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X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009
X Salão de
Iniciação Científica PUCRS
EMPREGO DE ANÁLISES TOXICOLÓGICAS PARA
AVALIAR O USO DE DROGAS POR ADOLESCENTES
INFRATORES
Lidiane Arndt Pereira1,2, Clarissa Fleck1,2, Carlos Eduardo Leite2, Margareth Silva Oliveira3,
Natalia Kowalczuk.3Flávia Valladão Thiesen1,2 (orientadora)
1Faculdade de Farmácia,
2 Instituto de Toxicologia,
3 Faculdade de Psicologia, PUCRS
Introdução
Cotidianamente constata-se que o uso de drogas pode ser associado à criminalidade
infanto-juvenil, e várias são as menções efetuadas sobre este enfoque relacional de que a
droga induz jovens à delinqüência e seria, eventualmente, o agente motivador do cometimento
de atos infracionais. O uso de drogas é portanto uma realidade preocupante, visto o aumento
do consumo de drogas no Brasil em todas as classes sociais (Oliveira, 2006).
Frente ao exposto há e a necessidade de atender com maior adequação os adolescentes
usuários de drogas em conflito com a lei para que esses possam retornar ao convívio social de
maneira digna. Para tanto, o projeto “Um Programa de Atenção Especial ao Adolescente
Infrator Usuário de Drogas” foi criado em parceria com o Grupo de Pesquisa Avaliação e
Atendimento em Psicoterapia Cognitiva do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da
Faculdade de Psicologia, o Instituto de Toxicologia e a Faculdade de Farmácia da PUCRS,
além do Sistema de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. De acordo com este projeto, os
jovens infratores usuários de substâncias psicoativas serão encaminhados pelo Sistema de
Justiça para a Faculdade de Psicologia, onde receberão apoio psicológico, incentivo e suporte
para o abandono do vício. Como se trata do uso de substâncias psicoativas exames
laboratoriais são de extrema importância para a real comprovação do abandono do uso das
mesmas e, dessa forma, são úteis para incentivar a abstinência ao uso de substâncias ilícitas.
O presente projeto visa avaliar se o uso de análises toxicológicas em urina contribui
para o sucesso do tratamento para abandono do vício.
Metodologia
Para a realização das análises das substâncias psicoativas pesquisadas (maconha e
cocaína) será utilizada urina como amostra biológica devido à facilidade de coleta que é
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realizada de modo não-invasivo. A análise de urina permite um maior período de
detectabilidade do que o sangue e o custo deste procedimento é relativamente baixo.
Adicionalmente, as concentrações das drogas e seus produtos de biotransformação
(metabólitos) neste tipo de amostra são mais altas quando comparadas com outros espécimes
biológicos, e grandes volumes podem ser obtidos durante a coleta. Desse modo, pode-se fazer
uso de técnicas com menor sensibilidade para realização das análises de triagem. Além disso,
existem valores de referência (cut off) bem estabelecidos e a disponibilidade de técnicas como
os imunoensaios, que possibilitam um menor tempo de análise com grande confiabilidade dos
resultados (Yonamine, 2009).
Antes de realizarem os testes toxicológicos os procedimentos serão explicados aos
pacientes, que só poderão participar do estudo após assinar o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido. Neste estudo, como se trata de menores de idades, quem irá assinar este
documento será o responsável pelo paciente. Serão incluídos no estudo todos os pacientes
encaminhados para tratamento psicológico. Os pacientes serão submetidos às análises
toxicológicas antes do início do tratamento e ao final do mesmo.
Todas as amostras serão submetidas a testes de triagem que identificarão a presença ou
ausência de cocaína ou maconha e seus metabólitos na urina. A triagem será realizada por
imunocromatografia. Em caso de resultados positivos, a confirmação se dará por
cromatografia em camada delgada de alta eficiência. Pelo fato das substâncias analisadas
serem ilícitas não há necessidade de executar análises quantitativas.
Resultados
Até o momento foi realizado um levantamento minucioso dos dispositivos para análise
imunocromatográfica disponíveis no Brasil. Este estudo permitiu que fosse adquirido o testes
rápidos para maconha e cocaína da marca Cal-Tech Diagnostics, uma vez que apresenta o
menor custo benefício dentre os 12 sistemas disponíveis e atende as especificações de
qualidade preconizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. No entanto, ainda não
foram encaminhados pacientes para tratamento pelo sistema de justiça e por isso os testes não
foram aplicados. Como os resultados dos testes realizados em urina podem ser expressos
apenas como positivos ou negativos, o resultado dos testes permitirá afirmar se o indivíduo
consumiu a substância em questão (maconha e/ou cocaína) pelo menos uma vez, pois os
metabólitos de maconha e cocaína são detectáveis na urina mesmo após os sinais clínicos da
intoxicação haverem desaparecido. No caso da maconha, pode–se detectar seus metabólitos
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urinários (sendo o principal ∆9-Trans-Tetrahidrocanabinol) por cerca de 2 a 20 dias após o seu
uso. Já no caso do uso de cocaína esse período é menor, sendo seus metabólitos detectáveis
por cerca de 2 a 4 dias (sendo os principais benzoilecgonina e cocaetileno) na urina.
Ou seja, estes resultados não permitem concluir sobre dose, momento do uso, via de
administração ou condições físicas e mentais no momento da coleta, mas indicam se houve
exposição prévia (Jickels, 2008) a uma substância ilícita – maconha ou cocaína em nosso
estudo, o que é uma informação de grande importância para os responsáveis pelo tratamento e
recuperação dos adolescentes.
Conclusão
Análises toxicológicas são um instrumento muito importante para a avaliação do
consumo de drogas. Embora apresentem algumas limitações, como as citadas anteriormente,
as análises toxicológicas em urina fornecem um resultado objetivo e concreto sobre uso
prévio de maconha ou cocaína, fazendo com que suas vantagens superem estas limitações.
Resultados positivos indicam a necessidade de ajustes no tratamento, uma vez que a
abstinência não aconteceu. Resultados negativos também são importantes, principalmente
para os pacientes, que, por meio dos mesmos, comprovam que estão em abstinência para seus
familiares e responsáveis. Por estes motivos seu uso tem sido amplamente empregado.
Referências
1. JICKELS, S. & NEGRUSZ A. Clarke´s Analytical Forensic Toxicology. London, Pharmaceutical Press. 2008.
2. Oliveira, M. S., Avaliação e Acompanhamento de Adolescentes Usuários de Substâncias
Psicoativas com Medida Protetiva In: Silvares, E. F. M. Atendimento psicológico em clínica
escola. Edwiges Ferreira de Mattos Silvares (org.). Campinas: SP: Editora Alínea. 2006.
3.Yonamine, M. Laboratório de Análises Toxicologias.
http://www.fcf.usp.br/lat/introdpag3.php. Acesso em 3 de junho de 2009.
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