emergência n 0

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emergência N.º ZERO - 1 de Julho de 2014 - publicação trimestral - CARDINAL CINCO | COLECTIVO EDITORIAL O DISCURSO O discurso artístico acontece para a emergência de um colectivo cultural. Através da(s) forma(s) de expressão escolhida(s) pelo(s) autor(es) transmite-se a mensagem, está patente o que nos identifica: a nossa alma e o nosso corpo, pormenores e detalhes, figura integrante do que somos, do que nos lembramos, daquilo em que nos transformamos e que (re)inventamos – a nossa própria essência, o regresso ao infinito. O discurso é criar, é estarmos vivos. Associam-se ideias, pensamentos e vontades, movimentam-se identidades e paixões, nascem estruturas e plataformas, consagram-se novidades, há discurso e a arte é real, o colectivo é possível. A emergência torna-se um evento permanente, o conteúdo do discurso artístico, a ética da sua própria estética, cada ser é um tema, cada assunto é uma conversa, todo o autor é um projecto e todo o espectador é um freguês, o local é uma zona com obra feita, a freguesia da vida no município da identidade, a emergência artística é o discurso da (r)evolução contemporânea de qualquer actualidade, é a alternativa escolhida. Manuel Pessôa-Lopes Presidente da Direcção da CARDINAL CINCO | COLECTIVO ASSOCIAÇÃO PARA A ARTE E CULTURA Com o objectivo de criar uma plataforma e uma dinâmica para dar visibilidade a artistas e criadores emergentes, promovendo a integração profissional destes artistas e criadores através da mostra dos seus trabalhos no contexto de uma zona de Lisboa muitíssimo conceituada pela sua dinâmica artística e cultural, sejam eles jovens, como de outras faixas etárias, nomeadamente provenientes de grupos socialmente menos favorecidos, foi criado o projecto EMERGÊNCIA pelo movimento associativo CARDINAL CINCO | COLECTIVO. Este projecto tem a sua principal zona de implementação a Freguesia da Misericórdia em Lisboa (Chiado, Bairro Alto, Príncipe Real, São Bento, Bica, São Paulo e Cais do Sodré), mantendo com a respectiva Junta de Freguesia uma parceria estratégica, para além de outras parcerias possíveis com instituições públicas ou privadas que desejem participar neste projecto. A CARDINAL CINCO | COLECTIVO – ASSOCIAÇÃO PARA A ARTE E CULTURA foi criada no âmbito da quinta edição da Bienal do Porto Santo – Mostra Internacional de Arte Contemporânea, e tutela actualmente a produção desta Bienal, está no entanto sediada em Lisboa na Freguesia da Misericórdia. Desde 2011 que foi iniciada com o Espaço Cultural das Mercês (actualmente integrado na Freguesia da Misericórdia) uma interacção através de uma exposição com participações internacionais e com a presença de artistas destes países, e tendo constituindo este evento uma extensão da quarta edição da Bienal do Porto Santo. A partir de 2011 criou-se e manteve-se uma dinâmica de parceria com este Espaço Cultural, através de conteúdos formativos, eventos expositivos, criação de sinergias e partilha de objectivos culturais e artísticos. A quinta edição da Bienal, que foi realizada num formato expansivo, abriu e foi apresentado o seu programa em Setembro de 2013 no Espaço Cultural das Mercês. O projecto EMERGÊNCIA promove oficinas e residências artísticas, eventos expositivos e de espectáculo, debates e acções formativas, e anualmente, no verão, um evento com o conjunto dos produtos artísticos criados ao longo das dinâmicas ocorridas em cada percurso antecedente. O EMERGÊNCIA conta também com a participação de artistas e criadores já inseridos em carreiras profissionais a fim de criar sinergias com os emergentes e desta forma promover os que emergem e por outro lado renovar dinâmicas aos mais experientes. Os produtos criados pelos artistas do EMERGÊNCIA poderão ser apresentados noutros eventos externos ao projecto com que o CARDINAL CINCO | COLECTIVO ou as entidades parceiras estabeleçam ligações, e também poderão ser promovidos nas edições futuras da Bienal do Porto Santo. primeira página

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Page 1: Emergência n 0

emergênciaN.º ZERO - 1 de Julho de 2014 - publicação trimestral - CARDINAL CINCO | COLECTIVO

EDITORIALO DISCURSOO discurso artístico acontece

para a emergência de um colectivo cultural. Através

da(s) forma(s) de expressão escolhida(s) pelo(s) autor(es)

transmite-se a mensagem, está patente o que nos

identifica: a nossa alma e o nosso corpo, pormenores e

detalhes, figura integrante do que somos, do que nos

lembramos, daquilo em que nos transformamos e que (re)inventamos – a nossa

própria essência, o regresso ao infinito. O discurso é criar,

é estarmos vivos.

Associam-se ideias, pensamentos e vontades,

movimentam-se identidades e paixões, nascem estruturas e plataformas, consagram-se

novidades, há discurso e a arte é real, o colectivo é

possível.

A emergência torna-se um evento permanente, o conteúdo do discurso

artístico, a ética da sua própria estética, cada ser é

um tema, cada assunto é uma conversa, todo o autor é um

projecto e todo o espectador é um freguês, o local é uma zona com obra

feita, a freguesia da vida no município da identidade,

a emergência artística é o discurso da (r)evolução

contemporânea de qualquer actualidade, é a alternativa

escolhida.

Manuel Pessôa-Lopes

Presidente da Direcção da CARDINAL CINCO | COLECTIVO

ASSOCIAÇÃO PARA A ARTE E CULTURA

Com o objectivo de criar uma plataforma e uma dinâmica para dar visibilidade a artistas e criadores emergentes, promovendo a integração profissional destes artistas e criadores através da mostra dos seus trabalhos no contexto de uma zona de Lisboa muitíssimo conceituada pela sua dinâmica artística e cultural, sejam eles jovens, como de outras faixas etárias, nomeadamente provenientes de grupos socialmente menos favorecidos, foi criado o projecto EMERGÊNCIA pelo movimento associativo CARDINAL CINCO | COLECTIVO. Este projecto tem a sua principal zona de implementação a Freguesia da Misericórdia em Lisboa (Chiado, Bairro Alto, Príncipe Real, São Bento, Bica, São Paulo e Cais do Sodré), mantendo com a respectiva Junta de Freguesia uma parceria estratégica, para além de outras parcerias possíveis com instituições públicas ou privadas que desejem participar neste projecto.

A CARDINAL CINCO | COLECTIVO – ASSOCIAÇÃO PARA A ARTE E CULTURA foi criada no âmbito da quinta edição da Bienal do Porto Santo – Mostra Internacional de Arte Contemporânea, e tutela actualmente a produção desta Bienal, está no entanto sediada em Lisboa na Freguesia da Misericórdia.

Desde 2011 que foi iniciada com o Espaço Cultural das Mercês (actualmente integrado na Freguesia da Misericórdia) uma interacção através de uma exposição com participações internacionais e com a presença de artistas destes países, e tendo constituindo este evento uma extensão da quarta edição da Bienal do Porto Santo. A partir de 2011 criou-se e manteve-se uma dinâmica de parceria com este Espaço Cultural, através de conteúdos formativos, eventos expositivos, criação de sinergias e partilha de objectivos culturais e artísticos. A quinta edição da Bienal, que foi realizada num formato expansivo, abriu e foi apresentado o seu programa em Setembro de 2013 no Espaço Cultural das Mercês.

O projecto EMERGÊNCIA promove oficinas e residências artísticas, eventos expositivos e de espectáculo, debates e acções formativas, e anualmente, no verão, um evento com o conjunto dos produtos artísticos criados ao longo das dinâmicas ocorridas em cada percurso antecedente. O EMERGÊNCIA conta também com a participação de artistas e criadores já inseridos em carreiras profissionais a fim de criar sinergias com os emergentes e desta forma promover os que emergem e por outro lado renovar dinâmicas aos mais experientes. Os produtos criados pelos artistas do EMERGÊNCIA poderão ser apresentados noutros eventos externos ao projecto com que o CARDINAL CINCO | COLECTIVO ou as entidades parceiras estabeleçam ligações, e também poderão ser promovidos nas edições futuras da Bienal do Porto Santo.

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#5 BIENAL DO PORTO SANTOAconteceu em Lisboa a quinta edição da Bienal, Mostra Internacional de Arte Contemporânea, que tem como referência o Porto Santo. Foi nesta ilha que, em 2005 se iniciou a Bienal com a sua primeira edição e se realizaram as três posteriores até 2011, em paralelo com muitos eventos e acções preparatórias estendidos a outros locais do país.

A crise e o consequente constrangimento financeiro impediram que o Município do Porto Santo assumisse, depois de 2011, as responsabilidades da continuidade deste projecto. Não obstante, em 2013, o novo executivo, contactado um mês depois da tomada de posse, informou sob a forma de ofício que, embora o constrangimento se mantivesse e não fosse possível no momento assumir as ditas responsabilidades, esperava poder fazê-lo num «futuro próximo».

O apego a um projecto que ao longo de uma década de trabalho, envolveu centenas de artistas de quatro dezenas de países da Europa, da Ásia, da África, da América e da Oceânia; produziu criações tanto no domínio das artes visuais com no das de espectáculo; estimulou acções de responsabilidade social; tornou-se num produto de turismo cultural capaz de potencializar o desenvolvimento económico e numa referência cultural relevante tanto para o Porto Santo como para Portugal, levou a que muitos artistas e participantes neste projecto criassem uma estrutura própria de produção – o movimento associativo # 5 – CARDINAL CINCO | COLECTIVO, e decidissem realizar em Lisboa, onde encontraram a abertura necessária e alguns apoios, a quinta edição da Bienal do Porto Santo.

Esta edição contou com uma sequência de eventos desde Setembro de 2013 a Março de 2014. Iniciou-se com a apresentação do programa da quinta edição no ESPAÇO CULTURAL DAS MERCÊS, e um jantar e uma interven-ção artística no restaurante VIÚVA; em Outubro abriu na CASA DA CULTURA DOS OLIVAIS uma mostra individual da Artista (e Presidente da Assembleia Geral do #5) Gina Flor, que contextualizou, através das obras patentes, os temas abordados nas cinco edições já realizadas da Bienal; em Novembro aconteceu uma mostra colectiva na galeria da LER DEVAGAR, na «LX FACTORY», e esteve disponível para visualização na VIDEOTECA da CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA, uma selecção do acervo cinematográfico e videográfico da Bienal do Porto Santo; em Dezembro ocorreu uma colaboração com a exposição «A Luz da Nossa Identidade», patente no PALÁCIO DA INDEPENDÊNCIA e inserida nas comemorações oficiais da efeméride da Restauração de 1640, contando esta exposição com um número muito significativo de artistas da Bienal; em Ja-neiro de 2014 aconteceram uma mostra colectiva e um espectáculo de dança de Irina Metamorfoses, nos espaços e auditório da BIBIOTECA ORRLANDO RIBEIRO da CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA; em Fevereiro realizou-se outra mostra colectiva na BIBLIOTECA CAMÕES, igualmente da CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA; e em Março teve lugar, em seis espaços da FÁBRICA BRAÇO DE PRATA, mais uma mostra colectiva, tendo num destes espaços estado patente o Porto Santo, através das imagens realizadas na ilha pela

Fotógrafa Ana Marta – «já que Maomé não foi à montanha, foi a montanha a Maomé».

Nesta quinta edição da Bienal do Porto Santo destacaram-se ainda as participações artísticas de: Alexandre Faria, Alice Resende, Ampawan Sasthong, Ana Cosme, Ana Mandillo, Angela Belindro, António Aires, António Flor, Carla Patrícia Marques, Carlos Cordeiro, Carlos Mota, Clo Bourgard, Dinarte Freitas, Dinis Silva, Doroteia Pinto, Fabianny Deschamps, José Neto, Maria del Mar, Marta Gaspar, Marta Ramos Silva, Miguel Brazete, Nell-Lynn Perera, Paulina Evaristo, Paulo Matos, Pedro Charters d’Azevedo, Pedro de Faro, Pedro Mourão, Ricardo Almeida, Sabine Champredonde, Sofia Leitão, Taita M. Cunha, Teresa Canto de Noronha, Trãn Chí Thành, e Wilson Galvão; e as colaborações de Henry Nesbitt, José Fonseca Da Silva, Luís Marques do Paço, Madalena Homem Cardoso, Manuel António Pereira, Maria de Mascarenhas, Paula Froes, Rogério Fonseca, Sérgio Pais e Viriato Amorim.

A quinta edição também originou as sinergias necessárias para iniciar em Lisboa o projecto EMERGÊNCIA, que por sua vez poderá criar produtos artísticos que venham a participar nas futuras edições da Bienal.

A próxima sexta edição da Bienal do Porto Santo acontece em 2016 e terá uma amplitude nacional, com a realização de eventos e acções em diversas localidades do país, homenageando a ilha do Porto Santo como referência fundamental do maior contributo que os portugueses deram à humanidade: o terem contactado e estabelecido o diálogo entre os povos do mundo, uma aventura que é continuada pelos Artonautas desta Bienal.

Manuel Pessôa-Lopes

(Curador)

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e a demanda da consoante inscriPta«catáSTrOPhe» é, desde 2012, a designação de uma série de eventos artísticos e culturais contestando o chamado «acordo» dito «ortográfico», linguicídio na forma tentada.

A perplexidade suscitada pela «catáSTrOPhe» linguística tem sido tema de um notável acervo de intervenções que prosseguirá enquanto prosseguir a devastação operada por um poder político medíocre, indiferente ao património histórico-cultural, dissociado dos cidadãos, servo de interesses espúrios.

O atentado identitário usa a ignorância reinante num ensino desinvestido mas, sobretudo, a cumplicidade de um temor reverencial, acrítico, des-sensibilizado, colectivamente herdado de três séculos de Inquisição, meio século de ditadura, três décadas de... tabus. Saberemos merecer o passado e o futuro?

Madalena Homem Cardoso(Texto e logótipo)

Realizou-se durante o ano de 2013, no Espaço Cultural das Mercês, uma oficina de artes cénicas denominada (PER)CURSO. Esta oficina teve a duração de nove meses, nela se tendo desenvolvido competências e criado conteúdos que estiveram patentes na #5 Bienal do Porto Santo.

Também esta oficina deu um importante contributo para as sinergias necessárias que permitiraminiciar o projecto EMERGÊNCIA. Na apresentação deste novo projecto acontecem momentos de espectáculo, que mostram a metamorfose através da criatividade na utilização de materiais desperdiçados, em obras emergentes capazes de valorizar a

nossa identidade cultural.

terceira página

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ACONTECE arte nesta zona de Lisboa… E nas outras também. E ainda mais longe, em locais a que nos ligamos. A publicação

trimestral da EMERGÊNCIA fala do que acontece, do que é importante, do que movimenta novas ideias, do que faz emergir. Os eventos dos outros são notícia, são sinergias

estabelecidas, é a emergência da cumplicidade.

RUA DA MISERICÓRDIA | BAIRRO ALTO | ESPAÇO CULTURAL DAS MERCÊS | CALÇADA DO COMBRO | CAMÕES |

PALÁCIO QUINTELLA | CHIADO | RUA DE S. BENTO | ESPAÇO SANTA CATARINA | RUA DO NORTE | CIDADE DO PORTO | PLATAFORMA REVÓLVER | CONSERVATÓRIO | RUA DE O

SÉCULO | ILHA DO PORTO SANTO | PRÍNCIPE REAL | LICEU PASSOS MANUEL | MERCADO DA RIBEIRA | ETIC |

BIBLIOTECA CAMÕES | GALERIA GRAÇA BRANDÃO | SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE LISBOA | ASCENSOR

DA BICA | RUA DA ROSA | PALÁCIO CABRAL | TRAVESSA DO CONDE DE SOURE | ALTO DO LONGO | IADE | TRAVESSA DO

ABARRACAMENTO DE PENICHE | CIDADE DE BRAGA | MUSEO GEOLÓGICO | TEATRO DA TRINDADE | CAIS DO SODRÉ | RUA DA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS | AVENIDA 24 DE JULHO

| CARPE DIEM | TAILÂNDIA | ESCOLA SUPERIOR DE DANÇA | PRAÇA DUQUE DA TERCEIRA | RUA ANTÓNIO

MARIA CARDOSO | IGREJA DE S. ROQUE | CONVENTO DO CARDAES | ASSOCIAÇÃO 25 DE ABRIL | CASA DA

IMPRENSA | LARGO BARÃO DE QUINTELLA | AVENIDA D. CARLOS I | RUA DE S. PAULO | CASA-MUSEU JÚLIO POMAR |

ETIC | BOQUEIRÃO DO DURO | INDA A NOITE É UMA CRIANÇA | CIDADE DE PARIS | GALERIA BOAVISTA |

ASCENSOR DA GLÓRIA | MIRADOURO DE SANTA CATARINA | SANTOS POPULARES | CIDADE DE BERLIM |

MUSEU DO CHIADO | RUA DAS FLORES | FÁBRICA BRAÇO DE PRATA | LARGO DO CONDE-BARÃO |

MOÇAMBIQUE | CASA CONVENIENTE | JARDIM DE S. PEDRO DE ALCÂNTARA | METROPOLITANO DE LISBOA |

CALÇADA DO COMBRO | ZÉ DOS BOIS | ILHA DO CORVO | LER DEVAGAR | CANADÁ | TEATRO DE S. CARLOS |

ARTCASA | MERCADO DO BAIRRO ALTO | RESERVATÓRIO DA PATRIARCAL | SALA DO VEADO | JAMAICA | FLAUSINA | CASA

DE TIMOR | TRANSBOAVISTA ART EDIFÍCIO | RUA CECÍLIO DE SOUSA | RUA DA BICA DE DUARTE BELO | CINEMA

PARAÍSO | ITÁLIA | PRAÇA DAS FLORES | RUA DO POÇO DOS NEGROS | ELÉCTRICO 28 | RUA DO ALECRIM | RUA DE SANTA

TERESA | TEATRO DO BAIRRO | CALÇADA PORTUGUESA | LARGO DR. ANTÓNIO DE MACEDO

Para o envio de informações / noticias sobre o que emerge:correio electrónico: [email protected]

telefone: 927 061 335antepenúltima página

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MEMÓRIA HISTÓRICA – UMA PERENE LITURGIA

penúltima página

A Memória Histórica, que se transmite essencialmente através de conteúdos culturais, enraíza também em factores de ordem civilizacional e genética, transmitidos estes, por sua vez, desde antanho pelo ambiente histórico em que se constituem e se desenvolvem as sociedades e as mentalidades que lhes são inerentes. Falar de genética, neste contexto, significa não só ter em conta as particulari-dades de apreensão e de interiorização conseguidas pelo desenvolvimento biológico ao longo dos tempos, como também estabelecer padrões genealógicos e especificar alguns tópicos gerais e únicos que nos levem à compreensão da evolução dessas sociedades, elas próprias devidamente integradas nas civilizações de que são componentes. Pelo que, para além da Cultura propriamente dita, baseada na educação que a deve suportar, há que ter em conta não só os factores que lhe são próprios, mas também a queles de ordem económica, social e política, de cada um podendo e devendo traçar-se a genealogia, a fim de que, em última instância se possa aperceber o peso-valor da sua especificidade e aquela do todo de que fazem parte.

Partiram alguns do princípio – que nos parece de certo modo correcto, tendo em conta que somos seres humanos e constituídos de matéria – de que a economia deve ser estudada, explicada e entendida como algo exclusivamente material. Mas somos mais do que isso, pelo que a não devemos dissociar, para além de outros factores, também da parte espiritual que nos compõe. Havendo, pois, o cuidado de salientar a vertente materialista de todo o desenvolvi-mento económico, atentemos, se bem que sumariamente, na natureza e na essência desse universo histórico. A economia nasce pela exigência da satisfação de necessidades humanas. Por outro lado, os recursos naturais postos pela Natureza à disposição do Homem para a sua manutenção e conservação, exceptuando determinados períodos em que ocorreram fenómenos que levaram à escassez, sempre esses recursos, como ainda hoje e talvez hoje mais do que nunca – veja-se o que quanto se desperdiça -, são suficientes para cumprir aquilo a que se destinam. Aqui chegados, indagar-nos-emos sobre o porquê da fome, da indigência e da miséria e a resposta é simples: desigualdade de oportunidades, má distribuição da riqueza, cobiça e egoísmo. Então, não querendo regressar aos tempos primevos, às cavernas, apresentam-se duas hipóteses, a da Caridade e a de uma maior justiça social. A prática da primeira, comummente aceite e pregada por cultos e religiões diversos, era (e é?) a maneira mais fácil e talvez eficaz de colmatar o fosso que economicamente separa os indivíduos; ela deverá abranger não só os desfavorecidos nas suas necessidades, o planeta, que sofre ecologicamente por tão mal tratado que tem sido pela ganância e abranger-nos a nós próprios, que de tudo isso somos responsáveis. A segunda, que deverá ser um direito, está longe de ter alcançado a sua plenitude; pensamos seriamente, que, não estando reunidas as condições para uma Terceira Via (as tentativas para elatêm-se mostrado inoperantes e fracassadas) e uma vez que nos encontramos longe do Éden tão almejado, esses serão dois caminhos que, por enquanto, se poderão ir complementando.

Outros dos factores que se nos deparam são os sociais

propriamente ditos. Factores que, como se advinha, estão ligados aos económicos, aos políticos, e, superiormente, aos culturais. Comecemos por estabelecer a ponte entre os anteriormente tratados e aqueles a que sucintamente passamos. Ela é naturalmente feita pela justiça social. Esta, tão desprezada, desde os tempos remotos do comunitarismo primitivo – em que a par da obrigação do trabalho havia a divisão igualitária dos recursos naturais –, tem levado, paradoxalmente, apesar da evolução, a uma repartição imponderada, pouco ou nada equitativa da riqueza. Soe assim repensar, como dissemos, não só em termos económi-cos, como sociais e outros, as estruturas das sociedades hodiernas, a fim de que, hiatos quase sempre nefastos como as revoluções, de consequências muitas vezes negativas, possam ser evitados, substituídas essas estruturas, de modo mais adequado, pela via da moderação. Moderação que, enquanto decorrente de uma educação forte, se reflectirá na boa-vontade dos governantes e dos governados. Contudo, em conjunto com esta premissa e não desprezando o que de bom a tradição significa, não recusemos ainda certos ideais que têm norteado movimentos modernos, contemporâneos e mesmo modernistas, desde o Renascimento, passando pelo Iluminismo, até à actualidade, por que baseados no desenvolvimento da psique humana e tendentes ao aperfeiçoamento da sociedade em que temos evoluído. Acreditamos que a via revolucionária, por regra, sem a considerarmos a mais adequada, não deixa por isso de apresentar, apesar dos seus recuos e avanços, elementos positivos para aquilo que se deseja atingir, uma sociedade mais justa. Em tudo isto devemos ter Esperança. Entrados numa sociedade e numa civilização globalizantes, só assim se poderá atingir a estabilidade, o equilíbrio e a harmonia, que são o objectivo, não do Paraíso na Terra, mas quase…

Somos assim levados ainda a uma outra ordem de factores, os factores políticos. Posto que – e de acordo com a opinião generalizada de cientistas que sobre isso se têm debruçado – o cérebro humano não atingiu até hoje o limite máximo das suas capacidades, razão pela qual a actual democracia é mal compreendida por uns e falaciosamente praticada por outros, resta-nos, por via do exercício individual e colectivo da psique, de uma anamnese profunda, em interligação com os outros factores, resta-nos, dizia-mos, tentar compreender onde, como e porque errámos e procurar e empreender as formas, que consensualmente se mostrem mais salutares

(contínua na próxima página)

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DE MÃOS DADAS COM O PROJECTO EMERGÊNCIAFoi no ano de 2011 que o Espaço Cultural das Mercês (actualmente integrado na Junta de Freguesia da Misericórdia) recebeu a quarta edição da Bienal de Porto Santo, evento que reuniu artistas nacionais e internacionais numa mostra de grande qualidade artística. Desde então a anterior Junta de Freguesia das Mercês manteve uma dinâmica de parceria através de vários eventos artísticos e formativos partilhando os mesmos objectivos culturais com todos os intervenientes do projecto da Bienal do Porto Santo. Em 2013 o Espaço Cultural das Mercês recebe a quinta edição da mesma Bienal, a partir da qual surge a associação para a arte e cultura: CARDINAL CINCO | COLECTIVO.

Tendo em conta todo o trabalho desenvolvido por esta associação a Junta de Freguesia da Misericórdia não poderia deixar de apoiar o projecto «Emergência», que tem como objectivo promover a integração profissional de artistas e criadores emergentes. Assim a Freguesia da Misericórdia ajudará a promover nos seus dois Espaços Culturais (Espaço de Santa Catarina e Espaço Cultural das Mercês) eventos expositivos e de espectáculo bem como acções formativas proporcionando a todos os seus fregueses uma maior dinâmica cultural.

Gonçalo Angeja

Membro do Pelouro da CulturaFreguesia da Misericórdia

(continuação da página anterior)

para ultrapassar situações de que os intervenientes não se poderão nem deverão compadecer. Sem querer desculpar qualquer tipo de totalitarismo, deverá no entanto dar-se-lhes – a menos que sejam demasiado flagrantes os abusos por eles praticados - o benefício de se interpretarem como reacções contra a incapacidade democrática. Mas eles não são, certamente, a melhor solução para o governo das sociedades. Não estando reunidas, decerto, as condições de aperfeiçoamento racional que podem levar à satisfação plena dos desideratos exigidos pela Democracia, no sentido que a palavra envolve, o ideal será a prossecução, sempre, de um diálogo positivo, alargado, no fim do qual se possa chegar a uma verdadeira participação interventiva. Não é fácil, mas é uma questão de Fé.

Ora, usando o poder da metáfora e parafraseando São Paulo: esta Política que é Fé; esta Sociedade que é Esperança; esta Economia que é Caridade, devem ser cimentadas por um valor ainda maior: o Amor, que é a Cultura. De facto, tudo isto, que mais não será que um cadinho estruturado de elementos económicos, sociais e políticos, traduzidos por uma cultura determinada, a partir dos quais nascem, vivem e morrem as civilizações e as suas sociedades, não pode ser abandonado a critérios meramente conjunturais de balanceamentos irresolutos e por vezes ilógicos, que não se comprazem com uma normal continuidade evolutiva que deve nortear o devir da Humanidade. Sob pena de se apagarem as tentativas positivas de experiências baseadas na correcção de erros anteriores, motivo pelo qual se assistiu ao desmoronamento de brilhantes realizações, com o consequente regresso, por falta da necessária clarividência, ao ponto obscuro de onde partiu a experiência humana. Há que definir criteriosamente metas consentâneas com valores éticos e morais adquiridos, aproveitando o que de bom nos foi legado pelo passado, afastando o que nele foi pernicioso e acrescentando – com o cuidado a que o progresso obriga – todas as inovações que possam conduzir à plena satisfação das nossas necessidades materiais e espirituais, consubstanciadas pela Cultura, partilhada com e no Amor. Respeitemos pois a Memória Histórica.

Luís Marques do Paço