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Empreendedorismo e Sustentabilidade: responsividade às emergentes demandas socioambientais 1 Empreendedorismo e Sustentabilidade: responsividade às emergentes demandas socioambientais Marcelo Pereira Marujo Primeira Edição São Paulo 2013

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Empreendedorismo e Sustentabilidade: responsividade às emergentes demandas

socioambientais

1

Empreendedorismo e

Sustentabilidade:

responsividade às emergentes

demandas socioambientais

Marcelo Pereira Marujo

Primeira Edição

São Paulo

2013

Empreendedorismo e Sustentabilidade: responsividade às emergentes demandas

socioambientais

2

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índices para catálogo sistemático:

1. Empreendedorismo : Desenvolvimento

Sustentável : Brasil : Economia : 338.040981

Marujo, Marcelo Pereira

Empreendedorismo e sustentabilidade :

responsividade às emergentes demandas

socioambientais. Marcelo Pereira Marujo. - -

São Paulo : PerSe, 2013.

ISBN: 978 – 85 – 8196 – 494 – 2

1. Desenvolvimento sustentável

2. Empreendedorismo 3. Negócios I. Título.

13 – 12887 CCD 338 - 04981

Empreendedorismo e Sustentabilidade: responsividade às emergentes demandas

socioambientais

3

Dedico este trabalho a todos, que como eu,

não desistem nunca e também acreditam

que juntos podemos sempre mais...

Empreendedorismo e Sustentabilidade: responsividade às emergentes demandas

socioambientais

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SUMÁRIO

PREFÁCIO

APRESENTAÇÃO

CAPÍTULO 1 - O EMPREENDEDOR SUSTENTÁVEL 13

CAPÍTULO 2 – FORMAÇÃO RESPONSIVA DO

EMPREENDEDOR ÀS DEMANDAS DO MERCADO GLOBAL

20

CAPÍTULO 3 – EMPREENDER NA PERSPECTIVA DA

SUSTENTABILIDADE COMO CONDIÇÃO PROVEDORA DE

RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

35

CAPÍTULO 4 – GLOBALIZAÇÃO: EMPREENDEDORISMO

E NEGOCIAÇÃO

77

CAPÍTULO 5 – PROJETOS SUSTENTÁVEIS: METODOLOGIA

ALIADA À NECESSÁRIA INTERDEPENDÊNCIA TEORIA E

PRÁTICA

88

CAPÍTULO 6 – EMPREENDIMENTO DE PROJETO BÁSICO

DE LOGÍSTICA

109

CAPÍTULO 7 – EMPREENDERORISMO E

SUSTENTABILIDADE: ORIENTAÇÃO À GOVERNANÇA

LOCAL

129

CAPÍTULO 8 – RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL:

NECESSÁRIA RESPONSIVIDADE DO EMPREENDEDOR

SUSTENTÁVEL

148

CONSIDERAÇÕES FINAIS 157

Empreendedorismo e Sustentabilidade: responsividade às emergentes demandas

socioambientais

5

Baruch Espinosa (1632 - 1677)

Deus é o mecanismo imanente da natureza... é a única substância

(o que é em si e se concebe por si – apreensível através de seus

atributos, em número infinito), infinita e eterna, inclusive,”tudo

está em Deus” e procede de sua essência.

São Vicente de Paulo (1581 - 1660)

São Vicente, que tanto vos compadecestes dos pobres, eu vos peço,

olhai para mim! Sou Pobre, mas tenho fé! Há gente mais pobre do

que eu: são aqueles que não têm fé; porque esses têm a alma

vazia. São Vicente, conservai minha riqueza, que é a fé; mas eu vos

peço, aliviai também minha pobreza. Ajudai-me a adquirir ao

menos o necessário para me alimentar bem, para me vestir

honestamente e comprar os remédios que me conservam a saúde e

as forças necessárias para fazer os meus trabalhos e cumprir as

minhas obrigações e assim poder ser útil à minha família e a todos

os que precisarem de minha ajuda.

Antonio Frederico Ozanan (1813 - 1853)

A questão que hoje agita o mundo não é uma questão de pessoas

nem uma questão de formas políticas, senão que é uma questão

social; é a luta dos que não tem nada e dos que tem em demasia, é o

choque violento da pobreza e da opulência que faz tremer a terra

sob nossos pés. É nosso dever, dos cristãos, de intervir entre estes

inimigos irreconciliáveis, e conseguir que reine a igualdade

enquanto seja possível entre humanos.

Empreendedorismo e Sustentabilidade: responsividade às emergentes demandas

socioambientais

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AGRADECIMENTOS

O presente livro é proveniente de uma incansável busca norteada pela

necessária interdependência - academia e mercado -, condição que possibilita

um maior estreitamento à organicidade e dinamismo: teoria e prática. Ainda

representa uma composição de determinação, esforço e reflexão coletiva, não

obstante demande responsabilidade, comprometimento, dedicação e superação.

Muitas organizações e pessoas contribuíram para que esta obra chegasse a bom

termo. A todas elas registro minha imensa gratidão.

Inicialmente, meus agradecimentos a Deus, todo poderoso e

onipresente, por ter me proporcionado saúde e sabedoria suficiente para

empreender essa árdua jornada, e à sociedade que acredita no impossível e que

não desiste nunca.

Aos meus maravilhosos pais (Reynaldo e Dilma), a minha irmã

(Simone), ao meu Tio Lino e sobrinhos (Vanessa, Thiago, Gabriel e

Guilherme).

À minha queridíssima família - Lidiane (esposa e amiga), Marcel e

Lídia (filhos e amigos) - por saber e entenderem conviver, durante longo

período, com minhas constantes inquietações e ausências, apesar de estar em

muitos momentos, partilhando o mesmo e adorável ambiente familiar. Pois,

muitas vezes foram meus confidentes e também convidados a discutirem sobre

minhas viagens reflexivas e se posicionarem sobre a pertinência das variadas

questões socioambientais.

Ao estimado Prof. Dr. Isauro Beltrán Núñez, irmão e amigo, o meu

eterno orientador. Profissional que reconheço sua expressiva competência e

comprometimento às pesquisas. Ainda, foi quem norteou a minha trajetória

como pesquisador, portanto o meu muito obrigado por tudo.

Aos amigos do cotidiano social e profissional que tanto dignificam a

minha condição de ser e estar no mundo e para o mundo: Fernando e Nice, Juan

Meirino, Juliano Ferreira de Souza, João e Dayse, Edenir e Claudia, Robertinho

e Garrido.

Minha gratidão aos amigos (Daniel e Wallace) do Instituto de

Administração do Rio de Janeiro (IARJ) e reverencio os relevantes momentos

de intensa reflexão-crítica, ainda, há anos com Daniel Roedel; do Conselho

Regional de Administração do Rio de Janeiro (CRA-RJ) o meu carinho especial

à Comissão de Desenvolvimento Sustentável; da Conferência Vicentina de

Santo Antônio (Santa Rosa – Niterói - RJ) que vem me fazendo enxergar

melhor o sentido da vida em Cristo e da Universidade Federal Fluminense (UFF

- GRUPEGI), especialmente, ao estimado amigo Prof. Dr. Jader Janer Moreira

Empreendedorismo e Sustentabilidade: responsividade às emergentes demandas

socioambientais

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Lopes - pela generosidade de suas iminentes propostas às reflexões e da

apresentação, sempre, de novos desafios.

Finalmente, a todos que indiretamente contribuíram para minha

inquietação/reflexão e que acreditam que juntos podemos construir um mundo

melhor e mais justo às gerações presente e futuras.

Carinhosamente

Marcelo Pereira Marujo

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PREFÁCIO

Recebo com honraria, orgulho e deferência inexcedíveis a escolha de

meu nome para prefaciar mais um livro, entre outros tantos já lançados pelo

autor em apreço, habitualmente consagrados, face a manifesta

contemporaneidade e contextualidade que os envolve.

O significado do ato em questão cresce em importância e

responsabilidade, particularmente para o meio acadêmico e corporativo, à

medida que ao prefaciador cabe apresentar, introduzir e anunciar à sociedade o

nascimento da nova obra e desejar-lhe longa vida e sedimentada contribuição ao

estudo da temática a que se propõe que, certamente, alcançará, posto que, o

leitor é presenteado com uma estrutura de pensamentos muito bem construída

por Marujo, que reflete o seu saber amplo e a sua experiência profunda.

Destaque-se, ainda, que raras são as ocasiões em que a reflexão encontra a

experiência de maneira tão harmoniosa, quanto nesta obra, que o autor nos

brinda aqui com sua sensibilidade e olhar aguçados do observador pensante.

Empreendedorismo e Sustentabilidade, a obra em questão, surge de

intensas experiências vivenciadas reflexivamente, em especial sobre

sustentabilidade e suas conexões mais significativas, de par com uma

incansável busca orientada pela necessária interdependência academia e

mercado e, como decorrência, propõe a complementaridade empreendedorismo-

sustentabilidade - responsabilidade socioambiental, de modo: (i) alcançar-se

níveis significativos e crescentes de desenvoltura profissional e organizacional

, sempre norteada pela perspectiva de sustentabilidade e, por essa via, atender

responsivamente às demandas de um mercado globalizado cada vez mais

competitivo; (ii) tornar mais orgânico e dinâmico o processo de previsão e

provisionamento de gestão organizacional sustentável, como circunstância

capaz de redimensionar a responsabilidade socioambiental; (iii) possibilitar um

estreitamento maior à relação pesquisa-ação , teoria e prática.

É, de outra parte, sumamente importante enfatizar, que a prevalência dos

valores éticos é uma vigência pessoal, profissional e social inarredável na vida

do autor, que sua obra reverbera, e assume uma atitude permanente de vigília

contra a tentação da certeza, a reconhecer que nossas certezas não são provas da

verdades. Tendemos a viver num mundo de certezas, de solidez perceptiva não

contestada, em que nossas convicções provam que as coisas são somente como

as vemos e não existe alternativa para aquilo que nos parece certo. Essa é a

nova situação cotidiana, nossa condição cultural, nosso modo habitual de ser

humanos.

Posto isto, este livro pode ser visto como um convite à suspensão de

nosso hábito de cair na tentação da certeza. Isso é duplamente necessário;

Empreendedorismo e Sustentabilidade: responsividade às emergentes demandas

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porque se o leitor não suspender suas certezas, o livro não poderá comunicar

aqui nada que fique incorporado à sua experiência como uma compreensão

efetiva do tema em estudo.

O autor dá também uma contribuição relevante à compreensão daquilo

que talvez seja o maior problema epistemológico de nossa cultura: a extrema

dificuldade que temos de lidar com tudo aquilo que é subjetivo e qualitativo,

conforme bem o diz a pesquisa desenvolvida sobre crenças de graduandos de

administração sobre a sustentabilidade (Capitulo 3). Parece incrível mas muitas

pessoas imaginam que o trabalho cientifico deve afastar de suas preocupações a

subjetividade e a dimensão qualitativa como se a ciência não fôsse um trabalho

feito por seres humanos. A subjetividade (tanto quanto a objetividade) e a

qualidade (tanto quanto a quantidade) são na verdade indispensáveis ao

conhecimento e, portanto, à ciência.

De notar, que os seres vivos e o mundo estão interligados, de modo que

não podem ser compreendidos separados. Por decorrência, o conhecimento não

é passivo - e sim construído pelo ser vivo em suas interações com o mundo - a

postura de só levar em conta o que é observado deixar de ter sentido. A

transacionalidade entre o observador e aquilo que este observa, além de mostrar

que um não é separado do outro, torna indispensável a consideração a

subjetividade do primeiro, isto é, a compreensão de como ele experiencia o que

observa.

É certo, todavia, que a avaliação e critica que ora se faz é,

evidentemente, muito restritiva em relação à obra de Marujo; no entanto, não

poderia deixar de assinalar que a educação – e nela a formação do

administrador – cidadão –, associada a valores éticos e sociais, tem absoluta

centralidade no processo empreendedorismo – sustentabilidade –

responsabilidade socioambiental proposto pelo autor.

O profissional de administração não poderá estar alheio à ideia de

solidariedade. Demasiados influenciados pela eficiência econômica muitas

vezes esquecem que têm que buscar a igualdade social em suas gestões, tem

também que fortalecer a cidadania. O processo de sua formação transcendente

aos aspectos voltados diretamente ao suprimento do mercado de trabalho. Deve,

pois, fazer uso das problemáticas relacionadas às questões sociais e ambientais

como conteúdo de saber, com o propósito de garantir a formação de

administradores competentes sócio-tecnicamente, conscientes de seu papel

enquanto cidadãos críticos e capazes social e politicamente aptos a gerar uma

sociedade mais justa e humana.

Registre-se, ademais, que a CEPAL reconhece que a cidadania é, ao

lado da transformação produtiva, uma das colunas mestras do desenvolvimento,

vale dizer, o desenvolvimento humano sustentado está plantado sobre dois

Empreendedorismo e Sustentabilidade: responsividade às emergentes demandas

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eixos essenciais: cidadania e competitividade, mediadas pela educação de

qualidade. Disso depreende-se a percepção cada vez mais clara da importância

da cidadania para o desenvolvimento, principalmente como barreira às ditas leis

de mercado.

Como remate, cabe-me saudar a significativa contribuição que o livro de

Marcelo Pereira Marujo, professor e pensador emérito, entre outras expertises,

traz à academia e às empresas, e que muito me orgulha tê-lo como amigo,

companheiro de trabalho, lida e vida. O sumário do livro diz bem da

abrangência intelectual de sua obra gerada de intensas experiências vivenciadas

reflexivamente, em especial, sobre a sustentabilidade e suas expressivas

dimensões. O currículo que abre para a leitura apresenta-o e informa sobre a sua

longa e árdua caminhada profissional e institucional e me faz reavivar o

conceito de indivíduo - trajetória, que diante da problemática da sociedade

contemporânea precisa reconstruir permanentemente sua identidade pessoal e

profissional.

Estou também em boa companhia quando me valho das festejadas

palavras do celebrado bardo espanhol Antônio Machado, (metaforicamente à

senda pessoal profissional e intelectual do autor):

“Caminhante, são teus passos

o caminho e nada mais;

caminhante, não há caminho,

faz-se o caminho ao andar.

Ao andar faz-se o caminho

e, ao olhar-se para trás,

vê-se a senda que jamais

tornar-se à a pisar.

Caminhante, não há caminho

Senão sulcos sobre o mar.”

Boa leitura e longa vida à obra do autor.

Wallace de Souza Vieira

Diretor-Presidente

Instituto de Administração do Rio de Janeiro - IARJ

Empreendedorismo e Sustentabilidade: responsividade às emergentes demandas

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APRESENTAÇÃO

Um ponto importante da sabedoria de vida consiste na proporção

correta com a qual dedicamos a nossa atenção em parte ao presente,

em parte ao futuro, para que um não estrague o outro. Muitos

vivem em demasia no presente: são os levianos; outros vivem em

demasia no futuro: são os medrosos e os preocupados.

(SCHOPENHAUER)

Este livro surge de intensas experiências vivenciadas reflexivamente, em

especial, sobre a sustentabilidade e suas expressivas dimensões – política –

social – econômica – ambiental - cultural - com as mais variadas áreas de

conhecimento da sociedade contemporânea.

Espera-se que a contemporaneidade seja compreendida como uma

episteme, uma maneira de adquirir mais informações e conhecimentos, um

meio e também um fim/meio de conhecer a realidade e suas especificidades que

tanto propulsionam nosso modus vivendi a empreender estratégias diferenciadas

diante das emergências socioambientais.

Apresentam-se como condição necessária e interdependente as

emergentes temáticas - empreendedorismo e sustentabilidade – e outras

importantes áreas da gestão. Com esta inter-relação progressiva busca-se a

constante desenvoltura profissional, sempre orientada pela perspectiva da

sustentabilidade, a fim de atender responsivamente às demandas de um mercado

globalizado cada vez mais competitivo.

Evidencio neste momento que o – socioambiental - nesta obra deve ser

compreendido como a unidade integrada e sinérgica do global e do local como

condição, tempestivamente, providencial de todas as proposições apresentadas.

Considera-se tal proposição imprescindível para tornar mais orgânico e

dinâmico o processo de previsão e provisionamento de gestão organizacional

sustentável como circunstância capaz de redimensionar a responsabilidade

socioambiental.

Norteado por estas proposições acredita-se na possibilidade de poder

promover uma sempre refutável reflexão, diante da emergência das temáticas

em questão -, em especial, de maneira criativa, crítica e reflexiva a fim de

manter-se mais consonante com as novidades advindas da era da informação

sustentável (MARUJO, 2013).

O livro está estruturado em capítulos que se complementam e

retroalimentam com a intenção de propiciar a necessária interdependência dos

estudos/investigações que compõe toda estratégica de composição da obra.

Empreendedorismo e Sustentabilidade: responsividade às emergentes demandas

socioambientais

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O capítulo 1 apresenta uma orientação para o empreendedor sustentável.

Onde espera-se que o empreendedor compreenda que ações sustentáveis são

desenvolvidas a partir de um pensar, uma condição de ser e estar no mundo,

nessa perspectiva.

O capítulo 2 sinaliza a importância do processo formativo do

empreendedor, numa dimensão sustentável, propiciar uma indispensável

responsividade às variadas e constantes demandas do mercado global/local.

O capítulo 3 mostra uma investigação que é a orientadora de todo esse

processo onde se busca ações mais sustentáveis e, especialmente, novas

alternativas para associar áreas da administração à sustentabilidade.

O capítulo 4 compreende o empreendedorismo e a negociação como

condição orgânica para favorecer toda a previsibilidade e o consequente

provisionamento dos negócios num mercado iminentemente globalizado.

O capítulo 5 mostra novas possibilidades de se pensar projetos mais

sustentáveis a partir de estratégias metodológicas includentes. Para tanto,

apresentam-se tais estratégias para que se consiga enxergar mais

detalhadamente o problema, assim tornando-o imprescindível à construção de

projetos sustentáveis.

O capítulo 6 compreende uma proposta de projeto básico de logística

que tenta mostrar alternativas para se pensar sua construção de forma

pedagógica, sempre à luz da práxis, assim evidenciando-se a necessária inter-

relação da teoria com a prática.

O capítulo 7 denota a importância da governança como eixo norteador

do desenvolvimento local, onde a busca pela dignidade da comunidade passa

por questões empreendedoras sustentáveis factíveis de promover maior

responsabilidade socioambiental.

O capítulo 8 propõe que a responsabilidade socioambiental passe a ser

uma propensão fundamental para o redimensionamento de ações mais

comprometidas com estratégias empreendedoras, sempre fundamentadas na

dimensão da sustentabilidade em prol das gerações e da sociedade.

As considerações apresentadas visam providenciar que tais temáticas se

convertam em objeto de tempestivas inquietações e imensuráveis estratégias,

para que a incessante exploração de informações e conhecimentos possa tornar

as situações práticas cotidianas cada vez mais significativas.

Espera-se poder contribuir para repensarmos de maneira criativa, crítica

e reflexiva novas alternativas capazes de fazerem com que o empreendedorismo

seja norteado pela sustentabilidade em todas as suas dimensões.

Marcelo Pereira Marujo

CRA-RJ: 20-41031-0

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CAPÍTULO 1 - O EMPREENDEDOR SUSTENTÁVEL

Marcelo Pereira Marujo

Não existe nenhuma possibilidade de existência separada e

autônoma (WHITEHEAD)

A essência na lógica é a essência da natureza e do homem, mas sem

a essência, sem a natureza e sem o homem... A vida e a verdade...

só são encontradas onde a essência está unida com a existência, o

pensamento com a percepção dos sentidos, a atividade com a

passividade e a seriedade... (HEGEL)

Inicialmente, pretende-se evidenciar para os leitores que o

empreendedor sustentável é aquele que deve ter o pensamento, as atitudes e as

consequentes ações estratégicas capazes de empreender e corresponder,

necessária e simultaneamente, sempre orientados pela sustentabilidade em suas

dimensões: política, social, econômica, ambiental e cultural.

Entende-se que somente tal condição de ser e estar no mundo

sustentavelmente proporcionará que o empreendimento, surgindo de um

embrião sustentável, conseguirá manter-se nessa trajetória perspectivando

diuturnamente atividades nessa mesma dimensão.

Empreendedorismo significa criar empresas ou produtos novos,

agregar valor, é saber identificar oportunidades e transformá-las em

um negócio lucrativo. (SCHUMPETER)

Há tempos, observa-se que o empreendedorismo se converte numa

exortação à inovação advinda, iminentemente, da era da informação. Esta

tempestiva condição inovadora deve integrar-se com a sustentabilidade a fim de

favorecer um desenvolvimento mais equilibrado e responsável.

O mercado, orientador da sociedade (condição preocupante), já

compreende a sustentabilidade como condição necessária para o seu

desenvolvimento, especialmente no concernente ao médio e longo prazo,

condicionante capaz de favorecer as gerações presente e futuras.

A presente propositura evidencia a efervescente simbiose –

empreendedorismo e sustentabilidade – propensa a favorecer o

Empreendedorismo e Sustentabilidade: responsividade às emergentes demandas

socioambientais

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desenvolvimento de atividades profissionais e socioambientais das

organizações, assim, mantendo-as mais harmônicas para com as constantes

demandas globais.

Desde o início da obra, objetiva-se que o empreendedorismo e a

sustentabilidade não sejam variáveis distintas, mas, sim, uma “unidade”

(VIGOTSKI, 1999; 2010) capaz de providenciar um processo formativo onde o

empreendedor seja sustentável, porquanto entender que esta condição é

indispensável para orientar suas ações, da mesma forma, sustentáveis.

Não é a unidade da humanidade viva e ativa com as condições

naturais, inorgânicas, da sua troca metabólica com a natureza, e daí

a sua apropriação da natureza, que requer explicação ou é o

resultado de um processo histórico, mas a separação entre estas

condições inorgânicas de existência humana e esta existência ativa,

uma separação que só é completamente postulada na relação do

trabalho com o capital. (MARX)

Acredita-se que, inicial e necessariamente, tal condição precise passar

por uma mudança de pensamento, porquanto essa ótica ser factível de favorecer

todo o processo de formação pessoal, social e profissional.

A sociedade precisa, na verdade, de seres humanos melhores; logo,

compreende-se que tal imprescindibilidade proporcionará uma maior

socialização de conhecimentos (científicos/senso comum/técnicos/profissionais)

e sociabilidade, tanto no espaço formal quanto no não formal e informal e,

principalmente, um profissional mais propensos às necessidades demandadas

pela sociedade global.

O empreendedor entendendo a sustentabilidade como questão

orientadora de sua condição de ser e estar no e para o mundo, seja na academia

ou no mercado (sempre fomentando esta inter-relação como condição

interdependente), irá possivelmente promover ações/reações mais capazes de

contemplarem negócios de médio e longo prazo.

Entende-se que negócios mais consistentes, independentemente de suas

particularidades, carecem de vislumbrar sua prospecção presente e também

futura, assim promovendo maior responsabilização socioambiental.

Ações sempre propostas na perspectiva da sustentabilidade,

possivelmente, promoverão uma primordial melhoria nas organizações, no

mercado – tanto local quanto global -, consequentemente, na sociedade e no

planeta.

Nessa dimensão, entende-se que o grande desafio está em promover um

empreendedorismo, que de fato, seja sustentável. Para tanto, busca-se por

Empreendedorismo e Sustentabilidade: responsividade às emergentes demandas

socioambientais

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intermédio da sensibilização e consequente conscientização sobre as

supracitadas temáticas construir um DNA sustentável para o empreendedor.

O DNA sustentável1 urge da necessidade do empreendedor estar mais

consonante com um mercado, que cada vez mais, entende que políticas

estratégicas sustentáveis vêm favorecendo o seu desenvolvimento e sua

capacidade contingencial de lidar com as constantes mudanças político-

econômicas globalizadas.

Não poderia deixar de registrar que o grande diferencial nessa

proposição é a evocação do modus vivendi como estratégia orientadora de todo

processo de prospecção, mas sempre aliado a intensa busca de inovações

capazes de promover com mais consistência o socioambiental

Além do mais, percebe-se que a educação corporativa aliada à

sustentabilidade torna-se condição propulsora para forjar o DNA do

empreendedor. Outrossim, a progressiva necessidade de manter este

profissional ativo na academia e no mercado (independente do nível) passa a

orientar a finalidade do estreitamento à consolidação da performance do

empreendedor.

Nessa perspectiva, a ontologia e a epistemologia sustentável, orientadora

desta proposta, evidenciam o seu DNA. Logo, resgata-se o ser humano como

“protagonista” do processo formativo, para depois pensar em compor o

pensamento e a consequente ação/formação do empreendedor sustentável.

Essa passa a ser uma imprescindibilidade diferencial para o

empreendedor que está adentrando num mercado muito competitivo, exigente e

de clientes/consumidores mais esclarecidos que buscam menor preço e mais

qualidade.

No concernente à qualidade observa-se que políticas na perspectiva da

sustentabilidade vêm orientando novos produtos e serviços, precipuamente pela

sua precoce obsolescência e descartabilidade, fator muito preocupante na

sociedade atual.

______ 1 DNA sustentável – Expressão e composição que surge de intensas reflexões críticas,

filosóficas e ideológicas, agradabilíssimas, realizadas na sede do Instituto de Administração do

Rio de Janeiro (IARJ), quando da realização de reuniões para se pensar a administração e a

sustentabilidade. Os protagonistas dessas reflexões - Marcelo, Daniel e Wallace – sempre

inquietos com os rumos do mercado e da sociedade buscam, na contracorrente de sua tendência,

encontrar a necessária responsividade às constantes ordens e desordens. Daí surge a expressão e

também o início de sua melhor composição, em momento sempre ímpar, proposta pelo Daniel

Roedel. Portanto, corrobora-se que a sua construção ainda está carecendo de maiores

considerações e reflexões mais tempestivas capazes de estreitar a relação teoria e prática.