultural nacional com um conhecimento mais amplo na área.

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Referências » BRASIL. Ministério da Cultura. Edital de Intercâmbio n. 2/2009. Programa de Intercâmbio

e Difusão Cultural. Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura, Ministério da Cultura, 2009.

» FERRANDO, Ellen Marianne Röpke. Estágio de Restauro de vitrais do Mosteiro Santa Maria da Vitória. Pronac 096934, processo 01400.025735/2009-42. Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura, Ministério da Cultura, 2009.

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Materiais e técnicas para intervenção em peças cerâmicas: o caso da experiência vivenciada no México.

Agesilau Neiva Almada - graduando do curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis, EBA/UFMG.

IntroduçãoA conservação e restauração de objetos cerâmicos no âmbito dos bens culturais móveis não constitui uma tradição dos centros e escolas de conservação e restauração no Brasil. Apesar de ser um material presente no acervo arqueológico e na produção artística contemporânea, os trabalhos de intervenção em objetos cerâmicos não são significativos se comparados a outros tipos de materiais, tais como madeira, pintura sobre tela, papel, metais e pétreos.

A metodologia de intervenção em objetos cerâmicos realizada hoje no país, seja por profissionais da área ou por instituições, ocorre de maneira empírica ou com a utilização de produtos, apesar de seu uso rotineiro por algumas instituições museológicas, inadequado para à cerâmica de baixa temperatura, que se mostra bastante porosa e, consequentemente, higroscópica.

Este trabalho tem por objetivo a introdução, discussão e divulgação de materiais e procedimentos de intervenção em peças cerâmicas de baixa temperatura, ainda não utilizados em escolas e centro de restauro brasileiro, a partir da experiência pessoal em restauração de uma peça cerâmica pré-hispânica mexicana, possibilitada através de intercâmbio internacional realizado na ECRO – Escuela de Conservación y Restauración de Occidente, Guadalajara, México, por intermédio do programa Minas Mundi da Universidade Federal de Minas Gerais.

O trabalho pretende discorrer sobre estes materiais, práticas e procedimentos, tais como limpeza, adesivo, massa de complementação, massa de nivelamento e a reintegração utilizada pelos conservadores-restauradores mexicanos em cerâmicas arqueológicas. Os materiais que se apresentam como estáveis, flexíveis, inertes e que tem como característica a possibilidade de serem reversíveis em qualquer momento reflete uma preocupação dos atuais profissionais da conservação e restauração em assegurar a total estabilidade de peças cerâmicas.

A prática rotineira de utilização de adesivo PVA (Acetato de Polivinila) no processo de intervenção em objetos cerâmicos por profissionais e instituições brasileiras já não é mais praticada nos países com grande acervo de materiais arqueológicos como o México, Chile e Peru e países da América Central. O PVA além da baixa resistência mecânica também é pouco resistente à água. Assim, a utilização em peças em que não se tem a umidade controlada pode gerar problemas de natureza física, como fissuras, rachaduras e fraturas. O PVA, no processo de envelhecimento natural do adesivo, polimeriza, criando um filme de difícil remoção; além disto, penetra nos poros da cerâmica, o que também dificulta a sua retirada.

A utilização de materiais mais adequados como o adesivo Mowithal B60H e Mowilith 50, e as massas de recomposição de faltantes e de nivelamento preparadas com carbonato de cálcio (carga), caulim (argila de alta temperatura, alta pureza e com partículas muito pequenas) que permite que a massa seja mais resistente aos ácidos e ao meio ambiente além de permitir um acabamento na superfície mais fino e uniforme; a lã de vidro também utilizada na composição destas massas, que além de dar resistência mecânica, assim como o caulim, é inerte ao material cerâmico, e, os diversos tipos de solventes, que através de suas misturas jogam com

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a sua polaridade a fim de proporcionar uma melhor interação e um melhor resultado, são fundamentais hoje para garantir uma estabilidade maior do material cerâmico e assim permitir a sua reversibilidade no futuro, frente a novos procedimentos e/ou materiais que, por ventura, se mostrarem mais eficientes.

Assim sendo, este trabalho se propõe a fazer uma apresentação destes materiais e técnicas, disseminando assim práticas e conceitos mais apropriados a aplicação em objetos que tem por característica a porosidade, como é o caso dos objetos e peças cerâmicas existentes em nosso país.

Considerações finaisSão de grande importância a escolha e a utilização de produtos e técnicas adequadas ao tipo de material com que se trabalha. Se fazem importante também a atualização e a adequação de novos materiais e procedimentos que vão garantir uma melhor estabilidade à peça que se está trabalhando, assim como a sua compatibilidade ao tipo de material, no caso específico, a cerâmica.

A experiência vivenciada na escola mexicana de restauração, ECRO, poderá ser aplicada, em nosso acervo cerâmico arqueológico que é numeroso em nosso estado, e também à nossa vasta produção cerâmica contemporânea, como é o caso do acervo cerâmico classificado como arte popular, que também é bastante significado e representativo em nosso país.

Referências » FIGUEIREDO JUNIOR, João Cura D’Ars de. Química aplicada à conservação e restauração de bens

culturais: uma introdução. Belo Horizonte: São Jerônimo, 2012.

» GONZÁLEZ LÓPEZ, Martha Cecilia. Preparación de Materiales para la Restauración de Cerámica. Guadalajara: ECRO, 2012. 42.

» SLAIBI, Thais Helena de Almeida, MENDES, Marylka et al. (organização). Banco de Dados: materiais empregados em conservação-restauração de bens culturais. Rio de Janeiro: ABRACOR, 2011.

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Conservação de acervos arqueológicos: estudo de caso de uma vasilha tupi-guarani

Marcos Gohn – Graduando em Cons. e Rest. de Bens Culturais Móveis - UFMG

Dra.Yacy-Ara Froner – EBA-UFMG

Dra. Isolda C. Mendes – Depto de Química - UFMG

Introdução O presente trabalho decorre da necessidade de uma ação integrada de pesquisadores de diversas áreas para a preservação de acervos arqueológicos. Nesse campo, a interdisciplinaridade promove a excelência, tanto no estudo do artefato e sua contextualização cultural quanto em relação à sua integridade física – a partir de intervenções de conservação e restauração. Como estudo de caso, objetiva-se aqui apresentar parte do processo de conservação e restauração de uma vasilha de cerâmica tupi-guarani com policromia, encontrada no município de Ipanema, região norte do estado de Minas Gerais, em 2011. Ela foi encaminha ao Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG (MHNJB), como produto de um salvamento emergencial de fragmentos cerâmicos danificados durante os trabalhos de terraplenagem na região desse município. Seguindo esta perspectiva interdisciplinar, a metodologia deste trabalho contou com métodos de análises físico e físico-químicas, documentação científica por imagem e ferramentas tradicionais da arqueologia e da conservação-restauração.

Diagnóstico do estado de conservaçãoA avaliação do estado de conservação depende de uma inspeção direta e minuciosa do objeto. Observou-se na vasilha uma lacuna de aproximadamente 15 por 30 cm da borda lateral, bem como uma rachadura que parte desta lacuna em direção ao centro. Há perda de 15 cm da parede externa da estrutura inferior da borda e diversas marcas de abrasão.

A vasilha apresentava-se encoberta por uma grossa camada de terra que ocultava a maior parte da policromia. As linhas escuras estavam pouco nítidas, impossibilitando a visualização dos motivos da decoração interior, bem como das fitas interna e externa. As fitas e a banda avermelhada interna apresentavam incrustações e maior pulverulência que as demais partes. Depois da remoção da camada de terra, notou-se também o desprendimento do banho de cor em vários pontos e a presença de uma película opaca por toda a superfície.

Análises físico-químicasAs técnicas arqueométricas utilizadas para o estudo da peça foram a microscopia de espalhamento de luz Raman, a difração e fluorescência de raios-X. Através do uso destes instrumentos de análises, é possível a identificação de materiais e marcadores químicos, contribuindo para o conhecimento da técnica construtiva da vasilha de cerâmica. As informações obtidas sobre os materiais e técnicas empregados na confecção da vasilha podem ser utilizados para responder questões como: quem a fabricou?; quem a usou e como a usou?; além de auxiliar o trabalho dos conservadores-restauradores durante os processos de intervenção.

Documentação Científica por ImagemA documentação científica por imagem é uma importante ferramenta para os trabalhos no campo da Conservação-Restauração. Além de servir como uma forma de registro documental,

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ela pode auxiliar os conservadores-restauradores nas análises e nas tomadas de decisão. Neste caso, foi realizada a documentação utilizando-se as técnicas seguintes: luz visível, infravermelho e fluorescência de ultravioleta.

Na fotografia de luz visível, foi realizada a captura da imagem com uma câmera digital Nikon modelo D60, objetivas 18-55 mm e objetiva 60 mm micro, e cartelas de referência cromática (Colorcheker e/ou Qpcard). Durante o processamento digital das imagens, foi realizado ajustes por meio da cartela de referência, sendo: ajuste de balanço de branco pela amostra de cor cinza médio, e ajuste da exposição pelas amostras cinza claro e cinza escuro; permitindo assim a geração de imagem com ajuste cromático mais preciso e condizente com o objeto original.

Por meio da fotografia no infravermelho (IV), a imagem gerada, por se tratar de uma técnica que permite visualizar camadas subjacentes, permitiu a observação de detalhes encobertos nos desenhos presentes na vasilha. Para melhor visualização da imagem, foi necessário o processamento, onde é realizada a conversão para tons de cinza e aplicados filtros especiais para melhorar a nitidez, o que proporcionou uma melhor idéia do reticulado da base.

A fotografia de fluorescência de ultravioleta permitiu observar de maneira mais contundente as marcas de abrasão recentes geradas pela exposição às máquinas, durante o trabalho da prefeitura, bem como a presença de marcas de origem desconhecida.

Limpeza da Vasilha de IpanemaA partir da análise do estado de conservação constatou-se que a cerâmica estava em boas condições, apresentando resistência estrutural e estabilidade em relação às condições ambientais. A grossa camada de terra interferia na percepção do objeto, demandando sua remoção para uma restituição de seu potencial estético e informacional.

Os critérios aplicados na limpeza levaram em conta a natureza do artefato arqueológico enquanto testemunho e interlocutor da cultura material investigada. Dessa forma, a metodologia utilizada priorizou a preservação e a visualização das decorações superficiais, por meio da mínima intervenção no artefato cerâmico, a fim de possibilitar pesquisas futuras, além de métodos que apresentaram boa aplicabilidade e controle.

Esses métodos consistiram em limpeza mecânica, feita com uso de instrumentos de ponta seca, escova de cerdas duras e algodão, uma vez que a policromia mostrou-se sensível a água.

Considerações finaisUma metodologia baseada na observação e nas análises científicas permitiu executar com maior controle a remoção dos sedimentos depositados. O processo de restauração, em fase de finalização, ainda prevê a complementação, apresentação estética e aplicação de camada superficial de proteção.

Referências » BERDUCOU, M.C. 1990. La Conservation en Arcgéologie, Masson, Paris.

» LEÃO, A.C. 2005. Gerenciamento de cores para imagens digitais. Dissertação - Escola de Belas Artes, UFMG, Belo Horizonte.

» PROUS, A; LIMA, T. 2010. Os ceramistas tupiguarani IPHAN, Belo Horizonte (V.I;II;III).

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Conservando uma Baioneta Oitocentista: procedimentos, êxitos e problemas.

Dr. Jaime Mujica Sallés – Docente do Departamento de Antropologia e Arqueologia (UFPEL)

Susana dos Santos Dode - Graduanda em Conservação e Restauro (UFPel)

Taciane Silveira Souza - Graduanda em Conservação e Restauro (UFPel)

IntroduçãoEsse trabalho abordará as etapas de conservação arqueológica de uma baioneta salvaguardada pelo Instituto Histórico e Geográfico de São José do Norte (RS-Brasil). As intervenções foram realizadas pela equipe discente do curso de Conservação e Restauro da UFPel, os quais atuam no Laboratório Multidisciplinar de Investigação Arqueológica (LÂMINA) do Instituto de Ciências Humanas da UFPel. O trabalho liga-se ao projeto “Conservação in situ de Materiais Arqueológicos”, coordenado pelo Prof. Dr. Jaime Mujica Sallés.

A Baioneta de Ferro Forjado foi datada, pelo Dr. Carlos Landa, como sendo, aproximadamente, de 1840. Pode-se supor, assim, que a baioneta relaciona-se a um dos combates da Revolução Farroupilha ocorrido em São José do Norte. As intervenções de conservação realizaram-se entre dezembro 2012 e fevereiro de 2013. Objetivaram a estabilização da corrosão da baioneta, que já evidenciava sinais drásticos de deterioração. As decisões em relação aos tratamentos levaram em conta o critério da intervenção mínima e as condições operacionais disponíveis.

Avaliação e procedimentosAvaliando o estado de conservação, constatamos uma grave deterioração devido ao local de enterramento, que é arenoso e possui altos índices de sais solúveis, especialmente íons de cloreto. Baseando-nos nestas questões, discutimos os distintos tratamentos passíveis de aplicação. Iniciamos o tratamento com a documentação fotográfica do estado inicial da peça e registro em ficha de procedimentos de conservação, cujo modelo foi elaborado pela equipe do LÂMINA. Firmamos nossos procedimentos, ainda, nas premissas de William Mourey (1987): evidenciar aspectos escondidos pela degradação e/ou eliminar produtos nocivos.

A primeira etapa de intervenção consistiu na pesagem inicial da peça, cujo peso é de 530 gramas. Em seguida, realizamos a limpeza mecânica, com o fito de retirar parte da camada incrustante de óxidos e sedimentos que envolviam a Baioneta. Após retirarmos mecanicamente as incrustações, passamos ao tratamento eletrolítico. A baioneta permaneceu 10 horas em tratamento, e foi constantemente monitorada. O objetivo foi o de facilitar o desprendimento de incrustações, a eliminação de cloretos e a estabilização do metal. Depois que retiramos a baioneta da eletrólise, ela possuía resquícios de soda cáustica, o que é comum nesses casos. Assim, neutralizamo-la com ácido acético (vinagre), lavamo-la e escovamo-la água corrente.

Devido às férias da equipe de conservação, pausamos o tratamento. Assim, foi necessário, para evitar a continuidade da deterioração, aplicar o tratamento galvânico. Segundo Rodgers (2004), “este método, além de garantir a reversão de partes dos óxidos de ferro, através de reações de oxido-redução, facilita o desprendimento das concreções, sendo empregado usualmente para objetos de reduzidas dimensões” (RODGERS, 2004). Deixamos a baioneta por 20 dias em

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tratamento galvânico. Ao retornarmos das férias, fizemos nova avaliação da peça, e como ela apresentava incrustações muito densas, utilizamos uma micro retífica para eliminá-las. Em seguida, fizemos a limpeza da baioneta com escovas de cerdas médias e macias, a fim de eliminar todos os resíduos, que porventura pudessem ter permanecido na superfície.

Após esses procedimentos, a baioneta e0stabilizou-se e atingiu o peso de 358 gramas. Foi utilizado um estabilizador de corrosão devido a variações de umidade na região de Pelotas. Aplicamos na peça quatro demãos de uma solução de Ácido Tânico a 10% em álcool, com intervalo de um dia entre cada aplicação. Em seguida, como desconhecemos as condições técnicas de salvaguarda do Instituto Histórico e Geográfico de São José do Norte, vimos a necessidade de aplicar-lhe um consolidante. Optamos pela aplicação de vaselina em pasta. Isso porque, além de ser mais barato, é de fácil aquisição e aplicação, facilitando, portanto, as tarefas de conservação da baioneta na instituição de origem.

Contudo, mesmo parecendo estabilizada, a baioneta, após algumas semanas, voltou a apresentar sinais pontuais de corrosão ativa, na forma de pequenas gotículas de óxido, de cor alaranjada e desprendimentos de concreções. Diante disso, seguimos a sugestão do Miguel Castiglioni: fizemos uma aplicação pontual de ácido tânico após retirar, com o bisturi, as incrustações soltas e identificar os pontos com corrosão ativa. Doravante, a baioneta será monitorada e, desde que estabilize, sugeriremos, aos funcionários do Instituto Histórico e Geográfico de São José do Norte, que sigam aplicando vaselina em pasta.

Considerações finaisOs procedimentos aplicados neste trabalho foram norteados por decisões em grupo e tiveram como objetivo estabilizar e consolidar o objeto, preservando seus componentes visuais, informacionais e simbólicos. Podemos dizer que a limpeza eletrolítica se mostrou eficaz em relação às duas premissas das intervenções em metais (evidenciar e extrair produtos). De modo geral, além da estabilização do material, o uso da eletrólise, combinada ao emprego da vaselina, diminuirá a degradação corrosiva do material, justamente pela retirada dos sais e pela capa protetora que impossibilita que o material exposto a altos índices de umidade relativa, volte a degradar-se.

Referências » MOUREY, William. La conservation dês antiquités métalliques de la fouille au musée. L.C.C.R.A.

Draguignan, 1987

» RODGERS, B. A. The archaeologist´s manual for conservation: a guide to non-toxic, minimal intervention artifact stabilization. New York: Kluwer Academic/Plenum publishers, 2004.

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Aplicação de métodos de conservação em materiais arque-ológicos.

Dr. Jaime Mujica Sallés,Docente, do Departamento de Antropologia e Arqueologia (UFPel).

Daiane Valadão Pereira, Graduanda em Bacharelado em Conservação e Restauro (UFPel).

Susana Dos Santos Dode, Graduanda em Bacharelado em Conservação e Restauro, (UFPel).

IntroduçãoOs artefatos encontrados nos sítios arqueológicos quando não tratados adequadamente, sofrem uma degradação muito rápida. A oxidação resultante nós metais é um das grandes problemáticas, que o conservador restaurador deve enfrentar para evitar a perda do objeto e do componente informacional e simbólico que lha esta associado. Este trabalho tem com objetivo a análise e o tratamento curativo de parte de uma coleção de peças em ferro provenientes do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Arqueologia e Antropologia (LEPAN), da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Esta atividade desenvolvida pelo Laboratório Multidisciplinar de Investigação Arqueológica (LÂMINA) da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), em parceria com o LEPAN, enquadra-se no marco de ações do Projeto de Pesquisa: A Conservação in situ de Materiais Arqueológicos, coordenado pelo Dr.Jaime Mujica Sallés.

Conservação aplicada em materiais procedentes de sítios arqueológicos. Os processos de intervenção devem ser realizados de forma criteriosa para que não se perca nenhum dado importante contido na peça.Deve-se considerar o seu estado de degradação e fragilidade. Dentre as distintas tipologias que aparecem nos trabalhos arqueológicos, os metais se destacam pela sua rápida deterioração pós-escavação, pela complexidade e exigência dos tratamentos de conservação curativa e preventiva, além do acondicionamento a médio e longo prazo.

O ferro é normalmente, o metal mais comum que se encontra nos locais arqueológicos. Graças á variedade de condições e de ambiente em que a corrosão pode ocorrer, e ao número e complexibilidade dos produtos de corrosão, o ferro apresenta ao conservador os mais difíceis problemas entre todos os metais da antiguidade (HAMILTON, 2010, p.04).

A primeira etapa do trabalho ocorreu pela realização das fichas de conservação. As mesmas contemplam uma série de informações sobre o estado de conservação original, exames realizados, tratamentos aplicados e seus resultados bem como a documentação fotográfica. As informações sobre a origem da coleção não foram encontradas, fator que dificultou muito a escolha dos tratamentos a serem aplicados.

O objeto que foi documentado e intitulado como Peça 04 (fig.01) apresentava incrustações. Porém, sem deformações nem fragmentações aparentes. Para descartar a existência de elevadas concentrações de cloretos no seu interior, o que é comum em peças arqueológicas que ficaram longos períodos em ambientes salgados, foi realizado primeiramente um teste de salinidade. A peça foi colocada em uma cuba onde ficou submergida em água deionizada durante vários dias,

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sendo monitorizados os valores de salinidade através de um condutivímetro. Após o teste que se apresentou negativo, foi realizada uma limpeza mecânica em seco, com bisturi e escovas de cerdas médias.

Com a finalidade de liberar as incrustações que resistiram à limpeza manual, a peça sofreu um tratamento eletrolítico, por um período de 5 horas, e foi neutralizada com ácido acético, lavada com água destilada e secada com ar quente forçado. Como eletrólito foi empregado uma solução de hidróxido de sódio (“soda cáustica”) a 5% em água destilada. Utilizou-se uma fonte de computador acondicionada para fornecer uma corrente de 5 volts e uma intensidade de 23 amperes, resultando numa densidade de corrente de 113 miliamperes/cm².

Após foi aplicado ácido tânico com intervalo de uma semana, com a finalidade de estabilizar futuros processos corrosivos. O ácido tânico foi preparado com uma solução de taninos a 10% em água destilada, corrigindo o pH até um valor de 2,5 com a adição de ácido fosfórico (SELWYN,2004,p.02).

Como resultado, pode-se observar o excelente estado de conservação da peça, já sem incrustações e pontos de oxidação ativa, preservando suas características materiais e informacionais.

Considerações finaisDeve se considerar a importância do desenvolvimento de projetos multidisciplinares que abordem os procedimentos de conservação em conjunto com as metodologias, mas a forma de conservação in situ, de armazenamento e identificação dos artefatos. Deve-se ainda analisar adequadamente as metodologias de conservação em laboratório, se as quais perdemos o conteúdo informacional dos objetos.

Referências » DONNY, Hamilton. Methods for conserving archaeological material from

» Underwater.sites Texas: A&M University, 2010.

» SELWYN, L. Metals and Corrosion: A Handbookfor the Conservation Professional.

» Ottawa, ON:Canadian Conservation Institute, 2004.

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Caracterização e redução eletrolítica de produtos de cor-rosão em aços arqueológicos da Antarctica

Gláucia Silva Marques de Souza – Graduanda do curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis – EBA/UFMG

Dr. João Cura D’Ars de Figueiredo Junior – Doutor– EBA/UFMG

Dr. Luiz Antônio Cruz Souza – Doutor – EBA/FMG

Introdução e Objetivos O projeto “Paisagens em Branco: Arqueologia Histórica da Antarctica’’ consiste no estudo das culturas estabelecidas nesta região no século XVIII e possui um grande acervo arqueológico divido em diversos materiais como: couro, ossos, metais, madeiras entre outros. Esses artefatos se encontram em diferentes estados de deterioração, geralmente muito frágeis para serem estudados ou exibidos. Uma intervenção de restauração sobre os mesmos se torna, então, necessária e esta pode ser melhor conduzida se os produtos de deterioração forem caracterizados. Este trabalho tem como objetivo a caracterização dos produtos de corrosão dos bens arqueológicos em aço. Além da caracterização, tem como objetivo a transformação dos produtos instáveis de corrosão em produtos mais estáveis através de redução eletrolítica.

Métodos e Resultados Os produtos de corrosão dos artefatos em aço foram caracterizados por fluorescência de raios-X (FRX), difração de raios-X (DRX) e espectroscopia vibracional no infravermelho (IV). O ensaio de FRX identificou apenas a presença de Fe. O difratograma (fig.1) apresentou picos característicos de goethita (FeO.OH): 4,19; 2.70 e 2.42 Å.

Figura 1 – Difratograma dos produtosde corrosão dos aços

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Os dados obtidos do ensaio de IV confirmaram a presença de goethita pelas bandas em 3160 (estiramento OH), 1650 (def. no plano OH), 886, 798 (def. fora do plano OH) e 476 cm-1 (FeO6 libracional).

De acordo com o diagrama de Pourbaix para o Fe, escolheu-se, para a redução eletrolítica, uma solução de NaOH a 2,5% cuja capacidade em passivar os artefatos de aço foi observada através de cronopotenciometria realizada em célula de três eletrodos: aço (eletrodo de trabalho), fio de platina (contra eletrodo) e eletrodo de Ag/AgCl com solução saturada de KCl (eletrodo de referência). Observou-se no cronopotenciograma obtido (fig.2) o aumento do potencial de corrosão do artefato confirmando a passivação.

Figura 2 – Cronopotenciograma dos aços em NaOH 2,5%.

Na redução eletrolítica as peças de aço foram conectadas ao catodo e uma placa de aço inox ao anodo de uma fonte de alimentação. Aplicou-se um potencial e densidade de corrente até que uma pequena evolução de gás H2 fosse observada. Formou-se, nos aços, um produto negro identificado como magnetita (Fe3O4) obtido pela redução parcial do Fe(III), presente na goethita, a Fe(II). A peça foi imersa então, em solução de isopropanol e revestida com cera microcristalina, aplicada em solução 1:3 de hexano.

Considerações finaisA caracterização dos produtos de corrosão assim como a redução eletrolítica foram satisfatórias para os fins desejados.

Agradecimentos

Agradecemos o apoio do CNPq e ao professor Humberto Osorio Stumpf e equipe do Laboratório de Materiais Moleculares (LQMMol) da UFMG.

Referências » ASDERAKI-TZOUMERKIOTI, Eleni. 2009 Proceedings of “Holding it all together: ancient and modern

approaches to joining, repair and consolidation”. Archetype (eds), The British Museum.2008.

» DEGRIGNY, C. Use of Electrochemical Techniques for the conservation of metal artefacts: a rewiew. J.Solid State Electrochem.2010.

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» FIGUEIREDO JUNIOR, J. C. D..Química Aplicada à Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis. 1. ed. Belo Horizonte: São Jerônimo, 2012. v. 1. 207p .

» GENTIL, Vicente. Corrosão. Rio de Janeiro : LTC Ed., 3.ed.1996.

» NILSSON, J.O; TORNKVIST, C.; LIEDBERG, B. Phothoelectron and Infrared Reflection Absorption Spectroscopy of Benzotriazole Absorbed on Copper and Copper and Oxide Surfaces. Applied Surface Science 37.1996.

» TALBOT, David. Corrosion science and technology. Boca Rato: CRC Press.1998.

» WHITENACK, W.B.; Cantaurus, The Use Of Electrolytic. Reduction For The Removal Of Chlorides From Iron-. Nickel Meteorites 16.2008.

» ZARAKIN, Andres (Org.). Vestígios - Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica (número antártica). 1. ed. Belo Horizonte: Laboratório de Arqueologia –UFMG.2011.

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Casa Museu Fernando de Castro: diagnóstico de conser-vação de uma amostragem da coleção de pintura.

Micheli Martins Afonso - Universidade Federal de Pelotas/RS

Dra. Salomé de Carvalho - MNSR - CITAR/UCP

Dra. Juliane Conceição Primon Serres - Universidade Federal de Pelotas/RS

IntroduçãoA Casa Museu Fernando de Castro, vinculada ao Museu Nacional de Soares dos Reis e localizada na cidade do Porto em Portugal, foi a residência do poeta, caricaturista e, sobretudo, colecionador, Fernando de Castro. O ecletismo descreve sua coleção, na qual se destaca a pintura naturalista dos séculos XIX e XX e a escultura do século XVI ao XIX. Um dos aspectos que tornam este acervo singular é o fato de Fernando de Castro ter reunido uma quantidade extraordinária de talha dourada, provenientes de conventos e igrejas. Corresponde a um acervo excêntrico que carece de atenção da comunidade acadêmica e de especialistas em Conservação e Restauro, tendo em vista a iminente degradação que assombra esta coleção. Aferindo um valor substancial a este patrimônio, a presente pesquisa, executada no período de dezembro de 2012 a janeiro de 2013, tem por objetivo contribuir com a reconstrução da memória da Casa Museu Fernando de Castro e realizar um diagnóstico de conservação de uma amostragem do espólio de pintura, a partir do instrumento metodológico “Ficha de Diagnóstico Express – Pintura” elaborada pela equipe de conservação e restauro do Museu Nacional de Soares dos Reis. A pesquisa justifica-se pelo fato de a Casa Museu Fernando de Castro corresponder a um patrimônio singular ainda pouco conhecido, entre outros, devido aos escassos estudos sobre o seu acervo e sua memória. Deseja-se fomentar a partir dos resultados obtidos, a pesquisa, o interesse e a conservação desta instituição museal de caráter singular.

Metodologia e resultadosFernando de Castro foi um caricaturista, poeta e, sobretudo, um colecionador de obras de arte. Transformou a sua moradia em um excêntrico museu, com destaque para a talha dourada e a arte sacra. Em 1944 inaugurou a sua Casa-Museu, como já era designada na época (O COMÉRCIO DO PORTO, 23/05/1944, p. 1). Fernando de Castro falece em 1946 e em 1952 a Casa-Museu é doada ao Estado. O inventário do local foi realizado em 1951, pelo então diretor do Museu Nacional de Soares dos Reis (MNSR), Dr. Vasco Valente. Durante a gestão das conservadoras Clementina Quaresma e Catarina Maia e Castro, ações de beneficiação foram realizadas no local, mas atualmente a instituição perece pela falta de manutenção periódica do acervo, do seu edifício e pela carência de recursos humanos, técnicos e financeiros. A Casa Museu Fernando de Castro (CMFC) possui um amplo espólio e de variadas tipologias. No que tange a coleção de pintura, esta alberga cerca de 700 exemplares constituídos por diversas técnicas pictóricas que foram estabelecidas em inventário. A metodologia utilizada foi a pesquisa no acervo do MNSR, entrevistas com a responsável pela CMFC, visitas de pesquisa ao local, análise documental em recortes de jornais, anotações sobre obras e fichas de inventário, revisão bibliográfica e o diagnóstico de conservação de uma amostragem da coleção de pintura da CMFC, através da “ficha de diagnóstico Express – Pintura”, desenvolvida pela equipe de conservação e restauro do MNSR. Determinou-se realizar o diagnóstico de conservação de uma parcela amostral da coleção de pintura: avaliaram-se 131 obras presentes em zona de arrecadação da CMFC, o

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que possibilitou averiguar quais as principais patologias que afetam esta coleção. A partir da quantificação do índice de patologias encontradas, foi possível determinar as possíveis causas para o surgimento destas alterações, tanto quanto propor soluções conservativas que amenizem tais degradações. De uma forma geral a deterioração dos objetos artísticos (gráficos 1 e 2) se dá através de vários fatores como luz, temperatura, umidade relativa contraindicados (MICHALSKI, 2007, p. 55), poluição ambiental, agentes biológicos de degradação, vibração mecânica, roubos, vandalismos, acidentes naturais, manuseamento, acondicionamento, sistemas para colocação de molduras, formas incorretas de fixação às paredes (CALVO, 2006, p. 67), entre outros. As alterações que dizem respeito à natureza dos materiais que integram uma obra e/ou ao uso de técnicas inadequadas também geram degradações substanciais (VILLARQUIDE, 2005, p. 61).

Considerações finaisA falta de recursos técnicos, humanos e financeiros impedem que a gestão deste organismo opere de maneira mais incisiva no que tange a preservação. Medidas conservativas são realizadas periodicamente pela equipe de conservação e restauro que atua no MNSR, com intuito de amenizar as degradações elencadas nesta coleção. Entretanto, tais intervenções não suprem todas as necessidades que a Casa-Museu comporta. Sendo assim, é imprescindível a inserção permanente de profissionais de conservação e restauro, possibilitando instituir práticas de preservação exequíveis face as limitações enfrentadas pela gestão da Casa Museu Fernando de Castro.

Referências » CALVO, Ana Maria. Técnicas e Conservação de Pintura. Coleção uma introdução a.

Editora Civilização. Portugal, 2006.

» MICHALSKI, Stefan. Preservación de las colecciones. In: Cómo administrar un museo: manual práctico.UNESCO/ICOM. Paris, 2007.

» VILLARQUIDE, Ana. La Pintura sobre Tela II. Alteraciones, materiales y tratamientos de restauración. Editorial Nerea S.A. San Sebastián, 2005.

» O Comércio do Porto. Casa Museu Fernando de Castro. Porto, 23.05.1944. Documento fotocopiado. Acervo do Museu Nacional Soares dos Reis.

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Projeto Slides de Vidro do Centro de Memória da Educação Brasileira/CMEB e Instituto Superior de Educação RJ/ISERJ

Rita Cunha – Especialista Conservador Restaurador CMEB/ISERJ

Marlúcia Neri – Mestre CMEB/ISERJ

Introdução Este pôster apresenta o resultado do trabalho de conservação preventiva realizado nos slides de vidro do Instituto de Educação do Estado do Rio de Janeiro /ISERJ, no Centro de Memória de Educação Brasileira/CMEB, instituição depositária dos citados slides, no período de setembro a dezembro de 2012. O trabalho foi desenvolvido por alunos do Programa de Aprendizagem Diferenciada da Educação de Jovens e Adultos (PAD - EJA), ensino Fundamental e Ensino Médio. Os profissionais envolvidos foram: um professor do (PAD - EJA) do ISERJ, um Conservador/Restaurador, uma professora de biologia, uma auxiliar de biblioteca e um estagiário de história.

O ISERJ possui um vasto patrimônio documental advindo da formação da Escola Normal da Corte em 1880 e cuja guarda é o CMEB desde 2005, ano da sua criação. Por patrimônio entende-se o que está disposto na Constituição Federativa do Brasil, art. 216 de 05 de outubro de 1988, (IPHAN, 2006; p.20),

(...)Constitui patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira (...).

Neste trabalho procurou-se levar o conhecimento técnico da Conservação preventiva aos alunos envolvidos em sala de aula quanto à constituição dos materiais empregado na conservação dos bens culturais que devem possuir um excelente grau de pureza e quanto ao ambiente de sua guarda, conforme enfatizado por Carvalho (1998: p.6), segundo o qual, “(...) as características específicas do lugar onde se localizam as coleções, definem em que grau cada um desses elementos interfere na sua conservação”.

Os slides de vidro objeto deste projeto fazem parte do antigo material pedagógico do ISERJ, material didático nas aulas de História Geral e História Natural. Constitui um rico material no formato 8,5 cm x 10 cm fabricados na Alemanha por Deutsches Hygiene-Museum(Deutschland) e na França pela empresa Deyrolle, somando um total de 1.802 unidades. Com esta ação de preservá-los busca-se a preservação da história e da memória de todos que fizeram e fazem parte desta instituição.

As etiquetas dos slides encontram-se inscrições com Émile (comerciante do século XIX, de Paris, um apaixonado por espécimes de história natural) e outras com “Lês Fils d´Emile Deyrolle”, banqueiro de Luís XIV. A empresa Deyrolle tem feito negócios desde 1881 e vem funcionando há várias gerações (WILSON, 2012).

As etiquetas em papel estão com grafia original em francês e em tinta nanquim. Alguns slides estão sem identificação. Eventualmente suas etiquetas foram danificadas por falta de um acondicionamento apropriado ou pela ação do tempo e ou por ataques biológicos, conforme referido em Cassares (2000).

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Após pesquisa realizada nos arquivos do CMEB referentes à Escola Normal do Distrito Federal (1889-1932) identificou-se que essa Colleção de Deyrolle possa ter pertencido às coleções de história natural que fizeram parte do museum pedagógico do Pedagogium (1890-1919), de acordo com oficio de nº 68, de 30/05/1898, do então Diretor da Escola Normal Dr. Manoel Bomfin enviado ao Diretor da Instrução Publica, Sr. José Medeiros e Albuquerque.

Etapas do projetoDesta rica experiência de preservação deste acervo que fez uso de diversas técnicas, o pôster se restringirá a apresentar a conservação dos Slides de vidro na seguinte ordem: Triagem, identificação, higienização, acondicionamento e armazenamento. Essas foram as etapas realizadas no projeto que se restringiu apenas ao objeto slide, seu suporte, as embalagens e sua armazenagem em caixas nas estantes do CMEB. As demais camadas de invólucros requeridas para a proteção do acervo, a saber: a sala onde o mesmo se encontra, as condições do edifício, seu entorno, bem como a região onde o mesmo se localiza, não foram levados em consideração neste projeto.

Considerações finaisProcurando atender às solicitações do Programa PAD-EJA para incentivar a iniciação profissional, propomos para os alunos inseridos neste programa, um projeto técnico de capacitação para a Conservação Preventiva do acervo do ISERJ (CMEB).

Esta atividade propiciou aos alunos os primeiros contatos e conhecimentos com a área de Conservação Preventiva adentrando a um mundo de materiais e linguagens novas, ao que se agregou um conhecimento histórico possibilitado pela atividade desenvolvida.

Este projeto contribuiu também para o aumento do conhecimento pedagógico disponibilizado em sala de aula através de pesquisas e da interação professor/aluno na multidisciplinaridade que envolve a Conservação Preventiva uma vez que esta lida com as Ciências Químicas, Físicas e Biológicas, Artes, Geografia, História, Matemática etc.

Desta forma, esta oportunidade poderá despertar no aluno uma iniciação profissional futura na área técnica de Conservação Preventiva de maneira aperfeiçoada.

Referências » Coletânea de Leis Sobre Preservação do Patrimônio. Rio de Janeiro: IPHAN, 2006.

» CARVALHO, Cláudia S. Rodrigues de. O espaço como elemento de preservação dos acervos com suporte em papel. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 1988.

» CASSARES, N. C. Como fazer conservação preventiva em arquivos e bibliotecas. São Paulo, Arquivo do Estado - Imprensa Oficial, 2000.

» OFÍCIOS EXPEDIDOS 1897-1898. Livro manuscrito – Acervo CMEB, 2012.

» WILSON, Wendell E. (2012) Registro mineralógica Arquivo biográfico

» Disponível em <www.mineralogicalrecord.com> acesso em 03 novembro 2012.

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Conservação e restauração de três obras do artista Victor Scharf

Ms. Keli Cristina Scolari - Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural/ICH/UFPel, Especialista em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis/CECOR/UFMG, Bacharel em Artes Plásticas/IA/UFRGS, Restauradora do Departamento de Museologia, Conservação e Restauro ICH/UFPel

Raíssa Piedade Gará - Acadêmica do Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais móveis ICH/UFPel.

Introdução O presente trabalho relata restauração de três obras de autoria do artista austríaco Victor Sharf, que nasceu no ano de 1872 e faleceu em 1843. Segundo dados coletados em uma breve pesquisa sobre sua vida e a sua carreira artística, descobriu-se que o artista participou de três eventos importantes um em Berlim na exposição Grosse Deutsche Bildnissem em ihrer Zeit, Kronprinzen-Palais; e dois em Veneza, nos anos de 1907 e 1912, respectivamente, na Exposição Internacional de Arte de Veneza (La Biennale di Venezia).

Com a pesquisa foram encontradas algumas obras de sua autoria com grande semelhança às obras estudas. Foram encontradas cinco pinturas à óleo sobre tela: “Woman In White Seated In Salon” (78,1 x 61,6), “A drawing room”, “The sitting room”, “Le Salon”, “Portrait of a Society Woman” (123,2 x 95,3 cm), “Portrait of a Lady Standing With Lacquer Cabinet” (125 x 100 cm), “Preparing a fruit basket”; três pinturas em aquarela: “Alt-Ausse”, “Chauvin C”, “Port Scene With Sailboats”, e dois grafites: “Portrait of old Woman” e “ Portrait of an old man”.

Observou-se com a pesquisa que o artista trabalhou muito com a figura humana, principalmente na criação de retratos. As três obras em questão também são retratos, e possivelmente de uma família nobre, pois possuem os títulos de conde, condessa e seu filho visconde, segundo as informações da senhora Ligia Dariano, a qual possui um antiquário na cidade de Porto Alegre e recebeu as obras como herança de seu marido. Segundo a mesma, as três pinturas foram adquiridas por uma arquiduquesa austríaca que viveu em Porto Alegre na década de 50, e posteriormente vendeu ao seu marido Sr Dariano. Atualmente as pinturas fazem parte de outro acervo particular, uma vez que foram doadas pela senhora Ligia como presente de casamento.

Processo de restauraçãoAs pinturas estão sendo restauradas em um projeto de extensão do Curso de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Pelotas, com a coordenação da Restauradora Keli Cristina Scolari, coorientação da professora Andréa Lacerda Bachettini e participação dos acadêmicos: Raíssa Piedade Gará, Rosaura Isquierdo Rocha, Bárbara Maria Bichler Borck, Mirela Moraes Borba, Rafael Vaghetti de Avila e Cacilda Oliveira Kirst.

Primeiramente, foi realizado o preenchimento da ficha catalográfica de cada obra, posteriormente foram feitos os exames técnico-científicos, que visam analisar os materiais constituintes das obras. Foram feitos exames com lupa de mão; microscópio ótico; exames com luzes especiais: UV (ultravioleta), infravermelho, e também coletadas amostras para a realização de cortes estratigráficos e exames laboratoriais.

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As obras quando chegaram para restauro possuíam um faceamento de proteção com papel de seda e CMC, porém no início do processo de higienização e limpeza mecânica, notou-se que o faceamento estava desprendendo da camada pictórica, e esta, se desprendendo do suporte, assim optou-se pela remoção do faceamento das três pinturas e pela aplicação de uma camada muito fina do adesivo Beva 371 para a fixação da camada pictórica no suporte.

O péssimo estado de conservação das pinturas é devido pelo fato das telas passarem um longo período sem chassi, enroladas sem suporte adequado ou fixadas na parede por apenas dois pregos, por aproximadamente quinze anos. Estes fatores ocasionaram sérios danos às pinturas como: vincos acentuados, perdas da camada pictórica, perdas de suporte, abaulamentos, craquelês diversos, concheamentos, ataque de insetos xilófagos oxidação do verniz e as obras possuem intervenções anteriores em vários locais das obras.

O projeto se iniciou pela obra maior, pintura da figura feminina, por estar mais fragilizada do que as outras duas pinturas, e as obras menores foram planificadas até serem restauradas.

O processo de restauro deu início pelo verso com a higienização e limpeza mecânica com pincéis de cerdas macias, bisturis nas sujidades persistentes e nos excrementos de insetos. Nesta fase foram retiradas as intervenções do verso (remendos) e aplicou-se pó de borracha para limpeza geral do verso da obra. Na fase atual do restauro, está sendo realizado o preenchimento dos furos com polpa de linho e cola PVA neutra, e nas lacunas estão sendo confeccionados enxertos com linho e fixados com cola PVA neutra. Os passos seguintes serão o reentelamento com linho e adesivo BEVA 371 na mesa térmica, estiramento em um novo chassi, nivelamento das lacunas, reintegração pictórica e aplicação do verniz de proteção.

Pelo péssimo estado de conservação das pinturas, o processo de restauração era de fundamental importância para a estabilidade estrutural e integridade estética das obras, pois sem esta intervenção de restauro, a sobrevivência das obras não seria possível.

O projeto de extensão se iniciou no dia 31/01/2013 e está previsto o término para no final do ano de 2013. Após a finalização do projeto, será elaborado um relatório com todos os processos de intervenções realizados, e também uma exposição das três obras, o retrato da Condessa, do Conde e do Visconde, com fichas explicativas com todo o processo ocorrido durante a restauração.

Referências » BURGI, Sergio, MENDES, Marylka, BATISTA, Antônio Carlos N; Materiais Empregados em

Conservação e Restauração de Bens Culturais, Rio de Janeiro, ABRACOR-Universidade Federal do Rio de Janeiro- VITAE, Apoio à Cultura, Educação e Promoção Social, 1990.

» IMAGENS- Disponível em:< http://www.artnet.com/artists/victor-scharf/past-auction-results. Acesso em: 09/04/2013.

» IMAGENS - Disponível em:< http://www.arcadja.com/auctions/en/scharf_viktor/artist/25843/. Acesso em 09/04/2013.

» LA BIENALE DE VENEZIA DO ANO DE 1907 - Disponível em:< http://asac.labiennale.org/it/passpres/artivisive/ava-ricerca.php?scheda=177123.Acesso em 09/04/2013

» LA BIENALE DE VENEZIA DO ANO DE 1912 - Disponível em:< http://asac.labiennale.org/it/passpres/artivisive/ava-ricerca.php?scheda=157573. Acesso em 09/04/2013.

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