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84 4 Embalagens 4.1 A questão das embalagens no panorama da sustentabilidade O desenvolvimento da humanidade em relação às outras espécies, inicialmente se caracterizava pelo crescente uso da inteligência, que permitia aprender com os erros, desenvolver estratégias para a caça, para a convivência em grupos e comunidades, e também pelo uso e manuseio de artefatos e diversos tipos de ferramentas. As primeiras ferramentas podiam ser pedras, galhos, ossos e outros elementos naturais que se mostravam disponíveis, e que passaram a ser vistos com outros olhos. Percebeu-se que aqueles elementos poderiam ser utilizados para auxiliar em uma determinada tarefa, ou seja, o que era uma simples pedra, transformava-se em um martelo, faca ou machado. Era o início de um maior desenvolvimento humano, que surgia com a construção de ferramentas e utensílios. Muitos autores defendem que a grande diferenciação do homem em relação às outras espécies animais se dá pela capacidade de criar ferramentas. Essa “técnica” de se aproveitar dos recursos disponíveis no seu entorno para atender a determinadas necessidades fez do ser humano um animal extremamente poderoso, apesar de no início, ele não se perceber como “inventor” ou agente desta técnica. Segundo Ortega y Gasset, no livro de 1991, Meditação sobre a técnica: Este homem não se reconhece, pois, a si mesmo como inventor de seus inventos. A invenção lhe parece mais como uma dimensão da natureza – o poder que esta tem de lhe proporcionar, ela a ele e não o contrário, certos poderes. A produção de utensílios não lhe parece porvir dele, como dele não provém suas mãos e pernas. Não se sente homo faber .” (ORTEGA Y GASSET, 1991, p: 58) Mas o domínio da técnica não parou mais de se crescer, bem como o homem de se transformar, proporcionando o rápido desenvolvimento das sociedades humanas e de sua própria e crescente tecnologia. Começou a haver necessidade de se transportar seus artefatos, comida e água, já que muitos dos

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Otima apostila de embalagens

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    4 Embalagens

    4.1 A questo das embalagens no panorama da sustentabilidade

    O desenvolvimento da humanidade em relao s outras espcies, inicialmente se caracterizava pelo crescente uso da inteligncia, que permitia

    aprender com os erros, desenvolver estratgias para a caa, para a convivncia em grupos e comunidades, e tambm pelo uso e manuseio de artefatos e diversos tipos de ferramentas. As primeiras ferramentas podiam ser pedras, galhos, ossos e outros elementos naturais que se mostravam disponveis, e que passaram a ser vistos com outros olhos. Percebeu-se que aqueles elementos poderiam ser utilizados para auxiliar em uma determinada tarefa, ou seja, o que era uma simples pedra, transformava-se em um martelo, faca ou machado. Era o incio de um maior desenvolvimento humano, que surgia com a construo de ferramentas e

    utenslios.

    Muitos autores defendem que a grande diferenciao do homem em relao s outras espcies animais se d pela capacidade de criar ferramentas. Essa tcnica de se aproveitar dos recursos disponveis no seu entorno para atender a

    determinadas necessidades fez do ser humano um animal extremamente poderoso, apesar de no incio, ele no se perceber como inventor ou agente desta tcnica. Segundo Ortega y Gasset, no livro de 1991, Meditao sobre a tcnica:

    Este homem no se reconhece, pois, a si mesmo como

    inventor de seus inventos. A inveno lhe parece mais como uma dimenso da natureza o poder que esta tem de lhe proporcionar, ela a ele e no o contrrio, certos poderes. A produo de utenslios no lhe parece porvir dele, como dele no provm suas mos e pernas. No se sente homo faber . (ORTEGA Y GASSET, 1991, p: 58)

    Mas o domnio da tcnica no parou mais de se crescer, bem como o homem de se transformar, proporcionando o rpido desenvolvimento das sociedades humanas e de sua prpria e crescente tecnologia. Comeou a haver necessidade de se transportar seus artefatos, comida e gua, j que muitos dos

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    primeiros grupos humanos eram coletores/caadores nmades, que criaram diversos equipamentos e utenslios para enfrentar as dificuldades que se apresentavam no meio ambiente sua volta.

    Desta necessidade surgiram os primeiros recipientes e bolsas, feitos

    principalmente com peles de animais, eram o que podemos aqui considerar como sendo as primeiras formas de embalagem.

    Avanando mais pela histria, os Egpcios, os Fencios, os Gregos e os Romanos j tinham desenvolvido nforas, garrafas, barris, bolsas, caixas e carroas, comeavam a desenvolver novas maneiras de guardar e transportar muitos tipos de produtos e fazendo surgir as precursoras das embalagens atuais.

    Na Idade Mdia surgiram outros mtodos para a conservao dos alimentos, secando-os, salgando-os e defumando-os. Junto a esses processos,

    diversos tipos de recipientes e vasilhames eram utilizados no transporte e na armazenagem dos gneros alimentcios, mas muitas vezes, estes eram atacados por animais e micro-organismos que causavam a sua deteriorao. Uma soluo freqentemente utilizada era o uso de temperos, ervas e pimentas, que

    aumentavam um pouco a proteo contra esses animais, mas principalmente,

    disfaravam os aromas e sabores indesejveis da deteriorao dos alimentos. De fato, o termo embalagem como entendemos hoje, fruto do aumento

    do comrcio mundial, e posteriormente, da revoluo industrial. A quantidade de novos produtos de toda a sorte que surgia e a necessidade de comercializ-los, gerou a demanda por embalagens adequadas que apresentassem o produto de forma atraente, e que principalmente, o protegesse durante o transporte at o consumidor e durante o seu perodo de uso. Essas primeiras embalagens comerciais eram normalmente caixas de madeira bastante durveis, dependendo dos produtos que continham, podiam durar muitas vezes mais que o tempo de uso do seu contedo. Aos poucos, principalmente por questes econmicas e pela falta

    de madeira na Europa, a grande maioria das embalagens foi se simplificando e assumindo, proporcionalmente, menores valores nos preos finais dos produtos.

    Conseqentemente, sua durabilidade e tempo de uso se reduziam de acordo com seus contedos, aproximando-se do conceito genrico de embalagens que temos atualmente, mas ainda muito distantes dos enormes volumes e necessidades do comrcio moderno.

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    Outra questo importante no desenvolvimento das embalagens era a segurana e a confiabilidade dos contedos. Desde o sculo XVI a adulterao das mercadorias era uma prtica bastante comum entre os comerciantes que pretendiam aumentar suas margens de lucro. Os produtos eram diludos de

    diversas formas para aumentar seu volume. Nos lquidos colocava-se gua, nos pes, colocava-se cinzas, areia ou serragem, nos chs, diversos tipos de folhas

    eram acrescentadas na mistura. No havia meios para controlar a qualidade dos produtos e nem de saber se eram ou no adulterados. Logo surgiu a necessidade de controlar os diversos fatores envolvidos na produo e distribuio dos alimentos e os comerciantes mais corretos passaram a se organizar em guildas que

    visavam criar regras e leis para o comrcio, com a finalidade de garantir, de alguma forma, a qualidade dos produtos. Destas preocupaes e com as

    regulamentaes propostas pelas guildas, comearam a se desenvolver mecanismos que impedissem a adulterao das mercadorias. Eram os primeiros tipos de lacres, selos de garantia de procedncia e de embalagens inviolveis. Aos poucos, essas embalagens se tornavam mais higinicas, seguras e confiveis,

    transformando a percepo do pblico consumidor que valorizava estes atributos na escolha de um produto, e aceitava pagar um pouco mais por uma mercadoria de

    qualidade garantida. (BARRET & BICKERSTAFFE, in LEVY, p: 48)

    Figuras 60, 61, 62 e 63 - nforas, barris, garrafas e cabaas as primeiras embalagens.

    A necessidade de se preservar os alimentos e bebidas por perodos maiores

    de tempo, de maneira mais segura e confivel foi o ponto de partida para desenvolvimento das primeiras embalagens. Com o crescimento das cidades e o

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    grande aumento populacional, as pessoas acabavam se afastando dos locais onde os alimentos eram produzidos, o que aumentava a demanda por solues inteligentes para o transporte e o comrcio destes. Isto era traduzido por melhores tcnicas de conservao e pelo uso de embalagens melhores.

    Em meados da dcada de 1860, Louis Pasteur, um renomado cientista e qumico francs, inventou e divulgou um novo processo para a preparao e

    embalagem de alimentos, visando aumentar a durabilidade e confiabilidade dos mesmos. O processo denominado como pasteurizao foi revolucionrio para a poca e contribuiu muito para o desenvolvimento e a disseminao dos alimentos embalados no comrcio. A pasteurizao tem como objetivo principal a destruio de microorganismos patognicos associados ao alimento em questo. Um objetivo secundrio aumentar a vida de prateleira do alimento, reduzindo as taxas de alteraes microbiolgicas e enzimticas. (POTTER & HOTCHKISS, 1995) De modo geral, trata-se de um processo em que os alimentos so aquecidos a determinadas temperaturas durante certos perodos de tempo, dependendo das caractersticas do alimento. O processo pode ser lento, rpido ou

    ultra-rpido e foi se aprimorando com a evoluo tecnolgica, com os novos materiais para embalagens e, naturalmente, com o crescente avano cientfico. Foi

    muito importante para a indstria alimentcia da poca e largamente utilizado at a atualidade. Com o processo, as embalagens tiveram que se adequar para atender a novos requisitos como a resistncia a altas temperaturas, a choques trmicos e

    aos meios de esterilizao utilizados. O primeiro tipo de embalagem que atendeu a todos esses requisitos de

    maneira inovadora e satisfatria foi a lata metlica lacrada, que j existia antes da inveno do processo de pasteurizao, mas que com sua implementao, aumentou muito a validade e a confiabilidade dos alimentos enlatados. Estes foram primeiramente produzidos pela empresa inglesa Donkin, Hall and Gamble, e os primeiros lotes foram vendidos marinha, que testou sua eficincia em uma escala considervel. Mais tarde, os exploradores do Crculo Polar rtico levaram seus estoques de alimentos enlatados. O sucesso da empreitada ajudou a popularizar a confiabilidade das latas metlicas para o grande pblico. Estas primeiras latas eram bastante pesadas, extremamente caras e, para abri-las, necessitavam do uso de martelo e um formo ou talhadeira. Sob nosso ponto de

    vista, nada prticas, mas para a poca representava uma grande inovao

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    tecnolgica que se tornou disponvel para o pblico consumidor em torno de 1830. Logo a nova inveno chegou aos Estados Unidos da Amrica. Com a corrida para o oeste (1850) seu uso se disseminou rapidamente, desenvolvendo as primeiras fbricas de alimentos enlatados de Boston e de Nova Iorque em ritmo

    acelerado. Com a grande demanda das foras que avanavam para a guerra civil norte-americana, (guerra de secesso) estas fbricas logo se tornaram enormes empresas. Elas desenvolveram processos de mecanizao da produo e novas formas de enchimento das latas, o que tornava todo o processo muito mais rpido e fcil do que nos primeiros modelos. As latas metlicas foram aos poucos se transformando, ficaram mais finas e leves, e alm de mais econmicas para a

    produo, facilitava um pouco a abertura pelo usurio.

    Figuras 64, 65 e 66 Exemplos das primeiras latas metlicas para conservao de alimentos.

    Em torno de 1930 iniciou-se a comercializao das primeiras bebidas enlatadas, com tampinhas menores e de fcil abertura, pareciam garrafas cnicas de metal, mas j traziam tampas bem prximas do que se usa at hoje nas garrafas de vidro. Em torno dos anos 50 as latas de bebidas passaram a ter tampas planas, mais parecidas com as atuais, mas ainda eram difceis de abrir. Em 1963 chegou ao mercado as tampas do tipo easy-open (fcil abertura), que foram as precursoras do sistema de abertura de latas de bebidas que temos atualmente, em nossas latas de alumnio. Enquanto isso, j estavam sendo desenvolvidos outros tipos de embalagens, com o uso de outros materiais como o polietileno que foi criado em 1936, e se tornou vivel comercialmente em 1944 com a inveno do processo de sopro dentro de moldes metlicos. O novo processo gerou o desenvolvimento das primeiras garrafas plsticas nos EUA, muito mais leves,

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    resistentes e esteticamente atraentes, para a poca, que as precursoras embalagens de vidro e metal.

    O crescente uso dos plsticos e o rpido desenvolvimento tecnolgico de suas formas de produo e conformao fizeram com que este material atendesse

    de maneira mais eficiente as necessidades do mercado de embalagens. At mesmo o aspecto liso e bem acabado das peas plsticas faziam dele um material

    moderno em sua essncia. Desde os anos 1950, com o desenvolvimento cientfico e industrial dos

    diversos materiais que chamamos genericamente por plsticos, o universo de embalagens nos produtos que utilizamos diariamente se transformou

    incrivelmente. A enorme diversidade de compostos polimricos, as variadas caractersticas fsico-qumicas de cada tipo e a grande gama de possibilidades de

    utilizao, fizeram dos plsticos um dos grupos de materiais mais pesquisados, desenvolvidos e largamente utilizados nos dias atuais. Para a indstria de embalagens a sua ampla utilizao se justifica pela sua versatilidade, resistncia e, acima de tudo, pelos baixos custos de produo em larga escala. Estas embalagens

    plsticas apresentavam muitas outras vantagens quando comparadas s suas precursoras, constitudas por outros materiais como o vidro, o metal e o papel. O

    seu peso relativo e volume por unidade muitssimo menor que os dos vidros e metais, mas sua resistncia mecnica, em muitos casos, muito superior. Sua elasticidade reduz praticamente a zero as perdas por quebra no manuseio e transporte, quando comparado ao vidro. As de metal, apesar de sua resistncia mecnica, podem ser amassadas e, com isso, podem trincar o verniz interno colocando o contedo diretamente em contato com o metal, alterando as propriedades dos alimentos. Alm disso, as latas amassadas so recusadas pelos consumidores e representam volume considervel de refugo. A grande e irrestrita aceitao dos plsticos tambm se deve ao fato de que nesta poca ainda no

    havia a preocupao com a ecologia e as questes ambientais, nem to pouco a conscincia dos impactos gerados em sua produo, beneficiamento e

    conformao.

    As embalagens, de modo geral, esto muito mais presentes em nossas vidas do que ns realmente percebemos. Basta repararmos a quantidade de vezes que, em um nico dia, desde quando acordamos at o momento em que vamos

    dormir, tocamos e utilizamos algum tipo de embalagem. So inmeros tipos delas,

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    constitudas dos mais variados materiais, de diversas formas, atendendo a diferentes e especficos tipos de uso.

    Onde vo parar todas essas embalagens? Invariavelmente, no lixo. Em muitos lugares elas so separadas por tipos de materiais e podem ento

    ser encaminhadas reciclagem. Infelizmente, esta prtica no atinge ainda a maior parte da populao, e na realidade, grandes volumes de embalagens ainda vo

    para o lixo comum, onde so misturadas a todo tipo de material orgnico, o que, se no impossibilita, pelo menos dificulta em muito a separao dos materiais, e conseqentemente o processo de reciclagem. O volume que as embalagens ocupam na composio total do lixo enorme. Segundo uma pesquisa feita em

    2007 pela National Geographic Society, a quantidade de embalagens, apenas de gneros alimentcios, que uma pessoa (com os padres de consumo de um europeu classe mdia) consome e descarta durante toda a sua vida, representa uma pilha de resduos pesando cerca de 8,5 toneladas. uma quantidade considervel de matria-prima que deveria voltar ao ciclo produtivo atravs da reciclagem, e que, em muitos lugares, acaba indo para os aterros sanitrios, onde aumentam o

    volume total do lixo e atrapalham o processo de compostagem da matria orgnica.

    Muitos materiais, como o vidro e muitos dos plsticos, praticamente no se degradam quando lanados no meio ambiente, gerando, com isso, uma srie de problemas. O caso dos vidros e cermicas, por tratarem-se de materiais muito resistentes e cortantes, podem gerar acidentes s pessoas que os manipulam, especialmente os catadores de rua e os separadores dos resduos nas esteiras das empresas recicladoras. No caso dos plsticos, temos formas muito variadas, de garrafas e tonis a folhas finssimas e, em vrias destas formas, os plsticos so misturados, presos, colados ou conectados a outros materiais, principalmente ao papel e ao alumnio. Este exatamente o caso das embalagens asspticas para

    lquidos alimentcios, so conhecidas como embalagens longa vida, ou pelo nome de seu maior fabricante, a Tetra-Pak, e representam um dos tipos de embalagens mais difceis de se separar os materiais e reciclar, conforme j comentamos. Os plsticos costumam ser materiais leves, muitas vezes flutuantes e, dependendo de sua forma, ocupam grandes volumes. Quando descartados de forma inadequada, muitas vezes se movimentam com as chuvas, acabam

    obstruindo canais de escoamento, entopem os bueiros e ralos, e trazem problemas

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    como inundaes, enchentes e desabamentos em muitas comunidades, especialmente nas de baixa renda, que nem sempre contam com de um sistema adequado para a coleta de lixo.

    Estes so alguns aspectos que podemos considerar negativos das

    embalagens, quando elas passam da fase do uso para a do descarte, contribuindo de forma decisiva para a problemtica do lixo, que uma questo fundamental

    para as populaes de modo geral. Podemos tambm pensar nas embalagens sob outro ponto de vista, o que pode ser muito mais interessante. Vistas pelo olhar de uma moderna e correta gesto dos resduos, as embalagens podem representar grande economia de recursos e energia. Quando so corretamente descartadas, separam-se os materiais que tm oportunidade de retornar ao ciclo e se transformar em novos produtos para os diversos tipos de uso, evitando a demanda

    de matria-prima virgem. Do ponto de vista energtico, dependendo do material, a energia gasta para recicl-lo muitas vezes inferior ao que necessrio para se

    produzir um mesmo produto com a matria-prima original. No caso das latinhas de alumnio, por exemplo, a produo de uma nova unidade a partir de material

    reciclado economiza em torno de 95% da energia que seria gasta para a produo desta mesma unidade partir da matria-prima virgem.

    Figuras 67, 68 e 69 As principais embalagens modernas para bebidas: uma lata de alumnio, embalagens cartonadas, ou multicamadas, e latas metlicas em folha de flandres.

    Em So Paulo, uma latinha de alumnio recolhida por um catador de rua, encaminhada ao processo de reciclagem e, em torno de 33 dias, estar novamente

    disponvel nas prateleiras de algum supermercado, contendo algum tipo de bebida. Estes valores representam uma economia bastante considervel em vrias das

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    fases do processo produtivo. A produo de ao a partir da reciclagem de peas usadas e descartadas tambm muito mais fcil e barata do que a partir da matria-prima virgem, sem contar com a reduo do enorme impacto ambiental causado pela extrao do ferro-gusa na natureza e durante o seu transporte at as

    usinas de beneficiamento. A seguir apresentamos um grfico que mostra os percentuais de cada material proveniente de embalagens e vasilhames no volume

    de resduos slidos, (FRANKLIN ASSOCIATES in LEVY, 2000, p: 272) e outro apontando as diferenas no impacto ambiental da produo com o processo de reciclagem de materiais, em contraponto produo utilizando matria-prima virgem. (Ecoindicator 95, in MANZINI & VEZZOLI, 2005, p: 213)

    Grfico 01 - Percentual do total de materiais produzidos e descartados. (FRANKLIN ASSOCIATES in LEVY, 2000, p: 272) Grfico 02 - Comparao do gasto de energia para a produo de materiais usando matria prima virgem e a partir de material reciclado. (Ecoindicator 95, in MANZINI & VEZZOLI, 2005, p: 213)

    Hoje sabemos que a reciclagem em si resolve apenas parte do problema. O volume de lixo que realmente se consegue aproveitar nos mostra que a questo do

    lixo , na verdade, bem mais complicada do que normalmente pensamos ser. Cada tipo especfico de lixo, cada comunidade, cada local, possui caractersticas tais que devem ser analisadas determinando qual seria a forma mais adequada de se proceder em relao ao lixo. Mas no podemos considerar apenas a reciclagem

    das embalagens. Mesmo que se consiga reciclar a totalidade das embalagens produzidas, a questo do lixo deve ser tratada com cuidado, somente considerando

    todo o lixo e sob o enfoque de uma gesto integrada de resduos, teremos

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    condies de atender de maneira adequada s necessidades da indstria, da sociedade e do meio ambiente.

    4.2 Os diversos tipos de embalagens, seus aspectos formais, construtivos e de uso

    Quando pensamos em embalagens a primeira imagem que vem nossa cabea a de algum produto que utilizamos em nosso dia-a-dia, pode ser um tubo de creme dental, uma caixa de ovos, uma latinha de cerveja. O curioso que estas embalagens desses produtos que logo imaginamos, normalmente, so unitrias.

    So as embalagens que contm diretamente o produto a ser consumido ou utilizado, apresentados, geralmente, em uma poro individual, um volume.

    Muitos dos bens de consumo so embalados em volumes e tamanhos de fcil manuseio e, acreditamos, h uma tendncia perceptvel na reduo do tamanho das pores por embalagem, a medida em que aumenta a quantidade de pessoas que moram sozinhas, e de famlias constitudas por poucos indivduos. Elas so as

    embalagens primrias, das quais o contedo consumido ou utilizado, diretamente, pelo usurio, que nelas tem as informaes relativas ao produto e ao

    seu fabricante. Alm destas embalagens primrias, que so os tipos de embalagem com as quais mais freqentemente nos relacionamos, existem outros tipos que so

    classificadas como embalagens secundrias ou tercirias, que analisamos a seguir. Como vimos, as embalagens primrias representam a primeira barreira

    entre o produto, em seu interior, e o meio ambiente sua volta, normalmente so agrupadas para facilitar a manipulao e apresentao, em embalagens secundrias. Alm da funo de agrupar e melhorar o manuseio dos volumes, as embalagens secundrias podem ter a funo de proteger as embalagens primrias, em seu interior, umas das outras, evitando choques e vibraes excessivas. Estes

    dois tipos de embalagens, por sua vez, so transportados desde sua origem nas indstrias, passando pelos distribuidores e varejistas, at, em alguns casos, chegando ao consumidor final, dentro de embalagens tercirias. Sua funo a proteo das mercadorias durante as fases de transporte.

    As mais comuns atualmente, so as caixas de papelo corrugado e os pallets de madeira que as agrupam em pilhas para a movimentao de grandes

    volumes, normalmente, com o uso de empilhadeiras. Atualmente, muitos desses

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    pallets, que so reutilizados vrias vezes, esto sendo substitudos por estruturas mais leves e baratas, produzidas em larga escala em plsticos de alta resistncia. Isto, alm de aumentar bastante a vida til destas estruturas reutilizveis, reduz consideravelmente seu peso e, conseqentemente, a quantidade de energia gasta

    no transporte e em todo o sistema. Desta forma, podemos perceber que ao tratarmos as embalagens, estamos, na realidade, considerando um conjunto de elementos integrados que fazem parte de um sistema de distribuio das mercadorias.

    Aprofundar nossa pesquisa nos vrios aspectos deste sistema de distribuio, forneceu informaes reais que serviram para fomentar o debate e

    apontar critrios de comparao das caractersticas de cada tipo de embalagem. Decidimos ento, realizar um estudo de caso analisando o atual sistema de

    embalagens utilizado no transporte de tomates in natura, retomando pontos tratados neste trabalho e relacionando-os a eficincia, muitas vezes questionvel, deste sistema, o que faremos no captulo 6.

    Considerando esses trs tipos de embalagens primrias, secundrias e

    tercirias - entendemos perfeitamente a questo da proteo dos contedos em todas as fases da distribuio, incluindo os estoques e o transporte. Mas, alm da

    funo de proteo, as embalagens trazem consigo outras funes importantes para o comrcio. A disponibilidade das mercadorias sazonais por perodos maiores, atendendo aos consumidores durante todo o ano, no apenas nas estaes de sua produo, a possibilidade de se consumir um produto proveniente de outros pases e localidades distantes e, naturalmente, a funo de comunicao, presente especialmente, nas embalagens primrias e secundrias. Esta comunicao se desenvolveu muito com a criao norte-americana dos supermercados.

    Com a migrao do modelo de comrcio feito nos armazns, onde vrios funcionrios ajudavam os clientes a escolher, pesar e empacotar os produtos, para o modelo self-service, de auto-atendimento proposto pelos supermercados, as embalagens tiveram de se tornar auto-explicativas, se

    comunicando diretamente com os clientes, sem necessitar da intermediao de funcionrios quando da sua escolha nas prateleiras. A proposta oferecer ao consumidor, em um nico local, uma enorme gama de mercadorias expostas, inclusive a mesma mercadoria produzida por fabricantes diferentes, estimulando a

    concorrncia entre estas marcas, que se esforam em aumentar a qualidade de seus

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    produtos e, ao mesmo tempo, reduzir os preos. Os custos unitrios tendem a ser mais baratos em relao aos dos armazns, j que funciona com um nmero menor de funcionrios e trabalha com compras em larga escala, para atender a vrias lojas. A responsabilidade pela escolha passou a ser inteiramente do cliente, evitando, ou ao menos, minimizando alguns incmodos problemas como discusses e conflitos com clientes que ocorriam no sistema dos antigos armazns.

    Para isso, as embalagens traziam, alm das informaes bsicas como a data de fabricao, a validade do contedo, recomendaes de uso e cuidados com o estoque, passavam a ser veculos de marketing, influenciando de diversas formas o momento da deciso pelo cliente consumidor.

    Muitos bens que no eram previamente embalados, cada vez mais passavam a ser, de modo a obter o seu espao de prateleira, j que no havia mais algum para pesa-los ou medi-los. Eles tambm tiveram de ser embalados por razes de higiene, uma vez que agora, os consumidores manipulavam diretamente as mercadorias

    enquanto faziam suas escolhas. (BARRET & BICKERSTAFFE, in LEVY, 2000, p: 51. livre traduo do autor)

    Com a ampla difuso do sistema de comrcio proposto pelos supermercados, toda a dinmica das compras se transformou e alterou de maneira decisiva os hbitos dos consumidores e, conseqentemente, toda a indstria de

    embalagens. Os fabricantes precisavam atualizar suas embalagens de modo a atender as demandas dos consumidores e da logstica de compras, transportes e

    estoques utilizados pelos supermercados e megastores. Este sistema favoreceu a criao e o desenvolvimento das embalagens descartveis, conhecidas como embalagens one way, em substituio a muitas das embalagens retornveis que eram at ento largamente utilizadas. As diferenas entre esses dois tipos de

    embalagens vo muito alm de suas caractersticas fsicas. Elas representam duas formas distintas de lidar com a questo das embalagens e todos seus

    desdobramentos como o descarte, o lixo urbano e as indstrias de reaproveitamento, merecendo uma anlise um pouco mais aprofundada.

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    As embalagens retornveis, como o prprio nome prope, voltam sua origem na fbrica onde so limpas, esterilizadas e enchidas com novo contedo, retornando desta forma ao comrcio em um novo ciclo. Em contraponto as do tipo one way, estas embalagens so utilizadas mltiplas vezes e devem, para tanto,

    resistir bem s vrias viagens que faro durante sua vida til, mantendo um bom aspecto para o comrcio, por longos perodos de tempo. Um bom exemplo deste

    tipo de embalagem so as garrafas retornveis de vidro utilizadas para diversos tipos de bebidas. Ultimamente muitas destas garrafas vm sendo substitudas por garrafas plsticas, principalmente pelas conhecidas garrafas PET. Estas, por sua vez, so bom exemplo das embalagens no-retornveis, descartveis do tipo one

    way. So embalagens que se propem a atender apenas a um ciclo, ou seja, passam do fabricante ao distribuidor, deste ao consumidor final que ir descart-la

    no seu montante semanal de lixo.

    Figuras 70 e 71 Garrafas retornveis de vidro e garrafas plsticas descartveis.

    A primeira distino que podemos fazer comparando esses dois tipos de embalagens nos mostra a grande diferena nas quantidades totais de unidades e de matria-prima utilizadas nesses dois sistemas de embalagens. Enquanto no

    sistema de embalagens retornveis podemos ter um determinado nmero total de embalagens que circulam no mercado, atendendo aos diversos ciclos e, praticamente, toda a demanda de consumo, no sistema que usa as descartveis,

    elas devem ser produzidas em maiores quantidades j que cada ciclo atendido por novas unidades, uma diferena gigantesca em termos quantitativos. Outro

    aspecto importante relacionado a esta comparao a questo do descarte. A utilizao de embalagens retornveis gera muito pouco resduo slido, apenas uma

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    quantidade que se quebra no manuseio e transporte, e que encaminhada diretamente para a reciclagem. De modo geral as unidades tm uma vida til bem longa atendendo a inmeros ciclos e sempre retornando fbrica de origem, que pode fazer o controle de qualidade e recuperar as unidades avariadas atravs da

    reciclagem. J com o sistema de embalagens descartveis o volume de resduos slidos produzido assustadoramente grande e representa uma srie de questes

    associadas ao lixo, sua destinao final e a sustentabilidade de todo o sistema. Continuemos nossa comparao agora sob o aspecto da reciclagem. Tanto

    a garrafa descartvel em PET, quanto a garrafa retornvel de vidro, podem ser recicladas, no entanto, as circunstncias em que ela ocorre, em cada caso, so

    totalmente diferentes. A garrafa retornvel de vidro, como j dissemos, reutilizada diversas vezes e neste processo utiliza certa quantidade de energia,

    gua e detergentes, gerando efluentes lquidos que podem causar impactos negativos no meio ambiente. Naturalmente, a quantidade de energia gasta muito inferior a que seria gasta com todo o processo de reciclagem e produo de uma nova unidade. Por ser retornvel, a garrafa de vidro possui um valor econmico

    que percebido pelo consumidor. Dificilmente vai para o lixo e como volta sempre a sua origem na fbrica, onde elas so avaliadas e mais facilmente

    recicladas em maior escala, tirando do consumidor final ou dos catadores a responsabilidade por sua separao e encaminhamento para a reciclagem. O controle sobre estas embalagens maior e fica centralizado no prprio produtor que pode assumir a responsabilidade pela fase ps-vida de suas embalagens, minimizando consideravelmente os impactos ambientais do sistema.

    Com a garrafa PET que atende um nico ciclo, o processo de reciclagem ocorre com maior freqncia e em quantidades maiores, demandando constantes e considerveis gastos de energia nos processos de separao, triturao, limpeza, fuso, na injeo das pr-formas e no sopro de novas unidades. O uso de gua e detergentes tambm ocorre neste processo, gerando os mesmos efluentes lquidos provenientes da reutilizao das garrafas de vidro, porm, pelo volume, em

    maiores quantidades. Neste caso, como as embalagens so descartadas de diversas maneiras pelo consumidor, de formas fragmentadas e geograficamente espalhadas, o gasto de energia total nos processos de encaminhamento reciclagem muitas vezes maior que no caso da reutilizao de embalagens

    retornveis de vidro. Em relao ao peso e quantidade de material por unidade, as

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    embalagens de vidro necessitam de mais material e maiores espessuras de parede para atender aos requisitos de resistncia mecnica do que as produzidas em PET. Conseqentemente, as de vidro so muito mais pesadas, necessitando de maior gasto de energia em todo o sistema de transporte do que as garrafas PET. Elas

    representam ainda outro inconveniente para o sistema de comrcio, bem como para os usurios. Pelas caractersticas do material, as garrafas de vidro podem,

    eventualmente, se quebrar em uma das vrias fases de seu uso, representando prejuzos e riscos de acidentes.

    O prprio processo de reciclagem tambm apresenta diferentes resultados de acordo com o material em questo. O vidro pode ser reciclado inmeras vezes

    mantendo suas caractersticas e qualidades iniciais. J o PET, quando reciclado, perde algumas caractersticas e a qualidade do material no a mesma que tinha

    antes. Desta forma, o PET reciclado serve como matria-prima para a confeco de outros produtos, atendendo a requisitos diferentes dos que o material tinha em seu primeiro uso. Esta caracterstica do material pode gerar o chamado efeito cascata (MANZINI & VEZZOLI, 2005) no processo de reaproveitamento da matria-prima, onde cada ciclo de reciclagem determina um uso diferente para o material, sempre perdendo suas caractersticas iniciais. Produtos complexos e com

    muitas partes como os automveis so passveis de reciclagem com efeito cascata e a preocupao com uma produo mais econmica e ecolgica, conhecida por produo limpa j est presente no ramo a algumas dcadas. Os modelos Fiat tm sido produzidos com crescentes ndices de materiais reciclados. O Grupo Fiat desenvolveu o programa Fare Fiat Auto Recycling, j aplicado na sede do grupo na Itlia. O Programa consiste em aproveitar o material em todas as suas potencialidades.

    O material dos pra-choques em PP, depois de seu primeiro ciclo de vida, so reciclados e aplicados nos canalizadores de ar que, no estando visveis, apresentam menores exigncias estticas. Os polmeros reciclados, de fato, tm uma colorao menos uniforme (manchas) e normalmente mais escura. Por sua vez, o material dos canalizadores, depois de seu segundo ciclo de vida (o segundo do mesmo material) so

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    reciclados e reaplicados nos tapetes do carro. (MANZINI & VEZZOLI, 2005, p: 224)

    Figuras 72, 73 e 74 - Programa FARE (Fiat Auto Recycling), o material utilizado diversas vezes, adquirindo diferentes formas e funes a cada passo da reciclagem de efeito cascata.

    Se uma embalagem PET quando virgem era utilizada para conter alimentos, depois de reciclada no poderia mais atender a este uso, se transformaria em um produto diferente como uma torneira de jardim ou uma p de lixo, por exemplo. Somente agora no Brasil (Maro de 2008) a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (Anvisa) foi aprovada uma resoluo que autoriza as empresas a utilizarem PET reciclado para embalar alimentos. A norma da Anvisa fundamenta-se em novas tecnologias capazes de limpar e descontaminar esse tipo de material, independentemente do sistema de coleta. So as chamadas tecnologias Super Clean e Bottle to Bottle, alm disso, o rtulo da embalagem dever conter o nome do produtor, o nmero de lote e a expresso PET-PCR (ps-consumo reciclado). (O Estado On-Line, acesso em 20 de Maro de 2008)

    A comparao bsica entre estes dois tipos de embalagens para bebidas nos mostra como a questo bem mais complexa do que costumamos julgar em uma primeira anlise. Qual seria ento a embalagem com melhores resultados para o meio ambiente? Qual delas se mostra mais sustentvel no longo prazo? Estas esto entre as questes mais freqentes nos debates relacionados a embalagens da atualidade. Mas so perguntas difceis de se responder pois, como vimos, so muitas as variveis e influncias dos consumidores e de todas as

    instncias relacionadas aos produtos em si, ao descarte dos resduos e a todas as fases do processo de reaproveitamento e reciclagem destas embalagens.

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    Alm dos processos de reaproveitamento e reciclagem, existem outras maneiras interessantes de se aproveitar os recursos e materiais, como, por exemplo, propondo novas formas de comercializar produtos de consumo freqente, como produtos de limpeza e cosmticos, entre muitos outros. Uma

    forma que visa a reduo considervel do volume de embalagens no comrcio a utilizao de contedos vendidos em refis. O usurio pode adquirir o produto

    inicialmente em sua embalagem pronta para o uso e, depois, passa a comprar apenas o contedo em embalagens mais simples e econmicas, reaproveitando a embalagem inicial e reduzindo o volume de seu descarte. Ainda seguindo este tipo de raciocnio, temos tambm as embalagens em refil com produtos concentrados,

    que so diludos diretamente pelo consumidor em sua residncia. Na Alemanha, a Proctor & Gamble (P&G) tem experimentado a reduo

    do uso de materiais na produo de amaciante de roupas, modificando sua embalagem e sua forma de comercializao: oferecido aos consumidores o mesmo produto, porm em forma concentrada, junto a uma. garrafa reutilizvel vazia, em que se coloca uma pequena parte do concentrado, preenchendo-se o

    restante com gua. Esta mistura suficiente para produzir 4 litros de amaciante. A P&G afirma que, atravs desse esforo, reduziu em 90% o uso de materiais, levando-se em considerao o nmero de garrafas descartveis que eram utilizadas para conter a mistura pronta do amaciante. O mais interessante que a empresa atribui o grande sucesso desse projeto mentalidade ecolgica do consumidor alemo. Como relata Tom Rattray, diretor associado ao desenvolvimento corporativo de embalagens:

    Eles (consumidores alemes) so diretamente afetados pelo problema do lixo slido da Alemanha - a maioria das casas produz somente duas latas de lixo pequenas por semana e so muito conscientes das limitaes de seus aterros sanitrios - num pas que incinera seu lixo slido 3,5 vezes mais do que ns. (BILLATOS & BASALY, 1997, p: 52. livre traduo do autor)

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    Figuras 75 e 76 Refis de cosmticos Natura e produtos de limpeza em embalagem pr-diluda e em refil para ser diludo em casa aproveitando a embalagem rgida adquirida anteriormente.

    Com este exemplo, podemos perceber a grande importncia do esforo e

    da conscientizao de uma sociedade, no caso a populao alem, para o sucesso de iniciativas que visem reduo dos volumes de lixo. Naturalmente, esse tipo de atitude depende da disponibilidade de recursos, do grau de conscientizao

    ecolgica e da educao da populao, conforme j comentamos neste trabalho. A P&G tem ainda outras aes, que incluem a produo de embalagens

    100% constitudas de resduos de garrafas PET, para o detergente SpicN Span; para o restante das suas garrafas, a P&G usa 100 milhes de libras de polietileno de alta densidade (HDPE) por ano. Algumas dessas embalagens j so compostas de 20% a 40% de garrafas de leite regeneradas (do mesmo plstico), uma vez que ainda no possvel produzir garrafas de HDPE 100% recicladas; elas demandam pelo menos uma fina camada de plstico virgem especial. Ainda assim, P&G

    espera, no futuro, dobrar a quantidade de garrafas de HDPE recicladas, o que significa que o uso de embalagens recicladas de detergentes na produo de

    embalagens para leite exigir, num futuro prximo, embalagens com vrias camadas de materiais. (BILLATOS & BASALY, 1997, p: 52)

    O uso de material reciclado na produo de embalagens representa uma grande economia de energia e de matria-prima, alm de evitar a

    extrao/produo de material virgem e seu conseqente impacto ambiental. uma excelente forma de reduzir o custo da embalagem no valor total do produto,

    mas alm desta, existem outras formas de minimizar esses custos. Designers, engenheiros e projetistas trabalham h dcadas na reduo do volume e peso das embalagens atravs da criao de formas mais eficientes, ou pela substituio de um determinado material por um outro mais sustentvel e adequado ao contedo a

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    ser embalado. Os designers, especialmente, esperam que um consenso pblico, no que diz respeito ao descarte do lixo slido, os ajude a encontrar respostas para as questes de uma produo sustentvel, para que consigam elaborar embalagens eficientes e com o melhor design possvel.

    Algumas das prticas verdes e atuais no design de embalagens incluem o uso de menos tipos e quantidades de materiais e de materiais reciclveis (quando possvel), a eliminao de tintas, corantes e pigmentos txicos, contendo metais pesados em sua composio, e a eliminao da laminao de diferentes materiais nas embalagens. Alm disso, os materiais tm passado por constantes melhorias, que tornam as camadas estruturais mais finas e possibilitam que os designers lancem mo de solues mais leves e adequadas.

    Este trabalho vem transformando as embalagens desde a sua criao at

    hoje, sempre melhorando a proteo e reduzindo o uso de matria-prima e os custos de produo. Podemos compreender melhor esta evoluo das embalagens com os exemplos a seguir.

    Em torno da dcada de 1920, o leite era comercializado nos EUA e na Europa em garrafas retornveis de vidro que pesavam em mdia 570 gramas. Em 1950 este peso da garrafa se reduziu para 400 gramas e, com a constante evoluo dos processos ao longo dos anos, conseguiu-se produzir em 1995 garrafas de vidro pesando apenas 238 gramas, atendendo aos mesmos requisitos de uso dos modelos anteriores, mas utilizando menos da metade do material e com custos de produo muito inferiores s garrafas de 70 anos atrs.

    Os alimentos nos anos 1970 eram embalados em latas metlicas que pesavam cerca de 70 gramas, em 1996 uma lata com o mesmo volume e caractersticas pesava 52 gramas.

    Uma lata de cerveja dos anos 1950 pesava 91 gramas, hoje esta mesma lata, com o mesmo volume de lquido, mas utilizando o alumnio ao invs do

    metal, pesa apenas 15 gramas, uma mudana substancial para todas as fases, da produo ao consumo.

    Uma embalagem plstica para iogurtes pesava nos anos 1970 cerca de 12 gramas, hoje, o peso do mesmo tipo de embalagem caiu para apenas 4 gramas. (BARRET & BICKERSTAFFE, in LEVY, p: 56 e 57)

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    Figuras 77, 78 e 79 Alguns exemplos da evoluo das latas de cerveja.

    importante percebermos o valor desta evoluo para todo o sistema produtivo, para o consumidor e, principalmente, para o meio ambiente, lembrando que, normalmente, a soluo mais econmica tambm a mais ecolgica. Esta observao se mostra ainda mais importante se considerarmos o grande crescimento populacional em todo o mundo e, o conseqente aumento da

    produo de alimentos embalados e produtos em geral. Outra questo que no muito percebida pela maioria dos consumidores,

    mas que fundamental para a indstria e o comrcio, a perda de mercadorias por problemas no sistema de distribuio, principalmente por falhas nas embalagens. Apesar de ns consumidores no repararmos, ao jogar uma determinada embalagem no lixo representando o fim de sua vida til, esta

    embalagem vm sendo utilizada e atendendo a suas funes ha muito tempo, em todas as outras instncias da cadeia produtiva e comercial. Talvez por esta viso

    parcial de todo o ciclo de vida das embalagens, muitas pessoas as consideram suprfluas e anti-ecolgicas, se esquecendo que o contedo consumido tem, de alguma forma, de chegar s suas mos no momento do consumo. Sem as embalagens, o ciclo de produo, distribuio e consumo, seria absolutamente impossvel de acontecer. Sem um sistema adequado de embalagens as perdas de mercadorias desde a fabricao at o momento do consumo seria realmente

    enorme.

    De fato, a quantidade de alimentos que se estragam durante a distribuio proporcional eficincia dos sistemas de embalagens utilizados. Nos pases

    desenvolvidos, onde o sistema de embalagens altamente sofisticado e eficiente, as perdas de alimentos nas fases da distribuio ficam em torno dos 2 ou 3%. J

    nos pases em desenvolvimento, que ainda mais que os primeiros, no poderiam

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    se dar ao luxo de desperdiar alimentos, o volume total de perdas por falta de um sistema de embalagens eficiente chega a estatsticas espantosas, algo entre 30 e 50% do montante produzido. um problema grave e todos os esforos so vlidos para minimizar os volumes de perdas e o desperdcio, principalmente nestes

    pases pobres e em desenvolvimento. Uma anlise cuidadosa do lixo de determinada comunidade mostra uma

    proporo entre a quantidade de matria orgnica (alimentos) descartada e a quantidade de embalagens presentes em seu volume de lixo. Quanto maior o volume de embalagens presentes no lixo, menor a quantidade de alimento descartado, logo, quanto menor o volume de embalagens, mais alimento acaba

    indo parar no lixo. Alm dos alimentos, muitas outras mercadorias se perdem por falha no sistema de embalagens e distribuio.

    Um estudo do sistema de embalagens na China nos mostra como podem ser expressivas estas perdas. 17,5% de todo o cimento chins se estraga na fase do transporte. 40% dos microscpios se danificam antes de serem utilizados. 20% de todo o vidro se quebra no transporte antes de ser entregue. Contudo, depois da

    implantao de contineres metlicos para o transporte dos vidros planos em 1993, a porcentagem de perda deste material caiu dos 20% para apenas 2% do volume total produzido. (SHAOMIN & YIBE, 1993, in LEVY, 2000, p: 62)

    Estes nmeros mostram a importncia de se desenvolver um sistema de embalagens que seja eficiente a ponto de reduzir efetivamente a quantidade de perdas e o desperdcio, no apenas das prprias mercadorias, mas da energia utilizada em sua produo, transporte e do impacto que o volume perdido representou para o meio ambiente e para as comunidades envolvidas em todo o processo. O desperdcio uma falha das mais graves no que toca ao processo de desenvolvimento de qualquer sociedade.

    4.3 A importncia das embalagens no comrcio. Questes de transporte, durabilidade e descarte

    J analisamos alguns aspectos das embalagens e dos sistemas de que fazem parte, sua importncia para o desenvolvimento da sociedade, para o bem estar e o conforto proporcionado pelo estilo de vida moderno, mas ainda temos

    outras questes a tratar para compreender o papel das embalagens na vida das

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    pessoas. As embalagens que utilizamos atualmente so o resultado de um processo de desenvolvimento que vem, desde o incio, alterando, simplificando e reduzindo todas as embalagens presentes no intrincado sistema de distribuio das mercadorias que utilizamos ou consumimos todos os dias. O desenvolvimento das

    embalagens secundrias e tercirias se deu, basicamente, em funo das limitaes e necessidades dos diferentes meios de transporte utilizados para a

    movimentao das variadas mercadorias. Generalizando um pouco, a maioria dos produtos chega a seus destinos finais, os consumidores, obedecendo a uma certa dinmica e ordem padronizadas desenvolvidas e utilizadas pelo comrcio mundial. Os produtos, em suas embalagens primrias so agrupados em caixas de

    papelo corrugado, estas so empilhadas e enfardadas em pallets de madeira ou plstico, se transformando em volumes de propores pr-determinadas. Estes

    volumes ocuparo de maneira racional o espao dentro dos bas dos caminhes e carretas, ou dos contineres utilizados nos vages dos trens ou nos pores e convs dos enormes navios cargueiros que movimentam o comrcio internacional.

    Figuras 80 e 81 - Embalagens para o estoque e transporte. Super-cargueiro repleto de conteiners.

    A racionalidade e o dimensionamento das embalagens pretende atender de forma eficiente a todos os padres definidos pelos meios de transporte. O produto

    embalado deve chegar ao seu destino intacto e lacrado, em perfeitas condies de uso ou consumo, para isso, as embalagens de todo o sistema devem ser resistentes e durveis de modo a garantir a satisfao do comprador.

    Nas ltimas dcadas a questo da economia de recursos e a racionalidade

    dos sistemas de distribuio encontraram mais um requisito a que devem atender, o aspecto ecolgico ou ambiental das diversas embalagens e materiais utilizados

    para a proteo no transporte dos produtos. Apesar da forte tendncia de a maioria das embalagens representarem, cada vez mais, menores volumes, pesos e,

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    principalmente, custos no valor total do produto em questo, alguns tipos de produtos embalados apresentam caractersticas completamente diferentes destas que acabamos de colocar.

    Estes produtos pertencem categoria dos produtos de luxo, ou dos

    produtos para presentes. So eles os embalados de modo a apresentar distino e alto valor agregado ao contedo apresentado. As embalagens deste tipo de

    produto como os chocolates e os perfumes os apresentam de forma sofisticada, utilizando materiais nobres e enaltecendo as suas caractersticas, bem como as qualidades do fabricante. So embalagens cheias de excessos e extravagncias que, praticamente, fazem parte do produto que apresentam, conferindo-lhe o valor

    e as qualidades esperadas. Normalmente so os presentes mais clssicos e os mais estimados em determinadas datas e ocasies especiais de nossas vidas.

    Figuras 82 e 83 - Embalagens sofisticadas dos produtos de luxo, alto valor agregado ao contedo.

    Outros tipos de embalagens que influenciam diretamente na escolha do

    consumidor so as embalagens de convenincia. So elas embalagens de alimentos prontos para aquecer e consumir, de congelados que vo diretamente ao

    forno ou microondas, das embalagens de produtos perecveis que, pela sua forma de acondicionamento, aumentam consideravelmente o seu tempo de validade nas prateleiras, o que possvel graas a uma alterao atmosfrica (embalagens a vcuo). Outros exemplos so as divises dos contedos em volumes mais adequados sua forma de consumo, como no caso dos alimentos multi-packs, divididos em pores individuais, que facilitam a rotina dos consumidores mais

    ocupados que no querem gastar muito de seu tempo nos supermercados com uma escolha criteriosa de alimentos a serem preparados e, muito menos, na prpria preparao de seus alimentos.

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    Figuras 84, 85 e 86 - Embalagens de convenincia, alimentos prontos para o consumo.

    Alm dos gneros alimentcios, estas embalagens funcionais tambm

    podem atender a outros tipos de mercadorias, como por exemplo, os produtos qumicos inviolveis, com seus lacres sofisticados que garantem a integridade do contedo e asseguram a confiana do consumidor na marca por ele escolhida. Ou no caso das embalagens prova de crianas, como muitas das drogas e produtos

    farmacuticos que utilizamos, ou ainda, as fceis de abrir, especialmente projetadas para pessoas idosas ou com deficincias. Atualmente, cada produto comercializado utiliza uma embalagem desenvolvida para o seu uso especfico. Muitas destas embalagens de convenincia, ao mesmo tempo em que protegem o contedo do meio externo, so tambm os meios de aplicao e facilitadoras no manuseio do produto embalado. o caso dos tubos de creme dental, de todos os aerosis e sprays, das bisnagas de molhos prontos como a mostarda e o ketchup, ou ainda, das que disponibilizam o contedo em quantidades pr-estabelecidas,

    em pores e doses definidas pelos fabricantes. Exemplos destas, so as embalagens de amaciante para roupas, que utilizam a prpria tampa como medida

    de quantidade, as de sabonete lquido que possuem uma bomba para extrair um volume adequado a cada situao de uso, ou dos saquinhos de chs e refis de caf expresso, que so utilizados sempre em dose nica.

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    Figuras 87, 88 e 89 - Embalagens aplicadoras, possibilitam o uso direto e fcil do contedo.

    Com a crescente conscientizao da populao em relao s questes eco-ambientais, o papel das embalagens comea a se transformar, se tornando, aos poucos, mais sustentveis e fazendo questo de comunicar seus valores e

    intenes, contribuindo assim, para o aumento do grau de conscientizao ambiental da sociedade em geral.

    Figuras 90 e 91 - Embalagens orgnicas, aspectos ecolgicos comunicados ao consumidor.

    Muitos dos produtos comercializados se esforam em adquirir uma

    imagem eco-friendly, ou, amiga do meio ambiente, utilizando em suas embalagens materiais naturais ou reciclados e cores ecolgicas como o verde presente na maioria absoluta das embalagens dos produtos que se dizem ecolgicos ou verdes. Mas, em muitos casos, esta atitude fraude, trata-se de pura estratgia de marketing que visa se fazer passar por uma empresa com determinados valores morais e prticos, mas que, na realidade, no so nada disso.

    As empresas que se utilizam desta estratgia, na verdade, se aproveitam da falta de clareza, conhecimento e preocupao, por parte dos consumidores, para com as

    verdadeiras questes ambientais. Felizmente, outros movimentos tambm so

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    feitos no sentido de incentivar meios mais corretos e ticos de se relacionar em sociedade e com o meio ambiente. A criao dos vrios tipos de certificaes ambientais e selos verdes, em diversos pases, foram fundamentais para a identificao das caractersticas ambientais de cada produto e fabricante, alm de

    ter contribudo muito para a informao e a conseqente conscientizao da sociedade em relao aos temas relacionados sustentabilidade. Abaixo

    exemplificamos com os conhecidos e difundidos selos alemes Grne Punkt e o Deutch Pfandgesellschaft, e o Forest Stewardship Council , conhecido pela sigla FSC. O selo Deutch Pfandgesellschaft vem estampado em garrafas e latas e, ao compr-las, o consumidor deixa uma quantia cauo, que s ser devolvida se as

    garrafas retornarem, porm caso as embalagens retornem danificadas, o dinheiro tambm no devolvido. A certificao com o selo FSC, atende ao mbito

    internacional e surgiu como uma forma de controle das prticas da indstria madeireira, visando um manejo responsvel das florestas.

    Figuras 92, 93 e 94 - Selos de conformidade e certificao ambiental: Grne Punkt, o Deutch Pfandgesellschaft, e o Forest Stewardship Council.

    So vrios os concursos e iniciativas que promovem a difuso destes valores nas comunidades, na grande maioria das vezes, apresentando excelentes

    resultados. Mas para uma grande parcela da populao, a questo da sustentabilidade

    se mostra muito ampla e genrica e , ainda, nova e pouco difundida, ao menos, com a devida importncia e seriedade pelos diversos meios de comunicao.

    Somente nos ltimos anos percebemos a presena de contedo ecolgico na mdia e os novos programas de televiso, fato que tem aumentado significativamente o debate relacionando esses assuntos entre os diversos grupos de pessoas. O

    usurio/consumidor que se sensibiliza com estas questes precisa se esforar para compreender a complexidade do assunto, e se informar atravs de diversos meios

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    para ter clareza das atitudes que deve tomar, e como proceder de maneira mais correta e sustentvel.

    O controle e a fiscalizao destas posturas pouco ticas dos fabricantes tm sido feitas por entidades representantes do comrcio, de organismos

    governamentais e, por fim, pelos prprios consumidores que experimentam os produtos e avaliam suas caractersticas, verificando as informaes apresentadas

    pelo fabricante. Muitas destas informaes, como as prticas scio-ambientais do produtor, esto to afastadas do cidado comum, em muitas vezes em instncias superiores, que ele s tem condies de avaliar o produto e a empresa pelos meios mais prximos de si, julgando-a apenas com uma percepo parcial de todas estas questes, normalmente, com as informaes contidas nas prprias embalagens destes produtos. Apesar de alguns fabricantes fornecerem informaes dbias ou

    enganosas, as embalagens so, evidentemente, o principal meio de comunicao entre o produtor e seus consumidores. Estes dependem da qualidade e clareza destas informaes para poder fazer suas escolhas e selecionar, dentre vrios produtos similares, os que preferem e acreditam ser melhores sob seus prprios

    requisitos, sejam eles o preo, a qualidade, os fatores ecolgicos e ambientais, ou as atitudes sociais da empresa produtora. Existem normas e leis rgidas para todo

    o tipo de informao que deve, obrigatoriamente, estar presente nas embalagens e em relao forma com que essas informaes aparecem para o consumidor, principalmente nos gneros alimentcios, nas bebidas e nos produtos farmacuticos. Um exemplo bem atual e significativo das intervenes da legislao nas embalagens dos produtos a obrigatoriedade de uma campanha especialmente contundente nos produtos nocivos a sade como as bebidas alcolicas e os cigarros. Os maos e caixas de cigarros, com a nova lei, devem apresentar de maneira bem visvel, imagens fortes e chocantes, mostrando uma srie de doenas, distrbios e efeitos negativos relacionados cientificamente com

    o hbito de fumar. Estas imagens vieram a complementar de maneira mais perceptvel o clssico aviso que h muito tempo est presente nas embalagens de

    cigarros: O Ministrio da sade adverte: fumar prejudica a sua sade, mas que se mostrava pouco eficiente e sem efeito para os pretendentes a fumantes.

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    Figuras 95, 96 e 97 Nova campanha de advertncia para o uso de produtos nocivos sade.

    O estilo de vida das pessoas, suas rotinas, todos os seus hbitos e costumes esto associados a muitos elementos e questes como a sua atividade profissional,

    a localidade em que mora, o tamanho de sua famlia, sua condio financeira, enfim, muitos aspectos influenciam nossas preferncias e as escolhas que fazemos

    diariamente. A enorme variedade de produtos e servios que temos nossa disposio faz com que possamos exercer livremente nosso direito de escolha, nosso julgamento do que realmente queremos e desejamos, o que nos d um grande poder em relao ao mercado, as empresas de comrcio e de servios, e

    naturalmente, as indstrias. Estes, cada vez mais, investem em pesquisas de mercado para descobrir precisamente quais os desejos e necessidades de seus consumidores, de modo que consigam atender adequadamente a esses desejos, garantindo assim, sua parcela do mercado. A competio entre os fabricantes e suas diferentes marcas, tende a melhorar a qualidade dos bens e produtos e, por outro lado, reduzir os seus preos.

    Com o aumento gradativo dos debates ecolgicos e sobre as questes da sustentabilidade, da conscientizao do consumidor e da noo de sua responsabilidade como habitante do planeta Terra, imaginamos que a populao

    possa fazer uso de todo o seu poder e fora no sentido de obrigar os fabricantes, distribuidores e comerciantes a buscar, a todo custo, um modelo mais sustentvel

    de produo e comercializao. Este tipo de postura do cidado consumidor j acontece, de certa forma, em alguns pases mais desenvolvidos. Porm, nos pases

    mais pobres e em desenvolvimento, esta noo de cidadania parece ser mais fraca, ou em alguns casos mais extremos, at inexistente. O consumidor normalmente

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    aceita o que est disponvel, no questiona sua adequao, e nem faz valer os seus direitos. Esta atitude poderia ser o resultado de uma mentalidade impregnada em uma populao colonizada e culturalmente sobrepujada pelos pases que os descobriram no decorrer do processo histrico.

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