empresários convertem negócios em franquias

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Franquia & Negócios | ABF FEV/MAR 2013 | www.franquiaenegocios.com.br 44 POR CAMILA MENDONÇA Desde 1994, quando iniciou as atividades, a Farmais, fran- quia de farmácias, adotou um modelo de expansão até então pouco usual: mapeava negócios do mesmo ramo e convencia os donos a adotar a mesma marca, layout e estratégia da rede. Assim, a conversão de bandeiras tornou-se a base do crescimen- to da marca, hoje uma das maiores do País, com 402 unidades, sendo 360 advindas de conversão. Como estratégia de expansão, franquias montam equipes e reforçam projetos de conversão de bandeira. Unidades convertidas chegam a representar 90% das redes Converter para CRESCER GESTÃO franqabf#47_MONTAGEM.indd 44 04/02/2013 19:22:00

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Revista Franquia & Negócios

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Page 1: Empresários convertem negócios em franquias

Franquia & Negócios | AbF FEV/MAR 2013 | www.franquiaenegocios.com.br44

Por caMila MENDoNça

Desde 1994, quando iniciou as atividades, a Farmais, fran-quia de farmácias, adotou um modelo de expansão até então pouco usual: mapeava negócios do mesmo ramo e convencia os donos a adotar a mesma marca, layout e estratégia da rede. Assim, a conversão de bandeiras tornou-se a base do crescimen-to da marca, hoje uma das maiores do País, com 402 unidades, sendo 360 advindas de conversão.

como estratégia de expansão, franquias montam equipes e reforçam projetos de conversão de bandeira. unidades convertidas chegam a representar 90% das redes

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“Esse segmento de varejo far-macêutico sempre foi fechado para investidores sem know how e a conversão faz parte da natu-reza do negócio”, explica o co-ordenador de expansão da rede, Maycon Santos.

Para a Farmais, a estratégia nasceu com a marca. Nos últimos anos, contudo, franquias de di-versos segmentos vêm investin-do em conversão de pequenos negócios para driblar o aumento cada vez maior dos custos de lo-cação e a dificuldade de encon-trar pontos comerciais favoráveis.

“A conversão é um novo motor de crescimento”, avalia o presi-dente da consultoria NetplaN, Daniel Bernard. Ele explica que os retornos são mais efetivos em uma unidade convertida, uma vez que o ponto já está testado e a clientela acostumada com os produtos oferecidos.

A estratégia de converter a bandeira já está tão dissemina-da no mercado de franquias que hoje chega a representar 90% do total das unidades de uma marca. É o caso da Óticas Carol. A cada dez unidades da rede, nove são de conversão, segundo o diretor de expansão da rede, Saulo Cha-ves: “esse movimento partiu da necessidade de crescimento da rede de crescer”, afirma.

A companhia utiliza a estratégia para firmar o negócio em regiões específicas, convertendo líderes regionais. No Sul, a empresa con-verteu recentemente a rede Ajax. A mesma investida se repetiu na Bahia, onde a rede Impacto ade-riu à bandeira da Óticas Carol.

“Esse movimento de trazer os líderes regionais serve de lastro para que outros se juntem à rede”, ressalta Chaves, enfatizando que a marca recebe em média quatro solicitações diárias de migração.

O interesse dos donos de negó-cios independentes em redes con-

solidadas tem explicação, afirma o diretor da divisão de Consultoria e Expansão da consultoria Global Franchise, Wagner Almeida.

“A razão é simples. Quando coloco uma marca de prestígio no meu negócio, cresce o faturamen-to, porque a procura aumenta”, explica.

Com a franquia, o operador ga-nha projeção e consegue elevar a qualidade dos produtos e da ges-tão do negócio. No fim das con-tas, a conversão torna-se não ape-nas estratégia para o crescimento das marcas, mas dos operadores. Eles escolhem redes fortes para ficarem mais competitivos. É um caminho para sobreviver em cer-tos mercados, como o imobiliário. Empresas familiares, com limita-ção de atuação, são os focos da estratégia de conversão da RE/MAx. A marca tem 150 unidades, das quais metade advém de mi-gração, segundo o diretor-execu-tivo da rede, Peixoto Accyoli.

Ele conta que a empresa tem uma equipe de aproximada-mente 50 pessoas para fazer o mapeamento que permite iden-tificar negócios potenciais. A ideia é que a marca chegue ao final deste ano com 280 fran-quias, das quais pelo menos 160 unidades sejam de conversão. No caso do ramo da RE/MAx ter empresários experientes é fundamental para o sucesso do negócio, avalia Accyoli.

“Nosso setor, como qualquer outro serviço, é muito intangível. E se o corretor não atender bem, ele perde o negócio”, enfatiza.

Assim como a imobiliária, a Ortodontic Center também mon-tou estrutura para encontrar bons negócios, principalmente em ci-dades com até 90 mil habitantes. Do “Projeto Presence”, de pros-pecção ativa, fazem parte 15 pro-fissionais que visitam os locais, apresentam os benefícios da rede e conseguem converter cerca

Loja convertida em Porto Alegre. Antes, espaço abrigava a Joalherias Ajax

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“Quando coloco uma marca de prestígio no meu negócio, aumento o faturamento, porque a procura aumenta”

Wagner Almeida, diretor da divisão de Consultoria e Expansão da consultoria global Franchise

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de 90% de todas as visitas que fazem. Em quatro meses de pro-jeto, a marca passou de 38 unida-des convertidas para 65, de um total de 100 que a empresa tem hoje no Brasil. Mas o projeto é mais ambicioso.

“Dentro de 60 meses queremos converter 500 unidades. O projeto até agora foi um teste e vamos re-plicar”, afirma o sócio fundador da Ortodontic, Fernando Massi.

De acordo com ele, o alto ín-dice de conversão esperado pela marca deve-se ao baixo investi-mento. Enquanto que para iniciar uma clínica do zero, o franqueado tem de dispor de R$ 400 mil a R$ 500 mil, o investidor que já tem a estrutura consegue entrar para a rede com um valor de, em média, R$ 30 mil, segundo Massi. Na RE/MAx e Farmais os valores iniciais chegam a ser 70% mais em conta para o franqueado de conversão.

Quando se trata de grandes es-truturas em mercados específicos, converter acaba sendo um cami-nho mais seguro para expandir. Para Altino Cristofoletti Júnior, sócio da Casa do Construtor, fran-quia de aluguel de equipamentos, a estratégia vem facilitando a en-trada da marca em cidades com até 80 mil habitantes.

“Refizemos todo nosso estu-do de expansão e definimos que faríamos conversão em cidades menores, porque o mercado de locação ainda é muito incipiente e não dá para abrir unidade em cidades onde há concorrentes. A solução é converter”, afirma.

Das 150 unidades que a rede tem no País, apenas oito são de conversão e outras dez devem in-tegrar a rede nos próximos três meses, mas a ideia é que esse nú-mero aumente ainda mais.

“Para 2013, nosso plano de ação é de que 50% das unidades prospectadas sejam consequência

de conversão”, diz o executivo. Para alcançar esses resultados, a empresa está reforçando a equi-pe de captação de franqueados. A perspectiva da Casa é de abrir mil lojas até 2020, das quais 400 devem ser de conversão.

Outra marca que aposta for-temente no modelo de troca de bandeira é a rede Dia, maior ca-deia de supermercados do mundo com operação de franquias. Neste caso, o formato de conversão per-mite aos pequenos comerciantes maior poder de concorrência, ao eliminar do varejista a necessida-de de negociar com os fornecedo-res a compra de grandes volumes por menores preços.

Conversão internaA Easycomp Plus, rede de cur-

sos profissionalizantes, passa por uma fase de transição. No sistema de franquias desde 2011, a marca iniciou a conversão dos cursos que utilizam o material e a me-todologia da rede, disponíveis há 20 anos.

“Criamos um projeto para os licenciados para que eles entrem com franquia, oferecendo um diferencial para padronização e personalização”, afirma Jaques Grinberg Costa, diretor da rede. “A ideia é deixá-los conscientes de que na franquia há regras e padronização, diferente do licen-ciamento”, conta.

Hoje, a marca tem 938 licencia-dos. O primeiro passo foi levantar quem desse universo tem perfil para ser franqueado. “Vale a pena investir porque a pessoa já tem a unidade, conhece o segmento e a metodologia e o investimento cai 80%”, afirma o executivo. Quem é licenciado não é obrigado a comprar a franquia, mas a marca não faz mais licenciamento. Para este ano, a ideia é converter 100

empresários. A rede também tem projeto de conversão de cursos de bandeira branca – aqueles que são independentes.

“Fizemos uma seleção e temos um cadastro grande desse tipo de escola”, conta Grinberg.

Bônus e ônus“Com conversão, o franquea-

dor acelera a expansão e projeta marca, produto e conceito onde já existem operadores experientes. O problema é que muitos têm seus vícios”, afirma Almeida, da Glo-bal Franchise. Embora as redes de franquias estejam colhendo bons resultados em seus projetos de conversão, a estratégia, como qualquer outra, tem seu ônus. E lidar com empresários apegados ao negócio é um deles.

Segundo Daniel Bernard, é fácil entender os motivos de certas difi-culdades de se adaptar. Na maio-ria dos casos, os negócios visados pelas franquias são familiares e passaram por gerações. Na hora de abrir mão do nome do negó-cio e aceitar um trabalho em rede, tudo fica mais complicado.

“O medo maior dessas pessoas é a interferência, o uso da mar-

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Fernando Massi, sócio fundador da Ortodontic

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ca. Ele tem de confiar na rede”, afirma Bernard. Outros entraves no processo são a resistência a softwares de gestão e a padroni-zações de layout.

“Você lidará com questões de ordens emocionais na maioria dos casos”, avalia Almeida.

Para Santos, da Farmais, esses problemas são uma realidade. Uma das soluções encontradas pela rede para lidar com algumas resistências é colocar um prazo para a execução da conversão.

“Para os que convertem, te-mos um ciclo médio de execu-ção do processo de cerca de 90 a 100 dias”, afirma. Na RE/MAx, a maior dificuldade é fazer o fran-queado entender que ele não tem de se preocupar em vender, mas em recrutar bons corretores. Na Óticas Carol, a preocupação é mostrar que o empresário não está fechando as portas, mas sim sendo parceiro de uma rede forte.

“Por mais pesquisa e estrutura que você tenha, sempre existe um risco de prospectar investidores que não tenham os mesmos valo-res que a empresa”, afirma Cristo-foletti, da Casa do Construtor.

Superando esses desafios, as vantagens são muitas.

“Além da economia finan-ceira, a maior vantagem para o franqueado é o trabalho de su-porte de gestão que ele terá. Não é que ele seja um gestor ruim. É que ele está sozinho e isolado”, ressalta Bernard. Como são expe-rientes no ramo em que atuam e possuem pontos já maduros, os franqueados de conversão apro-veitam melhor o treinamento da franqueadora. Além disso, eles conseguem melhores condições com fornecedores.

Com custos operacionais me-nores, a consequência é um retor-no mais rápido, se comparado ao franqueado que começou do zero.

“O aumento nas vendas é de 20% a 30% antes do fim do pri-meiro ano”, afirma Santos, da Farmais. Na RE/MAx, o fatura-mento de quem migrou dobra no primeiro ano, segundo Accyoli. A Casa do Construtor calcula que após a conversão o faturamento das locadoras triplicam.

Mesmo direcionando esforços para conquistar negócios já con-solidados, as marcas não desviam da captação de novos investido-res. A Farmais, que sempre teve foco em conversão, iniciou proje-to de atração cuja meta é abrir de 20 a 25 lojas por mês.

“A demanda de conversão a gente já lida com maestria. Essa nova fase é a busca de empresá-rios que não têm experiência no ramo”, afirma Santos. Neste ano, a marca quer abrir 192 lojas. Até janeiro de 2015, devem ser mil unidades abertas. Neste ano, a Óticas Carol, que hoje tem 500 unidades, também quer reforçar a busca por novos franqueados.

Daniel Bernard, presidente da consultoria netplan

“A maior vantagem para o franqueado é o trabalho de suporte de gestão que ele terá. Não é que ele seja um gestor ruim. É que ele está sozinho e isolado”

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As redes Paulo Roberto Leardi, Bagaggio e Triângulo Moda são de segmentos distin-tos, mas em comum dividem a opção de entrar no sistema de franquias, mesmo tendo dé-cadas de experiência em seus respectivos ramos. Franquear a marca tornou-se estratégia comum entre empresas que querem crescer. Com o de-sempenho do segmento cada vez mais consolidado e acima de dois dígitos nos últimos anos, cresce também a pro-cura de empresas experientes pelo sistema. A Leardi, do setor imobiliário, tem 94 anos de mer-cado, mas começou a atuar com franquia em 2012.

“O modelo de franquias era a melhor forma de expandir, por-que é a mais utilizada. Grandes imobiliárias se expandem por meio do sistema”, afirma o dire-tor de relações institucionais da rede, Germano Leardi Neto. A entrada não foi de um dia para o outro. A empresa estudou e fez

Marcas consolidadas apostam nas franquias

as adaptações necessários por 12 anos antes de iniciar o fran-queamento. A marca tem quatro unidades próprias e uma fila de 30 candidatos que esperam a análise da empresa.

Mesmo iniciante no sistema, a Leardi já tem projeto de conver-são. “Fizemos um mapeamen-to de todas as imobiliárias da grande São Paulo e vamos apli-car o plano de conversão ainda neste ano. A ideia é que 50% das unidades sejam consequência dessa conversão”, diz. A empre-sa espera abrir 18 unidades até agosto.

A Bagaggio, de malas, bolsas e acessórios, está há dois anos no mercado de franquias, mas conta com experiência de qua-se 70 anos no varejo. “A grande vantagem de estar no mercado há muitos anos é ter estrutu-ra e conhecimento prévio o que permite focar nas necessidades mais críticas de cada franque-ado”, afirma o diretor comercial da marca, Bruno Correa.

Para entrar no sistema, foram necessárias adaptações que, se-gundo ele, conferiram maior qualidade aos produtos e aten-dimento da empresa. “Entre as principais mudanças também estão a atualização dos softwa-res de controle e a moderniza-ção de toda logística”, afirma. Hoje com 40 unidades, a rede tem expectativa de abrir ao me-nos 60 neste ano.

Com quase 30 anos de mer-cado, a Triângulo Moda, de ves-tuário, entrou no franchising em 2012. De acordo com o diretor superintendente da rede, Mau-rício Santos, foram necessários dois anos de planejamento.

“Estudei o modelo, conversei com muita gente de mercado e comecei o planejamento. Por meio de franquias conseguimos uma expansão mais rápida”, diz.

Com 15 lojas próprias, a rede tem hoje três unidades, com previsão de abrir mais 12 neste ano. Em 2014, a ideia é alcançar 50 pontos.

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GESTÃO

unidade Leardi em São Paulo Loja da Bagaggio em Caxias do Sul

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