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Page 1: ELIAS “NADA SENÃO A VERDADE” - cbpoc.net · reis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). O sábio disse: ... A primeira parte do capítulo 22 de 1 Reis está repleta

ELIAS

(1 Reis 22)

Poucas coisas são mais importantes do que a verdade. Jesus disse: “Conhece-

reis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). O sábio disse: “Compra a verdade e não a vendas” (Provérbios 23:23). Temos de pagar o preço em tempo e em energia para aprendermos a verdade; e feito isto, temos de segurá-la, aconteça o que acontecer!

Nesta lição não estamos preocupados com a verdade em geral, por mais importante que ela seja, mas sim com a verdade revelada por Deus. Jesus disse ao Seu Pai: “A Tua palavra é a verdade” (João 17:17). Davi orou: “Agora, pois, ó Senhor Deus, tu mesmo és Deus, e as tuas palavras são verdade” (2 Samuel 7:28). Em Salmo 119, o escritor salientou que a Palavra de Deus é a verdade: “…a tua lei é a própria verdade… e todos os teus mandamentos são verdade…. As tuas palavras são em tudo verda-de desde o princípio” (vv. 142, 151, 160).

Deus nos deixou a Sua vontade na Bíblia para conhecermos a verdade que nos liberta: Ele nos reve-lou a verdade sobre Si mesmo e Seu Filho, a verdade sobre o homem e o pecado, a verdade sobre a salva-ção e a vida cristã, a verdade sobre o céu e o inferno. Vivendo num país repleto de exemplares da Bíblia, não podemos nos desculpar dizendo: “Não tivemos nenhuma oportunidade de conhecer a verdade”.

A pergunta é: “O que faremos com a verdade?” Talvez você já tenha visto artigos como estes: “25 coisas para se fazer com sobras de peru”; “19 coi-sas para se fazer com bolinhas de isopor”; “3 coisas para se fazer com seu velho moletom”. Podemos fazer centenas de coisas com a verdade. Podemos buscar a verdade (Jeremias 5:1). Podemos crer na verdade e conhecê-la (1 Timóteo 4:3). Podemos obe-decer à verdade (1 Pedro 1:22). Podemos falar a ver-dade (Zacarias 8:16; Efésios 4:15). Podemos andar na verdade (1 Reis 2:4; 3:6; Salmos 86:11). Podemos

praticar a verdade (João 3:21; 1 João 1:6). Podemos sustentar a verdade (1 Timóteo 3:15).

Por outro lado, podemos ocultar a verdade (Salmos 40:10). Podemos deter a verdade (Roma-nos 1:18). Podemos mudar a verdade em mentira (Romanos 1:25). Podemos nos recusar a obedecer à verdade (Romanos 1:28; Gálatas 5:17). Podemos nos opor à verdade (2 Timóteo 3:8). Podemos nos des-viar da verdade (2 Timóteo 4:4; Tito 1:4).

Primeiro Reis 22 mostra como a rejeição de Acabe em relação à verdade acabou com ele. Antes de che-garmos ao clímax, porém, veremos a verdade sofrer usos, maus usos e abusos. Há lições poderosas neste capítulo relativas à nossa atitude para com a Bíblia e às conseqüências de se ignorar ou rejeitar a verdade.

O versículo 16 desperta um sentimento mara-vilhoso: “…não me fales [nada] senão a verdade em nome do Senhor” (grifo meu). Infelizmente, essas pa-lavras foram ditas por um homem que brincou com a verdade.

PODEMOS BRINCAR COM A VERDADE (22:1–17)

A maioria de nós, ao sermos perguntados: “Você quer a verdade?”, responderíamos com um enfático: “Sim!” Pode ser, porém, que não estejamos assim tão ansiosos pela verdade. Em 1964, Eric Berne escreveu Games People Play (“Jogos que as Pessoas Jogam”), um livro sobre psicologia das relações humanas. As pessoas jogam com a verdade. A primeira parte do capítulo 22 de 1 Reis está repleta de exemplos de jogos que as pessoas jogam.O Jogo do “Comprometimento”

Um rei bom entrou no jogo do “comprometi-mento”.

Três anos se passaram sem haver guerra en-tre a Síria e Israel. Porém, no terceiro ano, desceu

“NADA SENÃO A VERDADE”

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Josafá, rei de Judá, para avistar-se com o rei de Israel (vv. 1, 2).

Esse foi um acontecimento notável. Segundo os re-gistros, era a primeira vez que um rei de Judá se reunia com um rei de Israel sem ser num campo de batalha1. Não sabemos todas as razões que levaram Josafá a encontrar-se com Acabe, mas o escritor de Crônicas2 relacionou a visita a um acontecimento que ocorrera anos antes: “Tinha Josafá riquezas e glória em abundância; e aparentou-se com Acabe” (2 Crônicas 18:1). Uns nove anos antes, o filho de Josafá, Jeorão, casou-se com a filha de Acabe e Jeza-bel, Atalia3.

Na segunda parte de 1 Reis 22, quando é citada uma lista dos feitos de Josafá, o principal é que ele “viveu em paz com o rei de Israel” (v. 44). Josafá não era perfeito, mas ele foi um dos melhores reis de Judá. “Ele andou em todos os caminhos de Asa, seu pai; não se desviou deles e fez o que era reto perante o Senhor” (v. 43)4. Em contraste com a vida piedo-sa de Josafá, Acabe foi um dos reis mais perversos de Israel (1 Reis 16:33). Ao que tudo indica, Josafá acreditava que a paz era de suma importância, por isso ele concordou em casar seu filho com a filha de Acabe5. Ele também fez uma aliança com Acabe.

Sem dúvida, os motivos de Josafá eram os mais sublimes. Certamente ele pensava que a paz seria mutuamente benéfica e que, com o tempo, ele po-deria influenciar Israel a abandonar seus caminhos maus. Todavia, o que Josafá não errou no princípio, errou na prática6, e foi um erro com conseqüências quase fatais7. Deve-se desejar a paz8, mas nunca às custas do comprometimento com a verdade. O sábio Salomão disse: “Compra a verdade e não a vendas” (Provérbios 23:23). Jamais venda a verdade em troca de paz; é um preço alto demais.

1 Enfatizamos “segundo os registros”, porque é possí-vel ter acontecido algum contato antes. Por exemplo, Josafá e Acabe certamente se encontraram no casamento de seus filhos.

2 Esta é a primeira vez nesta série que temos um relato paralelo em Crônicas (2 Crônicas 18). A razão disso é que os livros de Crônicas tratam do reino do sul, Judá, e não do reino do norte, Israel. Como Josafá está envolvido neste inci-dente, ele se encontra registrado em Crônicas.

3 Veja 2 Reis 8:18, 27.4 Veja 2 Crônicas 17:3, 4.5 Essa foi uma união desastrosa para Judá. Atalia intro-

duziu a adoração a Baal em Judá. Na morte de Acazias, ela tentou matar todos os descendentes reais da família de Davi (incluindo seus próprios netos), para se sentar no trono (so-mente Joás escapou).

6 2 Crônicas 19:2, 3.7 1 Reis 22:32ss.8 Mateus 5:9.

Quando Josafá chegou a Samaria, Acabe deu-lhe um banquete espetacular. “Acabe matou ovelhas e bois em abundância, para ele e para o povo que viera com ele” (2 Crônicas 18:2). No meio do ban-quete, Acabe começou casualmente a falar de uma cidade junto à outra margem do Jordão: “Você sabe que Ramote-Gileade pertence a nós, e ainda não fi-zemos nada para tomá-la das mãos do rei da Síria (ou seja, de Arã)?” (veja v. 3). Acabe parecia estar falando para beneficiar Josafá, mas ele revelou aos seus servos que estava, na verdade, jogando.

“Ramote-Gileade” significa “Ramote em Gilea-de”. Gileade era a terra árida ao leste do Jordão, a terra em que Elias residia9. Ramote-Gileade era uma cidade murada, uma fortaleza fronteiriça. Estava lo-calizada estrategicamente nas elevações que davam uma vista ampla para Israel da margem leste do Jor-dão. Entretanto, a cidade estava sob o controle das tropas sírias e representava uma constante ameaça para Israel. Incidentalmente, 1 Reis 20:34 diz que Ben-Hadade, rei da Síria, não cumprira a palavra ao seu “irmão” Acabe.

Acabe, então, falou diretamente a Josafá: “Irás tu comigo à peleja, a Ramote-Gileade?” Josafá pare-ce não ter hesitado: “Serei como tu és, o meu povo, como o teu povo, os meus cavalos, como os teus ca-valos” (1 Reis 22:4). Essa era uma forma oriental de se dizer: “Vamos juntos para a guerra”. O cronista acrescentou o seguinte aqui: “…iremos, contigo, à peleja” (2 Crônicas 18:3).

Por que Josafá concordou prontamente em ir à guerra com Acabe? Talvez fosse para promover mais unidade entre Judá e Israel. Talvez fosse por-que a ocupação da Síria em Ramote-Gileade tam-bém representava uma ameaça para Judá, pois Jeru-salém ficava a apenas sessenta e cinco quilômetros de Ramote-Gileade. Talvez fosse porque Acabe era um bom negociador. Segundo Crônicas 18 diz: “Acabe… o persuadiu a subir, com ele, a Ramote-Gi-leade” (v. 2; grifo meu). Independentemente disso, Deus não Se agradou. Quando Josafá voltou para casa mais tarde, após a batalha, veio-lhe ao encontro um profeta de Deus:

O vidente Jeú, filho de Hanani, saiu ao encontro do rei Josafá e lhe disse: Devias tu ajudar ao per-verso e amar aqueles que aborrecem o Senhor? Por isso, caiu sobre ti a ira da parte do Senhor (2 Crônicas 19:2).

Deus nunca se alegra quando os que se comprome-teram em segui-lO assumem compromissos com os

9 1 Reis 17:1.

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maus, por “mais sublimes” que sejam seus moti-vos10. Quando começamos a nos comprometer com o mal, ele inicia o ataque. Josafá começou com um aperto de mão e agora iria colocar sua vida na linha de frente da batalha.

O Jogo do “Diga-o-que-querem-ouvir”Os falsos profetas jogaram o jogo do “diga-o-

que-querem-ouvir”. “Disse mais Josafá ao rei de Is-rael: Consulta primeiro a palavra do Senhor” (v. 5). “Vamos primeiro consultar Javé antes de realmente partirmos para a guerra.” Toda vez que temos uma decisão séria a tomar, devemos primeiramente ir até o Senhor11 e estar dispostos a aceitar Sua resposta.

“Então, o rei de Israel ajuntou os profetas, cerca de quatrocentos homens” (v. 6a). Esses quatrocentos profetas não são chamados de profetas de Javé (vv. 11, 12, 24), mas um verdadeiro profeta referiu-se a eles como profetas de Acabe (vv. 22, 23), e não de Javé. Não sabemos quem eles eram. Talvez Acabe tenha substituído os quatrocentos e cinqüenta pro-fetas de Baal que Elias havia matado12. Uma coisa é óbvia: eram profetas da corte real mantidos ali por Acabe para dizer o que ele queria ouvir.

Acabe perguntou-lhes: “Irei à peleja contra Ra-mote-Gileade ou deixarei de ir?” Eles responderam: “Sobe, porque o Senhor a entregará nas mãos do rei” (v. 6b). Eles não disseram: “No nome de Javé”, o que verdadeiros profetas tinham o cuidado de dizer13. Eles não se referiram a Javé. A palavra “Senhor” neste versículo é a palavra hebraica adonai, que tam-bém era usada com referência a Baal14.

De fato, a resposta completa dada pelos quatro-centos profetas era ambígua: “Sobe”, disseram eles, “porque o Senhor a entregará nas mãos do rei”. Qual “Senhor”? Javé ou Baal? Qual “rei”? O rei de Israel ou o rei da Síria? O que o Senhor entregaria? Pode-ria ser qualquer coisa15, até o próprio Acabe, sendo entregue nas mãos de Ben-Hadade. (A mensagem desses profetas era semelhante às “profecias” de “videntes” exibidas em jornais e revistas; eram pre-

10 Observe 2 Coríntios 6:14–17. Segundo Crônicas 20:35 diz que Josafá “procedeu iniquamente” ao aliar-se a Acazias, filho de Acabe.

11 Veja 1 Samuel 23:2, 4.12 Outras sugestões também foram dadas. Talvez o fato

de um deles ter um nome hebraico (versículos 11, 24) indica que eles não eram profetas importados de Baal ou Aserá.

13 Veja 1 Reis 14:7ss.; 17:1; etc.14 O escritor de Crônicas diz que os profetas também

usavam a palavra genérica “deus”, elohim (2 Crônicas 18:5). Os adoradores de Baal também se referiam a Baal como “Elohim”.

15 No trecho “o Senhor a entregará”, “a” é um acréscimo dos tradutores.

dições vagas que poderiam ter praticamente qual-quer significado.)

Não nos surpreende o fato de Josafá ter ficado insatisfeito com a vaga reposta deles. “Disse, porém, Josafá: Não há aqui ainda algum profeta do Senhor para o consultarmos?” (v. 7). Se você verificar na sua Bíblia, a palavra “Senhor” deve estar em letras mai-úsculas, denotando o nome sagrado de Deus: Javé. Josafá estava dizendo: “Quero perguntar a um ver-dadeiro profeta de Deus o que vai acontecer”.

O Jogo do “Eu-quero-a-verdade-desde-que-ela-concorde-comigo”

Um rei ímpio jogou o jogo do “eu-quero-a-ver-dade-desde-que-ela-concorde-comigo”. Acabe re-velou muito do seu caráter nesta resposta a Josafá: “Há um ainda, pelo qual se pode consultar o Se-nhor, porém eu o aborreço, porque nunca profetiza de mim o que é bom, mas somente o que é mau. Este é Micaías, filho de Inlá” (v. 8a).

Esta passagem nos revela vários aspectos:Primeiro, um outro profeta, Micaías16, havia

confrontado Acabe em várias ocasiões17. “Micaías” significa “quem é como Javé?”. Talvez ele fosse mais um profeta impulsionado pela coragem de Elias no monte Carmelo. Segundo a tradição judaica, Micaí-as teria sido o profeta que em 1 Reis 20 foi disfarça-do até Acabe para repreendê-lo pelo tratamento que concedeu a Ben-Hadade.

Em segundo lugar, a verdade nem sempre agra-da. Acabe pensava que a “verdade” sempre deveria ser uma “boa notícia” para ele. A verdade, porém, nem sempre é “boa”; às vezes ela é “má” (excessi-vamente má). Um velho provérbio diz: “A verdade dói”. Embora a verdade às vezes cure, o dito é preci-so o bastante para balançarmos nossas cabeças toda vez que o ouvimos.

Certa vez, fiz um curso de homilética na Uni-versidade Cristã de Abilene com o Dr. Fred Barton. O primeiro semestre foi sobre como preparar ser-mões; e tirei “A” de conceito. O semestre seguinte foi sobre a apresentação do sermão. Como sempre me saí bem em concursos de oratória e já pregava há vários anos, eu pensava que aquele era o meu ponto forte; eu esperava um “A+”. Lembro-me de como fiquei frustrado quando recebi um “C” em uma das minhas primeiras tentativas. O esboço que entreguei ao professor voltou coberto de críticas, a maioria delas sobre maneirismos. Assim que saí da

16 Esse nome era comum no Antigo Testamento.17 Veja também o versículo 16 e 2 Crônicas 18:7 (“nun-

ca… mas somente”).

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sala, rasguei bruscamente aquelas anotações em pe-dacinhos, jogando-as ao vento. Eu queria que o Dr. Barton falasse “bem” do meu sermão; em vez disso, ele me disse a verdade. No final, saber a verdade me tornou um “bom” pregador, à medida que me livrei de alguns hábitos lingüísticos que eu havia adquirido. Naquela hora, porém, não gostei nada da experiência!

Dizemos que queremos a verdade, mas será que realmente queremos? Quando vamos ao médico, queremos saber a verdade sobre nossa saúde, ou queremos ouvir: “Está tudo bem”?18 Quando subi-mos na balança, queremos a verdade, ou queremos que a balança indique: “Seu peso está perfeito”?

Em terceiro lugar, é óbvio que Acabe não queria saber a verdade. Ele queria que lhe dissessem o que ele queria ouvir. Paulo falou dessa atitude:

Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sen-tindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade (2 Timóteo 4:3, 4).

Acabe cercou-se de homens espirituais que só diziam “sim”, peritos em coçar os ouvidos. Era evi-dente que ele não queria que alguém como Micaías viesse lhe trazer a verdade irritante!

Josafá reprovou Acabe: “Não fale o rei assim” (v. 8b). Ele estava dizendo: “Não diga isso de um profeta de Javé. Não se recuse a chamá-lo. Eu quero saber qual é a palavra do Senhor”.

“Então, o rei de Israel chamou um oficial e disse: Traze-me depressa Micaías, filho de Inlá” (v. 9). Este versículo e o versículo 26 indicam que Micaías esta-va encarcerado por “falar mal” (i.e., a verdade) de Acabe no passado. Por isso, o oficial de Acabe pôde encontrar Micaías “depressa” e levá-lo até o rei.

Assim que o oficial saiu em busca de Micaías, a cena mudou. “O rei de Israel [Acabe] e Josafá, rei de Judá, estavam assentados, cada um no seu tro-no, vestidos de trajes reais, numa eira19 à entrada da porta de Samaria” (v. 10a). As portas das cidades marcavam os lugares onde a maioria das transações públicas era efetuada. Os dois reis sentaram nos seus tronos portáteis, usando vestes reais.

E todos os profetas profetizavam diante deles…. Todos os profetas profetizaram assim, dizendo:

18 Ou, quando não podemos ouvir “Tudo bem”, quere-mos ouvir: “Tome este remédio uma vez por dia e seu pro-blema estará resolvido”?

19 “Eira” era uma grande área elevada, desmatada, co-berta de terra batida, usada para debulhar o trigo. Era ideal para o propósito do rei.

Sobe a Ramote-Gileade e triunfarás, porque o Senhor a entregará nas mãos do rei (vv. 10b, 12).

Um dos profetas, Zedequias20, parece ter exage-rado nos recursos visuais. Ele carregava chifres de ferro na cabeça e corria por entre os outros profetas, chifrando-os e dizendo: “Assim diz o Senhor: Com este escornearás os sírios até de todo os consumir”21 (v. 11).

A palavra “Senhor” está em letras maiúsculas nos versículos 11 e 12; os profetas então começaram a chifrar uns aos outros em nome de Javé. Eles po-diam pregar aquilo que Acabe e Josafá quisessem. Não era problema para eles acrescentar um deus ou dois às centenas de deuses que já adoravam. Se os reis queriam saber o que o deus hebraico “Javé” ti-nha a dizer, era um prazer atendê-los.

O Jogo do “Deixe-me-dizer-o-que-é-melhor-para-você”

Um oficial de fala mansa jogou o jogo do “deixe-me-dizer-o-que-é-melhor-para-você”. “O mensagei-ro que fora chamar a Micaías falou-lhe, dizendo: Eis que as palavras dos profetas a uma voz predizem coisas boas para o rei” (v. 13a). “A uma voz” signifi-ca “todos concordando com a mesma coisa”. É difí-cil opor-se à multidão, ser uma voz solitária falando em nome de Deus, quando há uniformidade entre os que se opõem ao caminho de Deus.

“Temos unidade e harmonia”, dizia o mensa-geiro. “Não pise na bola.” “Seja, pois, a tua palavra como a palavra de um deles e fala o que é bom” (v. 13b). “Todos nós ficaremos em melhor situação, se você colaborar. O rei vai ficar feliz, eu vou ser tra-tado com consideração e você poderá sair da pri-são. Por favor, diga uma coisa boa para variar!” Esse oficial era como os profetas citados por Isaías, aos quais ele disse: “Não profetizeis para nós o que é reto; [mas sim] dizei-nos coisas aprazíveis [agradá-veis]” (Isaías 30:10).

Um profeta corajoso finalmente disse: “Esque-çam todos os jogos! Vamos dizer as coisas como elas são!” Encontramos afinal o nosso herói: “Respon-deu Micaías: Tão certo como vive o Senhor, o que o Senhor me disser, isso falarei” (v. 14). Todos nós

20 O nome dele significa “Justiça de Javé”. Será que seus pais lhe deram esse nome porque gostavam da sonoridade dele ou porque queriam honrar a Deus? Se os pais de Zede-quias eram israelitas tementes a Javé, então Zedequias aban-donara o caminho em que fora criado.

21 A maioria dos comentaristas acredita que Zedequias estava conscientemente ou não ecoando as palavras de Moi-sés em Deuteronômio 33:17.

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que pregamos e ensinamos precisamos cravar essas palavras em nossos corações!

Quando Micaías foi ter com Acabe, o joguinho continuou. “E, vindo ele ao rei, este lhe perguntou: Micaías, iremos a Ramote-Gileade à peleja ou deixa-remos de ir?” (v. 15a). Acabe não se importou com o que Micaías disse; ele pediu a ajuda de Josafá. Mi-caías sabia que ele estava pedindo apoio a Josafá, e Acabe sabia que Micaías sabia que ele estava pe-dindo o apoio de Josafá, e Micaías sabia que Acabe sabia… Eram apenas lances de um jogo. Micaías en-trou no jogo. Ele deu a mesma resposta que os falsos profetas haviam dado: “Sobe e triunfarás, porque o Senhor a entregará nas mãos do rei” (v. 15b)22. Ob-servemos que Micaías não disse: “Assim diz Javé”.

Era óbvio para todos que Micaías não queria di-zer aquilo. Eu gostaria de assistir a uma filmagem dessa cena. Foi o jeito que ele falou ou o olhar no seu rosto que revelou que ele estava apenas jogando?23

Acabe disse a Micaías: “Quantas vezes te conju-rarei24, que não me fales senão a verdade em nome do Senhor?” (v. 16). Belas palavras! Que bom seria se todos os ouvintes de hoje dissessem a seus pre-gadores e professores: “Conjuro-te que não nos fale nada senão a verdade no nome do Senhor. Diga-nos a verdade, toda a verdade, e nada mais que a verda-de!” Como já foi observado, essas palavras magní-ficas saíram dos lábios de um homem que blefava, um homem que disse palavras vazias para agradar a outro.

A essa altura, o profeta de Deus disse: “Che-ga desse joguinho! Vamos ver as coisas como elas são!”

Então, disse ele: Vi todo o Israel disperso pelos montes, como ovelhas que não têm pastor; e dis-se o Senhor: Estes não têm dono; torne cada um em paz para a sua casa (v. 17).

Micaías usou expressões familiares a todos que co-nheciam as Escrituras. Moisés usou essas palavras quando rogou um líder para o povo de Deus para que eles não fossem como “ovelhas que não têm pastor” (Números 27:16, 17)25. A descrição de Israel

22 Talvez o oficial tenha dito a Micaías qual era a men-sagem “a uma voz” dos quatrocentos profetas; talvez Deus tenha revelado isso ao Seu profeta.

23 Se quiser, faça uma rápida demonstração de como alguém pode dizer algo evidenciando que não quer dizer aquilo: “Você é tão inteligente!” A Bíblia contém muitas ilus-trações de palavras ditas com ironia ou sarcasmo.

24 “Conjuro-te” significa “Insisto com você que, sob jura-mento, me diga a verdade”.

25 Ezequiel, Jesus e outros também usaram essas pala-vras.

como uma nação “sem dono” foi entendida por to-dos os presentes como uma profecia relativa à morte de Acabe.

QuANDO BRINCARMOS COM A VERDADE, ACABAMOS PERDENDO26

(22:18–23)Uma profecia de morte deveria colocar Acabe

de joelhos, como ocorreu numa profecia anterior so-bre sua morte (veja 1 Reis 21:27), mas ele não reagiu assim. Em vez disso, o rei sentiu-se insultado. Ele usou as palavras de Micaías como prova de que ele estava certo quando disse que o profeta nunca dizia algo bom sobre ele (v. 18). Acabe não lucrou com a verdade. Tudo o que ele fez foi brincar com ela.

Depois da reclamação de Acabe, vemos uma das passagens mais estranhas da Bíblia. É um dos textos cujos detalhes jamais poderemos entender plenamente, mas é quase impossível confundir a idéia principal:

Micaías prosseguiu: Ouve, pois, a palavra do Se-nhor: Vi o Senhor assentado no seu trono, e todo o exército do céu estava junto a ele, à sua direita e à sua esquerda. Perguntou o Senhor: Quem en-ganará a Acabe, para que suba e caia em Ramo-te-Gileade? Um dizia desta maneira, e outro, de outra. Então, saiu um espírito, e se apresentou diante do Senhor, e disse: Eu o enganarei. Per-guntou-lhe o Senhor: Com quê? Respondeu ele: Sairei e serei espírito mentiroso na boca de todos os seus profetas. Disse o Senhor: Tu o enganarás e ainda prevalecerás; sai e faze-o assim. Eis que o Senhor pôs o espírito mentiroso na boca de to-dos estes teus profetas e o Senhor falou o que é mau contra ti (vv. 19–23).

Visto que Deus não precisa do conselho nem da opinião de ninguém (Romanos 11:34, 35), duvido que deveríamos entender cada detalhe desta histó-ria literalmente. Entretanto, é fácil entender a idéia principal. Micaías disse que os quatrocentos profetas eram mentirosos. Talvez eles fossem sinceros, talvez não; mas eles não estavam dizendo a verdade. Ele disse a Acabe: “Eis que o Senhor pôs o espírito men-tiroso na boca de todos estes teus profetas”.

Alguns se incomodam pelo fato da passagem dizer: “O Senhor pôs um espírito mentiroso na boca [dos] … profetas”. “Isso não é justo”, dizem tais pes-soas. “O Senhor enganou Acabe por meio de qua-trocentos profetas, depois condenou-o por estar en-ganado”. Esta passagem provavelmente precisa ser colocada ao lado de outras que falam de Deus endu-

26 Se não quiser continuar usando a figura do “jogo”, al-tere para: “Acabamos nos enganando”.

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recendo os corações dos incrédulos. As referências cruzadas sobre essas passagens indicam que Deus permitiu que acontecesse o endurecimento, mas este ocorreu por causa do caráter da pessoa em questão. Esse é o caso de Acabe. Ele ouviu a mensagem dos falsos profetas e deixou-se enganar. Josafá ouviu a mesma mensagem e não se deixou enganar.

O princípio ensinado aqui é o mesmo de uma das passagens mais intrigantes do Novo Testamen-to. Em 2 Tessalonicenses 2:10 Paulo falou dos “que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos” (grifo meu). E o apóstolo acres-centou:

É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à men-tira, a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça (2 Tessalonicenses 2:11, 12).

É difícil entendermos a frase “Deus lhes manda a operação do erro…” Não sabemos todas as implica-ções dessa afirmação, mas sabemos que Deus é justo e imparcial. Se formos enganados, não será culpa de Deus, mas nossa própria culpa por não termos ama-do a verdade. Nenhuma pergunta é mais importan-te do que esta: nós amamos a verdade? H. W. Shaw disse: “Por mais escassa que seja a verdade, a oferta sempre foi muito maior que a demanda”27.

PODEMOS REJEItAR A VERDADE (22:24–28)

Quem estava presente não encontrou dificulda-de para entender o significado do pequeno conto de Micaías. Zedequias, o falso profeta que corria para lá e para cá com chifres de ferro na cabeça, deu uma bofetada em Micaías e contestou: “Por onde saiu de mim o Espírito do Senhor para falar a ti?” (v. 24). Em outras palavras: “Nós estávamos falando pelo Espí-rito de Javé; então como você pode alegar ter uma mensagem de Javé e dizer exatamente o oposto?”

Zedequias provou, pelos seus atos, que ele não tinha o espírito do Senhor28. Sempre foi um grande insulto esbofetear uma pessoa. Micaías não revidou com outra bofetada, nem o desafiou para um due-lo. Visualize o profeta balançando a cabeça para ali-

27 Lewis Copeland, ed., Popular Quotations for All Uses (“Citações Populares para Todos os Usos”). Garden City, N.Y.: Doubleday and Co., 1961, p. 469.

28 Há quem diga que a reação de Zedequias prova que ele e os demais profetas da corte estavam sendo sinceros. Pode ser que tenham sido sinceros, mas a atitude de Zede-quias não prova isso. Já vi muitos mentirosos ficarem furio-sos quando são assim chamados.

viar-se, e então dizendo calmamente a Zedequias: “Eis que o verás naquele mesmo dia, quando entra-res de câmara em câmara, para te esconderes” (v. 25). “Você verá quem tem o Espírito de Javé quando tiver de se esconder.” Isto certamente se referia a um futuro próximo, em que, do campo de batalha, viria a notícia da morte de Acabe—tendo os quatrocentos profetas afirmado que ele venceria a batalha. Jeza-bel, com certeza, iria pedir as quatrocentos cabeças!

Então, disse o rei de Israel: Tomai Micaías e de-volvei-o a Amom, governador da cidade, e a Joás, filho do rei29; e direis: Assim diz o rei: Me-tei este homem na casa do cárcere e angustiai-o, com escassez de pão e de água, até que eu volte em paz (vv. 26, 27).

Micaías deveria ser devolvido à prisão. A suspensão das refeições era um castigo adicional por ele não ter dito coisas “boas” a Acabe. Como muitos já sen-tiram na própria pele, não é raro o indivíduo meter-se em dificuldade por ter dito a verdade!

Usando as palavras “até que eu volte em paz”, Acabe estava dizendo a Micaías: “Não acredito em você. Não vou morrer em combate”. Enquanto era retirado dali, Micaías replicou a Acabe dizendo: “Se voltares em paz, não falou o Senhor, na verdade, por mim” (v. 28a). O teste para um profeta é a concreti-zação de suas palavras (Deuteronômio 18:20–22)30. Micaías acrescentou: “Ouvi isto, vós, todos os po-vos!” (v. 28b). A palavra hebraica traduzida por “povos” geralmente se referia às nações gentias. Há uma lição aqui para todas as pessoas de todos os lugares.

Será que Acabe foi tocado? Aparentemente, não. Ele rejeitou a verdade até o fim.

QuANDO REJEItAMOS A VERDADE, A DESgRAçA é INEVItáVEl (22:29–39)Acabe e Josafá deram andamento aos seus pla-

nos, partindo para Ramote-Gileade (v. 29).Dentre tudo o que já vimos sobre o caráter de

Acabe, é possível entender por que ele foi para a guerra apesar da advertência de Micaías. É mais difícil entender por que Josafá também foi, mesmo depois de insistir em que consultassem Javé. Tal-vez Josafá estivesse tão envolvido na situação que acreditou que não conseguiria sair dela facilmente. Quando comprometemos a verdade, o problema vai se complicando cada vez mais. Josafá chegou perto de perder a própria vida!

29 Esses parecem ser os responsáveis por Micaías desde antes.

30 Veja também Jeremias 28:9.

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Acabe rejeitou declaradamente a advertência de Micaías. “Até que eu volte em paz”, disse ele (v. 27). Todavia, ele ficou apreensivo. Enquanto se prepara-vam para o combate, Acabe teve muitas noites para pensar em tudo o que sucedera e fora dito:

…a tua vida será em lugar da sua vida [i.e., da vida de Ben-Hadade] (20:42).

No lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabote, cães lamberão o teu sangue, o teu mes-mo (21:19).

Vi todo o Israel disperso… como ovelhas que não têm pastor… o Senhor falou o que é mau contra ti (22:17, 23).

No dia do combate, Acabe estava extremamen-te apreensivo. Era costume o rei guiar suas tropas até o local do combate. Ele vestia sua armadura e seu manto real sobre ela, depois cavalgava adiante do exército. Em vez disso, Acabe disse a Josafá: “Eu me disfarçarei e entrarei na peleja; tu, porém, tra-ja as tuas vestes” (v. 30a; grifo meu). A Septuaginta diz “traja as minhas vestes”. Acabe queria desviar a atenção de si para Josafá. Perguntamos novamente: por que Josafá concordou com isso? Parece que ele não conseguiu achar outra saída. Josafá viu-se como uma mosca presa numa teia de aranha; quanto mais lutava, mais enroscado ficava.

Acabe teria ficado ainda mais tenso, se tivesse ouvido as instruções que Ben-Hadade dera a seus trinta e dois capitães31: “Não pelejareis nem contra pequeno nem contra grande, mas somente contra o rei de Israel” (v. 31). Em outras palavras: “Aconteça o que acontecer, encontrem Acabe e matem-no!” (Esta instrução era do “irmão” que Acabe soltara depois de Deus ter lhe concedido vitória no capítulo 20!)

“Disfarçou-se, pois, o rei de Israel e entrou na peleja” (v. 30b). Em vez de colocar suas vestes reais, Acabe vestiu a farda de um soldado comum.

No meio do combate, os trinta e dois capitães de Ben-Hadade viram as vestes reais de Josafá. Pensando ser Acabe, cercaram-no. Vendo-os, Josafá “gritou” (v. 32). O escritor de Crônicas acrescentou: “Josafá, porém, gritou, e o Senhor o socorreu; Deus os desviou dele” (2 Crônicas 18:31). Parece que o piedoso rei clamou instintivamente ao Senhor por livramento. O grito salvou-o apesar da imprudência de entrar na batalha após a advertência do Senhor. “Vendo os capitães dos carros que não era o rei de Israel, deixaram de o perseguir” (v. 33).

Parecia que a manobra de Acabe havia funcio-nado. Ele havia conseguido cavalgar para longe dos

31 Veja 1 Reis 20:1, 16, 24.

trinta e dois capitães, mas ninguém pode se escon-der de Deus. “Então, um homem entesou o arco e, atirando ao acaso, feriu o rei de Israel por entre as juntas da sua armadura” (v. 34a). A tradição judaica diz que esse homem era Naamã, mas é improvável que um veterano experiente atirasse ao acaso. A ati-tude parece mais ser de um recruta inexperiente em sua primeira batalha, assustado e atirando flechas para todas as direções, o mais rápido possível. Por providência divina, uma das flechas encontrou seu alvo numa emenda da armadura de Acabe. A arma-dura protegia os órgãos vitais; e nas juntas, havia fendas. A flecha acertou uma local vulnerável e pe-netrou o corpo de Acabe32. Tudo indica que uma ar-téria foi comprometida; o sangue começou a jorrar.

“Então, disse este [Acabe] ao seu cocheiro: Vira e leva-me para fora do combate, porque estou grave-mente ferido” (v. 34b). “Recuar! Recuar!”, gritou Aca-be ao cocheiro. Todavia, o versículo seguinte diz: “A peleja tornou-se renhida naquele dia” (v. 35a). A NVI diz: “A batalha foi violenta durante todo o dia”. O combate estava tão intenso que o cocheiro não pôde obedecer à ordem do rei. Por fim, Acabe perdeu tanto sangue que já não conseguia manter-se em pé. Com a ajuda dos servos, apoiou-se no carro (v. 35b; 2 Crô-nicas 18:34)33. O sangue do rei escorreu pelo piso do carro e, “ao pôr-do-sol, morreu” (2 Crônicas 18:34).

Quando Acabe foi encontrado morto, como Mica-ías havia predito (v. 17), “fez-se ouvir um pregão pelo exército, que dizia: Cada um para a sua cidade, e cada um para a sua terra!” (v. 36). Levaram o corpo de Aca-be a Samaria para ser sepultado (v. 37), depois levaram seu carro ensangüentado a um açude fora da cidade.

Quando lavaram o carro junto ao açude de Sa-maria, os cães lamberam o sangue do rei, segun-do a palavra que o Senhor tinha dito34; as prosti-tutas35 banharam-se nestas águas (v. 38).

32 Os peritos não são unânimes quanto ao local exato.33 Alguns escritores dizem que Acabe fez isso para o bem

de suas tropas. Mas, como ele demonstrou que queria sair do combate, meu palpite é que ele fez isso para que o inimigo não visse como ele estava vulnerável.

34 Pelo fato do sangue de Nabote ter sido derramado perto de Jezreel e o cães lamberem o sangue de Acabe perto de Samaria, alguns dizem que a profecia não foi integral-mente cumprida. Burton Coffman observa, porém, que: 1) O arrependimento de Acabe alterou alguns aspectos da profe-cia original (1 Reis 21:27–29), e 2) “o lugar” poderia simples-mente significar “nesta área”. Tanto Jezreel como Samaria ficavam em Israel e a poucos quilômetros de distância uma da outra. (Veja Burton Coffman, Commentary on 1 Kings [“Co-mentário sobre 1 Reis”], pp. 299, 300.)

35 Podem ser ou não as prostitutas do templo de Aserá. Parece que o escritor inspirado julgou que o detalhe intensi-ficava a vergonha da morte de Acabe.

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Enquanto lavavam o carro, eram observados por prostitutas sensualmente vestidas e mal ma-quiadas. Uma parte do sangue de Acabe foi lambida por cães selvagens que perambulavam pela cidade, e outra parte misturou-se com a água usada pelas prostitutas.

A história termina no versículo 39, com uma síntese da vida de Acabe, que inclui uma lista de suas edificações. Essas realizações, porém, trouxe-ram poucas conseqüências para Israel. As cidades e o palácio de marfim já se acabaram. No final, tudo o que importa foi que Acabe viveu a vida rejeitando a verdade e teve uma morte vergonhosa.

CONCluSÃOEm 1993, a morte de um jogador de basquete

norte-americano, chamado Reggie Lewis, paralisou os Estados Unidos. Ele morreu do coração enquanto treinava cestas com um amigo. Três meses antes de morrer, esse jogador teve um desmaio durante uma partida decisiva. Uma equipe de doze cardiologis-tas relatou que o estado do seu coração estava sério e que ele não deveria mais jogar basquete. Reggie saiu do hospital por iniciativa própria e procurou a opinião de outro médico. Desta vez disseram-lhe que seu estado não era de risco de morte e poderia ser controlado com medicamentos e terapia. Ao que tudo indica, Reggie gostou mais da segunda opi-nião do que da primeira porque era o que ele queria ouvir36. Ele morreu fazendo cestas alguns meses de-pois de receber esse bom parecer.

Dizem que a maioria das pessoas quer a verdade ao lado delas, mas não querem estar ao lado da ver-dade. A história trágica de Acabe deveria convencer até quem possui um coração endurecido de que pre-cisamos nos preocupar com a verdade e “nada senão a verdade”.

Levemos em consideração mais uma coisa antes de encerrarmos: a verdade não pode ser separada de Cristo e da Sua Palavra. Jesus disse: “Eu sou… a verdade” (João 14:6)37. Paulo enfatizou que “a ver-dade [está] em Jesus” (Efésios 4:21). Quando Jesus deixou a terra, Ele mandou o Espírito Santo guiar os apóstolos “a toda a verdade” (João 16:13), produ-zindo a revelação que chamamos de “O Novo Tes-tamento de Jesus Cristo”. Que Deus nos ajude a crer

36 A esposa dele diz que ele também buscou uma terceira opinião. Essa equipe de peritos não poderia fazer um “diag-nóstico definitivo”. Reggie parece ter acreditado na segunda opinião, que era a sua favorita.

37 Veja João 5:23.

na verdade acerca de Jesus e a obedecer à verdade que Ele revelou através dos apóstolos!

Recursos VisuaisFaça três cartazes grandes o suficiente para se-

rem lidos por seus ouvintes. No primeiro cartaz, escreva “VERDADE” na frente e “NADA SENÃO A VERDADE” no verso. Use isto na introdução. No segundo cartaz, escreva: “JOGAR COM A VER-DADE” na frente e “PERDER” no verso. Use-o na primeira e na segunda parte. No terceiro cartaz, es-creva: “REJEITAR” na frente e “DESGRAÇA” no verso. Use-o na terceira e quarta parte da aula ou sermão.

ESBOÇO DA LIÇÃO INTRODUÇÃO

A. A verdade é importante (João 8:32; Provér-bios 23:23).

1. A verdade se encontra nas páginas da Palavra de Deus (João 17:17; 2 Samuel 7:28; Salmos 119:142, 151, 160).

2. O que nós faremos com a verdade? a. Veja Jeremias 5:1; 1 Timóteo 4:3;

1 Pedro 1:22; Zacarias 8:16; Efésios 4:15; 1 Reis 2:4; 3:6; Salmos 86:11; João 3:21; 1 João 1:6; 1 Timóteo 3:15.

b. Veja Romanos 1:18, 25, 28; Gálatas 5:17; 2 Timóteo 3:8; 4:4; Tito 1:4.

B. Analisemos 1 Reis 22. 1. Há lições poderosas aqui sobre nossa

atitude para com a Bíblia e as conse-qüências de ignorar ou rejeitar a ver-dade.

2. O título da nossa lição foi extraído do versículo 16.

I. PODEMOS JOGAR COM A VERDADE (22:1–17). A. Um rei piedoso entrou no jogo do “com-

prometimento” (vv. 1–4). 1. O rei de Judá visitou o rei de Israel (v. 2),

um fato incomum. a. Dois fatores são mencionados:

1) Um casamento (2 Crônicas 18:1; veja 2 Reis 8:18, 27).

2) Um tratado de paz com Israel (v. 44). b. Os motivos de Josafá eram sem dú-

vida superiores, mas o que ele fez foi errado no princípio, desastroso na

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prática e quase fatal em suas conse-qüências.

2. Josafá concordou em acompanhar Aca-be na guerra contra os sírios (vv. 3, 4), decisão que desagradou o Senhor (2 Crônicas 19:2)!

B. Os falsos profetas entraram no jogo do “diga-o-que-eles-querem-ouvir” (vv. 5–7).

1. Quando Josafá insistiu em consultar o Senhor (v. 5), Acabe chamou quatrocen-tos profetas de Baal (v. 6).

a. Eram profetas da corte mantidos ali por Acabe para dizer o que ele que-ria ouvir.

b. A resposta deles foi ambígua: “Se-nhor” (adonai) poderia se referir a Baal ou a Javé.

2. Josafá não ficou satisfeito e pediu um profeta de Javé (v. 7).

C. Um rei iníquo entrou no jogo do “eu-que-ro-a-verdade-desde-que-ela-concorde-co-migo” (vv. 8–11).

1. Micaías era um profeta de Javé, mas Acabe disse: “Eu o aborreço, porque nunca profetiza de mim o que é bom, mas somente o que é mau” (v. 8).

a. Acabe só queria homens espirituais que lhe dissessem “sim” para tudo (veja 2 Timóteo 4:3, 4).

b. Às vezes, a verdade dói! 2. Enquanto Acabe mandou buscarem

Micaías (v. 9), os quatrocentos profetas continuaram dizendo a Acabe o que ele queria ouvir (vv. 10–12).

a. Agora faziam isso em nome da Javé (vv. 11, 12); para eles não era proble-ma acrescentar o nome de Javé à lista de deuses que adoravam.

b. Um dos profetas se chamava Zede-quias (v. 11).

D. O oficial de fala mansa entrou no jogo do “deixe-me-dizer-o-que-é-bom-para-você” (v. 13; veja Isaías 30:9, 10).

E. O profeta corajoso disse: “Esqueçam todos os jogos! Vamos dizer as coisas como elas são!” (vv. 14-17).

1. A resposta inicial de Micaías (v. 15) pro-piciou a maravilhosa sensação desper-tada pelo versículo 16. Ah, que todos os ouvintes insistam em saber a verdade de Deus e “nada senão a verdade”!

2. O profeta de Deus disse a verdade (v. 17). Ele profetizou a morte de Acabe.

II. SE BRINCARMOS COM A VERDADE, PERDE-REMOS (22:18–23).

A. Acabe continuou armando suas jogadas (v. 18).

B. Uma das passagens mais estranhas da Bí-blia está aqui (vv. 19–23).

1. Como Deus não precisa do conselho nem da opinião de ninguém (Romanos 11:34, 35), os detalhes não devem ser en-tendidos literalmente. Foi um artifício ousado dizer que os profetas de Acabe eram mentirosos!

2. A quem não ama a verdade acima de qualquer coisa, Deus permite que seja enganado, que creia numa mentira e que se perca! (Veja 2 Tessalonicenses 2:10–12.)

III. PODEMOS REJEITAR A VERDADE (22:24–28). A. Zedequias rejeitou a verdade (vv. 24, 25).

1. Zedequias não teve dificuldade para entender a idéia principal do pequeno conto de Micaías (v. 24).

2. O versículo 25 provavelmente se refere ao fato de Zedequias esconder-se de Je-zabel após a morte de Acabe.

B. Acabe rejeitou a verdade (vv. 26–28). 1. “Até que eu volte em paz” indica que

Acabe rejeitou o aviso. 2. Micaías disse: “Se você voltar em paz,

então não sou um verdadeiro profeta” (v. 28; veja Deuteronômio 18:20–22).

IV. QUANDO REJEITAMOS A VERDADE, A DES-GRAÇA É INEVITÁVEL (22:29–39).

A. A batalha que não deveria acontecer (vv. 29–33)

1. Tenso, Acabe sugeriu que Josafá usasse suas vestes reais, enquanto ele se disfar-çou de soldado comum (vv. 29, 30).

2. Os capitães de Ben-Hadade pensaram que Josafá era Acabe, mas Javé salvou Josafá da morte (vv. 31–33; 2 Crônicas 18:31).

B. A morte que fora predita (vv. 34–39) 1. Uma flecha perdida perfurou a armadu-

ra de Acabe e parece ter acertado uma artéria (v. 34).

2. Acabe tentou sair do combate (v. 34), mas não conseguiu (v. 35). Ele morreu escorado no seu carro (v. 35; 2 Crônicas 18:34). Seu corpo foi levado para Sama-ria (v. 37).

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3. O carro ensangüentado de Acabe foi le-vado até um açude para ser lavado e “os cães lamberam o sangue do rei, segun-do a palavra que o Senhor tinha dito” (v. 38).

CONCLUSÃO A. A história trágica de Acabe deveria con-

vencer até os corações mais endurecidos de que precisamos nos preocupar em saber a verdade e “nada senão a verdade”!

B. Hoje, a verdade não está separada de Cris-to e da Sua Palavra (João 14:6; 5:23; Efésios 4:21; João 16:13). Que Deus nos ajude a crer na verdade acerca de Jesus e a obedecer à verdade que Ele revelou aos apóstolos.

Conselhos de “Peritos”Em 1 Reis 22:13, o oficial que foi buscar Micaí-

as para Acabe e Josafá foi logo dando um conselho ao profeta: “Deixe-me dizer o que vai ser bom para você—e o que vai ser bom para mim”. Nunca deixo de me surpreender com o fato de que todos são pe-ritos em pregação! (Creio que esse é o mesmo prin-cípio que faz todo o mundo pensar que sabe mais que o técnico do seu time de futebol.) Passo horas semanalmente orando, planejando, estudando, pre-parando e memorizando meus sermões—mas qual-

quer membro pode me ouvir vinte e cinco ou trinta minutos e, instantaneamente, me dizer o que eu de-veria ter dito ou feito.

b. Versículo 38: As promessas de Deus são certas.

2. Jezabel (2 Reis 9) a. Vinte anos se passaram. Elias foi

substituído por Eliseu. Jorão, filho de Acabe, estava no trono, e Jezabel era a perversa rainha mãe. Era chegada a hora de se concluir a história de Aca-be e Jezabel.

b. Leia 2 Reis 9:21, 25, 26, 30–36. Que história triste!

CONCLUSÃO A. Deus quer que aprendamos com esta histó-

ria o seguinte: 1. A paciência de Deus tem fim—e nin-

guém sabe quando. 2. As promessas de Deus são certas—e

ninguém pode mudá-las. 3. As sentenças de Deus incluem miseri-

córdia—e ninguém deve recusá-la. B. Jamais nos esqueçamos de que Deus é um

Deus de misericórdia e um Deus de justiça.

(continuação da página 17)

Autor: David Roper© Copyright 2007 by A Verdade para Hoje

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