em busca de simplicidade: uma análise sobre o ethos

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Em busca de simplicidade: Uma análise sobre o ethos discursivo da revista Vida Simples 1 SILVA, Marina Santos 2 (Mestranda em Estudos de Linguagens) Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais/ MG Resumo: Este artigo é uma ramificação de um projeto de mestrado, em desenvolvimento, que tem por objetivo principal fazer uma análise retórica do discurso midiático de autoajuda, tomando por objeto a Vida Simples, uma revista especializada sobre qualidade de vida na contemporaneidade. É possível discriminar Vida Simples como representante de um discurso do bem-estar nos tempos modernos, ela apresenta um propósito de aconselhamento, orientando o leitor a um viver melhor, a um viver “simples”. Nesse contexto, investigo o modo como a “simplicidade” orienta o tratamento editorial (textual, visual, gráfico) da publicação. Enquanto embasamento teórico, o artigo apresenta um breve apanhado sobre as diferentes acepções de ethos, aplicando o conceito à luz da Análise do Discurso e o entrelaçando a uma abordagem multimodal do texto. Dentro do escopo deste trabalho, optei por estudar apenas um exemplar, a edição comemorativa de 12 anos da revista. Palavras-chave: Revista. Ethos. Discurso. Autoajuda. Vida Simples. Considerações iniciais: objeto e recorte Vida Simples surgiu em agosto de 2002 como um suplemento da revista Superinteressante, da Editora Abril, tendo por slogan “para quem quer viver mais e melhor”. Oito meses depois, passou a circular nas bancas com uma publicação mensal e independente. Desde novembro de 2014, tornou-se produto da Editora Caras. Como o próprio nome já indica, esta é uma revista especializada, que se propõe a arregimentar um discurso sobre qualidade de vida na contemporaneidade. Esse breve histórico ajuda a situar o objeto em análise, além de servir para justificar o recorte proposto neste artigo. O presente texto faz parte de um projeto de mestrado, ainda em desenvolvimento, que estudará a retórica do discurso midiático de autoajuda, por meio de Vida Simples, com enfoque sobre as estratégias discursivas 1Trabalho apresentado no GT de História da Mídia Impressa, integrante do 10º Encontro Nacional de História da Mídia, 2015. 2 Jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atualmente é mestranda pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Estudos de Linguagens do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (POSLING CEFET-MG), na linha de Discurso, Mídia e Tecnologia. E-mail: [email protected]

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Page 1: Em busca de simplicidade: Uma análise sobre o ethos

Em busca de simplicidade:

Uma análise sobre o ethos discursivo da revista Vida Simples1

SILVA, Marina Santos2 (Mestranda em Estudos de Linguagens)

Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais/ MG

Resumo: Este artigo é uma ramificação de um projeto de mestrado, em desenvolvimento, que tem por

objetivo principal fazer uma análise retórica do discurso midiático de autoajuda, tomando por objeto a

Vida Simples, uma revista especializada sobre qualidade de vida na contemporaneidade. É possível

discriminar Vida Simples como representante de um discurso do bem-estar nos tempos modernos, ela

apresenta um propósito de aconselhamento, orientando o leitor a um viver melhor, a um viver “simples”.

Nesse contexto, investigo o modo como a “simplicidade” orienta o tratamento editorial (textual, visual,

gráfico) da publicação. Enquanto embasamento teórico, o artigo apresenta um breve apanhado sobre as

diferentes acepções de ethos, aplicando o conceito à luz da Análise do Discurso e o entrelaçando a uma

abordagem multimodal do texto. Dentro do escopo deste trabalho, optei por estudar apenas um exemplar,

a edição comemorativa de 12 anos da revista.

Palavras-chave: Revista. Ethos. Discurso. Autoajuda. Vida Simples.

Considerações iniciais: objeto e recorte

Vida Simples surgiu em agosto de 2002 como um suplemento da revista

Superinteressante, da Editora Abril, tendo por slogan “para quem quer viver mais e

melhor”. Oito meses depois, passou a circular nas bancas com uma publicação mensal e

independente. Desde novembro de 2014, tornou-se produto da Editora Caras. Como o

próprio nome já indica, esta é uma revista especializada, que se propõe a arregimentar

um discurso sobre qualidade de vida na contemporaneidade.

Esse breve histórico ajuda a situar o objeto em análise, além de servir para

justificar o recorte proposto neste artigo. O presente texto faz parte de um projeto de

mestrado, ainda em desenvolvimento, que estudará a retórica do discurso midiático de

autoajuda, por meio de Vida Simples, com enfoque sobre as estratégias discursivas

1Trabalho apresentado no GT de História da Mídia Impressa, integrante do 10º Encontro Nacional de

História da Mídia, 2015.

2 Jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atualmente é mestranda pelo

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Estudos de Linguagens do Centro Federal de Educação

Tecnológica de Minas Gerais (POSLING – CEFET-MG), na linha de Discurso, Mídia e Tecnologia.

E-mail: [email protected]

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capazes de despertar emoções nos leitores, assim, seduzindo-os para o consumo da

publicação. Neste trabalho, analisarei apenas a edição de número 151. Seleciono esse

exemplar, pois nele se comemoram os 12 anos de Vida Simples. Por ser um marco

histórico, essa edição ganha destaque na trajetória da publicação e possibilita um duplo

movimento de reforço e renovação de traços identitários da revista, enfatizando,

descartando ou acrescentando características que dizem sobre seu tratamento editorial.

É importante também frisar que a edição 151, de outubro de 2014, foi o último

exemplar da revista antes da mudança da Editora Abril para a Caras. Desse modo, essa

análise poderá servir como ponto de apoio para um contraste entre as diretrizes

editoriais das duas empresas de comunicação, o que, porém, não é objetivo deste artigo.

Ainda é cedo para identificar os impactos dessa troca, assim como são desconhecidas às

razões que a motivou. Mas deixo aqui a indagação, para análise futura, sobre como isso

afetará a proposta e o modo como a revista se apresenta aos seus leitores.

Vida Simples: discurso do bem-estar na contemporaneidade

É possível discriminar Vida Simples enquanto representante de um discurso do

bem-estar nos tempos modernos. Ela apresenta um propósito de aconselhamento, uma

espécie de “terapia não medicamentosa”, apontando uma ligação entre “viver bem” e

“simplicidade”. E ao construir sua imagem enquanto instância de enunciação, a revista

cria, junto e inevitavelmente, a imagem de seu interlocutor (MAINGUENEAU, 2005).

Se a revista se propõe a missão de instruir modos para simplificar ou descomplicar a

vida é porque esta identifica, em oposição, uma rotina acelerada e estressante,

frequentemente associada à ambiência dos grandes centros urbanos3. Cabe às grandes

editoras, mapear esse contexto, entender o surgimento de determinadas demandas, para,

então, lançar produtos capazes de bem dialogar sobre certo tema para certo público.

Segundo aponta Frederico Tavares (2011a), um discurso de tom prescritivo ou

profilático tem sido incorporado pela mídia desde meados da segunda metade do século

XX. Esse movimento histórico teria culminado em um tipo de jornalismo que mescla

3 Até o momento em que a revista era responsabilidade da Editora Abril, sua sede estava localizada em

São Paulo, capital. Após a passagem da publicação para a Caras, a revista começou a ter duas redações,

uma em São Paulo, em novo endereço, e outra também na cidade do Rio de Janeiro.

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uma abordagem dos serviços e do comportamento. Ao conjunto desse discurso

midiático que versa sobre bem-estar nos dias atuais e que se manifesta sobre a forma de

um texto jornalístico especificamente publicado em revistas impressas, Geraldo Condé

nomeou de imprensa conselheira. Esta seria responsável por “oferecer explicitamente e

em diferentes estilos conselhos, orientações, fórmulas e modelos para a condução de

múltiplos aspectos da vida cotidiana” (CONDÉ, 2010, p.48).

Vale, de antemão, algumas considerações. Entende-se que o jornalismo possui

sempre e em alguma medida um caráter instrutivo, orientando nossa conduta em

sociedade. Afinal, ao narrar os acontecimentos do mundo, dando-lhes forma e

significado, o trabalho desempenhado pelos jornalistas ajuda na construção de valores

compartilhados, servindo à troca e ao ordenamento da experiência social. Entretanto, ao

designar uma imprensa conselheira, da qual faz parte a revista Vida Simples, destaco a

especificidade deste tipo de publicação impressa, que escapa à lógica factual e se propõe

a dar conta de uma dimensão mais subjetiva e afetiva da realidade, aproximando o

sensível a lógica e as estratégias jornalísticas (TAVARES, 2011b).

Posto isto, cabe então indagar sobre este lugar do qual nos fala Vida Simples: que

discurso de bem-estar é esse e como ele é posto em funcionamento? Estaria o visível em

consonância com o dizível? O que pode ser dito sobre a identidade editorial da

publicação? Provoco uma reflexão acerca da construção de um ethos que orienta o

conceito da revista e o modo pelo qual essa discursivização é manifesta.

Ethos (pré) discursivo e multimodalidade

O conceito de ethos suscita diferentes significados e interpretações. Muito usual

nas ciências humanas, aparece como referência em diferentes estudos e disciplinas,

variando de acordo com a abordagem e a finalidade analítica.

Na antropologia, o conceito está intimamente relacionado ao de cultura.

Segundo Clifford Geertz (1989), ethos corresponde ao tom, caráter e qualidade de vida

de um povo, abarcando suas condições morais e estéticas. Nesse sentido, está associado

a costumes e valores, uma maneira de ser e estar no mundo.

Partindo de um viés etimológico, Muniz Sodré (2002) esclarece que ethos é uma

palavra grega cujo significado remete ao sentido de habitar. Por designar uma espécie de

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“morada”, o termo abarca condições, normas e práticas executadas pelos indivíduos

rotineiramente ao se abrigarem em um espaço. A ideia de habitação, desse modo, se

aproxima à noção de hábito. Segundo Sodré, o conceito de ethos propõe uma espécie de

guia da experiência no mundo, um modo coletivo de viver e uma ambiência que

integraliza um grupo.

De modo geral, ethos é a consciência atuante e objetivada de um grupo social

– onde se manifesta a compreensão histórica do sentido da experiência, onde

tem lugar as interpretações simbólicas do mundo – e, portanto, a instância de

regulamentação das identidades individuais e coletivas (SODRÉ, 2002, p.45.

Grifo do autor).

Na retórica clássica, a palavra aparece atrelada a outras duas, logos e pathos,

sendo uma temática e ferramenta metodológica importante para a análise de textos.

Segundo Aristóteles, existem três espécies de provas técnicas ou artísticas de persuasão:

“umas residem no carácter moral do orador”; “outras, no modo como se dispõe o

ouvinte”, ou seja, nas emoções que o discurso o leva a experimentar; “e outras, no

próprio discurso, pelo que este demonstra ou parece demonstrar” (ARISTÓTELES,

1998, p. 49). Respectivamente, ethos, pathos e logos.

Já para os fins deste trabalho, a concepção moderna de ethos proposta por

Dominique Maingueneau (2006) parece mais interessante. Para o analista do discurso,

os “modos de dizer” carregam em si traços importantes daquele que diz.

Todo discurso, oral ou escrito, supõe um ethos: implica uma certa

representação do corpo do seu responsável, do enunciador que se

responsabiliza por ele. Sua fala participa de um comportamento global (uma

maneira de se mover, de se vestir, de entrar em relação com o outro...).

Atribuímos a ele, dessa forma, um caráter, um conjunto de traços

psicológicos (jovial, severo, simpático...) e uma corporalidade (um conjunto

de traços físicos e indumentários). “Caráter” e “corporalidade” são

inseparáveis, apoiam-se em estereótipos valorizados ou desvalorizados na

coletividade, em que se produz a enunciação (MAINGUENEAU, 2006, p.60.

Grifos meus).

Nessa passagem, chama atenção a relação estabelecida por Maingueneau entre

“caráter” e “corporalidade”. Segundo o autor, na constituição de seu dizer, aquele que

diz assume certa cenografia, sendo o ethos parte constituinte dessa cena de enunciação

(2006). Pode-se entender que a noção de ethos discursivo, assim como é apresentada

pelo autor, promove um reforço da abordagem da multimodalidade, segundo a qual, há

uma ligação inextricável entre o texto e suas condições materiais. Para que um discurso

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ganhe vida, ele precisa ser presentificado por meio de palavras, imagens, sons, gestos.

Sobre isso, e valendo-se das teorias de Kress e Van Leeuwen (1998), além de Chartier

(2001), Ana Elisa Ribeiro aponta:

Todo texto carrega em si um projeto de inscrição, isto é, ele é planejado em

diversas camadas modais (palavra, imagem, diagramação, etc) e sua

materialidade ajuda a compô-lo, instaurando uma existência, desde a origem,

multimodal. Um texto é o resultado de seleções, decisões e edições, não

apenas de conteúdos, mas de formas de dizer. Há neles a costura de

intenções, sentidos, linguagens e propiciamentos tecnológicos (RIBEIRO,

2013, p. 21).

Assim, pensar a revista Vida Simples em seu aspecto multimodal implica

considerá-la no encontro entre texto, fotografia, ilustração, diagramação e design,

buscando entender como conteúdo e forma estão articulados na publicação.

Ainda sobre a noção de ethos discursivo, Frederico Tavares (2013) avança mais

um passo em direção à análise empreendida por este estudo. Através de uma reflexão

acerca das complexidades e especificidades que marcam a “forma de ser” das revistas, o

autor assegura que há sempre um conceito, uma espécie de chave de leitura, que se

apresenta como elemento fundante de cada publicação, devendo estar presente em todos

os aspectos que concernem ao seu tratamento gráfico e verbal.

No caso de Vida Simples, pode-se dizer que essa chave de leitura recai sobre a

ideia de simplicidade. Mas, que simplicidade é essa? Como ela se faz presente no

discurso (verbal e não verbal) da revista? Tavares nos leva a crer na existência de certos

“fios invisíveis” que constituem a processualidade e a organicidade da publicação.

Segundo o autor, existe uma autorreferencialidade no e do processo produtivo

textual, princípio que também é chamado por ele de ethos pré-discursivo. Dito de outro

modo, a revista constantemente fala sobre ela mesma, deixando assim, pistas sobre sua

identidade editorial. Isto fica claro quando nos deparamos com os chamados editoriais

ou cartas ao leitor, espaço onde está legitimado um discurso de autorrepresentação.

Mas a revista explica a si própria em diversos outros momentos, menos

evidentes. A autorreferencialidade estaria nas seleções temáticas e, especialmente, no

tratamento dado a elas. A revista expõe traços de suas características marcantes pela

maneira como se reporta ao leitor, por meio de seu projeto gráfico ou até mesmo pela

sua peridiocidade distinta, que marca sua relação temporal com o contemporâneo.

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Veremos, a seguir, alguns traços ou indícios que revelam a maneira como a

revista Vida Simples constrói uma imagem de si, seu ethos e sua cenografia.

Menos é mais: design clean para reforçar um propósito de simplicidade

A imagem abaixo (Fig. 1) corresponde à capa da edição comemorativa de 12

anos de Vida Simples. Ainda que seja um pequeno fragmento quando comparado ao

todo, é esperado que os mesmo princípios gráficos aqui evidenciados estejam diluídos

ao longo das páginas da revista.

Fig. 1: Reprodução da capa da revista Vida Simples, ed. 151, de outubro de 2014

Por meio de uma breve análise da capa, é possível destacar alguns elementos.

Observa-se uma única figura (ademais da logomarca da Editora Abril), localizada no

centro da página: um quindim. Pela natureza dessa imagem, já é possível inferir que não

se trata de uma matéria factual. A sobremesa serve como metáfora, corroborada pela

frase “Seja mais doce”. A composição entre texto e imagem interpela o leitor a um estilo

de vida com mais alegria e gentileza, instrui a revista: “Quando você distribui pequenas

doses de afeto no seu dia a dia, sua vida ganha paz e felicidade”.

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Chamadas secundárias apresentam-se ao final da página (“Mitologia: O que ela

nos ensina sobre nossos limites”; “Aceita um café? As histórias em torno da bebida” e

“Frustração: podemos aprender muito com esse sentimento”). Como já dito, predomina

um discurso de aconselhamento e bem-estar, que procura apaziguar problemas que

afligem o indivíduo em seu cotidiano, o que seria possível através do autoconhecimento

e pelo “dar valor às pequenas coisas”, como um bom bate papo na hora do café.

Sobre o layout da página, observa-se um amarelo semelhante ao do quindim

espalhado por toda a capa, cor vibrante, alegre, que combina com o enfoque positivo da

matéria. O contraste é dado pelo cinza, quase preto, presente na linguagem verbal, o que

assegura a legibilidade do material. Visualizam-se muitas áreas de respiro e pouco texto.

Foi selecionada uma única tipografia, sem serifa, simples e moderna, que é a mesma do

logotipo que intitula a publicação. Há apenas variação em termos do tamanho das letras

para ajudar a hierarquizar as informações. As chamadas secundárias são separadas por

um discreto traçado pontilhado. Em termos de material, o papel é um offset, fosco e de

alta lisura, muito diferente dos papéis laminados e brilhantes que costumamos encontrar

em revistas comerciais.

Posto isto, de modo geral, é possível afirmar que Vida Simples aposta em um

projeto gráfico clean, o que ajuda a reforçar o conceito de simplicidade sugerido, já de

antimão, em seu nome. Porém, a materialização discursiva dessa simplicidade não é

antagônica a certa imagem de sofisticação. Ao tratar do que seria ordinário, o cotidiano,

mas com certa elegância e refinamento, a revista transforma-o em extraordinário. A

vida, em Vida Simples, seria altamente “estilizada”, assinalam as linguistas Luciana

Salgado e Denise Perfeito (2015).

Por meio de análise de peças publicitárias da seção Achados, as pesquisadoras

apontam para um paradoxo entre o discurso de bem-estar construído pela revista e certa

orientação ao consumo: “ao mesmo tempo que se propõe ajudar o sujeito

contemporâneo na busca por uma vida melhor porque descomplicada, por meio da

proposta de uma certa “vida simples”, empurra o sujeito para o aprofundamento daquilo

que é fonte maior de sofrimento na contemporaneidade – o consumo insaciável”

(SALGADO; PERFEITO, 2015, p. 9).

Tendo a concordar com as autoras nesse ponto. Não apenas porque os anúncios

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presentes na revista, e que projetam um estilo de vida fácil e feliz, acabam por persuadir

a aquisição de alguns produtos caros, como aparatos tecnológicos, peças de design ou

artefatos de produção restrita, mas também pelo fato da publicação ter um custo mais

elevado quando comparada a outras, inclusive da mesma editora (R$ 15, 00)4. Para

refletirmos sobre o público-alvo da revista, as linguistas apontam: “O discurso da

autoajuda se põe como um aconselhamento para todos; o discurso do bem-estar, em

Vida Simples, deriva dele sem pôr em relevo essa massiva missão (embora seja uma

revista que precisa ser vendida)” (SALGADO; PERFEITO, 2015, p. 8).

Carta ao leitor: a revista sobre ela mesma

Como dito anteriormente, os editoriais ou cartas ao leitor são espaços dentro de

jornais e revistas destinados a apresentação do conteúdo daquela edição, usados para

oferecer alguma explicação ou comentário sobre o processo de fabricação daquele

produto, estabelecendo uma relação mais direta com o público e revelando, assim,

aspectos interessantes sobre a processualidade e a identidade do veículo. No exemplar

comemorativo de 12 anos de Vida Simples, temos a seguinte carta ao leitor (Fig. 2).

Como esperado, o aniversário da revista é o eixo central sobre o qual o texto é

construído. Mas o marco dos 12 anos é apresentado, a princípio, sob o ponto de vista

pessoal da editora Ana Holanda, que relembra suas agruras e sonhos quando estava

nessa idade, uma fase de transformação, que é a passagem da infância para a

adolescência: “eu não sabia se queria brincar ou paquerar”. Embora os anos já apontem

certa maturidade, é um período de angústias, reforçado pela constatação “não tinha

menor ideia do que ser ‘quando crescer’”.

É impossível dissociar esse relato sobre mudança e incerteza, encarnado por Ana

Holanda, da situação que atravessava a revista, com a troca da Editora Abril para Caras.

Embora haja manifestações saudosas ou nostálgicas (“Passaram por essas páginas

pessoas tão diversas”), não há indícios de despedida, mas de fechamento de um ciclo.

Ao fazer um paralelo entre sua trajetória de vida até os 12 anos e “o tempo de

4 A título de comparação, a revista Cláudia, da Editora Abril, possui um volume de páginas cerca de três

vezes o de Vida Simples, mas pelo preço de R$ 13,00. Após a transição para a Editora Caras e até o

momento de escrita deste artigo, a revista manteve-se ao valor de R$ 15,00.

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estrada” de Vida Simples, Ana Holanda convoca a todos nós a uma imersão em nossas

recordações e até certa autoanálise de quem éramos quando deixávamos de ser crianças.

Esse relato biográfico nos sugere que gostamos mais de pessoas que contam suas

próprias histórias do que de narradores que contam aventuras de terceiros. Afinal, este é

um recurso que confere autenticidade ao que está sendo dito e possibilita a quem assina

o texto dar vazão a emoções, sob uma ótica bastante individual e afetiva.

Fig. 2: Reprodução da Carta ao Leitor, ed. 151 de Vida Simples, de outubro de 2014

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A carta ao leitor se transforma, assim, em depoimento, no qual a autora aponta

para seu amadurecimento pessoal e emocional, que teria acompanhado a evolução da

publicação: “Eu mesma cresci com a revista. Me emocionei, li um montão de coisas que

me apontaram uma direção”. Está aqui evidenciado o tom prescritivo ou profilático da

revista, característica da imprensa conselheira (CONDÉ, 2010). Esse discurso de

aconselhamento é reforçado também em outros momentos, como na frase “Vamos jogar

luz nos medos, ajudar a lidar com os desafios”, sobre a nova série Mitos e Jornadas.

É interessante perceber a relação próxima que Vida Simples estabelece com seu

leitor, algo semelhante a um diálogo: “Foram tantas conversas e ideias cultivadas por

aqui”. Temos também uma atestação do potencial patêmico da revista quando a autora

afirma ter se emocionado ao longo desses 12 anos ou quando agradece à jornalista Liane

Alves, colaboradora antiga, por “abrir tantos corações”.

Por fim, merece destaque o fato de que a assinatura de Ana Holanda,

reproduzida a próprio punho – o que resguarda certa autenticidade e, principalmente,

singularidade de um “gesto analógico” –, vem acompanhada por uma ilustração de seu

rosto. O mesmo recurso gráfico se repete nas páginas amarelas ao final da revista,

espaço destinado aos colunistas. Essa apresentação ajuda a criar certa familiarização ou

empatia dos leitores com os profissionais que assinam esses textos, espaços nos quais a

exposição de histórias pregressas e opiniões estaria legitimada. Chama atenção, porém,

a opção da revista por romper com certa “dureza” técnica das fotografias, geralmente

usadas nessas situações, para dar espaço a uma imagem mais poética, alcançada por

meio do desenho desses retratos. Se as fotografias podem ser pensadas enquanto

estratégias discursivas que permitem descrever o mundo e explicá-lo segundo o

princípio da verossimilhança, predominando sua função de registro, de atestação da

realidade “tal qual é” (o logos), por outro lado, as ilustrações transmitem maior fluidez e

leveza, produzem um efeito de dramatização e são, portanto, uma maneira de tocar o

afeto do outro para seduzi-lo por meio da emoção (o pathos) (CHARAUDEAU, 2010).

Personalização da equipe: vozes plurais para um propósito comum

Diferente de outras revistas, inclusive do mesmo segmento, Vida Simples

preocupa-se com uma apresentação especial de sua equipe (característica esta já

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evidenciada no item anterior). No início ou ao final de cada matéria, a assinatura dos

profissionais envolvidos, como jornalistas, fotógrafos, ilustradores e designers, é

acompanhada de um breve texto, no qual se contextualiza a atuação daquele indivíduo

ou sua relação com a publicação, chama-se atenção para aspectos de sua personalidade e

se explica técnicas que foram usadas na produção do material. Vejamos os seguintes

exemplos, todos retirados da edição 151, que circulou em outubro de 2014:

(1) Vanessa Kinoshita é designer da Vida Simples há dois anos. E ela garante que se

divertiu e comeu muito fazendo as fotos que ilustram estas páginas.

(2) As páginas dessa matéria foram ilustradas por Guto Lacaz, um importante designer e

artista plástico da atualidade. Ele fez uma interpretação do texto a partir do olhar que

tem em relação às diferentes maneiras de trabalhar e misturou técnicas feitas à mão com

as digitais.

(3) Dirceu Villa é poeta e tradutor, autor de Icterofagia (2008) e Transformador (2014).

Vive e trabalha em São Paulo.

(4) Fellipe Abreu é fotojornalista e um curioso por natureza. Adora viajar por aí

conhecendo pessoas, culturas e ouvindo e registrando boas histórias.

No primeiro excerto, vemos um reforço da ideia de vínculo entre a designer e a

publicação, manifesto por um dêitico temporal (a profissional presta serviços à revista

há 2 anos). Porém, essa não parece ser uma relação meramente contratual. Há um

envolvimento quase afetivo: Vanessa Kinoshita se divertiu e até comeu muito enquanto

realizava o seu trabalho, o que promove uma quebra no aspecto formal esperado para

esse tipo de situação. É esclarecedora a informação de que a designer atuou em uma

matéria de nome “Por uma vida mais doce” (matéria de capa), que trazia como proposta

ensinar ao leitor a “espalhar pequenas doses de açúcar no seu dia a dia e, assim,

transformá-lo em algo mais leve, tranquilo e feliz”. O texto é acompanhado por fotos

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que mesclavam objetos do cotidiano, tais como sapatos, travesseiro e telefone, com

chocolates, morangos, granulados e outros ingredientes de confeitaria.

Já no segundo texto, há um reforço sobre a competência profissional de Guto

Lacaz, qualificado enquanto um designer e artista plástico “importante na atualidade”,

Explica-se, então, o processo criativo das imagens que ilustraram a matéria: ele

interpretou o texto “a partir do olhar que tem sobre as diferentes maneiras de trabalhar”

– o que pode ser um indicativo de sensibilidade e experiência, pois ele se apoiou no

próprio repertório artístico que, pelo que o texto aponta, é diverso –, e chegou a uma

combinação entre “técnicas feitas à mão com digitais”, um esclarecimento sobre a

feitura do material.

No terceiro fragmento em análise, temos algo mais próximo de um relato

biográfico, como aqueles presentes nas orelhas de livros, para contar um pouco sobre o

autor da obra. Ao referenciar trabalhos antigos, o texto reconstrói parte da atuação

profissional de Dirceu Villa, o que pode ajudar o leitor em sua identificação com o estilo

de escrita e a temática desenvolvida pelo poeta e tradutor. A isso, é acrescida outra

informação, destoante em relação aos demais trechos em análise: “vive e trabalha em

São Paulo”. Existem diferentes possibilidades para interpretar esse dado. Não me escapa

o fato de que, nesse caso, o profissional atuou na seção Perfil, sobre personalidades

públicas, que têm expostos, de certo modo, aspectos de suas vidas privadas. A meu ver,

a explicitação desse referencial geográfico pode ser vista como uma espécie de

provocação ao leitor ou até confirmação daquilo que é proposto pela revista: Vida

Simples encarrega-se de assuntos relacionados à qualidade de vida e espera-se ou

pressupõe-se que, por extensão, sua equipe seja capaz de transmitir determinados

valores, costumes ou perspectivas compatíveis com essa proposta. E não deve ser

negligenciado o fato de que São Paulo é o eixo econômico do país, além da maior

metrópole na América Latina. Tendo isto em consideração, haveria uma mensagem

implícita ou um subentendido5 (DUCROT, 1987): é possível ter qualidade de vida em

5 De acordo com o linguista, pressupostos e subentendidos estariam no nível implícito de um enunciado.

O pressuposto seria uma mensagem adicional, pertencente plenamente ao sentido literal, sendo de

domínio comum das duas personagens do diálogo. Desse modo, se relaciona a conhecimentos prévios e

compartilhados por um “nós”, sem os quais a compreensão da mensagem fica comprometida. Já o

subentendido, previsto por um componente retórico, que leva em conta as circunstâncias de enunciação,

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São Paulo. O curioso e até certo ponto contraditório é que a matéria, de nome “A poesia

encontra a natureza”, trata do poeta brasileiro Leonardo Froés, que “abandonou uma

vida agitada no Rio de Janeiro para ficar perto da natureza, cuidando de plantas e

animais no interior”.

Por fim, o último trecho busca traçar um perfil do profissional Fellipe Abreu,

listando alguns de seus hobbies: “Adora viajar por aí conhecendo pessoas, culturas e

ouvindo e registrando boas histórias”. A ideia de registro vai de encontro à sua

profissão, um fotojornalista.

Por meio da análise dos excertos acima, é possível afirmar que a apresentação

dos atores envolvidos na produção da revista procura não apenas creditar o trabalho

desenvolvido, mas evoca uma identificação do leitor com esses profissionais ou com o

conteúdo tratado. Quando jornalistas, designers, ilustradores e fotógrafos partilham

experiências de vida, pontos de vista ou hábitos, há uma proposta intimista de diálogo

com o interlocutor, que se dá por meio de uma linguagem simples e informal.

No entanto, essa multiplicidade de vozes, por meio da personalização da equipe

de Vida Simples, não coloca em risco a unidade editorial da revista. Ainda que se

ressalvem qualidades ou preferências que dizem sobre particularidades dos profissionais

ali envolvidos, existe um filtro para pincelar tais atributos, sem prejudicar a “co-

enunciação” da publicação, como diria Patrick Charaudeau (2006).

Ao discutir sobre a identidade das instâncias de informação, o analista do

discurso destaca o caráter coletivo do regime de produção informativo. São vários os

agentes que atuam, de forma conjunta, para que um produto final e com identidade

própria seja alcançado. Em suas palavras:

Todos contribuem para fabricar uma enunciação aparentemente unitária e

homogênea do discurso midiático, uma co-enunciação, cuja intencionalidade

significante corresponde a um projeto comum a esses atores e do qual se

pode dizer que, por ser assumida por esses atores, representa a ideologia do

organismo de informação. (CHARAUDEAU, 2006, p.73)

Desse modo, ainda que a revista seja uma somatória de práticas individuais,

reinvindica a possibilidade de estar ausente do enunciado, aparecendo somente em momento posterior por

meio de um “tu”: é aquilo que permito ao leitor concluir. O subentendido acrescenta alguma coisa “sem

dizê-la”. É interessante pontuar que a compreensão de pressupostos e subentendidos demanda uma leitura

contextual, para além do que está posto, o que, em nosso caso, diz sobre o lugar de enunciação da revista

Vida Simples.

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formada por uma rede de gêneros jornalísticos heterogêneos, cada qual resguardando

certa autonomia frente aos demais, é necessário que todos se relacionem, unidos por um

fio condutor que seria “a ideologia do organismo de informação”. Aparece aqui até

mesmo um questionamento acerca de autoria, afinal, como explica Charaudeau, é difícil

responsabilizar alguém por uma informação dentro da cadeia midiática. “No que

concerne às mídias, nunca se sabe realmente quem pode responder por uma determinada

informação, mesmo quando é assinada por um determinado jornalista.” Isso porque “os

efeitos da instância midiática de produção transformam as intenções da instância de

enunciação discursiva tomada isoladamente” (CHARAUDEAU, p.74, 2006).

Considerações finais

Enquanto formação discursiva moderna, as revistas são instrumentos simbólicos

que nos ajudam na compreensão de um tempo, criam modos de fazer e de dizer sobre o

mundo. Nesse sentido, Vida Simples joga luz sobre a concepção de sujeito

contemporâneo e seus problemas cotidianos, servindo de exemplo para uma reflexão

sobre como o discurso de autoajuda tem ganhado espaço no repertório midiático.

A análise empreendida por este artigo mostra que Vida Simples constrói uma

imagem de si enquanto instância de enunciação capaz de instruir os indivíduos na

tomada de atitudes e soluções que lhe proporcionarão mais felicidade. É interessante

observar que esse ethos de aconselhamento, lugar do qual fala a publicação, se dá muito

mais por meio do apelo às emoções do que pela razão, por uma lógica argumentativa.

Assim, é possível também dizer que o “bem-estar” proposto por Vida Simples

deve-se fazer sentir já no momento da leitura, por meio de diferentes estratégias que

recaem sobre o conceito de simplicidade: estaria na estilização da capa, no diálogo

próximo e intimista que se estabelece com o leitor, por meio da exposição de histórias

de vida e opiniões dos profissionais, transformados, assim, em personagens.

De modo geral, é importante destacar que Vida Simples confronta certa “dureza”

comum ao campo jornalístico, inserindo um aspecto sensível da realidade na cobertura

cotidiana do mundo (Tavares, 2011b). Sensível e – por que não – sensório, visto que o

conceito de simplicidade e o discurso de bem-estar se presentificam em suas páginas.

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