empreendedorismo & inovação: existe inovação no empreendedorismo em angola?

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1 EMPREENDEDORISMO & INOVAÇÃO: Existe Inovação no Empreendedorismo em Angola? 03/09/14 Jonísio C. Salomão 1 [email protected] A temática que iremos abordar tem levantado muitos questionamentos, possa ser que você já tenha se indagado sobre o assunto: é necessário que o empreendedorismo seja inovador?. Mais adiante de forma sintética iremos apresentar algumas pesquisas realizadas em Angola bem como reflexões, que nos permitiriam compreender melhor o assunto. Em Angola o termo Empreendedorismo começou a ganhar uma certa notoriedade por volta dos anos de 2008, embora a actividade já vinha sendo desenvolvida desde a muito. Para entendermos mais o assunto, iremos fazer uma breve incursão sobre os conceitos de empreendedorismo, inovação e posteriormente contextualiza- los de acordo a realidade Angolana. Origem e conceito de Empreendedorismo A génese do termo “empreendedorismo” é muito discutido, não existindo até hoje um real consenso. No entanto, grande parte dos estudos confluem que, o termo “empreendedor” é derivado da palavra francesa entrepreneur, que significa o indivíduo que assume riscos ao iniciar algo novo, conforme foi inicialmente referenciado por Richard Cantilon 2 (1725). Tal conforme referenciou Filion 3 (1990), “na visão de Cantilon, os empreendedores compravam matéria – prima, geralmente um produto agrícola, por certo preço, com objectivo de processá – la e revendê – la, por um preço ainda não definido. [....] Eram, portanto, pessoas que aproveitavam as oportunidades com perspectivas de obterem lucros, assumindo os riscos inerentes”. 1 Mestre em Administração de Empresas; Consultor Empresarial e Técnico Oficial de Contas. 2 Economista Fraco – Irlandês, na sua obra “Um ensaio a Teoria Económica”, 1725. 3 FILION, Louis Jack. Empreendedorismo: empreendedores e proprietários-gerentes de pequenos negócios. Revista de Administração. São, 1999.

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O presente artigo visa efectuar uma abordagem sobre o empreendedorismo em Angola, e analisar se o mesmo é associado a inovação. Com base nos estudos efectuados pela Global Entrepreneurship Monitor (GEM) foi possível concluir que a inovação no empreendedorismo ainda é tímida e, o aumento da competitividade irá tornar o empreendedorismo mais inovador em Angola.

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EMPREENDEDORISMO & INOVAÇÃO: Existe Inovação no Empreendedorismo em Angola?

   

03/09/14 Jonísio C. Salomão1

[email protected]   A temática que iremos abordar tem levantado muitos questionamentos, possa ser que você já tenha se indagado sobre o assunto: é necessário que o empreendedorismo seja inovador?. Mais adiante de forma sintética iremos apresentar algumas pesquisas realizadas em Angola bem como reflexões, que nos permitiriam compreender melhor o assunto. Em Angola o termo Empreendedorismo começou a ganhar uma certa notoriedade por volta dos anos de 2008, embora a actividade já vinha sendo desenvolvida desde a muito. Para entendermos mais o assunto, iremos fazer uma breve incursão sobre os conceitos de empreendedorismo, inovação e posteriormente contextualiza-los de acordo a realidade Angolana. Origem e conceito de Empreendedorismo A génese do termo “empreendedorismo” é muito discutido, não existindo até hoje um real consenso. No entanto, grande parte dos estudos confluem que, o termo “empreendedor” é derivado da palavra francesa entrepreneur, que significa o indivíduo que assume riscos ao iniciar algo novo, conforme foi inicialmente referenciado por Richard Cantilon2 (1725).

Tal conforme referenciou Filion 3 (1990), “na visão de Cantilon, os empreendedores compravam matéria – prima, geralmente um produto agrícola, por certo preço, com objectivo de processá – la e revendê – la, por um preço ainda não definido. [....] Eram, portanto, pessoas que aproveitavam as oportunidades com perspectivas de obterem lucros, assumindo os riscos inerentes”.

                                                                                                               1  Mestre em Administração de Empresas; Consultor Empresarial e Técnico Oficial de Contas.  2  Economista Fraco – Irlandês, na sua obra “Um ensaio a Teoria Económica”, 1725. 3FILION, Louis Jack. Empreendedorismo: empreendedores e proprietários-gerentes de pequenos negócios. Revista de Administração. São, 1999.

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Por volta do século XIX, o conceito sobre empreendedorismo tomou um novo contorno com as contribuições apresentadas por Jean Baptiste Say, ao associar o conceito a criação de novos empreendimentos/negócios, ou seja, na visão de Say, o empreendedor era mais voltado para os negócios, sendo o responsável por reunir os factores de produção, estabelecer o valor dos salários, o juro pago, aluguel e lucros que lhe pertencem. Como base em Cantilon e Say, Schumpeter aprimora o conceito de empreendedorismo associando o termo “destruição criativa”, Schumpeter4 (1947), defendia a importância da inovação no processo empreendedor, bem como o papel do empreendedorismo no desenvolvimento económico. Tal conforme Schumpeter (op. cit.), “o empreendedor é a pessoa que destrói a ordem económica existente, graças à introdução no mercado de novos produtos/serviços, pela criação de novas formas de gestão ou pela exploração de novos recursos, materiais e tecnologias”. Conceito de Inovação As abordagens de Schumpeter, trouxeram um novo aporte ao conceito de inovação, passando mesmo a ser considerado como o “Pai da Inovação” embora actualmente, seja muito abrangente e diversificada. A palavra inovação tem a sua etimologia no latim “in e novare”, que significa fazer algo novo ou renovar. De acordo Drucker 5 (1987), um dos grandes gurus da Administração, inovação é a habilidade de transformar algo já existente em um recurso que gere riqueza, para o autor, qualquer mudança no potencial produtor de riqueza de recursos já existentes constitui uma inovação. Para Steves Jobs o conceito de inovação era associado ao slogan “Pense diferente”. O nosso entender o a inovação deve aportar algum valor agregado para o produto, bem ou serviço criando desta forma uma satisfação para o

                                                                                                               4  SCHUMPETER, Joseph A. The Creative Response in Economic History. The Journal of Economic History. 2. ed. Cambridge University Press on behalf of the Economic History Association, 1947.

5 DRUKER, Peter Ferdinand. Inovação e espírito empreendedor. Editora Pioneira, 1987

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consumidor final que acabará por diferencia – lo dos demais players ou concorrentes no mercado, apresentando produtos/serviços inovadores. O Empreendedorismo e a inovação em Angola O empreendorismo e inovação não podem ser dissociado, embora muitos dos casos surge uma sem a outra. Para muitos autores e também a nossa opinião, não podemos falar de empreendedorismo sem falar de inovação, pois a inovação é a chave para o surgimento do empreendimento ou negócio. Para Drucker, “os empreendedores inovam. A inovação é o instrumento específico do empreendedor”. O empreendedorismo em Angola começa a ganhar alguma notoriedade, passando a ser um conceito mais difundido na mídia, escolas e até cursos específicos. Para muitos é um conceito desconhecido, visto que grande parte dos Empresários que operam no mercado angolano desenvolvem sua actividade sem as bases sólidas e necessárias para um empreendedor (formação ou know-how), podemos dizer que muitos mergulham nesta aventura e em muitos dos casos são bem sucedidos, isto também motivado pela demanda excessiva do mercado quando comparado com a oferta reduzida de certos bens e serviços. O último relatório da Global Entrepreneurship Monitor6 (GEM) realizado no ano de 2012, aponta uma taxa de actividade empreendedora (TAE) de 32% ou seja, 32 e 33 empreendedores encontram –se em early-stage (indivíduos envolvidos em start-ups ou na gestão de novos negócios) por cada 100 indivíduos em idade adulta, o estudo aponta que a proporção da população empreendedora em Angola tem vindo a aumentar gradativamente, sendo que grande parte dos novos negócios desenvolvidos são criados por jovens com idades compreendidas dos 18 aos 34 anos.

Ou seja o mercado Angolano oferece muitas e boas oportunidades para criar novos negócios e esta tem sido a tendência do mercado durante os últimos 5 anos.

                                                                                                               6  Monitor do Empreendedorismo Global, Angola. Estudo sobre o Empreendedorismo em Angola 2012.  

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No que tange a inovação de acordo a GEM (2012), “quase 45% dos empreendedores angolanos têm consciência de que os seus clientes não consideram os seus produtos novos ou desconhecidos. No que toca aos restantes, 22,3% consideram que todos os seus clientes consideram o seu produto ou serviço novo ou desconhecido e 33,0% consideram que tal é verdade para alguns dos seus clientes”.

Do estudo efectuado pela GEM podemos depreender que, a inovação não tem sido uma forte estratégia na abertura de grande parte dos negócios realizados em Angola.

Outrossim é o facto de só recentemente constituir –se uma incubadora para o fomento ao ensino ao empreendedorismo, e a cadeira de empreendedorismo apenas ser incluída no currículo do ensino geral no ano de 2010, corroborou para que grande parte dos empreendedores não tivesse um real contacto e aprofundamento sobre o assunto, no entanto a educação empreendedora em Angola ainda é nova.

Tal conforme o relatório (op.cit.) destaca, “existem mais oportunidades do que indivíduos capazes de as aproveitar, é ainda indicado que os angolanos não têm uma capacidade de reacção rápida a novas oportunidades de negócio e apresentam dificuldades para organizar os recursos necessários para tal propósito”. A inovação no Empreendedorismo em Angola ainda não é um forte motivo para a criação dos negócios, ou seja, é tímida. Os mais recentes negócios criados, tiveram como foco a conquista de uma parte ou nicho no mercado. Em sectores mais competitivos e organizados como a Banca começa –se a notar o despontar da criatividade e inovação devido a competitividade. No entanto a inovação no empreendedorismo em Angola será um facto quando a competitividade for alta, o que obrigará as empresas a inovar para não perderem os seus consumidores ou a sua quota no mercado.