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Direitos de tradução e publicação emlíngua portuguesa reservados àCASA PUBLICADORA BRASILEIRA

Rodovia SP 127 – km 106Caixa Postal 34 – 18270-970 – Tatuí, SPTel.: (15) 3205-8800 – Fax: (15) 3205-8900Atendimento ao cliente: (15) 3205-8888www.cpb.com.br

1ª edição neste formato2013

Coordenação Editorial: Marcos De BenedictoEditoração: Guilherme Silva e Marcos De BenedictoDesign Developer: Paloma CartaxoProjeto Gráfico: Fábio FernandesCapa: Éfeso GranieriImagem da Capa: Fotolia

Os textos bíblicos foram extraídos da versãoAlmeida Revista e Atualizada, salvo outra indicação.

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita doautor e da Editora.

14297 / 28732

APRESENTAÇÃO

Durante séculos, a cultura ocidental esteve fortemente conectada à cosmovisão cristã. Poressa razão, a resposta para qualquer pergunta estava enraizada na crença em Deus, comoCriador e Mantenedor de tudo, e na Bíblia, uma revelação divina, digna de toda confiança.Muitos dos fundadores da ciência moderna, inclusive Copérnico, Galileu, Kepler, Pascal,Boyle, Newton e Halley, acreditavam nesses conceitos centrais.

Nos últimos 200 anos, nossa cultura, particularmente a comunidade científica, tem seafastado da cosmovisão cristã e assumido uma postura que descarta qualquer intervençãosobrenatural na origem, funcionamento e manutenção do mundo. Como resultado, duas visõesfilosóficas opostas polarizam o debate.

Nesse contexto, Mistérios da Criação é uma obra atual. O livro apresenta vinte perguntassobre fé e ciência com as quais os cristãos se deparam com frequência. Os organizadoresreuniram um grupo internacional de experientes cientistas, pesquisadores e pensadores queoferecem importantes reflexões e esclarecimentos a respeito dos mistérios que cercam acriação.

L. JAMES GIBSON é PhD em biologia pela Universidade de Loma Linda. Em 1984, tornou-se pesquisador do Geoscience Research Institute, assumindo a direção da instituição depesquisa em 1994. Seus principais interesses incluem biologia histórica e a relação entre acriação e a ciência. Ele escreveu uma grande quantidade de artigos e capítulos para váriaspublicações. Também participou em muitos seminários sobre fé e ciência ao redor do mundo.É o editor da revista Origins.

HUMBERTO M. RASI completou o PhD em literatura e história hispânica na Universidadede Stanford e estudos pós-doutorais na Universidade Johns Hopkins. Ele serviu comoprofessor e reitor de pós-graduação na Universidade Andrews e como diretor mundial doDepartamento de Educação da Igreja Adventista do Sétimo Dia. É o diretor do Institute forChristian Teaching e lançou a revista Diálogo Universitário. Embora aposentado, ele continuaa apresentar palestras e coordenar projetos relacionados ao ensino superior.

INTRODUÇÃO

Deus criou os seres humanos para que sejam naturalmente inclinados a fazer pesquisas equestionamentos. Desde nossos primeiros anos, fazemos perguntas e continuamos a fazê-lasdurante toda nossa vida. Primeiro queremos entender nosso lugar em nosso círculo derelacionamentos. Nossa observação e a própria experiência com a natureza – flores, pássaros,animais, árvores, rios, estrelas – estimulam ainda mais essa curiosidade. Ao crescermos,queremos saber como as coisas funcionam. Queremos compreender nosso lugar no mundo edesejamos descobrir nosso propósito na vida. Ao longo de nossos estudos, nosso campo deinvestigação e indagação continua se expandindo exponencialmente.

Muitas de nossas questões iniciais tornam-se mais profundas e complexas. De onde vieramos seres humanos? Como se originou a vida? Que fatores levaram ao aparecimento da Terra,do Sol, dos planetas e do Universo? Por que tantas leis que percebemos na natureza parecemtão confiáveis e, ao mesmo tempo, tão misteriosas? Considerando desde os componentes deuma minúscula célula até as imensas galáxias do cosmos em expansão, existe um Ser poderosopor trás da intrincada estrutura da natureza? A religião, a filosofia, a ciência, a literatura e asartes respondem de maneiras diversas a essas intrigantes questões.

Durante séculos, a cultura ocidental funcionou dentro do contexto de uma cosmovisão cristã.Por essa razão, as respostas para essas perguntas estavam ancoradas na crença de que Deusexiste, sendo Ele o Criador e Mantenedor de tudo o que há no Universo. A Bíblia era,geralmente, considerada uma confiável revelação de Deus e o alicerce da crença, docomportamento e da esperança do ser humano. Muitos dos fundadores da ciência moderna,entre eles Copérnico, Galileu, Kepler, Pascal, Boyle, Newton e Halley, criam nesses conceitoscentrais, expressos de maneira sucinta pelo apóstolo Paulo, no primeiro século de nossa era:

Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, Seu eterno poder e Suanatureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisascriadas (Romanos 1:20, NVI).

Durante os últimos duzentos anos, nossa cultura e, particularmente, a comunidade científicatêm se distanciado da cosmovisão bíblico-cristã, assumindo uma postura naturalística quedescarta qualquer intervenção sobrenatural na origem, funcionamento e manutenção domundo. Como resultado, duas visões filosóficas brigam por seguidores em nosso tempo. Elassão enfaticamente destacadas pelo biólogo evolucionista contemporâneo Douglas J. Futuyma,em seu livro Science on Trial (Pantheon, 1983; p. 197):

A criação e a evolução exauriram as explicações possíveis para a origem dos seresviventes. Ou os organismos apareceram na Terra totalmente desenvolvidos ou isso nãoaconteceu. Se assim não foi, eles devem ter se desenvolvido a partir de espéciespreexistentes através de algum processo de modificação. Se apareceram em um estado de

total desenvolvimento, eles devem ter sido criados por alguma inteligência onipotente.

Este livro articula vinte perguntas comuns a respeito de questões básicas sobre fé e ciência.Muitas vezes, os cristãos se deparam com elas ao longo de sua educação formal, em estudosavançados, em pesquisas em variados campos do saber e em interações profissionais. Essestópicos também são frequentemente discutidos em salas de aula, comentados na mídia populare debatidos em congressos científicos em todo o mundo.

Os organizadores, além de terem contribuído com dois capítulos, reuniram um grupointernacional de experientes cientistas, pesquisadores e pensadores que creem na Bíblia. Elesgentilmente deram resposta a essas questões basilares. Seus campos respectivos deconhecimento incluem arqueologia, astronomia, biologia, química, geologia, história,paleontologia, filosofia e física, como também algumas áreas mais específicas. Cada autor,naturalmente, assume a responsabilidade pelo conteúdo do capítulo que leva seu nome.

Todos os colaboradores compartilham de várias convicções: acreditam que o registro bíblicocontido no livro de Gênesis é um componente essencial da doutrina cristã, que a fé cristã e aciência empírica podem alcançar bons resultados trabalhando juntas, que existe uma diferençabásica entre dados e interpretação e que nossa compreensão da verdade é progressiva. Elescreem que, quanto mais aprendemos sobre a vida e o Universo, mais forte é o argumento emdefesa da existência de um Projetista poderoso e infinitamente sábio, o qual amaprofundamente cada ser humano. Com base nas Escrituras, eles estão convencidos de que, noprincípio, Deus criou um habitat perfeito e uma vida harmoniosa na Terra, mas, comoresultado da rebelião do primeiro casal de humanos, toda a criação tem sofrido asconsequências. Quando esses fatos são desconsiderados, nossa compreensão da natureza enossa prática científica ficam limitadas ou mal orientadas.

Este livro é destinado a leitores que têm curiosidade em relação às perguntas que muitosfazem a partir de experiências e observações ligadas ao mundo natural. Destina-se àqueles queestejam dispostos a levar em consideração uma perspectiva diferente da que está em alta naatualidade. Os autores e organizadores tentaram dar respostas claras e honestas, tomando comobase os melhores dados disponíveis. Isso é feito com uma linguagem que poderá alcançar umamplo círculo de leitores.

Desejamos expressar nossa profunda apreciação a cada um dos que contribuíram com seusartigos. Somos gratos por terem compartilhado seus conhecimentos e preparado suascontribuições em meio a intensas atividades de pesquisa, ensino e administração.Naturalmente, muitas outras perguntas poderiam ter sido colocadas, mas as que são aquitratadas servirão como amostras de uma abordagem a assuntos sobre fé e ciência, a partir deuma cosmovisão bíblica coerente e integrada. Nossos agradecimentos a Sylvia Rasi Gregoruttipor sua ajuda na edição deste volume e por levantar questões relevantes, aguçando nosso focoe suavizando o estilo. Nosso agradecimento também a Jerry D. Thomas, vice-presidente dedesenvolvimento de produtos da Pacific Press, que apoiou este projeto desde o começo e nosanimou durante todo o processo.

Ao você explorar as perguntas e as respostas contidas neste livro, desejamos deixar-lhe aprofunda sabedoria desta antiga oração:

Da covardia que foge das novas verdades,

Da indolência que se contenta com meias verdades,

Da arrogância que imagina conhecer toda a verdade,

Ó Deus da verdade, livra-nos!

L. JAMES GIBSON E HUMBERTO M. RASI

Loma Linda, Califórnia

A

1. POR QUE OS CIENTISTAS INTERPRETAM AREALIDADE DE MODO DIVERGENTE?

HUMBERTO M. RASI

credita-se geralmente que as pessoas instruídas que dedicam sua vida profissional àciência abordam o estudo de algum fenômeno da natureza com uma atitude imparcial.

Valendo-se de equipamentos sofisticados, realizam observações cuidadosas, conduzemexperiências, elaboram hipóteses e chegam a conclusões objetivas em suas respectivasespecialidades.

Entretanto, outros cientistas, utilizando equipamentos técnicos semelhantes e estudando omesmo aspecto do mundo natural, podem chegar, e com frequência chegam, a conclusõesdiferentes. Por que isso acontece? A resposta a essa pergunta pode ser apresentada em pelomenos três níveis.

DIFERENÇAS DE INTERPRETAÇÃO

Algumas das razões pelas quais os cientistas chegam a conclusões diferentes em suaspesquisas estão relacionadas com a amplidão e a confiabilidade das amostras obtidas, aadequação do projeto às experiências realizadas, a precisão dos instrumentos empregados ousimplesmente com o erro humano. Esses fatores em geral podem ser corrigidos quando outroscientistas conhecem os resultados do estudo, examinam os dados e os procedimentosempregados, tentam replicar as observações ou as experiências e, finalmente, determinamquais das conclusões ou das descobertas estão de acordo com o peso da evidência. Esseprocedimento detalhado é que faz com que a ciência seja uma das atividades humanas maisinteressantes.

Em março de 1989, dois reconhecidos cientistas, Martin Fleischmann e Stanley Pons,anunciaram que haviam produzido fusão nuclear a temperatura ambiente, utilizando águapesada e um eletrodo de paládio. A reação da comunidade científica internacional foi imediata,uma vez que as vantagens financeiras de produzir energia a baixíssimo custo são enormes.Durante os anos seguintes, foram realizadas experiências semelhantes em vários países.Conferências sobre o assunto foram convocadas e até mesmo centros de pesquisa com amplosubsídio financeiro foram estabelecidos. No entanto, a grande maioria dos cientistasenvolvidos não pôde reproduzir os resultados originais. Consequentemente, chegou-se àconclusão de que a evidência não sustentava as declarações de Fleischmann e Pons. 1

PARADIGMAS DIFERENTES

Uma razão importante pela qual existe desacordo entre cientistas que estudam um fenômenoespecífico é que eles realizam investigações com base em paradigmas diferentes. A ideiaproposta por Thomas S. Kuhn 2 sugere que a ciência não constitui uma atividadeempiricamente autônoma e objetiva, mas um empreendimento coletivo influenciado porfatores histórico-sociais. Durante os períodos de “ciência normal”, argumenta Kuhn, acomunidade científica age seguindo um modelo ou paradigma geralmente aceito. No entanto,ao se acumularem resultados que não se encaixam dentro desse modelo, ocorre uma “mudançade paradigma”. A partir de então, um novo consenso ou paradigma passa a fornecer aspressuposições e o modelo para se entender o mundo natural e levar-se a cabo as pesquisascientíficas. Kuhn oferece como exemplo a mudança de paradigma que aconteceu no século 16,quando a concepção geocêntrica do Universo sustentada por Ptolomeu foi substituída pelomodelo heliocêntrico do Sistema Solar proposto por Copérnico.

Outra mudança de paradigma significativa aconteceu na década de 1960, quando o peso daevidência confirmou as ideias que Alfred Wegener (1880-1930) havia demonstrado acerca domovimento dos continentes. Até então, pensava-se que as massas continentais de nosso planetaeram fixas, conectadas por pontes terrestres que posteriormente teriam submergido. Em umaconferência apresentada em 1912, Wegener propôs que os continentes atuais teriam formadoum supercontinente (a que ele deu o nome de Pangeia). Mais tarde, eles teriam se afastado. Em1915, Wegener publicou sua teoria em um livro sobre a origem dos continentes e dos oceanos.Durante várias décadas, destacados geólogos recusaram sua teoria da deriva continental, emparte por inércia intelectual e, especialmente, por falta de evidências concretas que asustentassem. Também faltava um mecanismo que a pudesse explicar. No entanto, com oacúmulo de dados favoráveis, a teoria de que os continentes foram se separando foi aceitacomo válida, sendo hoje o paradigma dentro do qual operam ciências como a geologia, ageofísica, a oceanografia e a paleontologia.

O debate atual sobre as mudanças climáticas oferece outro exemplo de divergência baseadaem um paradigma. Durante os últimos anos, numerosos cientistas vêm analisando dados quesugerem um aumento gradual da temperatura de nosso planeta. As projeções feitas em modeloscomputadorizados indicam que, se o aquecimento da atmosfera continuar por vários anos noritmo atual, a humanidade enfrentará uma catástrofe irreversível. No entanto, os cientistasestão em desacordo quanto à causa principal desse fenômeno. Neste ponto, surge o conflitoentre paradigmas. Um grupo crê que o aumento da temperatura deve-se aos ciclos climáticosnaturais que ocorrem independentemente da atividade humana. Os cientistas que empregamesse paradigma enfatizam a correlação entre os ciclos solares e a temperatura de nosso planeta.Outro grupo crê que a atividade humana é a principal responsável pelo aumento datemperatura. Os cientistas que utilizam esse paradigma buscam uma correlação entre asemissões de carbono e outras substâncias e os índices de mudança climática. É claro que asimplicações éticas, econômicas e políticas desse debate e sua solução complicam a discussão

do tema. No entanto, uma vez que se resolva a controvérsia, haverá uma mudança deparadigma, que virá acompanhada de restrições governamentais e importantes acordosinternacionais a respeito de dejetos e da poluição ambiental. 3

Em um nível mais fundamental, pode-se atribuir as discrepâncias entre cientistas em diversasdisciplinas às pressuposições com que interpretam a origem do mundo natural e as leis queregem seu funcionamento. Existe ou não um Ser Supremo que projetou, criou e sustenta oUniverso e suas criaturas? 4 Esse debate tem se intensificado desde o século 19, especialmentedepois que Charles Darwin publicou seu livro A Origem das Espécies, em 1859. Por quecientistas igualmente competentes e honestos discordam quanto à resposta a essa perguntafundamental? E, acima de tudo, seria uma questão que poderia ser resolvida com a utilizaçãodo método científico? Tais interrogações nos levam a considerar o conceito de cosmovisão. 5

A COSMOVISÃO E SUAS IMPLICAÇÕES

Todos os seres humanos, incluindo os cientistas, elaboram uma cosmovisão através da qualinterpretam e explicam a realidade. Sendo que todos nós queremos entender o significado denossas experiências, nossa cosmovisão pessoal atua como um mapa mental que nos orienta emnossas decisões e ações. 6 Ninguém precisa obter um diploma em filosofia para possuir umacosmovisão. Nem mesmo os cientistas conseguem estudar um objeto, um organismo ou umfenômeno natural com uma atitude absolutamente objetiva. Todos abordam suas pesquisas sebaseando em certas suposições sobre o Universo e a vida, ou seja, com base em suacosmovisão. 7

Nossa cosmovisão individual vai se formando durante a adolescência e amadurecendo nocomeço da vida adulta. No princípio, é o resultado de várias influências, incluindo a família, osestudos, a religião, as informações dos meios de comunicação e a cultura à nossa volta. Aolongo da vida, vamos ajustando nossa cosmovisão, respondendo a novas informações e novasexperiências.

Basicamente, toda cosmovisão responde a pelo menos quatro perguntas fundamentais: 8

Quem sou? – A origem, natureza e propósito dos seres humanos.

Onde estou? – A natureza e a extensão da realidade.

O que está errado? – A causa da injustiça, do sofrimento, do mal e da morte.

Qual é a solução? – Maneiras de vencer esses obstáculos às realizações humanas,conseguindo satisfação e bem-estar na vida.

Certamente é possível ampliar essa lista. 9 Mas o fato é que nossa cosmovisão fornece ofundamento para nossos valores e reflete-se em nossas decisões e conduta. Ela tem influência,por exemplo, sobre aquilo que escolhemos como nossa vocação ou profissão, a maneiraatravés da qual nos relacionamos com outros seres humanos, o modo como empregamosnossos recursos financeiros, a forma com que utilizamos a tecnologia, nossa atitude para com o

meio ambiente e até sobre nossas decisões sociopolíticas quanto à justiça, liberdade e paz.

As respostas que damos a essas quatro perguntas básicas podem estar presentes em um relatoabrangente (uma metanarrativa) que integre conceitos como origem, propósito, significado edestino. Imaginemos como dois cientistas igualmente qualificados, mas com diferentescosmovisões, sendo um cristão que crê na Bíblia e um evolucionista neodarwiniano,estruturariam este relato fundamental a partir de sua perspectiva individual.

Vale a pena assinalar que o impacto da cosmovisão de um cientista sobre as perguntas queorientam suas pesquisas, os métodos que emprega, as teorias que formula e as conclusões aque chega é muito mais significativo nas ciências históricas ou cósmicas do que nasexperimentais ou matemáticas.

PRINCIPAIS COSMOVISÕES

Atualmente, a maioria de nossos contemporâneos pensa e age dentro de uma estruturareferencial de uma das três principais cosmovisões, as quais podem ser resumidas da seguintemaneira:

Teísmo: Postula a existência de um Deus pessoal, Criador e Soberano do Universo. Este SerSupremo está separado de Sua criação, mas atua no funcionamento dela.

Panteísmo: Identifica uma deidade impessoal com as forças da natureza e o seufuncionamento. Tudo que existe faz parte do divino.

Naturalismo: Sustenta que a realidade consiste no Universo material funcionando de acordocom as leis naturais. Não haveria nada além disso.

Embora existam variedades e subconjuntos dentro das três cosmovisões mais importantes,elas podem ser esboçadas da seguinte maneira:

Sabe-se que a ciência moderna surgiu no mundo ocidental do século 15 ao 17, no contexto deuma cultura teísta predominantemente cristã. 10 Pensadores e cientistas em várias disciplinas,

entre eles Copérnico, Galileu, Kepler, Pascal, Boyle e Newton, acreditavam em um DeusCriador que estabeleceu as leis universais do mundo natural, as quais podiam ser descobertas eaplicadas para o benefício da humanidade. Por outro lado, as culturas em que predominava opanteísmo não eram favoráveis à pesquisa e às experiências científicas porque a natureza eraconsiderada divina e, portanto, sagrada. 11

Em anos mais recentes, alguns pensadores têm procurado estabelecer conexões entre essastrês cosmovisões básicas. A evolução teísta, por exemplo, tenta integrar o cristianismo com onaturalismo, propondo que Deus age no mundo mediante o processo da evolução. Oneopanteísmo, por sua vez, tenta vincular o materialismo científico com a mística religiosa. 12

CONTRASTES ENTRE AS COSMOVISÕES

Durante os últimos 150 anos, a comunidade científica vem se distanciando gradualmente desuas raízes bíblico-cristãs, assumindo uma cosmovisão naturalista que descarta todaintervenção sobrenatural ou significado transcendente. É dentro desta cosmovisão que asciências geralmente são ensinadas; as pesquisas, conduzidas; e os artigos, rejeitados ou aceitospara publicação. A expressão corrente mais popular dessa cosmovisão é o humanismo secular.O contraste entre os pressupostos básicos do cristianismo bíblico e do humanismo secularcomo representantes do teísmo e do naturalismo podem ser resumidos da seguinte maneira:

A DESCRIÇÃO BÁSICA DA COSMOVISÃO BÍBLICA

A existência de Deus e Sua possível atuação como Criador do Universo e da vida são, pordefinição, questões que excedem o alcance e a capacidade da ciência empírica. A resposta paraesse tipo de pergunta baseia-se em pressuposições impossíveis de serem demonstradas e emevidências que podem ou não ser satisfatórias para cientistas de igual competência. No entanto,essas respostas têm influência na elaboração de hipóteses e na interpretação dos dados emdiversas atividades e investigações científicas.

Desde o começo da ciência moderna, muitos cientistas cristãos têm realizado seu trabalhodentro da premissa de que o Criador do Universo e da vida é o mesmo Deus que Se temcomunicado com o ser humano por meio da Bíblia. Este livro inspirado oferece umacosmovisão e propõe uma descrição que, de acordo com a interpretação dos cristãosadventistas, inclui sete eventos na história do Universo:

A criação no Céu. Em algum momento no passado remoto, Deus criou um Universo perfeitoe o encheu com criaturas inteligentes e livres.

A rebelião no Céu. Um elevado ser criado rebelou-se contra os princípios de Deus e, depoisde uma batalha, foi banido para a Terra com seus seguidores.

A criação na Terra. Durante seis dias, em um passado recente, Deus tornou este planetahabitável e criou as plantas e a vida animal, incluindo o primeiro casal humano, dotado delivre-arbítrio.

A queda na Terra. Tentado pela criatura rebelde, o primeiro casal desobedeceu a Deus, etoda sorte de vida neste planeta sofreu as consequências, incluindo um devastador dilúvioglobal.

A redenção. Jesus Cristo, o próprio Criador, veio à Terra para resgatar os seres humanoscaídos, oferecendo-lhes salvação gratuita e o poder para viver uma vida transformada, emharmonia com Ele e com os outros seres humanos.

A segunda vinda. Em um momento futuro que só Deus conhece, Cristo voltará em glóriacomo prometido. Ele assegurará a imortalidade para os que aceitaram Sua oferta de perdão esalvação.

A consumação. Depois de mil anos, Cristo retornará para executar o julgamento final,eliminar o mal e restaurar a perfeição original de Sua criação, que durará por toda a eternidade.

A cosmovisão bíblica e sua descrição são atraentes porque propõem respostas àsinterrogações mais fundamentais do ser humano acerca de sua origem, natureza, propósito edestino. Ao mesmo tempo, essas respostas oferecem explicações satisfatórias para o queaprendemos, descobrimos e experimentamos na vida real, conferindo significado e umaesperança transcendente aos mais profundos anelos humanos. Entretanto, a cosmovisão cristã

está sempre em desenvolvimento, sob a influência do Espírito Santo, pois nossa compreensãoda revelação de Deus é sempre limitada e progressiva. 14

CONCLUSÃO

Como vimos, cientistas igualmente qualificados podem chegar a diferentes conclusõesdevido a fatores metodológicos, por trabalharem dentro de paradigmas diferentes ou por teremcosmovisões contrastantes. No entanto, os cientistas cristãos que conduzem pesquisas a partirde uma cosmovisão bíblica podem trabalhar em cooperação com outros cientistas que nãocompartilhem de suas pressuposições e, assim mesmo, fazer conjuntamente descobertassignificativas e chegar a conclusões válidas. Os cientistas que aceitam a narrativa bíblica comoverdadeira e confiável desfrutam a vantagem de ter à sua disposição opções e insightsconferidos pelo Criador nas Escrituras, o que pode gerar perguntas de pesquisa que podemlevar a frutíferas hipóteses, explicações e descobertas. 15

Humberto M. Rasi cursou a faculdade na Argentina, sua terra natal, completou umdoutorado em literatura e história ibero-americana na Universidade de Stanford, e foiestudante bolsista na Universidade Johns Hopkins, onde completou estudos de pós-doutorado.Ele atuou como professor e reitor de pós-graduação na Universidade Andrews, como vice-presidente editorial na Pacific Press e como diretor mundial de Educação da IgrejaAdventista do Sétimo Dia. É um dos fundadores do Institute for Christian Teaching, lançou arevista Diálogo Universitário, publicou muitos artigos e editou vários livros. Aposentado, elecontinua ministrando palestras e coordenando projetos na área de educação superior.

1 Ver, por exemplo, F. Nadis, Undead Sciences: Science Studies and the Afterlife of Cold Fusion (New Brunawick, NJ:

Rutgers University Press, 2002), e H. Kozima, The Science of the Cold Fusion Phenomenon (Oxford: Elsevier, 2006).

2 Ver T. S. Kuhn, A Estrutura das Revoluções Científicas (São Paulo: Perspectiva, 2006).

3 Há um grupo de disciplinas científicas que tendem a atuar dentro de um paradigma compartilhado, que Thomas Kuhnchama de “matriz disciplinar”, no posfácio da edição de 1970, em inglês. Ele considera as pressuposições, os métodos e asperguntas que orientam as pesquisas que são comuns, por exemplo, às ciências históricas (arqueologia, geologia,paleontologia), às ciências cósmicas (astronomia, astrofísica, ciência espacial), às ciências experimentais (biologia, física,química) ou às ciências ligadas ao comportamento humano (psicologia, psiquiatria, sociologia).

4 Ver R. A. Clouser, The Myth of Religious Neutrality: An Essay on the Hidden Role of Religious Belief in Theories, ed.rev. (Notre Dame, IN: University of Notre Dame Press, 2005).

5 Ver D. K. Naugle, Worldview: The History of a Concept (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2002).

6 Ver N. Pearcey, Total Truth: Liberating Christianity From Its Cultural Captivity (Wheaton, IL: Crossway, 2004).

7 M. Polanyi abordou esses assuntos em seus livros Personal Knowledge: Toward a Post-Critical Philosophy (Chicago:University of Chicago Press, 1958, 1962) e The Tacit Dimension (Garden City, NY: Doubleday, 1966).

8 Ver B. J. Walsh e J. R. Middleton, The Transforming Vision: Shaping a Christian World View (Downers Grove, IL:InterVarsity, 1984).

9 Em seu livro The Universe Next Door: A Basic Worldview Catalogue, 3a ed. (Downers Grove, IL: InterVarsity, 1997), J.W. Sire sugere sete perguntas sobre cosmovisão: Qual é a principal realidade – aquela real de fato? Qual é a natureza darealidade exterior, isto é, o mundo em torno de nós? O que é um ser humano? O que acontece com uma pessoa ao morrer? Porque é possível saber de tudo? Como saber o que é certo e o que é errado? Qual é o significado da história humana?.

10 Ver, por exemplo, R. Stark, The Victory of Reason: How Christianity Led to Freedom, Capitalism, and Western Success(Nova York: Random House, 2005); e A. N. Whitehead, Science in the Modern World (Nova York: Macmillan, 1925), o qualdeclara que os pesquisadores medievais insistiam na “racionalização de Deus, concebido com a energia pessoal de Jeová e aracionalidade de um filósofo grego. Cada detalhe estava supervisionado e ordenado: a pesquisa da natureza só poderia resultarem uma vindicação da fé na racionalização”, 18.

11 Além disso, os imprevisíveis deuses das culturas pagãs não puderam fornecer a relação de causa e efeito, essencial para aciência. Ver A. A. Roth, A Ciência Descobre Deus (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010).

12 Em O Tao da Física: Um Paralelo Entre a Física Moderna e o Misticismo Oriental (São Paulo: Cultrix, 2006), F. Capradeclara que a física e a metafísica são interligadas.

13 P. Kurtz tem sido um proeminente porta-voz dessa perspectiva cosmovisiva através de vários de seus livros, incluindo ASecular Humanist Declaration (1980) e In Defense of Secular Humanism (1983), e como editor de Humanist Manifestos I andII (1984).

14 Ver S. Wilkens e M. L. Sanford, Hidden Worldwiews: Eight Cultural Stories That Shape Our Lives (Downers Grove, IL:IVP Academic, 2009).

15 Ver L. Brand, Faith, Reason, and Earth History: A Paradigm of Earth and Biological Origins by Intelligent Design, 2aed. (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2009)

D

2. O QUE É A TEORIA DA CRIAÇÃO? L. JAMES GIBSON

iversas teorias têm sido apresentadas para explicar como o mundo e a vida que há nelepassaram a existir. Muitas das teorias sobre as origens podem ser classificadas como

teorias da criação ou teorias da evolução. A teoria que passaremos a descrever é a teoria dacriação. Ela presume um agente sobrenatural na criação, a qual é vista como um eventorealizado por processos que vão além de nossa experiência. Isso contrasta com as teoriasevolucionistas, as quais postulam que nosso mundo se originou por meio de processosgradativos que, até certo ponto, ainda continuam em curso. A evolução teísta afirma que odesenvolvimento evolucionário gradativo se deve a uma atividade sobrenatural.

A teoria que descrevemos a seguir pertence, mais especificamente, a uma categorianormalmente conhecida como criação recente em seis dias. Várias teorias da criação têm sidopropostas, inclusive a teoria do intervalo, a teoria do dia-era e várias outras teorias de criaçõesmúltiplas no decorrer de longas eras. Nossa teoria difere dessas outras teorias da criação vistoque postula uma criação única e recente da vida em seis dias. Ela é a teoria à qual as pessoas sereferem ao utilizar termos como “criação” ou “criacionista”. 1 A principal variação entre asteorias da criação recente em seis dias está em seu alcance. Para alguns, essa criação recenteinclui o Universo inteiro. Para outros, apenas uma porção dele. Esse ponto será discutido maistarde.

A BASE BÍBLICA DA TEORIA DA CRIAÇÃO

A criação é um processo sobrenatural, o que significa que os eventos e os processos dacriação não podem ser descobertos através de pesquisa empírica, devendo ser revelados demaneira sobrenatural ou permanecer desconhecidos. Assim, devemos voltar-nos para a Bíbliapara identificar os conceitos-chave desta teoria. Gênesis 1 e 2 trazem os principais textos sobrea criação, embora o tema da criação esteja entrelaçado através de toda a Bíblia, formando abase lógica para a cosmovisão bíblica e a história da salvação. A abordagem que adotamosaqui pode ser comparada com a de outros que identificaram as principais características dateoria da criação recente em seis dias. 2

CRIADOR DO CÉU E DA TERRA

A criação começa com Deus, presente no começo do Universo. Gênesis 1 começa com adeclaração: “No princípio, criou Deus os céus e a Terra.” Outros textos mencionam a presença

do Deus Criador no princípio. Por exemplo, João 1:1-3 declara: “No princípio era o Verbo. [...]Todas as coisas foram feitas por intermédio dEle.” Outros textos que destacam o mesmo pontoincluem Salmo 90:1, 2; Provérbios 8:22-31; e Apocalipse 14:7, entre outros. Um contrastemarcante é feito entre o Deus eterno e o Universo físico temporal por Ele criado.

CRIAÇÃO PELA PALAVRA

A história da criação de Gênesis 1 inclui uma série de declarações, indicando que a criaçãoocorreu em resposta à fala divina. De acordo com esta passagem bíblica, Deus disse: “Hajaluz.” Então, a luz apareceu (verso 3). Declarações semelhantes são encontradas ao longo deGênesis 1. A criação pelo fiat, ou o comando verbal, é uma parte integral de uma criaçãorecente, em seis dias, e é atestada em outras passagens (ver Salmo 33:6, 9; 148:5; 2 Coríntios4:6).

A criação pelo fiat não é o único método empregado por Deus. Gênesis 1:26 registra Deusdizendo: “Façamos o homem à nossa imagem.” Entretanto, o texto não indica se o homem foicriado por um comando verbal ou por uma ação física. Em Gênesis 2:7, somos informados deque Deus “formou” o homem da terra, implicando que houve um esforço físico direto. Acriação por meio da ação física pode também ser verdade quanto a alguns outros eventos dacriação, embora o texto não pareça requerê-lo. Em alguns casos, o comando verbal e a açãofísica direta podem estar combinados no ato da criação. Em todos os casos, a criação é descritacomo sendo realizada por um Agente Divino atuando através de processos sobrenaturais queestão além de nossa experiência.

UMA CRIAÇÃO EM SEIS DIAS

Os eventos da criação descritos em Gênesis 1 estão dispostos em uma série de seis dias,seguidos por um sétimo dia de descanso, o sábado de Deus. Cada um dos dias da criaçãoconsiste de uma tarde e uma manhã, indicando que “dias” são dias regulares em vez deperíodos indefinidos. O suporte textual para uma criação em seis dias inclui duas citaçõesdiretas do próprio Deus (Êxodo 20:8-11; 31:17). Além disso, muitas alusões textuaisconfirmam o relato da criação. Algumas delas (por exemplo, Atos 4:24; 14:15; Apocalipse10:6; 14:6-7) repetem a linguagem específica de Êxodo 20:8-11. Outros textos (por exemplo, 2Coríntios 4:6; Hebreus 4:4; 1 Coríntios 11:8-9; Marcos 10:6-9) fazem alusão à descrição dacriação encontrada em Gênesis 1 e 2. Coletivamente, esses textos afirmam com veemência averacidade do relato de Gênesis sobre uma criação em seis dias seguida de um dia de descanso,o sábado. A historicidade dos dias da criação é parte integral da teoria de uma criação recenteem seis dias.

A CRIAÇÃO ESPECIAL DOS HUMANOS

O ser humano tem um lugar especial tanto na narrativa da criação quanto na Bíblia como um

todo. De maneira singular, o ser humano foi criado à imagem de Deus (Gênesis 1:26, 27).Nenhuma outra criatura é descrita como tendo sido criada à semelhança de Deus. Como sefosse para enfatizar a singularidade humana, Gênesis 2 descreve o modo pelo qual Deus criouAdão – do pó da terra – e como Adão recebeu vida – do “fôlego” de Deus. Outra característicaúnica é que Adão e Eva foram criados individualmente, unindo-se, depois, em casamento. Issofaz lembrar a individualidade e união da Trindade. A singularidade dos humanos é notada emoutras passagens (por exemplo, Gênesis 9:6; Salmo 8; Tiago 3:9). A criação especial dos sereshumanos talvez seja o ponto mais claro que distingue as teorias criacionistas das teoriasevolucionistas.

A BOA CRIAÇÃO DE DEUS DEPOIS CORROMPIDA

Em seis pontos na narrativa da criação de Gênesis 1, Deus declara que aquilo que Ele fizeraera bom. Em Gênesis 1:31, ao fim do sexto dia, Deus declara que tudo o que Ele tinha feito erabom. Outros textos bíblicos fornecem detalhes adicionais sobre o tipo de mundo que Deusdescreveu como bom. Apocalipse 21 e 22 descrevem um mundo futuro no qual não existemorte nem sofrimento. Nele, a árvore da vida preserva indefinidamente a existência, como ésugerido em Gênesis 3:22. O fato de toda a criação ser boa quer dizer que o mal não estavapresente até aquele ponto. O mal foi um intruso que não penetrou no mundo até que Adão eEva descreram de Deus e Lhe desobedeceram, como descreve Gênesis 3. Com esse ato derebelião, o mal entrou no mundo na forma da morte (Gênesis 3:19; Romanos 5:12-14; 6:23), ea influência de Satanás tornou-se evidente no mundo (situação descrita em Jó 1 e 2 e notadapor Jesus em João 12:31; 14:30; 16:11). O pecado trouxe maldição para a Terra (Gênesis3:17), as plantas (Gênesis 3:18) e os animais (Gênesis 3:14), mas, um dia, será removido(Apocalipse 22:3). Embora o mundo recém-criado fosse imaculado, ele não era,necessariamente, completo em todos os aspectos. Ainda haveria oportunidades paracrescimento e desenvolvimento futuros (Gênesis 1:28; 2:15). O princípio de que um mundorecém-criado era imaculado, embora não necessariamente completo, é uma parte importante dateoria da criação.

DIVERSIDADE ORIGINAL CRIADA, MAS NÃO FIXISMO DE ESPÉCIES

A narrativa da criação descreve a diversidade da vida criada. A criação das plantas englobaaquelas que têm sementes e as árvores frutíferas (Gênesis 1:11). Duas categorias são incluídasaqui: a erva e a árvore frutífera, implicando diversidade. As criaturas do ar e da água foramcriadas no quinto dia, formando muitas espécies aquáticas e de aves (Gênesis 1:21). De igualmaneira, os animais da Terra criados no sexto dia incluíam o gado, os répteis e as feras daTerra, cada qual com uma pluralidade de espécies (Gênesis 1:24, 25). A cada um foi dado opoder de se reproduzir, gerando descendentes diferentes dos descendentes das outras espécies.Alguns criacionistas têm buscado apoio nesses textos para a ideia grega de fixismo dasespécies, mas nada no texto implica que os animais não mudariam. De fato, Gênesis 3:14-19 e

6:5-12 indicam claramente que ocorreram mudanças entre os animais. Embora a ideia dadiversidade original das plantas e dos animais seja um conceito importante na teoria dacriação, a ideia de espécies imutáveis não o é.

UMA CRIAÇÃO RECENTE DE TODO TIPO DE VIDA NA TERRA

Os escritores bíblicos não discutem a data da criação nem qualquer significado teológicoatrelado à idade da Terra. Diferentes cronologias são apresentadas em manuscritos antigos, enenhum texto bíblico tenta fornecer um número total. A estimativa mais conhecida para acriação, aproximadamente seis mil anos, é baseada no texto massorético. Os númerosencontrados na Septuaginta sugerem cerca de sete mil e quinhentos anos. Em virtude deincertezas textuais, de possíveis intervalos nas genealogias e da falta de ênfase em uma dataespecífica, muitos criacionistas preferem dizer que a criação tenha acontecido possivelmentehá menos de dez mil anos. As incertezas permitem algumas diferenças na maneira de ver otempo decorrido desde a criação em seis dias. Não há, e ntretanto, nenhuma margem para quese incluam milhões de anos. Alguns eruditos têm proposto que os humanos já existiam naTerra antes da criação de Gênesis. Seriam os assim chamados “pré-adâmicos”. Mas isso não seharmoniza com a declaração de Jesus em Marcos 10:6-9, referindo-Se à criação de Adão e Eva“no princípio”, nem encontra apoio em nenhum lugar das Escrituras. O ponto importante aquié que a história da vida em nosso mundo é muito mais curta do que dizem os que adotam umacosmovisão naturalista.

A ABRANGÊNCIA DA CRIAÇÃO

Muitos textos bíblicos enfatizam que Deus criou tudo que existe (João 1:1-3; Isaías 44:24).Todavia, o livro de Jó sugere que Deus pode ter formado outros mundos antes de criar este.Além disso, a profecia bíblica indica Seus planos de criar um novo mundo. Não devemos,portanto, presumir que o Universo inteiro tenha sido formado durante o período de seis dias dacriação. Jó 38:4-7 sugere que os “filhos de Deus” já existiam quando Deus formou este mundo.Estes podem ser os mesmos “filhos de Deus” mencionados em Jó 1:6 e 2:1.

Os escritores bíblicos não criam um problema com a ideia de que o Universo foi criado antesou durante a criação em seis dias. Isso não é uma parte crucial do modelo aqui descrito. 3 Noentanto, a possibilidade de que o Universo e os anjos tenham sido criados previamenteintroduz algumas implicações interessantes. Em primeiro lugar, ela fornece uma explicaçãopara a origem de Satanás e sua queda subsequente, antes da rebelião de Adão e Eva. (Umahistória resumida de Satanás encontra-se em Isaías 14 e Ezequiel 28, à qual Jesus faz alusãoem Lucas 10:18.) Parece improvável que Lúcifer, um anjo perfeito, vivendo em um Universosem pecado, pudesse se rebelar logo depois de ser criado. Em segundo lugar, um Universocriado previamente pode explicar a ausência de algum registro sobre a criação da água duranteos seis dias da criação. A descrição da criação começa com um planeta que é escuro, molhadoe desabitado (Gênesis 1:2; ver também 2 Pedro 3:5). Isso seria perfeitamente compreensível se

o planeta tivesse sido criado antes, com Deus escolhendo, em algum momento, torná-lohabitável para os seres humanos que planejou criar. Não deveria haver objeções teológicas oufilosóficas para nenhuma dessas possibilidades, uma vez que a Bíblia indica que Deus criaráoutra vez (Apocalipse 21, 22) e muitas partes da criação presente, incluindo Vênus e Marte,permanecem inabitadas.

CATÁSTROFE GLOBAL

Um dilúvio global é descrito em Gênesis, capítulos 6 a 9, e é confirmado por alusões ereferências em Isaías 54:9; Hebreus 11:7; 1 Pedro 3:20; 2 Pedro 3:5, 6; e por comentários dopróprio Jesus em Mateus 24:37-39. Estritamente falando, o dilúvio não é um elemento dahistória da criação, mas é certo que ele está relacionado com a sequência fóssil, que éfrequentemente usada como argumento contra a criação em seis dias. O dilúvio fornece aconexão explicativa entre a semana da criação e a coluna geológica. Não é preciso postularlongos períodos de tempo para a produção da coluna geológica se ela foi produzida em umacatástrofe global. A ideia de um dilúvio global, portanto, encaixa-se apropriadamente em umadiscussão sobre a teoria da criação.

CONCLUSÃO

A teoria da criação aqui resumida está baseada em uma leitura direta da Bíblia como umrelato das ações de Deus na criação da Terra. A Bíblia é historicamente confiável edivinamente dirigida em sua produção. Ela foi escrita na linguagem cotidiana; portanto, não éum livro-texto de ciência com descrições detalhadas dos mecanismos físicos que podemidentificar causa e efeito. Todavia, ela revela com precisão algumas das maneiras com queDeus agiu na criação. Uma vez que a criação foi um processo sobrenatural, seria inapropriadotestar a veracidade de Gênesis usando uma metodologia naturalista como a ciência. 4

Nosso propósito aqui foi identificar os elementos enfatizados na narrativa da criação nasEscrituras e incorporá-los à teoria da criação bíblica. As características mais importantes dorelato da criação incluem as seguintes questões: a natureza eterna de Deus contrastada com atemporalidade do Universo material; o poder efetivo do comando verbal de Deus na criação;uma criação em seis dias, incluindo organismos vivos e seu ambiente físico; a singular criaçãode humanos à imagem de Deus; a imaculada condição da criação original antes da entrada domal; a origem das diversas formas de organismos viventes durante a semana da criação; e,finalmente, uma catástrofe global que destruiu a maioria dos organismos viventes e alterou asuperfície do mundo.

L. James Gibson é o diretor do Geoscience Research Institute, tendo como principal

interesse a biologia histórica e a relação entre criação e ciência. Depois de obter seubacharelado e mestrado no Pacific Union College, ele lecionou ciências e matemática emcolégios do ensino médio na Califórnia e na África Ocidental. Estudos posteriores o levaram areceber o título de PhD em biologia pela Universidade de Loma Linda, em 1984, quandoingressou como pesquisador no Geoscience Research Institute, tornando-se seu diretor em1994. Ele escreveu inúmeros artigos e capítulos para vários periódicos e livros. Temparticipado de muitos seminários sobre fé e ciência ao redor do mundo e é editor da revistaOrigins.

1 Por exemplo, R. L. Numbers, The Creationists (Berkeley: University of California Press, 1992); “Creationism” em

http://wikipedia.org/wiki/Creationism; T. A. McIver, Creationism: Intellectual Origins, Cultural Context, and TheoreticalDiversity, tese doutoral, University of California at Los Angeles (Ann Arbor, MI: University Microfilms International, 1989).

2 O relato mais conciso está em B. R. Neufeld, “Towards the Development of a General Theory of Creation”, Origins 1(1974): 6-13. Outras descrições da criação incluem H. G. Coffin, R. H. Brown e L. J. Gibson, Origin by Design (Hagerstown,MD: Review and Herald, 2005); A. A. Roth, Origens: Relacionando a Ciência com a Bíblia (Tatuí, SP: Casa PublicadoraBrasileira, 2001); P. Nelson e J. M. Reynolds, “Young Earth Creationism”, em Three Views on Creation and Evolution, ed. J.P. Moreland e J. M. Reynolds (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1999), 41-75; K. P. Wise, Faith, Form and Time (Nashville,TN: Broadman and Holman, 2002).

3 Alguns eruditos consideram as palavras usadas em Gênesis 1:16, com referência às estrelas, como uma referênciaparentética de que Deus é, também, o Criador das estrelas, sem especificar quando elas foram criadas. Alguns eruditos incluemo Universo inteiro na semana da criação, enquanto outros interpretam que a passagem quer dizer que alguma porção doUniverso estrelado foi criada naquele período de tempo. Ambiguidades existentes no palavreado hebraico tornam difícilalguém ser dogmático nesse ponto.

4 Existe uma ampla evidência empírica favorável à existência de um Criador divino, como visto na ordem e noplanejamento do Universo e da vida. Entretanto, os detalhes específicos do modo como ocorreu a criação somente podem serconhecidos por meio de uma revelação especial.

N

3. A BÍBLIA E A CIÊNCIA ESTÃO EM CONFLITO? DAVID EKKENS

as discussões sobre ciência e fé, muitas vezes tem-se a impressão de que só é possívelacreditar ou na ciência ou nas Escrituras, não em ambas. No mundo secular, o normal é

que se veja a ciência como a verdadeira fonte de conhecimento. A Bíblia, caso sejaconsiderada, é vista apenas como uma fonte de compreensão espiritual, contanto que ela nãoapresente algum conflito com o consenso científico. Este capítulo examinará a seguintepergunta: A Bíblia e a ciência estão em conflito? Depois, vamos analisar como um crente quetambém é um cientista pode lidar com o problema. 1

Antes de continuar, vamos definir o significado de “ciência” neste capítulo. Por “ciência”refiro-me a um processo sistemático que tenta explicar fenômenos em termos dos mecanismosfísicos que os causam. Há outras definições possíveis, mas esta será suficiente para nossospropósitos. Seguindo a mesma linha de raciocínio, milagre é definido como um evento que nãopode ser explicado tão somente por meios científicos naturalistas.

AS CIÊNCIAS EXPERIMENTAIS E HISTÓRICAS

Ao discutirmos ciência e fé, convém fazer distinção entre a ciência experimental (ouempírica) e a ciência histórica. As ciências primordialmente experimentais (por exemplo,química, física, anatomia, ecologia) envolvem a manipulação das condições físicas a fim deisolar e identificar fatores causais que explicarão o evento. As ciências primordialmentehistóricas (por exemplo, arqueologia, paleontologia) estudam os resultados de algum eventopassado e tentam explicar o que ocorreu a fim de produzir a evidência observada.

Em sua maioria, as ciências englobam tanto os aspectos empíricos quanto históricos. Porém,apenas os aspectos empíricos estão abertos à experimentação – o mesmo não acontece com osaspectos históricos. Normalmente, não há conflito entre as Escrituras e a ciência experimental.As dificuldades acontecem no momento em que se tenta compreender eventos históricos paraos quais a Bíblia provê uma explicação sobrenatural, enquanto a ciência tenta chegar a umaexplicação naturalista.

TIPOS DIFERENTES DE PASSAGENS BÍBLICAS

Antes de considerarmos questões em que parece ser difícil conciliar a ciência e as Escrituras,devemos notar que existem muitas áreas em que não encontramos conflito. Por exemplo,embora a Bíblia não seja, primariamente, um livro-texto de ciências, ela descreve muitos

fenômenos de natureza científica. Vários autores bíblicos mencionam mamíferos, aves eplantas. Aspectos da anatomia, da fisiologia e do comportamento das plantas, dos animais edos humanos são mencionados por autores bíblicos. A Bíblia descreve a criação de formas devida, sugerindo que Deus projetou e fabricou os sistemas viventes que hoje estão disponíveispara nosso estudo. A ciência de hoje reconhece em todos os níveis de complexidade aevidência de um projeto, embora exista considerável discórdia sobre a origem dele.

Algumas passagens da Bíblia foram escritas em termos simbólicos ou em figuras delinguagem. Pode-se, portanto, interpretar erradamente uma expressão como sendo literal,quando ela na verdade é figurada. Por exemplo, Habacuque 3:3 diz que Deus veio de Temã.Talvez algumas pessoas venham a concluir, a partir desse texto, que Deus mora em Temã, masa maioria de nós considera a expressão como uma figura de linguagem. Aqui, Deus érepresentado como vindo do sul, ou do Sinai, onde foram dados os Dez Mandamentos. Outraspassagens podem ser poéticas, ilustrativas ou expressões de compreensão comum, que nãoforam escritas para dar explicações científicas. Por outro lado, existem muitas passagens dasEscrituras que são de clara intenção histórica. Aí estão incluídas passagens como Gênesis 1-11,as narrativas encontradas nos evangelhos sobre os milagres de Jesus, Seu nascimento de umavirgem, Sua morte e ressurreição. A prosa claramente expositiva não apoia tentativas de“espiritualizá-las” ou, então, categorizá-las como figurativas, poéticas, etc.

EXPLICAÇÕES NATURAIS E SOBRENATURAIS

Podemos oferecer duas explicações possíveis para os fenômenos: naturais ou sobrenaturais.Os dois sistemas explicativos podem estar em conflito ou podem complementar um ao outro.Como a Bíblia descreve primordialmente as atividades de Deus no curso da história humana,ela quase sempre profere explicações sobrenaturais. Como mencionamos acima, as explicaçõesde fenômenos passados não são intrínseca e diretamente testadas por métodos científicos. Paraum dado fenômeno que a Bíblia descreve como sobrenatural, um cientista materialista podedar uma explicação naturalista. Em alguns casos, ambas as explicações podem ser aplicáveis.Em outras palavras, Deus pode ter usado processos físicos corriqueiros de maneirasobrenatural para realizar Sua vontade.

Muitos dos grandes cientistas do passado eram crentes e não viam conflitos entre a Bíblia e aciência. No século 17, os cientistas dividiram-se em dois campos, no que diz respeito à religiãoe ciência (ou filosofia, como era então chamada). Francis Bacon e Galileu Galilei pertenciamao grupo “separatista”. Eles acreditavam que era melhor manter separados o Livro dasEscrituras e o Livro da Natureza, embora reconhecessem que ambos tinham o mesmo Autor. 2

Na última metade do século passado, o cientista americano Stephen J. Gould ampliou a ideiade separação com sua proposta do conceito de Magistérios Não Interferentes (NonoverlappingMagisteria ou Noma, na sigla em inglês). De acordo com ele, a ciência e a religião ocupamdomínios diferentes, os quais não interagem entre si. 3 Segundo Gould, a religião ocupa-secom ideias espirituais e éticas, enquanto a ciência lida com o mundo real. Para aceitar o

conceito da não interferência, aparentemente é necessário rejeitar as Escrituras como a Palavrainspirada de Deus. O outro grupo de cientistas do século 17, os pansofistas, via a ciência e asEscrituras em suprema harmonia.

Assim, ambos os grupos chegaram a uma resposta de “não conflito” – os separatistas, porquecompartimentalizavam os campos de estudo; e os pansofistas, porque viam a ciência como umreforço para as Escrituras. Os dois grupos viam Deus como o Autor das Escrituras e o Criadordo mundo. Algum aparente conflito estava em uma discordância entre interpretações da Bíbliae/ou interpretações da ciência. Podemos fazer a mesma abordagem hoje com uma advertênciaadicional: nem todas as nossas perguntas serão respondidas. Uma vez que estamos em ummundo de pecado e possuímos apenas uma compreensão incompleta da ciência e dasEscrituras, não chegaremos a respostas completas para todas as perguntas.

ÁREAS DE CONFLITO

O conflito evidencia-se principalmente no estudo das origens, o qual é uma questão histórica,não uma questão experimental. Os que possuem uma cosmovisão naturalista preferem a teoriaevolucionista, pois ela propõe explicações em termos de puros mecanismos físicos. Os que têmuma cosmovisão baseada na revelação bíblica preferem a teoria da criação, pois ela aceita osrelatos bíblicos de atividade sobrenatural na criação e manutenção do mundo natural. Ambasas visões clamam por evidência. Como essa evidência é incompleta e aberta a diferentesexplicações, a cosmovisão do cientista acaba desempenhando um papel importante nainterpretação. Vamos, agora, voltar-nos para áreas onde o conflito é bastante evidente.

Um dos exemplos mais conhecidos é encontrado em Galileu Galilei (1564-1642),considerado por muitos como o pai da astronomia observacional e da física moderna e o maiorresponsável pelo nascimento da ciência moderna.

No fim do século 16, líderes da Igreja Católica Romana endossavam a ideia de que a Terraera o centro do Universo. Embora fosse um crente devoto, Galileu era, antes de tudo, umcientista. Ele defendia a ideia de Copérnico de que a Terra girava em torno do Sol. Uma vezque a igreja se considerava a autoridade suprema, Galileu foi identificado como um herege. 4

Nesse exemplo, é importante notar que o problema de Galileu não foi, estritamente, umconflito entre a Bíblia e a ciência, mas uma diferença manifestada entre líderes religiosos ealguns cientistas sobre como interpretar a Bíblia e dados científicos.

Aos olhos da maioria dos cientistas materialistas, sempre existiu conflito entre cientistasseculares e os que sustentam uma cosmovisão teísta. Vários livros já foram escritos sobre otópico da assim chamada “guerra entre ciência e religião”. 5 Infelizmente, cristãosdemasiadamente zelosos têm alguma responsabilidade nesse conflito. Pensadores sérios forammuitas vezes perseguidos em virtude de superstições, sofrendo repressão e coação (associadasà igreja dominante). Isso levou à falta de confiança na própria Bíblia.

A Bíblia narra a ocorrência de numerosos milagres, os quais são quase que invariavelmente

interpretados por dois grupos. Uma pessoa não convencida da inspiração divina conclui que omilagre não aconteceu de fato e que o relato bíblico é uma falácia. O descrente chega a umadas seguintes conclusões: (1) o escritor pensou que o milagre aconteceu da maneira que ele oescreveu, mas estava errado; (2) ele sabia que estava errado, mas estava tentando ludibriar seupúblico; (3) ele queria enfatizar uma informação e, para isso, meramente contou uma história.Em qualquer dos casos, o relato bíblico é considerado como não confiável, ou, pelo menos,que não deve ser tomado literalmente. Em contraste, a pessoa que aceita a Bíblia comodivinamente inspirada reconhece o milagre por meio da fé. Uma vez que a ocorrência está naBíblia, e a Bíblia é a palavra de Deus, o crente aceita que Deus usou Seu poder para causar omilagre.

MILAGRES SEM EVIDÊNCIA FÍSICA DISPONÍVEL

Voltaremos nossa atenção agora para os milagres para os quais não temos evidências físicas.Um exemplo incluído pelos escritores dos evangelhos é Jesus andar sobre as águas (ver Mateus14:25-32). Os céticos podem sugerir que Jesus conheceria a localização das rochas logo abaixoda superfície de modo que fosse possível caminhar da praia até o barco, aparentando queandava sobre a água. Pedro, por não saber onde estavam essas rochas, veio a afundar eprecisou ser resgatado. Os crentes poderiam corretamente considerar essa explicação um tantoforçada, mas, como não há evidência física direta disponível hoje, não podemos realizarnenhum teste. Assim, baseados em nossas pressuposições pessoais, aceitamos ou rejeitamos ahistória.

Um segundo exemplo é o da filha de Jairo, uma menina que havia morrido e voltou à vidapor meio de Jesus (ver Lucas 8:49-56). O descrente pode observar que o próprio Jesus declarouque a menina estava apenas adormecida (Mateus 9:24) e que Ele meramente a acordou. Osrelatos de Mateus e Lucas são, portanto, considerados errados. Não temos evidência físicadireta para saber se a menina estava, de fato, viva ou morta. A resposta ao relato vai dependerda confiança que se tenha na confiabilidade da Bíblia.

MILAGRES COM EFEITOS FÍSICOS OBSERVÁVEIS

Os milagres para os quais existe evidência física hoje parecem apresentar questões maisproblemáticas. Às vezes, parece que a evidência científica discorda de nossa mais cuidadosainterpretação das Escrituras. Essas são questões que podemos classificar da seguinte forma:“não há conflito, mas...”. Nossa crença é a de que a Bíblia e a ciência não estão em conflito.No entanto, parecem estar. Para resolver esses problemas, a evidência tem que sercuidadosamente avaliada, já que ela pode ser interpretada de diferentes maneiras.

De acordo com um crente, a origem da vida na Terra é um exemplo de um evento milagrosoem que a Bíblia e a ciência não estão em conflito. Durante mais de meio século, inúmerasexperiências têm sido conduzidas na tentativa de produzir vida a partir de material em que não

há vida, pelo uso de meios naturalistas. Até agora, essas experiências têm fracassado emproduzir evidência empírica para a origem espontânea da vida. O crente acha, portanto, que éconsistente com a narrativa bíblica o fato de que a vida foi originada através de atividadesobrenatural. O descrente não se convenceria disso, visto que a ausência de evidência nãoconstitui boa evidência. Que moléculas orgânicas tenham sido originadas a partir de gasesinorgânicos é considerado por cientistas desvinculados da visão bíblica como uma evidência deque a geração espontânea de uma célula viva poderia ocorrer. Portanto, para eles existe umconflito entre ciência e religião.

A área em que as questões “não há conflito, mas...” talvez sejam mais incômodas é a daquantidade de tempo requerida para a acumulação de sedimentos retentores de fósseis nacrosta terrestre. Parece haver um conflito entre o tempo relativamente curto sugerido na Bíbliae o tempo longo inferido pela ciência. Os núcleos de gelo oferecem outro exemplo. Em lugaresda superfície terrestre como a Groelândia, foi formada uma grossa camada de gelo. Quando ogelo é perfurado e um pedaço do núcleo é extraído, pode-se ver que existem camadasdiferentes, como os anéis de uma árvore. Alguns núcleos de gelo podem conter 160.000camadas, 6 das quais as que estão mais abaixo podem ser identificadas por meios químicos.Uma vez que essas camadas presumidamente se depositam à razão de uma a cada ano, issoapresenta um conflito com o calendário bíblico. Naturalmente, não há datas na Bíblia, mas oseruditos bíblicos mais conservadores têm utilizado as genealogias mencionadas no texto paraconcluir que não muito mais que dez mil anos estão representados pela história bíblica.

Muitos outros exemplos podem ser dados de técnicas convencionais de datação, os quaissugerem que a Terra é muito mais velha que dez mil anos. Muitos cientistas que creem naBíblia não veem nenhum conflito nas datas antigas das rochas. Deus certamente poderia tercriado as rochas da Terra há muitos milhões de anos e, depois, organizado a crosta terrestredurante uma semana de criação mais recente. Contudo, existem muitos exemplos de fósseisencontrados em rochas e datados por técnicas padrão como muito mais antigos do que dez milanos.

Mesmo considerando esses problemas, temos evidências de que o último capítulo sobre adatação das eras ainda está para ser escrito. Em alguns casos, novas evidências científicaspodem lançar dúvidas sobre a datação convencional das eras. Por exemplo, um tecido maciofoi recentemente encontrado dentro de ossos fossilizados de dinossauros que teriam cerca deseis milhões de anos, segundo se acredita. 7 Ninguém tem uma ideia adequada para explicarcomo esse tecido macio pode ter sobrevivido tanto tempo. Outro exemplo é a descoberta danatureza catastrófica das florestas fósseis do parque Yellowstone, 8 uma vez tidas comorepresentantes de longas eras de processos ordinários. Outra evidência para o depósito rápidode sedimentos inclui o depósito subaquático rápido dos turbiditos (formações geológicascausadas por um tipo de avalanche subaquática) e o ritmo de erosão dos continentes, queparece ser rápido demais para longas eras de idade da Terra. 9

CONSIDERAR A BÍBLIA UM MITO CRIA MAIS PROBLEMAS

Algumas pessoas resolvem o conflito concluindo que os milagres bíblicos são mitos – contostradicionais que servem para expressar uma cosmovisão. Para esses, o conflito é inexistente,uma vez que o evento não aconteceu da maneira descrita. Por exemplo, realmente não teriaexistido um homem chamado Daniel, que passou a noite em uma cova com leões. Isso seriameramente uma história contada para mostrar que Deus cuida daqueles que creem nEle.

No entanto, essa abordagem solapa a inspiração das Escrituras. Algumas pessoas veem aseras obtidas pela datação convencional como um indicador tão forte de uma Terra muito antigaque acabam concluindo que uma leitura literal da Bíblia seja um absurdo. Esses indivíduoscostumam aceitar as ideias de alguns eruditos bíblicos que creem que algumas partes deGênesis, como o capítulo 1, foram escritas depois de outras seções. Se aceitarmos essa visãodas Escrituras, podemos acabar negando a vida e o ministério de Cristo. A evidência contra aressurreição corpórea de Cristo é comparável àquela que contraria uma leitura literal deGênesis 1.

Para que sejamos consistentes em nossa compreensão sobre a inspiração das Escrituras,precisamos estar prontos para aceitar que milagres aconteceram e que, usando meiosconvencionais, não podemos provar como eles aconteceram. Assim, o conflito continua.

O CONFLITO PODE SER INEVITÁVEL EM ALGUNS CASOS

Para a maioria dos crentes, não é surpresa haver conflito entre fé e ciência secular. Asdoutrinas cristãs são baseadas na fé e apoiadas por evidências que apelam à razão, incluindo aexperiência pessoal, evidências documentais e testemunhas oculares. A evidência empíricatambém é importante, mas não é o único fator, como acontece na ciência.

Ao interpretarmos as Escrituras, devemos fazê-lo com humildade. Existem outras possíveisinterpretações que não destruam o significado original? Podemos aceitar opiniões alternativasse a passagem assim permitir, conquanto não deixemos de enxergar a natureza milagrosa doevento. O mesmo princípio deve ser aplicado para interpretar a ciência. É preciso ter umaatitude humilde e consideração para com hipóteses alternativas. Esse tipo de atitude podeajudar a manter em perspectiva os conflitos entre a Bíblia e a ciência.

Se formos consistentes em nossa compreensão da inspiração das Escrituras, estaremosprontos para aceitar que os eventos milagrosos de fato ocorreram e que, utilizando os meiosconvencionais, não poderemos provar como eles aconteceram. Assim, o potencial paraconflitos continua, como continuará enquanto durar o mundo, em sua presente realidade.

CONCLUSÃO

Talvez Deus nos revele algum dia o tipo de ciência que Ele emprega, as leis dentro das quaisEle escolheu agir. Só então entenderemos que, afinal, não existe conflito. Por ora, temos que

viver com a tensão. Para um cientista, ela pode ser às vezes considerável.

Do que foi dito anteriormente, podemos concluir que sempre haverá algum conflito entre aciência e a Bíblia. Alguns aparentes conflitos podem ser resolvidos à medida que a ciência forfazendo novas descobertas, mas outros serão resolvidos somente na eternidade. O conflitoentre a Bíblia e a ciência surge por várias razões, incluindo: (1) entendimentos filosóficosdivergentes sobre o papel de Deus na natureza; (2) a dificuldade de interpretar a história domundo cientificamente; (3) a incapacidade de a ciência explicar em termos científicos o queDeus fez milagrosamente; e (4) o fato de os relatos bíblicos sobre a história da natureza serembreves e incompletos.

Todas essas questões e conflitos devem apresentar oportunidades para que cientistas eteólogos cresçam juntos em seu entendimento. A tragédia é que ambos parecem estar limitadospor sua própria perspectiva e presos dentro dela. Por isso, não conseguem se comunicar emuma linguagem comum.

David B. Ekkens cursou bacharelado e mestrado em biologia na Universidade Andrews.Depois lecionou para o ensino médio por quatro anos. Alcançou o título de PhD em biologiapela Universidade de Loma Linda e lecionou no Southwestern Adventist College (hojeSouthwestern Adventist University) por dois anos. Posteriormente, viajou para a África, ondelecionou por quatro anos na Nigéria e por seis anos na Universidade do Leste da África, noQuênia. A essa experiência, acrescentou um ano de estudos pós-doutorais no laboratório deneurofisiologia na Universidade Andrews. Uniu-se, então, ao corpo docente do KetteringCollege of Medical Arts antes de mudar-se para a Southern Adventist University, onderecentemente se aposentou.

1 Para sugestões úteis sobre como lidar com a tensão, ver o capítulo 20 deste livro, escrito por Burdick.

2 F. E. Manuel, The Religion of Isaac Newton (Londres: Oxford University Press, 1973).

3 Stephen Jay Gould, “Nonoverlapping Magisteria”, Natural History 106 (1977): 16-22.

4 Maurice A. Finocchiaro, “Myth 8. That Galileo Was Imprisoned and Tortured for Advocating Copernicanism”, emGalileo Goes to Jail and Other Myths About Science and Religion, ed. R. L. Numbers (Londres: Harvard University Press,2009), 68-78.

5 William H. Jennings, Storm Over Genesis: Biblical Battleground in America’s Wars of Religion (Minneapolis, MN:Fortress, 2007).

6 T. H. Jacka, “Antarctic Ice Cores and Environmental Change”, Glacioloy Program, Antarctic Cooperative Research

Centre and Australian Antarctic Division, http://www.chem.hope.edu/~polik/warming/IceCore/IceCore2.html (acessado em 11de março de 2010)

7 M. H. Schweitzer et al., “Analyses of Soft Tissue From Tyrannosaurus Rex Suggests the Presence of Protein”, Science316, nº 5882 (2007): 277-280.

8 H. Coffin, “The Puzzle of the Petrified Trees”, Dialogue 4, nº 1 (1992): 11-13, 30, 31. Também disponível online emhttp://www.aiias.edu/ict/vol_08/08cc_091-095.htm#_ednref6.

9 A. A. Roth, Origens: Relacionando a Ciência com a Bíblia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001)

A

4. QUAL É A DIFERENÇA ENTRE DADOS EINTERPRETAÇÃO? ELAINE KENNEDY

Considere as seguintes declarações:

Declaração 1: A é um ser humano. B é um gorila. Existem muitas semelhanças entre A e B,mas, comparado a B, A possui muitos atributos superiores.

Declaração 2: As semelhanças mostram que A e B têm uma origem comum – a evolução.As características superiores indicam que A evoluiu de maneira mais progressiva que B desdeque divergiram do ancestral comum.

Declaração 3: As semelhanças mostram que A e B tiveram uma origem comum – a criação.Os atributos superiores de A indicam que Deus criou os humanos à Sua própria imagem. Essenão foi o caso da criação dos animais.

Declaração 4: As semelhanças mostram que A e B têm uma origem comum – a criação. Osatributos superiores de A indicam que Deus dirigiu a evolução de A. Deus pode, ou não, terdirigido o caminho evolutivo dos animais após a criação.

declaração 1 é composta de dados observáveis, conhecíveis e abertos à experiência. Asdeclarações 2, 3 e 4 são interpretações de fatos: uma delas é feita por um evolucionista; a

outra, por um criacionista; a última, por um evolucionista teísta.

Essa ilustração revela que o conhecimento e a informação podem ser divididos em doisconceitos separados: dados e interpretação. Uma vez que os dados são sujeitos a interpretação,pesquisadores e leigos em ciência devem fazer distinção entre a informação constituída pelosdados coletados e aquela derivada de dados apresentados como evidência, em apoio a umahipótese.

Embora os cientistas se empenhem para ser objetivos, certos fatores (tendenciosidades)influenciam no processo de seleção e interpretação dos dados. A informação fornecida aopúblico em geral é, muitas vezes, mais interpretação do que dados. Por isso, é essencial quedesenvolvamos e apliquemos nossa habilidade de pensar criticamente.

CONHECENDO A DIFERENÇA

O que queremos dizer por “dados”? Quais são as diferenças entre dados e interpretação?Dados são constituídos de medidas e observações usadas como base para o raciocínio,discussão ou cálculos. 1 Embora os dados observáveis sejam normalmente considerados comofatos invariáveis, eles podem, ou não, ser verdadeiros. À medida que a tecnologia e a ciênciaavançam, os “fatos” são descartados, modificados ou substituídos por novos dados. Porexemplo, as medições podem formar uma base para a identificação (e interpretação) de umobjeto ou um fenômeno. Fósseis de organismos extintos são muitas vezes identificados combase em medições de partes do corpo que foram preservadas. A precisão dessas mediçõesdificulta a identificação correta porque, com uma boa parte da fauna já extinta, os cientistasnão sabem se organismos maiores, com estrutura semelhante à dos organismos menores,representam espécies diferentes, estágios de desenvolvimento ou gênero. As reaisidentificações ou cálculos não são dados, são interpretações. Uma grande parte da controvérsiana literatura científica ocorre porque interpretações são feitas a partir de bases de dadoslimitadas.

A COMPLEXIDADE DOS DADOS E DAS INTERPRETAÇÕES

Como ilustração de uma complexa interação entre dados e interpretações, considere doispassos envolvidos no processo de identificação de rochas e minerais.

PASSO 1. INTERPRETAÇÕES DAS PROPRIEDADES LEVES DOS MINERAIS

As propriedades leves dos minerais são descritas a partir de exames microscópicos de umafatia muito fina de rocha (uma “seção fina”). A luz polarizada (ondas de luz vibrando emapenas um plano) é usada para conduzir testes sobre as propriedades da luz de cada mineral naseção fina. Os testes fornecem uma base de dados visual de padrões de transmissão de luz.Mineralogistas usam esses padrões para determinar a composição da amostra. A identificaçãodos minerais é uma interpretação baseada nos dados das propriedades da luz.

PASSO 2. DETERMINAÇÃO DO TIPO DE ROCHA

O tipo de rocha pode ser determinado examinando-se o contato de um mineral com outro emedindo o quanto de cada mineral está presente. Ao identificar uma rocha, um geólogoconsidera como “dados” as identificações minerais, embora a identificação seja realmente umainterpretação da interpretação. (Os “dados” mineralógicos foram originalmente determinadospelos dados de propriedades da luz.) Por isso, o âmbito daquilo que constitui dados é,realmente, muito estreito.

E quão válida é a identificação? As identificações podem ser feitas por meio de comparaçõescom padrões estabelecidos. Por exemplo, três seções finas podem ter a mesma composiçãomineral, mas os contatos minerais podem ser muito diferentes. Se os grãos minerais seinterconectam, a rocha é ígnea. Se eles são alterados, distorcidos, alongados e alinhados, é umarocha metamórfica. Os mesmos minerais, ligados por um cimento, formam uma rochasedimentar.

Quando os termos e procedimentos são bem definidos, a identificação é bastante fácil erelativamente confiável. No entanto, uma vez que os “dados” são limitados àquilo quepodemos medir ou observar diretamente, devemos ter cuidado com a interpretação para quepossamos chegar a conclusões confiáveis. Uma interpretação é uma explicação, einterpretações são limitadas pela disponibilidade de dados e pela perspectiva do observador.

NÍVEIS MÚLTIPLOS DE INTERPRETAÇÃO

Existem vários níveis de interpretação. Por exemplo, o termo oólito não somente identificaum tipo de rocha como também sugere uma história inteira de requerimentos ambientais econdições de depósito para sua formação. Como pode um simples termo trazer consigotamanha quantidade de informações interpretativas?

Primeiro, uma seção fina de partículas redondas, semelhantes a grãos e ligadas por umcimento, deve ser identificada no que diz respeito à sua mineralização. O primeiro nível deinterpretação é para identificar a composição mineral desses pequenos grãos. Para propósitosdessa ilustração, vamos identificá-los como partículas de carbonato de cálcio.

A identificação da estrutura da rocha redonda e cheia de grãos é baseada no reconhecimentode um objeto central, como, por exemplo, um pedaço de outro tipo de rocha ou um fragmentode ostra em volta do qual o carbonato de cálcio se precipitou. Essa informação estruturalcombinada com o formato redondo das partículas identifica os grãos como oólitos. A essaaltura, pode-se pensar que a identificação está concluída. Entretanto, um terceiro nível deinterpretação é introduzido para explicar como os oólitos foram formados.

O terceiro nível depende de observações dos ambientes atuais. Os geólogos sabem que osoólitos são tipicamente formados perto de uma costa pela agitação das águas mornas, rasas esalgadas. Eles aplicam esse conhecimento para as rochas oólicas achadas em uma encostamontanhosa. Em outras palavras, os geólogos presumem que os oólitos da montanha foramformados naquele sítio geológico, em algum momento, da mesma maneira que se formam osoólitos no oceano ou no Grande Lago Salgado de Utah. Essa interpretação sugere que osoólitos não são formados de outra maneira. O raciocínio parece lógico. Contudo, essaassociação pode não ser verdadeira. Esse conjunto de interpretações recebe outros dados commúltiplas interpretações, trazendo-nos à descrição final de uma exposição ou afloramento deuma rocha em particular.

Os geólogos utilizam outro tipo de rocha e dados adicionais para desenvolver modelos que

descrevem eventos geológicos da história da Terra. Por exemplo, grãos cimentados de quartzosão chamados de arenitos. Os padrões existentes nos arenitos podem ser atribuídos ao processode estratificação cruzada. Tipicamente, as estratificações cruzadas se formam quando ascorrentes (de vento e/ou de água) depositam sal e limo sobre as encostas a sotavento das dunas.Ao integrar dados regionais e intepretações, os geólogos desenvolvem o quarto nível deinterpretação – a modelagem. Os modelos fornecem uma moldura generalizada para que oscientistas possam desenvolver predições e avaliar eventos que podem ter ocorrido no passado. 2

Assim, ao se avaliar uma pesquisa, é essencial fazer diferença entre dados e interpretação. Avalidade de uma interpretação é baseada no modo como ela acomoda os dados disponíveis. Asinterpretações podem mudar à medida que se altera a base de dados. Essa interação entre dadose interpretações é que faz a ciência ser bem-sucedida e progressiva.

OS PREJULGAMENTOS DURANTE A AQUISIÇÃO DE DADOS

Os cientistas sabem que estão sujeitos a erros e a concepções equivocadas. Eles tentam, noentanto, manter uma atitude objetiva. 3 Esse fato tem criado um tipo de aura em torno doscientistas. Frequentemente, as pessoas preferem acreditar que os cientistas lidam comabsolutos. Alguns até mesmo pensam que, quando um cientista chega a uma conclusão, todasas questões foram resolvidas, e as teorias concorrentes, refutadas. Para complicar as coisas, acomunidade científica tem adotado a posição de que qualquer pesquisador que tenha um viésreligioso não é científico. Assim, por definição, o criacionismo-científico não poderia serciência de fato. Atitudes como essa falham por não reconhecer seus próprios prejulgamentos. 4

Aqui estão alguns prejulgamentos que influenciam a ciência. Alguns são técnicos, outros sãofatores sutis e inconscientes.

1. Restrições de amostragem. O primeiro problema na coleta de dados surge em relação àamostragem. Todo cientista tem alguma ideia preconcebida sobre a pesquisa, e essa ideiainfluencia a seleção de dados. Variados métodos de coletar amostras ajudam a minimizar oproblema, 5 mas mesmo nesses casos as escolhas podem favorecer uma hipótese em particular.

2. Erros sistemáticos. Os cientistas podem ter um “ponto cego”, uma falha noreconhecimento dos dados. Por exemplo, é comum que um paleontólogo especializado emcaracóis fossilizados colecione uma variedade mais ampla de gastrópodes do que um indivíduoqualquer, em um determinado sítio. Entretanto, o mesmo paleontólogo coletará menosmariscos e corais. Esses fósseis podem ter um impacto significativo na interpretação docientista, mas o viés do pesquisador elimina esse dado. Além disso, o processamento dos dadospode introduzir erros sistemáticos. 6 Um procedimento errôneo não reconhecido ou umafórmula matemática e uma análise estatística aplicadas incorretamente introduzem um errosistemático nos resultados.

3. Restrições tecnológicas. Os cientistas agora podem incorporar uma grande quantidade dedados e interpretações em modelos computadorizados através de análises envolvendoreconhecimento de padrões. Todavia, bases de dados gigantescas não significamnecessariamente que os modelos refletem sistemas e processos complexos. Além disso, odesenvolvimento de modelos simplificados com sistemas computadorizados não correspondeinteiramente à realidade porque os parâmetros simplificados colocam limites na aplicação domodelo em sistemas reais. 7

4. Qualidade dos dados. A análise de dados não é imparcial, em virtude da inclusão deinterpretações qualitativas ou subjetivas. Por exemplo, na análise de dados do potássio-argônio, a quantidade de potássio e argônio pode ser medida com muita precisão. Entretanto, édifícil saber exatamente o que significam os dados, e as conclusões referentes à idadedependem em grande medida de numerosas suposições. 8 A tecnologia atual não medediretamente a idade da rocha. As conclusões, portanto, são interpretações. Os dados descritivossão ainda mais problemáticos.

5. Restrições financeiras. O método científico requer rigorosos testes antes que qualquerteoria seja aceita. No entanto, restrições de tempo e financeiras aumentam as distorções noprocesso experimental. Novos dados são incorporados à teoria que vigora atualmente, pois émais fácil ter material publicado se ele for aceito de forma geral pela comunidade científica. Oprocesso de custeio tem uma influência incrível sobre as pesquisas de hoje. 9 Os rigorosostestes propostos pelo método científico não têm uma relação custo-benefício positiva. Asideias, então, são publicadas apressadamente, sendo mais tarde citadas como evidências empublicações posteriores.

IMPLICAÇÕES PARA A CIÊNCIA E A RELIGIÃO

Quando se trata da interação entre ciência e religião, vários pontos precisam ser notados.Primeiro, nem todos os dados são medidos com precisão. Às vezes, é difícil diferenciar dadosde interpretação. Interpretações múltiplas e alternativas de qualquer base de dados sãopossíveis e até mesmo prováveis, embora o cenário teórico mais simples seja normalmentepreferível ao mais complexo. Segundo, as pressuposições pessoais estão presentes em qualquerinterpretação. Todas as interpretações científicas são, pelo menos parcialmente, subjetivas.Terceiro, devemos entender a natureza da ciência e como os cientistas funcionam. As pessoas,às vezes, ficam desanimadas porque as interpretações científicas parecem mudarconstantemente. Elas já não têm certeza sobre aquilo em que acreditar. Porém, essa é anatureza da ciência. É assim que ela avança. Uma vez que se compreenda esse aspecto daciência, entende-se que não se deve basear crenças teológicas em dados específicos ouconceitos científicos. Quarto, embora a ciência possa fornecer informações relevantes, ela nãodeveria prescrever a teologia. Do contrário, cada vez que mudarem as interpretações

científicas, a teologia será alterada, seja essa alteração consistente ou não com o seu sistema decrença e suas experiências. Ao mesmo tempo, a teologia não deveria prescrever a ciência deninguém. Conceitos como o “fixismo das espécies”, sustentado por muitos nos séculos 17 e18, 10 e a crença em um “Universo geocêntrico” são algumas das ideias que contribuíram parao conflito entre ciência e teologia. A Bíblia pode fornecer hipóteses operacionais e restriçõeslegítimas para interpretações científicas. Com efeito, as Escrituras, como fonte de informação,apontam para avenidas de investigação que não seriam consideradas por muitos investigadoresnão cristãos. Entretanto, essa pesquisa deve reconhecer qualquer influência escriturística nelapresente, e todos os dados devem ser avaliados com a maior objetividade possível.

Apesar disso, e particularmente na área de origens, a ciência sozinha não pode avaliar toda abase de dados. Isso acontece porque a abordagem científica rejeita a possibilidade deenvolvimento sobrenatural na história da Terra. Embora alguns cientistas sejam evolucionistasteístas, muitos cientistas creem que a ciência e as Escrituras são simplesmenteirreconciliáveis. 11

Por exemplo, Ayala declara: “Dizer que as declarações de Gênesis são verdades científicas énegar todas as evidências.” 12 Outro cientista afirma: “Não somente o presente é a chave para opassado como também o presente é a chave para o futuro.” 13 Esses comentários tendem a criarantagonismo com muitos dos cristãos da comunidade científica. Tanto o relato histórico de umdilúvio global como os relatos proféticos sobre o segundo advento de Cristo proclamam afalsidade desse conceito. 14 A evidência não prova uma história longa ou curta da vida. Elasimplesmente fornece uma informação. Os dados não são o problema principal para umaconciliação entre a ciência e as Escrituras. O principal conflito está na interpretação dos dados.Por essa razão, alguns acreditam que os evolucionistas teístas deveriam se tornar advogadospúblicos da evolução. Esperam que eles possam estabelecer uma ponte que supere o abismoentre a ciência e a fé para o público em geral, enquanto marginalizam os criacionistas. 15

Para muitos cristãos, a historicidade da Bíblia fornece informações acerca da criação quesugerem uma melhor maneira de abordar a ciência. Com essa perspectiva, a harmonia entre aciência e as Escrituras pode ser intensificada. Trabalhando com os mesmos dados, oscriacionistas esperam coerência, pois reconhecem Deus como o Criador da natureza e de Suas“leis” científicas.

M. Elaine Graham-Kennedy é bacharel em geologia e ciências pedagógicas pelaUniversidade Phillips e prosseguiu seus estudos na Universidade do Estado de Oklahoma. Elalecionou ciências em Oklahoma e na Califórnia. Depois de obter um mestrado em geologia, naUniversidade de Loma Linda, ela completou um PhD no mesmo campo de estudos na SouthernUniversity of California. De 1991 a 2005, atuou como pesquisadora do Geoscience ResearchInstitute. Ela é autora de diversos capítulos de livros e artigos publicados em periódicos sobrefé e ciência. Também é autora do livro intitulado Como Surgiram os Dinossauros e Por Que

Eles Desapareceram, lançado pela Casa Publicadora Brasileira.

1 Webster’s College Dictionary (1991).

2 Andrew D. Miall, Principles of Sedimentary Basin Analysis (Nova York: Springer-Verlag, 1984), 3.

3 Francisco Ayala et al., On Being a Scientist (Washington, DC: National Academy of Sciences Press, 1989), 1.

4 Del Ratzsch, The Battle of Beginnings: Why Neither Side Is Winning the Creation-Evolution Debate (Downers Grove, IL:InterVarsity, 1996), 158-179. Ver também Philip E. Johnson, Darwin on Trial (Downers Grove, IL: InterVarsity, 1991), 6-12.

5 Larry Thomas, Coal Geology (Chichester, Inglaterra: John Wiley & Sons, 2002), 128.

6 http://www.statistics.com/resources/glossary/s/syse.

7 Walther Schwarzacher, Sedimentation Models and Quantitative Stratigraphy (Amsterdam: Elsevier Scientific PublishingCompany, 1975), 1.

8 C. M. R. Fowler, The Solid Earth: An Introduction to Global Geophysics (Cambridge: Cambridge University Press,1998), 192.

9 Francisco J. Ayala e Bert Black, “Science and the Courts”, American Scientist 81 (1993): 230-239.

10 J. Browne, The Secular Ark (New Haven: Yale University Press, 1983), 21-23.

11 Colin Norman, “Nobelists Unite Against ‘Creation Science’”, Science 233 (1986): 935.

12 Ibid.

13 Alan Baharlou, comunicação pessoal de 1978 que ecoa o pensamento de James Hutton em 1788: “Os resultados denossa corrente indagação revelam, portanto, que não encontramos nenhum vestígio de um começo – nem a perspectiva de umfim” (Transactions of the Royal Society of Edinburgh).

14 2 Pedro 3:3-10.

15 Daryl P. Domning, “Winning Their Hearts and Minds: Who Should Speak for Evolution?” Reports of the NationalCenter for Sciences Education 29, nº 2 (2009): 30-32.

A

5. QUAL É A EVIDÊNCIA DE QUE EXISTE UM

CRIADOR? TIMOTHY G. STANDISH

maioria das pessoas concordaria que existimos e que isso significa que nós e o restante darealidade devemos ter sido causados por algo. Por milênios, as pessoas têm refletido

sobre o que poderia ser a causa de todas as coisas. Há pelo menos duas conclusõesfundamentalmente diferentes.

Os antigos epicuristas estão de acordo com os modernos darwinistas. Eles explicam que tudoé resultado do acaso e das propriedades intrínsecas da matéria. Cícero resume as crençasepicuristas da seguinte maneira:

Porque ele [Epicuro], que nos ensinou todo o resto, também nos ensinou que o mundo foifeito pela natureza, sem necessitar de um artífice para construí-lo... 1

A outra conclusão é que o mundo parece ser produto de um projeto consciente e, por isso,requer um Criador para explicar sua existência. Essa visão permeia as Escrituras e foi resumidapelo apóstolo Paulo:

Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o Seu eterno poder, como também a Suaprópria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendopercebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso,indesculpáveis. 2

Os cristãos que creem na Bíblia, como também judeus, muçulmanos, hindus e outros, creemque o claro projeto presente na natureza fornece evidências persuasivas de um Criador.

EVIDÊNCIA DE UM PROJETO E A INADEQUAÇÃO DO ACASO

Que evidências de um projeto podemos nós encontrar na criação? O fenômeno dainterdependência, que permeia a natureza, é muito persuasivo. A interdependência, na qualformas individuais se encaixam elegantemente em função de um todo maior, é encontrada emtudo, desde a maneira como o Universo foi projetado até o modo como os organismosinteragem com outros organismos, e também em seu ambiente físico. Essa interdependênciaencontrada na natureza é semelhante à interdependência encontrada em meu automóvel(projetado por engenheiros), um elegante aparelho de transporte feito de componentes queinteragem entre si e construído com materiais apropriados.

Existem boas razões pelas quais o ar e a água não são materiais usados primariamente na

fabricação de um automóvel. O que é verdade sobre os automóveis também é verdade sobre avida. Da mesma forma, ela é feita com o material correto: o elemento carbono. Já se chegou apensar que a vida poderia estar baseada em outros elementos como o silício, 3 mas umacuidadosa análise de elementos alternativos revela que o carbono tem as propriedades certaspara a vida. O carbono é feito das partículas subatômicas certas, e as forças fundamentais doUniverso têm os valores certos. O próprio Universo parece ser do tipo certo para a vida, enossa Via Láctea, o tipo certo de galáxia. Nosso Sistema Solar está na localização certa, dentroda Via Láctea, e a nossa Terra gira de maneira certa em torno do Sol, de modo que o sistemainteiro coopera para a existência da vida. 4

A força da gravidade, aparentemente corriqueira, tem impacto em múltiplos fatores, os quaiscontribuem para que a vida exista. Com uma força de gravidade mais fraca, a Terra perderiasua atmosfera, enquanto as reações nucleares do Sol deixariam de ocorrer. Por outro lado, comuma gravidade mais forte, nosso Sol “arderia” mais intensamente, emitindo radiaçõesabrasadoras antes de queimar tudo. Há mais razões para a força de gravidade ser a correta, masmuitos outros fatores também agem em conjunto para a existência de uma Terra adequada àvida: água abundante, tão única e vital como o carbono; a Lua; o eixo inclinado da Terra; ecorrentes de água bombeando o calor equatorial para regiões temperadas são alguns exemplos.Tudo isso se ajunta elegantemente para que haja vida na Terra, assim como os pistões,cilindros e outras peças de um motor se integram, resultando em carros que podem serdirigidos.

É possível postular uma história naturalista para explicar a existência de motores: os metaisfundiram-se no profundo da Terra e se juntaram de uma maneira fortuita no fundo de vulcões,dando origem aos motores. Também é possível criar uma história naturalista que explique umUniverso e uma Terra adequados à vida. Entretanto, há uma questão filosófica que precisa deresposta, antes que se possa chegar a conclusões razoáveis: Quantas coincidências devemocorrer para que algo seja atribuído a um projeto inteligente em vez de ser atrelado à sorte?Alguém que ganhe na loteria tem muita sorte, mas, quando a esposa do administrador dalotérica ganha 100 por cento das vezes, a sorte fica parecendo uma explicação bastanteforçada.

Sem o tempo, o espaço, a matéria, a energia ou qualquer outra coisa que compõe nossoUniverso, existiria o acaso? Atribuir a origem do Universo a uma loteria pode ser o equivalentea tirar um seis em um jogo de dados, sem sequer possuir um dado. Mesmo com uma naturezaem que o acaso é possível, esse mesmo acaso pode ser uma explicação insatisfatória para avida. A vida funciona com leis estabelecidas para sua existência e funcionamento. Essasmesmas leis da natureza parecem excluir a origem da vida sem que haja uma intervençãoexterna. Por exemplo, a vida está baseada em macromoléculas biológicas como proteínas eDNA, compostas de subunidades que são agrupadas pela remoção de moléculas de água. Sobcircunstâncias razoáveis, essas reações de “condensação” não ocorrem espontaneamente naágua. De fato, a radiação, os radicais livres e outros elementos se combinam com a água paraquebrar as moléculas biológicas. A única maneira pela qual a vida, que é baseada no carbono e

na água, pode subsistir é por meio da energia constantemente acumulada – especialmente a doSol – utilizando o magnífico conjunto de maquinários que desempenha a fotossíntese. A vida éum sistema que usa essa energia para continuamente refazer seus componentes. Sem umainterdependência mínima completa do maquinário molecular, a vida simplesmente nãoacontece.

O maquinário da vida exibe interdependência de belas e variadas maneiras. No metabolismoda energia, um elemento atuante central é uma máquina notável chamada ATP sintase (figura1).

Ela é composta por muitas proteínas independentes, todas encaixadas de maneira precisa.Uma parte dessa máquina molecular funciona como uma turbina, transmitindo torque atravésde uma proteína que faz o papel de “eixo de transmissão” para fazer girar um “moinho” quecombina o ADP e o fosfato para produzir ATP, uma molécula que serve como fator básico deenergia das células. Em outras palavras, o ATP sintase funciona como um moinho de vento,acumulando energia para fazer o trabalho. Quando vemos os moinhos de vento com todas assuas partes integradas, cuidadosamente engendradas para cooperar na execução de uma tarefa,imediatamente reconhecemos máquinas feitas por alguém que deseja usar leis naturais para

executar um trabalho. Sendo que é possível identificar a existência de um projeto para osmoinhos de vento, por que não reconhecer um projeto inteligente na ATP sintase e emmilhares de outras máquinas moleculares dentro das células? Até que ponto a vida “ganha naloteria” tantas vezes, mesmo sem comprar um bilhete?

Os componentes das máquinas moleculares não são o fim da interdependência nas coisasvivas. Essas próprias máquinas são interdependentes, formando sistemas subcelularesinterdependentes, dos quais um número significativo é requerido para a vida. À medida que osorganismos crescem em complexidade, há níveis posteriores de interdependência: entre tiposdiferentes de células nos tecidos, entre tecidos englobando órgãos, entre órgãos que compõemsistemas orgânicos e, finalmente, entre os próprios organismos. Sistemas como essenormalmente seriam explicados como tendo sido projetados. O darwinismo naturalista evoca aseleção natural agindo em conjunto com as mutações de DNA ocorridas ao acaso. Essa é umaexplicação que não se ajusta aos exemplos simples de interdependência. Ela é ainda maisimprovável diante da massiva interdependência encontrada na natureza.

Seria possível que toda interdependência existente na natureza pudesse realmente serproduzida em pequenas mudanças que vão se somando, sendo filtradas por meio da seleçãonatural? A diferença entre os olhos compostos dos insetos e os olhos humanos – semelhantes auma câmera fotográfica – é tão acentuada quanto a diferença entre motores a pistão e turbinasa jato. Sabemos que a transição entre esses diferentes tipos de motor requereu um brilhantesalto para que se transpusesse o abismo entre eles. Isso não aconteceu por meio de pequenasmudanças acidentais que se somaram, conforme o modelo postulado pela evolução darwinista.Por que acreditar que em relação à origem dos olhos o processo seria diferente? Em outraescala, até mesmo os organismos mais simples têm sido comparados em sua complexainterdependência a modernas aeronaves. 5 Mudar um sistema em uma aeronave geralmenteexige uma série de ajustes em outros sistemas. De outra forma, o avião vai experimentar algoparecido com a seleção natural: ele cai. 6 Os organismos são sujeitos a essa limitação.

A interdependência vai além dos organismos, que dependem de seu ambiente físico e um dooutro. Um ser humano normal e saudável é realmente um sistema ecológico contendo maiscélulas de outros organismos do que células humanas. 7 Por exemplo, nossos intestinos contêmuma flora das mais diversas bactérias. Dependemos delas para as funções apropriadas daexcreção. Além disso, numerosos outros organismos participam de grandes ciclos ecológicoscomo o ciclo do nitrogênio, 8 do qual toda vida depende para existir. Nosso mundo funcionacomo um sistema maravilhosamente coordenado que só se explica com a existência de umamente capaz de projetar seus componentes interdependentes e seus subsistemas.

Assim como o Universo parece ter sido construído, desde suas forças básicas até a estruturada Via Láctea e mais além, para que a vida existisse na Terra, a própria vida parece ter sidoprojetada desde sua estrutura básica com o fim de ser interdependente. Mas a interdependêncianão se limita apenas a necessidades frias, ásperas e mecânicas: ela também tem a ver combeleza e fascínio. Sim, a vida envolve um maquinário maravilhoso. Mais do que isso, porém, avida é bela. E a vida é assim tão bela por causa da interdependência que nela existe. Salomão

revelou um pouco da sabedoria que Deus lhe concedeu quando expressou essereconhecimento:

Há três coisas que são maravilhosas demais para mim,

sim, há quatro que não entendo:

o caminho da águia no céu,

o caminho da cobra na penha,

o caminho do navio no meio do mar

e o caminho do homem com uma donzela. 9

No que diz respeito aos humanos, Salomão maravilha-se com a maneira pela qualinteragimos uns com os outros. Não há nada mais bonito na vida do que a interdependênciaamorosa de um homem e uma mulher, da qual a humanidade depende para a renovação denossa espécie e para a provisão de sublime alegria enquanto estamos vivos.

O PROJETO INTELIGENTE E O PROBLEMA DO PECADO

Para a pessoa disposta a ver o projeto inteligente, ele está presente por toda parte. A pessoaque não está inclinada a vê-lo apega-se à explicação alternativa que soa mais razoável. Osargumentos que contrariam a ideia de um projeto normalmente afirmam o seguinte: “Deus nãoteria feito isso dessa maneira.” Esses argumentos podem evocar a imperfeição e o mal nanatureza. Até o genoma humano, com toda sua maravilha, tem sido apresentado comopropenso a falhas e, como tal, não poderia ter sido feito por Deus. John Avise destaca aquestão a seguir: “A síndrome de Lesch-Nyhan 10 dificilmente seria um tipo de resultadoconsentido por uma Deidade amorosa e todo-poderosa.” 11

A síndrome de Lesch-Nyhan é uma doença terrível que resulta de uma mutação genética. Osgenes produzem proteínas que funcionam em sistemas integrados. Quando os genes sofremmutações aleatórias, o sistema pode ser interrompido, causando uma cascata de efeitos queinterrompem outros sistemas e, finalmente, todo o organismo. A natureza age seletivamentecontra essas alterações, fazendo da seleção natural um mecanismo de conservação, não demudança. O surpreendente é que os organismos são tão bem concebidos que podem suportarincríveis interrupções e ainda funcionar, mesmo em um nível mínimo.

Entretanto, a crença em um Criador levanta profundas questões quando se contempla acriação e ali se vê a mão divina. Embora haja muita beleza para ser contemplada, o poetainglês Alfred Lord Tennyson apontou a tensão:

Para quem crê que Deus é amor,

E o amor é a lei final da criação,

A natureza, rubra nos dentes e nas garras,

Grita contra sua crença, em meio à dor. 12

Considerando que Deus criou tudo o que vemos, como poderia Ele ser um bom Criadorsendo que o mal é um fato constante na natureza, e seus ciclos parecem depender da morte edo sofrimento? O que dizer das esmagadoras evidências de morte no registro fóssil? As opçõesdisponíveis para uma pessoa questionadora vão desde a negação da bondade de Deus até anegação de Seu envolvimento com o mundo, o que na prática equivale à negação de Suaexistência.

A IMPERFEIÇÃO NÃO DISFARÇA O DESENHO

Ainda que consideremos imperfeito o projeto da natureza, isso não significa, logicamente,que não houve um projeto. O sistema de inoculação de veneno das serpentes pareceperfeitamente desenhado para matar. Nos seres humanos, as costas doloridas dão a impressãode terem sido o resultado de um projeto propenso a falhas. De fato, em nossa experiência,bombas atômicas brilhantemente desenhadas e automóveis imperfeitos são resultados de umprojeto. Nas bombas e nos carros, as intenções dos desenhistas podem ser conhecidas até certoponto, e o sucesso, convenientemente julgado. Mas, em relação ao projeto da natureza,poderemos conhecer totalmente as intenções do Projetista? Sem esse conhecimento, éimpossível julgar de maneira realista se um projeto deu certo ou deu errado.

Exceto pela existência de um Criador que é a medida de todo o bem, o que mais serviria debase para definir o que é mal na natureza? Por que não se pode argumentar, como fez Darwin,que a morte e a luta são as bigornas nas quais organismos melhores são forjados? O que oscristãos chamam de mal pode ser o mecanismo bom da criação! Este parece ter sido oelemento central da ideologia nazista. O próprio Hitler disse: “Na limitação deste espaço ondevivemos encontra-se a compulsão para a luta pela sobrevivência, e a luta pela sobrevivência,por sua vez, contém a condição prévia para a evolução.” 13 Afora Deus como um padrãoabsoluto de bondade, o que é bom torna-se relativo. Por que o darwinismo, movido pela morte,não seria bom?

Por outro lado, se a natureza imperfeita dá testemunho de um projetista, seria o Criador umser mau, como creem alguns gnósticos? A crença na bondade do Criador requer a crençatambém em uma queda. Na realidade, a criação que vemos hoje não é igual àquela que saiu dasmãos do Criador. É um vestígio decadente do que antes fora. Não fosse pela disposição doCriador de submeter-Se às duras realidades deste mundo caído, sofrendo até a morte pararedimir a humanidade e o restante da natureza, 14 os descrentes poderiam ser desculpados de

considerar a crença cristã na bondade do Deus Criador uma fé desejosamente cega. Porém,mesmo na criação caída, existem muitas evidências de que ela se originou das mãos de umCriador sábio e bom.

Sim, a criação, do jeito que a vemos hoje, está manchada com coisas que trazem sofrimento atodos os seres vivos. Mesmo assim, ainda existe imensa beleza, a qual é refletida na maneiracom que toda a natureza coopera com a manutenção da vida – o amor da mãe pelos filhos, ocálido abraço da pessoa com quem você decidiu passar o resto de sua vida e todas as demaiscoisas que trazem verdadeira alegria. Afinal, a interdependência tem a ver comrelacionamentos, e a natureza nos fala que os relacionamentos são vitais para nossa existência,além de serem bonitos de contemplar. Talvez o Criador tenha feito a natureza desta maneirapara nos ensinar alguma coisa sobre o relacionamento que Ele que ter conosco, pois somosfeitos à Sua própria imagem. 15

Isso nos leva à maior de todas as evidências favoráveis a um Deus Criador: Ele Se tornouparte da natureza e viveu entre os humanos. Sendo Deus e homem, Jesus demonstrou Seupoder sobre a natureza, ressuscitando mortos e finalmente morrendo, para depois ressuscitar.Este Deus Criador demonstra diariamente Seu poder recriador na vida de milhões de Seusseguidores que, havendo nascido de novo, são continuamente transformados em algo novo ebelo. Embora evidências menores, como o projeto presente na criação, possam fornecer umforte argumento favorável a um Criador, o próprio Criador pode ser – e quer ser – uma parteíntima da nossa experiência diária.

Timothy G. Standish cursou zoologia na Universidade Andrews. Na mesma instituição,obteve o título de mestre em biologia, pesquisando os braquiópodes. Alcançou o PhD embiologia ambiental e política pública na Universidade George Mason, desenvolvendo técnicasmoleculares para a identificação e classificação de vermes nematódeos. A interação entreciência, fé e políticas públicas é seu principal interesse. Ele atua como pesquisador doGeoscience Research Institute em Loma Linda, Califórnia.

1 M. T. Cícero, De Natura Deorum [Sobre a Natureza dos Deuses], 1º século d.C. Disponível online em

http://www.epicurus.net/en/deorum.html.

2 Romanos 1:20.

3 Para discussões sobre ideias anteriores em relação ao assunto, ver: H. G. Wells, “Another Basis for Life”, SaturdayReview (Reino Unido) (22 de dezembro de 1894): 676, 677. Reimpresso em H. G. Wells, H. G. Wells: Early Writtings inScience and Science Fiction, introdução por Robert M. Philmus (Berkeley: University of California Press, 1975), 144-147.

4 A natureza adequada do Universo é, às vezes, citada como o “argumento da sintonia fina”. Isso é, às vezes, contrapostocom o “o princípio antrópico” – não poderíamos existir para observar a sintonia fina do Universo a menos que ele estivessefinamente sintonizado para a nossa existência. Assim, a sintonia fina não é, necessariamente, uma evidência em favor de umUniverso planejado. Um livro útil sobre o assunto que vai além da argumentação típica é: G. Gonzalez e J. W. Richards, ThePrivileged Planet: How Our Place in the Cosmos Is Designed for Discovery (Washington, DC: Regnery Publishing, 2004).

5 “Hoyle on Evolution”, Nature 294 (1981): 105.

6 Para um exemplo de como um pequeno upgrade em um motor de um Boeing 737 causou um acidente e a morte de 47passageiros, ver E. J. Trimble, “Report on the Accident to Boeing 737-400 G-OBME Near Kegworth, Leicestershire, on 8January 1989”, HMSO, Londres (1990). Disponível online em http://www.aaib.gov.uk/cms_resources.cfm?file_/4-1990%20G-OBME.pdf.

7 S. R. Gill et al., “Metagenomic Analysis of the Human Distal Gut Microbiome”, Science 312 (2006): 1355-1359.

8 H. A. Zuill e T. G. Standish, “Irreductible Interdependence: An IC-like Ecological Property Potentially Illustrated by theNitrogen Cycle”, Origins 60 (2007): 6-40.

9 Provérbios 30:18, 19.

10 A síndrome de Lesch-Nyhan resulta de mutações no gene localizado no cromossomo X da hipoxantina-guaninafosforibosil transferase (HGPRT), uma enzima envolvida no metabolismo de purinas. Os sintomas incluem gota severa,retardo mental e automutilação.

11 J. Avise, Inside the Human Genome: A Case for Non-Intelligent Design (Nova York: Oxford University Press, 2010),64.

12 Alfred Lord Tennyson, In Memoriam. Esses versos se encontram no cântico 56 e parecem ser uma resposta direta aVestiges of the Natural History of Creation, publicado por Robert Chambers em 1844.

13 A. Hitler, Zweites Buch (1928). Krista Smith, tradutora, Hitler’s Second Book: The Unpublished Sequel to Mein Kampf,ed. Gerhard L. Weinberg (Nova York: Enigma Books, 2004), 2.

14 Ver Romanos 8:20, 21.

15 Gênesis 1:27.

E

6. COMO INTERPRETAR OS PRIMEIROS

CAPÍTULOS DE GÊNESIS? RANDALL W. YOUNKER

ntre os mais controvertidos capítulos da Bíblia, estão os onze primeiros capítulos deGênesis. Muitos cientistas têm argumentado que todo o Universo, incluindo o planeta

Terra e a vida que há nele, surgiu puramente por meios naturais. Deus não teria nada a ver comsuas origens. A maioria dos cientistas de hoje acredita nisso. Em contraste direto, os primeiroscapítulos de Gênesis declaram que Deus, pelo poder de Sua Palavra, criou tudo: o Sol, a Lua,as estrelas, este planeta e a vida que nele há.

O principal desafio ao argumento de Gênesis resulta do estudo científico da natureza, à qualos crentes se referem como “o segundo livro de Deus”. Ao estudarem a Terra, particularmentepor meio da geologia e da paleontologia, os cientistas modernos observaram fenômenossegundo os quais as camadas da crosta terrestre, na interpretação deles, precisaram de milhõesde anos para serem formadas. Os cientistas também notaram uma sequência de fósseis nacoluna geológica. Segundo eles, isso sugere um padrão de mudanças ou evolução, partindo deformas simples de vida para formas mais complexas e modernas. Além disso, ao estudaremcertos elementos radioativos no estrato geológico, os cientistas viram que as rochas que estãomais abaixo parecem ser muito antigas, datando de algumas centenas de milhões de anos. Ascamadas mais acima mostram gradualmente menos idade. (Deve-se ter em mente que amaioria dos cientistas trabalha dentro de uma cosmovisão que rejeita a ideia de Deus a priori,antes de chegar a qualquer conclusão. Assim, a explicação para todos os fenômenosencontrados é interpretada dentro de uma filosofia puramente naturalista.)

Juntando todas essas observações – o grande número de estratos espessos, sequências fósseise datação radiométrica –, os cientistas concluíram que a Terra e a vida que há nela levarammilhões de anos para se formar. Essa conclusão amplamente aceita contradiz o entendimentocomum do relato bíblico sobre as origens: Deus criou a vida no mundo pelo poder de SuaPalavra em seis dias literais, poucos milhares de anos atrás.

A INFLUÊNCIA DE CONCEITOS CIENTÍFICOS MODERNOS SOBRE ERUDITOS

BÍBLICOS

Desde o século 19, muitos eruditos bíblicos têm sido fortemente influenciados pelasdescobertas da ciência nas áreas da geologia e paleontologia como também pela filosofia

naturalista, passando a compreender o mundo de uma maneira em que Deus foi removido.Esses eruditos concluíram que a Bíblia também deveria ser vista através de uma lentenaturalista. Assim, desconsiderando a descrição das próprias Escrituras quanto ao processo derevelação/inspiração, eles não a estudam como um livro de origem divina. Em vez disso, elesconsideram a Bíblia como um livro de origem puramente humana. Consequentemente, a Bíbliaé vista ou entendida como não confiável, uma vez que os humanos podem claramente cometererros. Para esses eruditos, o fato de a Bíblia ter sido composta na antiguidade, antes do adventoda ciência moderna, torna ainda mais provável que a descrição bíblica das origens seja errônea.A partir desse entendime-to crítico da Bíblia, os críticos bíblico-históricos propuseram umprocesso alternativo pelo qual a Bíblia teria sido originada. Esse processo alternati-vo nega aorigem sobrenatural da Bíblia, um conceito encontrado no próprio texto sagrado, e o substituipela ideia de que as Escrituras são o resultado de um processo natural e humano.

No caso de Gênesis, os eruditos sugerem que o livro não foi escrito por Moisés, mediante ainspiração divina, em algum ponto antes de 1450 a.C. Em vez disso, o livro de Gênesis teriasido escrito e editado por vários autores anônimos (frequentemente citados como J, E e P) e“redatores” durante um período de vários séculos, entre 1100 e 450 a.C. Os eruditos quepromovem essa visão, frequentemente chamados de “histórico-críticos”, têm apresentadovárias linhas de evidência para suas reconstruções de Gênesis. Eles apontam fenômenos notexto de Gênesis como problemas de dualidade na tradução, contradições e anacronismos,tentando mostrar o modo complexo e diacrônico pelo qual o Gênesis foi composto. Aidentificação desses alegados problemas no texto os levou a sugerir, por exemplo, que Gênesis1 e 2 apresentam relatos da criação contraditórios escritos em momentos diferentes e parapropósitos diferentes.

Sua rejeição da manifestação do sobrenatural no mundo também tem levado esses críticos arejeitar qualquer alegação sobrenatural ou milagrosa na Bíblia, como a ideia de que Deus pôdecriar a Terra e suas formas de vida, no período de apenas seis dias, tão somente com Sua fala.Os críticos preferem aceitar as conclusões prestigiadas pela grande maioria dos cientistascontemporâneos, ou seja, que a Terra e suas formas de vida passaram a existir puramenteatravés de um processo natural ao longo de milhões de anos. Também é rejeitada a ideia de quetoda a superfície da Terra, do jeito que a conhecemos, foi destruída por um dilúviodivinamente iniciado. Para eles, não houve nenhuma catástrofe global. E, se houve algumdilúvio, foi de natureza local.

Os críticos bíblicos também argumentam que a narrativa da criação em Gênesis está repletade ideias ingênuas, o que prova que o relato não pode ser historicamente verdadeiro nemcientificamente plausível. Por exemplo, eles alegam que os hebreus tinham uma cosmologiaingênua – uma compreensão não científica da estrutura do Universo. Juntando vários textosbíblicos diferentes, e presumindo algumas coisas sobre o pensamento dos povos vizinhos doantigo Oriente Próximo, os críticos bíblicos reconstruíram aquilo que eles acham que oshebreus teriam realmente acreditado sobre a natureza do Universo. Nesse cosmos hebreureconstruído, o céu era visto como uma espécie de tigela oca, metálica, virada de cabeça para

baixo e flutuando sobre uma Terra plana, com o Sol, a Lua e as estrelas fixados no ladoinferior da grande tigela, onde podiam ser vistos pelos humanos durante a noite. Também seacreditava que aquela abóboda tinha portões que permitiam um ocasional fluxo de água (achuva), proveniente das águas que estavam acima dos céus. Os críticos ainda presumem que osantigos hebreus também criam na existência de vastos mares subterrâneos e em um infernoliteral.

RESPOSTA À ARGUMENTAÇÃO DOS CRÍTICOS

Todos os argumentos histórico-críticos em favor da origem não inspirada de Gênesis têmsido, um por um, analisados por eruditos bíblicos que rejeitam o método histórico-crítico. Porexemplo, um estudo cuidadoso da palavra hebraica “dia” (yom) no relato da criação mostra queela não significa um período indefinido de tempo, mas um dia literal de 24 horas, tal comoconhecemos hoje. 1 Assim, a Bíblia de fato declara que Deus criou o mundo em seis dias e, nosétimo dia, descansou. Igualmente, uma análise do termo hebraico para dilúvio (mabbul)mostra que essa é uma palavra única para uma catástrofe global com água que leva àdestruição literal de todo o mundo, em um processo reverso à obra que Deus fizera durante asemana da criação. 2 Quanto à ideia de que os hebreus tinham uma visão ingênua do cosmos,estudos recentes da palavra hebraica para firmamento (raqia) mostram que ela não significauma tigela de metal virada de cabeça para baixo. 3 De fato, uma revisão da história doacademicismo crítico-bíblico mostra que os eruditos do século 19 foram os inventores dacrença de que os povos antigos (os hebreus e outros) conceberam a ideia de uma Terra planacom um céu na forma de abóboda. 4

Outros desafios concernentes à unidade e antiguidade do relato da criação/dilúvio tambémtêm sido abordados. Por exemplo, a presença de duplicações (como dois nomes diferentes paraDeus [elohim e Yahweh] 5 e a narrativa da história da criação por duas vezes em Gênesis 1 e 2)tem sido demonstrada como uma técnica de narração comum na literatura do antigo OrientePróximo. Esse fato não reflete, necessariamente, a existência de mais de um autor. 6

Vamos considerar outra aparente contradição que tem sido explicada de modo convincente:as plantas, por exemplo, foram criadas no quarto dia da criação (Gênesis 1) ou foramacrescentadas somente depois de terminada a semana da criação (Gênesis 2)? No exemplomencionado, as palavras hebraicas para plantas, no capítulo 1, são diferentes das palavrasusadas no capítulo 2. 7 As plantas criadas no quarto dia, mencionadas no capítulo 1, são asárvores frutíferas adequadas para a alimentação. Em contraste, as plantas encontradas nocapítulo 2 incluem espinhos e cardos, ou certas plantas semelhantes ao capim, que requeremum trabalho considerável na agricultura. O contexto do capítulo 2 mostra claramente que essesegundo grupo de plantas surgiu como resultado do pecado.

De fato, tem sido demonstrado que o aparente anacronismo de Gênesis não vem a ser, emmuitos casos, um anacronismo real. Esse é o caso, por exemplo, do aparecimento de tendas ecamelos no segundo milênio a.C. O Dr. Kenneth Kitch, renomado egiptólogo e erudito,

demonstrou que as tendas eram comuns no antigo Oriente Próximo do segundo milênio,exatamente como a descrição da Bíblia. 8 Igualmente, a presença de camelos antes do períodode Davi também tem sido bem documentada em tempos recentes. 9 Tive o privilégio decontribuir para essa conclusão com a descoberta de um antigo petroglifo (gravação em pedra)de um homem conduzindo um camelo com uma corda, no contexto da Idade do Bronze(período anterior a 1400 a.C.), ao norte da locação tradicional do Monte Sinai (Wadi Nasib).

CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS SIGNIFICATIVAS DE GÊNESIS

Algumas das características literárias de Gênesis, como a estrutura de Gênesis 1-11, são maistípicas do segundo milênio antes da era cristã, o que sugere que boa parte de Gênesis refletetempos mais antigos. Por exemplo, existem várias “histórias primevas” do segundo milênio,como a do “Épico de Atrahasis” acadiano e o “Gênesis de Eridu” sumeriano, com as quaisGênesis 1-11 tem muito em comum. Entre essas afinidades está uma clara organização porpartes. Os três relatos antigos contêm três seções: uma história da criação, o surgimento de umproblema e um juízo pelo dilúvio.

Embora culturas mesopotâmicas antigas tenham mais tarde produzido histórias do dilúvio(como o Épico de Gilgamesh) e da criação (como o Enuma Elish), essas versões posterioresnão eram mais histórias primevas “completas”, contendo todos os três elementos: criação,problema e dilúvio. 10 O fato de que os três existem em Gênesis seria um indicador de queGênesis foi composto no mesmo período que seus correspondentes mesopotâmicos, ou seja,durante o segundo milênio. Isso se encaixa com a visão bíblica de que Moisés escreveu o livrode Gênesis algum tempo antes de 1400 a.C. É claro que a versão de Gênesis ésignificativamente diferente das correspondentes mesopotâmicas. Com efeito, vários eruditosnotaram que o autor de Gênesis estava deliberadamente desafiando a versão mesopotâmica,sendo “polêmico”. 11 Ou seja, o autor de Gênesis estava discordando do relato mesopotâmicoda criação e dando a versão correta de como as coisas passaram a existir.

Vale a pena notar que algumas das características literárias de Gênesis 1-11 sugerem que oautor pretendeu fornecer uma narrativa histórica do passado remoto da Terra e nãosimplesmente uma declaração teológica ou uma descrição literária não literal da criação talcomo um poema, uma saga, um mito, etc. Por exemplo, a unidade da narrativa de Gênesis 1-11continua pelo resto do livro e, na verdade, avança pelo relato de Êxodo. Juntos, esses livroscontam uma história contínua desde a criação, passando por Abraão, José, a ida para o Egito eo Êxodo. De fato, a história da criação relatada em Gênesis 1-11 tem sido identificada pormuitos eruditos como um prólogo para o resto do Pentateuco. Em segundo lugar, há certaforma verbal hebraica – o waw consecutivo – que é bastante usada em narrativas históricas(como as encontradas nos livros de Crônicas e Reis). O waw consecutivo também é encontradono relato da criação, sugerindo um propósito histórico para a narrativa. Uma terceiracaracterística literária aponta claramente para a característica histórica desses capítulos: oaparecimento da fórmula toledoth, normalmente traduzida como “estas são as gerações de...”.

Finalmente, muitos elementos do antigo Oriente Próximo paralelos de histórias primevaspodem ser demonstrados como históricos. 12

SUMÁRIO

Juntas, essas evidências sugerem que permanece bastante razoável concluir que: (1) oGênesis é, de fato, uma obra literária antiga, produto do segundo milênio anterior à era cristã;(2) o texto foi composto na forma de um relato unificado, embora possa ter havido mais tardealgum trabalho editorial de menor importância; e (3) a intenção dos autores era que o textofosse entendido como um relato autêntico das origens da Terra, no qual o mundo foi criado emseis dias e destruído mais tarde por um dilúvio global.

Randall W. Younker é bacharel e mestre em religião e biologia pelo Pacific UnionCollege. Cursou outro mestrado e também um PhD em arqueologia do Oriente Próximo pelaUniversidade do Arizona. Ele atua como professor de Antigo Testamento e ArqueologiaBíblica no Seminário Adventista do Sétimo Dia da Universidade Andrews. Também é diretordo Instituto de Arqueologia e do Museu Siegfried Horn. Tem dirigido várias sériesinterdisciplinares de pesquisas arqueológicas de campo em Israel e na Jordânia e é umdepositário das Escolas Americanas de Pesquisa Oriental. Ele coeditou sete livros e publicouinúmeros artigos acadêmicos.

1 Ver Gerhard F. Hasel, “The ‘Days’ of Creation in Genesis 1: Literal ‘Days’ or Figurative ‘Periods/Epochs’ of Time?”

Origins 21, nº 1 (1994): 5-38. Hasel mostra que o termo hebraico significa claramente dia literal em Gênesis 1.

2 Ver Kenneth A. Mathews, The New American Commentary: Genesis 1–11:26 (Nashville: Broadman and Holman, 1996),365, 366, onde ele argumenta que o autor usa o termo mabbul para se referir a um cataclismo de alcance mundial.

3 Ver Robert C. Newman, The Biblical Firmament: Vault or Vapor? (Hatfield, PA: Interdisciplinary Biblical ResearchInstitute, 2000). A posição de Newman é apoiada por comentaristas como Mathews (150).

4 Jeffrey Burton Russell, Inventing the Flat Earth (Westport, CT: Praeger, 1991). Para uma discussão exaustiva sobre oque os antigos desde o tempo de Cristo pensavam sobre os céus, ver Edward Grant, Planets, Stars, and Orbs: The MedievalCosmos, 1200-1687 (Cambridge: Cambridge University Press, 1994).

5 Ver Kenneth A. Kitchen, Ancient Orient and Old Testament (Downers Grove, IL: InterVarsity, 1966), 121-123, onde elefornece vários exemplos do Egito e Mesopotâmia.

6 Ver Isaac M. Kikawada, “The Double Creation of Mankind in Enki and Ninmah, Atrahasis I 1-351, and Genesis 1-2”,Iraq 45 (1983): 43-45; e Duane Garret, Rethinking Genesis: The Sources and Autorship of the First Book of the Pentateuch

(Grand Rapids, MI: Baker, 1991), 21-25.

7 Ver Umberto Cassuto, A Commentary on the Book of Genesis (Jerusalém: Magnes Press, 1964), especialmente suadiscussão sobre as plantas em Gênesis 1 e 2.

8 Kitchen, The Bible in Its World: The Bible and Archaeology Today (Downers Grove, IL: InterVarsity, 1977), 58, 59. Vertambém James Hoffmeier, “Tents in Egypt and Ancient Near East”, JSSEA 7, nº 3 (1977): 13-28, e Robert C. Newman (2000).

9 Kitchen, On the Reliability of the Old Testament (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2003), 338-339.

10 Ver Kitchen (1977), 31-36 e (2003), 422-427 para uma discussão mais ampla.

11 Hasel, “The Polemic Nature of the Genesis Cosmology”, Evangelical Quarterly 46 (1974): 81-102.

12 Para uma discussão da historicidade das narrativas de Gênesis, ver Raymond B. Dillard e Tremper Longman III, AnIntroduction to the Old Testament (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1994), 49, 50; ver, de novo, Kitchen (2003), 422-427, oqual discute os aspectos históricos dos relatos mais antigos de Gênesis em seus contextos literários do Oriente Próximo.

P

7. QUAIS SÃO AS IMPLICAÇÕES DA TEORIA DO

BIG BANG? MART DE GROOT

“Se entendi bem o que o senhor falou”, disse o aluno depois que o professor explicou ateoria do Big Bang sobre o Universo, “primeiro havia o nada e, então, o nada explodiu.” 1

oucos séculos atrás, os pesquisadores das ciências naturais viam em seu objeto de estudo aobra de um Deus poderoso e soberano, cuja ação poderia ser invocada quando a ciência era

incapaz de fornecer respostas. Uma vez que os avanços da ciência deram respostas para muitasdas perguntas anteriormente não respondidas, sem que fosse preciso apelar para Deus, oscientistas começaram a acreditar que finalmente eram capazes de responder a todas asperguntas através da aplicação correta dos métodos naturalistas e do raciocínio. O Big Bangcomo teoria da origem, desenvolvimento e estruturação de nosso Universo 2 é o resultado dosesforços da ciência em direção a essa meta.

As disciplinas científicas com enfoque na natureza, na Terra e na vida estão baseadas noestudo da matéria em todas as suas formas. A teoria do Big Bang alega fornecer umaexplicação para a origem de toda matéria. Como resultado, a cosmologia do Big Bang setornou um envelope em que cabe tudo, fornecendo uma estrutura não apenas para o estudo doUniverso físico como de todas as disciplinas da ciência natural. No entanto, o Big Bang é maisque uma cosmologia. É também uma filosofia baseada em uma cosmovisão naturalista. 3

A TEORIA E SEUS PROBLEMAS

A teoria do Big Bang sobre a origem e o subsequente desenvolvimento do Universo tevesuas origens nos anos 1920 e 1930, quando o astrônomo norte-americano Edwin Hubbledescobriu o assim chamado redshift (desvio para o vermelho). O fenômeno refere-se a umdesvio na direção do limite vermelho do espectro causado pela luz que vem de galáxiasdistantes. 4 Hubble interpretou isso como uma evidência de que todas as galáxias estão semovendo para longe da Terra. A interpretação mais simples é que o Universo antigo deve tersido muito menor um dia e, agora, está se expandindo em alta velocidade. Essa interpretaçãodo redshift é um dos pilares mais fortes da teoria do Big Bang. Outras interpretações sãopossíveis, embora um tanto especulativas.

A Radiação Cósmica de Fundo (RCF) é outro pilar da teoria do Big Bang. A RCF refere-se a

uma fraca radiação em micro-ondas que preenche o Universo, estendendo-se virtualmente domesmo modo em todas as direções. Considera-se que essa radiação foi emitida cerca de370.000 anos após o Big Bang, quando a radiação se desvinculou da matéria. As galáxias doGrupo Local (da qual a nossa Via Láctea é membro) estão se movendo a uma velocidade de600 quilômetros por segundo em relação à RCF. Este fato não se coaduna com a isotropiaobservada na RCF 5 (isto é, a radiação tem o mesmo valor quando medida em direçõesdiferentes). Isso pode ser causado por um “ímã” gravitacional superforte que ainda não foiidentificado satisfatoriamente.

O terceiro pilar da teoria reside na abundância de elementos químicos, especialmente naproporção do hidrogênio para o hélio (H/He). Esses elementos combinam muito bem noscálculos teóricos. Entretanto, esses cálculos dependem de parâmetros como a proporção defótons em relação aos bárions (isto é, unidades de energia luminosa e unidades de matériacomo os átomos). Uma vez que esses parâmetros não podem ser medidos com precisão, elesentram nas equações como parâmetros livres, que são variáveis usadas para definirsuficientemente bem uma teoria e, então, fazer-se uma previsão. Nossa incapacidade deverificar os valores dessas variáveis por meio de observações significa que elas estão sujeitas aum alto grau de incerteza.

PROBLEMAS DESCONCERTANTES

Nos últimos trinta anos, vários outros problemas intrigantes quanto à teoria do Big Bangvieram à tona. A isotropia da RCF implica que a matéria e a energia são distribuídasequitativamente no Universo. Isso torna difícil explicar como as galáxias se formam: elassurgiriam pelo agrupamento de estrelas ou as estrelas é que se formam no interior das galáxiasjá existentes?

Uma segunda dificuldade está no problema do “horizonte”. A isotropia da RCF sugere quediferentes partes do Universo têm a mesma temperatura e densidade energética, emboraestejam demasiado distantes para que a radiação oriunda dessas partes alcance umas às outrasdentro do tempo de existência que se atribui ao Universo.

Outra questão é o problema da “planura”. Isso tem a ver com o excepcional ajuste dadensidade de massa do Universo. Um ajuste ligeiramente imperfeito poderia significar que oUniverso poderia ter se desintegrado muito tempo atrás (caso a densidade da matéria fossemuito alta) ou, então, teria se dispersado rápido demais para que as estrelas fossem formadas(caso a densidade da matéria fosse muito baixa). Estima-se 6 um ajuste fino que requer umaprecisão de cerca de 1 a 1055, o que levanta a questão de como explicar esta extraordináriacoincidência necessária para que exista a vida humana.

Para resolver esses problemas, Alan Guth propôs o conceito de “inflação”. 7 Nasextremamente altas temperaturas do mais antigo Universo, a gravidade seria uma forçarepulsiva que faria o Universo se expandir por uma fração de segundos a velocidades muitomaiores que a da luz. A inflação resolve o problema da formação de galáxias, o problema do

horizonte e o problema da planura.

Mas ainda restam alguns problemas. O mais importante e intrigante deles é que a inflaçãoprevê uma densidade de energia que está exatamente no nível crítico entre a expansão eterna ea desintegração prematura. Tal expansão do Universo é governada pela densidade de suamassa. Observações demonstram que a quantidade de matéria detectável no Universocorresponde a menos de 10 por cento da quantidade requerida por um Universo “plano”. 8

Esse é o problema da matéria perdida ou “escura”. A resposta preferida para esta questão é quegrande parte da massa do Universo é constituída por uma exótica “matéria escura” que nãoconsiste de prótons nem de nêutrons (matéria não bariônica). Há diversas ideias sobre anatureza dessa matéria, mas nenhuma parece fornecer uma resposta satisfatória.

A gravidade reduzirá a velocidade de expansão do Universo, mas observações demonstramque, a uma grande distância, essa velocidade está diminuindo menos do que o esperado. Aforça que faz diminuir a velocidade é descrita como a constante cosmológica Λ (lambda). Elaequivale a uma densidade uniforme de energia que exerce uma força repulsiva. A física departículas não tem explicação para Λ, mas tem-se calculado a medida da força necessária paraexplicar o chamado vácuo de densidade de energia que, imagina-se, está presente no Universo.Esses cálculos indicam que a força repulsiva deve ser cerca de 10120 vezes maior do que oefeito observado na razão de diminuição da velocidade. Essa enorme disparidade entre oscálculos da força requerida e o efeito observado levou o ganhador do prêmio Nobel StevenWinberg a gracejar: “Este deve ser o pior fracasso de uma estimativa de ordem de magnitudena história da ciência.” 9

Além de seus problemas científicos, a teoria do Big Bang também traz problemas de naturezafilosófica. Como todas as teorias físicas, a teoria do Big Bang repousa em um número deconjecturas que devem ser feitas a fim de se obter uma estrutura explicativa para observações.O Princípio Cosmológico (PC) declara que, em escala suficientemente grande, todos osobservadores, onde quer que estejam localizados no Universo, veem as mesmas característicasque nós vemos. O PC tem sido postulado para fornecer a estrutura explicativa requerida. Eleinclui a tese de que as leis da física, como as conhecemos a partir dos nossos estudos terrestres,são igualmente válidas em cada localização do Universo. Embora essa conjectura possa serfeita para qualquer estudo em física extraterrestre, não existe razão lógica pela qual ela devaser verdadeira.

COINCIDÊNCIAS NOTÁVEIS

Além do aparente ajuste fino requerido para resolver o problema da planura, existemcentenas de exemplos em que quantidades físicas e outras condições da natureza estãofinamente ajustadas, de maneira que a vida, tal como a conhecemos, possa existir. 10 Isso podeser visto como um forte indicador da existência de um projetista inteligente interessado empovoar a Terra com seres humanos.

Além disso, a localização da Terra no cosmos fornece a melhor plataforma possível para se

descobrir as características do Universo. 11 Em outras palavras, é ideal para se praticarcosmologia. Passagens bíblicas como Salmo 19:1 (“Os céus proclamam a glória de Deus e ofirmamento anuncia a obra de Suas mãos”) e Isaías 40:26 (“Levantai ao alto os olhos e vede.Quem criou estas coisas? Aquele que faz sair o Seu exército de estrelas, todas bem contadas, asquais Ele chama pelo nome; por ser Ele grande em força e forte em poder, nem uma só vem afaltar”) levam os cristãos a pensar em Deus como o Criador que Se revela através da obra deSuas mãos de modo que possamos conhecê-Lo e amá-Lo. E, naturalmente, o princípio doespaço, do tempo e de tudo aquilo para que o Big Bang aponta não pode deixar de trazerGênesis 1:1 à mente. Note, porém, que a expressão “no princípio” não nos dá uma informaçãocronológica precisa, mas aponta para um período de tempo anterior à semana da criação, a qualocorreu cerca de seis mil anos atrás. 12

IMPLICAÇÕES

A isotropia do Universo poderia ser considerada uma evidência de que a Terra está no centro,ou muito perto do centro, de um Universo esfericamente simétrico. Uma vez que essa ideiapode apontar na direção de um Deus que tem um propósito especial para Suas criaturas, 13 elaé um anátema científico. O Princípio Cosmológico (PC) evita essa conclusão e coloca a Terraem uma localização geral e aleatória dentro do Universo. Entretanto, existem argumentosteóricos que analisam por que o PC pode não ser válido nas regiões exteriores ainda nãoobservadas do Universo. 14 Se as observações comprovassem que isso é verdade, então acosmologia do Universo remoto, amplamente aceita, já não seria uma ciência e degeneraria emespeculação. Para o cristão, isso não é de fato um problema. Por exemplo, Deus poderia acharapropriado isolar nossa parte do Universo do restante da criação por causa da presença dopecado.

Claus Eisbart faz esta perspicaz declaração: “A ciência, afinal, consiste de atividadeshumanas, e podemos descrever essas atividades como científicas por causa de seus objetivos eda maneira como os objetivos são perseguidos [...]. Neste sentido, a cosmologia claramente seconstitui em uma ciência. Mas não faria sentido considerar a cosmologia como ciência se elatentar perseguir objetivos que, obviamente, não podem ser alcançados.” 15

Um bom exemplo dessa situação é a introdução da ideia de um “multiverso”, a supostaexistência de uma enorme coleção de universos diferentes, cada um com suas própriascaracterísticas. Se essas características resultassem de circunstâncias aleatórias, não seriaimpossível que nosso Universo fosse adequado para a vida. Isso é o que forma o PrincípioAntrópico, 16 que, de modo geral, diz que as propriedades do Universo devem ser tais que avida possa existir nele. Se não fosse assim, não estaríamos aqui falando sobre ele.

Enquanto escrevo sobre isso, está havendo uma considerável discussão em círculosadventistas sobre a ordem e a estrutura de tempo dos atos criadores de Deus. Um cenárioparticularmente popular entre os cristãos evangélicos é o da evolução teísta: Deus teria dirigidoo progresso da evolução desde o simples até o complexo, atuando para que dificuldades como

a origem da matéria e da vida fossem superadas. Edward Zinke deu uma clara exposiçãoteológica sobre como a evolução teísta pinta um quadro de Deus em desacordo com adescrição bíblica de Seus atributos. 17

Richard Davidson 18 nos apresenta uma discussão curta, mas direta, em que, entre outroscenários, ele resume a visão tradicional adventista sobre as origens, a partir do estado inicialdisforme e vazio da Terra. Ele argumenta da seguinte maneira: (1) Deus está presente antes detoda a criação; (2) existe um início absoluto do tempo no que diz respeito a este mundo e àsesferas celestiais que o rodeiam; (3) Deus cria os céus e a Terra, mas eles são inicialmente“sem forma” e “vazios”; (4) no primeiro dia da semana de sete dias da criação, Deus começa aformar e a preencher; (5) Deus realiza Sua obra em seis dias sucessivos, literais e de 24 horas;e (6) Deus descansa no sétimo dia, o abençoa e o santifica como um memorial da criação.

CONCLUSÃO

A ciência naturalista opera dentro de um paradigma que declara simplesmente: “Tudo o quesempre existiu, existe e existirá são a massa, o tempo, a energia e o movimento.” Esseparadigma está arraigado em uma cosmovisão naturalista na qual Deus é excluído desde oprincípio. Como resultado, as tentativas de entender os aspectos obviamente não materiais davida neste planeta – amor e ódio, alegria e tristeza, consciência, beleza, etc. – em termospuramente científicos estão condenadas ao fracasso. As questões mais profundas da vidatampouco são abordadas. Isso não tem evitado que os cientistas naturais tentem entendê-las emtermos puramente naturalistas, 19 mas essas explicações, se é que assim devemos chamá-las,são frequentemente desprovidas de princípios fundamentais válidos, sendo por isso mesmoinaceitáveis.

O filósofo Bertrand Russell declarou: “Aquilo que a ciência não pode dizer a humanidadenão pode saber.” 20 Alegra-me saber que Deus nos fala sobre muitos aspectos do Universo queestão além do alcance da ciência naturalista. O destacado cosmologista George Ellis escreveu:“Somos incapazes de obter um modelo de Universo sem algumas conjecturas específicas, asquais são totalmente impossíveis de verificar.” 21 De fato, essa é uma confissãoimpressionante!

Mart de Groot estudou astronomia na Universidade de Utrecht, Holanda, obtendo o títulode doutor em 1969. Trabalhou no Observatório Europeu do Sul do Chile (1970-1976) e,posteriormente, foi diretor e associado sênior de pesquisa (1994-2000) do ObservatórioArmagh, na Irlanda do Norte. Também possui um doutorado honoris causa em ciência,conferido pela Universidade Andrews, Michigan. Ele ingressou no ministério adventista em1997. Hoje, parcialmente aposentado, atua como pastor de uma Igreja Adventista do SétimoDia na Irlanda do Norte. Publicou muitos artigos sobre pesquisas astronômicas, editou alguns

livros, escreveu vários artigos para revistas da igreja e apresenta palestras regularmentesobre ciência e religião.

1 J. van Os, Reader’s Digest, fevereiro de 1992: 92.

2 Utilizo a palavra “Universo” (com inicial maiúscula) com o significado de Universo físico, extraterrestre.

3 Ver o capítulo 1 deste livro para mais informações sobre cosmovisão.

4 A distância de uma galáxia é estimada pela quantidade de mudanças na luz.

5 M. S. Turner e A. Tyson, “Cosmology at the Millennium”, Reviews of Modern Physics 71 (1999): S145; T. R. Lauer e M.Postman, “The Motion of the Local Group”, Astrophysical Journal 425 (1994): 418.

6 J. V. Narlikar, “Did the Universe Originate in a Big Bang?”, em Cosmic Perspectives, ed. S. K. Biswas (Cambridge:Cambridge University Press, 1989).

7 A. Guth, The Inflationary Universe: The Quest for a New Theory of Cosmic Origins (Nova York: Perseus, 1997).

8 P. Coles, “The End of the Model Universe”, Nature 393 (1998): 741.

9 S. Weinberg, Dreams of a Final Theory (Nova York: Pantheon, 1992).

10 Hugh Ross, The Creator and the Cosmos (Colorado Springs: NavPress, 2001).

11 G. Gonzales e J. W. Richards, The Privileged Planet (Washington, DC: Regnery, 2004).

12 R. M. Davidson, “In the Beginning: How to Interpret Genesis 1”, Dialogue 6, nº 3 (1994): 9.

13 Ellen G. White, O Grande Conflito (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-Rom]), 677.

14 C. Eisbart, “Can We Justifiably Assume the Cosmological Principle in Order to Break Model Underdetermination inCosmology?”, Journal for General Philosophy of Science 40, nº 2 (2009): 175.

15 Ibid.

16 J. D. Barrow e F. J. Tipler, The Anthropic Cosmological Principle (Londres: Oxford University Press), 1988).

17 E. Edward Zinke, “Theistic Evolution: Implications for the Role of Creation in Seventh-day Adventist Theology”, emCreation, Catastrophe, and Calvary, ed. John Baldwin (Hagerstown, MD: Review and Herald, 2000): 159.

18 Davidson.

19 R. Dawkins, Deus, um Delírio (São Paulo: Companhia das Letras, 2007).

20 B. Russell, Religion and Science (Londres: Oxford University Press, 1961), 235; ver tambémhttp://cantseetheforest.org/2006/09/28/quotations-from-bertrand-russel/.

21 G. F. R. Ellis, “Comology and Verifiability”, Quarterly Journal of the Royal Astronomical Society 16 (1975): 245, 246.

A

8. QUANDO ACONTECEU A CRIAÇÃO? PAUL GIEM

lguns cristãos conservadores sustentam que a Terra tem aproximadamente seis mil anosde existência. Grande parte da comunidade científica, por outro lado, insiste que os

vertebrados apareceram há cerca de 500 milhões de anos. Para eles, a história da própria Terraremonta a uns 4,6 bilhões de anos. Se alguém está certo, quem tem razão? Isso realmente temimportância? Neste capítulo, faremos algumas observações preliminares e, então,examinaremos diferentes modelos da criação, bem como as evidências bíblicas, teológicas ecientíficas relevantes para esses modelos. Finalmente, consideraremos as implicações denossas escolhas do modelo para propor quando se deu a criação. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Antes de abordar a pergunta que serve de título para este capítulo, devemos responder a umapergunta anterior: “A criação aconteceu mesmo?” Parto do pressuposto de que a resposta éafirmativa. A natureza não criou a si mesma. As razões para essa resposta podem serencontradas em livros como Signature in the Cell [A Assinatura na Célula], de Steve Meyer; 1

The Edge of Evolution [O Limite da Evolução], de Michael Behe; 2 e A Ciência DescobreDeus, de Ariel Roth. 3 Sobre este assunto em particular, pode-se ler The Privileged Planet [OPlaneta Privilegiado], de Guillermo Gonzales e Jay Richards. 4 É importante que se leiatambém o capítulo de Timothy Standish neste volume. 5 Se aceitarmos o conceito de que Deusefetivamente criou o Universo e a vida, e que os resultados dessa criação podem serpercebidos, então podemos afirmar certos corolários importantes:

1. O ateísmo não é uma alternativa válida para a cosmovisão bíblico-cristã.

2. Não se pode confiar cegamente no consenso científico, especialmente quando essaconfiança traz consequências teológicas. O consenso tem se equivocado quanto ao projetointeligente. É razoável perguntar se não poderia também estar equivocado em outros assuntosrelacionados.

3. Devemos examinar os dados que estão ao nosso alcance se quisermos chegar à verdade.

4. Tentar explicar a história natural em sua totalidade sem reconhecer o fator sobrenatural éum esforço sem valor.

5. O testemunho de indivíduos confiáveis é mais importante do que o raciocínio científicopara determinar a realidade histórica.

6. O raciocínio teológico, baseado na Bíblia, torna-se tão importante quanto o raciocíniocientífico para estabelecer os fatos históricos (e torna-se indispensável para identificar ateologia correta).

Essa última afirmação poderia surpreender alguns leitores, mas, se pararmos para pensar,prever o que Deus faria em uma situação específica pertence mais ao campo da teologia do queao da ciência.

POSSÍVEIS OPÇÕES

Com um pano de fundo conceitual, estamos agora em condições de considerar a pergunta:“Quando aconteceu a criação?” É importante que analisemos algumas opções. Por enquanto,não vamos nos referir à criação do Universo nem à do Sistema Solar. Aqui, a perguntateológica mais importante é: “Quando ocorreu a criação da vida?” Algumas respostas possíveissão:

A. A vida surgiu como resultado de condições muito precisas presentes no início doUniverso ou, então, o Universo possuía informações físicas inerentes que favoreceram oeventual aparecimento da vida. Desta maneira, sem transgredir nenhuma lei física, a vida teriasurgido de maneira espontânea há aproximadamente 3,8 bilhões de anos, continuando a sedesenvolver até agora. A criação foi concluída durante o Big Bang ou quando se originou oUniverso, mas os organismos vivos apareceram há apenas uns poucos milhões de anos.

B. Deus interveio dando origem à vida há aproximadamente 3,8 bilhões de anos, voltando aintervir outras vezes ao longo do tempo, inclusive durante o que se conhece como a ExplosãoCambriana (caracterizada pelo aparecimento de organismos singulares, já extintos, observadosno registro fóssil). Durante o período transcorrido entre as sucessivas intervenções de Deus, anatureza funcionou segundo as leis naturais regulares.

C. A vida surgiu há aproximadamente 3,8 bilhões de anos, sendo que Deus vem dirigindo umprocesso segundo o qual os organismos vivos foram adquirindo uma complexidade cada vezmaior ao longo do tempo. Durante longo período, ocorreram alguns milagres que deixaramevidências, assim como muitos outros que desconhecemos. A evolução é, em realidade, umprocesso guiado e controlado, contrariamente ao que se apresenta na maioria dos livrosescolares.

D. A vida surgiu faz aproximadamente 3,8 bilhões de anos, mas a intervenção que deuorigem aos organismos vivos de crescente complexidade não partiu de agentes divinos. Narealidade, teria vindo de agentes demoníacos, segundo o que se observa de algumas evidênciasno registro fóssil. Posteriormente, faz uns poucos milhares de anos, Deus criou Adão e Eva.Depois de um tempo, eles desobedeceram às leis do Criador, e o restante da história está no

relato bíblico.

E. Deus criou os primeiros organismos vivos do planeta em seis dias consecutivos, tal comose descreve nos dois primeiros capítulos de Gênesis. O que observamos no registro fóssil é oresultado de um dilúvio global e recente, ao contrário dos bilhões de anos propostos pela teoriageológica convencional. 6

É difícil testar as diferenças entre as teorias A, B e C, e suas implicações teológicas não sãofacilmente distinguíveis. Por essa razão, as agruparemos em três opções para explicar a criaçãoda vida: (1) Deus criou a vida em um passado remoto, e esta foi se desenvolvendo pouco apouco; (2) Satanás e os demônios criaram a vida em um passado distante; ou (3) Deus criou avida em um passado recente, tal como é descrito nos primeiros capítulos de Gênesis.Consideraremos agora três tipos de evidências: bíblicas, teológicas e científicas.

CONSIDERAÇÕES BÍBLICAS

Examinemos primeiramente as evidências bíblicas. Ao ler-se Gênesis 1, fica claro que orelato se apresenta como uma história, 7 com dias ordinários, que incluem uma tarde e umamanhã. 8 Na era anterior ao surgimento da geologia moderna, esse relato era entendido, comraras exceções, como a descrição de seis dias literais. 9

Duas exceções significativas entre os cristãos são Orígenes e Agostinho. Orígenes ficoufamoso por suas interpretações alegóricas da Bíblia. Agostinho, 10 por sua vez, propôs que acriação ocorrera de maneira instantânea, em vez de consumir seis dias consecutivos. Paraapoiar esta interpretação, Agostinho emprega três argumentos. Primeiro, sua leitura deEclesiástico 18:1, da Vulgata, uma tradução para o latim da versão grega Septuaginta. 11 ABíblia de Jerusalém traduz a passagem para a língua portuguesa de modo semelhante: “O quevive eternamente criou tudo ao mesmo tempo.” Na realidade, a Vulgata traduz incorretamentecom a palavra simul (que significa “ao mesmo tempo”) o original grego koiné (que significa“comum”, “geral”, “compartilhado”). O segundo argumento de Agostinho é do tipo filosófico:uma criação que não fosse instantânea não seria perfeita porque implicaria em passosintermediários imperfeitos. Isso seria indigno de um Deus perfeito. Seu terceiro argumento éde caráter científico (segundo o conhecimento da época): não seria possível que a luz viajasseao redor do mundo antes de o Sol ser criado.

Hoje, esses três argumentos a favor de uma criação instantânea carecem de validade. Oprimeiro baseia-se em uma tradução incorreta de uma passagem de um livro apócrifo, que amaioria das versões da Bíblia não considera como parte do cânon. Em segundo lugar, nãoexiste uma necessidade lógica pela qual uma criação realizada em seis dias não pudesse serperfeita. Em terceiro lugar, uma vez que a Terra gira em torno de seu eixo, basta que a luz sejaunidirecional para, no período de um dia, iluminar toda a superfície terrestre. Vale a pena notarque Agostinho cometeu esse erro de interpretação influenciado pela filosofia e pela ciência de

seus dias. Isso nos adverte quanto ao perigo de basear a teologia na ciência e na filosofia denosso tempo.

Portanto, o registro bíblico apoia o conceito de uma criação em seis dias, em um passadorecente.

CONSIDERAÇÕES TEOLÓGICAS

Do ponto de vista teológico, não parece haver nenhuma vantagem na ideia de que Deus hajadedicado longos períodos de tempo para criar a vida na Terra. Por outro lado, existem duasconsiderações teológicas que favorecem a ideia de uma criação recente da vida, em contrastecom a ideia de uma criação realizada por Deus em um tempo remoto. Uma delas tambémparece favorecer a ideia de uma criação recente em oposição à ideia de uma criação satânica oudemoníaca antiga, um conceito que tem suas próprias dificuldades teológicas.

A primeira consideração teológica é em relação ao conceito de que teria havido morte antesdo pecado. Romanos 5:13 declara explicitamente que, por meio do pecado de um homem, amorte passou a todos os seus descendentes, porque todos pecaram, e o salário do pecado é amorte. A dificuldade com a ideia de uma criação divina antiga é que, se aceitarmos aintepretação geológica padrão do registro fóssil, a morte, causada por predadores ou moléstias,teria ocorrido antes da época que se atribui à criação de Adão. De acordo com tal modelo, amorte dos hominídeos aconteceu antes de Adão. Podemos afirmar que esses seres não eramrealmente humanos. No entanto, Romanos 8:19-23 indica que não apenas a humanidade, comotambém o restante da criação, sofreu os efeitos da queda, e que esta será redimida ao mesmotempo que nós. Mateus 10:29-31 sugere que Deus presta atenção até mesmo à morte de umpardal. Além disso, os capítulos 11 e 65 de Isaías parecem indicar que a morte animal não seráparte da Nova Terra, estabelecendo assim uma ligação entre a criação dos seres humanos como restante da criação original.

A criação satânica ou demoníaca, proposta por alguns para explicar parte do registro fóssil,não compartilha exatamente do mesmo problema apresentado anteriormente. Tal criaçãopoderia atribuir a culpa da morte pré-adâmica a Satanás. A morte do homem, portanto, poderiaser resultado do pecado de Adão, enquanto a morte animal poderia ser resultado do pecado deSatanás. A morte antes do pecado representa um problema principalmente para os que creemem uma criação divina antiga.

O segundo problema é o do mal que se observa na natureza, tal como os terremotos, asinundações e os furacões. Pode-se entender a existência do mal provocado pelo ser humanoatravés do argumento de que fomos criados com livre-arbítrio e que, por sermos realmentelivres para tomar decisões, Deus não é responsável por elas. Pode-se aceitar o risco de permitirque as pessoas tomem decisões errôneas que lhes causem danos, uma vez que o amorverdadeiro requer liberdade. Mas, se aceitamos essa defesa, ela somente vai justificar a Deusno caso do mal causado pelos seres humanos, mas não O justifica no caso do mal que seobserva no mundo natural. A morte causada por uma erupção vulcânica, um tsunami ou uma

inundação não parece tão fácil de explicar tomando como base as decisões humanas, ao menosquando se aceita o conceito de uma criação divina antiga. Neste ponto, inclusive um modelo decriação satânica ou demoníaca poderia ter problemas.

Na realidade, um modelo de criação recente pode escapar dessas críticas. Neste modelo, apóso terceiro dia da criação (quando apareceu a terra firme), não teria existido o movimentotectônico de placas provavelmente até o dilúvio (ou pelo menos até algum tempo depois daqueda). Isso implica que não teria havido mortes causadas por vulcões, grandes terremotos outsunamis. Segundo o registro bíblico (Gênesis 2:6, 10), o clima original era uniforme e semchuvas, de modo que não haveria ocorrências de furacões, ciclones ou inundações. E,finalmente, as enfermidades como o câncer seriam desconhecidas (ver Gênesis 2:9 eApocalipse 22:2). Assim, a maior parte ou todo o mal que observamos na natureza também éresultado do pecado do ser humano. Deus, portanto, não é o responsável direto por esse mal.

A criação satânica ou demoníaca evita parcialmente essas discussões. No entanto, esteconceito tem suas próprias distorções teológicas, já que se aproxima muito da antiga ideiagnóstica de que um deus menor criou o Universo material ou, pelo menos, as criaturas quepovoam nosso planeta. A teoria coloca o problema adicional da relação que poderia terexistido entre a criação demoníaca e a criação divina. Se Satanás, de fato, criou organismosvivos encontrados no registro fóssil e também observados hoje na natureza, será que Deusimitou esses mesmos modelos durante a criação? Será que os animais cujos fósseis podem serdatados de 50.000 anos, por exemplo, são criações demoníacas e não “muito bons”,diferentemente do que indica Gênesis 1:31, em relação ao que Deus criou? Ou, ainda maisrelevante, será que os hominídeos que Satanás haveria criado continuaram existindo depois deAdão, de modo que alguns seres humanos teriam em seu organismo um pouco do sangue dossupostos hominídeos de origem satânica? Ou será que os hominídeos teriam sido exterminadosantes da criação de Adão? Neste caso, por que fisicamente nos parecemos tanto aoshominídeos cuja origem seria supostamente pré-adâmica? Ainda que alguém pudesse proporuma solução minimamente plausível para estes problemas, o fato é que eles não afetam oconceito de criação divina, tampouco o de uma criação recente.

Por isso, ao revermos as opções examinadas, as considerações teológicas parecem favoreceruma criação recente dos organismos vivos.

CONSIDERAÇÕES CIENTÍFICAS

Chegamos finalmente ao argumento mais forte a favor de uma criação antiga da vida. Estaargumentação baseia-se em supostas “evidências científicas contundentes” que favoreceriam ateoria de que foram transcorridos longos períodos de tempo desde a criação ou o surgimento davida em nosso planeta. É importante, contudo, que sejamos cuidadosos ao avaliar esteargumento. Já vimos que, em uma área do pensamento que tem importantes implicaçõesteológicas, o consenso científico tem errado ao não aceitar a teoria do projeto inteligente. Essateoria sustenta que certas características do Universo e dos organismos vivos são mais bem

explicadas quando as atribuímos a uma causa inteligente, em lugar de explicá-las a partir deum processo não planejado. Há muitas evidências de que o consenso científico tem sidoprotegido por fortes e injustas barreiras profissionais nos Estados Unidos e em outros países. 12

Além disso, têm sido negados emprego e cargos de responsabilidade aos partidários do projetointeligente. Chegou-se ao ponto de suspender de suas funções docentes um professor titularuniversitário, uma autoridade mundial em sua especialidade. 13 Por outro lado, sabe-se que háuma resistência do tipo filosófico e teológico promovida por cientistas ateus contra a teoria doBig Bang. Portanto, se cientistas que advogam um passado recente para a criação estão sendomarginalizados quando suas crenças se tornam públicas, 14 é razoável suspeitar que o atual“consenso científico” sobre a idade da vida na Terra também pode estar amparado mais emconsiderações filosóficas e sociológicas do que em evidências ou argumentos científicos.

Além disso, devemos notar que há alguns dados contrários ao consenso científico. Raramenteeles são mencionados nas principais revistas de ciências, especialmente em livros-textos.Vejamos alguns exemplos:

A velocidade da erosão é demasiadamente rápida. A velocidade com que a superfícieterrestre vem sofrendo erosão, inclusive em condições uniformes, cria problemas graves para aescala do tempo geológico, o padrão atualmente empregado. Segundo a proporção com que oscontinentes atualmente sofrem erosão, eles já teriam desaparecido completamente ou, pelomenos, seu tamanho estaria muito reduzido, uma vez que suas rochas estariam depositadas emforma de sedimentos no fundo do mar. Pode-se tratar de compensar esta perda com omovimento ascendente das massas terrestres, mas isso ainda deixa sem explicação a existênciadas rochas fanerozoicas que se encontram em locais como o monte Everest e os Alpes. 15

Lacunas sedimentares. As camadas de rochas sedimentárias formaram-se pelo acúmulo desedimentos lodosos, arenosos, conglomeráticos, calcários e biogênicos, especialmente embacias sedimentares marítimas. Uma sequência vertical contínua de camadas sedimentaressugere um depósito relativamente contínuo de sedimentos. O que aconteceria se houvesse umapausa prolongada na sedimentação sobre a capa superior? A ausência de sedimentação em umaárea daria lugar à erosão da superfície da capa superior, tal como vemos presentemente nasuperfície terrestre e no fundo do mar. O vento, a água em movimento e outros fatores dãoorigem a uma erosão em forma de sulcos, canais, depressões e evidências semelhantes. Se asedimentação fosse reiniciada sobre essa superfície erodida, deveria haver evidência de erosãona sequência de camadas. Isso é o que se chama de lacuna sedimentar. O que vemos noregistro de rochas sedimentares do passado é que existem lacunas sedimentárias quesupostamente representam milhões de anos, segundo os postulados uniformistas da geologiaevolucionista. Essas lacunas do passado deveriam mostrar evidências de erosão nas capassedimentárias, mas esses sinais estão ausentes na maioria das lacunas. 16 Sendo assim, essaslacunas realmente representam milhões de anos ou simplesmente um tempo muito mais curto?

Evidências de sedimentos macios. Os fósseis que atravessam verticalmente vários estratossedimentares (poliestratos) indicam enterramento rápido. 17 É o caso de vários exemplos detroncos de árvores que aparecem fossilizados atravessando várias camadas de sedimentoslodosos ou de carvão. Tais camadas apresentam estruturas de deformação em intrusõessedimentares típicas de sedimentos ainda macios e não cimentados. 18 Esse fato sugere que osfósseis poliestratos foram cobertos por sucessivas camadas de maneira rápida e contínua.Também indica que todos os estratos que cobrem o fóssil estavam macios e que a cimentaçãodos estratos inferiores não ocorreu antes que todo o fóssil ficasse coberto.

Racemização de aminoácidos. Os aminoácidos dos organismos vivos se encontram em umaforma química conhecida como forma L. Com o passar do tempo, os aminoácidos L tendem amodificar-se, tornando-se uma mistura das formas L e D. Acredita-se que essa transformaçãoocorra a uma velocidade constante. A comparação de velocidades calculadas a partir domaterial fóssil mostra uma diminuição progressiva nas constantes de racemização deaminoácidos com o tempo, a qual desaparece caso se assuma uma escala de tempo curta. 19

Material biológico fresco em fósseis. Bactérias viáveis foram encontradas em rochas quetêm, supostamente, milhões de anos de idade, 20 como também tecidos frescos em dinossaurosfossilizados, onde não se esperava encontrá-los, considerando a antiguidade que lhes éatribuída, segundo a escala de tempo normalmente empregada. 21

Deterioração genética. Os biólogos sabem que atualmente existem índices elevados demutação nos genes dos organismos. Em sua grande maioria, essas mutações são prejudiciais edeletérias. Se o mesmo ocorria no passado, então as espécies não deveriam ter existido por umlongo tempo. E não há razão para pensar que no passado essa realidade seria diferente do queacontece hoje, se assumimos os postulados evolucionistas. Desse modo, as espécies já teriamdesaparecido por deterioração genética. O fato de que as espécies têm perdurado durante ossupostos milhões de anos que lhes são atribuídos e com os índices de mutação que se observamna atualidade revela-se problemático. Isso requer uma escala de tempo curta pelo simples fatode existir vida hoje. 22

Datações radioisotópicas anômalas. No campo da datação radiométrica, existem evidênciasde datações por carbono 14, 23 berílio 10 24 e urânio-chumbo 25 que indicam que as escalas detempo atribuídas atualmente poderiam ser incorretas.

Com frequência menciona-se a datação radiométrica como uma “demonstração” de umaescala de tempo longa. Mas há duas explicações possíveis para as idades obtidas por datação

radiométrica compatíveis com uma curta escala de tempo. Primeiro, durante certos eventosgeológicos, como a fusão do magma, alguns gases leves como o argônio escapam para aatmosfera e, portanto, o relógio radioativo do referido gás reinicia-se do zero. As rochassolidificadas que não contêm esse gás podem apresentar idades muito curtas ou nulas ao seremdatadas posteriormente. Geralmente se presume que o argônio seja eliminado durante a fusãodo magma e que mais argônio vá se formando depois da solidificação, dando idades muitoprolongadas. Mas sabe-se que o argônio pode ser retido durante a fusão e as linhas isocrônicaspodem ser imitadas por linhas mistas, 26 o que pode explicar o porquê da idade muito antiga decertas rochas quando, na realidade, podem ser relativamente recentes. Segundo, há evidênciasrelevantes que sugerem que, no passado, ocorreu uma desintegração radioativa acelerada, eisso pode precisamente imitar uma idade prolongada na maioria dos sistemas de datação. 27 Hárazões para crer que ambas as explicações são importantes. 28

CONCLUSÃO

As considerações anteriores não pretendem ser exaustivas, nem implicam que não hánecessidade de mais estudo a fim de aperfeiçoar o modelo de uma criação recente para aorigem da vida. No entanto, essas considerações sugerem que tal modelo oferece uma boaexplicação para muitas evidências científicas que não podem ser bem explicadas por outrosmodelos. Tomando em conta o grande apoio bíblico e teológico para o modelo de criaçãorecente da vida, parece razoável levá-lo em consideração. Em minha opinião, deveria ser omodelo favorecido.

Entretanto, não é o conceito de uma criação recente da vida falsificado por múltiplasevidências? A pergunta revela uma compreensão imperfeita sobre o modo como opera aciência. O objetivo da ciência não é o de falsificar teorias. Esse conceito, proposto por KarlPopper, é incorreto. O que poderia, ingenuamente, ser considerado como falsificação é, a partirde uma base teórica, uma anomalia. Ainda que as anomalias não contribuam para apoiar umateoria, raramente provocam seu abandono. Uma teoria é abandonada quando deixa de produzirnovos resultados ou fatos novos, que é a maneira como se age no campo da filosofia dasciências.

A perspectiva que propõe que a criação da vida neste planeta teve lugar em um passadorelativamente recente tem produzido fatos novos. A deterioração genética e o carbono 14 nosfósseis se encaixam em uma perspectiva de idades recentes, sendo incompatíveis com asperspectivas que propõem milhões de anos para o aparecimento da vida em nosso planeta.Com efeito, esses fatos foram descobertos por cientistas criacionistas que fazem suas pesquisastrabalhando com a premissa de uma criação relativamente recente. Algumas das outrasdescobertas científicas apresentadas na lista anterior, embora feitas por proponentes de longasidades para a criação da vida, não foram conhecidas até que a teoria de idades recentesestivesse bem desenvolvida, e ainda poderiam reunir as condições necessárias para seremconsideradas como fatos novos. Quando se tropeça com uma aparente falsificação de uma

teoria, convém perguntar se essa falsificação desaparecerá quando se realizarem maispesquisas. Os cientistas criacionistas não precisam mais se render ao se confrontarem com umproblema difícil. Devem, sim, continuar pesquisando.

Paul A. L. Giem obteve bacharelado em religião com uma especialização em química noUnion College, Nebraska, e um mestrado em religião na Universidade de Loma Linda,Califórnia, onde também completou seus estudos de medicina. Ele tem publicado trabalhos depesquisa em religião e medicina e conduzido pesquisas em datação do carbono 14.Atualmente exerce a medicina de emergência e interna em hospitais do sul da Califórnia. Elepublicou o livro Scientific Theology (1997), disponível em: www.scientifictheology.com.

1 Nova York: Harper Collins, 2009.

2 Nova York: Free Press, 2007.

3 Hagerstown, MD: Review and Herald, 2008.

4 Washington, DC: Regnery, 2004.

5 A teoria do projeto inteligente não demonstra a existência de Deus, mas é extensamente reconhecida como afim àreligião.

6 A questão sobre quantos milhares de anos atrás aconteceu a criação não será tratada aqui. O texto massorético indica algoem torno de 6.000; a Septuaginta, 7.500. Outras idades têm sido sugeridas. No entanto, não existe nenhuma teoria que postuleuma criação da vida complexa entre aproximadamente 100 mil anos e 500 milhões de anos. Essa diferença pode servir paraestabelecer uma distinção entre as teorias de idades recentes e de longas idades.

7 Por exemplo, o texto hebraico emprega a forma padronizada de relato, a waw consecutiva, característica de um relatohistórico. Ver S. W. Boyd, “Statistical Determination of Genre in Biblical Hebrew: Evidence for a Historical Reading ofGenesis 1:1–2:3”, em Radioisotopes and the Age of the Earth: Results of a Young-Earth Creationists Research Initiative, ed.L. Vardiman, A. A. Snelling e E. F. Chaffin, v. 2 (El Cajon, CA: Institute for Creation Research, 2005), 631-734. Disponívelonline em: www.icr.org/article/statistical-determination-genre-biblical (todas as referências na web foram visitadas em 29 desetembro de 2010).

8 Ver G. F. Hasel, “The ‘Days’ of Creation in Genesis 1: Literal ‘Days’ or Figurative ‘Periods/Epochs’ of Time?”, Origins21 (1994): 5-36. Disponível online em: www.grisda.org/origins/21005.pdf.

9 Ver S. Rose, Genesis, Creation, and Early Man: The Orthodox Christian Vision (Platina, CA: Saint Herman of AlaskaBrotherhood, 2000).

10 De Genesi ad Litteram.

11 O Eclesiástico é um dos livros deuterocanônicos que aparecem apenas em algumas versões da Bíblia.

12 Um artigo de S. C. Mayer intitulado “The Origin of Biological Information and the Higher Taxonomic Categories”,Proceedings of the Biological Society of Washington 117, nº 2 (2004): 213-239, chegou a ser publicado, mas foi logo recusadopelos diretores da revista. No entanto, está disponível em: www.discovery.org/a/2177. As razões oficiais para a retirada, deacordo com a declaração do Council of the Biological Society of Washington (disponível emweb.archive.org/web/20070926214521/http://www.biolsocwash.org/id_statement.html), foram que: “contrariamente àspráticas editoriais costumeiras, o artigo foi publicado sem a revisão de nenhum editor associado [...]. O assunto tratadorepresenta um significativo desvio do conteúdo quase puramente sistemático [da revista] [...]. Não existem evidênciascientíficas dignas de crédito que respaldem o projeto inteligente como uma hipótese comprovável para explicar a origem dadiversidade orgânica.” Richard Sternberg (disponível em: www.rsternberg.net>) observa que as “práticas costumeiras” não sãoobrigatórias nem universalmente seguidas. As outras duas razões parecem ter raízes nos preconceitos sobre o assunto. É deinteresse que o conceito de uma refutação ao artigo foi especificamente recusado.

13 Foi o caso de Dean Kenyon. Uma narração detalhada de sua experiência pode ser encontrada em J. Meyers, “A ScopesTrial in Reverse” (1955, atualizado em 2004). O texto está disponível em: www.leaderu.com/real/ri9401/scopes.html

14 Para exemplos, ver Forrest Mims III, que perdeu a posição de colunista da Scientific American depois de ficaremconhecidas suas crenças criacionistas. Ver Mims, “The Scientific American Affair”. Disponível online em:www.forrestmims.org/scientificamerican.html, e Robert Gentry, que perdeu seus privilégios no Laboratório Nacional de OakRidge depois de testemunhar no caso McLean versus Arkansas. Ver R. V. Gentry, Creation’s Tiny Mystery (Knoxville, TN:Earth Science Associates, 2004), especialmente o capítulo 13, disponível online em: www.halos.com/book/ctm-13-c.htm#4.

15 Ver A. A. Roth, Origens: Relacionando a Ciência com a Bíblia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001), 256-268.Ali, o autor faz uma clara apresentação do problema.

16 Ver Roth, “Those Gaps in the Sedimentary Layers”, Origins 15 (1988): 75-92. Disponível online em:www.grisda.org/origins/15075.htm. Ver também A. A. Roth, Origens: Relacionando a Ciência com a Bíblia (Tatuí, SP: CasaPublicadora Brasileira, 2001), 222-229.

17 J. D. Morris, The Young Earth (Colorado Springs: Creation-Life Publishers, 1994), 100-102.

18 Ibid., 106-112. Ver também Roth, “Clastic Dikes and Pipes in Kodachrome Basin”, Origins 19, nº 1 (1992): 44-48.Disponível em: www.grisda.org/origins/19044.htm.

19 R. H. Brown, “Amino Acid Dating”, Origins 12 (1988): 8-25. Disponível online em: www.grisda.org/origins/12008.pdf.

20 O artigo original mais importante foi de R. H. Vreeland et al., “Isolation of a 250 Million-Year-Old HalotolerantBacterium from a Primary Salt Crystal”, Nature 407 (2000): 897-900. Existem vários outros informes e discussões naliteratura profissional. Possivelmente um dos artigos mais significativos seja de C. L. Satterfeld et al., “New Evidence for 250MA Age of Haloterant Bacterium from a Permian Salt Crystal”, Geology 33 (2005): 265-268.

21 O artigo inicial principal foi de M. Schweitzer et al., “Soft-Tissue Vessels and Cellular Preservation in TyrannosaurusRex”, Science 307, nº 5717 (2005): 1952-1955. Existem vários outros artigos e um ativo debate sobre este assunto na literaturaespecializada.

22 Talvez a exposição mais conclusiva deste argumento esteja em J. C. Sanford, Genetic Entropy and the Mystery of theGenome (Lima, NY: Elim Publishing, 2005).

23 Pode-se encontrar uma lista da literatura secular em P. Giem, “Carbon-14 Content of Fossil Carbon”, Origins 51 (2001):6-30. Disponível online em: www.grisda.org/origins/51006.htm. Vários dados novos e impactantes são apresentados em J.

Baumgardner, “Carbon-14 Evidence for a Recent Global Flood and a Young Earth”, Radioisotopes and the Age of the Earth:Results of a Young-Earth Creationist Research Initiative, ed. L. Vardiman, v. 2 (El Cajon, CA: Institute for Creation Research,2005), 587-630. Disponível online em: www.icr.org/article/carbon-14-evidence-for-recent-global.

24 Ver P. A. L. Giem, Scientific Teology (Riverside, CA: La Sierra University Press, 1997), 188, 189. Disponível onlineem: www.scientifictheology.com.

25 R. V. Gentry et al., “Radiohalos in Coalifed Wood: New Evidence Relating to the Time of Uranium Introduction andCoalification”, Science 194 (1976): 315-318. Disponível online em: www.halos.com/book/ctm-app-07-a.htm.

26 Ver P. A. L. Giem (1997). O capítulo 5 contém uma discussão exaustiva desse enfoque.

27 Ver D. R. Humphreys, “Young Helium Diffusion Age of Zircons Supports Accelerated Nuclear Decay”, emRadioisotopes and the Age of the Earth: Results of a Young-Earth Creationist Research Initiative, ed. L. Vardiman, v. 2 (ElCajon, CA: Institute for Creation Research, 2005), 587-630. Disponível online em: www.icr.org/article/young-helium-difusion-age-zircons.

28 Ver A. A. Snelling, “Isochron Discordances and the Rate of Inheritance and Mixing of Radioisotopes in the Mantle andCrust”, em Radioisotopes and the Age of the Earth: Results of a Young- Earth Creationist Research Initiative, ed. L.Vardiman, v. 2. (El Cajon, CA: Institute for Creation Research, 2005), 428-434. Disponível online em:www.icr.org/article/isocrona-discordances-role-inheritance. Ver também J. Baumgardner (2005), 620, 621.

A

9. DE ONDE VEIO A VIDA? GEORGE JAVOR

vida é o fenômeno mais importante da Terra. A biosfera, com seus milhões de tiposdiferentes de organismos, é tão extensa a ponto de não haver sequer um centímetro

quadrado de superfície estéril em nenhum lugar da Terra. O planeta pulsa com asmultifacetadas manifestações da vida. Mas nós somos uma singularidade chocante em meio ànossa vizinhança cósmica. Depois de décadas de diligente busca por vida no Sistema Solar,que contém cerca de 150 planetas e luas, está claro que estamos sozinhos aqui.

A questão de como a vida se originou na Terra é um dos quebra-cabeças mais intrigantes daciência contemporânea, pelas seguintes razões:

1. Os trabalhos de Redi, Spallanzani, Pasteur e outros desacreditam de maneira conclusiva oconceito de que matéria vivente pode surgir espontaneamente de matéria não vivente.

2. O imenso isolamento do Sistema Solar em relação a outros corpos celestes nos fazconsiderar que a ideia de a vida ter sido importada de alguma parte no Universo está muitoalém do plausível.

3. Experiências de laboratório voltadas para a geração de vida a partir de matéria não viventerealizadas nos últimos cinquenta anos têm sido não apenas um grande fracasso como tambémmostram ínfimas possibilidades de sucesso.

4. Os cientistas não conseguem restaurar a vida de organismos mortos.

5. A análise da essência da vida revela que ela não poderia ter sido originadaespontaneamente em nenhuma parte do Universo.

Nesta discussão, o termo “vida” refere-se ao complexo comportamento das células, asunidades fundamentais da matéria viva. Portanto, a vida não é uma entidade abstrata, mas aconsequência de milhares de processos químicos coordenados que ocorrem dentro da célula.Em seres multicelulares, as células vivas constituem os tecidos e órgãos, os quais, por sua vez,são partes dos organismos vivos. O termo vida de uma célula é qualitativamente diferente dotermo vida de um tecido, de um órgão ou de um organismo, embora estejam relacionadoshierarquicamente um com o outro. Ou seja, os organismos vivos dependem de seus órgãos etecidos vivos, os quais, por sua vez, dependem de suas células vivas. Neste sentido, o termovida tem múltiplos significados.

O que se segue é uma consideração mais detalhada dos cinco pontos acima. A surpreendenteconclusão será que a única resposta lógica para a origem da vida pode ser encontrada não nasmais recentes revistas de ciência, mas em registros escritos há mais ou menos 3.500 anos,muito antes do advento da ciência moderna.

A GERAÇÃO ESPONTÂNEA DA VIDA

Desde a antiguidade até o século 17, dizia-se comumente que, sob condições favoráveis,algumas formas de vida poderiam surgir espontaneamente. Uma “fórmula” para produzir ratosera colocar palha de milho e roupas íntimas suadas dentro de um garrafão aberto por 21 dias.Achava-se que a lama do fundo de poças d’água produzia sapos e cobras. A carne podresupostamente fazia aparecer vermes.

Em 1668, Francisco Redi, um médico e poeta italiano, cobriu uma jarra contendo peixe evitela com um fino véu napolitano evitando, desta forma, que moscas depositassem seus ovossobre a carne. Os vermes não apareceram. Em 1745, entretanto, John Needham, um biólogo epadre britânico, um postulante da geração espontânea da vida, pegou uma sopa de carnerecentemente fervida e colocou-a em um frasco. Em questão de dias, a sopa ficou turva. Issofoi feito para demonstrar o aparecimento espontâneo de micro-organismos em sopasesterilizadas pela fervura. Em 1768, outro médico italiano, Lazzaro Spallanzani, repetiu aexperiência de Needham, com a diferença de que Spallanzani selou o frasco no qual a sopa decarne fora fervida. A sopa permaneceu clara até que ele quebrou o gargalo do frasco.Finalmente, em 1859, o químico francês Louis Pasteur repetiu a experiência de Spallanzani,com a exceção de que Pasteur armazenou a sopa fervida em frascos com os respectivosgargalos abertos, mas curvados para baixo, evitando assim que partículas aéreas caíssem nasopa. As sopas permaneceram claras até que os gargalos fossem quebrados. O trabalho dePasteur efetivamente pôs um fim ao conceito de geração espontânea de vida.

Curiosamente, também em 1859, o livro de Charles Darwin A Origem das Espécies foipublicado. Embora o tratado não lide com a questão de como o primeiro organismo vivopassou a existir, a teoria da evolução vigorosamente sugeria o processo da abiogênese – ageração de vida a partir de matéria inorgânica.

Uma vez que o trabalho de Pasteur aparentemente fechou as portas para o conceito daabiogênese, possibilidades alternativas foram consideradas a fim de explicar o aparecimento devida na Terra. Um dos conceitos propostos nos primórdios do século 20 foi a panspermia, anoção de que a vida veio para a Terra a partir de algum lugar no Universo, na forma deesporos. O eminente físico-químico sueco Svante Arrhenius foi um dos primeiros proponentesdessa teoria.

A BUSCA PELA VIDA NO ESPAÇO

A panspermia só pode acontecer se existir uma fonte de organismos vivos em algum lugar do

espaço exterior, de preferência dentro do Sistema Solar. Um candidato promissor para ser umafonte de vida era Marte, nosso vizinho planetário, a meros 58 milhões de quilômetros dedistância. Com temperaturas cálidas, podendo chegar a 20 °C, e uma atmosfera composta emsua maior parte por dióxido de carbono, imaginava-se que micro-organismos anaeróbicos(extremófilos) pudessem existir ali, contanto que houvesse água no solo. Em 1976, doislaboratórios robotizados muito bem equipados pousaram em Marte como parte dasmultibilionárias missões Viking. As experiências conduzidas em solo marciano exibiramresultados surpreendentes. Não havia sequer indício de vida em Marte, como também não foiencontrada uma única molécula orgânica no Planeta Vermelho! 1

Outros candidatos a ser uma fonte de vida no Sistema Solar incluem Europa, uma das luas deJúpiter, onde se acreditava haver um oceano sob sua crosta de gelo, como também Titã, umadas luas de Saturno, que é coberta com uma vasta camada de nitrogênio. Não havendo outrosdados adicionais neste momento (2010), podemos dizer que estamos sós no Sistema Solar.

Em quatro horas e meia de viagem à velocidade da luz, a partir do Sol, alcançaríamos oslimites exteriores do Sistema Solar. A partir deste ponto, deveríamos continuar nossa viagempor mais 4,3 anos antes de alcançarmos a estrela mais próxima, Alfa Centauro, que está a 40trilhões de quilômetros de distância. Vemos, portanto, que a Terra está no centro de uma esferaimaginária, com um raio de 40 trilhões de quilômetros, totalmente desprovida de vida, excetopela própria Terra. Isso elimina a mais remota possibilidade de panspermia.

EVOLUÇÃO QUÍMICA

Se a panspermia é impossível, a única alternativa para a origem da vida, segundo osevolucionistas, é a abiogênese na Terra. A. I. Oparin escreveu:

Através de suas experiências, Pasteur demonstrou, sem sombra de dúvida, aimpossibilidade da autogeração da vida no sentido imaginado por seus antecessores. Eledemonstrou que os organismos vivos não poderiam ser subitamente formados diante denossos olhos a partir de soluções e infusões disformes. Entretanto, uma pesquisa cuidadosada evidência experimental nada revela acerca da impossibilidade de geração de vida emoutra época ou sob outras condições. 2

Se, por um lado, esse raciocínio minimiza o significado de fatos provados através deexperiências, por outro lado ele levanta suposições hipotéticas sobre o que poderia teracontecido “em outra época”. Isso representa uma das constantes do raciocínio evolucionista.Assim, apesar de saberem que a geração espontânea de vida era uma impossibilidade, nadécada de 1920 o biólogo britânico J. B. S. Haldane e o químico russo A. I. Oparin propuseramque a vida na Terra tenha provavelmente se originado de um oceano primordial em que aatmosfera não continha oxigênio.

Na década de 1920, a bioquímica ainda estava em sua fase inicial. Devido à falta deinformação, ninguém compreendia a enorme complexidade da matéria vivente. A primeira

enzima de cristal, feita de pura proteína, foi obtida apenas em 1926. O ciclo do ácido cítrico,um dos principais motores metabólicos da maioria das células, foi descoberto em 1937. Aestrutura geral do material genético, o ácido desoxirribonucleico (ADN), tornou-se conhecidaem 1953. A biologia nuclear entrou em cena na década de 1960. Em 1997, a ovelha Dolly foiclonada. 3 Portanto, Haldane e Oparin podem ser desculpados por terem imaginado quealgumas simples gotas protoplasmáticas, precursoras dos organismos de hoje, poderiam, porsimples casualidade, passar a existir em um mundo “primordial” imaginário.

A evolução química como disciplina científica teve início em 1953, quando Stanley Miller,um estudante de mestrado da Universidade de Chicago, decidiu testar as hipóteses de Oparinno laboratório. Ele fez circular os supostos gases atmosféricos primordiais – vapor d’água,metano e amônia – em um aparelho de vidro fechado, e os expôs a descargas elétricas. Depoisde uma semana, o procedimento resultou em quatro aminoácidos e outros numerososcompostos orgânicos. 4

Logo, muitas variações da experiência de Miller foram feitas em vários laboratórios,produzindo a maior parte dos vinte aminoácidos, quatro bases nucleicas, açúcares e ácidosgraxos que são os tijolos de construção de importantes polímeros biológicos. Na década de1970, a ânsia de descobrir a gênese da vida na Terra atingiu seu ponto alto. Em 1974, StanleyMiller escreveu:

Estamos confiantes em que o processo básico [da evolução química] está correto. Nossaconfiança é tamanha que parece inevitável que um processo semelhante tenha ocorrido emmuitos outros planetas do Sistema Solar [...]. Estamos tão confiantes em nossa ideia acercada origem da vida que, em 1976, uma espaçonave será enviada a Marte para pousar nasuperfície, sendo o propósito primário das experiências procurar organismos vivos. 5

O resultado negativo dessas experiências já foi comentado anteriormente.

As proteínas, componentes mais vitais das células, são compostas por cadeias de centenas de“resíduos” de aminoácidos dispostos em uma ordem específica. (Quando uma conexão éformada entre os aminoácidos, perdese uma molécula de água. O “resíduo” é o que sobrou doaminoácido na proteína.) O modo como os aminoácidos podem polimerizar-se em proteínasdentro de um meio aquoso e em ambientes supostamente primordiais ainda está para serresolvido.

Enquanto isso, foi descoberto nos anos 80 que alguns ácidos ribonucleicos (RNA) têmatividades enzimáticas. Essa descoberta fez com que o pensamento químico evolucionário sevoltasse para a sugestão de que a vida na Terra começou em um “mundo de RNA”. 6 Esteconceito foi reforçado quando se descobriu que os ribossomos, onde são produzidas asproteínas nas células, são, na verdade, “ribozimas”. Isto é, um componente RNA no ribossomocataliza a formação de uma conexão entre os aminoácidos.

Experiências, no entanto, revelaram a quase impossibilidade de formação rotineira, em umambiente “primordial”, de nucleotídeos, os complexos de base nuclear-ribose-fosfato, que sãoos tijolos de construção dos ácidos ribonucleicos. Um dos conceitos atuais, ainda sob

investigação, é que antes do “mundo de RNA” havia um sistema genético mais simples emação, talvez composto de uma argila autorreprodutora ou de polímeros de aminoácidos de basenuclear, os quais “inventaram” o RNA.

Uma vez formadas as moléculas de RNA, elas “inventaram” proteínas que, por sua vez,“inventaram” ácidos desoxirribonucleicos, o material genético moderno. A seleção darwinistacriou e preservou polímeros biologicamente úteis, e assim as primeiras células vivas passarama existir.

Essa narrativa atribui a invenção e a produção das milhares de máquinas molecularesnecessárias para a matéria vivente a um sistema hipotético autorreprodutor, capaz de mutação.Ela ignora o fato essencial de que somente a matéria vivente é capaz de fazer separação entresubstâncias úteis e inúteis.

Visto que até mesmo os primeiros passos desta versão da evolução química carecem defundamento experimental, o conceito inteiro da evolução química, depois de mais de 50 anosde valentes batalhas de laboratório, está em vias de extinção.

RESTAURANDO A VIDA DE CÉLULAS MORTAS

Ao longo de meu trabalho laboratorial com a Escherichia coli, eu tratei as culturas líquidascom o tolueno, uma substância que dissolve os lipídios das membranas externas e internas daE. coli, matando-as. Conhecemos agora a composição química da E. coli, assim como asequência exata de seu cromossomo com 4,6 milhões de nucleotídeos, e as funções da 75 porcento de suas 4.290 proteínas. Mesmo com todas essas informações, ainda somos incapazes derestaurar a vida de células mortas da E. coli. O mais estranho é que as células mortas separecem muito com as células vivas na composição química celular, com a diferença de queexistem alguns furos nas membranas das células mortas.

QUAL É A ESSÊNCIA DA VIDA?

As membranas cheias de furos do E. coli atrapalham a geração de energia. Na ausência deenergia química, suprida pelas moléculas de adenosina trifosfato (ATP), os caminhosbioquímicos são bloqueados e as células morrem. O processo da vida depende de alteraçõesquímicas. Reações químicas isoladas chegam rotineiramente ao ponto final – o equilíbrio – emque as alterações químicas param de ocorrer. Isso não acontece nas células vivas porque asreações químicas são conectadas por meio de caminhos. Os produtos dos caminhos sãoutilizados pelo metabolismo da célula, ou, caso comecem a se acumular, os caminhos sãobloqueados através de sofisticados mecanismos reguladores. A matéria viva requer a presençado material genético e de milhares de proteínas específicas, as quais, todavia, também estãopresentes nas células da E. coli, mortas pelo tolueno.

No momento em que as células morrem, não há alterações mensuráveis na complexidade da

E. coli. Com a passagem do tempo, a intrincada constituição celular fica degradada. Segundosdepois da morte, porém, a única diferença entre uma célula viva e uma morta serão assituações de equilíbrio das reações e caminhos. A complexidade irredutível da matéria viva,tão elegantemente explicada por Michael Behe, 7 é inalterada quando ocorre o equilíbrio.Portanto, embora a complexidade irredutível possa ser necessária para a matéria viva existir,ela é insuficiente para explicar a vida.

É o estado de não equilíbrio de milhares de reações químicas que mantém as células vivas.Qualquer sistema que postule que a matéria viva passa a existir pouco a pouco, passo a passo,vai ter que lidar com um problema intransponível: como converter inúmeras reações químicasdo seu estado de equilíbrio em um estado de não equilíbrio.

O famoso princípio de Le Chatelier declara: se um sistema químico em equilíbrioexperimenta uma mudança na concentração, temperatura, volume e pressão parcial, oequilíbrio altera-se para se opor à mudança imposta. Este princípio assegura a impossibilidadede uma reversão espontânea de células mortas para a vida. Ele também anula qualquer sistemaquímico evolucionário na Terra, e até mesmo em outras partes do Universo.

CONCLUSÃO

Existe apenas uma resposta correta possível para a pergunta: “De onde veio a vida?” Essaresposta não pode ser encontrada em revistas científicas nem em livros de biologia. A respostaé dada pelo próprio Criador, gravada em pedra pelos Seus dedos (Êxodo 31:18): “Porque emseis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há” (Êxodo 20:11).

PARA UM APROFUNDAMENTO NO ASSUNTO:

Javor, G. T. Evidences for Creation. Hagerstown, MD: Review and Herald, 2005.

Thaxton, C. B., Bradley, W. L., e Olsen, R. I. The Mistery of Life’s Origin: ReassessingCurrent Theories. Nova York: Philosophical Library, 1984.

Behe, M. A Caixa-preta de Darwin: O Desafio da Bioquímica à Teoria da Evolução. Rio deJaneiro: Jorge Zahar, 1997.

Meyer, S. C. Signature in the Cell. Nova York: HarperCollins, 2009.

George Javor é professor emérito da Escola de Medicina da Universidade de Loma Linda.Ele obteve seu bacharelato em Ciências pela Universidade Brown e um PhD em bioquímicapela Universidade de Columbia. Depois de completar pesquisas pós-doutorais naUniversidade Rockefeller, ele se integrou ao Departamento de Química da UniversidadeAndrews. Onze anos depois, foi transferido para o Departamento de Microbiologia da

Universidade de Loma Linda, onde passou 26 anos lecionando para alunos das faculdades deMedicina e Odontologia, e pesquisando sobre a fisiologia da Escherichia coli. Publicounumerosos artigos em revistas científicas e periódicos denominacionais e escreveu três livros.

1 S. A. Benner et al. “The Missing Organic Molecules on Mars”, Proceedings of the National Academy of Sciences 97, nº 6

(2000): 2425-2430.

2 A. I. Oparin, The Origins of Life, trad. Sergius Morgulis (Mineola, NY: Dover, 1953), 29.

3 I. Wilmut et al. “Viable Offspring Derived From Fetal and Adult Mammalian Cells”, Nature 385, nº 6619 (1997): 810-813.

4 S. L. Miller, “Production of Amino Acids under Possible Primitive Earth Conditions”, Science 117, nº 3046 (maio de1953): 528.

5 Miller, “The First Laboratory Synthesis of Organic Compounds under Primitive Earth Conditions”, em The Age ofCopernicus: Theories “Pleasing the Mind”, ed. J. Neyman (Cambridge: MIT Press, 1974), 328.

6 G. F. Joyce, “RNA Evolution and the Origin of Life”, Nature 338 (1989): 217-224.

7 M. J. Behe, A Caixa Preta de Darwin (Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997).

A

10. QUÃO CONFIÁVEL É A DATAÇÃO

RADIOMÉTRICA? CLYDE WEBSTER

questão sobre quão antiga é a história da Terra é um dos pontos mais polêmicos nasdiscussões sobre a criação e a evolução. Duas fontes de informação sobre o passado

histórico do nosso planeta e do Sistema Solar estão disponíveis. O registro bíblico sugere umperíodo de tempo curto, medido em milhares de anos, desde a criação. A maioria esmagadorados cientistas sustenta que a história da Terra envolve bilhões de anos, durante os quais osorganismos vivos de alguma maneira surgiram e se diversificaram para produzir a flora e faunaatuais. Um dos mais importantes argumentos para um mundo muito antigo está baseado nadatação radiométrica. Este capítulo vai considerar os problemas que um criacionista podeesperar enfrentar ao lidar com a datação radiométrica e a idade da Terra. DETALHES CIENTÍFICOS

Os aspectos científicos do tempo podem ser representados por três divisões, com eventuaissobreposições: (1) uma escala de tempo absoluta, (2) escalas de tempo relativas e (3) escalasde tempo físicas e químicas. Os métodos de datação que produzem a escala de tempo físicabaseiam-se em alterações do átomo que consideram unicamente o tempo. Espera-se que fatoresambientais como temperatura e pressão não exerçam influência.

A maior parte das escalas de tempo cronoestratigráficas (camadas sequenciais indicadoras daidade da Terra) baseia-se nas idades obtidas com métodos físicos, dos quais o mais importanteutiliza a decomposição radioativa. Os métodos usados não produzem necessariamente datasabsolutas porque processos geofísicos e geoquímicos complicam as condições do modeloutilizado para determinar a idade. Por exemplo, a escala de tempo que utiliza o radiocarbonoapresenta desvios em relação à escala de tempo absoluta. As idades cronoestratigráficas sãoelaboradas levando-se em conta o nome do método (por exemplo a idade paseada nopotássio/argônio), de modo que suas limitações possam ser levadas em consideração.

Na decomposição radioativa, certos isótopos (tipos de átomos) são instáveis e desintegram-se. Um átomo pai instável decompõe-se em um átomo filho, e uma partícula subatômica podeser danificada por átomos que estejam próximos. O processo de decomposição ocorre em umaproporção que segue certa fórmula matemática que determina que metade dos átomos paisdecompõe-se em átomos filhos em um período fixo de tempo conhecido como meia-vida.Isótopos instáveis diferentes têm meia-vida diferente. Por exemplo, a meia-vida do potássio-10

radioativo é de aproximadamente 1,26 bilhão de anos, enquanto a meia-vida do urânio-238radioativo é de aproximadamente 4,47 bilhões de anos. Em contraste, o tempo requerido paraque a metade de uma amostra de neodímio-142 se decomponha é de cerca de 100 mil anos.Para propósitos de datação, a meia-vida deve ser curta o suficiente para produzir umaquantidade mensurável do isótopo filho, desde o momento zero da amostra em estudo. Elatambém deve ser longa o suficiente para que uma quantidade mensurável do isótopo pai aindaesteja presente. A idade de uma amostra é calculada a partir de material pai e material filho,utilizando-se a fórmula matemática apropriada.

O nascimento da geocronologia moderna foi prenunciado ao final da década de 1930 porNier e Mattauch, que inventaram um espectrômetro de massa, um instrumento capaz de mediras massas dos isótopos de um átomo. Pela primeira vez, isótopos em abundância puderam sermedidos com precisão suficiente para distinguir componentes não radiogênicos decomponentes radiogênicos. (Isótopos que não resultam de decomposição radioativa podem serdistinguidos de isótopos que resultam de decomposição radioativa.) As aplicações potenciaispráticas desse instrumento expandiram-se rapidamente, e ainda se desenvolvem hoje.

A confiabilidade da datação radiométrica depende da confiabilidade das suposições em queestá baseada. Todos os métodos clássicos de datação baseados na decomposição radioativa deisótopos naturais com meia-vida longa (sem incluir a datação com o carbono-14) utilizam osseguintes modelos de suposição:

1. Condições iniciais conhecidas. Nenhum dos elementos filhos estava presente no mineralou na rocha em uma situação το (ponto de partida do “relógio” radiométrico) ou a composiçãoisotópica do elemento filho inicialmente presente pode ser determinada de maneira confiávelcomo, por exemplo, pelo método isócrono (de tempo igual), e corrigido em consequência.

2. Sistema fechado. O mineral ou a rocha formou um sistema geoquímico fechado (isto é,nem o elemento pai nem o filho foi acrescentado ou removido) desde a situação το.

3. Decomposição constante. A constante de composição λ é verdadeiramente constante econhecida com precisão suficiente.

Embora a datação radiométrica tenha algumas debilidades, elas são bem conhecidas, e asamostras são coletadas cuidadosamente para evitar problemas.

Os desafios levantados à datação radiométrica com base em uma possível ausência deconfiabilidade em suas suposições não tiveram muito sucesso. Datas individuais muitas vezessão incorretas, mas os padrões gerais das datas têm suficiente consistência e parecemrepresentar mais do que simples acaso. Não podemos descartar a possibilidade de que algopossa estar sistematicamente errado com esta teoria e com o método de datação radiométrico,mas não temos sido capazes de identificar o que poderia ser.

RESTRIÇÕES BÍBLICAS

Em Gênesis, os aspectos bíblicos do tempo são apresentados pela primeira vez. O autor fazuma referência geral sobre o tempo ao usar a expressão “no princípio” e referências específicasao mencionar os dias da criação e a duração da vida dos patriarcas. Os adventistas do sétimodia fizeram a escolha consciente de aceitar a criação tal como revelada nas Escrituras. Essaescolha implica uma restrição temporal de seis dias literais para a criação e um sétimo dia quefoi acrescentado para descanso e adoração. Existe uma grande diferença entre uma semana eseis milhões de anos para o desenvolvimento da vida! Mesmo que as genealogias fossemarredondadas ou dobradas, o tempo para a vida neste planeta ficaria na casa dos milhares oudezenas de milhares de anos, não milhões de anos.

Havendo feito tal escolha, procuramos interpretações alternativas para a cronoestratigrafiadas camadas da crosta terrestre que contenha evidências de vida. E aqui vem a pergunta:“Como é que as restrições de tempo começam a resolver os problemas do tempo?” Umapossível abordagem pode ser:

1. Presumir que a criação do Universo e a criação da vida nesta Terra são processosdiferentes, ocorridos em momentos diferentes. A primeira (ou primordial) criação ocorreu emum passado longínquo (Gênesis 1:1, 2), seguida pela criação de vida na Terra em milhares, nãomilhões, de anos (Gênesis 1:3 em diante). 1

2. Presumir que o vasto número de fósseis no estrato da crosta terrestre foi depositado porum dilúvio global que aconteceu algum tempo depois da criação da vida. 2

3. Aceitar que o propósito primário das genealogias apresentadas em Gênesis foi estabelecero relacionamento entre Deus e homens e preparar o cenário para a eventual chegada doMessias, em vez de fixar com precisão a data da semana da criação.

4. Aceitar a semana da criação estabelecendo Deus como Criador e aceitar o ciclo semanalestabelecendo o sétimo dia como o sábado, um memorial para nosso Deus, o Criador.

UM SISTEMA SOLAR ANTIGO

Utilizando essa abordagem, primeiro analisamos a idade da matéria inorgânica, não vivente,da Terra e do Sistema Solar, entendendo que o planeta mineral pode ter existido por um longoperíodo de tempo antes da criação da vida descrita em Gênesis. O fato de que encontramos apresença de isótopos radioativos em materiais da Terra, da Lua e de meteoritos sugereveementemente que nosso Sistema Solar tem uma idade finita. As idades potenciais mínimas emáximas para sua formação podem ser obtidas através de uma análise de isótopos radioativos,das proporções pai/filho e de isótopos radioativos faltantes.

Por exemplo, o urânio-238 tem uma meia-vida de 4,47 bilhões de anos. Depois de sete a dez

meias-vidas, o isótopo pai fica exausto, sobrando muito pouco dele para que seja detectado.Ainda existem alguns urânios-238. Assim, podemos concluir que o Sistema Solar tem umaidade máxima de aproximadamente 45 bilhões de anos. Esse número fica ainda mais refinadopela análise da proporção U-235/U-238, que sugere uma idade máxima de aproximadamente 5bilhões de anos. Usando o mesmo método de análise das proporções pai/filho, e focalizando ossistemas em que isótopos filhos são encontrados e isótopos pais estão claramente ausentes,uma idade mínima pode ser determinada para o Sistema Solar. Por exemplo, o samário-146,com uma meia-vida de aproximadamente 100 milhões de anos, não é encontrado em depósitosocorridos naturalmente. Todavia, seu produto filho estável, o neodímio-142, é encontrado emabundância. Isso significa que o Sistema Solar não pode ser mais novo do queaproximadamente dez meias-vidas do neomídeo-142 – aproximadamente 1 bilhão de anos. Eleva-nos à interessante conclusão de que a idade radiométrica dos planetas, luas e meteoros denosso Sistema Solar pode variar entre um e 5 bilhões de anos.

Quando muitas amostras analisadas por meio de técnicas de isótopos múltiplos combinamentre si, diz-se que elas são concordantes. Datas concordantes não podem ser facilmenterejeitadas e muitas vezes apontam para eventos fisicamente significativos. A concordânciaobservada entre as numerosas determinações radiométricas de idade para a formação de nossoSistema Solar é de 4,56 bilhões de anos.

A VIDA NA TERRA PODERIA SER RECENTE?

De que maneira se poderia interpretar que a matéria do Sistema Solar e da Terra é antiga,enquanto a vida na Terra é recente? Uma abordagem é sugerir que as idades estratigráficasmodernas atribuídas às camadas fósseis são aceitas apenas como o resultado de umacosmovisão em que não há restrições de tempo. A abordagem questiona a confiabilidade dealguns dos métodos e pressuposições usados na datação radiométrica das camadas fósseis daTerra. A pressuposição de proporções constantes e conhecidas de decomposição éprovavelmente confiável, especialmente com a tecnologia de hoje. No entanto, as outras duaspressuposições reconhecidas pelos que praticam a datação radiométrica, a saber, condiçõesiniciais conhecidas (um reajuste total do “relógio”) e um sistema fechado, nem sempre sãoconfirmadas. 3 A seguir, apresentamos algumas possíveis questões sobre os métodos epressuposições da datação radiométrica:

1. Interpretação. Não existem procedimentos simples e aplicáveis para a interpretação deresultados de datação. As condições no sítio de onde se coletam as amostras, a composição eorigem das amostras e as técnicas de preparação no laboratório são decisivas para ainterpretação dos resultados. Cada caso deve ser considerado separadamente e requer ummodelo específico com delimitações definidas. Com frequência, modelos matemáticosprecisam ser desenvolvidos.

2. Modelo de idades. Uma distinção é feita entre a idade verdadeira, a idade do modelo, aaparente e a convencional. A palavra modelo indica que a idade deriva das propriedadesmateriais dentro da estrutura de um conjunto específico de suposições e restrições contextuaise geoquímicas/geofísicas. Se essas suposições forem confirmadas, a idade é chamada de idademodelo “verdadeira”. Se não forem, temos a idade modelo “aparente”. As idadesconvencionais são determinadas de acordo com diretrizes internacionais – os métodos C-14,K-Ar, Rb-Sr e U-Th-Pb. As idades convencionais são consideradas as mais precisas de todasas datas determinadas por métodos físicos e podem ser consideradas melhores que as demais.

3. Linha de mistura isócrona ou magma. As idades radiométricas são frequentementederivadas de um conjunto de dados pontuais representados graficamente, os quais formam umalinha reta chamada isócrono. A idade da rocha é calculada a partir da inclinação dessa linha.Quanto mais inclinada é a linha, mais antigas são as idades. Entretanto, os pontos lineares dedados podem resultar da mistura de dois magmas diferentes, em vez da decomposiçãoradioativa. Com frequência, é difícil distinguir um isócrono de uma linha de mistura, emboravárias possibilidades estejam disponíveis. 4 Quando mais de um método isótopo apresenta amesma data (concordante), ou quase a mesma, a possibilidade de ela ser uma idade realaumenta. A concordância não é incomum quando se trata de matéria inorgânica da Terra, maspode ser menos comum ao se calcular as datas de material fóssil.

4. Discordância. Ao fazerem mais de um cálculo da idade radiométrica de certa amostra, oscientistas não se surpreendem quando o resultado é discordante. Essa discordância quer dizerque a amostra em estudo pode ter passado por mais que um evento modificador da idade. Esseseventos podem incluir solidificação, aquecimento, repetidos derretimentos, choques severos,mistura com outros materiais, exposição à água ou alta radiação. Esses eventos afetam (ou atéreiniciam) diferentes isótopos na mesma amostra, em diferentes maneiras. Portanto, adiscordância pode fornecer informações úteis para a cronologia dos eventos experimentadospela amostra. 5

5. Não reinício. Os relógios radiométricos podem não ser reiniciados em zero quando osminerais são transportados por processos erosivos ou ígneos. Uma vez que os processoserosivos e outros processos sedimentários raramente reiniciam o relógio, a dataçãoradiométrica raramente é usada para datar rochas sedimentárias como arenitos, xistos ecalcários. No entanto, as rochas graníticas, vulcânicas e metamórficas que passaram porprocessos ígneos são frequentemente usadas para a datação radiométrica. Essa opção sugereque idades radiométricas atribuídas a minerais inorgânicos associados com um fóssil são maisum reflexo das características do material de referência do que uma indicação da idade dofóssil. Os problemas de não reinício para as idades radiométricas não estão escondidos nemsão ignorados pela comunidade científica, pois muitas ilustrações podem ser encontradas na

literatura científica documentando problemas como esses.

6. Contaminação. A contaminação é outro problema que surge quando se trata dedeterminações radiométricas de idade. A extensão em que a contaminação afeta os diferentesmétodos pode variar muito. Por exemplo, as datas de estalactites ou estalagmites determinadaspelo método U-Th podem chegar a muitos milhares de anos, sem que haja nenhuma indicaçãode que tenha ocorrido um erro. A causa pode ser uma argila que contenha vestígios de Th-239ou uma percolação de urânio. 6

7. Outras considerações. Também ocorrem desvios como resultado de outros processos.Esses processos podem ser geoquímicos ou geofísicos, como, por exemplo, a mobilizaçãodiagenética (um processo complexo que modifica sedimentos recém-depositados na rocha) denuclídeos pais ou filhos em um sistema mineral ou rochoso, a ocorrência de danos causadospela radiação, fracionamento de isótopos (distribuição desigual de isótopos) ou flutuações delongo prazo na produção de radionuclídeos cosmogênicos (elementos radioativos como o C-14, que são continuamente produzidos na atmosfera superior da Terra).

CONCLUSÃO

O tempo é real somente porque o ser humano é finito. Entretanto, todos os aspectos dainterpretação humana do tempo podem não ser reais. Devemos, portanto, ser cautelosossempre que tentamos aplicar uma interpretação rígida de um fenômeno pré-histórico,independentemente dos dados, sejam eles científicos ou bíblicos. O registro bíblico não abordadiretamente questões de tempo transcorrido. O maior questionamento para a interpretaçãobíblica da idade da Terra são as idades radiométricas progressivas encontradas na colunageológica. Não parece haver nenhuma relação linear direta entre o tempo radiométricoobservado através de toda a coluna geológica e as genealogias existentes nas Escrituras.

Diante dessa dificuldade, e por causa do significado da fé no relato bíblico, faríamos bem emreconhecer as limitações de nosso conhecimento, mantendo nossa fé como a mais altaprioridade enquanto humildemente reconhecemos a tensão que permanece entre nossoentendimento da Bíblia e da ciência. Devemos lembrar, porém, que uma idade antiga para aTerra física não implica diretamente em uma idade antiga para a vida.

Clyde L. Webster Jr. tem licenciatura em química pelo Walla Walla College (atualmenteUniversidade de Walla Walla) e PhD em geoquímica física inorgânica pela Universidade doEstado do Colorado. Ele serviu como diretor do departamento de química da Universidade deLoma Linda e do então Walla Walla College, antes de entrar para o Geoscience Research

Institute, em 1983. Publicou vários artigos e viajou por todo o mundo, participando deinúmeros seminários sobre fé e ciência até o ano 2000. Por problemas de saúde, precisouaposentar-se parcialmente. Atualmente, ele é professor visitante da Universidade daCalifórnia e professor pesquisador na Universidade de La Sierra.

1 F. D. Nichol, “How Old is the Earth?”, Review and Herald, 3 de dezembro de 1964.

2 Nichol.

3 Por exemplo, E. Heath et al., “Long Magma Residence Times at an Island Arc Volcano (Soufriere, St. Vincent) in theLesser Antilles: Evidence From 238U-230 The Isochron Dating”, Earth and Planetary Science Letter 160 (1998): 49-63.

4 Por exemplo, ver R. J. Fleck e R. E. Criss, “Strontium and Osygen Isotopic Variations in Mesosoic and Tertiary Plutonsof Central Idaho”, Contributions to Mineralogy and Petrology 90 (1985): 291-308.

5 Por exemplo, J. Pilot et al., “Palaeozoic and Proterozoic Zircons From the Mid-Atlantic Ridge”, Nature 393 (18 de junhode 1998): 676-679.

6 R. M. Garrels e C. L. Christ, Solutions, Minerals, and Equilibria (Nova York: Harper & Row, 1965), 253.

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11. EXISTEM EVIDÊNCIAS DE UM DILÚVIO

GLOBAL? ARIEL A. ROTH

dilúvio descrito em Gênesis é, ao mesmo tempo, memorável e impressionante. A Bíbliadedica três capítulos inteiros para descrevê-lo, os quais são mais extensos do que os dois

que relatam a criação. Podemos encontrar significativas confirmações do dilúvio mesmo forado relato bíblico.

No contexto bíblico, o dilúvio de Gênesis permite reconciliar uma criação recente com amaioria dos registros fósseis encontrados em todo o mundo. Alguns sugerem que o dilúvio deGênesis foi um evento local, ou que ele somente produziu uma pequena parte do registrofóssil, mas essas sugestões não estão de acordo com o relato bíblico, que indica que “as águasprevaleceram excessivamente sobre a terra; e todos os altos montes que havia debaixo de todoo céu foram cobertos” (Gênesis 7:19, ARC). Além disso, a não ser por condições que fugissemda normalidade, parece improvável que partes importantes do registro fóssil pudessem ter sidoformadas no tempo relativamente curto decorrido antes e depois do dilúvio. O modelo bíblicoparece ser o de uma criação recente em seis dias e o de um dilúvio global, que responde pelaexistência de grande parte do registro fóssil. O modelo bíblico constitui um acentuadocontraste ao modelo evolucionista do registro fóssil, que representa um desenvolvimentogradual e evolucionista da vida ao longo de bilhões de anos.

Não é necessário basear-se no relato bíblico para encontrar apoio para a realidade de umdilúvio. O conceito está bem documentado em tradições seculares e na literatura folclórica.Relatos sobre um dilúvio global são seis vezes mais comuns do que os de outros tipos decalamidades globais do passado (tabela 1). No monumental tratado de seis volumes sobreliteratura folclórica de Stith Thompson, 1 há 122 referências a um dilúvio global. O fogo é apróxima causa mais comum de uma calamidade global no passado, com 19 referências. Nãosão mencionados terremotos, vulcões, pestes ou secas. Alguns tentam explicar que asnarrativas do folclore sobre um dilúvio se basearam em numerosos dilúvios locais ocorridos aolongo do tempo, antes que houvesse meios de comunicação que facilitassem a confirmação deeventos globais. No entanto, se houvesse ocorrido tantos eventos locais ao longo do tempo,seria de se esperar que uma grande variedade de causas fosse mencionada. Uma conclusãorazoável é que essa abundância de relatos sobre um dilúvio global foi simplesmente o resultadode um dilúvio real de tal magnitude que acabou sendo lembrado por muitos povos. Por essarazão, o relato foi preservado por meio de histórias orais.

Em geral, os geólogos rejeitam a interpretação de Gênesis sobre o dilúvio. Durante a últimametade do século, porém, uma nova tendência tem admitido a ocorrência de catástrofes comograndes inundações nas interpretações geológicas. Essas novas interpretações muitas vezesincluem conclusões que, até certo ponto, coincidem com os resultados que se esperaria de umdilúvio global. Se uma inundação dessas respondesse por grande parte dos fósseis e do registrosedimentar que os acompanha, seria de se esperar que evidências significativas para issofossem encontradas, o que, de fato, é o caso. A seguir, apresentamos várias linhas de evidênciageológica a favor de um dilúvio global:

Sedimentos oceânicos nos continentes. Os sedimentos encontrados nos continentes, emmeio aos quais está a maior parte dos fósseis, mostram uma espessura média deaproximadamente 1,5 quilômetro – cerca de quatro vezes a espessura dos sedimentosencontrados no leito oceânico, onde atualmente os rios depositam seus sedimentos. Um fatosurpreendente é que cerca de metade dos sedimentos dos continentes contém fósseis deorganismos marinhos. Qual é a razão da existência de tão grande quantidade de material

oriundo do oceano nos continentes? A explicação dada pelos geólogos é que, no passado,mares continentais foram formados sobre os continentes devido a repetidas inundações. Issopode ser precisamente o que ocorreu no dilúvio de Gênesis.

Abundante atividade submarina rápida nos continentes. Uma das descobertas nainterpretação dos sedimentos foi a frequência dos depósitos ocorridos rapidamente debaixod’água e observados nos registros rochosos. Tais depósitos são preservados na forma deturbiditos, avalanches submarinas e outros processos semelhantes. Essas características sãoexatamente as mesmas que poderiam ser esperadas no caso de um dilúvio global.

Evidência de correntes em escala continental. Outra característica interessante é quemuitas camadas sedimentárias depositadas em vários níveis proveem evidência de vastascorrentes de água que se deslocaram em uma direção dominante sobre os continentes. 2 Isso éalgo que também se poderia esperar que ocorresse durante um dilúvio global. Por exemplo, asrochas paleozoicas na América do Norte mostram uma tendência predominante das correntesna direção nordeste a sudeste, com pequena influência topográfica aparente.

Depósitos sedimentários de grande extensão. Ao se examinar a crosta da Terra, ésurpreendente observar que muitos depósitos sedimentares são extremamente planos e seestendem sobre vastas regiões dos continentes. Seriam necessários eventos muito poderosospara que essas singulares camadas fossem estendidas dessa maneira. Um geólogo que nãoaceita o dilúvio de Gênesis descreve a causa desses depósitos como “eventos extremos [...] demagnitudes tão imensas e devastadoras que não têm sido estudados cientificamente, eprovavelmente não podem sê-lo”. 3 Eventos como esses teriam consequências de alcanceglobal. A figura 1 ilustra dois eventos de depósitos de grande extensão. A camadaesbranquiçada acima da ponta da seta, a Formação Cretácea de Dakota, com várias camadas,tem em média 30 metros de espessura, e se estende sobre 815.000 quilômetros quadrados daregião oeste dos Estados Unidos.

A produção de uma formação como essa requer uma topografia ou superfície extremamenteplana. As camadas mais escuras, bem abaixo da ponta da seta, são a famosa FormaçãoJurássica Morrison, conhecida especialmente por seus dinossauros fossilizados. Ela tem emmédia cem metros de espessura e se estende desde o Texas, na parte sul dos Estados Unidos,até o Canadá, cobrindo um milhão de quilômetros quadrados. Nenhuma evidência sobre aexistência de um grande rio foi encontrada em toda a Formação Morrison. 4 Não vemos nadasemelhante a esses extensos depósitos ocorrendo em nossos continentes atualmente.Entretanto, esses depósitos geológicos de grande escala representam precisamente o tipo deatividade que esperaríamos de um grande e catastrófico dilúvio.

Lacunas planas nas camadas sedimentárias. Em muitas partes do mundo, vemos comfrequência que grandes porções da coluna geológica estão ausentes entre as camadassedimentares, sem que haja qualquer evidência da passagem do tempo. Nesses lugares,simplesmente não houve depósito de camadas sedimentares. A explicação costumeira é queessas regiões eram de planalto. Não seriam bacias em que os sedimentos tenderiam a seacumular. De acordo com os modelos de eras geológicas longas, essas lacunas representammilhões de anos. Se esses longos períodos de tempo realmente ocorreram, era de se esperar apresença de grande erosão nessas regiões de planalto. A erosão normalmente deixa umasuperfície irregular, mas a topografia desses intervalos é notavelmente plana, o que indica aocorrência de pouco ou nenhum tempo para que houvesse erosão nessas lacunas. 5 Osgeólogos chamam essas lacunas de paraconformidades ou inconformidades.

A seta na figura 1 aponta para uma dessas lacunas planas, em que a parte de cima do períodojurássico da coluna geológica e a parte de baixo do período cretáceo da mesma coluna nãoestão presentes entre as formações Morrison e Dakota. De acordo com a escala de tempogeológica, isso representa um intervalo de aproximadamente quarenta milhões de anos. Emvelocidades de erosão médias para os continentes do mundo, 6 poderíamos esperar umafastamento entre as duas formações de mais de um quilômetro de espessura de sedimentosacumulados durante o mesmo tempo. Apesar disso, podemos ver que o contato entre as duascamadas é bastante liso, como se tivessem sido estendidas em rápida sucessão. Essa lacuna é

estendida por centenas de milhares de quilômetros quadrados no oeste dos Estados Unidos.Embora seja raro, pode-se ver um pouco de erosão, mas isso era de se esperar em um dilúvio.As lacunas planas desafiam os supostos milhões de anos da coluna geológica e sãotestemunhas do rápido depósito do registro sedimentar, como se acredita ter acontecido nodilúvio.

Sistemas ecológicos incompletos. Direta ou indiretamente, quase todos os animais precisamde plantas para sobreviver. Quando encontramos grandes áreas no registro fóssil contendomuitos animais e poucas plantas (ou nenhuma), ficamos imaginando como os animaissobreviveram durante os milhões de anos postulados para que ocorresse o depósito dascamadas sedimentares envolvidas. Parece que temos evidências de sistemas ecológicosincompletos, em que os animais não poderiam sobreviver devido à falta de alimento. Essascondições se encaixam melhor ao modelo de inundação catastrófica em que a água emmovimento teria separado os animais das plantas, sendo que as plantas foram transformadasem vastos depósitos de carvão.

A Formação Morrison, anteriormente mencionada, parece ser apenas um desses enormes eincompletos sistemas. Ela tem sido uma das mais ricas fontes de fósseis de dinossauros domundo, embora ali as plantas sejam raras. E o que essas enormes criaturas comiam? Opaleontólogo Theodor White comenta que “embora a [Formação] Morrison tenha sido umaárea de acumulação rápida de sedimentos, fósseis identificáveis de plantas são praticamenteinexistentes”. 7 Há uma situação semelhante no Deserto de Gobi, na Mongólia, e no ArenitoCoconino, no sudoeste dos Estados Unidos. 8 Neste exemplo norte-americano, parece nãohaver plantas, mas existem centenas de rastros de animais, quase todos indo montanhaacima, 9 como se os animais estivessem fugindo de uma inundação.

Depósitos incomuns de carvão. Algumas camadas de carvão fóssil são imensas. Cobrindomilhares de quilômetros quadrados, chegam a ter 150 metros de espessura. Não encontramosatualmente depósitos tão grandes de carvão em formação na Terra, apenas uma quantidadelimitada em turfas e pântanos. Os contatos normalmente bruscos e a espessura uniforme dascamadas de carvão fóssil, bem como os muitos ciclos repetidos de depósito, encaixam-se bemà ideia de depósitos causados por uma inundação rápida. Além disso, a presença de camadassedimentares chamadas de “veios”, com apenas poucos centímetros de espessura, que porvezes se estendem por mais de mil quilômetros quadrados no interior de uma camada decarvão, 10 aparentemente pode ser explicada como o resultado de um transporte feito por água.Durante o dilúvio, as enxurradas de água teriam separado a vegetação mais leve e flutuante, aqual, posteriormente, seria transformada em extensas camadas de carvão.

Dados científicos que desafiam eras geológicas longas. Um corpo significativo de dados

científicos indica que os bilhões de anos propostos para as camadas geológicas não têmvalidade. Embora esses dados tampouco validem o dilúvio de uma maneira tão direta como asevidências descritas acima, eles conferem um sólido suporte para um dilúvio bíblico recenteem comparação com o modelo evolucionista, longo e lento. Vários exemplos desses dadosestão relacionados e explicados abaixo.

1. O ritmo de erosão de nossos continentes é tão acelerado que eles poderiam ser erodidosmais de cem vezes até o nível do mar durante os bilhões de anos propostos para suaexistência. 11

2. O carbono-14, que se decompõe relativamente rápido, não deveria em absoluto serdetectado em amostras com mais de um milhão de anos. No entanto, quase cem amostras,inclusive alguns diamantes que, supostamente, têm de milhões a centenas de milhões de anosde idade, apresentam carbono-14, o que sugere uma idade muito menor. 12

3. Evidências arqueológicas da escrita e de importantes progressos arquitetônicos comoaquedutos e pirâmides têm apenas uns poucos milhares de anos. De acordo com asinterpretações evolucionistas, o gênero Homo já existe por mais de dois milhões de anos, e oHomo sapiens por duzentos ou, talvez, quinhentos mil anos. Por que o ser humano levariatanto tempo para atingir esse progresso? 13

4. A população humana chegou a sete bilhões de pessoas e, com base nos dados maisrecentes, vai dobrar de tamanho em muito menos que cem anos. Embora variados fatorestenham sido invocados para explicar as baixas taxas de crescimento populacional do passado,estimativas cautelosas baseadas em taxas atuais indicam que seriam necessários apenas poucosmilhares de anos para que se gerasse uma população de sete bilhões de pessoas, iniciandoapenas com os dois pais. Se a humanidade fosse tão antiga como é comumente sugerido, de sesupor que a Terra estivesse repleta de gente há muito tempo.

5. As mutações são notoriamente danosas. Alguns cálculos indicam que, por causa das altastaxas de mutação encontradas nos humanos, a humanidade deveria haver se degenerado até oponto de extinção muito tempo atrás. Se o ser humano houvesse existido durante o longotempo sugerido pelo tempo geológico, como poderíamos ter sobrevivido apesar de tão danosascircunstâncias? 14

6. Os cientistas encontraram tecidos macios e de aspecto fresco em fósseis de dinossauroscom alegados oitenta milhões de anos. 15 Não se espera que as moléculas de proteínasobrevivam por cem mil anos. No entanto, elas são encontradas em uma variedade de fósseis,em várias partes da coluna geológica.

7. Os bilhões de anos do tempo geológico são demasiadamente curtos para respaldar asimprobabilidades da evolução como a de produzir sequer uma molécula específica de proteína,para não dizer a primeira forma de vida, que seria muito complexa. 16

CONCLUSÃO

É muito difícil explicar um conjunto significativo de dados científicos a menos queacreditemos na narrativa bíblica do dilúvio. A literatura folclórica, dados geológicos, outrosdados científicos corroboradores e a própria Bíblia, tudo isso confere autenticidade a essaespantosa catástrofe.

Ariel A. Roth é PhD em zoologia pela Universidade de Michigan. Ele trabalhou comoprofessor na Universidade Andrews e na Universidade de Loma Linda. Também foi diretor doGeoscience Research Institute, onde deu início à publicação Origins. Na controvérsia sobreevolução e criação, ele atuou como consultor, testemunha e orador convidado nos estados daCalifórnia, Arkansas e Oregon. Publicou mais de 180 artigos em revistas científicas epopulares. Seu livro Origens: Relacionando a Ciência com a Bíblia foi publicado em dezesseisidiomas, e o seu novo livro, A Ciência Descobre Deus, está disponível em sete idiomas.

1 S. Thompson, Motif Index of Folk Literature, ed. rev. (Bloomington: Indiana University Press, 1955).

2 A. V. Chadwick, “Megatrends in North American Paleocurrents”, Society of Economic Paleontologists andMineralogists Abstracts with Programs 8 (1993): 58.

3 C. E. Brett, “A Slice of the ‘Layer Cake’: The Paradox of ‘Frosting Continuity’”, Palaios 15 (2000): 495-498.

4 P. Dodson et al., “Taphonomy and Paleoecology of the Dinosaur Beds of the Jurassic Morrison Formation”,Paleobiology 6 (1980): 208-232.

5 Para mais detalhes, ver A. A. Roth, “‘Flat Gaps’ in Sedimentary Rock Layers Challenge Long Geologic Ages”, Journalof Creation 23, nº 2 (2009): 76-81; “Those Gaps in the Sedimentary Layers”, Origins 15 (1988): 75-92.

6 Estima-se que antigas taxas de erosão sejam aproximadamente um terço mais lentas do que as atuais por causa daspráticas agrícolas do ser humano. As estimativas fornecidas fazem os ajustes necessários.

7 T. E. White, “The Dinosaur Quarry”, em Guidebook to the Geology and Mineral Resources of the Uinta Basin, ed. E. F.Sabatka (Salt Lake City: Intermountain Association of Geologists, 1964), 21-28.

8 Para mais detalhes e referências, ver A. A.Roth, Origens: Relacionando a Ciência com a Bíblia (Tatuí, SP: CasaPublicadora Brasileira, 2001), 213-216.

9 C. W. Gilmore, “Fossil Footprints From the Grand Canyon: Second Contribution”, Smithsonian MiscellaneousCollections 80, nº 3 (1927): 1-78.

10 S. A. Austin, “Evidence of Marine Origin of Widespread Carbonaceous Shale Partings in the Kentucky nº 12 Coal Bed(Middle Pennsylvanian) of Western Kentucky”, Geological Society of America, Abstracts With Programs 11, nº 7 (1979): 381,382.

11 Para os cálculos, ver Roth (2001), 216-222, 256-260.

12 P. Giem, “Carbon-14 Content of Fossil Carbon”, Origins 51 (2001): 6-30.

13 Roth (2001), 119.

14 T. Beardsley, “Mutations Galore: Humans Have High Mutation Rates. But Why Worry?”, Scientific American 280, nº 4(1999): 32, 36; J. C. Sanford, Genetic Entropy & the Mystery of the Genome (Waterloo, NY: FMS Publications, 2008).

15 M. H. Schweitzer, “Biomolecular Characterization and Protein Sequences of the Campanian Hadrosaur B. Canadensis”,Science 324 (2009): 626-631.

16 A. A. Roth, A Ciência Descobre Deus (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010), 74-101.

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12. O QUE O REGISTRO FÓSSIL REVELA? ROBERTO E. BIAGGI

registro fóssil é um arquivo que mostra a história da vida na Terra. Nele estão incluídosdados relacionados, por exemplo, à natureza dos estratos de rocha nos quais se encontram

restos de organismos. Os pesquisadores elaboraram uma enorme base de dados 1 que contémnão apenas os dados, mas também as interpretações sobre os restos fósseis, as rochas, osprocessos decorridos, o tempo envolvido e a suposta ecologia desses organismos. É importanteter em mente que a base de dados contém tanto os dados objetivos como suas interpretações.

Quanto se conhece do registro fóssil? Um estudo recente 2 mostrou que, quando sãoanalisadas as curvas de coleta 3 de fósseis, o número de famílias de invertebrados evertebrados descritas durante os últimos duzentos anos continua aumentando, representadoatualmente mais de 3.000 famílias. Por outro lado, o número de famílias que contêm tantofósseis quanto representantes vivos na atualidade ficou nivelado em aproximadamente 1.600famílias. Isso sugere que o registro de metazoários fósseis (organismos multicelulares) dofanerozoico global (isto é, a era geológica atual) ainda é bastante incompleto. No entanto, ospesquisadores concordam que o registro conhecido é razoavelmente representativo.

Quando se considera os dados disponíveis, é preciso ter muito cuidado ao se fazerintepretações e ao se formular argumentos em apoio a nossas opiniões. Na seção abaixo,examinamos alguns pontos de vista amplamente aceitos que, na realidade, não estão apoiadospelos dados disponíveis.

DISSIPANDO CONCEITOS ERRÔNEOS

Como estudantes e cientistas cristãos, temos que estar conscientes da “má ciência”, ou seja,de declarações que carecem do apoio dos dados científicos e das Escrituras. Na próxima seção,descrevemos alguns exemplos de conceitos errôneos que têm sido promovidos por algunscriacionistas.

Conceito errôneo 1: A coluna geológica estratigráfica (estrato de rochas) não é real,mas uma construção humana com que tentam nos enganar. Indicamos anteriormente que oregistro geológico é real, que os dados são reais e que, apesar dos problemas que algumasinterpretações apresentam, em geral a sequência estratigráfica é real. Os problemas surgem dasdiferenças de interpretação acerca da origem da sequência observada ou da natureza dosprocessos que produziram a sequência. Como pode haver ordem nessa sequência, perguntam

alguns, se tudo foi o resultado de uma grande catástrofe como o dilúvio global? No entanto, aexperiência dos estudos de campo mostra repetidas vezes que existe ordem no registro fóssil.Esta mesma singularidade na sequência ordenada da coluna estratigráfica explica o sucesso devárias tecnologias utilizadas na exploração de recursos minerais e fósseis.

Conceito errôneo 2: As reconstruções de fósseis contêm muitos erros. Durante osprimeiros anos da paleontologia como ciência, vários erros foram cometidos ao se tentarreconstruir organismos tomando como base uns poucos ossos fósseis, ou quando diversaspartes dos fósseis eram atribuídas a algum organismo em particular. No entanto, atualmente asreconstruções são mais precisas e acertadas devido ao desenvolvimento de várias disciplinas eao descobrimento de um grande número de fósseis em todos os continentes.

Conceito errôneo 3: Os dinossauros não são reais. Hoje quase todos reconhecem que osdinossauros realmente existiram. 4 Tanto os paleontólogos como os apaixonados pordinossauros têm encontrado milhares de fósseis dessas criaturas, incluindo ovos e embriões.Mais recentemente, eles encontraram nesses fósseis moléculas orgânicas como a proteínacolágeno e o que parece ser células sanguíneas ósseas e vasos sanguíneos bem conservados.

Conceito errôneo 4: Existem pegadas humanas junto a pegadas de dinossauros. Estacrença, popular em certos setores, baseia-se em supostos achados dessas pegadas no leitorochoso do Rio Paluxy, no Texas. O que não é tão conhecido é que foram cientistascriacionistas adventistas que submeteram as evidências à prova e assim descobriram a naturezaerrônea ou fraudulenta dessas afirmações sobre as supostas pegadas humanas. Devemos sermuito cautelosos no que diz respeito a afirmações que se propagam como “provas” e quealguns consideram necessárias para respaldar nossas crenças.

Conceito errôneo 5: Todo o registro fóssil, ou a coluna geológica completa, foidepositado durante o ano do dilúvio bíblico. Têm-se proposto que a coluna geológica seformou como resultado de um evento catastrófico único. No entanto, agora sabemos que oregistro geológico é muito mais complexo do que um único evento poderia produzir. Com basenos dados, um cenário razoável sugere que parte da porção inferior do registro consiste derochas anteriores ao dilúvio global, as quais não chegaram a ser completamente alteradas ouerodidas pela catástrofe. Da mesma maneira, é muito provável que uma porção superior dasequência represente os estratos e os processos que ocorreram logo após o dilúvio. Destamaneira, uma quantidade significativa de atividades geológicas estaria representada em rochas“pré-diluvianas” e “pós-diluvianas”.

Conceito errôneo 6: Os fósseis marinhos que se encontram nas regiões mais altas dasmontanhas são prova de que as águas do dilúvio cobriram os picos mais elevados e,portanto, toda a Terra. Esses fósseis não foram espalhados pelas regiões altas das montanhasà medida que as águas as cobriam, mas foram produzidos quando os organismos morreram emum meio aquoso (ou foram arrastados por uma corrente) e, mais tarde, cobertos por camadasde sedimentos. Posteriormente, esses estratos com fósseis foram elevados durante os processosgeológicos que formaram as montanhas. Os fósseis e os sedimentos que os enterraram podemter sido o resultado direto do dilúvio ou uma consequência de eventos relacionados ao dilúvio.

Conceito errôneo 7: O registro fóssil prova a realidade da evolução (ou prova arealidade do dilúvio bíblico). Gostamos de ter certeza das coisas, isto é, saber que possuímosas respostas ou crenças corretas. Mas a ciência, em razão de seus métodos e limitações, nãonos provê a verdade definitiva, especialmente no que concerne a teorias como a evolução ou acriação, que necessariamente contêm um componente metafísico. O que se pode fazer éfornecer evidências para os aspectos da teoria da evolução, como as maneiras pelas quais osorganismos semelhantes se adaptam a ambientes diferentes, ou em favor de processoscatastróficos que causaram a extinção de algumas formas de vida.

EVIDÊNCIAS COMPATÍVEIS COM UM MODELO GEOLÓGICO DE IDADES

RELATIVAMENTE CURTAS QUE LEVAM EM CONSIDERAÇÃO OS DADOS DO

REGISTRO BÍBLICO 5

Consideremos agora alguns dos argumentos propostos por um grupo de geólogos epaleontólogos para conseguir certo grau de harmonia entre o registro bíblico e as evidênciascientíficas. 6 Embora este modelo apresente aspectos interessantes, existem sérios problemasem virtude de algumas questões ainda sem solução.

Em primeiro lugar, não temos até o momento um modelo detalhado e satisfatório para odesenvolvimento da coluna geológica e de seu registro fóssil. Algumas hipóteses têm sidopropostas, como a tentativa de encaixar toda a coluna geológica no ano do dilúvio ouestabelecer um modelo de um dilúvio estendido. No entanto, cada uma dessas hipóteses temnumerosos problemas. Elas suscitam mais perguntas do que respostas. Mesmo assim, algumastentativas têm sido feitas, 7 e a área continua sendo objeto de ativa investigação.

Em segundo lugar, algumas das características mais importantes do registro fóssil são difíceisde interpretar dentro da moldura de um tempo geológico breve. 8 Essas características incluem(1) a existência de fósseis com características que parecem ser intermediárias entre gruposreconhecíveis de espécies (algumas dessas “formas”, no entanto, podem ter sido parte dacriação original); (2) a existência de uma sequência fóssil geral, inclusive de algumassequências específicas dentro de certos grupos de organismos fósseis; (3) o número de famíliasfósseis que têm representantes vivos, que aumenta à medida em que se ascende à parte superior

da coluna geológica; e (4) alguns padrões de distribuição biogeográfica que são difíceis deexplicar.

Apesar desses problemas, existem muitas evidências que sugerem um ponto de vistaalternativo ao da geologia e paleontologia convencionais, conforme descrevemos a seguir.

Evidência 1: Os dados geológicos e paleontológicos demonstram um acúmulo desedimentos fósseis através de processos catastróficos. Vem aumentando ultimamente oreconhecimento entre os pesquisadores das ciências da Terra de que muitos dos estratos derochas se formaram catastroficamente. Até poucas décadas atrás, o princípio dominante dasinterpretações geológicas era o do uniformitarianismo (o conceito de que os processos nopassado ocorreram na mesma velocidade em que ocorrem no presente). Entretanto, muitosreconhecem os problemas deste tão influente paradigma e aceitam que no passado geológicoaconteceram muitos eventos catastróficos. Alguns exemplos de aspectos catastróficos noregistro incluem o reconhecimento de eventos bem documentados de megainundações (LagoMissoula, 9 Mar Mediterrâneo, 10 Canal da Mancha, 11 entre outros); o reconhecimento deturbiditos (estratos de rochas resultantes de fluxos submarinos de alta velocidade); 12 a rápidaacumulação de ritmitos 13 (camadas de rochas sedimentares que se depositaram com óbviaperiodicidade), anteriormente interpretada como resultado de um lento depósito de vários anosou atribuída à sedimentação anual estacionária como os varves (camadas de sedimentosdepositados em um meio aquoso, sem movimento, ao longo de um ano); a influência dovulcanismo de grande escala em eventos de sepultamento rápido (por exemplo, o acúmulosedimentário de cinza vulcânica); 14 o efeito de grande escala dos impactos de bólidos 15

(meteoritos que impactam a Terra). Sabe-se que um número impressionante de asteroides caiue explodiu sobre a Terra, causando graves transtornos ambientais e destruição da vida. Deve-selevar em conta que o registro fóssil se encontra nas unidades de rochas que possuem essascaracterísticas, o que mostra que os fósseis se acumularam sob condições catastróficas.

Associadas a essas evidências de rápida atividade geológica, existem muitas característicasque contrariam o uniformitarianismo, 16 como os processos sedimentares de grande escala (porexemplo, a Formação Morrison do Jurássico e suas unidades de rochas associadas); adistribuição global de estratos com rochas marinhas contendo fósseis dos tipos trilobitos eamonites; padrões de paleocorrentes de escala continental (por exemplo, a FormaçãoChinle); 17 descontinuidades no registro estratigráfico, isto é, brechas ou lacunas no registrogeológico incompatíveis com a quantidade de tempo supostamente representada ali;vulcanismo de grande escala (por exemplo, os basaltos de Deccan, na Índia, e os basaltos dorio Columbia, no noroeste dos Estados Unidos); 18 eventos tectônicos globais/regionais (porexemplo, o levantamento de montanhas, o movimento das placas tectônicas, a subsidência dasbacias e o abastecimento massivo de sedimentos para o preenchimento das bacias); 19 osimpactos dos bólidos 20 (existem mais de 150 estruturas possivelmente originadas porimpactos extraterrestes desde o período pré-cambriano, algumas das quais medem de 250 a300 quilômetros de diâmetro como, por exemplo, a cratera de Vredefort, na África do Sul, e a

de Chicxulub, em Yucatán, México).

Evidência 2: A existência e conservação de fósseis. É muito difícil explicar a conservaçãode numerosos organismos ou a evidência de suas atividades (como pegadas e tocas) com basenos processos atualmente utilizados, especialmente quando consideramos a natureza dosdepósitos de fósseis. Muitas das características dos fósseis por si mesmas apoiam eventoscatastróficos ou processos rápidos de sepultamento. Algumas dessas características sãodescritas a seguir.

A abundância de eventos de mortalidade massiva através do registro. 21 Hoje, ospaleontólogos reconhecem que a maioria desses depósitos se formou catastroficamente. Umexemplo disso é o sepultamento massivo de restos de dinossauros. Milhares de ossos eesqueletos completos já foram descobertos e, em muitos casos, os sedimentos nos quais seencontram esses restos contêm quantidade significativa de material vulcânico.

Eventos de extinção global. 22 Através do registro fóssil, existem muitos estratos (não apenasos populares “cinco grandes”) que registram o desaparecimento repentino de numerosostáxones. Por exemplo, quando se discute o assunto das extinções, normalmente nos referimos aespécies populares como dinossauros, trilobitos 23 e amonites. Mas, na realidade, existemcentenas de gêneros e uma quantidade ainda maior de espécies que sofreram extinção e, aindamais significativamente, ficaram conservados, algo muito raro sob as condições atuais.

A excelente conservação dos organismos fossilizados. 24 Foram descobertos esqueletosarticulados completos e também partes macias do corpo conservadas, como, por exemplo,barbatanas de baleias. Também foram encontrados órgãos internos de peixes fossilizados daFormação Santana e válvulas articuladas tanto em moluscos de válvula dupla como emostrácodos (pequenos crustáceos semelhantes a camarões). Essas partes teriam se deterioradorapidamente se ficassem expostas por algum tempo sobre a superfície (seja sobre a terra ou nofundo do mar). Isso nos dá indicação de um sepultamento rápido e/ou um processo rápido demineralização.

Postura opistotônica de muitos dos esqueletos de vertebrados bem conservados. Umapostura extrema e dorsalmente superestendida da coluna vertebral, 25 na qual o crânio e opescoço estão curvados para trás e com uma forte extensão da cauda, não pode ser atribuídasimplesmente a processos posteriores à morte. Em vez disso, tal postura corresponde aosmovimentos agonizantes de uma morte ocorrida em consequência de alterações químicasinusitadas no ambiente (por exemplo, hipóxia, asfixia, toxinas no meio ambiente), as quaisseriam esperadas em uma situação catastrófica.

Evidência 3: Aparecimento e distribuição de restos fósseis. Muitos tipos de dadosrelacionados à primeira aparição de um organismo fóssil ou de um grupo de organismos nacoluna geológica e à subsequente distribuição dessas espécies no registro fóssil oferecem um

bom apoio ao modelo bíblico e, ao mesmo tempo, apresentam problemas para as intepretaçõesevolucionistas.

A Explosão Cambriana. 26 O aparecimento repentino de mais de vinte filos (phyla) ou tiposde organismos diferentes no início do Paleozoico (por exemplo, na conhecida jazida de fósseisdo Xisto de Burgess, no Canadá) apresenta um grave problema para a teoria evolucionista, quepropõe que todas as diferentes formas de vida provêm de um ancestral comum. Sendo quenenhum verdadeiro ancestral desses fósseis foi localizado mais abaixo no registro geológico, aevidência existente nesses estratos apoia uma origem polifilética da vida, 27 algo que seesperaria em um modelo criacionista que inclui diferentes “tipos” (gêneros e espécies, nalinguagem bíblica). De fato, embora a teoria evolucionista proponha o desenvolvimento deformas de vida a partir de um “ancestral comum universal”, a tendência dos dados sobre abiodiversidade fóssil descreve justamente o oposto, uma “árvore da vida invertida”. Váriasoutras “explosões” repentinas presentes no registro fóssil 28 sugerem a existência de linhasdiferentes com origens separadas. A diversidade que vemos hoje pode ter sido produzida peladiversificação a partir dos tipos criados originalmente por um processo de “descendência commodificação”, para usar a terminologia darwiniana. (De fato, o registro bíblico não éincompatível com eventuais mudanças evolutivas tais como a microevolução e aespeciação.) 29

O aparecimento repentino de estruturas e planos corporais complexos. Um exemplo clássicodesse fato é a natureza óptica complexa do olho composto do trilobito e a falta de estruturasoculares “simples” nos fósseis de estratos subjacentes.

A ausência de formas intermediárias entre os diferentes grupos de organismos nos filos(phyla). Com frequência, os supostos “elos evolucionistas” acabam sendo desmentidos pelospróprios especialistas paleontólogos que estudam esses fósseis. Nos últimos anos, ficoudemonstrado que vários dos supostos “elos evolucionistas” não são, na verdade, o que dizemser (por exemplo, o Archaeopteryx e a origem das aves). 30 A existência dessas lacunasmorfológicas entre categorias taxonômicas superiores serve, na verdade, para documentar aausência de uma continuidade evolucionária.

A existência de um número de estratos sucessivos contendo restos fósseis alóctones (ou seja,restos de organismos que não viviam ali, mas que foram transportados até esse lugar),depositados catastroficamente. As famosas “florestas petrificadas” do parque Yellowstone 31

são um exemplo de que as árvores que, a princípio pareciam estar em posição de crescimento,na verdade ali chegaram transportadas de outra região.

O registro de atividade animal: a presença de icnofósseis (ou seja, traços fósseis comopegadas e tocas, casulos de larvas e ovos de répteis e aves). 32 Esses dados são muito valiosospara o desenvolvimento de um modelo de depósito, sendo que indicam que, durante aformação do registro fóssil, alguns organismos estavam vivos e ativos. Embora esse tipo dedado sugira que um período de tempo haja transcorrido, ele também sugere que foi precisointroduzir uma grande quantidade de sedimentos, como processos de sepultamento rápido.

Ademais, a abundância de algumas dessas amostras (por exemplo, milhares de pegadas e deovos de dinossauros fossilizados em diferentes partes do mundo), e a natureza dos sedimentosonde foram conservadas sugerem condições ambientais incomuns, correspondentes a umcenário catastrófico global.

Foi publicada uma pesquisa em que estão relatados 25 padrões e tendências fósseis, os quaissão avaliados em relação às descrições evolucionistas e bíblicas da história da Terra. 33 Oestudo concluiu que são necessárias mais pesquisas; no entanto, ao se comparar as Escriturascom o registro fóssil, foi possível elaborar uma melhor compreensão da coluna geológica.

CONCLUSÃO

Entre os cientistas cristãos que se dedicam às ciências da Terra e confiam no relato bíblicoexiste um consenso de que o aspecto geral do registro fóssil é catastrófico, 34 e que houvedestruição e morte. Uma quantidade considerável dos dados do registro fóssil indica que ascondições físicas do passado eram dramaticamente diferentes das atuais e não apoiam umahistória naturalista e evolucionista da vida na Terra. O aparecimento repentino de umavariedade de formas de vida complexas e a falta de uma continuidade morfológica confirmamo relato bíblico da criação de tipos diferentes de organismos. Embora ainda haja muitasperguntas pendentes quando se leva em conta os diferentes tipos de dados (isto é, da geologia epaleontologia, entre outros), existe uma quantidade significativa de evidências para apoiar umainterpretação da história da Terra compatível com o registro bíblico.

Roberto E. Biaggi tem licenciatura em ciências naturais na Argentina, mestrado embiologia pela Universidade de Walla Walla e outro mestrado em geologia pela Universidadede La Sierra. Em continuação aos seus estudos, obteve doutorado com especialização empaleontologia pela Universidade de Loma Linda. Ele tem ministrado cursos sobre ciênciasnaturais no Chile, México e Argentina. Vários de seus projetos de pesquisa resultaram empublicações de artigos científicos e palestras em congressos científicos. Atualmente, lecionaciências naturais e filosofia da ciência e da religião na Universidad Adventista del Plata, ondetambém dirige a sede sul-americana do Instituto de Pesquisas em Geociência e contribui paraa publicação da revista Ciencia de los Orígenes.

1 Ver M. J. Benton, The Fossil Record 2 (Londres: Chapman & Hall, 1993); disponível online em:http://www.fossilrecord.net/fossilrecord/index.html. Também Benton, “Diversification and Extinction in the History of Life”,Science 268 (1995): 52-58.

2 A. Kalmar e D. J. Currie, “The Completeness of the Continental Fossil Record and Its Impact on Patterns of

Diversification”, Paleobiology 36, nº 1 (2010): 51-60.

3 Uma “curva de coleta” é um gráfico da taxa de descobrimento de novos tipos de fósseis (novas espécies de organismosfósseis) à medida que se coletam novos espécimes. A linha continua a subir enquanto novos tipos vão sendo descobertos e senivela quando essencialmente foram encontrados todos os tipos.

4 Ver o capítulo 14 deste volume, sobre os dinossauros, escrito por Raúl Esperante, como também seu artigo “What Doesthe Bible Say About Dinosaurs?”, publicado na revista Ministry (dezembro de 2009), disponível em:http://www.ministrymagazine.org/archive/2009/December/what-does-the-bible-say-about-dinosaurs.

5 Por exemplo, tal como L. Brand e D. James propõem em seu livro En el Principio: La Ciencia y la Biblia en la Búsquedade los Orígenes (Buenos Aires: ACES e Editorial Universidad Adventista del Plata, 2007), 131, 132. Esses autores propõemem seu Modelo 2, “geologia holística”, um planeta Terra que registra os processos geológicos que “vêm operando desde omomento da Queda [entrada do pecado no mundo] até o presente”.

6 As publicações recentes de cientistas adventistas que abordam muitas das questões relacionadas com a história da Terraincluem as seguintes obras: L. Brand e D. James, En el Principio: La Ciencia y la Biblia en la Búsqueda de los Orígenes(Buenos Aires: ACES e Editorial Adventista del Plata, 2007; L. Brand, Fe, Razón y la Historia de la Tierra: Un Paradigma delos Orígenes de la Tierra y de la Vida Mediante un Diseño Inteligente (Libertador San Martín, Argentina: EditorialUniversidad Adventista del Plata e Editorial Universitaria Adventus, 2011); H. G. Coffin, R. H. Brown e L. J. Gibson, Originby Design (Hagerstown, MD: Review and Herald, 2005); R. M. Ritland, A Search for Meaning in Nature: A New Look atCreation and Evolution (Mountain View, CA: Pacific Press, 1970); A. A. Roth, Origens: Relacionando a Ciência com aBíblia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira 2001); A. A. Roth, A Ciência Descobre Deus (Tatuí, SP: Casa PublicadoraBrasileira, 2010). Quando fazemos alusão ao registro bíblico da semana da criação e do dilúvio global, referimo-nos àintepretação tradicional adventista do sétimo dia sobre os eventos ali registrados. Por outro lado, o ponto de vista evolucionistaimplica em uma explicação naturalista e ateia da história.

7 Brand (2007), 131; ver também a nota 5.

8 Brand (2007), 81.

9 Ver V. R. Baker, “The Channeled Scabland: A Retrospective”, Annual Review of Earth and Planetary Science 37 (2009):393-411. Do ponto de vista de Baker, o domínio do uniformitarianismo sobre a comunidade geológica tem limitado o avançoda ciência. Ver também J. Soennichsen, Bretz’s Flood: The Remarkable Story of a Rebel Geologist and the World’s GreatestFlood (Seattle, WA: Sasquatch Books, 2009).

10 D. Garcia-Castellanos et al., “Catastrophic Flood of the Mediterranean after the Messinian Saliniy Crisis”, Nature 462(2009): 778-781.

11 S. Gupta et al., “Catastrophic Flooding Origins of Shelf Valley Systems in the English Channel”, Nature 448 (2007):342-345.

12 Brand (2007); Roth (2001); G. Shanmugam, “50 Years of the Turbidite Paradigm (1950s-1990s): Deep-Water Processesand Facies Models: A Critical Perspective”, Marine and Petroleum Geology 17 (2000): 285-342.

13 B. C. Yang et al., “Wave-Generated Tidal Bundles as an Indication of Wave-Dominated Tidal Flats”, Geology 36(2008): 39-42.

14 Ver M. Brongersma-Sanders, “Mass Mortality in the Sea”, GSA Memoir 67 (1957): 941-1010; M. Lockley e A. Rice,“Volcanism and Fossil Biotas”, GSA Special Paper 244 (1990): 1-136.

15 P. Schulte et al., “The Chicxulub Asteroid Impact and Mass Extinction at the Cretaceous-Paleogene Boundary”, Science

327 (2010): 1214-1218. Ver as informações acerca do mais recente debate sobre as causas da extinção massiva do K-T emScience 328 (2010): 973, 974; R. A. F. Grieve, “Terrestrial Impact Structures”, Annual Review of Earth and Planetary Science15 (1987): 245-270.

16 Baker (2009); D. V. Ager, The Nature of the Stratigraphical Record, 3ª ed. (Nova York: John Wiley and Sons, 1993):151.

17 R. F. Dubiel et al., “The Pangaean Megamonsoon: Evidence From the Upper Triassic Chinle Formation, ColoradoPlateau”, Palaios 6 (1991): 347-370; Roth (2001).

18 J. P. Lockwood e R. W. Hazlett, Volcanoes: Global Perspectives (Hoboken, NJ: John Wiley & Sons, 2010), 543.

19 P. Kearey et al., Global Tectonics, 3ª ed. (Hoboken, NJ: Wiley-Blackwell, 2009), 499.

20 K. R. Evans et al., eds., “The Sedimentary Record of Meteorite Impacts”, GSA Special Paper 437 (2008).

21 Ver, por exemplo, D. M. Martill et al., “Mass Mortality of Fishes in the Santana Formation (Lower Cretaceous, ?Albian)of Northeast Brazil”, Cretaceous Research 29 (2008): 649-658; ver também D. J. Varricchio e J. R. Horner, “Hadrosaurid andLambeosauri Bone Beds from the Upper Cretaceous 2 Medicine Formation of Montana: Taphonomic and BiologicImplications”, Canadian Journal of Earth Sciences 30, nº 5 (1993): 997-1006.

22 C. Koerbrl e K. G. MacLeod, eds., “Catastrophic Events and Mass Extinctions: Impacts and Beyond”, GSA SpecialPaper 356 (2002).

23 Só para mencionar um exemplo, existem mais de 15.000 espécies de trilobitos, todas elas já extintas.

24 D. J. Bottier et al., Exceptional Fossil Preservation: A Unique View on the Evolution of Marine Life (Nova York:Columbia University Press, 2002); P. A. Allison, “Konservat-Lagerstätten: Cause and Classification”, Paleobiology 14, nº 4(1988): 331-344.

25 C. M. Faux e K. Padian, “The Opisthotonic Posture of Vertebrate Skeletons: Postmortem Contraction on DeathThroes?”, Paleobiology 33, nº 2 (2007): 201-226.

26 Ver Roth, A Ciência Descobre Deus, cap. 5., em que o autor aponta o grande problema em explicar a origem de 19diferentes planos corporais nos filos (phyla) da Explosão Cambriana, quando no pré-câmbrico subjacente, e em umaproximidade estratigráfica, somente se encontram três.

27 Ver Brand (2007), fig. 7.7 (A e B), para uma descrição dos padrões que em realidade podem ser encontrados no registrofóssil, onde a diversidade dos filos ou tipos (categoria taxonômica superior de organismos), ao contrário do que se esperaria deum modelo evolucionário, é maior na parte inferior do registro, decrescendo à medida que se ascende na coluna geológica.

28 D. L. Rabosky e I. J. Lovette, “Explosive Evolutionary Radiations: Decreasing Speciation or Icreasing ExtinctionThrough Time?”, Evolution 62 (2008): 1866-1875.

29 Para estudos posteriores sobre o tema da microevolução e a especiação dentro de uma moldura intervencionista (bíblica),consultar Brand (2007), 56, 57.

30 Roth, A Ciência Descobre Deus, cap. 6, discute em profundidade este famoso “intermediário” e toda a controvérsia quetem havido entre os paleontólogos que estudam a origem das aves, as penas e o voo dos pássaros.

31 Por mais de 100 anos, os cientistas interpretaram esses estratos consecutivos como uma sucessão de cerca de 18 florestas

fossilizadas. Atualmente existe uma quantidade de dados (muitos deles como resultado de pesquisas estimuladas porparadigmas geo-históricos moldados por conceitos bíblicos) a qual sugere um cenário catastrófico de árvores e vegetaçãotransportada, tal como a que foi documentada logo após a erupção do Monte Santa Helena. Ver W. J. Fritz, “Reinterpretationof the Depositional Environment of the Yellowstone ‘Fossil Forests’”, Geology 8 (1980): 309-313. Para uma discussãodetalhada, ver L. Coffin et al., Origin by Design (2005), cap. 18; para um resumo, ver Brand (2007), 171. Esses resultadospoderiam muito bem ser aplicados a outras florestas petrificadas semelhantes.

32 Brand (2007), 145-147, discute as implicações dos traços fósseis e dos ovos fossilizados no registro fóssil. Emboramuitas dessas atividades requeiram tempo (e qualquer modelo deveria poder explicá-las), a conservação desses restos indicacondições incomuns e catastróficas.

33 Ver J. Gibson, “Fossil Patterns: A Classification and Evaluation”, Origins 23, nº 2 (1996): 68-96. Esses padrõesencontrados no registro fóssil são classificados em quatro categorias: padrões de diversidade fóssil, padrões de morfologiafóssil, padrões de ecologia fóssil e padrões de depósito. Gibson conclui, a partir desses padrões, que atividade catastrófica,padrões globais, súbito e abrupto aparecimento de disparidade morfológica entre animais marinhos na Explosão Cambriana,amplos eventos de extinção, ausência de ancestrais nas rochas pré-cambrianas e lacunas morfológicas entre os táxons maiselevados através do registro fóssil são todas evidências condizentes com o cenário bíblico para a história da Terra.

34 Há vinte anos, Ager (1993) sugeriu que “estamos começando a ver uma imagem um tanto ‘catastrófica’”. É evidente queficou provado que ele estava correto. Além disso, a natureza generalizada do registro poderia estar diretamente relacionada àforte impressão dos processos tafonômicos que levaram à conservação dos restos de organismos no registro fóssil, o que foidenominado de “megaviés tafonônico” do registro (Kalmar Currie [2010:51]; ver também a nota 2).

S

13. COMO A TECTÔNICA DE PLACAS SE

RELACIONA COM A BÍBLIA? BEN CLAUSEN

e alguém lhe fizer uma pergunta sobre geologia e sua resposta incluir a frase “tectônica deplacas”, há uma boa chance de você estar certo ou pelo menos na pista para a resposta

correta. A teoria da tectônica de placas fornece explicação para a formação de rochasvulcânicas e graníticas. Ela explica por que as montanhas estão em algumas partes; e asdepressões, em outras. Mostra-nos por que os continentes estão acima do nível do mar; e ofundo do oceano, abaixo do nível marítimo. A teoria também explica os terremotos como umsúbito movimento de duas placas deslizando uma contra a outra.

Para se entender como a tectônica de placas se relaciona com a Bíblia, este capítulo apresentaem primeiro lugar a descrição básica dessa teoria e suas evidências. Exemplos geográficosconectam a teoria a características bem conhecidas da Terra e demonstram sua abarcanteaplicabilidade. Depois, é analisada a relação entre a teoria da tectônica de placas e a Bíblia, pormeio de considerações sobre a história dessa teoria, a geografia bíblica e a ação de Deus nomundo. Por último, nos tópicos “revolução científica”, “teodiceia e catástrofe”, “tempo”,“rochas pré-fossilíferas” e “dissipação de calor”, são apresentados certos problemas sobre essateoria. Na conclusão, admitimos que muitas coisas a respeito da tectônica de placas ainda sãodesconhecidas, visto que a compreensão humana é limitada.

A TEORIA DA TECTÔNICA DE PLACAS

As placas e seus movimentos. A tectônica de placas envolve mais do que a separação de umsupercontinente, comumente chamado Pangea. O termo refere-se ao movimento de todos oscontinentes e “subcontinentes”, em várias direções. A Terra é composta de sete grandes placas.Seis delas equivalem a mais ou menos seis continentes. A sétima abarca uma grande parte doOceano Pacífico. Importantes placas menores, às quais este artigo faz alusão, incluem as placasárabe, indiana, filipina e caribenha, como também as placas Juan de Fuca, Cocos e Nazca,localizadas ao longo do lado leste da placa do Pacífico.

A maioria das atividades geológicas de interesse dos pesquisadores ocorre nas bordas dasplacas. Quando duas placas em movimento se separam, há divergência. Se elas se ajuntam, omovimento é classificado de convergência. Se deslizam uma contra a outra, o que ocorre éclassificado de transformação. Em limites divergentes, como o Sistema de Falhas da ÁfricaOriental e a Dorsal Mesoatlântica, novos materiais são formados na crosta terrestre, como, por

exemplo, a Surtsey, uma ilha vulcânica do sul da Islândia, formada em 1963. Em um limiteconvergente em que ocorre subducção, são formadas montanhas como os Andes, Alpes, SerraNevada e Himalaia, e também as ilhas vulcânicas, como as Aleutas e o Japão. Em um limitetransformante, duas placas deslizam uma contra a outra, como na Falha de San Andreas, naCalifórnia, e na falha existente ao longo do vale do Rio Jordão.

Além das atividades que ocorrem nos limites das placas, em alguns lugares o magma oriundodo manto da Terra sobe como uma chama no interior da placa, aquecendo a crosta eproduzindo os vulcões. Um ponto fixo como esse sob a placa do pacífico, que é móvel,produziu a cadeia de vulcões havaianos; outro, sob a América do Norte, produziu vulcanismosatravés do estado de Idaho, culminando com as atividades presentemente observadas no parqueYellowstone.

Diferenciação. De acordo com a teoria, os processos de tectônica de placas começaram emuma Terra primitiva homogênea. O magma brotou em centros de expansão formando umanova crosta oceânica. Rochas vulcânicas e graníticas foram forjadas em zonas de subducção,formando uma nova crosta continental. À medida que o material do interior da Terra sederretia parcialmente, subia até a superfície em forma de magma, cristalizando-se rapidamente.Os elementos da Terra se diferenciaram em minerais mais leves, na superfície, e minerais maispesados, no interior. Vários ciclos desse processo geraram montanhas menos densas econtinentes acima do nível do mar, como também as bacias oceânicas (mais densas) abaixo donível do mar, uma vez que a rocha da crosta de mais baixa densidade “flutua” acima do interior“líquido” da Terra.

Mecanismos. Três mecanismos têm sido sugeridos como causas dos movimentos das placastectônicas: (1) as placas são empurradas e separadas enquanto o magma oriundo do mantoterrestre sobe até os centros de expansão para formar novas crostas; (2) as placas juntam-seenquanto a crosta antiga é arrastada de volta ao manto nas zonas de subducção; e (3) as placasda crosta são carregadas em algo semelhante a “esteiras rolantes” em cima das correntes deconvecção que estão no manto plástico do interior da Terra. A verdadeira causa do movimentotectônico das placas é, provavelmente, alguma combinação dos três mecanismos.

Evidências. As evidências da teoria da tectônica de placas vêm de dados geoquímicosdivergentes obtidos na crosta, manto e núcleo terrestres, como também de dados geofísicos(por exemplo, ondas sísmicas, taxas de fluxos caloríficos, variação da força da gravidade ecampo magnético da Terra). Os terremotos fornecem a mais direta evidência para o movimentode placas. Evidências menos dramáticas vêm de estações GPS de alta precisão localizadas nosvários continentes, as quais indicam movimentos relativos das placas à razão de 20-200mm/ano. Evidências mais antigas de movimento das placas vêm de mapas que mostram

contornos similares aos dos continentes do Velho e do Novo Mundo, sugerindo que, nopassado, eles se encaixavam como em um quebra-cabeça. Em algumas localidades, aconfirmação foi fornecida por meio de rochas similares e de fósseis localizados em regiõesequivalentes dos continentes agora separados.

Na década de 1960, estudos dos padrões existentes na crosta oceânica forneceram evidênciasdecisivas que levaram a uma aceitação quase universal da teoria da tectônica de placas. Asidades radiométricas e os padrões magnéticos alternantes do fundo do Oceano Atlânticopareciam arrumados simetricamente em ambos os lados da Dorsal Mesoatlântica. A teoria datectônica de placas fornece uma explicação sucinta para isso: a crosta oceânica foi formada demaneira contínua à medida que o magma movia-se para cima, esfriava e se solidificava, sendo,depois, empurrado para fora do centro de expansão em ambas as direções. Quando o magma sesolidificou, os minerais contendo ferro foram congelados em alinhamento com o campomagnético da Terra daquele tempo. À medida que a direção do campo magnético da Terra sealternava entre o norte e o sul, as direções de polaridade magnética normal e invertida ficaramsimetricamente fixas na crosta oceânica.

A TECTÔNICA DE PLACAS E A BÍBLIA

Teólogos antecipam ideias científicas. Alguns teólogos do passado sugeriram ideiasrelacionadas à teoria tectônica de placas. Em 1668, o clérigo francês François Placet sugeriuque, “antes do dilúvio, a América não estava separada das outras partes da Terra”. Nos anos1700, o teólogo alemão Theodor Christoph Lilienthal sugeriu uma separação entre terra seca eágua, com base em uma exegese de 1 Crônicas 1:19 (ou Gênesis 11:25). Todavia, seassociarmos a tectônica de placas ao dilúvio de Noé, a separação teria ocorrido antes do queestá indicado naqueles versos. Em 1858, o geógrafo francês Antonio Snider-Pellegrini notou oparalelismo existente entre as margens opostas do Oceano Atlântico e inferiu que uma massade terra originalmente contínua veio a separar-se formando o Atlântico, no tempo do dilúvio deNoé. 1

Geografia bíblica. Importantes pontos geográficos descritos na Bíblia são resultado deatividades tectônicas de placas. O Monte Sinai é formado de granito pré-cambriano assentadoantes que muitos fósseis fossem enterrados. A Ilha de Patmos é uma formação vulcânicarecente, criada quando a placa africana sofreu uma subducção e ficou debaixo da placaeurasiática. O Monte Hermon, o Mar da Galileia, o Rio Jordão, o Mar Morto e o Golfo deAcaba estão localizados em uma falha de transformação norte-sul, onde há frequentesterremotos, os quais ocorrem à medida que a placa árabe desliza sobre a placa africana. Partesda Galileia e a região a leste do Mar Morto estão cobertas com basalto vulcânico negroproduzido nos limites entre essas duas placas. Essas placas foram empurradas uma contra aoutra em uma curva existente na falha de transformação, o que originou o Monte Hermon. Emoutro lugar, elas foram separadas, e formou-se a depressão em que está o Mar Morto. No Mar

Vermelho, as placas estão em realidade divergindo, em uma zona de expansão.

A ação de Deus. A Bíblia faz referência a atividades tectônicas de placas quando descreveterremotos e vulcões. Em alguns casos, as Escrituras indicam que esses fenômenos sãocausados diretamente por Deus. Aparentemente, Ele causou o terremoto que fez com que aterra tragasse Coré e seus companheiros (Números 16:31, 32). Outros terremotos que sugerematuação divina ocorreram durante o ataque de Jônatas à guarnição de filisteus em Gibeá (1Samuel 14:15), quando Elias estava no Monte Horebe (1 Reis 19:11), na crucifixão eressurreição de Jesus (Mateus 27:51; 28:2) e quando Paulo estava na prisão em Filipos (Atos16:26).

De uma forma mais indireta, o Antigo Testamento menciona um terremoto que ocorreu nosdias do rei Uzias (Amós 1:1; Zacarias 14:5). Outras referências a sismos são mais gerais (Jó9:6; Salmos 18:7; 46:2, 3; Jeremias 4:24) ou aparecem como resultado do juízo de Deus(Salmo 60:2; Isaías 13:13, 14; 24:19, 20; 29:6) ou ainda são profecias (Ezequiel 38:19;Zacarias 14:4; Mateus 24:7; Marcos 13:8; Lucas 21:11; Apocalipse 11:19).

Algumas passagens indicando que Deus fez com que montanhas ardessem em fogo,derretessem, derramassem ou fumegassem podem ser referências a vulcões (Salmos 97:5;144:5; Isaías 34:9, 10; 64:1-3; Jeremias 51:25). No futuro, os elementos, ardendo, se desfarãocom o calor abrasador (2 Pedro 3:10) e um lago de fogo será usado no juízo final (Apocalipse19:20; 20:10, 14, 15; 21:8). Quando Deus desceu do Monte Sinai, a montanha tremeu (Êxodo19:18; Salmos 68:8; 77:18; 114:4-7; Hebreus 12:26) e ardeu em fogo (Deuteronômio 4:11;5:23; Juízes 5:5). Outros textos fazem referência a terremotos e a atividades tipicamentevulcânicas ocorridas na presença de Deus (Salmo 104:32; Miqueias 1:4; Naum 1:5, 6).

QUESTÕES RELACIONADAS À TECTÔNICA DE PLACAS

Uma revolução científica. A tectônica de placas fornece um exemplo clássico de umarevolução científica, ou seja, uma importante mudança de paradigma, à medida que novosdados são disponibilizados. Na década de 1920, as ideias de Alfred Wegener sobre a derivacontinental foram ridicularizadas porque ele não forneceu nenhum mecanismo que explicasseo movimento dos continentes sobre o leito oceânico. Somente depois da década de 1960 é quesuas ideias ressurgiram, embora de maneira um pouco diferente, baseada em novos dadosobtidos no leito oceânico. Agora, quase todas as explicações sobre geologia estão ligadas dealguma maneira ao paradigma da tectônica de placas. O novo modelo de tectônica de placasincorpora muito da teoria geológica anterior, mas os dados agora estão reunidos em um novoenquadramento. Isso exemplifica como o modelo de história da Terra mudou de importantesmaneiras, e indica que mudanças significativas sem dúvida ocorrerão no futuro.

Teodiceia e catástrofe. A Bíblia reconhece a uniformidade cíclica da lei natural (Eclesiastes

1:4-7), mas também nos alerta sobre catástrofes. O terremoto de Lisboa (magnitude 8.7),ocorrido em novembro de 1755, resultou da subducção da placa africana sob a placaeurasiática. O fenômeno causou um tsunami com ondas de cinco a dez metros de altura,matando 60 mil pessoas. Isso provoca perguntas sobre a responsabilidade de Deus sobre o mal,como mencionado por Voltaire em seu livro Cândido. O terremoto de Banda Achém(magnitude 9.1), causado pela subducção da placa australiana sob a placa eurasiática, e oconsequente tsunami de dezembro de 2004, mataram mais de 150 mil pessoas. Exemplos maisrecentes são o terremoto do Haiti (magnitude 7.0) em janeiro de 2010 (causado pelodeslizamento da placa do Caribe contra a placa norte-americana) e o terremoto do Chile(magnitude 8.8) em fevereiro de 2010 (causado pela subducção da placa Nazca sob a placa sul-americana). Exemplos de catástrofes vulcânicas incluem a destruição de Pompeia pelo Vesúvio(no limite entre as placas africana e eurasiática) e a erupção do Monte Santa Helena, em 1980(causada pela subducção da placa Fuca sob a placa norte-americana).

Tempo. Segundo a velocidade atual da movimentação das placas tectônicas, deaproximadamente 25 milímetros por ano, levaria cerca de duzentos milhões de anos até que oVelho e o Novo Mundo chegassem a suas posições atuais depois de separados. A fim deelaborar um modelo que calculasse a velocidade do deslocamento das placas, JohnBaumgardner, na década de 1980, utilizou um supercomputador Cray do Laboratório NacionalLos Alamos, no estado do Novo México, EUA, para desenvolver um programa chamadoTerra, usando a linguagem de programação Fortran. Os resultados do uso de parâmetrospadrões nas equações desse modelo têm sido apresentados na literatura científica. 2 Emcolaboração com outros cientistas, Baumgardner também usou parâmetros significativamentediferentes para desenvolver um modelo de Tectônica de Placas Catastrófica (TPC). 3

O modelo TPC começa com a ruptura e separação de um único supercontinente, a Pangeia.Depois, as extremidades da Pangeia afundam no manto a velocidades cada vez mais rápidasdevido a um aumento mutuamente acelerado do calor e do enfraquecimento do manto. Essavertiginosa subducção provoca rápidas inversões do campo magnético da Terra, causaerupções em fissuras vulcânicas, atira vapor para dentro da atmosfera, o que resulta em chuvaglobal, elevando o leito oceânico e deslocando a água sobre os continentes. O modelo TPC foiapresentado pela revista norte-americana U. S. News & World Report com uma sintéticadeclaração: “De fato, há um acordo universal de que o programa Terra, criado para provar quea Bíblia é literalmente verdadeira, é uma das ferramentas geológicas mais poderosas queexistem.” 4

É importante notar que o modelo TPC apresenta várias dificuldades científicas. Primeiro,postular inversões rápidas no campo magnético da Terra é algo problemático. Há evidênciasdisponíveis para algumas mudanças locais rápidas no campo magnético, 5 mas explicaçõespara mudanças globais rápidas permanecem no terreno das hipóteses. 6

Rochas pré-fossilíferas. O segundo problema com o modelo TPC é que ele começa com aruptura unidirecional da Pangeia no meio da parte fanerozoica fossilífera da coluna geológica.O modelo não aborda a evidência de um movimento multidirecional da placa na partefanerozoica precoce do registro geológico nem tampouco na parte não fossilífera pré-cambriana, ainda mais precoce. A evidência sugere que as placas se moveram para frente epara trás, no que se chama de Ciclo de Wilson, em vez de se moverem em uma só direção. 7

Também há evidência de que a maior parte das massas de terra continental foi formada poratividade tectônica de placas durante o período pré-cambriano.

Calor. O terceiro problema está no fato de que, para as placas se movimentarem à razão denove ordens de magnitude mais rápido (isto é, em dois meses em vez de dois milhões de anos),a viscosidade (resistência ao fluxo) do manto tem que ser um bilhão de vezes menor do que aatual. Uma vez que a viscosidade varia exponencialmente com a temperatura, a diminuição deviscosidade só seria possível se a temperatura do manto fosse centenas de graus mais elevadado que a atual. No entanto, seria de se esperar que as temperaturas mais elevadas produzissemdiferentes tipos de rochas.

Em quarto lugar, e talvez esse seja o ponto mais problemático do modelo TCP, o calor detodo o magma deve ter se dissipado rapidamente, ou seja, cerca de um bilhão de vezes maisrápido do que na atualidade. Esse problema tem sido assinalado a partir da perspectivacientífica convencional, 8 como também pelo próprio Baumgardner. 9 Sua resposta é: “Acatástrofe do dilúvio não pode ser compreendida ou modelada em termos das leis da naturezainvariáveis no tempo. A intervenção por parte de Deus na ordem natural durante e depois dacatástrofe parece ser uma necessidade lógica. Manifestações dessa intervenção parecem incluir[...] uma perda posterior de energia térmica.”

CONCLUSÃO

Os prós e contras do modelo TPC têm sido debatidos na literatura criacionista deBaumgardner e Oard. 10 Walter Brown propõe uma teoria alternativa, que sugere que a crostaterrestre pré-diluviana foi rompida pelo volume considerável de água embaixo dela. A águaque vazou cobriu a Terra e os pedaços de crosta formaram hidroplacas que rapidamenteresvalaram para o local em que hoje estão os continentes. 11 O modelo da Terra em expansãode Sam Carey também tem sido analisado em seus méritos e problemas. 12 Minha conclusão éque a teoria da tectônica de placas parece estar bem fundamentada, mas a ciência não seencaixa facilmente ao conceito de um dilúvio recente de um ano de duração.

Como é o caso em muitas outras áreas da investigação humana, quando estudamos questõessobre as origens, devemos confiar os detalhes para um Deus de infinita sabedoria, pois Sua“loucura” é maior que nossa sabedoria (1 Coríntios 1:25). Deus tem à Sua disposição milmaneiras de lidar com coisas sobre as quais nada sabemos. Com Deus, todas as coisas sãopossíveis (Mateus 19:26; Lucas 18:27). Os cientistas podem continuar a fazer perguntas, mas,

como Jó, devemos continuar confiando totalmente em Deus durante todo o processo (ver Jó13:15).

Ben Clausen é mestre em ciências pela Universidade de Loma Linda e PhD pelaUniversidade do Colorado. Sua pesquisa em física nuclear sobre um número de aceleradoresde partículas conduzida na Universidade de Virgínia resultou em dezenas de publicações.Seus estudos sobre tectônica de placas relacionadas com rochas graníticas do sul daCalifórnia têm sido apresentados em conferências de geologia nos Estados Unidos, África doSul, Noruega e Índia. Desde 1990, ele pertence à equipe do Geoscience Research Institute, naCalifórnia, e tem apresentado palestras em diversos países. Durante vários anos, Clausen temorganizado congressos sobre ciência e religião patrocinados pela Igreja Adventista do SétimoDia.

1 J. Romm, “A New Forerunner for Continental Drift”, Nature 367 (1994): 407, 408.

2 H. P. Bunge et al., “Time Scales and Heterogeneous Structure in Geodynamic Earth Models”, Science 280 (1998): 91-95.

3 S. Austin et al., “Catastrophic Plate Tectonics: A Global Flood Model of Earth History,” em Proceedings of the ThirdInternational Conference on Creationism, ed. R. Walsh (Pittsburgh, PA: Creation Science Fellowship, 1994), 609-621; DVDPutting Puzzle Pieces Together: Global Tectonics and the Flood (Answer in Genesis, 2006).

4 C. Burr, “The Geophysics of God: A Scientist Embraces Plate Tectonics – and Noah’s Flood”, U. S. News & WorldReport 122, nº 23 (1997): 55-58.

5 R. Coe, M. Prévot e P. Camps, “New Evidence for Extraordinarily Rapid Change of the Geomagnetic Field During aReversal”, Nature 374 (1995): 687-692.

6 D. Humphreys, “Physical Mechanism for Reversals of the Earth’s Magnetic Field During the Flood”, em Proceedings ofthe Second International Conference on Creationism, ed. R. Walsh e C. Brooks (Pittsburgh, PA: Creation Science Fellowship,1990): 129-142.

7 Austin et al. (1994).

8 R. Barnes, “Thermal Consequences of a Short Time Scale for Sea-Floor Spreading”, Journal of the American ScientificAffiliation 32, nº 2 (1980): 123-125.

9 J. Baumgardner, “Numerical Simulation of the Large-Scale Tectonic Changes Accompanying the Flood”, emProceedings of the First International Conference on Creationism, ed. R. Walsh, C. Brooks e R. Crowell (Pittsburgh, PA:Creation Science Fellowship, 1986), 17-30.

10 Baumgardner e M. Oard, “Forum on Catastrophic Plate Tectonics”, Technical Journal 16, nº 1 (2002): 57-85.

11 W. Brown Jr., In the Beginning: Compelling Evidence for Creation and the Flood (Phoenix, AZ: Center for ScientificCreation, 2001).

12 B. Mundy, “Expanding Earth?”, Origins 15, nº 2 (1988): 53-69.

S

14. COMO SITUAR OS DINOSSAUROS NO

CONTEXTO BÍBLICO? RAÚL ESPERANTE

e você alguma vez visitou um museu de história natural, provavelmente já viu grandes eespetaculares esqueletos de dinossauros. As reproduções animadas de dinossauros em

documentários de televisão os apresentam como se estivessem vivos. Os dinossauros existirampor um período de tempo na Terra e em certos lugares pareciam ser numerosos. Ospaleontólogos têm encontrado evidências de sua existência em sedimentos presentes em todosos continentes, inclusive na Antártida. Essas evidências incluem ossos, ovos, ninhos e pegadas.Especialmente frequentes são as pegadas e as trilhas de dinossauros registradas aos milharesnos Estados Unidos, Argentina, Espanha, França, Rússia, China, Mongólia e Norte da África,entre outros lugares. CONHECIMENTO SOBRE DINOSSAUROS

O estudo dos ossos, dos ovos e das pegadas dos dinossauros tem proporcionado valiosasinformações sobre seu tamanho, fisiologia, comportamento social e habitat. Os dinossaurosforam os maiores animais terrestres que já viveram, ainda que algumas das espécies fossempequenas, do tamanho de uma ovelha ou de um cachorro. Por exemplo, o Struthiomimus eraapenas do tamanho de uma avestruz, e o Compsognathus não chegava a ser maior que um galo.Eram animais muito bem adaptados aos seus habitats, que incluíam áreas ao longo dos rios,praias, margem de lagos, florestas, pântanos, desertos e planícies.

Devemos ter em conta que os esqueletos encontrados e expostos em museus não estãomontados com ossos reais, mas reproduções destes. Os ossos originais são por demasiadovaliosos e delicados para estar expostos ao público em geral. São armazenados geralmente emlugares seguros dentro do museu. Além disso, os esqueletos “completos” dos museus sãomontados a partir de reproduções de ossos de vários espécimes, que podem ter sidoencontrados em lugares muito distantes. No entanto, as reproduções que vemos nos museussão razoavelmente dignas de confiança. Alguns espécimes completos foram descobertos,incluindo o Tyrannosaurus rex hoje em exibição no Museu de História Natural de Chicago. Asanimações apresentadas na televisão, entretanto, são muito mais especulativas, especialmenteno que diz respeito à cor da pele, fisiologia e comportamento.

Segundo a perspectiva evolucionista, os dinossauros originaram-se de outros animaisanteriores a eles mediante um processo gradual de mutação e seleção natural. Seus restos na

coluna geológica aparecem em camadas de rochas que os paleontólogos chamam de Triássico,Jurássico e Cretáceo, os quais, segundo a escala de tempo geológico, abarcaram de 250 a 65milhões de anos. Alguns paleontólogos creem que os dinossauros, assim como outros gruposde animais e plantas, desapareceram repentinamente como consequência do impacto de ummeteoro gigantesco ao final do período Cretáceo há cerca de 65 milhões de anos. Outrosduvidam desse modelo por encontrarem inconsistências nele. 1

Os dinossauros aparecem (e desaparecem) repentinamente no registro fóssil, ou seja, seusfósseis surgem sem nenhum antepassado ou precursor conhecido. 2 Isso não é o queesperaríamos segundo o modelo gradual de evolução, no qual as diversas formas e grupos deanimais e de plantas supostamente se desenvolveram a partir de antepassados menoscomplexos. Se a macroevolução fosse verdadeira, então esperaríamos ver um aparecimentogradual dos dinossauros no registro fóssil. Mas o que encontramos é exatamente o contrário:uma diversidade de dinossauros bem formados e adaptados a seu ambiente.

A EXTINÇÃO DOS DINOSSAUROS

Os dinossauros desapareceram do registro fóssil em todo o mundo no estrato mais elevado derochas do Cretáceo. Alguns paleontólogos afirmam que as aves são seus descendentes. Elesbaseiam suas conclusões em fósseis de dinossauros que supostamente apresentam impressõesde penas e características ósseas típicas de pássaros. Essa ideia é muito polêmica porque o fatode se encontrar fósseis com características supostamente intermediárias não faz com que alinhagem dinossauro-ave seja realidade nem responde à pergunta sobre o motivo de tantosgrupos de dinossauros terem sido extintos sem deixar nenhum descendente.

A maioria dos cientistas evolucionistas afirma que a extinção foi o resultado do impacto deum enorme meteoro, ao final do período Cretáceo. O impacto teria arremessado grandequantidade de poeira e partículas na atmosfera. E o evento teria bloqueado a luz solar,causando um esfriamento global da Terra. Além disso, imensos incêndios teriam consumidomuitas florestas em diversas regiões do planeta, e a poeira e as cinzas resultantes teriamaumentado a toxidade do ar e da água. A combinação de temperaturas frias e de alta toxidadeno ambiente teria desencadeado a morte massiva dos dinossauros e de outros organismos.

No entanto, esse modelo enfrenta enormes desafios científicos. O registro sedimentário doCretáceo e das rochas acima dessa camada não mostra nenhuma extinção global de peixes(incluindo os tubarões), tartarugas, salamandras, rãs e vários grupos de organismosinvertebrados marinhos e plantas. 3 Como os dinossauros foram extintos e os outros animaisnão foram? As rãs, as salamandras, as tartarugas e muitas das plantas são sensíveis àsmudanças do clima, e teriam sido exterminadas se houvesse ocorrido um impacto comconsequências climáticas globais.

OS DINOSSAUROS E O DILÚVIO

O modelo evolucionista de longas eras enfrenta muitos problemas para explicar a origem e odesaparecimento dos dinossauros. Por outro lado, seria possível estudar os dinossauros e outrosfósseis de uma maneira que seja consistente com o modelo bíblico da criação? Comointerpretamos os dinossauros no contexto de uma criação relativamente recente e de umdilúvio global? Eles teriam sido o resultado de milhões de anos de evolução ou Deus os teriacriado? Essas são perguntas importantes para quem acredita na Bíblia, porque em Gênesis háindicações de que Deus criou o reino animal e que Sua criação era boa. Como os dinossaurosse encaixam neste quadro?

Grande parte dos cientistas criacionistas acredita que os dinossauros desapareceram, commuitas outras espécies, durante o dilúvio global, conforme a descrição de Genesis 7:22. Essecenário também pode incluir o impacto de meteoritos, gerando tsunamis, atividade vulcânica eemissão de dióxido de carbono, sulfeto e outros elementos químicos danosos às plantas eanimais. Além disso, a ideia relacionada ao impacto de um ou mais meteoritos sobre a Terranão é incompatível com o modelo bíblico do dilúvio.

Apesar da falta de consenso entre os estudiosos sobre a razão do desaparecimento dosdinossauros, a mídia popular bem como alguns cientistas decidiram que a teoria do impacto demeteoros é a única explicação válida. Porém, isso está longe da realidade. É fato que osdinossauros desapareceram. Mas não podemos precisar quando ou por que isso ocorreu. Aextinção desses animais durante o dilúvio relatado em Gênesis, com ou sem o impacto demeteoritos, é uma hipótese plausível e merece ser considerada. De fato, algumas evidênciassão compatíveis com essa hipótese. Frequentemente, os restos dos dinossauros encontram-seem locais em que há soterramentos massivos, que consistem de dezenas de milhares deindivíduos, incluindo jovens e adultos, sepultados juntos. Exemplos desses cemitérios dedinossauros estão nos Estados Unidos (Colorado, Utah, Wyoming), Canadá, Espanha, China,Mongólia e em outros lugares. Os cientistas têm explicado algumas dessas ocorrênciasmassivas como resultado de certas catástrofes locais (deslizamento de lama, inundações locais,desmoronamento de dunas, etc.), 4 mas elas também poderiam ser explicadas como resultadoda atividade geológica local durante o dilúvio global do livro de Gênesis.

OS DINOSSAUROS FAZEM SENTIDO NA CRIAÇÃO BÍBLICA?

Tanto a origem quanto a extinção dos dinossauros podem ser estudadas dentro de um marcoconceitual bíblico. O livro de Gênesis diz que Deus criou os “animais domésticos, répteis eanimais selváticos, segundo a sua espécie” no sexto dia da semana da criação (Gênesis 1:24).Esse evento pode ter incluído os dinossauros. Deus ainda estabeleceu o seguinte: “E a todos osanimais da terra, e a todas as aves dos céus, e a todos os répteis da terra, em que há fôlego devida, toda erva verde lhes será para mantimento” (Gênesis 1:30). Nesse mundo vegetarianocriado perfeito, onde se encaixam os dinossauros carnívoros? A história da desobediência equeda (Gênesis 3:14-19) sugere que a maldição divina que seguiu o pecado de Adão e Evaacionou algumas modificações biológicas (genéticas) que originaram mudanças na dieta de

alguns animais, trouxeram competição, depredação, doenças e, talvez, parasitismo, muitoprovavelmente no espaço de tempo de várias gerações. Pesquisas recentes em genética têmmostrado como podem ocorrer certas mudanças fisiológicas importantes, inclusive mudançasanatômicas, por leves modificações na atividade de genes reguladores. 5

OS DINOSSAUROS E OS SERES HUMANOS

Muito já se escreveu e discutiu a respeito de certas evidências que supostamente mostramrestos de dinossauros e de seres humanos juntos. A evidência inclui o que se interpreta comopegadas humanas junto com pegadas de dinossauros, assim como pinturas pré-históricas emcavernas e em cerâmicas, onde figuras humanas aparecem junto de criaturas excepcionaismuito semelhantes às reconstruções atuais destes gigantescos répteis. No entanto, um estudocientífico rigoroso tem demonstrado que essas evidências têm sido interpretadas de maneirainadequada.

Analisamos, por exemplo, as supostas pegadas humanas e de dinossauros encontradas nasmargens do rio Paluxy, no Texas. Algumas décadas atrás, alguns entusiasmados cientistasproclamaram que era uma evidência que certamente negava a teoria da evolução e provava aexistência de um dilúvio global. Intrigados por essas declarações, alguns cientistasevolucionistas e criacionistas estudaram detalhadamente as marcas encontradas nas rochas.Estudos de laboratórios foram feitos por cientistas criacionistas. Se as pegadas fossemautênticas, o sedimento subjacente deveria apresentar uma deformação resultante do peso doanimal, o que normalmente acontece. Para comprovar esta deformação característica, oscientistas fizeram um corte transversal à suposta impressão humana e observaram que nãohavia a tal deformação. Concluíram, então, que a forma na rocha não era uma pegada humanaverdadeira; pelo contrário, era uma pseudoimpressão resultante da erosão. 6 Estudosposteriores demonstraram que certas “impressões” e desenhos haviam sido fabricados poralguns fanáticos defensores da ideia da coexistência do ser humano com os dinossauros.Falsificar fósseis e outras “evidências” prejudica as pesquisas genuínas dos cientistascriacionistas, e a maior parte destes pesquisadores têm aprendido a ser mais cautelosos eprecisos em suas declarações.

OS DINOSSAUROS E A BÍBLIA

A história da criação em Gênesis 1 indica que Deus criou a vida marinha e as aves no quintodia, e o resto dos animais foram criados no sexto dia. Ainda que os répteis sejam enumeradosentre os animais criados, os dinossauros não são mencionados de modo específico. Isso nãosurpreende, pois no tempo de Moisés, o autor do livro de Gênesis, a palavra “dinossauro” nãoexistia. Ele tampouco mencionou outros grupos numerosos de animais, como besouros,tubarões, estrelas-do-mar, etc. O fato de os dinossauros não serem mencionados na Bíblia nãoé prova de que Deus não os tenha criado. Tampouco o aspecto estranho que eles apresentamnas reproduções dos museus depõe contra a criação divina. Atualmente existem muitos

animais de aspecto tão estranho quanto os dinossauros, mas que não atraem tanta atenção.Alguns creem que os dinossauros surgiram como resultado da maldição, depois do pecado deAdão e Eva, mas a Bíblia não identifica quais animais sofreram alterações em resultado dopecado nem o tipo de mudança que teria ocorrido.

A maioria dos cientistas criacionistas acredita que os dinossauros desapareceram durante odilúvio de Gênesis ou pouco depois dele. Uma vez mais, a Bíblia não nos dá pistas comrespeito ao destino desses animais. A ideia de que os dinossauros desapareceram durante umacatástrofe global que chamamos de dilúvio é uma hipótese que devemos considerar seriamente.Mas ela só pode ser comprovada mediante pesquisa científica, visto que a Bíblia mantémsilêncio sobre este assunto. A demonstração dessa hipótese deve vir de dados geológicos epaleontológicos. Nunca devemos forçar a Bíblia a dizer aquilo que ela não diz.

Por último, há quem pense que os dinossauros sobreviveram após o dilúvio, desaparecendopouco depois, enquanto tentavam adaptar-se ao novo ambiente. Essa também é umapossibilidade, considerando que talvez alguns dinossauros sobreviveram dentro da arca, tendodesaparecido durante a colonização pós-diluviana. A Bíblia menciona duas estranhas criaturas,o behemoth (Jó 40:15-18) e o leviathan (Jó 41:1), os quais alguns interpretam como possíveisexemplos de dinossauros pós-diluvianos. No entanto, a maioria dos eruditos bíblicos não aceitaessa explicação. As palavras bíblicas behemoth e leviathan são traduzidas geralmente comohipopótamo e crocodilo, respectivamente, não tendo, portanto, nenhuma relação com osdinossauros.

CONCLUSÃO

A Bíblia não menciona a existência dos dinossauros – pelo menos da maneira como osentendemos hoje – nem antes nem depois do dilúvio de Gênesis. Certamente, o fato de a Bíblianão mencionar os dinossauros não é uma evidência de que eles nunca existiram. Ésimplesmente um assunto, entre outros, sobre o qual a Bíblia não diz nada e que, ao mesmotempo, gera perguntas fascinantes para nosso estudo.

A evidência é clara: temos encontrado ossos, dentes, ovos, pegadas e até impressões da pelede dinossauros. Em um determinado momento da história, eles desapareceram. A extinçãodeles pode ter ocorrido antes, durante ou depois do dilúvio de Gênesis. Como o resto dosfósseis, a origem e o desaparecimento dos dinossauros estão envoltos em mistério. Por isso, érequerido cuidado e rigoroso estudo, algo que os cristãos deveriam empreender com interesse etalento. Os dinossauros não desafiam nem comprometem nossa fé nos ensinamentos da Bíblia.

Raúl Esperante obteve sua licenciatura em biologia na Espanha, onde também lecionouciências no ensino médio. Depois de mudar-se para os Estados Unidos, completou doutoradocom especialização em paleontologia na Universidade de Loma Linda, Califórnia.

Atualmente, faz parte da equipe de cientistas do Geoscience Research Institute. Suas pesquisasincluem os processos de fossilização, paleoecologia e assuntos relacionados com fé e ciência.Tem publicado vários artigos em revistas científicas e apresentado conferências em encontroscientíficos em diversos países.

1 Para uma discussão detalhada, assista ao debate ocorrido na Geological Society of London, mostrado online:

http://www.geolsoc.org.uk/gls/views/debates/chicxulub.

2 O máximo que os paleontólogos podem fazer é especular sobre a partir de qual grupo de répteis os dinossaurosevoluíram. Ver M. J. Benton, “Origin and Early Evolution of Dinosaurs”, em The Complete Dinosaurs, ed. J. O. Farlow e M.K. Brett-Surman, (Bloomington: Indiana University Press, 1997), 204-215.

3 D. A. Russel e P. Dodson, “The Extinction of the Dinosaurs: A Dialogue Between a Catastrophist and a Gradualist”, emThe Complete Dinosaur, ed. Farlow e Brett-Surman (1997), 662-672.

4 M. J. Benton et al., The Age of Dinosaurs in Russia and Mongolia (Cambridge: Cambridge University Press, 2000), 289-292; J. G. Scotchmoor et al., Dinosaurs: The Science Behind the Stories (Alexandria, VA: American Geological Institute,2002), 192; A. Martin, Introduction to the Study of Dinosaurs (Oxford: Blackwell, 2006), 206, 207.

5 M. C. King e A. C. Wilson, “Evolution at Two Levels in Humans and Chimpanzees”, Science 188 (1975): 107-116; S. B.Carroll, “Evolution at Two Levels: On Genes and Form”, PLOS Biology 3 (2005): 1159-1166.

6 A. V. Chadwick, “Of Dinosaurs and Men”, Origins 14 (1987): 33-40.

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15. A TEORIA DA EVOLUÇÃO EXPLICA ADIVERSIDADE DA VIDA? DAVID L. COWLES E L. JAMES GIBSON

pergunta do título pode receber respostas muito diferentes. O fato é que a teoriaevolucionista é um corpo de ideias amplo e de longo alcance, apoiada em extensas e

cuidadosas pesquisas. Ela oferece uma imensa capacidade explicativa. Para a maioria dosbiólogos, a declaração 1 de Theodosius Dobzhansky, segundo a qual “nada na biologia fazsentido exceto à luz da evolução” é literalmente verdadeira. Embora a maioria dos biólogosnão estude a evolução diretamente, eles trabalham dentro de uma estrutura de ideias quepressupõe que todos os organismos vivos estão unidos por uma ascendência comum. Porassumirem que a ascendência comum é verdadeira, trabalham como se assim fosse. Noentanto, uma minoria de biólogos, incluindo nós mesmos, percebe algumas lacunasimportantes no paradigma evolucionista, as quais, em nossa opinião, levantam dúvidas sobresua capacidade de explicar a diversidade da vida.

A evolução representa de maneira gráfica a relação diversa dos organismos vivos por meiode uma “árvore evolutiva” (figura 1). Ela postula que todas as espécies estão unidas por umpadrão ramificado de descendência a partir de um ancestral comum. Esse ancestral, que teriasurgido espontaneamente a partir de material não vivente, forma a raiz da árvore. Várias linhasde seus descendentes formam os diferentes ramos que continuam se diversificando até osramos menores (não mostrados), que representam as espécies vivas ou fósseis. Cada alteraçãoou inovação evolutiva importante é representada por um novo ramo na árvore. A árvore inteiraé sustentada por suas raízes e importantes pontos de ramificação. Esses pontos serão o focodeste artigo.

A RAIZ DA ÁRVORE

Um conjunto de lacunas significativas existentes na capacidade explicativa pode serencontrado logo na base da árvore, no conceito de abiogênese, a formação de vida a partir dematerial sem vida. 2 A primeira etapa postulada na abiogênese é a produção de moléculasorgânicas simples (os aminoácidos, por exemplo) a partir de material inorgânico. Embora asmoléculas tenham sido sintetizadas, as condições requeridas são implausíveis em uma Terraprimitiva. A próxima etapa é a polimerização, isto é, o encadeamento de pequenas moléculas.Embora tenham sido encontradas algumas poucas condições naturais que permitem apolimerização, nenhuma delas forma as características precisas e complexas das moléculaspresentes nas células vivas. A lacuna entre aquilo que os processos aleatórios de polimerização

demonstrados podem produzir e a mais simples célula vivente é enorme.

Outro aspecto que caracteriza os organismos vivos é a habilidade de reproduzir cópiasdetalhadas de si mesmos, as quais, por sua vez, são capazes de se reproduzir. Esse processoaltamente intrincado envolve um conjunto de moléculas diferentes, todas interagindo comprecisão entre si. Tal complexo sistema de moléculas deve estar completo para que a célulaseja capaz de se autocopiar. Se faltar alguma parte da cadeia de moléculas interagentes, todo oprocesso falha, e a célula não consegue funcionar ou se reproduzir. Por muito tempo, esse fatotem sido reconhecido como um formidável desafio para a teoria evolucionista da origem davida. 3

Deixando de lado as moléculas propriamente ditas e considerando agora a estruturaorganizada das células, vemos que os organismos vivos são sistemas ordenados eextremamente complexos, possuidores de uma arquitetura específica. Muitos componentescelulares são, essencialmente, máquinas moleculares com partes que interagem entre si,funcionando de maneira muito parecida com a das máquinas projetadas pelo ser humano. 4

Assim como a estrutura de um automóvel não depende das propriedades básicas do metal, doplástico ou da tinta, tampouco a estrutura das células vivas depende das propriedades dasmoléculas das quais são feitas. Em vez disso, as células são “construídas” de maneira bemespecífica, com complexos padrões e combinações dos materiais necessários para odesempenho de suas funções.

A célula precisa trabalhar constantemente para manter seu ambiente interno e manter-se emum estado funcional. O DNA (um ácido que contém as instruções necessárias para ofuncionamento de todos os organismos) armazena informações sobre como isso é feito e comotodas as funções celulares são desempenhadas. Essas informações, entretanto, não sãoinerentes à estrutura do DNA. Assim como os sentimentos revelados em um soneto nãosurgem espontaneamente das propriedades existentes nas letras do alfabeto, também asinformações da célula precisam ser postas ali de algum modo, independentemente do quepossa ser encontrado nas propriedades do próprio DNA. A ausência de uma fonte naturalistapara essas informações representa outra lacuna importante na teoria da abiogênese. Assim, afalta de uma explanação confiável para a origem da vida deixa a teoria evolucionista semraízes para a árvore evolutiva (ver figura 2).

OS PRINCIPAIS RAMOS DA ÁRVORE

A seguir, examinaremos os principais ramos da árvore evolutiva. Embora os modelosevolucionistas tentem explicar como as informações evolutivas podem ser adicionadas atravésde uma combinação de mutações aleatórias e de seleção natural, eles funcionam melhor nareordenação da informação já existente, como pode ocorrer com as espécies que vão mudandoao longo do tempo. Isso corresponde a variações nos ramos da árvore evolutiva.

Esse modelo rapidamente encontra grandes e crescentes problemas de probabilidade ao setentar explicar como mudanças aleatórias poderiam haver produzido volumosa quantidade deinformações novas, específicas e complexas, necessárias para originar a vida ou produzir umaespécie de criatura inerentemente nova e diferente. 5 É precisamente isso que seria necessáriopara produzir um novo ramo na árvore. Tem-se tentado apresentar uma explicação como a daexaptação (o uso de partes existentes para um propósito novo e diferente de sua funçãooriginal). 6 No entanto, essas explicações não revelam como a função original foidesenvolvida, nem o que conduz as partes para ajuntar-se de um jeito novo, a fim dedesempenhar outra função qualquer. Indubitavelmente, serão feitas mais pesquisas sobre estaquestão no futuro.

Outro obstáculo para explicar a diversidade da vida por meio do modelo evolucionista estána estrutura dos cromossomos. Eles são compostos de DNA, uma molécula longa e linear. Osgenes, que contêm a informação necessária para a célula funcionar, são sequências alinhadascomo frases escritas ao longo das fitas do DNA. De vez em quando, um gene é duplicadoacidentalmente, produzindo uma cópia adicional. O modelo mutação/seleção de evoluçãopostula que pequenas mudanças (mutações) no DNA da cópia do gene adicional se acumulamlentamente. Se essas diferenças produzem um benefício, serão favorecidas pela seleção natural.Com o tempo, sugere o modelo, as pequenas mudanças podem produzir um gene quedesempenha uma nova função radicalmente diferente da original.

Um problema com esse modelo se origina no fato de que a maioria das mutações tem umefeito pequeno ou são, de fato, prejudiciais. E as mutações prejudiciais ou ligeiramenteprejudiciais são possivelmente muito mais comuns do que qualquer mutação rara e benéfica.Alguns evolucionistas têm apresentado modelos matemáticos pretendendo demonstrar comomutações benéficas podem se acumular por meio de seleção e, eventualmente, formar novosgenes. Todavia, esses modelos raramente consideram o fato de que cada mutação benéficaestará vinculada a um grande número de mutações prejudiciais ou despropositadas, uma vezque todas elas fazem parte da longa cadeia de DNA. Diante de estimativas aceitas deproporções entre mutações benéficas e prejudiciais, os modelos que as tomam em consideraçãosugerem que as mutações benéficas raras serão sufocadas pelo efeito cumulativo das muitasmutações prejudiciais a elas vinculadas no DNA. 7

As mutações prejudiciais podem estar no mesmo gene ou em genes mais distantes, que,apesar disso, estão vinculados por estarem no mesmo cromossomo, o qual normalmente é todoherdado em uma unidade. Em outras palavras, é difícil dar muitos passos para frente se vocêestiver fortemente amarrado a muita gente dando passos para trás. É verdade que esta ligaçãonão é absoluta os genes têm maneiras de revezar posições e de se reorganizarem nocromossomo. No entanto, o princípio de que as mutações negativas superam em quantidade aspositivas é verdadeiro, a despeito da parte do cromossomo em que o gene está. No mínimo,este vínculo entre genes torna ainda mais difícil se produzir genes por novas moléculasfuncionais através de mutação puramente aleatória e da seleção natural. A questão do vínculoseria um problema para virtualmente todas as características evolutivas e possivelmente seaplicaria a muitos dos ramos grandes ou pequenos da árvore evolucionista.

A seleção artificial é outra linha de evidências que traz informações quanto aos problemas deprodução de novos ramos da árvore evolutiva. Darwin usou a analogia da seleção artificialpara alegar que a seleção natural poderia efetuar mudanças de escalas ainda maiores, sehouvesse tempo suficiente. Mas muitos cientistas têm dificuldades para acreditar que asmudanças em pequena escala observadas em experiências de cruzamento ou na natureza sãosuficientes para explicar as diferenças entre os principais grupos de organismos. Poderia anatureza produzir um cavalo a partir de um peixe, usando os mesmos tipos de mudançasobservadas em nossos estudos sobre bicos de tentilhões ou em nossa experiência de cruzar cãesou galinhas? Provavelmente isso não seria possível, não importa a quantidade de tempodisponível. 8 O problema está na necessidade de novas informações genéticas. A questão nãoenvolve meramente uma duplicação de genes existentes ou uma diminuição das informações jáexistentes. Podemos ver como uma espécie ancestral simples pode produzir uma variedade deespécies descendentes adaptadas a ambientes diferentes, mas o padrão resultante parece maisuma pequena árvore no meio de uma floresta de árvores separadas do que uma única árvore(figura 3).

OS FÓSSEIS E A ÁRVORE EVOLUTIVA

O registro fóssil fornece outra maneira de avaliar os problemas da ramificação evolutiva.Uma das características mais surpreendentes do registro fóssil é o aparecimento repentino damaioria dos filos (importantes tipos de organismos) em um intervalo estratigráficorelativamente curto nas camadas de rochas cambrianas. O padrão, conhecido como ExplosãoCambriana, oferece uma das mais convincentes linhas de evidência contra a árvore evolutiva.Uma grande quantidade de filos e de tipos de animais encontrados no período cambriano nãotem ancestrais nem vínculos uns com os outros. O padrão é bem resumido na frase “adisparidade precede a diversidade”. 9 Em outras palavras, as principais diferenças entre osorganismos viventes aparecem no registro fóssil antes que muitas variedades com diferençasmenos importantes. Não há evidências fósseis que atestem a existência de uma divergênciagradual ao longo de muitos anos, resultando em organismos com novos esquemas orgânicos. 10

A ocorrência de lacunas sistemáticas é outro aspecto do registro fóssil que não endossa ateoria evolucionista. 11 A escassez de fósseis de transição é uma reconhecida característica doregistro fóssil, expressada na conhecida frase “elo perdido”. De vez em quando, ouvem-serelatos da descoberta de elos fósseis até então perdidos, e essas descobertas são veneradascomo evidência de conexões entre os diferentes ramos da árvore evolutiva. Todavia, o aspecto

mais significativo do problema é que há um padrão particular para os elos perdidos.

Podemos comparar o registro fóssil de cavalos e macacos, por exemplo, com o de ostras ecaranguejos. Cavalos e jumentos são bastante parecidos, podendo-se explicar a falta deintermediários entre eles. Afinal, podem existir apenas duas ou três espécies intermediárias.Portanto, há pouca chance de se encontrar um fóssil a partir de uma amostra tão pequena. Emcontraste, ostras e caranguejos são muito diferentes. Segundo a teoria evolucionista, o númerode elos fósseis que os conecta a um ancestral comum deve ser, portanto, da ordem de milhares.Seguindo a lógica, era de se esperar que fossem encontrados muitos fósseis a partir de umaamostra tão grande. A realidade, entretanto, é exatamente o oposto disso. Existem muitasespécies de fósseis de cavalos, algumas das quais podem ser consideradas como uma ligaçãoentre cavalos e jumentos. Mas não existe, de fato, nenhum fóssil que ligue ostras ecaranguejos. É exatamente este o padrão esperado caso tipos diferentes de organismos seoriginassem de forma independente e variassem dentro de alguns limites. Reiteramos: o padrãoé mais parecido com uma floresta de árvores independentes do que com uma única árvoreevolutiva.

Têm sido propostos alguns exemplos de elos evolutivos entre os táxons (ou famílias deorganismos), alguns dos quais parecem bastante convincentes à primeira vista. Quandoexaminados criticamente, porém, eles não são convincentes aos olhos dos que têm dúvidasquanto à evolução. Um problema importante é a sequência na qual algumas dessas espéciesaparecem no registro fóssil. O fóssil do peixe tetrápode é um bom exemplo. Logo após a teoriade Darwin ter sido publicada, os cientistas começaram a procurar ancestrais evolutivospotenciais para os vertebrados terrestres. 12 O peixe dipnoico (peixe com pulmões) foi oprimeiro ancestral a ser proposto, mas acabou sendo considerado demasiadamenteespecializado. Na década de 1940, o peixe fóssil Eusthenopteron foi descrito em detalhes etornou-se o modelo de um tetrápode ancestral. As descrições feitas dos peixes fósseisPanderichthys, em 1980, e do Tiktaalik, 13 em 2006, forneceram outros exemplos de fósseiscom combinações de traços intermediários entre peixe e tetrápodes. Essa sequência fóssil temsido usada para demonstrar que os tetrápodes evoluíram de um peixe com barbatanaslobulares. Recentemente, porém, encontrou-se um rastro de tetrápodes fossilizado em umacamada do estrato inferior àquela em que estava o peixe fóssil que alegadamente seria oancestral tetrápode. 14 Em termos evolutivos, o suposto descendente veio antes de seu ancestral– uma impossibilidade óbvia. Assim, parece que outro fator (ou mais de um) esteja operandona produção desta sequência fóssil.

Os fósseis de baleias são outro exemplo de uma proposta de série evolutiva. Váriosmamíferos fósseis, alegadamente ancestrais da baleia, foram encontrados. 15 Esses fósseismostram combinações de traços diferentes de qualquer organismo vivo da atualidade. Parecemrevelar uma tendência de semelhança cada vez maior com as baleias. No entanto, acredita-seque nenhuma dessas espécies fósseis seja o ancestral de qualquer outra espécie conhecida, sejaviva, seja fóssil. Se alguém quiser determinar se esses fósseis fizeram parte de uma linhagemevolutiva ou se foram criados separadamente, deve consultar alguma teoria explicativa, visto

que a evidência é bastante incompleta. Um evolucionista poderia aceitá-los como o resultadoda evolução, enquanto um criacionista pode procurar outra explicação, como espécies criadasseparadamente, ou o resultado de algum fator desconhecido, como foi ilustrado no exemplo dotetrápode no parágrafo anterior.

RESUMO

Em resumo, embora a maioria dos cientistas possa dizer que a evolução é adequada paraexplicar a diversidade da vida, em nossa opinião ela está longe de acertar o alvo, por diversasrazões. Essas razões incluem a falta de uma fonte de informação sobre novas formas de vida, ofato de que as mutações prejudiciais sobrepujam as benéficas, a disparidade fóssil diante dadiversidade e as lacunas sistemáticas existentes no registro fóssil. Coletivamente, essasobservações mostram que a árvore evolutiva é imaginária e que o padrão da natureza é maisprecisamente ilustrado por uma “floresta” de árvores que representam linhagens criadas deforma independente. Acreditamos que a evolução não pode explicar a origem da vida nem aorigem de nenhuma outra forma nova de vida, nem mesmo o desenvolvimento de novas eimportantes estruturas dentro de uma forma já existente. A teoria da evolução, portanto, nãopode explicar a vasta diversidade de vida que vemos hoje. Para nós, a evidência inerente àprópria estrutura da vida é uma poderosa evidência de que, “no princípio, Deus criou” umadiversidade de “espécies”.

David L. Cowles nasceu no noroeste dos Estados Unidos e por toda sua vida tem sido umapaixonado pela biologia. Depois de obter um mestrado em biologia pelo Walla WallaCollege e ter lecionado ciências durante dois anos para o ensino médio, mudou-se para aCalifórnia, onde conquistou seu PhD pela Universidade da Califórnia, estudando ometabolismo de espécies que habitam grandes profundidades oceânicas. Depois de graduar-se, passou a lecionar na Universidade de Loma Linda, onde permaneceu por catorze anos. Em2001, transferiu-se para a atual Universidade de Walla Walla. Ele ainda é um apaixonadopela biologia, o que se vê ao lecionar, conduzir pesquisas ou orientar estudantes de pós-graduação. Pode ser encontrado na Estação de Estudos Marinhos de Rosario Beach, onde fazpesquisas e leciona quase todos os verões.

(A biografia de L. James Gibson pode ser encontrada à página 25.)

1 T. Dobzhansky, “Nothing in Biology Makes Sense Except in the Light of Evolution”, American Biology Teacher 35(1973): 125-129.

2 Para uma discussão mais detalhada sobre o problema da abiogênese, ver o capítulo 9, de Javor, neste volume.

3 S. C. Meyer, Signature in the Cell: DNA and the Evidence for Intelligent Design (Nova York: HarperCollins, 2009).

4 M. J. Behe, A Caixa Preta de Darwin (Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997).

5 Behe, The Edge of Evolution (Nova York: Free Press, 2007), 320; D. L. Overman, A Case Against Accident and Self-Organization (Lanham, MD: Rowman and Littlefield Publishers, 1997), 244.

6 Pela primeira vez proposto por S. J. Gould e E. S. Vrba, “Exaptation – A Missing Term in the Science of Form”,Palebiology 8 (1982): 4-15.

7 J. C. Sanford, Genetic Entropy and the Mystery of the Genome (Waterloo, NY: FMS Publications, 2008), 232; o efeito éconhecido como “catraca de Muller”.

8 J. Valentine e D. Erwin, “Interpreting Great Developmental Experiments: The Fossil Record”, em Development as anEvolutionary Process, ed. R. A. Raff e E. C. Raff (Nova York: Alan R. Liss, 1985), 95, 96.

9 Ver Gould, Wonderful Life: The Burgess Shale and the Nature of History (Nova York: Norton, 1989), 49..

10 D. Erwin, J. Valentine e J. Sepkoski, “A Comparative Study of Diversification Events”, Evolution 41 (1988): 1183.

11 M. Denton, Evolution: A Theory in Crisis (Bethesda, MD: Adler and Adler, 1986), 191, 192.

12 Ver J. A. Clack, Gaining Ground: The Origin and Evolution of Tetrapods (Bloomington: Indiana University Press,2002), 68-77.

13 E. B. Daeschler, N. H. Shubin e F. A. Jenkins, “A Devonian Tetrapod-Like Fish and the Evolution of the Tetrapod BodyPlan”, Nature 44 (2006): 757-763.

14 G. Niedzwiedzki et al., “Tetrapod Trackways From the Early Middle Devonian Period of Poland”, Nature 463 (2010):43-48.

15 Ver, por exemplo, C. de Muizon, “Walking With Whales”, Nature 413 (2001): 259, 260

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16. A TEORIA DA EVOLUÇÃO É CIENTÍFICA? LEONARD BRAND

teoria da evolução é científica? A procura por uma resposta está presente em outroscapítulos deste livro e, da mesma maneira, envolve cosmovisões, dados e interpretações e

outros problemas. A resposta mais fácil é a seguinte: “Sim, ela é científica.” Mas, antes deentendermos o que isso significa, precisamos perguntar o que faz qualquer teoria ser científica.

CIÊNCIA E RELIGIÃO

A ciência é um processo de procura por respostas. 1 Uma ideia pode ser rotulada comocientífica se puder ser estudada mediante o método científico. Se temos uma ideia e queremossaber se ela é boa, várias abordagens podem nos ajudar a decidir se aquela ideia está correta.Primeiro, podemos usar nossa capacidade de raciocinar para decidir se acreditamos que a ideiaé verdadeira. Podemos também pedir a Deus para nos dizer se ela é verdadeira. Estaabordagem – pedir a Deus ou procurar uma resposta na Bíblia – é uma abordagem religiosa.Finalmente, podemos pensar em fazer observações ou experiências que possam determinar se aideia é correta. A abordagem é, então, científica. Comparemos as três abordagens.

Como saber se nossa conclusão está correta? Precisamos comparar nossos pensamentos comalgum tipo de padrão. Se não tivermos um padrão, nosso pensamento será apenas umaadivinhação. Se quisermos saber quantos dentes tem um cavalo, será mais útil ficar pensandoem quantos dentes deve ter um cavalo ou abrir a boca de um cavalo e contarlhe os dentes?Também podemos perguntar para Deus ou investigar a Bíblia para obter uma resposta para apergunta sobre o número de dentes do cavalo. O problema é que a Bíblia não nos foi dada pararesponder a esse tipo de perguntas. Facilmente podemos encontrar respostas para elas por nósmesmos. Além disso, essa informação não tem nenhum significado espiritual. A Bíblia nos foidada para responder a outros tipos de perguntas, que discutiremos a seguir. A respeito dapergunta sobre quantos dentes tem um cavalo, não será mais útil abrir a boca de um cavalo econtar-lhe os dentes? Se fizermos assim, estaremos usando a ciência para responder àpergunta.

O método científico pode ser descrito através da seguinte sequência de eventos: Um cientistatem uma ideia, chamada de hipótese, e passa a pensar em observações e experiências quetestarão a hipótese. As observações são feitas; as experiências, conduzidas; e os resultadospodem indicar que a hipótese é falsa ou podem apoiá-la. Outro resultado possível é que aresposta não seja clara. Neste caso, diferentes observações deverão ser elaboradas para testarmelhor a hipótese. De uma coisa devemos estar certos: a ciência não vai nos fornecer

aprovação ou desaprovação absoluta. Somente nos comerciais de TV é que a ciência forneceprovas incontestáveis.

Às vezes digo para meus alunos de ciências que metade do que estou ensinando é falso. Noentanto, temos que esperar por novas descobertas científicas que nos mostrarão qual é ametade errada. Faz alguns anos, as evidências científicas indicavam que havia dez espécies dechipmunks (espécie de esquilo listrado, muito comum na América do Norte) na Califórnia, masnovas evidências demonstraram haver treze espécies. Na genética molecular, um conceito umavez considerado como dogma central daquela disciplina era que cada gene de nossoscromossomos orienta a produção de uma única proteína. Entretanto, novas descobertas têmdemonstrado que o processo é bem mais complicado. A lista de mudanças como essa nacompreensão científica é interminável. A ciência faz muitas descobertas significativas, mas,em seu contínuo progresso, ela continua nos mostrando que certas coisas sobre as quaistínhamos certeza são, na verdade, incorretas. Apenas não tínhamos evidências suficientes paraperceber que nossa interpretação não estava certa.

Há algumas ideias para as quais os estudos científicos não podem oferecer uma resposta, emrazão da própria natureza dessas questões. Elas não podem ser testadas, não importandoquantas pesquisas sejam realizadas. Por exemplo, quando Jesus viveu na Terra, Ele, de fato,realizou milagres? Experimente desenvolver uma experiência para testar essa problemática evocê vai concluir que é simplesmente impossível. Jesus viveu na Terra há muito tempo, e nósnão estávamos lá. Alguns de nós estamos absolutamente certos de que Ele, de fato, realizoumilagres, mas esta crença não pode ser provada pela ciência. Existe mais acerca da vida e doconhecimento do que meramente a ciência pode revelar. A ciência é uma maneira excelente dedescobrir muitas coisas, mas é importante reconhecer os limites daquilo para o qual a ciênciapode fornecer resposta.

A EVOLUÇÃO

Vamos voltar à nossa pergunta sobre a teoria da evolução. Para dar uma resposta que nãoseja superficial, precisamos considerar o significado da palavra “evolução”. Uma definiçãobásica de evolução biológica é mudança através do tempo. Os animais e as plantas mudam àmedida que seus sistemas genéticos permitem que eles se adaptem a diferentes condições doambiente. Existem complexidades no processo com as quais não precisamos lidar aqui, 2 masa parte essencial da definição é a mudança que ocorre nas populações de organismos com opassar do tempo. Um exemplo simples são os bicos dos tentilhões das Ilhas Galápagos. Oclima mudou ao longo de vários anos, resultando em mudanças no suprimento de alimento dostentilhões. Os indivíduos com o tamanho de bico que não permitia que a comida se encaixassedireito tinham menor chance de sobrevivência. Como resultado da seleção natural, o tamanhomédio dos bicos dos tentilhões alterou-se. Então, quando o clima voltou para sua condiçãoprévia, o alimento disponível também mudou, e o tamanho médio do bico dos tentilhõesretornou ao que era antes das mudanças climáticas. 3 Esse é um exemplo de microevolução,

isto é, uma mudança ocorrida dentro de uma espécie, o que geralmente acontece por meio demutações e da seleção natural.

Outro exemplo ocorre o tempo todo em lugares como os hospitais. Por décadas, temos usadoantibióticos para matar bactérias, mas algumas poucas bactérias permanecem vivas depois queo antibiótico matou todas as demais. O resultado é uma cepa de bactérias imune aos nossostratamentos. Isso também é microevolução. A microevolução realmente não produz nenhumtipo novo de animal. Ela apenas permite que espécies de animais ou plantas se adaptem àscondições mutantes do ambiente.

A teoria da evolução também inclui outro conceito: a evolução de todas as formas de vida,através de longas eras, a partir de um ancestral comum. Esse aspecto da evolução assinala quesapos, pardais, minhocas, repolho, palmeiras, lagostas e cientistas são todos resultantes daevolução. Eles evoluíram através do tempo, a partir de um ancestral comum, unicelular.

Esses dois conceitos sobre evolução podem ser estudados pelos métodos da ciência? 4 Semdúvida que sim. Muitos cientistas fazem pesquisas sobre a microevolução, observando como ascriaturas mudam à medida que se altera o ambiente. Eles usam observações e experiências paratestar hipóteses acerca dessas mudanças. Estudam processos que podem ser observados edocumentados. Que dizer sobre as mudanças maiores através do tempo, isto é, nosdescendentes de um ancestral comum? Isso pode ser estudado com os métodos da ciência?Sim, os cientistas usam muitos tipos de evidência para desenvolver e testar hipóteses sobre aevolução a partir de ancestrais comuns.

Ambos os conceitos de evolução são científicos, no sentido de que podem ser estudados comos métodos da ciência. No entanto, existe uma diferença entre eles. Pelo menos algunsaspectos do processo da microevolução podem ser observados, mas a descendência de tiposdiferentes de animais provenientes de ancestrais comuns no passado distante não pode serobservada. As pesquisas sobre ancestrais comuns fazem uso de evidências científicas, masdependem muito mais de suposições a fim de interpretar essas evidências. A suposição maisimportante e geralmente aceita pelos cientistas alega que nunca houve milagres nem atossobrenaturais em toda a história. Em outras palavras, tudo na natureza pode ser explicado pelasleis da natureza já descobertas. Esta é a suposição do naturalismo, a cosmovisão que não aceitaa possibilidade da criação e do projeto inteligente. Sempre que é feita uma suposição, oscientistas invariavelmente vão interpretar a evidência de acordo com o pensamento naturalista.As evidências podem ser interpretadas de variadas maneiras, mas, na cosmovisão naturalista,as únicas interpretações aceitas são aquelas baseadas na descendência de todos os organismosa partir de um ancestral comum através da evolução.

Muitos de nós queremos saber não apenas se a teoria da evolução pode ser estudadacientificamente, mas se ela é verdadeira ou não. Às vezes, o termo “científico” é usado de umjeito que implica que, se algo não é científico, então não é verdadeiro. Uma vez que osmilagres de Jesus não podem ser testados pela ciência, então eles não são verdadeiros? Essanão é uma conclusão razoável. A ciência não pode mostrar que os milagres de Jesus

aconteceram. Tampouco pode demonstrar que eles não aconteceram. A ciência simplesmentenão tem nada a dizer sobre isso.

O que isso nos diz sobre a evolução? A suposição do naturalismo pode ser testada pelosmétodos da ciência? Se puder, deixará de ser uma suposição. A suposição de que não houveatos sobrenaturais envolvidos na origem de formas de vida (isto é, não houve criação) é umacrença sobre coisas passadas, e não pode ser testada por observações ou experiências. Por essarazão, a suposição é uma escolha filosófica arbitrária. Não é respaldada pelo método científico.Existem consideráveis evidências que alegam apoiar uma evolução ocorrida ao longo demilhões de anos, mas diferentes cosmovisões podem levar a diferentes interpretações dasevidências. A diferença está nas interpretações e nas pressuposições das quais dependem essasinterpretações. A ciência pode fornecer evidências que nos fazem pensar, mas não pode nosmostrar como entender essas evidências.

Realmente enfrentamos algumas dificuldades para explicar certas evidências nas áreas dabiologia e da geologia a partir da visão bíblica da criação. Existem, todavia, muitos tipos deevidência difíceis de conciliar com a teoria dos milhões de anos da evolução. Como nãoestávamos lá, nem temos todas as evidências, a ciência não tem respostas definitivas para asorigens. Diante desse fato, é sábio buscar as respostas de Deus para essas perguntas. 5

Para ilustrar as diferença de cosmovisões e as interpretações delas resultantes, considere esteexemplo: as minhocas e os cientistas têm os mesmos processos bioquímicos ocorrendo nascélulas de seus corpos. Os cientistas naturalistas acham que isso é uma indicação de que elesevoluíram a partir do mesmo ancestral comum. Mas isso também pode significar que o mesmoCriador projetou ambos, usando o mesmo mecanismo bioquímico para manter a vida em suascélulas. A diferença entre essas duas interpretações (evolução ou criação) não pode ser testadapelos métodos da ciência porque elas são baseadas em pressuposições sobre o que aconteceuno passado.

No estudo da microevolução, podemos com frequência “abrir a boca do cavalo e contar osdentes”. Mas, quando perguntamos se evoluímos de bactérias e minhocas, estamos indagandoa respeito de uma história antiga, quando não havia nenhum cientista para “abrir a boca docavalo”. Podemos fazer essa pergunta para Deus. Nesse caso, trata-se de uma perguntaespiritualmente significativa, abordada pela Bíblia. A única outra opção para responder àpergunta é de natureza filosófica: podemos pensar sobre as limitadas evidências que temos edecidir, por nós mesmos, que a suposição feita pelo naturalismo é correta. Será esta umaabordagem satisfatória? Deus obedece a esta suposição ou fica admirado pela nossaingenuidade?

Vamos analisar esse ponto por meio de um exemplo pessoal. Meu sobrenome é Brand. Meupai pediu a um especialista em genealogias que pesquisasse nossa ancestralidade, e foi assimque o especialista seguiu nosso passado histórico até chegar a algumas destacadas famílias daInglaterra. O problema é que o estudioso havia feito uma falsa suposição, crendo que osobrenome Brand teria sido usado consistentemente através do tempo. O que ele não sabia era

que o vovô Brandt, um camponês alemão, colocou o sobrenome “Brandt” na primeira meiadúzia de filhos, sendo que a segunda meia dúzia recebeu o sobrenome “Brand”. Chegar a umainterpretação correta da origem genealógica dependeu de que se soubesse que a história real dosobrenome Brand em nossa família tinha sido iniciada recentemente por conta de uma escolhainteligente. (Presumo que foi inteligente, mas ninguém sabe por que o vovô fez isso; e, sim, erauma dúzia de filhos.) Nosso sobrenome não tem se sujeitado a leis típicas que governam ossobrenomes familiares. Assim é com a ciência no que diz respeito às origens. Se a criação ouuma escolha inteligente deu origem aos grupos de animais e de plantas, a ciência não oreconhecerá caso os cientistas que investigam essa ideia partam de uma pressuposição falsasobre as origens.

CONCLUSÃO

A teoria da evolução é científica? Sim, é científica no sentido de que ela pode ser estudadaatravés dos métodos da ciência. Isso significa que ela é verdadeira? O seu status de teoriacientífica a torna um fato consumado? Muitos livros escritos por cientistas são veementes aodeclarar que a evolução é um fato tanto quanto o é a gravidade. No entanto, essas alegaçõesnão são realistas, se há uma compreensão apropriada do método científico. Aspectos daevolução, especialmente a microevolução, estão bem documentados e parecem ser verdadeirosem sua essência, embora ainda possa haver muito para aprender antes que entendamoscorretamente essas questões. Essa incerteza não é peculiar apenas ao estudo da evolução. Emtodas as ciências, o descobrimento de novos fenômenos contribui para o aprimoramento e acorreção das ideias científicas.

Outros aspectos da evolução, como as afirmações sobre a história antiga e a origem dasformas de vida, estão em uma categoria diferente. A ciência pode estudar tais afirmações edesenvolver hipóteses, mas essas hipóteses nunca poderão ser rigorosamente testadas pelaciência. Nós não estávamos lá, e nossas interpretações de um passado antigo são tão confiáveisquanto nossas pressuposições. As alegações não são científicas se por “científicas” queremosdizer que elas demonstram ser verdadeiras. No entanto, não é isso o que o termo “científico”realmente quer dizer.

Sugiro que o nível de confiança que qualquer pessoa tem na verdade da história evolucionista(isto é, na ancestralidade comum de todos os organismos) é um reflexo direto do nível deconfiança que ela tem na pressuposição do naturalismo. Nossa confiança de que Deus nos falaatravés da Bíblia, a Sua Palavra, e de que nos deu uma verdadeira história da vida na Terra é abase de nossa cosmovisão cristã. Assim, para muitos de nós, a Palavra de Deus é o guia maisconfiável para que possamos compreender a história antiga. Deus estava lá quando a vida foicriada, e nós não estávamos. No caso das origens, Ele “contou os dentes do cavalo” e nos dissea resposta. A Bíblia de fato aborda o assunto das origens porque é importante saber de ondeviemos, por que estamos aqui e para onde vamos.

A pergunta “Conheço Jesus?” pode não ser muito científica. Para alguns pode ser até mesmo

irrelevante para tomar uma decisão sobre a evolução. Mesmo assim, sugiro que esta é apergunta mais importante de todas. Estaremos dando mais crédito para as interpretaçõescientíficas contemporâneas do que para a Palavra de Deus, ou conhecemos Jesus o suficientepara confiar em Sua comunicação conosco através da Bíblia?

Leonard Brand obteve bacharelado em biologia na Universidade de La Sierra, mestradoem biologia na Universidade de Loma Linda e PhD em biologia evolutiva na UniversidadeCornell. Ele começou a lecionar biologia na Universidade de Loma Linda, em 1969, e alipermanece desde então. É o diretor do departamento de Ciências Biológicas e da Terra eprofessor de biologia e paleontologia. Ele também estudou geologia e continua ativo naspesquisas, além de ter publicado numerosos artigos em revistas de biologia e geologia. Eletambém publicou três livros, muitos artigos em periódicos denominacionais e já apresentounumerosas palestras sobre fé e ciência em vários continentes.

1 L. Brand, Faith, Reason and Earth History: A Paradigm of Earth and Biological Origins by Intelligent Design, 2a ed.

(Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2009).

2 Brand (2009); L. Brand, Beginnings: Are Science and Scripture Partners in the Search for Origins? (Nampa, ID: PacificPress, 2006).

3 P. A. Grant, Ecology and Evolution of Darwin’s Finches (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1999).

4 Brand (2006, 2009); D. Ratzsch, Science and Its Limits: The Natural Sciences in Christian Perspective (Downers Grove,IL: InterVarsity, 2000); J. P. Moreland, Christianity and the Nature of Science (Grand Rapids, MI: Baker, 1989).

5 Brand (2006, 2009); S. C. Meyer, Signature in the Cell: DNA and the Evidence for Intelligent Design (Nova York:HarperCollins, 2009); A. A. Roth, Origens: Relacionando a Ciência com a Bíblia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,2001); A. A. Snelling, Earth’s Catastrophic Past: Geology, Creation & the Flood, v. 1 e 2 (Dallas, TX: Institute for CreationResearch, 2009).

A

17. DE ONDE VÊM OS SERES HUMANOS? RONNY NALIN

compreensão criacionista da Bíblia, segundo a qual os seres humanos são o produto deum ato divino de criação especial, conflita com a hipótese evolucionista de uma

descendência modificada a partir de ancestrais primatas. Este capítulo revê e discute aevidência fóssil relativa às origens humanas. COMO DECIDIMOS O QUE É UM SER HUMANO?

Uma abordagem simples é definir a humanidade tomando como base as característicasanatômicas. Entretanto, todas as espécies viventes mostram uma variabilidade em seus traçosmorfológicos. Quando comparadas com outras espécies primatas existentes, as medidas doesqueleto humano moderno parecem ser bastante homogêneas. 1 Certos fósseis estão foradeste limitado espectro moderno de variabilidade, e não há um consenso claro sobre o critériode diagnóstico que deveria determinar se eles deveriam ou não ser considerados humanos.Uma abordagem prática é colocar um fóssil em particular dentro da categoria homo quando amassa e a proporção corporais, as dimensões dos dentes e as adaptações do esqueleto mostrammaior semelhança com os humanos modernos do que com os fósseis australopitecinos (umgrupo cujos restos foram descobertos na África no princípio do século passado). Outros traçosmuitas vezes considerados relevantes na definição de humanidade são as dimensões docérebro, a habilidade de fabricar ferramentas e indicações de comportamento social esimbólico.

OS HUMANOS EVOLUÍRAM A PARTIR DOS AUSTRALOPITECINOS?

Na hipótese evolucionista, o Australopithecus é considerado a forma da qual surgiu o gêneroHomo. Seus restos são encontrados em sedimentos do Plioceno, abaixo daqueles contendofósseis do Homo. A anatomia do Australopithecus revela traços que hoje são encontradossomente nos humanos. Entretanto, muitas características diferenciam claramente oAustralopithecus do Homo. Essas características incluem, entre outras: (1) uma massa corporalmenor; (2) um tamanho pequeno do cérebro (cerca de 400 a 550 cm3 comparado comaproximadamente 1.400 cm3 dos humanos modernos); (3) um comprimento maior doantebraço, comparado com o braço; (4) o formato cônico do peito; e (5) dedos relativamentelongos e curvos. 2

Descobertas feitas em décadas recentes têm feito aumentar os limites da variabilidade

observada nos fósseis australopitecinos. Como resultado, uma variedade de nomes de espéciestem sido aplicada a esses restos. Complicações adicionais emergem da descoberta doArdipithecus ramidus em camadas abaixo daquelas que contêm restos de Australopithecus.Apesar da proximidade espacial e temporal em relação ao Australopithecus, o Ardipithecusramidus é notavelmente diferente. 3 Por outro lado, as camadas acima dos limitesestratigráficos do Australopithecus apresentam restos atribuídos ao gênero Homo comotambém a fósseis de hominídeos, similares ao Australopithecus, porém com característicasmais robustas no esqueleto (gênero Paranthropus). Se as duas formas são derivadas doAustralopithecus, a descontinuidade entre o Homo e o Australopithecus fica ainda maisaparente quando comparada à semelhança entre o Australopithecus e o Paranthropus.

Concluímos que a evidência fóssil utilizada como argumento em favor de uma relaçãoevolutiva entre o gênero Homo e outras formas extintas de hominídeos está longe de serconvincente e continua sem solução, especialmente à luz de um registro fóssil aindaincompleto do hominídeo do Plioceno.

O HOMO HABILIS ESTABELECE UMA LIGAÇÃO ENTRE OS AUSTRALOPITECINOS

E OS HUMANOS?Catalogado na década de 1960, o Homo habilis é uma espécie baseada principalmente em

restos fósseis descobertos na África oriental. Esses fósseis mostram tantas variaçõesmorfológicas que muitos pesquisadores atualmente acreditam que essas espécies possuem duasformas distintas: uma maior e outra menor. As estimativas de capacidade cranial variam entre500 e 750 cm3 – ligeiramente maior que a média de 400 a 550 cm3 dos australopitecinos.Estudos feitos com os ossos do pé sugerem que o Homo habilis foi um bípede terrestre, mas asproporções do osso de seu braço eram semelhantes às de um macaco. Alguns autoresconcluíram que o Homo habilis é uma forma derivada do Australopithecus, em vez de umaparte do gênero Homo. 4

OS HUMANOS DE “ASPECTO NÃO MODERNO”

Alguns fósseis têm semelhanças suficientes com o que é considerado o “humanoanatomicamente moderno” (HAM) para ser classificados como parte do gênero Homo. Porém,eles exibem traços distintivos o suficiente para ser descritos como pertencentes a espéciesdiferentes. A seção seguinte discute os principais tipos de fósseis humanos de “aspecto nãomoderno”.

Homo erectus. Esta espécie está baseada em descobertas realizadas na Indonésia, China,África e Eurásia ocidental. As características distintivas do Homo erectus incluem (1) umaabóbada cranial alongada e baixa; (2) arcos supraciliares robustos; (3) ângulo afilado entre abase e a parte posterior do crânio; e (4) um tamanho médio absoluto do cérebro

(aproximadamente 1.000 cm3) menor que o do HAM. Restos pós-cranianos 5 e rastros compegadas bem conservadas indicam proporções do corpo e movimento (locomoção)essencialmente modernos. A altura e a massa corporal estimadas para alguns espécimes doHomo erectus são comparáveis às do HAM médio, mas outros espécimes mostram umtamanho muito pequeno. 6

Entre os enigmas em torno da origem do Homo erectus estão seu aparecimento súbito, suadescontinuidade morfológica e sua ocorrência em conjunto com supostas formas ancestrais.Outro quebra-cabeça é que, desde o princípio, o Homo erectus apresenta uma abrangentedistribuição geográfica: desde a África até o sudeste da Ásia. Isso tem levado alguns aquestionar o cenário normalmente aceito que coloca a origem do Homo erectus na África, comuma subsequente dispersão pela Ásia. Esses pesquisadores apoiam a opinião oposta: origem naÁsia sucedida por dispersão na África. 7

Além disso, os antropólogos não entram em acordo sobre o destino do Homo erectus. Algunsargumentam que os traços de asiáticos modernos preservam traços típicos do Homo erectus,sugerindo uma continuidade regional entre o HAM e as formas de Homo erectus. 8 Outrospropõem que o Homo erectus asiático foi uma ramificação lateral periférica de longa vida queeventualmente desapareceu. 9

Homo heidelbergensis. Os fósseis do Homo erectus desaparecem desde a África até a Europalá para o fim do Pleistoceno inferior. Aqui, são sucedidos por fósseis de meados doPleistoceno, que mostram um substancial aumento na capacidade craniana. Estes espécimesforam agrupados na espécie Homo heidelbergensis, vista como uma forma afro-europeiaderivada do Homo erectus e ancestral tanto dos neandertais como do HAM. 10

Restos de fósseis encontrados em meados do Pleistoceno superior da China são muitosemelhantes aos espécimes clássicos afro-europeus de Homo heidelbergensis. Alguns autoressugerem que o material chinês indica uma migração posterior do H. heidelbergensis para aÁsia. No entanto, partidários da continuidade regional (onde fósseis da mesma região eaparentemente originários de espécies diferentes mostram semelhanças) preferem interpretaros fósseis chineses como evidência de uma gradação contínua local a partir do Homo erectusaté o HAM. 11

Neandertais (Homo neanderthalensis). Fósseis de neandertais são encontrados somente naEuropa e na Ásia oriental. 12 Esses fósseis mostram certa semelhança com o HAM, mas têmuma estrutura esquelética mais robusta e características cranianas altamente distintivas. 13

Restos com o conjunto completo de traços neandertaloides começam a aparecer no Pleistocenosuperior, mas as características tipicamente neandertaloides já são presentes nos fósseis dehominídeos europeus de meados do Pleistoceno. 14

Os neandertais têm proporções corporais semelhantes às dos HAMs que habitam em

ambientes extremamente frios, como os esquimós. Entretanto, a ideia de que a anatomiaesquelética do neandertal seja o resultado de uma adaptação ao clima foi recentementedesafiada. Na realidade, a região do Mediterrâneo, com seu clima temperado, parece ter sidoseu local de residência favorito. 15

Os neandertais desaparecem do registro fóssil no Pleistoceno superior. Alguns pensam quesua extinção se deve à sua substituição pelos novos HAMs migrantes. Outros propõem que osneandertais se mesclaram pelo menos em parte com o grupo de HAMs em expansão. Análisesde DNA mitocondrial extraído de ossos de neandertais revelam sequências que diferem doDNA mitocondrial tanto de fósseis modernos como de fósseis de HAMs. 16 No entanto, essasdiferenças não podem descartar o fato de que os neandertais contribuíram para o fundogenético humano. Em realidade, um estudo recente do genoma neandertaloide parece indicarque o DNA das populações humanas de nossos dias tem segmentos derivados dosneandertais. 17

O REGISTRO FÓSSIL DE HUMANOS ANATOMICAMENTE MODERNOS (HAMS)

Os HAMs se distinguem com base em alguns traços que incluem, entre outros: (1) umcérebro com formato globular, em vez de alongado; (2) uma face que não se projeta para afrente; (3) pequeno desenvolvimento dos arcos supraciliares; (4) um queixo bem definido; e(5) dentes de menores dimensões. 18

Os mais antigos fósseis que mostram essa combinação de traços vêm da África oriental.Entretanto, é importante notar que outros espécimes contemporâneos da mesma localidade nãotêm a aparência tão moderna. 19 Somente em um nível estratigráfico mais alto (normalmentedatado em torno de 45 mil anos) é que o HAM se torna o tipo dominante de fóssil humano.Neste ponto, eles começam a ser encontrados na Europa, Austrália e Ásia. A expansão súbitaparece estar relacionada à dispersão a partir da Ásia ocidental. Logo após a expansão, osprimeiros e surpreendentes exemplos de artes figurativas (pinturas em cavernas e estatuetasesculpidas) são registrados na Europa.

O padrão de aparecimento de traços morfológicos modernos tem levado à hipótese do “êxododa África”, que sugere que o HAM evoluiu primeiro na África oriental e, mais tarde, espalhou-se pelo mundo. O mosaico de características morfológicas que aparece na maioria dos HAMsprimitivos poderia ser explicado pela existência de mesclas com populações humanaspreexistentes (como as neandertais da Europa) em vez de total substituição. Um modeloalternativo, a teoria da evolução multirregional, não respalda a ideia de que o HAM teveorigem na África. Em vez disso, ela sugere que a emergência de uma modernidade anatômicafoi um processo gradual, envolvendo mais de uma população de cada vez. Esses grupos teriamvivido em regiões diferentes. Mesmo assim, poderiam ter intercambiado genes, contribuindopara uma modificação geral e gradual de nossa espécie.

DISCUSSÃO

O significado da variabilidade nos caracteres morfológicos. As espécies hominídeas sãodefinidas com base na suposição de que a variabilidade morfológica reflete diferençasgenéticas suficientemente significativas para que essas espécies não cruzem entre si. Em outraspalavras, as espécies eram tão diferentes umas das outras que não se mesclavam nem geravamdescendentes entre elas. Entretanto, alguns traços podem variar por outras razões além dagenética. Por exemplo, isso pode ocorrer em virtude do comportamento ou do clima. Narealidade, algumas diferenças esqueléticas que sugerem uma descontinuidade biológicapodem, em vez disso, estar relacionadas ao tamanho ou ao estágio de desenvolvimento.Também podem simplesmente refletir uma quantidade maior de variabilidade do que aquelaobservada nos humanos modernos. 20

Outra complicação com as reconstruções evolucionistas vem da prática de designar umaordem de aparecimento para as características morfológicas, definindo algumas delas como“ancestrais” ou “primitivas” e outras como “derivadas”. A distribuição dessas característicasnem sempre segue o padrão esperado. Há combinações do tipo mosaico, nas quais os fósseisantigos exibem traços “modernos” ou populações modernas apresentam traços “arcaicos”. 21

Apesar das dificuldades para interpretar a variabilidade nas características morfológicas, nãose pode negar que a modernidade anatômica aparece apenas no ponto mais alto do registrofóssil.

Pontos fortes e fracos do modelo evolucionista. Seções prévias deste capítulo ilustramcomo o pensamento predominante acerca da evolução humana está longe de ser resolvido. Amaneira de avaliar o peso das evidências atuais é, obviamente, um tema subjetivo, mas aopinião pessoal deste autor é que o caso da evolução humana baseado no estudo dos fósseisnão é convincente. As transições-chave, como é o caso de australopitecinos para Homo,carecem de detalhado suporte para ser demonstradas de forma inequívoca. Por outro lado, aprincipal força do modelo evolucionista está na distribuição ordenada dos fósseis, com osaustralopitecinos localizados abaixo do Homo, e o HAM só aparecendo no topo do limiteestratigráfico do Homo. 22

Como entender a evidência fóssil a partir de uma perspectiva criacionista. As diferençasanatômicas observadas entre os australopitecinos e o Homo são interpretadas pela maioria doscriacionistas como uma representação de dois grupos separados, não relacionados entre si. Avariabilidade observada entre diferentes espécies de Homo, todavia, é frequentementeinterpretada como uma expressão da alta diversidade original e da microevolução do grupohumano. 23 De acordo com essa abordagem, o Homo erectus, o Homo heidelbergensis, oHomo neanderthalensis e outras formas do tipo mosaico seriam verdadeiros representantes daespécie humana que, a certa altura, desenvolveram grupos de traços morfológicos distintos em

decorrência de alterações genéticas e de fatores ecológicos. Essa interpretação implica que oaspecto moderno dos humanos foi fixado apenas recentemente como consequência de umamaior extensão de expressões morfológicas. De fato, modificações microevolucionárias pós-diluvianas são rotineiramente invocadas para outras espécies (como gatos ou canídeos) e nãodevem ser categoricamente excluídas para os humanos. A fixidez de nossa espécie não pareceser apoiada pela evidência das Escrituras. De fato, a maioria dos criacionistas propõe queocorreram mudanças fisiológicas em nossa espécie como consequência do pecado ou demudanças nas condições ecológicas ocorridas depois do dilúvio.

Diferentes grupos humanos como o Homo erectus e o Homo neanderthalensis podem,portanto, representar dispersões pós-diluvianas de populações que, em alguns casos, fixaramcertos traços anatômicos por causa de seu relativo isolamento geográfico. O aparecimentotardio do HAM pode estar relacionado a uma dispersão mais recente de um grupo humano emque traços anatomicamente modernos eram predominantes. 24 É interessante notar que asEscrituras admitem migrações sucessivas (por exemplo, a dispersão pós-diluviana e adispersão pós-Torre de Babel) e que o relato bíblico e parte do registro fóssil são convergentesem indicar a Ásia oriental como o centro de onde se originaram essas dispersões.

Ronny Nalin obteve PhD em ciências da terra na Universidade de Pádua, Itália. Desde2007, ele tem trabalhado no Geosciente Research Institute como cientista pesquisador e comoprofessor adjunto de geologia na Universidade de Loma Linda. Suas áreas de interesse estãoconcentradas em sedimentologia de carbonatos não tropicais, especialmente da região doMediterrâneo, e em estratigrafia sequencial de depósitos sedimentários marinhos poucoprofundos. Ele tem publicado vários trabalhos sobre esses temas em periódicosinternacionais. Sua jornada espiritual pessoal o tem levado a considerar a fé e a ciência comofontes de conhecimento e compreensão da vida.

1 M. M. Lahr, The Evolution of Modern Human Cranial Diversity: A Study in Cranial Variation (Cambridge: Cambridge

University Press, 1996).

2 B. Asfaw et al., “Australopithecus Garhi: A New Species of Early Hominid From Ethiopia”, Science 284 (1999): 629-635; B. Wood e M. Collar, “The Human Genus”, Science 284 (1999): 65-71.

3 T. White et al., “Ardipithecus Ramidus and the Paleobiology of Early Hominids”, Science 326 (2009): 75-86.

4 Wood e Collard.

5 O termo pós-craniana refere-se aos elementos esqueléticos sem incluir o crânio.

6 D. Lordkipanidze et al., “Postcranial Evidence From Early Homo From Dmanisi, Georgia”, Nature 449 (2007): 305-310;A. C. Walker e R. E. F. Leakey, The Nariokotome Home Erectus Skeleton (Cambridge: Harvard University Press, 1993).

7 R. Dennel e W. Roebroeks, “An Asian Perspective on Early Human Dispersal From Africa”, Nature 438 (2005): 1099-1104.

8 D. A. Elter, “The Fossil Evidence for Human Evolution in Asia”, Annual Review of Anthropology 25 (1996): 275-301.

9 C. B. Stringer, “Modern Human Origins: Progress and Prospects”, Philosophical Transactions of the Royal Society ofLondon B 357 (2002): 563-579.

10 Stringer.

11 Elter; Stringer (2002).

12 Os neandertais devem ter se estendido até o sul da Sibéria.

13 Ver E. Trinkaus, “Modern Human Versus Neandertal Evolutionary Distinctiveness”, Current Anthropology 47, nº 4(2006): 597-620; ver também referência 18.

14 Por exemplo, o “crânio de Swanscombe”. Ver C. B. Stringer e J. J. Hublin, “New Age Estimates for the SwanscombeHominid, and Their Significance for Human Evolution”, Journal of Human Evolution 37 (1999): 873-877. Ver também osrestos de esqueletos descobertos em Sima de los Huesos, Espanha. J. J. Arsuaga et al., “The Sima de los Hueses Crania (Sierrade Atapuerca, Spain). A Comparative Study”, Journal of Human Evolution 33 (1997): 219-281.

15 P. Shipman, “Separating ‘Us’ from ‘Them’: Neanderthal and Modern Human Behavior”, Proceedings of the NationalAcademy of Sciences (USA) 105, nº 38 (2008): 14241, 14242.

16 J. P. Noona et al., “Sequencing and Analysis of Neanderthal Genomic DNA”, Science 314 (2006): 1113-1118..

17 R. E. Green et al., “A Draft Sequence of the Neandertal Genome”, Science 328 (2010): 710-722.

18 Trinkaus, “Early Modern Humans”, Annual Review of Anthropology 24 (2005): 207-230.

19 M. H. Day, “Omo Human Skeletal Remains”, Nature 222 (1969): 1135-1138.

20 A. Rosas, “A Gradient of Size and Shape for the Atapuerca Sample and Middle Pleistocene Hominid Variability”,Journal of Human Evolution 33 (1997): 319-331; T. White, “Early Hominids – Diversity or Distortion?”, Science 299 (2003):1994-1997.

21 Trinkaus (2006), 597-620.

22 A distribuição ordenada de restos biológicos é uma das principais características do registro fóssil.

23 M. L. Lubenow, Bones of Contention (Grand Rapids, MI: Baker, 2004).

24 S. Hartwig-Scherer, “Apes or Ancestors?”, em Mere Creation, ed. W. A. Dembski (Downers Grove, IL: InterVarsity,1998), 212-235

T

18. QUAIS SÃO AS IMPLICAÇÕES MORAIS DO

DARWINISMO? EARL M. J. AAGAARD

oda sociedade e toda cultura têm uma história que explica a origem dos seres humanos.Essa história forma o alicerce para as leis e a moralidade do grupo. 1 A civilização

ocidental surgiu entre pessoas que acreditavam que o Universo é uma criação especial de umDeus de amor. Ele supervisionou Sua criação dentro de uma estrutura de leis naturais, as quaispoderíamos descobrir e usar para melhorar nossa vida. Se a humanidade é a coroa da criação,então a vida humana deve ser considerada sagrada.

Ao negar o Criador, o darwinismo propõe uma mudança completa na aplicação e definiçãode moralidade. É deixada de lado a declaração: “No princípio, Deus criou os céus e a Terra.”Em lugar disso, esse “mito das origens” 2 naturalista começa com algo como o seguinte: “Noprincípio eram as partículas.” 3 Essa alternativa foi proposta primeiramente pelos antigosgregos, 4 mas ganhou destaque na modernidade por meio de Charles Darwin. Por isso, nestecapítulo, chamaremos essa alternativa de darwinismo. Essa perspectiva se consolidou entre aselites intelectuais na maior parte do mundo. A despeito de mudanças reais na lei e namoralidade, ocorridas depois que a cosmovisão darwinista ganhou destaque em uma dadasociedade, pouco se tem pensado nas consequências da mudança de uma base moral teísta parauma ateísta.

Neste capítulo, enfocaremos algumas questões: (1) os dogmas do darwinismo que têmimpacto na moralidade; (2) a consequência lógica de adotar esses dogmas como base para a leie a cultura; e (3) exemplos que mostram as consequências para cada um de nós na vida real.

O DARWINISMO E A NATUREZA HUMANA

O darwinismo propõe que a vida na Terra é o resultado de um processo não dirigido,envolvendo interações aleatórias de substâncias químicas não viventes na Terra primitiva.Desde que as primeiras células vivas se formaram e seus sistemas genéticos se organizaram,mudanças aleatórias no código do DNA gradualmente construíram formas novas e diferentes.Depois de milhões de anos, os hominídeos emergiram na África. Esses “pré-humanos”primitivos gradualmente se tornaram seres humanos modernos através de mutações no DNA,selecionadas pelo ambiente, no decorrer de milhares de gerações. Como declarou GeorgeGaylord Simpson, “o homem é o resultado de um processo despropositado e natural que não otinha em mente”. 5

A afirmação mais importante do darwinismo é que o aparente planejamento dos seres vivos,desde as complexidades do maquinário de nossas células até os órgãos complexos e ossistemas orgânicos estreitamente integrados dos organismos completos, pode ser descrito comoo resultado de um processo não pensado, não dirigido e totalmente natural. Nenhum projetistafoi necessário. Essa conclusão exclui principalmente a atuação divina. Tudo o que diz respeitoao mundo vivente, desde as operações de nosso corpo e cérebro até a vida religiosa e moralque experimentamos, é explicado levando-se em conta a energia, a matéria, a lei física e otempo. 6

IMPLICAÇÕES DO DARWINISMO PARA A MORALIDADE

Em vez de ver os humanos como seres criados à imagem de Deus, o darwinismo os vêsimplesmente como uma extensão elaborada de certos animais, diferentes apenas emdeterminadas características e habilidades. Logicamente, se o ser humano não for diferente doponto de vista da essência, não deverá ser tratado como se o fosse. Na realidade, pelacosmovisão darwinista, as leis que “privilegiam” os seres humanos em comparação com osoutros membros do reino animal são ilógicas. O movimento dos direitos dos animais, que teveparticipação na publicação do livro Animal Liberation, 7 é um resultado claro dessaperspectiva. Peter Singer obteve fama (ou notoriedade, talvez) ao sugerir seriamente quedeveríamos agir de acordo com os ensinamentos de Darwin. Nem sempre deveríamosprivilegiar os seres humanos simplesmente por eles serem humanos. Em alguns casos, certosanimais teriam maior direito à vida do que certos humanos, segundo o autor.

Embora os cristãos sempre tenham sido opositores da crueldade com os animais, eles não osconsideram em patamar de igualdade com os seres humanos. Essa visão é baseada em textoscomo Êxodo 20:10, Provérbios 12:10 e Lucas 12:6, 7. No entanto, desde o século passado,ativistas têm ido muito além do esforço de promover o bem-estar dos animais. Alguns chegama afirmar que às vezes é moralmente preferível usar seres humanos em vez de chipanzés parapesquisas médicas. Para esses ativistas, nossas leis deveriam parar de favorecer os membros dogênero Homo sapiens em detrimento das espécies não humanas, da mesma maneira comoprocuramos impedir o favorecimento dos homens em detrimento das mulheres e de uma etniaem prejuízo de outra. Um conjunto novo e diferente de critérios deveria ser desenvolvido paradeterminar quais decisões morais seriam corretas.

CRIADOS A PARTIR DE ANIMAIS?

A tentativa mais abrangente de descobrir como nossa sociedade deveria ser reordenadasegundo a realidade darwinista talvez tenha sido um volume publicado por James Rachels, ex-professor de filosofia da Universidade do Alabama em Birmingham. Rachels já é falecido. Emseu livro Created From Animals, publicado em 1990, ele analisa as implicações morais dodarwinismo. O livro é uma explicação lógica implacável sobre os rumos do pensamentonaturalista. Se alguém adere às premissas do professor Rachels, torna-se muito difícil

argumentar contra sua principal conclusão: a ética por ele denominada “individualismomoral”. 8 Uma vez que o ser humano não seria obra de uma criação especial, feito à imagemde Deus, mas o resultado de um processo não dirigido e gradual de evolução por seleçãonatural ao longo de muitas eras, não somos essencialmente diferentes do mundo animal nãohumano. Assim, tratar seres humanos de maneira diferente da que tratamos os animais é ser“especista” ou, em outras palavras, é praticar a discriminação de espécies, crendo que nossaespécie tem privilégios que recusamos a outras.

A ideia básica do “individualismo moral”, conforme proposto por Rachels, é que “a maneiracom que um indivíduo pode ser tratado é determinada não em consideração ao fato de elepertencer ao seu grupo, mas tomando em consideração suas próprias característicasparticulares”. 9 O professor Rachels esperava que essa visão resultasse em um tratamento maiscuidadoso dado aos animais, através da ampliação do círculo de obrigações moraistradicionalmente aplicado aos seres humanos. O círculo mais amplo incluiria animaismamíferos que demonstram evidências de funções cerebrais elevadas como, por exemplo, osgrandes macacos, os golfinhos e os elefantes. Naturalmente, se a função cerebral elevada vier aser a medida da condição moral de um indivíduo, então os humanos que não tenham a funçãocerebral desenvolvida poderão ser tratados como se fossem animais “inferiores”, aos quaistambém falta esta função. Tal lógica implementada como padrão moral confere legitimidadeao aborto de seres humanos, ao infanticídio, à eutanásia de idosos e inválidos, à criação deembriões humanos para experiências destrutivas e a muitas outras atividades que têm sidotradicionalmente categorizadas com inaceitáveis e, portanto, criminosas.

Rachels assegura a seus leitores que “a vida humana deverá ser valorizada, e podemosjustificar a existência de regras morais e legais para protegê-la. Teremos, todavia, quereconhecer que essas regras provêm de nossos próprios valores em lugar de descer até nós,vindas de alguma autoridade superior. Se isso implica em perda, talvez seja uma perda com aqual os humanos depois de Darwin tenham de viver”. 10 Ou morrer, naturalmente, uma vezque a ética abraçada por Rachels põe em perigo muitos dos seres humanos que por muitotempo têm sido protegidos por abraçarmos a sacralidade da vida humana. Se a sociedadeconsiderar que os humanos não são mais especiais do que qualquer outra espécie, o fardo dosque são inválidos e, portanto, considerados “inúteis” e/ou “onerosos” não tem mais que sercarregado. Eles poderiam ser misericordiosamente eliminados sem que isso causasse nenhumdesconforto moral.

Alguns dirão que essas implicações extremas representam apenas as cogitações de umfilósofo acadêmico. Não teriam nenhuma aplicação à vida real. Os que se sentem tentados aconfortar-se com esse pensamento fariam bem em examinar a literatura atual sobre bioética.Mesmo alguns bioéticos cristãos têm se convertido a essa visão darwinista. James Walters, emseu artigo “Is Koko a Person?”, 11 afirma que “o direito moral à vida característico de umapessoa depende primariamente de suas capacidades mentais superiores. O indivíduo que nuncachegará a possuir as funções neocorticais, ou que está definitivamente aquém de possuí-las,não tem um direito moral especial à vida”. Esse professor cristão revela estar de acordo com o

conceito de Peter Singer, segundo o qual, em certas circunstâncias, os bebês deficientes,adultos inválidos e outros poderiam ser eliminados. Entre os estudiosos da bioética, essaposição não causa espanto, mas certamente está muito distante do conceito cristão tradicionalda sacralidade da vida humana.

A APLICAÇÃO DO DARWINISMO A QUESTÕES MORAIS

Quais serão, de fato, as implicações morais do darwinismo? Vamos visualizar dois exemplosde como os seres humanos estão sendo tratados em nações que se afastaram de umcompromisso com “as leis da natureza e o Deus da natureza” 12 e abraçaram a visão darwinistada origem da vida e da humanidade: 13

• O voto do Parlamento Escocês que permite a eutanásia ativa por pessoal não médico, semque haja limitações na situação de saúde, idade ou método de lidar com a morte.

• Os esforços por parte do Compassion and Choices [Compaixão e Escolhas], um grupodefensor do suicídio assistido, de eliminar a “exceção de consciência” das leis que legalizam oaborto, a eutanásia e outros “cuidados médicos” letais. Isso significa que os que são incapazesde matar conscientemente um paciente que deseja morrer estão forçados a violar suaconsciência ou abandonar a prática da medicina.

Exemplos como esses ilustram a triste tendência das decisões tomadas quando os princípiosbíblicos são abandonados em favor dos conceitos relativistas. Como resultado, algumas vidashumanas são consideradas valiosas. Por isso, são protegidas legalmente. Outras vidas humanassão menos valorizadas, não tendo a mesma proteção. Essa é a consequência lógica da visãodarwinista. William Provine, professor de Ciências Biológicas na Universidade Cornell,fornece a declaração possivelmente mais direta acerca do que o darwinismo envolve no que dizrespeito à fé: “A religião se compatibiliza com a biologia evolucionista moderna (e, naverdade, com toda a ciência moderna) se a religião for efetivamente indistinguível doateísmo.” 14

Felizmente, as notícias não são totalmente desanimadoras. Um bom exemplo é a iniciativa“Team Hoyt”. 15 Rick Hoyt nasceu com uma severa invalidez causada por paralisia cerebral.Seus pais foram instados a “interná-lo em uma instituição” porque ele nunca seria capaz deandar, falar ou ser qualquer coisa além de um vegetal. A família o levou para casa e o tratouigual aos dois outros meninos. Com o passar dos anos, Rick aprendeu a comunicar-se com aajuda de um computador, frequentou a escola, fez faculdade, salvou a vida do pai e tornou-seum símbolo do valor de cada ser humano, a despeito do que seria considerado como“inutilidade” ou “incapacidade”. Entretanto, esse tipo de história é consideravelmente maisdifícil de ser encontrada.

CONCLUSÃO

Nem é preciso conjecturar sobre onde vamos parar se decidirmos continuar nos afastandocada vez mais de nossas raízes teístas. Alguns dos países da Europa foram mais longe queoutros, com destaque para a Suíça, com seu “turismo da eutanásia”, 16 e a Holanda, com seusmédicos empregando a eutanásia em pacientes de todas as idades. 17 Os que questionam sobreo que está realmente acontecendo em alguns casos e em países específicos devem procurarinformações por si próprios em vez de confiar na mídia popular para obter relatos objetivos.

É uma certeza lógica que, na ausência de um padrão exterior a nós mesmos e sem umaaceitação renovada do paradigma da excepcionalidade humana, é nossa própria natureza queestará no controle, seja ela considerada o resultado de nossa condição pecaminosa ou demilhões de anos de seleção natural. Os seres humanos são naturalmente egoístas: estamosmuito mais interessados em nosso próprio bem-estar do que em nosso próximo. Se fizermosleis de acordo com nossas inclinações, faremos isso visando ao cuidado de nosso próprio grupoem prejuízo ao cuidado dos outros. Em realidade, ao percebermos que nosso próprio bem-estarpode aumentar, mesmo que seja em detrimento de outros, é provável que optemos porprejudicar os outros para não nos sacrificar. Isso pode ser visto na alta incidência de abortos 18

e na violência étnica e religiosa experimentada em lugares como a Ruanda, a Bósnia, o Sudãoe assim por diante.

O padrão cristão de moralidade requer que todos amem o próximo como a si mesmos. 19

Apesar dos fracassos em atingirmos essa obrigação moral, é ela que tem promovido a proteçãoao pobre, ao debilitado e ao inválido muito mais do que qualquer outro sistema jádesenvolvido. Ao adotarmos o darwinismo como nosso “mito das origens”, estamosabandonando o padrão transcendental. Sem ele, a moralidade regride a alguma forma dedomínio do mais forte, o que acaba gerando a opressão dos menos favorecidos. 20 O século 20testemunhou exemplos claros desse risco, como foi evidenciado pelo nazismo e por diversossistemas totalitários. O século 21 continua a dar-nos lições parecidas. Devemos estar atentos eaprender.

Earl M. J. Aagaard completou bacharelado no Pacific Union College (PUC) e, com suaesposa, Gail, serviu como estudante missionário no Colégio Adventista da Bolívia. Seumestrado foi obtido também no PUC, com uma extensão de estudos de pós-graduação feitosna Universidade do Estado do Colorado. Depois de um período de pesquisas nos Andes daVenezuela, ele foi contemplado com o título de PhD. Após quatro anos lecionando para oensino médio, ele iniciou o que viria a ser um período de 22 anos como docente dodepartamento de biologia do PUC, seguidos de mais cinco anos na Southern AdventistUniversity, onde se aposentou em 2009. Ele continua escrevendo e ministrando palestras,como também participando de seminários sobre fé e ciência em todo o mundo.

1 Moralidade refere-se aos padrões de conduta que estabelecem distinção entre o certo e o errado.

2 Mito das origens é uma expressão que se refere a qualquer história relacionada às origens que envolva atividades pré-históricas sobrenaturais. Um “mito” pode ser verdadeiro ou falso, mas não pode ser verificado empiricamente.

3 http://www.gracevalley.org/sermon_trans/Special_Speakers/In_Beginning_Particles.html. “In the Beginning Were theParticles”, por Phillip E. Johnson, transcrito e editado a partir de uma palestra patrocinada pelo Grace Valley Christian Center,5 de março de 2000. “No princípio eram as partículas. E as partículas, de alguma maneira, se tornaram coisas viventescomplexas. E essas coisas imaginaram Deus, mas depois descobriram a evolução.”

4 Para um exemplo, ver Lucrécio, Sobre a Natureza das Coisas.

5 G. G. Simpson, “Epilogue and Summary”, em The Meaning of Evolution (New Haven, CT: Yale University Press, 1967),345.

6 R. Dawkins, The Blind Watchmaker (Londres: Penguin Books, 1986).

7 P. Singer, Animal Liberation, ed. reeditada (Nova York: Harper Perennial Modern Classics, 2009).

8 J. Rachels, Created From Animals: The Moral Implications of Darwinism (Nova York: Oxford University Press, 1990),173.

9 Ibid.

10 Ibid., 205.

11 http://dialogue.adventist.org/articles/09_2_walters_e.htm.

12 Palavras da Declaração da Independência norte-americana.

13 Ver os arquivos em: http://www.firsthings.com/blogs/secondhandsmoke.

14 W. B. Provine, resenha do livro Trial and Error: The American Controversy over Creation and Evolution, por Edward J.Larson, Academie 73 (janeiro/fevereiro de 1984): 51, 42; itálicos deste autor.

15 http://www.youtube.com/watch?v=ecwcq7FwHeY.

16 http://www.health-insurance.org/assisted-suicide-travel.

17 http://alexchadenberg.blogspot.com/2010/01/euthanasia-in-netherlands-continues-to.html.

18 http://newsbusters.org/blogs/kyle-drennen/2008/09/18/msnbc-wapo-s-quinn-declares-90-parents-abort-downs-syndroms-babies; www.blogger.com/down-syndrome-abortion-controversy.

19 Levítico 19:18; Mateus 19:19.

20 http://www.answers.com/topic/might-makes-right.

O

19. UM CRISTÃO PODE SER UM BOM CIENTISTA? JOHN F. ASHTON

estudo da ciência pode ser uma das experiências mais emocionantes e recompensadorasda vida. No entanto, os cristãos que se aplicam ao estudo da ciência podem, às vezes, ser

desafiados por professores e colegas que afirmam que somente as pessoas sem acesso àeducação e que ignoram as descobertas da biologia, geologia, arqueologia e astronomia aindapodem acreditar que o relato bíblico é verdadeiro. Quero assegurar-lhe que tenho contatofrequente com notáveis cientistas que creem nos milagres da Bíblia e dão testemunho de que asverdades da Palavra de Deus os têm ajudado a obter sucesso tanto na vida pessoal quanto nacarreira científica. 1 De fato, foram cientistas cristãos que me ajudaram a conhecer Jesus comomeu Salvador. Deixe-me compartilhar minha experiência.

Comecei minha carreira como físico estagiário na Central de Laboratórios de Pesquisa daBHP, na Austrália. Hoje esta é a maior companhia mineradora do mundo. Na década de 1960,a BHP já era a maior produtora de aço no hemisfério sul. Fui designado como assistente de umcientista que havia sido contratado recentemente. Ele havia ganhado uma medalha de ouroacadêmica e acabara de completar seus estudos pós-doutorais no Imperial College, emLondres. Era um meticuloso registrador de dados. Cada página de seus cadernos de anotaçõesera previamente carimbada com um número. Todos os resultados tinham que ser registrados.Todos os equipamentos precisavam estar absolutamente calibrados dentro dos padrões dereferência. Foi com ele que aprendi as técnicas de pesquisa de ponta. Foi ele também quem mefalou de Jesus.

Naquele tempo, eu era um cristão nominal. Ao preencher algum formulário, marcava minhaopção religiosa sem muita convicção. Como meu supervisor era um cristão preocupado comminha salvação, ele insistiu comigo para que eu lesse o livro Cristianismo Puro e Simples, deC. S. Lewis. Foi o que fiz. O estilo de vida deste cientista era contrastante com o de quasetodos os demais cientistas de nosso setor, também educados em instituições superiores como aUniversidade de Cambridge e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla eminglês). Em geral, eles fumavam e bebiam muito. No início da adolescência, eu decidira quenunca fumaria nem beberia. Ao observar o aparente vazio da vida daqueles cientistas que segabavam de suas bebedeiras e ver o contraste com a atitude positiva de meu mentor cristão,comecei a fazer perguntas como: “Existe, realmente, um Deus pessoal?” e “Como posso sabermais acerca de Deus?”

Lá pela metade da minha jornada acadêmica, passei da especialização em física e matemáticapara química. No ano seguinte, escolhi um projeto que seria supervisionado pelo chefe do

departamento de química da universidade. Eu trabalhava para esse professor, autor de livrospublicados internacionalmente. Soube que ele também era cristão. Sempre que eu entrava emseu escritório, ele me cumprimentava com um sorriso radiante e costuma dizer de formacordial: “Entre, John! O que posso fazer por você?” Sua saudação era normalmente seguida dealgum comentário bem-humorado, do tipo: “E então, já achou uma namorada?” Ele nuncaestava demasiadamente ocupado para me atender. Sempre apoiava minhas ideias de pesquisacom entusiasmo, enquanto fazia sugestões. Tão grande foi o incentivo deste professor,conhecido por sua natureza positiva e interesse nas pessoas, que eu alcancei destaque entreminha turma e recebi um prestigiado prêmio acadêmico.

Logo depois de obter meu diploma universitário, decidi frequentar uma igreja. Escolhi umaIgreja Adventista do Sétimo Dia. Nove anos antes, quando meu pai morreu, um dentista filiadoà igreja havia demonstrado grande bondade para com minha família. Como esse dentista sabiaque eu estava estudando ciência, ele me presenteou com uma régua de cálculo muito cara(essas réguas eram usadas antes das calculadoras eletrônicas de bolso). Antes de fazer minhaescolha, também procurei pelo verbete “sábado” em uma enciclopédia e li que o sábado bíblicoé o sétimo dia da semana. Com isso, fiquei sabendo qual é o dia indicado pela Bíblia para ir àigreja e adorar a Deus. Nessa época, candidatei-me a uma bolsa de estudos para o curso depós-graduação. Ainda me lembro de minha primeira oração pedindo que Deus me ajudasse aconseguir aquela bolsa de estudos. Dois meses depois, recebi uma resposta positiva. Foi-meconcedida a bolsa de pesquisas Tioxide, a maior bolsa para pesquisas em química oferecida naAustrália. Continuei frequentando a igreja aos sábados. Dezoito meses depois, aceitei a Jesuscomo meu Salvador e fui batizado.

Ao recordar-me dessas experiências ocorridas há quarenta anos, louvo a Deus por ter guiadominha vida. Tenho experimentado muitas respostas positivas para minhas orações e desfrutadode excelente condição física em razão de seguir os princípios bíblicos de saúde. Também tenhoaprendido a respeito das evidências arqueológicas que apoiam a precisão histórica da Bíblia 2

e sobre as evidências do cumprimento da profecia bíblica. 3 Aprendi ainda que muitos doscientistas que estabeleceram as bases da ciência moderna eram cristãos que acreditavam naBíblia. Entre esses pioneiros estão Isaac Newton, Robert Boyle, Johannes Kepler, CarolusLinnaeus, Michel Faraday, Samuel Morse, Charles Babbage, Matthew Maury, James Joule,Louis Pasteur, Gregor Mendel, Lord Kelvin, Joseph Lister, James Clerk Maxwell e JohnAmbrose Fleming. 4 Maury, por exemplo, um pioneiro da oceanografia, acreditava que aBíblia poderia ser usada como um guia para a compreensão da natureza. Depois de ler o Salmo8:8, que fala sobre os caminhos do mar, ele procurou por esses caminhos e descobriu ascorrentes oceânicas e muito mais. 5

Destacados filósofos como Lynn White, que lecionou em Princeton, Stanford e naUniversidade da Califórnia, em Los Angeles, reconhecem que a cosmovisão cristã do Ocidenteeuropeu, que predominou durante a Idade Média, favoreceu o florescimento da ciência naquelaregião, diferentemente de outras partes do mundo marcadas por culturas não cristãs. 6 Aciência não pôde fazer progresso significativo naquelas culturas por causa do risco de ofender

os deuses locais ou porque o foco da cultura estava na descoberta de sinais e propósitos danatureza. Dentro da cosmovisão cristã, o cientista e filósofo britânico Francis Bacon propôs,com êxito, que os cientistas deveriam trabalhar em conjunto para descobrir como a naturezafuncionava, de modo a melhorar as condições de vida do ser humano. Seguidor de Bacon, omatemático francês René Descartes também acreditava que Deus havia criado a ordemmatemática do Universo. Ele propôs que, através do estudo detalhado de pequenas partes danatureza e por meio da soma matemática dessas partes, as leis que governam o Universopoderiam ser descobertas. Desse modo, o conceito do reducionismo foi concebido. Quando odevoto cristão e erudito bíblico Isaac Newton descobriu o cálculo, sua descoberta abriu-lhe ocaminho para explicar muitas das leis da física como aquelas que regem o movimento e agravidade. Dessa maneira, cientistas que acreditavam no Criador e nas verdades da Bíbliaassentaram as bases da ciência moderna, as quais permitiram que as gerações seguintes decientistas desenvolvessem as tecnologias que usamos hoje em dia. 7

Ao pensar sobre o conhecimento que adquiri ao longo dos anos, percebo que aqueles quenunca leram nem aprenderam as verdades da Bíblia perderam muitos benefícios. Ascaracterísticas de um bom cientista – integridade, atenção aos detalhes, humildade, disposiçãopara reconhecer erros, curiosidade, o desejo de pesquisar e descobrir a verdade, e o cuidadocom as pessoas e o meio ambiente – estão todas alinhadas com a cosmovisão bíblico-cristã, senão diretamente baseadas nela.

Um aspecto da pesquisa científica que continua sendo um desafio para mim é a vastaaceitação da teoria da evolução como explicação para a origem da vida, ainda que não existamevidências experimentais para apoiar essa teoria. O biofísico Lee Spetner, que por muitos anoslecionou teoria da informação na Universidade Johns Hopkins, observou que não existemevidências de informações genéticas significativas surgidas por meio de mutações ao acaso.Com base na teoria das probabilidades, isso é impossível. 8 Além disso, ainda não existe ummecanismo conhecido que possa explicar como uma célula com vida poderia surgir a partir demoléculas não viventes. 9 Em um de seus livros, Richard Dawkins, professor da Universidadede Oxford e ateu militante, dá um exemplo simples do que ele afirma ser uma evidência deuma nova informação genética surgida ao acaso. O exemplo tem relação com o trabalho deRichard Lenski e sua equipe de pesquisadores do departamento de Microbiologia e GenéticaMolecular da Michigan State University. 10 Entretanto, Lenski e seus colegas não estãoseguros quanto ao mecanismo que produziu a mudança na informação genética, e ambos osmecanismos possíveis, propostos pelos pesquisadores, envolvem informações genéticaspreexistentes. 11 Em outras palavras, o mais famoso advogado da evolução, Richard Dawkins,não forneceu sequer um exemplo de evidência experimental para o tipo de evolução que serianecessária para produzir o primeiro olho, as primeiras extremidades articuladas, as primeiraspenas e a vasta quantidade de novas informações genéticas associadas a todos os tiposdiferentes de organismos vivos. Importantes educadores admitem que ainda não há ummecanismo conhecido que explique como podem ser formadas novas informações genéticasque tenham um propósito. Esse ainda é um importante foco de pesquisa em biologia. Um bemconceituado website educacional declara: “Os biólogos não estão discutindo sobre estas

conclusões [de que muitos biólogos acreditam que a vida na Terra teria evoluído], mas elesestão tentando compreender como a evolução aconteceu – e isso não é uma tarefa fácil.” 12

No decorrer dos anos, tenho me encontrado com importantes cientistas, os quais perceberamque as evidências científicas disponíveis hoje em dia apoiam vigorosamente o relato bíblico decomo viemos parar aqui. 13 Recentemente, fiquei sabendo que John Sanford, ex-geneticista daUniversidade Cornell, inventor da “pistola gênica” usada na engenharia genética, tornou-se umcriacionista. Ele adotou o conceito da criação em seis dias e o de uma Terra jovem com baseem evidências científicas, segundo as quais o DNA humano está se deteriorando emproporções alarmantes. Por isso mesmo, não pode ter milhões de anos de idade. 14

A ciência é o estudo da criação divina. Ela envolve a observação da natureza e a condução deexperiências que nos informam como poderemos zelar melhor pela criação. Ler a Palavra deDeus nos proporciona informações adicionais vindas do próprio Criador. O apóstolo Paulo nosfaz lembrar que somos feitura de Deus, criados em Cristo Jesus para fazer as boas obras que opróprio Deus preparou para que andássemos nelas (Efésios 2:10). Então, um cristão pode serum bom cientista? Deixarei que você mesmo decida.

John F. Ashton tem um bacharelado com honra em química, um mestrado em química pelaUniversidade da Tasmânia e um PhD em epistemologia pela Universidade de Newcastle,Austrália. Ele foi eleito membro do Royal Australian Chemical Institute em 1992 e temocupado cargos de docência e na área de pesquisa industrial por mais de trinta anos.Atualmente, é gerente de pesquisas estratégicas do Sanitarium Health Food Company etambém atua como professor adjunto de ciências biomédicas na Universidade de Vitória,Austrália. É coautor de mais de cem artigos acadêmicos, como também de mais de umadezena de livros.

1 J. F. Ashton, ed., On the Seventh Day: 40 Scientists and Academics Explain Why They Believe in God (Green Forest, AK:

Master Books, 2003).

2 J. F. Ashton e D. Down, Unwrapping the Pharaohs: How Egyptian Archeology Confirms the Biblical Timeline (GreenForest, AK: Master Books, 2007).

3 J. F. Ashton, com prefácio de B. McCusker, The Seventh Millennium: The Evidence We Can Know the Future (Sydney eLondres: New Holland, 1998).

4 A. Lamont, 21 Great Scientists Who Believed the Bible (Acacia Ridge, Austrália: Creation Science Foundation, 1995).

5 Ibid., 121-131.

6 L. White, “The Historical Roots of Our Ecologic Crisis”, Science 155 (10 de março de 1967): 1203-1206.

7 J. H. Randall, The Making of the Modern Mind (Boston: Houghton Mifflin, 1940).

8 L. M. Spetner, Not By Chance (Nova York: Judaica Press, 1997), 85-160.

9 A. Ricardo e J. W. Szostak, “Origin of Life on Earth,” Scientific American 301 (setembro de 2009): 38-45.

10 R. Dawkins, The Greatest Show on Earth: The Evidence for Evolution (Londres: Bantam, 2009), 131.

11 Z. D. Blount, C. Z. Borland e R. E. Lenski, “Historical Contingency and the Evolution of a Key Innovation in anExperimental Population of Escherichia Coli”, Proceedings of the National Academy of Sciences 105, nº 23 (2008): 7899-7906.

12 Evolution 101, “The Big Issues”, http://evolution.berkeley.edu/evfosite/evo101/VIIBigissues.shtml.

13 J. F. Ashton, ed., In Six Days: Why Fifty Scientists Choose to Believe in Creation (Green Forest, AK: Master Books,2007) http://creationontheweb.com/content/view/3323/ ou http://www.creationontheweb.com/isd.

14 http://creation.com/john-sanford. Ver também J. C. Sanford, Genetic Entropy & the Mystery of the Genome (Livonia,NY: Feed My Sheep Foundation, 2008).

S

20. COMO VIVER SEM TER TODAS AS

RESPOSTAS? GARY BURDICK

As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem anós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei(Deuteronômio 29:29).

e nosso conhecimento fosse perfeito, nossa ciência e nossa teologia nunca estariam emconflito, pois o mesmo Deus que Se revela por meio das Escrituras também Se revelou em

Sua criação, e Ele não está em conflito consigo mesmo. Assim, quando vemos um conflitoentre nossa melhor teologia e nossa melhor ciência, devemos reconhecer que isso é uma meraindicação de que não compreendemos completamente os fatos. Dois geólogos cristãosdeclaram o seguinte:

Tanto as Escrituras como o Universo criado são dádivas divinas. Por isso, não podemestar em conflito. Eles formam um todo abrangente, unificado e coerente que é a expressãodo caráter e da vontade de nosso Criador e Redentor, o autor de ambos. A natureza e asEscrituras formam uma unidade, porque o próprio Deus é Uno. [...] A Bíblia e a naturezaparecem às vezes estar desvinculadas, em competição ou mesmo em conflito uma com aoutra. Essas aparentes incompatibilidades, todavia, não ocorrem entre a Bíblia e a ordemcriada, mas entre a compreensão humana da Bíblia e a compreensão humana da natureza.São as interpretações dos dados fornecidos por Deus que levam à discrepância, conflito ediscórdia. 1

Quando Cristo voltar à Terra, esperamos obter maior compreensão da realidade e ter uma boaparte de nossas perguntas respondidas. Até então, como devemos viver com as perguntas semresposta? A seguir, estão quatro sugestões que para mim têm sido úteis.

1. Reconheça que cada disciplina tem suas próprias perguntas sem respostas. No campoda teologia, os cristãos esforçaram-se por séculos para entender exatamente quem é Jesus. EmSua vida na Terra, ficou claro que Jesus foi um ser humano que teve fome e sentiu dores comotodas as pessoas. Também ficou claro que Jesus, sendo divino, aceitou a adoração daqueles aquem Ele curou. Como Jesus poderia ser humano e divino ao mesmo tempo? Isso é um grandemistério. Embora o Concílio de Niceia tenha apresentado uma definição desse mistério para a

igreja cristã primitiva, ao considerar Jesus totalmente humano e totalmente divino, isso não foio suficiente para explicar como alguém poderia ser simultaneamente divino e humano.

A ciência também tem perguntas sem respostas. Por exemplo, o que é a luz? Por séculos, osfísicos têm se esforçado para entender o caráter da luz. Algumas experiências indicavam que aluz consiste de partículas discretas, enquanto outras mostravam que a luz se difunde em ondas.Somente no século 20, quando se desenvolveu a mecânica quântica, os cientistas entenderamque a luz é um “pacote de ondas” mecânico-quântico que pode exibir características de ondaou de partícula, dependendo do tipo de experiência escolhido. Entretanto, isso apenas definequal é o mistério, mas não responde completamente à pergunta, pois ainda não está exatamenteesclarecido o que a mecânica quântica nos diz acerca da natureza da realidade.

A maioria dos cientistas e engenheiros está disposta a aceitar os resultados da mecânicaquântica sem pensar muito sobre as questões filosóficas acerca do que a luz realmente é. Amecânica quântica explica extremamente bem os resultados de nossas experiências e tem sidousada com êxito no desenvolvimento de muitos aparelhos tecnológicos tais como o laser, otransistor e a técnica da imagem por ressonância magnética. No futuro, talvez seja empregadaem computadores quânticos de alta velocidade. Entretanto, tudo isso ainda deixa sem respostaa pergunta sobre o que é realmente a luz antes de ser medida em uma experiência científica. Aresposta não é importante para o desenvolvimento da tecnologia. Por essa razão, ainterpretação padrão da mecânica quântica tem sido caracterizada com a seguinte resposta:“Cale a boca e calcule.” Isso significa: “Não se preocupe com as ramificações filosóficas damecânica quântica. Apenas use-a e está bom assim.”

Tanto a teologia quanto a ciência têm perguntas não respondidas (e talvez sem respostas).Mas esses são mistérios pelos quais vale a pena lutar em busca de uma compreensão, pois elesapontam para algo da maior importância: as verdades fundamentais sobre Deus e a realidade.Visto que cada disciplina tem perguntas essenciais sem respostas, não devemos nossurpreender se as tentativas de conciliar a ciência com a teologia nos levarem a mais perguntassem respostas. Isso não quer dizer que a ciência e a teologia estejam em guerra ou que um ladodeva ser o vencedor e o outro o derrotado. Ao contrário, isso nos dá mais uma indicação de queDeus e a realidade são maiores do que nossa compreensão. Precisamos reconhecer que essessupostos conflitos podem apontar para importantes verdades ali implícitas. A resolução podenão vir facilmente, e esses conflitos podem não ser completamente resolvidos nesta vida, mascompensa fazer uma tentativa de entender melhor tanto a Deus quanto a Sua criação.

2. Investigue as implicações para cada disciplina do fato de aceitar as “verdades” deoutra disciplina. É importante perguntar quais podem ser as implicações para nossa teologiase quisermos aceitar certas teorias científicas atuais. Os teólogos que viveram depois deGalileu não viram nenhuma violação dos princípios teológicos fundamentais em aceitar que aTerra gira em torno do Sol, ao invés de o Sol girar em torno da Terra. Declarações bíblicas queparecem estar em conflito com uma Terra em movimento (por exemplo, a ordem de Josué para

que o Sol parasse) foram reinterpretadas sem prejuízo de nenhum dos pontos importantes dotexto ou da teologia subjacente. Assim, uma compreensão clara das Escrituras pode resolverconflitos. Em outros casos, a teoria científica prevalecente pode parecer incompatível com asEscrituras. Entretanto, em ambas as situações, o processo de exame ajuda a reafirmar os pontosteológicos mais importantes. Isso não quer dizer que os teólogos devam aceitar todas as teoriascientíficas, nem que a ciência subjuga a teologia. Mas, em alguns casos, o conflito pode serevitado ao se reconhecer que uma aparente divergência não precisaria existir.

De igual maneira, é importante que os cientistas cristãos investiguem as implicações dascrenças cristãs para a ciência. Alguns dos maiores avanços da ciência têm sido conduzidos porindivíduos dispostos a pensar de forma diferente do comum, investigando hipóteses e teoriasnão convencionais. A maior realização da física no século 19 foi o desenvolvimento da teoriade James Clerk Maxwell sobre o desenvolvimento do campo eletromagnético. Cristão devoto,Maxwell definiu sua compreensão sobre o dinâmico relacionamento do Deus triúno como uma“verdade análoga” que o ajudou a desenvolver sua teoria sobre o campo eletromagnético. “Nãoé que Clerk Maxwell tenha importado concepções teológicas como tais para suas atividadescientíficas, mas foi a convicção de sua mente profundamente cristã e informada pela fé queexerceu um papel de guia na escolha e formação de seus mais importantes conceitoscientíficos.” 2

3. Mantenha a discussão. Tanto na teologia como na ciência, algumas das verdades maisimportantes surgem como resultado do conflito e da contradição. Os proponentes tanto dahumanidade quanto da divindade de Cristo mereceram ser ouvidos. Nunca teríamosdesenvolvido um quadro mais amplo da natureza de Cristo se um dos lados derrotasse ecalasse o outro. Do mesmo modo, nunca teríamos desenvolvido a mecânica quântica se oscientistas que acreditavam que a luz é feita de partículas discretas derrotassem e calassem oscientistas que acreditavam que a luz é feita de ondas, ou vice-versa. Embora, em alguns casos,não vejamos como nossa compreensão da ciência e nossa visão da teologia se relacionam umacom a outra, não podemos calar nenhuma dessas vozes.

Albert Einstein reconheceu a necessidade de haver diálogo entre a ciência e a teologia: “Aciência sem religião é coxa, e a religião sem ciência é cega.” 3 Isso significa, em últimainstância, que a ciência deve olhar para fora de si mesma e para a religião em busca de umsenso de significado. A religião, por sua vez, abrange toda a realidade, não apenas a dimensãoespiritual. Por isso, não deveria ignorar o mundo físico. Essa relação foi abraçada pelo físico eteólogo John Polkinghorne.

As pessoas que buscam servir ao Deus da verdade deveriam aceitar a verdade sem medo oureserva, seja qual for a fonte de onde ela emane. Incluídas nessa aceitação ampla certamentedeveriam estar as verdades da ciência. No caso dos cientistas, a mesma atitude implica que,quando se dispuserem a empreender a busca pela absoluta compreensão – uma busca na qualdevem embarcar de maneira natural –, eles estarão preparados para ir além dos limites da

ciência na procura pelo contexto de inteligibilidade mais amplo e profundo. Creio que estabusca, se feita com uma atitude aberta, levará o inquiridor na direção de uma crença religiosa. 4

4. Reconheça o que é mais importante. Embora desejemos que todas as nossas perguntassejam respondidas, Jesus deixou claro que Ele veio para curar e salvar. Isso era maisimportante do que responder a perguntas. Quando Seus discípulos encontraram um cego denascença, eles perguntaram por que ele nascera cego, se por causa de seu próprio pecado ou dopecado de seu pai. 5 A resposta de Jesus foi que a cegueira daquele homem não se devia anenhuma das duas causas. Mas Ele não abordou a suposição implícita de que adversidades,como a cegueira daquele homem, eram um julgamento de Deus por causa do pecado. Ele, emvez disso, simplesmente declarou que a glória de Deus seria manifestada por meio da cegueirado homem. Então Ele o curou. Resolver o problema era muito mais importante para Jesus doque dar uma explicação. O teólogo Thomas Tracy afirma:

A boa-nova proclamada no Novo Testamento é que Deus tem agido para livrar e redimir,e não que Deus nos tenha oferecido um esclarecimento satisfatório da razão pela qual ascoisas são como são. [...] Almejamos tanto a libertação como a compreensão, emboranenhuma das duas coisas esteja dentro de nossa esfera de poder, e não nos surpreende que apromessa do infalível amor de Deus seja uma questão de mais urgente preocupação do quea perspectiva de uma explicação completa. 6

Quando os autores dos evangelhos narram o sofrimento e a morte de Jesus, nenhumaexplicação é dada para a existência do pecado, do sofrimento e da morte – apenas que, atravésdo sofrimento e morte de Jesus, podemos ser salvos. Ellen White escreveu:

É impossível explicar a origem do pecado de maneira a dar a razão de sua existência [...].O pecado é um intruso, por cuja presença nenhuma razão se pode dar. É misterioso,inexplicável; desculpá-lo corresponde a defendê-lo. Se para ele se pudesse encontrardesculpa, ou mostrar-se causa para a sua existência, deixaria de ser pecado. 7

Assim, embora queiramos entender as razões para o mundo ser assim como ele é, em últimaanálise a mensagem do evangelho é que o mundo necessita de redenção, e que um mundomelhor nos espera. A salvação é mais importante do que a explicação.

CONCLUSÃO

Frank Hasel comenta que, “na ciência, assim como na teologia, a humildade é uma das maisraras e mais importantes características e exigências dos que estão engajados no estudo deambas.” 8 A ciência fornece ferramentas poderosas para entendermos os complexos detalhesda criação divina. Entretanto, ao tentarem ultrapassar os limites de suas disciplinas no afã deobter um quadro mais completo do Universo, os cientistas reconhecem que suas explicaçõesrevelam uma realidade subjacente que ainda é inexplicável. Assim, o verdadeiro cientistasente-se constrangido por sua própria disciplina a ser humilde.

Com o teólogo acontece o mesmo. A Bíblia fornece um relato confiável sobre como Deusinteragiu com as pessoas através da história. Ela fornece tudo o que é necessário para asalvação. Entretanto, nem todas as perguntas sobre a natureza de Deus estão respondidas.Sempre haverá algo mais para o teólogo aprender sobre Deus.

“Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos,os meus caminhos, diz o Senhor” (Isaías 55:8, 9).

O esforço do teólogo em sua busca de um quadro mais amplo do Deus transcendente requer,da mesma forma, humildade.

Tanto o cientista quanto o teólogo veem “como em espelho, obscuramente”. Vemos osuficiente para obter conhecimento a respeito do que Deus tem revelado a respeito de Simesmo e de Sua criação. Porém, o quadro ainda é uma sombra da realidade. Anelamos pelomomento em que veremos claramente um quadro mais completo, e poderemos unir nossasperspectivas disciplinares, pois aprender sobre a criação de Deus também é aprender sobreDeus.

“Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face.Agora, conheço em parte; mas então conhecerei como também sou conhecido” (1 Coríntios13:12).

Gary W. Burdick é físico e matemático graduado pela Southern Adventist University, tendoobtido seu PhD em física pela Universidade do Texas. Ele fez trabalhos pós-doutorais naFrança, Hong Kong e no estado da Virgínia antes de tornar-se docente na Universidade de LaSierra. Burdick mudou-se para a Universidade Andrews em 1999, onde atualmente é professorde física e reitor associado para pesquisas. Em sua área de pesquisa espectroscópica, em quelida com transições eletrônicas (ópticas) de elementos do lantanídeo em estado sólido,estabeleceu colaborações internacionais com vários laboratórios de pesquisa. Ele tem mais dequarenta publicações científicas e muitas apresentações em congressos internacionais.

1 D. A. Young e R. F. Stearley, The Bible, Rocks, and Time (Downers Grove, IL: InterVarsity, 2008), 483, 484.

2 T. F. Torrance, Theological and Natural Science (Eugene, OR: Wipf and Stock, 2002), 15.

3 A. Einstein, “Science and Religion”, em Ideas and Opinions, 3ª ed. (Nova York: Three Rivers Press, 1995), 46.

4 J. Polkinghorne, Quantum Physics and Theology (New Haven, CT: Yale University Press, 2007), 109, 110.

5 Ver João 9.

6 T. F. Tracy, Lawfulness of Nature, in Physics and Cosmology: Scientific Perspectives on the Problem of Natural Evil, v.1 (s.l.: Vatican Observatory Publications, 2007), 155.

7 E. G. White, O Grande Conflito (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001), 492, 493.

8 F. M. Hasel, “How to Deal With Open Questions: Facing the Challenges Between Faith and Science”, Ministry 79, nº 7(julho de 2007): 21-23.