em busca da excelência em santificação

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A474a Alves, Silvio Dutra Em busca da excelência / Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2017. 50p.; 14,8x21cm

1. Teologia. 2. Vida Cristã. 3. Santificação. I. Título.

CDD 230.227

3

“Mas a sabedoria é justificada por todos os seus

filhos.” (Lucas 7.35)

Estas palavras foram proferidas por nosso

Senhor Jesus Cristo quando protestou contra a

insensatez dos homens na avaliação das coisas

relativas ao reino de Deus, pois criticavam João

por ter vivido de forma rigorosamente ascética,

e a Ele, Jesus, por ser, segundo eles, um comilão

e bebedor de vinho, e amigo de publicanos e

pecadores. Assim, usando estes argumentos

por pretexto, pensavam estarem justificados

para não darem ouvido a João ou a Jesus.

Todavia, conhecendo-lhes a dureza de seus

corações e cegueira espiritual, o Senhor não se

adiantou para lhes apresentar razões para

mudarem o seu modo de ver, e limitou-se

apenas a lhes dizer que a “sabedoria é

justificada por todos os seus filhos”, ou seja, a

verdadeira vida espiritual, celestial e divina

sempre é vindicada naqueles que são tornados

filhos de Deus, por meio da fé nEle, pois não

somente a conhecem, como dão testemunho da

sabedoria de Deus em suas vidas santificadas.

A isto, juntamos, que esta forma de vida

piedosa, santa, e que dá testemunho da obra de

4

Deus no coração humano, é mais vista em uns

do que em outros, segundo a medida do

crescimento espiritual no conhecimento e

apreensão desta vida de Deus na alma, à qual

estamos chamando de excelência, conforme

assim é referida no próprio texto bíblico.

Não há nenhum outro campo em que a

excelência possa atingir o seu maior grau do

que na vida espiritual, pois sendo chamados a

serem à imagem dAquele que é infinito e eterno

e perfeito em sabedoria, não há limites para o

crescimento dos crentes em Jesus Cristo.

A excelência a que somos convocados tem por

modelo uma Pessoa Perfeita e não um mero

ramo do conhecimento natural. Além disso não

se trata de conhecimento meramente intelectual

ou de algo nocional fora de nós mesmos, mas o

crescimento segundo a medida da estatura

divina sendo implantada em nosso próprio ser,

ou seja, pela transformação do que somos no

que Deus planejou desde antes da fundação do

mundo para que nós fôssemos perante ele em

amor.

5

É em Cristo que os crentes estão aperfeiçoados,

e é somente nele que podem obter o

crescimento espiritual que os amadurecerá para

a frutificação, conforme se observa nas

seguintes palavras do apóstolo:

I Coríntios 1.4 Sempre dou graças a Deus por

vós, pela graça de Deus que vos foi dada em

Cristo Jesus;

5 porque em tudo fostes enriquecidos nele, em

toda palavra e em todo o conhecimento,

6 assim como o testemunho de Cristo foi

confirmado entre vós;

7 de maneira que nenhum dom vos falta,

enquanto aguardais a manifestação de nosso

Senhor Jesus Cristo,

8 o qual também vos confirmará até o fim, para

serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor

Jesus Cristo.

Há portanto um trabalho designado para ser

feito em todo aquele que Deus tem recebido

como filho, e o nível que este trabalho deve

alcançar é o de formar a excelência do caráter

6

do crente para que seja também excelente em

todo o seu proceder.

A sabedoria celestial e espiritual é um trabalho

realizado por Deus na alma. Não é mera

aplicação de conhecimentos adquiridos, pois,

muito do que é implantado pelo Espírito Santo

no caráter dos crentes é experimentado até

mesmo em muitos casos, antes de se obter o

conhecimento das realidades espirituais às

quais o conhecimento racional se refere.

Isto pode ser visto nas palavras do apóstolo na

seguinte passagem bíblica:

I Coríntios 2.4 A minha linguagem e a minha

pregação não consistiram em palavras

persuasivas de sabedoria, mas em

demonstração do Espírito de poder;

5 para que a vossa fé não se apoiasse na

sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.

6 Na verdade, entre os perfeitos falamos

sabedoria, não porém a sabedoria deste mundo,

nem dos príncipes deste mundo, que estão

sendo reduzidos a nada;

7

7 mas falamos a sabedoria de Deus em mistério,

que esteve oculta, a qual Deus preordenou

antes dos séculos para nossa glória;

8 a qual nenhum dos príncipes deste mundo

compreendeu; porque se a tivessem

compreendido, não teriam crucificado o Senhor

da glória.

Observe que o apóstolo está falando de uma

sabedoria que não se manifesta apenas em

palavras, mas na operação do poder de Deus na

alma. E que esta sabedoria que é de procedência

celestial nada tem a ver com a sabedoria natural

do intelecto humano. Pois, quem é aquele que

conhece o caminho da Águia Divina no céu

senão o Espírito Santo, e aquele a quem Ele o

revelar?

Não é algo que se obtenha por mera leitura, mas

sobretudo por se caminhar com Deus, por se

andar no Espírito, e aprender das circunstâncias

nas diversas operações do Seu poder, sobretudo

nas tribulações, à medida que estas sejam

suportadas com paciência e fé.

“sede pacientes na tribulação” (Romanos 12.12)

8

I Pedro 2.18 Vós, servos, sujeitai-vos com todo

o temor aos vossos senhores, não somente aos

bons e moderados, mas também aos maus.

19 Porque isto é agradável, que alguém, por

causa da consciência para com Deus, suporte

tristezas, padecendo injustamente.

20 Pois, que glória é essa, se, quando cometeis

pecado e sois por isso esbofeteados, sofreis

com paciência? Mas se, quando fazeis o bem e

sois afligidos, o sofreis com paciência, isso é

agradável a Deus.

21 Porque para isso fostes chamados,

porquanto também Cristo padeceu por vós,

deixando-vos exemplo, para que sigais as suas

pisadas.

Como ser paciente na tribulação e cumprir a

ordenança apostólica tanto de Paulo, quanto de

Pedro, que na verdade, é uma repetição do

ensino direto de nosso Senhor Jesus Cristo em

seu ministério terreno, a não ser por um

aprendizado real e experimental da negação do

ego e do carregar diário da cruz?

9

Quem pode ministrar e implantar este ensino

senão o próprio Espírito Santo, na medida em

que estejamos bem esclarecidos e convictos

desta necessidade de sermos pacientes, pois

Deus é paciente em Sua própria natureza, e

nada é mais natural do que os filhos imitarem a

Seu Pai amado.

Daí a importância do conhecimento exato do

que nos é ordenado nas Escrituras, pois não

poderíamos buscar aquilo que não sabemos que

deve ser buscado, como por exemplo, neste

caso, que importa sermos pacientes na

tribulação, e suportar toda sorte de ofensas com

espírito brando e manso, conforme este é

concedido pelo poder de Deus.

Então, pelas Escrituras somos ensinados quanto

ao que deve ser buscado, e no assentimento à

verdade e na sujeição às operações da graça

para tal propósito, podemos recebê-lo mediante

o poder de Deus.

Não se pense, contudo, que isto nos virá como

por um simples ato instantâneo do poder

divino, capacitando-nos para tal de um dado

momento em diante. Muita negação da justiça

10

própria está envolvida neste processo de

continuados exercícios de autonegação,

conforme as oportunidades que recebemos de

manifestar paciência segundo as ofensas que

sofremos.

A cruz é um instrumento de dor, e certamente

sofreremos em constatar que não há em nossa

própria natureza a referida disposição de sofrer

contrariedades com paciência e gozo espiritual

no Senhor.

Por isso somos ordenados a sermos praticantes

da Palavra e não meros ouvintes, pois se não

houver tal disposição a nos submetermos ao

trabalho de humilhação da cruz, jamais seremos

transformados pelo poder do Espírito Santo, nas

pessoas pacientes que importa sermos para

darmos testemunho por meio de nossas

próprias vidas do caráter longânimo de Deus.

O apóstolo Pedro afirma que é coisa grata a

Deus que seus filhos suportem injustiças com

paciência. Qual é a principal razão disso senão

que se tornem semelhantes a Ele no seu atributo

de paciência, de muita longanimidade com o

mundo de pecado, tendo adiado a aplicação do

11

juízo para revelar todo o domínio que tem sobre

Si mesmo, para não manifestar a Sua ira contra

o pecado, de forma a não destruir

imediatamente os pecadores que lhe ofendem.

Assim, importa que o testemunho do cristão

siga na mesma linha e direção, de forma a

manifestar ao mundo qual é o caráter do Nome

que ele carrega e que é sobre todo nome, e o

único em que se pode obter a salvação.

Como nossa natureza terrena decaída no

pecado não possui esta disposição divina de ser

misericordiosa, perdoadora e paciente, há

necessidade do trabalho da cruz para a

crucificação e despojamento do velho homem,

de modo que se viva e se ande segundo a nova

criatura que é procedente de Deus, e que é a

única que está habilitada a proceder de tal

forma, segundo o caráter paciente do próprio

Senhor.

Isto é obtido por se pedir a Deus em oração e

pela disposição de suportar injustiças por amor

a Cristo, para que o Espírito Santo possa nos

capacitar para tal propósito.

12

Filipenses 1.9 E isto peço em oração: que o

vosso amor aumente mais e mais no pleno

conhecimento e em todo o discernimento,

10 para que aproveis as coisas excelentes, a fim

de que sejais sinceros, e sem ofensa até o dia

de Cristo;

11 cheios do fruto de justiça, que vem por meio

de Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus.

Colossenses 1.9 Por esta razão, nós também,

desde o dia em que ouvimos, não cessamos de

orar por vós, e de pedir que sejais cheios do

pleno conhecimento da sua vontade, em toda a

sabedoria e entendimento espiritual;

10 para que possais andar de maneira digna do

Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em

toda boa obra, e crescendo no conhecimento de

Deus,

11 corroborados com toda a fortaleza, segundo

o poder da sua glória, para toda a perseverança

e longanimidade com gozo; (Observe que no

final deste versículo é dito que a longanimidade

deve ser com gozo, ou seja, com alegria

espiritual em sofrermos injustiças e

13

perseguições com paciência, sabendo que

assim agindo, teremos o consolo e fortificação

do Espírito Santo, em aprovação ao nosso

testemunho de que a paciência que há em Cristo

para o perdão dos pecadores pode ser vista

naqueles que são seus discípulos.)

Colossenses 3.16 A palavra de Cristo habite em

vós ricamente, em toda a sabedoria; ensinai-vos

e admoestai-vos uns aos outros, com salmos,

hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus

com gratidão em vossos corações.

Tiago 3.13 Quem dentre vós é sábio e

entendido? Mostre pelo seu bom procedimento

as suas obras em mansidão de sabedoria. (O

apóstolo associa o conhecimento de Deus e a

verdadeira sabedoria que dele procede como

sendo algo revelado em nossas obras feitas com

mansidão, ou seja com longanimidade, com

paciência cristã.)

14 Mas, se tendes amargo ciúme e sentimento

faccioso em vosso coração, não vos glorieis,

nem mintais contra a verdade.

14

15 Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas

é terrena, animal e diabólica.

16 Porque onde há ciúme e sentimento faccioso,

aí há confusão e toda obra má.

17 Mas a sabedoria que vem do alto é,

primeiramente, pura, depois pacífica,

moderada, tratável, cheia de misericórdia e de

bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia.

18 Ora, o fruto da justiça semeia-se em paz para

aqueles que promovem a paz. (Quando alguém

julga estar fazendo a vontade de Deus por estar

agindo com ira contra aqueles que praticam

males, na verdade está anulando o testemunho

do evangelho de que Deus está sendo paciente

com os pecadores na presente dispensação da

graça. Ainda que não caiba a aprovação do mal,

senão que seja reprovado, todavia, há o modo

de fazê-lo, ou seja, com mansidão de espirito e

longanimidade, pois é desta forma que o

próprio Deus age, por ser longânimo e manso

em sua natureza.)

Observamos pelas Escrituras e pela experiência

que não é possível se alcançar a excelência sem

15

que haja santificação, ou seja, sem que sejamos

espirituais, pois a mente carnal não somente

não entende as coisas do Espírito, como

também não pode experimentá-las.

Paulo o define como sendo o caminho

sobremodo excelente do amor, cujas

características são destacadas por ele,

especialmente no que se relaciona a suportar as

ofensas sofridas no mundo e perdoá-las, em

mansidão de espírito, seguindo o exemplo que

nos foi deixado por nosso Senhor Jesus Cristo

I Coríntios 12.31 Mas procurai com zelo os

maiores dons. Ademais, eu vos mostrarei um

caminho sobremodo excelente.

I Coríntios 13.4 O amor é paciente, é benigno; o

amor não é invejoso; o amor não se vangloria,

não se ensoberbece,

5 não se porta inconvenientemente, não busca

os seus próprios interesses, não se irrita, não

suspeita mal;

6 não se regozija com a injustiça, mas se

regozija com a verdade;

16

7 tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo

suporta.

A primeira característica essencial do caráter

cristão, dita excelente, é a paciência (v.4) pois

se diz que o amor é paciente, ou seja,

longânimo. E isto é fechado com as palavras do

verso 7, ao se dizer que tudo sofre, tudo crê,

tudo espera e tudo suporta.

Por vivermos num mundo sujeito ao pecado,

não se poderia revelar o amor de Deus aos

pecadores sem que houvesse em nós tal

disposição em sofrer com paciência as injustiças

que recebemos da parte deles, as quais, a

propósito, são em grande parte inspiradas pelo

Inimigo de nossa almas. Devemos vê-las então

como oportunidades para o nosso crescimento

na paciência, pedindo a Deus em oração que

nos dê um coração perdoador como o dEle, e

que não fiquemos ressentidos com as ofensas

que sofremos.

Observe que o apóstolo destaca a paciência

divina em sua vida como uma das características

essenciais da excelência do seu ministério:

17

II Coríntios 1.6 Mas, se somos atribulados, é

para vossa consolação e salvação; ou, se somos

consolados, para vossa consolação é a qual se

opera suportando com paciência as mesmas

aflições que nós também padecemos; (É

destacado pelo apóstolo que o consolo do

Espírito Santo é dado aos crentes que suportam

com paciência as aflições. Enquanto

exasperados, murmuradores, e ainda que

pretextando estar agindo em nome da justiça

por termos sido injuriados, é bom que

lembremos que esta condição anula o conforto

do Espírito Santo, pois não pode validar com sua

consolação um comportamento que é

reprovado por Deus em seus filhos. A justiça e

retribuição pertencem ao Senhor, e ainda assim,

ele é tardio para se irar e lento para aplicação

do juízo, especialmente nesta chamada

dispensação da sua paciência, em razão de estar

adiando a aplicação da justiça exígua até

mesmo sobre cada palavra proferida

ociosamente, para o dia do Juízo Final, quando

então a paciência abrirá espaço para a aplicação

da justiça. Mas, é bom que lembremos que isto

não ocorrerá até que Deus tenha conduzido ao

18

arrependimento a última alma que está

destinada para a salvação em Jesus Cristo.)

7 e a nossa esperança acerca de vós é firme,

sabendo que, como sois participantes das

aflições, assim o sereis também da consolação.

II Coríntios 12.12 Os sinais do meu apostolado

foram, de fato, operados entre vós com toda a

paciência, por sinais, prodígios e milagres.

(Neste versículo, o apóstolo dá o testemunho da

sua longanimidade, pois sabia o quanto Deus

espera que sejamos longânimos para com todos

(I Tes 5.14)-

II Coríntios 11.5 Ora, julgo que em nada tenho

sido inferior aos mais excelentes apóstolos.

II Coríntios 12.11 Tornei-me insensato; vós a

isso me obrigastes; porque eu devia ser louvado

por vós, visto que em nada fui inferior aos

demais excelentes apóstolos, ainda que nada

sou.

Há portanto uma excelência a ser buscada por

todos os filhos de Deus, e temos visto que esta

consiste principalmente na paciência de Deus

implantada em nós, de forma a aprendermos a

19

sermos tardios para nos irarmos, ou seja, a

sermos longânimos como é o próprio Senhor.

Todavia, não há atributo divino que seja mais

desconsiderado pela Igreja de nossos dias do

que este que nos é tão recomendado e

ordenado pelas Escrituras.

É aos mansos que é prometida a bem-

aventurança da posse final da terra.

É aos pacificadores que se refere a bem-

aventurança de serem conhecidos pelo mundo

como filhos de Deus, em face do seu

testemunho em suportar com paciência as

injúrias que sofrem por causa do seu amor a

Cristo.

São estes, que segundo a promessa do Senhor,

poderão exultar em espírito e muito se

alegrarem nas injúrias e perseguições que

receberem por causa do seu procedimento

santo.

Nosso Senhor nos ordena a aprendermos da Sua

humildade e mansidão, por tomarmos sobre

nós o seu fardo e jugo, que é aquilo que ele nos

20

impõe como dever de obediência (jugo) e de

trabalho (fardo).

Mas, quão pouco é visto deste comportamento

genuinamente cristão em nossos dias.

A vinha do Senhor tem esta tendência a se

degenerar, apesar da sua vocação para ser uma

vinha excelente. Todavia, importa, uma vez

esclarecido o nosso entendimento quanto à

verdade bíblica que nos ensina acerca da

vontade de Deus, buscarmos a restauração

prometida, para que possamos produzir os

devidos frutos para a Sua exclusiva glória.

A vocação:

Ezequiel 17.8 Numa boa terra, junto a muitas

águas, estava ela plantada, para produzir

ramos, e para dar fruto, a fim de que fosse

videira excelente.

A degeneração:

Jeremias 2.21 Todavia eu mesmo te plantei

como vide excelente, uma semente

inteiramente fiel; como, pois, te tornaste para

mim uma planta degenerada, de vida estranha?

21

A restauração:

23 No monte alto de Israel o plantarei; e

produzirá ramos, e dará fruto, e se fará um

cedro excelente. Habitarão debaixo dele aves de

toda a sorte; à sombra dos seus ramos

habitarão.

Muito da degeneração que é produzida na vinha

do Senhor, a saber, na sua igreja, é produzida

pelo pensamento incorreto de que é possível

sustentar um bom testemunho enquanto se

abriga iras, dissensões, amarguras e toda sorte

de impureza espiritual, reveladas num

comportamento em que há gritarias e irritações,

como se houvesse ocasiões em que tais

comportamentos fossem justificados.

Então, com os lábios se glorifica a Deus e

também se amaldiçoa os homens. Em nome do

zelo pela justiça, sentimentos implacáveis e

rancorosos são despejados sobre aqueles que

pratiquem males ou que nos contrariem.

Não é sem razão que haja tantas exortações na

Bíblia no sentido de se banir definitivamente

estas coisas da nossa vida, para que possa haver

22

um real testemunho que manifeste ao mundo

que somos de fato discípulos de Cristo.

Efésios 4.30 E não entristeçais o Espírito Santo

de Deus, no qual fostes selados para o dia da

redenção.

31 Toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e

blasfêmia sejam tiradas dentre vós, bem como

toda a malícia.

32 Antes sede bondosos uns para com os

outros, compassivos, perdoando-vos uns aos

outros, como também Deus vos perdoou em

Cristo.

Seria sem motivo que o Senhor nos ordenou a

perdoar setenta vezes sete? Que oremos pelos

nossos perseguidores? Que não amaldiçoemos

os que nos amaldiçoam, senão que os

abençoemos? Que amemos os nossos inimigos?

Que não resistamos ao perversos, mas que

estejamos dispostos a oferecer a outra face a

quem nos agrida?

Não é meramente por sermos crentes que

somos perseguidos, mas quando manifestamos

as virtudes destacadas no Sermão do Monte em

23

nossa vida. Sempre precipitará alguma forma de

resistência ou perseguição quando vivemos de

maneira verdadeiramente piedosa, pois a carne

sempre se levanta contra o Espírito. Por isso

somos recomendados a ser pacientes nas

perseguições que sofremos e até mesmo a

exultar nelas porque elas evidenciam que

estamos de fato vivendo no centro da vontade

de Deus. É a manifestação desta vida divina no

crente que o inferno persegue e odeia.

Não obstante, foi pelo meio de prever e permitir

que nos sobrevenham todas estas provações,

em forma de tribulações, tentações, angústias

infernais ou não, que somos aperfeiçoados na

paciência, que segundo o apóstolo Tiago deve

ter o seu trabalho perfeito, em nada faltando,

ou seja, devemos aprender juntamente com o

apóstolo Paulo a nos gloriarmos nas próprias

tribulações, sabendo que é por meio delas que

o Senhor pode operar em nós a paciência cristã,

e esta uma vez tendo sido incorporada ao nosso

ser, nos conduzirá à experiência de que o

Senhor é poderoso e bom, estando habilitados

a fazer enfim a Sua obra, e assim, procedendo,

a esperança da glória futura será uma firme

convicção cada vez mais forte em nós, em razão

24

do trabalho de Deus que observamos sendo

realizado em nossas próprias vidas.

Daí se dizer, no contexto de uma criação que

geme, que todas as coisas cooperam

juntamente para o bem daqueles que amam a

Deus.

Remova-se a tribulação, e com ela ter-se-á ido o

nosso crescimento espiritual em santificação.

Não é à toa que se afirma que importa

entrarmos no Reino de Deus por meio de muitas

tribulações, e que devemos ter por motivo de

toda a alegria sermos provados por várias

tentações.

A provação da fé é preciosa aos olhos de Deus

porque produz vasos de honra para a Sua glória,

que tendo sido purificados estão habilitados

para toda a boa obra.

A graça é fortificada em nós conforme a

paciência com que enfrentamos toda a sorte de

resistência que se levanta contra o trabalho de

Deus na nossa vida. Em alguma medida seremos

participantes dos sofrimentos de Cristo para

que sejamos glorificados juntamente com Ele.

25

Importa estarmos identificados em tudo à

Cabeça, tanto no que se refere aos sofrimentos

quanto à glória. Se sofrermos com ele, com ele

também reinaremos, e é na paciência que

ganhamos as nossas almas. Aquela mesma

paciência que Ele demonstrou abundantemente

em seu ministério terreno, e pela qual foi

imitado por seus apóstolos.

Importa, portanto, fazer silenciar os anseios da

mente carnal, e ter a prontidão de se agradar ao

Senhor por ficarmos quietos e sossegados em

meio às situações que nos afligem, para que

possamos aprender dele a verdadeira

sabedoria, e conhecer a plenitude do seu poder

para nos guardar e conduzir no caminho

elevado da santidade.

A sabedoria divina em nós levar-nos-á sempre a

detestar o mal e a amar o bem. E isso sucede

quando andamos de fato no temor do Senhor,

ou seja, quando tememos pecar para não

entristecer o Espírito, e buscamos tudo fazer

segundo a Sua vontade, para que possa se

agradar de nós, pois somente assim podemos

estar habilitados a dar o bom testemunho que

glorifica o seu santo nome.

26

Jó 28.28 E disse ao homem: Eis que o temor do

Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o

entendimento.

I Coríntios 1.19 porque está escrito: Destruirei

a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a sabedoria

o entendimento dos entendidos.

20 Onde está o sábio? Onde o escriba? Onde o

questionador deste século? Porventura não

tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?

21 Visto como na sabedoria de Deus o mundo

pela sua sabedoria não conheceu a Deus,

aprouve a Deus salvar pela loucura da pregação

os que creem.

Salmo 51.6 Eis que desejas que a verdade esteja

no íntimo; faze-me, pois, conhecer a sabedoria

no secreto da minha alma.

Provérbios 2.6 Porque o Senhor dá a sabedoria;

da sua boca procedem o conhecimento e o

entendimento;

7 ele reserva a verdadeira sabedoria para os

retos; e escudo para os que caminham em

integridade,

27

8 guardando-lhes as veredas da justiça, e

preservando o caminho dos seus santos.

9 Então entenderás a retidão, a justiça, a

equidade, e todas as boas veredas.

10 Pois a sabedoria entrará no teu coração, e o

conhecimento será aprazível à tua alma;

Provérbios 4.7 A sabedoria é a coisa principal;

adquire, pois, a sabedoria; sim, com tudo o que

possuis adquire o entendimento.

Provérbios 8.12 Eu, a sabedoria, habito com a

prudência, e possuo o conhecimento e a

discrição.

Daniel 2.20 Disse Daniel: Seja bendito o nome

de Deus para todo o sempre, porque são dele a

sabedoria e a força.

21 Ele muda os tempos e as estações; ele

remove os reis e estabelece os reis; é ele quem

dá a sabedoria aos sábios e o entendimento aos

entendidos.

22 Ele revela o profundo e o escondido; conhece

o que está em trevas, e com ele mora a luz.

28

I Coríntios 3.19 Porque a sabedoria deste

mundo é loucura diante de Deus; pois está

escrito: Ele apanha os sábios na sua própria

astúcia;

20 e outra vez: O Senhor conhece as cogitações

dos sábios, que são vãs.

Por estes e por muitos outros textos da Palavra

somos concitados a buscar a sabedoria que é do

alto, a saber que procede de Deus e que é

incorporada no nosso viver transformando-nos

à Sua imagem e semelhança, segundo o

propósito para o qual nos criou.

Sendo Deus espírito, importa que seja

conhecido e adorado também em espírito, e isto

deve ser feito segundo a verdade revelada nas

Escrituras.

Como carregamos, ainda que crentes, o velho

homem do qual devemos nos despojar

diariamente, faremos bem em seguir a

ordenança bíblica pela qual somos exortados a

nos despojarmos não apenas do velho homem,

mas a nos revestirmos do novo, por um andar

constante no Espírito, de modo que não

29

sigamos a inclinação da carne, pois a carne para

nada aproveita, e somente o espírito vivifica. Em

outras palavras, por sermos espirituais, e não

carnais.

Ser espiritual é uma necessidade vital, pois é a

única forma de agradarmos a Deus e termos real

comunhão com ele. Não é possível discernir

sequer a Sua vontade que é boa, perfeita e

agradável, caso não sejamos espirituais.

Daí as ordenanças como as seguintes:

Romanos 8.5 Pois os que são segundo a carne

inclinam-se para as coisas da carne; mas os que

são segundo o Espírito para as coisas do

Espírito.

6 Porque a inclinação da carne é morte; mas a

inclinação do Espírito é vida e paz.

7 Porquanto a inclinação da carne é inimizade

contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus,

nem em verdade o pode ser;

8 e os que estão na carne não podem agradar a

Deus.

30

9 Vós, porém, não estais na carne, mas no

Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em

vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de

Cristo, esse tal não é dele.

10 Ora, se Cristo está em vós, o corpo, na

verdade, está morto por causa do pecado, mas

o espírito vive por causa da justiça.

11 E, se o Espírito daquele que dos mortos

ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que

dos mortos ressuscitou a Cristo Jesus há de

vivificar também os vossos corpos mortais, pelo

seu Espírito que em vós habita.

12 Portanto, irmãos, somos devedores, não à

carne para vivermos segundo a carne;

13 porque se viverdes segundo a carne, haveis

de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes

as obras do corpo, vivereis.

14 Pois todos os que são guiados pelo Espírito

de Deus, esses são filhos de Deus.

Romanos 12.1 Rogo-vos pois, irmãos, pela

compaixão de Deus, que apresenteis os vossos

31

corpos como um sacrifício vivo, santo e

agradável a Deus, que é o vosso culto racional.

2 E não vos conformeis a este mundo, mas

transformai-vos pela renovação da vossa mente,

para que experimenteis qual seja a boa,

agradável, e perfeita vontade de Deus.

Efésios 4.20 Mas vós não aprendestes assim a

Cristo.

21 se é que o ouvistes, e nele fostes instruídos,

conforme é a verdade em Jesus,

22 a despojar-vos, quanto ao procedimento

anterior, do velho homem, que se corrompe

pelas concupiscências do engano;

23 a vos renovar no espírito da vossa mente;

24 e a vos revestir do novo homem, que

segundo Deus foi criado em verdadeira justiça e

santidade.

25 Pelo que deixai a mentira, e falai a verdade

cada um com o seu próximo, pois somos

membros uns dos outros.

32

26 Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol

sobre a vossa ira;

27 nem deis lugar ao Diabo.

Gálatas 5.13 Porque vós, irmãos, fostes

chamados à liberdade. Mas não useis da

liberdade para dar ocasião à carne, antes pelo

amor servi-vos uns aos outros.

14 Pois toda a lei se cumpre numa só palavra, a

saber: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.

15 Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns

aos outros, vede não vos consumais uns aos

outros.

16 Digo, porém: Andai pelo Espírito, e não

haveis de cumprir a cobiça da carne.

17 Porque a carne luta contra o Espírito, e o

Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao

outro, para que não façais o que quereis.

18 Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais

debaixo da lei.

33

19 Ora, as obras da carne são manifestas, as

quais são: a prostituição, a impureza, a lascívia,

20 a idolatria, a feitiçaria, as inimizades, as

contendas, os ciúmes, as iras, as facções, as

dissensões, os partidos,

21 as invejas, as bebedices, as orgias, e coisas

semelhantes a estas, contra as quais vos

previno, como já antes vos preveni, que os que

tais coisas praticam não herdarão o reino de

Deus.

22 Mas o fruto do Espírito é: o amor, o gozo, a

paz, a longanimidade, a benignidade, a

bondade, a fidelidade.

23 a mansidão, o domínio próprio; contra estas

coisas não há lei.

24 E os que são de Cristo Jesus crucificaram a

carne com as suas paixões e concupiscências.

25 Se vivemos pelo Espírito, andemos também

pelo Espírito.

34

Agora, de quantas outras virtudes é composta a

excelência do caráter cristão, além da paciência

a que temos tanto nos referido?

São tantas que não podem ser esgotadas assim

como é o caráter infinito do próprio Criador.

Quanto pode ser dito sobre a fé, o domínio

próprio, o amor, a humildade, a justiça, a

mansidão, a verdade, a bondade, a misericórdia,

e tudo o mais que faz parte da Pessoa de Jesus

Cristo?

É de tal ordem e importância tudo o que deve

ser considerado no viver cristão que o apóstolo

chama o episcopado (a superintendência da

Igreja) de obra excelente, porque se exige o

mesmo caráter excelente daqueles que aspiram

à referida obra.

Em tudo isso, o que se tem em vista é antes de

tudo o trabalho transformador de Deus em

nossa alma e espirito, qualificando-nos para a

obra do ministério, de maneira que se a falta de

excelência pode ser suportada em alguns

membros da Igreja, todavia, esta não deve faltar

na pessoa dos ministros do evangelho, pois são

35

colocados antes de tudo para serem modelos

para o rebanho.

É pelo que se vê principalmente em suas

próprias vidas, em todo o seu comportamento

santo, que os que se encontram debaixo do seu

cuidado pastoral aprenderão o que convém a

serem imitadores de Cristo, assim como os seus

pastores o imitam em suas próprias vidas.

Vemos assim, que o que se requer é muito mais

do que mera exposição da sã ortodoxia, que se

resumindo em palavras e não espelhando a

santidade de Deus incorporada à vida, soará

como letra morta aos ouvintes.

Além das virtudes chamadas passivas que se

referem ao trabalho do Espírito na santificação

voltada para a renovação e restauração do

nosso interior, há também as virtudes ativas que

são demonstradas sobretudo em nossas ações

exteriores, no cumprimento das ordenanças,

sobretudo daquelas relativas às obras

manifestadas em benefício do nosso próximo, e

especialmente dos domésticos da fé.

36

Como Paulo perguntamos: quem é suficiente

para estas coisas? A não ser pela capacitação da

graça de Jesus, sem quem nada podemos fazer?

Esta é uma obra do céu e não da terra. É operada

por meio da nova criatura que deve crescer em

santidade a cada dia, pela instrumentalidade da

Palavra de Deus implantada pelo Espírito Santo.

Que o Senhor abra o nosso coração para receber

com mansidão a Palavra pela qual nos é dado

crescimento até a plenitude de varão perfeito.

De graça sobre graça, de fé em fé, de glória em

glória, somos transformados na mesma

imagem, como pelo Espírito do Senhor.

Que o Senhor nos confirme em toda a boa

palavra e obra, de modo que se veja em nós a

excelência de toda a sua bondade, misericórdia

e amor para conosco em Cristo Jesus, estando

instruídos de antemão, que isto não é possível

sem que antes haja uma consagração real de

nossas vidas à Sua santa vontade.

A tal respeito somos ensinados didaticamente

na forma com que os dez mandamentos foram

promulgados, sendo inscrito em duas tábuas,

sendo que na primeira são descritos os deveres

37

para com o próprio Deus, de forma a

entendermos que ele deve ser buscado em

primeiro lugar, o seu reino, a sua justiça, e na

segunda os deveres para com o próximo, que

não deixam de ser também deveres para com

Deus.

Se não houver vida real e espiritual decorrente

da comunhão com o Senhor, tudo o mais será

em vão na religião. Nenhuma boa obra pode ser

assim designada caso não seja feita em Deus,

em fé e em amor, gerados pelo Espírito Santo.

Não se pode representar devidamente a tão

elevado Ser caso não conheçamos o seu caráter.

E, como temos visto, tal caráter não pode ser

conhecido aparte do trabalho do Espírito Santo

em iluminação do nosso entendimento, no

fortalecimento do homem interior, para que

possamos conhecer as coisas que importam ser

conhecidas experimentalmente na própria vida,

numa mente renovada pela Palavra e pelo

Espírito Santo.

A falta deste conhecimento do caráter de Deus

é a principal causa de ser oferecido tanto culto

de adoração ou mesmo serviço em seu nome,

38

que começam na carne e terminam na carne, e

deste modo para nada aproveita, pois tudo o

que a carne pode gerar é carne. Somente aquilo

que é nascido do espírito e gerado pelo espírito

pode ser aceitável a Deus como culto racional e

oferta de aroma agradável.

Tudo isto se reflete não somente nos atos dos

crentes como também na sua forma de

conversação, pois daquilo que o coração está

cheio a boca fala.

Conhece-se a árvore pelo tipo de fruto que ele

dá. De uma fonte boa não pode fluir água

amarga, e nem de fonte má, água potável. Faça-

se bom o coração e o fruto dos lábios também

será bom.

Quando não se leva em conta estas verdades

bíblicas na formação de nossa conduta e

caráter, é inevitável que não será possível ser

visto em nós um caminhar que seja agradável

ao Senhor, pois como temos aprendido, este

caráter e conduta santos são forjados em nós,

sempre pela purificação e renovação que são

operadas pela Palavra de Deus e pela operação

do Espírito Santo.

39

O iracundo se justificará como piedoso pelo fato

de estar empenhado nos trabalhos de sua

igreja? O que assenta tijolos no edifício do

templo será considerado santo pelo trabalho

que realiza, quando não anda em conformidade

com as ordenanças de Cristo?

Toda forma de trabalho realizado debaixo do

nome de Deus, sem que haja uma real

consagração da vida à santificação que é

ordenada na Palavra, não pode ser classificado

como forma de se tomar o Seu santo nome em

vão?

Não importa que o nome do Senhor seja

santificado na terra da mesma forma como é

santificado no céu pelos anjos, arcanjos,

querubins e serafins e pelos espíritos dos

santos aperfeiçoados?

Quando revelou os mandamentos através de

Moisés o Senhor declarou que não teria por

inocente aquele que tomasse o seu nome em

vão.

E ao nos advertir que devemos viver para a Sua

glória, e adorar exclusivamente a ele, interpôs a

40

advertência de que visita a iniquidade dos pais

nos filhos até a terceira e quarta geração, como

forma de punição à desobediência ao

mandamento, e ao mesmo tempo apresentou o

encorajamento à fidelidade pela promessa de

fazer misericórdia até mil gerações daqueles

que o amam e guardam os seus mandamentos.

Estas palavras foram proferidas na sequência

das ameaças contra a idolatria, de modo que

pontualmente consideradas sendo aplicadas à

nação de Israel, visava alertar-lhes que a prática

da idolatria culminaria com a fixação de juízos

que viriam a ser promulgados em razão do

desvio de uma geração, e cuja execução

ocorreria, segundo a deliberação de Deus, na

terceira ou quarta geração depois deles. Isto

está claramente exemplificado em várias

passagens bíblicas e especialmente na ida do

povo para o cativeiro nos dias dos reis de Israel,

quando o rei de Babilônia foi o executor do juízo

nos dias do rei Zedequias, do juízo determinado

pelo Senhor desde os dias do rei Manassés de

Judá, muitos anos antes, conforme se lê em II

Reis 24.3,4: “E, na verdade, conforme o

mandado do Senhor, assim sucedeu a Judá, para

o afastar da sua presença por causa dos

41

pecados de Manassés, conforme tudo quanto

fizera.

Como também por causa do sangue inocente

que derramou; pois encheu a Jerusalém de

sangue inocente; e por isso o Senhor não quis

perdoar.”

Vemos assim que a iniquidade da geração dos

dias de Manassés teve a execução do juízo

predeterminado pelo Senhor somente muitos

anos depois, por causa da Sua longanimidade.

Isto sucedeu às gerações seguintes conforme a

promessa de visitar a iniquidade dos pais nos

filhos.

Agora, quanto a fazer misericórdia até mil

gerações daqueles que o amam e guardam os

seus mandamentos, vemos isto também sendo

exemplificado na prática em muitas passagens

bíblicas, mas é digno de nota o caso do rei Davi,

cuja fidelidade e amor ao Senhor são declarados

por Ele como sendo a causa de ter sido

misericordioso para com muitos dos seus

descendentes, e que o fazia não por causa deles

que mal procederam perante Ele, mas por amor

do Seu servo Davi:

42

Porque eu ampararei esta cidade, para livrá-la,

por amor de mim e por amor do meu servo Davi.

Isaías 37.25

Porque eu ampararei a esta cidade, para a

livrar, por amor de mim e por amor do meu

servo Davi. 2 Reis 19.34

Porém todo o reino não rasgarei; uma tribo

darei a teu filho, por amor de meu servo Davi, e

por amor a Jerusalém, que tenho escolhido. 1

Reis 11.13.

O amor verdadeiro ao Senhor, conforme

confirmado por Jesus, é de fato por se guardar

os seus mandamentos. É pelo nosso empenho

sincero em aprender e guardar os seus

mandamentos que somos agradáveis a ele, e

não pelos meros louvores de nossos lábios, que

podem, como é comum ocorrer, não estarem de

acordo com o nosso caráter e comportamento.

Jesus nos exorta a permanecermos nele para

que ele permaneça em nós; se o buscarmos se

deixará achar; em caso contrário, não o

acharemos, e assim, ficarmos desprovidos da

vida santa e espiritual que nos torna excelentes

em nossa vida e ministério.

43

Disto tudo aprendemos que é simplesmente

impossível seguir a Cristo e imitá-lo sem

autonegação. Se o ego não for negado e

crucificado não podemos conhecer a vida

ressurreta, poderosa em Deus e cheia de amor,

paciência e de todo o fruto do Espírito.

Quando somos desmamados do mundo,

quando não buscamos mais o nosso apoio e

felicidade na criatura, mas quando temos

somente todo o nosso amparo e regozijo no

Senhor, isto é um bom sinal do avanço da obra

da graça em nosso coração, preparando-nos

para aquela excelência do conhecimento real do

que é celestial, espiritual e divino.

Quando, como Paulo, temos prazer nas injúrias,

nas necessidades, nas perseguições, por amor a

Cristo e ao evangelho, é então que podemos

conhecer a manifestação do poder de Deus em

nossa fraqueza, capacitando-nos a suportar

tudo com paciência, amor e fé em nosso

coração, estando habilitados a perdoar e a

evangelizar os pecadores pelo bom testemunho

de um coração perdoador e profundamente

interessado na salvação do perdido, assim como

é o coração do próprio Cristo.

44

Já não temeremos mal algum no vale da sombra

e da morte pois sabemos que o Senhor caminha

conosco, e já não teremos nossas vidas

preciosas a nossos próprios olhos, pois

sabemos que temos alcançado a vida eterna e

que nada mais poderá nos separar do amor de

Deus que se manifestou a nós em Cristo Jesus,

e que importa gastar o nosso tempo e trabalho

em prol da salvação e edificação dos pecadores.

Deus quer se prover de muitos filhos, e estes

filhos são gerados pelo trabalho de pregação da

Palavra em vidas santificadas.

Conscientes disso podemos dizer juntamente

com o profeta Isaías: “Eis-me aqui Senhor, envia-

me a mim”; ou com o apóstolo Paulo: “Senhor o

que queres que eu faça?”

Em tudo e em todas as áreas será o nosso desejo

ver Deus glorificado através do nosso

testemunho, quer no casamento, quer no

trabalho, na escola, na igreja ou onde for.

A vida cristã não será um anexo para ser

observada apenas no no Dia do Senhor, mas a

razão da própria vida e de tudo o que formos e

45

fizermos. Nosso desejo será sempre o de ser o

bom aroma de Cristo tanto nos que se salvam

quanto nos que se perdem. Será nosso desejo

que em tudo seja Cristo engrandecido quer pela

nossa vida ou pela nossa morte.

A vida que temos agora e sempre é pela fé no

Filho de Deus, de modo que não vivemos mais

para nós mesmos mas por Aquele que morreu e

se entregou por nós, para que fôssemos

recuperados para aquela vida de santidade que

Deus planejou para os seus filhos, desde antes

da fundação do mundo.

De tal ordem é o crescimento em excelência

espiritual depende da comunhão pessoal com

Cristo que pouco progresso será feito na

medida em que for também negligenciada a

vida de oração, pois é por este meio designado

que nos comunicamos com Deus e ele conosco.

É na nossa comunhão com o Senhor em espírito

que o trabalho de transformação e crescimento

é realizado em nós. É muito mais por se

contemplar a santidade do Senhor em espírito

que somos santificados, assim como o rosto de

Moisés brilhava depois de ter estado na

presença de Deus no Monte Sinai.

46

É pela meditação das coisas divinas em espírito

que somos amoldados ao seu caráter, assim

como a imagem é refletida em um espelho ou

uma moeda cunhada em um molde.

Há assim um molde de doutrina ao qual somos

entregues, e que é o único que é capaz de nos

levar a sermos conformados à imagem de Deus.

Por nenhum outro meio este trabalho pode ser

realizado, de maneira que aquele que não

estiver disposto a se purificar e a confessar os

seus pecados para que seja digno de entrar na

presença do Altíssimo, jamais poderá

contemplar a sua face, ainda que como por

espelho, de modo a ser transformado.

Na verdade, aleijões espirituais são encontrados

aos montes pela falta dessa disposição de

buscar a face do Senhor com um coração

sincero, e que esteja também disposto a pagar

o preço da consagração que for necessária para

obter ainda que seja uma gota do favor celestial

em sua vida.

Por esta medida podemos verificar de quanta

busca egoísta, carnal, e por conseguinte,

contrária à vontade de Deus, está cheia a

47

religião moderna, onde se busca o que é do

próprio interesse e não o que é do Senhor, onde

o que se deseja é receber uma bênção e não ser

uma bênção nas mãos de Deus para um mundo

em trevas.

Acrescente-se a isso o amor aos prazeres, e até

mesmo às coisas deste mundo e desta vida que

são lícitas em si mesmas, mas que agem como

pesos que impedem uma real consagração ao

Senhor, uma vez que elas ocupam inteiramente

o coração, agindo como coisas idolatradas, sem

abrir espaço e tempo para se dedicar às coisas

que são espirituais, celestiais e divinas.

São os milhões de Laodiceia que são cegos,

pobres, miseráveis e nus na religião, que no

entanto se consideram o oposto de tudo isso, e

que pensam nada mais necessitarem para

agradarem a Deus.

São os milhões de Sardes que têm a forma de

piedade mas que lhe negam o poder porque

estão como mortos espirituais diante do Senhor.

Como estão mortos não podem ter um gosto e

fome pelo pão espiritual que desceu do céu, e

tudo o que fazem está relacionado aos seus

48

interesses pelas coisas que são visíveis e

passageiras.

Outros estão enlaçados em entretenimentos

que conquistaram completamente a dedicação

do seu tempo e seus corações, de forma que

não estariam dispostos a reservar tempo para

tocar a vida da forma que é recomendada nas

Escrituras, buscando ser úteis nas mãos do

Senhor para o benefício dos seus próximos.

Mas, bem-aventurados são todos aqueles que

entre eles se arrependem por ouvir o que o

Espírito está dizendo às igrejas, para que

corram a carreira da vida cristã com

perseverança, renunciando ao pecado e a todos

os pesos que impedem a sua corrida.

Aos que vencerem o mundo são feitas

promessas preciosas que deveriam ser

devidamente consideradas.

Com que poderiam ser comparadas as

renúncias ao mundo e aos desejos carnais

pecaminosos, que são breves e passageiros,

com a vida eterna e imarcescível que é

prometida ao crente no porvir?

49

Com que poderiam ser comparadas as

tribulações suportadas com paciência, e pelas

quais teriam a transformação do seu caráter à

imagem e semelhança ao de Cristo, com as

facilidades e coisas deste mundo que produzem

um viver indolente e indiferente à vontade de

Deus?

Porém, estas realidades não podem ser

conhecidas por argumentos persuasivos, pois

estão disponíveis apenas àqueles que as

experimentarem por terem se decidido a

mergulhar no oceano do conhecimento de

Deus.

As coisas espirituais são reveladas aos

pequeninos, aos que se humilham, aos que

pedem, batem à porta e que as buscam de todo

o coração, e permanecem vedadas àqueles que

não lhes dão o devido valor.

A pérola de grande valor não será achada se não

for procurada diligentemente.

A cegueira espiritual não será curada se não

comprarmos pela consagração o colírio que

somente Jesus pode vender.

50

Nossa nudez não pode ser vestida a não ser pela

veste de justiça de Jesus.

Enquanto o nosso cálice estiver cheio de nós

mesmos e de nossa vontade carnal e caprichosa,

jamais poderá ser enchido com a graça de Deus.

Há uma excelência de poder que é o próprio

Espírito Santo que pode habitar em vasos de

barro como nós, mas somente em vasos que

estiverem limpos pela Palavra de Cristo; de

modo que a excelência do poder não é

propriamente nossa, mas de Deus.

Assim, Paulo, ao dizer que não era inferior aos

mais excelentes apóstolos, por duas vezes, fez

questão de afirmar “ainda que nada sou”,

reconhecendo que tudo o que fazia era pela

graça de Cristo que o capacitava, e muito além

disso, sabia que foi justificado pela justiça do

Senhor, uma vez que se considerava o principal

dos pecadores.

II Coríntios 11.5 Ora, julgo que em nada tenho

sido inferior aos mais excelentes apóstolos.

II Coríntios 12.11 Tornei-me insensato; vós a

isso me obrigastes; porque eu devia ser louvado

51

por vós, visto que em nada fui inferior aos

demais excelentes apóstolos, ainda que nada

sou.

É completamente justo que Deus perdoe

aqueles que se arrependem e entreguem suas

vidas a Cristo para serem regenerados e

santificados, pois a exigência da justiça divina

foi inteiramente satisfeita quando Jesus morreu

no lugar do pecador carregando sobre si os

pecados deles na cruz.

A excelência é portanto do Senhor e não

propriamente nossa, pecadores que somos e

que nos encontrávamos sujeitos a uma

condenação eterna.

A obra de Jesus em nosso favor é a razão de

Deus poder ser longânimo para com o pecador,

e isto desde o pecado do próprio Adão, pois, o

sacrifício de Jesus tem os seus efeitos aplicáveis

desde a fundação do mundo.

Desta forma, buscar a excelência é buscar o

próprio Cristo, pois quanto mais se tem da sua

vida divina mais excelente somos, a par de

52

termos que dizer e reconhecer como Paulo:

“ainda que nada somos”.

Glórias sejam dadas a Deus por sua infinita

sabedoria, pois por este modo de sermos

restaurados e conduzidos à perfeição fica

excluída toda a possibilidade de jactância.

Todos somos obrigados a reconhecer que toda

a glória, honra e louvor pertencer

exclusivamente ao Senhor.

Tudo foi criado por meio de Cristo e para ele, de

modo que ao não reconhecerem e aceitarem o

seu domínio muitos anjos caíram e se tornaram

demônios, e em sua rebelião vieram a conhecer

que é impossível ter a vida santa e justa que é

mantida e sustentada somente por Jesus,

porque detém a primazia sobre todas as coisas.

Todo ser moral que se encontrar separado dele

está morto para a vida de Deus, pois esta é

encontra somente nele.

Quando, então, aqueles que entre os homens se

reconhecem afastados da vida santa de Deus e

recorrem a Cristo para serem perdoados e

justificados pela Sua Justiça, conforme Ele tem

53

prometido, estes acharão e terão a vida eterna,

pois voltaram à sua fonte, a fonte de água viva

que sacia a nossa sede para sempre, e que nos

lava de toda impureza.