elisabeth rochadel torresini - editora globo

76
Editora Globo

Upload: juanprez2677

Post on 26-Jul-2015

93 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Editora Globo

Page 2: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Coleção Memória Editorial 1

[ESP

| e d u s P

Universidade de São Paulo Reitor: Jacqucs Marcovitch Vice-reitor: Adolpho Jose Melfi

Editora da Universidade de São Paulo Presidente: Plinio Martins Filho (Pro-temporc) Comissão Editorial: Plinio Martins Filho (Presidente pro-temporc)

José Mindlin Oswaldo Paulo Forattini Tupã Gomes Corrêa

Diretora Editorial: Silvana Biral Diretora Comercial: Eliana Urabayashi Diretor Administrativo: Renato Calbucci Edilora-assislente: Cristina Fino

ü Editora Laboratório do Curso de Editoração Departamento de Jornalismo c Editoração da Universidade de São Paulo Chefe: Jair Borin Suplente: Elizabeth Saad Corrêa Coordenação: Plinio Martins Filho Professores: Plinio Martins Filho

Maria Otilia Bocchini Ricardo Amadeo Jr.

1 UNIVERSIDADE J FEDERAL DO RIO ' GRANDE DO SUL

Universidade Federal do Rio Grande do Sul Reitora: Wrana Maria Panizzi Vice-Reitor: Nilton Rodrigues Paim Pró-Reitor de Extensão: Luiz Fernando Coelho de Souza Vice-Pró-Reitora de Extensão: Rosa Blanco

i Editora da Universidade

Editora da Universidade Federal do Rio Cirande do Sul Diretor: Geraldo F. Huff Conselho Editorial: Geraldo F. Huff (Presidente)

Anna Carolina K. P. Regner Christa Berger Eloir Paulo Schenkel Georgina Bond-Buckup José Antonio Costa Livio Amaral Luiza Helena Malta Moll Maria da Graça Krieger Maria Heloísa Lenz Paulo G. Fagundes Vizentini

Page 3: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Elisabeth Rochadel Torresini

Editora Globo

Urna aventura editorial nos anos 30 e 40

Ied u s P B ÀRTÎÎ da Universidad

I 1 llwenaadt F«d«l do Ho Gianoe ÚO Stf

Page 4: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

àute^uc L

fáf Copyright© 1999 by Elisabeth Rochadel Torresini

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Torresini, Elisabeth Wenhausen Rochadel Editora Globo: Uma Aventura Editorial nos Anos 30 e 40 /

Elisabeth Torresini. - São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Com-Arte; Porto Alegre: Editora da Universidade/ UFRGS, 1999. (Memória Editorial, 1)

Bibliografia ISBN 85-314-0474-6 (Edusp) ISBN 85-7025-389-3 (Editora da Universidade/UFRGS)

1. Editora Globo - História 2. Editores e Indústria Edito-rial - Brasil - História I. Título.

98-4110 CDD-070.50981

índices para catálogo sistemático: 1. Editora Globo: História: Brasil 070.50981

Direitos reservados à

Edusp - Editora da Universidade de São Paulo Av. Prof. Luciano Gualberto, TravessaJ, 374 6Q andar - Ed. da Antiga Reitoria - Cidade Universitária 05508-900 - São Paulo - SP - Brasil - Fax (Oxxll) 818-4151 Tel.: (Oxxll) 81&4008 / 818-4150 www.usp.br/edusp - e-mail: [email protected]

Com-Arte - Editora Laboratório do Curso de Editoração Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443 - Bloco A - Sala 10 05508-900 - São Paulo - SP - Brasil - Fax: (Oxxl 1) 814-1324 Tel.: (Oxxl 1) 818-4087 - e-mail: [email protected]

Editora da Universidade/UFRGS Av. João Pessoa, 415 90040-000 - Porto Alegre - RS - Brasil Tel./Fax: (0xx51) 224-8821 / 316-4090 www.ufrgs.br/editora - e-mail: editora@orion .ufrgs.br

Printed in Brazil 1999

f

Foi feito o depósito legal

Page 5: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Para Fonso, Angela e Denise, meus irmãos e primeiros companheiros.

Judilh e Ildefonso, meus pais, cuja crença no "Boi de Mamão do Pedro Rila "

é algo inabalável. Ronaldo, Lourenço e Guilherme,

pelos quais vale tanto a pena lutar.

Page 6: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo
Page 7: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 11

AGRADECIMENTOS 13

INTRODUÇÃO 15

CAPITALISMO E INDÚSTRIA CULTURAL 19

A Indústria Cultural e o Processo de Industrialização no Brasil 19 A Produção Industrial de Livros 25 A Produção de Livros no Brasil: Breve Histórico 28

O RIO GRANDE DO SUL NAS DÉCADAS DE 1920 E 1930 37 Industrialização e Ensino no Rio Grande do Sul 37 Rua da Praia: A Sala de Visita de uma Capital 43

A EDITORA GLOBO 55 Os Primórdios da Globo e a Conquista do Mercado Rio-grandense: Fase Mansueto Bernardi 55 Em Busca do Mercado Nacional: Fase Erico Verissimo e Henrique Bertaso 67

GLOBO: UM NOME NACIONAL 83 A Busca do Prestígio 83

Page 8: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

A Fase da Consolidação 86

CONCLUSÃO 107

BIBLIOGRAFIA 113

Editora Globo

Page 9: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

APRESENTAÇÃO

Editores e livros sempre dão boas histórias, pois o conteúdo fascinante destes tende a se confundir com a atividade produtiva daqueles. Não é outro o caso do trabalho de Elisabeth Torresini, que decide registrar o percurso de for-mação da Editora Globo desde seus primórdios, como seção especial da Livra-ria do Globo, até o final da década de 40, auge de seu fundo editorial.

De início, situa o surgimento e avanços técnicos da Globo no cenário da incipiente indústria cultural do Rio Grande do Sul, na década de 20, entre li-vrarias e modestas tipografias, jun to a um público de classe média recém-cons-tituído nos centros urbanos sulinos. Em seguida, preocupa-se em interpretar esse surto de desenvolvimento do livro em relação ao salto qualitativo do pro-cesso de industrialização brasileira nos anos do governo Vargas, em que a cul-tura de massa aflora na sociedade brasileira antes por razões políticas do que empresariais.

O excepcional acervo de títulos da Globo, reunido entre 1930-1940, quan-do Henrique Bertaso e Erico Veríssimo capitaneavam a Seção Editora, é recu-perado em seus números, datas e espécies, evocando as esmeradas traduções de obras internacionais e as pioneiras edições locais e nacionais, nas diversas áreas do conhecimento e das artes. Autores e títulos, atestados pela pesquisa minuci-osa de Torresini, demonstram o arrojo dos empreendedores Henrique e Erico ao desafiar o mercado, na posição desvantajosa do Rio Grande do Sul no país, e construir uma casa editorial em moldes que nada deviam aos europeus e norte-americanos em tecnologia e qualidade.

Coleções são arroladas, vicissitudes do lado de dentro de uma empresa

Page 10: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

editorial são contadas, muitas vezes na voz de Erico Verissimo e também a par-tir da visão de um dos diretores da Globo, José Otávio Bertaso, bem como de um de seus melhores colaboradores, Maurício Rosenblatt. De fora, vêm os olha-res daqueles que foram publicados pela editora, especialmente Augusto Meyer.

Apoiando-se nesse painel de dados proveniente de fontes tão variadas quanto fidedignas, o livro de Torresini, ao lado de Um Certo Henrique Bertaso, de Verrissimo, e A Globo da Rua da Praia, de Bertaso, passa a integrar o pequeno elenco de textos dedicados a um dos campos mais fortes da indústria de massa no Sul, o dos livros.

Maria da Glória Bordini

Page 11: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

AGRADECIMENTOS

Devo uma parte deste trabalho à competência e à preciosa orientação do professor René E. Gertz, sem as quais eu não teria descoberto empenho para concluir esta tarefa. Em todos os momentos encontrei respostas e uma inesgo-tável objetividade que me fizeram continuar no caminho que levava à conclu-são do trabalho, que foi apresentado em 1988 como conclusão do Curso de Mestrado em História do Brasil na PUCRS.

Devo um sincero agradecimento a José Otávio Bertaso, de quem ouvi in-formações precisas, f ruto de uma memória privilegiada, e histórias divertidíssi-mas, sempre acompanhadas de um vivo interesse por sua editora e por tudo que está ligado a ela.

Aprendi ao longo desses últimos anos, enquanto preparava a pesquisa e o texto, que qualquer atividade, por mais solitária que possa parecer, é marcada por momentos de sincera solidariedade.

Assim foi com o Arnoldo Doberstein, que se dispôs a discutir, nos tem-pos mais difíceis, a forma de delimitar o objeto e definir os caminhos da pes-quisa.

Com a Christa Berger, que se interessou pelo tema com o mesmo carinho com que vem discutindo nos últimos tempos algumas questões essenciais a nos-sa existência de mulheres.

Com a Ana Lúcia Venturella, que, sem eu notar, registrou num bloco os itens e subitens levantados numa distraída conversa sobre a Editora Globo e que se transformaram em valioso roteiro.

Com a Lélia Almeida, que leu comigo o trabalho num tempo de licença-

Page 12: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

gestante entre choros de decisões inadiáveis. A ela devo, também, algumas ho-ras de estímulo e dedicação.

Com Neli Colombo, que me ensinou a passar para quadros estatísticos os dados anotados do Livro de Registros.

Assim foi também com os acadêmicos Marina Naizenreder Ertzogue, Lugon José Levandowski, Rita de Cássia Vecchio Moreira e Jurema Mazuhy Gertze, valentes pesquisadores que fizeram em pouco tempo o que eu, segura-mente, levaria anos.

Agradeço, finalmente, ao Prof. Urbano Zilles que não poupou energia para exigir a conclusão dessa tarefa e a todos os colegas que transformaram suas atitudes em incentivo.

Page 13: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

INTRODUÇÃO

Entre os "novos objetos" da história está o livro. Esta presença deve-se às inúmeras possibilidades que um livro oferece como fonte e objeto de pesquisa, do seu formato e seu valor de mercado, ao conteúdo do texto. O livro pode ser analisado como mercadoria ou signo cultural que transmite sentidos através da imagem ou do texto.

Avaliar a mercadoria livro supõe fazer levantamento econômico com ela-boração de séries, apreciação de circulação, reconstituição de redes e volume de trocas1. Por outro lado, tratar do signo cultural pressupõe muitas vezes fazer uma análise do seu conteúdo literário como espelho ou mesmo contraponto de uma época. Assim, através do livro, pode-se "pensar numa história dos desejos não consumados, dos possíveis não realizados, das idéias não consumidas" presentes nos "agrupamentos humanos que ficaram marginais ao sucesso dos fatos"2.

O presente trabalho não trata do livro-mercadoria, não analisa qualquer conteúdo literário. Dentre as muitas formas que podem ser equacionadas para se fazer história, a escolhida, e que deu origem a esta pesquisa, é a edição de livros.

Desta forma, escolheu-se a Editora Globo e a organização do seu fundo editorial, cujo principal acervo foi selecionado, traduzido, composto, impresso e colocado em circulação entre 1930 e 1948.

1. Roger Chartier e Daniel Roche, "O Livro: Uma Mudança de Perspectiva", em Jacques Le Goff e Pierre Nora, História: Novos Objetos, p. 99.

2. Nicolau Sevcenko, Literatura como Missão: Tensões Sociais e Criação Cultural na Primeira República, pp. 21-22.

Page 14: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

O interesse pela Editora Globo surgiu durante a leitura de Intelectuais e a Classe Dirigente no Brasil (1920-1945) de Sergio Miceli. Nesta obra são apresenta-dos os setores do mercado de trabalho que abrigaram os intelectuais brasilei-ros depois de 1920. São citadas as organizações partidárias, instituições cultu-rais e as frentes de mobilização política e ideológica, o serviço público e, final-mente, o mercado do livro3.

O mercado do livro e seu florescimento são apontados, por Miceli, como resultante da formação de um novo público, constituído de funcionários, pro-fissionais liberais, docentes e empregados do setor privado. Esse grupo tende a aumentar cada vez mais em função da industrialização e da urbanização4.

Apresenta, ainda, um histórico da expansão de algumas editoras brasilei-ras nas décadas de 1930 e 1940 - a Globo está entre as maiores - para situar os gêneros mais publicados e que garantem os maiores índices de lucratividade às empresas. Depois, o autor seleciona os escritores classificados como romancis-tas, cujas atividades dependem desse novo setor do mercado de trabalho. Entre eles está Erico Veríssimo.

Na obra em questão, a trajetória de Erico Veríssimo é recriada a partir de seus livros de memórias - estas são as fontes principais na belíssima reconstitui-ção da biografia dos escritores selecionados - e é ressaltada a ligação entre as disposições favoráveis ao trabalho intelectual de Erico e a expansão da Editora Globo5.

Após a leitura desse estudo de Miceli, surge a seguinte questão: como pôde aparecer no Rio Grande do Sul - fora do eixo Rio-São Paulo - uma editora do tamanho e da importância da Editora Globo ainda na década de 1930? Quais as condições suficientes para a sua expansão e as razões desse sucesso empresarial?

Assim, partindo da convicção de que mesmo o estudo da história de uma empresa não se esgota sem a sua conexão com uma realidade de maiores dimen-

3. Sergio Miceli, Intelectuais e a Classe Dirigente no Brasil (1920-1945), p. XV. 4. Idem, p. 4. 5. Idem, pp. 127-128.

Page 15: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

sões, optou-se, neste trabalho, por traçar um quadro dentro do qual se preten-dem examinar algumas questões:

1. A vinculação da indústria cultural com o processo de industrialização, considerando a produção industrial de livros e a origem da mesma no Brasil.

2. O Rio Grande do Sul nas décadas de 1920 e 1930, considerando o proces-so de industrialização, o ensino e as possibilidades oferecidas em termos de profissionais voltados para o campo da tradução, da ilustração e da se-leção de obras, disponíveis para atender às demandas de uma casa editora.

3. O surgimento da Livraria do Globo e o incremento dado à seção Editora nas décadas de 1930 e 1940 - época das grandes edições - o desempenho dos editores, a escolha das obras, a garantia de comercialização dos títulos selecionados e a repercussão dos lançamentos através da imprensa.

4. O sucesso alcançado pela Editora Globo e o projeto editorial desenvolvi-do na década de 1940.

Para viabilizar este estudo partiu-se, primeiramente, da leitura e coleta de dados em livros de memórias, biografias, perfis da época e autobiografias. Nes-tas fontes, procurou-se localizar os escritores gaúchos, suas obras, seus depoi-mentos, seus itinerários em Porto Alegre, com passagens por livrarias, cafés, jornais, restaurantes e cinemas. Localizou-se o grupo de intelectuais mais pró-ximo dos cafés da Rua da Praia de então e da Livraria do Globo.

Com o propósito de endossar e fazer acréscimos aos depoimentos existen-tes nas obras consultadas, realizou-se uma série de entrevistas com José Otávio Bertaso, diretor da Editora Globo. As gravações destas entrevistas, feitas em ja-neiro e fevereiro de 1986, foram indispensáveis à compreensão da importância de alguns dados colhidos até então. Firmou-se, neste momento, a certeza de que as fontes selecionadas possuíam indicadores para um caminho a ser seguido, devido à riqueza de informações e à capacidade de indicar nomes, datas, deta-lhes e impressões acerca de uma época. Introdução

Page 16: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Ao se delimitar o objeto de estudo, o próximo passo foi a reunião de uma literatura crítica sobre o tema industrialização, indústria de livros no Rio Gran-de do Sul e no Brasil e indústria cultural de uma maneira geral.

Alicerçados alguns pressupostos, partiu-se para a coleta de dados em rela-tórios da presidência do Estado do Rio Grande do Sul, em censos sobre educa-ção e população, em jornais (Correio do Povo, sobretudo) e revistas. Estas torna-ram-se importantes na medida em que a Globo possuía a Revista do Globo, de onde foram retirados dados relativos aos esquemas de divulgação e comerciali-zação, bem como material para ilustrar o lançamento de determinadas obras. Nos jornais buscou-se avaliar o impacto e a repercussão das inúmeras edições da Globo.

Sem as memórias de Erico Veríssimo este trabalho teria outras caracterís-ticas. A paciência com que Erico relata a sua vida e a ligação com a atividade intelectual e com a Globo possibilitaram a inclusão no texto de algumas passa-gens que seguramente não existem em outras fontes disponíveis.

O mesmo pode ser dito de Augusto Meyer e Paulo de Gouvêa, cujos textos de memórias - cada um a seu modo - revelam uma afinidade poética com seu tempo e com a Porto Alegre de seus sonhos.

Do Livro de Registros da Globo foram extraídas as características da edito-ra ao longo de aproximadamente vinte anos, isto é, de 1928 a 1948. Este livro, no entanto, abrange um período que equivale aos anos de 1925 a 1977. O maior número de registros será localizado nos anos selecionados para esta pesquisa.

Finalmente, é importante salientar que foi comovente trabalhar com o Livro de Registros da Globo e ver registrada, na ponta do lápis ou da caneta, a concretização dos anseios de homens que não mediram esforços para valorizar o livro.

Page 17: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

CAPITALISMO E INDÚSTRIA CULTURAL

Via-o às vezes na Praça da Matriz arrastando os passos pela calçada, a carregar a maleta cheia de livros que oferecia à venda, de porta em por-ta: Folhas Caídas, Homens Ilustres do Rio Grande do Sul, Serões de Inverno, A Sombra das Arvores. Foi a primeira imagem viva que recebe-ram os meus olhos ingênuos do destino de um escritor em nossa terra, ima-gem melancólica mas ao mesmo tempo homérica e pitoresca do poeta erran-te e pobre, que bale de porta em porta, e ouve resmungos vagos, frromessas de promessas: a vida está cada vez mais cara...

Augusto Meyer, No Tempo da Flor, p.64.

A INDÚSTRIA CULTURAL E O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL

A "indústria cultural", expressão criada por Theodor Adorno e Max Horkheimer, é fenômeno típico do capitalismo do século XX em sua fase mo-nopolista1. A tecnologia avançada e a necessidade crescente de informações e de bens culturais permite que o modo de produção capitalista se aproprie de modos de informar e de fazer cultura para transformá-los em mercadorias que envolvem, em alguns casos, alta tecnologia.

Carlos Eduardo Lins da Silva destaca a importância de se estudar e inter-pretar o passado da indústria cultural no Brasil, afirmando que se trata de um

1. Max Horkheimer e Theodor Adorno, "A Indústria Cultural: O Iluminismo Como Mistificação de Massa", em Luiz Costa Lima (org.), Teoria da Cultura de Massa, pp. 159-204.

Page 18: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

campo quase virgem de pesquisa e lembrando que a " indústria cultural é, ela mesma, um meio de produção e deve ser estudada como tal"2.

A indústria cultural, porém, não é contemporânea da própria indústria. Apesar da possibilidade de reprodução de bens culturais a partir de alguns inventos - como os tipos móveis de Gutenberg, que dão origem ao livro, a litografia, que abre caminho para o jornal ilustrado e a fotografia que dá ori-gem ao f i lme 1 - , a indústria cultural só seria determinada pelo aparecimento de uma economia de mercado "[...] que permitisse o acesso de vários setores so-ciais a uma pluralidade de mercadorias, tanto de ordem material quanto de substância imaginária"4.

Toda a discussão que se trava no Brasil sobre o fenómeno próprio da in-dustrialização da cultura - produção, distribuição para o consumo, veiculação etc. - está centrada, comumente, no aparecimento do rádio, das gravadoras de discos, do cinema e da televisão. São inúmeros os trabalhos que analisam a pro-dução cultural e os meios de comunicação de massa, sobretudo, o rádio e a te-levisão. Questiona-se se esses veículos, com suas programações voltadas para o grande público, seriam um fator de alienação, de conformismo e de marginali-zação da população dos grandes centros urbanos.

Não raro, contudo, existem análises que justificam a cultura produzida pelos meios de comunicação de massa, afirmando que o produzir, divulgar e o refazer constantemente as informações podem acabar formando os indivíduos.

Considera-se que a indústria cultural somente apareceu no Brasil depois da fase do desenvolvimento dependente associado, inaugurada durante o gover-no de Juscelino Kubitschek e aprofundada no período pós-64, mais marcada-mente no final da mesma década. São poucos os trabalhos referentes ao perío-

2. Carlos Eduardo Lins da Silva, "Indústria Cultural e Cultura Brasileira: Pela Utilização do Conceito de Hege-monia Cultural", Revista da Civilização Brasileira, ago. 1980, pp. 189-191.

3. Este tema é explorado por Walter Benjamin, em "A Obra de Arte na Época de sua Reprodutibilidade Téc-nica", em Luiz Costa Lima (org.), Temia da Cultura de Massa.

4. Luiz Costa Lima, "Comunicação e Cultura de Massa", em Luiz Costa Lima (org.), Teoria da Cultura de Massa, p. 33.

Page 19: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

do anterior e, com isso, acredita-se que a indústria cultural é um fenômeno que surge via televisão e rádio, ou até, via conglomerado Globo5.

A indústria de bens culturais aparece no Brasil com a própria industriali-zação, não com aquela industrialização do século XIX que espalhou inúmeras fábricas por diversas regiões, mas não alterou a situação de país fornecedor de matérias-primas e produtos primários. Porém, no final do século passado, cir-cunstâncias históricas geraram um novo quadro no interior da sociedade bra-sileira que permitiram o aparecimento das condições necessárias para o engendramento do processo de industrialização que se dá no século XX. Sabe-se que a abolição da mão-de-obra escrava e o assentamento definitivo do traba-lho assalariado, a imigração européia para o sul do país, a construção de ferro-vias e melhoria dos portos, a dinamização do setor de mercado interno e a con-centração de renda na região centro-sul formam o ponto de partida para o de-senvolvimento deste processo de industrialização.

Gabriel Cohn, quando se refere ao período que o fim do século inaugura na economia brasileira, aponta para a necessidade de se fazer uma distinção entre surtos industriais, como aquele ocorrido durante o império - entre 1844 e 1875 - e industrialização no seu sentido mais amplo:

A industrialização é um processo: é um conjunto de mudanças, dotado de uma certa continui-dade e de um sentido. Seu sentido é dado pela transformação global de um sistema econômico-social de base não industrial (no caso brasileiro de base agrário-exportadora). [...] a instauração de um pro-cesso industrializante tem raízes mais profundas, que por vezes nem mesmo se traduzem imediata-mente na criação de indústrias, mas que configuram um movimento que, uma vez iniciado, é irreversível. Desde que articuladas as forças econômicas e sociais conducentes à industrialização, e desencadeado [...] o processo, a alternativa não é mais a volta ao estado anterior, mas a estagnação0.

5. Carlos Eduardo Lins da Silva, (yji. cit., apresenta, a partir da p. 181, os estudos já realizados sobre indústria cultural e sua relação com outras manifestações culturais brasileiras. Tais trabalhos, em sua maioria, anali-sam fenômenos recentes. O próprio autor, ao final, sugere que se faça uma interpretação do passado da indústria cultural do Brasil, pois "sua história já entrou para o acervo da vida nacional", p. 189.

6. Gabriel Cohn, "Problemas da Industrialização no Século XX", em Carlos Guilherme Mota (org.), Brasil em Capitalismo e Perspectiva, p. 283. Indústria Cultural

Page 20: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

22 Gabriel Cohn afirma ainda que se não houve um estado industrializante durante o período mencionado, tampouco houve um estado anti-industrial, pois a indústria foi favorecida por outras vias:

O primeiro século de crescimento industrial no Brasil caracterizou-se fundamenta lmente pelo seu caráter não-integrado e relativamente espontâneo, no sentido de não resultar tanto da ação de um empresariado industrial organizado e coeso, nem, muito menos, de uma ação estatal delibe-radamente voltada para o apoio à industrialização, mas de fecundação de um núcleo econômico excepcionalmente sensível por uma série de condições propícias ao aparecimento de uma indús-tria progressivamente voltada para a substituição de importações; o que, desde logo, significa que o crescimento da produção estava na dependência da expansão do consumo, ou, dito de outra for-ma, que o e lemento dinâmico do processo era dado pelo crescimento e diversificação de uma área de consumo não satisfeita em face da carência de recursos para importar7 .

Celso Furtado aponta a crise de 1929 e os anos da depressão como decisi-vos para o processo de industrialização no Brasil. A partir de dados estatísticos, afirma que a produção industrial cresceu entre 1929 e 1937 em cerca de 50%, bem como a produção primária para o mercado interno8.

Celso Furtado, enfatiza, no entanto, que:

o setor ligado ao mercado in terno não podia aumentar sua capacidade, particularmente no campo industrial, sem importar equipamentos, e que estes se t inham feito mais caros com a depre-ciação do valor externo da moeda. Entretanto, o fator mais importante na primeira fase de expan-são da produção deve ter sido o aproveitamento mais intenso da capacidade instalada no país. Esse aproveitamento mais intenso da capacidade instalada possibilitava uma maior rentabilidade para o capital aplicado, criando os fundos necessários, dentro da própria indústria, para sua expansão sub-seqüente 9.

O processo de industrialização no Brasil é marcado por uma determinada conjuntura, que é a conjuntura das décadas de 1920 e 1930, momentos impor-tantes para o avanço da industrialização da qual depende a indústria cultural.

7. Idem, p. 294. 8. Celso Furtado, Formação Econômica do Brasil,pp. 200-201.

Editora Globo 9. Idem, p. 198.

Page 21: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Se a crise de 1929 desencadeia um aumento da produção industrial, con-tribuindo para dar uma nova feição ao Brasil, país até então predominantemen-te agrário-exportador, os anos posteriores a 1930 trazem para o cenário nacio-nal uma mudança substantiva na forma de fazer política, quando Getúlio Vargas passa a falar para as massas.

A política inaugurada por Vargas depende da indústria cultural e dos meios de comunicação de massa que adquirem, no período, um grande desen-volvimento. O cinema e o rádio começam a deslocar o importante papel atri-buido à imprensa até então.

O incremento dado à radiodifusão depois de 1930 permite a mobilização de multidões, de grandes massas compostas pelas camadas médias urbanas, pe-los setores operários e pelo homem do campo.

Getúlio fala à nação através do rádio. Falar a toda a nação é a marca de um novo momento histórico, e o rádio, além de transmitir os discursos do presiden-te Vargas, é colocado a serviço de duas forças emergentes: o futebol e a música popular brasileira.

O futebol, antes esporte de elite, torna-se a paixão das massas e os locuto-res cobrem o território nacional com suas memoráveis transmissões.

A música popular ganha mais tarde uma radiodifusora, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que durante anos obteve os maiores índices de audiência com seus programas de auditório. Por ali desfilaram Orlando Silva, Cauby Pei-xoto, Emilinha Borba, Marlene, Angela Maria, Ari Barroso e uma dezena de nomes da música popular brasileira.

Diz Nelson Werneck Sodré:

Futebol e música, colocados pelo rádio jun to às multidões e por elas consagradas, constituí-ram desde logo [...] espetáculos que permitiram notoriedade e enriquecimento a elementos oriun-dos de camadas populares, muitos deles provindos mesmo do proletariado.

Privilegiando alguns, entretanto - antes sem possibilidade de alcançar tais formas de sucesso - o rádio dava a idéia de que se podia fazer o mesmo com todos ,0.

10. Nelson Werneck Sodré, Síntese da História da Cultura Brasileira, pp. 94-95. Capitalismo e Indústria Cultural

Page 22: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

O rádio, a música e o futebol representavam, e ainda representam, uma forma de ascensão social que não só arregimentava uma parcela da população como também garantia a idéia da democracia social.

Mas não só o rádio deslocou audiência, platéias e prováveis artistas. O ci-nema, a partir de 1930, se metamorfoseia em cinema de estúdio, de longas e caras produções, reflexo seguro do que se fazia na "América".

No Brasil, construímos a Cinédia, a Atlântida e a Vera Cruz a partir de 1930. Esses estúdios "hollywoodizam" o cinema brasileiro e descobrem o mais rico filão do cinema nacional: o filão carnavalesco. As massas ouviam as marchinhas e corriam às salas de projeção para ver seus ídolos do rádio, do dis-co e do teatro, constituindo assim as assíduas platéias do cinema brasileiro.

Grande Otelo e Oscarito são os primeiros nomes de sucesso do cinema nacional. Falavam - como é a fala da chanchada brasileira - a linguagem das platéias populares. Muita música, beleza, gíria, malandragem era o que o pú-blico desejava. Esse era o novo Brasil, nacionalista e homogêneo.

Depois disso tudo, o cinema "hollywood" faliu e nas décadas de 1950 e 1960 o cinema brasileiro esquece o estúdio, a superprodução, o riso e o fausto. Gláuber Rocha recomenda que se faça um cinema de "câmera na mão e idéia na cabeça". E o Cinema Novo que marca o fim da primeira grande tentativa de tornar nosso cinema uma indústria bem-sucedida. Nas duas últimas décadas, o cinema brasileiro tem sobrevivido com os financiamentos da Embrafilme, ape-sar da desproporcional concorrência da indústria cinematográfica norte-ame-ricana. Na década de 1960, a televisão aparece como o mais poderoso veículo de comunicação, apesar das afirmações de que não tenha conseguido suplan-tar o rádio.

Com estas breves referências pretendeu-se mostrar que a indústria cultu-ral brasileira não é fenômeno tão recente como muitas vezes se acredita. Além disso, como já lembrou Carlos Eduardo Lins da Silva, tem-se aqui um campo quase virgem de pesquisa. O pequeno histórico da indústria cultural no Brasil até aqui apresentado omitiu as telenovelas, as revistas, as histórias em quadri-nhos, os vídeo-clips, os telejornais, o próprio jornal e os diversos programas de

Page 23: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

televisão que vendem produtos culturais. Todos estes campos mereceriam estu-dos específicos; como nosso objetivo, porém, é a indústria de livros, deixamos todos eles de lado e nos voltamos para este último assunto.

25

A PRODUÇÃO INDUSTRIAL DE LIVROS

Para se pensar a indústria de livros não se pode esquecer que ela tem a sua especificidade, surgindo no Brasil dentro de um quadro histórico diferente daquele das nações que inventaram a produção de livros em série. Umberto Eco, em sua obra Apocalípticos e Integrados, trata da especificidade da indústria de livros, afirmando:

A fabricação de livros tornou-se um fato industrial, submetido a todas as regras da produção e do consumo; daí uma série de fenômenos negativos, como a produção de encomenda, o consumo provocado artificialmente, o mercado sustentado com a criação publicitária de valores fictícios " .

Porém, o mesmo autor indica um outro plano de análise dessa mesma in-dústria e apresenta pontos importantes que a tornam diferente de outras indús-trias:

a indústria editorial distingue-se da dos dentifrícios pelo seguinte: nela se acham inseridos homens de cultura, para os quais o fim primário (nos melhores casos) não é a produção de um livro para vender, mas sim a produção de valores, para cuja difusão o livro surge como inst rumento mais cômodo. Isso significa que, segundo uma distribuição percentual que não saberei precisar, ao lado de produtores de objetos de consumo cultural, agem produtores de cultura que aceitam o sistema de indústria de livros para fins que dele exorbitam. Por mais pessimista que se queira ser, o apareci-mento de edições críticas ou de coleções populares testemunha uma vitória da comunidade cultu-ral sobre o ins t rumento industrial com o qual ela felizmente se comprometeu '2.

11. Umberto Eco, Apocalípticos e Integrados, p. 50. 12. Idem, ibidem.

Capitalismo e Indústria Cultural

Page 24: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Embora Eco insista em fazer uma distinção entre os "produtores de obje-tos de consumo cultural" e "produtores de cultura", à indústria cultural interes-sa a reprodução do capital e, para tanto, pode abrigar os dois produtores sem provocar nenhuma contradição interna. Enfatiza-se que a legitimação da pro-dução se dá fora da editora, nos meios em que o produto livro se inscreve13.

As áreas de interesse de uma indústria de livros podem ser divididas em blocos. As editoras, em geral, interessam-se por literatura erudita, literatura di-dática e científica, literatura infantil e literatura de massa.

Como literatura erudita se designa aquela produzida pelas instituições de ensino e pelas academias ligadas a elas e pode ser situada dentro do campo de produção erudita, conforme denominação de Pierre Bordieu. Para ele:

Ao contrário do sistema da indústria cultural que obedece à lei da concorrência para a con-quista do maior mercado possível, o campo da produção erudita tende a produzir ele mesmo suas normas de produção e os critérios de avaliação de seus produtos, e obedece à lei fundamental da concorrência pelo reconhecimento propriamente cultural concedido pelo grupo de pares que são, ao mesmo tempo, clientes privilegiados e concorrentes.

O campo de produção erudita somente se constitui como sistema de produção que produz objetivamente apenas para os produtores de cultura através de uma ruptura com o público dos não-produtores, ou seja, com as frações não-intelectuais das classes dominantes14 .

A par da literatura culta, situada como produção e consumo de um grupo restrito da sociedade, as editoras também trabalham com o objetivo de atingir grupos diferenciados. Daí a afirmação de Sérgio Lacerda, presidente da Edito-ra Nova Fronteira:

Há uma coisa curiosa. Veja-se que Memórias fie Adriano, assim como o livro de Kundera ou Criação, de Gore Vidal, são livros que permitem uma leitura bastante diferenciada. Isso acaba crian-

13. A esse respeito, ver o trabalho de Pierre Bourdieu, "O Mercado de Bens Simbólicos", em A Economia das Trocas Simbólicas. O autor distingue com precisão o "campo da produção cultural erudita", cujo público é o de produtores de bens culturais, e o "campo da indústria cultural", "especificamente organizado com vistas à produção de bens culturais destinados a não produtores de bens culturais (o grande público)", p. 105.

Editora Globo 14. Idem, ibidem.

Page 25: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

do esta onda fantástica que se forma em torno deles. [...] estou falando do livro de qualidade indis-cutível e que permite várias leituras diferentes. Por isso alinhei também o livro de Kundera, que nada tem a ver com a vertente histórica. E um livro que permite - coisa fantástica - uma leitura que pode ser absolutamente psicanalítica e outra que pode ser absolutamente lírica, com igual força e igual destreza l5.

À produção destinada às universidades e escolas superiores, local de legiti-mação dessa mesma produção, deve-se agregar, quando se trata de literatura culta, aquela produção que mesmo diferenciada atinge públicos diversos, pela possibilidade de várias leituras.

Por literatura de massa entende-se:

a totalidade do discurso romanesco tradicionalmente considerado como diferente e opositivo ao discurso literário culto, consagrado pela instituição escolar e suas expansões acadêmicas. In-cluem-se, assim, no universo da literatura de massa, o romance policial, de ficção científica, de aven-turas, sentimental, de terror, a história em quadrinhos, o teledrama etc.

São considerados também literatura de massa todos os manuais de bem-viver, livros de aconselhamento, manuais que divulgam receitas de como ser bem-sucedido na vida etc.

Literatura infantil evidentemente é aquela destinada à população infantil e tem obtido nos últimos anos um peso significativo no catálogo das editoras.

Finalmente, as obras didáticas e técnicas ocupam um espaço importante nas editoras, porque os livros didáticos e técnicos são vendidos constantemente e garantem lucros certos.

15. Entrevista com Sérgio Lacerda, "Chega de Paternalismo", Veja, mar. 1985. 16. Muniz Sodré, Temia da Literatura de Massa, p. 15.

Capitalismo e Indústria Cultural

Page 26: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

A PRODUÇÃO DE LIVROS NO BRASIL: BREVE HISTÓRICO

Pouco havia sido escrito sobre o livro no Brasil até que em 1985 é publica-da a tese de doutorado do inglês Laurence Hallewell. Trata-se da mais impor-tante obra sobre esse tema, pois Hallewell partindo do período colonial faz um levantamento exaustivo da história do livro no Brasil até a década de 1980.

Se Hallewell faz um inventário das editoras no Brasil, Alice Koshiyama, em sua tese de mestrado, dedica-se somente a apresentar a obra de Monteiro Lobato como empresário e editor.

O que segue é uma exposição de dados baseados nessas duas fontes. As memórias, biografias e autobiografias dos homens envolvidos com as editoras não são citadas, porque Hallewell e Koshiyama trabalharam com este material de forma completa e sistematizada.

Segundo Laurence Hallewell, foram os irmãos Garnier e os irmãos Laemmert os mais importantes livreiros e editores do século passado.

Baptiste Louis Garnier resolveu transferir-se para o Brasil em janeiro de 1844 e teve seu primeiro endereço permanente na Rua do Ouvidor, onde pare-ce ter conseguido sua independência. Ele fixou-se no Brasil, inicialmente, com uma filial da Garnier Frères de Paris, firma que pertencia a sua família. Por volta de 1852 inicia o rompimento com seus irmãos, que se torna efetivo em 1864 ou 1865".

Na década de 1860, Garnier começou a publicar obras de ficção dando início a uma ampla produção de romances no Brasil, na forma de livros. De acordo com Hallewell:

Seu interesse pode ter sido despertado por uma nova moda, entre os compradores brasilei-ros de livros, que consistia em ter coleções de seus autores favoritos; isto poderia explicar sua predi-

17. Laurence Hallewell, O Livro no Brasil: Sua História, pp. 127-128. Hallewell defendeu sua tese na Universida-de de Essex, em março de 1975. Nesse trabalho o autor tem como objetivo básico demonstrar como o de-senvolvimento da literatura brasileira foi determinado pelas circunstâncias econômicas, práticas comerciais e condições técnicas da indústria editorial.

Page 27: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

leção por edições uniformes das obras de um autor. Embora ele raramente arriscasse publicar o 29 primeiro livro de um escritor inédito, ninguém editou, nesse período, mais livros de ficção brasilei-ra do que ele e praticamente não houve um romancista brasileiro de importância que não acabasse tendo a maioria de suas obras publicadas por B. L. Garnier

Garnier publicou quase todos os livros de José de Alencar e "a longa liga-ção de Garnier com Machado de Assis é uma prova de que esse editor era capaz de reconhecer real talento literário num escritor que não fazia qualquer esfor-ço para conquistar popularidade fácil e de que estava disposto a apoiá-lo"19. Garnier além de inovador de métodos comerciais, foi editor dos dois mais exitosos nomes da literatura no século passado, Alencar e Machado. Também foi editor de poesias, de livros didáticos e de traduções20.

A firma E. & H. Laemmert, por seu turno, apareceu no Rio de Janeiro em 1838. Seus proprietários, que já estavam há alguns anos no Brasil, eram Eduard e Heinrich. A respeito deles, Hallewell afirma:

Como ocorre f reqüentemente em parcerias bem-sucedidas (Chapman e Hall na Inglaterra, no século XIX, Octalles e Monteiro Lobato ou Bertaso e Erico Veríssimo no Brasil, no século XX), os dois sócios eram personalidades muito diferentes que, em virtude dessa particular combinação de faro literário e viabilidade comercial que constitui o negócio editorial, completaram-se admira-velmente. Eduard, enérgico, ousado, artístico - e, de acordo com um comentário maldoso, "insinu-ante, ativo, intrigante" - era a fonte de energia, idéias e visão da firma, o componente "Ariel"; Heinrich, reservado, cauteloso, prático, era "Caliban", o contador metódico da f irma2 1 .

A Laemmert possuía um importante setor gráfico e em fins da década de 1850 já tinha produzido 250 livros. Na década de 1860, quase 400 títulos e em 1874, mais de 500 e "quando a firma abandonou a edição de livros, em 1909, ela havia produzido um total de 1440 trabalhos de autores brasileiros e mais de 400 traduções do inglês, do francês, do alemão e do italiano"22.

18. Idem, p. 141. 19. Idem, p. 142. 20. Idem, pp. 143-148 21. Idem, p. 162. 22. Idem, p. 165.

Capitalismo e Indústria Cultural

Page 28: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

30 Hallewell dá um grande destaque a essas duas casas editoriais do século passado e apresenta diferenças entre elas, registradas a partir de suas linhas editoriais:

Todavia, a Garnier e a Laemmert não podem ser vistas como competidoras diretas. Desde o início seus interesses tenderam a divergir suficientemente para criar uma divisão de fato do merca-do. A Garnier concentrou-se em literatura e também nos escritores franceses da moda que escre-viam sobre ciência popular. Embora ela tenha publicado alguns livros de história (entre eles a notá-vel História do Brasil de Robert Southey, [...] em 1862, e a História da Fundação do Império Brasileiro, de Pereira da Silva, em sete volumes, em 1864-1868, [...] a história e a ciência séria eram principal-mente do interesse da Laemmert, como se poderia esperar tendo em vista a nacionalidade de seus donos 2 ' e sua produção incluiu a História Geral do Brasil, de Varnhagen (edições de 1854-1857, 1877 e 1907), a edição de 1845 da Corografia Brasílica, de Ayres Casal, Tratado de Anatomia Descritiva, de José Pereira Guimarães, o Estudo para a Solução das Questões de Câmbio e do Papel-Moeda no Brasil, de Julio Roberto Dunlop, e o Tratado Descritivo do Brasil, em 1857, de Gabriel Soares de Souza, edição cuidada por Varnhagenm em 185124.

Hallewell conclui que, contudo, houve uma certa coincidência quanto às obras de referência, como dicionários, e que, por outro, lado "a Laemmert ja-mais desafiou seriamente o domínio da Garnier no campo da literatura"25.

Baptiste Louis Garnier faleceu no Rio em 1893 e a editora passou para seu irmão Hippolyte, que residia em Paris, voltando a firma a sua condição original de filial da Garnier Frères. Eduard Laemmert morreu na Europa em 1880, e Heinrich no Rio em 1884. Depois de 1909, a firma foi comprada por Francisco Alves e deu origem a uma das grandes editoras do século XX. Hallewell ao refe-rir-se ao declínio do comércio livreiro na década de 1890, lembra que:

As mortes de Baptiste Garnier e dos irmãos Laemmert - os três homens que haviam domina-do o mercado livreiro do Brasil por tanto tempo - contribuíram para esse mal-estar, mas a causa sub-jacente era o estado conturbado de todo o corpo político que se seguiu ao fim do Império em 1889

23. Eles eram originários de Rosenberg, grão-ducado de Baden. 24. Laurence Hallewell, op. cit., p. 166. 25. Idem, ibidem.

Editora Globo 26. Idem, p. 181.

Page 29: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Não se pode afirmar que o estado conturbado de todo o corpo político 3 1

seja fator decisivo para a decadência do comércio de livros, pois é exatamente nesse momento que a grande casa editora Francisco Alves está organizando seu acervo editorial para disparar como a mais importante casa editora brasileira.

Francisco Alves d'OHveira, português de nascimento, vem para o Brasil em 1848 e fixa-se no Rio de Janeiro, primeiramente como empregado numa loja de artigos náuticos e depois como proprietário de um sebo. Em 1883, naturali-za-se e passa a sócio de seu tio, Nicolau Antonio Alves na Livraria Clássica. Após alguns anos, adquire a parte do tio e passa a ser o proprietário da livraria que na época havia definido a linha editorial. Sua especialidade eram os livros didá-ticos, que proporcionavam vendas seguras e permanentes.

Em 1893, abre uma filial em São Paulo e, em 1906, outra em Belo Hori-zonte. A partir daí, Alves adquire muitas editoras com seus fundos editoriais e, em 1909, compra a Laemmert e os direitos de edição de Os Sertões, de Euclides da Cunha, de Inocência, de Taunay, além de obras didáticas importantes27.

Em 1914, Francisco Alves compra sua primeira oficina gráfica e adapta-a para a produção de livros. Hallewell afirma que Alves mandava imprimir seus livros na Europa porque as vantagens até então eram enormes. A Primeira Guerra Mun-dial veio a abalar o crédito, o transporte e o próprio preço da impressão do livro:

O esforço decorrente da implantação do setor gráfico infelizmente sobrecarregou a combalida resistência de Francisco Alves, e explica a rapidez com que ele sucumbiu à doença final. Embora poucas vezes durante a vida tivesse deixado de trabalhar por motivo de doença, sua débil saúde teve longa história2".

Francisco Alves falece em 1917, deixando a maior parte de sua fortuna para a Academia Brasileira de Letras que, impedida de gerir qualquer tipo de negó-cio, vendeu a livraria para um grupo de velhos empregados. Hallewell ressalta que a Francisco Alves continuou a dominar o mercado brasileiro de livros didáticos até o surgimento da Companhia Editora Nacional em fins da década de 1920.

27. Idem, pp. 206-210. Capitalismo e 28. Idem, p. 217. Indústria Cultural

Page 30: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Pode-se afirmar, a partir do que foi visto, que a produção editorial brasi-leira, apesar da existência de algumas casas editoras, não passava de uma ativi-dade por vezes secundária de grandes livrarias que se dedicavam a alguns auto-

-res nacionais consagrados, como é o caso de José de Alencar e Machado de As-sis, e a obras didáticas e de ciências em geral.

O centro da produção editorial até então era o Rio de Janeiro. Na década de 1920, São Paulo passa a ser o principal pólo de produção de livros e, já em 1918, José Bento Monteiro Lobato dá os primeiros passos ao editar seu livro de contos, Urupês, com uma tiragem de mil exemplares. Essa obra teve sua segun-da edição ainda em 1918 e em 1923 já tinham sido lançadas nove edições com 30 000 exemplares, número bastante elevado para o mercado brasileiro. Hallewell explica o sucesso de Urupês da seguinte forma:

A preocupação com os problemas de seu país foi gradualmente dominando a vida de Lobato. E foi por sua mensagem nacionalista que Urupês ganhou significação na história cultural do Brasil. Mas para avaliar a importância dessa obra no desenvolvimento da moderna atividade editorial e li-vreira, devemos voltar à sua estilística. Tudo quanto Lobato acabou conseguindo com a criação de uma indústria editorial nacional dependeu de sua capacidade de, em primeiro lugar, criar virtual-mente todo um mercado novo para o produto "livro". E foi capaz de fazê-lo, porque havia, antes, t ransformado o estilo em que os livros eram escritos - e, com isso, o tipo e a quant idade de leitores que iriam atrair. Na feliz comparação de Nelson Travassos, Lobato foi, como escritor, como que um reformador religioso: iconoclasta que despedaçasse todos os vitrais coloridos para que os raios de sol banhassem o interior da igreja, e que substituísse o solene órgão por uma música alegre e leve, para mostrar que Deus é uma divindade amável, acessível a qualquer um de sua rendosa congrega-ção, e que não precisa ser invocado através de rituais complicados realizados apenas em locais espe-cialmente consagrados21'.

A importância de Monteiro Lobato como escritor é indiscutível, porém, seu trabalho como editor somente há pouco foi resgatado por Laurence Hallewell e Alice Koshiyama30.

29. Idem, p. 244. 30. Koshiyama apresentou a dissertação Monteiro Lobato, Intelectual, Empresário, Editor como conclusão do curso

de pós-graduação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Mais tarde o trabalho Editora Globo foi editado em livro de mesmo título.

Page 31: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Referindo-se à atividade empresarial de Monteiro Lobato como editor, Alice Koshiyama traz um importante dado, porque marca o ineditismo de Lobato, depois seguido por outras editoras, inclusive pela Globo:

Monteiro Lobato editor começou comprando, por dez contos, a propriedade da Revista do Brasil Ela apresentava um balanço deficitário, tendo no ano findo acusado um passivo de dezesseis contos para um ativo de apenas três contos. Entretanto, Lobato adquiria um órgão de prestígio entre os literatos e que serviria de veículo de divulgação para uma editora de livros. O escritor e jornalista Leo Vaz, tendo trabalhado com Lobato nesse empreendimento , atestou a simbiose entre a Revista do Brasil e a atividade editorial. E de tal forma estavam relacionadas que, mesmo quando, depois de um período de sucesso, a Revista do Brasil, revelou-se deficitária, Monteiro Lobato não quis fechá-la, alegando motivos sentimentais".

Além da Revista do Brasil, Alice Koshiyama apresenta a estratégia montada por Lobato para aumentar o número de leitores. Tal estratégia depende, de um lado, da transcrição de comentários da imprensa como recurso propagandísti-co, da utilização da crítica favorável e, de outro, da argúcia de Lobato ao perce-ber a necessidade de melhorar as condições de distribuição do produto. A sua preocupação, segundo a autora, ficou evidenciada nas entrevistas concedidas 25 anos depois:

Lobato dizia ter localizado, em 1918, cerca de 50 livrarias, no máximo, em todo o país. Para aumentar a rede de distribuidores, ele enviou cartas a cerca de 1200 endereços de comerciantes52, p ropondo que aceitassem livros em consignação. Se os livros fossem vendidos, os comerciantes teri-am 30% de comissão sobre o preço do produto vendido; se não, dentro de um prazo de terminado poderiam devolver a mercadoria, sendo o frete pago pelo edi tor" .

31. Alice Mitika Koshiyama, Monteiro Lobato: Intelectual, Empresário, Editor, p. 68. 32. Hallewell afirma que Lobato escreveu a todos os agentes postais do país (1300 ao todo) "solicitando nome e

endereço de bancas de jornais, papelarias, farmácias, de armazéns que pudessem estar interessados em vender livros. Quase cem por cento dos agentes postais, orgulhosos de que alguém da cidade grande pudes-se estar realmente necessitando de sua ajuda, responderam. [...] Isso proporcionou a Lobato uma rede de quase dois mil distribuidores espalhados pelo Brasil - em todo o tipo de loja de varejo, de farmácia e pada-rias: 'os únicos lugares em que não vendi foi nos açougues, por temor de que os livros ficassem sujos de san-gue'", p. 245.

33. Alice Mitika Koshiyama, oji. cit., p. 72. Capitalismo e Indústria Cultural

Page 32: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Alice Koshiyama aborda a questão da penetração dos livros estrangeiros no Brasil, sobretudo portugueses e franceses, e aponta a tática adotada por Lobato para minorar o problema:

Monteiro Lobato teve o mérito de perceber a necessidade de conquistar um público exposto à produção alienígena. Para isso, tratou de cultivar o leitor infantil, inclusive introduzindo literatu-ra nas escolas primárias, pois reconhecia a receptividade das crianças a quaisquer informações mi-nistradas. O primeiro livro que editou para crianças, Narizinho Arrebitado, trazia o frontispício esclarecedor: "literatura escolar" M.

Salienta-se que quando Lobato iniciou sua atividade de editor, não havia uma gráfica capaz de imprimir um livro com qualidade, e por isso, ele montou sua própria gráfica. Em 1919, Octalles Marcondes Ferreira tornou-se seu sócio e, em princípios de 1920, a firma vendia em média 4 000 livros por mês. Em 1923, tinha quase 200 títulos em catálogo.

Os livros editados pela Monteiro Lobato e Companhia receberam trata-mento novo no que se refere à aparência interna e às capas, agora ilustradas com cuidado ao invés das capas cinzas que somente traziam a reprodução da página de rosto. Os cuidados com a diagramação e com a impressão foram de-cisivos para a importação de tipos novos e modernos35.

Apesar do pioneirismo e da genialidade de Monteiro Lobato, não foi pos-sível manter por muito tempo a editora. Em 1925, Lobato decidiu pela sua li-quidação. A criação de um mercado e a construção do parque gráfico, somado a outros investimentos numa época de crise, podem ser os fatores que determi-naram o fim dessa primeira tentativa de dar ao autor, ao leitor e ao livro, en-quanto produto, o tratamento merecido.

Em dezembro de 1925, Lobato transfere-se para o Rio e inicia negociações para adquirir, com Octalles Marcondes Ferreira, o acervo de livros de sua anti-ga editora. Aparece, depois da compra da falida editora, a Companhia Editora

34. Idem, p. 81. Editora Globo 35. Laurence Hallewell, op. cit., pp. 251-253.

Page 33: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Nacional. Em 1927, partiu para os Estados Unidos como adido comercial do Brasil, deixando a Companhia Editora Nacional sob a direção do sócio Octalles. Em 1930, Lobato vende as ações da editora e volta para o Brasil36.

Monteiro Lobato morreu em julho de 1 948. Nos anos 1930 e 1940, man-teve-se como um brilhante escritor não só de literatura infantil, mas também como autor de livros polêmicos que empolgaram a opinião pública nacional. O mais discutido, elogiado e criticado, foi, sem dúvida, O Escândalo do Petróleo (1936).

No ano de sua morte foi realizado o I Congresso de Editores e Livreiros do Brasil. Lobato foi homenageado e, segundo Alice Koshiyama:

Era justa a homenagem a Lobato, o mais eficiente ideólogo da indústria do livro. Tendo co-meçado a atuar quando o setor editorial no Brasil estava incipiente, veiculou a ideologia do capita-lismo neste setor de produção. Formulou as justificativas para os interesses do setor empresarial, sugeriu alternativas para organizar e expandir a empresa editora. Buscou harmonizar as relações entre empresários e trabalhadores intelectuais do setor editorial p ropondo a racionalização do tra-balho de escrever [...].

O escritor devia abandonar a perspectiva de um trabalho artesanal e atuar segundo as exi-gências da engrenagem de uma indústria editorial para ter a possibilidade de ganhar dinheiro, acon-selhava Lobato ao escritor Jerônimo Monteiro. E os próprios editores, quando queriam demonstrar que um escritor brasileiro poderia viver da remuneração de direitos autorais, apontavam um exem-plo: Monteiro Lobato".

Importa salientar, neste momento, que Monteiro Lobato foi o primeiro grande editor brasileiro e que, apesar de ter-se desligado da Companhia Edito-ra Nacional, foi o idealizador da primeira editora brasileira com uma linha edi-torial diversificada e voltada para o público nacional.

Se no século passado duas grandes editoras floresceram, o fato deve-se à ligação de seus proprietários com editoras européias e à possibilidade existente de imprimir livros na própria Europa. Francisco Alves, também editor, teve seu sucesso ligado à produção de obras didáticas, que têm um público garantido.

36. Alice Mitika Koshiyama, ftp. cit., pp. 91-104. 37. Idem, pp. 191-192.

Capitalismo e Indústria Cultural

Page 34: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Monteiro Lobato monta sua casa editora num momentc ,ia condições de desenvolver uma indústria de livros, porque a ir - n o Brasil já era uma realidade. Depois de Lobato, surgiram gra' como a Brasiliense, a j o s é Olympio, a Livraria Martins Editora, • brasilei-ra e a Livraria e Editora Globo.

Editora Globo

Page 35: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

O RIO GRANDE DO SUL NAS DÉCADAS DE 1920 E 1930

INDUSTRIALIZAÇÃO E ENSINO NO RIO GRANDE DO SUL

No Rio Grande do Sul - curiosamente fora do eixo Rio-São Paulo, centro das decisões e da grande produção da cultura industrializada - surge dentro de uma tradicional livraria uma editora que vai modernizar o processo de editoração.

As condições da industrialização e do ensino no Rio Grande do Sul são, nesse momento, fatores que favorecem o surgimento e o desenvolvimento de uma empresa editorial.

No início do século, o Rio Grande do Sul aparece nas estatísticas como o terceiro principal centro industrial do país, perdendo apenas para o Distrito Fe-deral e São Paulo.

Paul Singer, ao analisar a industrialização no rio-grandense, destaca a ques-tão da formação de um mercado interno para produtos agropecuários no Bra-sil, do qual o estado, como fornecedor de banha, fumo, feijão e farinha de mandioca, é parte integrante. A região colonial, que é a principal fornecedora dos produtos agrícolas, entra num processo de monetarização e pode, a partir daí, adquirir manufaturas do exterior. Singer afirma:

O processo de industrialização, no Rio Grande do Sul, consiste na substituição paulatina des-tes artigos importados por produtos manufaturados localmente. A indústria rio-grandense penetra, assim, num mercado j á existente, formada graças à superioridade competitiva da indústria estran-geira sobre o artesanato local1.

1. Paul Singer, Desenvolvimento Econômico e Evolução Urbana, p. 170.

Page 36: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Page 37: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

GLOBO: UM NOME NACIONAL

Mas quem diz Rua da Praia também diz Livraria do Globo. E aqui seria necessário avivar a fantasia, puxar pela memória, convocar engenho e arte, se eu quisesse explicar às direitas o que chegou a significar para aque-le momento da minha vida a Rua da Praia aos sábados, em frente da Li-vraria do Globo. [...]

Os habituais da Livraria do Globo, atraídos pelo desfile, agrupavam-se às portas, ou encostavam-se ao anteparo das vitrinas. Observou certa vez o Velho Bertaso que, além do prejuízo inevitável que lhe davam com a edi-ção das suas obras ainda tapavam as vitrinas da Livraria, julgando-se mais interessantes do que os livros expostos.

Augusto Meyer, No Tempo da Flor, pp.129 e 133

A BUSCA DO PRESTÍGIO

Se a Livraria do Globo nos idos de 1937 é uma importante casa editora, Erico Veríssimo, o indispensável conselheiro "contador de histórias", já possui reconhecida obra. Depois de Caminhos Cruzados (1935), aparece Um lugar ao Sol (1936) e Aventuras de Tibicuera (1937). Em 1938, a Globo publica Olhai os Lírios do Campo, que consagra Erico Veríssimo como escritor e exige três edições no mesmo ano. Erico Veríssimo lembra que

[...] até então as edições de 2 000 exemplares de meus livros levavam cerca de dois anos para se esgotarem. A nova estória teve sua primeira edição de 3 000 volumes vendidos em poucas semanas. Quando Henr ique , feliz como eu com o "sucesso", mandou rodar nas máquinas uma segunda tiragem, o velho Bertaso - homem difícil de deixar-se iludir, pr incipalmente com litera-

Page 38: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

tos - exclamou: "Vocês estão doidos! Qualquer dia os livreiros começam a devolver esses Lírios todos e com a capa borrada!" Essa negra profecia, entretanto, não se cumpriu . Antes de f indar o ano de 1938 j á aparecia a terceira edição do romance de Olívia e Eugênio. O linotipista da oficina da Livraria do Globo que compôs o Olhai os Lírios do Campo um dia puxou conversa comigo sobre Olívia e sentenciou:

— Mulher como essa não existe no mundo. - Foi por isso mesmo que eu a inventei - respondi1 .

Erico Veríssimo, porém, não cria somente Olívia, a personagem que arre-bata os leitores de Olhai os Lírios do Campo. Com esta obra, ele traz um enorme prestígio à editora e à literatura rio-grandense, ao relatar um Rio Grande do Sul diferente daquele apresentado pelos autores da linhagem regionalista.

Em 1939, Manoelito de Ornellas destaca o aspecto moderno da recém-lançada obra de Erico Veríssimo, em que são enfocados temas profundamente contemporâneos e, até então, inexplorados. A ficção que aborda a temática urbana é bastante recente, mesmo já tendo sido trabalhada por Dyonélio Ma-chado em Os Ratos, em 19352.

O que se quer salientar neste momento é o fato de Erico Veríssimo ter conseguido sucesso como escritor, poucos anos após sua primeira publicação. Para tanto, ele dedica-se à atividade intelectual e renova constantemente suas leituras, não desprezando nem mesmo aquela literatura considerada menos importante. Erico é capaz de valorizar o livro de aventuras, de intrigas, os ro-mances policiais, bem ao sabor de quem passou a adolescência numa sala de cinema no interior do Rio Grande do Sul.

Valoriza também a literatura infantil ou a literatura séria feita por mulhe-res, sobretudo as inglesas, tão diferentes dos romances da Coleção Verde, desti-nados às senhoras e senhoritas e assinados por M. Delly, Eugenia Marllit, Jeanne de Coulomb, entre tantas outras, que se perderam ao sabor das mudanças im-postas ao mundo feminino neste último quartel do século XX. Vale lembrar, no

1. Erico Veríssimo, Um Cerlo Henrique Bertaso, pp. 56-57. Editora Globo 2. Manoelito de Ornellas, Vozes de Ariel, pp. 17-18.

Page 39: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

entanto, que Erico Veríssimo, como conselheiro da editora, jamais desprezou a Coleção Verde.

Erico Verissimo, que não teve medo de Virginia Woolf, nota que Bertaso também não tinha:

Isso nos permitiu publicar dessa admirável mas hermética romancista o Orlando, em primoro-za tradução de Cecília Meirelles (quem mais?) e Mrs. Dalloway. Edith Wharton deu à Nobel A Casa dos Mortos (Etham Frome) e Willa Cather, Safira e a Escrava. Eu próprio traduzi com amor para essa coleção o Bliss (Felicidade), de Katherine Mansfield, lá pelos idos e vividos de 1937 [...]'.

Convém salientar que as obras de Virginia Woolf traduzidas e editadas pela Globo tinham publicação recente na Inglaterra. Orlando, que evoca a história da Inglaterra, é de 1928, e Mrs. Dalloway, onde a preocupação com o tempo surge com igual vigor, é de 1925.

Por esta época, a Seção Editora resolve dedicar-se também à literatura in-fantil e a ela começa a dar o mesmo tratamento das grandes obras. Erico Veris-simo afirma que da cabeça de Henrique, cheia de projetos editoriais, saiu a idéia de publicar Heidi, d e j o h a n n a Spyri, com ilustrações de João Fahrion; A Ilha do Tesouro, clássico de R. L. Stevenson; Meninos d Agua, de Charles Kingsley; e os "incomparáveis" Alice no País das Maravilhas e Através do Espelho, de Lewis Carroll. Mais tarde é publicada a obra de Andersen com ilustrações de Nelson Boeira Faedrich4.

Reforçando esta decisão, o próprio Erico Verissimo, entre 1936 e 1937, es-creve seis histórias infantis para a Coleção Nanquinote, projeto dedicado às crianças.

Henrique e Erico, depois de 1937, empenham-se na organização de um programa editorial novo. Selecionam obras estrangeiras a serem publicadas, escolhem tradutores adequados, discutem títulos em português, o formato dos livros e seus lançamentos e dedicam-se à Coleção Nobel.

3. Erico Verissimo, Um Certo Henrique Bertaso, p. 43. 4. Idem, p. 429. Globo: Um Nome Nacional

Page 40: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Segundo, ainda, o depoimento de Veríssimo sabe-se que:

A Coleção Nobel foi também idéia de Bertaso: uma série que incluísse não apenas autores que haviam ganho o famoso prêmio criado pelo fabricante de explosivos sueco, mas, também, ou-tros autores de valor literário. Organizei uma lista de escritores que poderiam fazer parte dessa ilus-tre companhia e, aos poucos, livros de autoria deles foram sendo traduzidos e editados pela Globo5.

A FASE DA CONSOLIDAÇÃO

O incremento dado à Coleção Nobel, no final da década de 1930, modifi-ca a história da Seção Editora. A primeira grande mudança observada está no próprio Livro de Registros dos editores. Até 1937, os livros são registrados a partir da numeração e não há qualquer referência ao ano da publicação1'. As-sim, da edição número 1046 em diante os editores fazem divisões respeitando a cronologia.

Em 1938, começam a aparecer as obras de peso, aquelas que dão prestígio à editora e que fazem parte, em sua grande maioria, da Coleção Nobel. Thomas Mann é traduzido e são lançados Os Buddenbrooks e A Montanha Mágica7. A edi-tora apresenta também, nesse ano, a primeira tradução de William Somerset Maugham, com nada menos que Servidão Humana.

Enquanto Edgard Wallace, Agatha Christie, Karl May e outros continuam a ser editados, a Globo prepara-se para lançar, a partir de 1940, as obras: Hori-

5. Idem, pp. 42-43. 6. As publicações que não aparecem datadas no Livro de Registros foram obtidas através de um exaustivo tra-

balho de pesquisa. Alguns títulos foram selecionados, sobretudo de autores gaúchos e, depois, localizadas as primeiras edições dessas obras. Para tanto, foram imprescindíveis os livros de Ari Martins, Escritores do Rio Grande do Sul e Pedro Villas-Boas, Notas de Bibliografia Sulrrio-grandense. Depois que as obras foram localiza-das pelo ano de suas primeiras edições, foi possível fazer algumas divisões cronológicas no período anterior a 1938.

7. Erico Verissimo, Um Certo Henrif/ue Bertaso, p. 43. De acordo com o Livro de Registros, A Montanha Mágica somente foi editada em 1947. Optou-se pela informação trazida por Erico Verissimo porque o Livro de Re-

Editora Globo gistros possui alguns espaços em que nada foi registrado.

Page 41: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

zonte Perdido; E Agora, Adeus, Adeus Mr. Chips e Não Estamos Sós, de James Hilton; Contos, de Guy de Maupassant; Eu, Cláudio Imperador, de Robert Graves; Ratos e Homens e Vinhas da Ira, de John Steinbeck; Babbitt e Arrowsmith, de Sinclair Lewis; Férias de Natal e Um Gosto e Seis Vinténs, de W. Somerset Maugham; Os Thibaults, de Martin Roger du Gard; Jean-Christophe, de Romain Rolland; Admi-rável Mundo Novo, de Aldous Huxley, e Guerra e Paz, de Leon Tolstoi, além das edições de Sofista, Menon, Fedon e Parmênides, de Platão.

Ainda em 1940, a Globo lança A Rua dos Cataventos, de Mário Quintana, e posteriormente Sapato Florido e Poemas.

O total de edições entre 1938 e 1939 é de 130 e, em 1940, é de 187 títulos, o que faz deste ano um momento excepcional para a editora. Os livros publica-dos exigem a partir de então muito mais dedicação dos editores no que se refe-re à tradução, capas, ilustrações e à própria composição e impressão. Assim, além dos nomes importantes da literatura ocidental, a Globo investe também na quantidade e atinge, com isso, um alto índice de produção se comparada aos anos anteriores.

A Livraria do Globo, além da sede da Rua da Praia, possui, então, filiais em Pelotas, Santa Maria e Rio Grande. Depósitos em São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Belém do Pará e grandes pavilhões no Bairro do Menino Deus, para onde são transferidas parte das oficinas. Na casa matriz, mais de 700 pessoas trabalham nas várias seções, distribuídas entre a loja, escritório, depósi-to, tipografia, estereotipia, impressão, fotogravura, litografia, expedição, enca-dernação, brochura, pautação, editora, crediário, publicidade e várias outras se-ções menores da casa8.

E nessa época de expansão que a editora faz uma importante contratação: Maurício Rosenblatt. Em entrevista, há alguns anos, Rosenblatt conta que num outono de "sol alto, céu brilhante", Erico fez o convite e ele foi para a Globo. Segundo o seu depoimento:

8. Cap. Alvaro Franco e outros, Porto Alegre: Biografia de uma Cidade, p. 438. Globo: Um Nome Nacional

Page 42: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

C O L E Ç Ã O N O B E L

UMi K." TITULO E AUTOR Ir. - Eec. CMinm :

VOLUMES "SIMPLES" 545 10. Contraponto (4.° adição) Aidous HUXLÍY em reed^ão 962 13. Histãrios dos Mores do Sul 5 ° «dição . W. Somerset MAUGHAM «35 1070 A U. Smt Olhos em Gaza (3.a ediçõc Aldou. HUXLEY em reedição 937 17. Um Dromo na Motósio (4.° ediçfcl W. Somerset MAUGHAM em medição 1060 A 18 Morro dos Ventos Uivantes (7.° ediçflo). . Emily BRONTI em leednò» 117« A 24. 0 Patriota (4.° edição) . $30 e $48 Peorl S. BUCK $30 e $48 11)2 A Adeus, Mr. Chips (3." ediçío) $30 e $48

James HÍLTON em reedição 1191 A 27. Nao Eitomos S6s (3.« «Mo) . . James HÍLTON em «edição 1192 A 31. «20 e $35 John GALSWORTHY «20 e $35 1228 A 35. Um G6sto e Seis Vintíns (3 ° edição! etn m«*50 W. Somerset MAUGHAM etn m«*50 1248 A 36 Admirável Mundo Novo (2." edição). . . $35 e $53 Aldous HUXLEY $35 e $53 1268 A 37. 0 Agente Britânico (2.° ediçío) $30 e «<5 W. Somerset MAUGHAM $30 e «<5

— i —

Em 1938, começam a aparecer as obras de peso dando prestígio à editora. Tais obras fazem parte,

em sua maioria, da Coleção Nobel.

Page 43: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Em 1943, fui abrir as filiais de São Paulo e Rio e fiquei chefiando esta última. O Rio daqueles tempos era uma cidade agradável, amável. Tive o privilégio de fazer amizade com escritores como Marques Rebelo, Paulo Rónai, Aurélio Buarque de Holanda, Carlos Drummond de Andrade, Ma-nuel Bandeira, José Lins do Rego, Alvaro Lins, Cecília Meirelles, Lúcia Miguel Pereira'1.

Maurício Rosenblatt permanece oito anos no Rio de Janeiro e, nesse pe-ríodo, desempenha um importante trabalho para a editora. Erico Veríssimo, a respeito da nova contratação, relembra:

Maurício Rosenblatt foi um dia mandado para o Rio de Janeiro com uma finalidade entre outras muitas - a de melhorar a imagem da Editora Globo perante os escritores nacionais, que nos acusavam de descurar da literatura indígena, voltando-nos exclusivamente para a estrangeira. Com suas excepcionais qualidades humanas, Maurício fez amigos entre intelectuais e gente de impren-sa, realizando um belo trabalho (foi ele quem trouxe para a Globo o Mar Absoluto, da grande Cecília Meirelles). Mas convenceu-se - realista que é - de que os melhores escritores do país encontravam facilmente editores no Rio e em São Paulo. O que sobrava para a nossa editora - com algumas exce-ções, é claro - era uma espécie de "segundo time"10.

Além da literatura ficcional, depois de 1940 a editora lança obras ligadas às ciências humanas, dicionários, gramáticas e livros de ensino de língua estran-geira. Aparecem, também, os livros de culinária e lazer. Por tudo isso, a editora situa-se entre as maiores do Brasil, o que pode ser constatado nesta seleção de dados apresentados por Hallewell, referentes aos primeiros meses de 194911.

9. 10. li.

Elcyr Job Diniz Silveira, "Breve Perfil de um Semeador", Correio do Povo, 30 out. 1983, p. 7. Erico Verissimo, Um Certo Henrique Berlaso, p. 69. Laurence Hallewell, ojj. cit., p. 293. Globo: Um Nome Nacional

Page 44: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

90 CLASSIFICAÇÃO DAS EDITORAS NACIONAIS SEGUNDO O NÚMERO DE TÍTULOS NOVOS

Classificação Nome da Editora Títulos Novos

1« Companhia Editora Nacional 79 2a Melhoramentos 36 3a José Olympio 32 4a Globo 31 5a Pongetti 22 6a Briguiet e Empresa Editora Brasileira 17 r- Francisco Alves e Freitas Bastos 14 8a Saraiva 13 9 a Vecchi 12 10a Civilização Brasileira 09

(Subsidiária, na época, da Companhia Editora Nacional)

Em 1941, voltam a aparecer os dicionários, os livros de culinária e de ciên-cias humanas e exatas, mas o peso das edições ainda recai sobre a literatura es-trangeira.

O aparecimento de edições voltadas para o ensino superior está ligado à fundação da Universidade de Porto Alegre, núcleo que deu origem à Universi-dade Federal do Rio Grande do Sul, pelo interventor José Antonio Flores da Cunha, em 1934. Neste ano, e por decreto, as diversas unidades de ensino su-perior existentes em Porto Alegre, e que tinham autonomia entre si, são inte-gradas. São elas: Faculdade de Medicina, com suas escolas de Odontologia e Farmácia; Faculdade de Direito, com sua Escola de Comércio; Escola de Enge-nharia e os serviços de Astronomia, Instituto Montaury (engenharia mecânica e eletricidade) e o Instituto de Química Industrial; Escola de Agronomia e Ve-terinária. Depois é incorporado o já existente Instituto de Belas-Artes e criada a Faculdade de Ciências, Letras e Educação de onde nasce a Faculdade de Fi-losofia12.

Editora Globo 12. Os dados sobre a fundação da UFRGS foram retirados de Pery Pinto Diniz, Origem eEvolução da Universidade

Page 45: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Hm três volume«, (ns. 6. 7 t 8) n»

BIBLIOTECA DOS SÉCULOS

A organização da Coleção Biblioteca dos Séculos se deu com livros cujos direitos autorais j á haviam caído

em domínio público, barateando o custo.

J

Page 46: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

É importante salientar que a Globo se dedica também a fornecer material didático para o ginásio e o curso complementar, o que significa uma parte das edições de livros voltada para o ensino.

Dos 1674 títulos identificados, lançados pela Globo entre 1931 e 1948, aproximadamente 604 obras estão relacionadas ao ensino, o que representa um percentual de 36%. Entre 1931 e 1937, as publicações dessa área atingem um total de 45,5% das edições. Já entre 1938 e 1948, as obras ligadas às ciências exatas e naturais, ciências humanas, sociais e econômicas, dicionários, gramáti-cas e textos de teoria literária, bem como direito e legislação somam um total de 26,8% do total de edições. Todas estas publicações comprovam que a Globo investe maciçamente no ensino nos anos próximos à fundação da Faculdade de Porto Alegre, para depois diminuir seus investimentos e dedicar-se mais às tra-duções, tão caras a Henrique Bertaso e Erico Veríssimo.

Nesta época, Henrique e Erico dedicam-se a uma nova coleção que é par-te integrante dos planos da Seção Editora para a década de 40. Trata-se da Bi-blioteca dos Séculos, composta de grandes livros da literatura universal.

A idéia baseia-se em organizar uma coleção com livros cujos direitos auto-rais já haviam caído em domínio público, o que representava um custo bem menor. Para a Biblioteca dos Séculos, Erico faz uma longa lista de sugestões que inclui Stendhal, Edgar Allan Poe, Tchekhov, Maupassant, Shakespeare, Nietzsche, Montaigne, Tolstoi, Ibsen, Charles Dickens, Balzac, entre outros. Da seleção definitiva participam, com sugestões, amigos e colaboradores.

Durante a Segunda Grande Guerra, um fato importante marca o lança-mento de uma das obras da Biblioteca dos Séculos, que é assim lembrado por Erico Veríssimo:

Lembro-me do dia em que entreguei a Gustavo Nonnenberg uma edição francesa de Guerra e Paz, para que ele traduzisse o monumental romance para o português. Menciono este pormenor

Editora Globo

do RGS, pp. 168-169; Correio do Povo (Caderno de Sábado), 27 out. 1979; Zero Hora ("50 Anos UFRC.S: Infor-mativo Especial"), 28 nov. 1984; Fernando Casses Trindade, "Uma Contribuição à História da Faculdade de Filosofia da UFRGS", Revista do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS, ano X, 1982, p. 39.

Page 47: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

porque a publicação da obra máxima de Tolstoi concidiria com a invasão da Rússia pelas tropas nazistas, em 1941. Ao ouvir esta notícia, precipitei-me para o gabinete de Henrique e exclamei:

-Veja o poder do departamento de publicidade da Editora Globo! Conseguimos que o Führer parodiasse Napoleão, invadindo a Rússia, e fizemos esse golpe sincronizar com o lançamento no Brasil de nossa edição de Guerra ePaz!"

Aparece no Livro de Registros a seguinte lista de autores e obras para o ano de 1941: Platão com Críton, Timeu, Política e República', W. Somerset Maugham, com O Destino de um Homem, A Outra Comédia, Ah King, O Agente Bri-tânico eUp at the Villa (sic); Charles Dickens, com GreatExpectations, e H. Melville com Moby Dick, literatura também para jovens. Stendhal aparece com O Verme-lho e o Negro, Romain Rolland com novos volumes de Jean Christophe e Depois de Muito Verão Morre o Cisne, nova obra de Aldous Huxley. Joseph Conrad dá à edi-tora sua obra Victor)i, e Mme de Lafayette, A Princesa de Clèves.

Uma pequena lista de edições marca a atividade da Seção Editora no ano de 1942. A editora trabalha com 43 obras, o que representa menos da metade das obras registradas no ano anterior. Mesmo assim, aparecem Tchekhov, com Contos, Aldous Huxley, com Grey Emminence, e o maldito Henrik Ibsen, bem como um sucesso de vendas desde a época de Mansueto Bernardi, que é Giovani Papini.

Apesar do sucesso da Seção Editora, marcado pela publicação de grandes nomes da literatura universal e pela projeção nacional de Erico Verissimo e de algumas publicações, dificuldades começam a se apresentar.

A primeira delas é a ida de Verissimo para os Estados Unidos da América em 1941, por um período de três meses, a convite do governo norte-americano como parte do programa de boa vizinhança criado por Roosevelt. A ausência de Erico não pode ser considerada um fato prejudicial à editora, porém, na sua volta a Porto Alegre, um acontecimento marca a vida do escritor gaúcho. Erico Verissimo havia lançado, em 1941, a obra O Resto é Silêncio. Em 1943, esta obra torna-se o ponto central de uma polêmica iniciada pelo Pe. Leonardo Fritzen,

13. Erico Verissimo, Um Certo Henrique Bertaso, p. 60. Globo: Um Nome Naàonal

Page 48: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

SJ., que publica na Revista O Eco, órgão de circulação interna do Colégio Anchieta, um artigo acusando o autor de O Resto é Silêncio de ser imoral em al-gumas passagens da obra.

Este fato é tema de um trabalho escrito por Fernando Casses Trindade, no qual são apresentadas as personagens envolvidas, os fatos, a presença do Estado Novo e o parecer da sociedade porto-alegrense sobre a polêmica. Fernando Trindade apresenta as razões que levaram o Pe. Fritzen a escrever o artigo, e as de Erico Veríssimo para mover-lhe uma queixa-crime. Trindade apresenta os mo-tivos que impulsionam os adeptos do Pe. Fritzen e os de Veríssimo a se unirem não só para dar assistência judiciária aos envolvidos na questão, como também para organizar longas listas de assinaturas apoiando Erico ou o Pe. Leonardo.

Fernando Trindade afirma que essas moções de solidariedade são assina-das num momento em que o Estado Novo, através do Departamento de Impren-sa e Propaganda, inicia uma profunda fiscalização no pensamento nacional, decorrendo daí todo um clima de simpatia ou aversão à ditadura que se solidi-fica. Deste modo, apoiar Pe. Fritzen ou Erico Veríssimo tem um significado um pouco mais amplo do que num primeiro momento pode parecer14.

Em Solo de Clarineta, Erico Veríssimo apresenta a sua versão, que coincide com a análise acima apresentada:

O Padre Fritzen - se bem me lembro, assim se chamava o cristão que me queria atirar aos leões - aproveitando a circunstância de ter morr ido havia pouco Getúlio Vargas Filho, fazia no seu ensaio, aliás de maneira primária, um apelo à alma do "Getulinho", para que do céu, onde se en-contrava, inspirasse seu pai a mandar fazer uma fogueira com os exemplares de O Resto ê Silêncio e expulsar do país seu autor. (Curiosa essa sobrevivência das fogueiras inquisitoriais no inconsciente de certos sacerdotes!) Ora, era sabido que a Igreja, como o Exército, apoiava o Ditador. Eu andava

14. Fernando Casses Trindade, "A Polêmica entre Erico Veríssimo e o Padre Leonardo Fritzen", Revista do Ins-tituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS, ano XI/XII, 1983/1984, pp. 35-98. O trabalho do professor Fernando Trindade é o mais importante estudo não só dessa polêmica, como da posição dos católicos gaú-chos frente ao Estado Novo. Nesse trabalho é feita uma análise da figura de Erico Veríssimo como homem público e escritor, para mostrar que suas idéias, naquele momento, levavam a sociedade a identificá-lo com

Editora Globo a esquerda, fato suficiente para desencadear toda a questão.

Page 49: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

irritado com a situação política e social do Brasil. A apatia e a conformidade eram quase gerais. Os poucos que se opunham ativamente ao Estado Novo estavam exilados, presos ou reduzidos ao silên-cio e à imobilidade por uma Polícia ativa e, em muitos casos, brutal. Era preciso reagir, mesmo que fosse de maneira puramente simbólica. Foi o que fiz quando contratei um advogado para processar o padre, que nunca cheguei a ver pessoalmente, e cuja punição jamais desejei nem esperei. Eu queria que meu gesto fosse interpretado como um protesto contra a situação política vigente no país1 '.

A verdade é que tal polêmica projeta o nome de Erico Veríssimo, levando-o a receber centenas de manifestações das mais diversas camadas sociais e pro-fissionais, ao mesmo tempo que divulga o nome da Globo, empresa que com ele contracena nessa questão. Contudo, o ano de 1942, apesar da involuntária campanha publicitária da qual a editora participa com a polêmica, ainda traz uma outra surpresa para seus editores. Segundo versão da própria empresa:

Naquele ano, a chamada "Reforma Capanema" alterava p rofundamente a estrutura de ensi-no no Brasil, el iminando o tradicional sistema das cinco séries ginasiais mais dois anos preparatóri-os específicos para cada Faculdade e, ao invés disso, estabelecendo o regime de quatro séries de Ginásio mais três anos de Colégio ("clássico" ou "científico"). Isto representou um t remendo baque no planejamento e operacionalidade das grandes editoras do país. Para se ter uma idéia da dimen-são do problema, basta dizer que a Globo teve de enviar 50 toneladas de livros - novinhos em folha - para as fábricas de papel. Verdadeiro "lixo industriar1 0 .

Além disso, afirma-se no Relatório:

A empresa, ao longo de mais de meio século de existência, tivera de acompanhar os solavan-cos de duas Guerras Mundiais. Numa época ainda recente, em que se confrontavam os integralistas e os comunistas no radicalismo ideológico Direita x Esquerda, a Globo pagara alto preço em se manter equidistante do confronto, em coerência com os propósitos puramente empresariais. Servi-ra de alvo para os ataques de ambas as facções. Se por um lado, parecia abrigar "lacaios do capitalis-mo ianque" à medida que divulgava a moderna literatura norte-americana, por outro lado, Erico Veríssimo recebera o carimbo dê comunista desde que, no romance Saga, pusera seu personagem

15. Erico Veríssimo, Solo de Clarineta: Memórias, pp. 279-280. 16. Livraria Globo, Relatório da Diretoria. 100 Anos: 1883-1983, s. p. Globo: Um Nome Nacional

Page 50: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Vasco à luta junto aos guerrilheiros espanhóis (e pouco valera, para a imagem política do autor, o desencanto final do rapaz ao recolher-se à província gaúcha e ficar liricamente com as coisas da vida rura l )" .

A partir dessa reforma os administradores decidem tornar independentes os empreendimentos editoriais, tanto quanto possível, dos outros empreendi-mentos da Globo, "[...] em áreas igualmente complexas mas que obedeciam a critérios um pouco mais estáveis, mais condizentes com as milenares normas do bom desempenho comercial". Além disso, a Globo traça objetivos específicos para cada área, evitando o atrelamento demasiado aos demais setores18.

Torna-se importante salientar que se o nome da Globo esteve ligado indi-retamente à "esquerda", porque defendera Erico Veríssimo e continuava divul-gando sua obra e a de autores que faziam ferozes críticas à sociedade burguesa e aos regimes totalitários, esteve, também, anteriormente, próxima da "direita", quando divulgou Hitler com seu Mein Kampf, e alguns autores gaúchos simpati-zantes do nazi-fascismo e do integralismo, como é o caso de Félix Contreiras Rodrigues. A lista pode ser alongada com inúmeros exemplos, mas basta, por ora, citar Judeu Internacional, de Henry Ford (1933); Nacionalismo: O Problema Judaico e o Nacional Socialismo, de Anor Butler Maciel (1937) e A Questão Judaica, do Padre J. Cabral, obras com caráter anti-semita e que foram editadas pela Globo.

Com posições radicalmente diferentes, em 1935, Dyonélio Machado, membro do Partido Comunista Brasileiro, aparece com Os Ratos, no qual faz uso da palavra para denunciar as injustiças sociais. A Globo publica a obra de John Steinbeck, cuja força de denúncia marca a própria história dos EUA, e obras de Ibsen, de Huxley, de Cervantes, de Thomas Mann, Maugham, Gide, Proust, en-tre tantos outros escritores identificados com compromissos diferentes daque-les defendidos pelos simpatizantes do nazi-fascismo.

17. Idem. Editora Globo 18. Idem.

Page 51: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

A editora, no entanto, interessa-se, como já foi dito, pelos leitores, extre-mados ou não, e pelos índices de venda resultantes das formas empregadas para garantir o sucesso de seus investimentos. Continua valendo-se da publicidade e, conforme publicação de 1940, os métodos empregados pelos editores para divulgação das obras trazem algo de novo para esse ramo de negócio:

A Livraria do Globo foi também a primeira casa editora brasileira que empregou a publicida-de organizada do livro em larga escala. O primeiro ensaio de publicidade em larga escala foi feito pela Livraria do Globo com o livro A Vida Começa aos 40 de Walter Pitkin. O resultado excedeu as mais lisonjeiras expectativas, pois a ls edição dessa obra esgotou-se em pouco mais de dois meses.

[...] Foi então criada a Seção de Publicidade, em moldes modernos e especializados nas téc-nicas de propaganda do livro. A primeira demonstração de eficiência dessa nova Seção foi demons-trada por ocasião do lançamento do romance Servidão Humana de Somerset Maugham. Somente na publicidade prévia dessa obra foram gastos 40 contos de réis, o que equivalia a uma verdadeira revolução no comércio de livros no Brasil. A ls edição de Servidão Humana, livro de 18$000 o exem-plar, esgotou-se em apenas 24 dias, sendo de notar que a Seção de Publicidade havia calculado o prazo de três meses para que isso se verificasse1'1.

A Globo depende, neste momento, de três tipografias da capital e uma de São Paulo para cumprir seu programa de edições, sobretudo a edição do Dicio-nário Enciclopédico Brasileiro, "[...] monumental obra na elaboração da qual vem trabalhando há cerca de cinco anos" e que será o primeiro grande dicionário enciclopédico editado no Brasil num único volume20.

Com o mérito de ter sido totalmente elaborada por colaboradores da edi-tora, a Enciclopédia Brasileira Globo tem à frente o pesquisador Alvaro Magalhães. Da mesma forma, os próprios funcionários da casa são responsáveis pela orga-nização, praticamente com pioneirismo no Brasil, de uma obra dedicada à culi-nária.

Segundo o Relatório da Diretoria, a Globo

19. Franco e outros, Porto Alegre: Biografia de uma Cidade, p. 438. 20. Idem, p. 439. Globo: Um Nome Nacional

Page 52: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Poderia ter importado fotos e receitas britânicas ou francesas. Mas arcou com os custos de uma completa e diversificadíssima cozinha - a Cozinha Experimental Globo, contratando os servi-ços de doze eméritas cozinheiras e quituteiras de Porto Alegre. O trabalho de produção começou em 1941 e se desenvolveu por cerca de três anos. Esse verdadeiro desfile pantagruélico foi docu-mentado por milhares de fotos de Ed Keffel e saboreado por uma exigente confraria de gourmets. Os pratos aprovados - desde rotineiros bolinhos até sofisticadas criações da doçaria lusitana e cozi-nha chinesa - se enfileiraram nas 1200 páginas, em dois volumes, da Enciclopédia de Arte Culinária. Tecnologia Globo desde o aquecer o fogão até o rodar das impressoras21.

O ano de 1945 marca o lançamento de aproximadamente 109 obras, com destaque ainda para a literatura estrangeira. Novos autores são registrados, tais como: Alexandre Dumas, com História de um Quebra-nozes e Os Três Mosqueteiros-, Edgar Allan Poe com Poesia e Prosa] Flaubert com Obras Completas e Nietzsche com A Vontade do Poder.

Balzac consta pela primeira vez na lista dos editores. E tempo de guerra e Maurício Rosenblatt, autor da magnífica idéia de traduzir a Comédia Humana para o português, recorda:

Em 1943, era impossível adquirir-se obras novas de autores franceses. Os tradutores desta lín-gua, portanto, estavam sem atividade. Foi aí, então, que lembrei que poderíamos traduzir obras mais antigas, clássicas. Nasceu, então, a edição da Comédia Humana"22.

Depois de Balzac, os editores iniciam a tradução de Mareei Proust. Sobre estas duas inesquecíveis traduções, Erico Veríssimo faz um relato:

Graças a ele [Rosenblatt] pudemos apresentar uma "produção" (usemos o anglicismo hollywoodiano) magnífica da Comédia Humana, na Biblioteca dos Séculos. Maurício entregou sabia-mente a parte crítica e iconográfica dessa edição a Paulo Rónai, talvez o maior conhecedor de Balzac e sua obra ent re nós. Foi também Rosenblatt quem nos conseguiu no Rio de Janei ro alguns escrito-res de nome, como Carlos Drummond de Andrade, que, vencidos pela capacidade de persuasão, se dispuseram a traduzir para o português volumes d e A la recherche du pemps perdu. Sim, porque nossa paranóia editorial começava a tomar proporções monumentais. Numa conspiração digna das nove-

21. Livraria do Globo, Relatório da Diretoria. 100 Anos: 1883-1983, s. p. Editora Globo 22. Elcyr Job Diniz Silveira, "Breve Perfil de um Semeador", Correio do Povo, 30 out. 1983, p. 7.

Page 53: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

las da Coleção Amarela - Henrique, Mauricio e eu, em sinistro conluio, decidimos atirar-nos nessa aventura editorial que foi a versão para a língua de Machado e de Eça da grande obra de Mareei Proust25.

99

Na esteira de Proust, surge James Joyce, e o projeto editorial da Seção Editora torna-se cada vez mais consistente. Segundo Erico, ele e Henrique ti-nham "o olho maior que o estômago":

[...] comprávamos mais direitos sobre livros estrangeiros do que nossa capacidade de editar permitia. O fato de a editora estar ligada por um cordão umbilical a sua "mãe", a Livraria do Globo, fazia que a poderosa genitora pagasse as dívidas e caprichos da "menina", dando-lhe uma mesada que de ano a ano aumentava, "Quem era" - perguntava o velho Bertaso - "quem era esse tal senhor Platão que todos os meses recebe quinze contos de réis?" Henr ique coçava a cabeça e explicava. Outra coisa que exacerbava o Chefe eram as despesas mensais com os dicionários e manuais técni-cos que a Editora aos poucos organizava, ocupando muitos especialistas'24.

Ainda em 1943, Erico Verissimo retorna aos Estados Unidos a convite do Departamento de Estado daquele país e escolhe a Universidade da Califórnia para dar um curso de literatura brasileira. Desses dois anos em São Francisco e Los Angeles, origina-se A Volta do Gato Preto (1946), uma continuação de Gato Preto em Campo de Neve (1941), relato da primeira viagem aos Estados Unidos.

Na Editora Globo, a aventura editorial prossegue em 1944 e 1945. Nestes dois anos são registradas 230 obras. Mais uma vez tem-se uma longa lista de nomes da literatura universal. Em 1944 estavam na lista quatro obras de Virgínia Woolf: Orlando, The Waves, Mrs. Dalloway e To the Lighthouse.

Aparecem, também, no Livro de Registros Dashiel Hammet, com O Falcão Maltês, Red Harvest e The Dain Curse, Montaigne, com Ensaios, Romain Rolland, com Pierre et Luce, Andre Gide, com L'Ecole de femmes e Robert, Cervantes, com

23. Erico Verissimo, Um Certo Henrique Bertaso, p. 67. 24. Idem, p. 70. A respeito da compra de direitos autorais de obras que a Globo não editou, Erico Verissimo lem-

bra o caso de O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry, que, por ser uma obra ilustrada, teve sua edição adiada e, por fim, foi vendida e publicada por outra editora, transformando-se num indefectível sucesso. Globo: Um Nome Nacional

Page 54: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Em 1943, aproximadamente 109 obras são lançadas. Entre elas está Poesia e Prosa, de Edgar Allan Poe.

Page 55: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

1850 1950 O Brasil comemora o CtnienÁriv ia mwie dk

H O N O R É DE B A L Z A C

Com a pritr.etra eduáo com pi* ta em potiitguii de

A C O M É D I A H U M A N A Organizada por Paulo R'ma:

cm 17 iftlumej da "Btbltotu* dos SiuUot"

PIANO £ CARACTERÍSTICAS O A EDIÇÃO

Devido à Segunda Grande Guerra, surgem numeras dificuldades para adquirir obras estrangeiras. Maurício Rosenblatt tem, então,

a idéia de traduzir obras mais antigas, clássicas.

Page 56: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Don Quijote de la Mancha-, Andersen, com seus Contos; Somerset Maugham, com O Fio da Navalha-, Charles Dickens, com The Pickwick Papers-, Paul Verlaine, com Poesias Escolhidas-, Shakespeare, com Romeu e Julieta-, James Joyce, com A Portrait of the Artist as a Young Man, Vicki Baun, com Hotel Berlim-, Thomas Mann, com

Joseph and His Brothers, Aldous Huxley, com Time Must Have a Stop e Ends and Means; Juan R.Jimenez, com Platero y Yo, entre muitos outros, num total de 131 registros de obras.

Em 1944, entre as obras de literatura brasileira, também registram-se Mar Absoluto, de Cecília Meirelles, Mundo Enigma, de Murilo Mendes e A Filosofia no Brasil, de João Cruz Costa.

Em 1945, R. L. Stevenson, com Noite das ilhas, A. Fielding, com Tom Jones, Aldous Huxley, com AnticHaye Jesling Pilate constam da lista jun to com Voltaire, Dante Alighieri e Fenelon. Aportam, na Globo, jun to com Cecília Meirelles e Murilo Mendes, outros nomes de primeira linha da literatura nacional, como Graciliano Ramos, com Histórias Incompletas e Sérgio Milliet, com Poesias.

E importante salientar o fato de terem sido registradas somente 98 obras publicadas em 1945, marcando a nova tendência da Globo de diminuir cada vez mais o número de edições.

Manuel Bandeira vem, em 1946, com Poemas Traduzidos, acompanhado por William Faulkner, com Luz de Agosto, e por Stendhal, com A Cartuxa de Parma. Além destes, André Gide, com LImmoraliste, Rainer Marie Rilke, com Cartas a um Jovem Poeta; Maugham com Then and Nour, Maupassant com nove-las e contos, e Proust com Du cõté de chez Swann, que formam uma lista de 48 edições.

Em 1947, o número de registros mantém-se reduzido, como em 1946, mas os clássicos e grandes nomes da literatura ocidental continuam povoando o Li-vro de Registros. Proust - Em Busca do Tempo Perdido - está agora em seu sexto volume, e Leon Tosltoi aparece com Os Amores deDacha. A Montanha Mágica, de Thomas Mann, finalmente consta da lista, jun to com duas obras de Bernard Shaw, The Black Girl in Search of God e The Intelligent Woman 's Guide to Socialism

Editora Globo and Capitalism. Agatha Christie também faz parte da lista com três obras: The

Page 57: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Man in the Brown Suit, The Secret of Chimneys e The Secret Adversary. Este ano de 1947 registra somente 54 edições.

Já em 1948, o número de edições cai para 24 ao todo. Destacam-se James Hilton, Was it Murder, Lucrécio, Da Natureza das Coisas; Paulo Rónai, Gradus Primus e Gradus Quartus-, e uma Antologia Latina de diversos autores. Em 1949, somente 20 obras são registradas, entre elas o primeiro volume de O Tempo e o Vento - O Continente - que terá os outros seis volumes editados até 1965.

Toda a produção desse período, em que predominam as grandes publica-ções traduzidas, pode ser assim apresentada:

A PRODUÇÃO DA SEÇÃO EDITORA: 1938 A 1948

Gêneros Freqüência %

Literatura Estrangeira 325 39,0 Culinária e Trabalhos Manuais 82 9,9 Literatura Rio-grandense 81 9,7 Ciências Humanas, Sociais e Econômicas 80 9,6 Dicionários, Gramáticas e Teoria Literária 69 8,3 Ciências Exatas e Naturais 56 6,8 Direito e Legislação 18 2,1 Literatura Brasileira 10 1,2 Esporte e Lazer 10 1,2 Almanaques e Memoriais - -

Outros 41 4,9 Não registrados 8 0,9 Não classificados 54 6,4

TOTAL 834 100,0

Fonte: Livro de Registros da Editora Globo.

As traduções da Globo feitas na década de 1940 são o resultado de um cui-dadoso trabalho de equipe. São muitos os depoimentos que atestam a qualida-de dessas traduções, mas ainda é o depoimento de Erico Verissimo que contém Globo: Um Nome Nacional

Page 58: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

maiores dados sobre a sistemática da Seção Editora e o saneamento feito neste período:

O processo de tradução de uma obra tornou-se então algo de muito elaborado. Escolhido o livro a verter-se para o português, procurava-se o tradutor, de acordo com a especialidade lingüísti-ca de cada um. Feita a escolha do tradutor, este fazia sem pressa o seu trabalho, tendo ã sua dispo-sição uma biblioteca em que havia vários dicionários e enciclopédias (a gigantesca Espasa-Calpe, a famosa Britânica, a Italiana e várias alemãs, francesas, inglesas e americanas). [...] Depois que o tra-dutor dava por terminado o seu trabalho, os respectivos originais eram entregues a um especialista da língua de que o livro fora traduzido, para que ele os confrontasse, linha por linha, com o origi-nal, procurando verificar a fidelidade da versão. Mas o processo não termina aí. Havia uma terceira etapa, a em que um especialista examinava o estilo do livro, discutindo-o com o tradutor, cujo nome ia aparecer sozinho no pórtico do volume. Em casos de divergência havia uma arbitragem. Os livros estrangeiros publicados durante os 4 ou 5 anos em que esse esquema durou são de excelente quali-dade no que diz respeito à tradução. O nosso Chefe maior, porém, ficava apavorado - e com razão! - quando examinava o custo de tradução de cada obra. Foi em 1947, ano financeiramente mau para a Seção Editora, que essa admirável equipe foi dissolvida, embora permanecesse intacto o nosso propósito de dar a nossos livros as melhores versões brasileiras possíveis25.

O ambicioso projeto editorial posto em prática transforma a Livraria do Globo numa das mais importantes casas editoras do país, porém os custos são muito altos, o que se comprova no depoimento de Erico quando trata do pro-cesso de tradução, por exemplo, e nem sempre a venda de livros é suficiente para manter o nível desses investimentos. Por isso, de 1946 em diante, a empre-sa começa a diminuir o volume das edições gradativamente até chegar a 18 edi-ções em 1950.

Em 1948, a livraria perde seu diretor, José Bertaso. Este momento signifi-ca muito para todos os que convivem com este homem que é um exemplo de empresário exigente, de temperamento explosivo, dono de um inquestionável tino comercial e de uma sensibilidade natural que lhe permitiram compreen-der e até apoiar os investimentos de seu filho Henrique e dos assessores quase sempre insaciáveis.

Editora Globo 25. Idem, pp. 50-51.

Page 59: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Como diria Erico Verissimo, não se pode deixar de registrar nessa "crôni-ca de família" o ano de 1948, porque a partir daí, ainda não se sabe ao certo as razões, a editora desvia o seu rumo e se dedica ã publicação de manuais técni-cos, à obra de Erico Verissimo e àqueles autores cujo trabalho não necessita de um grande investimento a não ser uma periódica edição.

Nesse mesmo ano, os herdeiros e a nova administração decidem pela trans-formação da empresa em sociedade anônima - Livraria do Globo S.A. - da qual a Editora Globo torna-se uma filial. Esta divisão se consolida em 1956, quando a empresa passa a ser Livraria do Globo S.A. e Editora Globo S.A. Nesse momen-to, porém, a Globo possui um rigoroso fundo editorial representado, sobretu-do, por grandes autores nacionais e internacionais. E uma casa editora com tra-dição, cuja história se confunde com a do Rio Grande do Sul e do Brasil neste século XX.

Globo: Um Nome Nacional

Page 60: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

if

: t^mÉasm >J"

Page 61: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

CONCLUSÃO

Neste trabalho pretendeu-se examinar algumas questões consideradas fun-damentais para traçar um quadro, no qual se localiza a Editora Globo.

O desenvolvimento do processo de industrialização, ocorrido no Brasil deste século, é fator fundamental para a compreensão da indústria cultural e de livros. Tal processo vem acompanhado, na década de 1930, da ascensão de Ge-túlio Vargas, que ao inaugurar um estilo de política dependente da participa-ção das massas, estimula a radiodifusão e o desenvolvimento do cinema nacio-nal, do disco, da imprensa e do livro.

Este impulso incrementa a indústria cultural e os meios de comunicação de massa, cujos alicerces o próprio processo de industrialização já havia lançado.

Anteriormente, no entanto, já existe uma indústria de livros no Brasil. Suas demandas dependem das exigências de um escasso público leitor e do ensino público e privado, cujo material didático procede de algumas editoras. Essa in-dústria de livros, existente no século passado, é dependente da européia, na medida em que de lá vem grande parte das obras já impressas e prontas para a comercialização, mesmo aquelas de autores nacionais.

No Brasil do século passado alguns livreiros tornam-se famosos editores, como os irmãos Garnier e os Laemmert. Na virada do século, a Francisco Alves firma-se como a mais conhecida casa editora brasileira situada, assim como as outras, no Rio de Janeiro.

Na década de 1920, São Paulo torna-se o principal pólo da produção de livros no momen to em que Monteiro Lobato edita sua primeira obra - Urupês - e prepara-se para revolucionar, com seus métodos ousados, o m u n d o das

Page 62: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

edições no Brasil. A editora por ele fundada dá origem à Companhia Editora Nacional.

Depois que Monteiro Lobato se apropria das condições favoráveis de in-dustrialização para montar uma empresa dependente de capital, mão-de-obra e mercado local, outras grandes casas editoras como a Brasiliense, José Olympio, Livraria Martins Editora, Civilização Brasileira desenvolvem-se e originam um moderno mercado editorial.

A Editora Globo surge na esteira das grandes editoras, com a diferença de que sua sede fica num estado periférico e geograficamente distante do tradicio-nal centro de produção e consumo de livros no Brasil.

Apesar dessa distância, e mesmo por esta razão, o Rio Grande do Sul trans-forma-se no terceiro centro industrial da federação. Neste estado as condições para o desenvolvimento de uma empresa industrial voltada aos livros também são favoráveis porque:

1. Trata-se de um estado cuja tradição industrial está bastante definida, pelas suas necessidades de abastecimento, e tem Porto Alegre como principal pólo produtor.

2. O Rio Grande do Sul, segundo fontes oficiais, é o estado que possui a maior taxa de indivíduos alfabetizados do Brasil, o que significa, entre outras coisas, a existência de virtuais leitores.

3. Experiências no campo da editoração e publicação já haviam sido feitas no século XIX, e algumas livrarias da capital editavam livros, o que significa uma certa experiência neste campo da indústria.

4. Porto Alegre é um importante centro cultural que abriga intelectuais atu-antes, muitos escritores com obras prontas para serem editadas, pintores e desenhistas aptos para fazer capas de livros, tradutores familiarizados com outros idiomas e até talentosos editores que se assenhoream das condições propícias para trazer ao público brasileiro, em português, obras que até então somente eram lidas pelos conhecedores de outros idiomas.

Editora Globo 5. Além do que já foi citado, pode-se constatar uma disposição à aceitação de

Page 63: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

autores novos, abrindo, deste modo, um espaço para a divulgação de obras vindas dos Estados Unidos. De lá vem também um novo estilo de vida, marcado pelos sintomas da modernidade e pelas sedutoras novidades, como é o caso do cinema de ação, objeto de crescente interesse dos brasi-leiros.

Uma vez delineado o quadro, pode-se projetar nele a Seção Editora da Livraria do Globo nos idos de 1930, e as razões que a levaram a tornar-se uma grande casa editora.

A Seção Editora, até 1930, tem uma limitada produção de livros, ligados, em sua maioria, a autores gaúchos, além de algumas traduções. A partir de en-tão, inicia-se uma fase em que as traduções tornam-se a peça mais importante da Seção. As obras selecionadas, quase todas voltadas para a literatura popular, são distribuídas em coleções que, ao serem divulgadas pela imprensa, pela Re-vista do Globo e por outros esquemas de publicidade da empresa, tornam-se ra-pidamente conhecidas do público leitor.

Alguns autores, como Karl May, Edgar Wallace e Agatha Christie, entre muitos outros, transformam-se, no dizer de Erico Veríssimo, numa "argamassa popularesca", que toda editora deve ter, se quiser manter a presença de outros autores mais eruditos.

A presença de Henrique Bertaso e Erico Veríssimo, o contato destes com revistas especializadas, com intelectuais de prestígio, como é o caso de Augusto Meyer, com feiras e com a experiência e o suporte financeiro que a Livraria do Globo dá a seus projetos, permitem-lhes editar, depois de 1937, alguns dos mais importantes nomes da literatura universal. Até a literatura e o pensamento da antigüidade clássica fazem-se presentes nessa lista que se torna o maior indica-dor do sucesso da Seção Editora.

Sucesso aqui não está sendo relacionado ao volume de vendas, e sim à aquisição de importantes direitos autorais e à capacidade de traduzir, ilustrar e colocar a obra no mercado. A partir dos dados coletados durante a pesquisa, fica difícil avaliar se esse volume de edições vinha acompanhado de vendas. Conclusão

Page 64: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

De qualquer forma, a Globo, nos dez anos posteriores a 1938, desenvolve uma enorme capacidade produtiva que a transforma numa das três maiores editoras do país.

Suas traduções possuem alta qualidade e altos custos, atestando, atra-vés do t ra tamento dado às obras, o desejo de seus editores de fazer da Glo-bo um dos mais prestigiados nomes do Brasil. Este prestígio cresce com a tradução de Honoré de Balzac, Mareei Proust, Virgínia Woolf, Leon Tolstoi, William Faulkner, André Gide, Bernard Shaw, Aldous Huxley, Somerset Maugham - a lista é bastante longa - com a publicação da Enciclopédia Brasi-leira Globo e com o sucesso nacional dos livros de Erico Veríssimo de Olhai os Lírios do Campo (1938) ao aparecimento do último volume de O Tempo e o Vento (1963).

Pode-se afirmar que até 1947 a atividade editorial - traduções, confecção de enciclopédias, organização de coleções - é incessante. Depois desta data, os registros das edições começam a diminuir e, segundo os próprios editores, a atenção se volta para os livros técnicos, livros-ferramenta, que atendem às no-vas exigências da especialização profissional, para os livros de Erico Verissimo, para a Enciclopédia Globo e para os cursos de línguas estrangeiras, mais precisa-mente o britânico Linguaphone, à base de discos e fitas sonoras.

Depois de 1948, as grandes obras, tão caras a Henrique Bertaso e a Erico Verissimo, começam a desaparecer do Livro de Registros. O volume das edições voltadas para o campo literário diminui, configurando a nova política editorial da empresa.

O presente trabalho não pretendeu explicitar as razões que levam os pro-prietários e diretores, depois de 1948, a afastar a Seção Editora de seu projeto editorial. Mencionaram-se os altos custos das edições, porém esta não deve ser a explicação final.

Após o falecimento de José Bertaso, os herdeiros e a nova administração optam pela transformação da empresa em sociedade anônima - Livraria do Glo-bo S.A. - da qual a Editora Globo torna-se uma filial. Essa divisão se consolida

Editora Globo em 1956, quando a empresa passa a ser Livraria do Globo S.A. e Editora Globo

Page 65: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

S.A. Em 1986, o respeitável acervo de 2 830 títulos passou a ser administrado, por compra, pelas Organizações Globo.

Esse acervo, um dos mais importantes da língua portuguesa, resultado de uma conjuntura histórica favorável associada à iniciaüva de Henrique Bertaso e Erico Verissimo, os grandes coordenadores do projeto que ora acabamos de relatar, é um patrimônio que pertence a nós, brasileiros.

Construir uma imagem mais histórica da Globo é uma tarefa de reconhe-cimento de um passado que nos importa, por isso, tarefa de auto-reconhecimen-to. É indispensável, a nosso ver, porque trata-se da história dos livros, sem os quais não conseguimos organizar o nosso repertório cultural ocidental.

Conclusão

Page 66: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

hfif¡r»* «MrAngeíi*».

Page 67: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

BIBLIOGRAFIA

"A NOVA GLOBO VAI ÀS BANCAS". Folha de São Paulo, São Paulo, 9 set. 1 9 8 6 , p. 1 6 .

ADORNO, T . W . & HORKHEIMER, M . " A Indústria Cultural. O Iluminismo como Mistificação de Massa". In: COSTA LIMA, Luiz (org.). Teoria da Cultura de Massa. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978.

ALMANAK LTTTERARIO E ESTATÍSTICO DO RIO GRANDE DO SUL PARA 1917. Alfredo Ferreira Rodrigues (org.). Rio Grande, Editora Pinto & Cia., Livraria Americana, 1917.

ANUÁRIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PARA O ANO DE 1914. Graciano A. Azambuja. Porto Alegre, Editores Krhae e Cia., sucessores de Glundach e Krahe, 1913.

ARTE EM REVISTA. São Paulo, Kairós, ano I, n. 2. . São Paulo, Kairós, ano II, n. 3.

BARCELOS, Ramiro. Rio Grande, Tradição e Cultura. Porto Alegre, Edições Flama, 1 9 7 0 .

BENJAMIN, Walter. "A Obra de Arte na Época de sua Reprodutibilidade técnica". In: COSTA

LIMA, Luiz (org.). Teoria da Cultura de Massa. Introdução, comentários e seleção de Luiz Costa Lima, 3. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978.

. Magia e Técnica, Arte e Política; Ensaios sobre Literatura e História da Cultura. São Paulo, Brasiliense, 1987.

BITTENCOURT, Dario de. Curriculum Vitae: Documentário 1901-1915. Porto Alegre, Ática Impressora, 1958.

BORDIEU, Pierre. A Economia das Trocas Simbólicas. São Paulo, Perspectiva, 1 9 7 4 .

BRUM, Argemiro. O Desenvolvimento Econômico Brasileiro. 5. ed. Petrópolis, Vozes/Fidene, 1 9 8 5 .

CALLACE, Roque. Terra Natal. Porto Alegre, Globo, 1920. CANTER, Rita. Impressões Regionalistas e Outras Crônicas. Porto Alegre, Difusão de Cultura,

1962.

Page 68: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

CARONE, Edgar. A República Velha: Instituições e Classes Sociais. Rio de Janeiro/São Paulo, Difel, 1978.

CAVALHEIROS, Edgard. Testamento de uma Geração. Porto Alegre, Globo, 1944. CESAR, Guilhermino. "Fidelidade à Poesia ". Correio do Povo, Porto Alegre, Letras e Livros,

15 jan. 1983, n. 71, p. 3. et al RS: Economia e Política. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1979.

CHARTIER, Roger & ROCHE, Daniel. " O Livro: Uma Mudança de Perspectiva". In: LE GOFF,

Jacques & NORA, Pierre. História: Novos Objetos. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1976. COELHO NETTO, José Teixeira. O Que éIndústria Cultural. São Paulo, Brasiliense, 1980. COHN, Gabriel. "Problemas da Industrialização no Século X X " . In: MOTA, Carlos Guilherme

(org.). Brasil em Perspectiva. 10. ed. São Paulo, Difel, 1978. CORREIO DO Povo, Porto Alegre, 1926 a 1940 (anos consultados).

. Caderno de Sábado, 27 out. 1979. COSTA FRANCO, Sérgio da. Porto Alegre e seu Comércio. Porto Alegre, A. Comercial de Porto

Alegre, 1983. COSTA LIMA, Luiz. "Comunicação e Cultura de Massa". In: . Teoria da Cultura de

Massa. 3. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978. DE PROVÍNCIA DE SÃO PEDRO M ESTADO DO RIO GRANDE DO SUE Censos do RS: 1803-1950. Porto

Alegre, Fundação de Economia e Estatística, 1981. DIÁRIO DE NOTÍCIAS. 1 9 2 8 , 1 9 3 0 , 1 9 3 1 e 1 9 3 2 .

DINIZ, Pery Pinto. Origem e Evolução da Universidade do RGS. Porto Alegre, Editorada UFRGS, 1979, pp. 168-169.

DOMINGUES, Hercílio. Notas sobre a Evolução Econômica do Rio Grande do Sul: Estudo do Comércio de Exportação Rio-grandense. Porto Alegre, Globo, vol. 1, 1929.

DRUCK, Clio Fiori. Os Invioláveis. Porto Alegre, Globo, 1947. Eco, Humberto. Apocalípticos e Integrados. São Paulo, Perspectiva, 1970. ENTREVISTA COM JOSÉ OTÁVIO BERTASO. J a n . e f e v . d e 1 9 8 6 .

FERREIRA, Athos Damasceno. Imagens Sentimentais da Cidade. Porto Alegre, Globo, 1940. FONTOURA, João Neves da. Memórias. Porto Alegre, Globo, vols. I e II, 1958. FOOT, Francisco Sc LEONARDI, Victor. História da Indústria e do Trabalho no Brasil São Paulo,

Editora Globo Global, 1985.

Page 69: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

FRANCO, Cap. Alvaro et. al. Porto Alegre: Biografia de uma Cidade. Porto Alegre, Tipografia do Centro, 1940.

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil 1 4 . ed. São Paulo, Nacional, 1 9 7 6 .

GERTZ, René E. "Intelectuais Gaúchos Pensam o Rio Grande do Sul". Estudos Iberoamericanos, jul. 1984, vol. 10, n. 1.

GOUVÊA, Paulo de. O Grupo, Outras Figuras, Outras Passagens. Porto Alegre, Movimento/ IEL, 1976.

. "A Longa Viagem ao Passado". Correio do Povo, Porto Alegre, Letras e Livros, 15 jan. 1983, n. 71, pp. 8-9.

GRAMSCI, Antônio. "Literatura Popular". In: . Literatura e Vida Nacional. 2. ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1978, p. 103.

GUIDO, Angelo. "Trinta Anos de Pintura ( 1 9 2 5 - 1 9 5 5 ) " . In: Enciclopédia Rio-grandense. Canoas, Regional, 1957, pp. 117-216.

HABERT, Angeluccia Bernardes. Fotonovela e Indústria Cultural Petrópolis, Vozes, 1974. HALLEWELL, Laurence. O Livro no Brasil: Sua História. São Paulo, T. A. Queiroz/Edusp, 1985. HOHLFELDT, Antonio (org.). Antologia da Literatura Rio-grandense Contemporânea. Porto

Alegre, L&PM, 1978. IANNI, Otávio. Imperialismo e Cultura. Petrópolis, Vozes, 1 9 7 6 .

JORNAL DA MANHÃ. 1 9 3 3 .

KOSHIYAMA, Alice Mitika. Monteiro Lobato: Intelectual, Empresário, Editor. São Paulo, T. A. Queiroz, 1982.

LAJOLO, Marisa. O Que é Literatura. 3. ed. São Paulo, Brasiliense, 1983. LAVTANO, Dante de. Colecionadores de Emoções. Porto Alegre, Livraria do Globo, 1934. LINS DA SILVA, Carlos Eduardo. "Indústria Cultural e Cultura Brasileira: Pela Utilização do

Conceito de Hegemonia Cultural. Encontros com a Civilização Brasileira". Revista da Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, ago. 1980, vol. 25, pp. 189-191.

LIVRARIA DO GLOBO. Relatório da Diretoria. 100 Anos: 1883-1983. Porto Alegre, Globo, 1983. LIVRO DE REGISTROS DA EDITORA GLOBO.

MARCON, Itálico. A Deriva do Homem. Passo Fundo, Faculdade de Filosofia, 1 9 7 1 .

MARTINS, Ari. Escritores do Rio Grande do Sul Porto Alegre, Editora da UFRGS, DAC/SEC, 1978. Bibliografia

Page 70: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

MARTINS,José Salgado. Alcides Maya: O Ensaísta e o Escritor de Ficção. Porto Alegre, Globo, s. d. MENSAGEM Â ASSEMBLÉIA em 12.4.1937 pelo dr. Darcy Azambuja, Secretário do Interior e

Governador Interino. MENSAGEM DO PRESIDENTE DO ESTADO DO Rio GRANDE DO SUL. 1 9 1 1 a 1 9 4 9 .

MEYER, Augusto. No Tempo da Flor. Rio de Janeiro, Edições O Cruzeiro, 1966. . A Forma Secreta. Rio de Janeiro, Lidador, 1965.

MICELI, Sérgio. Intelectuais e a Classe Dirigente no Brasil (1920-1945). São Paulo, Difel, 1979. MOREIRA, Alvaro. As Amargas, Não ... (Lembranças). 3. ed. Rio de Janeiro, Lux, 1955. OLIVEN, Ruben George. Violência e Cultura no Brasil. Petrópolis, Vozes, 1982. ORNELLAS, Manoelito de. Símbolos Bárbaros. Porto Alegre, Globo, 1943.

. Máscaras e Murais de Minha Terra. Porto Alegre, Globo, 1966.

. Vozes de Ariel Porto Alegre, Globo, 1939. PEREZ, Lea Freitas. "A Indústria Cultural como Instrumento de Legitimação do Estado".

Mundo Jovem, Porto Alegre, n. 175, ago. 1985. PESAVENTO, Sandra J. "República Velha Gaúcha: Estado Autoritário e Economia". In:

DACANAI., José Hildebrando & GONZAGA, Sergius (org.) RS: Economia e Política. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1979.

PIMENTEL, Fortunato. Aspectos Gerais de Porto Alegre. Porto Alegre, Imprensa Oficial, 1945. PORTO ALEGRE. Monografia editada sob os auspícios da Prefeitura Municipal de São Paulo.

S. P. Habitat, 1953.

PORTO ALEGRE POR DENTRO E POR FORA. Visão Panorâmica da Capital do Estado do RS; Sua Vida e Potencial Económico. Retrato da Cidade. Porto Alegre, Continente, s. d.

PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil 26. ed. São Paulo, Brasiliense, 1981. REICHEL, Heloisa J . "A Industrialização no Rio Grande do Sul na Repúbica Velha". In:

CESAR, Guilhermino et al. RS: Economia e Política. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1979. REIMÃO, Sandra Lúcia. O Que é Romance Policial. São Paulo, Brasiliense, 1983. REVERBEL, Carlos. Barco de Papel Porto Alegre, Globo, 1979. REVISTA DO GLOBO. 1 9 2 9 a 1 9 3 3 .

REVISTA VEJA. São Paulo, Abril, 2 7 mar. 1 9 8 5 , n. 8 6 4 , p. 6 .

RIO GRANDE DO SUL: GUIA DE EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO. Porto Alegre, Clarim, 1 9 5 2 .

Editora Globo RUSCHEL, Nilo. Rua da Praia. Porto Alegre, Prefeitura Municipal, 1 9 7 1 .

Page 71: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

SALLES GOMES, Paulo Emílio. " A Criação de uma Consciência Cinematográfica Nacional". Arte em Revista, São Paulo, Kairós Livraria e Editora, vol. 1, n. 2. p. 71.

SANT'ANNA, Affonso Romano de. Como se Faz Literatura. Petrópolis, Vozes, 1985. SEVCENKO, Nicolau. Literatura como Missão: Tensões Sociais e Criação Cultural na Primeira

República. 2. ed. São Paulo, Brasiliense, 1985. SILVEIRA, Elcyr Job Diniz. "Breve Perfil de um Semeador de Cultura". Correio do Povo, Porto

Alegre, 30 out. 1983, p. 7. SINGER, Paul. Desenvolvimento Econômico e Evolução Urbana. São Paulo, Nacional/USP, 1968. SODRÉ, Muniz. Teoria da Literatura de Massa. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1978.

. Best-Seller: A Literatura de Mercado. São Paulo, Ática, 1985. SODRÉ, Nelson Werneck. Síntese de História da Cultura Brasileira. 4. ed. Rio de Janeiro,

Civilização Brasileira, 1976. SPALDING, Walter. Construtores do Rio Grande. Porto Alegre, Sulina, 1 9 6 9 . vols. I, II e III.

. "Município de Porto Alegre". Boletim Municipal da Diretoria Geral do Expediente da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Porto Alegre, ano V, jan./abr. 1943, vol. 6, n. 13.

TILL, Rodrigues. No Garimpo do Tempo. Porto Alegre, s. e., 1 9 6 4 .

. De Wamosy a Mansueto. Porto Alegre, s. e., 1967.

. "As Edições do Interior". Correio do Povo, Porto Alegre, Letras e Livros, 17 jul.

1982, n. 47, p. 14. TRINDADE, Fernando Casses. "Uma Contribuição à História da Faculdade de Filosofia da

UFRGS". Revista do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do RGS, ano X, 1982. pp. 39-53.

. "A polêmica entre Erico Veríssimo e o Pe. Leonardo Fritzen, S. J.". Revista do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do RGS, ano XI/XII, 1983/1984, pp. 35-98.

VASCONCELOS, Valdemar de. Homens e Nações. Rio de Janeiro, Coeditora Brasílica, 1945. VEI.LINHO, Moysés. O Rio Grande e o Prata. Porto Alegre, lei, 1962. VERÍSSIMO, Erico. Um Certo Henrique Bertaso. Porto Alegre, Globo, 1972.

. Solo de Clarineta: Memórias. 16. ed. Porto Alegre, Globo, 1982, vol. 2. VlLl-AS-BoAS, Pedro. Bibliografia Sul-rio-grandense. Porto Alegre, A Nação/IEL, 1974. WEREBE, Maria José Garcia. Grandezas e Misérias do Ensino no Brasil São Paulo, Difel, 1970. Bibliografia

Page 72: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

ZERO HORA. "Informativo Especial: 5 0 anos UFRGS". Porto Alegre, 2 8 nov. 1 9 8 4 .

ZILBERMAN, Regina. A Literatura no Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1 9 8 0 .

Editora Globo

Page 73: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Título

Autora Produção

Projeto Gráfico Capa

Digitação Editoração Eletrônica

Revisão de Texto

Revisão de Provas

Imagens Arte-final

Divulgação

Secretaria Editorial

Formato Mancha

Tipologia Papel

Número de Páginas Tiragem

Laserfilm Fotolitos

Impressão e Acabamento

Editora Globo: Uma Aventura Editorial nos Anos 30 e 40 Elisabeth Rochadel Torresini Cristiane Silvestrin Marina M. Watanabe Ronaldo Hideo Inoue Sílvia Cristina Dotta Marcelo Fernandez Cuzziol Thais Salles de Faria Juliana Franco Cardoso Sandra Sirikaku Cristiane Silvestrin Elisabeth Vieira Honorato Antônio Madalena Érica Bombardi Tania Mano Maeta Biblioteca Central da PUCRS Julia Yagi Andrea Yanaguita Mônica Cristina G. dos Santos Silvia Basilio Ribeiro Eliane Reimberg Rose Pires

Marta Rita C. Macedo 2 1 x 2 2 cm 12,2 x 15,2 cm New Baskerville 10/14 Pólen Soft 80 g /m 2 (miolo) Cartão Supremo 250 g / m (capa) 120 1000 Edusp Macin Color (miolo) Seleção Fotolitos (capa) Metrópole Indústria Gráfica

Page 74: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

.^ri-ioJilteííw-': <

Page 75: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Elisabeth Rochadel Torresini, professora do

Departamento de História da FFCH-PUCRS, doutorada

em História peia mesma universidade e professora

convidada do curso de especialização em História do

Brasil da FAPA-RS, é autora de artisos puólicados em

revistas nacionais e estranseiras, e co-orsanizadora do

livro "Modernidade e Urbanização no Brasil", publicado

pela EDIPUCRS. Atualmente, a autora conclui um estudo

sobre a vida e a obra de Erico Veríssimo.

Imagem d a capa: Fachada da Livraria do Globo em Porto Alesre, Rio Grande do Sul, na década de 20. Foto cedida por José Otávio Bertaso e irmãos, diretores da Livraria do Globo.

Page 76: Elisabeth Rochadel Torresini - Editora Globo

Memória Editorial 1

Como pôde aparecer no Rio Grande do Sul,

fora do eixo Rio-São Paulo, uma editora do

tamanho e da importância da Editora Globo

ainda na década de 1930? Esta questão motiva

Elisabeth Torresini a investisar a história de uma

empresa e sua relação com uma realidade de

maiores dimensões. O desenvolvimento da

industrialização no Brasil desse século e a

inausuração de um estilo de política populista

ativam a radiodifusão, o cinema nacional, a

Sravação de discos, a imprensa e a edição de

livros. A Editora Globo se situa nesse espaço

de realizações da indústria cultural. Constam de

seu acervo de publicações obras de escritores

Saúchos, assim como traduções de qualidade,

feitas por escritores brasileiros, de autores

como Proust, Balzac, Virgínia Woolf, Tolstõi e

Aldous Huxley, entre outros. O livro de

Elisabeth Torresini mostra que a indústria cultural

no Brasil não é um fenômeno recente, como se

acredita muitas vezes, e que esse campo de

estudo ainda carece de pesquisas. Esta é uma

das razões da importância deste trabalho.

ISBN 85-314-0474-6

9 fOOJJI HUHÍHU ISBN 85-314-0474-6 (Edusp) ISBN 85-7025-389-3 (Editora da Universidade/UFRGS)