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Em Casa. Projetos para Habitação Contemporânea AT HOME. PROJECTS FOR CONTEMPORARY HOUSING CENTRO CULTURAL DE BELÉM / GARAGEM SUL 09 FEV — 13 JUN 2021

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Em Casa. Projetos para Habitação ContemporâneaA T H O M E . P R O J E C T S F O R C O N T E M P O R A RY H O U S I N G

C E N T R O C U LT U R A L D E B E L É M / G A R A G E M S U L0 9 F E V — 1 3 J U N 2 0 2 1

Em que casas hab i tamos? Como é que os a rqu i tetos de ho je desenham as nossas moradas e como é que as noções de hab i tação se t ransformaram no tempo da ú l t ima geração? Esta expos ição exp lora as i n ter rogações e respostas a estas questões , const ru ídas por vár ios a rqu i tetos .

Concebida a partir do acervo do museu MAXXI em Roma, a exposição parte da pequena escala do abrigo à grande dimensão da habitação coletiva, dando relevo a experiências complexas e híbridas que testemunham a nova relação entre indivíduos e comunidades. A exposição tem como ponto de partida diálogos de projetos, em que materiais originais do arquivo de arquitetos italianos contracenam com trabalhos de arquitetos contemporâneos em diálogos reveladores. Em Lisboa, as duplas apresentadas em Roma são complementadas com exemplos portugueses, que expandem o sentido e as leituras que decorrem dos materiais apresentados.

De habitações individuais onde – graças à liberdade permitida pelo tema e pelo cliente – o grau de experimentação foi maior, a nacos de cidade onde a experiência do indivíduo se relaciona com a dimensão da comunidade. Em todas as escalas, os projetos de arquitetura para habitação são uma oportunidade para pensar as formas e os materiais da arquitetura, em relação próxima com a natureza ou inseridas no tecido urbano, para responder a vontades identitárias expressas por clientes bem conscientes do seu papel ou como resultado de políticas públicas de construção.

O leitmotiv do itinerário da exposição é o diálogo constante entre o trabalho de arquitetos de uma geração anterior e os da nova geração, agora complementado com exemplos portugueses: projetos que são distantes no tempo e no espaço, mas que evocam noções equivalentes nos métodos utilizados, na relação com os contextos em que foram construídos ou na investigação formal que os inspirou. A comparação formal e imaterial entre as obras abre novas pistas para a sua compreensão e descoberta, mas, acima de tudo, destaca a variedade e complexidade dos espaços de habitação contemporâneos e o potencial da arquitetura para os reinventar constantemente.

A exposição "Em Casa. Projetos para Habitação Contemporânea! é organizada pelo MAXXI, Museu Nacional da Arte do século XXI em colaboração com o Centro Cultural de Belém / Garagem Sul

E M C A S A . P R O J E T O S P A R A H A B I T A Ç Ã O C O N T E M P O R Â N E AA T H O M E . P R O J E C T S F O R C O N T E M P O R A RY H O U S I N G

C U R A D O R I A D E M A R G H E R I T A G U C C I O N E , P I P P O C I O R R A , A N D R É T A V A R E S E S É R G I O C A T U M B A

CENTRO CULTURAL DE BELÉM / GARAGEM SUL0 9 F E V — 1 3 J U N 2 0 2 1

Em Casa. At Home.Adalberto Libera, Capri, IT/Demogo, Dolomites, IT/Exyzt, Cova do Vapor, PT

Carlo Scarpa, Udine, IT/Maria Giuseppina Grasso Cannizzo, Modica, IT/ Fala, Porto, PT

Giuseppe Perugini, Fregene, IT/Luigi Pellegrin, Roma, IT/Bernardo Rodrigues, Rabo de Peixe, PT

Pier Luigi Nervi, Brasília, BR/RICA, Madrid, ES/Mendes da Rocha+Lobo, Lisboa, PT

Monaco Luccichenti, Pisa, IT/Pezo von Ellrichshausen, Llacolen (CL)/Pedro Domingos, Oeiras, PT

Paolo Portoghesi, Roma, IT/Carlos Castanheira, Terras de Bouro, PT

Stefano Boeri, Milano, IT/Ryue Nishizawa, Tokyo, JP/Serviço Ambulatório de Apoio Local, PT

Danilo Guerri, Macerata, IT/Franz Prati, Reggio Emilia, IT/José Adrião, Lisboa, PT

Giancarlo De Carlo, Urbino, IT/David Adjaye, SNew York, US/Aires Mateus, Alcácer do Sal, PT

Palazzina, Roma, IT/Cassiano Branco, Lisboa, PT

INA Casa, Civita Castellana, IT/Ateliermob, Pampilhosa da Serra, PT

Francesco Berarducci, Roma, IT/Jo Noero, Johannesburg, ZA/Nuno Teotónio Pereira+Bartolomeu Costa Cabral, Lisboa, PT

Aldo Rossi, Berlim, DE/Promontório, Lisboa, PT

Mario Fiorentino, Roma, PT/Gonçalo Byrne+António Reis Cabrita, Lisboa, PT

Uma casa é um refúgio. A justaposição da famosa villa Malaparte de Alberto Libera com o abrigo Bivacco Fanton, dos Demogo, é simultaneamente um desafio e um acto de fé na nova arquitetura ital-iana. Com geometrias radicais, ambas sublinham a originalidade da paisagem física e cultural italiana e constroem abrigos que transformam ambientes inóspitos em lugares sublimes. A Casa do Vapor foi uma construção provisória na povoação piscatória da Cova do Vapor. O projeto nasceu do envolvi-mento da comunidade na própria construção em madeira e, ao invés dos quartos e das salas, a casa fundou-se na cozinha e na biblioteca, construindo assim um espaço de refúgio coletivo à beira-mar.

L ibera /Demogo/Exyst

↑ Demogo, Bivacco Fanton, Dolomites, IT↗ Adalberto Libera, Villa Malaparte, Capri, IT→ Exyzt, Casa do Vapor, Cova do Vapor, PT

E M C A S A P R O J E T O S P A R A H A B I T A Ç Ã O C O N T E M P O R Â N E A G A R A G E M S U L E X P O S I Ç Õ E S D E A R Q U I T E T U R A 4

É possível pensar em Carlo Scarpa perante a obra de Maria Giuseppina Grasso Cannizzo? E perante a obra dos Fala? Por muitas razões não poderiam ser mais diferentes, do pormenor infinito à austeridade da construção, da poética do fragmento ao sentido de unidade formal. Contudo, têm muito em comum: a natureza individual das suas procuras, a paixão pelos materiais e pelas suas qualidades espe-cíficas, a escala contida das suas obras, a proxim-idade com a arte. Em todos se encontra a expres-sividade dos materiais e um controlo meticuloso do pormenor, pelo lado da economia, pela exuberância ou pela obsessão, o pormenor construtivo confere a cada habitação um universo formal próprio.

Scarpa /Cann izzo /Fa la

← Carlo Scarpa, Casa Veritti, Udine, IT↙ Maria Giuseppina Grasso Cannizzo, Casa em

Modica, IT↓ Fala, Casa-atelier, Porto, PT

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Luigi Pellegrin e Giuseppe Perugini são dois heróis da etapa mais selvagem e interessante da arquite-tura italiana. Foram incansáveis na procura de um futuro técnico e social, intolerantes perante as «utopias de papel» e com pendor para a dimensão pública e monumental das suas obras. Bernardo Rodrigues é um caso singular da arquitetura em Portugal, que procura sublimar a realidade na dimensão poética das suas obras. Se a casa bifam-iliar de Pellegrin é um sistema espacial perspético infinitamente dinâmico e a Casa Árvore de Perugini uma estrutura orgânica à qual se adicionam células individuais com ambientes variados, a casa Voo dos Pássaros toma a sugestão do movimento para dinamizar a racionalidade ortogonal da planta e transformar o habitar num jogo permanente de invenção e imaginação.

Perug in i /Pe l l egr in /Rodr igues

→ Giuseppe Perugini, Casa Albero, Fregene, IT↓ Luigi Pellegrin, Casa para duas famílias na Via

Aurelia, Roma, IT↘ Bernardo Rodrigues, Casa Voo dos Pássaros,

Rabo de Peixe, PT

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Há uma longa tradição moderna de ostentação do betão armado, uma tecnologia maleável que permite conferir clareza estrutural à arquitetura e sublinhar a importância da luz na modelação dos espaços. Os pilares ramificados da embaixada italiana que Pier Luigi Nervi construiu em Brasília sintonizam com o heroísmo estrutural sul-americano, levantando a arquitetura do chão. É essa força horizontal que se reencontra em Madrid na casa Pitch concebida pelo Rica Studio, em que a horizontalidade gerada pelas vigas de betão armado permite à paisagem entrar pelo espaço de habitar. A transformação da casa na calçada do Quelhas, traz as grandes vigas de betão armado da paisagem brasileira para o tecido histórico de Lisboa, domesticando a sua escala em diálogo com a paisagem urbana.

Nerv i / R ica / da Rocha +Lobo

↗ Pier Luigi Nervi, Embaixada de Itália, Brasília, BR

↑ RICA, Casa Pitch, Madrid, ES→ Mendes da Rocha+Lobo, Casa Quelhas,

Lisboa, PT

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A villa presidencial projectada pela dupla romana Monaco e Luccichenti tem uma forma simples e pura: um quadrado sobrelevado e vazio no centro. As casas Guna e Solo, da dupla chilena Pezo von Ellrichshausen também encontram nesse princípio geométrico possibilidades infinitas de modelar a relação entre os espaços de habitar. Essa unidade formal, que é tanto centrípeta como centrífuga,

converge no pátio como núcleo da casa, um lugar que permite desmultiplicar as relações entre inte-rior e exterior nas lógicas do doméstico. É esse tema que redescobrimos na casa em Oeiras de Pedro Domingos, em que o vermelhão do coração interno dialoga com a neutralidade branca do exte-rior e a vegetação que, progressivamente, interage com a construção.

Monaco+Lucc ichent i /Pezo vonE l l r i chshausen /Domingos

← Monaco + Luccichenti, Villa presidencial em Gombo, Pisa, IT

↙ Pezo von Ellrichshausen, Casa Guna, Llacolen, CL

↓ Pedro Domingos, Casa Oeiras, PT

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A casa Baldi de Paolo Portoghesi é uma home-nagem ao barroco romano e à sua capacidade de esculpir o espaço numa mistura singular de solidez e leveza. A forma da casa Baldi vive de rotações e articulações espaciais. Construída em pedra, as paredes contínuas curvam-se para terem estab-ilidade estrutural e potenciarem a sua expressão formal e as linhas perspéticas que se desdobram. A racionalidade construtiva da casa em Adropeixe,

de Carlos Castanheira, usa a madeira como mate-rial construtivo. A sua rigorosa geometria também gera desmultiplicações perspéticas e espaciais que confundem interior e exterior, tirando partido do material para qualificar a forma e o uso da casa. O caracter natural da pedra e da madeira põe em destaque a importância crucial dos materiais para a construção do habitar.

Portoghes i /Castanhe i ra

↑ Paolo Portoghesi, Casa Baldi, Roma, IT↗ Carlos Castanheira, Casa em Adropeixe,

Terras de Bouro, PT

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A casa Moriyama de Ryue Nishizawa é um pequeno milagre japonês, uma casa-retrato para um habi-tante singular que se transforma sem sobressaltos num mini-quarteirão de casas isoladas. Mais do que uma torre, o Bosque Vertical de Stefano Boeri quer ser uma sobreposição de villae, cada uma com o seu próprio jardim, idealizando a relação entre edifício, casa, céu e vegetação. Nesta dialética entre individual e colectivo, a luta pela habitação em Portugal no pós-25 de Abril e as obras do Serviço Ambulatório de Apoio Local (SAAL), são apresentadas pelos moradores vinte anos após a sua construção. Entre os jardineiros da torre, o melómano japonês e os habitantes de um projeto experimental, os utilizadores revelam o quotidiano como a dimensão fundamental do habitar.

Boer i /Nishizawa/SAAL↓ Stefano Boeri, Bosco Verticale, Milano, IT,

fotograma do filme Bosco Verticale↘ Ryue Nishizawa, Casa Moriyama, Tokyo, JP,

fotograma do filme Moriyama San↗ Serviço Ambulatório de Apoio Local, PT,

fotograma do filme As Operações SAAL

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Guerr i /P rat i /Adr ião

Qual o tempo de uma casa e dos seus materiais? E quanto tempo habitamos num lugar? Os arquitetos Franz Prati e Danilo Guerri admiram os materiais antigos, os tijolos e sua familiaridade cromática. Para Prati, o desenho é um instrumento que torna visível não apenas o que será construído, mas também o que não será: alternativas, desen-volvimentos impossíveis, variantes. A casa em Recanati é a reconversão de um edifício antigo onde

as variações dos pormenores desenhados procuram morfologias quase impossíveis, em diálogo constante com a preexistência. A reabilitação de um edifício na baixa de Lisboa por José Adrião torna explícita essa temporalidade. A permanência do edifício interroga a transformação dos seus usos, de habitação para escritórios, do abandono à habi-tação temporária do turismo fugaz.

← Danilo Guerri, Casa em Recanati, Macerata, IT↙ Franz Prati, “La casa più bella del mondo”,

Reggio Emilia, IT↓ José Adrião, Apartamentos Douradores,

Lisboa, PT

E M C A S A P R O J E T O S P A R A H A B I T A Ç Ã O C O N T E M P O R Â N E A G A R A G E M S U L E X P O S I Ç Õ E S D E A R Q U I T E T U R A 1 1

↖ Giancarlo De Carlo, Ca’ Romanino, Urbino, IT↑ David Adjaye, Sugar Hill, New York, US← Aires Mateus, Residências Sénior, Alcácer do

Sal, PT

Giancarlo De Carlo construiu em Urbino asso-ciando à cidade histórica os percursos e dinâmicas contemporâneas, pressupondo lógicas de partici-pação coletiva para a consolidação de um sentido de comunidade. Essa ideia é visível na residência colectiva Ca’ Romanino. Em Nova Iorque, no coração do capitalismo acelerado, David Adjaye construiu um caso exemplar de «estado social» pós-moderno. O edifício de habitação é acompan-hado por serviços que permitem restituir à cidade um forte sentido de comunidade. Ambos recusam a «ditadura da linha de chão», perfuram pisos e paredes para distribuir movimentos e luzes. Essa confiança na forma reencontra-se no diálogo entre as residências sénior de Alcácer do Sal e as construções envolventes, constituindo um sentido de comunidade a partir da abstração da arquitetura de Aires Mateus.

De Car lo /Ad jaye /Mateus

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→ Luigi Moretti, Palazzina Il Girasole, Roma, IT↘ Cassiano Branco, Bloco Álvares Cabral,

Lisboa, PT

A pallazzina é uma forma específica de habi-tação romana que floresceu com o boom económico do pós-guerra. A sua origem remonta ao plano de urbanização de 1907, que previa algumas expansões urbanas através de villini, ou mansões urbanas, cuja expansão volumétrica ao longo dos anos de 1920 permitiu acomodar pequenos prédios de apartamentos com quatro fachadas. No pós-guerra, quando o modelo já estava institucionalizado, foi nas pallazzina que uma geração de arquitetos experimentou

linguagens e sentidos para novos modos de habitar, marcando uma época. Em Lisboa, os prédios de habitação de Cassiano Branco reju-venesceram a imagem da cidade nos anos de 1930 e 1940. São exemplos de como quando a promoção privada confia no poder da arquite-tura a cidade se transforma com coerência e sofisticação.

Pa lazz ina / Cass iano

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← Michele Valori+Antonio Laurenti, Ina Casa, Civita Castellana, IT

↑ Ateliermob, Casa Manuel Valente, Pampilhosa da Serra, PT

Em 1949, no contexto da reconstrução do pós-guerra, o parlamento italiano determinou a construção de casas para trabalhadores para combater o desemprego com o desenvolvimento da indústria da construção. O plano INA Casa não recorreu a «projectos-tipo» para que as novas construções se vinculassem aos seus contextos. Os concursos de projecto organizados contribuiram para relançar a arquitetura italiana, com projectos muito diferentes mas que conver-giam na definição de uma nova cultura urbana, interligando habitação e espaço público. O prob-lema da reconstrução após uma devastação trágica pôs-se em Portugal após os incêndios de 2017. Foi uma oportunidade para testar modelos de participação e envolvimento das populações em obras que prescindiram da afirmação da linguagem para valorizar os métodos e processos de intervenção.

INA Casa / Ate l i e rmob

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A organização do villino de Francesco Berarducci conta a história da arquitetura do pós-guerra romano. O modelo de três pisos com quatro fachadas é envolvido por um jardim, adaptado a um terreno em pendente e articulado numa volu-metria rica em materiais e pormenores. Também Jo Noero, no hemisfério sul, se empenha a definir um novo género de edifício residencial urbano, diluindo as diferenças entre centro e periferia. Essa interre-lação entre unidade de habitação e cidade, entre objeto e tecido urbano, é legível na obra do Bloco das Águas Livres que, durante a ditadura, sugeriu em Lisboa a promessa de uma cidade aberta e democrática. Nestes blocos residenciais é comum a confiança no desenho como regulador das relações entre edifício, paisagem, cidade e a vida quotidiana.

Berarducci /Noero /Teotón io+Cabra l

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← Francesco Berarducci, Villino in Via dei Colli della Farnesina, Roma, IT

↓ Jo Noero, Maboneng Rivers of Steel, Johannesburg, ZA

↙ Nuno Teotónio Pereira+Bartolomeu Costa Cabral, Águas Livres, Lisboa, PT, fotograma do filme Como se desenha uma casa

↖ Aldo Rossi, Edifício em Schützenstrasse, Berlim, DE

↑ Promontorio, EPUL Entrecampos, Lisboa, PT

O último projeto de Aldo Rossi para Berlim traduz a sua paixão pela cidade e pelo quarteirão urbano berlinense. É um projeto maduro, irónico e desen-cantado, em que as fachadas se fragmentam numa sequência de pequenas frentes independentes. As suas medidas não correspondem à organização interna, a linguagem comunica várias épocas e momentos, a sua aparência não se traduz em real-idade estrutural. Também o Promontorio construiu

em Lisboa um grande quarteirão urbano com um rigor tipológico quase militar. À sistematização construtiva não corresponde ironia, mas uma linguagem homogénea e neutra, que oferece o suporte ao desenrolar das mais variadas formas de vida no seu interior. O quarteirão é uma unidade de construção da cidade que oscila entre individuali-dade e coletivo.

Ross i / P romontor io

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← Mario Fiorentino, Il Corviale, Roma, PT↓ Gonçalo Byrne+António Reis Cabrita, Pantera

Cor-de-Rosa, Lisboa, PT

Corv ia le / Byrne+Cabr i ta

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O Corviale de Mario Fiorentino não é apenas um edifício: é um tema de sociologia urbana, alimento para combates culturais, políticos e estéticos, símbolo de um caminho para a utopia social. Foi pensado como sistema e dele apenas se construiu uma longa barra com um quilómetro. Não lhe faltaram problemas sociais, mas, mais do que amar ou odiar a obra, o Corviale convida a pensar os modos para o regenerar, reciclar, revitalizar,

recontextualizar. Com «apenas» meio-quilómetro, a Pantera Cor-de-Rosa de Byrne e Reis Cabrita ecoa a noção de sistema de uma grande unidade de habitação. Com uma rede complexa de percursos e atravessamentos o sistema ancorou-se no lugar e a sua completude permitiu gerar espaços públicos habitados, assegurando a continuidade entre cidade e casa.

Expos içãoGaragem Su l , L i sboa

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Libera/Demogo/Exyst

Scarpa/Cannizzo/Fala

Perugini/Pellegrin/Nervi/

Rica/da Rocha+Lobo Monaco+

Luccichenti/Pezo vonEllrichshausen/Domingos

Portoghesi/Castanheira

Boeri/Nishizawa/SAAL

Guerri/Prati/Adrião

De Carlo/Adjaye/Mateus

Palazzina/ Cassiano

INA Casa/ Ateliermob

Berarducci/Noero/Teotónio+Cabral Rossi/

Promontorio

Corviale/ Byrne+Cabrita

Expos ições passadasGaragem Su l , L i sboa

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← Histórias Construídas, com vilder vink taillieu, Maio, Ricardo Bak Gordon, curadoria de Rodrigo Costa Lima e Amélia Brandão Costa, verão 2018

↑ A Universidade Está no Ar, Canadian Centre for Architecture, curadoria de Joaquim Moreno, primavera 2019

↑ O Mundo nos Nossos Olhos, Trienal de Arquitectura de Lisboa 2016, curadoria de FIG Projects, inverno 2016

Acerca da exposição

TítuloEm Casa. Projetos para Habitação Contemporânea

OrganizaçãoMAXXI Museu Nacional da Arte do século XXI em colaboração com o Centro Cultural de Belém / Garagem Sul

Curadoria Margherita Guccione, Pippo Ciorra, André Tavares e Sérgio Catumba

Datas9 de Fevereiro – 13 de Junho 2021 na Garagem Sul/Lisboa

Área expositivaaprox. 1.400 m2

Acerca da exposição Desenhos originais, reproduções, fotografias, maquetas, filmes e outros elementos visuais e interativos

Programa paraleloA exposição será acompanhada por um programa de atividades, visitas à exposição e à cidade, e oficinas para várias idades. No contexto da Garagem Sul há programas regulares e esporádicos com escolas de todos os níveis de escolaridade.

Acerca da Garagem Sul

A Garagem Sul é um espaço dedicado à arquitetura no Centro Cultural de Belém, uma instituição cultural reconhecida pela sua programação de música, dança, teatro e outras formas de expressão e cultura. Alojada no que foi um parque de estacionamento, a Garagem Sul oferece uma atmosfera única para a apresentação de trabalhos e ideias de arquitetura. As exposições da Garagem procuram apresentar um largo espectro de posições através das quais os arquitetos podem redefinir o seu papel na sociedade e interrogar novos meios para construir o mundo.

Equipa Garagem Sul / CCBConselho de AdministraçãoElísio Summavielle, Pres.Isabel CordeiroDelfim SardoDireção de Marketing e DesenvolvimentoMadalena Reis /[email protected] ProgramadorAndré Tavares / [email protected]çãoMargarida Ventosa / [email protected] Nunes / [email protected]/ParceriasRomeu Zagalo / [email protected]çãoSofia Mantua / [email protected]

Contacto

Fundação Centro Cultural de BelémGaragem Sul – Exposições de ArquiteturaPraça do Império ⁄ 1449-003 [email protected](+351) 213 612 614 ⁄ 5www.ccb.pt/Default/pt/GaragemSul