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ELETROBR`S Centrais ElØtricas Brasileiras S.A. Presidente JosØ Antnio Muniz Lopes Diretor de Tecnologia Ubirajara Rocha Meira ELETROBR`S PROCEL Programa Nacional de Conservaªo de Energia ElØtrica Departamento de Projetos de EficiŒncia EnergØtica Fernando Pinto Dias Perrone Divisªo de EficiŒncia EnergØtica em Edificaıes Solange Nogueira Puente Santos Equipe TØcnica Anselmo Machado Borba Frederico Guilherme Souto Maior de Castro JosØ Luiz Grünewald Miglievich Leduc Patricia Zofoli Dorna Rodrigo da Costa Casella IAB RJ Instituto de Arquitetos do Brasil Departamento Rio de Janeiro Presidente Dayse Gis Vice-Presidente e Diretor Financeiro Armando Mendes Diretora Administrativa Adriana Larangeira Diretor de Comissıes Marco Leªo Gelman Diretor Cultural Jorge Costa Ficha catalogrÆfica c129 IAB RJ Caderno de boas prÆticas em arquitetura : eficiŒncia energØtica nas edificaıes : Universidades - Rio de Janeiro : ELETROBR`S : IAB, Departamento do Rio de Janeiro, 2008. 28.p.: il. (algumas col.) ; 21,0 x 29,7 cm. (caderno de boas prÆticas em arquitetura : v.9) Inclui Bibliografia Publicado em co-ediªo com a RJ Planejamento Integrado Ltda. ISBN 978-85-87083-15-9 1. Arquitetura e conservaªo de energia. 2. Energia elØtrica e conforto ambiental. I. ELETROBR`S. II. Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Rio de Janeiro. III. Programa Nacional de Conservaªo de Energia ElØtrica (Brasil) IV. SØrie CDD 720.472

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética2

ELETROBRÁS

Centrais Elétricas Brasileiras S.A.

PresidenteJosé Antônio Muniz LopesDiretor de TecnologiaUbirajara Rocha Meira

ELETROBRÁS PROCEL

Programa Nacional de Conservação deEnergia Elétrica

Departamento de Projetos de Eficiência EnergéticaFernando Pinto Dias PerroneDivisão de Eficiência Energética em EdificaçõesSolange Nogueira Puente SantosEquipe TécnicaAnselmo Machado BorbaFrederico Guilherme Souto Maior de CastroJosé Luiz Grünewald Miglievich LeducPatricia Zofoli DornaRodrigo da Costa Casella

IAB RJ

Instituto de Arquitetos do BrasilDepartamento Rio de Janeiro

PresidenteDayse GóisVice-Presidente e Diretor FinanceiroArmando MendesDiretora AdministrativaAdriana Larangeira

Diretor de ComissõesMarco Leão GelmanDiretor CulturalJorge Costa

Ficha catalográfica

c129 IAB RJ

Caderno de boas práticas em arquitetura : eficiência energética nas edificações :Universidades - Rio de Janeiro : ELETROBRÁS : IAB, Departamento do Rio de Janeiro, 2008.

28.p.: il. (algumas col.) ; 21,0 x 29,7 cm. � (caderno de boas práticas em arquitetura : v.9)

Inclui BibliografiaPublicado em co-edição com a RJ Planejamento Integrado Ltda.

ISBN 978-85-87083-15-9

1. Arquitetura e conservação de energia. 2. Energia elétrica e conforto ambiental. I.ELETROBRÁS. II. Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Rio de Janeiro. III.Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Brasil) IV. Série

CDD 720.472

Milazzo
Typewritten Text
www.milazzo.com.br

3Universidades

APRESENTAÇÃO

É com grande satisfação que a Eletrobrás, por meio do Procel Edifica, se une ao Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) para apublicação deste �Caderno de Boas Práticas em Arquitetura�. A busca de soluções arquitetônicas sustentáveis é objeto do cuidadoda empresa há mais de 20 anos. As edificações são, atualmente, responsáveis por quase metade da energia elétrica gasta emnosso país, sobretudo em decorrência da utilização de sistemas artificiais de iluminação e climatização. Não se pode, portanto,desconsiderar esse importante segmento ao se investir na racionalização de energia � caminho mais seguro para o futuro energéticodo país.

O desenvolvimento tecnológico, ao longo da história, tem permitido ao homem vencer inúmeras limitações impostas pela nature-za. Na arquitetura, a modernização se reflete em soluções nas quais os recursos técnicos substituem cada vez mais os elementosnaturais. Crescem o conforto e a independência das edificações em relação ao ambiente externo, mas também a demanda porenergia elétrica.

No Brasil, o incremento das estruturas para geração, transmissão e distribuição de energia se acentuou entre as décadas de 1950e 1960, como reflexo da demanda gerada pelo desenvolvimento industrial e o crescimento urbano. Nessa época, também marcadapela criação da Eletrobrás, o modelo de planejamento ainda trabalhava com a idéia de uma oferta sempre superior à demanda,assegurando confiabilidade no suprimento. Não havia preocupação com os desperdícios, nem tampouco conhecimento sobre omodo como a sociedade utilizava essa energia.

A história mostrou, no entanto, que a construção de grandes empreendimentos geradores de energia exige altos investimentos,além de produzir impactos significativos no meio ambiente. No caso do modelo brasileiro, apoiado essencialmente em hidrelétri-cas, as conseqüências incluem alagamento de áreas produtivas e necessidade de deslocamento de comunidades inteiras. Odesenvolvimento da consciência sobre os limites dos recursos naturais e financeiros transformou a racionalização em palavra-chave.

Para investir nessa idéia, foi criado, em 1985, o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), com propostasde ações para incentivar o uso eficiente da energia. A enorme representatividade do segmento de edificações no perfil do consumobrasileiro, por sua vez, motivou a criação do Procel Edifica � Eficiência Energética nas Edificações, que vem ampliando e direcionandoas ações da Eletrobrás em prol da racionalização do uso da energia e do aproveitamento dos recursos naturais nas edificações.

Por meio do Procel Edifica, a Eletrobrás investe nos requisitos básicos para uma arquitetura mais integrada ao meio ambiente eaos recursos naturais, desenvolvendo indicadores de eficiência energética, certificação de materiais e equipamentos, procedimen-tos para regulamentação e projetos educacionais.

Disseminar boas práticas para soluções arquitetônicas sustentáveis é uma ação que vai ao encontro dos grandes ideais daempresa. A Eletrobrás acredita no aprendizado e na consciência como caminhos para o crescimento sustentável do país. Eacredita, sobretudo, na capacidade humana de promover soluções que aliem o desenvolvimento tecnológico ao aproveitamentodos recursos ambientais na construção de um futuro limpo.

Diretoria da Eletrobrás

SUMÁRIO0303030303 Apresentação Diretoria da Eletrobrás0404040404 Editorial Presidente do IAB RJ0505050505 Reportagem Jornalista Matilde Silveira

Universidades enfrentam desafios para implantar projetos deeficiência energética

0707070707 Documento Claudio Oliveira MorgadoAvaliação do conforto ambiental na FAU-UFRJ

1111111111 Artigo Arquiteta Leticia NevesCampus da Universidade Federal do Amazonas, Severiano Porto

1414141414 Boas práticas Arquitetos Leonardo S. Bittencourt e Tathiane MartinsEdifício do Núcleo de Pesquisa Multidisciplinar da UFAL

1717171717 Boas práticas Arquiteto Ângelo BucciMidiateca PUC-Rio

2121212121 Boas práticas Arquiteta Maria Elisa BaptistaPUC - Minas

2424242424 Projetos Arquiteto Marco MilazzoA Eficiência Energética nos projetos de Centros de PesquisaUniversitários

2727272727 Créditos

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética4

EDITORIALPrezado(a) Leitor(a),

Dayse Góis

Presidente do IAB RJ

5Universidades

UNIVERSIDADES ENFRENTAM DESAFIOS PARAIMPLANTAR

Matilde SilveiraJornalista

Reportagem

Não é fácil para uma universidade públi-ca implantar programas de eficiênciaenergética. As dificuldades geralmenteencontradas por instituições privadaspara viabilizar seus projetos, como re-sistência dos empregados a mudançasde hábitos e introdução de novos proce-dimentos, são agravadas por uma sériede obstáculos: interrupção do projeto,pela alternação periódica do reitor; res-trições para administrar os ganhos ex-tras que a universidade obtém com aimplementação de programas deste tipoe a desmotivação dos funcionários sãoalguns deles. A falta de comunicaçãoentre as diversas áreas da Universidadetambém diminui a adesão de professo-res, alunos e servidores, reduzindo a vi-sibilidade e o peso político do programa,pondo em risco sua continuidade.

É preciso ainda lidar com aumentos re-pentinos de consumo, provocados pelacriação de novos cursos, e os �puxadi-nhos�, ou seja, a intervenção não autori-zada em edificações, que algumas ve-zes provoca distorções em bons proje-tos arquitetônicos, transformando-os, emsugadores vorazes de energia elétrica.

O Programa de Ecoeficiência da UFF foicriado em setembro de 1999 com o ob-jetivo de atuar na área de uso racionalde energia elétrica e água, nas verten-tes de ensino, pesquisa e extensão.

A participação dos alunos é fundamen-tam. Eles elaboraram projetos em nívelprofissional, cujos valores variaram deR$ 20 mil a R$3 milhões, que abaste-cem um banco de projetos. Três dessesobtiveram recursos da FINEP, daEletrobrás e da Cerj (Companhia de Ele-tricidade do Rio de Janeiro), gerandopara a universidade cerca de R$ 5 mi-lhões em recursos extras, que foramaplicados em projetos de uso racional deenergia elétrica. Os alunos se animammuito quando são valorizados e encon-tram soluções fantásticas, ressalta. Alémdisso, o Programa com a participação de

alunos, professores e servidores admi-nistrativos, conseguiu renegociar contra-tos de

fornecimento de energia e conquistou oPrêmio Nacional de Conservação e UsoRacional de Energia nos anos 2002/2003e 2004, promovido pela Eletrobrás.

Para motivar alunos, professores e ser-vidores, o Programa de Ecoeficiência daUFF na sua vertente de extensão promo-veu, em 2006, o concurso �Sua idéia valeum prêmio�, contemplando com prêmios(computador, curso de língua estrangei-ra e curso de informática) as três melho-res sugestões para economia de águaou energia elétrica na universidade.

Existem no Brasil muitas fontes de re-curso para implementar projetos de efi-ciência energética nas Universidades.Professor Geraldo lembra que as distri-buidoras de energia elétrica são obriga-das por lei a gastar 0,5% de seufaturamento em projetos de eficiênciaenergética. �As Universidades precisamter bons projetos para obterem partedesses recursos�.

No entanto, estes bons resultados nãoforam suficientes para garantir a conti-nuidade da vertente de extensão do Pro-grama de Ecoeficiência da UFF, que atu-almente aguarda reavaliação por parteda reitoria eleita. O professor GeraldoTavares, coordenador do Programa deEcoeficiência da UFF lamenta não terconseguido um maior envolvimento deoutras áreas da UFF na implementaçãoda vertente de extensão, o que certamen-te daria mais peso político a esta ver-tente, assegurando sua continuação nasinstalações da UFF.

Oriundo da iniciativa privada, onde tra-balhou até 1991, o professor Geraldo dizque ao desenvolver a vertente relativa àextensão do Programa de Ecoeficiênciana UFF enfrentou dificuldades para re-verter a baixa auto-estima dos servido-

res públicos. �Infelizmente, lidamos comfuncionários que se sentem humilhadoscom a pecha de que todo funcionário pú-blico é um malandro, e é preciso motivá-los. Quando eles se sentem valorizados,dão respostas fantásticas!�, revela. A mo-tivação, conta, passa por iniciativas sim-ples, como o já citado concurso, e a dis-tribuição de pequenas gratificações aosfuncionários que participam mais ativa-mente, numa tentativa de reproduzir noserviço público o sistema de bonificaçãopor mérito, comum na iniciativa privada.

Mas diferentemente de uma empresaprivada, que dá mais liberdade para ges-tão dos seus recursos, o orçamento daUniversidade está sob a fiscalização doTribunal de Contas da União e de outrosórgãos fiscalizadores do Governo Fede-ral, o que leva a que sua execução siganormas que não permitem muita flexibi-lidade na sua aplicação, mesmo aque-les recursos resultantes do corte de des-perdícios.

O Programa de Ecoeficiência continuaatuando na UFF nas suas vertentes deensino e pesquisas, tendo sido implan-tada a disciplina de eficiência energéticana grade curricular do curso de gradua-ção em engenharia elétrica.

Em seminário realizado na Bahia, emagosto de 2007, o Ministério de Educa-ção aprovou a filosofia e a estrutura doPrograma de Ecoeficiência da UFF comomodelo a ser adotado nas InstituiçõesFederais de Ensino Superior para redu-ção dos seus custos de energia elétricae água.

Na Universidade Federal de Pelotas, odiretor da Faculdade de Arquitetura, Pro-fessor Antonio César Silveira Baptista daSilva, é o responsável pela implantaçãodo Programa Permanente de Geren-ciamento de Energia Elétrica, criado emjulho de 2006. O objetivo principal doPPGEE é, através da educação do usu-ário e da implementação de tecnologias

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética6

Universidade, Arquitetura e SociedadeO Instituto de Arquitetos do Brasil realizou, em janeiro de 2009,uma mesa redonda sobre a relação entre Arquitetura, univer-sidade e sociedade. Participaram do debate: Mariane Azeve-do, Mestre em Conforto Ambiental e Eficiência Energética eeditora dos Cadernos de Boas Práticas em Arquitetura; Geral-do Tavares, Diretor do Departamento de Energia Elétrica daUFF; Ana Seroa, Diretora da Faculdade de Arquitetura da UFF;Antonio César Silveira Baptista da Silva, Diretor da Faculdadede Arquitetura da UFPEL; Liader da Silva Oliveira, Administra-dor técnico do Programa de Eficiência Energética da UFPEL;Marco Milazzo, Mestre em Conforto Ambiental e EficiênciaEnergética e Professor da Universidade Estácio de Sá; e CarlosMurdoch, Coordenador da Pós-Graduação em ArquiteturaSustentável da Estácio. A seguir, um resumo das ideias a res-peito do tema.�O que me impressiona é que a economia que vem sendoobtida ocorre ainda em coisas básicas (como substituição delâmpadas, adoção de cores claras). A Arquitetura é tão com-plexa! Se coisas simples não são feitas, o que dirá interven-ções mais complexas produzidas pela Arquitetura!� (MarcoMilazzo).�Conceitos básicos da Arquitetura foram esquecidos com afacilidade de utilização do ar-condicionado. Parece que os ar-quitetos ficaram um pouco anestesiados no mundo pós Guer-ra. Há um choque cultural muito grande e tornou-se comumcriar uma estufa de vidro, inicialmente projetada para uma ci-dade como Nova Iorque, no Rio de Janeiro.� (Carlos Murdoch)�Infelizmente, não sabemos o que tem sido feito em outrasunidades, que deveriam trabalhar apoiando-se mutuamente.É necessária uma revisão curricular que passe a abrangeroutras áreas do conhecimento.� (Ana Seroa)�A Arquitetura e a Engenharia precisam se reconectar. Ambastêm uma importante missão (na elaboração de projetos

ecoeficientes) e os arquitetos precisam se recapacitar para aten-der a esta nova demanda.� (Carlos Murdoch)�Os novos edifícios ainda gastam muita energia porque o cons-trutor se recusa a aceitar um projeto arquitetônico eficiente cujainstalação é geralmente mais cara�. (Liader de Oliveira)�A certificação das edificações não pode ser simplesmenteimportada, porque não é adequada à realidade brasileira. ACaixa Econômica Federal, os bancos Itaú e Real estão imple-mentando o Selo Verde, para vincularem os empréstimos àsrecomendações de seus certificados. Mas não vemos a partici-pação de políticos e da sociedade na elaboração desses proje-tos. Está na hora de as universidades determinarem o que éser Verde no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul etc, porquecada estado tem suas especificidades. O que se vê são constru-toras apenas se adaptando às exigências dos bancos.� (AnaSeroa)�Este problema só será solucionado quando a certificação deedifícios tornar-se lei. Então,os arquitetos serão chamados parabuscar as soluções necessárias.�(Geraldo Tavares)�Atualmente, vê-se empreendimentos que são verdadeiras cai-xas de vidro fixo, construídas no Rio de Janeiro, que se sub-metem a uma certificação porque utilizam equipamentosenergeticamente eficientes. Virou uma corrida de Marketing�.(Antonio César)�O maior desafio enfrentado pela universidade é ensinar o alu-no a pensar, perguntar, trabalhar em equipe, ser criativo. Aindahoje a universidade prepara seu aluno para a fábrica, para alinha de montagem, para responder perguntas, como se aindaestivéssemos na era da Revolução Industrial. Desde aproxi-madamente 1989 entramos na Era do Conhecimento, mas con-tinuamos a adotar os mesmos métodos de ensino. Na novaera, o importante é saber qual a pergunta a se fazer.� (GeraldoTavares)

e técnicas mais eficientes, buscar a re-dução do consumo, das despesas comenergia elétrica e a disseminação do co-nhecimento para além da universidade.Até dezembro de 2008, o programa ha-via economizado, através da redução dacarga reativa e da reformulação de con-tratos de fornecimento de energia, cer-ca R$ 295 mil. Desta economia, 75% fo-ram reinvestidos, pela Administração Su-perior da UFPel, no desenvolvimento emanutenção do programa, garantindo acontratação de bolsistas e a atualizaçãodo Laboratório de Conforto e EficiênciaEnergética (LabCEE).

Ao elaborar a estratégia do programa, oprofessor Antônio César percebeu que seualcance seria muito maior se conseguissea adesão de todos os departamentos. Enada melhor para motivá-los do que garan-tir uma retribuição financeira às unidades,proporcional à economia obtida. �Temos umpessoal muito qualificado e todos reclamamda falta de recursos, como computadores,

datashow, ao mesmo tempo em que des-perdiçam o ar-condicionado, por exemplo.Durante uma reunião com outros diretoresde unidade o assunto acabou convergindopara a necessidade de usar a economia deenergia para conseguir mais recursos e tivea oportunidade de explicar o que estáva-mos planejando: retribuir cada unidade coma economia alcançada. Naquele momen-to, o apoio foi irrestrito. No nosso progra-ma de conscientização, 80% dos valoreseconomizados serão revertidos para as uni-dades, 10% para premiação da unidadeque mais economizar e 10% para o pro-grama�, explica.

Para implantar um programa de cons-cientização e orientação da comunidadeuniversitária, o professor Antonio Cé-sarresolveu também lançar mão de uma fer-ramenta fundamental para garantir uma boaadesão: o investimento em marketing. Comos recursos economizados, ele contratouuma empresa para desenvolver um planode endomarketing, abrangendo diversas

ações importantes para ajudar a viabilizara meta da UFPel de economizar 30% como uso racional de energia, o que corres-ponde a R$ 600 mil em valores atuais. Des-ta consultoria, resultou a substituição dasigla PPGEE por Proben (Programa deBom Uso Energético) �O material de divul-gação do Proben inclui logomarca, cami-setas, busdoors, outdoors, folders, carta-zes, além de criação do site, inserções naprogramação da rádio federal, realizaçãode palestras, seminários e esquetes tea-trais e foi remunerado com a economia quejá obtivemos desde o início do programa�,informa Antonio César, que também é pro-fessor da disciplina Eficiência Energéticana Arquitetura, do Curso de Mestrado emArquitetura e Urbanismo da UFPEL. Em-bora o material de divulgação já esteja pron-to, o programa de conscientização deveráser oficialmente lançado no início do se-gundo semestre de 2009, pois aguarda orecebimento e a instalação de medidoresindividuais em cada uma das unidades.

7Universidades

AVALIAÇÃO DO CONFORTO AMBIENTAL NA FAU-UFRJ

Claudio Oliveira MorgadoArquiteto, Mestre, Professor do Departamento de Tecnologia da Construção, FAU - UFRJ

Documento

Nos países desenvolvidos, todos os pro-dutos colocados em uso passam por umrigoroso controle de qualidade que visaa satisfação do consumidor, que tem umpapel de destaque na indicação de pro-blemas que possam ser detectados nodecorrer da vida útil do produto. Essecontrole é extensivo à produção e ao usodo ambiente construído. O procedimen-to sistematizado de avaliação de ambi-entes baseado na opinião do usuário foidenominado Avaliação Pós-Ocupação(APO). A APO é uma metodologia quereúne avaliações comportamental (a par-tir do ponto de vista dos usuários) e téc-nica (ensaios em laboratório ou in loco),além do resgate, como subsídios de aná-lise, do histórico da produção do ambi-ente que está sendo avaliado. Especia-listas em APO indicam a otimização depelos menos 20% dos problemas encon-trados, partindo-se dos itens de pior de-sempenho, para atingir a satisfação dosusuários em relação ao desempenho doambiente avaliado.

A localização da UFRJ

A Universidade pode ser entendida comouma instituição dotada, assim como ohomem, de �corpo� e �alma�. Nesse caso,sua alma seria o espírito universitário,isto é, suas finalidades, ideais e princí-pios. Já o corpo seria composto pelocampus, seus edifícios e suas instala-ções materiais.

A maioria da população que utiliza ocampus da UFRJ desconhece a quanti-dade de problemas que tiveram de serresolvidos para estabelecer sua atuallocalização. A primeira universidade bra-sileira, então denominada, Universidadedo Rio de Janeiro, foi instituída peloGoverno Federal a 7 de setembro de1920. Suas instalações físicas eram dis-persas e insuficientes, inadequadas, por-tanto, às necessidades do espírito uni-versitário. Consciente dessa situação,em 1935, o Ministro Gustavo Capanemacogitou a construção da Cidade Univer-

sitária, na Praia Vermelha, conforme pre-viu o urbanista francês Alfred Agache emsua proposta Cidade do Rio de Janeiro:Extensão, Remodelação e Embeleza-mento (1929).

Diversos locais além da Praia Vermelhaforam cogitados para a construção daCidade Universitária, entre eles: Quintada Boa Vista, Leblon, Gávea e até sobreaLagoa Rodrigo de Freitas.

Paralelamente aos planos para a cons-trução da Cidade Universitária, desen-volveu-se o projeto de criação da Uni-versidade do Brasil, na qual seria trans-formada a Universidade do Rio de Ja-neiro em 5 de julho de 1937.

Somente em 1945, com a organizaçãodo Escritório Técnico da Universidade doBrasil (ETUB), se chegaria a uma con-clusão definitiva quanto à sua futura lo-calização. Foi aproveitada uma novasolução: a da unificação do arquipélago

de nove ilhas situadas em frente ao Ins-tituto Oswaldo Cruz, entre a Ponta doCaju e a Ilha do Governador (imagem1), através de um aterro que ficou sepa-rado do continente por um canal.

Para a concepção inicial da Cidade Uni-versitária, foi escolhido como Arquiteto-chefe Jorge Machado Moreira que sededicou à concepção urbanística doCampus universitário de 1949 a 1962.

A Bienal de São Paulo de 1955 premioua primeira obra importante da CidadeUniversitária: o Instituto de Puericultu-ra. Em 1957, foi a vez do prédio da Facul-dade Nacional de Arquitetura, atual Fa-culdade de Arquitetura e Urbanismo, serpremiado pela IV Bienal de São Paulo.

A partir de 1965, já parcialmente instala-da no aterro do arquipélago de noveilhas, a Universidade do Brasil passou aser denominada Universidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ).

1 - Unificação de nove ilhas

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética8

Conforto Ambiental naCidade Universitária

Para resolver problemas de insolação,iluminamento e ventilação naturais foiformada uma equipe técnica dirigida peloengenheiro civil Paulo Sá. Esta equipejá realizava estudos sobre conforto tér-mico, conforto lumínico e orientação dosedifícios há, aproximadamente, 20 anos.Sá afirmava que partiu daí a preocupa-ção que sua equipe teve, nos seus en-

saios, em determinar os valores corres-pondentes à sensação humana de con-forto.

O estudo realizado pela equipe de Pau-lo Sá foi pioneiro. Foram feitas observa-ções diárias ininterruptas no período de1o de outubro de 1950 a 30 de setembrode 1951, em quatro postos de observa-ções diferentes. Foram obtidas, assim,algumas dezenas de milhares de dadospara um estudo que foi considerado, pelaequipe, como sendo o primeiro, no gê-nero, já realizado no mundo com obser-vações tão numerosas e minuciosas.

Além disso, o fato de ter sido realizadoem zona tropical, onde as condições deconforto térmico nos ambientes aindaeram pouco conhecidas, emprestou aotrabalho um valor mais geral do que ode um simples estudo de caso isolado.

A rosa dos ventos (imagem 2) indica: (1)SE e E dominantes, brisas constantesde bom tempo; (2) SO e O mau tempoprolongado; (3) NO e N rajadas, tempo-rais de verão.

A interpretação dos resultados, descritaa seguir, foi feita item por item, para, emseguida, ser coordenada em conclusõesque abrangessem todos os itens: (1) olocal é mais quente quente, no verão àtarde, e mais fresco, no inverno de ma-nhã; (2) a diferença de temperatura en-tre manhã e tarde é da ordem de 5; (3) adiferença de temperatura entre invernoe verão é de aproximadamente 5,5ºC;(4) aprimavera é sensivelmente maisquente do que o outono; (5) os ventossão mais fortes na primavera e mais fra-cos no inverno; (6) os ventos são 50%mais fortes à tarde do que de manhã.

A interpretação dos resultados obtidospossibilitou a realização de uma série deprescrições que deveriam ser levadas emconsideração na construção da CidadeUniversitária. As conclusões gerais tira-das dos estudos realizados foram formu-ladas de forma que: (1) a orientação dosedifícios, bem como das avenidas e ala-medas, aproveitasse os ventos; (2) seprovocasse ventilação cruzada nas sa-las; (3) se aproveitasse a ação refrige-rante das brisas (4) a disposição dosedifícios e a arborização do local fossemplanejados de forma a proporcionarsombreamentos; (5) as salas a seremocupadas pela manhã fossem orientadasa S e SE, para receber menos insola-ção; (6) fosse evitado o uso das salasorientadas a NE e SE de manhã e dassalas orientadas a SO e NOà tarde; (7)se utilizasse quebra-quebra-sóis nas fa-chadas NO.

A Faculdade de Arquiteturae Urbanismo

A Faculdade Nacional de Arquitetura foiincluída entre as unidades universitáriasque deveriam ser imediatamente proje-tadas e construídas devido à crítica situ-ação de espaço em que se encontrava.

O projeto aprovado ( imagem 3) era for-mada por um bloco principal de oito pa-vimentos, medindo 170 x 25m em plan-ta e 47m de altura, e mais outros trêsblocos de dois pavimentos cada. As sa-las do 3º ao 7º pavimentos eram desti-nadas às turmas do 1º ao 5º ano do cur-so de arquitetura, respectivamente. O 8ºpavimento serviria para os cursos de pós-graduação e de urbanismo.

2 - Rosa dos ventos

3- Projeto aprovado para a Faculdadenacional de Arquitetura

9Universidades

O bloco principal é composto basicamen-te por duas fachadas: NO e SE, esta úl-tima totalmente composta por varandas.No projetoinicial, estava prevista a colo-cação de brises- soleils (pára-sóis) emtoda a fachada NO. Entretanto, a colo-cação desses brises foi interrompida,tendo sido executada apenas em algu-mas janelas do 3º (imagem 4).

De acordo com as orientações para oprojeto, nas salas de aula situadas nafachada NO seriam ministradas aulasteóricas para grupos maiores de alunosno período da manhã, por estas recebe-rem insolação no período da tarde. Nassalas de aula situadas na fachada SE,composta por varandas (imagem 5), se-riam ministradas aulas práticas para gru-pos de os oito alunos no período datarde.

Atualmente, a Faculdade de Arquiteturae Urbanismo divide o espaço físico doedifício com a Reitoria, com a Escola deBelas Artes (EBA) e com o IPPUR. AReitoria está situada no 8º pavimento, aEscola de Belas Artes no 6º e 7º pavi-mentos e o Instituto de Pesquisa e Pla-nejamento Urbano e Regional (IPPUR)

ocupa parte do 5º pavimento do edifício.A Faculdade de Arquitetura e Urbanis-mo passou a contar apenas com o 3º, 4ºe 5º pavimentos para suas salas de aula,departamentos e pós-graduação A bibli-oteca, a diretoria e a secretaria estão si-tuadas no 2º pavimento (Bloco C). Alémdisso, a reestruturação do ensino supe-rior no Brasil, com a adoção do sistema

de créditos, colaborou para a inviabiliza-ção das orientações iniciais de ocupa-ção de espaço para o projeto. Por estasrazões razões, as salas de aula situa-das nas duas fachadas (NO e SE) pas-saram a ser utilizadas tanto de manhãquanto à tarde.

APO realizada na FAU

No Brasil, há poucos registros conheci-dos de como os ambientes agem, positi-va ou negativamente, sobre os usuári-os. Por isso, há muito o que se aprenderatravés do inventário de produção e usodas edificações, no que diz respeito aosaspectos comportamentais, construtivos,funcionais, econômicos e estéticos.

Considerando a importância do confortoambiental para o aumento da produtivi-dade do usuário e para a execução deatividades que requeiram concentração,no caso específico dos alunos, o confor-to ambiental está diretamente relaciona-do à assimilação do conhecimento queé transmitido em sala de aula.

A seleção dos ambientes onde foramaplicados os questionários foi feita deforma que fossem investigadas salas deambas as fachadas do bloco principal,SE e NO. A análise dos dados resultan-tes dos questionários se deu de formageral para as salas de ambas as facha-das. A tabela mostrada a seguir, relacio-na as variáveis consideradas satisfató-rias e insatisfatórias, de forma geral, paratodos os ambientes. A única exceçãoencontrada foi para a sala 304, que foiinvestigada intencionalmente por tersuas janelas �protegidas� pelas copas degrandes árvores (imagem 6).

Análise dos resultados

Conforto lumínico

De acordo com o parecer dos alunos, assalas da fachada NO e SE têm um bomdesempenho lumínico natural e artifici-al. Este parecer foi confirmado pelas me-dições físicas realizadas com umluxímetro. Entretanto, nas salas de de-senho, localizadas na fachada SE, as

4 - Fachada NO

5 - Fachada SE

6 - Sala 304

VARIÁVEIS SATISFATÓRIAS VARIÁVEIS INSATISFATÓRIASIluminação natural e artificial Temperatura no verãoTemperatura no invernoVentilaçãoExceção: sala 304

Iluminação artificial Iluminação naturalTemperatura no inverno e no verãoVentilação

VARIÁVEIS SATISFATÓRIAS VARIÁVEIS INSATISFATÓRIAS

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética10

medições mostraram iluminância natu-ral insuficiente nos pontos mais afasta-dos das varandas. Esta situação é agra-vada pelo fato da parede oposta aos vãosexternos ser composta por armários demadeira escuros, que prejudicam a re-flexão da luz (imagem 7).

O projeto original do edifício previa ilu-minação artificial através de lâmpadasfrias encobertas por um forro em colmeia(imagem 8), o que prejudicou muito o ren-dimento do sistema de iluminação. Emconsequência, todas salas sofreram al-terações e tiveram suas luminárias re-baixadas para o nível do forro.

Conforto térmico

As salas localizadas na fachada SE e NOforam consideradas termicamente desa-gradáveis no verão. Isto se deve, princi-palmente, à diminuição do espaço físicoda FAU-UFRJ, que passou a dividir oedifício com a Reitoria, a EBA e o IPPUR,tornando inviável a ocupação das salassomente nos horários indicados pelaequipe que realizou os estudos de con-forto térmico.

A sala 304 foi o único ambiente conside-rado termicamente agradável no verão.Isto se dá porque as copas das árvoresatenuam os efeitos da radiação solar,funcionando como quebra-sóis, o quecomprova que se essa fachada (NO) fos-se composta por brises- soleils articulá-veis, como previa o projeto de JorgeMoreira, o desempenho térmico dos am-bientes ali localizados seria considera-velmente favorecido.

O resultado satisfatório da avaliação daventilação no interior dos ambientes jáera esperado. Todo o projeto urbanísticoe arquitetônico da Cidade Universitáriafoi realizado em função, principalmente,

dos resultados obtidos pela equipe deconforto ambiental em relação à veloci-dade e à orientação dos ventos.

Através de entrevistas foi relatado que,mesmo nos dias muito quentes, em queos ambientes mantêm uma temperaturadesagradável, o corredor de circulaçãointerna dos pavimentos da FAU perma-nece agradável devido à ventilação.

Recomendações

Obtidas as informações baseadas nasvivências dos usuários da FAU-UFRJ ediagnosticados os aspectos positivos enegativos do estudo de caso, são des-critas a seguir recomendações constru-tivas e comportamentais que visam amelhoria do desempenho dos ambien-tes avaliados.

1. Na medida do possível, organizaçãodas disciplinas entre as salas de aula ede desenho, de forma a otimizar a utili-zação dos ambientes conforme as indi-cações da equipe de conforto ambiental(SÁ, 1952). Assim sendo, as salas loca-lizadas na fachada SE seriam utilizadasao mínimo pela manhã e as salas locali-zadas na fachada NO seriam menos uti-lizadas à tarde.

2. Manutenções periódicas, corretivas epreventivas, dos vãos e esquadrias detodos os ambientes, de forma a favore-cer a ventilação e diminuir, ou até mes-mo eliminar, os ruídos indesejáveis nointerior dos ambientes.

3. Pintura de teto e paredes das salas e,principalmente, dos armários de madei-ra, com cores claras (de preferência obranco) para favorecer a reflexão da luz.

4. Colocação de brises- soleils articulá-veis em toda a fachada NO, conformeprevia o projeto original de Jorge Moreira.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADAMELLO JR., Donato. Um campus universitáriopara a cidade do Rio de Janeiro. In: Arquiteturae Revista, vol. 2, p. 52-72. Rio de Janeiro: FAU-UFRJ, 1985.

PREISER, Wolfgang F. E.; RABINOWITZ,Harvey Z. & WHITE, Edward T. Post-occupancyevaluation. Nova York: Van Nostrand Reinhold,1988.

REIS, Antônio Tarcísio & LAY, Maria CristinaDias. As técnicas de APO como inst rumentode análise do ambiente construído. Gramado:III ENCAC / I ELACAC, 1995.

SÁ, Paulo. Arquitetura e conforto na cidade uni-versitária. Rio de Janeiro: INT, 1952. Universi-dade do Brasil. Project for the conclusion of theconst ruct ion works and set t ing up of theuniversity town and its respective campus. Riode Janeiro. Mimeo.

Seria igualmente necessária uma pos-terior manutenção periódica dessesbrises.

5. Instalação e manutenção de climatiza-dores no maior número possível desalas.

Considerações finais

Os resultados obtidos nesta pesquisalevaram à conclusão de que as variáveisdo desempenho bioclimático do objetode estudo consideradas insatisfatóriassão resultantes de modificações do pro-jeto original, ocorridas durante a cons-trução do edifício, e da utilização dosambientes de forma adversa às recomen-dadas pela equipe responsável pelosestudos de conforto ambiental há maisde 55 anos.

É fundamental ressaltar também que aAPO é uma ferramenta importante paraa retroalimentação de projetos dos am-bientes construídos, contribuindo paraque se evite a repetição de ambientescom desempenho insatisfatório do pon-to de vista dos usuários.

7 - Armários de madeira escuros que prejudicam a reflexão da luz 8 - Lâmpadas frias encobertas por um forro em colmeia.

11Universidades

CAMPUS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS,SEVERIANO PORTO

Arquiteta Leticia NevesMestre em Arquitetura Bioclimática e Conforto Ambiental, USP (São Carlos); Doutoranda em Conforto Térmico eVentilação Natural pela UNICAMPNatural, PROURB/FAU/UFRJ.

Artigo

Severiano Porto é um arquiteto consa-grado por sua abordagem inovadora.Suas obras se destacam pelo pioneiris-mo em divulgar premissas bioclimáticase novas ideias de tratamento do espaçode acordo com o clima, aliado à cons-tante preocupação com aspectos rele-vantes da arquitetura regional da Ama-zônia.

Ele difundiu uma arquitetura de forte fei-ção regionalizada, onde o uso da ma-deira sobressaiu em sua permanentebusca por uma relação entre construçãoe natureza. Apesar de conhecido pelotrabalho com a madeira, apresenta tam-bém obras significativas em concreto,aço e alvenaria.

O grande mérito de seu trabalho vaimuito além do aspecto puramente for-mal. Está na busca pelo uso apropriadodos recursos naturais, no correto ajusteàs condições climáticas regionais, naprocura por uma linguagem coerente,adequada ao contexto sócio-cultural lo-cal e no uso de sistemas passivos de

climatização para obtenção de confortoambiental e eficiência energética.

Uma das obras mais marcantes de suacarreira é o campus da UniversidadeFederal do Amazonas (Ufam), situadoem Manaus-AM. O projeto, de 1973,

destaca-se pelas soluções de ventilaçãonatural utilizadas, que constituem estra-tégia importante para redução no con-sumo de energia com sistemas de con-dicionamento de ar.

O campus localiza-se em área de vege-tação tropical nativa preservada, cerca-da de nascentes, o que demanda o mí-nimo de interferência possível na paisa-gem original. Em vista disso, a escolhada área de implantação baseou-se nabusca em adaptarse à topografia local:as edificações estão concentradas emum platô central e o arruamento é peri-férico, acomodando-se ao perfil maisacidentado do terreno.

A concentração de equipamentos favo-rece a proteção contra a radiação solare as chuvas constantes da região, cujoclima característico é o quente e úmido.Coberturas-tipo, feitas em estrutura me-tálica modular, foram a solução escolhi-da pela facilidade de montagem entre asirregularidades do terreno, além de fun-cionarem como elemento integrador dasedificações, constituindo ora simples

9 - Vista aérea do campus

10 - Área de alimentação coberta

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética12

passagens, ora espaços mais amplose equipados, que configuram áreas deestar.

Para a latitude de Manaus, a coberturaé a face do edifício mais atingida pelaradiação solar. Por esse motivo, o arqui-teto optou pelo uso de amplos beirais ede um sistema de dupla cobertura, emque os ambientes fechados, construídosem alvenaria, são independentes da es-trutura metálica principal. Essa soluçãofavorece a proteção da radiação solar eda formação de um colchão de ar venti-lado entre as telhas e o forro.

Os edifícios possuem formas alongadase as fachadas principais implantadas nadireção norte-sul, o que reduz significa-tivamente a exposição à radiação solar.Jardins são dispostos regularmente en-tre os prédios, oferecendo grandes áre-as sombreadas.

Ventilação natural

A ventilação natural dos ambientes, im-prescindível para o clima quente e úmi-do, foi trabalhada com atenção especi-al, visando fornecer maior conforto tér-mico aos usuários e limitar ao máximo ouso de ar condicionado. A estratégia foitrabalhada de forma criativa pelo arqui-teto, através do uso do efeito chaminéassociado à ventilação cruzada.

No projeto original, os blocos de salasde aula possuíam aberturas zenitais nas

lajes de concreto, que funcionavam emconjunto com o lanternim da cobertura.O sistema visava favorecer a exaustãodo ar aquecido pela cumeeira e auxiliarna formação de uma camada de ar mó-vel entre o forro e o telhado, dissipandoo calor advindo da radiação solar inci-dente sobre o telhado. A estratégia fun-cionava em conjunto com a ventilaçãocruzada, proporcionada pelas aberturaslaterais dispostas em paredes opostas(norte-sul). Recentemente, no entanto,esses ambientes foram todos adaptadospara instalação de ar condicionado. Paraisso, as aberturas zenitais foram veda-das, interrompendo o fluxo de ar pelacobertura.

A ventilação cruzada é uma alternativaque ainda funciona. As aberturas de en-trada do ar, localizadas na fachada nor-te, procuram captar os ventos dominan-tes da região, que são predominante-mente nordeste (variando de nordeste asudeste). Quanto à posição vertical, elasocupam desde 0.70m acima do piso atéa altura da laje, permitindo que o ventoatinja todo o ambiente interno. As aber-turas de saída do ar possuem peitorilmais elevado (1.55m acima do piso), pro-porcionando um fluxo de ar ascendente,no nível da zona ocupada do ambiente.O projeto das esquadrias é, certamente,o ponto forte dessa estratégia. São aber-turas do tipo pivotantes horizontais, quepermitem até 100% de área efetiva deabertura e oferecem mecanismos decontrole separados para as folhas opa-cas (amarelas) e transparentes.

O monitoramento da velocidade e dire-ção do vento em uma sala de aula pa-drão da Universidade, realizado no ve-rão de 2006, mostrou a existência de umfluxo de ar bem distribuído internamen-te, o que está de acordo com a disposi-ção das aberturas � oblíquas aos ventos

dominantes e ocupando toda a extensãodas fachadas longitudinais.

O nível de aproveitamento do vento ex-terno disponível, no entanto, está abai-xo do esperado, ficando entre 21% e39%, quando deveria ser de até 65%.Este fator torna-se agravante quando sãoanalisadas as velocidades de ar obtidas,pois o vento externo disponível já é fra-co e insuficiente para que haja uma ven-tilação natural adequada. A média devento externo monitorada foi de 0.52m/s, enquanto a média interna ficou entre0.10 e 0.25m/s, o que é pouco perceptí-vel ao ser humano e pode provocar umefeito de esfriamento de apenas 0.7ºC.Os resultados encontrados permitiriam

que a temperatura interna atingisse umvalor máximo de 30ºC, para que o ambi-ente pudesse continuar sendo conside-rado confortável.

Os principais motivos para a ocorrênciadesses baixos índices estão tanto na pre-

11 - Circulação coberta

12 - Esquema de ventilação das salas de aula

13 - Aberturas zenitais fechadas

13Universidades

sença de mata nativa fechada no entor-no e de jardins densos entre as edifi-cações, que atrapalham a circulação doar externamente, como no posiciona-mento relativo às aberturas de entradado ar, em função das características di-nâmicas do vento. Apesar das esqua-drias serem amplas e possuírem siste-ma de funcionamento que possibilitamáxima abertura, elas não se aprovei-tam dos ventos externos em algumasocasiões. Quando a direção dos ventosestá próxima a leste, a captação para oambiente interno é muito baixa. Umaanálise da direção dos ventos dominan-tes no aeródromo Eduardo Gomes, emManaus, revela incidências frequentes devento nas direções leste e sudeste, quesão desfavoráveis à ventilação cruzadanas salas de aula.

Um fator prejudicial para a análise foi aobstrução das aberturas projetadas paraefeito chaminé. No entanto, um dos fa-tores primordiais para a ocorrência deventilação por diferença de temperaturaé a distância vertical entre as aberturasde entrada e saída do ar, e no caso dassalas de aula este valor é de apenas2.10m. De modo geral, esta altura quenão é satisfatória para que haja um gra-diente razoável de temperatura, o queindica que esta estratégia não contribui-ria muito para aumentar o fluxo de ar in-ternamente.

O monitoramento de temperatura e umi-dade no bloco de salas de aula indicou abaixa inércia térmica da construção, so-lução recomendada para o clima quentee úmido, já que as oscilações de tempe-ratura externa são baixas (em torno de7ºC para um período de 24hs).

As temperaturas internas chegaram aultrapassar a zona de conforto (definidapela Norma Americana ASHRAEStandard 55-2004) em algumas horas datarde. Foram registrados picos de até31.9ºC, ocorridos por volta das 14hs,enquanto o limite máximo aceitável, para80% de satisfação dos usuários de umespaço, seria de 29.3ºC, para as condi-ções climáticas de Manaus. Para atenu-ação desse problema, recomenda-semaior isolamento térmico e/ou reflexãoda radiação solar pelas superfícies ex-ternas, com a devida atenção para utili-zação de materiais leves, para não pre-judicar o conforto térmico do ambienteno período noturno.

Dos materiais utilizados na construção,a telha de fibrocimento é o único queapresenta desempenho térmico inade-quado ao clima, pois apresenta elevadacondutividade térmica e baixa capacida-de térmica, ou seja, transmite grandequantidade de calor. Este fator se agra-va com o enegrecimento que a telha so-fre com o passar do tempo, que aumen-ta sua absortância à radiação solar. Parame-lhoria no conforto térmico do am-biente interno, a cobertura precisa deuma superfície externa mais refletora,como a pintura em cores claras, porexemplo, que aumenta a reflexão da ra-diação solar.

Ar condicionado

De um modo geral, o desempenho tér-mico das edificações mostrou-se ade-quado ao clima na maior parte do tem-po. Uma questão que se coloca, no en-tanto, é qual o motivo que levou à insta-lação de ar condicionado em todos osambientes fechados, em um projeto queapresenta claras preocupações com aobtenção de conforto térmico por viaspassivas.

Aqui entra um dado importante, que deveser levado em conta: a difusão excessi-va e muitas vezes desnecessária de sis-temas de resfriamento artificial. A ade-são indiscriminada aos aparelhos de arcondicionado faz com que eles sejam

utilizados frequentemente em situaçõesonde é possível a obtenção de confortoatravés de estratégias bioclimáticas.

A leitura do projeto da Universidade mos-tra a qualidade do trabalho de SeverianoPorto, marcante pela preocupação cons-tante em aplicar soluções projetuaisbioclimáticas, sempre integradas ao meionatural. Nem todas as estratégias deventilação natural adotadas pelo arqui-teto apresentaram funcionamento satis-fatório, pois seu emprego na obra é algobastante experimental. Entretanto, a obraapresenta premissas projetuais apropri-adas, o que, sem dúvida, não se encon-tra na maioria dos edifícios da região. Apreocupação de Severiano Porto comtais questões é, acima de tudo, louvá-vel, e merece ser destacada. Tendo emvista a necessidade de redução do con-sumo de energia em edificações, a im-portância de seu trabalho adquire novafeição nos dias atuais.

FICHA TÉCNICA:Obra: Campus da Universidade doAmazonas, atual Universidade Federaldo Amazonas(Ufam)Endereço: General Rodrigo OtávioJordão Ramos, 3000 - CampusUniversitário69077-000 MANAUS - AMÁrea do campus: 600 hectaresData do projeto: 1973Data da execução da obra: 1973-1980

EQUIPE TÉCNICA:Autor: arquiteto Severiano Mário PortoCoautor: arquiteto Mário Emílio RibeiroProjetistas complementares:Acústica, instalação elétrica, TV circuitofechado, iluminação, audiovisual,traduçãosimultânea, sonorização, montagemcênica e comunicação visual: arquitetoRobertoThompson Motta.Instalações elétrica e telefônica: FêniceInstalações Técnicas.Estrutura de concreto: engenheirosMoysés Assayag e Vila Fiúza daCâmara Júnior.Instalações hidráulica e sanitária,hidroincêndio: Prohisa ProjetosHidráulico-Sanitários.Ar condicionado: Planac Engenharia eConsultoria.Estrutura metálica: Ribeiro da Fonseca.Projeto geométrico: engenheiros AtlasBacellar e Paulo Roberto Rocha.

14 - Edifício da Universidade comaparelhos de ar condicionado

instalados

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética14

EDIFÍCIO DO NÚCLEO DE PESQUISA MUTIDISCIPLINARDA UFAL

Leonardo S. BittencourtArquiteto formado pela UFPE e PhD pela Architectural Association Graduate School. Professor Associado daFaculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFAL.

.Tathiane A. L. MartinsArquiteta, Mestranda do PROARQ/UFRJ

Boas Práticas

INTRODUÇÃO

O Núcleo de Pesquisa Multidisciplinar(NPM) implantado no Campus A. C.Simões, em Maceió, AL, é umaedificação onde os aspectos ambientaisassumiram papel relevante dentre osvários condicionantes envolvidos naobra. Essa preocupação não se deu ape-nas na intenção de resolver o confortoambiental dos espaços propostos commenor consumo de energia. Os compo-nentes arquitetônicos utilizados com afinalidade de se obter uma respostabioclimática adequada foram tambémtrabalhados plasticamente. Ao contráriode encarar as solicitações bioclimáticascomo uma barreira à criatividade, procu-rou-se demonstrar o significativo poten-cial plástico existente na adequação deum edifício ao seu meio climático.

Para climas quentes e úmidos, a estra-tégia bioclimática mais eficiente consis-te em oferecer uma boa proteção contraa intensa radiação solar e contra as chu-vas tropicais, aliada à ventilação natu-ral. É recomendável uma circulação cru-

zada do vento, que passe próxima dosusuários.

O PARTIDO ARQUITETÔNICO

A proposta apresentada se constitui emum bloco com dois pavimentos de 1.030m², cada um, e oferece ampla flexibili-dade de uso dos laboratórios; permitin-do adaptações e modificações futuras emseu layout.

O terreno disponível determinou a im-plantação do edifício, com seu eixo lon-gitudinal no sentido norte-sul. Essa ori-entação acarretou uma intensa incidên-cia da radiação solar nas fachadas lestee oeste.

Para evitar o desconforto produzido pelapenetração dos raios solares no interiordos ambientes, foram propostos amplosbeirais (5,00m) e protetores solares. Nafachada oeste, foram localizados os la-boratórios que necessitariam utilizar apa-relhos de ar condicionado como requisi-to fundamental para o funcionamento deseus equipamentos. O programa de ne-cessidades ficou distribuído conforme atabela abaixo.

Todos os ambientes voltados para Oes-te possuem protetores solares verticaismóveis e horizontais fixos. Estes últimosfuncionam, também, como �prateleiras deluz� (light shelves), proporcionando uma

15 - Planta de locação e coberta doedifício.

LEGENDA AMBIENTE ÁREA1 Lab. Sistema de Separação 90 m2

2 Lab. Central Analítica 90 m2

3 Lab. Computação de Alto Desempenho 45 m2

4 Lab. Visualização Científica 45 m2

5 Lab. Recursos Hídricos/ Engenharia Ambiental 90 m2

6 Lab. Novos Materiais 135 m2

7 Lab. Ótica Quântica 135 m2

8 Auditório 135 m2

9 Lab. Catálise Combustível 90 m2

10 Lab. Fotoquímica / Atividades Biológicas 180 m2

11 Lab. Linguística / Letras 45 m2

12 Lab. Agrometereologia 45 m2

13 Lab. Termofluidodinâmica 45 m2

14 Lab. Nutrição 45 m2

15 Lab. Biotério / Insetário 45 m2

16 Lab. Eletroquímica 180 m2

17 Lab. Filariose / Quimioterapia Antimalárica 180 m2

18 Lab. Produtos Naturais / Ecologia Química 90 m2

19 Circulação, hall e sanitários 225 m2

TOTAL 2.060 m2

15Universidades

maior uniformidade na iluminação natu-ral das salas.

Captadores de luz e vento estão implan-tados na linha de cumeeira, no trecho quecorresponde à circulação central do edi-

fício, A cobertura dos captadores é cons-tituída de material translúcido, visandoproporcionar iluminação natural na circu-lação do pavimento superior, através detijolos de vidro localizados na laje de for-ro da mesma. Produz, também, luz natu-ral nas áreas mais profundas dos labora-tórios, através das janelas altas, locali-zadas acima da laje de forro da circula-ção, proporcionando uma maior unifor-midade luminosa nesses ambientes.

Nas fachadas leste, norte e sul, estãosituados os laboratórios de maior porte,que necessitarão de maior vazão do flu-xo de ar; tanto para efeito de confortotérmico, como para fins de renovação dear, uma vez que neles são desenvolvi-

dos trabalhos com produtos químicos tó-xicos. Uma boa ventilação natural é ob-tida, com a entrada de ar, através dasjanelas, e saída do mesmo através dosexaustores localizados na coberta. Fo-ram implantados dispositivos conhecidos

como �peitoris ventilados� (HOLANDA,1977).

Esses dispositivos proporcionam umaconstante renovação do ar interior (mes-mo à noite ou em dias de chuva, quandoas janelas precisam estar fechadas) eoferecem uma importante corrente de arna altura das mesas de trabalho. Oscaptadores na cobertura têm por finali-dade insuflar ar nos ambientes localiza-dos a sotavento e produzir a exaustãodo ar que entra através dos ambienteslocalizados a barlavento.

A coberta e as fachadas são pintadas debranco para reduzir a absorção da inten-sa radiação solar, característica da re-gião. Outras cores estão restritas a pou-cos elementos.

CONCLUSÃO

O resultado é uma construção simples,que atende às demandas e limitações

16 - Planta baixa do pavimento térreo. 17 - Planta baixa do pavimento superior.

18 - Vista dos protetores solares da fachada oeste.

19 - Cortes esquemáticos ilustrando o efeito da �prateleira de luz�e do captador de luz natural.

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética16

existentes.Acima de tudo, trata-se de umedifício que procura responder criativa-mente às necessidades bioclimáticasapresentadas, transformando-as em re-pertório arquitetônico com peculiaridadesinerentes a uma produção característicade climas quentes e úmidos.

FICHA TÉCNICA DO PROJETO:Cliente: Universidade Federal deAlagoasDenominação da obra: Núcleo dePesquisa MultidisciplinarEndereço completo: Campus A. C.Simões, Tabuleiro do Martins, Maceió-AL.Área construída total: 2.060,00 m2Data do projeto: 2003Data da execução da obra: 2004Equipe Técnica do projeto:Autor: Leonardo BittencourtColaboradores: Antônio do NascimentoJr., Elizabeth Duarte.Projetistas complementares: EvandroSarmento (estrutura). Nélia Calado(instalações prediais).Construtor da obra: TCC ConstruçõesLtda.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASGIVONI, Baruch. Performance andapplicabilit y of passive low energycooling systems.Energy and Buildings. Lausane, v.17.1991.______. Comfort , climate analysis andbuilding design guidelines. Energy andBuildings.Lausane, v.18. 1992.HOLANDA, Armando. Roteiro paraconstruir no nordeste. Recife: Programade Pós-graduaçãoem Desenvolvimento Urbano da UFPE,Série Estudos Urbanológicos, no. 7,1976.

20 e 21 - Vista externa e interna do peitoril ventilado, respectivamente.

22 e 23 - Cortes esquemáticos da ventilação natural.

24 - Vista da fachada leste.

17Universidades

MIDIATECA PUC-RIO

Angelo BucciArquiteto, Mestre e Doutor pela USP. Professor de Projeto de Edificações na Faculdade de Arquitetura daUSP e do escritório SPBR arquitetos.

Boas Práticas

CONSIDERAÇÕESPRELIMINARES SOBREARQUITETURASUSTENTÁVEL

A palavra sustentabilidade remete aoentendimento atual das questões relati-vas ao meio ambiente e, por decorrên-cia, responsabilidade social. A militânciaambiental incluiu esse novo termo novocabulário da Arquitetura de tal modoque ele já marca mundialmente a edu-cação e o exercício profissional.Sustentabilidade define temas que ori-entam as escolas de arquitetura e oscódigos que regulam o exercício profis-sional, representa o que se diz uma novaagenda para os arquitetos.

O QUE HÁ DE NOVO NISSO?

[1] Não há novidade, ao contrário do quetantas vezes se anuncia, nos �dispo-sitivosde controle climáticos�. Esse anún-cio equivocado justifica, em boa medi-da, a resistência que o tema encontraentre arquitetos experimentados, pois écomum que o assunto seja apresentadocomo uma pequena coleção de soluções

bem conhecidas como se fossem dispo-sitivos revolucionários. A resistência, nocaso, se nutre pela sensação de engo-do. Ora, a consideração do clima e oselementos para sombrear, ventilar ou ilu-minar estão, todos, nas obras de arqui-tetura de qualquer época, inclusive, e demodo exemplar e notável para o assun-to em questão, nas obras anônimas da-queles que precisam extrair o máximode mínimos recursos. O equívoco estána abordagem primária e parcial. O en-godo é refugiar as incapacidades intrín-secas na novidade de um vocabulário.As duas coisas se juntam quando que-rem promover, ao paradigma de boa ar-quitetura, projetos que nada fazem alémde citar aspectos dessa nova agendacomo se especificasse itens de um ca-tálogo de produtos. A expressão arquite-to especialista em sustentabilida-de de-tém um paradoxo de segundo grau. Afi-nal, como se sabe, a opção pela espe-cialização impõe, por obrigação ética eprofissional, distanciar-se da atividade daarquitetura [projetista]. O segundo graué conferido pela opção ao tema: susten-tabilidade, cuja origem vinculada àsquestões ambientais exige uma aborda-gem sistêmica � holística para algunsou

da totalidade para outros � mais do queampla, é uma abordagem planetária.

Porém, essa abordagem rasa não tendea preponderar sobre a importância, a ur-gência e o inevitável do tema. Portanto,é razoável esperar que essa resistênciaexperiente seja vencida pela compre-ensão.

[2] É nova a capacidade de mensurarantecipadamente, ou simular, com gran-de precisão a aplicação daqueles velhos,e novos, dispositivos de controle climá-tico. É essa capacidade que possibilitao estabelecimento de parâmetros queorientam escolas de arquitetura e a defi-nição dos códigos que regulam o exercí-cio profissional. A possibilidade de simu-lação é notável em todos os níveis deabordagem. Desde o âmbito isolado deum simples edifício, através das novasferramentas de projeto, especialmentepelo uso de modelos eletrônicos e pro-gramas de análise de desempenhoambiental. Até a escala global, quando,por exemplo, se pode estabelecer parâ-metros para uma abordagem sistêmica,como para contabilizar o custo ambientalde cada intervenção, por mínima queseja, no espaço, demonstrando inequi-

25 - Como ficará a construção

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética18

vocamente a interdepen-dência entreação humana e preservação, ou destrui-ção, do planeta. É o que sintetiza a equa-ção [1 kW = 0,43 kg de CO²]. Ainda quecontroversa, a formulação permite, dian-te das evidências climáticas e da certe-za precisa dos níveis críticos de esgota-mento am-biental, acordos de condutainternacional como o célebre Protocolode Kyoto.

Responsabilidade social, como seconvencionou denominar no âmbito dasustentabilidade, é tema decorrente daquestão prioritária que é a preservaçãodo meio ambiente. Submetidos a essaprioridade não poderia ser de outra ma-neira: o homem, menos ainda responsa-bilidade social, não ocupa o cerne daquestão.

O Protocolo de Kyoto confirma essa pos-tura, conforme a ordenação hierárquicade prioridade e decorrência, quando sedistribuem as cotas de carbono confor-me o número de indústrias implantadasem cada país e não de acordo com aparcela de território ou população decada um deles. Ou seja, os países maispobres não recebem as cotas de carbo-no a que teriam direito se a distribuiçãoseguisse um critério humano outerritorial. Ainda assim, com esse altocusto social, o Protocolo, pelo que im-põe como custo ou benefício, é efetivopara promover um padrão industrial maissustentável. Nessa mesma orientação,quando na política urbana se estabele-cem critérios de classificação dos edifí-cios conforme seu desempenhoenergético e se faz a correspondênciadessa classificação nas alíquotas deimposto predial, o estímulo aos edifíciosde baixo consumo energético enfrenta,nos países subdesenvolvidos, uma con-tradição social insustentável: os ricospagam menos impostos que os pobres.

[3] O que há de surpreendentementenovo nisso, tomando o tema da sus-tentabilidade a partir do prisma particu-lar da arquitetura, é que ele sugere a in-versão dos sinais e põe foco naquilo quenem se via: o paradigma pode estar nospaíses pobres, a pesquisa de ponta podeser sugerida pelas soluções de parcosrecursos. Essa nova orientação, numaépoca em que os arquitetos se vêem atô-nitos diante da abundância de recursosque não têm sentidos, é mais do que sig-

26 - Maquete do projeto

27 - Maquete do projeto

28 - Fachada em construção

nificativa. Ele sugere uma revisão naequação anterior para colocar de mododireto que há relação entre recursosempregados e custo ambiental [$ = kgde CO²]. É como se dissesse que cadanota de dinheiro é uma fatura emitida

contra o meio ambiente. Talvez seja exa-gero supor que os Estados Unidos ain-da sonharão em ser a África, mas nãoseria tão equivocado pensar que a vida,para que seja sustentável, não deve acu-mular dinheiro.

19Universidades

PRÊMIO HOLCIM 2008

O Prêmio Holcim é a maior premiaçãoglobal em arquitetura sustentável. A suasegunda edição, em 2008, recebeu maisde cinco mil inscritos em todo o mundo.O prêmio está dividido em duas fases:regional, partilhando o mundo em cincograndes regiões com alguma correspon-dência aos seus continentes, e global.

Em 2008, o júri da premiação regionalpara a América Latina relacionou os trêsprimeiros prêmios � ouro, prata e bron-ze � a três distintas escalas de projeto:ouro, para a escala urbana; prata, paraum projeto de edifício; bronze, para oprojeto de um produto.

O projeto que fizemos para a MidiatecaPUC-Rio recebeu o segundo prêmio. Issocolocou o projeto em evidência dentroda especificidade do assunto do que seconvencionou chamar Arquitetura Sus-tentável. A abordagem dada pela promo-tora ao tema da sustentabilidade se des-taca pela abertura. Ela supera em muitoa consideração dos aspectos climáticose de conforto do edifício. Define, por esseenfoque, cinco objetivos principais: [1]inovação e capacidade de transferência;[2] padrões éticos e eqüidade social; [3]uso eficiente de recursos naturais e con-servação de energia; [4] desempenhoeconômico e compatibilidade e [5] impac-to estético e adequação ao contexto.

Quero crer que o projeto tenha sido con-siderado pela comissão julgadora em vir-tude da abordagem ampla que ela que-ria encontrar; ou seja, que o projeto atin-ge um padrão razoavelmente equilibra-do entre esses cinco objetivos, assimcomo deve se manter equilibrado entretantos outros aspectos que a Arquitetu-ra considera na sua formulação.

O que apresentamos a seguir é o memo-rial descritivo como foi elaborado em2006 quando levamos essa proposta pa-ra o concurso promovido pela PUC Rio.

MEMÓRIA DESCRITIVA

A proposta que apresentamos para aMidiateca PUC-Rio considera as duascotas de nível que caracterizam a áreada sua implantação. Elas são definidaspela topografia e estão consagradas nosedifícios: Vila dos Diretórios, nas antigascasas operárias remanescentes nocampus e sua extensão para os estacio-

namentos, nível 0,00 m; pilotis existentedo edifício da Amizade, nível 4,00 m. Apossibilidade que este duplo térreo ofere-ce se coaduna muito bem com a nature-za bi-partida do programa proposto paraa biblioteca. A saber: acervo e adminis-tração; áreas de público ou o edifício.

ACERVO E ADMINISTRAÇÃO

Essas funções foram dispostas junto aonível inferior definido pela Vila dosDiretórios. Ali, elas têm adequada inde-pendência de acesso para o uso rotinei-ro etambém grande facilidade para asfunções eventuais de carga e descarga.

O acervo ocupa um retângulo no núcleodesta área.

As funções administrativas giram em tor-no deste núcleo fechado com vidro comouma antecâmara que isola o acervo dasfachadas externas. Assim, colabora parao rigoroso controle de temperatura e umi-dade que é necessário na área de guar-da dos livros. Por outro lado, as funçõesadministrativas periféricas se mantêmsempre próximas à luz natural desejávele necessária às áreas de trabalho.

A planta deste conjunto é feito pelo re-tângulo regular do acervo e pelo polígonoirregular das áreas administrativascircundantes.

Essa irregularidade oferece liberdade nodesenho para preservar a arborização

existente e acomoda sem dificuldades asespecificidades, e eventuais alterações,do programa administrativo. Além disso,essa disposição torna simples a futuraampliação da capacidade do acervoatravés da adição de um novo depósito,horizontal ou vertical, associado ao pri-meiro.

Nessas condições, o sistema construti-vo projetado para o Acervo e Adminis-tração prevê estrutura em concreto ar-mado, com lajes maciças protentidas, li-vre de vigas, com intercolúnio de 7,50 me algumas seções de paredes de con-creto no perímetro externo para apoio econtraventamento horizontal.

Por fim, nesta configuração Acervo eAdministração constituem o embasa-mento para a implantação da área de pú-blico da nova biblioteca. O teto do acer-vo é coincidente com o nível do pilotisdo Edifício da Amizade e faz uma exten-são daquele nível para ser, ali no terraçodaquele teto, a Praça da Biblioteca.

ÁREAS DE PÚBLICO, OU OEDIFÍCIO.

Extensão natural do pilotis existente, aPraça da Biblioteca concilia os dois tér-reos, pois também se liga diretamentetanto com a Vila dos Diretórios como comos estacionamentos através de escadase rampas. O desenho proposto procurafazer convergir os diversos fluxos de cir-

29 - Fachada em construção

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética20

culação existentes nesse trecho docampus e dali se faz o acesso de públi-co à Biblioteca.

O Acolhimento é feito num primeiro ní-vel acessível por rampa e disposto ameio nível acima da Praça. Ali está arecepção, o controle de acesso e, aindafora da área controlada, o local dedica-do a estudos em grupo. Dentro da áreacontrolada, há um terraço externo, quese oferece à leitura de periódicos oucomo estar descontraído, e o setor decirculação, onde está o balcão dos livrossolicitados do acervo. A área de Acolhi-mento desempenha um papel de transi-ção, isto é, com seu pé direito restritoela aclimata e prepara o leitor para o in-gresso ao Salão Principal.

O Salão Pr incipal, com seus 9 m de pédireito, é o grande espaço da biblioteca.Por toda sua extensão, espalham-se áre-as de leitura e um pequeno acervo delivre acesso. As grandes aberturas nosextremos, com orientações norte e suldevidamente protegidas da radiação di-reta do sol, iluminam suficientementecom luz natural a uma profundidade de15 m. O vazio central, da varanda, funci-ona como uma lanterna no trecho cen-tral do grande salão. Além disso, nos doistrechos intermediários, entre a lanternae as fachadas norte e sul, duas seçõesde pisos transparentes do andar superi-or iluminam o grande salão com a luzdos sheds da cobertura. Dessa manei-ra, o Salão Principal tem luz natural ade-quada e, ao mesmo tempo, evita as des-vantagens climáticas das aberturas les-te e oeste. O Salão Principal conta ain-da com o apoio de duas outras áreas: aVaranda de Leitura e o Mezanino. A va-randa ocupa o vazio central, externo ecoberto, e oferece uma área alternativaaos usuários com vistas para jóiasarquitetônicas, como o Solar doGrandjean de Montigny ou edifício Mar-ques de São Vicente de Afonso EduardoReidy, ou paisagísticas, como o Corco-vado e os Dois Irmãos.

A Área de Estudo Concent rado abrigaas funções de trabalho dos usuários dabiblioteca, oferece maior concentraçãoe espaços com mais especificidades.Está aí, devidamente independente, aCátedra Unesco /PUC-Rio de Leitura.Também, sala de pesquisa, leitura indi-vidual, e uma área sugerida para exibi-ções temporárias temáticas ou de cole-ções do acervo da biblioteca.

Acolhimento, Salão Principal e Área deEstudo Concentrado fazem as áreas depúblico da biblioteca de um modo ricoporque oferecem diversas ambiênciaspara abrigar as múltiplas atividades queum programa desta natureza deve con-templar.

Enfim, por uma opção arquitetônica, sãoas áreas públicas da biblioteca que con-figuram o Edifício.

O EDIFÍCIO

Este Edifício pousa sobre o embasamen-to em apenas quatro pontos de apoio. Aestrutura que o realiza é uma treliça emaço tira proveito da altura total do edifí-cio para realizar o vão, 45 m, e balan-ços, 15 m e 30 m. O par de treliças dis-postas na direção norte-sul define asduas fachadas longitudinais leste e oes-te. Cada par de pilares está solidarizadoentre si por uma viga transversa. Por-tanto, os quatro pilares formam dois pór-ticos que estabilizam as treliças trans-versalmente.

A estanqueidade das duas fachadas lon-gitudinais é garantida pela aplicação dechapas de aço com dimensões de 2,5 mpor 15 m e espessura de 5 mm com sol-da corrida em todas as juntas. Além deproteção às intempéries, o aço tambémfunciona como sombreamento para ofechamento interno. Portanto, as pare-des de fechamento das fachadas leste eoeste são compostas por uma sequênciade elementos construtivos: chapa de açopara estanqueidade e sombreamento,camada de ar ventilado, isolamento tér-mico, duto técnico para ar condicionadoe instalações e painel regulador acústi-co interno. Cada um destes elementostem uma função específica. A grandevantagem desta opção construtiva é quenos permite graduar o desempenho ter-mo-acústico do edifício conforme os re-sultados aferidos em ensaios de mode-lagem através de ferramentascomputacionais avançadas. Dessemodo, assegura-se um desempenhoambiental conforme as normas nacionaise internacionais.

* * *Mais do que atender plenamente as suasexigências programáticas ou desfrutardas possibilidades técnicas que a cons-trução civil no Brasil dispõe atualmente,o projeto que apresentamos para a Nova

Biblioteca da PUC-Rio quer corresponderà importância simbólica e cultural queuma realização dessa natureza pode fa-zer através do seu projeto de arquitetu-ra.

A atual Biblioteca da PUC-Rio, tão viva,ganhará o que lhe falta na sua atual ins-talação que é algo difusa dentro do edi-fício da Amizade: visibilidade. Ou seja,ela passará a figurar nitidamente comoinstituição própria dentro do campus, fa-zendo ver o seu papel: depositária detodos os saberes, ponto de encontro dosestudantes de todos os cursos, universi-dade aberta para todos na cidade do Riode Janeiro.

EQUIPEArquiteturaspbr aquitetosAngelo BucciCiro MiguelJoão Paulo Meirelles FariaJuliana BragaEstruturaKurkdjian & Fruchtengarten engenhei-ros associadosJorge Zaven KurkdjianJairo FruchtengartenPaisagismoCAP RIO ConsultoriaAmbiental Paisa-gísticaFernando ChacelSidney LinharesConforto e eficiência energéticaLABAUT FAUUSPJoana Carla GonçalvesDenise Helena Silva DuarteLuminotécnicaRicardo HederAr condicionadoThermoplan Engenharia TérmicaCarlos Massaru KayanoAcústicaAcústica e SônicaJosé Augusto NepomucenoInstalaçõesPHE � Projetos Hidráulicos e Elétri-cosWang Mou SuongUlisses TavanoLógicaMarciano EngenhariaMarcelo MarcianoQuantitativos e pré-orçamentoAlberto Costa EngenhariaAlberto Costa Sousa NetoFotos das maqueteNelson Kon

21Universidades

PUC - MINAS

Maria Elisa BaptistaArquiteta e Mestre pela UFMG e Doutoranda em Urbanismo do PROURB da UFRJ. Professora da PUC-MGe conselheira do IAB.

Boas Práticas

Memorial

Como toda solução, esta surgiu de umproblema: a inexistência de um territóriopróprio para o Curso de Arquitetura e Ur-banismo da Pontifícia Universidade Ca-tólica de Minas Gerais. Fundado comoDepartamento independente, o Cursoera inquilino do prédio do InstitutoPolitécnico, onde graduou sua primeiraturma de arquitetos e urbanistas em1996.

Iniciado em 1999, o desafio do projetoera materializar a proposta políticopeda-gógica do Curso, que trazia como temasprioritários a inclusão, a sustentabilidadee a construção: �Um espaço modular, aque se pudesse acrescentar o que se fi-zesse necessário e possível ao longo dotempo e do dinheiro; um espaço versá-til, leva tanto para o curso quanto paratoda a universidade; um espaço-porto,capaz de receber, armazenar e enviar asarquiteturas defendidas pela nossa es-cola�1. O projeto, concebido por umaampla equipe de professores que foramincorporando ideias e cuidados das ver-tentes que compõem o curso, foi apre-sentado e debatido em fóruns abertosnas semanas de arquitetura promovidaspelo Diretório Acadêmico.

O terreno escolhido, longilíneo e em li-geiro aclive, sugeriu um partido linear,enfatizado pela maior face voltada parao sudeste e para a bela vista da Serrado Curral. Interrompido aqui e ali, crian-

do janelas para a paisagem, o partidoarticula a teia dos caminhos que dese-nham o campus e cria novos percursosatravés do edifício.

O edifício é organizado em blocos queacompanham o aclive do terreno, medi-ando as transições com espaços vaza-dos e mudanças no sistema construtivoe na cobertura. O bloco de chegada, aleste, na parte mais baixa do terreno, éo de maior altura. É organizado em tor-no a um claustro de respiração eambientação e abriga a administração,a secretaria, as salas dos professores eas salas de aulas teóricas. A escada delargos patamares abre-se simultanea-mente para o claustro e para a vista docampus, em um desenho quase náuti-co. O terraço de cobertura compensa agrande altura do bloco, mantendo a lei-tura horizontalizada do conjunto e crian-do um espaço de aulas ao ar livre, orien-tado para a vista da Serra.

O bloco dos ateliês, iguais entre si, ocu-pa linearmente a face sudeste, enquan-to as salas desiguais entre si (a oficinade maquetes, os laboratórios, o escritó-rio de integração, diretório acadêmico)ocupam a face noroeste, com a possibi-lidade de que possam ser acoplados,nessa face, outros espaços que se fize-

rem necessários ao longo do tempo,como numa cadeia de DNA.

Encerrando a composição formal, osgrandes ateliês, orientados transversal-

mente, receberam exaustores tipo cata-vento no volume destacado, contribuin-do para a leitura quase fabril do conjun-to. A conjugação da escada, dos vaziose do volume vermelho dos banheirosacentua esta última transição e cria ainterlocução entre os espaços, amplia-da pela passarela/praça de acesso aoEscritório de Integração, dando destaqueao espaço onde os projetos de extensãoganham vida.

A colunata da circulação dos ateliês eos blocos laterais configuram o pátio,espaço das instalações provisórias e dosdebates ao ar livre. O Cine Paredão,apelido dado pelos estudantes à gene-rosa parede lateral, foi desenhado paraas projeções de cinema e imagens, lem-brando os cine-grátis que povoam amemória belorizontina. O contraponto àgrande parede branca, no outro extremodo pátio, é feito pela repetição davolumetria em vermelho do segundo blo-co de banheiros.

Orientados ao longo do sentido sudes-te, os ateliês recebem uma iluminaçãogenerosa, mas pouco isolada, protegidosna fachada noroeste pela varanda de cir-culação. A cobertura é orientada parareceber o vento mais fresco vindo da

30 - O terreno escolhido, longilíneo e em ligeiro aclive, sugeriu um partido linear.

31 - A escada de largos patamares, emum desenho quase náutico.

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética22

Serra do Curral e fazê-lo circular até aparte mais alta, que recebe o sol da tar-de nas venezianas de exaustão.

Generosas janelas estabelecem a rela-ção entre os ateliês e as circulaçõesabertas, transmitindo as idéias de trocae experimentação, compartilhamento desaberes e experiências. A modulação dosvãos, obediente ao módulo do bloco es-trutural, remete ao ritmo das aberturasdo edifício original do campus, um anti-go seminário da década de 1930.

A sequência de ateliês é interrompida emdois momentos para fruição da paisa-gem, criando lugares de estar intercala-dos no burburinho cotidiano. A circula-ção é também concebida como um lu-gar de encontro e parada, com peitorisassentáveis.

O que se experimenta, ao percorrer oedifício, é uma diluição dos limites entreo exterior e o interior, numa gradaçãocontínua entre os lugares de encontro eos de trabalho individual. Essa sequênciaganha expressividade no interior dos ate-

36 - A colunata da circulação dos ateliês e os blocos laterais. 37 - O cine paredão

liês, onde o acesso aos mezaninos sedá por estreita escada individual.

O sistema construtivo reflete a ideia deexpor, modernamente, sem disfarces, oque é um edifício. A estrutura mista ado-tada nos blocos ortogonais (alvenaria

34 (ao lado) e 35 - A colunata dacirculação dos ateliês e os blocos

laterais.

32 e 33 - Os grandes ateliês encerram a composição formal.

23Universidades

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA1 PENNA, Alicia Duarte. O núcleo de ateliês.In: Projeto Político-pedagógico do Curso de

Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas. Ver-são preliminar, 2000

FICHA TÉCNICAObra: Escola de Arquitetura e Urbanismo daPUC Minas

Contratante: Sociedade Mineira de Cultura

Área construída: 4350 m2

Projeto: 1999/2005

Obra: 2001/2006

Local: Belo Horizonte, Campus CoraçãoEucarístico, Avenida Dom José Gaspar, 500.

EQUIPE TÉCNICAArquitetos: Cláudio Bahia, Maria Elisa Baptista,Rubem Gomes e equipe.

Projeto estrutural: Ilídio Valentim Lobato

Projeto elétrico: Dimensões Engenharia

Blocos de concreto: Minas Concrete Block

Execução: Pró-reitoria de Infraestrutura daPUC Minas

41- Mapa das Zonas Bioclimáticas

Zona 8: Maceió � AL UFALRio de Janeiro� RJ Midiateca PUC

- Aberturas grandes para ventilação e com sombreamento.- Paredes externas e cobertura leves e refletoras. Coberturas comtelha de barro sem forro poderão ser aceitas, desde que as telhasnão sejam pintadas ou esmaltadas. Também serão aceitas coberturascom transmitâncias térmicas acima dos valores tabelados, desde queatendam às seguintes exigências: contenham aberturas paraventilação em, no mínimo, dois beirais opostos; e as aberturas paraventilação ocupem toda a extensão das fachadas respectivas.- Nestes casos, em função da altura total para ventilação; e no verãodeve adotar ventilação cruzada permanente.Zona 3: Belo Horizonte � MG PUC- Aberturas médias para ventilação e sombreamento de maneira quepermita o sol durante o inverno.- Paredes externas leves e refletoras e cobertura leve e isolada- No verão, deve adotar ventilação cruzada como estratégias decondicionamento térmico passivo; e no inverno, aquecimento solarna edificação e vedação interna pesada � inércia térmica.

estrutural, concreto e cobertura metáli-ca) dispensa revestimentos, e as esqua-drias em báscula ferro T, de grandes di-mensões, permitem a ventilação e ilu-minação totais do vão, protegendo osespaços das chuvas eventuais.

As economias de energia e manutenção,motivadas pelo uso de soluções proje-tuais doces, complementam-se com ouso de sistema de vácuo nos sanitáriosgerando considerável economia de água.

40 - A colunata da circulação dos ateliês e os blocos laterais.

38 e 39 - Planta baixa do 10

pavimento (ao lado)e 20 pavimento(abaixo), respectivamente.

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética24

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NOS PROJETOS DE CENTROSDE PESQUISA UNIVERSITÁRIOS

Marco MilazzoArquiteto e Mestre em Conforto Ambiental e Eficiência Energética e Professor da Universidade Estácio de Sá.

Projetos

Os centros universitários brasileiros vêmrecebendo muitos investimentos nos úl-timos anos, muitos direcionados a refor-mas e ampliações de edificações exis-tentes, mas também para a construçãode novas edificações, e principalmentecentros de pesquisa.

Não é prática comum nos concursos elicitações a exigência de que estasedificações atendam a requisitos de efi-ciência energética, ou confortoambiental, ficando esta decisão na mai-oria das vezes a cargo do próprio arqui-teto contratado. Por este motivo, apenasem alguns projetos, onde a escolha dosescritórios de arquitetura foi muito rigo-rosa, encontramos projetos realmenteatendendo a estas preocupações.

Nesta linha de empreendimentos, o Nú-cleo de Tecnologias de Recuperação deEcossistemas � Nutre, no campus daUFRJ, no Rio de Janeiro, apresenta umprojeto que segue diversos conceitos dasustentabilidade e eficiência energética.A edificação está implantada no sentidoleste-oeste, discordando com o alinha-mento do terreno, porém minimizando aradiação solar que atinge as fachadas.Os laboratórios são adequadamente ven-tilados e iluminados naturalmente, sen-do que a fachada sul é protegida da in-

solação através da própria volumetria daedificação, e a fachada norte por varan-das e brises horizontais. Os arquitetosda Akron, responsáveis pelo projeto, ain-da utilizaram vegetação nos terraçosdescobertos e na fachada oeste, e utili-zaram a cobertura metálica do último

pavimento para fazer o recolhimento daágua de chuva.

O novo centro de pesquisas da Petrobrás� Cenpes 2 também na UFRJ, desen-volvido pelos arquitetos SiegbertZanettini e José Wagner Garcia, possuicaracterísticas muito particulares, prin-cipalmente por apresentar uma áreaconstruída de mais de 160 mil metrosquadrados. O Laboratório de ConfortoAmbiental e Eficiência Energética(Labaut), da FAU/USP desenvolveu osestudos de eficiência energética para asedificações do complexo, propondo so-luções de edificações baixas, orientadaspara receber o mínimo de radiação so-lar. Entre as soluções projetuais etecnológicas utilizadas, serão instaladospainéis fotovoltaicos, como incentivo aoestudo de geração de energias alternati-vas. As edificações ainda apresentamventilação cruzada através de sheds, usoda vegetação para barrar o vento e criarmicroclimas, e o uso de materiais cons-trutivos reciclados.

Os arquitetos Rodney Montosa, RicardoMonti e Valdir Secco, ao desenvolver o

42 - Vista 3D do NUTRE

43 - Corte esquemático do NUTRE

25Universidades

projeto da Faculdade Tecnológica SulAmericana, em Londrina no Paraná, nãoutilizaram simulações computacionais ouconsultorias específicas na área de efi-ciência energética, mas intuitivamente eatravés do bom senso aproveitam a ven-tilação e iluminação naturais e aomesmotempo protegem as fachadas com brisesfixos e móveis. Desta forma não é ne-cessário o uso de condicionamento dear arti-ficial nas salas de aula. A divisãoda faculdade em blocos, conectados porcircu-lações abertas, cria pátios internoscom vegetação, definindo uma arquite-tura tradicionalmente simples e adequa-da às condições climáticas brasileiras.

A construção de uma edificação complanta quadrada, definida pelo plano di-retor da UFF em Niterói, foi o principaldesafio para proteger da insolação o NAB- Núcleo de Estudos em Biomassa eGerenciamento de Águas. Além disso,as orientações norte, sul e leste estãovoltadas para a Baía de Guanabara, fa-zendo com que os arquitetos Ana PaulaPolizzo, Gustavo Martins e MarcoMilazzo projetassem as três fachadas devidro, porém protegidas por brises. O blo-co de acesso, orientado para oeste, pos-sui poucas aberturas, somente necessá-rias para a ventilação e iluminação natu-rais. Alguns laboratórios do NAB exigi-am o uso do condicionamento de ar arti-ficial e por este motivo foram projetadosem um pavimento semi-enterrado, au-mentando a inércia térmica. Na cobertu-

ra da edificação há um terraço panorâ-mico juntamente com uma área verdeonde serão plantadas espécies utilizadaspara produção de biodiesel.

O Laboratório de pesquisa e desenvolvi-mento de interfaces humano-computa-dor para a Amazônia � Labcog, projeta-do pelo arquiteto José Wagner Garcia,na UFRJ, Rio de Janeiro, é uma edifica-ção quase totalmente condicionada arti-ficialmente, devido ao controle interno ri-goroso exigido pelos computadores queserão instalados. Por este motivo, asfachadas são quase todas fechadas, comalto isolamento térmico. Apenas algumasáreas administrativas e de serviço pos-suem janelas que permitem a ventilaçãoe iluminação naturais. Há também umaárea da fachada, com vista para a Baíade Guanabara, totalmente envidraçada,porém utilizando vidros duplos especiais.

Os projetos apresentados possuem fun-ções semelhantes, e três deles estão si-tuados no mesmo campus universitáriono Rio de Janeiro. Apesar disso, foramprojetadas diferentes soluções para asmesmas necessidades de eficiênciaenergética e conforto ambiental. Cadauma das soluções adotadas pode sermelhor ou pior que as outras, mas a es-colha não foi feita só pela sua eficiência,mas também por fatores econômicos,culturais e funcionais. Cada arquiteto dasua maneira procurou satisfazer um con-junto de necessidades do empreendi-

44 - Planta baixa do NUTRE

45 - Insolação do NUTRE

mento e do cliente, mas que também ca-racterizasse a sua maneira própria depensar a arquitetura.

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética26

DicasCepel: www.cepel.br/Cenpes II : www2.petrobras.com.br/portal/tecnologia.htmLabcog: www.usp.br/fau/pesquisa/laboratorios/labaut/trabalhos_recen-tes/coppe_labcog.pdf

50 e 51 - Labcog

47 - Vista da maquete do Cenpes II

46 - Cenpes em construção II 48 - Vista da maquete do NAB

49 - Corte do NAB

A priorização das questões ambientais nosprojetos das novas edificações em univer-sidades se deve em parte pela própria exi-gência dos �clientes�, que quase sempresão professores, pesquisadores, e profis-sionais com alto nível de instrução, futurosusuários destes laboratórios e preocupa-

dos em minimizar os impactos e o consu-mo de energia destas edificações. Comomuitos destes laboratórios funcionarão paraestudos de novas alternativas de energia,a representação desta preocupação na ar-quitetura é também uma questão de políti-ca e marketing.

27Universidades

ELETROBRÁS

Centrais Elétricas Brasileiras S.A.

Av. Presidente Vargas, 409 � 13°andarCentro � Rio de JaneiroCEP 20071-003Caixa Postal 1639Tel.: (21) [email protected]

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Eficiência Energética em Edificações

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IAB RJ

Instituto de Arquitetos do Brasil -Departamento Rio de Janeiro

Rua do Pinheiro, 10Flamengo - Rio de JaneiroCEP 22220-050Tel.: 2557.4192 / [email protected]

LISTA DE CADERNOS

1. Shopping Centers2. Edificações de Saúde3. Hospedagem4. Edificações Esportivas e de Lazer5. Edificações Unifamiliares6. Edificações Multifamiliares7. Ecovilas8. Edificações Educacionais9. Universidades

EXPEDIENTE

Cadernos de Boas Práticas em Arquitetura- Eficiência Energética nas Edificações

Conselho EditorialAna SeroaArmando MendesCarlos MurdochDayse GóisMarco MilazzoMauro AlmadaVera HazanResponsável TécnicaRuth JurbergRJ Planejamento Integrado LtdaEditoraMariane AzevedoDiagramadoraLeila FernandesRevisoraClaudia JurbergCapaQualiurb Design

CRÉDITOS

1 a 8. Imagens cedidas pelo arquiteto Claudio Oliveira Morga-do9. Imagem In Google Earth, cedidas pela arquiteta LeticiaNeves10, 11, 13 e 14. . Fotografias cedidas pela arquiteta LeticiaNeves12. Redesenhado pela arquiteta Leticia Neves15 a 24. Cedidas pelos arquitetos Leonardo Bittencourt eTathiane Martins25 e 29. Cedidas por sbpr arquitetos26 a 28. Fotógrafo Nelson Kon. Cedidas por sbpr arquitetos30 a 40. Cedidas pela arquiteta Maria Elisa Baptista41. Intervenção sobre mapa produzido pela NBR 15220-3 �ABNT42 a 45. Cedidas pela AKRON46 e 47. Cedidas por Zanettini Arquitetura Planejamento eConsultoria Ltda48 e 49. Cedidas pelo arquiteto Marco Milazzo50. Cedida pelo arquiteto51. Fotografia cedida pelo arquiteto Marco Milazzo