emoÇÕes e sistema imunolÓgico

Upload: fanticelli-priscila

Post on 14-Apr-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/27/2019 EMOES E SISTEMA IMUNOLGICO

    1/19

    Emoes e sistema imunolgico Teoria, investigao e prtica Psicologia

    222207

    PSICOLOGIA: TEORIA, INVESTIGAO E PRTICA, 2002, 2, 207-225 Centro de Investigao em Psicologia, Universidade do Minho

    EMOES E SISTEMA IMUNOLGICO: UM OLHAR SOBRE APSICONEUROIMUNOLOGIA

    ngela da Costa Maia1Instituto de Educao e Psicologia, Universidade do Minho, Portugal

    Resumo - A concepo do sistema imunolgico como sistema autnomo de funcionamentoexclusivamente qumico deu lugar, especialmente a partir dos anos oitenta, a uma concepointegrada em que se reconhece que o sistema imunolgico est integrado com outros sistemassendo sensvel regulao do sistema nervoso (Ader, 1983; Rabin, Cohen, Ganguli, Lysle &Cunnick, 1989; Cohen & Herbert, 1996). Reconhece-se assim o papel que as diferentes reasdo funcionamento humano, nomeadamente cognitivo e emocional, pode ter sobre a suaeficincia. Deste modo nasceu uma disciplina designada por Psiconeuroimunologia dedicada aestudar as relaes entre os stressores psicossociais, as emoes e os sistemasneuroimunolgicos que organizam a resposta adaptativa ao stress. A hiptese base destemodelo que os stressores psicossociais diminuem a eficincia do sistema imunolgico o queleva ao aumento de sintomas mdicos. Neste trabalho abordamos esta temtica, descrevendoa investigao actual sobre as condies psicossociais e emocionais que parecem afectar aimunocompetncia.

    Palavras chave:psiconeuroimunologia, emoo, stress, sadeKey words:Psychoneuroimmunology, emotion, stress, health

    INTRODUO

    Uma das razes para o forte interesse que a psiconeuroimunologia desperta entre osprofissionais de vrios domnios advm do seu contributo para compreender porque razo osacontecimentos de vida ou as emoes afectam a sade. O estudo da funo imunolgica narelao com a experincia revelou-se assim um campo promissor, onde tm ocorrido grandes

    avanos e onde se adivinham continuamente novas descobertas.1Toda a correspondncia relativa a este artigo deve ser enviada para ngela da Costa Maia, Instituto de Educao ePsicologia, Departamento de Psicologia, Campus de Gualtar, Universidade do Minho; Tel: 253 604240; Fax: 253678987; E-mail: [email protected]

  • 7/27/2019 EMOES E SISTEMA IMUNOLGICO

    2/19

    Emoes e sistema imunolgico Teoria, investigao e prtica Psicologia

    222208

    PSICOLOGIA: TEORIA, INVESTIGAO E PRTICA, 2002, 2, 207-225 Centro de Investigao em Psicologia, Universidade do Minho

    A concepo do sistema imunolgico como sistema fisiolgico autnomo defuncionamento exclusivamente qumico com a tarefa de reconhecer o que e no do prprioorganismo deu lugar, especialmente a partir dos anos oitenta, a uma viso integrada em que sereconhece que o sistema imunolgico interage com outros sistemas sendo sensvel regulao dos sistemas nervoso e endcrino (Ader, 1983; Rabin, Cohen, Ganguli, Lysle &Cunnick, 1989).

    A disciplina designada por Psiconeuroimunologia1 o campo cientfico que investiga asligaes entre o crebro, o comportamento e o sistema imunolgico, bem como as implicaesque estas ligaes tm para a sade fsica e a doena (Kemeny & Gruenewald, 1999). A

    hiptese base deste modelo que os stressores psicossociais diminuem a eficincia dosistema imunolgico o que leva ao aumento de sintomas mdicos (risco de uma doena).Assim, face a uma ameaa biolgica com uma determinada potncia, a

    imunocompetncia, ou seja, a capacidade do sistema imunolgico proteger o corpo numdeterminado momento2 estar relacionada com os factores psicossociais que afectam osistema imunolgico. Entre estes factores contam-se os estados emocionais; o tipo e aintensidade de stress que a pessoa est a enfrentar, as caractersticas de personalidade e aqualidade das relaes sociais.

    A relao entre stress e doena comeou por ser estabelecida por Selye (1976)sugerindo que os stressores crnicos contribuam para um estado de exausto do organismopondo em causa o seu equilbrio. Assim, as respostas que envolvem as ligaes entre crebro,hormonas e sistema imunolgico, passariam, ao fim de um determinado tempo, a terdificuldades em lidar com o stress e as manifestaes de doena ocorreriam num grau que

    poderia conduzir at morte.Um segundo momento na conceptualizao dos desafios colocados pelosacontecimentos de vida sobre a sade fsica e emocional comeou a ter em conta ascaractersticas psicolgicas e as estratgias de confronto utilizadas pelos sujeitos para lidarcom essas situaes. Este desenvolvimento assume que o impacto de uma situao no sujeitodepende da avaliao que o sujeito faz dela, bem como das estratgias que mobiliza de modoa fazer-lhe face.

    Assim, enquanto alguns investigadores procuram averiguar o impacto deacontecimentos de vida na sade e/ou no sistema imunolgico; outros tentam diferenciar oefeito dos acontecimentos de vida em funo das emoes envolvidas, do estilo cognitivo, oudas caractersticas de personalidade da pessoa.

    Uma terceira abordagem sugere que o processamento dos acontecimentos de vida,especialmente das situaes traumticas, os significados que os sujeitos constroem, ou as

    estratgias de copingque vo sendo utilizadas, passam por uma srie de fases sobre as quaispoder haver uma interveno de modo a diminuir os efeitos nefastos sobre o sistemaimunolgico. A psicoterapia ou outras estratgias podero ser concebidas como formas deintervir nesta sequncia, contribuindo para acelerar o processo de lidar com o trauma eprevenindo os potenciais efeitos nefastos sobre a sade de uma determinada experincia.

  • 7/27/2019 EMOES E SISTEMA IMUNOLGICO

    3/19

    Emoes e sistema imunolgico Teoria, investigao e prtica Psicologia

    222209

    PSICOLOGIA: TEORIA, INVESTIGAO E PRTICA, 2002, 2, 207-225 Centro de Investigao em Psicologia, Universidade do Minho

    Neste caso, assumido que existe um processo fludo ao longo do qual os sujeitos voelaborando os acontecimentos de vida mais difceis, havendo tarefas que facilitam essetrabalho.

    Nos pontos que a seguir se apresentam sero descritos os estudos realizados nombito destas trs perspectivas.

    1. ESTUDO DO IMPACTO DOS ACONTECIMENTOS DE VIDA SOBRE A SADE

    Os primeiros estudos sobre a ligao entre acontecimentos (positivos ou negativos) eo sistema imunulgico utilizaram medidas muito indirectas, sem especificar os mecanismos quepoderiam explicar os efeitos de determinados acontecimentos de vida sobre a sade ou otempo de vida. Um exemplo deste tipo de estudos foi realizado por Langer e Rodin (1976), queprocuraram averiguar o efeito do envolvimento em actividades com uma componenteemocional e motivacional sobre a sade de um grupo de idosos. Para isso estes autorespediram a idosos institucionalizados em lares para tomarem conta de uma planta, tendoverificado meses depois que, quando comparados com um grupo de controlo, estes idosostinham menos problemas de sade e menor nmero de mortes. Assim, esta actividade simplespareceu ser suficiente para dar sentido vida destes idosos institucionalizados cujapossibilidade de estabelecer relaes significativas , em geral, bastante diminuta, e esteacontecimento teve um impacto positivo sobre a sade.

    Outros estudos realizados ao longo dos anos sessenta, setenta e incio de oitentaestabeleceram uma ligao entre alguns tipos de acontecimentos e sade. Em alguns estudosclssicos foi verificado que o ajustamento a acontecimentos de vida associado a stressprolongado, como casamento, divrcio, problemas no emprego, morte, catstrofes naturais ouprovocadas por erros humanos conduz a uma diminuio da sade dos protagonistas ouvtimas destes problemas (e.g. Holmes & Rahe, 1967; Kanner, Coyne, Schaefer & Lazarus,1981; Dohrenwend, 1982). Apesar da importncia destes estudos correlacionais, eles soomissos sobre os mecanismos que podero estar envolvidos nestes resultados.

    2.O IMPACTO DOS ACONTECIMENTO DE VIDA SOBRE A SADEEM FUNO DE FACTORES PSICOLGICOS

    Depois do estabelecimento da relao global entre acontecimentos e problemas desade, muitos estudos tm procurado analisar o impacto dos acontecimento de vida sobre asade em funo dos factores psicolgicos.

    Este modelo assume que a mudana imunolgica mediada por factores como aactivao do SNC, a resposta hormonal e a mudana comportamental, em funo dascaractersticas e estados psicolgicos. As ligaes entre o SNC e o sistema imunolgico foram

  • 7/27/2019 EMOES E SISTEMA IMUNOLGICO

    4/19

    Emoes e sistema imunolgico Teoria, investigao e prtica Psicologia

    222210

    PSICOLOGIA: TEORIA, INVESTIGAO E PRTICA, 2002, 2, 207-225 Centro de Investigao em Psicologia, Universidade do Minho

    SUSCEPTIBILIDADE DOEN A

    identificadas (Felten, Felten, Carlson, Olschowka, & Livnat, 1985; Felten & Olschowka, 1987),nomeadamente pela observao de que linfcitos como as NK tm receptores para osneurotransmissores. Vrios autores encontraram igualmente ligaes entre o sistemaimunolgico e o endcrino atravs do efeito de diferentes mediadores hormonais comocatecolaminas (epinefrina e norepinefrina), cortisol, prolactina, ACTH, TSH, hormona docrescimento ou opiceos endgenos, hormonas que esto relacionadas com a resposta aostress (cf. Schneiderman & Baum, 1992; Cohen, 1994; Wang, Delahanty, Dougall, & Baum,1998). Alm disso existe enervao simptica e parasimptica dos rgos linfides (Felten &Olschowka, 1987). Por seu lado alguns comportamentos que so associados a caractersticas

    psicolgicas ou so respostas ao stress podem influenciar o sistema imunolgico: prticas desade ms como fumar, dieta inapropriada e sono perturbado diminuem a respostaimunolgica.

    ACONTECIMENTO DE VIDA

    MUDANA IMUNOLGICA

    Figura. 1.Relao entre acontecimento de vida, caractersticas e estados psicolgicos e mudana imunolgica(Adaptado a partir de Cohen & Herbert, 1996).

    Podemos dividir as investigaes que analisaram a relao entre os factorespsicolgicos e a sade e/ou a eficincia imunolgica em quatro grupos: os que estudaram o

    efeito das situaes de stress (quer em condies naturalistas, quer em laboratrio); os queestudaram o efeito do afecto, nomeadamente o humor triste e a depresso; os que estudaramo efeito das caractersticas de personalidade; e, finalmente, os que estudaram a importnciadas relaes interpessoais3

    ACTIVAODO SNC

    RESPOSTAHORMONAL

    MUDANACOMPORTAMENTAL

    CARACTERSTICAS E ESTADOS PSICOLGICOS

  • 7/27/2019 EMOES E SISTEMA IMUNOLGICO

    5/19

    Emoes e sistema imunolgico Teoria, investigao e prtica Psicologia

    222211

    PSICOLOGIA: TEORIA, INVESTIGAO E PRTICA, 2002, 2, 207-225 Centro de Investigao em Psicologia, Universidade do Minho

    2.1.Estudo do efeito do stress

    2.1.1. Estudo do efeito do stress em contexto naturalista

    Janice Kiecolt-Glaser uma das investigadoras que mais tem procurado averiguar oefeito de variveis psicosociais sobre o funcionamento do sistema imunolgico. Os seusprimeiros estudos, em meados dos anos oitenta, procuraram observar, em contextosnaturalistas, o efeito do stress durante a poca dos exames escolares sobre o funcionamento

    imunolgico de estudantes universitrios. Os resultados sugerem que em pocas de maiorstress, em comparao com pocas aps frias, existe uma diminuio da actividade doslinfcitos NK (Kiecolt-Glaser, Garner, Speicher, Penn, Holliday, & Glaser, 1984); na proliferaode linfcitos (Glaser, Kiecolt-Glaser, Stout, Tarr, Speicher, & Holliday, 1985; Glaser, Rice,Sheridan, Fertel, Stout, Speicher, Pinsky, Kotur, Post, Beck, & Kiecolt-Glaser 1987; Glaser,Lafuse, Bonneau, Atkinson, & Kiecolt-Glaser, 1993); e na citocidade dos linfcitos (Glaser,Rice, Speicher, Stout, & Kiecolt-Glaser, 1986; Glaser et al., 1987). Paralelamente foi verificadoque durante estas fases de stress h um aumento na circulao de anticorpos anti herpesvirus(Glaser et al., 1985; Glaser et al., 1987; Glaser, Pearson, Jones, Hillhouse, Kennedy, Mao,& Kiecolt-Glaser 1991); bem como uma cura mais lenta de feridas aps bipsias (Kiecolt-Glaser, Page, Marucha, MacCallum, & Glaser, 1998).

    Outra situao que tem mostrado estar relacionada com um aumento do stress aprestao de cuidados a doentes crnicos, nomeadamente doentes com Alzheimer. O estudo

    da resposta imunolgica de familiares cuidadores destes doentes tm mostrado uma respostadiminuda do sistema imunolgico, incluindo diminuio do nmero de linfcitos totais e clulasT, menor reaco dos linfcitos NK e maior nmero de anticorpos aos vrus herpes (e.g.Kiecolt-Glaser, Fisher, Ogrocki, Stout, Speicher, & Glaser, 1987; Esterling, Antoni, Fletcher,Margulies, & Schneiderman, 1994).

    Para alm do efeito do stress relacionado com as pocas de exames e com o cuidadode doentes, foram igualmente avaliados os efeitos de uma variedade de acontecimentos queincluem situaes to diversas como desastres naturais, desemprego, guerra, acidente nuclearou conflitos conjugais. Por exemplo McKinnon, Weiss, Reynolds, Bowles e Baum (1989)verificaram que os residentes volta de uma Central Nuclear em que houve uma ameaa deacidente tiveram mais doenas nos meses seguintes. As anlises sobre a funo imunolgicapermitiram verificar uma diminuio das clulas B, Clulas T CD3, CD4 e NK e menor produode anticorpos em reaco vacina de hepatite B. Por seu lado Kiecolt-Glaser, Malarkey, Chee,

    Newton, Cacioppo (1993) verificaram que em casais com comportamentos mais negativos ehostis, e que esto a passar por momentos de mal estar na relao, tm maiores diminuiesnas NKe menor resposta de proliferao dos linfcitos.

    Uma outra forma de avaliar o efeito do stress sobre o sistema imunolgico pedirpara os sujeitos registarem o nvel de stress experienciado/percebido, relacionando esse relatocom medidas do sistema imunolgico ou medidas de infeco Por exemplo, Jabaaij, Grosheid,

  • 7/27/2019 EMOES E SISTEMA IMUNOLGICO

    6/19

    Emoes e sistema imunolgico Teoria, investigao e prtica Psicologia

    222212

    PSICOLOGIA: TEORIA, INVESTIGAO E PRTICA, 2002, 2, 207-225 Centro de Investigao em Psicologia, Universidade do Minho

    Heijink, Duivenvoorden, Ballieux, Vingerhoets (1993) utilizaram a medida da produo deanticorpo em reaco vacina de hepatite B para analisar a relao entre stress percebido eresposta imunolgica. Os seus resultados indicam que quanto mais stress percebido, menorproduo de anticorpo, um indicador de capacidade imunolgica diminuda.

    De modo a avaliar a relao entre experincias de stress e vulnerabilidade doena,especificamente ao vrus da gripe, Cohen, Tyrrell e Smith (1991, 1993) realizaram um estudoextremamente rigoroso em termos metodolgicos com mais de 400 sujeitos em que foiavaliada a relao entre o relato de stress e a resposta inoculao de vrios tipos de vrus degripe. Neste estudo verificou-se uma relao significativa entre o nvel de stress experienciado

    e a contraco da doena, mostrando bem que a resistncia doena estava diminuda nossujeitos que experienciaram mais stress.Em suma, os resultados dos diferentes estudos sobre o efeito do stress em contexto

    naturalista sugerem que, face a situaes de stress, o sistema imunolgico exibe sinais dediminuio de competncia. Para alm disso, os estudos em que foi realizado um desafio aosistema imunolgico (com inoculao de vrus) revelaram de forma consistente que osprocessos infecciosos eram mais provveis nos sujeitos com maior experincia de stress (parauma reviso dos estudos sobre o risco de infeco respiratria superior e stress cf. Marsland,Bachen, Cohen, & Manuck, 2001).

    2.1.2. Estudo do efeito do Stress em contexto laboratorial

    De modo a avaliar, em contexto laboratorial, a resposta imunolgica a situaes destress, os investigadores pedem aos sujeitos para se envolverem em tarefas potencialmentestressantes, avaliando depois a resposta imunolgica. O contexto laboratorial extremamenterelevante em psiconeuroimunologia uma vez que cria situaes estandardizadas em que socontrolados factores potencialmente mediadores (diferenas individuais em outras respostasfisiolgicas; efeito do suporte social, etc.,). Entre as tarefas utilizadas, contam-se exerccios dearitmtica, tarefa de stroop, exposio pblica ou exposio a rudos intensos e incontrolveis.Os resultados dos estudos tm revelado que a participao nestas situaes altera onmero ea funo de um grande nmero de clulas do sistema imunolgico, diminuindo aimunocompetncia (e.g. Wang, Delahanty, Dougall & Baum, 1998; Naliboff, Benton, Solomon,Morley, & Fahey, 1991; Sieber, Rodin, Larson, Ortega, & Cummings, 1992; Gerritsen, Heijnen,Wiegant, Bermond, & Fridja 1996). Marsland, Bachen, Cohen, e Manuck (2001) ao reverem ainvestigao sobre o efeito do stress estudado em contexto laboratorial, chamam a ateno

    para o facto de algumas das mudanas ocorrerem apenas 5 minutos aps o incio do stressor;e ainda para a existncia de aparentes inconsistncias entre os resultados de alguns estudosque utilizam a medidas dos linfcitos NK, uma vez que em alguns estudos o seu nmeroaumenta e em outros diminui. Estes resultados devem-se a uma caracterstica de respostabifsica na produo destas clulas, cujo nmero comea por aumentar, e s depois diminuipara valores abaixo da baseline. Um terceiro aspecto relevado por Marsland, Bachen, Cohen e

  • 7/27/2019 EMOES E SISTEMA IMUNOLGICO

    7/19

    Emoes e sistema imunolgico Teoria, investigao e prtica Psicologia

    222213

    PSICOLOGIA: TEORIA, INVESTIGAO E PRTICA, 2002, 2, 207-225 Centro de Investigao em Psicologia, Universidade do Minho

    Manuck. (2001) ao fazerem a reviso dos estudos realizados em laboratrio, o facto de haveruma covariao entre a magnitude da activao do Sistema Nervoso Simptico e a variao naresposta imunolgica. Os sujeitos com reaco mais marcada a nvel das respostas simpticae imunitria tornam-se assim naqueles que so mais vulnerveis aos desafios do dia a dia.

    2.2. Estudo do efeito do humor sobre o funcionamento do sistema imunolgico

    A associao entre a depresso clnica e a imunosupresso foi estabelecida h muitotempo. Herbert e Cohen (1993), numa meta-anlise de 40 estudos sobre a relao entredepresso clnica e sistema imunolgico, verificaram que os resultados so consistentes epermitem concluir que os deprimidos exibem uma menor resposta de proliferao doslinfcitos; menor actividade dos linfcitos NK; e um menor nmero de clulas NA, B, T, Tauxiliadoras e T Supressoras / Citotxicas. Estas relaes so mais elevadas nos idosos esujeitos hospitalizados; e os estudos tm verificado que quando as pessoas recuperam dadepresso a actividade dos linfcitos NK aumenta de novo. Atendendo a que na depressomuitos comportamentos dos sujeitos ficam alterados, muitos estudos procuraram controlarcomportamentos potencialmente prejudiciais para o sistema imunolgico. Quando foramcontrolados os hbitos de exerccio, dietas, fumo, medicamentos, etc., os resultados foram osmesmos.

    Quando, em vez do efeito da depresso, foi avaliado o efeito do humor deprimido

    sobre o sistema imunolgico em amostras no clnicas, os resultados so muito semelhantesao que acontece na depresso: as meta-anlises revelaram os mesmos efeitos que adepresso clnica, nomeadamente menor actividade dos linfcitos NK e menor proliferao delinfcitos; mas o efeito menos significativo (cf. Herbert & Cohen, 1993).

    A relao entre funcionamento imunolgico e estados associados ao processo de lutofoi igualmente estudado, no contexto do estudo do efeito de estados emocionais negativossobre o sistema imunolgico. Os estudos realizados com pessoas em processo de lutopermitiram concluir que o seu sistema imunolgico est afectado: foi verificado que asmulheres que tinham ficado vivas recentemente tinham uma diminuio na funo das clulasT (Bartrop, Lazarus, Luchurst, Kiloh & Penny, 1977); ou uma actividade proliferativa inferior deNK do que as esposas de homens saudveis (Schleifer, Keller, Camerino, Thornton, & Stein,1983; Irwin, Daniels, Smith, Bloom & Weiner, 1987a). Estudos realizados por Kemeny, Weiner,Duran, Taylor, Visscher e Fahey (1995); Irwin, Daniels, Smith, Bloom e Weiner (1987b) e Linn,

    Linn e Jensen, (1984) encontraram resultados semelhantes, sendo a imunosupresso maiorquanto maior for o grau de humor negativo. As perdas por separao ou divrcio resultamigualmente em imunosupresso (Kiecolt-Glaser, Fisher, Ogrocki, Stout, Speicher, & Glaser,1987; Kiecolt-Glaser, Kennedy, Malkoff, Fisher, Speicher, & Glaser, 1988).

    Quando, em vez de olhar para efeito do humor negativo, se procura saber o efeito dohumor positivo sobre o sistema imunolgico, verifica-se que existem poucos estudos sobre o

  • 7/27/2019 EMOES E SISTEMA IMUNOLGICO

    8/19

    Emoes e sistema imunolgico Teoria, investigao e prtica Psicologia

    222214

    PSICOLOGIA: TEORIA, INVESTIGAO E PRTICA, 2002, 2, 207-225 Centro de Investigao em Psicologia, Universidade do Minho

    efeito do humor positivo no sistema imunolgico. Num estudo realizado sobre a relao entreacontecimentos do dia a dia e a quantidade de imunoglobulina A (IgA) em resposta a umantigene, foi verificado que esta era maior quando o humor do sujeito era positivo e menorquando o humor do sujeito era negativo (Stone, Cox, Valdimarsdottir, Jandorf & Neale, 1987;Stone, Neale, Cox, Napoli, Valdimarsdottir, & Kennedy-Moore, 1994). Curiosamente Futterman,Kemeny, Shapiro, e Fahey (1994) verificaram que a induo de humor positivo e negativo tinhaefeito diferenciado na resposta imunolgica: aps induo de humor positivo aumentava aproliferao de linfcitos e o contrrio acontecia face induo de humor negativo.

    Em suma, da reviso dos diferentes estudos que procuraram avaliar o efeito da

    depresso ou humor triste sobre o sistema imunolgico, pode-se concluir que o afecto negativoest relacionado com uma diminuio da sua competncia.

    2.3. Estudo do efeito das caractersticas da personalidade sobre o funcionamento dosistema imunolgico

    Desde h muito tempo que se tem associado caractersticas da personalidade com asade, mas no so muitos os estudos realizados directamente sobre o efeito decaractersticas da personalidade sobre o funcionamento do sistema imunolgico.

    A tendncia para o desnimo e o estilo pessimista foi relacionado com um piorfuncionamento do sistema imunolgico (e.g. Kamen-Siegel, Robin, Seligman, Dwyer & 1991),

    mas a caracterstica de personalidade mais estudada tem sido a represso/negao.As estratgias inibitrias, repressivas ou de negao, tm sido associadas ao

    aumento de sintomas fsicos, com mais visitas mdicas, a mais irregularidades do sistemanervoso autnomo e a mais perturbaes do sistema imunolgico. O efeito da represso dasemoes negativas tem vindo a ser salientado nos modelos psicossomticos. Schwartz (1990),por exemplo, relacionou a represso de emoes negativas com a susceptibilidade doena evrios autores sugeriram que a supresso de emoes negativas potencia o risco de cancro(Gross, 1989; Kune, Kune, Watson & Rahe, 1991; Shaffer, Graves, Swank & Pearson, 1987).Por exemplo Garssen e Goodkin (1999), verificaram que represso de emoes negativas e obaixo suporte social (dois factores que podem ocorrer associados) eram, para alm datendncia para o desnimo, factores de risco para o cancro.

    Os sujeitos introvertidos so mais susceptveis de contrair infeces respiratriassuperiores aps uma exposio viral (Broadbent, Broadbent, Phillpots, Wallace & 1984;

    Totman, Kiff, Reedy & Craig, 1980) e tm mais infeces periodontais (Manhold, 1953; cit. porCohen, 1994)

    Medidas directas sobre o sistema imunolgico revelaram que um nvel elevado derepresso estava relacionado com a supresso da resposta imunolgica nomeadamenteobservvel num nvel mais elevado do anticorpo do vrus do herpes (Esterling, Antoni, Kumar,& Schneiderman, 1990; Esterling, Antoni, Fletcher, Margulies, & Schneiderman, 1994). Cole e

  • 7/27/2019 EMOES E SISTEMA IMUNOLGICO

    9/19

    Emoes e sistema imunolgico Teoria, investigao e prtica Psicologia

    222215

    PSICOLOGIA: TEORIA, INVESTIGAO E PRTICA, 2002, 2, 207-225 Centro de Investigao em Psicologia, Universidade do Minho

    Kemeny (1997) verificaram que os homens seropositivos para HIV que utilizavam os estilos decoping mais repressivos, evitantes ou de negao, eram aqueles que tinham uma progressomais rpida da doena.

    Em suma, algumas caractersticas da personalidade, especialmente relacionadoscom a utilizao de estratgias repressivas para lidar com os problemas e emoes parecemestar relacionadas com mais problemas imunolgicos. Este resultado , como veremos,consistente com o efeito do suporte social sobre o sistema imunolgico, bem como aimportncia de elaborar as experincias negativas de modo a proteger este sistema.

    2.4. Estudo do efeito do suporte social sobre o sistema imunolgico

    O estudo da relao entre suporte social e sade tem uma longa histria, e algunsestudos prospectivos mostraram mesmo que a longevidade est relacionada com a pertena agrupos sociais fortes, sendo a percepo de suporte social um factor protector face astressores (cf. Cohen & Herbert, 1996). Os sujeitos com mais suporte so mais saudveis, tmmenos probabilidade de ficar emocionalmente perturbados e de ficar fisicamente doentes(Cohen & Willis, 1985). Este dado permite afirmar que o efeito do isolamento social em termosde sade comparvel ao efeito de outros factores de risco como fumar, presso sangunea,lipdios no sangue, obesidade e actividade fsica (House, Landis & Umberson, 1988).

    Um dos estudos prospectivos que foi realizado no final dos anos setenta avaliou arelao entre algumas caractersticas dos sujeitos, e o efeito de vrus da gripe sobre a sua

    sade, especificamente o desenvolvimento de alguns tipos de infeces (Totman, Kiff, Reedy,Craig, 1980). Para isso os autores inocularam sujeitos com um vrus de gripe e avaliaram ossintomas de infeco respiratria nos 6 meses seguintes, tendo verificado que as perdas anvel da actividade social nos trs meses anteriores constituam o melhor preditor do risco deinfeco. Um outro estudo que avaliou a gravidade e a frequncia de episdios de gripe emfuno da rede social encontrou um resultado que parece contradizer os modelos biolgicos:so os sujeitos com mais e melhores contactos sociais (situaes que normalmente soassociadas a risco aumentado) que tm os episdios de gripe mais leves e menos frequentes(Cohen, Doyle, Skoner, Bruce, & Gwaltney, 1997).

    Resultados que vo no mesmo sentido foram obtidos com outras populaes. Kiecolt-Glaser, Glaser, Williger, Stout, Messick, Sheppard, Ricker, Romisher, Briner, Bonnel, eDonnerberg, (1985) e Kiecolt-Glaser, Garner, Speicher, Penn e Glaser, (1984) verificaram queos estudantes com mais auto-relato de solido tm uma menor actividade de NK e um nvel

    mais elevado de anticorpo anti-vrus herpes; efeito semelhante ao encontrado em doentespsiquitricos internados, em que foi verificado que aqueles que relatavam mais solidodemonstravam uma menor actividade dos linfcitos NK (Kiecolt-Glaser, et al. 1984). Katcher,Brightman, Luborsky, e Ship (1973); Friedman, Katcher e Brightman, (1977); Manne e Sandler,(1984) e McLarnon e Kaloupek, (1988) verificaram igualmente que as pessoas com menoscompetncias sociais e/ou pouco suporte social tm mais episdios de herpes genital e oral;

  • 7/27/2019 EMOES E SISTEMA IMUNOLGICO

    10/19

    Emoes e sistema imunolgico Teoria, investigao e prtica Psicologia

    222216

    PSICOLOGIA: TEORIA, INVESTIGAO E PRTICA, 2002, 2, 207-225 Centro de Investigao em Psicologia, Universidade do Minho

    enquanto Kiecolt et al. (1987) verificaram que as mulheres separadas e divorciadas tm nvelmais elevado de anticorpo anti-vrus herpes, menor percentagem de linfcitos NK e menorproliferao dos linfcitos. Em outro estudo Kiecolt-Glaser, Kennedy, Malkoff, Fisher, Speicher,& Glaser (1988) encontraram que os homens separados e divorciados tm uma nvel maiselevado de anticorpo anti-vrus herpes, e mais infeces.

    Outros estudos que deram resultados que vo no mesmo sentido foram realizados porBaron, Cutrona, Hicklin, Russel, & Lubaroff (1990) que observaram que os cnjuges dedoentes com cancro com mais apoio social tm uma melhor actividade dos linfcitos NK emelhor resposta de proliferao dos linfcitos; Genest (1989) que pde constatar uma relao

    entre suporte social e a diminuio da probabilidade de artrite em situaes de stress; Thomas,Goodwin, e Goodwin (1985) ao constatar que idosos que relatam ter relaes ntimas tmmelhor resposta de proliferao dos linfcitos ou ainda Glaser, Kiecolt-Glaser, Bonneau,Malarkey e Hughes, (1992) que verificaram que os estudantes universitrios com maior suportesocial produziam mais anticorpo em resposta vacina da hepatite B.

    Em suma, como concluem McGuire e Kiecolt-Glaser (2000), as relaes interpessoaispositivas esto relacionadas com menores nveis de hormonas de stress (e.g. cortisol,catecolaminas), melhor resposta do sistema imunolgico, e diminuio do risco de contrairvrios tipos de infeco.

    O que vamos analisar a seguir pode contribuir para explicar a efeito robusto do suportesocial sobre a sade e o sistema imunolgico, bem como explicar porque que alguns estilosde personalidade em que predomina a negao ou represso emocional esto associados amais problemas de sade.

    3. IMPACTO DOS ACONTECIMENTOS DE VIDA EM FUNO DOSSIGNIFICADOS E DO TIPO DE PROCESSAMENTO

    A ideia base da conceptualizao e investigao sobre o efeito do tipo deprocessamento das experincias de vida sobre o equilbrio fsico a de que h formas deprocessamento das situaes (especialmente quando traumticas) que so mais eficazes doque outras; e que este processamento passa por uma srie de fases. Enquanto os estudosrealizados no mbito da primeira linha procuram averiguar de que modo a construo designificados sobre uma experincia afecta a sade, na segunda linha encontramos os estudossobre o efeito da expresso emocional.

    3.1. Acontecimentos de vida, construo de significados e sade

    Alguns autores tm sugerido que os acontecimentos traumticos confrontam o sujeitocom informao que inconsistente com o modo como normalmente organiza a informao eexigem da parte deste um trabalho para integrar a nova informao. Por exemplo Horowitz

  • 7/27/2019 EMOES E SISTEMA IMUNOLGICO

    11/19

    Emoes e sistema imunolgico Teoria, investigao e prtica Psicologia

    222217

    PSICOLOGIA: TEORIA, INVESTIGAO E PRTICA, 2002, 2, 207-225 Centro de Investigao em Psicologia, Universidade do Minho

    (1986), Janoff-Bulman (1989) e Silver, Boon e Stones (1983) defenderam que as experinciastraumticas so uma ameaa aos esquemas com que a pessoa organiza o mundo e a siprprio, pondo em causa as suas crenas bsicas sobre a existncia de um mundo previsvel ea sua dignidade e eficcia como participante da sociedade. Para lidar com essa ameaa necessrio reformular estas ideias e redefinir a si prprio e ao seu mundo. Isto implica umtrabalho activo de pensar quer sobre o acontecimento, quer sobre os pensamentos e sobre asemoes a ele associado (cf. Harber & Pennebaker, 1992).

    Bower, Kemeny, Taylor e Fahey (1998) sugerem que pensar/elaborar sobre umacontecimento stressante pode aumentar o sentido de mestria e a probabilidade de a pessoa

    sentir que tem controlo sobre a sua vida, aumentando a auto-estima. Para estes autoresencontrar um significado positivo para as experincias difceis um dos resultados potenciaisdeste processamento. Exemplos desta construo de significados so, segundo Taylor (1983)e Yalom (1980); uma redefinio das prioridades para a vida; aumento da sensao de viver nopresente; uma redefinio das relaes interpessoais especialmente pelo aumento deintimidade com os outros significativos; e uma maior apreciao pela fragilidade e preciosidadeda vida.

    A ideia de que esta construo de significado aumenta a adaptao psicolgica tem sidodefendida por vrios autores (e.g. Mendola, Tennen, Affleck, McCann, & Fitzgerald, 1990);tendo Afflect, Tennen, Croog e Levine (1987) encontrado um efeito sobre a sade: os sujeitosque reorganizaram a vida e perceberam benefcios do facto de terem sido vtimas de umataque cardaco (mudando os seus valores e filosofia de vida) revelaram menos probabilidadede ter um novo ataque e diminuram a morbilidade num follow upde 8 anos.

    Um estudo realizado por Bower, Kemeny, Taylor e Fahey, (1998) verificou que oprocessamento cognitivo e a procura de significado aps a morte de um amigo estrelacionado com um menor declnio das clulas CD4 T e maior sobrevida entre um grupo desujeitos contaminados com HIV. Exemplos de indicadores de processamento cognitivo sofrases como: Eu tenho pensado muito nele como uma pessoa, um amigo. Mais importanteainda, tenho pensado nele como uma vida. Exemplos de descoberta de significado encontram-se nas afirmaes seguintes Eu agora aprecio muito mais os amigos que tenho e tornei-meum amigo mais ntimo ou de certa fora a sua morte levou-me a acreditar mais firmemente naqualidade da vida e levou-me a procurar viv-la de um modo mais satisfatrio.

    Em suma, alguns estudos sugerem que face a experincias que dasafiam asconcepes com que o sujeito antes organizava o mundo, a capacidade de dar um significadopositivo experincia parece estar relacionada com efeitos positivos a nvel da sade e dosistema imunolgico.

    3.2. Acontecimentos de vida, expresso emocional5e sade

    Ainda que o trabalho individual de pensar e elaborar os significados dos acontecimentostraumticos seja uma dimenso importante ou mesmo suficiente para alguns sujeitos, na

  • 7/27/2019 EMOES E SISTEMA IMUNOLGICO

    12/19

    Emoes e sistema imunolgico Teoria, investigao e prtica Psicologia

    222218

    PSICOLOGIA: TEORIA, INVESTIGAO E PRTICA, 2002, 2, 207-225 Centro de Investigao em Psicologia, Universidade do Minho

    interaco com os outros e na elaborao dessas experincias atravs da linguagem que asrespostas fisiolgicas e emoes podem ser melhor articuladas e integradas. Ou seja, a formamais natural de dar sentido e integrar os acontecimentos de vida atravs da utilizao dalinguagem e da partilha com outros. Falar permite a comparao social, integrar pontos de vistaalternativos e, especialmente, contribuir para a organizao das imagens e das respostasfisiolgicas e emocionais sob uma forma narrativa de modo a dar continuidade e assimassimilar as dimenses cognitivas com as emocionais num todo articulado. Deste modo asrespostas fisiolgicas e emocionais relacionados com uma experincia, muitas vezesrepetidamente activadas de forma catica sob a forma de intruso ou activao emocional

    ficam sob o controlo do sujeito autor, e no apenas vtima, da experincia.O estudo da relao entre expresso emocional e sade fsica foi desenvolvido de umaforma sistemtica desde o incio dos anos oitenta por Pennebaker. Numa sntese agorapublicada (Smyth & Pennebaker, 2001) so sistematizados os resultados da investigaoproduzidos nos ltimos vinte anos e que do resposta questo que constitui o ttulo doprprio trabalho: What are the health effects of disclosure?. sobre esses efeitos, bem comodos efeitos da inibio das experincias de vida, que trataremos de seguida.

    Sendo falar a forma mais natural de lidar com uma experincia traumtica, h, noentanto, situaes em que por razes relacionadas com o tipo de experincia vivida ou ocontexto interpessoal, o sujeito no encontra condies para falar. Alguns traumas dificultam apartilha por causarem embarao, humilhao, vergonha ou mesmo culpa ao prprio sujeito.Entre este tipo de experincias contam-se, por exemplo, ser vtima de incesto, fazer um abortovoluntrio, ou cometer um acto ilcito. Pode ainda acontecer que devido ao sofrimento

    associado experincia, ela inibida uma vez que o sujeito no se sente capaz de lidar comas suas prprias emoes. Outras vezes o contexto interpessoal que no facilita porque apessoa antecipa crtica ou punio por parte dos outros, ou h dificuldade em encontrarpessoas disponveis para ouvir. Esta situao pode ocorrer pelo sofrimento que a situaoproduz no ouvinte 6, mas tambm pode verificar-se em situaes de desastres naturais em quetoda a comunidade afectada e cada um est a tentar lidar com o seu prprio sofrimento,estando, por isso, pouco disponvel para os outros. Nestes casos existe uma inibio que podeser prolongada, durando meses ou mesmo anos.

    Como refere Pennebaker (1992), embora a inibio seja adaptativa e saudvel umavez que para viver socialmente aprende-se a inibir impulsos, emoes e comportamentos, esteprocesso desadaptativo quando a pessoa precisa falar sobre um acontecimento e no temcondies para o fazer. Neste caso a inibio exige esforo, provoca ansiedade e ameaa asade, tornando-se um processo activo, que pode ser mais ou menos consciente e esforado

    de modo a pr de parte pensamentos, comportamentos ou emoes. Sabe-se que no falaraumenta a interferncia cognitiva, sendo os processos intrusivos mais frequentes nosacontecimentos no adequadamente assimilados em que se mantm activadas as respostasfisiolgicas e emoes a ela associadas. Por exemplo, as pessoas que no podem falarpensam mais vezes, sonham mais e mantm o trauma mais tempo activo. A investigao

  • 7/27/2019 EMOES E SISTEMA IMUNOLGICO

    13/19

    Emoes e sistema imunolgico Teoria, investigao e prtica Psicologia

    222219

    PSICOLOGIA: TEORIA, INVESTIGAO E PRTICA, 2002, 2, 207-225 Centro de Investigao em Psicologia, Universidade do Minho

    demostrou mesmo que se se pedir a algum para inibir um pensamento ele torna-se maisfrequente e a concentrao diminui (Gilbert, Krull & Pelham, 1987).

    A relao entre inibio e perturbao fsica foi j estabelecida. A inibio exige trabalhofisiolgico e est associada ao aumento da actividade do sistema nervoso autnomo como oaumento da conductividade da pele, activao do sistema nervoso central nas regies do septoe hipocampo, e activao nas reas corticais (cf. reviso realizada por Pennebaker,1988).Quando a inibio ocorre por perodos de tempo muito longos, conduz a mais episdios dedoena e dificuldades imunolgicas. Por exemplo, Pennebaker (1989) e Pennebaker eSusman, (1988) verificaram que os sujeitos que tiveram um trauma na infncia sobre o qual

    no puderam falar tm mais probabilidade de ficar doentes do que aqueles que passarampelas mesmas experincias mas puderam partilh-las. Este resultado est de acordo com oque antes vimos acerca dos sujeitos com estilo de personalidade mais inibidos e/ou com menorrede de relaes interpessoais, que tm mais problemas de sade.

    Para testar o efeito da expresso sobre a sade e mais exactamente sobre o sistemaimunolgico, Pennebaker, Kiecolt-Glaser & Glaser (1988) pediram a sujeitos para escreverquatro dias seguidos sobre situaes traumticas da sua vida, enquanto outros escreviamsobre situaes triviais. Os sujeitos que escreveram sobre situaes traumticas no sdiminuram os valores de activao do sistema nervoso autnomo e o nmero de consultasmdicas, como a avaliao da sua funo imunolgica revelou uma melhoria da eficcia doslinfcitos T. Num estudo realizado por Petrie, Booth, Pennebaker, Davidson e Thomas (1995)em que existiram igualmente dois grupos com a tarefa de escreveram ou sobre situaestraumticas ou sobre assuntos triviais, verificou-se que escrever sobre situaes

    emocionalmente dolorosas estava associado a uma resposta mais eficaz do sistemaimunolgico, medido por um maior nmero de anticorpos face vacina da hepatite B. Maisrecentemente Petrie e Pennebaker (1998) verificaram que os sujeitos que escreveram durante3 dias seguidos acerca das suas emoes revelaram um aumento significativo de linfcitosCD4, enquanto os que s puderam relatar os factos sem revelar pensamentos ou emoesdiminuram os nveis de linfcitos CD3.

    Em suma, este conjunto de estudos parece indicar que o processamento das situaestraumticas passa por uma srie de fases, havendo tarefas, como escrever ou falar sobre osacontecimentos e as emoes a eles associados, que parecem contribuir para amortecer oefeito potencialmente nefasto associado a essas experincias.

    Mas no podemos deixar de lembrar que sendo a relao entre partilha e sadeextremamente importante, ela em alguns casos independente do suporte social. ComoPennebaker (Pennebaker & Susman, 1988; Pennebaker, 1992) afirma, ter uma experincia

    traumtica e no poder partilh-la quando se tem amigos ainda mais exigente do ponto devista da inibio e, por isso, potencialmente mais perturbador.

  • 7/27/2019 EMOES E SISTEMA IMUNOLGICO

    14/19

    Emoes e sistema imunolgico Teoria, investigao e prtica Psicologia

    222220

    PSICOLOGIA: TEORIA, INVESTIGAO E PRTICA, 2002, 2, 207-225 Centro de Investigao em Psicologia, Universidade do Minho

    CONCLUSO

    Partindo de uma concepo do sistema imunolgico como um sistema integrado com ossistemas endcrino e nervoso, e por isso sensvel s emoes, neste artigo procuramossistematizar a investigao sobre algumas das condies que esto relacionadas com aimunocompetncia. Os resultados da investigao realizada nos ltimos vinte anos permiteconcluir acerca das consequncias negativas para o sistema imunolgico do stress, dasemoes negativas, dos estilos de personalidade repressivos e do isolamento social.

    A investigao sobre a construo de significado e o processamento das experincias de

    vida mais adversas tm revelado que o modo como estas experincias so organizadas eprocessadas pode ser mais ou menos eficaz, quer do ponto de vista psicolgico, quer dasade. Os resultados recentes sobre a relao entre tipo de processamento e respostaimunolgica vm contribuir para explicar este efeito e, tal como em relao a outros factorespsicolgicos (stress, depresso, represso, isolamento), confirmam o efeito j longamenteobservado destas condies sobre os problemas fsicos.

    Assim, se no se pode afirmar que as alteraes observadas directamente sobre osistema imunolgico implicam necessariamente alteraes nas condies de sade, a verdade que todas estas dimenses foram associadas ao aumento de sintomas mdicos.Provavelmente o estudo dos processos imunolgicos ajuda a esclarecer o porqu destaassociao entre mente e corpo so.

    Ainda que este trabalho se centre nas condies que afectam negativamente o sistemaimunolgico, no podemos deixar de referir algumas das condies que parecem estar

    relacionadas com a promoo do seu funcionamento.Se o stress est relacionado com problemas imunolgicos, parece bvio que as

    estratgias que procuram reduzir o stress tero um efeito positivo sobre o seu funcionamento.Estudos sobre o efeito do relaxamento, gesto do stress, e grupos de suporte mostraram queestas actividades tm um efeito positivo sobre a sade (cf. Cohen & Herbert, 1996); e algunsestudos mostraram um impacto positivo directo sobre o sistema imunolgico. Por exemplo,Kielcolt-Glaser et al., (1985) verificou que a prtica do relaxamento aumenta as NKe clulas Tnum grupo geritrico. Mais recentemente Fawzy, Fawzy, Hyun, Elashoff & Guthrie (1993)verificaram que sujeitos com melanoma maligno que foram submetidos a um tratamento queinclua gesto do stress e estratgias de coping, revelaram um melhor funcionamento dosistema imunolgico e maior sobrevida.

    Se a psicoterapia for entendida como suporte social e uma oportunidade para aceleraro processamento das experincias, ela ter, concerteza, um efeito positivo sobre o

    funcionamento imunolgico. Lidar com acontecimentos negativos exige a utilizao deestratgias de coping que passam por uma srie de fases mais ou menos previsveis (e.g.,teoria do luto de Kubler-Ross, 1969) e a psicoterapia constitui uma forma de realizar as tarefasde modo a diminuir as consequncias negativas. De facto a psicoterapia pode ser concebidacomo forma de acelerar o processo de lidar com as experincias negativas e prevenir ospotenciais efeitos nefastos de uma determinada experincia. Os estudos de Pennebaker, ao

  • 7/27/2019 EMOES E SISTEMA IMUNOLGICO

    15/19

    Emoes e sistema imunolgico Teoria, investigao e prtica Psicologia

    222221

    PSICOLOGIA: TEORIA, INVESTIGAO E PRTICA, 2002, 2, 207-225 Centro de Investigao em Psicologia, Universidade do Minho

    salientar a importncia da expresso emocional, constituem uma forma de validao daeficcia da psicoterapia e, provavelmente, explicam porque que terapias muito diversasparecem ter efeitos muito semelhantes. Curiosamente estes efeitos podem ser to importantesao nvel do bem estar psicolgico como fsico.

    NOTAS

    1. George Solomon (1964) utilizou pela primeira vez apalavra psicoimunologia para se referir s relaes

    entre stress e problemas fsicos. Nos anos setentadestacaram-se os trabalhos de Ader e Cohen (1975)sobre a influncia do condicionamento clssico nosistema imunolgico. Ao observar que as respostasimunolgicas poderiam ser modificadas porcondicionamento foi pela primeira vez estabelecido oenvolvimento das vias neuroendcrinas nas respostasimunolgicas.

    2. Esta proteco assegurada por clulas do sistemaimunolgico, especialmente glbulos brancos como osneutrfilos, moncitos e linfcitos (Natural Killer Cell -NK, clulas T e clulas B).

    3. Para medir a eficincia do sistema imunolgicoexistem mtodos enumerativos e mtodos funcionaisde vrios sub-grupos de clulas imunolgicas. Nostestes enumerativos faz-se a contagem do nmero de

    linfcitos T, linfcitos B, macrfagos e linfcitos NKem circulao. Nas avaliaes funcionais analisadaa capacidade de proliferao dos linfcitos T e B, ou acitoticidade dos linfcitos NKquando estimulados porum antigene. Uma medida diferente consiste emavaliar a funo imunolgica directamente noorganismo, por exemplo atravs da medida de umanticorpo face a um antigene (como a vacina Hepatite B) partindo do princpio que quanto maisanticorpo, maior imunocompetncia. (cf. Marsland,Bachen, Cohen & Manuck, 2001).

    4. Um dos tipos de infeco mais estudada nainvestigao da relao entre emoes, sistemaimunolgico e sade so as infeces do aparelhorespiratrio superior, tendo os estudos prospectivosrevelado de modo consistente que quanto maior mal

    estar, maior a probabilidade de desenvolver infeco(e.g. Cohen et al., 1998)5. Note-se que expresso significa aqui revelao que,

    como referem Smyth e Pennebaker, (2001), envolvenecessariamente a utilizao da linguagem e noapenas a expresso por meios no verbais comochorar ou gritar.

    6. Pennebaker (1992) verificou que os pais que tinhamperdido filhos de acidente ou doena sbita relatavamque os amigos se afastavam deles e tinhamdificuldade de encontrar confidentes com quem falar

    sobre esta experincia traumtica. Esta resposta podeestar relacionada com o facto de ouvir histriatraumticas ser em si traumatizante, que perturbafisiologicamente o ouvinte. (cf. Pennebaker, Barger &Tiebout, 1989).

    REFERNCIAS

    Ader, R. & Cohen, N. (1975). Behaviorally conditionedimmunosupression. Psychosomatic Medicine, 37, 333-

    340.Ader, R. (1983). Developmental psychoneuroim-munology. Developmental Psychobiology, 16, 251-267.

    Affleck, G., Tennen, H., Croog, S. & Levine, S. (1987).Causal attribution, perceived benefits, and morbidityafter a heart attack: An 8-year study. Journal ofConsulting and C linical Psychology, 55, 29-35.

    Baron, R.S., Cutrona, C.E.; Hicklin, D.; Russel, D.W. &Lubaroff, D.M. (1990). Social Support and immunefunction among spouses of cancer patients. Journal ofPersonality and Social Psychology, 59, 344-352.

    Bartrop, R., Lazarus, L., Luchurst, E., Kiloh, L. & Penny,R. (1977). Depressed lymphocyte function afterbereavement. Lancet, 1, 834-836.

    Bower, J.E.; Kemeny, M.E.; Taylor, S.E. & Fahey, J.L.(1998). Cognitive processing, discovery of meaning,CD4 decline, and AIDS-related mortality amongbereaved HIV-seropositive men. Journal of Consultingand Clinical Psychology, 66, 979-986.

    Broadbent, D.E., Broadbent, M.H., Phillpots, R.J.,Wallace, J. (1984). Some further studies in theprediction of experimental colds in volunteers by

  • 7/27/2019 EMOES E SISTEMA IMUNOLGICO

    16/19

    Emoes e sistema imunolgico Teoria, investigao e prtica Psicologia

    2222

    PSICOLOGIA: TEORIA, INVESTIGAO E PRTICA, 2002, 2, 207-225 Centro de Investigao em Psicologia, Universidade do Minho

    psychological factors. Journal of PsychosomaticResearch, 28, 511-523.

    Cohen, S. & Herbert, T.B. (1996). Health Psychology:Psychological factors and physical disease from aperspective of human psychoneuroimmunology.Annual Review of Psychology, 47, 113-142.

    Cohen, S. & Wills, T.A. (1985). Stress, social supportand the buffering hypothesis. Psychological Bulletin,2,310-357.

    Cohen, S. (1994). Psychosocial influences on Immunityand infectious disease in humans. In R. Glaser & J.Kiecolt-Glaser (Eds.), Handbook of human stress andimmunity(pp.301-320). New York: Academic Press.

    Cohen, S., Doyle, W.J.; Skoner, D.P.; Bruce, S.R. &Gwaltney, J.M. (1997). Social ties and susceptibility tothe common cold. Journal of the American MedicalAssociation, 277, 1940-1944.

    Cohen, S., Tyrrell, D.A.J. & Smith, A.J. (1991).Psychological stress and susceptibility to the commoncold. New England Journal of Medicine, 325, 606-612.

    Cohen, S., Tyrrell, D.A.J. & Smith, A.J. (1993). Negativelife events, perceived stress, negative affect, andsusceptibility to the common cold. American Journal ofPublic Health, 83, 1277-1283.

    Cole, S.W. & Kemeny, M.E. (1997). Psychobiology ofHIV infection. Critical Reviews in Neurobiology, 11,289-321.

    Dohrenwend (1982). Psychological implications of

    nuclear accidents: The case of three Mille Island.Bulletin of Academic Medicine, 59, 1060-1076.

    Esterling, B.A.; Antoni, M.H.; Fletcher, M.A.; Margulies,S. & Schneiderman, N. (1994). Emotional disclosurethrough writing or speaking modulates latent Epstein-Barr virus antibody titers. Journal of Consulting andClinical Psychology, 62, 130-140.

    Esterling, B.A.; Antoni, M.H.; Kumar, M. &Schneiderman, N. (1990). Emotional repression,stress disclosure responses, and Epstein-Barr viralcapsid antigene titers. Psychossomatic Medicine, 52,397-410.

    Fawzy, F.I., Fawzy, N.W., Hyun, C.S., Elashoff, R. &Guthrie, D. (1993). Malignant melanoma: effects of anearly structuredpsychiatric intervention, coping, andaffective state on recurrence and survival six years

    later. Archives of General Psychiatry, 50, 681-689.Felten, D.L., Felten, S.Y., Carlson, S.L., Olschowka, J.A.,

    Livnat, S. (1985). Noradrenergic sympatheticinnervation of lymphoid tissue. Journal of Immunology,135, 75-765.

    Felten, S.Y. & Olschowka, J. (1987). Noradrenergicsympathetic innervation of the spleen: II. Tyrosine

    hydroxylase (TH)-positive nerve terminals for synapticlike contacts on lymphocytes in the splenic white pulp.Journal of Neuroscience Research, 18, 37-48.

    Friedman, E., Katcher, A.H. & Brightman, V.J. (1977).Incidence of recurrent herpes labialis and upperrespiratory infection: a prospective study of theinfluence of biologic, social and psychologicalpredictors. Oral Surgery, Oral Medicine and OralPathology, 43, 873-878.

    Futterman, A.D.; Kemeny, M.E.; Shapiro, D.; Fahey, J.L.(1994). Immunological and physiological changesassociated with induced positive and negative mood.Psychossomatic Medicine, 56, 499-511.

    Garssen, B. & Goodkin, K. (1999). On the role ofimmunological factors as mediators betweenpsychosocial factors and cancer progression.Psychiatry Research, 85,51-61.

    Gerritsen, W., Heijnen, C.J., Wiegant, V.M., Bermond, B.& Fridja, N.H. (1996). Experimental social fear:Immunological, hormonal, and autonomicconcomitants. Psychosomatic Medicine, 58, 273-286.

    Gilbert, D.T.; Krull, D.S. & Pelham, B.H. (1987). Ofthoughts unspoken: Behavioral inhibition and socialinference. Journal of Personality and SocialPsychology, 55, 685-694.

    Glaser, R., Kiecolt-Glaser, J.K., Stout, J.C., Tarr, K.L.,Speicher, C.E. & Holliday, J.E. (1985) Stress relatedimpairments in cellular immunity. Psychiatry Research,

    16, 233-239.Glaser, R., Kiecolt-Glaser, J.K.; Bonneau, R.H.;

    Malarkey, W.; Kennedy, S. & Hughes, J. (1992). Stressinduced modulation of immune response torecombinant hepatitis B vaccine. PsychossomaticMedicine, 54, 22-29.

    Glaser, R., Kiecolt-Glaser, J.K.; Speicher, C.E. &Holliday, J.E. (1985). Stress, loneliness, and changesin herpes virus latency. Journal of BehavioralMedicine, 8,249-260.

    Glaser, R., Lafuse, W.P., Bonneau, R.H.; Atkinson, C. &Kiecolt-Glaser, J.K. (1993). Stress-associatedmodulation of proto-oncogene expression in humanperipheral blood leukocytes. Behavioral Neuroscience,107, 525-529.

    Glaser, R., Pearson, G.R., Bonneau, R.H.; Esterling,

    B.A.; Atkinson, C. & Kiecolt-Glaser, J., (1993). Stressand the memory T-cell response to the Epstein-Barrvirus in health medical students. Health Psychology,12, 435-442.

    Glaser, R., Pearson, G.R., Jones, J.F., Hillhouse, J.,Kennedy, S., Mao, H. & Kiecolt-Glaser, J., (1991).

  • 7/27/2019 EMOES E SISTEMA IMUNOLGICO

    17/19

    Emoes e sistema imunolgico Teoria, investigao e prtica Psicologia

    2223

    PSICOLOGIA: TEORIA, INVESTIGAO E PRTICA, 2002, 2, 207-225 Centro de Investigao em Psicologia, Universidade do Minho

    Stress-related activation of Epstein-Barr virus. Brain,Behavior, and Immunity, 5, 219-232.

    Glaser, R., Rice, J. Sheridan, J. Fertel, R. Stout, J.,Speicher, C., Pinsky, D., Kotur, M., Post, A. Beck, M,& Kiecolt-Glaser, J. (1987). Stress-related immunesuppression: Health implications. Brain, Behavior, andImmunity, 1, 7-20.

    Glaser, R.; Rice, J.; Speicher, C., Stout, J., & Kiecolt-Glaser, J. (1986). Stress depresses interferonproduction by leukocytes concomitant with a decreasein natural Killer cell activity. Behavioral Neuroscience,100, 675-678.

    Goodkin, K., Feaster, D.J., Tuttle, R., Blaney, N.T.,Kumar, M., Baum, M.K, Shapshak, P., & Fletcher,M.A. (1996). Bereavement is associated with time-dependent decrements in cellular immune function inasymtomatic human immunodeficiency virus Type 1seropositive homosexual men. Clinical Diagnosticsand Laboratory Immunology, 3, 109-118.

    Gross, J. (1989). Emotional expression in cancer onsetand progression. Social Science and Medicine, 28,1239-1248.

    Harber, K.D. & Pennebaker, J.W. (1992). Overcomingtraumatic memories. In S. Christianson (Ed.), Thehandbook of emotion and memory. Research andtheory. (pp. 359-387). New Jersey: Lawrence ErlbaumAssociates.

    Herbert, T.B. & Cohen, S. (1993). Depression and

    immunity: a meta-analytic review. PsychologicalBulletin,113, 474-486.

    Holmes, T. H. & Rahe, R.H. (1967). The SocialReadjustment Rating Scale. Journal of PsychosomaticResearch, 52, 946-955.

    Horowitz, M. J. (1986). Stress response syndromes(2nded.). New York: Jason Aronson.

    House, J.S.; Landis, K.R. & Umberson, D. (1988). Socialrelationships and health. Science, 241, 540-545.

    Irwin, M.; Daniels, M., Smith, T.L.; Bloom, E. & Weiner,H. (1987a). Impaired natural killer activity duringbereavement. Brain and Behavior Immunology,1, 98-104.

    Irwin, M.; Daniels, M., Smith, T.L.; Bloom, E. & Weiner,H. (1987b). Life events, depressive symptoms, andimmune function. American Journal of Psychiatry, 144,

    437-441.Jabaaij, L.; Grosheid, P.M.; Heijink, R.A.;

    Duivenvoorden, H.J.; Ballieux, R.E.; Vingerhoets,A.J.J.M. (1993). Influence of perceived psychologicalstress and distress on antibody response to low doserDNA hepatitis B vaccine. Journal of PsychossomaticResearch, 37, 361-369.

    Janoff-Bulman, R. (1989). Assumptive worlds and thestress of traumatic events. Applications of the schemeconstruct. Social Cognition, 7, 113-136.

    Kamen-Siegel, L.; Robin, J.; Seligman, MEP.; Dwyer, J.(1991). Explanatory style and cell-mediated immunityin elderly men and women. Health Psychology, 10,229-235.

    Kanner, A.D.; Coyne, J.C.; Schaefer, C. & Lazarus, R.S.(1981). Comparison of two modes of stressmeasurements: daily hassles and uplifts versus majorlife events. Journal of Behavioral Med icine, 4, 1-39.

    Katcher, A.H., Brightman, V.J., Luborsky, L. & Ship I.(1973). Prediction of the incidence of recurrent herpeslabialis and systemic illness from psychologicalmeasures. Journal of Dental Research, 52, 49-58.

    Kemeny, M.E. & Gruenewald, T.L. (1999).Psychoneuroimmunology update. Seminar ofGastrointestinal Diseases, 10, 20-29.

    Kemeny, M.E., Weiner, H.,Duran, R.,Taylor, S.E.,Visscher, B. & Fahey, J.L. (1995). Immune systemchanges after the death of a partner in HIV-positivegay men. Psychosomatic Medicine, 57, 547-554.

    Kiecolt-Glaser, J.; Page, G.G.; Marucha, P.T.;MacCallum, R.C. & Glaser, R. (1998). Psychologicalinfluences on surgical recovery. AmericanPsychologist, 53, 1209-1218.

    Kiecolt-Glaser, J.K., Fisher, L., Ogrocki, P., Stout, J.C.,Speicher, C.E. & Glaser, R. (1987). Marital quality,

    marital disruption and immune function.Psychosomatic Medicine, 49, 13-34.

    Kiecolt-Glaser, J.K.; Garner, W.; Speicher, C.E.; Penn,G.M.; Holliday, J. & Glaser, R. (1984). Psychosocialmodifiers of immunocompetence in medical students.Psychossomatic Medicine, 46, 7-14.

    Kiecolt-Glaser, J.K.; Glaser, R., Williger, D. Stout, J.Messick, G., Sheppard, S.,Ricker, D.; Romisher, S.C.;Briner, W.; Bonnel, G., & Donnerberg, R. (1985).Psychosocial enhancement of immunocompetence ina geriatric population. Health Psychology, 4, 25-41.

    Kiecolt-Glaser, J.K.; Kennedy, S.; Malkoff, S.; Fisher, L.Speicher, C.E.& Glaser, R. (1988). Marital discord andimmunity in males. Psychossomatic Medicine, 50,213-229.

    Kiecolt-Glaser, J.K.; Malarkey, W.B.; Chee, M.; Newton,

    T.; Cacioppo, J.T (1993). Negative behavior duringmarital conflict is associated with immunological down-regulation. Psychossomatic Medicine, 55, 395-409.

    Kiecolt-Glaser, J.K; Glaser, R. (1987). Psychologicalinfluences on herpes virus latency. In E. Kurstack, Z.J.Lipowski, P.V. & P.V. Morozov (Eds.), Viruses,

  • 7/27/2019 EMOES E SISTEMA IMUNOLGICO

    18/19

    Emoes e sistema imunolgico Teoria, investigao e prtica Psicologia

    2224

    PSICOLOGIA: TEORIA, INVESTIGAO E PRTICA, 2002, 2, 207-225 Centro de Investigao em Psicologia, Universidade do Minho

    immunity and mental disorders (pp. 403-411). NewYork: Plenum.

    Kubler-Ross, E. (1969). On death and dying. New York:Plenum.

    Kune, S. Kune, G.A., Watson, L.F. & Rahe, R,H. (1991).Recent life change and large bowel cancer. Data fromthe Melbourne Colorectal Cancer Study. Journal ofClinical Epidemiology, 44, 57-68.

    Langer, E.J. & Rodin, J. (1976). The effects of choiceand enhanced personal responsibility for the aged: afield experimental in a institutional setting. Journal ofPersonality and Social Psychology, 34,191-198.

    Linn, M. W., Linn, B.S. & Jensen, J. (1984). Stressfulevents, dysphoric mood, and immune responsiveness.Psychology Reports, 54, 219-222.

    Manne, S. & Sandler, I.N. (1984). Coping and adjustmentto genital herpes. Journal of Behavioral Medicine, 7,391-410.

    Marsland, A.L., Bachen, E.A., Cohen, S. & Manuck, S.B.(2001). Stress, immunity and susceptibility toinfectious disease. In A. Baum, T.A. Revenson & J.E.Singer (Eds.), Handbook of Health Psychology (pp.683-695). London: Lawrence Erlbaum Associates.

    McGuire, L. & Kielcolt-Glaser, J.K. (2000). Interpersonalpathways to health. 57,136-139

    McKinnon, W., Weisse, C.S., Reynolds, C.P.; Bowles,C.A. & Baum, A. (1989). Chronic stress, leukocytesubpopulations and humoral response to latent

    viruses. Health Psychology, 8, 389-402.McLarnon, L.D. & Kaloupek, D.G. (1988). Psychological

    investigation of genital herpes recurrence: prospectiveassessment and cognitive-behavioral intervention for achronic physical disorder. Health Psychology, 7, 231-402.

    Mendola, R., Tennen, H., Affleck, G. McCann, L. &Fitzgerald, R. (1990). Appraisal and adaptation amongwomen with impaired fertility. Cognitive Therapy andResearch, 14, 79-93.

    Naliboff, B.D., Benton, D., Solomon, G.F., Morley, J.E. &Fahey, J.L. (1991). Immunological changes in youngand old adults during brief laboratory stress.Psychosomatic Medicine, 53, 121-132.

    Pennebaker, J.W. & Susman, J. (1988). Disclosure oftraumas and psychosomatic processes. Social

    Science and Medicine, 26, 327-333.Pennebaker, J.W. (1989). Confession, inhibition and

    disease. In L. Berkowitz (ed.), Advances inexperimental social psychology (vol.22, pp. 211-244).New York: Academic Press.

    Pennebaker, J.W. (1992). Inhibition as the linchpin ofhealth. H.S. Friedman (Ed.). Hostility, coping and

    health. (pp.127-139). Washington, AmericanPsychiatric Association.

    Pennebaker, J.W.; KiecoltGlaser, J.K. & Glaser, R.(1988). Disclosure of trauma and immune function:Health implications for psychotherapy. Journal ofConsulting and C linical Psychology,56, 239-245.

    Petrie, K.J.; Booth, R.J. & Pennebaker, J.W. (1998). Theimmunological effects of thought suppression. Journalof Personality and Social Psychology, 75, 1264-1272.

    Petrie, K.J.; Booth, R.J.; Pennebaker, J.W.; Davidson,K.P. & Thomas, M.G. (1995). Disclosure of trauma andimmune response to a hepatitis vaccination program.Journal of Consulting and Clinical Psychology, 63,787-792.

    Rabin, B.S.; Cohen, S.; Ganguli, R.; Lysle, D.T. &Cunnick, J.E. (1989). Bidirectional interaction betweenthe central nervous system and immune system.Critical Review of Immunology, 9, 279-312.

    Schedlowski, M.; Jacobs, R.; Stratmann, G., Richter, S.;Hadicke, A.; Tewes, U., Wagner, T.O. & Schmidt, R.E.(1993). Changes of natural killer cells during acutepsychological stress. Journal of Clinical Immunology,13, 119-126.

    Schleifer, S.J., Keller, S.E., Camerino, M., Thornton, J.C.,& Stein, M. (1983). Suppression of lymphocytestimulation following bereavement. Journal ofAmerican Medical Association, 250, 374-377.

    Schneiderman, L. & Baum, A. (1992). Acute and chronic

    stress and the immune system. In N. Schneiderman,P. McCabe & A. Baum (Eds.). Perspectives inBehavioral Medicine (pp.1-25). Hillsdale, N.J., N.J.:Erlbaum.

    Schwartz, G.E. (1990). Psychobiology of repression andheath: A systems approach. In J.L. Singer (Ed.),Repression and health: A systems approach. In J.L.Singer (Ed.), Repression and dissociation (pp. 405-434). Chicago: University of Chicago Press.

    Segerstrom, S.C., Solomon, G.F., Kemeny, M.E., &Fahey, J.L. (1998). Relationship of worry to immunesequelae of the Nortridge earthquake. Journal ofBehavioral Medicine, 21, 433-450.

    Selye, H. (1976). The stress of life. New York: McGraw-Hill

    Shaffer, J.W.; Graves, P.L., Swank, R.T. & Pearson, T.A.

    (1987). Clustering of personality in youth and thesubsequent development of cancer among physicians.Journal of Behavioral Medicine, 10, 441-447.

    Sieber, W. J., Rodin, J., Larson, L. Ortega, S.,. &Cummings, N. (1992). Modulation of human naturalkiller cell activity by exposure to uncontrollable stress.Brain, Behavior and Immunity, 6, 141-156.

  • 7/27/2019 EMOES E SISTEMA IMUNOLGICO

    19/19

    Emoes e sistema imunolgico Teoria, investigao e prtica Psicologia

    2225

    Silver, R.C., Boon, C. & Stones, M.H. (1983). Searchingfor meaning in misfortune: Making sense of incest.Journal of Social Issues, 39, 81-102.

    Smith, J.M. & Pennebaker,J.W. (2001). What are thehealth effects of Disclosure? In A. Baum, T.A.Revenson & J.E. Singer (Eds.), Handbook of healthpsychology. (pp. 339-348). London: LawrenceErlbaum Associates.

    Spratt, M.L. & Denney, D.R. (1991). Immune variables,depression, and plasma cortisol over time in suddenlybereaved parents. Journal of Neuropsychiatry andClinical Neuroscience,3, 299-306.

    Stein, M. & Miller, A.H. (1993). Stress, the hypothalamic-pituitary-adrenal axis, and immune function. AdvancedExperimental Medicine Biology, 335, 1-5.

    Stone, A.A.; Cox, D.S.; Valdimarsdottir, H.; Jandorf, L. &Neale, J.M. (1987). Evidence that secretory IgAantibody is associated with daily mood. Journal ofPersonality and Social Psychology, 52, 988-993.

    Stone, A.A.; Neale, J.M.; Cox, D.S.; Napoli, A.;Valdimarsdottir, H. & Kennedy-Moore, E. (1994). Dailyevents are associated with a secretory immuneresponse to an oral antigene in men. HealthPsychology, 13, 440-446.

    Taylor, S.E. (1983). Adjustment to threatening events: Atheory of cognitive adaptation. American Psychology,38,1161-1173.

    Thomas, P.D.; Goodwin, J.M.; Goodwin, J.S. (1985).

    Effect of social support on stress related changes incholesterol level, uric acid level and immune functionin a elderly sample. American Journal of Psychiatry,142, 735-737.

    Totman, R. Kiff, J., Reedy, S.E., Craig, J.W. (1980).Predicting experimental colds in volunteers from

    different measures of recent life stress. Journal ofPsychosomatic Research, 24, 1555-163.

    Wang, T.; Delahanty, D.L.; Dougall, A.L.& Baum, A.(1998). Response of natural killer cells activity to acutelaboratory stressors in healthy men at different times ofday. Health Psychology,17, 428-435.

    Yalom, I.D. (1980). Existencial Psychotherapy. New York:Basic Books.

    Abstract

    The idea of the immunological system as an autonomoussystem with an exclusively chemical functioning hasresulted mainly in the early eighties incomprehensive perspective where it is recognizedthat the immunological system is integrated withother systems and is sensitive to the central nervoussystem regulation (Ader, 1983; Rabin, Cohen,Ganguli, Lysle & Cunnick, 1989; Cohen & Herbert,1996). This recognizes that other areas of humanfunctioning, as is the case of emotion and cognition,may influence its efficiency.Psychoneuroimmunology has appeared to study therelationship among the psychosocial factors, theemotions and the neuroimmunological systems thatorganize the adaptative response to stress. Thismodel is based on the hypothesis that psychosocial

    factors diminish the efficiency of the immunologicalsystem and contribute to an increase in medicalsymptoms. In this work we discuss this issue andcurrent research on the emotional and psychosocialconditions that seem to affect immunocompetence.