emissÕes do setor de mudanÇa de 2018 uso da terra ... · 3.2 reduzir a taxa anual de desmatamento...

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2018 Documento de Análise PERÍODO 1990 - 2016 Coordenação Técnica Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) Autores Amintas Brandão Jr., Paulo Barreto, Felipe Lenti, Julia Shimbo e Ane Alencar Revisão Carlos Sanquetta, Paula Bernasconi, Raíssa Guerra, Tasso Azevedo, Tiago Reis e Vivian Ribeiro EMISSÕES DO SETOR DE MUDANÇA DE USO DA TERRA

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2018Documento

de Análise

PERÍODO 1990 - 2016

Coordenação TécnicaInstituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)

e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam)

AutoresAmintas Brandão Jr., Paulo Barreto, Felipe Lenti,

Julia Shimbo e Ane Alencar

RevisãoCarlos Sanquetta, Paula Bernasconi, Raíssa Guerra,

Tasso Azevedo, Tiago Reis e Vivian Ribeiro

2018Documento

de Análise

EMISSÕES DO SETOR DE MUDANÇA DE USO DA TERRA

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2EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

RESUMO EXECUTIVO

• No ano de 2016, as mudanças de uso da terra (MUT) foram responsáveis por 51% do total de emissões de gases de efeito estufa (GEE) do Brasil. O setor emitiu 1,17 bilhão de toneladas brutas de CO2 equivalente (tCO2e), um aumento de 23% em relação a 2015, quando foram emitidas 949 milhões de tCO2e.

• O desmatamento é a principal fonte de emissão do setor de mudanças de uso da terra, com aumento expressivo em 2016. Somente o bioma Amazônia, que teve naquele ano a maior taxa de desmatamento registrada desde 2008 (8.000 km2), contribuiu com 52% (602 milhões de tCO2e) das emissões do setor em 2016, com aumento de 27% em relação a 2015. As emissões no Cerrado representaram 21% (248 milhões de tCO2e) do total do setor MUT em 2016, com aumento de desmatamento nesse bioma a uma taxa anual de 9.500 km². Na Mata Atlântica, 2016 apresentou alta de 58% em relação a 2015 nas emissões, 21% (242 milhões de tCO2e) do total do setor.

• Cerca de 39 bilhões de toneladas brutas de CO2e foram emitidas no setor MUT entre 1990 a 2016, o que representou 62% das emissões brasileiras bru-tas para o mesmo período. As emissões líquidas foram de 28,7 bilhões de tCO2e para o período, descontados 10,12 bilhões de tCO2e em remoções (sendo 4,08 bilhões de tCO2e oriundas de terras indígenas, 2,83 bilhões de tCO2e de unidades de conservação e 3,21 bilhões de tCO2e de outros tipos de remoção).

• Em 2016, cerca de 1,09 bilhão de tCO2 foram emitidas pelas mudanças de uso e cobertura da terra, o que representou um aumento de 24% em relação a 2015. Já o CO2 do processo de calagem contabilizou 10 milhões de tCO2, enquanto a queima de resíduos fl orestais emitiu 60 milhões de tCO2e (na forma de N2O e CH4).

• O Pará foi o Estado que mais emitiu gases de efeito estufa no setor MUT no país em 2016, principalmente devido ao desmatamento da fl oresta amazô-nica: 20% do total. Em seguida vêm Mato Grosso e Bahia, com 13% das emis-sões do setor cada um.

• A Bahia aparece pela primeira vez entre os três principais emissores devi-do ao crescimento de 87% em suas emissões em relação a 2015, em decor-rência principalmente do aumento do desmatamento na Mata Atlântica. Des-tacam-se também Piauí (7%), Minas Gerais (8%) e Maranhão (6%).

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3EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

RESUMO EXECUTIVO

• As emissões do setor MUT em 2016 são as maiores desde 2008, contrastando com a tendência de estabilização no período de 2010 a 2015. Isso levanta a pos-sibilidade de nova tendência de aumento das emissões, principalmente nos bio-mas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. Apesar da falta de dados para os de-mais biomas (Caatinga, Pantanal e Pampa), os biomas monitorados anualmente já indicam que o Brasil está distante de atingir os compromissos relacionados à redução de emissões de gases-estufa por desmatamento.

• Esta versão do SEEG traz duas novidades em relação às anteriores: a inclusão do dado de desmatamento do bioma Cerrado para os anos de 2014 e 2015 e o cálculo do impacto das queimadas nas áreas de vegetação nativa remanes-cente no Brasil entre 2000 e 2016. Os dados ainda são exploratórios, mas foi possível testar diferentes abordagens e identifi car desafi os para as estimativas de emissões associadas às queimadas.

Este documento integra a série anual de relatórios analíticos do SEEG, o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa, uma iniciativa do Observatório do Clima. O SEEG compreende a produção de estimativas anuais das emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil, análises sobre a evolução das emissões e um portal na internet para disponibilização, de forma simples e clara, dos métodos e dados do sistema.

As estimativas de emissões e remoções de GEE são geradas segundo as diretrizes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), com base nos dados dos Inventários Brasileiros de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases do Efeito Estufa, elaborados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), e em dados obtidos junto a relatórios governamentais, institutos, centros de pesquisa, entidades setoriais e organizações não governamentais.

São avaliados os cinco setores fontes de emissões: Mudança de Uso da Terra e Florestas (MUT), Agropecuária, Resíduos, Energia e Processos Industriais e Uso de Produtos. Os dados disponibilizados no SEEG constituem uma série que cobre o período de 1970 até 2016, exceto para o setor MUT, que tem a série de 1990 a 2016. Além disso, os dados do SEEG são alocados nos 26 Estados e no Distrito Federal.

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4EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

ÍNDICE

Lista de fi guras 5LIsta de tabelas 6Lista de siglas 61. Introdução 72. Análise dos dados SEEG 9 2.1 Participação do setor MUT nas emissões brasileiras 9 2.2 Contribuição dos biomas para as emissões 10 2.3 Emissão bruta, remoção e emissão líquida 12 2.4 Emissão por tipo de gás 14 2.5 Contribuição dos Estados 15 2.6 Disponibilidade de dados 17 2.7 Comparação entre SEEG e Sirene 193. Metas, compromissos e trajetórias 21 3.1 Eliminar a perda líquida de fl oresta até 2015 23 3.2 Reduzir a taxa anual de desmatamento do bioma

Amazônia para 3.925 km2 até 2020 24 3.3 Reduzir a taxa anual de desmatamento do bioma

cerrado para 9.420 km2 28 3.4 Expandir o plantio de fl orestas para 8,5 milhões de hectares em 2020 28 3.5 Trajetórias das emissões de MUT segundo a NDC 294. Recomendações 33 4.1 Melhorar os dados disponíveis para calcular emissões 33 4.2 Aprimorar as estratégias para reduzir as emissões do setor MUT 34 4.2.1 Validar o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e iniciar a implementação do Programa de Regularização Ambiental 34 4.2.2 Retomar a transparência na divulgação do Deter mensal

e ampliar o Prodes/Deter para todos os biomas 35 4.2.3 Combater o desmatamento especulativo 36 4.2.4 Ampliar e melhorar os acordos do setor privado contra

o desmatamento 37 4.2.5 Melhorar a cobrança do Imposto sobre a

Propriedade Territorial Rural (ITR) 37 4.2.6 Criar incentivos econômicos para a conservação 38 4.2.7 Remover barreiras ao investimento fl orestal 395. Agradecimentos 406. Referências 417. Apêndice 488. Anexos 49

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5EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Emissões brutas brasileiras de dióxido de carbono (GtCO2e) por setor para o período de 1990 a 2016. 10

Figura 2Emissões brutas de dióxido de carbono (tCO2e) por bioma do setor de Mudança de Uso da Terra para o período 1990-2016 no Brasil. 11

Figura 3Emissões brutas e líquidas e remoções (em territórios indígenas, unidades de conservação e outros tipos de remoção, por mudança de uso da terra e fl oresta secundária) de dióxido de carbono (tCO2e), em GWP AR5, do setor MUT no Brasil no período de 1990. 13

Figura 4Emissões brutas dióxido de carbono (tCO2e), em GWP AR5, do setor de mudança de uso da terra no Brasil, segundo alterações de uso do solo, calagem e resíduos fl orestais, no período de 1990 a 2016. 15

Figura 5Contribuição dos estados brasileiros com destaque para os maiores emissores: Mato Grosso (MT), Pará (PA) e Bahia (BA), considerando emissões de dióxido de carbono (tCO2e) do setor MUT para o período de 1990 a 2016. 16

Figura 6Comparação entre as emissões brasileiras líquidas de dióxido de carbono no período de 1990 a 2010 publicadas pelo Sirene e estimadas pelo SEEG com base nas matrizes de transição do Terceiro Inventário Nacional do setor de Mudança e Uso da Terra e Florestas. 20

Figura 7Emissões líquidas de dióxido de carbono de Mudança do Uso do Solo e Florestas Projetadas para INDC segundo as referências do MMA, SIRENE/MCT e SEEG. 32

Figura 8Principais processos e GEE envolvidos no setor de Mudança de Uso da Terra. 48

Figura 9 Área queimada (hectares) em vegetação nativa remanescente por bioma no período de 2000 a 2016. (FONTE: MapBiomas; Modis/Nasa). 54

Figura 10 Frequência de áreas queimadas em remanescentes de vegetação nativa no Brasil no período de 2000 a 2016. (FONTE: MapBiomas; Modis/Nasa). 55

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6EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

LISTA DE TABELASTabela 1 Dados de desmatamento disponíveis para os biomas brasileiros no período de 2006 a 2015. 18

Tabela 2 Resumo da situação dos compromissos do Brasil relacionados à redução de emissões de GEE (vermelho: intervenção imediata; amarelo: atenção). 22

Tabela 3 Projeção das emissões esperadas considerando as metas da INDC. 31

Tabela 4 Emissões totais em milhões de tCO2e (GWP AR5) no Setor de Uso do Solo, período 1990-2015. 49

Tabela 5 Emissões de GEE referentes às queimadas não associadas ao desmatamento nos biomas Amazônia, Cerrado e Caatinga, em 2010. Fonte: MCTI, 2015. 51

LISTA DE SIGLAS• Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC)• Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida

(Intended Nationally Determined Contribution - iNDC)• Gases de Efeito Estufa (GEE)• Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)• Potencial de Aquecimento Global do Quinto Relatório de Avaliação

(Global Warming Potential Fifth Assessment Report - GWP AR5)• Ministério da Ciência,Tecnologia e Inovação (MCTI)• Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC)• Mudança de Uso da Terra (MUT)• Observatório do Clima (OC)• Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)• Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das

Queimadas no Bioma Cerrado (PPCerrado)• Política Nacional sobre Mudanças Climáticas (PNMC)• Potencial de Aquecimento Global (Global Warming Potential - GWP)• Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter)• Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG)• Sistema de Registro Nacional de Emissões (Sirene)• Terras Indígenas (TI)• Unidade de Conservação (UC)

LISTA DE TABELAS E SIGLAS

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7EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

1. INTRODUÇÃO

Neste documento analisamos as estimativas anuais de emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil do Setor de Mudança de Uso da Terra e Florestas (MUT) gera-das pelo Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) para o período de 1990 a 2016. O projeto SEEG é uma iniciativa do Observatório do Clima(OC), uma rede de instituições da sociedade civil. Os dados do SEEG são calculadospara os setores MUT, Agropecuária, Energia, Processos Industriais e Resíduos. OImazon e o Ipam coordenaram os cálculos das estimativas do setor MUT no SEEG 5a partir dos métodos desenvolvidos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudan-ças Climáticas (IPCC) e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comuni-cações (MCTIC).

As fontes de emissões de GEE – dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) – do setor MUT englobam as alterações de uso e cobertura da terra, a queima de resíduos fl orestais e a calagem de solos. As fontes de remoções são fl orestas e vege-tações não fl orestais localizadas em áreas protegidas que não foram convertidas para outros usos (como pastagem e agricultura), bem como as fl orestas secundárias, con-forme método do Terceiro Inventário Brasileiro de Emissões e Remoções Antrópicas de GEE (MCTI, 2016). A soma das emissões e remoções resulta nas emissões líquidas. Os dados apresentados neste documento utilizaram como base o Relatório de Refe-rência (MTCI, 2015) publicado no Terceiro Inventário Nacional. Isso signifi ca que todas as estimativas publicadas anteriormente em documentos analíticos do projeto SEEG foram atualizadas. Detalhes sobre os cálculos estão disponíveis na Nota Metodológica do setor MUT (SEEG, 2017).

No ano de 2016, o setor MUT foi responsável pela metade (51%) do total anual de emissões brutas do Brasil, o que correspondeu a 1,17 bilhão de toneladas brutas de CO2 equivalente (tCO2e), um aumento de 23% em relação a 2015 (0,87 bilhão de tCO2e). Cerca de 39 bilhões de toneladas de CO2 equivalente (tCO2e) foram emitidas no setor MUT entre 1990 e 2016, o que representou 62% das emissões nacionais para o mesmo período. O desmatamento é a principal fonte de emissão do setor MUT, com aumento expressivo em 2016. Somente o bioma Amazônia, que teve em 2016 sua maior taxa de desmatamento desde 2008 (8.000 km2 segundo o Inpe) contribuiu com 52% das emissões do setor em 2016, com aumento de 27% em relação a 2015. Entre os Estados com maior taxa de desmatamento estão Pará e Mato Grosso. Na Mata Atlântica, 2016 apresentou alta de 58% em relação a 2015 nas emissões e no desmatamento, concen-

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8EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

1. INTRODUÇÃO

trados nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Bahia. Portanto, as ações de redução de emissões do setor devem estar atreladas às estratégias nacionais e estaduais de redução de desmatamento.

Esta versão do SEEG traz duas novidades principais em relação às versões anteriores: primeiro, a inclusão do dado de desmatamento do bioma Cerrado para os anos de 2014 e 2015, disponibilizados pela fase 2 do PPCerrado/Inpe. Anteriormente o dado estava disponível até 2013 (fase 1), sendo repetido para os anos posteriores para via-bilizar estimativas anuais de emissões. Com aproximadamente 50% do bioma Cerra-do já convertido, o desmatamento nesse bioma aumentou a taxas anuais cinco vezes maiores do que no bioma Amazônia entre 2012 e 2015, com média anual de 9.500 km² nesse período (MMA - PPCerrado fases 1 e 2). As emissões no Cerrado representaram 21% das emissões do setor MUT em 2016.

A segunda novidade foi o cálculo do impacto das queimadas nas áreas de vegetação nativa remanescente no Brasil entre 2000 e 2016. Os dados ainda são exploratórios, mas foi possível testar diferentes abordagens e identifi car desafi os para as estimativas de emissões associadas às queimadas.

Como nas versões anteriores do relatório analítico, atualizamos a situação das emis-sões de GEE em relação às metas a serem alcançadas até 2020, determinadas pela Política Nacional sobre Mudanças Climáticas (PNMC) de 2009. No fi nal de 2015, o go-verno brasileiro apresentou sua Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida (Intended Nationally Determined Contribution ou INDC) ao Acordo de Paris, com metas de redução de 37% até 2025 em relação aos níveis de 2005, e uma meta indicativa de 43% de corte em 2030 também em relação a 2005. Nas próximas seções, apresentamos as emissões do setor MUT no contexto das emissões nacionais e uma análise de como o Brasil está em relação às metas de redução, e por fi m, recomendamos ações para ace-lerar a redução das emissões de gases de efeito estufa.

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9EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

2. ANÁLISE DOS DADOS SEEG

2.1 PARTICIPAÇÃO DO SETOR MUT NAS EMISSÕES BRASILEIRAS

Entre 1990 e 2016, o Brasil emitiu um total de 62 bilhões de tCO2e (GWP)1 (Figura 1), sendo quase dois terços desse total (62%) gerados por mudanças de uso da terra. A principal fonte de emissão do setor MUT é o desmatamento (94% do total do setor para o período 1990-2016), de forma que a tendência de emissões brutas do setor de-pende fortemente dos resultados agregados de políticas e ações que combatam ou incentivem o desmatamento. Até 2004, a derrubada de fl oresta amazônica ocorreu de maneira acelerada, com taxas superiores a 15.000 km2 por ano segundo o Prodes, o sistema do Inpe que calcula a taxa ofi cial anual. Um refl exo disso foram os mais de 23 bilhões de tCO2 e emitidos entre 1990 e 2004 (média anual de 1,57 bilhão de tCO2e por ano). Depois de 2004, diversas ações para conter o desmatamento na Amazônia foram realizadas pelo governo federal em parceria com os governos estaduais e a participação da sociedade civil (Nepstad et al., 2014). Entre as ações destacam-se o lançamento do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) e de sistemas de monitoramento mensal por satélite (SAD, Deter), além da criação de novas áreas protegidas e a identifi cação dos municípios de desmatamento crítico, entre outras. Essas ações contribuíram na redução da média anual de emis-sões para 1,3 bilhão de tCO2e, considerando o período de 2005 a 2015 (total de 14,3 bilhões de tCO2e).

Em 2016, o setor MUT emitiu 1,17 bilhão de tCO2e, o que representou 51% das emis-sões brutas brasileiras para aquele ano e um aumento de 23% em relação a 2015 (0,97 tCO2e). As emissões de 2016 foram as maiores registradas desde 2008, eviden-ciando retração da efetividade de estratégias de redução do desmatamento na Ama-zônia (Figura 1).

1 O Global Warming Potential, ou Potencial de Aquecimento Global, é uma medida que estima o potencial de um gás para contribuir com o aquecimento no efeito estufa em relação ao dióxido de carbono em um horizonte de tempo de 100 anos. Todos os cálculos apresentados nesse relatório utilizaram como padrão a conversão GWP-IPCC AR5 que considera para metano (CH4) o potencial de aquecimento de 28 vezes para cada molécula de CO2 e para o óxido nitroso (N2O) o potencial de 265.

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10EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

Figura 1 - Emissões brutas brasileiras de dióxido de carbono (GtCO2e) por setor para o período de 1990 a 2016

2.2 CONTRIBUIÇÃO DOS BIOMAS PARA AS EMISSÕES

As emissões históricas de CO2 pelo setor MUT também se diferenciam por bioma (Fi-gura 2). Os biomas Amazônia e Cerrado concentraram 52% das emissões nacionais entre 1990 e 2016. De 2004 a 2016, as emissões deste setor apresentaram uma ten-dência global de redução. No entanto, os dados indicam que as emissões de 2016 são as maiores para o setor desde 2008, contrastando com a tendência de estabilização que vinha se desenhando de 2010 a 2015. Isso levanta um ponto de atenção sobre a possibilidade de nova tendência de aumento das emissões.

Cerca de 95% das emissões do setor MUT para o ano de 2016 concentraram-se em três biomas: Amazônia (52% do total; 602 milhões de tCO2e), Cerrado (21%; 248 mi-lhões de tCO2e) e Mata Atlântica (21%; 242 milhões de tCO2e). Esses biomas possuem

Resíduos Agropecuária EnergiaProcessos Industriais

Mudança de Uso da Terra

Emis

sões

GtC

O2e

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

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2012

2013

2014

2015

2016

4

3

2

1

0

2. ANÁLISE DOSDADOS SEEG

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11EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

dados anuais de desmatamento, produzidos a partir de interpretação visual compa-rativa de imagens de satélite (Prodes, SOS Mata Atlântica e PPCerrado). Na Amazônia houve um aumento de 27% das emissões em 2016 em relação a 2015; na Mata Atlân-tica, esse aumento foi de 58%. Entretanto, a ausência de dados comparáveis para os demais biomas difi culta uma análise detalhada dessa tendência.

Figura 2 - Emissões brutas de dióxido de carbono (tCO2e) por bioma do setor de Mudança de Uso da Terra para o período 1990-2016 no Brasil

Emis

sões

GtC

O2e

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

4

3

2

1

0

Amazônia Mata Atlântica PampaCaatinga Cerrado Pantanal

2. ANÁLISE DOSDADOS SEEG

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12EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

2.3 EMISSÃO BRUTA, REMOÇÃO E EMISSÃO LÍQUIDA

As emissões brutas contabilizadas no setor MUT são aquelas oriundas de desmata-mento, calagem e resíduos fl orestais para cada bioma. Essas emissões foram estima-das combinando dados de desmatamento e consumo aparente de calcário na agri-cultura com fatores médios de emissão publicados no Terceiro Inventário Nacional (MCTI, 2016). As emissões de resíduos fl orestais foram estimadas a partir das emis-sões de desmatamento por meio de um fator de conversão médio calculado também a partir do Inventário. Em caráter preliminar, este relatório também explorou os de-safi os de estimar as emissões que resultam de queimadas não associadas ao desma-tamento (Anexo 2). Contabilizar queimadas não associadas ao desmatamento como fonte de GEE requer discriminar queimadas causadas por atividade humana daque-las com origem em causas naturais, uma vez que apenas o primeiro tipo é passível de ser considerado em inventários de emissões antropogênicas de GEE.

Dois tipos de remoções foram estimados: (i) sequestro de carbono pelo crescimento da vegetação em áreas protegidas (Unidades de Conservação - UC e Terras Indígenas - TI) e (ii) mudanças no estoque de carbono em nível de ecossistemas pela mudança de uso da terra (por exemplo, área de pastagem convertida para refl orestamento comercial) ou de crescimento de fl orestas secundárias (área de pastagem para fl oresta secundá-ria, por exemplo). O sequestro de carbono resultante do crescimento da vegetação natural fora de áreas protegidas não é contabilizado por não estar associado ao mane-jo humano. As remoções em áreas protegidas foram contabilizadas multiplicando-se fatores médios de remoção, calculados a partir do Terceiro Inventário Nacional, pela área de vegetação nativa remanescente das TIs e UCs. Para as remoções por mudança de uso da terra aplicamos, para os anos de 2011 a 2016, as médias anuais comunicadas pelo Terceiro Inventário, que consideram o período de 2006 - 2010 para a Amazônia e 2003 - 2010 para os demais biomas.

2. ANÁLISE DOSDADOS SEEG

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13EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

No setor MUT as emissões brutas somaram entre 1990 e 2016 cerca de 39 bilhões de tCO2e (Figura 3). Em relação às remoções, 4,08 bilhões de tCO2e foram oriundas de TIs, 2,83 bilhões de tCO2e de UCs e 3,21 bilhões de tCO2e de outros tipos – totalizando 10,12 bilhões de tCO2e. As emissões líquidas resultaram em 28,7 bilhões de tCO2e para o período. Somente em 2016, cerca de 0,64 bilhão de tCO2e líquidas foram emitidas nosetor MUT (1,17 bilhão de tCO2e brutas). As remoções foram maiores a partir de 2004,quando extensas áreas da Amazônia começaram a ser transformadas em UC e TI.

Figura 3 - Emissões brutas e líquidas e remoções (em territórios indígenas, unidades de conservação e outros tipos de remoção, por mudança de uso da terra e

fl oresta secundária) de dióxido de carbono (tCO2e), em GWP AR5, do setor MUT no Brasil no período de 1990 a 2016

Emis

sões

GtC

O2e

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

3

2

1

0

-1

Alterações de Uso do Solo

Calagem

Remoção por Floresta Secundária

Emissões Líquidas

Resíduos Florestais

Remoções de Áreas Protegidas

Remoção por Mudança de Uso da Terra

2. ANÁLISE DOSDADOS SEEG

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14EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

2.4 EMISSÃO POR TIPO DE GÁS

Além do dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) são gases com contribuições signifi cativas para o efeito estufa. A Figura 4 apresenta as esti-mativas de emissões para o setor MUT, no período 1990 a 2016, considerando as principais atividades que liberam esses gases. As emissões de CO2 estão associadas às mudanças de uso e cobertura da terra e ao processo de calagem na agricultura. Já as emissões de CH4 e N2O são geradas pelos processos de queima de resíduos fl ores-tais2. As estimativas de emissões de CO2 da calagem nos solos na agricultura foram feitas a partir de equações determinadas no Terceiro Inventário Nacional de emis-sões (MCTI, 2016), e dados sobre uso de calcário, disponibilizados pela Abracal (Asso-ciação Brasileira de Produtores de Calcário Agrícola). Detalhes sobre essas equações estão disponíveis na Nota Metodológica do setor MUT (SEEG, 2017).

Entre 1990 e 2016, no Brasil, cerca de 37 bilhões de tCO2e foram gerados pelas mu-danças de uso e cobertura da terra, com média anual de 1,4 bilhão de tCO2e. Em 2016, pouco mais de 1,09 bilhão de tCO2 foram emitidos, o que representou um aumento de 24% em relação a 2015. Já o CO2 do processo de calagem contabilizou 0,01 bilhão de tCO2. Até 2016, outras 2 bilhões de tCO2e foram emitidas por queima de resíduos fl orestais (CH4 e N2O). Somente em 2016, 0,06 bilhão de tCO2e foram emitidas – um aumento de 10% em relação a 2015.

2 As estimativas de emissões por resíduos fl orestais foram feitas a partir de fatores de emissão calculados com base no Terceiro Inventário Nacional e a partir dos dados de lenha publicados pelo Balanço Energético Nacional – BEN.

2. ANÁLISE DOSDADOS SEEG

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15EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

Figura 4 - Emissões brutas dióxido de carbono (tCO2e), em GWP AR5, do setor de mudança de uso da terra no Brasil, segundo alterações de uso do solo, calagem e

resíduos fl orestais, no período de 1990 a 2016

2.5 CONTRIBUIÇÃO DOS ESTADOS

Aproximadamente a metade do total emitido de GEE no setor MUT entre 1990 e 2016 ocorreu em dois Estados: Mato Grosso (26%) e Pará (22%) (Figura 5). Boa parte do des-matamento recente em ambos está associada às atividades agropecuárias e à especu-lação fundiária, sobretudo no Pará. Outro fator que infl uencia essa alta concentração de emissões é a perda da fl oresta em uma região com alto estoque de biomassa, como é o caso do bioma Amazônia. Considerando apenas o ano de 2016, o Pará liderou o ranking, com 20% das emissões do setor MUT. Mato Grosso e Bahia seguiram ambos com 13% das emissões do setor. A presença da Bahia entre os maiores emissores de-corre de um crescimento de 87% das emissões do Estado em relação a 2015, em fun-ção do aumento do desmatamento no bioma Mata Atlântica. No comparativo com a

Emis

sões

GtC

O2e

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

3

2

1

0

Alterações de Uso do Solo Resíduos FlorestaisCalagem

2. ANÁLISE DOS DADOS SEEG

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16EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

tendência histórica deste estado, as emissões em 2016 foram as maiores registradas e corresponderam a 2,2 vezes a média anual (1990 a 2016). No bioma Amazônia, após Pará e Mato Grosso, os Estados de Rondônia (9% das emissões do setor MUT) e Ama-zonas (7%) estão na lista dos maiores emissores. Em relação às emissões do setor MUT em 2016, destacam-se também o Piauí (7%), Minas Gerais (8%) e Maranhão (6%).

Figura 5 - Contribuição dos estados brasileiros com destaque para os maiores emissores: Mato Grosso (MT), Pará (PA) e Bahia (BA), considerando emissões de dióxido

de carbono (tCO2e) do setor MUT para o período de 1990 a 2016

Emis

sões

GtC

O2e

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

3

2

1

0

Mato Grosso (MT) Bahia (BA) Outros EstadosPará (PA)

2. ANÁLISE DOS DADOS SEEG

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17EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

2.6 DISPONIBILIDADE DE DADOS

São necessários dois tipos de dados espaciais para gerar as estimativas de emissões de GEE do setor MUT usando o método do Inventário: mapas de uso e cobertura da terra e mapas de estoque de carbono (MCTI, 2010, 2016). Os mapas de uso e cobertura da terra são gerados com base em imagens de satélite e mostram a disposição espacial dos tipos de superfície de interesse em uma determinada região e para um dado pe-ríodo, como áreas de fl oresta, água, pastagem, agricultura, entre outros. No Brasil, o MCTI gerou mapas de uso e cobertura da terra com 15 classes diferentes na escala de 1:250.000 e disponibiliza esses dados mediante a solicitação na internet. Para o bioma Amazônia, esses mapas cobrem os períodos 1994-2002, 2002-2005 e 2005-2010; para os demais biomas, os mapas cobrem 1994-2002 e 2002-2010. As informações sobre a cobertura do solo são utilizadas para construir uma matriz de transição de uso do solo entre as classes mapeadas para todos os biomas brasileiros (MCTI, 2016).

Os dados sobre estoque de carbono apresentam a quantidade de biomassa, tanto acima quanto abaixo do solo, necromassa (serapilheira e madeira morta) e carbono orgânico no solo em uma região (conforme MCTI, 2016). Esses dados são utilizados na estimativa de quantidade de carbono em cada bioma brasileiro. O estoque de carbono de uma re-gião geralmente é calculado a partir de informações de campo combinadas com imagens de satélite e mapas de tipo de vegetação. O produto dessa combinação pode ser tanto tabelas com as médias de quantidade de estoque de carbono por hectare nos diferentes tipos de vegetação, quanto mapas com essa quantidade associada a coordenadas geo-gráfi cas (latitude e longitude).

As áreas de transição (identifi cadas a partir do cruzamento dos mapas de uso e cobertu-ra da terra) e as informações sobre o estoque de carbono são cruzadas para estimar as emissões de CO2, CH4 e N2O. Essa combinação utiliza as recomendações metodológicas do IPCC e do MCTI, para o caso do Inventário Nacional.

Na ausência de mapas anuais de cobertura e uso do solo, o MCTI desenvolveu outra abordagem focada nas estimativas de emissões com base em dados de desmatamento (MCTI, 2013, 2015). O pressuposto para essa abordagem foi que mais de 90% das emis-sões do setor MUT são geradas pelo desmatamento causado pela agricultura, pecuária e expansão de cidades. No entanto, essa abordagem é defi ciente, pois os dados atuali-

2. ANÁLISE DOSDADOS SEEG

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18EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

zados de desmatamento existem anualmente somente para o bioma Amazônia (Projeto Prodes) e para alguns períodos para os biomas Mata Atlântica (SOS Mata Atlântica) e, recentemente, para o Cerrado (PPCerrado). Para os outros biomas (Caatinga, Pampa e Pantanal), as informações estão desatualizadas em sua maioria e referem-se ao ano de 2009 (Tabela 1). A ausência dos dados anualizados e atualizados prejudica a análise das tendências e variações das estimativas de emissões de GEE.

Tabela 1 - Dados de desmatamento disponíveis para os biomas brasileiros no período de 2006 a 2015

2. ANÁLISE DOSDADOS SEEG

BIOMA FONTE2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Amazônia

Caatinga

Cerrado

Mata Atlântica

Pampa

Pantanal

Dado anual de desmatamento

* PRODES: http://www.obt.inpe.br/prodes** PMDBBS: http://siscom.ibama.gov.br/monitora_biomas/*** SOS Mata Atlântica: https://www.sosma.org.br/

Estimativa de média anual de desmatamento

Dado inexistente – neste caso foi repetido o último dado disponível

Prodes*

PMDBBS**

PMDBBS**,PPCerrado Fases 1, 2 e 3

PMDBBS**

SOS Mata Atlântica***

PMDBBS**

PMDBBS**

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19EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

Dessa forma, as estimativas do SEEG estão associadas à disponibilidade de dados de desmatamento. A Tabela 1 apresenta os dados de desmatamento utilizados para as es-timativas do SEEG. Os dados classifi cados em verde são mais precisos e foram aqueles mapeados anualmente para o bioma. Os anos em amarelo são dados anuais médios que foram calculados quando se tinha somente informação para dois ou mais pontos no tempo nesse período. As células classifi cadas em vermelho são as mais imprecisas, pois repetiu-se o último ano disponível de desmatamento para o bioma.

2.7 COMPARAÇÃO ENTRE SEEG E SIRENE

Em abril de 2016, o governo federal lançou o Sistema de Registro Nacional de Emis-sões (Sirene)3 com intuito de disponibilizar os resultados do Terceiro Inventário Na-cional de Emissões Antrópicas por Fontes e Remoções por Sumidouros e GEE não Controlados pelo Protocolo de Montreal (MCTI, 2016). Os dados disponíveis pelo Si-rene compreendem o período de 1990 a 2014 e apresentam as emissões dos setores Agropecuária, Energia, Processos Industriais, Tratamento de Resíduos, Uso da Terra, Mudança do Uso da Terra e Florestas e Uso de Solventes e de Outros Produtos. Para o setor MUT, somente as emissões líquidas estão disponíveis.

As principais atualizações do Terceiro Inventário Nacional em relação ao segundo foram: (1) correções nos mapas de uso e cobertura da terra do Segundo Inventário para o período 1994-2002; (2) novos mapas de uso e cobertura da terra para o bio-ma Amazônia para os períodos de 2002-2005 e 2005-2010; (3) novos mapas de uso e cobertura da terra para os demais biomas brasileiros no período 2002-2010; (4) atualização dos mapas de estoque de carbono de cada bioma; (5) e fi nalmente, atua-lização dos fatores de emissão e remoção para as transições de uso e cobertura da terra (MTCI, 2016).

2. ANÁLISE DOSDADOS SEEG

3 SIRENE – Sistema de Registro Nacional de Emissões. Disponível em: http://sirene.mcti.gov.br/sobre-o-sirene

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20EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

Os dados do SEEG apresentados neste documento foram calibrados com base nas matrizes de transição disponíveis no Relatório de Referência do setor MUT do Tercei-ro Inventário Nacional (MCTI, 2015) e validados com as emissões líquidas publicadas pelo Sirene. Os dados do Sirene foram disponibilizados utilizando-se o fator de con-versão GWP IPCC AR2. Os dados mostram alta correlação global entre as estimativas do SEEG e Sirene (emissões líquidas) com um coefi ciente de correlação de 0,9971 (Fi-gura 6). Mais detalhes de como os dados do SEEG foram calibrados estão disponíveis na Nota Metodológica do setor MUT do SEEG.

Figura 6 - Comparação entre as emissões brasileiras líquidas de dióxido de carbono no período de 1990 a 2010 publicadas pelo Sirene e estimadas pelo SEEG com base nas matrizes de transição do Terceiro Inventário Nacional do setor de

Mudança e Uso da Terra e Florestas

2. ANÁLISE DOSDADOS SEEG

Bilh

ões

CO2e

(t) G

WP-

AR2

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

3

2.5

2

1.5

1

0.5

0

SIRENE SEEG

Coefi ciente de Correlação R2 = 0,9971

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21EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

O Plano Nacional sobre Mudança do Clima, de 2008, defi niu as seguintes metas de redução de emissões para o setor MUT:

1) Até 2015 o Brasil deve eliminar a perda líquida de fl oresta;

2) A área de fl oresta plantada deve dobrar até 2020, de 5,5 milhões de hectarespara 11 milhões de hectares (2 milhões de hectares com espécies nativas).

Em 2009, a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) estabeleceu uma re-dução voluntária de 36,1% a 38,9% das emissões nacionais até 2020 em relação ao cenário tendencial, e o Decreto no 7.390 de 2010 detalhou esses compromissos:

1) Redução de 80% dos índices anuais de desmatamento na Amazônia Legal emrelação à média verifi cada entre os anos de 1996-2005;

2) Redução de 40% dos índices anuais de desmatamento no bioma Cerrado emrelação à média verifi cada entre os anos de 1999-2008;

3) Expansão do plantio de fl orestas em 3 milhões de hectares.

Esta última meta não possui referência de ano ou valor base. Portanto, para este es-tudo, consideramos como dado base os 5,5 milhões de hectares contidos na PNMC. Assim, a meta seria elevar a área total de plantio em 2020 para 8,5 milhões de hectares.

A tabela a seguir mostra um resumo de como o Brasil está em relação ao cumprimento das metas estabelecidas pelo Plano Nacional sobre Mudança do Clima e o Decreto no 7.390. Esses compromissos foram analisados para todo o Brasil e detalhados para os biomas Amazônia e Cerrado. Os campos em verde indicam um bom desempenho, em amarelo atenção e em vermelho uma necessidade de intervenção imediata. O presen-te documento apresenta uma avaliação similar e atualizada para os dados de 2015.

3. METAS, COMPROMISSOSE TRAJETÓRIAS

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22EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

Tabela 2 - Resumo da situação dos compromissos do Brasil relacionados à redução de emissões de GEE (vermelho: intervenção imediata; amarelo: atenção)

COMPROMISSO SITUAÇÃO

Até 2015 o Brasil deve eliminar a perda líquida de fl oresta

Reduzir a taxa anual de desmatamento do bioma Amazônia para 3.925 km2 até 2020

Reduzir a taxa anual de desmatamento do bioma Cerrado para 9.420 km2

Expandir em 3 milhões ha a área de plantios fl orestais até 2020 (atingir 8,5 milhões ha)

Em 2016 o desmatamento foi estimado em 17,5 mil km2 aproximadamente (somadas as taxas da Amazônia e Cerrado, segundo Inpe). Não existem dados anuais para todo o Brasil com o crescimento de fl orestas para estimar a perda líquida com acurácia.

A taxa de desmatamento da Amazônia para 2016 foi de 7.893 km2, aumento de 27% em relação ao ano anterior (Prodes/Inpe, quase o dobro da meta para 2020.

O Inpe já divulgou os dados bianuais do desmatamento no Cerrado entre 2001 e 2015 e anunciou que lançaria os dados de 2016 e 2017 até março de 2018, assim como a anualização dos dados entre 2001 e 2015. De acordo com os dados do Inpe4, no biênio 2014-2015 foram desmatados 18.966 km² de Cerrado, o que dá uma média de 9.483 km² por ano, portanto, dentro da meta. Entretanto, a meta foi calculada sobre um nível de referência infl ado, considerando todo o desmatamento histórico do Cerrado (PMDBBS/Ibama) para o cálculo do desmatamento médio anual. Desse modo, é importante que a meta seja revista, considerando o desmatamento anual de acordo com os dados mais recentes do Inpe e também o total de vegetação nativa restante no Cerrado.

Em 2016, a área ocupada pela silvicultura foi de 10 milhões ha, com aumento de 0,9% em relação ao ano anterior. Apesar de a meta ter sido alcançada em área, a maior parte das fl orestas plantadas (75,3% com eucalipto e 20,7% pinus) não é composta por espécies nativas (IBGE-PEVS, 2016).

3. METAS, COMPROMISSOSE TRAJETÓRIA

4 Disponíveis em http://combateaodesmatamento.mma.gov.br/

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23EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

3.1 ELIMINAR A PERDA LÍQUIDA DE FLORESTA ATÉ 2015

Para estimar a perda líquida de fl oresta para todo o Brasil são necessárias a taxa anual de desmatamento, a taxa anual de crescimento de fl oresta secundária e a taxa de desmatamento em fl oresta secundária. Em média, 29 mil km2 foram desmatados por ano no Brasil entre 2001 e 2016 (Prodes, SOS Mata Atlântica, PPCerrado, PM-DBBS). Esse cálculo representa principalmente o desmatamento nos biomas Ama-zônia, Cerrado e Mata Atlântica, por possuírem maior disponibilidade de dados de desmatamento no tempo. Para os outros biomas, os dados não possuem a mesma frequência temporal. Por exemplo, os dados de desmatamento dos biomas Caatinga, Pampa e Pantanal vão apenas até o ano de 2009.

Os mapas ofi ciais de fl oresta secundária também não cobrem todo o país. Nos bio-mas Amazônia e Cerrado existem dados do projeto TerraClass, mas com diferentes períodos mapeados. Na Amazônia, o TerraClass mapeou os anos 2004, 2008, 2010, 2012 e 2014, já no Cerrado o mapeamento foi realizado somente para o ano de 2013. Dados não ofi ciais de crescimento fl orestal estão disponíveis na plataforma do Global Forest Watch (GFW)5 para o período 2001 a 2012. Os mapas de desmatamento em fl oresta secundária ainda não existem, mas podem ser estimados a partir dos mapas do TerraClass.

Apesar das limitações dos dados, pode-se estimar que 76 mil km2 de fl oresta secun-dária surgiram na Amazônia entre 2001 e 2012 segundo o GFW (média anual de 7.000 km²). Os dados do TerraClass-Amazônia, indicaram um crescimento anual de vegeta-ção secundária de 89 mil km2 entre 2004 e 2014 com média de 8.900 km²/ano. Ambas estimativas indicam um crescimento de fl oresta secundária 70% menor que a taxa anual de desmatamento (8.900 / 29 mil km²), ou seja, o Brasil ainda está muito distan-te de alcançar a meta de zerar a perda líquida de fl orestas. Apesar de não estarmos incluindo os dados de regeneração dos outros biomas, o que pode eventualmente diminuir essa diferença.

3. METAS, COMPROMISSOSE TRAJETÓRIA

5 Os dados do Global Forest Watch estão disponíveis em http://www.globalforestwatch.org/country/BRA. Essas informações foram geradas a partir de imagens de satélite pelo pesquisador Dr. Matthew C. Hansen e apresentam estimativas anuais da perda e ganho de fl oresta para o período de 2001-2012.

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24EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

3.2 REDUZIR A TAXA ANUAL DE DESMATAMENTO DO BIOMA AMAZÔNIA PARA 3.925 KM2 ATÉ 2020

A meta brasileira é reduzir até 2020 em 80% a taxa média do desmatamento verifi -cada entre 1996 e 2005 (19.625 km2). Portanto, a taxa de desmatamento em 2020 deverá ser igual ou inferior a 3.925 km2. O Brasil tem progredido para atingir essa meta, mas vários fatores fazem o desmatamento persistir em um patamar de 5.000 km2/ano, apesar da enorme área já desmatada que poderia ser usada para aumentar a produção agropecuária.

Entre 2005 e 2012, políticas públicas e iniciativas da sociedade civil e setor privado ajudaram a reduzir o desmatamento de 19 mil para 4.500 km2. As ações incluíram: a criação de áreas protegidas, o foco da fi scalização em municípios críticos, a restrição do crédito rural para produtores irregulares, a moratória da soja e o acordo dos fri-gorífi cos contra a carne de origem ilegal (Quadro 1). Entretanto, em 2013 a taxa de desmatamento aumentou 28% em relação a 2012 e atingiu 5.891 km2. Em 2015, a taxa aumentou 24% em relação a 2014, chegando a 6.207 km². Em 2016 foram 7.893 km² desmatados, um aumento de 27% em relação a 2015. Assim, no período 2012 a 2016 a taxa de desmatamento fi cou um terço superior à meta estabelecida até 2020. A queda de 16% na taxa, verifi cada em 2017, não foi sufi ciente para compensar o au-mento nos dois anos anteriores.

Para atingir a meta, será necessário entender os motivos da persistência e do aumen-to do desmatamento.

i. O relaxamento de regras ambientais deixou as fl orestas mais vulneráveis.O Código Florestal de 2012 possibilitou a anistia de mais de 290 mil km2 de des-matamento além do permitido por lei ocorrido até 22 de julho de 2008 na Amazô-nia, segundo Soares-Filho et al. (2014). Além disso, em 2017, foi sancionada a Lei13.465, conhecida como “lei da grilagem” por permitir a regularização fundiáriarural e urbana de áreas publicas invadidas, o que pode agravar o desmatamentoe os confl itos de terras, principalmente na Amazônia. Ao mesmo tempo, diver-sas UCs têm sido reduzidas para atender pressões de obras de infraestrutura eresolução de problemas fundiários, o que tem incentivado o desmatamento nes-sas áreas. Cerca de 2,5 milhões ha deixaram de ser protegidos na Amazônia para

3. METAS, COMPROMISSOSE TRAJETÓRIA

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25EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

atender a esses interesses (Araújo et al., 2012). Como é o caso das ameaças às UCs na região da BR-163, com tentativa de recategorização, permitindo a existência de propriedades privadas e a regularização fundiária de ocupantes ilegais. Por exem-plo, a Floresta Nacional do Jamanxim, a UC federal mais desmatada na Amazônia Legal, que tem passado por várias ameaças de desafetação (Araújo et al., 2017). Esses fatos podem ter criado expectativas para novas anistias no futuro.

ii. A alta do preço de produtos agrícolas aumentou a pressão para desmatar. Em ambiente de regras frágeis, os preços dos produtos agrícolas são positivamen-te correlacionados com a tendência de desmatamento (Barreto et al., 2008). Os preços agrícolas aumentaram expressivamente entre agosto de 2010 e agosto de 2011, o que possivelmente aumenta o capital de giro e incentiva a expansão das áreas de plantio. O índice de preço de matéria-prima de mercadorias agrícolas su-biu 23%, enquanto soja, carne e milho subiram respectivamente 32%, 7% e 60%6.

iii. A complexidade do combate ao desmatamento em assentamentos de refor-ma agrária. Os assentamentos representam entre 18% a 28% do desmatamen-to anual da Amazônia nos últimos anos (PPCDAm/MMA). Entretanto, 72% desse desmatamento ocorre em polígonos maiores de 10 ha ao ano, o que difere do padrão de desmatamento de pessoas que se enquadram no perfi l de benefi ciá-rios da reforma agrária, indicando reconcentração fundiária (Alencar et al., 2016). Isso porque parte dos lotes dos assentamentos têm sido arrendados ou usados para a criação compartilhada (Pereira, 2012), indicando ocupação irregular dos assentamentos por médios e grandes fazendeiros com grande potencial de au-mento de desmatamento. Além disso, os assentamentos também sofrem de falta de assistência técnica agrícola adequada para esse público, sem apoio para diver-sifi cação de produção (IPAM, 2015), e há a difi culdade de rastrear a produção de gado (bezerros e novilhos) derivada de desmatamentos em assentamentos que são fornecedores indiretos de fazendas que entram em acordos de desmatamen-to zero. Após ser acionado pelo Ministério Público Federal, em 2013 o Incra criou o Programa Assentamentos Verdes (PAV), para tentar coibir o desmatamento nos assentamentos (MPF, 2013). No entanto, os impactos desse programa ainda não estão evidentes devido ao curto intervalo de lançamento.

6 Estimativa baseada nos dados disponibilizados por IndexMundi (http://www.indexmundi.com/commodities/)

3. METAS, COMPROMISSOS E TRAJETÓRIA

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26EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

iv. Limitações dos acordos dos frigorífi cos de desmatamento zero. Embora os acordos dos frigorífi cos para desmatamento zero (Compromisso Público e TAC com o Ministério Público Federal) sejam promissores, várias falhas limitam o seu impacto (Barreto & Gibbs, 2015), incluindo: a falta de frequência e transparência das audito-rias independentes; os frigorífi cos que estão desrespeitando os acordos continuam impunes; os acordos estimularam o cadastramento de fazendas no CAR, mas o des-matamento nas áreas cadastradas continua impune tanto no Pará quanto no Mato Grosso (Azevedo et al., 2014); os acordos focam apenas nas fazendas fornecedoras de gado diretamente para os frigorífi cos; assim, as fornecedoras de bezerros e novi-lhos para as fazendas de engorda continuam livres dos controles.

v. Áreas não destinadas (especulação de terra). Atualmente, há cerca de 60,6 mi-lhões de hectares de terras não designadas cobertas por fl orestas públicas (UPF) na Amazônia e 2,5 milhões de hectares no Cerrado (Cadastro nacional de fl ores-tas públicas / SFB 2017). Essas fl orestas estão vulneráveis à grilagem de terras, ao desmatamento ilegal e à exploração madeireira e outros usos inescrupulosos (Moutinho et al., 2016). Em 2016, 13,3% do desmatamento na Amazônia ocorreu sobre áreas não destinadas (~1.064 km²) (Azevedo et al., 2017), evidenciando a vulnerabilidade dessas áreas a processos especulativos e de ocupação ilegal de terras públicas. Além disso, quase 40% do desmatamento anual atual está concentrado nessas áreas sem informações de posse da terra (Prodes 2017). Análises preliminares sobre o efeito da destinação de terras públicas sobre o desmatamento indicam uma redução signifi cativa quando comparadas áreas destinadas e não destinadas (McIndewar & Reis, 2016; Kupper et al., 2017). A per-sistência de terras públicas federais não destinadas nesses biomas é uma clara barreira à redução do desmatamento. A alocação imediata dessas áreas é um passo fundamental para a promoção da conservação da Amazônia e do Cerrado, ao mesmo tempo em que promove a redução das emissões do desmatamento e o uso sustentável de seus recursos (Azevedo-Ramos & Moutinho, 2018).

vi. Falta de responsabilização e punição aos infratores que desmatam ilegal-mente. Com a transparência do Cadastro Ambiental Rural (CAR) será possível identifi car a legalidade do desmatamento dos imóveis rurais. Dados recentes indicam que é necessário reforçar ações de combate ao desmatamento ilegal em imóveis cadastrados. A maior proporção de áreas desmatadas na Amazônia

3. METAS, COMPROMISSOS E TRAJETÓRIA

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27EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

ocorre em áreas privadas, entre 46,9% em 2004 a 36,1% em 2015 (PPCDAm/MMA). Apenas no Estado do Mato Grosso, responsável por 20% do desmata-mento na Amazônia, 47,5% do desmatamento em 2016 ocorreu em áreas priva-das com CAR; destas, 58% são propriedades com áreas superiores a 1.500 ha, e 86% do desmatamento nessas áreas ocorreu em polígonos com tamanhos superiores a 100 ha, sendo 26% do total desmatado naquele Estado referente às áreas com mais de 100 ha em grandes propriedades (ICV, 2017)7.

O efeito da moratória da soja e do acordo da pecuária contra o desmatamento

Na última década, o poder público e campanhas ambientais ampliaram o foco de ações contra o desmatamento e passaram a incluir as empresas que compram de áreas recentemente desmatadas. Essas ações resultaram em compromissos de em-presas de não comprar de áreas desmatadas a partir de determinadas datas (2006 no caso da moratória da soja e 2008 no caso do chamado TAC da pecuária). Estudos recentes demonstraram que esses acordos têm o potencial de reduzir o desmata-mento (Nepstad et al., 2014; Gibbs et al., 2015a, b).

Nos dois anos antes da moratória da soja na Amazônia, cerca de 30% do cultivo ocorria em áreas de novos desmatamentos; essa proporção caiu para 1%, sete anos após o início do acordo. Nos locais onde a moratória inexiste, a expansão de soja baseada em novos desmatamentos fi cou entre 11% e 23% do total plantado por ano entre 2007 e 2013 (Gibbs et al., 2015a). O estudo também demonstrou que os produtores eram mais propensos a cumprir a moratória do que o Código Florestal.

Sobre o acordo da pecuária, um estudo de caso sobre o compromisso do maior frigo-rífi co do Pará demonstrou que o percentual de fazendas que abasteciam a empresa avaliada e que haviam desmatado recentemente (entre 2009 e 2013) caiu de 36% antes do acordo para 4% depois do acordo (Gibbs et al., 2015b). Porém, o impacto dos acor-dos no desmatamento foi enfraquecido pelo escopo do TAC ser limitado às fazendas de engorda e por fragilidades que favorecem a comercialização de gado de origem ilegal.

3. METAS, COMPROMISSOSE TRAJETÓRIA

7 ICV – Análise do Desmatametno em Mato Grosso (Prodes/2017) – Acessado em março/2018 https://www.icv.org.br/wp-content/uploads/2018/01/desmatamento-mato-grosso-2017.pdf

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28EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

3.3 REDUZIR A TAXA ANUAL DE DESMATAMENTO DO BIOMA CERRADO PARA 9.420 KM2

Segundo o Decreto 7.390/2010, a taxa média de desmatamento no bioma Cerrado entre 1999 e 2008 foi de 15.700 km2 por ano. A meta estabelecida pelo Decreto foi re-duzir em 40% esse valor médio, o que resulta em manter o desmatamento abaixo de 9.420 km2 por ano. De acordo com os últimos dados publicados pelo PMDBBS/Ibama para o Cerrado, a meta vem sendo cumprida desde 2009, portanto, antes mesmo de ser estabelecida. No entanto, dados recentes de desmatamento no Cerrado indicam que em 2015 o bioma perdeu 9.483 km2, taxa de desmatamento 52% maior a da Ama-zônia (6.207 km²) no mesmo período. Além disso, o Cerrado já perdeu pouco mais de 50% de sua cobertura original e, somente no período entre 2001-2015, 10% de todo o bioma foi convertido. Isso demonstra uma aceleração expressiva no desmatamen-to no bioma e a desconexão da meta estabelecida pela PNMC com a realidade atualdo Cerrado. Assumir uma meta de desmatamento no Cerrado que permita a perdaanual de 9.420 km² de vegetação nativa signifi ca comprometer o ciclo hidrológico, abiodiversidade, a meta climática brasileira estabelecida pela NDC e a produção agro-pecuária (IPAM, 2017; Strassburg et al., 2017).

3.4 EXPANDIR O PLANTIO DE FLORESTAS PARA 8,5 MILHÕES DE HECTARES EM 2020

O Brasil já atingiu a meta de 8,5 milhões ha de fl oresta plantada até 2020. Dados recentes do PEVS do IBGE indicaram área plantada de 10 milhões ha de fl oresta plan-tada em 2016 (17,7% acima da meta estabelecida), um aumento de 0,9% em relação a 2015. Apesar de a meta ter sido alcançada em termos de área, a maior parte das fl orestas plantadas não é de espécies nativas e sim de exóticas para fi ns comerciais (75,3% com eucalipto e 20,7% pinus).

3. METAS, COMPROMISSOSE TRAJETÓRIA

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29EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

3.5 TRAJETÓRIAS DAS EMISSÕES DE MUT SEGUNDO A NDC

A Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) identifi ca as ações governamentais para a redução de emissões de GEE, acordadas anteriormente à 21a Conferência das Partes (COP 21) da Convenção do Clima das Nações Unidas, ocorrida em Paris em de-zembro de 2015.

Até agosto de 2017, 157 países já haviam registrado suas NDCs junto à Convenção do Clima. As NDCs mostram as estimativas de redução de emissões de cada país até 2030 ou 2025 (caso do Brasil e dos Estados Unidos) em comparação com um ano-base. Países em desenvolvimento não foram obrigados a apresentar NDCs com metas absolutas de corte de emissões, podendo adotar compromissos de redução em relação a um cenário tendencial ou de redução da intensidade de CO2 emitido por unidade de PIB.

O Brasil submeteu a sua proposta de NDC (então chamada INDC, ou Contribuição Nacio-nalmente Determinada Pretendida) no fi nal de 2015 (UNFCCC, 2016b). Foi o único gran-de emissor do mundo em desenvolvimento a apresentar uma meta absoluta: reduzir as emissões de GEE em 37% até 2025, com uma indicação de atingir 43% até 2030, em rela-ção aos níveis de 2005. Para alcançar essa meta foram assumidos compromissos como aumentar o uso de bioenergia sustentável em 18%, restaurar 12 milhões de hectares de áreas degradadas, aumentar a participação das energias renováveis em 45% da matriz energética nacional e zerar o desmatamento ilegal na Amazônia, entre outros (MMA, 2016). As emissões de 2005 utilizadas para elaborar a meta foram baseadas nos dados do Segundo Inventário Brasileiro de Emissões e Remoções de GEE, publicado pelo MCTI em 2010, e a métrica adotada foi o GWP IPCC AR5.

Pelos dados apresentados no documento “Fundamentos para a elaboração da Pretendi-da Contribuição Nacionalmente Determinada (INDC) do Brasil no contexto do Acordo de Paris” e resumidos na tabela 3, até 2030 a expectativa é aumentar em 107% as emissões no setor de Energia, 1% no setor de Agropecuária, reduzir em 111% as emissões líquidas do setor MUT (redução de 90% nas emissões brutas), aumentar em 29% as emissões de processos industriais e 17% os GEE de tratamento de resíduos (sempre em relação a 2005).

As metas adotadas para projetar os cenários da NDC do setor MUT foram: (1) refl ores-tamento de 12 milhões ha até 2030; (2) ampliação de remoções com a criação de áreas

3. METAS, COMPROMISSOSE TRAJETÓRIA

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30EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

protegidas (unidades de conservação e terras indígenas); (3) fortalecimento do Código Florestal; e (4) geração de medidas que visem desmatamento ilegal zero na Amazônia até 2030 e compensação das emissões decorrentes do desmatamento legal. Esses pressu-postos refl etem as metas da PNMC e Código Florestal.

Entre os pressupostos adotados, o mais frágil é o desmatamento ilegal zero. Desmata-mento ilegal zero já deveria ser uma realidade, não uma meta, dada a vasta gama de investimentos em comando e controle de desmatamento, principalmente no bioma Ama-zônia. Desde 2012 a taxa de desmatamento na Amazônia, principal contribuinte de GEE do setor MUT, está estagnada em torno dos 5.000 km2 por ano. Cerca de um terço desse desmatamento tem se concentrado em áreas privadas com polígonos grandes e cadas-tradas no CAR e nas regiões próximas de projetos de infraestrutura como novas hidrelé-tricas e pavimentação de rodovias. Apesar da grande cobertura alcançada pelo CAR (cerca de 95% da área cadastrável brasileira, segundo o SFB) boa parte das informações sobre as propriedades são declaratórias e não foram validadas pelos órgãos ambientais, o que leva a uma alta insegurança na qualidade dos dados (Azevedo et al., 2017). Por exemplo, no Pará, 108 mil propriedades (de um total de 150 mil) apresentam sobreposições entre si incompatíveis com as exigências legais (Pública, 2016), difi cultando a utilização desses dados para comando e controle do desmatamento. Independente disso, a meta correta deveria ser desmatamento zero. A área já aberta no Brasil é sufi ciente para atender à de-manda do agronegócio, portanto, os incentivos devem ser para cessar o desmatamento, seja ele legal ou ilegal (Strassburg et al., 2014).

Outro fator importante a ser considerado é a precifi cação das emissões de carbono no setor MUT. Um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro estimou um custo de R$ 5,2 bilhões por ano em 15 anos para zerar o desmatamento através de pagamento por serviços ambientais (Young, 2016). O Brasil ainda precisa avançar politicamente nesse tema (marcos regulatórios, estudos técnicos de linha de base, etc.), mas essa é uma es-tratégia que pode incentivar a permanência da fl oresta em pé através dos serviços que ela proporciona como, por exemplo, manutenção hídrica (Ezzine-de-Blas et al., 2016). Os desafi os metodológicos, no entanto, são complexos para implementar, ainda mais em escala nacional (Le Velly & Dutilly, 2016).

Calculamos uma estimativa de quanto as emissões podem chegar até 2030 aplicando-se os percentuais de variação publicados pelo MMA nos dados gerados pelo SEEG e pelo

3. METAS, COMPROMISSOSE TRAJETÓRIA

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31EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

Sirene. Os dados do Sirene foram originalmente gerados usando os fatores de conversão do IPCC AR2, mas neste exercício foram usados os fatores IPCC AR5.

Considerando os dados da NDC, a projeção é uma redução de 1.398 MtCO2e brutas em 2005 para 143 MtCO2e em 2030. Em termos de emissões líquidas a redução será de uma emissão de 1.187 MtCO2e para uma remoção de 131 MtCO2e. Quando considerados os dados do SEEG e do Sirene que se baseiam no método do Terceiro Inventário, em ambos a meta de emissões líquidas da NDC seria alcançada seguindo reduções proporcionais àquela projetada com dados do Segundo Inventário. As emissões líquidas cairiam e se tor-nariam uma remoção entre 211 MtCO2e e 340 MtCO2e (Sirene e SEEG, respectivamente); portanto, seriam remoções maiores que o previsto no documento-base da NDC.

Tabela 3 - Projeção das emissões esperadas considerando as metas da INDC.

3. METAS, COMPROMISSOSE TRAJETÓRIA

Emissões Mudança de Uso da Terra e Florestas*

MtCO2e(GWP-AR5)

MtCO2e(GWP-AR5)

Relação a 2005 (%)

MtCO2e(GWP-AR5)

Relação a 2005 (%)

CENÁRIOS

2005 2025 2030

INDC-MMA

TOTAL INDC-MMA **MUTF – SEEG

TOTAL SEEGMUTF – Sirene MCT***

TOTAL SIRENE

EmissãoRemoçãoLíquido

EmissãoRemoçãoLíquido

EmissãoRemoçãoLíquido

1.398211

1.1872.1332.335446

1.889

1.922

392274118

1.34665657976

192

-72%30%-90%-37%-72%

-96%

90%

143274-131

1.208239579

- 340

-211

-90%30%

-111%-43%-90%

330%0%-118%

-111%

* Na tabela do documento do MMA é usado o termo “Florestas e Uso da Terra”, porém é um uso não adequado, poisincluiria agropecuária que está separado na mesma tabela.

** Os dados de mudança de uso da terra apresentados na tabela do MMA não condizem com os dados do Segundo Inventário de emissões convertido para CO2e GWP-AR5, o valor das emissões liquidas de MUT deveria ser 1.349 e não 1.187 MtCO2e.

*** Os dados do Sirene correspondem aos dados do Terceiro Inventário e foram convertidos para GWP AR5. Os dados são apresentados apenas na forma líquida.

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32EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

Figura 7 - Emissões líquidas de dióxido de carbono de Mudança do Uso do Solo e Florestas Projetadas para INDC segundo as referências do MMA, SIRENE/MCT e SEEG

3. METAS, COMPROMISSOSE TRAJETÓRIA

Emis

sões

Líq

uida

s M

tCO

2e

3000

2500

200

1500

1000

500

0

-500

1990

2000

2005

2010

2014

2025

2030

Emissões Históricas INDC c/ Dados SEEG

INDC - Doc MMAINDC c/ Dados SIRENE

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33EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

4.1 MELHORAR OS DADOS DISPONÍVEIS PARA CALCULAR EMISSÕES

Os dados disponíveis para calcular as emissões anuais de GEE do setor MUT com o mesmo nível de acurácia utilizada no Inventário Nacional estão disponíveis apenas para alguns anos e períodos, e também necessitam de melhor regionalização e preci-são. Os mapas de uso e cobertura da terra na escala nacional foram produzidos para o Terceiro Inventário, mas existem somente para dois períodos (1994-2002 e 2002-2010). Além disso, o IBGE disponibiliza mapas de cobertura e uso da terra do paíspara os anos de 2000, 2010, 2012 e 2014, no entanto em escala de 1 km². Os dadosde biomassa estão geoespacializados somente para o bioma Amazônia, a partir dasparcelas levantadas durante o Projeto RadamBrasil. Para os outros biomas, dados debiomassa disponíveis não cobrem todo o bioma de forma sistemática. No entanto, oServiço Florestal Brasileiro está em andamento com o Inventário Florestal Nacional eesses dados podem ajudar, futuramente, na elaboração de mapas de biomassa comabrangência nacional, mais precisos. Outros mapas de biomassa que abrangem todoo Brasil já estão disponíveis, mas estes são de pesquisadores independentes (Bacciniet al., 2012; Englund et al., 2017). Estes mapas também poderiam ser utilizados paragerarem estimativas como forma de demonstrar a variabilidade e incertezas existen-tes nos cálculos de emissões dependendo da fonte de dados de biomassa.

Em janeiro de 2018, o Projeto MapBiomas lançou a Coleção 2.3 de mapas de uso do solo para todo o Brasil gerados para o período 2000-2016, a partir de imagens Landsat8. Essa iniciativa prevê a construção inédita de mapas anuais de cobertura e uso do solo para todos os biomas brasileiros usando uma metodologia única e compatível com a legenda de classes usada no Inventário Nacional de emissões. Esse projeto ainda está sendo construído mas, assim que estiver totalmente operacional, vai possibilitar a aplicação de metodologias mais robustas para o cálculo de emissões do setor MUT, como o que foi aplicado no projeto Carbon Emission Simulator (CES) (Morton et al., 2011). Os dados do MapBiomas (Coleção 2.3) serão utilizados a partir das próximas versões do SEEG. Isso vai aumentar a acurácia das estimativas anuais, principalmente nos cálculos de alocação estadual.

4. RECOMENDAÇÕES

8 MapBiomas : http://mapbiomas.org/

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34EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

4.2 APRIMORAR AS ESTRATÉGIAS PARA REDUZIR AS EMISSÕES DO SETOR MUT

Além de combater o desmatamento por meio da fi scalização e punição de infratores ambientais, seria necessário adotar outras medidas prioritárias, recomendadas a seguir.

4.2.1 Validar o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e iniciar a implementação do Programa de Regularização Ambiental

O CAR é um registro público eletrônico determinado pelo Código Florestal Brasileiro (Lei no 12.651/2012) que identifi ca os limites das propriedades rurais, bem como as Áreas de Reserva Legal (ARL), Áreas de Preservação Permanente (APP) e as Áreas de Uso (AUAS). O registro do imóvel no CAR é o primeiro passo para a regularização ambiental. Todas as propriedades ou posses rurais devem ser inscritas, independentemente de a área possuir ou não matrícula, registro de imóveis ou transcrições. Isso possibilitará ao detentor do imóvel rural solicitar licenças ambientais, aderir ao Programa de Regulari-zação Ambiental (PRA), acessar crédito agrícola, entre outras vantagens.

O produtor rural deve registrar as informações no sistema estadual ou federal. Ao fi -nal, todas as informações serão integradas no Sistema Nacional de Cadastro Ambien-tal Rural (SICAR), de responsabilidade do Ministério do Meio Ambiente e do Serviço Florestal Brasileiro.

Para que o CAR atinja todo seu potencial será necessário, além de concluir o cadas-tramento, uma validação das informações declaradas. Até 2016, mais de 3,67 mi-lhões de imóveis rurais haviam sido cadastrados (área de 383 milhões de hectares) o que correspondeu a 96,4% da área cadastrável no país. O prazo para a conclusãodo cadastro é 2018, no entanto essa informação precisa ser validada pelos órgãosambientais competentes. No Pará, por exemplo, 108 mil das 150 mil propriedadescadastradas apresentaram problemas de sobreposição acima do percentual aceitopelo MMA. Além disso, o amplo acesso aos dados permitirá a verifi cação da veracida-de das informações declaradas e o monitoramento do desempenho dos projetos derestauração fl orestal em áreas desmatadas ilegalmente. Atualmente, os órgãos públi-cos são responsáveis pelo monitoramento e pela fi scalização, mas o acesso livre per-

4. RECOMENDAÇÕES

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35EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

mitiria que outros interessados, como os fi nanciadores da produção agropecuária e compradores de produtos agropecuários, monitorassem diretamente seus parceiros.

4.2.2 Retomar a transparência na divulgação do Deter mensal e ampliar o Prodes/Deter para todos os biomas

Desde 2004 o Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter) do Inpe vem sendo utilizado pelo governo federal como ferramenta de alerta de des-matamento na Amazônia. Os dados são gerados mensalmente pelo sistema com re-solução espacial de 250 m x 250 m (a partir de imagens Modis) e têm sido utilizados para guiar as equipes de fi scalização contra o desmatamento na região. Até o fi nal de 2014, os polígonos de desmatamento gerados pelo Deter estavam disponíveis na internet9 para que instituições parceiras, como organizações da sociedade civil, pu-dessem também acompanhar as tendências mensais de desmatamento na região, além de outras aplicações.

No início de 2015 houve mudanças na estratégia de divulgação e no sistema De-ter. A metodologia de detecção passou a utilizar o satélite IRS-6, que é operado pela Agência Espacial Indiana, o que possibilitou a identifi cação de polígonos de desmata-mento a partir de seis hectares – mesma escala de mapeamento do Prodes. Esse foi um grande avanço do sistema, pois quadruplicou o poder de detecção anterior, cujo limiar mínimo era de 25 hectares. Apesar dos avanços metodológicos, a estratégia de divulgação dos dados sofreu um retrocesso, pois os polígonos gerados pelo sistema não fi caram mais disponíveis na internet. Somente dados agregados em células de 50 km x 50 km fi carão disponíveis com estatísticas sobre a intensidade dos alertas de desmatamento e, ainda, sem calendário fi xo de divulgação das informações.

Outro item também estratégico é a ampliação do projeto Prodes e do próprio Deter para todos os biomas brasileiros. Ambos os sistemas operam apenas no bioma Ama-zônia. No entanto, devido à crescente pressão antrópica que tem sido identifi cada nos outros biomas, há necessidade da ampliação desses sistemas para todo o Brasil.

4. RECOMENDAÇÕES

9 DETER: http://www.obt.inpe.br/deter/

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36EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

No caso do Prodes, o Inpe até lançou Programa Monitoramento do Desmatamento dos Biomas Brasileiros por Satélite (PMDBBS), que não vem sendo atualizado desde 2010. Tanto o Prodes quanto o Deter têm o grande potencial de contribuir para o controle do desmatamento no Brasil de forma efetiva, desde que sejam ampliados para todos os biomas.

4.2.3 Combater o desmatamento especulativo

Para prevenir novas ocupações irregulares, o governo deveria concluir a alocação das terras públicas brasileiras, principalmente na Amazônia, que tem cerca de 70 milhões ha de fl orestas públicas não designadas (Azevedo-Ramos & Moutinho, 2018). Isso pode ser feito conciliando o desenvolvimento com conservação, como por meio da criação de UCs nas terras públicas (Schneider et al., 2002; Maia et al., 2011; Aze-vedo-Ramos & Moutinho, 2018). Em paralelo, a doação e venda de terras públicas a preços abaixo do mercado deveria ser extinta, segundo recomendação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre ocupação de terras na Amazônia (Brasil, 2002). Se os posseiros tivessem que comprar a terra pública pelo preço de mercado, o gan-ho especulativo seria extinto e reduziria o interesse nas ocupações irregulares, incen-tivas atualmente pela “lei da grilagem” (nº 13.465/2017), que amplia a regularização fundiária em áreas públicas invadidas.

Para reaver as áreas desmatadas ilegalmente com cunho especulativo, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) precisa dar sequência aos cancelamentos administrativos dos títulos ilegais em cartórios (Brito & Barreto, 2011). Além disso, uma abordagem integrada com fi scalização ambiental, trabalhista, criminal e fi scal precisa ser utiliza-da nas regiões com níveis críticos de desmatamento. As punições geradas por essa abordagem diminuiriam o incentivo à ocupação das terras públicas. As regiões prio-ritárias para esse tipo de ação, considerando o desmatamento em terras públicas, incluem o entorno da rodovia BR-163, no sudoeste do Pará, e no entorno da rodovia Transamazônica, entre os municípios de Uruará e Itaituba, também no Pará, e no Sul do Amazonas e norte de Rondônia (Barreto & Silva, 2013).

4. RECOMENDAÇÕES

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37EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

4.2.4 Ampliar e melhorar os acordos do setor privado contra o desmatamento

A moratória da soja, que contribuiu para a redução do desmatamento na Amazônia (Gibbs et al., 2015a), deveria ser ampliada para o cerrado e sua duração deveria ser estendida, enquanto o governo melhora os controles previstos no Código Florestal. Para melhorar o desempenho do acordo dos frigorífi cos (TAC da pecuária), Barreto e Gibbs (2015) recomendaram implementar e divulgar sistematicamente as auditorias independentes; aumentar a confi abilidade das informações registradas no Cadastro Ambiental Rural (i.e. via validação de campo ou com imagens de satélite de alta re-solução espacial) e aumentar o número de imóveis cadastrados; garantir e ampliar o acesso a dados necessários para o monitoramento do TAC, como a Guia de Transpor-te Animal; monitorar todo o rebanho, inclusive das fazendas fornecedoras indiretas (isto é, aquelas especializadas em cria e recria); e punir fazendeiros e frigorífi cos que burlaram sistemas de controle. Além disso, será necessário aumentar a capacidade da secretaria de meio ambiente para licenciar as fazendas que buscarem a regulari-zação ambiental, bem como expandir os TACs para os Estados do Cerrado.

4.2.5 Melhorar a cobrança do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR)

A cobrança efi caz do ITR atingiria dois objetivos da Política Nacional de Mudanças Climáticas: desencorajaria o desmatamento especulativo e estimularia o aumento de produtividade nas áreas já desmatadas.

Para melhorar a arrecadação do ITR será necessário tratar de várias falhas na sua cobrança. O ITR é cobrado a partir de declarações prestadas pelo proprietário ou posseiro de imóvel sobre o valor da terra nua, o grau de utilização da terra (% da área que é utilizada em relação à área total utilizável), entre outras. Para o cálculo da uti-lização da terra, descontam-se as áreas imprestáveis ao uso e as áreas de interesse ambiental como a Reserva Legal (RL) e a Área de Preservação Permanente (APP). Para desestimular a especulação, o ITR estabelece alíquotas maiores para imóveis com baixo grau de utilização.

4. RECOMENDAÇÕES

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38EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

Os detentores de imóveis sonegam o imposto (Brasil, 2002) por meio da declaração exagerada do grau de utilização da terra e da proporção das áreas isentas (imprestá-veis e de interesse ambiental). As falhas de verifi cação dessas informações ocorrem nos vários órgãos envolvidos. A Receita Federal deveria coordenar a fi scalização das declarações em áreas onde há concentração de áreas subutilizadas (por exemplo, com grande proporção de pastos sujos) em terras com potencial agronômico, que é um in-dicador da especulação. Barreto e Silva (2013) estimaram que 46 municípios da Amazô-nia concentravam 50% destes pastos em 2007. A fi scalização do ITR nestes municípios seria facilitada pela disponibilização de informações como mapas dos imóveis (CAR e cadastro de posses do Programa Terra Legal), mapa de cobertura vegetal (Programa TerraClass do Inpe e da Embrapa) e preços de terra atualizados (por exemplo, da con-sultoria INFP). A concentração da fi scalização fi scal em área crítica seguiria a estratégia bem-sucedida de fi scalização ambiental que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) vem adotando desde 2008.

4.2.6 Criar incentivos econômicos para a conservação

Os governos federal e estaduais devem criar e ampliar os incentivos para a conserva-ção, pois os benefícios da manutenção de fl orestas vão além dos imóveis e dos mu-nicípios onde elas estão localizadas. Estes incentivos são especialmente relevantes para municípios da Amazônia, onde a Reserva Legal relativamente é maior do que no restante do país e onde está a maior parte das áreas protegidas. Ademais, os incen-tivos serão importantes para estimular a restauração da vegetação nativa, uma vez que o Congresso e o Executivo anistiaram o desmatamento de cerca de 290 mil km2 de acordo com as estimativas de Soares-Filho et al. (2014).

O Executivo deve criar e aplicar os incentivos para os produtores rurais que já estão autorizados pelo Código Florestal (Artigo 41), como o pagamento por serviços ambien-tais. Por exemplo, parte dos recursos da cobrança pelo uso da água pode ser destina-da para incentivar iniciativas que mantenham, recuperem ou recomponham Áreas de Preservação Permanente e áreas de Reserva Legal. De acordo com o Código Florestal, os incentivos devem ser direcionados, preferencialmente, para a agricultura familiar e poderiam reforçar iniciativas como o Programa Assentamentos Verdes, do Incra.

4. RECOMENDAÇÕES

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39EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

A regulamentação e implementação da Cota de Reserva Ambiental (CRA) pelos Esta-dos e pelo Governo Federal, prevista no Código Florestal, pode ser um instrumento de compensação monetária para benefi ciar os agricultores que protegem remanes-centes de vegetação nativa além do exigido e que poderiam ser desmatados. Este ins-trumento econômico permite aos proprietários de terras compensarem suas obriga-ções de restauração pagando pela manutenção da vegetação nativa em outros locais (May et al., 2015; Soares-Filho et al., 2016).

Uma iniciativa inovadora do Pará para compensar os municípios poderia ser amplia-da. Em 2013, o governo instituiu o ICMS Verde, que destinará parte do imposto para os municípios de acordo com critérios de conservação fl orestal, especifi camente: i) 25% do valor total do repasse, de acordo com a porcentagem do território municipal ocupado por áreas protegidas e de uso especial; ii) 25% considerando a existência de um estoque mínimo de cobertura vegetal e a redução do desmatamento nos municí-pios; e iii) 50% com base na porcentagem da área cadastrável do município inserida no CAR. Em 2014, o governo estadual destinou R$ 35 milhões para os municípios de acordo com estes critérios e esse valor será crescente até 2017, quando atingir 8% do total do ICMS (PMV, 2013). Uma abordagem similar poderia ser usada para aumentar as transferências federais para estados e municípios.

4.2.7 Remover barreiras ao investimento fl orestal

Para ampliar o investimento fl orestal, o Brasil deve remover as barreiras a investi-mentos, em geral e específi cas ao setor fl orestal. Para ilustrar as difi culdades, o Brasil ocupa a posição 116 na classifi cação do Banco Mundial sobre a facilidade para fazer negócios, que inclui fatores como o registro de propriedade (107o do mundo), a pro-teção de investidores (80o) e a execução de contratos (121o) (IFC, 2014). Dentre os fatores críticos no setor fl orestal estão a regularização fundiária e a possibilidade de investimentos. O sucesso de uma política fl orestal depende de um esforço coordena-do na esfera da Presidência da República e do Congresso para mobilizar os diversos setores relevantes.

4. RECOMENDAÇÕES

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40EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

Este estudo foi realizado com apoio da Fundação Avina e Clua. Agradecemos as con-tribuições dos revisores.

5. AGRADECIMENTOS

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48EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

RESUMO DA METODOLOGIA PARA CALCULAR AS EMISSÕES DO SETOR MUT

As emissões de GEE do Setor de Mudança de Uso da Terra estão representadas na Figura 8. As emissões estão associadas a alterações do tipo de uso da paisagem em um período de tempo. Cada alteração relaciona-se a uma emissão ou remoção de GEE. Por exemplo, a queima de fl orestas emite CO2 (e outros GEE) e o crescimento de fl orestas secundárias remove CO2.

No projeto SEEG usamos o método empregado no relatório das Estimativas Anuais de Emissões de Gases do Efeito Estufa do Brasil (MCTI, 2016), que gerou estimativas de emissões para o Brasil para o período 1990-2014. As fontes de dados incluíram as emissões reportadas nos Inventários Nacionais (MCTI, 2016). Também usamos dados da Associação Brasileira dos Produtores de Calcário (Abracal) para estimar as emis-sões de dióxido de carbono pela calagem, bem como dados de carbono de lenha pu-blicados pelo Balanço Energético Nacional (BEN) para estimar as emissões por quei-ma de resíduos fl orestais. Os detalhes metodológicos completos para gerar essas estimativas podem ser encontrados na Nota Metodológica elaborada pelo Imazon e IPAM (SEEG, 2017, disponível no site do SEEG). Os resultados das estimativas encon-tram-se no Anexo 1 deste documento.

Figura 8 - Principais processos e GEE envolvidos no setor de Mudança de Uso da Terra

7. APÊNDICE

Tempo

PLANTAÇÃOPECUÁRIAS/AGRICULTURAUSO DO SOLO

ATMOSFERA

FLORESTA

Gases envolvidos:CO2 - Dióxido de carbonoCH4 - MetanoN2O - Óxido nitroso

Absorsões graduais por formação de fl oresta (5-20anos)

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49EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

ANEXO 1

Tabela 4 - Emissões totais em milhões de tCO2e (GWP AR5) no Setor de Mudança de Uso da Terra, período 1990-2016

8. ANEXOS

SETOR MUDANÇA E USO DO SOLO MTCO2E (GWP AR2) 1990 20051995 20102000 2015 2016

EMISSÃOAlterações de Uso do SoloAmazôniaCaatingaCerradoMata AtlânticaPampaPantanalCalagemNAResíduos FlorestaisAmazôniaCaatingaCerradoMata AtlânticaPampaPantanalREMOÇÃORemoção por Floresta SecundariaAmazôniaCaatingaCerradoMata AtlânticaPampaPantanalRemoção por Mudança de Uso da TerraAmazôniaCaatingaCerradoMata AtlânticaPampaPantanalRemoções de Áreas ProtegidasAmazôniaCaatingaCerradoMata AtlânticaPampaPantanalEMISSÃO LÍQUIDA

1.109104076812

186470

2755

64336

21202

-226-14-1400000

-22-4-3-6-8-10

-189-175

0-10-400

874

2.33422191.426

40330379222277

108558

41112

-446-72-52-2-5

-1300

-111-2

-24-31-46-80

-264-228

-2-23-9-1-1

1.873

2.07319561.626

28222580

2255

112691425202

-237-14-1400000

-22-4-3-6-8-10

-202-182

-1-12-6-10

1.822

90084351328

150126206

101047206

19011

-524-94-75-1-5

-1300

-114-5

-24-31-46-80

-315-276

-2-25-10-1-1

370

1.43913441.020

28222520

2299

86431425202

-257-14-1400000

-22-4-3-6-8-10

-222-193

-3-16-9-10

1.170

95188345528

221153206

141454186

27111

-527-94-75-1-5

-1300

-114-5

-24-31-46-80

-318-278

-2-25-11-1-1

359

1.169109557928

221241206

151559236

27111

-529-94-75-1-5

-1300

-114-5

-24-31-46-80

-322-283

-2-24-11-1-1

639

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50EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

8. ANEXOS

ANEXO 2

EMISSÕES DE QUEIMADAS NÃO ASSOCIADAS AO DESMATAMENTO

Queimadas não associadas ao desmatamento são uma das principais perturbações em áreas de vegetação nativa, contribuindo para as emissões de GEE (CO2, CO, CH4, NOx, N2O) e afetando processos climáticos locais a globais (Yamasoe et al., 2000; Alen-car et al., 2006; Artaxo et al., 2006). As emissões e os impactos dessas queimadas, também conhecidas como incêndios, são distintos entre os biomas e a depender do tipo de vegetação (fi tofi sionomia), época do ano, frequência e intensidade da queima, fazendo com que seja mais desafi ador a sua contabilidade.

Embora parte das emissões causadas por queimadas de origem antrópica não asso-ciadas ao desmatamento sejam revertidas pelo processo de regeneração da vegeta-ção, com fi xação de carbono atmosférico, os regimes observados, com frequência e intensidade crescentes, comprometem essa remoção potencial ao danifi car a vege-tação regenerante sucessivamente. Esse processo tem se agravado, aumentando as emissões em relação às remoções e, assim, tornando crítica a necessidade contabili-zar as emissões resultantes (líquidas).

No Relatório de Referência sobre mudança de uso da terra do Terceiro Inventário (MCTI, 2015) é apresentado um estudo sobre a área afetada por queimadas em 2010 nos biomas Cerrado, Caatinga e Amazônia, servindo de base para estabelecer fatores de emissões. Isso permitiu uma primeira estimativa das emissões por queimadas não associadas ao desmatamento descritas na tabela a seguir:

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51EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

8. ANEXOS

Tabela 5 - Emissões de GEE referentes às queimadas não associadas ao desmatamento nos biomas Amazônia, Cerrado e Caatinga, em 2010. Fonte: MCTI, 2015

Estas emissões, apesar de signifi cativas, não foram ainda incorporadas nos inventários por três motivos que demandam melhorias metodológicas: (i) as emissões de CO2 po-dem ser revertidas dependendo das condições de regeneração da vegetação natural e apenas o acompanhamento desta regeneração permitirá indicar se há ou não neutrali-dade no processo; (ii) com relação aos demais gases, havia falta de dados históricos para incorporar o dado no inventário; e (iii) não foi possível avaliar a trajetória sucessional ou de transição de uso nas áreas queimadas ao longo da série histórica para garantir consis-tência temporal da série de Inventários Nacionais a esse tipo de emissões (MCTI, 2015). Em resumo, a ausência de dados históricos sobre área afetada por queimadas no Brasil e sua trajetória sucessional é o principal fator que impediu a incorporação desta fonte nas estimativas ofi ciais de emissões de GEE.

Apesar de fundamental, o mapeamento sistemático da área queimada no Brasil ainda representa um grande desafi o. Para que os incêndios sejam capturados em suas diver-sas situações, dependendo do tipo de vegetação afetada e época da queima, faz-se ne-cessário uma maior frequência temporal e uma melhor resolução espacial dos dados de satélite utilizados nesse mapeamento. Dados de satélite mais frequentes de cicatrizes de incêndios possibilitam o mapeamento de áreas queimadas em tipos de vegetação arbus-tivas e gramíneas como as que ocorrem no Cerrado, pois o sinal das mesmas desapare-cem em poucas semanas. Já uma melhor resolução espacial dos dados de satélite facilita

BIOMA CO2 CO N2OCH4 NOX

Amazônia

Cerrado

Caatinga

67.249

172.632

5.696

4.426,5

6.956,5

229,5

289,4

246,2

8,1

8,51

22,48

0,74

68,1

417,4

13,8

Gg

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52EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

a captura das áreas queimadas por incêndios fl orestais, que afetam principalmente as bordas das áreas de fl oresta densa da Amazônia (Alencar et al., 2015).

A equipe do SEEG buscou identifi car formas de gerar um mapeamento histórico des-tas cicatrizes. Como um primeiro passo, para detecção da ocorrência e frequência das áreas queimadas não associadas ao desmatamento no Brasil a partir de 2000, foram combinados os dados disponíveis de área queimada com mapa de cobertura vegetal nativa por bioma:

• No caso do mapeamento de área queimada, foi utilizado o produto MCD45A1 (Burned Area Monthly) do sensor MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectro-radiometer) dos satélites Terra e Aqua da NASA, que representa áreas queimadas com resolução espacial de 500 m, disponível na página web do sistema NASA: ht-tps://search.earthdata.nasa.gov. Esses dados oferecem uma resolução temporal apropriada (captura diária de dados) para o mapeamento dos incêndios, princi-palmente em tipos de vegetação nativa não fl orestal, mas sua resolução espacial (500m) apresenta difi culdades em capturar pequenos incêndios, portanto subes-timando a área afetada por incêndios (Alencar et al., 2011).

• Para o mapeamento dos tipos de vegetação nativa associados às áreas queimadas foi utilizado como referência o mapa de uso e cobertura da terra no Brasil do ano de 2015 da Coleção 2 do MapBiomas (www.mapbiomas.org), visto que essa é a informação mais recente disponível para o país, mas que ainda está em processo de melhoria, principalmente em relação ao mapeamento dos tipos de vegetação nativa (fl orestal, savânica e campestre) entre os anos mapeados.

Apesar de estas estimativas utilizarem os melhores e mais atualizados dados sobre área queimada e vegetação nativa, ainda há incertezas associadas ao mapeamento de remanescentes da vegetação nativa no Brasil, como também associado ao produ-to MODIS. Tais incertezas estão sendo trabalhadas para diminuir na próxima versão do SEEG, quando toda a série temporal refi nada do MapBiomas estará disponível, contando também com mapas de áreas queimadas (no próximo ano será lançada a Coleção 3 do MapBiomas estendida para o período de 1985 a 2016).

8. ANEXOS

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53EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

Mesmo com tais limitações, essa combinação dos dados de queimadas e vegetação nativa do Brasil demonstra que, entre os biomas e para todos os anos considerados (com exceção de 2015), a maior ocorrência de áreas queimadas se encontra no Cerra-do (Figuras 4 e 5). Esses incêndios, que afetam principalmente a vegetação savânica e campestre do bioma, têm-se concentrado nas frentes de expansão da agricultura como na transição entre os biomas Cerrado e Amazônia, nos estados de Mato Grosso e Tocantins, e na região de Matopiba, nas divisas entre os Estados do Tocantins, Mara-nhão, Piauí e Bahia, áreas que apresentam também maiores taxas de desmatamento (Spera et al., 2016). O bioma Pampa foi o que menos queimou. Especialmente no Cerra-do, a área queimada em vegetação nativa, aumentou em 87% nos últimos quatro anos, sendo que em algumas regiões do bioma foi registrada alta frequência de queimadas (entre 10 e 16 anos), indicando uma mudança no regime natural de fogo da região.

A Amazônia apresenta o segundo lugar em maior extensão de áreas afetadas por incêndios (Figura 4). Em 2015, os registros de área queimada nas fl orestas da Ama-zônia foram recordes principalmente em decorrência do El Niño de 2015/2016, um dos mais intensos e prolongados desde o início da década de 1990. Os anos de 2005 e 2010 também marcaram períodos em que Amazônia sofreu recordes de seca. En-tretanto, a área queimada nesses anos não atingiu as proporções de 2015, provavel-mente em decorrência do período de chuva nos anos anteriores a este El Niño terem sido fracos e insufi cientes para recarregar os solos entre uma seca e outra, deixando um défi cit hídrico no solo que se acentuou com a seca extrema causada pelo El Niño. Além de condições climáticas, outros fatores antrópicos, como a fragmentação fl o-restal causada pelo desmatamento e a exploração madeireira têm agido de forma sinérgica, aumentando o risco de incêndios (Alencar et al., 2004; Alencar et al., 2015; Fonseca et al., 2017).

8. ANEXOS

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54EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

Figura 9 - Área queimada (hectares) em vegetação nativa remanescente por bioma no período de 2000 a 2016. (FONTE: MapBiomas; Modis/Nasa)

Áre

a qu

eim

ada

(ha)

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

16.000.000

14.000.000

12.000.000

10.000.000

8.000.000

6.000.000

4.000.000

2.000.000

0

Amazônia Mata Atlântica PampaCaatinga Cerrado Pantanal

8. ANEXOS

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55EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

Figura 10 - Frequência de áreas queimadas em remanescentes de vegetação nativa no Brasil no período de 2000 a 2016. (FONTE: MapBiomas; Modis/Nasa)

8. ANEXOS

Frequência muito baixa (1 a 2 anos)

Frequência baixa (3 a 5 anos)

Frequência média (6 a 9 anos)

Frequência alta (10 a 16 anos)

FREQUÊNCIA DE QUEIMADAS

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56EMISSÕES DO SETOR DE

MUDANÇA DE USO DA TERRA

Portanto, emissões de queimadas não associadas a desmatamento tanto para o Cer-rado quanto para a Amazônia (principalmente nos estados onde esta ocorrendo o avanço da frente de expansão agrícola e nos anos de seca extrema, como o de 2015) tendem a impactar as estimativas de emissões de GEE, uma vez que estas passarem a ser contabilizadas. Inclusive devido ao fato de que grande parte das áreas que são atingidas por incêndios de altas proporções tem ocorrido em áreas protegidas no Cerrado (onde em média 38% das áreas queimadas estão em áreas protegidas), o que também impacta a contabilidade de emissões, visto que estas são consideradas como áreas manejadas e portanto superestimando as remoções, já que essas emis-sões ainda não foram contabilizadas nos inventários nacionais.

Após a queima da biomassa da vegetação nativa, futuras remoções do processo de regeneração e incremento da biomassa também devem ser contabilizadas, que de-pendem da capacidade de regeneração dos diferentes tipos de vegetação nativa e às condições ambientais. Queimadas frequentes também reduzem o incremento e a resi-liência da vegetação. Desse modo, o monitoramento do processo de regeneração após o fogo e da transição de uso e cobertura destas áreas também deve ser acompanhado ao longo do período dos inventários nacionais (MCTI, 2015). O projeto MapBiomas tam-bém poderá contribuir no acompanhamento desse processo de regeneração.

8. ANEXOS