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8 Economia O SESIMBRENSE | 1 DE DEZEMBRO DE 2016 DELTRAIN Empresa de produção de comboios turísticos na vanguarda do setor A Deltrain, empresa de produção de comboios turísticos, foi fundada em 4 de julho de 1997 por Humberto Delgado, um visionário que trouxe até à localidade da Maçã um conceito, até então conhecido por poucos. Em 2009, durante o período da crise, a empresa passa para as mãos do seu filho Humberto Lopes, que pegou no legado do pai, melhorou o produto e tornou a empresa numa referência do setor. Engenheiro mecânico de formação, Humberto Lopes assegura que a sua vocação e modo como encara as questões ambientais, foi preponderante na sua tomada de posição, quando decidiu as- sumir o cargo. Hoje a Deltrain conta com mais de cem unidades vendidas e as encomendas não param de chegar. Conheça os pormenores do sucesso desta empresa, pelas palavras do seu atual gestor, que assume que muito do que a empresa consegue se deve essencialmente à dedicação dos atuais 15 membros da sua equipa. Jovita Lopes Como surgiu a Deltrain? A ideia surgiu pela mão do meu pai que viu estes com- boios a circular em França e, inicialmente os importava para exploração em Portugal. Quando a empresa que forne- cia os comboios fechou, dada a nossa experiência no ramo o meu pai decidiu fundar a Deltrain para fabricar os com- boios turísticos. Porquê na Maçã? Porque somos daqui. Literalmente a Deltrain é no quintal da casa do meu pai. Podemos dizer que estamos aqui porque estamos perto do sítio onde vivemos. Na altura era o terreno que tínhamos, tentámos mudar para outro lugar, mas a câmara não nos autorizou a montagem da fá- brica nesse novo local. Es- tamos ainda no processo de legalização do espaço actual o qual agradecemos o incentivo por parte da câmara municipal de Sesimbra. Estas instalações começaram por algo muito pequeno, com uma oficina de carros e, mais tarde, transfor- mou-se numa fábrica de com- boios. As instalações foram crescendo conforme o cresci- mento da empresa, a empresa continua a crescer mas as ins- talações estão no limite. E se o negócio se expandir? Cada vez fabricamos mais, é verdade. O mercado conti- nua a consumir o mesmo volu- me de comboios turísticos de outros anos, mas nós aumen- tamos a nossa quota de mer- cado. Existem perspectivas de crescimento muito promisso- ras fora da Europa, posso dizer que neste momento estamos a penetrar em mercados como os Emirados Árabes Unidos. Se continuarmos a crescer a este ritmo teremos forçosa- mente de mudar de instalações e nessa altura falaremos com a câmara, porque aqui já não conseguimos aumentar muito mais a nossa capacidade pro- dutiva. Estamos no nosso li- mite de produção, 10 unidades dos vários modelos. O nosso tempo de produção situa-se entre dois e três meses. Para o fabrico do Comboio Elétri- co este tempo médio aumenta para cerca de quatro ou cinco meses, portanto durante o tem- po da produção os comboios ocupam espaço. É de salientar que somos uma empresa que sofre de grande sazonalidade o que congestiona ainda mais as linhas de produção. De que forma é gerida a única fábrica de comboios turísticos, em Portugal? O nosso mercado é sazonal a produção concentra-se nos meses de setembro a abril. No pico da produção é comum fa- zer-se horas extraordinárias e contratar pessoal a título tem- porário. No resto do ano esta- mos a fazer inovação, desen- volvimento e manutenção dos comboios dos clientes e dos nossos comboios para aluguer. Como é que caracteriza o mercado? É um nicho muito específi- co, muito pequeno e familiar em que toda a gente se co- nhece, clientes e fabricantes. Sabemos que cada vez que enviamos uma proposta esta- mos a concorrer com Alemães e Italianos. Existem outros fa- bricantes, mas a qualidade não se equipara. Como mercado familiar o nosso marketing as- senta na nossa reputação e no “passa palavra”. Que rescaldo faz dos pri- meiros 10 anos da empresa? Desde a data da fundação da empresa em 1997 até 2009 a empresa foi gerida pelo meu pai, hoje o meu pai é o Presi- dente da Deltrain sem funções executivas, mas a quem recor- ro para as grandes tomadas de decisão. Assumi a Deltrain em 2009, altura em que se deu a crise, até aqui tínhamos mar- cado presença em Portugal, Espanha e Inglaterra. A partir daqui, começamos a querer explorar o mercado francês que representa hoje 50% da nossa exploração. Hoje em dia já temos comboios na Dinamarca, Suécia, Estados Unidos da América, Guatema- la, Vietname, Malásia, Japão, temos comboios por todo o lado. A nossa reta tem sido sem- pre ascendente desde 1997, no entanto houve um declínio muito grande em 2009, dada a crise externa mas também, de- vido a factores internos.

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8 EconomiaO SESIMBRENSE | 1 DE DEZEMBRO DE 2016

DELTRAINEmpresa de produção de comboios turísticos na vanguarda do setor

A Deltrain, empresa de produção de comboios turísticos, foi fundada em 4 de julho de 1997 por Humberto Delgado, um visionário que trouxe até à localidade da Maçã um conceito, até então conhecido por poucos.

Em 2009, durante o período da crise, a empresa passa para as mãos do seu filho Humberto Lopes, que pegou no legado do pai, melhorou o produto e tornou a empresa numa referência do setor. Engenheiro mecânico de formação, Humberto Lopes assegura que a sua vocação e modo como encara as questões ambientais, foi preponderante na sua tomada de posição, quando decidiu as-sumir o cargo.

Hoje a Deltrain conta com mais de cem unidades vendidas e as encomendas não param de chegar. Conheça os pormenores do sucesso desta empresa, pelas palavras do seu atual gestor, que assume que muito do que a empresa consegue se deve essencialmente à dedicação dos atuais 15 membros da sua equipa.

Jovita Lopes

Como surgiu a Deltrain?A ideia surgiu pela mão do

meu pai que viu estes com-boios a circular em França e, inicialmente os importava para exploração em Portugal. Quando a empresa que forne-cia os comboios fechou, dada a nossa experiência no ramo o meu pai decidiu fundar a Deltrain para fabricar os com-boios turísticos.

Porquê na Maçã?Porque somos daqui. Literalmente a Deltrain é

no quintal da casa do meu pai. Podemos dizer que estamos aqui porque estamos perto do sítio onde vivemos. Na altura era o terreno que tínhamos, tentámos mudar para outro lugar, mas a câmara não nos autorizou a montagem da fá-brica nesse novo local. Es-tamos ainda no processo de legalização do espaço actual o

qual agradecemos o incentivo por parte da câmara municipal de Sesimbra. Estas instalações começaram por algo muito pequeno, com uma oficina de carros e, mais tarde, transfor-mou-se numa fábrica de com-boios. As instalações foram crescendo conforme o cresci-mento da empresa, a empresa continua a crescer mas as ins-talações estão no limite.

E se o negócio se expandir?Cada vez fabricamos mais,

é verdade. O mercado conti-nua a consumir o mesmo volu-me de comboios turísticos de outros anos, mas nós aumen-tamos a nossa quota de mer-cado. Existem perspectivas de crescimento muito promisso-ras fora da Europa, posso dizer que neste momento estamos a penetrar em mercados como os Emirados Árabes Unidos.

Se continuarmos a crescer a este ritmo teremos forçosa-mente de mudar de instalações e nessa altura falaremos com a câmara, porque aqui já não

conseguimos aumentar muito mais a nossa capacidade pro-dutiva. Estamos no nosso li-mite de produção, 10 unidades dos vários modelos. O nosso tempo de produção situa-se entre dois e três meses. Para o fabrico do Comboio Elétri-co este tempo médio aumenta para cerca de quatro ou cinco meses, portanto durante o tem-po da produção os comboios ocupam espaço. É de salientar que somos uma empresa que sofre de grande sazonalidade o que congestiona ainda mais as linhas de produção.

De que forma é gerida a única fábrica de comboios turísticos, em Portugal?

O nosso mercado é sazonal a produção concentra-se nos meses de setembro a abril. No pico da produção é comum fa-zer-se horas extraordinárias e contratar pessoal a título tem-porário. No resto do ano esta-mos a fazer inovação, desen-volvimento e manutenção dos comboios dos clientes e dos

nossos comboios para aluguer.

Como é que caracteriza o mercado?

É um nicho muito específi-co, muito pequeno e familiar em que toda a gente se co-nhece, clientes e fabricantes. Sabemos que cada vez que enviamos uma proposta esta-mos a concorrer com Alemães e Italianos. Existem outros fa-bricantes, mas a qualidade não se equipara. Como mercado familiar o nosso marketing as-senta na nossa reputação e no “passa palavra”.

Que rescaldo faz dos pri-meiros 10 anos da empresa?

Desde a data da fundação da empresa em 1997 até 2009 a empresa foi gerida pelo meu pai, hoje o meu pai é o Presi-

dente da Deltrain sem funções executivas, mas a quem recor-ro para as grandes tomadas de decisão. Assumi a Deltrain em 2009, altura em que se deu a crise, até aqui tínhamos mar-cado presença em Portugal, Espanha e Inglaterra. A partir daqui, começamos a querer explorar o mercado francês que representa hoje 50% da nossa exploração. Hoje em dia já temos comboios na Dinamarca, Suécia, Estados Unidos da América, Guatema-la, Vietname, Malásia, Japão, temos comboios por todo o lado.

A nossa reta tem sido sem-pre ascendente desde 1997, no entanto houve um declínio muito grande em 2009, dada a crise externa mas também, de-vido a factores internos.

9EconomiaO SESIMBRENSE | 1 DE DEZEMBRO DE 2016

Tagus & Diamond

Vision

Delga & Fresh

Eléctrico

Como é que esse período foi gerido?

Tínhamos alguns capitais e conseguimos dar a volta. Foi um momento muito difícil, que hoje em dia, com outra consci-ência, diria que naquela altura não havia volta a dar. Apesar de ter a nítida perceção de que o meu pai nunca o diria, porque é um homem de armas e avan-çaria sempre. Em 2011, quan-do já não tínhamos mais capital próprio, foi muito difícil ouvir a banca dizer que não nos po-dia apoiar. Entretanto com muita persistência começamos a ter cada vez mais vendas e superamos esse período tendo como base dois fatores essen-ciais: Inovação e versatilidade.

Faz parte da nossa empresa, esta capacidade de nos adap-tarmos aos requisitos do cliente e estar permanentemente a ino-var. Os clientes são os nossos melhores consultores, porque têm a experiência na utilização do comboio e exigem de nós uma resposta às suas necessi-dades. Esta relação que existe entre a empresa e o cliente é uma simbiose, que vamos me-lhorando à medida que vamos avançando.

Estando Sesimbra virada para o setor do turismo, não faria sentido haver no conce-lho um comboio Deltrain?

A câmara foi muito cons-ciente na sua decisão, o que pretendem é que seja outra en-tidade a explorar a concessão do comboio turístico.

Para mim Sesimbra teria toda a utilidade em ter um comboio turístico, mas tam-bém temos que ver que não é consensual.

Na minha opinião vai haver, com certeza, um comboio tu-rístico em Sesimbra, ainda não se sabe é quando!

Mas já houve, em tempos, uma tentativa de ter um comboio em Sesimbra, que não correu muito bem.

O que aconteceu foi que houve uma exigência, por parte do executivo da câmara, de que o circuito do comboio teria como objectivo transpor-tar as pessoas da vila para ao castelo. O principal cliente do comboio, na altura, utilizava o comboio para se deslocar dos hotéis para o centro da vila e voltar, para subir ao castelo e não levar ninguém, não justifi-cava o investimento. Acaba por não ser rentável para a empresa que queira ter um comboio em Sesimbra esta exigência, e aí é que está o problema, que o que a câmara exige, não é o que o empresário quer.

Mais recentemente fomos convidados para participar na elaboração de um possível cir-cuito para um comboio na vila. E até já circulou um comboio em Sesimbra e na Quinta do Conde na altura do Natal a tí-tulo experimental, organizado pelo gabinete municipal de ju-ventude.

Ainda não foi encontrada a forma ideal de fazer vonta-de à câmara e ao empresário. Quando assim for penso que aparecem logo dois ou três em-presários a concorrer porque Sesimbra é um bom negócio! Por exemplo o comboio é um meio que resolve a circulação de pessoas, de e para os par-ques de estacionamento. Tra-

zer e levar pessoas, talvez seja uma boa ideia!

Falámos há pouco na segurança, na qualidade e na inovação. São esses os vossos principais fatores de sucesso?

A segurança é um “must have”, isso não se discute. Os nossos produtos são homolo-gados (certificados) em todos os países da Europa, incluin-do França, eu digo isto porque a homologação em França é mesmo muito difícil. Se o pro-duto não é fabricado em França então, os testes são muito mais rígidos. Eles têm um regime de protecionismo muito grande.

Fabricamos todos os com-boios de acordo com as nor-mas europeias de segurança e qualidade.

Existe uma entidade – TÜV - que nos visita e que verifica que o comboio está produzido de acordo com as regras Euro-peias. É uma entidade externa que certifica que o produto está conforme.

No que respeita à inovação vamos até onde nos é possível. Recentemente inovámos com o primeiro comboio elétrico, porque defendo muito as ques-tões ambientais, talvez pelo fato de ser escuteiro desde os meus 15 anos. É dos comboios mais importantes que fizemos, passamos da versão diesel para a versão elétrica, para irmos de encontro às novas regras Euro-peias de emissões.

Defendo que o mais impor-tante é ter o melhor comboio possível mesmo que isso de-more mais tempo a ter o retor-no do investimento.

A equipa da Deltrain é o factor mais importante, sem a dedicação e empenho de todos as melhorias que temos intro-duzido no produto não existi-riam. No descritivo de funções de cada funcionário a primeira frase diz: Cumprir com os re-quisitos para a satisfação do cliente. Todos os membros da equipa sabem que não estão a trabalhar para agradar a enti-dade patronal estão a trabalhar para o cliente.

O que caracteriza o cliente “tipo” da Deltrain?

Hoje o cliente “tipo” tem mais capacidade crítica, finan-ceira e tem mais bom gosto. Já não vem à procura de pre-ço mas de qualidade. Quando vem à Deltrain já sabe o que quer. E vem recomendado.

Já não nos procura o cliente que quer negociar o preço, algo que víamos há uns anos atrás. O cliente é mais consciente e mais capaz.

Um facto que me conscien-cializou foi constatar que ac-tualmente um cliente compra Deltrain mesmo que seja mais caro que a concorrência.

O cliente confia na Deltrain quando faz o seu investimento num equipamento que ronda os 200 000,00€.

Objetivos para 2017?O meu objetivo continua a

ser o mesmo, fazer o melhor comboio possível.

Os meus objetivos não são empresariais, o que eu quero é acrescentar valor para o clien-te criando o melhor comboio possível.

Os nossos comboios são para a vida!