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Em que medida os avanços tecnológicos _________________________________________________________________________ podem influenciar na estrutura das cidades. Por: Ernani Maia Orientadora: Marta Bogea Faculdade de Belas Artes de São Paulo Lato Sensu São Paulo, Abril de 2002

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Page 1: Em que medida os avanços tecnológicos - Maia Arquitetura · 1 Na primeira Revolução Industrial na Grã-Bretanha, havia uma interface entre ciência e tecnologia. Segundo Charles

Em que medida os avanços tecnológicos _________________________________________________________________________

podem influenciar na estrutura das cidades.

Por: Ernani Maia

Orientadora: Marta Bogea

Faculdade de Belas Artes de São Paulo

Lato Sensu

São Paulo, Abril de 2002

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Ernani Maia

Os avanços tecnológicos e as cidades

Monografia apresentada a Faculdade de Belas Artes

de São Paulo como exigência para a obtenção do

título de Especialista em Arquitetura e Cidade.

São Paulo, Abril de 2002.

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3

A vida é aquilo que acontece

enquanto pensamos em outra coisa.

O. Wilde

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Agradecimentos

Sou grato a meus pais pelo amor, trabalho e apoio,

a Érika Abe pela existência,

a Marta Bogea pela dedicação, paciência e competência,

a Beto Corazza pela compreensão,

e ao Prof. Wesley Santana pelas contribuições multidisciplinares

(filosóficas, sociológicas, históricas e etílicas),

além de todos aqueles os quais importunei obrigando-os

a ouvir meus devaneios sobre a cidade do amanhã.

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Resumo

Esta monografia estuda as mudanças ocorridas nas estruturas das

cidades em conseqüência da apropriação dos avanços tecnológicos pela

sociedade. Pretende-se detectar as eventuais alterações sofridas nas cidades,

sobretudo no período da revolução industrial, pois esta fase pode nos trazer

subsídios preciosos para o enfrentamento de uma problemática semelhante, na

medida em que os emergentes avanços das tecnologias da informação e da

informática já começam a explicitar possíveis alterações na sociedade

contemporânea.

Este estudo procura resgatar os períodos de grandes mudanças sociais

em virtude da evolução científica e tecnológica e analisar em que medida as

cidades se reorganizaram e absorveram as evoluções técnicas da humanidade,

além de analisar através de alguns modelos de cidades, como arquitetos e

urbanistas se apropriaram dos avanços tecnológicos ao planejamento das

cidades.

Porém, não se pretende aqui, formular uma proposta para as futuras

cidades, mais sim, identificar as possíveis condicionantes para um futuro

projeto de cidade, que contemple as necessidades de uma nova sociedade,

possivelmente virtual (quase transparente), que poderá substituir os

deslocamentos e os contatos físicos, por um deslocamento e um contato

subjetivo, mediado pelas novas tecnologias, especialmente o computador

pessoal.

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Abstract

This theory studies the changes ocurred in the cities’ structures as a

result of the appropriation in tecnological advance by the humaneness.

The intention is to detect the possible modifications ocurred in the cities,

eventhough during the Industrial Revolution, a period that could bring to us

some valious subsidies for a best comprehension about a similar trouble, at the

same time that the new information tecnology advances started to show their

possibles changes that affects the contemporany society.

This study looks for bring back the periods of a social changes caused

by scientific evolution and tecnological analyzing wich point the cities was

reorganized and absorved the human tecnical evolution, besides analyzing

through some cities’ models, as architects and urbanists appropriated the

tecnological advances about the cities’ master plan.

However, there is not our intention to couch a new proposal for the

futures cities, but to identify the possible conditionals for a future city master

plan, wich contemplated the society needs, possibly virtual (almost

transparent), that could substitute the dislocation and the physic contacts, for a

subjective dislocation and contact, caused for new tecnologies, especially the

personal computers.

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Sumário

Introdução........................................................................................................08

A revolução Industrial e os avanços tecnológicos...........................................13

A cidade e os avanços tecnológicos (novos problemas)..................................20

A cidade e a busca de novas soluções..............................................................36

Projetos, modelos e cidades.............................................................................51

As utopias do século XIX............................................................54

As cidades racionalistas...............................................................63

Novas utopias para novas tecnologias.........................................75

O retorno às cidades tradicionais.................................................94

As cidades caos............................................................................96

A sociedade pós-industrial...............................................................................99

A emergência do agente revolucionário.........................................................104

Especulações sobre a nova cidade..................................................................107

Bibliografia....................................................................................................117

Crédito das ilustrações...................................................................................120

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Introdução.

Os avanços tecnológicos presentes nas últimas décadas, sem dúvida

vêm abalando consideravelmente muitos aspectos que pareciam consolidados

na sociedade, um novo meio de inter-relação pessoal emerge com o advento

dos computadores pessoais, sobretudo quando estes se conectam entre si,

alterando com eficácia alguns costumes sociais. A suposição mais imediata é

que em função dos avanços tecnológicos e principalmente com o aumento no

chamado teletrabalho, a mobilidade territorial da sociedade tende a diminuir,

o deslocamento físico perderia espaço para o deslocamento virtual

possibilitado pelos computadores e pelas redes interativas de comunicação.

Com isso, pretende-se neste trabalho analisar as alterações sofridas

pelas cidades em virtude das descobertas científicas e avanços tecnológicos,

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desde a revolução industrial, até a chamada revolução informacional que

estamos vivenciando em nossos dias, através das mudanças ocorridas com a

emergência das novas tecnologias da informática e da informação.

Para podermos formular hipóteses de uma possível nova estruturação de

cidade, analisaremos a história a partir do período da revolução industrial, pois

através deste período teremos subsídios preciosos para uma eventual proposta

de cidade para as próximas décadas, atentando para as especificidades

poderemos traçar um paralelo entre as alterações comportamentais e

geográficas ocorridas a partir da metade do século XVIII, com as que já

estamos identificando em nosso cotidiano.

Posteriormente ao resgate histórico analisaremos alguns modelos

propostos para cidades a partir das modificações geradas pela evolução

tecnológica e científica posterior ao período da revolução industrial. O

primeiro modelo a ser analisado será o de Charles Fourier que na urgência de

equacionar os problemas causados especialmente pelo aumento demográfico

das cidades do século XIX, formula um pensamento urbanístico que em parte

será resgatado no século XX pelos chamados urbanistas de vanguarda

moderna, aqui apresentados através da obra de Le Corbusier. Em meados do

século XX, a partir dos avanços e da difusão, sobretudo dos meios de

comunicação de massa, na efervescência da guerra fria e da corrida espacial,

surge um grupo de arquitetos e urbanistas ingleses que através de uma

linguagem de história em quadrinhos e HQs de ficção científica, formulam

uma série de propostas utópicas e futuristas para as cidades das décadas

subseqüentes, é o chamado grupo Archigram que despregados das tradições e

descomprometidos com a exeqüibilidade das propostas, conseguem

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vislumbrar cidades móveis, sem território definido, com plena apropriação dos

avanços tecnológicos especialmente os meios de comunicação de massa.

Estas propostas são aqui apresentadas, pois, os idealizadores com muita

propriedade souberam; primeiro, identificar a necessidade de implementação

de novas idéias para uma sociedade em meio a mudanças profundas, e

segundo porque estes autores apropriaram-se dos avanços tecnológicos e

principalmente construtivos disponíveis em sua época, embora as utopias do

Archigram não saíram do projeto.

Contudo, podemos dizer que ao lado das transformações no

povoamento humano devido à domesticação do fogo, da água e do vento, ao

lado das transmutações do ambiente natural e construído, provocadas pelas

novas energias, devemos acrescentar as transformações geradas pelas novas

tecnologias informacionais.

Conhece-se a evolução da paisagem rural causada pela distribuição da

eletricidade, pela implementação das indústrias, pela organização ferroviária e

rodoviária, assim como as mutações da paisagem urbana provocada pelo

elevador e o metrô ou pelo automóvel e percebe-se ainda a influência das

energias alternativas (energia solar e de outros tipos) sobre a moradia.

Então, torna-se pertinente questionar: se não seria agora o momento de

nos perguntarmos sobre as relações existentes entre os novos avanços

tecnológicos proporcionados especialmente pela evolução da informática, e

quais serão as possíveis alterações, sobretudo no ambiente geográfico? Como

viver verdadeiramente se o aqui não o é mais e se tudo é agora? Como

espacializar o amanhã na fusão instantânea de uma realidade que se tornou

dividida entre o tempo da presença (físico / material) e o tempo da

telepresença (virtual / transparente)?

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A idéia deste trabalho não é (ainda) propor um efetivo modelo de cidade

para os próximos anos, onde a informática e a informação possivelmente

mudem muitas coisas em nosso viver, porém, pretendo que este trabalho

subsidie uma tese posterior que como arquiteto e urbanista me sinto na

obrigação de desenvolver, para não deixar que os avanços tecnológicos e

científicos, que se manifestam com extrema rapidez, nos peguem (mais uma

vez) desprevenidos.

Pretende-se neste trabalho, resgatar os períodos de grandes mudanças

sociais em virtude da evolução científica e tecnológica e analisar em que

medida as cidades se reorganizaram e absorveram as evoluções técnicas da

humanidade, além de analisar através de alguns modelos de cidades, como

arquitetos e urbanistas se apropriaram dos avanços tecnológicos ao

planejamento das cidades.

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figura 01 – A chegada (1914) de Cristopher Nevinson, anuncia o auge

da idade do progresso e a madrugada do milênio industrial.

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A Revolução Industrial e os avanços tecnológicos.

Segundo os historiadores, houve pelo menos duas Revoluções

Industriais: a primeira começou pouco antes dos últimos trinta anos do século

XVIII, caracterizada por novas tecnologias como a máquina a vapor, a

fiadeira, o processo Cort em metalurgia e, de forma mais geral, a substituição

das ferramentas manuais pelas máquinas; a segunda, aproximadamente 100

anos depois, destacou-se pelo desenvolvimento da eletricidade, do motor de

combustão interna, de produtos químicos com base científica, da fundição

eficiente de aço e pelo início das tecnologias de comunicação, com a difusão

do telégrafo e a invenção do telefone. Entre as duas há continuidades

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fundamentais, assim como algumas diferenças cruciais. A principal é a

importância decisiva de conhecimentos científicos para sustentar e guiar o

desenvolvimento tecnológico após 1850. É precisamente por causa das

diferenças que os aspectos comuns a ambos períodos da revolução industrial1,

podem oferecer subsídios preciosos para se entender a lógica das revoluções

tecnológicas.

Primeiramente, em ambas “revoluções”, testemunhamos um período de

“transformações tecnológicas em aceleração e sem precedentes” em

comparação com os padrões históricos. Um conjunto de macroinveções

preparou o terreno para o surgimento de microinvenções nos campos da

agropecuária, indústria e comunicações. Foram de fato, revoluções no sentido

de que um grande aumento repentino e inesperado de aplicações tecnológicas

transformou os processos de produção e distribuição, criou uma enxurrada de

novos produtos e mudou de maneira decisiva a localização das riquezas e do

poder no mundo, que, de repente, ficaram ao alcance dos países e elites

capazes de comandar o novo sistema tecnológico.

Nesta fase nota-se com clareza que a história da humanidade é cíclica e

em alguns aspectos até repetitiva, sempre na história o grupo social ou a

civilização que se apropria com mais velocidade dos novos meios técnicos,

1 Na primeira Revolução Industrial na Grã-Bretanha, havia uma interface entre ciência e

tecnologia. Segundo Charles Singer em A História da Tecnologia, “o aperfeiçoamento

decisivo promovido por Watts na máquina a vapor projetada por Newcomen ocorreu em

interação com seu amigo e protetor Joseph Black, professor de química da Universidade de

Glasglow, onde, em 1757, Watts foi nomeado o “Criador de Instrumentos Matemáticos da

Universidade” e conduziu seus próprios experimentos em modelo da máquina de

Newcomen. Assim sabe-se que o condensador desenvolvido por Watts para a máquina a

vapor, separado do cilindro em que o postom se movimentava, era intimamente associado e

inspirado nas pesquisas científicas de Joseph Black, professor de química da Universidade

de Glasglow”. - Deane, Phyllis – A Revolução Industrial – Zahar Editores – pág. 203.

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sobretudo, as técnicas de guerra consegue invariavelmente dominar a

humanidade.

E, essa é precisamente a confirmação do caráter revolucionário das

novas tecnologias industriais. A ascensão histórica do chamado Ocidente,

limitando-se de fato à Inglaterra e a alguns países da Europa Ocidental, bem

como à América do Norte e à Austrália, está fundamentalmente associada à

superioridade tecnológica alcançada durante as duas Revoluções Industriais.

Nada na história universal cultural, científica, política ou militar antes da

Revolução Industrial poderia explicar a indiscutível supremacia (anglo-

saxônica/alemã e francesa) do Ocidente entre 1750 e 1950.

A tecnologia, expressando condições sociais específicas, introduziu

nova trajetória histórica na segunda metade do século XVIII. A

industrialização fornece o ponto de partida da reflexão sobre nossa época.

Com a ascensão da burguesia específica, concomitantemente à

industrialização, nasce o capitalismo concorrencial e com isso a riqueza deixa

de ser imobiliária, as terras escapam aos feudais e passam para as mãos dos

capitalistas urbanos. Neste período de nossa história coincidem três tipos de

mudanças: descoberta de novas fontes energéticas, uma nova divisão do

trabalho e uma nova organização do poder – com isso a humanidade fica

diante de um salto de época. São estes três tipos de mudanças que trazem

consigo uma nova epistemologia, um novo modo de ver o mundo.

Alguns historiadores insistem que os conhecimentos científicos

necessários à primeira Revolução Industrial já estavam disponíveis cem anos

antes, prontos para serem usados sob condições sociais maduras; ou, como

afirma outros, aguardando a engenhosidade técnica de inventores autodidatas

como Newcomen e Watts, capazes de transformar a tecnologia disponível,

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combinada com a experiência artesanal, em novas e decisivas tecnologias

industriais. Porém, a segunda Revolução Industrial, mais dependente de novos

conhecimentos científicos, mudou seu centro de gravidade para os EUA e a

Alemanha, onde ocorreu a maior parte dos desenvolvimentos em produtos

químicos, eletricidade e telefonia.

As descobertas tecnológicas ocorreram em agrupamentos, interagindo

entre si num processo de retornos cada vez maiores. Sejam quais forem as

condições que determinaram esses agrupamentos, a principal lição que

permanece é que a inovação tecnológica não é uma ocorrência isolada. Ela

reflete um determinado estágio de conhecimento; um ambiente institucional e

industrial específico; uma certa disponibilidade de talentos para definir um

problema técnico e resolvê-lo; uma mentalidade econômica para dar a essa

aplicação uma boa relação custo/benefício; e uma rede de fabricantes e

usuários capazes de comunicar suas experiências de modo acumulativo e

aprender usando e fazendo.

Os efeitos positivos, a longo prazo, das novas tecnologias industriais no

crescimento econômico, na qualidade de vida e na conquista humana da

natureza hostil (refletidos no aumento impressionante da expectativa de vida,

que não tivera uma melhoria constante antes do século XVIII) são

indiscutíveis nos registros históricos. Porém, não vieram cedo, apesar da

difusão da máquina a vapor e das novas máquinas e equipamentos. No início,

o consumo per capita e a qualidade de vida aumentaram pouco (no início do

século XVIII), mas as tecnologias de produção mudaram drasticamente várias

indústrias e setores, preparando o caminho para o crescimento da segunda

metade do século XIX, todavia, os registros históricos parecem indicar que,

em termos gerais quanto mais próxima for a relação entre os locais de

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inovação, produção e utilização das novas tecnologias, mais rápida será a

transformação das sociedades e a sua efetiva apropriação das inovações

tecnológicas.

Apesar de ambas as Revoluções Industriais, terem causado o

surgimento de novas tecnologias que na verdade formaram e transformaram

um sistema industrial em estágios sucessivos, no âmago dessas revoluções

havia uma inovação fundamental em geração e distribuição de energia. R.J.

Forbes, famoso historiador de tecnologia, afirma que “a invenção da maquina

a vapor podia ser levada aonde fosse necessária e na extensão desejada”2. E,

embora insista no caráter multifacetado da Revolução Industrial, também acha

que “não obstante os protestos de alguns historiadores econômicos, a maquina

a vapor é ainda amplamente considerada a invenção mais requintada da

Revolução Industrial”.

A eletricidade foi a força central da segunda revolução, apesar de outros

avanços extraordinários como produtos químicos, aço, motor de combustão

interna, telégrafo e telefonia. Isso porque, apenas mediante geração e

distribuição de eletricidade, os outros campos puderam desenvolver suas

aplicações e ser conectados entre si. Um caso especial foi o do telégrafo

elétrico que, utilizado experimentalmente de 1790-99 e em pleno uso desde

1837, só conseguiu desenvolver-se em uma rede de comunicação, conectando

o mundo em larga escala, quando pôde contar com a difusão da eletricidade. O

uso difundido da eletricidade a partir de 1870 mudou os transportes,

telégrafos, iluminação e, não menos importante, o trabalho nas fábricas

mediante a difusão de energia na forma de motores elétricos. Na verdade,

2 Forbes, R.J. – The Industrial Revolution, 1750-1850, Londres, editora Oxford University

Press, 1958.

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embora as fábricas sejam associadas à primeira Revolução Industrial, por

quase um século elas não foram concomitantes com o uso da máquina a vapor,

bastante utilizada em pequenas oficinas artesanais, enquanto muitas das

grandes fábricas continuavam a usar fontes melhoradas de energia hidráulica

(daí a razão de, por muito tempo, terem sido conhecidas como moinhos). Foi o

motor elétrico que tanto tornou possível quanto induziu a organização do

trabalho em larga escala nas fábricas industriais.

Portanto, atuando no processo central de todos os processos – ou seja, a

energia necessária para produzir, distribuir e comunicar – as duas Revoluções

Industriais difundiram-se por todo o sistema econômico e permearam todo o

tecido social. Fontes móveis de energia barata e acessível expandiram e

aumentaram a força do corpo humano, criando a base material para a

continuação histórica de um movimento semelhante.

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figuras 02,03 –Uma roda de fiar podia fazer às vezes de mil fusos era uma regra da

Revolução Industrial. Em cima uma cena tradicional de casa de campo. Em baixo,

(maquinas de fiar algodão 1835)

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A cidade e os avanços tecnológicos (novos problemas).

A grande era das invenções modernas, como já vimos, divide-se em

duas fases distintas. A primeira entre 1700 a 1850 foi dominada pelo carvão, o

ferro e o vapor, e testemunhou a transição da oficina para a fábrica e de

empresa individual para a companhia por ações. A segunda, coincidindo com

a aparição das grandes firmas e monopólios de 1850 em diante, está associada,

acima de tudo com o aço, a eletricidade, o motor de combustão interna e a

síntese de novas substancias. Ambas as fases demonstram que embora o

avanço em tecnologia não possa por si próprio levar ao progresso industrial,

pode conseguir-se, em pouco tempo um impressionante ganho para a

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sociedade se empresários e artífices habilidosos tiverem a vontade e a

capacidade de reconhecer e aplicar novas idéias e invenções úteis.

****

Com o desenvolvimento da locomotiva (1814), e com a implementação

das linhas ferroviárias, a cidade expande seu crescimento através destes

caminhos, a estrada de ferro traz definitivamente o progresso: em primeiro

lugar garante o transporte de mercadorias, depois, o de pessoas, assim, as

distâncias se encurtam e as relações comerciais entre diversas localidades e

países se estreitam, de modo a impulsionar o crescimento econômico-

comercial dos países que se apropriarão com mais rapidez, da evolução deste

meio de transporte. Não são apenas os bens de consumo trazidos pelos trens,

mas, sobretudo o dinheiro de várias partes do globo. Os reflexos desta grande

evolução gerada pelos trens e ferrovias são rapidamente sentidos pelas

cidades, que mais uma vez têm uma geratriz condicionando seu crescimento e

estruturando-a até então sem racionalização. As ferrovias, por muitas vezes,

criam resíduos urbanos, segmentam a paisagem, segregam a cidade, por se

tratar de uma linha marcante que cicatriza e intransponibiliza, formando

assim, dois lados normalmente estanques. Porém, para servir de suporte para a

estrutura ferroviária, são edificados grandes galpões e armazéns, tais quais: as

docas dos navios a vapor3, como também, estações que rapidamente tornam-se

ícones do progresso da cidade industrial (neoliberal). Um exemplo da

3Nota do autor: Na primeira metade do século XIX os sistemas de transporte e de

comunicação desencadearão as primeiras inovações como os primeiros barcos a vapor

(1807), que como os trens com as estações, trás consigo, a necessidade da edificação de

docas e portos que se tornam pontos de atração para os imigrantes, sedentos por trabalhos e

recém saídos do campo, com isso, a cidade além da transformação no assentamento da

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importância das estações ferroviárias é o fato de que sempre em suas torres,

instalavam-se os relógios, que tinham a função de mostrar e marcar a hora de

seus trens, também serviam como símbolo da doutrina industrial difundida

sobre a massa trabalhadora, na maioria das vezes explorada. Ademais as

estações ferroviárias, nota-se que a paisagem dessas cidades começam a ser

remodeladas, o horizonte das cidades industriais são cortados com as

chaminés das fábricas, adquirindo assim, cada vez mais um aspecto árido e

sombrio, pois estas chaminés lançam ininterruptamente suas fumaças sobre a

cidade.

Figura 04 – Estação de caminho-de-ferro de Paris, a Gare Saint-Lazare pintada por

Monet, 1877.

população, iniciada pela implantação das fábricas, dissipa seu crescimento, através das

adjacências dessas estruturas comerciais e de serviços, referente ao transporte fluvial.

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Além das grandes cidades que são obrigadas a abrigar a malha férrea,

outras pequenas e médias cidades foram surgindo ao redor da ferrovia, assim,

esta se torna condicionante para a consolidação geográfica, e para a

implantação de novas fábricas, pois invariavelmente, a matéria que as fábricas

necessitavam para sua produção, como a que a fabrica produzia, era

transportada pelos trens. Juntamente com as fábricas vinha a mão de obra para

viabilizar sua operacionalização, e a partir de então, a classe mais

desfavorecida era expurgada para as periferias das novas cidades, formando

subúrbios, com problemas de habitabilidade (o que será posteriormente

abordado). Com isso, a ferrovia e as locomotivas tornam-se, indubitavelmente,

uma das invenções mais transcendentes da revolução industrial, tanto é, que

via de regra, as teorias urbanísticas do século XIX, contemplavam a ferrovia

como meio de transporte determinante para o desenvolvimento das cidades,

que apesar das diferenças entre as propostas pode-se notar traços comuns,

desde os “Falanstérios de Charles Fourier, até as “Cidades Jardins” de

Ebenezer Haward, passando pelas “Cidades Industriais” de Tony Garnier,

todos consideravam a ferrovia como meio de transporte eficiente e

determinante para o desenvolvimento racional das cidades.4

Mais tarde, a invenção do motor a explosão (1885) permite usar o

petróleo para mover navios, automóveis e, depois, os aviões. Especialmente,

os automóveis trazem à cidade uma mudança considerável, pois as ruas, os

cruzamentos, os acessos, a própria casa que necessita a partir de então, um

4 Ver: – Choy, Françoise – O Urbanismo - editora perspectiva – paginas 61 a 66, 163 a 170

e 219 a 228.

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compartimento que abrigue o automóvel, toda a estrutura dos arruamentos tem

de ser alterada. O automóvel muda o enfoque da estruturação da cidade, que

se antes pensava no pedestre,- ou no tropeiro -, tem que necessariamente

atender esta nova forma de circulação, até se chegar ao lamentável ponto, em

algumas cidades modernas, de priorizarem exclusivamente os automóveis. A

cidade mais uma vez ganha barreiras intransponíveis. As grandes avenidas do

século XX que aos poucos vão tomando os lugares mais nobres das cidades

são como as ferrovias do século XIX, e fragmentam definitivamente a cidade,

que por mais planejada que seja, com o tempo, passa a conviver com os

engarrafamentos. A aridez das cidades industriais atinge o cume, com a

obrigatória pavimentação das ruas. Neste momento é a rodovia que estrutura o

espaço geográfico, tal qual a ferrovia, a rodovia impõe em meados do século

XX as diretrizes para o desenvolvimento das cidades.

Figura 05 – A Locomotiva de William Hetley. Wylam Dilly,l construída em 1813.

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Figura 06 – Locomotiva – um exemplo de arte de engenharia, 1848.

Figura 07 – Atento as insuficientes fontes de carvão da Itália e ao entusiasmo pelos

caminhos de ferro, um inventor patriótico idealizou a “Impulsoria” de 1853.

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Através desta analogia entre ferrovia e rodovia, podemos estabelecer

uma comparação semelhante com os bondes e os trens metropolitanos. A

partir das primeiras iniciativas no campo da eletricidade como a descoberta da

lei da corrente elétrica (1827), foi possível desenvolver meios de transporte

como o bonde, tão presente nas cidades no século XIX, que com a

modernização dos meios de condução de energia como o de construção civil,

deu seu lugar aos trens metropolitanos que hoje são reconhecidos como o

meio de transporte mais eficiente para as grandes cidades, principalmente

quando da ocupação dos subsolos.

Figura 08 – O carro elétrico de Siemens (O Bonde) na Expo. Elétrica de Paris 1881.

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Todavia, ainda no setor dos transportes, não podemos esquecer a

aeronáutica, que a partir dos dirigíveis, tem papel de extrema importância não

só no desenvolvimento dos transportes, como no das cidades. A evolução da

indústria química também se tornou um fator importante para a compreensão

dos avanços tecnológicos e suas interfaces, 5 viabilizou, entre outras coisas, a

construção dos primeiros dirigíveis aéreos, e com isso, a conquista do espaço

aéreo pelo homem. As cidades precisaram adequar-se mais uma vez ao novo

advento, com grandes hangares e locais para o pouso destas enormes

estruturas voadoras, e assim, espaços imensos precisariam ser destinados a

mais uma conquista da humanidade. Posteriormente, com a já mencionada

invenção do motor à explosão e o desenvolvimento da engenharia

aerodinâmica, o avião toma a cena, e define-se como principal meio de

transporte para grandes distâncias. O aeroporto passa a ser preponderante e é

implantado em geral em lugares mais afastados das cidades, liberando o

espaço aéreo nas adjacências, porém com o crescimento da cidade, o

aeroporto, passa com o tempo a ser envolvido pela cidade, muitas vezes

ficando em uma posição desaconselhável para os padrões de segurança. O

avião nos trás a possibilidade de ver a cidade de outro ângulo, em outra

perspectiva, além de possibilitar o acesso à cidade por outro caminho que não,

o terrestre, assim faz do aeroporto uma outra porta de entrada da cidade, com

isso os aeroportos passam a ter valor estratégico para a imagem da cidade.

5 Nota do Autor: A indústria Química também se tornou um importante setor de ponta no

campo fabril, a obtenção de matérias primas sintéticas a partir dos subprodutos do carvão

(nitrogênio e fosfato), corantes fertilizantes plásticos, explosivos, etc.

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Figura 09 – Os símbolos das conquistas da técnica, um balão, um dirigível e um

biplano parecem meditar sobre esta cena. Vista da Ponte de Sèvres (1908), de Rousseaou.

****

Além do papel fundamental da eletricidade no desenvolvimento dos

transportes metropolitanos, a eletricidade associada à lâmpada elétrica (1876)

possibilitou iluminar a cidade, as casas, e dar margem a uma série de outras

invenções. Para o propósito da discussão em pauta, devemos salientar a

iluminação pública que não só tornou a cidade mais segura e passível do

frequentamento noturno, mas alterou definitivamente o cotidiano, expandindo

o dia produtivo através da noite, o aproveitamento produtivo, sobretudo nas

fábricas, duplicou criando assim, os turnos de trabalho. A iluminação de

nossas ruas criou além do trânsito noturno, a possibilidade do lazer noturno,

que entre outras coisas, necessita de estrutura própria. Nasce então, uma outra

faceta em algumas cidades, a de explorar a noite comercialmente como

entretenimento. As cidades sofrem com isso mudanças do ponto de vista

geográfico, pois a setorização torna-se fundamental, as áreas que exploram o

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comércio e os serviços noturnos não podem (ou não poderiam), de maneira

alguma, chocarem-se com as áreas residenciais, que por sua vez não deveriam

estabelecer relações físicas com áreas industriais, assim, as cidades começam

a ser subdivididas, de modo a cada vez mais necessitarem de transportes

eficientes, tanto coletivos como individuais.6

Figura 10 – A invenção do motor de combustão interna, deu origem à moderna

industria automobilística. – Karl Benz ao volante do seu automóvel (1887).

6 Nota do Autor: A energia elétrica passou a exercer sobre a humanidade uma influencia

vital, e só tomamos consciência disso, quando estamos prestes a perde-la. A crise de

energia enfrentada por diversos paises, sobretudo o Brasil, revela nossa total dependência

desta energia. Precisamos de eletricidade para manter a temperatura fria no verão e quente

no inverno, para cozinhar grande parte de nossa comida e congelar o que pretendemos

comer depois. Dependemos dela para transporte, comunicação, diversão, para levar vidas

que não têm qualquer relação com o nascer e o pôr do sol.

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A revolução industrial primeiramente restringiu-se aos locais de

trabalho e produção partilhada, até que o motor elétrico limpo e relativamente

pequeno possibilitou a adoção de sua utilidade no lar: refrigeração, limpeza

automatizada, esfriamento de ambientes, melhor aquecimento, diversão,

armazenagem de dados em massa, assistência médica doméstica e transporte

pessoal mais confortável. É verdade que muitas dessas “bênçãos” já se

achavam presentes no lar graças a tecnologias mais simples – o encanamento

com base na gravidade, por exemplo, ou o fluxo de ar convectivo (renovação

mecânica do ar) -, mas foi o motor elétrico que as levou a toda parte. A

transformação do estilo de vida ocidental foi profunda e mudou

completamente nossas expectativas de como nossos corpos devem se encaixar

em nosso ambiente.

****

A invenção do processo Bessemer (1856) facilita a difusão do aço, que

permite construir novas máquinas mais eficientes e novas estruturas nunca

vistas no passado: grandes coberturas sem suportes intermediários (a rotunda

da Exposição Universal de Viena, de 1873, com o diâmetro de 102 metros, a

sala das máquinas da Exposição Universal de Paris de 1889, de 115 por 420

metros), pontes suspensas cada vez mais longas (desde a Ponte do Brooklyn

de 1873, de 488 metros, à Ponte de Washington sobre o Hudson, de 1928, de

1.050 metros), arranha-céus cada vez mais altos (dos primeiros de Chicago,

no fim do século XIX, de 20-30 andares, aos de New York nos primeiros

decênios do século XX, com mais de 100 andares;. A invenção do dínamo

(1869) permite usar a eletricidade como força motriz, e tornam possíveis

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infinitas aplicações: como por exemplo, os elevadores e os sistemas de

comunicação (telefones e interfones) – pois de nada adiantaria construir

edifícios de 100 andares se não tivéssemos uma forma de deslocamento

vertical mecânico para acessá-los.

No final do século XIX, com a solução dos complexos problemas

técnicos e estruturais que as novas tecnologias resolveram, foram criadas as

condições para a construção de arranha-céus, que mudariam definitivamente a

paisagem da maioria das cidades do mundo, muitas vezes com várias centenas

de metros de altura. Tinham de ser consideradas não só as medidas de

proteção contra incêndios, como também as dificuldades inerentes à sua

exploração. Mas, por muito grande que seja o fascínio estético exercido por

estes edifícios de grande porte, considerados obras-primas da arquitetura do

ferro, eles não foram construídos meramente por motivos estéticos. Pelo

contrário, foram os motivos econômicos que provocaram quase

obrigatoriamente um crescimento contínuo em altura dos edifícios. A subida

dos preços dos terrenos nos centros econômicos, em ascensão na América,

conduziu a que cada metro quadrado de solo tivesse de ser utilizado de modo

conseqüente. Depois de terem sido dominados os problemas técnicos dos

prédios em altura, principalmente com o advento do elevador, as motivações

econômicas desenvolveram-se em uma crescente: quanto mais gigantescas

eram as somas obtidas no mercado imobiliário.

Para além de Nova Iorque, centro econômico pulsante, foi, sobretudo

em Chicago que este novo movimento arquitetônico mais se desenvolveu. O

violento incêndio de 1871 em Chicago reduziu uma grande parte a escombros.

Mas, por mais terríveis que as conseqüências do grande incêndio tenham sido,

serviu simultaneamente, como rastilho da reconstrução de uma cidade nova e

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moderna, na qual os “arranha-céus” se foram elevando, andar a andar,

tornando-se a componente mais importante da imagem da cidade. Assim,

surgiram, espantosamente cedo, projetos de edifícios gigantescos como o

Marshall Field Wholesale Store de Henry Hobson Richardson (1885-1887), ou

o primeiro com um esqueleto em aço, o Jome Insurance Building projeto de

William Le Baron Jenney igualmente concretizado em Chicago (1883-1885).

Em paralelo, Louis Sulivan tornou-se o protagonista mais importante da

cultura dos edifícios em altura dessa época e no representante insigne da

chamada “Escola de Chicago”.

Figura 11 - Woolworth Building, (Cass Gilbert) Nova Iorque, 1913.

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Figura 12 – Chrysler Building, (William van Alen) Nova Iorque, 1930.

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****

Os telégrafos (1836) tornaram a informação mais rápida, assim reunia-

se fisicamente a informação e a organizavam de formas inteligível, abrindo

caminho para uma série de outras invenções no campo da comunicação. O

telefone dava novos contornos a comunicação (Bell, 1876). Hoje não

conseguimos imaginar a civilização moderna sem o telefone. A partir da

difusão em larga escala do telefone, imaginou-se que o deslocamento em

muitos casos passaria a ser secundário, já que se poderia comunicar via

telégrafo ou telefone. Assim, as expectativas quanto ao crescimento da malha

viária ou ferroviária das cidades poderia sofrer uma retração, visto que, o

deslocamento supostamente diminuiria. No entanto em concomitância a

expansão do telefone, ocorreu à propagação dos automóveis, que logo, tornar-

se-ia o sonho de consumo da civilização industrial e pós-industrial, com isso,

torna-se fundamental abrir estradas, alargar ruas, criar a infra-estrutura

mínima para a eminente expansão da industria automobilística. Esta interface

entre a difusão do telefone e a possível retração na configuração viária das

cidades, deve ser retomada nesta análise, na medida em que se discuta os

novos meios informacionais, e as possíveis alterações nas cidades do amanhã.

Como já foi colocado anteriormente, um dos benefícios trazidos pela

difusão dos meios de comunicação, sobretudo o telefone, foi a de ajudar na

viabilidade de edificar os edifícios altos, criando condições de comunicações

entre os diversos andares e integrando os andares mais distantes ao resto da

cidade, sobretudo ao mundo.

O telefone, de certa forma, altera as noções de distancia tão fortemente

estabelecidas, possibilitando a informação ou a comunicação entre os

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diferentes lugares do mundo e entre os diversos povos e culturas, em tempo

real. Podemos talvez (por que não?) dizer, que o telefone é o primórdio da

globalização e o início da comunicação virtual, uma vez que possibilita a

intercomunicação em tempo real, e facilita o intercâmbio entre povos de

diferentes culturas, possibilita a comunicação sem a mediação física. Por isso,

alguns historiadores consideram que a revolução industrial, ainda segue até os

nossos dias, por se tratar de um avanço contínuo da ciência e da tecnologia, as

descobertas e os avanços abrem precedentes para uma série de outras

invenções que muitas vezes mudam o comportamento do mundo.

Com a invenção do rádio (1898), abre-se um novo período na história

da humanidade, surge a comunicação de massa. Diretamente as cidades não

sofrem alterações, porém com o tempo os costumes são alterados, a mídia

associada ao regime capitalista influencia e altera o comportamento social,

que conseqüentemente tem reflexos nas cidades, surgem os grandes espaços

comerciais embalados pelo consumismo crescente, as praças antes exclusivas

para o lazer são invadidas por diversos usos ligados ao consumo, a própria

configuração da moradia é alterada, em virtude de modelos vinculados na

mídia. O radio é o inicio deste fulminante ataque da mídia que conhece seu

ápice com o surgimento da televisão.

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A cidade e a busca de novas soluções.

Depois da metade do século XVIII, a revolução industrial muda o curso

dos acontecimentos, na Inglaterra e mais tarde em todo o resto do mundo.Os

principais fatos que influenciam a ordem das cidades e do território são os

seguintes:

- O aumento da população, devido à diminuição do índice de

mortalidade, que pela primeira vez se distancia decididamente do de

natalidade (Na Inglaterra o índice de natalidade permanece quase

constante ao redor de 37 por mil, o índice de mortalidade diminuiu de

35 por mil por volta de meados do século XVIII, para 20 por mil na

metade do século XIX). Por isso cresce o número de habitantes.

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- O aumento dos bens e dos serviços produzidos pela agricultura, pela

indústria e pelas atividades terciárias, por efeito do progresso

tecnológico e do desenvolvimento econômico. O aumento da população

e o aumento da produção se ligam para formar um círculo ascendente:

os habitantes mais numerosos exigem bens e serviços mais abundantes,

que permitem um aumento ulterior da população; os bens e os serviços

disponíveis em quantidade e em qualidade superior fazem aumentar a

qualidade de vida das classes sociais, e produzem a busca de outros

bens mais abundantes e mais diversos.

- A redistribuição dos habitantes no território em conseqüência do

aumento demográfico e das transformações da produção. Os

camponeses cultivadores diretos se tornam assalariados, ou operários da

indústria, e se transferem para onde existe disponibilidade de força

motriz para os estabelecimentos industriais, isto é, nas proximidades

dos cursos de água e depois, após a invenção da máquina a vapor, nas

vizinhanças das jazidas de carvão. Os estabelecimentos tendem a

concentrar-se em redor das cidades; deste modo as cidades crescem

mais rapidamente do que o restante do país, porque acolhem seja o

aumento natural da população, seja o fluxo migratório dos campos.

- O desenvolvimento dos meios de comunicação: as estradas de pedágio,

os canais navegáveis, construídos na Inglaterra de 1760 em diante; as

estradas de ferro, introduzidas em 1825 e difundidas rapidamente na

Inglaterra e em todos os outros países; os navios a vapor que no mesmo

período têm condições de substituir os navios a vela. Estes meios

permitem uma mobilidade incomparavelmente maior: todas as

mercadorias mesmo as pesadas e pobres, podem ser transportadas para

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os locais onde são solicitadas; as pessoas de todas as classes sociais

podem fazer longas viagens, ou morar num lugar e trabalhar em outro,

deslocando-se a cada dia ou a cada semana.

- A rapidez e o caráter aberto destas transformações, que se desenvolvem

em poucos decênios (dentro do arco de experiência de uma vida

humana) e não levam a um novo equilíbrio estável, mas deixam prever

outras transformações cada vez mais profundas e mais rápidas. Nenhum

problema jamais é resolvido definitivamente, e arranjo nenhum pode

valer por tempo indeterminado, mas somente por um período que se

deve aprender a calcular. Um edifício não mais é considerado uma

edificação estável, incorporada no terreno, mas um manufaturado

provisório, que pode ser substituído mais tarde por outro manufaturado.

Torna-se possível assim, considerar um terreno edificável um bem

independente com seu requisitos econômicos devidos à posição, à

procura, aos vínculos regulamentares etc.

Na primeira metade do século XIX, os defeitos da cidade industrial

parecem por demais numerosos e incomuns para que possam ser eliminados

completamente. Entre a realidade e o ideal a diferença parece impossível de

ser preenchida.

O crescimento espantoso das cidades na época industrial produz a

transformação do núcleo anterior (que se torna o centro do novo organismo), e

a formação ao redor deste núcleo, de uma nova faixa construída: a periferia.

O núcleo tem uma estrutura já formada, na Idade Média; contem os

principais monumentos – igrejas, palácios – que muitas vezes dominam ainda

o panorama das cidades européias. Mas não pode sem mais se tornar o centro

de um aglomerado humano muito maior; as ruas são demasiadas estreitas para

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conter o transito em aumento, as casas são demasiadas diminutas e compactas

para hospedar sem inconvenientes uma população mais densa. Assim, as

classes abastadas abandonam gradualmente o centro e se estabelecem na

periferia: as velhas casas se tornam casebres onde se amontoam os pobres e os

recém imigrados. Os muitos edifícios monumentais da cidade histórica –

palácios e conventos etc. – são abandonados por causa das revoluções sociais,

e são divididos em pequenas moradias improvisadas, as zonas verdes

compreendidas no organismo antigo – os jardins por trás das casas em fileira,

os jardins maiores dos palácios, os hortos – são ocupadas por novas

construções, casa e barracões industriais.

Este ambiente desordenado e inabitável é o resultado da superposição de

muitas iniciativas públicas e particulares não-regulamentadas e não-

coordenadas. A liberdade individual, exigida como condição para o

desenvolvimento da economia industrial, revela-se insuficiente para regular as

transformações de construções e urbanismo produzidas justamente pelo

desenvolvimento econômico. As classes pobres sofrem mais diretamente os

inconvenientes da cidade industrial, mas as classes ricas não podem pensar em

fugir deles por completo. Por volta de 1830 o cólera se espalha pela Europa,

vindo da Ásia, e nas grandes cidades se desenvolvem as epidemias, que

obrigam os governantes a corrigir pelo menos os defeitos higiênicos, isto é, a

se chocar com o principio da liberdade de iniciativa, proclamado na teoria e

defendido obstinadamente na prática na primeira metade do século. Leonardo

Benévolo descreve da seguinte forma a situação higiênica da comunidade das

grandes cidades do século XVIII e XIX:

“As carências higiênicas relativamente suportáveis no campo tornam-se

insuportáveis na cidade, pela contigüidade e o número enorme das novas

habitações. Enquanto cada casa tinha muito espaço á sua volta, os dejetos líquidos

e sólidos podiam ser eliminados com facilidade, e as diversas atividades que se

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realizavam ao ar livre – criação dos animais, tráfego dos peões e dos carros, os

jogos das crianças – podiam processar-se sem interferirem demasiado entre si. Mas

agora, o adensamento e a extensão sem precedentes dos bairros operários tornam

quase impossível o escoamento dos detritos; ao longo das ruas correm os regos dos

esgotos a descoberto, e qualquer recanto afastado está cheio de amontoados de

imundícies”.7

Figura 13 – Vista de Sheffield em 1858 – Pode-se notar com clareza a imagem da

cidade industrial sua paisagem recortada pelas chaminés das fábricas pela linha férrea e

na periferia os casebres dos operários.

A atração que as fábricas produziam sobre a população que até então se

organizava em simples estruturas espaciais, como vilarejos e pequenas cidades

rurais, é evidente, mudando assim, completamente e definitivamente a

ocupação do território. A população começa a se aglomerar em volta das

fábricas, que necessita de mão de obra para sua operacionalização, está

aglomeração tornam-se com o tempo; cidades, que invariavelmente sofrem

7 Benévolo, Leonardo – As Origens da Urbanística Moderna – Editora Presença - pag. 23.

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com problemas estruturais, tais como, saneamento, déficit habitacional,

insuficiência de transportes públicos, etc. 8

A partir de então nasce efetivamente o urbanismo como disciplina, com a

incumbência da resolução dos graves problemas presentes nas cidades e no

planejamento e racionalização das cidades a serem implantadas.

Os chamados urbanistas sanitaristas são os primeiros a aparecem como

salvadores, como quem tem o desafio de sanar os problemas do ponto de vista

sanitário, principalmente equacionando o esgoto das cidades, que inchou

bruscamente e que sofre com epidemias e pestes até então desconhecidas.

Do ponto de vista estrutural, nas velhas cidades da Europa a transformação

dos meios de produção e transporte, assim como a emergência de novas

funções urbana, contribui para romper os velhos paradigmas, da cidade

medieval e da cidade barroca, uma nova ordem é criada, segundo o processo

tradicional da adaptação da cidade à sociedade que a habita. Nesse sentido,

Haussmann, no desejo de adaptar Paris às exigências econômicas e sociais do

Segundo Império, faz uma obra realista. E o trabalho que realiza, se prejudica

a classe operária, incomoda os pequenos burgueses expropriados, contraria os

hábitos, é em compensação, a solução mais imediatamente favorável aos

capitães de indústrias e aos financistas que constituem então um dos

elementos mais ativos da sociedade. É o “urbanismo” a serviço do

capitalismo.

Na França a revolução de 1848 põe em crise tanto os movimentos de

esquerda, como os regimes liberais da primeira metade do século, que se

8 Nota do autor: Especialmente em países subdesenvolvidos como o Brasil podemos

notar que estes fatores ainda hoje são detectados, em uma estrutura pós-industrial que não

equacionou velhos problemas surgidos no século XVIII.

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demonstram indefesos contra esta ameaça. Neste panorama a burguesia

vitoriosa estabelece, assim, um novo modelo de cidade, no qual os interesses

dos vários grupos dominantes – empresários e proprietários – estão

parcialmente coordenados entre si, e as contradições produzidas pela presença

das classes subalternas são parcialmente corretas.

Este modelo tem um sucesso imediato e duradouro: permite reorganizar

as grandes cidades européias e antes de todas outra Paris surge como modelo

de ocupação e gestão pública naquele instante.

Na França a política econômica de Luis Napoleão mostrou que se podia

estimular empresários particulares para esforços maiores do que

anteriormente. A reorganização do sistema ferroviário, a reconstrução de Paris

central, a construção de obras públicas em cidades da província, a edificação

de novos portos, os empréstimos do governo as industrias, o encorajamento de

novos bancos de crédito para a industria e para a agricultura, a reforma radical

das tarifas, a realização de duas grandes exposições internacionais em Paris,

tudo isso ajudou a promover o crescimento da industria francesa em seu

reinado. O Imperador era servido por administradores competentes como

Eugene Rouher, G.E, Haussman, P.I. Bairoch e Franqueville. Napoleão III

compreendeu a importância das comunicações na promoção do

desenvolvimento industrial e resolveu equipar a França com um sistema de

caminhos de ferro eficiente. No entanto não podemos nos esquecer que um

dos pontos fundamentais estabelecidos pela gestão do Barão Haussman,

(principalmente como prefeito de Paris), era a expulsão dos pobres do centro

de Paris e substituir as ruas tortuosas e “sem vida”, por longas avenidas, os

bairros sórdidos porem animados, por bairros aburguesados, estas mudanças

foram conhecidas como “Estratégia de Classe”.

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A sociedade européia estava fascinada e perturbada por este ambiente

novo, contraditório. A técnica moderna produziu, finalmente, uma nova

cidade, mas em vez de resolver os antigos problemas, abriu outros,

inesperados.

Figura 14 – O Palácio de Cristal, construído para abrigar a Grande Exposição do

Príncipe Alberto em 1851.

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Figura 15 – A demolição de parte do Quartier Latin no descurso da reconstrução de

Paris.

Figura 16 – Esquema dos grandes trabalhos de Haussmann em Paris: em preto as

novas ruas, em tracejado quadriculado os novos bairros, em tracejado horizontal os

dois grandes parques periférico: o Bois de Boulogne (à esquerda) e o Bois de

Vincennes (à esquerda).

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Especificamente no que tange as cidades pré-industriais e industriais os

avanços tecnológicos tem papel fundamental no equacionamento dos

problemas presentes nos organismos espaciais.

Como já mencionados, a eletricidade possibilitou, entre outras coisas,

iluminar ruas, edificar verticalmente e transformar a condição temporal

estabelecida (já que as cidades iluminadas, tornam-se, passiveis de

aproveitamento noturno, sobretudo, na alteração dos turnos de trabalho das

fábricas, propulsoras do “desenvolvimento”), a cidade moderna se põem em

funcionamento pela eletricidade, temos como exemplos os trens

metropolitanos, os semáforos, as usinas elevatórias de água e esgoto e a

própria iluminação pública.

Neste momento aparece um dos primeiros diálogos entre o

desenvolvimento tecnológico e a cidade industrial, com a implantação da rede

de encanamentos de água potável e esgotos. Sem o serviço de águas, as

condições de adensamento do mundo moderno seriam absolutamente

inviáveis.

A nova cidade, por mais feia e incomoda que seja, é aceita como

modelo universal porque, não se têm alternativas: os intelectuais recordam

saudosamente a cidade do passado longínquo e os políticos revolucionários

não tem interesse em descrever a cidade de um futuro distante. Neste cenário,

os elementos da civilização industrial finalmente tomam vulto e podem ser

confrontados entre si. Os novos problemas abertos se tornam às tarefas a

enfrentar no futuro próximo.

Ainda hoje emana um forte fascínio dos arranha céus das metrópoles

americanas que dominam majestosamente a linha do horizonte das grandes

cidades e tornaram-se os símbolos do poder econômico e da prosperidade dos

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cidadãos. A arquitetura da vanguarda moderna é à busca de um novo modelo

de cidade, alternativo ao tradicional, e começa quando os artistas e os técnicos

iniciam com colaboração na gestão da cidade pós-liberal se tornam capazes de

propor um novo método de trabalho, libertado das anteriores divisões

institucionais.

Os novos sistemas de construção tornam cada vez mais difícil ajustar

separadamente a aparência dos novos edifícios (com os estilos históricos ou

com os novos inventados pelos arquitetos de vanguarda). O trânsito mais

intenso e as novas instalações urbanas - o gás, a eletricidade, o telefone, os

transportes públicos sobre trilhos, na superfície ou subterrâneos – devem ser

comprimidos nos espaços públicos insuficientes da cidade pós-liberal. As

cidades crescem cada vez mais velozmente.

Estas mudanças enfraquecem as formas de gestão tradicionais, e fazem

nascer também das camadas inferiores à procura de uma renovação do

ambiente construído.

Os artistas, encarregados de apresentar e de corrigir a imagem da cidade

pós-liberal, são os primeiros a reagir contra o aspecto desagradável: criticam o

cenário que vêem à sua volta, e começam a atacar os mecanismos que

produzem.

Os técnicos, que trabalham fechados em suas especializações, não estão

em condição de controlar as conseqüências de seu trabalho, mas modificam o

ambiente da vida cotidiana de maneira cada vez mais rápida e mais profunda,

portanto tornam mais difíceis as formas de controle tradicionais.

A partir de então os avanços tecnológicos tomam papel fundamental na

nova apropriação dos espaços públicos e privados, então através deste

domínio da tecnologia as bases da nova cidade são consolidadas.

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Apesar dos urbanistas de vanguarda moderna conceberem um novo

modo de espacialização da cidade, podemos dizer que, abdicaram da

apropriação plena dos avanços tecnológicos já disponíveis, e não realizaram

completamente a revolução técnica, que constituía um dos fundamentos de sua

teoria.

No final do século XVI e início do século XX, uma série de técnicos,

arquitetos e engenheiros imaginaram cidades realmente novas (radicalmente

novas), se apropriando das novas técnicas construtivas, dos avanços

tecnológicos e do novo estilo de vida do homem.

Intitulados como “Tecnotópicos” por Françoise Choay em O

Urbanismo, estes urbanistas estavam atentos quanto as novas funções da

cidade naquele momento, conforme à tradição do urbanismo progressista.

Dois aspectos são destacados: problemas relacionados ao aumento vegetativo

em todas as grandes cidades, que necessariamente clama por especificidades

relacionadas com o adensamento, e na exigência resultante na mudança no

ritmo de vida, em função dos progressos técnicos (da automação, da

mecanização do trabalho, dos transportes, etc...).

“Do ponto de vista construtivo, a pesquisa recai particularmente em estruturas

físicas complexas (estruturas suspensas ou triangulares, superfícies oblíquas auto-

sustentáveis) e em materiais que implicam o seu emprego: redes e entrelaçamentos

metálicos, membranas elásticas e plásticas, folhas de concreto. À geometria

elementar sucede uma dinâmica mais complexa. As técnicas de condicionamento

climático também exercem um grande papel na elaboração dos novos projetos”.9

Esta concepção “tecnologista” produz propostas surpreendentes de

modelos de cidades, que embora não tenham sido concretizadas são passíveis

9 Choay Françoise, O Urbanismo, editora Perspectiva, 1965 – pág 35.

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de análise, já que se realizadas poderiam mudar definitivamente o rumo da

evolução das cidades.

São vários os expoentes seguidores deste conceito revolucionário,

Eugène Hénard, Iannis Xenakis, P. Maymont, J. Fitzgibbon, Y. Friedman, K.

Kikutake, que de certa forma concentravam-se em conceitos muito parecidos,

com características comuns: todas contemplam grandes concentrações

humanas, liberando a superfície terrestre pelo avanço no subsolo, no mar, na

atmosfera; é o motivo por que se fala, a propósito delas, de urbanismo espacial

ou tridimensional. Depois com a apropriação destas teorias utópicas pela

literatura de ficção científica, pôde-se ilustrar a plasticidade destas cidades.

Segundo Françoise Choay a exposição “A arquitetura Visionária” organizada

em 1960 no Museu de Arte Moderna de Nova York, que compreendia um

certo número de exemplos de “urbanismo visionário” foi o sinal precursor do

interesse que o público ia adquirir pela “cidade do futuro”. As maquetes e

ilustrações mostradas na exposição e que até hoje são vinculadas pelos meios

de comunicação, nos passam uma impressão de sonho, de mistério, às vezes

de poesia, que nos faz esquecer da cotidianidade. Essas visões tranqüilizam-

nos quanto às expectativas para o futuro.

Na medida em que a “Tecnotopia” procura resolver problemas

reconhecidos, abre margem para a pesquisa, que caminha em paralelo com

hábitos mentais, que invariavelmente só nos atrasa. Por exemplo, o urbanismo

subterrâneo apresenta contribuições notáveis para o planejamento urbano, que

quase nunca, atenta para estes conceitos.

Podemos então nesta breve análise verificar que o processo evolutivo da

cidade industrial para a pós-industrial, estabelece uma relação dialógica com o

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progresso tecnológico, e só se torna viável a cidade moderna por estar sendo

constantemente beneficiada pelos grandes avanços da tecnologia.

Outro expoente desta tipologia visionária é o grupo inglês Archigram,

que abordaremos separadamente no capítulo subseqüente.

Na proporção em que a cidade cresce em população e em problemas,

gerados por uma eventual superlotação, a tecnologia eminente soluciona

problemas de habitabilidade, comunicação, deslocamento, saneamento, enfim,

organiza espacialmente de maneira racional e na maioria das vezes eficiente.

Os progressos tecnológicos também determinam seus influencias no

próprio desenvolvimento social, a partir do século XVIII a tecnologia se

apropria também da estrutura do trabalho, fundamentando e exigindo a

apropriação tecnológica como ponto determinante do desenvolvimento

individual.

****

O progresso científico e técnico do fim do século XVIII e o fim do

século XIX, isto é, sobretudo descoberta da eletricidade às aplicações da

energia a vapor e elétrica. Finalmente, a partir do início do século XX e com

uma forte aceleração da Segunda Guerra Mundial em diante, as descobertas da

física atômica e subatômica, a abertura do campo molecular em biologia, o

desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação de massa, a

produção de novos materiais, a rápida ascensão da eletrônica, da informática e

da telecomunicação contribuíram para o salto da sociedade.

Essa formidável aceleração do progresso científico e técnico não

poderia ter existido sem a maciça substituição do pesquisador isolado pelo

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trabalho em equipe e sem a maior velocidade com que as descobertas

científicas já se traduzem em aplicações práticas. A agricultura precisou de

nove milênios para dar vez a industria. À indústria bastaram apenas dois

séculos para parir a nova sociedade em que estamos agora metidos até o

pescoço.

Como vimos, a analise do período da revolução industrial é fundamental

para poder entender nossa condição atual, tanto social como econômica, nos

possibilitando, assim, projetarmos nosso futuro perante aos emergentes

avanços tecnológicos atuais.

No que diz respeito as possíveis influencia que as cidades podem sofrer

com os novos avanços científicos, sobretudo na área da informática e da

informação, o período entre a segunda metade do século XVIII, até o da

primeira metade do século XX, é de vital importância para o entendimento das

conseqüências que esses progressos tecnológicos já começam a trazer para a

espacialização das cidades. O período da revolução industrial nos fomenta

com subsídios preciosos, que certamente ajudará a não só entender o atual

momento como aprender com ele, e deixar de cometer possíveis erros já

detectados no passado, em um período que guardadas as proporções se

assemelha muito com o que vivemos.

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Projetos, Modelos e cidades.

Para entendermos de que maneira as cidades ao longo do tempo foram

se organizando e se reorganizando, a partir de evoluções tecnológicas, temos

que obrigatoriamente analisarmos três períodos marcantes para o

planejamento das cidades, através do pensamento de Charles Fourier no

século XIX, Le Corbusier na primeira metade do século XX e através da

ousadia dos projetos do grupo Archigram na segunda metade do século XX.

Estes de certa forma, sintetizaram um pensamento em seus respectivos

períodos, sobretudo no que se refere às alterações sociais e econômicas (de

produção e comportamento), e em que medida estas alterações influenciariam

um possível novo modelo de cidade. Após o ultimo modelo efetivamente

abordado, (iconizado pelo Archigram), pode-se notar que a humanidade não

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mais se preocupou com tanto afinco as questões das interfaces entre cidades e

as novas tecnologias, passando pela tentativa de um modelo pós-moderno que

propunha o resgate integral dos aspectos antigos, sugeria-se um retorno à

cidade pré-industrial reavendo todas as características culturais e tradicionais

do território, que o modelo modernista (aqui apresentado pela obra de Le

Corbusier), rompeu em prol do homem moderno, estandardizado, tal qual o

sistema de produção da época.

A grande ebulição da era industrial acompanha uma série de mudanças

sociais, a primeira grande preocupação é o aumento demográfico nas grandes

cidades que absorveram as fábricas, este acumulo populacional, gerou uma

série de dificuldades ligadas à salubridade urbana, graves problemas sanitários

se apresentavam e tornavam a cidade nos pontos de grande concentração

populacional, focos de varias doenças e pestes, que assombravam toda a

sociedade além do grande déficit habitacional que se fazia presente na nova

cidade transformada pela era da máquina.

Neste contexto social urbano, foram surgindo algumas tentativas para a

resolução dos problemas apresentados pela nova ordem industrial, que por sua

vez, possibilitava através dos avanços tecnológicos viabilizados pela industria,

uma série de alternativas que poderiam ser úteis no momento em que os

pesquisadores se apropriassem de maneira plena das conquistas tecnológicas.

O primeiro modelo urbanístico, que em meu modo de ver, mais se

apropriou destas conquistas técnicas, foi indubitavelmente, o intitulado por

Françoise Choay de modelo Pré-Progressista10

, que tinha como grande

representante Charles Fourier. Amparado em teorias ideológicas, na evolução

das técnicas construtivas e na iminente necessidade de reorganização urbana,

10 Choay Françoise, O Urbanismo, editora Perspectiva, 1965, páginas 61 a 114.

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Fourier propõem, de certa forma, uma ruptura brutal com os padrões urbanos

tão fortemente estabelecidos pela história das cidades européias. Toda a

concepção espacial de cidade “Fourierista” estava associada com uma nova

idéia de mundo, de relação social, de produção e distribuição de riquezas,

assim como posteriormente o modelo intitulado como Progressistas11

, que tem

como estandarte a obra de Le Corbusier.

Le Corbusier traz também, intrínseco ao seu ideal, uma nova concepção

econômica-social, no entanto, amparado por um estilo estético emergente (o

Cubismo), e a modernização do homem e de todas as coisas, a idéia de que o

homem deveria habitar, trabalhar e se divertir, tal qual o produto das

máquinas.

Nestes dois períodos, poderemos notar uma interface extremamente

nítida, no que se refere, a apropriação dos métodos novos de construção, na

interação social entre os cidadãos, na imobilidade espacial das funções

urbanas, (guardando as devidas proporções) na tipologia construtiva,

sobretudo na tentativa de ruptura aos modelos vigentes, tão fortemente

estabelecidos pela história.

Também na tentativa de rompimento brutal com os paradigmas, (no

ponto de vista urbano), veremos os modelos idealizados pelo Archigram e os

chamados Metabolistas japoneses, que surgem na segunda metade do século

XX, em meio a todos os avanços nos meios de comunicação de massa, a

ebulição da tecnologia aeroespacial, o inicio da informática, a nova cultura de

ficção científica e a ameaça da guerra fria sob a sombra da bomba atômica.

Tanto do ponto de vista conceitual, quanto do gráfico, o Archigram e os

11 Choay Françoise, O Urbanismo, editora Perspectiva, 1965, páginas 164 a 202.

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Metabolistas souberam de maneira absoluta se apropriar das tecnologias

disponíveis.

Apesar das distâncias cronológicas entre os modelos apresentados,

pode-se notar, que todas as propostas apresentam semelhanças conceituais; a

apropriação dos avanços tecnológicos, a ruptura com o tradicional, a procura

na resolução dos problemas habitacionais, etc.

Assim podemos traçar uma inter-relação entre o Familistério de Fourier,

a Unidade de Habitação e a Cidade Radiosa de Le Corbusier e a Plug-in-City

de Peter Cook. Contextualizando historicamente as propostas, podemos sem

dúvida perceber que as mudanças sociais e tecnológicas influenciaram, (até

por uma necessidade iminente de transformação), totalmente estes projetos de

cidades, com isso, estas propostas parecem utópicas e futuristas.

As utopias do século XIX.

Como já mencionamos anteriormente do ponto de vista quantitativo, a

revolução industrial é quase imediatamente seguida por um impressionante

crescimento demográfico das cidades, por uma drenagem dos campos em

benefício de um desenvolvimento urbano sem precedentes. O aparecimento e

a importância desse fenômeno seguem a ordem e o nível de industrialização

dos países.

Do ponto de vista estrutural, nas velhas cidades da Europa, a

transformação dos meios de produção e transporte, assim como a emergência

de novas funções urbana contribuiu para romper os velhos quadros

freqüentemente justapostos, da cidade medieval e da cidade barroca.

No momento em que a cidade do século XIX começa a tomar forma

própria, ela provoca um movimento novo, de observação e reflexão. Neste

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instante surgem algumas novas idéias para uma cidade ideal, discutiremos a

que parece ser mais pertinente, o modelo de cidade proposto por Charles

Fourier.

Charles Fourier (1772-1837) começou a expor o seu sistema num longo

tratado, que apareceu anonimamente em 1808. Considera imoral e absurda

uma sociedade baseada na competição dos interesses individuais ou de classe,

e propõe como alternativa, a união dos esforços, para alcançar um estado de

harmonia universal; isto se torna possível eliminando as restrições e os

contrastes que limitam, no mundo presente, a satisfação das paixões, e

reformando a sociedade de modo a garantir a livre satisfação das tendências

individuais, no respeito dos direitos dos demais.

Na teoria de Fourier a realização da harmonia universal deve ocorrer

gradualmente, através de sete períodos históricos; segundo Fourier a

humanidade encontrava-se na transição entre o quarto período(barbárie) e o

quinto (civilização). A civilização seria caracterizada pela propriedade

individual descontrolada, enquanto o período seguinte (garantismo)

estabeleceria uma série de limitações. Assim, a desordem e a anarquia da

cidade, deveria dar lugar a uma ordem minuciosa.

Segundo Fourier, eis a organização de uma cidade do sexto período:

Devem traçar-se três cinturas: a primeira contendo a “cité” ou cidade

central, a Segunda contendo os subúrbios e as grandes fábricas, a terceira

contendo as “avenues” e a periferia. Cada uma das três zonas adota diferentes

dimensões para as construções, nenhuma das quais pode ser feita sem a aprovação

de uma comissão de construtores, que vela pela execução das normas garantistas,

cuja exposição se segue.

As três zonas são separadas por cercas, sebes e plantações que não devem obstruir

a visibilidade.

Cada casa da “cité” deve ser dotada de espaços livres, para pátios ou

ajardinamentos, equivalentes pelo menos à área construída; estes espaços serão

duplos na segunda zona e triplos na terceira.

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Todas as casas devem ser isoladas, possuindo fachadas regulares de todos

os lados, com ornamentos escalonados segundo as três zonas, e desprovidas de

empenas nuas. A distância mínima entre dois edifícios deve ser de três braças(...).

As cercas terão de ser formadas por muros baixos, encimados por grades ou

paliçadas que deixem livres à vista pelo menos dois terços da altura dos edifícios.

A distância será sempre calculada em projeção horizontal, mesmo nos

terrenos inclinados, e deverá ser pelo menos igual a metade da altura da fachada

mais próxima, quer seja dos lados ou da parte detrás.

Os telhados deverão formar pavilhão, salvo na presença de frontões

ornados nos lados, e ser providos de caleiras que conduzam a água para debaixo

dos passeios.

Do lado da rua, a altura das construções até à goteira do telhado não

poderá exceder a largura da rua. A distância entre os lados será pelo menos a 1/8

da largura da fachada que dá para a rua (...), precaução necessária para evitar as

aglomerações num só ponto.

As ruas deverão ter como fundo uma vista campestre ou um monumento de

arquitetura pública ou privada: será banido o monótono tabuleiro de xadrez.

Algumas ruas serão curvas e serpenteadas para evitar a uniformidade. As praças

deverão ocupar pelo menos 1/8 da superfície. Metade das ruas deverão ser

plantadas com árvores de diversas espécies.

A largura mínima das ruas é de nove braças; para regularizar os passeios, e

no caso de se tratar de simples vias para peões, podem reduzir-se a três braças mas

conservando as outras seis como canteiros.12

Esta descrição antecipa de modo surpreendente o conteúdo dos

regulamentos da construção oitocentista, atribuindo-lhes um valor resolutivo

que será desmentido pela experiência posterior, e constitui talvez a

contribuição mais importante de Fourier para a prática urbanística que lhe

seguiu. Mas para o autor este sistema de regras é apenas um elemento de

transição para a harmonia universal, que seria realizada no sétimo período.

Numa cidade deste gênero, não se poderia construir casas pequenas,

mas sim casas coletivas, que forneceriam a concentração dos serviços e por

isso as relações mútuas.

12 C. Fourier, Traité de l’Association Domestique-Agricole, in Oeuvres Complètes,

Paris 1841, II ed., t.IV, pp 500-502.

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Neste modelo de cidade o problema da superpopulação seria

reformulado na raiz, contrapondo à comunidade indeterminada um grupo

funcional racionalmente composto, a Falange, e à cidade indiferenciada um

dispositivo arquitetônico unitário, chamado Falanstério.

Fourier descreve o Falanstério da seguinte forma:

O edifício destinado à Falange não tem qualquer semelhança com as nossas

construções, da cidade ou do campo (...). Os alojamentos, as plantações e os

estábulos de uma sociedade que funciona com base em séries de grupos devem

diferir prodigiosamente das nossas aldeias ou subúrbios ocupados por famílias que

não têm qualquer relação societária e agem contraditoriamente; em lugar deste

caos de casitas dos nossos povoados, que rivalizam entre si em sujidade e

diversidade, numa Falange instala-se um edifício regular tanto quanto o terreno o

permita (...). O centro do Palácio ou Falanstério deve destinar-se às funções

públicas, às salas de jantar, da bolsa, do conselho, da biblioteca, de estudo. Neste

centro estão situados o templo, a tour d’odre, o telégrafo, os pombos-correios, o

carrillon das cerimônias, o observatório, o jardim de Inverno ornamentado com

plantas sempre verdes e situado por detrás do pátio principal.

Uma das alas deve reunir todas as oficinas ruidosas, como o carpinteiro e o

serralheiro, e todas as assembleias de jovens, que são geralmente bastante

barulhentas (...). A outra ala deve conter as buliçosas salas de baile e de relações

com os forasteiros, para que não estorvem o centro do palácio e não perturbem as

relações domésticas da Falange.

O Falanstério deve conter, para além dos apartamentos individuais, muitas

salas de relação públicas que se chamarão (Seristérios), ou locais de reunião e de

realização de séries passionais(...). Para não conferir ao Palácio uma frente

demasiado extensa, convirá duplicar os corpos das alas e do centro, e deixar no

intervalo entre os corpos paralelos contíguos uma distância de pelo menos 15-20

braças, o que formará três pátios alongados e atravessados em cada 50 braças por

corredores sobre colunas ao nível do primeiro piso, fechados com vidraças e

aquecidos ou ventilados segundo o costume de Harmonia (...). O Palácio deve ser

atravessado a distâncias regulares, como a galeria do Louvre, por passagens para

viaturas, conservando ou interrompendo o nivelamento.

Para poupar construção de pedra e cal e terreno, e fomentar as relações,

convirá que o Palácio ganhe em altura, ficando pelo menos com três pisos e o

sótão, para além do andar térreo e da sobreloja, onde estarão situados os

alojamentos e as salas de reuniões das crianças e dos velhos, isolados da rua-

galeria, que é o espaço principal do Palácio (...). Uma Falange é verdadeiramente

uma pequena cidade, mas não possui ruas exteriores e descobertas, expostas às

intempéries; todas as partes do edifício têm acesso por uma ampla galeria situada

no primeiro piso (não poderia ficar no andar térreo, que é atravessado em diversos

pontos pela passagem das viaturas); nas extremidades desta via, corredores,

colunas e subterrâneos com bons acabamentos estabelecem por toda a parte do

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edifício e das suas dependências uma comunicação protegida, elegante e temperada

em qualquer estação do ano, pela caldeira ou pelos ventiladores.

A rua-galeria não recebe luz dos dois lados, pois segue encostada a cada

um dos corpos do edifício; todos os corpos têm duas filas de divisões, uma das

quais recebe luz do exterior e a outra da rua-galeria; esta deve ter a altura dos três

pisos que para ela estão voltados. As portas de entrada de todos os aposentos do

primeiro, do segundo e do terceiro piso abrem para a rua-galeria, com escadas

colocadas a intervalos para dar acesso ao segundo e ao terceiro pisos. As escadas

grandes, como é hábito, são só até ao primeiro andar; mas duas das escadarias

laterais conduzem ao quarto piso. A rua-galeria terá seis braças de largura no

centro e quatro nas alas, quando dentro de trinta anos se construírem os edifícios

definitivos; mas provisoriamente, como o mundo não rico, teremos de nos limitar a

edifícios econômicos, e tanto mais que dentro de trinta anos se terão que refazer de

acordo com planos muito mais vastos. Reduzir-se-á pois a rua galeria para 4

braças no centro e 3 nas alas. Os corpos terão 12 braças de largura de acordo com

o seguinte cálculo:

Galeria, 18 ou 24 pés;

Divisão do lado da galeria, 20 pés;

Divisão que dá para o exterior, 24 pés;

As duas paredes exteriores, 4 pés;

O que dá ao todo 72 pés, ou seja, 12 braças. Algumas salas públicas

poderão Ter até 8 braças de largura, e dar que para a galeria quer para o exterior

(...). Os alojamentos deverão ser distribuídos numa ordem composta e graduada;

terão 20 preços diferentes, de 50 a 1000, mas dever-se-á evitar a progressão

decrescente em direção às alas.13

Fourier declara-se sempre confiante em transformar a sua utopia em

realidade. Na França, todavia, a única tentativa para realizar o Falanstério foi

um completo insucesso. Foram feitas outras tentativas na Rússia, na Argélia,

na Nova Caledônia, sobretudo na América onde as teorias de Fourier

conquistaram muitos adeptos.

Um dos discípulos de Fourier, foi Victor Considerant, financiado, entre

outros, por Jean Baptiste Godin (1817-1889), um jovem industrial que fundara

uma oficina metalúrgica em Guisa.

13 C. Fourier, Traité de l’Association Domestique-Agricole, in Oeuvres Complètes,

Paris 1841, II ed., t.IV, pp 176-184,255-259,261-263.

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Godin começou a realizar com seus próprios meios o Falanstério de

Fourier, modificando-o de acordo com a sua experiência, e foi o único a obter

sucesso.

O Familistério de Godin é uma redução do modelo de Fourier, sendo o

edifício igualmente decomposto em três blocos fechados, mas os pátios de

tamanho modesto são cobertos por vidros e desempenham as funções das

ruas-galerias de Fourier.

O primeiro bloco foi começado em 1859, o bloco central em 1862 e o

terceiro em 1877; entretanto, foram criados os serviços gerais (1860), a creche

e o jardim-escola (1862), as escolas, o teatro (1869), os banhos e a lavanderia

(1870).

Em 1880 Godin instituiu uma cooperativa entre os seus operários, a

quem confiou a gestão da fábrica e do Familistério.

Figura 17 – Vista do Familistério (de GODIN). Os três blocos residenciais,

circundados pelo braço do rio; à frente as oficinas e a construção destinada as

escolas e ao teatro.

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Figura 18 – Vista do Familistério (de GODIN). As fábricas e as primeiras casas da

cidade de Guisa.

Figura 19 – Implantação do complexo de Guisa: (2) o Familistério; (3) O Edifício

com os novos alojamentos construídos depois de 1886; (5) As escolas e o teatro;

(6) Oficinas; (7) lavanderia e balneários.

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A teoria de Godin deriva do princípio cooperativo de Fourier, e

preconiza que o lucro seja dividido proporcionalmente por quatro fatores: a

retribuição dos trabalhadores, o juro do capital, os direitos dos inventores e o

fundo de segurança social.

A vitalidade da experiência depende, porém de duas importantes

inovações: do caráter industrial, e não agrícola, da empresa produtiva, e da

renúncia à vida em comum do Falanstério, com as complicadas conseqüências

previstas por Fourier. No Familistério de Godin cada família possui o seu

alojamento privado, tendo a autonomia, assegurando, contudo as vantagens

dos serviços comuns e facilitando as relações.

É assim antecipado, com singular precisão, o raciocínio que é a base da

“Unité d’habitation” de Le Corbusier:

A economia do solo deixa livre em torno ao Familistério um grande espaço

arranjado para parque, de quase 20 acres. Cada alojamento possui janelas que se

abrem sobre o parque, tanto à frente como atrás e dos lados (...). Na medida em que

não existe qualquer edifício fronteiro ao Familistério, não há vizinhos curiosos a

olhar pelas janelas, abertas ou fechadas. Numa bela noite de Verão cada habitante

apenas tem de fechar a porta que abre para o grande hall, e pode desfrutar do seu

cachimbo ou de um livro defronte da janela aberta sem ser observado, como se

fosse proprietário de uma vivenda isolada no seu terreno.14

14 E. Owen Greening, The Co-operative traveller Abroad, in (Social Solutions), nº 6, 6 de

Agosto de 1886 - trata-se de um relato de uma visita a Guisa.

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Figura 20 – Planta do Familistério.

Figura 21 – Secção Transversal do Familistério.

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Figura 22 – Secção esquemática do Falanstério de Fourier. (1) Sótão, com os

quartos para os hóspedes; (2) Reservatórios hídricos; (3) Aposentos privados; (4)

Ruas internas; (5) Salas de reunião; (6) sobreloja, com os alojamentos para os

jovens, (7) andar térreo com passagens para viaturas; (8) Passadiço coberto.

As cidades racionalistas

Foi no início do século XX que a urgência da reconcepção da cidade

frente às novas tecnologias deu origem a um movimento internacional de

arquitetura. Os arquitetos do movimento Moderno integravam a tecnologia em

suas propostas não apenas como uma técnica superlativa, mas como um saber

autônomo, com características próprias e com uma dinâmica organizacional

que, interagindo com as cidades, transformavam seus aspectos sociais,

ideológicos, estruturais e estéticos. Era preciso projetar para as máquinas, com

as máquinas e, sobretudo, projetar as interações máquina/cidade.

Com essa ênfase pode-se destacar projetos de Mies van der Rohe,

Walter Gropius e Le Corbusier – que são paradigmáticos do movimento

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Moderno. Porém, seria possível também apontar os trabalhos de George Howe

e William Lescale nos EUA, Jacobus Oud na Holanda, Lucio Costa no Brasil

ou Erik Asplund na Suécia. Houve, em linhas gerais, um movimento de

vanguarda que propunha modificar e construir globalmente as cidades.

Os modelos de cidade moderna partem de um conceito demonstrado em

1909 por Tony Garnier com La cité industrielle. Esta obra editada só mais

tarde em 1917, influencia toda uma geração de arquitetos, urbanistas,

sociólogos preocupados com o destino da cidade, que iam crescendo

assustadoramente e começavam a dar sinais de insustentabilidade. A cidade

industrial de Tony Garnier é o ponto de partida para o pensamento moderno

de cidade, idealizado pela primeira geração de arquitetos racionalistas15

.

A partir de 1928, os racionalistas encontram uma maneira de difundir o

movimento, através de um grupo o C.I.A.M.16

. Em 1933 esse grupo propõe

uma formulação doutrinária sob o nome de Carta de Atenas, que se torna a

partir de então a referencia obrigatória para os planos urbanos modernistas.

Atribui-se a Le Corbusier grande parte da realização da Carta de

Atenas, através da difusão das idéias em inúmeros artigos, textos e livros,

onde Le Corbusier proclama; “Uma grande época está surgindo, existe um

15 O conceito de arquitetura racionalista foi utilizado pelos historiadores da arquitetura (em

especial Bruno Zevi) para designar o movimento que se afirma, depois da guerra de 1914,

em favor das formas puras (contra o Art Nouveau e sob a influência do cubismo); ele

proscreve qualquer decoração e ornamentação dos edifícios, e preconiza a exploração

radical das fontes da técnica e da indústria. 16 O grupo dos C.I.A.M. (Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna) reúne não só

europeus como V.Bourgeois, Gropius, Hilberseimer, Le Corbusier, Rietveld, Sert Van

Esteren, mas também representantes dos Estados Unidos (Neutra,Wiener), do Brasil (Lucio

Costa), do Japão (Sakakura), etc. De início absorvidos pelo problema da habitação, os

C.I.A.M. colocaram o urbanismo no primeiro plano de suas preocupações a partir do

congresso de 1930. Os arquitetos dos C.I.A.M. elaboraram, em 1933, a carta de Atenas

durante seu 4º congresso, que tomou forma em um cruzeiro pelo Mediterrâneo, em direção

à Grécia e Atenas.

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espírito novo”. Com isso ele vê essencialmente essa modernidade em dois

campos: a industria e a arte de vanguarda (na ocasião o cubismo).

Na essência do urbanismo moderno de vanguarda encontra-se uma

concepção da era industrial como ruptura histórica radical. Assim as

preocupações com as estruturas sociais e econômicas começam a dividir

espaço com as estruturas técnicas e estéticas.

A cidade do século XX precisava incorporar, por sua vez, a revolução

industrial, porém, não bastava empregar sistematicamente os materiais novos,

aço e concreto, que permitiriam uma mudança de escala e de tipologia; era

preciso, para obter a eficácia moderna, anexar os métodos de estandardização

e de mecanização da industria, e os conceitos estéticos racionais da arte.

Assim, a indústria e a arte juntam-se em seu intento do universal criando para

os urbanistas modernos a concepção do homem-tipo, idêntico em todas as

latitudes e no seio de todas as culturas, criando com esse conceito uma

interface com os ideais de Fourier. O ideal de um mundo igualitário e de um

homem estereotipado, com desejos e ambições comuns a de sua comunidade.

Essa idéia de homem-tipo é a base da Carta de Atenas, que classifica as

necessidades humanas fundamentais em quatro funções: habitar, trabalhar,

locomover-se, cultivar o corpo e o espírito.

Esse tipo vai ser aplicado, de modo idêntico, por um espaço

homogêneo, cujas determinações topográficas são negadas. A independência

perante o local não resulta mais apenas, como no século XIX, da certeza de

deter a verdade de uma boa forma, mas também das novas possibilidades

técnicas. Com a condição de preencher suas funções e ser eficaz, os urbanistas

adotaram o mesmo plano de cidade para a França, o Japão os Estados Unidos

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e a África. Le Corbusier chega a propor praticamente o mesmo esquema para

o Rio de Janeiro e Argel.

As limitações das tradições culturais e geográficas para a concepção

moderna de urbanismo é dispensável, colocando seu ponto estruturador na

liberdade da razão a serviço da eficácia e da estética, pontos determinantes

para o pensamento moderno, a eficácia torna-se presente quando da

preocupação com a higiene e saúde, com preocupações constantes no que

refere-se a posição ideal dos elementos urbanos em relação ao sol aos ventos

dominantes e ao verde. Ligado a estética e a eficácia, além da apropriação das

novas tecnologias disponíveis, a maior parte dos urbanistas preconizaram a

construção elevada, para substituir a continuidade dos velhos imóveis baixos

por um número reduzido de unidades ou pseudocidades verticais. Os espaços

remanescentes seriam ocupados por parques e praças criando uma base verde

nas cidades, sob os edifícios altos. “A cidade se transformará pouco a pouco

num grande parque,” antecipa Le Corbusier; e Gropius acrescenta: “O

objetivo do urbanismo deve ser o de criar entre a cidade e o campo um

contato cada vez mais estreito”.17

Seguidores incontestes de Tony Garnier, os urbanistas ditos

progressistas separam cuidadosamente as zonas de trabalho das zonas de

habitar, e estas dos centros cívicos ou dos locais de lazer. Cada uma destas

categorias é por sua vez, dividida em subcategorias igualmente classificadas e

ordenadas. Cada tipo de trabalho, burocrático, industrial, comercial recebe sua

atribuição. A circulação por sua vez é concebida como uma função separada

que, paradoxalmente é tratada fazendo-se abstração do conjunto construído

17 LE CORBUSIER, Maneira de Pensar o Urbanismo, p. 86. GROPIUS, loc. Cit, p. 100.

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onde ela se insere; há “independência recíproca dos volumes edificados e das

vias de circulação” diz Le Corbusier.

A ordem circulatória, nos projetos modernistas, corre muitas vezes o

risco de terminar em submissão incondicional ao poder do automóvel, do qual

se pôde dizer, não sem alguma justiça, que sozinho terminaria por determinar

a posição de um grande número de projetos.

Como segundo principio básico da concepção de cidade moderna, a

estética se faz não menos importante do que a funcionalidade e a eficácia da

cidade. Os modernistas de vanguarda concebem suas cidades da prancheta de

desenho, como um quadro, que o urbanista compõem a futura cidade. De

conformidade com os princípios do cubismo, e mais ainda com o do purismo e

do Stijl, repugnando assim, qualquer tipo de adorno ou excessos formais, e

preconizando as formas despojadas de geometria simples. Para a maioria dos

urbanistas modernistas, a geometria torna-se o ponto de encontro entre o belo

e o verdadeiro.

Em linhas gerais os modernos apresentam efetivamente dois tipos de

habitação; de um lado a casa individual (baixa), com baixos índices de

ocupação regional, destinada a um pequeno número de famílias: esta solução

foi desenvolvida principalmente pelos anglo-saxões, os holandeses e certos

membros da Bauhaus. Por outro lado é proposto o imóvel coletivo,

(resgatando em parte os ideais de Fourier), que corresponde mais os ideais de

uma sociedade modernista. O ícone desta tipologia de habitação foi produzido

por Le Corbusier: a unidade de habitação ou cidade radiosa, realizada pela

primeira vez em Marselha, posteriormente repetida em Nantes, Briey e

Berlim.

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Figura 23 – Unidade de Habitação de Marselha.

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Figura 24 – Unidade de Habitação de Marselha.

A cidade radiosa resgata explicitamente a concepção fourierista do

falanstério. Construída para abrigar o mesmo número de habitantes (1500 à

2000 pessoas), oferecendo os mesmos serviços coletivos e os mesmos órgãos,

em particular “a rua galeria”, a unidade é uma versão do falanstério

modernizada e marcada pelos progressos da técnica: a invenção do concreto

armado e do elevador tornaram possível a substituição da horizontalidade pela

verticalidade de um prédio de dezessete andares. Porém a célula familiar que

Fourier deixava deliberadamente indeterminado, Le Corbusier define

claramente um apartamento-tipo, de funções classificadas num espaço

mínimo, intransformável, para abrigar o homem moderno (estandardizado).

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Entre 1951 e 1965, foi encomendado à Le Corbusier o planejamento de

Chandigarh, capital de uma região autônoma, que deveria se tornar símbolo da

Índia moderna. Corbusier impôs uma retícula de vias de passagem sobre uma

superfície de aproximadamente 100 hectares. Estas separavam os bairros

residenciais para 150.000 pessoas, onde cada uma das 13 etnias da sociedade

indiana viveria segregada. Só o equipamento comercial instalado ao longo de

um eixo leste-oeste, e o centro cívico localizado em uma posição central,

tinham uma utilização comum. O governo foi instalado num bairro separado, a

norte da cidade.

Corbusier realizou as obras de Chandigarh em colaboração com Jane

Drew, Maxwell Fry e o seu colaborador de longa data Pierre Jeanneret. Os

edifícios foram concebidos (como não poderia deixar de ser), com os

conceitos da arquitetura moderna.

Mas apesar da qualidade das obras individuais, o fracasso do projeto

também fica patente. Planejado como símbolo da “nova Índia”, a quem tinha

sido concedida a independência em 1947, Corbusier criou uma obra para o

futuro – a visão de uma cidade orgulhosa – num mundo onde a maioria das

pessoas têm de andar a pé, por não terem condições financeira para adquirir

outros meios de locomoção. Até à Le Corbusier foi impossível implantar a sua

elevada exigência arquitetônica e urbanística na realidade indiana de

Chandigarh.

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Figura 25 – Planta de situação de Chandigarh. (1) Capitólio; (2) Centro Comercial;

(3) Hotéis e restaurantes; (4) Museu, estádio; (5) Universidade; (6) Mercado; (7)

Áreas verdes; (8) Rua Comercial; (9) Vale do Lazer; (10) Industrias e Estações.

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No Brasil onde após 1945 foi possível estabelecer uma democracia, a

entrada numa nova era deveria tomar igualmente, do ponto de vista da

arquitetura e do urbanismo, uma forma simbólica especial. Assim, em meados

dos anos 50, os arquitetos Oscar Niemeyer e Lucio Costa receberam do

presidente Juscelino Kubitschek a encomenda do projeto de uma nova capital

para o pais.

Concebida para 500 000 habitantes e localizada de modo a impulsionar

o desenvolvimento do interior do país, foi dada a esta cidade, construída entre

1956 e 1963, a forma dos contornos de um avião, como expressão de

progresso e modernidade. Dividida em cabina, fuselagem e asas, cada uma das

três áreas da cidade recebeu uma função fixa: do governo, passando pela

administração até à habitação.

Embora, Brasília esteja em pleno funcionamento, podemos notar alguns

pontos do fracasso da cidade moderna: o sucesso limitou-se ao valor

arquitetônico das edificações de Niemeyer e a poesia da proposta de Lucio

Costa; no plano urbanístico, não se conseguiu cumprir as suas próprias

promessas. No sistema de tráfego “racional”, em Brasília não é possível

percorrer a pé distâncias de 2 km, sendo necessário fazer desvios de 10 km de

automóvel. As idéias urbanísticas internacionais aqui concretizadas ignoram

não só o local, como as tradições do país. Uma cidade dissolvida pela divisão

das funções e por corredores de tráfego viário não permite o desenvolvimento

da urbanidade. Em vez de uma cidade, crio-se uma acumulação de edifícios.

Apesar das enormes superfícies livres, não existe qualquer lugar de que a

sociedade se possa apropriar. O fato de o plano ter fixado cada centímetro

quadrado de Brasília faz com que hoje três quartos dos habitantes vivam em

cidades satélites, carentes do mínimo de infra-estrutura urbana.

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Figura 26 – Catedral de Brasília de Oscar Niemeyer – 1956 –1963.

Figura 27 – A “taça” do Congresso, e por trás os arranha-céus dos serviços

administrativos, de Oscar Niemeyer, na Praça dos Três Poderes em Brasília.

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Figura 28 – Croqui de Lucio Costa apresentado no concurso que ilustra o relatório

do Plano Piloto para Brasília, 1957.

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Novas utopias para novas tecnologias.

Embora os urbanistas de vanguarda moderna tenham tentado formular

uma nova cidade através de suas convicções políticas sociais e econômicas,

podemos dizer que não souberam efetivamente apropriar-se das novas

tecnologias em sua plenitude, que inclusive, era parte do discurso teórico

modernista.

Ainda na primeira metade do século XX, uma série de técnicos,

arquitetos e engenheiros idealizaram uma cidade completamente diferente das

tradicionais, mudando radicalmente a estruturação física e de inter-relações.

Todas estas mudanças eram ligadas essencialmente pelas novas técnicas

construtivas, e pela mudança abrupta do estilo de vida ou necessidades

pertinentes ao homem do século XX. Como anteriormente já citamos, os

chamados “Tecnotópicos18

” idealizaram estruturas físicas complexas e em

materiais que implicam o seu emprego: redes e entrelaçamentos metálicos,

membranas elásticas e plásticas, folhas de concreto. À geometria elementar

sucede uma dinâmica mais complexa. As funções novas da cidade são,

conforme à tradição do urbanismo progressista, definidas por uma série de

necessidades calculáveis. Dois aspectos são essencialmente destacados:

problemas colocados pelo aumento da população do mundo e

desenvolvimento de uma série de necessidades específicas resultante do

progresso técnico, quer dizer, da automação, da mecanização do trabalho e dos

transportes, e das mudanças de ritmo resultantes na existência cotidiana.

Algumas propostas urbanas dos “Tecnotopístas” são surpreendentes, e

que se realizadas, mudariam definitivamente as formas de assentamento

humano. As cidade verticais de P. Maymont, que ergue-se para o céu através

18 Choay Françoise, O Urbanismo, editora Perspectiva, 1965, páginas 249, 270.

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de um grande mastro liberando completamente o solo, por onde passariam

todas as tubulações. A cidade ponte de J. Fitzgibbon, é composta de

gigantescos fusos presos por cabos a uma plataforma mediana, solo artificial,

lugar da circulação horizontal, onde o pedestre descansará das circulações

verticais e de onde, ele poderá contemplar a terra. A Marina City, do

metabolísta japonês K. Kikutake, projeto inspirado na cidade flutuante de P.

Maymont, que coloca ao contrário das plataformas de concreto sobre o mar, o

habitat como o único a emergir.

Foram varias as propostas futuristas que tinham em comum o fato de

todas contemplarem; uma alta densidade demográfica nas cidades, a total

liberdade do solo, ou pela suspensão dos edifícios ou pela à apropriação do

subsolo e do mar. Encontramos em alguns autores a expressão de urbanismo

de ficção científica ou arquitetura visionária. Esse tipo de ideologia trouxe um

ganho para a humanidade, na medida em que quebrou de forma brusca todos

os paradigmas estabelecidos, e mostrou que seria possível através da

apropriação dos meios tecnológicos romper com as estruturas urbanas

tradicionais, que já mostravam sinais de ineficácia.

Os avanços tecnológicos e informacionais da segunda metade do século

XX, sobretudo, os novos meios de comunicação, como o rádio, a televisão, os

jornais, as revistas e as histórias em quadrinhos, que mudavam a compreensão

do mundo e as relações do homem, traziam consigo uma estética peculiar, que

foi absorvida por muitos arquitetos em varias partes do mundo. Um dos

expoentes mais atentos a essas questões foi o grupo Inglês Archigram.

Através de uma revista lançada na década de 60 o grupo Archigram,

conseguiu notoriedade, discutindo vários aspectos da arquitetura

contemporânea.

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A linguagem da revista, desde o primeiro número trazia ecos da

linguagem da TV, do rádio,sobretudo das HQs. Sua composição era uma

bricolagem de fotos e fontes diversas; as idéias de pessoas com interesses

díspares eram expostas igualmente sem que buscassem regras ou novos

“mandamentos” para arquitetura e o planejamento urbano. Páginas de diversos

números das revistas são colagens de quadrinhos de ficção científica com

balões reescritos, onde discutiam arquitetura e urbanismo. Graficamente, as

HQs eram o meio que mais se assemelhava à multiplicidade de ações em

lugares diferentes e ao mesmo tempo – o que na vida “real” era vivenciado

através do rádio e da TV.

Foguetes eram lançados pelas duas potências mundiais, satélites

olhavam-nos e transmitiam nossas imagens, o homem logo chegaria à Lua. As

histórias de ficção científica tinham nisso seu território de ação. Cidades do

futuro intergalácticas, como robôs e foguetes, eram a paisagem dos

quadrinhos, e prenunciavam o que logo seria das cidades. O grupo Archigram

utilizou-se de todos os meios gráficos disponíveis e iniciou uma discussão

constante sobre esses temas através da revista. Em pouco tempo começaram

também a publicar seus projetos que refletiam as mesmas questões.

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Figura 29 – Proposta do grupo Archigram para o concurso “A cidade

como ambiente significante”.

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Figura 30 – Proposta do grupo Archigram “Awalking City”.

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Figura 31 – Proposta do grupo Archigram “A Instant City”.

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O urbanismo e os debates sobre as cidades haviam se estagnado, e o

Archigram vinha suprir a lacuna deixada pelo modernismo, que perdia suas

forças, embora Brasília e Chadgardh, ainda não haviam sido inauguradas, as

idéias utópicas de cidades concebidas pelo Archigram geram polêmica e

discussões até os dias de hoje.

A primeira edição da revista foi publicada em maio de 1961, por Peter

Cook e David Greene. A revista tinha um caráter revolucionário e soava como

um manifesto. A principal frase era: “Uma nova geração de arquitetos deve

surgir – com formas e espaços que parecem rejeitar os preceitos do

Moderno”.

Contidos no universo dos meios de comunicação de massa, onde o

mercado regia o cotidiano das cidades, tinham como ponto-chave de suas

propostas e discussões a casa como um produto de consumo. Os

acontecimentos fugidios que movimentavam as cidades, como o trânsito das

pessoas e dos automóveis era possivelmente mais importante que os ambientes

construídos, que a demarcação construída do espaço. A concepção da cidade

devia-se dar rompendo as barreiras do pensamento arquitetônico construído

rígido e imóvel. Um instrumento para esse reaprendizado de como olhar,

entender e discutir o meio urbano seriam as HQs de ficção científica, que

apresentavam o mundo como uma rede geodésica de informação estruturadas

em tubos pneumáticos, bolhas e domos de plásticos.

O homem estava em movimento. Se retomarmos a problemática para o

início do século, também encontramos que uma das questões que

redirecionavam a arquitetura e as cidades era o maciço movimento

populacional do campo para a cidade. Contudo, no início do século XX, uma

multidão se deslocava para determinada área (próxima às indústrias) -, tinha

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um passado agrário comum e também um futuro muito similar como operários

nas atividades industriais. O cotidiano das pessoas se assemelharia e, pensava-

se, suas necessidades e objetivos, enfim, suas idéias de vida seriam iguais.

Para isso as soluções arquitetônicas propunham cidades planejadas com

grandes conjuntos habitacionais, moradias-padrão e até mesmo o

desenvolvimento do homem-tipo.

Agora, nos anos 60, na mesma Inglaterra que fora berço da

industrialização do século XVIII, via-se que ao mesmo tempo em que a TV

era a costura universal de que falava McLuhan, a sociedade de consumo

apontava para diferenças nas necessidades e objetivos que deveriam ser vistos

globalmente de maneira quase individuais. Apesar do aparente contra-senso,

tinha-se consciência de que no mundo todo, os homens que moviam as

cidades o fariam por ideais próprios ao seu microcosmo, e não por um ideal

universal de sociedade igualitária.

Isso provocou uma ruptura num dos paradigmas-chave do modernismo

em arquitetura: a estandardização. A idéia de standard desenvolveu-se baseada

na produção em massa, propiciada pelas transformações tecnológicas do

século XX. Essa forma de produção é inconteste na formação do mundo

urbano como o conhecemos ainda hoje. Contudo, a idéia das formas

estandardizadas sofreu uma mudança drástica: ao invés de produzirem um

mesmo objeto sempre com um mesmo fim, o design nas sociedades

telemáticas de consumo, atento às possibilidades de mudanças individuais e

locais, direcionou-se a projetar peças standard que fossem intercambiáveis

entre si, dependendo das necessidades e preferências dos consumidores.

Essa concomitante seqüência e ruptura na idéia do standard na

sociedade de produção em massa foi constante nos projetos e publicações do

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Archigram, que se identificavam com as discussões e proposta de Le

Corbusier.

Com isso, propunham que na concepção e desenho global dos

ambientes o designer seria um profissional mais dispensável, pois cada qual

poderia propor e reconfigurar seu próprio espaço. “O edifício é reduzido ao

papel de carcaça, ou menos” (Peter Cook). O designer estaria vinculado ao

projeto do maior número de peças intercambiáveis, mas as soluções seriam

tomadas individualmente por cada usuário.

Em 1963 iniciou-se com maior assiduidade a publicação e discussão em

larga escala dos projetos do grupo Archigram. Esses projetos vão de propostas

gráficas para a arquitetura contemporânea a experimentos com vídeo, de

cidades instantâneas a veículos que transformavam os homens em auto-

suficientes nos ambientes urbanos. Aqui destacaremos quatro: Living City,

Living 1990, Plug-in-City e Instant City.

I. Living City.

Realizado em junho de 1963 com o apoio do Instituto de Arte

Contemporânea de Londres, foi o primeiro projeto que reuniu todo o grupo

Archigram. Foi um projeto gráfico, publicado em forma de revista e uma

exibição/Instalação montada com estruturas construídas com plástico.

O Archigram procurou refletir sobre a cidade através de seus mínimos

detalhes do cotidiano, que iam do ato de acender um cigarro ao maciço

movimento de milhões de pessoas nos metrôs e outros transportes públicos de

Londres. Compuseram com isso uma estrutura que exibia aos visitantes seu

próprio cotidiano recortado; e com esses recortes, isolados do dia-a-dia

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automático. Esse trabalho era dividido em sete compartimentos com

características especiais os quais foram chamados de Gloops.

1. Sobrevivência: cada indivíduo estaria relacionado com seu Kit individual

de sobrevivência, composto por diferentes elementos, como comidas,

bebidas, drogas, sexo, roupas, carro e dinheiro.

2. Massa: um caleidoscópio de todos os tipos de indivíduos e suas maneiras

vistas isoladamente, além de suas interações: como indivíduos, como

grupos e como massa anônima.

3. Movimento: fluxos; alta, média e baixa velocidades; os movimentos

contínuos de parar e andar dos tráfegos como um dos aspectos mais

excitantes da vida urbana.

4. Homem: a cidade como um organismo que é o habitat do homem. Assim, é

necessário projetar o futuro das cidades ( ou cidades do futuro ) ainda e

sempre tendo o homem como seu centro.

5. Comunicação: as redes de comunicação como a principal estrutura urbana.

As mudanças rápidas nos meios de transporte não se adequam aos projetos

de um homem e uma sociedade em modelos rígidos. Os satélites circundam

a Terra e em permanente contato com centros comuns de distribuição

instantânea de informações pedem uma reavaliação do formato das cidades

que contam com um centro físico rígido.

6. Lugar: apenas a arquitetura não é suficiente para dar identidade a um lugar.

A inteligibilidade dos ambientes construídos não depende de uma forma

arquitetônica mas de seus conteúdos, usos e arranjos dos espaços da

cidade.

7. Situação: todas essas mudanças ambientais são responsáveis para que se

recaracterizem espaços estabelecidos. Os happenings, as situações

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mutáveis constantemente nas cidades são propulsores da vida urbana. Essas

situações podem ser desde o tráfego de pessoas e veículos, com suas

diferentes velocidades e direções, até mudanças do clima e duração dos

dias ou das noites.

Com a exibição montada sobre essas sete estruturas, o grupo Archigram

tridimensionalizou pela primeira vez suas idéias arquitetônicas. Ainda não

em forma de propostas e projetos edificáveis, mas sim – e muito mais

importante – como reflexão espacial sobre a multiplicidade, a

maleabilidade e a efemeridade dos ambientes urbanos.

Com isso, identificaram que a maior fraqueza da arquitetura urbana era

sua inabilidade para conter esses movimentos rápidos da vida das cidades

como parte de suas propostas estéticas. Era preciso estar atento aos

foguetes, Hqs, satélites e incorporá-los aos projetos das cidades. Para isso

trabalharam.

II. Plug-in-City.

Este trabalho, de Peter Cook, é a combinação e desenvolvimento de

uma série de projetos desenvolvidos entre 1962 e 1964. Estava ligado com

o Plug-in-Capsule (1964) de W. Chalk, também do grupo, e com a idéia

dos edifícios expandíveis, que foram tema das revistas Archigram 2 e 3.

Com o desenvolvimento dessa idéia, tornou-se inevitável a investigação de

o que e como aconteceria se todo o ambiente urbano pudesse ser

programado e estruturado para que estivesse em constantes mutações

arquitetônicas.

O Plug-in-City não foi uma solução para as idéias que se desenvolveram

entre 62-64, mas sim uma colagem das diferentes propostas. Como deveria

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ser, pelas discussões arquitetônicas do grupo, não se constituía em uma

solução global e final, mas sim em um conjunto de diversas idéias.

Plug-in-Capsule tinha como base cápsulas habitáveis. O próprio nome

remete às cápsulas que vinham sendo utilizadas e desenvolvidas para

explorações espaciais através dos astronautas. O projeto de W. Chalk

consistia em cápsulas que seriam pré-fabricadas com requinte ergonômico

e organizacional de um espaço mínimo habitável, que seriam acopladas e

removíveis em estruturas de grandes torres. As diversas partes das

cápsulas, e elas em relação às torres, seriam feitas para serem aptas às

transformações tecnológicas e às necessidades dos usuários, que

transformariam seu uso e estética.

Os projetos foram desenvolvidos separadamente até que a ligação entre

eles se tornou óbvia, e foi a primeira proposta do grupo que abrangia desde

detalhes ergonômicos de uma habitação à reconcepção das transformações

de escala urbana. Com o desenvolvimento do projeto Plug-in-City também

fica claro ao grupo que as grandes estruturas em torres fixas que

sustentariam as cápsulas eram por demais rígidas para as idéias globais de

cidades mutáveis que eram propostas pelo Archigram. Foram então

descartadas.

As similaridades do projeto com as tecnologias presentes e

transformadoras das cidades eram tanto as cápsulas dos astronautas como

(e mais próximo à realidade cotidiana) os carros que, além de serem fator

decisivo no redimensionamento e redesenho urbano, incorporavam a idéia

de trocas sucessivas dos objetos nas sociedades de consumo. Assim, o

Plug-in-City tinha como mote a necessidade das cidades de se formarem

como um consumo incessante de elementos capazes de intercâmbio total

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entre si, de modo que, ano a ano, de acordo com as necessidades e

vontades dos usuários, ou de acordo com a moda, a cidade e as casas se

tornassem um contínuo intercâmbio de elementos a reconfigurarem a

paisagem urbana. Com essa idéia e o uso cada vez maior de metais e

plásticos, o grupo se colocava na vanguarda dos experimentos com o

design contemporâneo.

III. Living 1990.

Em 1967, a Weekend Telegraph Magazine encomendou ao Archigram

um projeto de como seria habitar em 1990. Como resultado foi criado o

Living 1990.

As idéias de que os edifícios seriam cada vez mais carcaças, onde o

usuário comporia seu ambiente em mutação, de acordo com suas

necessidades e gostos, não pressupunham como arquitetura uma caixa

vazia, mas, ao contrário, um requinte de desenho industrial que

incorporasse todos os avanços tecnológicos eletrônicos e novos materiais

desenvolvidos e utilizados nas indústrias que permitissem a maior

mobilidade possível às habitações – externa e internamente.

Com similaridades já apontadas com os veículos automotores a idéia

básica do Archigram para esses novos espaços habitáveis era o auto-

envirnment, que sugeria de uma só vez a conjunção de elementos móveis e

locacionais, elementares (feitos de componentes idênticos e aptos a

construírem espaços idênticos) e elásticos (componentes que poderiam ser

trocados e removíveis, redefinindo os espaços).

Apoiado nessas idéias o Archigram exibiu uma habitação em escala 1:1

da proposta Living 1990. Neste protótipo, as paredes, o teto e o piso se

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ajustavam de acordo com as necessidades do morador. O espaço das áreas

internas não eram mais rígidos, mas ajustáveis horizontal e verticalmente,

do mesmo modo que todo o piso, sendo que este seria em determinados

pontos rígido suficiente para se dançar ou macio suficiente para se sentar.

IV. Instante City

Com apoio financeiro do Graham Foundation for Advanced Studies in

Art, de Chicago, foi possível ao Archigram desenvolver em abril de 1969,

o projeto Instant City, que culminou idéias desenvolvidas em diversos

antigos projetos e foi referência do grupo.

Já tendo claras suas preocupações e propostas no mundo conectados

pelos meios de informação, em Instant City o grupo trabalhou com a escala

urbana, tendo como pesquisa preparatória os laços culturais entre diferentes

culturas através das redes televisivas. Apesar da proximidade entre as

culturas diversas em igualdade que propunha McLuhan, o grupo inglês

sabia que isso eram idéias distantes da realidade imediata das cidades – a

princípio, da Inglaterra, mas que logo se estenderia a outras em diferentes

países. Sabiam que, apesar da globalização informacional, as pessoas,

principalmente nas pequenas cidades, sentiam-se mais e mais frustradas,

notadamente os jovens, que gostariam não apenas de receber informações

dos grandes centros, mas de estar envolvidos em todos os aspectos da vida

contemporânea em que suas próprias experiências fossem vistas e

integradas como parte do que estava ocorrendo. Havia ao mesmo tempo

um incremento das metrópoles, onde tudo acontecia, e reação contrária de

quem estava à margem, e não participava.

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Para isso a Instant City reagia com a idéia de uma “metrópole visitante”,

uma metrópole dinâmica conectada e criando uma rede de informações que

cobririam uma malha de cidades que se conectariam no momento em que o

evento arquitetônico, que era a Instant City, ocorresse.

Sintetizando experiências e propostas anteriores já apresentadas ou que

vinham sendo pesquisadas, a Instant City não é um conjunto homogêneo de

componentes. O projeto foi exibido através de desenhos que foram feitos

nos últimos dois anos e continham elementos gráficos de diversos projetos

anteriores e, com o tempo, incorporava fragmentos de novos projetos do

grupo.

Mais uma vez a figura do robô – que não tinham aspectos

antropomórficos ou antropométricos, como normalmente representado no

cinema, na televisão, e nas HQs de ficção científica – aparecia como chave

no projeto, dessa vez como símbolo da possibilidade das máquinas

eletroeletrônicas de coletarem e organizarem diversos serviços operando

uma infinidade de variáveis com as quais o usuário poderia reconfigurar

seu ambiente.

É importante notar que essa propriedade das máquinas elétricas (no

caso, os robôs) vinha sendo notada por McLuhan desde seu livro

Understanding Media19

, onde propunha que, ao contrário das máquinas

mecânicas que possibilitavam expansões do homem e conseqüentemente

de seu ambiente, a energia elétrica propiciaria a implosão do homem e de

suas faculdades, aglutinando em aparelhos simples diversas funções e

estimulando, com isso, seus diferentes sentidos ao mesmo tempo.

19 McLuhan, Marshall, Understanding Media: The Extensions of Man, Nova York, editora

Macmillan, 1964.

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Archigram propunha que a Instant City funcionasse como a TV, que

seria possível criar malhas informacionais que conectassem as pequenas

cidades do interior às metrópoles. Os componentes eram sistemas

audiovisuais, TVs, unidades móveis (carros e caminhões, a princípio),

jogos de iluminação, estruturas pneumáticas, máquinas de entretenimento e

guindastes leves.

O projeto tinha uma linha teórica que era sintomática do envolvimento

do grupo com as novas tecnologias: o hardware, onde estariam o design de

edificações e espaços; e o software, onde seriam trabalhados os efeitos da

informação e programação dos ambientes criados. Teoricamente também

se baseava na idéia de dispersão do ambiente urbano, e da arquitetura entre

o entretenimento e aprendizado.

Mesmo com propostas inovadoras do design dos eventos urbanos, havia

uma preocupação do grupo em utilizar os conhecimentos tecnológicos

existentes e aplicá-los às situações reais. O programa envolvia reunir

informações e traçar o itinerário entre as comunidades que participariam do

evento, assim como mapear as atividades e utilidade urbanas já existentes

nesses lugares (como clubes, rádios locais, universidades) que pudessem

ser integradas ao sistema informacional urbano a ser criado. Com isso, a

“cidade pacote”que era o programa da Instant City não seria um “alien”,

mas um sistema complementar, articulador e dinamizador de um processo

urbano.

Em um universo interligado televisivamente, e sobretudo eletricamente

– que energia móvel, é portadora de infindáveis futuras aplicações – , a

Instant City, apropriando-se de pequenos elementos existentes em

quaisquer cidades ou vilarejos, e propiciando sua interconectividade,

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refletia sobre o universo como uma grande metrópole ao mesmo tempo em

que concretizava essa idéia.

No primeiro estágio das operações da Instant City, que foram simuladas

na Inglaterra e posteriormente em Los Angeles, EUA, o projeto se iniciava

com cerca de vinte veículos (entre caminhões e Trailers) que carregavam

todos os equipamentos necessários ao evento. Sua realização estruturava-se

em onze passos, que iam do carregamento do material nos veículos, o

descarregamento nos locais escolhidos, a montagem das estruturas-suporte,

as conexões telefônicas e televisivas, a ligação com as atividades existentes

na cidade, o intercâmbio informacional com outras cidades, a

desmontagem do evento e a partida dos veículos – deixando as conexões

ativas.

A imagem dessa experiência para o Archigram era de uma série de

caminhões operando como formigas, o que proporcionava mesmo um

trabalho prático e imediato, mas confrontava com a idéia da cidade

instantânea, que apareceria do nada e, após o evento, esvaeceria. Os balões

e zepelins tornam-se o instrumento adequado para as futuras atividades da

Instant City.

Em simulações da Instant City em outras cidades, como o projeto para

Monte Carlo, o grupo desenvolveu o evento já propondo a utilização dos

balões e coberturas de lona, leves e de fácil montagem e desmontagem. Na

seqüência de imagens da Instant City, vê-se uma cidade pacata onde nada

acontece e há interrogações sobre a então em voga aldeia global. Chegam

os balão da Instant City, baixam e montam suas estruturas de cabos e

coberturas de lona,conectam as poucas atividades locais com as atividades

que trouxeram, interligam o evento aos rádios e televisões, e assim

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constroem uma malha de informações. Depois desmontam as estruturas

físicas, recolhem os cabos e lonas e desaparecem no ar.

Do design de elementos intercambiáveis, que por si já são uma

redefinição da proposta moderna, onde a noção de standard era idéia-

mestre e objetivo, ao design efêmero dos eventos construtores de

metrópoles informacionais, Archigram levou a cabo a idéia de Peter Cook,

para que eles estavam no negócio de idéias. No início de suas atividades

discutiam e propunham que a cidade era uma teia de troca de informações

mediada pelos novos meios, e que seriam transformadores do design de

elementos arquitetônicos industrias; e no final seus projetos, como a Instant

City, chegaram quase que à imaterialidade: transformavam-se no design de

suas idéias, no design de estruturas de informação.

A obra do Archigram tinha afinidades surpreendentes com a dos

metabolistas japoneses, que, reagindo às pressões da superpopulação de

seu país, começaram, no final dos anos 50, a propor o desenvolvimento e a

adaptação de megaestruturas “de encaixe” nas quais as células vivas, como

na obra de Noriaki Kurokawa, seriam reduzidas a casulos pré-fabricados

presos a enormes arranha-céus helicoidais. Alternativamente, como nos

projetos de Kiyonari Kikutake, eles seriam ligados, como lapas, às

superfícies internas e externas de grandes cilindros flutuando no mar. As

cidades flutuantes de Kikutake estão certamente entre as visões mais

poéticas do movimento metabolista. Contudo, apesar da proliferação de

plataformas de perfuração de petróleo em alto-mar, com seus

complementos funcionais dedicados à extração de energia, as cidades

marinhas de Kikutake parecem cada vez mais remotas e inaplicáveis à vida

cotidiana do que as megaestruturas do Archigram.

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Figura 32 – Proposta de N. Kurokawa “Macroestruturas para Tókio”.

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O retorno às cidades tradicionais.

A percepção da ineficácia das teorias modernas para a resolução dos

problemas das cidades, levou os teóricos a regressarem ao modelo da cidade

tradicional. No seu livro “A arquitetura da cidade”, publicado em 1966, o

italiano Aldo Rossi sublinha o fato de a forma da cidade, de a sua planta, ser

perpetuamente válida. Só a função que esta preenche deveria ser

continuamente adaptada à época. Um exemplo desse fato seria a Piazza del

Anfiteatro (antiga Piazza del Mercato), em Lucca, cuja forma oval teve

origem num coliseu aí existente na Antiguidade Clássica. Nos anos 70 o

neerlandês Rem Koolhaas publicou várias analises da metrópole de Nova

Iorque. No seu livro Delirious New York, que celebra o princípio da mistura

das funções. O arranha-céu que reúne, sob o mesmo teto, escritórios,

habitações e equipamento de lazer e que para, além disso, cria um espaço

público como o Rockefeller Center é para este autor o protótipo do edifício

urbano. Koolhaas mostrou, em 1972, com o desenho The City of the Captive

Globe, uma proposta para reunir, de modo homogêneo, as mais variadas

manifestações arquitetônicas através de um sistema de blocos. O desenho

sublinha as vantagens de uma separação entre arquitetura e urbanismo.

Em 1977 é elaborada a “Carta de Machu Pichu”. Como antítese a Carta

de Atenas exige, entre outras coisas, a manutenção do patrimônio edificado

histórico, a continuidade da planta da cidade, a integração das diferentes

funções, assim como a prioridade dos transportes públicos face aos privados.

Conseqüentemente, as atividades urbanísticas transferiram-se cada vez

mais para o interior da cidade. Entre 1984 e 1987, a IBA (internationale

Bauaustellung), uma exposição internacional de construção e arquitetura,

transformou Berlim Ocidental num palco de idéias fundamental a “renovação

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cuidadosa da cidade”, o patrimônio arquitetônico transmitido foi restaurado,

demonstrando a sua aptidão para o futuro. A cidade destruída pela guerra e

pelo urbanismo modernista foi reconstruída com obras arquitetônicas

contemporâneas segundo o ideário da “reconstrução crítica”. A IBA teve

bastante sucesso no que se refere ao seu objetivo principal, ou seja, a

recuperação do centro da cidade como lugar de habitação. Contudo, enquanto

o “Projeto Cidade” se manteve apenas nas mãos dos organismos públicos, e o

seu programa se limitou à construção de habitação social, só foi possível criar

uma imagem da cidade, mas não uma vivência urbana.

O sucesso na Espanha foi maior, num esforço incrível, entre 1981 e

1993, foi possível revitalizar inúmeros lugares em Barcelona, e construir em

todo o país escolas e centros culturais. Com a queda da ditadura de Franco, a

sociedade oprimida durante tanto tempo voltou a conquistar os seus espaços

públicos.

Figura 33 – Projeto City of the Captive Globe, R. Koolhaas, New York 1976.

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Figura 34 – Bloco Habitacional em Kreuzberg, Berlim – 1982 –1983 (Álvaro Siza).

As cidades caos.

A individualização da sociedade no final do século XX coloca de novo

em questão o projeto comunitário da cidade. A liberalização da economia

enterra o monopólio do planejamento urbano dos municípios que, devido à

inerente crise financeira, já tinham perdido o seu papel ativo no

desenvolvimento da cidade e conduzido ao crescimento da influência dos

investidores privados. Contudo, em geral, quando o planejamento é posto em

causa, as considerações estéticas são relegadas para segundo plano.

As discussões urbanísticas no final do milênio e que se estendem

obviamente até hoje, sobre o modo de garantir um desenvolvimento duradouro

das cidades, levam-nos a crer que as grandes invenções urbanísticas,

anteriormente apresentadas, tornam-se hoje insustentáveis. Alguns

planejadores envolvidos nas questões urbanas, baseados nas atuais condições

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das grandes cidades, acreditam que os eixos viários históricos evidenciariam a

estrutura base da cidade. Uma estrutura parcelar fina garantiria com que todos

os objetivos urbanísticos fossem alcançados, evitando o desenvolvimento de

qualquer uma das partes à custa das outras. Depois da preponderância do setor

privado no século XIX e do domínio de estado no século XX, a nova cidade

deveria basear-se na cooperação.

A defesa de um desenvolvimento parcelar em cooperação parece, face

às grandes alterações urbanas, pura utopia. Parece-nos que a tendência a nível

mundial é para o desenvolvimento das periferias e não dos centros. Em

especial as regiões do Sudeste Asiático apresentam uma expansão quase

explosiva. O triângulo Hong Kong, Macau e Catão, por exemplo, tem-se

adensado a uma velocidade inimaginável no sentido de uma mega-

aglomeração. O número de habitantes de Catão duplicou em apenas cinco

anos. Shenzen, cidade periférica de Hong Kong, tem hoje uma população 115

vezes superior à de 20 anos atrás. Estes saltos quânticos, consumam-se em

projetos de dimensões gigantescas. Macau planeja um projeto de recuperação

de terrenos ao mar com aterros na ordem dos 60 Km2. Entre Hong Kong e

Catão estão projetadas meia dúzia de cidades de descompressão, através do

aterro de baías inteiras, para possibilitar a obtenção de terreno de construções

preciosas. Em cada uma delas viverão 300 000 pessoas em arranha-céus com

cerca de 40 pisos. O crescimento conduz a índices de ocupação inacreditáveis.

Hoje em dia, em Hong Kong, concentra-se num metro quadrado, vinte vezes

mais habitantes do que nas metrópoles européias. Os problemas inerentes,

como o trânsito, lembram os sintomas de crise das cidades européias do século

XIX. A história parece repetir-se. Contudo face à dinâmica muito superior, a

transposição dos métodos de planejamento urbano, desenvolvidos ao longo

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dos últimos 100 anos parece-nos questionável. Assim, as cidades do Sudeste

Asiático são hoje um campo experimental de um novo modelo de metrópole: a

cidade caos. Esta cidade já não é constituída pela comunidade dos seus

habitantes, que se exprime numa arquitetura homogênea, mas sim pela

confrontação de interesses antagônicos, que exploram um campo de hipóteses

altamente especulativo.

Será que o permanente processo de crescimento e transformação que

subjuga a cidade não permitirá qualquer hipótese de planejamento urbano?

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A sociedade pós-industrial.

A partir da Segunda Guerra Mundial tornou-se manifesta uma profunda

transformação de época que se mantivera acesa desde o começo do século

XX. Essa transformação desenvolveu-se e propagou-se como uma rede de nós

rígidos. De maneira geral, o progresso tecnológico permitiu melhorar a

organização das fábricas e as fábricas mais bem organizadas aceleraram o

progresso tecnológico.

Se devêssemos, porém, indicar os elementos que exercem papel

propulsor do sistema pós-industrial e de sua dinâmica, podemos sem dúvida

assinalar a ciência, a tecnologia, a globalização, o processo organizacional, o

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surgimento das mídias (sobretudo os meios de comunicação de massa) e a

escolarização.

O progresso tecno-científico do fim do século XVIII e o fim do século

XIX, como já descrito anteriormente, isto é, da invenção do pára-raios e da

descoberta da eletricidade às aplicações da energia a vapor e elétrica, marca de

maneira muito clara o período da chamada “Revolução Industrial”. Uma fase

ulterior de progresso pode ser identificada, a partir do início do século XX e

com uma forte aceleração da Segunda Guerra Mundial em diante, as

descobertas da física atômica e subatômica, a abertura do campo molecular em

biologia, o desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação de massa,

a produção de novos materiais, a rápida ascensão da eletrônica, da informática

e da telecomunicação contribuíram para o salto da sociedade industrial à pós-

industrial.

Podemos dizer que após as mudanças ocorridas, em função, da

revolução industrial, se estabeleceu uma nova ordem social no mundo,

sobretudo nos países que se apropriaram dos avanços tecnológicos. Com isso

percebe-se que o advento pós-industrial é uma revolução extraordinária,

profunda, global não um simples retoque, uma aceleração da marcha ou uma

mudança de rota em relação à sociedade industrial que estávamos habituados

há dois séculos.

É verdade que a sociedade industrial não era mais igual a si mesma, é

verdade que a mudança fora o seu sinal característico, mas, por mais que ela

tenha experimentado as evoluções no curso de dois séculos, foram sempre

modificações progressivas de um modelo que, na sua estrutura essencial,

conservava uma identidade persistente. E essa identidade estava no signo da

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ruptura entre trabalho e casa, proletariado e burguesia, prática e estética, forma

e conteúdo.

Entretanto, a partir da Segunda Guerra Mundial os acontecimentos se

sucederam muito rapidamente e o eixo de uma ou duas disciplinas se

deslocou, bem como a interseção dos eixos de todas as disciplinas: a física, a

química, a biologia, a filosofia, a epistemologia, a tecnologia, os sistemas

informacionais, a ecologia, as ciências organizacionais cumpriram, mais ou

menos ao mesmo tempo, saltos substanciais, fazendo com que, todas juntas,

revolucionassem o nosso modo de ver, de produzir, de consumir, de cooperar,

de nos opormos, de desejar e de obter.

De acordo com Manuel Castells em a sociedade em rede; não se trata,

portanto, da fase nova de um velho processo; não se trata de uma sociedade

industrial um pouco mais complexa, um pouco mais rica, um pouco mais

problemática. Com o termo “pós-industrial” indica-se, enfim, em todo o

mundo, um modelo inteiramente novo de sociedade, que se move sob o signo

da conexão e da reintegração de trabalho e vida, casa e escritório, quantidade e

qualidade, ética e negócio, bens e serviços.

Os parâmetros de referência da sociedade pós-industrial são

constituídos pela tecnologia eletrônica, pelo predomínio do trabalho

intelectual, pela recusa das ideologias, pelo subjetivismo, e entre outras coisas,

pelo consumismo. A partir da Segunda Guerra Mundial, a produção em

grande escala de bens materiais que caracterizava a sociedade industrial deu

lugar à produção de bens imateriais (serviços, informações, símbolos, estética,

valores) que caracterizam a sociedade pós-industrial. Essa nova sociedade,

baseada no saber, tem uma cultura própria e distinta, dita pós-moderna, e seus

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próprios valores emergentes, diferentes ou, sob certos aspectos, oposto aos

valores que foram cultivados na sociedade industrial.

Sabemos então, que o progresso tecno-científico, as inovações

organizacionais, a globalização, o incremento das viagens do tráfego e da

difusão dos agentes da comunicação de massa, produziram resultados

inquietantes, como a explosão demográfica, a poluição atmosférica e a

proliferação das armas nucleares. Mas, graças também, a esses fatores, foram

obtidos grandes êxitos, como o aumento do tempo médio de vida, o avanço na

alfabetização, a proeminência da produção de bens imateriais em relação à

produção de bens materiais fabricados em série, a subjetividade contraposta à

massificação, a melhoria dos meios de transporte, o progresso da imprensa e

dos meios de comunicação, as viagens interplanetárias, os satélites artificiais,

a maior acessibilidade aos avanços tecnológicos, sobretudo, os computadores

pessoais.

Apesar de todos os avanços tecnológicos e científicos das últimas

décadas, para este estudo, nos deteremos a discutir o advento do computador,

pois este, indubitavelmente, mudou (ou mudará), vários aspectos físicos e

comportamentais da sociedade, que passa com isso, de pós-industrial para

informacional.

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Figura 35 – Meta City – Datatown – projeto desenvolvido pelo grupo de

Arquitetos holandeses MVRDV. A Meta City – Datatown apoia-se unicamente

em dados informáticos. É uma cidade que se descreve por meio da informação,

sem topografia, sem ideologia prescrita, sem representação, sem contexto.

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A emergência do agente revolucionário.

Os primeiros computadores (calculadores programáveis capazes de

armazenar os programas) surgiram na Inglaterra e nos Estados Unidos em

1945. Por muito tempo, reservados aos militares para cálculos científicos, seu

uso civil disseminou-se durante os anos 60. Já nessa época era previsível que o

desempenho do hardware aumentaria constantemente. Mas que haveria um

movimento geral de virtualização da informação e da comunicação, afetando

profundamente os dados elementares da vida social, ninguém, com a exceção

de alguns visionários, poderia prever naquele momento. Os computadores

ainda eram grandes máquinas de calcular, frágeis, isoladas em salas

refrigeradas, que cientistas em uniformes brancos alimentavam com cartões

perfurados e que de tempos em tempos cuspiam listagens ilegíveis. A

informática servia aos cálculos científicos, às estatísticas dos Estados e das

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grandes empresas ou a tarefas pesadas de gerenciamento (folhas de

pagamentos etc.)

A virada fundamental data, talvez, dos anos 70. O desenvolvimento e a

comercialização do microprocessador (unidade de cálculo aritmético e lógico

localizada em pequeno chip eletrônico) dispararam diversos processos

econômicos e sociais de grande amplitude.

Eles abriram uma nova fase na automação da produção industrial:

robótica, linhas de produção flexíveis, máquinas industriais com controles

digitais, etc. Presenciaram também o princípio da automação de alguns setores

do terciário (bancos, seguradoras). Desde então formas de uso de aparelhos

eletrônicos, computadores e redes de comunicação de dados aos poucos foram

tomando conta do conjunto das atividades econômicas.

Aos poucos a sociedade, amparada por técnicos e homens de negócios

extremamente habilidosos, apossou-se das novas possibilidades técnicas

através da invenção do computador pessoal. Desde então, o computador iria

escapar progressivamente dos serviços de processamento de dados das

grandes empresas e dos programadores profissionais para se tornar um

instrumento de criação (de textos, de imagens, de música), de organização

(bancos de dados, planilhas), de simulação (planilhas, ferramentas de apoio à

decisão, programas para pesquisa) e de diversão (jogos) nas mãos de uma

proporção crescente da população do mundo, especialmente, dos países

desenvolvidos.

Os anos 80 viram o prenúncio do horizonte contemporâneo da

multimídia. A informática perdeu, pouco a pouco, seu status de técnica e de

setor industrial particular para começar a fundir-se com as telecomunicações,

a editoração, o cinema e a televisão. A digitalização penetrou primeiro na

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produção e gravação de músicas, mas os microprocessadores e as memórias

digitais tendiam a tornar-se a infra-estrutura de produção de todo o domínio da

comunicação. Novas formas de mensagens “interativas” apareceram: este

decênio viu a invasão dos videogames, o triunfo da informática “amigável”

(interfaces gráficas e interações sensório-motoras) e o surgimento dos

hiperdocumentos (hipertextos, Cd-Rom).

No final dos anos 80 e início dos anos 90, um novo movimento sócio-

cultural originado pelos jovens profissionais das grandes metrópoles

americanas tomou rapidamente uma dimensão mundial. Sem que nenhuma

instância dirigisse esse processo, as diferentes redes de computadores que se

formaram desde o final dos anos 70 se juntaram umas às outras enquanto o

número de pessoas e de computadores conectados à inter-redes começou a

crescer de forma exponencial. Como no caso da invenção do computador

pessoal, uma corrente cultural impôs um novo curso ao desenvolvimento

tecno-econômico. As tecnologias digitais surgiram, então, não só como a

infra-estrutura de um novo espaço de comunicação, de sociabilidade, de

organização e de transação, mas também novo mercado da informação e do

conhecimento.

As projeções sobre os usos sociais do virtual devem integrar esse

movimento permanente de crescimento de potência das máquinas, de redução

nos custos e de “descompartimentalização”. Tudo nos leva a crer que estas

três tendências irão continuar no futuro. Em contrapartida, é impossível

prever, ao certo, as mutações qualitativas que se aproveitarão desta onda, bem

como, a maneira pela qual a sociedade irá apropriar-las e alterá-las. É neste

ponto que projetos divergentes podem confrontar-se, projetos

indissoluvelmente técnicos, econômicos e sociais.

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Especulações sobre a nova cidade.

O desenvolvimento da comunicação eletrônica e dos sistemas de

informação propicia uma crescente dissociação entre a proximidade espacial e

o desenvolvimento das muitas funções rotineiras: trabalho, compras,

entretenimento, assistência à saúde, educação, serviços públicos, e assim por

diante. Por isso, imediatamente questionamos se a cidade como conhecemos

pode desaparecer, visto que perderiam suas características funcionais. Porém,

como mostra a história, os processos de transformação da cidade são, é claro,

muito mais complicados. Tal qual na Segunda metade do século XIX e início

do século XX, estamos no momento de especular a nova forma da cidade, que

já vem absorvendo uma nova sociedade com novos costumes, um novo meio

de comunicação e relação social, e entre outras coisas, uma nova tecnologia.

Diferente da primeira revolução industrial, que levou os avanços tecnológicos

principalmente para as fábricas, agora os avanços tecnológicos, tal qual na

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chamada segunda revolução industrial, estão sendo levados para as casas,

aproximando substancialmente as pessoas dos avanços, e possibilitando a

apropriação democrática das conquistas tecnológicas, como em meados do

século XX, com a proliferação dos aparelhos eletrodomésticos. Assim, foi

extremamente importante ter estudado a época da revolução industrial, pois

sem dúvida, esta época, sobretudo por intermédio dos projetos de cidades, nos

dará subsídios preciosos para um posterior projeto urbano.

O aumento impressionante na apropriação da nova tecnologia,

especialmente os computadores pessoais, nos leva a crer em um aumento

proporcional do chamado teletrabalho (trabalho executado através das

tecnologias da telecomunicação, sobretudo mediada por computador

conectado a rede mundial de computadores – Internet) e que, entre outras

coisas, representa uma grande esperança aos transportes metropolitanos,

amenizando assim, a situação insustentável em muitas metrópoles do mundo,

quanto os congestionamentos de tráfego automobilístico.

Então, a impressionante expansão dos microcomputadores conectados a

Internet, e o barateamento nos custos dos mesmos, pode nos dar condições

para acreditarmos que em um futuro próximo, as pessoas substituirão os

deslocamentos físicos, por deslocamentos virtuais mediados pelos

computadores. Esta interação virtual já nos possibilita não mais termos que

sair para ir: ao banco, ao supermercado, a escola ou a universidade, rever um

amigo em qualquer parte do planeta (vê-lo e ouvi-lo), visitar cidades em

tempo real, e entre outras coisas, trabalhar. Ao invés de nos deslocarmos para

desenvolvermos as atividades mais comuns do cotidiano, já conseguimos

resolver grande parte de nossa vida através dos computadores conectados ou

do próprio telefone.

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Obviamente o possível aumento do teletrabalho, não implicará no fim

dos escritórios, mas poderá diversificar os locais de trabalho para grande

fração da população, (especialmente para o segmento mais dinâmico de

profissionais liberais); isso já indicia uma alteração na cidade, na medida em

que os deslocamentos e a densidade das áreas comerciais tendem a diminuir.

Equipamentos de “telecomputação” cada vez mais portáteis intensificarão essa

tendência para o escritório móvel, no sentido mais literal.

Apesar destas suposições empíricas parecerem óbvias, alguns autores

como Manuel Castells em “A sociedade em Rede”20

, identifica dados que

parecem indicar que os problemas de transporte em vez de melhorarem,

piorarão, porque o aumento das atividades possibilitado pela nova organização

em rede transformam-se em maior concentração de mercados em certas áreas

e em maior mobilidade física, antes confinada a seus locais de trabalho

durante o expediente.

Porém, nos parece que a descompressão de algumas cidades é

irrefutável, não nos parece que as “megalópoles” se tornem cidades fantasmas,

porque possivelmente estas grandes cidades mudem seu enfoque de

operacionalização, na medida em que as grandes cidades possibilitarão com

maior eficiência, a estruturação dos espaços de convivência. Estas grandes

cidades terão melhores condições de formularem um caráter de prestação de

serviços em áreas do entretenimento humano, que poderá ser a grande

carência da sociedade emergente. Hoje, já identificamos isso quando

analisamos; Las Vegas, por exemplo, ou a própria cidade de São Paulo com

sua vocação de cidade da gastronomia, ou mesmo Paris que com os grandes

museus estabelece uma característica de cidade de turismo cultural.

20 Castells, Manuel – A sociedade em rede – São Paulo – Paz e Terra, 1999.

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Continuando então a tangenciar o raciocínio, levando em consideração a

possível troca dos deslocamentos físicos para os deslocamentos virtuais, para

ilustrarmos esta tendência, tomaremos como exemplo os serviços de saúde,

que a priori, parecem ser inconcebíveis no ambiente virtual. Sistemas

especializados, com base na comunicação on-line e na transmissão de vídeo de

alta resolução, já permitem a interconexão de assistência médica à distância.

Há alguns anos atrás, cirurgiões altamente qualificados supervisionaram por

meio de videoconferência uma cirurgia realizada em outro lugar (distante de

onde eles se encontravam), guiando literalmente a mão menos especializada

de outro cirurgião em um corpo humano. Check-ups regulares também são

conduzidos via computador e telefone com base em informações

computadorizadas atualizadas dos pacientes.

Não é necessário esgotar as ilustrações empíricas dos impactos reais da

tecnologia da informação sobre a dimensão espacial da vida cotidiana. Parece

pertinente dizer então, que o resultado da observação deste novo fenômeno é

um quadro de dispersão espacial, via tecnologias da informação. A noção de

dimensão física poderá perder progressivamente seu sentido, seu valor

analítico enquanto desmontagem da realidade perceptiva, em benefício de

outras fontes de avaliação eletrônica do espaço e do tempo que nada têm em

comum às estabelecidas atualmente.

Cada vez mais pessoas trabalham e administram serviços de suas casas,

por conseguinte, a centralidade na casa parece ser uma tendência fundamental

da nova sociedade. Assim, o novo escritório não seria mais o cômodo à parte,

esta divisão arquitetônica poderá se extinguir, pois o escritório seria

substituído por uma simples tela, as três dimensões do escritório como nós

conhecemos poderão ser transferidas às duas dimensões de uma tela, de uma

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interface que não só substituiria o volume do antigo cômodo, como sua

mobília, sua arrumação, seus documentos e planos de trabalho, mas que

economizaria também o deslocamento (mais ou menos distante) de seu

ocupante. Esta nova reorganização que já está acontecendo paulatinamente

poderá alterar, entre outras coisas, as relações de vizinhança. Porém não

significará o fim das cidades, mas sim, a necessidade factual de reorganização

das cidades.

No entanto, agora o território e a cidade poderão não mais ser

organizados somente pelos sistemas cadastrais de quarteirões e bairros, pela

separação entre o centro e a periferia ou pelo isolamento dos apartamentos,

mas também pelo novo espaço cibernético. Constata-se então, que a

tecnologia de fato desempenhará um papel análogo ao criar novas interrupções

de todas as formas, modificações em todos os níveis conjunturais, podendo

trazer conseqüências tanto para a organização do espaço urbano como para o

espaço arquitetônico, já que tal qual a TV, o computador, com até mais

competência, abre uma janela para o espaço irreal, sem demarcações de

espaço e tempo.

No instante em que todos comecem efetivamente utilizar os novos

meios de comunicação para executar grande parte de seus afazeres do

cotidiano, e com isso passarem a se relacionar apenas virtualmente, creio que,

apresentar-se-á uma carência na interação do relacionamento físico, nas inter-

relações pessoais. Assim, um dos aspectos principais poderá ser a necessidade

pungente dos espaços de convivência, os restaurantes, os parques, ou seja: Os

espaços públicos e semipúblicos poderão ter extrema importância para as

cidades. Seria então, o retorno dos espaços públicos, pois a sociabilidade

roubada, sobretudo pelos meios de comunicação de massa, desde a década de

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60, seria resgatada por uma necessidade da sociedade de não se tornar

transparente, já que a virtualidade é a base do desenvolvimento das novas

tecnologias que parece, cada vez mais, nos cercar de maneira inexorável.

Então passa a ser crucial a discussão de um possível resgate dos espaços

públicos, que se encontram hoje por nós esquecidos ou muito pouco

utilizados. Creio que a valorização dos espaços públicos e semipúblicos será

necessária, na medida em que a sociedade se tornar cada vez mais virtual,

assim, a necessidade de visualização do físico torna-se imprescindível.

Assim como a TV mitificou algumas personalidades do século XX, por

essas estarem presentes entre nós apenas virtualmente, acredito que a

interação social mediada pelo computador poderá criar em nós uma

necessidade maior de interagir fisicamente com as pessoas, com a natureza,

com o externo de uma maneira geral e tudo que possa parecer inatingível ou

distante, pois a distância e o inatingível serão inexistente virtualmente.

Nos parece então que os museus, os restaurantes, os parques, as praças,

as áreas de convivência de modo geral, tornar-se-ão fundamentais em

qualquer proposta urbanística, a ser desenvolvida daqui por diante.

Com a crescente evolução das “megalópoles” e a retomada na

construção de arranha-céus (haja vista, os edifícios recém construídos nos

países asiáticos), poderemos talvez, tomarmos como ponto de referência para

o estudo de uma nova estrutura de cidade os modelos aqui apresentados como:

O Pré-Progressista de Fourier e seus Falanstérios e o projeto de cidade de

vanguarda moderna (Progressista), que através, sobretudo da obra de Le

Corbusier, na “Cidade Radiosa”, propõem uma cidade com grandes edifícios

residenciais e comerciais que cortam verticalmente a cidade, e que ao mesmo

tempo, libera o solo e o transforma em um grande bulevar, interrompido

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apenas pelas avenidas que o segmenta, porém o geometriza. Através desta

idéia de cidade, notamos que se antes havia a preocupação herdada de Tony

Garnier de setorização das cidades, em função de uma maior eficiência

urbana, e por isso, os modernos ainda dividiam e separavam o edifício

residencial e o comercial em zonas distintas da cidade, a partir da tendência ao

teletrabalho e a telecompra, os edifícios comerciais e os residenciais poderão

se incorporar, ao passo de se tornarem apenas um edifício, ou um

apartamento, ou até um cômodo do apartamento contido no edifício. Esta

compressão do espaço resgata também, algumas idéias do Archigram como a

Plug-in-Capsule.

Neste panorama poderia então a idéia da unidade de habitação de Le

Corbusier atingir a plenitude?. Na medida em que a maquina de morar se

completaria, em que não só as funções domésticas sejam eficientes no

ambiente construído, mas sim, todas as funções da vida, (exceto a

sociabilidade física fora do ambiente familiar), pois, paralelo ao crescimento

das metrópoles e dos edifícios altos, acompanhados pela especulação

imobiliária, está a redução na área útil dos apartamentos contemporâneos,

reforçando a tese que os espaços de convívio serão imprescindíveis.

Em contrapartida, a redução nas áreas das habitações, especialmente nos

edifícios, torna-se reversível quando a tecnologia nos possibilita uma maior

mobilidade territorial, nos desprendendo da teia funcional dos equipamentos

diversos da cidade e nos colocando na teia da informação. Como vimos

anteriormente, a Internet já nos possibilita a tão sonhada dispersão territorial,

apesar de idéias contrárias de conservadores, a descompressão das cidades é

irrefutável, desde o momento em que se viabilizou a condição de morar,

trabalhar, comprar, estudar e interagir socialmente sobre um mesmo teto,

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(independente de onde este teto se localize). Assim torna-se possível migrar

das cidades grandes de habitações pequenas para as cidades pequenas de

habitações grandes.

A preocupação exacerbada dos modernos para com as vias de

escoamento de tráfego gerado pelos automóveis poderá tornar-se secundária,

pois, como vimos, os deslocamentos poderão diminuir e as auto-estradas de

alta velocidade darão lugar as info-vias do ciberespaço.21

Se a cidade outrora

se constituía em torno do porto ou das estações ferroviárias, o novo espaço

territorial poderá se constituir em torno da tela.

Com isso, a sociedade informacional emergente e a nova economia

global parecem ter a necessidade de uma nova forma espacial que se

desenvolverá em vários contextos geográficos e sociais. Acredito que a

dispersão do assentamento humano na terra é incontestável; porém, isso não

inibirá (principalmente nos países em desenvolvimento) por um bom tempo, a

tendência já consolidada de enormes aglomerações de seres humanos com

mais de 20 milhões de habitantes, as chamadas “megacidades”. No entanto,

parece que haverá a necessidade de remodelagem destas metrópoles,

sobretudo na questão dos espaços públicos. Contudo, o que é mais

significativo sobre as “megacidades” é que elas já estão conectadas

externamente a redes globais e a segmentos de seus países, embora

internamente desconectadas das populações locais, responsáveis por funções

desnecessárias ou pela ruptura social. É esta característica distinta de estarem

física e socialmente conectadas com o globo e desconectadas do local, que já

torna as “megacidades” uma nova forma urbana.

21 Ciberespaço: termo criado por Pierre Lévy para o novo espaço virtual.

Lévy, Pierre – Cibercultura - São Paulo – editora 34 – 1999.

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A partir das incessantes conquistas tecnológicas da humanidade,

sobretudo, na área da informática e da comunicação de massa, desde meados

dos anos 60, estamos assistindo uma evolução social comparada apenas a

evolução que a revolução industrial nos propiciou, e concomitante a este

fenômeno, vimos que, as cidades não estão acompanhando estas evoluções, as

cidades permanecem estáticas, com características arcaicas, já que, as

dimensões espaciais estão sendo alteradas.

Com isto, não seria fundamental começarmos a efetivamente propor

uma nova forma no planejamento das cidades? Não se faz necessária uma

nova cidade, para uma nova sociedade que emerge especialmente dos novos

meios tecnológicos e de comunicação?

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Figura 36 – Meta City – Datatown – projeto desenvolvido pelo grupo de Arquitetos

holandeses MVRDV.

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Crédito das ilustrações

Figura capa – Meta City ( MVRDV).

Extraída do livro Architecture Now - Jodidio, Philip – 2001 – Taschen.

Figura 01 – A chegada (1914) – Christopher Nevinson - óleo sobre tela.

Taté Galery – Londres.

Figura 02 – A solteirona à lareira – Gravura a cores.

Coleção Mansell.

Figura 03 – Fuso Mecânico – Gravura de um desenho de T. Allom

The London Library.

Figura 04 – Gare Saint-Lazare – Monet (1877).

Coleção de Maurice Wertheim – Fogg Art Museum Harvard University.

Figura 05 – A locomotiva de Hedley Wylam Dilly, construída em 1813.

Fotografia – The science Museum – Londres.

Figura 06 – Locomotiva (1848) – Gravura a cores de Jonh Emslie

Coleção Sr. Arthur Elton.

Figura 07 – A impulsória – desenhada por um inventor italiano (1853).

Gravura – Coleção Mansell.

Figura 08 – O carro elétrico de Siemens (1881) Gravura.

Mary Evans Picture Library, Londres.

Figura 09 – Vista da ponte de Sèvres – Henri Rousseau (1908).

Museu Pushkin de Belas Artes, Moscou.

Figura 10 – Karl Bens em seu automóvel – (1887). Fotografia.

Deutsche Museum, Munique.

Figura 11 – Woolworth Building (Cass Gilbert) Nova Iorque, 1913

Fotografia extraída do livro História da Arquitetura do Século XX.

Tietz, Jürgen, 2000, Könemann.

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Figura 12 – Chrysler Building (William van Alen) Nova Iorque, 1930

Fotografia extraída do livro História da Arquitetura do Século XX.

Tietz, Jürgen, 2000, Könemann.

Figura 13 – Vista de Sheffield – Litografia a cores.

Seffield City Library.

Figura 14 – O palácio de cristal em Sydenham – Fotografia

Museu de Vitória e Alberto – Londres.

Figura 15 – Demolição de uma parte do Quartier Latin, Paris 1860

Gravura de um desenho de Félix Thorigny – Coleção Mansell.

Figuras - 16, 17, 18, 19, 20, 21,22.

Extraídas do livro As origens da urbanística moderna

Benévolo, Leonardo – Lisboa – 1994 – Presença.

Figura 23 – Unidade de Habitação de Marselha – Le Corbusier.

Extraída do livro “Storia dell´architettura contemporanea”.

De Fusco, Renato – Roma – 1997 – Laterza.

Figura 24 - Unidade de Habitação de Marselha – Le Corbusier.

Fotografia extraída do livro História da Arquitetura do Século XX.

Tietz, Jürgen, 2000, Könemann.

Figura 25 – Planta de situação de Chandigarh – Le Corbusier.

Extraída do Livro Le Corbusier

Boesiger, Willy –São Paulo – 1994 – Martins Fontes.

Figuras 26 e 27 – Brasília.

Fotografias extraídas do livro História da Arquitetura do Século XX.

Tietz, Jürgen, 2000, Könemann.

Figura 28 – Croqui de Lucio Costa para o projeto de Brasília (1957).

Coleção de Vicente de Melo.

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Figuras 29, 30 e 31 - Projetos Archigram.

Peter Cook – (1994).

Figura 32 – Macroestruturas para Tókio de N. Kurokawa

Extraída do livro “Storia dell´architettura contemporanea”.

De Fusco, Renato – Roma – 1997 – Laterza.

Figura 33 – City of the Captive Globe – Rem Koolhaas.

Figura extraída do livro “Delirious New York”.

Koolhaas, Rem – New York – The Monacelli Press – 1994.

Figura 34 – Bloco habitacional em Kreuzberg, Berlim (1982-1983).

Álvaro Siza (1995).

Figuras 35 e 36 - Meta City ( MVRDV).

Extraída do livro Architecture Now - Jodidio, Philip – 2001 – Taschen.