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Universal e geral REFORMAÇÃO de todo o extenso mundo. FAMA FRATERNITATIS da louvável Ordem da Rosacruz/ dirigida a todos os sábios e cabeças da Europa: Também uma curta RÉPLICA, posta pelo Senhor Haselmayer/ pela qual o mesmo foi encarcerado/ e aferrado em uma nau: Agora publicamente acabado em impressão/ e comunicado a todos os corações leais. Impresso em Cassel / por Wilhelm Wessel / Ano M DC XIV

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Page 1: encarte fama fraternitatis - amorc.org.br · século XVII; contemporâneos de Bacon, tínhamos René Descartes na França, além de outros rosacruzes famosos em épocas próximas,

Universal e geral

REFORMAÇÃOde todo o extenso mundo.

FAMA FRATERNITATISda louvável Ordem da Rosacruz/

dirigida a todos os sábios ecabeças da Europa:

Também uma curta RÉPLICA,posta pelo Senhor Haselmayer/ pela qual

o mesmo foi encarcerado/ e aferrado em uma nau:

Agora publicamente acabado em impressão/e comunicado a todos os

corações leais.

Impresso em Cassel / por Wilhelm Wessel /

Ano M DC XIV

Impresso em Cassel / por Wilhelm Wessel /

Ano M DC XIV

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São Tomás de Aquino

Aos Fratres e Sorores da Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis, AMORC, Jurisdição de Língua Portuguesa.

Saudações em todas as pontas do nosso Sagrado Triângulo!

Enquanto a liturgia cristã comemora no dia 06 de janeiro a manifestação da Luz Divina sobre a Terra através da Festa da Epifania, nós, rosacruzes, reconhecemos esta comemo-ração, mas temos outras razões para celebrar.

Nossa organização não é uma Ordem comum. Nossa Tradição tem significativo peso nos destinos das sociedades e, por consequência, na evolução da humanidade.

Na Europa da alta Idade Média (entre os séculos V e XV) o pensamento dominante era de caráter religioso, causado pela forte influência que o clero da época exercia na sociedade.

Iniciado no século I e recebendo forte influência da chamada Patrística a partir do século IV, a característica religiosa do pensa-mento se acentuou nos dez séculos seguintes alcançando seu ápice no século XIII com seus ilustres doutores, como é o caso de São Tomás de Aquino durante a Escolástica. Neste pe-ríodo, a Igreja Romana ungia e coroava reis, organizava Cruzadas à Terra Santa e criava, à volta das catedrais, o que hoje chamamos de universidades. Ou se aprendia nestes locais, ou nas escolas dos claustros. Neste período, a igreja centralizava o monopólio da cultura.

Não há adjetivo ou expressão mais ade-quada para o cenário da época do que aquilo que costumamos chamar de medieval.

As ideias de criação do mundo, de peca-do original, de Deus como trindade una, de

juízo final, de fim dos tempos e outras foram “transformadas” pela Igreja em verdades reveladas por Deus ou decretos divinos elevando-se ao status de dogmas. A partir daí, tornaram-se irrefutáveis e inquestionáveis. Estas imposições vieram gerar a grande dú-vida que seria o assunto central durante séculos:

– ou a verdade vem por revelação e fé, e portanto de Deus,– ou vem da razão, da mente, e portanto do homem.A tentativa de conciliar razão e fé colocava Deus como centro das buscas do homem

medieval. A influência do pensamento de Aristóteles e dos filósofos árabes Avicena e Averróis resgataram as características do período clássico recolocando a atenção de

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Cavaleiros das Cruzadas

Deus no homem e possibilitando o que alguns séculos mais tarde iria culminar com a Renascença, o pensamento moderno e o Iluminismo.

A tônica medieval resumia-se ao “ora et labora”, que em tradução simples significa “reza e trabalha”. As mentes mais proeminentes da época, os rosacruzes, trabalhavam para alterar aquele estado de coisas. A proposta dos rosacruzes era o ideal do homem como artífice de seu próprio destino, tanto através dos conhecimentos (astrologia, ma-gia e alquimia), quanto através da política (o ideal republicano), das técnicas (medicina, arquitetura, engenharia e navegação) e das artes (pintura, escultura, literatura e teatro). Dentre essas mentes destacamos Dante Alighieri, Giordano Bruno, Tommaso Campa-nella, Nicolau Maquiavel, Michel de Montaigne, Erasmo de Roterdam, Tomás Morus, Johannes Kepler e Nicolau de Cusa.

Naquela fase, nossa Ordem trabalhou com tenacidade em vários países da Europa. Como sabemos, não se ousava propagar ideias novas que contrariassem o paradigma vigente.

A despeito da medonha ação combativa a qualquer novo conhecimento, nossa frater-nidade esteve ativa e atuante no pensamento e nas culturas da época.

Como sabemos, Sir Francis Bacon foi Imperator de nossa Ordem na Inglaterra do século XVII; contemporâneos de Bacon, tínhamos René Descartes na França, além de outros rosacruzes famosos em épocas próximas, como Blaise Pascal, Thomas Hobbes, Gottfried Wilhelm Leibniz, John Locke, George Berkeley e Isaac Newton.

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Ouve, fi lho meu, e recebe minhas palavras;Assim, os anos de tua vida serão muitos.Ensinei-te o caminho da sabedoria;Conduze-te pelas veredas da retidão. Quando andares, teus passos não necessitarãoserem corrigidos; e quando correres, nãotropeçarás. Agarra a instrução; não a soltes:guarda-a, pois ela é a tua vida. Prov. IV.v.10.

Mysterium Magnum

Ouve, fi lho meu, e recebe minhas palavras;

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osManifestos

RosacruzesClaudio Mazzuco,

Grande Mestre da Jurisdição de Língua Italina

Com a autorização do autor, Frater Claudio Mazzuco, Grande Mestre para a Jurisdição de Língua Italiana, incorporo o documento intitulado “Os Manifestos Rosacruzes” para ilustrar e reforçar o conteúdo deste opúsculo. Em plena concordância com ele reafirmo: buscamos utopias!

Na vida de um estudante rosacruz apare-cem várias oportunidades de entrar em

contato com o estudo dos Manifestos Rosa-cruzes e através destes conhecer um pouco mais do período histórico relativo, chamado pela historiadora Francis Yates de “Ilumi-nismo Rosacruz”.

Abordemos pois a história. Não como um elenco de datas ou nomes para serem estudados ou lembrados. Vamos analisar a história como uma harmonização. Através dos fatos aqui narrados, experimentare-mos, com a nossa imaginação, uma harmo-nização com um ideal ou, melhor ainda, com uma utopia.

De fato, este é o termo que pode definir o pensamento filosófico que antecipou a publicação dos Manifestos Rosacruzes em 1614, 1615 e 1616: uma utopia.

O dicionário filosófico define utopia como uma palavra que deriva do grego e é formada por “ou” (negação) e “topos” (lu-gar): ou seja, o “lugar que não existe”.

Qual relação existe entre o Rosacru-cianismo e a utopia, ou melhor, “o lugar que não existe”? É oportuno lembrar que no manifesto Positio Fraternitatis, recen-temente publicado pela nossa Ordem,

encontramos uma citação de um pensa-mento de Platão que nos servirá de guia:

“A Utopia é a forma ideal de sociedade. Talvez nunca venha a se realizar na Terra, mas é nela que o sábio deve pôr todas as suas esperanças.”

Utopia

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O período rosacruz que nos interessa aqui, em particular os séculos XVI e XVII, caracterizou-se pelo aparecimento das grandes utopias e do sonho de grandes pensadores em realizar uma reforma da humanidade. No Palatino, região da Ale-manha, por pouco não se concretizou a Utopia Rosacruz.

Sob a tutela de Frederico V, príncipe eleitor do Sagrado Império Romano, os rosacruzes tentaram realizar a cidade ideal. Como pode-ríamos chamá-la? A Cidade do Sol? Cristianó-polis? A Nova Jerusalém? A Nova Atlândida?

Não importa qual nome escolhamos, o que conta é que se tentou realizar na Terra um ideal de paz, fraternidade e tolerância entre os homens. Tentou-se realizar um ideal de convivência harmoniosa entre as diversidades para o crescimento e benefício de todos, concretizando assim um princípio hermético bem conhecido por todos nós.

Tentou-se realizar na Terra a cidade ideal que os místicos constroem no próprio cora-ção. Aquele lugar sagrado - aquele “lugar que não existe” porque não é visível - onde todas as diferenças podem ser diluídas com o sol-vente alquímico universal: o amor.

Mas para entender melhor os aconteci-mentos daquele período é necessário lem-

brar alguns fatos que funcionaram como precur-sores de gran-des eventos. Vejamos então brevemente e tentemos en-tender como chegamos tão perto da concretização deste ideal e Frederico V

como as guerras de religião, em particular a Guerra dos Trinta Anos, destruíram tudo, deixando somente morte e miséria. Porque a guerra faz somente isso: substitui o que exis-te com morte e miséria.

Começaremos com o fim do século XV, lembrando como o descobrimento das Américas em 1492 ampliou as fronteiras do homem, não somente do ponto de vista geo-gráfico, mas sobretudo do ponto de vista dos limites impostos à consciência. Vale lembrar também que o termo “descobrimento das Américas” é posto em discussão pelos histo-riadores, visto que não se entende que sig-nificado pode ter “descobrir” um lugar onde já viviam populações. A expressão, como é usada, quase indica que antes que a Europa “descobrisse” a América, esta não existia.

Naquele período também começavam a cir-cular documentos reproduzidos segundo uma técnica conhecida há algum tempo, mas aper-feiçoada e aplicada por Gutemberg: a imprensa.

O descobrimento das Américas, todavia, deve ser lembrado em todos os seus aspectos porque foi marcado principalmente pela cul-tura europeia dominante no período. O ge-nocídio das populações americanas (índios), a destruição das civilizações Asteca e Inca e o saqueamento humano da África negra, fato pelo qual o Papa pediu perdão em uma recente visita à Angola, foram infelizmente graves consequências do descobrimento e representam fatos de extrema dramaticidade.

No século XV avança também uma cul-tura que é definida como humanista por-que, pela primeira vez depois de séculos, iniciava-se a recuperação da confiança no Homem, o qual começa a ser considerado o ponto de encontro entre o céu e a terra.

Os intelectuais se reúnem em círculos ou “Academias” e dão início ao estudo crítico das Sagradas Escrituras, fato absolutamente inconcebível até aquele momento.

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Este é o período de MarcílioFicino, gran-de tradutor dos textos herméticos e da obra de Platão, e do seu impor-tante discípu-lo, Pico della Mirandola. A

Ficino devemos atribuir a ideia ou conceito de tradição primordial. Foi ele o primeiro es-tudioso que estabeleceu a existência de uma corrente que liga todos os grandes fi lósofos da humanidade, empenhados em transmitir uma forma de conhecimento que continha em si mesmo algo de sagrado.

No Humanismo, já começa a se delinear aquela onda que leva a humanidade sempre a planos mais elevados de consciência. O sé-culo XV é o século no qual são introduzidos em Florença, na Itália, os textos fi losófi cos gregos que serão fundamentais para o perío-do da Renascença que veio a seguir.

O Século XVIEste é o século em que se põe em discussão a teoria geocêntrica, que colocava a Terra no centro do universo e que era sustentada pela Igreja com base em uma interpretação do livro de Josué, no qual o profeta ordenava ao sol que parasse no céu.

O astrônomo polonês Nicolau Copér-nico, com a sua “revolução”, muda total-mente a posição do homem em relação ao Universo. Ele afi rma, recuperando antigas doutrinas pitagóricas, que é a Terra que gira ao redor do sol e não o contrário. Esta teoria é conhecida como teoria heliocêntrica. Não mais o Homem no centro do Universo, mas

o homem como habitante de um pequeno planeta entre outros tantos. Não obstante “A Revolução do Mundo Celeste” tivesse sido dedicada ao Papa (por prudência!), a reação da Igreja não tardou e teve como objetivo impedir a difusão do texto.

O Processo de GalileuAs vítimas mais ilustres foram Galileu Galilei, que havia confi rmado a teoria copernicana, observando o céu com o seu telescópio, e Giordano Bruno, que inspirado pelo heliocentrismo afi rmou a infi nidade do universo e a pluralidade dos mundos.

O século XVI será conhecido com o nome que o historiador Jules Michelet lhe deu: o Renascimento. De fato, este século testemunhará uma renovação total na vida, com a criação e a adoção de um conceito re-volucionário sobre o Homem e o Universo.

Este renascimento levou ao retorno do mun-do clássico, aos textos e valores fundamentais da antiguidade grega e latina e à retomada de temas fi losófi cos herméticos e neoplatônicos.

Portanto, é o século da metafísica neo-

Revolução dos mundos Celestes – 1516

Marcílio Ficino

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platônica com uma fortíssima infl uência de alquimistas e pensadores hebreus, como Cordovero e Luria.

No campo da medicina encontramos Paracelso, que põe em dúvida os fundamentos da medicina até então praticada e que baseava-se no pensamento de Galeno (médico do séc. II d.c.).

Este fato é citado no Fama Fraternitatis. Paracelo introduz uma nova visão na medi-cina segundo a qual o homem é visto como um microcosmo e a natureza como um livro que deve ser lido para conhecermos a nos-sa verdadeira essência e encontrar assim as curas necessárias. Segundo o pensamento de Paracelso, o médico é um iniciado aos misté-rios do homem e da natureza. Trata-se de uma revolução que, ao contrário daquela de Copér-nico, poderíamos chamar de microcósmica.

Como podemos ver, os eventos seguem em grande velocidade. Alguma coisa está fermentando e é espontâneo esperar alguma grande mudança. Aquilo no qual acreditou--se por séculos começa a desabar velozmen-

te como um castelo de areia.O conhecimento que funcionava como

alicerce e no qual baseavam-se todas as escolhas agora não funciona mais e é subs-tituído. Vemos aparecer no cenário europeu estas mentes iluminadas que trazem a luz de um novo conhecimento. A imprensa acelera e amplifi ca de um modo impensável a co-municação intelectual, assim como as desco-bertas técnicas e a navegação.

Em 1517 acontece a mais profunda rachadura no mundo da religião: a Reforma Protestante. Este fato mudou completamente a face da Europa e foi motivo de guerras que mergulharam o velho continente na sua “noite negra”.

Há muito tempo existia na Igreja Católica um forte impulso em direção a uma reforma espiritual. Muitos almejavam um retorno à “pureza evangélica” e à releitura dos textos sa-grados. Já no século XIV, em Flandres, havia nascido um movimento chamado “Devotio Moderna”, que encontra difusão graças a um livro entitulado “De Imitatione Christi” (A Imitação de Cristo) de Th omas de Kempis. Este texto infl uenciou um outro grande uto-pista da nossa história: Erasmo de Roterdam.Erasmo tinha um espírito conciliador. Ele muda completamente o signifi cado comum da noção de heresia. Diz Erasmo: “a he-resia doutrinal, a menos que não esteja em contradição completa e em modo fl agrante com as Sagra-das Escrituras, pode ser con-siderada uma opinião discu-tível; aliás, a Paracelso Erasmo de Roterdam

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discussão é auspiciosa na busca da verdade.” Lembrem-se que estamos em 1500!

Em busca deste Cristianismo original, parte para Roma um monge dominicano de nome Martinho Lutero. A sua intenção é clara: levar à consideração do Papa a sua iniciativa de reforma para que possa ser adotada pela Igreja. Na mente de Lutero não existe a ideia de dividir a Igreja, mas somen-te de reformá-la.

Lutero fica irremediavelmente chocado com a cidade que encontra. Roma, na sua mente, devia ser a cidade da máxima espiritu-alidade cristã, mas aquilo que ele vê muito lhe recorda a presença dos mercadores no Templo.

Encontra uma cidade corrupta e em-pobrecida. Vê uma enorme igreja sendo construída com os fundos provindos da venda de indulgências. Como sabemos, as indulgências são, segundo a visão católica, formas de perdão especial pelos pecados, distribuídas em função de quanto a pessoa estava disposta a doar para poder ir para o paraíso ou para reduzir ao mínimo a per-manência no purgatório.

Lutero vê um clero corrupto e não en-contra o Cristianismo que tinha em mente. Quando volta para a Alemanha, publica as suas 95 teses com as quais contesta a vali-dade da enésima indulgência proposta pelo bispo de sua cidade para arrecadar fundos para a compra de uma nova propriedade.

O Papa tenta impedir que Lutero divulgue as teses, mas ele se recusa a obedecer. Tenta explicar que a reforma não é uma tentativa de dividir a Igreja, mas sim, como diz o nome, dar-lhe a forma que possuía no tempo dos Apóstolos. A excomunhão é a única solução encontrada pela Igreja para frear este “revolu-cionário”. E o que faz Lutero? Queima o do-cumento de excomunhão publicamente!

Quais são as ideias de Lutero? Vejamos as principais:

1. A reforma abre novas vias para o resgate do homem, satisfazendo as exigências de uma fé elementar e acessível a todos.

2. Afirma a ideia de que a salvação se obtém através da fé, graças ao sacrifício do Cristo.

3. Afirma que a verdade está nas escrituras reveladas por Deus e não na doutrina e nos dogmas elaborados pelos teólogos.

4. Reconhece como sacramentos somente aqueles introduzidos por Cristo, ou seja, o batismo e a eucaristia.

5.Contesta a missa afirmando que na euca-ristia o homem não pode transformar o vi-nho e o pão em sangue e corpo de Cristo. A eucaristia deve voltar a ser a ceia do Se-nhor ou “um rito de comunhão com Deus” - uma comunhão muito mais íntima, pois não existe o sacerdote. Lutero sustenta a ideia de que cada cristão é um sacerdote que pode se comunicar diretamente com Deus. Desta forma, a igreja de Roma via minada a teocracia eclesiástica.

6. Exclui os santos e Maria da estrutura da Igreja, a qual deve se basear somente na comunidade dos crentes.

7. Recusa o celibato eclesiástico.O luteranismo propôs a leitura e a interpre-

tação das Escrituras aos fiéis, ao passo que an-tes eram reservadas aos sacerdotes. Para isso, Lutero traduz a Bíblia para o alemão e promo-ve a sua impressão. É curioso notar que desta forma o luteranismo favorece a alfabetização e a cultura para poder melhor difundir a doutri-na cristã. Em pouco tempo o nível de alfabeti-zação dos países do norte da Europa que ade-riram às ideias de Lutero é muito maior que o nível dos países do sul da Europa, onde a Igreja de Roma mantém a sua influência.

A Reforma Protestante é o momento a partir do qual foram gerados os fatos que produziram os Manifestos Rosacruzes, pois estes são publicados no exato momento em que se tenta “recatolicizar” a Alemanha.

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Não obstante o Rosacrucianismo não te-nha um perfil religioso, no sentido comum do termo, é evidente que o ambiente protes-tante favoreceu o movimento que propunha “A Nova Reforma” e que desejava a supe-ração dos antagonismos dogmáticos entre católicos e protestantes, propondo uma “reli-gião natural e universal” purificada dos dog-mas e que tivesse como regra a tolerância e a liberdade de consciência.

Na verdade, com a “Grande Reforma Univer-sal” o movimento rosacruz desejava a superação tanto do luteranismo como do calvinismo e do catolicismo, e esta é uma constante que ligava personagens como John Dee, Giordano Bruno, Valentin Andreae, Comenius, Hartlib, Tomás de Campanella e Francis Bacon, todos com as suas cidades ideais e utópicas.

O historiador Eugênio Bonvicini afirma que, para alcançar este objetivo, “primeiro os rosacruzes imaginaram a criação das suas cidades ou ilhas utópicas, em seguida criaram a Fraternidade Rosacruz, depois as Uniões Cristãs, depois ainda as Academias e por fim a Royal Society e a moderna Maçonaria”. Nós diremos que como um potentíssimo instrumento da Tradição, o Rosacrucianismo influenciou e se encontra na origem de todas estas sociedades e ordens místico-esotéricas, as quais tiveram e têm ainda hoje o mesmo objetivo promulgado pelos Manifestos Rosacruzes: promover a busca do conhecimento para o benefício de toda a humanidade.

Século XVIIO ano 1600 inicia de modo dramático com a tortura e a morte de Giordano Bruno na foguei-ra. A dimensão do pensamento deste grande filósofo é muito grande para ser tratada aqui.

De qualquer forma, Giordano Bruno estava em contato com todos os sábios e filósofos do movimento rosacruz, contato

facilitado pela língua em comum, o latim, e pelo recíproco conhecimento das línguas italiana, alemã, francesa, inglesa e espanho-la. É impressionante verificar a intensidade dos intercâmbios culturais e místicos, além das publicações, que ocorrem entre todos estes personagens cultos da época.

Mas não podia deixar de ser assim: de fato, as ideias fundamentais da “união dos doutos”, do “peregrinar em todos os lugares”, com a finalidade de “conhecer”, para um verdadeiro “comércio das ideias”, da “busca da universa-lidade” e o constante chamado em direção à ciência e à cultura, vistas como um meio de progresso e de realização do Homem, sempre foram uma constante no pensamento rosa-cruz e as utopias assim o revelam.

Chegamos agora no período da publica-ção dos manifestos ou pouco antes. Encon-tramo-nos no Palatino, na Alemanha, mais precisamente na cidade de Heidelberg.

O príncipe Frederico V se casa com Eli-sabeth Stuart, filha do rei da Inglaterra.

É um evento de dimensão histórica: um país forte como a Inglaterra que se une através deste casamento com uma parte da Alemanha, criando assim um eixo estável, mesmo militarmente, contra as potências ausbúrgicas e católicas. Frederico e Elisabeth. Dois jovens cultos que nutrem no próprio coração ideias às quais nós chamamos místicas. Um casamento que é considerado pelos principais sábios da Europa como Giordano Bruno

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uma esperança e uma ocasião únicas. As coisas parecem realmente promissoras, ainda mais pelo fato de que quando Frederico encontra Elisabeth os dois se apaixonam realmente. Nasce entre os dois um laço de amor e isto é interpretado como um bom auspício. Além disso, Elisabeth tem um irmão: Eduardo. Ele também é amante da cultura e possui uma mente aberta. Entre Frederico e Eduardo nasce logo uma forte simpatia.

Todavia, Eduardo morre alguns dias antes do casamento de maneira misteriosa; mas esta dor não impede que o casamento seja celebrado. Entre a Ingla-terra e a Alemanha vemos um enorme fluxo de filósofos e místicos. Algo de grandioso está para se realizar. Nas ce-lebrações que se seguem ao casamento, vemos a compa-nhia de teatro de Shakespeare realizar vários espetáculos em honra do príncipe e da sua jovem esposa.

Shakespeare e seu teatro são outro fato para se ter em mente, pois terão um papel muito importante na divul-gação das ideias rosacruzes.

Com este casamento é vista a possibili-dade concreta de realizar na terra a Utopia Rosacruz. No Palatino convivem místicos, cabalistas, protestantes, católicos, astrólogos, matemáticos e músicos, todos em grande harmonia e tolerância. A pesquisa é in-centivada em todos os campos do saber. O Palatino prospera também em virtude das trocas comerciais e da grande liberdade de movimento para todos.

Além disso, existe a certeza de se poder contar com a aliança com a Inglaterra em vista de uma possível reação do mundo ca-tólico. Reação que não tardou a chegar. Com a morte do alquimista e filósofo Rodolfo II

de Praga (católico do qual o rosacruz Mi-chael Mayer era o médico), os súditos da Boêmia decidiram oferecer o trono a Frede-rico, considerando-o um ótimo sucessor. E Frederico aceita a proposta.

Existem vários estudos hoje em dia que visam explicar o porquê de Frederico ter aceitado a oferta, sabendo que isto seria vis-to como um reforço do mundo protestante e, portanto, uma ameaça ao mundo católico.

A reação foi fatal para a Utopia Rosa-cruz. Com a batalha chamada “da Monta-nha Branca” e sem receber o apoio espera-

do da Inglaterra, Frederico é obrigado a abandonar o Palatino e refugiar-se na Ho-landa. Heidelberg, com toda a sua riqueza cultural e eso-térica, foi totalmente destruí-da. Iniciou assim, em 1618, a Guerra dos Trinta Anos, que reduziu a população europeia a um terço e, como um Cava-leiro do Apocalipse, destruiu todos os sonhos de tolerância e felicidade.

O movimento rosacruz retomou vigor vários anos depois na Holanda e na Inglaterra, sempre sob o impulso do Imperator Francis Bacon, mesmo este não estando mais presente.

Christian Rosenkreutz e a sua tumba foram encontrados outras vezes afirmando assim que o caminho do ser humano conduzirá sempre em direção a estes ideais.

Em 1692 partem para a América os primeiros rosacruzes que fundariam mais tarde a comunidade de Efrata e a cidade de Filadélfia.

Alimentemos nós também a nossa uto-pia, o nosso ideal rosacruz de tolerância, co-nhecimento e felicidade, pois esta é a nossa herança. Uma utopia? Talvez, mas para nós a única meta e esperança.

Shakespeare

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Historicamente, as contribuições culturais e intelectuais do século XVIII na Inglaterra, na França, na Alemanha e nos Estados Unidos foram conhecidas como Iluminismo. Cha-

mado por alguns de “século das luzes”, esse período é caracterizado pela libertação das con-cepções medievais predominantes nas práticas religiosas. Nos séculos que se seguiram, uma vez mais os registros históricos comprovam a expressiva contribuição de nossa Ordem para a elevação do nível de consciência da humanidade. Significa, também, o advento da ciência que, tendo obtido êxito nas suas explicações sobre os fenômenos da natureza, contribui para a difu-são de uma consciência crítica, liberta de preconceitos, convenções e, sobretudo, das supersti-ções que sempre combatemos. A nova ciência experimental foi inaugurada por Francis Bacon, por Galileu Galilei e pelas descobertas de Nicolau Copérnico, Johannes Kepler e lsaac Newton.

Observem que o cerne do pensamento iluminista é fundamental para o ponto que che-gamos hoje, ou seja, manifesta sua crença no progresso posteriormente chamado de posi-tivismo, e afirma que o ser humano pode aumentar seu conhecimento e melhorar sua vida dominando a natureza e modificando a sociedade.

A seguinte máxima kantiana, embora cunhada tempos mais tarde, pode ser usada como referência, pois ilustra um dos pilares do movimento:

“Homem, tem a coragem de servir-te de tua própria inteligência!”.A saída era o conhecimento, o uso da inteligência, da mente e, sobretudo, da pro-

posta que apresentamos nos Manifestos, citados por alguns historiadores como “ver-dadeiras tábuas para náufragos”.

Quem? Que sociedade secreta divulgou em Paris o Manifesto que sabemos tratar-se do “Fama Fraternitatis”, o qual especialmente influenciou toda a Europa da época?

Este Manifesto aparece no início do século XVII, mais exatamente em 1614. Era um tempo em que a Europa experimentava uma crise humana existencial, estava politicamente dividida e aviltada por interesses econômicos conflitantes. Guerras religiosas originaram desespero e infelicidade, mes-mo dentro das famílias. A ciência se desenvolvia rapidamente e se inclinava para o materialismo. As condições de vida eram miseráveis para a maioria e apenas a elite podia ler e escrever. Então, os rosacruzes quebraram seu silêncio a fim de exigir mais humanismo e espiritualidade.

Então, a Europa foi despertada por uma Voz.A Voz veio precisamente nestes momentos dramáticos para a Europa, mas também para

o mundo.Os Irmãos da Rosa+Cruz resolveram falar e o fizeram por meio de um Manifesto que en-

trou para a história profana e esotérica e cujo título era: “Reforma Universal e geral do mundo inteiro; com as notícias da Louvável Fraternidade da Rosa-Cruz, escrita a todos os eruditos e soberanos da Europa. (...) Hoje publicada e comunicada a todos os corações sinceros.” O texto central deste documento foi chamado de Fama Fraternitatis Rosae Crucis (Descoberta da Fraternidade dos Rosacruzes).

Representantes da seção ocidental da mística Fraternidade, aqueles Irmãos estavam ligados ao “Círculo de Tübingen”, um grupo de profundos místicos integrantes da Universidade de Tübingen, na Alemanha. Eles formavam uma Domus Sancti Spiritus (Casa do Espírito Santo), donde elaboraram e emitiram o Fama em 1614, através da gráfica de Cassel, também na Alemanha. Este manifesto foi dirigido aos governantes, religiosos e cientistas europeus.

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Contrapondo-se ao paradigma então reinante, os rosacruzes invocaram uma reforma universal que possibilitasse ao homem uma vida mais plena, liberto dos dogmas religiosos e científicos já aludidos. Acusavam aqueles cuja missão era a de guiar os homens (os cientistas e religiosos) de cegá-los através de postulados não condizentes com a Verdade. Os rosacru-zes, por outro lado, dispunham dos meios para se acessar esta Verdade através de um conhe-cimento regenerador e convidavam todos os homens de boa vontade a se unirem a eles. Por isso apresentavam-se, a si e à sua Fraternidade, através da história simbólica de Christian Rosenkreutz, desde o périplo que o levara pelo mundo inteiro antes de dar vida à Ordem Rosacruz, até a descoberta do seu “túmulo”.

Graças à imprensa, fortalecida pela máquina de tipos móveis de Gutenberg, o Fama circulou por toda a Europa e gerou reação imediata no continente. Centenas de panfletos, manuscritos e livros foram publicados, alguns para elogiá-lo, outros para criticá-lo. Como sublinharam historiadores, pensadores e filósofos contemporâneos, a publicação deste ma-nifesto e de seus dois sucessores - Confessio Fraternitatis (1615) e Núpcias Alquímicas de Christian Rosenkreutz (1616) - foi significante e oportuna. As reflexões do Fama propiciaram e incentivaram os leitores a superar o paradigma dominante.

Fama Fraternitatis, 1614

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Em 1623, em um novo fôlego os rosacruzes se anunciam para a Reforma que se fa-zia necessária.

Cartaz afixado nas ruas de Paris em 1623

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Ora, esse panorama parece se reproduzir nos dias de hoje, quando já avançamos mais de uma década século XXI adentro: a crise humana existencial se reproduz pelo questionamento e pela negação de valores que eram aparentemente incontestes e perenes. Os interesses políti-cos saqueiam e aviltam populações inteiras em muitos países, privando-as inclusive de seus di-reitos mais fundamentais. A intolerância religiosa aumenta e dá margem a excessos e ao terror imposto pelo fundamentalismo. A ciência nunca esteve tão avançada e, não obstante, ainda é incapaz de dar ao homem as respostas aos seus questionamentos existenciais mais profundos.

Ao que nos parece, o desenvolvimento tecnológico não está sendo acompanhado pelo nível de consciência ética que daria condição de uso da ciência com consciência.

Nessa linha de pensamento, o fato de rememorarmos o 400° aniversário da publicação do Fama Fraternitatis não é algo meramente alegórico ou unicamente simbólico e não deve ser tampouco tomado simplesmente como um balizador dos 400 anos de “vida pública” da Ordem Rosacruz. É necessário que os ideais clamados por esse Manifesto e ecoado no ano seguinte pelo Confessio Fraternitatis – documento dirigido a todos aqueles sequiosos de se devotar à felicidade da humanidade – ganhem vida a cada dia.

Nesse particular, o fato de sermos rosacruzes, e portanto continuadores da Tradição, nos lega não apenas o privilégio como também a responsabilidade de mantermos viva a chama desses ideais. É pelas mãos de cada frater e de cada soror que os clamores para mais espiritua-lidade e humanismo, renovados pelo Positio Fraternitatis na aurora de nosso século, ganharão corpo tangível e expressão viva. É pela conduta e pelo exemplo de cada rosacruz que a voz e os ideais de nossos Irmãos e Irmãs do passado não perecerão num momento tão crucial em que o misticismo rosacruz é tão necessário a uma humanidade carente de orientação e espiritualidade.

Mas os tempos são outros, embora em muitos aspectos a sociedade contemporânea se asse-melhe muito àquela de outrora com relação à falta de espiritualidade, às noções erradas sobre a natureza e à relação do homem com Deus. O momento é de convivência pacífica e respeito com as religiões, a despeito das dificuldades para se cumprir a Missão de levar a cabo a Grande Obra.

No dia epifânico de 06 de Janeiro de 2014, a AMORC, no mundo todo, celebra os quatro séculos do lançamento do Fama Fraternitatis.

Espiritualidade, Humanismo e Ecologia são valores urgentes que ainda precisam florescer nos corações.

O movimento pela Ecologia Espiritual posto em marcha por nosso Imperator, o Frater Christian Bernard, durante a Convenção Mundial de 2011 e reforçado em rede nacional no Senado Federal contempla, pela sua amplitude, um convite a uma tomada de consciência quanto a estes aspectos, ou seja, a Espiritualidade, o Humanismo e, é claro, a Ecologia.

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Por tudo isso, a Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis, outrora conhecida como “Os Irmãos da Cruz Rosada”, conclama os amados Fratres e Sorores da Jurisdição de Língua Portuguesa a reviverem em cada um, com toda a força, o espírito do Fama Fra-ternitatis - o seu conselho, a sua instrução, o seu alerta e principalmente o seu apelo.

Proponho que se recolham em seus Sanctuns privados e se harmonizem por alguns minutos com os nossos Mestres do Passado - aqueles que emitiram e inspiraram o Fama Fraternitatis - na intenção de um mundo melhor. Coloquem-se em comunhão com a Domus Sancti Spiritus do século XVII, donde fluiu a mensagem do Fama, e peçam aos Mestres que os inspirem, a vocês, sucessores dos rosacruzes de outrora, na continuidade do cumprimento da Missão de nossa Ordem: iluminar as mentes e, por consequência, o planeta, em espírito de liberdade.

Em conclusão, reproduzimos as palavras de Jan Amos Comenius, que é conside-rado hoje o pai espiritual da UNESCO e cujos ideais contribuíram para nortear os rosacruzes do século XVII. Essa humanidade visualizava algo utópico, é verdade, mas que com certeza é um sonho acalentado no coração de todo humanista, seu gérmen se encontrando nas potencialidades latentes que todos carregamos em nós enquanto centelhas da Unidade Divina:

“Queremos que todos os seres humanos, juntos ou separados, jovens ou velhos, ricos ou pobres, nobres ou plebeus, homens ou mulheres, possam receber uma edu-cação completa e se tornem pessoas bem sucedidas. Queremos que recebam ensina-mentos perfeitos e que sejam treinados não apenas em um ou outro assunto, mas também em todas as leis que lhe permitem compreender sua essência, para apren-der a verdade, para não serem enganados por pretensões, para amarem o bem, não serem tentados pelo mal, fazerem o que têm de fazer e distingui-los do que devem evitar, para falar com propriedade de causa sobre tudo com qualquer pessoa e finalmente a sempre tratar todas as coisas, humanos e Deus, com cuidado e não precipitadamente e para nunca se desviarem de sua meta de felicidade.”

Pelos rosacruzes de ontem e de hoje, sob a luz benfazeja de nossa Egrégora e na im-portância do Fama Fraternitatis, nós dizemos:

Assim Seja!

Sincera e fraternalmente, AMORC/GLP

Hélio de Moraes e Marques GRANDE MESTRE