encontro de analistas, realizado dia 28 de novembro, … · tem a arábia saudita, com 4.000 t/mês...

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Pecuária em mar revolto? O Encontro de Analistas fecha tradicionalmente o ano com discussões e projeções futuras sobre o mercado do boi, mas, em 2015, foi tragado pela conjuntura instável do País. No primeiro painel, avaliou- -se os reflexos da crise atual sobre a atividade, que ain- da se mantém relativamente imune ao “mar revolto” da recessão. O prognóstico foi de que o agronegócio ainda tem “arsenal” suficiente para proteger-se dos sobressal- tos da economia. Já o segundo painel, que apresentamos resumidamente nesta edição do Prosa Quente, focalizou o negócio pecuário em si. Participaram desse bloco Luiz Cláudio Paranhos, presidente da ABCZ; Antônio Camar- delli, presidente da Abiec; Alex Lopes e Hyberville Neto, da Scot; Leandro Bovo, do Haitong Bank; Fábio Dias, membro convidado da rede global de consultores GLG Grup; Sérgio De Zen, do Cepea/Esalq, e Alcides Torres, diretor da Scot (como mediador). Gustavo Aguiar, da Scot, abriu o painel apresentando um breve estudo sobre o ciclo pecuário. Segundo ele, nas últimas duas décadas, tanto o bezerro quanto o boi gor - do tiveram ganho real, vencendo a inflação. Ocorreram, no período, três ciclos pecuários, com picos de baixa e de alta. “Estamos no terceiro ciclo e, após três anos de alta consecutiva, a pergunta é: ele vai cair?”, inquiriu Aguiar ao participantes do painel. Na opinião de Alcides Torres, o boi continua valorizado em 2016, apesar do cenário eco- nômico do País e da queda no consumo interno. Hybervil- le Neto concordou: “A retenção de matrizes, iniciada em 2014 e aprofundada em 2015, deve fazer efeito apenas em 2017. A oferta de bois continuará apertada e a arroba de- verá ser reajustada acima da inflação”. Sergio De Zen, do Cepea, prefere a cautela. “Não é possível traçar um cenário de alta. A queda de preço do boi gordo pode até ocorrer antes do que se imagina”, disse ele. Da mesma forma que no painel 1 (formado por Alys- son Paolinelli, ex-ministro da Agricultura e atual presi- dente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho; Bernardo Kiep, produtor rural e diretor da Massey Fer - gusson; Décio Zylbersztejn, professor da FEA/USP, Gus- tavo Junqueira, presidente da Sociedade Rural Brasileira; Eduardo Riedel, secretário estadual da Produção do MS, e Victor Nehme, diretor do fundo de investimentos Spar- ta), após a apresentação de indicadores, abriu-se o debate às perguntas do público. Público - Qual é o momento ideal para se entrar na atividade? Alex Lopes - Não existe um melhor momento para isso. Como toda atividade econômica, a pecuária vive de ci- clos. Na atual conjuntura, que é de alta, o risco é formar um estoque caro, comprando bezerro e boi magro valori- zados, e, quando o gado ficar pronto para a abate, a partir de 2017, pegar o mercado em baixa. O produtor precisa ser muito eficiente na recria e na engorda para não amar - gar prejuízo. Fábio Dias - Eu acho que a cria precisa ser considerada como opção de investimento. Faz tempo que não se in- veste em cria. A relação de troca é favorável para quem faz cria e parece que isso não vai mudar tão cedo. Hoje, o ágio da arroba do bezerro sobre a do boi gordo passa de 40%. Todo mundo pensa apenas na ponta da engorda, mas acho que, quem está querendo em entrar na pecuária de corte, deve considerar a cria, especialmente em peque- nas e médias propriedades. Luiz Cláudio Paranhos - Vou colocar uma pitada de otimis- mo na conversa: qualquer momento é bom para se inves- tir na pecuária de corte, desde que a propriedade tenha propensão para a atividade. Isso significa que o resultado dela depende da capacidade de gestão. Então, digo, inves- timento em pecuária é sempre bom negócio. Público - Qual é a perspectiva para a exportação de carne em 2016? Camardelli - O primeiro semestre deste ano foi muito complicado, por conta da crise internacional, que é dife- rente da de 2008. Há sete anos, ela se concentrou nos paí- ses desenvolvidos; dessa vez, atingiu todo mundo, afetan- do principalmente os grandes exportadores de petróleo, como a Venezuela, a Rússia e os países do Oriente Médio. No caso da Rússia, que enfrenta uma crise política e san- ções econômica por conta da Crimeia e Ucrânia, um dó- lar passou a valer 70 rublos e o petróleo caiu para menos Prosa Quente 14 DBO dezembro 2015 Encontro de Analistas, realizado dia 28 de novembro, em São Paulo, debate até que ponto a pecuária se manterá “firme” em meio à crise que castiga o País. FOTOS: EDUARDO TORRES/BELAMAGRELA

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Page 1: Encontro de Analistas, realizado dia 28 de novembro, … · Tem a Arábia Saudita, com 4.000 t/mês e ainda o Kuait, Barhein, Iraque e Catar, com outras 2.000 t/mês. Nós temos também

Pecuária em mar revolto?

OEncontro de Analistas fecha tradicionalmente o ano com discussões e projeções futuras sobre o mercado do boi, mas, em 2015, foi tragado pela

conjuntura instável do País. No primeiro painel, avaliou--se os reflexos da crise atual sobre a atividade, que ain-da se mantém relativamente imune ao “mar revolto” da recessão. O prognóstico foi de que o agronegócio ainda tem “arsenal” suficiente para proteger-se dos sobressal-tos da economia. Já o segundo painel, que apresentamos resumidamente nesta edição do Prosa Quente, focalizou o negócio pecuário em si. Participaram desse bloco Luiz Cláudio Paranhos, presidente da ABCZ; Antônio Camar-delli, presidente da Abiec; Alex Lopes e Hyberville Neto, da Scot; Leandro Bovo, do Haitong Bank; Fábio Dias, membro convidado da rede global de consultores GLG Grup; Sérgio De Zen, do Cepea/Esalq, e Alcides Torres, diretor da Scot (como mediador).

Gustavo Aguiar, da Scot, abriu o painel apresentando um breve estudo sobre o ciclo pecuário. Segundo ele, nas últimas duas décadas, tanto o bezerro quanto o boi gor-do tiveram ganho real, vencendo a inflação. Ocorreram, no período, três ciclos pecuários, com picos de baixa e de alta. “Estamos no terceiro ciclo e, após três anos de alta consecutiva, a pergunta é: ele vai cair?”, inquiriu Aguiar ao participantes do painel. Na opinião de Alcides Torres, o boi continua valorizado em 2016, apesar do cenário eco-nômico do País e da queda no consumo interno. Hybervil-le Neto concordou: “A retenção de matrizes, iniciada em 2014 e aprofundada em 2015, deve fazer efeito apenas em 2017. A oferta de bois continuará apertada e a arroba de-verá ser reajustada acima da inflação”.

Sergio De Zen, do Cepea, prefere a cautela. “Não é possível traçar um cenário de alta. A queda de preço do boi gordo pode até ocorrer antes do que se imagina”, disse

ele. Da mesma forma que no painel 1 (formado por Alys-son Paolinelli, ex-ministro da Agricultura e atual presi-dente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho; Bernardo Kiep, produtor rural e diretor da Massey Fer-gusson; Décio Zylbersztejn, professor da FEA/USP, Gus-tavo Junqueira, presidente da Sociedade Rural Brasileira; Eduardo Riedel, secretário estadual da Produção do MS, e Victor Nehme, diretor do fundo de investimentos Spar-ta), após a apresentação de indicadores, abriu-se o debate às perguntas do público.

Público - Qual é o momento ideal para se entrar na atividade?Alex Lopes - Não existe um melhor momento para isso. Como toda atividade econômica, a pecuária vive de ci-clos. Na atual conjuntura, que é de alta, o risco é formar um estoque caro, comprando bezerro e boi magro valori-zados, e, quando o gado ficar pronto para a abate, a partir de 2017, pegar o mercado em baixa. O produtor precisa ser muito eficiente na recria e na engorda para não amar-gar prejuízo.

Fábio Dias - Eu acho que a cria precisa ser considerada como opção de investimento. Faz tempo que não se in-veste em cria. A relação de troca é favorável para quem faz cria e parece que isso não vai mudar tão cedo. Hoje, o ágio da arroba do bezerro sobre a do boi gordo passa de 40%. Todo mundo pensa apenas na ponta da engorda, mas acho que, quem está querendo em entrar na pecuária de corte, deve considerar a cria, especialmente em peque-nas e médias propriedades.

Luiz Cláudio Paranhos - Vou colocar uma pitada de otimis-mo na conversa: qualquer momento é bom para se inves-tir na pecuária de corte, desde que a propriedade tenha propensão para a atividade. Isso significa que o resultado dela depende da capacidade de gestão. Então, digo, inves-timento em pecuária é sempre bom negócio.

Público - Qual é a perspectiva para a exportação de carne em 2016?

Camardelli - O primeiro semestre deste ano foi muito complicado, por conta da crise internacional, que é dife-rente da de 2008. Há sete anos, ela se concentrou nos paí-ses desenvolvidos; dessa vez, atingiu todo mundo, afetan-do principalmente os grandes exportadores de petróleo, como a Venezuela, a Rússia e os países do Oriente Médio. No caso da Rússia, que enfrenta uma crise política e san-ções econômica por conta da Crimeia e Ucrânia, um dó-lar passou a valer 70 rublos e o petróleo caiu para menos

Prosa Quente

14 DBO dezembro 2015

Encontro de Analistas, realizado dia 28 de novembro, em São Paulo, debate até que ponto a pecuária se manterá “firme” em meio à crise que castiga o País.

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Page 2: Encontro de Analistas, realizado dia 28 de novembro, … · Tem a Arábia Saudita, com 4.000 t/mês e ainda o Kuait, Barhein, Iraque e Catar, com outras 2.000 t/mês. Nós temos também

deve terminá-los em 2016 em confinamento, mesmo com os custos altos, escapando da possível virada de ciclo no próximo ano, que já é quase uma certeza. Se tiver uma re-cessão em 2017, a oferta de animais será maior do que a demanda, devido à queda no consumo, e o preço da arro-ba pode baixar. Agora, quem vai comprar gado de reposi-ção tem de fazer muita conta, especialmente se o boi ma-gro também estiver muito valorizado.

Hyverville Neto - Vou sugerir uma saída para quem já tem animais de reposição: trabalhar travado. Se conseguir vender o boi gordo a futuro ou travar a diária de engorda em boitéis e já tiver o gado no pasto ou garantido o preço da reposição, pode, assegurada a rentabilidade, terminar o gado em confinamento a qualquer momento, fugindo da eventual virada de ciclo em 2017. Em 2015, fizemos pro-jeção para a rentabilidade em confinamento e o pico foi registrado em abril, o que gerou uma expectativa positiva que, depois, perdeu força. Então, eu aconselho o pecua-rista a ficar atento ao mercado futuro. Teve produtor que travou o boi em 2015 a R$ 157, em abril. Isso pode voltar a ocorrer em 2016.

Sergio de Zen - Quando se olha a pecuária como investi-mento para 10 anos, analisando indicadores que, na mé-dia, melhoraram muito, o efeito do ciclo tende a ser mi-nimizado. O ciclo pressupõe falta de profissionalismo. Se o cara é profissional, vai estar preparado para a maré boa e para a maré ruim do mercado. O ciclo vai existir por-que ainda vai ter uma grande massa que produz pouco por área e ganha muito por arroba, mas esse pecuarista, com o tempo, vai sair do mercado. O ciclo tende a desa-parecer. Feitas essas considerações, vou falar sobre 2016. Tem componentes que estão sendo ignorados. Por exem-plo, as secas de 2013 e 2014. Elas afetaram o peso dos bois de 2014 e a oferta de bezerros e bois magros em 2015. A safra 2016 registra a volta à normalidade dos ín-dices zootécnicos. E muita gente que deixou outras ativi-dades, como a cana, voltou a investir na pecuária de corte. Portanto, pode ocorrer maior oferta de animais num cená-rio de mercado interno (que consome quase 80% da carne bovina) bastante retraído. Se o câmbio ajudar, podemos contar com o mercado externo e aí a arroba se equilibra. Mas o ciclo pode virar antes de 2017.

Fábio Dias - Confinar ou não é uma decisão micro. Se o confinamento estiver dando dinheiro, o pecuarista vai confinar. Se estiver dando prejuízo, não vai confinar. Mas estamos longe do negativo. O que o Leandro Bovo colo-cou é que a atividade está menos atrativa. Neste ano, hou-ve aumento do peso da carcaça. Com o milho mais bara-to, o pessoal deixou o gado mais tempo no confinamento para colocar a 19ª, 20ª, a 21º arroba na carcaça, compen-sando o custo do bezerro ou do boi magro. É um atalho para driblar a reposição e o alimento caro.

de US$ 40 o barril. Os frigoríficos brasileiros se adapta-ram e estão conseguindo embarcar uma média de 10.000 a 15.000 t/mês, ainda longe dos tempos áureos, quando chegamos a embarcar 44.000 t. Felizmente, há cinco me-ses caiu a China no nosso colo. É um mercado de 240.000 t de carne e US$ 1,2 bilhão.

Outra boa notícia é que Hong Kong voltou a impor-tar bem e Macau está comprando carne nobre. Temos es-perança de que eles assinem um protocolo para importar carne com osso e miúdos. Quanto aos Estados Unidos, eles precisam abrir seu mercado. Eles estão pagando mui-to caro para ter a carne da Austrália e Nova Zelândia. É um mercado grande, mas de matéria prima. Vamos aten-dê-lo com um tipo de boi inteiro que infelizmente é a maioria que chega para abate no Brasil. No passado, a gente desmontava o boi e saía atrás do mercado. Hoje, a gente vende a carne e vai atrás do tipo certo de boi. A cota para os EUA é de 59.000 t, mas temos condições de com-petividade também no extra cota, que tem alta taxação. Além dos EUA, devemos abrir os mercados dos países da América Central, que não têm um protocolo sanitário de-finido e seguem a lista norte-americana.

Público - O cenário para a exportação de soja e milho é ex-celente, mas isso puxa o preço dos grãos para cima. Vale a pena confinar nessa condição ou deixar o boi no pasto, correndo o risco de pegar o mercado em baixa em 2017?

Leandro Bovo - Não tenho a menor dúvida de que a ativi-dade de confinamento em 2016 será desafiadora. Em ju-nho deste ano, por exemplo, uma arroba valia 5,93 sacas de milho. Na média de 2015, essa relação ficou em 5,15, ante a média de 4,1 sacas/@ registrada desde 2010. Hoje, está em 4,45 sc/@, mas, analisando o mercado futuro do milho, para setembro de 2016, e o do boi, para outubro, a relação está em 4,56, ou seja, difícil. Não vou falar em re-posição, que está em patamar recorde. Quanto aos custos, não tem para onde correr. Dependemos de quê para man-ter a arroba acima da inflação? Das exportações, porque, do mercado interno, não dá para esperar nada. Quanto a deixar para abater a boiada em 2017, acho que não dá para voltar atrás no uso de tecnologia para escapar da alta de custos do confinamento. Vamos fazer o giro e terminar a boiada neste ano para não correr o risco de baixa em 2017.

Sergio De Zen - O maior problema para mim é a falta de previsibilidade no País. Não está no cálculo da lucrativi-dade. O Brasil de hoje é diferente do Brasil de um ano atrás, que era moderadamente previsível, e muito dife-rente do Brasil de cinco anos atrás, que era totalmente previsível. Agora temos câmbio volátil, consumo volátil e juro volátil.

Alex Lopes - Exatamente pela dificuldade de se fazer pre-visões para 2017, acho que, quem tem bois em recria,

DBO dezembro 2015 15

O maior problema hoje é a falta de previsibilidade”

Leandro Bovo, do Haitong Bank

Camardelli, presidente da Abiec

Hyberville Neto, da Scot

Page 3: Encontro de Analistas, realizado dia 28 de novembro, … · Tem a Arábia Saudita, com 4.000 t/mês e ainda o Kuait, Barhein, Iraque e Catar, com outras 2.000 t/mês. Nós temos também

Luiz Cláudio Paranhos - Voltando à China, onde estive recen-temente. Aquilo lá é uma loucura. Disseram que podem im-portar até 5 milhões de t de carne no curto prazo. Isso pode se refletir no mercado e reverter a virada do ciclo em 2017?

Camardelli - Há que se levar em conta uma série de varian-tes. Por exemplo, em 2015, os abates foram 10% meno-res, mas não houve uma redução significativa do rebanho, um indicativo de que está havendo uma recomposição do plantel de fêmea, com retenção de matrizes. Vai ter de-manda? Vai. Tivemos um primeiro semestre ruim, mas depois embarcamos uma média 138.000 t/mês, em setem-bro e outubro. Tem a Arábia Saudita, com 4.000 t/mês e ainda o Kuait, Barhein, Iraque e Catar, com outras 2.000 t/mês. Nós temos também espaço para a carne gourmet. A Abiec fez um levantamento e descobriu que o Brasil im-porta 1.100 t de cortes nobres por mês do Uruguai, da Ar-gentina e da Nova Zelândia, o equivalente a 40.000 bois mensais. Tem esse espaço para a carne gourmet em nosso próprio mercado.

Alcides Torres - Diante da turbulência econômica e política no Brasil e no exterior, qual é o cenário para a pecuária de corte em 2016?

Paranhos - É tudo que estamos discutindo aqui. Eu prefiro pensar que vai depender da gestão que cada um tem sobre o seu negócio. Quem tiver gestão boa, passa pela crise. A crise vai separar os homens dos meninos. Os profissionais vão permanecer na atividade e ter lucro. A crise vai ensi-nar a gente a atravessar a turbulência da melhor forma. O mundo precisa de carne. A China quer nossa carne, a Árá-bia Saudita também e até os EUA, quem diria, querem nossa carne. Então, sou otimista, embora reconheça que teremos um 2016 difícil. Precisamos de boa gestão para atravessar essa turbulência.

Hyberville - O professor De Zen sempre diz que é a mé-dia que faz o preço. O bezerro remunerou a média da pecuária. Quem ficou acima da média, ganhou dinhei-ro. Quem ficou abaixo da média, perdeu. Quem pro-duz bezerros e perdeu dinheiro em 2013, 2014 e 2015 tem de descobrir o que está errado em seu sistema de produção e repensar a atividade. O melhor investi-mento do pecuarista hoje é a calculadora. Fizemos um estudo na Scot sobre quem investiu em IATF. Além do ganho de prenhez, esse criador produziu um bezer-ro com maior valor agregado e conseguiu, em 20 me-ses, um retorno de 2 a 3% ao mês, que é maior do que a proporcionada pela renda fixa. Isso mostra que apli-car dinheiro em tecnologia permite otimizar um capi-tal que você já se tem na fazenda (vacas).

Público - Da mesma forma que a arroba não vai voltar ao patamar de US$ 21 e o ágio da arroba de bezerro sobre a

do boi não retornará aos 10% a 20%, qual será a relação de troca boi gordo/bezerro em 2016?

Hyberville - Estamos num período de pico histórico da quantidade de arrobas necessárias para comprar um be-zerro (9 para 1). Normalmente, após o ciclo de alta, há um ajuste na relação de troca, pela subida do boi ou pela que-da do bezerro, em função da oferta e demanda. Se o boi desvalorizar, o invernista não vai pagar mais pelo bezerro. Neste ano, ocorreu isso. Quando a arroba do boi perdeu força, a do bezerro também, apesar da oferta curta. Não foi o bezerro que subiu, houve foi falta de disposição do invernista em investir.

Fábio Dias - O mercado esfriou, mesmo com a relação boi gordo/bezerro no pico, não porque o boi subiu, mas por-que o bezerro não caiu. Se você olhar o gráfico dessa rela-ção, ele está plano, indicando mercado calmo.

Sergio De Zen - Quando você analisa essa relação de tro-ca contemporânea é excelente do ponto de vista técnico. O raciocínio imediato é; “não vou deixar o pasto vazio”.

Público - Quando a pecuária tradicional, que fornece só sal mineral, será inviável?

Fábio Dias - Não sei se um dia vai ser totalmente inviável. Sempre acho que a gente vai virar os EUA daqui há al-guns anos. O modelo americano é muito semelhante ao b do Brasil, que tende a virar um grande produtor de grão, empurrando a pecuária para as áreas não propícias para agricultura. E nessas áreas vão ficar as vacas. Então, se chegar no limite, não vamos ter nenhum boi no pasto. O bezerro vai entrar em confinamento com 10 meses e ser terminado com menos de dois anos. Quando? Em 30 anos mais ou menos.

Camardelli - Tudo isso é competição, precisa analisar bem. Entre os associados da Abiec, por exemplo, tem adorado-res do mercado de risco. Outros não podem comprome-ter 100/200 containeres. A história tem mostrado que o mercado externo, independemente da magnitude do ex-portador, é estável, com exceção do mercado de risco. A Venezuela é um mercado de risco. É brincadeira para gente grande. Na Rússia, a participação dos grandes ex-portadores se mantêm nos mesmos percentuais. Um im-portador que compra 100 t/mês não quer comprar do grande que tem várias plantas. Como precisa de padrão, prefere comprar do pequeno. Ele não quer um container de Barra do Garça e outro de Vilhena, por exemplo. En-tão, tem mercado específico para todos. Temos de olhar para a base. Começamos o ano com 220-230 frigoríficos abatendo. No meio do ano, ficaram 190-192. É a profis-sionalização que vai determinar que uma empresa tenha ou não sucesso. n

16 DBO dezembro 2015

Prosa Quente

O melhor investimento do pecuarista é a calculadora”

Alex Lopes, da Scot

Paranhos, presidente da ABCZ

Sergio De Zen, do Cepea