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AS ELEIÇÕES EM SANTA CRUZ DO SUL, PASSO A PASSO João Pedro Schmidt Introdução A organização e sistematização dos resultados das eleições ocorridas desde a criação do município (1878) até a atualidade (eleição de 2002) feita neste texto é um recurso indispensável para a análise do comportamento eleitoral do cidadão santa-cruzense ao longo da história do município. Trata-se de um levantamento inédito, feito com base em publicações acadêmicas (Menezes, 1914; Krause, 2002; Vogt, 2001), em jornais locais (Kolonie, Volkstimme e Gazeta do Sul) e nos dados disponibilizados pelo Tribunal Regional Eleitoral. Ao todo ocorreram, ao menos 1 , 61 eleições em Santa Cruz do Sul ao longo de sua história, divididas em seis momentos: - Período imperial (1878-1889): 5 eleições; - República Velha (1890-1929): 16 eleições; - Período da Revolução de 1930: 3 eleições; - Período democrático 1945-1964: 13 eleições (incluindo o plebiscito de 1963); - Regime militar 1964-1985: 8 eleições; - Período democrático atual: 16 eleições (incluindo o plebiscito de 1993) – até 2002. Os principais resultados de cada um dos pleitos eleitorais de Santa Cruz do Sul ao longo de sua história são apresentados a seguir, constituindo-se num guia de leitura dos resultados disponibilizados um a um no Banco de Dados Eleitorais neste site. 1 Período imperial As eleições desta fase compreendem os pleitos realizados entre 1878 (emancipação do município) e 1889 (Proclamação da República). Nesse período, havia apenas um órgão do poder público municipal - o Conselho Municipal ou Câmara de Vereadores – que exercia funções legislativas e executivas. O presidente do Conselho – o mais votado 1 Foram encontrados indícios de outras eleições para o legislativo estadual e federal no período do Império e da República Velha, mas não os resultados das mesmas. Desse modo, a presente análise restringe-se àquelas eleições cujos resultados são conhecidos.

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AS ELEIÇÕES EM SANTA CRUZ DO SUL, PASSO A PASSO

João Pedro Schmidt

Introdução

A organização e sistematização dos resultados das eleições ocorridas desde a criação do município

(1878) até a atualidade (eleição de 2002) feita neste texto é um recurso indispensável para a análise do

comportamento eleitoral do cidadão santa-cruzense ao longo da história do município.

Trata-se de um levantamento inédito, feito com base em publicações acadêmicas (Menezes, 1914;

Krause, 2002; Vogt, 2001), em jornais locais (Kolonie, Volkstimme e Gazeta do Sul) e nos dados

disponibilizados pelo Tribunal Regional Eleitoral.

Ao todo ocorreram, ao menos1, 61 eleições em Santa Cruz do Sul ao longo de sua história, divididas

em seis momentos:

- Período imperial (1878-1889): 5 eleições;

- República Velha (1890-1929): 16 eleições;

- Período da Revolução de 1930: 3 eleições;

- Período democrático 1945-1964: 13 eleições (incluindo o plebiscito de 1963);

- Regime militar 1964-1985: 8 eleições;

- Período democrático atual: 16 eleições (incluindo o plebiscito de 1993) – até 2002.

Os principais resultados de cada um dos pleitos eleitorais de Santa Cruz do Sul ao longo de sua história

são apresentados a seguir, constituindo-se num guia de leitura dos resultados disponibilizados um a um no

Banco de Dados Eleitorais neste site.

1 Período imperial

As eleições desta fase compreendem os pleitos realizados entre 1878 (emancipação do município) e

1889 (Proclamação da República).

Nesse período, havia apenas um órgão do poder público municipal - o Conselho Municipal ou Câmara

de Vereadores – que exercia funções legislativas e executivas. O presidente do Conselho – o mais votado

1 Foram encontrados indícios de outras eleições para o legislativo estadual e federal no período do Império e da República Velha, mas não os resultados das mesmas. Desse modo, a presente análise restringe-se àquelas eleições cujos resultados são conhecidos.

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entre os conselheiros - desempenhava funções equivalentes às de prefeito. Cada um dos demais vereadores

era responsável por um distrito do município.

A seguir, as eleições do Período Imperial.

Eleição de 5 de agosto 1878 – eleição para a Câmara Municipal. A eleição foi realizada na antiga Matriz de

São João Batista. Foram eleitos Joaquim José de Brito, Carlos Trein Filho, Jorge Júlio Eichenberg, Roberto

Jaeger, Germano Hentschke, José Lopes Simões e Pedro Werlang. Brito foi o mais votado e tornou-se

primeiro presidente. Os escritos e documentos disponíveis sobre os Conselhos no período imperial não

relatam a filiação partidária dos eleitos (havia então no Brasil dois partidos: o Conservador e o Liberal).2 É

conhecida a identificação de Brito, Trein e Einchenberg com o liberalismo/federalismo, tendo Trein sido o

principal líder federalista em Santa Cruz do Sul. Não foi identificada a filiação partidária dos demais eleitos, o

que inviabiliza uma avaliação sobre a correlação das forças partidárias no momento da criação do município.

Havia 466 eleitores qualificados para essa votação, o que correspondia a 4,5% da população total ou cerca de

25% dos homens aptos a votar. Esse percentual é bastante superior ao do país e contraria o entendimento

comum nos estudos acadêmicos sobre a suposta apatia e desinteresse dos imigrantes e teuto-descendentes pela

política nos primórdios da imigração alemã no Brasil.

Eleição de 26 de outubro de 1879 – eleição para escolher eleitores de 2º grau para preenchimento de vaga no

senado. Com o falecimento do Visconde de Rio Grande foram convocadas eleições para preenchimento do

cargo. Em Santa Cruz foram escolhidos 9 eleitores, sendo eleito presidente Frederico Guilherme

Bartholomay, por 8 votos. Joaquim José de Brito obteve um voto. Foram ainda eleitos três eleitores

substitutos. (Menezes, 1914, p. 82) Após a votação dos eleitores da paróquia era feita a ata, sendo duas cópias

remetidas à Secretaria de Estado dos Negócios do Império e à Câmara da capital do estado, onde acontecia a

apuração geral das eleições da Província.

Eleição de 7 de janeiro de 1881 – eleição para a Câmara Municipal. Foram eleitos: Frederico Guilherme

Bartholomay, João Pedro Koelzer, Abrahão Tatsch, Felipe Heuser, Carlos Schutz, Christiano Haas e

Rodolpho Neumann. Bartholomay, o mais votado, assumiu como presidente. Frederico Bartholomay era

liberal, João Koelzer e Abrahão Tatsch alinharam-se mais tarde com os republicanos. Dos demais, não se sabe

a filiação partidária.

Em 1881 ou 1882 ocorreu, segundo Hardy Martin (Gazeta do Sul, 17/02/1994), a eleição do primeiro santa-

cruzense ao parlamento estadual – Frederico Guilherme Bartholomay. Não foram encontrados dados sobre

tal eleição, e é possível que a eleição tenha se dado em 1879, como anotado anteriormente.

2 Essa “desatenção” à filiação partidária dos eleitos no período imperial pode ser entendida como um indicativo da pequena importância que os partidos tinham na organização da vida política local. A partir da República, inicia-se um forte enfrentamento entre liberais e republicanos em Santa Cruz, mas a cobertura dos jornais costumava colocar esses enfrentamentos mais como discórdias entre lideranças políticas do que lutas entre partidos.

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Eleição de 8 de janeiro de 1883 – eleição para a Câmara Municipal. Eleitos: Frederico Guilherme

Bartholomay, Abrahão Tatsch, Felipe Heuser, Joaquim José de Brito, Luiz Bernhard, João Fidêncio Simões

Pires e Francisco Tavares Leiria. Bartholomay, Brito e Bernahrd eram liberais, enquanto Tatsch tornou-se

republicano.

Eleição de 7 de janeiro de 1887 – eleição para a Câmara Municipal. Eleitos: Joaquim José de Brito,

Frederico Guilherme Bartholomay, Abrahão Tatsch, Luiz Bernhard, Jorge Henrique Eichenberg, José

Werlang e Felipe Mayer. Este conselho tinha ao menos três vereadores de orientação liberal – Brito,

Bartholomay e Bernard – e dois de orientação republicana – Tatsch e Eichenberg. Esse pleito foi o último do

período imperial. Em 1889 foi declarada a República.

2 República Velha3

A reação dos santa-cruzenses à Proclamação da República não foi de entusiasmo cívico, não tendo

havido quaisquer manifestações populares públicas. Havia na cidade o Club Republicano, fundado em 1884

com apenas 7 sócios fundadores, e sem maior repercussão na vida política do município. O comunicado da

Proclamação da República foi feito à Câmara de Vereadores, espalhando-se a notícia entre a população, que a

recebeu com um misto de apoio e tristeza, pois o imperador D. Pedro II gozava de grande simpatia entre os

imigrantes alemães locais: o imperador havida recebido carinhosamente no Rio de Janeiro a primeira leva de

imigrantes que se deslocavam à Colônia de Santa Cruz. (Martin, Gazeta do Sul, 26/03/1994)

Em 17 de janeiro de 1890, o presidente da Câmara convocou sessão para comunicar que o governador

do estado dissolvera a Câmara, nomeando uma Comissão para administrar o município.

Em março de 1891 foi fundado o Partido do Centro, de orientação católica. Em agosto, é oficializado o

diretório do Partido Liberal. (Ibid.)

As eleições realizadas na República Velha estão descritas a seguir.

Eleição de 15 de outubro de 1891 – eleição para o Conselho Municipal. Na primeira eleição do período

republicano em Santa Cruz do Sul para o Conselho Municipal o Partido Liberal se recusou a participar. Foi

uma eleição bastante esvaziada. Estavam inscritos legalmente 1.345 eleitores e compareceram apenas 576

(42%). (Ibid.) Concorreram coligados o PRR e o Partido do Centro, tendo sido eleitos Abrahão Tatsch, Paulo

Billig, Adão Jost, Frederico Strohschoen, Guilherme Hansel, Jorge Frantz e Christiano Schuck. Esse

Conselho praticamente não governou o município. Diante dos acontecimentos nacionais – o presidente da 3 Os dados sobre as eleições deste período foram, no principal, coligidos por Silvana Krause (2002) e Hardy Martin (diversos artigos), tendo sido confrontados com a fonte original – o jornal Kolonie (diversas edições).

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república Deodoro da Fonseca dissolveu o Congresso e logo depois o presidente do estado Júlio de Castilhos

renunciou – o Conselho renunciou em novembro do mesmo ano.

Diante do impasse, foi convocada uma reunião pública, em que compareceram 67 pessoas, que elegeu uma

Junta Administrativa, com maioria federalista, a qual, apesar do clima de instabilidade reinante no país,

consegue governar o município com relativa tranqüilidade. Em junho de 1892, Júlio de Castilhos volta ao

governo do estado e indica uma nova comissão para governar o município, composta por lideranças

republicanas. Esta comissão resolveu entregar a administração ao Conselho eleito em 15 de novembro de

1891.

Em outubro de 1892, a Câmara aprovou a Lei Orgânica do Município, que entre outras mudanças trazia a

separação entre o poder legislativo e o poder executivo municipal, exercido pelo Intendente.

O primeiro Intendente – João Leite Pereira da Cunha, membro do Club Republicano – foi nomeado em 4 de

novembro de 1892. Sua fuga durante os conflitos da Revolução Federalista deslegitimou-o perante a

população e levou-o a renunciar em 1894. Em 21 de junho de 1894, o presidente do estado nomeia Galvão

Costa como novo Intendente.

Eleição de 10 de outubro de 1894 – eleição para senador e deputados. Em plena Revolução Federalista e

após a tomada da Vila de Santa Cruz pelos serranos, a eleição foi pouco prestigiada pelos eleitores: dos 2.300

inscritos, apenas 520 (22,6%) compareceram. (Martin, Gazeta do Sul, 20/07/1994) Não foram identificados os

votos referentes a esta eleição.

Eleição de 7 de outubro de 1896 – eleições para intendente e vereador. Para a Câmara de Vereadores foram

eleitos Bráulio da Costa Correa, Rodolfo Eifler (PRR), Theodoro Albrecht (PRR), Frederico Strohschoen

(PRR), Serafim Waechter (Partido do Centro), Josef Koelzer (Partido do Centro) e Josef Schuck (PL). Ao

cargo de intendente, concorreu pela situação Galvão Costa (PRR) e pela oposição Carlos Trein Fº (PL) e

Wilhelm Hansel (Partido do Centro). A vitória é de Carlos Trein Fº, com 536 votos, chegando em segundo

Wilhelm Hansel, com 321 votos, e em terceiro Galvão Costa, com apenas 21 votos. Percebe-se uma frontal

diferenciação na preferência partidária para o legislativo e executivo: no legislativo o PRR foi amplamente

majoritário, enquanto no executivo seu candidato teve um desempenho pífio, possivelmente em função de

desgaste pessoal. Compareceram apenas 50% dos eleitores inscritos.

As eleições para intendente foram anuladas, tendo Galvão Costa permanecido no cargo até 7 de dezembro de

1896, quando expirou o mandato, ocasião em que passou o cargo para Frederico Lobo D’Ôvila. Houve

pressões das lideranças locais para o reconhecimento da vitória de Carlos Trein, mas o governo estadual não

concordou, sendo marcadas novas eleições para o ano de 1897.

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Eleição de 1º setembro de 1897 – eleições para a Câmara Municipal e a Intendência. Uma chapa de consenso

concorreu para a Intendência: Jorge Henrique Einchenberg (PRR) para Intendente e Jorge Frantz (Partido do

Centro) para vice. Esses nomes tiveram aceitação dos vários setores políticos e constituíram a solução

possível para o impasse surgido com a anulação da eleição de 1896. Para a Câmara de Vereadores foram

eleitos Henrique G. Eichenberg (PL), Theodoro Albrecht (PL), Frederico Strohschoen (PRR), Ernesto Wild

(PRR), Serafim Waechter (Partido do Centro), Pedro José Koelzer (Partido do Centro), Wilhelm Jaeger

(PRR). O legislativo contou com a maioria dos republicanos (quatro vereadores), cabendo dois vereadores aos

federalistas e outros dois aos centristas de orientação católica. Essa eleição foi bastante esvaziada.

Compareceram tão somente 30% dos eleitores inscritos, provavelmente em decorrência do descrédito acerca

do mecanismo eleitoral em razão da anulação da eleição do ano anterior.

É possível que em 1897 tenham havido também eleições para deputado estadual, pois Hardy Martin (Gazeta

do Sul, 17/02/1994) registra que em 1898 assumiu como deputado estadual o santa-cruzense Germano

Hasslocher Fº. Em 1900 Hasslocher foi eleito deputado federal, o primeiro nascido em Santa Cruz, reeleito

em 1900, 1903, 1906 e 1909. Não foram localizados dados a respeito no jornal Kolonie.

Eleição de 8 de agosto de 1900 – eleição para intendente e vereador. Sem chapa de oposição e com todos os

candidatos do PRR indicados pelo chefe Júlio de Castilhos, foi eleito intendente Adalberto Pita Pinheiro e

vice Jorge Frantz. Para a Câmara, elegeram-se Vasco de Azevedo e Sousa (PRR), Ernesto Wild (PL), Ricardo

Grawunder (PRR),4 Guilherme Hansel (Partido do Centro), Henrique Gessinger (Partido do Centro),

Theodoro Albrecht (PRR) e Adão Werlang (Partido do Centro). Há um refluxo dos federalistas diante dos

métodos autoritários do regime de Júlio de Castilhos. O Partido do Centro, aliado do PRR, alcançou quatro

cadeiras no Legislativo.

Eleição de 7 de agosto de 1904 – eleição para intendente e vereador. Para intendente, há uma cisão entre os

republicanos, que concorrem com duas chapas. Ernesto Wild (ex-federalista) vence Adalberto Pita Pinheiro,

que concorria à reeleição, segundo o jornal Kolonie. Mas, o pleito foi marcado por fraudes e violência, e

novamente anulado pelo governo estadual. O secretário estadual do interior, João Abott, vem a Santa Cruz e

indica Galvão Costa como intendente e João Werlang, Guilherme Geske, José Schuck, Frederico Strohschoen,

Guilherme Frantz, Luis Bernhard e Felipe Jacobus como conselheiros. Nova eleição é marcada para outubro.

Eleição de 30 de outubro de 1904 – eleição para intendente e vereador. São referendados os candidatos

republicanos impostos pelo governo estadual para o executivo e legislativo municipal. Galvão Costa é eleito

intendente, sendo confirmados os conselheiros Felipe Jacobus, Luis Bernhard, Guilherme Frantz, Frederico

Strohschoen, José Schuck, João Werlang e Guilherme Geske.

4 A filiação de Ricardo Grawunder ao PRR é provável, já que se sabe que todos os nomes foram indicados por Júlio de Castilhos. A de Henrique Gessinger ao Partido do Centro é informada por Krause (2002, p. 124).

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Eleição de 1907 – eleição para presidente do estado, entre dois candidatos republicanos. O candidato Barbosa

Gonçalves, apoiado por Borges de Medeiros, obteve 68,6% dos votos, contra 31,4% dados a Fernando Abott.

Eleição de 15 de setembro de 1908 – eleição para intendente e vereador. A disputa para a intendência

acontece entre três candidatos do PRR: Galvão Costa, Ernesto Wild e Adolfo May. Galvão Costa vence, mas

não obteve os 2/3 necessários para a reeleição. Com isso, as eleições são novamente anuladas. A eleição foi

bastante concorrida, tendo votado 2123 eleitores. Não foram encontrados registros dos resultados para a

Câmara de Vereadores. Foi marcada nova eleição para o ano de 1909.

Eleição de 5 de dezembro de 1909 – eleição para intendente e vereador. Novamente a disputa para o

executivo acontece entre três candidatos republicanos: João Gomes Cardoso, Theodoro Albrecht e Ernesto

Wild. Cardoso, candidato oficial, vence, com 62% dos votos. Para o legislativo foram eleitos somente

candidatos republicanos: Roberto Gruendling, Huberto Hoesker, Rodolfo Eifler e Guilherme Frantz do grupo

“oficial” e Ernesto Wild, Serafim Waechter e Arthur Harth dos “independentes”. A participação eleitoral foi

menor, com 1771 votos para intendente.

Eleição de 24 de março de 1913 – eleição para intendente e vereador. Galvão Costa, nomeado em dezembro

de 1912 como intendente provisório por Borges de Medeiros, concorre isoladamente para o cargo e é eleito

com 1971 votos. A mão-de-ferro do presidente do estado expressa-se também na composição do Conselho

Municipal, onde foram eleitos somente vereadores do PRR: Gaspar Bartholomay, Ernesto A. Wild, Salustiano

Silveira, Jorge Frantz, José Ernesto Riedl, Roberto Gruendling e João Nicolau Kliemann. Votaram apenas

56% dos 3.500 eleitores inscritos. (Krause, 2002, p. 136)

Eleição de 2 de julho de 1917 – eleição para intendente e vereador. O PRR, unificado internamente, elege

Gaspar Bartholomay como intendente. Com a desarticulação dos federalistas, a Câmara de Vereadores foi

novamente composta só por republicanos: Jacob Doern Fº, Ernesto Augusto Wild, José Ernesto Riedl,

Joaquim da Silva Branco, José Etges Fº, Guilherme Werlang e Henrique Entz. Chamam a atenção dois

aspectos: o baixo número de votos obtido por Gaspar Bartholomay (1735 votos) e a elevada soma dos votos

dos vereadores – 11389 votos. A baixa votação do intendente pode ser atribuída ao desgaste do

intervencionismo do governo do estado na política municipal e da falta de competição, por se tratar de

candidato único. Por outro lado, o notável “salto” do número de votos para vereador é explicável pelo fato de

que na época se votava em mais de um nome para o cargo.

7

Eleição de 7 de outubro de 1920 – eleição para intendente e vereador. Novamente como candidato único

Gaspar Bartholomay é reeleito intendente, e novamente com baixa votação (1282 votos), praticamente o

número de votos atingido pelos vereadores. Para a Câmara foram eleitos: Augusto Hennig, Pedro A. L. Pires,

Jacob Doern Fº (PRR), João Francisco Werlang (PRR), José Wohlgemuth Koelzer (PL), João Nicolau

Kliemann e Bernardo Fischer.

Eleição de 1922 – eleição para o governo do estado. Borges de Medeiros foi o candidato do PRR e Assis

Brasil da oposição liberal. Borges de Medeiros vence em Santa Cruz com 81% dos votos (1434) contra 19%

(357) dados a Assis Brasil, que recebeu apoio dos federalistas e de disssidentes e descontentes republicanos.

Eleição de 7 de outubro de 1924 – eleição para intendente e vereador. A oposição apresenta como candidato

a intendente José Wohlgemuth Koelzer, mas a vitória do candidato do PRR Felipe Jacobus Fº é tranqüila, com

praticamente 2/3 dos votos. Para a Câmara são eleitos 6 vereadores do PRR (Guilherme Hildebrand, José

Ernesto Riedl, Pedro A. Simões Pires, Pedro Werlang Sobrinho, Jacob Doern Fº e Henrique Entz) e apenas

um do PL (Guilherme Burmeister).

Eleição de 7 de outubro de 1928 – eleição para intendente e vereador. Numa eleição bastante concorrida –

dos 4400 eleitores compareceram 3030 - a oposição venceu as eleições para intendente, com José

Wohlgemuth Koelzer (Partido Libertador), que derrotou Gaspar Bartholomay (PRR). Na Câmara, a força da

oposição também mostrou-se significativa, com 4 vereadores eleitos (Elemar Kroth, João Carlos Frantz, Luis

Jochims e Arthur Jaeger). O PRR também elegeu 4 vereadores: Guilherme Hildebrand, Walter Kaempf, José

Carlos Fröhlich e Bertholdo Wünsch. João Nicolau Kliemann (PRR) é citado por Krause (2002, p. 144) com

apenas 3 votos. Esta eleição também foi anulada pelo governo do estado, que nomeia como intendente

provisório Felício Augusto de Almeida. Porém, o Partido Libertador recorre ao Tribunal Superior do Estado,

o qual confirma a vitória da oposição quase um ano depois (em outubro de 1929). Uma recontagem dos votos

para a Câmara de Vereadores foi feita em novembro de 1929, que acabou resultando em uma nominata oficial

de 7 vereadores: Arthur Jaeger, Elemar Kroth, Luiz Jochims, João Carlos Frantz, Guilherme Hildebrand,

Carlos Froehlich e Bernardo Fischer.5

3 Revolução de 1930 e Estado Novo

5 Conforme informa o texto “Histórico da Câmara de Vereadores”, do legislativo municipal santa-cruzense (www.camara-santacruz.com.br).

8

Com a revolução de 1930, o país e o município entram em uma nova fase política. Um decreto de 11 de

novembro de 1930 do governo provisório dissolve as Câmaras de Vereadores de todo país. Em 1935 ocorre

eleição para o legislativo, sendo o mandato dos eleitos interrompido com o golpe do Estado Novo de 1937.

No âmbito do executivo municipal, o intendente José Koelzer foi destituído do cargo em 22 de

fevereiro de 1933 pelo interventor federal, general José Antonio Flores da Cunha, tendo sido nomeado o

coronel Oscar Raphael Jost como prefeito. A partir da Revolução de 1930 os intendentes dão lugar aos

prefeitos. Em 1935, Jost consegue manter-se no cargo na eleição municipal, governando o município até

1938. Em 11 de junho de 1938 é indicado para o cargo Caio Brandão de Mello, que solicitou sua saída em

novembro de 1940, sendo indicado em seu lugar Dario de Azevedo Barbosa. Em 6 de junho de 1945 é

nomeado prefeito Willy Carlos Froelich. Em 15 de setembro de 1947 é nomeado o último prefeito do período

do Estado Novo, Bruno Agnes. As sucessivas nomeações de prefeito findam com a eleição de 1947.

No plano da legislação eleitoral, cabe lembrar várias novidades e avanços proporcionados pelo governo

provisório e pela Constituição de 1934: o voto secreto, o voto feminino6, as candidaturas avulsas e a

organização das eleições pelos tribunais eleitorais, criando a perspectiva de maior lisura nos pleitos.

O intervalo entre a Revolução de 1930 e o Estado Novo registrou três eleições, apresentadas a seguir.

Eleição de 3 de maio de 1933 – escolha dos membros para a composição da Assembléia Nacional

Constituinte. Segundo apurou Olgário Vogt (2001, p. 78), o PRL obteve 808 sufrágios, a Frente Única somou

351 e os sem legenda obtiveram 73 votos.

Eleição de outubro de 1934 – eleição para deputado estadual e federal. Num clima de enfrentamento entre o

Partido Republicano Liberal (PRL), ao qual estava vinculado o governo municipal, e a Frente Única, os

candidatos da Frente Única obtiveram significativa vitória. Para deputado federal, a Frente fez 1425 votos e o

PRL, 1270. Para deputado estadual, a Frente Única obteve 1429 votos e o PRL 1279.

Eleição de 17 de novembro de 1935 – eleição para prefeito e vereador. Para o cargo de prefeito concorreram

três candidatos: Oscar Jost (PRL), José Koelzer (Frente Única) e Dario Bittencourt (AIB). Oscar Jost

conseguiu uma ampla vitória, com 67,3% dos votos. O candidato integralista (Bittencourt) alcançou apenas 51

votos, o que revela um limitado potencial político dos integralistas no município naquele momento. O PRL

elegeu 5 dos 7 vereadores: Arthur Carlos Kliemann, Helmuth Schuetz, José Augusto Mergenen, Adolfo

Edmundo Hennig e Reinando Bernardo Schmidt. Destaca-se a surpreendente votação de Arthur Carlos

Kliemann, que obteve 2.508 sufrágios. A Frente Única elegeu dois vereadores: Acélio Affonso Correa e

6 Permitido desde a década de 1930, o voto feminino no Brasil foi lentamente assumido como um direito pelas mulheres, começando a ganhar impulso apenas na década de 1960. Fatores culturais, estruturados em torno da idéia secular de que “política é coisa pra homem”, contribuíram para a inefetividade desse direito por várias décadas. Em Santa Cruz do Sul os indicativos colhidos apontam para um quadro semelhante ao quadro nacional.

9

Ricardo Hintz. Os comunistas não estavam organizados no município nem apresentaram candidatos às

eleições.

Com a implantação da ditadura do Estado Novo por Getúlio Vargas em 1937, as Câmaras de Vereadores,

as Assembléias Legislativas e o Congresso Nacional foram fechados e os partidos políticos, proibidos. Até

1945 não houve novas eleições no país.

4 Período democrático 1945-1964

O fim do Estado Novo permitiu a organização partidária e o retorno das eleições, inaugurando um

período de duas décadas de normalidade democrática. Na verdade, o primeiro período de democracia estável

vivida pelos brasileiros, com pluripartidarismo e eleições organizadas e reguladas pela justiça eleitoral.

Em Santa Cruz do Sul organizaram-se os seguintes partidos: Partido Social Democrático (PSD),

Partido da Representação Popular (PRP), Partido Libertador (PL), União Democrática Nacional (UDN),

Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e Partido Comunista do Brasil (PCB), que teve seu registro cassado

posteriormente pelo Superior Tribunal Eleitoral. (Pacheco, Gazeta do Sul 7/10/1982)

As eleições do Período Democrático 1945-1964 estão elencadas a seguir.

Eleição de 2 de dezembro de 1945 – eleição para presidente da república, senador e deputado federal.

Concorreram à presidência da república Eurico Gaspar Dutra (PSD), Eduardo Gomes (UDN) e Iedo Fiúza

(PCB). O presidente eleito, Eurico Gaspar Dutra, teve ampla vantagem no município, alcançando 86,5% dos

votos. O candidato do PCB obteve apenas 50 sufrágios. Para o senado houve uma votação praticamente

idêntica entre os dois candidatos do PSD: Getúlio Vargas fez 10538 votos e Ernesto Dornelles 10544 (ambos

eleitos). Os candidatos da UDN, Joaquim Luiz Osório e Francisco A. Maciel Jr., tiveram um fraco

desempenho, com 1492 e 1491 votos respectivamente. Os candidatos comunistas, Luiz Carlos Prestes e

Álvaro Moreyra, não passaram de 31 votos, cada. Esses números revelam a quase inexistente adesão popular

à causa comunista em Santa Cruz. Para deputado federal Santa Cruz não teve candidato local, tendo os

partidos obtido votos para candidatos oriundos de outras regiões. Uma das curiosidades registradas pela

imprensa nacional foi o fato do município de Santa Cruz ser o primeiro no país a concluir as apurações e

fornecer o resultado oficial. (Ibid.)

Eleição de 19 de janeiro de 1947 – eleição para governador, senador e deputado estadual. Concorreram ao

governo do estado Walter Jobim (PSD), Alberto Pasqualini (PTB) e Décio Martins da Costa (UDN-PL). O

governador eleito Walter Jobim foi o mais votado no município (56,1% dos votos). Para o senado

concorreram seis candidatos: Joaquim P. Salgado Fº (PTB) – eleito -, Osvaldo Vergara (PSD), João Carlos

Machado (UDN-PL), Felix Contreiras Rodrigues (PRP) e Bruno de Mendonça Lima (Esquerda Democrática).

10

O candidato do PSD, Osvaldo Vergara, foi o mais votado, com 45,9% dos votos. Para deputado estadual,

foram eleitos dois candidatos locais: Guilherme Hildebrand (PSD) e Carlos Maurício Werlang (PRP). O

candidato integralista (Werlang) obteve 1777 votos no município e os demais candidatos do seu partido outros

210 votos, o que indica uma expressão política bastante razoável naquele período.

Eleição de 15 de novembro de 1947 – eleição para prefeito e vereador. Concorreram para prefeito Alfredo

José Kliemann (PSD) e José Augusto Mergener (Frente Única – formada por PL, UDN, PRP e PTB), e para

vice respectivamente Arnaldo Gruendling e Edmundo Jacob Jaeger.7 Alfredo José Kliemann e Arnaldo

Gruendling, do PSD, venceram as eleições. Para a Câmara de Vereadores, o PSD elegeu 9 vereadores, o PL 2

vereadores, o PTB 1 vereador e o PRP também 1 vereador. Observa-se que a força demonstrada pelos

integralistas naquele ano ao eleger um deputado estadual não se confirmou na eleição para o legislativo

municipal, onde apenas 1 candidato integralista obteve êxito em um total de 13 vereadores.

Eleição de 3 de outubro de 1950 – eleição para presidente, vice-presidente, senador, governador, deputado

federal e deputado estadual. A disputa para presidente se deu entre Getúlio Vargas (PTB-PSDA-PSP),

Christiano Machado (PSD), Eduardo Gomes (UDN-PL-PRP) e João Mangabeira (PSB). O candidato do PSD,

Cristiano Machado, chegou à frente do presidente eleito, Getúlio Vargas, por pequena margem de votos (4086

contra 4075).8 O candidato a vice-presidente do PSD, Altino Arantes, também foi o mais votado. Para o

senado, concorreram Alberto Pasqualini (PTB), Plínio Salgado (PRP) e Décio Martins Costa (UDN-PL). O

mais votado foi o candidato integralista Plínio Salgado, com 5673 votos, bem à frente dos demais, o que se

constituiu num dos melhores resultados obtidos pelo PRP na história do município. O cargo de governador foi

disputado por Ernesto Dornelles (PTB-PSDA-PSP), Pompílio Cylon da Rosa (PRP-PSD-UDN), Edgar Luiz

Schneider (PL) e Bruno de Mendonça Lima (PSB). O candidato Cylon Rosa, da coligação PRP-PSD-UDN,

derrotou no município o governador eleito Ernesto Dorneles. A eleição para deputado federal registrou a

primeira eleição de um santa-cruzense para a Câmara dos Deputados: Willy Froelich, do PSD. Para a

Assembléia Legislativa foram eleitos dois candidatos locais: Siegfried Heuser, do PTB, e Norberto Schmidt,

do PL. Os deputados santa-cruzenses Guilherme Hildebrand e Carlos Maurício Werlang não concorreram à

reeleição. Do ponto de vista ideológico cabe observar que nesse pleito marcado pela força do PSD os

candidatos socialistas para presidente, vice, governador e deputado federal não fizeram nenhum voto. A

esquerda socialista obteve apenas 43 votos para deputado estadual.

7 Na época, os votos para prefeito e vice não eram na chapa e sim individuais, podendo ser escolhido o prefeito de um partido e o vice de outro. 8 O presidente Getúlio Vargas visitou Santa Cruz do Sul. Foi localizada uma foto inédita do presidente em visita à Catedral São João Batista, disponível no site.

11

Eleição de 15 de novembro de 1951 – eleição para prefeito e vereador. Os cargos de prefeito e vice foram

disputados por Jesus Arthur Ferreira9 e Elíbio Mailaender (PSD-PL-UDN) e Arthur Walter Kaempf e Alfonso

Koehler (PTB-PRP). Os candidatos da coligação PSD-PL-UDN venceram e mantiveram a hegemonia do PSD

no município. Para a Câmara de Vereadores foram eleitos 5 vereadores do PSD, 5 do PTB, 2 do PL e 1 do

PRP. O crescimento do PTB no legislativo mostrou o avanço dos trabalhistas no município, que se refletiu na

eleição seguinte para o executivo.

Eleição de 3 de outubro de 1954 – eleição para governador, senador, deputado federal e deputado estadual.

Os candidatos ao governo do estado foram: Ildo Meneghetti (Frente Democrática: PSD-UDN-PL), Alberto

Pasqualini (PTB), Wolfran Metzler (PRP), José Diogo Brochado da Rocha (PSP) e João Ferreira Sampaio

(PSB). O governador eleito, Ildo Meneghetti, manteve a tradição de vitórias dos partidos conservadores e

venceu as eleições em Santa Cruz, com 43% dos votos. O candidato integralista Wolfran Metzler obteve 8,5%

dos votos, enquanto o candidato socialista não alcançou nenhum voto. Os candidatos ao senado mais votados

foram os eleitos pela Frente Democrática (PSD-UDN-PL), Arnaldo Pereira Câmara e Daniel Krieger. O

candidato integralista Nestor Contreiras Rodrigues fez apenas 3,6% dos votos. Para a Câmara Federal, o

deputado Willy Carlos Froelich, do PSD, ficou na primeira suplência, enquanto Siegfried Heuser (PTB) e

Norberto Schmidt (PL) foram reeleitos para a Assembléia Legislativa.

Eleição de 3 de outubro de 1955 – eleição para presidente da república, vice-presidente, prefeito, vice-

prefeito e vereador. Para a Presidência da República concorreram Juscelino Kubitscheck (PSD-PTB), Juarez

Távora (UDN-PDC), Adhemar de Barros (PSP) e Plínio Salgado (PRP). O presidente eleito Juscelino

Kubitscheck (25,4%) perdeu as eleições para Juarez Távora (33,8%), resultado inesperado diante da força

local do PSD e PTB e da pouca expressão da UDN e do PDC no município. Juscelino inclusive visitou Santa

Cruz durante a campanha eleitoral. O candidato integralista Plínio Salgado obteve 14% dos votos. Para vice-

presidente manteve-se a mesma lógica: o candidato Milton Campos (48,7%) derrotou João Goulart (39,5%).

No âmbito da política local, esta eleição marca a primeira vitória de um candidato do bloco progressista:

Arthur Walter Kaempf (44%), do PTB, vence Ernesto Kurt Lux (33,5%), do PSD, e Edmundo Hoppe

(22,5%), do PL. Para vice-prefeito foi eleito o candidato do PTB Frederico Guilherme Bartholomay. Essa

vitória do PTB deve-se por um lado ao crescimento do partido e sua inserção nos bairros urbanos e por outro

à cisão das forças conservadoras (PSD e PL), tradicionalmente aliadas no município. Mas, o perfil do prefeito

eleito e das lideranças trabalhistas não assustava as elites locais, pois não eram representantes de uma

esquerda ideológica, socialista, e integrantes do PTB até compartilhavam do anticomunismo próprio dos

conservadores. Para a Câmara de Vereadores foram eleitos 5 vereadores do PSD, 4 do PTB, 2 do PL e 2 do

PRP.

9 Arthur de Jesus Ferreira substituiu José Augusto Mergener, que retirou sua candidatura por motivo de doença e veio a falecer cerca de um mês antes da eleição.

12

Eleição de 3 de outubro de 1958 – eleição para governador, senador, deputado federal e deputado estadual.

A disputa para o governo do estado se deu entre Leonel Brizola (PTB-PRP) e Walter Peracchi Barcelos (PSD-

UDN-PL). Leonel Brizola, governador eleito, teve em Santa Cruz uma das poucas derrotas para o candidato

Peracchi Barcelos, mas por pequena margem (47,2% a 49,6%), resultado condizente com a tradição de vitória

dos candidatos a governador pelo bloco conservador em Santa Cruz. Para o senado, o candidato da aliança

PSD-UDN-PL, Carlos de Brito Velho (50%), também chegou na frente do candidato trabalhista Guido

Fernando Mondin (37,6%). O candidato a deputado federal pelo PL, Norberto Schmidt, assim como os

candidatos a deputado estadual, Siegfried Heuser, do PTB, e Euclides Nicolau Kliemann, do PSD, foram

eleitos.

Eleição de 3 de outubro de 1959 – eleição para prefeito e vereador. Concorrendo novamente unificadas as

forças do bloco conservador – sob o nome de Aliança Partidária PL-PSD-PDC - retomaram o governo

municipal com a candidatura de Edmundo Hoppe (PL) a prefeito, derrotando o candidato trabalhista Frederico

Bartholomay. Porém, para vice-prefeito foi eleito o candidato do PTB, Orlando Baumhardt, cuja votação foi

inclusive superior àquela atingida pelo prefeito eleito. Assim, o município foi administrado por um prefeito e

por um vice pertencentes a correntes políticas adversárias, fato único na história do município até hoje. A

Câmara de Vereadores ficou assim composta: 5 vereadores do PTB, 4 do PSD, 2 do PL, 1 do PRP e 1 do

PDC.

Eleição de 3 de outubro de 1960 – eleição para presidente e vice-presidente da república. A eleição

presidencial foi disputada por Jânio da Silva Quadros (PDC-UDN), Henrique Teixeira Lott (PSD-PTB) e

Adhemar de Barros (PSP). O presidente eleito Jânio Quadros venceu em Santa Cruz com larga vantagem,

atingindo 51,6% dos votos. Para vice-presidente concorreram João Goulart (PTB-PSD), Milton Campos

(UDN) e Fernando Ferrari (MTR). Acompanhando a tendência registrada no estado, Fernando Ferrari chegou

à frente, com 63,3%, resultado que não se deve à força do MTR no município e sim à sensibilização do

eleitorado a uma candidatura gaúcha.

Eleição de 7 de setembro de 1962 – eleição para governador, senador, deputado federal e deputado estadual.

Os candidatos ao governo do estado foram: Ildo Meneguetti (PSD-PL-PRP-PDC-UDN), Egydio Michaelsen

(PTB) e Fernando Ferrari (MTR). O governador eleito Ildo Meneguetti foi o vencedor das eleições no

município, com 40,5% dos votos. Encerrou-se, portanto, o período democrático 1945-1964 com a vitória do

bloco conservador em todas as eleições para governador do estado em Santa Cruz do Sul. Para o senado

foram eleitos os dois candidatos do bloco conservador – Mem de Sá e Daniel Krieger, também os mais

votados no município. Para deputado estadual e federal concorreram seis candidatos locais. Destes, elegeram-

se Euclides Nicolau Kliemann (PSD) e Siegfried Heuser (PTB) para a Assembléia Legislativa e Norberto

Schmidt (PL) para a Câmara dos Deputados.

13

Plebiscito de 6 de janeiro de 1963 – plebiscito sobre a manutenção do regime parlamentar ou o retorno do

regime presidencialista. O parlamentarismo foi implantado no país em 1961 depois da renúncia do presidente

Jânio Quadros. Temendo o suposto esquerdismo do vice-presidente João Goulart, setores da direita buscaram

inicialmente evitar que assumisse a presidência. Não o conseguindo, buscaram esvaziar o poder do cargo

presidencial, instituindo o parlamentarismo. Em Santa Cruz do Sul, os simpatizantes de Jango fizeram uma

boa mobilização e o “não” ao parlamentarismo venceu com ampla margem.

Eleição de 10 de outubro de 1963 – eleição para prefeito e vereador. Foi a eleição mais conturbada da

história recente do município. Orlando Baumhardt, eleito vice-prefeito pelo PTB em 1959, ao não conseguir a

concordância do PTB para uma coligação com o PSD, transferiu-se daquele para este partido e concorreu a

prefeito pela coligação PSD-UDN-PRP-MTR. O candidato a vice-prefeito foi Silverius Kist. O PTB lançou

como candidatos Ruben Guilherme Kaempf e Sady Pinto Guedes. Ruben Kaempf acabou impugnado pela

justiça eleitoral. O PTB resolveu manter a candidatura isolada do seu candidato a vice e apoiou para prefeito o

candidato do PDC. O PDC apresentou Antonio Koehler e José Alfredo Goettert para prefeito e vice. O fato

trágico da campanha eleitoral foi o assassinato, em 31 de agosto, do deputado Euclides Nicolau Kliemann, do

PSD, pelo vereador do PTB e gerente local da Caixa Econômica Federal, Floriano Peixoto Karam de

Menezes, durante um programa de propaganda eleitoral na Rádio Santa Cruz. A eleição, realizada num clima

de comoção, registrou a vitória dos candidatos da aliança PSD-UDN-PRP-MTR, Orlando Baumhardt (57,5%)

e Silverius Kist (50%). A composição do legislativo municipal foi a seguinte: 6 vereadores do PSD, 3 do

PTB, 1 do PDC,1 do PL.

5 Regime Militar 1964-1985

O Golpe Militar de 31 de março de 1964 transtornou a breve normalidade democrática de duas

décadas. A dinâmica eleitoral ficou bastante afetada, com a substituição das eleições diretas pelo sistema

indireto para os principais cargos do executivo, mantendo-se as eleições (vigiadas) para os parlamentos e a

maioria dos executivos municipais.

Os Atos Institucionais e Adicionais à Constituição e a legislação emanada do regime trouxeram, entre

outras, as seguintes mudanças: a) o presidente da república passou a ser eleito pelo Congresso Nacional (com

maioria governista, eleita ou “arranjada”); b) os governadores dos estados passaram a ser eleitos pelas

Assembléias Legislativas; c) os prefeitos das capitais passaram a ser indicados pelos governadores e

referendados ou não pelas Assembléias Legislativas; d) os prefeitos de cidades caracterizadas como de

“segurança nacional” e os das estâncias hidrominerais começaram a ser indicados pelo governador do estado e

nomeados pelo presidente da república; e) criação da sub-legenda, que possibilitava a um partido lançar

vários candidatos para o mesmo cargo, somando-se os votos.

14

O pluripartidarismo foi extinto, sendo permitidos apenas dois partidos – um de situação, a Aliança

Renovadora Nacional (ARENA), e outro de oposição, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Em

Santa Cruz, a ARENA passou a abrigar a maior parte dos filiados aos partidos do bloco conservador. As

lideranças do PSD, UDN e PL passaram a ocupar lugar de destaque na ARENA. O MDB, por outro lado,

passou a ser liderado pelos integrantes do PTB, acolhendo também remanescentes de outros partidos.

No município de Santa Cruz do Sul, as eleições para prefeito, vereador, deputado e senador sucederam-

se regularmente ao longo do Regime Militar. Para eleger o governador, os santa-cruzenses e brasileiros

tiveram que aguardar o ano de 1982 e para votar no presidente da república, o ano de 1989.

As eleições realizadas durante o Regime Militar estão apresentadas a seguir.

Eleição de 15 de novembro de 1966 – eleição para senador, deputado federal e deputado estadual.10 Na

primeira eleição realizada durante o regime militar concorreu a senador pelo MDB o deputado santa-cruzense

Siegfried Heuser, que enfrentou três sub-legendas da ARENA (Guido Mondin, Mário Mondino e Synval

Guazzelli). O eleito foi Guido Mondin, mas em Santa Cruz Heuser venceu os adversários somados,

alcançando 52% dos votos. Foram eleitos dois candidatos locais da ARENA: Norberto Schmidt para a

Câmara dos Deputados e Silverius Kist para a Assembléia Legislativa.

Eleição de 15 de novembro de 1968 – eleição para prefeito e vereador. A ARENA concorreu com duas sub-

legendas: Edmundo Hoppe-Edgar Gruendling e Victor Baumhardt-Jürgen Klemm. Da mesma forma o MDB,

que lançou Júlio de Oliveira Vianna-Guilherme Bender e Maximiano Silveira-Ruben Kaempf. Houve uma

ampla vitória das candidaturas da ARENA, cuja soma atingiu 67,4%, sendo eleita a chapa Edmundo Hoppe-

Edgar Gruendling. Quanto aos vereadores11, os eleitos em 1963 tiveram seus cargos prorrogados pelo governo

militar por um ano, sendo definida nova eleição para o ano de 1968. Os resultados do pleito para a Câmara

Municipal constituíram um notável predomínio da ARENA, o maior alcançado por um partido nas últimas

décadas: elegeu 10 dos 13 vereadores. Esses resultados altamente favoráveis ao partido da situação, tanto para

o executivo como para o legislativo municipal, indicam apoio popular da maioria da população local ao

Regime Militar nos seus primeiros anos.

Eleição de 15 de novembro de 1970 – eleição para senador, deputado federal e deputado estadual. A

ARENA apresentou como candidatos a senador Tarso Dutra e Heitor Goulart, os quais foram eleitos,

enquanto o MDB apresentou Geraldo Brochado da Rocha e Paulo Brossard de Souza Pinto. Em Santa Cruz

venceram com boa margem (em torno de 26% contra 16%) os candidatos da ARENA. Para deputado, apesar

da boa votação da dobradinha regional do MDB, Elemar Gruendling e Helmuth Schultz, elegeram-se apenas

10 O voto a deputado estadual e federal era vinculado. 11 Com relação ao Legislativo municipal, cabe lembrar que o governo militar dispôs que nos municípios com menos de 500 mil habitantes os vereadores não receberiam nenhuma remuneração pelo desempenho do seu cargo.

15

os candidatos da ARENA: Norberto Schmidt, deputado federal (primeiro suplente, assumiu a vaga), e

Silverius Kist, deputado estadual (reeleito).

Eleição de 15 de novembro de 1972 – eleição para prefeito e vereador.12 Após a grande vitória na eleição de

1968, a ARENA de Santa Cruz entrou na eleição municipal de 1972 bastante dividida internamente. A chapa

arenista foi formada por Jürgen Klemm e José Avelino dos Santos. Já o MDB entrou com duas sub-legendas e

a soma de ambas superou a chapa adversária (51,2% contra 48,8%). O prefeito eleito foi Elemar Gruendling e

o vice Ruben Kaempf. Foi a única vitória da oposição para o governo municipal durante o Regime Militar.

Também na Câmara de Vereadores13 diminuiu o predomínio arenista: a ARENA elegeu 11 e o MDB 6

vereadores.

Eleição de 15 de novembro de 1974 – eleição para senador, deputado federal e deputado estadual. A vaga de

senador foi disputada por Nestor Jost, da ARENA, e Paulo Brossard, do MDB. No ano em que o MDB foi o

grande vencedor das eleições no país, pela sua força das grandes cidades, e elegeu no Rio Grande do Sul

Paulo Brossard para senador, em Santa Cruz o vitorioso foi o candidato da ARENA, embora por pequena

margem de votos (45,3% a 44,2%). Os três candidatos locais a deputado obtiveram seu objetivo: Norberto

Schmidt reelegeu-se deputado federal e Silverius Kist reelegeu-se deputado estadual, ambos pela ARENA,

enquanto Júlio de Oliveira Viana, do MDB, obteve a eleição para deputado estadual, sendo o mais votado

para o cargo no município.

Eleição de 15 de novembro de 1976 – eleição para prefeito e vereador. A derrota na eleição de 1972 foi

entendida pelos partidários da ARENA como conseqüência da opção em apresentar uma única chapa

enquanto o MDB apresentou duas, vencendo em razão da soma dos votos. Por isso, nas eleições de 1976 a

ARENA superou-se e apresentou três chapas: Nestor Buenecker-Nasario Fuerstenau, Antonio Manoel de

Borba-Clóvis José Hoppe e Arno João Frantz-Armando Wink. O MDB lançou duas chapas: Paulo Jochims-

Roberto Kuenzel e Ruben Kaempf-José Paulo Rauber Fº. A estratégia dos arenistas surtiu efeito: as três sub-

legendas da ARENA totalizaram 54,3% e as duas do MDB 45,7% dos votos. Foi eleita a chapa Arno Frantz-

Armando Wink. Na Câmara de Vereadores14 houve clara redução da força dos arenistas e um crescimento

significativo da oposição: a ARENA conquistou 10 e o MDB 9 cadeiras.

Eleição de 15 de novembro de 1978 – eleição para senador, deputado federal e deputado estadual. As duas

vagas para o senado foram disputadas por três candidatos da ARENA (Mário Ramos, José Mariano da Rocha

Fº e Fernando Gay da Fonseca) e um do MDB (Pedro Simon). No contexto da crise do regime militar e da

12 Após uma legislatura em que os vereadores das cidades com menos de 500 mil habitantes não recebiam nenhuma remuneração, os vencimentos dos legisladores municipais voltaram a ser pagos. 13 A Câmara de Vereadores passou de 13 para 17 cadeiras a partir das eleições de 1972. 14 A Câmara de Vereadores passou de 17 para 19 assentos a partir das eleições de 1976.

16

Abertura promovida pelo General Geisel, Simon fez surpreendente votação no estado e se elegeu com 56% do

total dos votos. O outro senador eleito foi o arenista Mario Ramos. Santa Cruz acompanhou a tendência

oposicionista: os eleitos foram os mais votados no estado, tendo Pedro Simon chegado a 52,5% dos votos.

Para deputado estadual, Silverius Kist alcançou nova reeleição. Para deputado federal, o candidato da

ARENA Telmo Kirst ficou na suplência mas acabou assumindo o cargo no decorrer da legislatura. Já os

candidatos do PMDB para a Câmara Federal, Elemar Gruendling e Rui Barbosa de Souza, não foram eleitos.

Eleição de 15 de novembro de 1982 – eleição para governador, senador, deputado federal, deputado

estadual, prefeito e vereador. Em plena crise do regime militar, o governo do Presidente Figueiredo

restabeleceu o pluripartidarismo no país, esperando colher frutos com a cisão das forças oposicionistas que

vinham crescendo consideravelmente desde a eleição de 1974. Para as eleições de 1982, além do

pluripartidarismo, o governo estabeleceu o voto vinculado. De vereador a governador o eleitor teve que

escolher candidatos do mesmo partido. Este expediente favoreceu claramente as forças da situação, cujos

integrantes na sua maioria trocaram a ARENA pelo PDS. Já o MDB se fracionou em vários partidos. No Rio

Grande do Sul, emergiram dois partidos fortes oriundos do MDB - o PMDB e o PDT. O PT foi novidade, mas

seus resultados foram inexpressivos em 1982, mas fortaleceu-se nas eleições subseqüentes. O PDS venceu as

eleições ao governo do estado com Jair Soares (34,1%), com margem estreita sobre Pedro Simon, do PMDB

(33,5%), à frente de Alceu Collares, do PDT (20,4%) e Olívio Dutra, do PT (apenas 1,3%). Em Santa Cruz, o

candidato do PMDB, Pedro Simon (39,3%), marcou a vitória da oposição ao regime militar. O candidato do

PT obteve apenas 0,8% dos votos. Para o senado, o candidato mais votado foi Paulo Brossard (PMDB),

seguido de Alberto Hoffmann (PDS) e Carlos Alberto Chiarelli (PDS), sendo este o eleito no estado. O

deputado federal Telmo Kirst (PDS) e o deputado estadual Silverius Kist (PDS) obtiveram a reeleição. Na

eleição para o governo municipal, o PDS também se impôs: elegeu a chapa Armando Wink (vice-prefeito na

gestão 1977-1982) e Normélio Boetcher, candidatos que disputaram com outra sub-legenda do PDS, com três

sub-legendas do PMDB e as candidaturas do PDT e PT. A supremacia do PDS nesta eleição só não se

expressou na Câmara de Vereadores, onde fez 10 cadeiras e a oposição 11 (9 do PMDB e 2 do PDT). Quanto

ao PT, sua primeira participação eleitoral em Santa Cruz foi muito fraca. Organizado às vésperas da eleição,

sem contar com nenhum líder experiente e sem tradição no cenário político, foi ainda prejudicado pelo voto

vinculado. Fez em torno de 1% dos votos. Esse desempenho foi coerente com a trajetória histórica da

esquerda socialista em Santa Cruz, mas não foi uma peculiaridade local e sim uma característica do estado e

do país naquele ano. O atual maior partido do país teve um início singularmente difícil.

6 Período democrático atual

A Campanha Diretas Já mobilizou o país em 1984, unindo as forças de oposição, os movimentos

sociais e milhões de cidadãos na luta por eleições diretas. Contra o desejo da maioria da população, a parcela

majoritária das lideranças políticas de oposição negociou com os representantes do regime militar a eleição

17

indireta que recolocou lideranças civis na Presidência da República – Tancredo Neves e José Sarney. Foi um

governo de transição, marcado pela morte do presidente Tancredo Neves, o que alçou José Sarney à tarefa

histórica de coordenar as mudanças democráticas no plano institucional. A Assembléia Constituinte de 1986-

1987, a promulgação da Constituição em 1988 e a realização regular de eleições para todos os níveis a partir

de então são evidências de que no plano institucional a tarefa democrática está sendo cumprida em aspectos

fundamentais.

As eleições do período democrático atual (até 2002) estão apresentadas a seguir.

Eleição de 15 de novembro de 1986 - eleição para governador, senador, deputado federal e deputado

estadual. O PMDB venceu as eleições para o governo do estado, com Pedro Simon-Sinval Guazzelli, chapa

que também foi vencedora em Santa Cruz, com 45,4% dos votos, superando as candidaturas da aliança PDS-

PDT, do PFL, do PSB e do PT. Para o senado foram eleitos três candidatos pelo Rio Grande do Sul: José

Fogaça e José Paulo Bisol do PMDB e Nelson Marchezan do PDS, que foram também os mais votados em

Santa Cruz. O candidato Roberto Künzel, do PMDB, foi eleito deputado estadual e o deputado federal Telmo

Kirst, do PDS, foi reeleito. O PT nessa eleição teve um desempenho melhor em âmbito estadual e também no

município mostrou perspectivas razoáveis de crescimento através de seus candidatos a deputado.

Eleição de 15 de novembro de 1988 – eleição para prefeito e vereador. As eleições tiveram duas

peculiaridades: a força do voto de protesto, que elegeu em muitos municípios candidatos vistos como “não

políticos” ou contrários à “política tradicional” e, em Santa Cruz, a inauguração do palanque eletrônico, a

campanha eleitoral na TV, com a inauguração da sucursal da RBS-TV no município. Esses dois elementos

afetaram fortemente as eleições locais. O governo municipal foi novamente conquistado pelo PDS,

reconduzindo Arno Frantz ao cargo de prefeito, chegando à frente das candidaturas do PMDB, PT, PDT, PL e

PSB. A grande novidade dessa eleição foi o desempenho do PT. Aproveitando o clima de entusiasmo cívico

com o fim do regime militar, o fortalecimento do movimento sindical e popular e, principalmente, através de

uma campanha televisiva irreverente, o partido conseguiu vencer as eleições no perímetro urbano, com a

candidatura de João Pedro Schmidt-Orci Kühl, e elegeu três vereadores. Foi a primeira vez na história do

município que um partido da esquerda socialista obteve espaço de destaque no cenário político local,

inaugurando um processo de afirmação que se consolidou em eleições vindouras. A Câmara Municipal ficou

assim constituída: 9 vereadores do PDS, 4 do PMDB, 4 do PDT, 3 do PT e 1 do PSB. O governo municipal

passou a contar com minoria no legislativo.

Eleição de 15 de novembro de 1989 – primeiro turno da eleição para presidente da república. A histórica

eleição presidencial de 1989 assinalou a redemocratização institucional do país. Sob a égide da nova

Constituição, promulgada no ano anterior, inaugurou o sistema de dois turnos para as eleições à presidência,

ao governo dos estados e dos municípios com mais de 200 mil eleitores. O primeiro turno foi disputado por

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nada menos que 22 candidatos, a maior parte deles pertencente a partidos inexpressivos. Em Santa Cruz do

Sul, o candidato gaúcho Leonel Brizola (PDT) obteve a impressionante votação de 59,1%, equivalente

praticamente ao percentual atingido no estado (60,8%). Foi seguido por Fernando Collor (PRN), com 11,7% e

Lula (PT), com 6,4%. Os candidatos Collor e Lula foram para o 2º turno.

Eleição de 17 de dezembro de 1989 – segundo turno da eleição para presidente da república. O apoio de

Leonel Brizola à candidatura de Lula foi fator fundamental para a maciça votação atingida pelo candidato

petista. Lula fez praticamente o mesmo percentual que Brizola fizera no primeiro turno – 59,8% do total,

contra 35,5% de Fernando Collor. O percentual de Lula no município ficou próximo daquele atingido no Rio

Grande do Sul – 64,6%. Foi a primeira vitória expressiva de um candidato de esquerda numa eleição

majoritária nacional com conotação de confronto ideológico em Santa Cruz do Sul.

Eleição de 3 de outubro de 1990 – eleição para governador, senador, deputado federal e deputado estadual.

O cargo de governador foi disputado por 4 candidaturas: a aliança PDT-PcdoB-PSDB, a aliança PDS-PL-

PFL-PRN, o PMDB e a coligação PT-PSB-PCB. As candidaturas mais votadas e que se credenciaram ao 2º

turno foram as duas primeiras, tendo à frente Alceu Collares e Nelson Marchezan. Em Santa Cruz, as opções

preferidas dos eleitores foram as candidaturas de Nelson Marchezan (30,9%), de José Fogaça, do PMDB

(19,3%) e de Alceu Collares, do PDT (18,9%), vindo após o petista Tarso Genro (6,9%). O senador eleito

pelo estado nessa ocasião foi Pedro Simon, do PMDB, que venceu com folga no município, atingindo 34%

dos votos. A eleição para deputado estadual e deputado federal foi marcada nacionalmente pelo elevado

índice de votos em branco e nulos. Em Santa Cruz, a soma desses votos para deputado federal totalizou 43,4%

e para deputado estadual 35%. O deputado federal Telmo Kirst obteve nova reeleição. Para a Assembléia

Legislativa, a novidade foi a eleição de Sérgio Moraes, do PTB, fato que caracterizou a ascensão do

populismo no município, uma característica da política municipal na década de 1990 e dos inícios do novo

século.

Eleição de 25 de novembro de 1990 – 2º turno da eleição para governador. Disputado entre Alceu de Deus

Collares-João Giliberto Lucas Coelho (PDT-PcdoB-PSDB) e Nelson Marchezan-Maria do Carmo Bueno

(PDS-PL-PFL-PRN). Collares foi eleito governador, com 45,7% dos votos no estado. Em Santa Cruz,

Collares venceu o adversário por pequena margem: 37,9% a 34%. Um aspecto a ser destacado é que Collares

é negro e sua vitória eleitoral atestou que o preconceito étnico não constitui fator intransponível para o

eleitorado santa-cruzense, com elevado percentual de teuto-descendentes. O elevado número de votos nulos e

em branco não invalida tal avaliação, pois foi uma característica geral no estado, presente em todas as regiões.

Eleição de 3 de outubro de 1992 – eleição para prefeito e vereador. A disputa para o cargo de prefeito

envolveu Edmar Hermany-Roque Dick (PDS-PFL-PL), Sergio Moraes (PTB-PDT) e João Pedro Schmidt-

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Astor Wartchow (PT-PMDB-PSB). A aliança liderada por Edmar Hermany foi vencedora, com 43%, seguido

das demais candidaturas, respectivamente com 34,9% e 22,1%. A vitória dos partidos conservadores foi

facilitada pela divisão dos votos da oposição, onde continuou se fortalecendo a alternativa populista do então

deputado Sérgio Moraes, que passou a se constituir na alternativa mais forte das oposições para a sucessão

municipal vindoura. O PT, surpresa da eleição de 1988, não conseguiu consolidar-se como a principal força

oposicionista, mesmo coligado com o PMDB. A Câmara de Vereadores teve a seguinte composição: 7

vereadores do PDS, 4 do PL, 4 do PTB, 2 do PDT, 2 do PT e 2 do PMDB.

Plebiscito de 7 de setembro de 1993 – em atendimento às disposições transitórias da Constituição de 1988

foi realizado um plebiscito nacional sobre a manutenção do presidencialismo ou a implantação do

parlamentarismo no país. A eleição foi precedida de campanha televisiva nos moldes das campanhas

eleitorais, em que defensores de uma e outra posição apresentaram seus argumentos ao eleitorado. A grande

maioria dos partidos e lideranças políticas, à direita e à esquerda, fizeram a defesa do presidencialismo. Em

Santa Cruz, assim como no estado e no país, o presidencialismo venceu por larga margem.

Eleição de 3 de outubro de 1994 – eleição para presidente da república, governador, senador, deputado

federal e deputado estadual. O primeiro turno da eleição presidencial teve 8 candidatos, sendo os mais

votados Fernando Henrique Cardoso (PSDB-PTB-PFL), Luis Inácio Lula da Silva (PT-PSTU-PPS-PSB-PV)

e Leonel Brizola (PDT). Fernando Henrique Cardoso foi eleito presidente no primeiro turno, apoiado nos

surpreendentes resultados de controle da inflação obtidos pelo recém-lançado Plano Real (em julho de 1994).

Em Santa Cruz, Lula venceu novamente, com 31,4% dos votos, seguido de Fernando Henrique (27%) e

Leonel Brizola (8,1%). O governo do estado teve 6 concorrentes, tendo a eleição se polarizado

ideologicamente entre uma alternativa conservadora - Antonio Britto Fº (PMDB-PL-PSDB) - e uma

alternativa de esquerda - Olívio Dutra (PT-PSTU-PPS-PSB-PV-PCdoB). Britto foi o primeiro colocado no

estado, com 49,2% (resultado que provocou o 2º turno), e venceu em Santa Cruz com 48% dos votos contra

24% de Olívio Dutra. Para o senado, elegeram-se José Fogaça (PMDB) e Emília Fernandes (PTB), que foram

também os mais votados em Santa Cruz (37,3% e 28,1%, respectivamente). Foram eleitos três candidatos

locais para deputado: Telmo Kirst (PPR15) reelegeu-se para a Câmara Federal; Sergio Moraes (PTB) e Arno

Frantz (PPR) obtiveram vaga para a Assembléia Legislativa.

Eleição de 15 de novembro de 1994 – segundo turno da eleição para governador. A disputa entre Antonio

Britto (PMDB-PL-PSDB) e Olívio Dutra (PT-PSTU-PPS-PSB-PV-PCdoB) foi bastante acirrada no estado,

com vitória de Britto por 52,2% a 47,8%. Em Santa Cruz, a vitória de Britto foi relativamente folgada: 56% a

39,4% dos votos.

15 PPR foi a sigla assumida pelo PDS. Posteriormente trocou para PPB e, finalmente, PP.

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Eleição de 3 de outubro de 1996 – eleição para prefeito e vereador. Esta eleição marca o fim da era do

predomínio dos herdeiros da ARENA, que vinha desde 1982, e a ascensão de uma alternativa oposicionista de

estilo populista. Sergio Moraes, liderando uma ampla coligação (PTB-PMDB-PDT-PSDB-PTdoB), fez 50,6%

dos votos e venceu a coligação situacionista (PPB-PL-PFL), que tinha à frente Arno Frantz (43,6%) e o

candidato petista Doríbio Grunevald (5,8%). O novo governo municipal passou a ter a marca de um prefeito

identificado com o eleitor das classes populares da periferia urbana, muito numeroso com as migrações

ocorridas desde a década de 1980. Também distinguiu-se por sua origem lusa, fato inédito em mais de meio

século (desde a eleição de 1951, quando foi escolhido Jesus Arthur Ferreira, todos prefeitos eleitos foram de

origem germânica). No legislativo, o desejo de mudança também se refletiu: foram eleitos 9 vereadores

favoráveis ao novo governo (4 do PTB, 2 do PSDB, 2 do PDT, 1 do PMDB), 3 vereadores do PT e 9

vereadores da antiga situação (6 do PPB, 2 do PL e 1 do PFL).

Eleição de outubro de 1998 – eleição para presidente da república, governador, senador, deputado federal e

deputado estadual. A eleição presidencial apresentou novamente grande número de candidatos – 12 no total.

O presidente Fernando Henrique Cardoso conseguiu sua reeleição já no primeiro turno, tendo como principal

adversário o candidato das esquerdas Luis Inácio Lula da Silva. No Rio Grande do Sul, Lula venceu

novamente, mas em Santa Cruz Fernando Henrique foi o mais votado com 40,1%, pouco à frente dos 38,5%

de Lula. Para governador, embora tenham concorrido 8 candidatos, a eleição polarizou-se entre os candidatos

que disputaram o 2º turno na eleição de 1994: o governador Antonio Britto (PMDB-PSDB) e Olívio Dutra

(PT-PSB-PCdoB-PSTU). Britto teve apenas pequena vantagem no estado, mas em Santa Cruz conseguiu

novamente vitória tranqüila (53,4% a 40,8%). Para o senado, Pedro Simon obteve a reeleição e grande

votação no município, obtendo 65,7% do total. Para a Câmara Federal, o deputado Telmo Kirst (PPR) obteve

nova reeleição. Para a Assembléia Legislativa, a força do populismo expressou-se na vitória de Osmar Severo

(PTB).

Eleição de outubro de 1998 – segundo turno da eleição para governador. As forças de esquerda socialista,

capitaneadas por Olívio Dutra (PT-PSB-PCdoB-PSTU), conquistam a primeira vitória para o governo do

estado. Santa Cruz não acompanhou a tendência estadual; a vitória foi de Antonio Britto (PMDB-PSDB), com

55,1% dos votos.

Eleição de 1º de outubro de 2000 – eleição para prefeito e vereador. A campanha para prefeito começou com

quatro candidatos: o prefeito Sergio Moraes (PTB-PMDB-PDT-PPS-PTdoB) concorreu à reeleição,

disputando o cargo com o ex-prefeito Edmar Hermany (PPB), com José Alberto Wenzel (PSDB-PFL) e com

Edison Rabuske (PT). Na reta final, o candidato Hermany, do PPB, desistiu e passou a apoiar a candidatura de

José Alberto Wenzel. Sérgio Moraes conseguiu a reeleição, fazendo 47,4% dos votos, contra 44,8% de

Wenzel e 7,8% de Rabuske. A composição da Câmara de Vereadores ficou com maioria oposicionista: a

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situação teve 10 vereadores eleitos (5 do PTB, 3 do PMDB e 2 do PDT). A oposição ficou com 5 vereadores

do PPB, 2 do PFL, 2 do PSDB e 2 do PT.

Eleição de 6 de outubro de 2002 – eleição para presidente da república, governador, senador, deputado

federal e deputado estadual. A eleição presidencial, marcada pelo ocaso do Plano Real, teve 6 candidatos,

sendo os principais José Serra (PSDB), Luis Inácio Lula da Silva (PT-PL-PCdoB-PMN), Ciro Gomes (PPS) e

Anthony Garotinho (PSB). Os dois candidatos mais votados e que se credenciaram para o 2º turno foram Lula

e José Serra. Em Santa Cruz, Lula foi o grande vencedor (55,8%). O governo do estado teve 11 postulantes,

sendo os principais Tarso Genro (PT-PSB-PCdoB), Antonio Britto (PPS) e Germano Rigotto (PMDB).

Contra as expectativas iniciais de polarização entre o representante da situação, Tarso Genro, e o ex-

governador Antonio Britto, os candidatos que se credenciaram ao 2º turno foram Germano Rigotto e Tarso

Genro. Em Santa Cruz, Germano Rigotto obteve 44,5% e Tarso Genro 37,7% dos votos. As duas vagas para o

senado foram disputadas por 17 candidatos, sendo os principais Sergio Zambiazi (PTB), José Fogaça

(PMDB), Paulo Renato Paim (PT) e Emília Fernandes (PT). Sergio Zambiazi e Paulo Paim conquistaram as

vagas. Em Santa Cruz, Sergio Zambiazi e José Fogaça foram os mais votados. Para o parlamento, a força do

populismo ficou evidente com a eleição dos dois únicos candidatos locais: Kelly Moraes (PTB), esposa do

prefeito Sérgio Moraes, foi eleita deputada federal e Osmar Severo (PTB) foi reeleito deputado estadual. Foi

eleito ainda Heitor Schuh, do PSB, para deputado estadual; ex-presidente da FETAG, sua base eleitoral são os

sindicatos de trabalhadores rurais espalhados pelo estado.

Eleição de 27 de outubro de 2002 – 2º turno da eleição para presidente da república e para governador. O

embate do 2º turno das eleições presidenciais confirmou o desejo de mudança sinalizado pelo eleitorado no 1º

turno. Lula venceu as eleições com folga. Liderando uma aliança que incluiu não só os partidos de esquerda

mas também partidos de orientação liberal, tendo como candidato a vice-presidente um grande empresário

filiado ao PL e com o apoio de fortes candidatos derrotados no 1º turno – Ciro Gomes e Anthony Garotinho –

Lula logrou um feito histórico ao ser eleito o primeiro presidente operário e representante da esquerda em

toda história do país. A vitória de Lula em Santa Cruz foi alavancada pela postura anti-tabagista do

adversário, José Serra. O presidente eleito obteve no município impressionantes 71,9% dos votos. A eleição

para o governo do estado confirmou a surpresa do 1º turno: Germano Rigotto, do PMDB, venceu as eleições,

superando Tarso Genro, do PT, mantendo a tradição de alternância no governo do estado (desde o fim do

Estado Novo, sempre houve alternância no governo estadual de uma eleição para outra). Em Santa Cruz,

todavia, houve uma surpresa de outra ordem: contrariando o primeiro turno e a aliança de praticamente todos

os partidos contra o PT, Tarso Genro foi o vencedor do 2º turno: 51,6% a 48,4% dos votos.

Conclusão

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A organização e sistematização dos resultados das eleições em Santa Cruz do Sul ao longo de sua

história é um passo importante para a análise do comportamento eleitoral não só do município, mas também

dos teuto-descendentes no Rio Grande do Sul. Até hoje, as informações disponíveis sobre as eleições locais

estavam dispersas em jornais e parcialmente em algumas poucas publicações de caráter científico. O trabalho

de pesquisa aqui apresentado permite, a partir de agora, um olhar histórico abrangente, captando as principais

linhas da evolução do comportamento eleitoral dos santa-cruzenses.

Pela relevância que o município de Santa Cruz do Sul possui no estado, os dados apresentados

permitem testar uma série de hipóteses traçadas sobre o comportamento eleitoral dos imigrantes alemães e

seus descendentes.

Os resultados podem ser interpretados de diferentes ângulos. Algumas das grandes linhas que

percorrem o voto dos santa-cruzenses ao longo da história estão apresentadas no texto Tendências do

Comportamento Eleitoral em Santa Cruz do Sul, neste mesmo site.