eleição - charles haddon spurgeon

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  • 8/14/2019 Eleio - Charles Haddon Spurgeon

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    ELEIO

    ( Charles H. Spurgeon)

    Entretanto, devemos sempre dar graas a Deus, por vs, irmos amados pelo Senhor, porque Deus vosescolheu desde o princpio para a salvao, pela santificao do Esprito efna verdade, para o que tambmvos chamou mediante o nosso evangelho, para alcanardes a glria de nosso Senhor Jesus Cristo (IITessalonicenses 2:13,14).

    Ainda que na Palavra sagrada no houvesse outro texto, alm deste, penso que todos ns estaramos naobrigao de reconhecer e aceitar a veracidade daquela grande e gloriosa doutrina que declara que, desde oprincipio, Deus escolheu a Sua prpria famlia. Entretanto, parece haver na mente humana um arraigadopreconceito contra essa doutrina. Pois embora quase todas as demais doutrinas sejam recebidas pelos crentesprofessos, algumas delas acolhidas com cautela e outras com deleite, contudo, no caso dessa doutrina, comfrequncia verifica-se desconsiderao e repdio. Em muitos dos nossos plpitos, muitos considerariam umgrave erro, uma traio mesmo, se algum pregasse um sermo a respeito da eleio, porquanto eles nopoderiam extrair dali um discurso prtico, conforme asseveram. Mas exatamente quanto a esse particularque penso que eles se desviaram da verdade.

    Tudo quanto Deus nos tem revelado, tem-no feito com um propsito em mente. Nada existe nas Escriturasque, sob a influncia do Esprito de Deus, no possa ser transformado em um discurso prtico, porquantotoda a Escritura foi dada mediante inspirao divina, e proveitosa para algum propsito espiritualmentetil. verdade que um tema desses no pode ser transformado em um sermo acerca do livre-arbtriohumano disso sabemos perfeitamente bem embora possa ser utilizado como base de um prtico discursosobre a graa gratuita de Deus. E a prtica do ensino da graa gratuita o melhor procedimento possvel,quando as autnticas doutrinas a respeito do imutvel amor de Deus passam a exercer a sua influncia sobreos coraes dos santos e dos pecadores.

    Alguns de vs, que tomam um susto diante da simples enunciao do vocbulo eleio, talvez digam:Ouvirei essa pregao com mente aberta e porei de lado os meus preconceitos; certamente prestarei atenoao que esse homem tem para dizer! No fechem logo os ouvidos, nem digam: Essa uma doutrina muito

    profunda! Porquanto, quem autorizou vocs a chamarem essa doutrina de profunda ou de superficial? Porque vocs haveriam de fazer oposio a uma doutrina ensinada por Deus? Lembrem-se do que sucedeu aosrapazinhos que descobriram falta no profeta de Deus e exclamaram: Sobe, calvo; sobe, calvo! (II Reis2:23). No fale nada contra as doutrinas de Deus, pois poderia acontecer que algum animal feroz sasse dafloresta e viesse devorar a voc tambm.

    Ainda existem outros infortnios, alm do juzo imediato dos cus cuide para que esses infortnios nodespenquem sobre a sua cabea. Desprenda-se dos seus preconceitos; oua com calma; oua sem paixes;oua o que as Escrituras ensinam. E quando voc acolher a verdade, se o Senhor Deus agradar-se em revel-la e manifest-la sua alma, no se envergonhe de confess-la publicamente. Confessar que voc estavaequivocado ontem, to-somente reconhecer que voc est um pouco mais sbio hoje; e ao invs disso serum reflexo em seu detrimento, antes uma honra e evidncia de que voc est se aprimorando no conheci-mento da verdade.

    A Bblia deve ocupar o lugar de primazia, e um ministro de Deus deve submeter-se a ela. No nos competeusar a Bblia como plataforma para apresentar as nossas idias, mas como a autoridade que est acima detodo o nossos pensamento, considerando sempre o fato que a Bblia se encontra num piano mais elevado ealgumas de suas verdades ultrapassam nosso entendimento. Depois de havermos pregado, continuaremosconscientes de que a montanha da verdade mais elevada do que os nossos olhos so capazes de perceber;nuvens e escurido circundam o seu ponto culminante, e no nos dado divisar-lhe o cume; ainda assim,tentaremos preg-la to bem quanto possvel. Porm, visto que somos mortais e sujeitos a errar, por issomesmo voc deve exercer a sua capacidade de ajuizar. . . . provai os espritos, se procedem de Deus.. . (1Joo 4:1). E ento, se aps ponderada reflexo, de joelhos dobrados, voc for impulsionado a desconsiderar adoutrina da eleio algo que considero totalmente impossvel esquea-se da mesma, no queira maisouvi-la sendo pregada, mas creia e confesse qualquer coisa que voc entenda ser o ensino da Palavra de

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    Deus. No posso dizer mais do que isso como introduo.

    Ora, em primeiro lugar falarei um pouco a respeito da veracidade dessa doutrina: . . . Deus vos escolheudesde o princpio para a salvao. . Em segundo lugar, procurarei provar que a eleio reveste-se de umcarter absoluto: Deus . . . vos escolheu desde o principio para a salvao..., no para a santificao, e,sim, . . .pela santificao do Esprito e f na verdade... Em terceiro lugar, a eleio eterna, porque o textoafirma: . . . Deus vos escolheu desde o principio.. . Em quarto lugar, trata-se de uma eleio de carterpessoal: .... . Deus vos escolheu. . . E, em seguida, consideraremos os efeitos dessa doutrina avaliandoaquilo que ela realiza. E, finalmente, na medida em que formos capacitados por Deus, procuraremosexaminar as suas tendncias, a fim de averiguarmos se realmente trata-se de uma doutrina terrvel elicenciosa, como alguns dizem. Por assim dizer, tomaremos a flor, e, semelhana de verdadeiras abelhas,verificaremos se nessa doutrina h algum mel, se pode proceder dela algum bem, ou se ela um mal semmistura, no diludo.

    Em primeiro lugar, procurarei provar que essa doutrina da eleio verdadeira. E permitam-me comearcom um argumento que segundo os homens: falarei com vocs considerando suas diferentes posies eestgios de desenvolvimento. Aqui, h alguns de vocs pertencentes Igreja Anglicana. Ora, eu sei perfeita-mente bem que vocs crem profundamente naquilo que os [trinta e nove] Artigos declaram ser a s doutrina.Oferecerei um exemplo daquilo que esses Artigos afirmam a respeito da eleio, de tal maneira que, se vocsacreditam realmente neles, no podero deixar de receber a doutrina da eleio. Lerei certa poro do artigoXVII, que se manifesta sobre a predestinao e a eleio: A predestinao para a vida o propsito eternode Deus mediante o qual (antes que fossem lanados os fundamentos do mundo) Ele decretou de maneiraconstante, atravs do Seu conselho secreto a nosso respeito, que livraria da maldio e da condenaoqueles a quem Ele escolhera em Cristo, dentre a humanidade, para conduzi-los salvao eterna por meiode Cristo, como vasos destinados honra. Em face disso, aqueles que foram dotados por Deus de toexcelente beneficio so chamados, de conformidade como propsito de Deus, pelo Seu Esprito, o qual atuano tempo apropriado, tendo em mira: que, pela graa, obedeam a essa vocao; sejam gratuitamente justificados; sejam feitos filhos de Deus por adoo; sejam moldados segundo a imagem de Seu Filhounignito, Jesus Cristo; andem piedosamente em boas obras; e, afinal, pela misericrdia de Deus, cheguem abem-aventurana eterna.

    Expus esse artigo de f diante de vocs, to-somente para mostrar-lhes que, se vocs pertencem IgrejaAnglicana, pelo menos no querero fazer objeo doutrina da predestinao.

    Uma outra autoridade humana, por intermdio da qual desejo confirmar a doutrina da eleio, a antigadeclarao de f dos valdenses. Se vocs tiverem a oportunidade de ler o credo dos antigos valdenses, queeles redigiram quando estavam sofrendo sob os ardores da perseguio, descobriro que aqueles famosos se-guidores e confessores da f crist davam a mais cordial acolhida e abraavam essa doutrina, como umaporo da verdade revelada por Deus. Extrai de um livro antigo um dos artigos de f dos valdenses: QueDeus salva da corrupo e da condenao aqueles a quem escolheu desde antes da fundao do mundo, nopor causa de qualquer disposio, f ou santidade que Ele tenha previsto neles, mas por motivo de Sua puramisericrdia, em Cristo Jesus, Seu Filho, deixando de levar em conta quaisquer outras consideraes,segundo a irrepreensvel razo de Sua prpria livre vontade e justia.

    Portanto, no estou pregando aqui nenhuma novidade; nenhuma doutrina nova. Gosto imensamente deproclamar essas antigas e vigorosas doutrinas, que so conhecidas pelo cognome de calvinismo, mas que, porcerto e verdadeiramente, so a verdade de Deus, a qual nos foi revelada em Jesus Cristo. Por meio dessa ver-

    dade da eleio, fao uma peregrinao ao passado, e, enquanto prossigo, contemplo pai aps pai da Igreja,confessor aps confessor, mrtir aps mrtir levantarem-se e virem apertar minha mo. Se eu fosse um de-fensor do pelagianismo, ou acreditasse na doutrina do livre-arbtrio humano, ento eu teria de prosseguirsozinho por sculos e mais sculos em minha peregrinao ao passado. Aqui e acol, algum herege, decarter no muito honrado, talvez se levantasse e me chamasse de irmo. Entretanto, aceitando como aceitoessas realidades espirituais como o padro de minha f, contemplo a ptria dos antigos crentes povoada pornumerosssimos irmos; posso contemplar multides que confessam as mesmas verdades que defendo,multides que reconhecem que essa a religio da prpria Igreja de Deus.

    Tambm quero apresentar a vocs um extrato da antiga confisso batista. Nesta congregao, somosbatistas ou pelo menos a maioria de ns o e gostamos de averiguar o que os nossos predecessoresescreveram. Cerca de duzentos anos atrs, os batista se reuniram e publicaram os seus artigos de f, a fim de

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    que se pusesse um ponto final em certos rumores que atacavam a ortodoxia deles, rumores esses que jtinham dado volta ao mundo. Abro agora este antigo livro, e encontro o seguinte terceiro artigo:

    Por decreto de Deus, tendo em vista a manifestao de Sua glria, alguns homens e anjos foram predes-tinados ou ordenados de antemo para a vida eterna, por meio de Jesus Cristo, para louvor de Sua gloriosagraa; e, quanto aos demais, foi-lhes permitido continuarem em seus pecados, tendo em vista a sua justacondenao, para o louvor da gloriosa justia divina. Esses anjos e homens, assim predestinados e ordenadoscom antecedncia, foram particular e imutavelmente designados, e o seu nmero foi determinado de maneirato certa e definida que esse total no pode ser nem aumentado e nem diminudo. No caso daqueles membrosda humanidade que foram predestinados para a vida, Deus, antes de serem lanados os fundamentos domundo e de conformidade com o Seu eterno e imutvel propsito, bem como de acordo com o secretoconselho e beneplcito de Sua vontade, escolheu em Cristo, para a glria eterna e com base em Sua puragraa gratuita e em Seu amor, sem que houvesse qualquer outra considerao na criatura, como condio oucausa que O tivesse impelido a isso, aqueles a quem assim o quis.

    No obstante, no que concerne a esses testemunhos humanos autoritativos, no me importo nem um pou-quinho sequer com eles. No me interessa o que esses testemunhos afirmam, em favor ou contra a doutrinada eleio. To-somente lancei mo deles como uma espcie de confirmao para a vossa f, a fim de mos-trar a vocs que, embora eu possa ser acusado de ser um herege ou um hipercalvinista, em ltima anlise, otestemunho mesmo da antigidade est me prestando o seu apoio.

    Se um mero punhado de ns postar-se na defesa inarredvel da soberania do nosso Deus, ainda que se-jamos cercados por muitos inimigos, at por nossos prprios irmos, os quais deveriam ser nossos amigos eajudadores, nada disso nos abalar, contanto que possamos contar com o apoio do passado. O nobre exrcitode mrtires, as gloriosas hostes de confessores, esses sero os nossos amigos; e o prprio testemunho daverdade manifestar-se- em nosso favor. Ora, contando com aliados assim, jamais poderemos dizer queestamos sozinhos; bem pelo contrrio, poderemos exclamar: Eis que o Senhor reservou sete mil homens queno dobraram joelhos diante de Baal (veja Romanos 11:4). Porm, o fator mais importante de todos queDeus est conosco.

    As grandes verdades sempre se encontram na Bblia, exclusivamente na Bblia. Vocs no acreditam emqualquer outro livro alm da Bblia, acreditam? Se eu pudesse provar aquilo que afirmo, com base em todosos livros da cristandade; se eu pudesse voltar no tempo e achar provas na biblioteca de Alexandria, mesmoassim vocs no acreditariam nesta doutrina mais do que antes; mas por certo vocs daro crdito ao que diz

    a Palavra de Deus.Selecionei alguns poucos textos para serem lidos a vocs. Quando temo que vocs possam desconfiar de

    alguma verdade, gosto de apresentar uma srie inteira de passagens da Bblia, a fim de que vocs se sintampor demais impressionados para duvidarem, se porventura realmente no acreditam em tal verdade. To-somente permitam-me examinar uma srie de trechos bblicos, onde os crentes so chamados de eleitos.Naturalmente, se as pessoas esto sendo chamadas de eleitas, no se pode duvidar que deve haver umaeleio. Se Jesus Cristo e os Seus apstolos estavam acostumados a designar os discpulos pelo ttulo deeleitos, ento certamente devemos crer que isso que eles so, porque, de outra maneira, tal vocbulo nosignificaria coisa nenhuma.

    Jesus Cristo declarou: No tivesse o Senhor abreviado aqueles dias, e ningum se salvaria; mas, por causa

    dos eleitos que ele escolheu, abreviou tais dias. E tambm:.. . pois surgiro falsos cristas e falsos profetas,operando sinais e prodgios, para enganar, se possvel, os prprios eleitos. E ainda: E ele enviar os anjos ereunir os seus escolhidos dos quatro ventos, da extremidade da terra at a extremidade do cu (Marcos13:20, 22 e 27). No far Deus justia aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareademorado em defend-los? (Lucas 18:7). Juntamente com esses, muitos outros trechos bblicos poderiam serselecionados, onde aparecem palavras como eleitos, escolhidos, conhecidos de antemo oudestinados, ou ento onde aparece alguma expresso como minhas ovelhas, ou alguma designaosimilar, demonstrando que o povo de Cristo distinguido do resto da humanidade.

    Porm, vocs devem possuir suas prprias concordncias bblicas, e no precisarei perturb-los commuitos textos. Em todas as epstolas dos apstolos, os santos so continuamente chamados de os eleitos.Na epstola aos Colossenses, encontramos Paulo asseverando: Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus,

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    santos e amados, de temos afetos de misericrdia.. " (3:12). Quando Paulo escreveu a Tito, designou a simesmo nestes termos: Paulo, servo de Deus e apstolo de Jesus Cristo, para promover a f que dos eleitosde Deus (Tito 1:1). E, referindo-se aos crentes, o apstolo Pedro estipula: ..... eleitos, segundo a prescinciade Deus Pai (1 Pedro 1:2). E ento, se vocs examinarem os escritos de J00, descobriro que ele apreciavamuitssimo esse vocbulo. Declara ele: O presbtero senhora eleita (II J00 1). E tambm refere-se aos..... filhos da tua irm eleita... (II J00 13). E, por semelhante modo, sabemos onde que est escrito:Aquela que se encontra em Babilnia, tambm eleita, vos sada (1 Pedro 5:13). No, durante aquelesprimeiros dias, os crentes no se envergonhavam de usar essa palavra; e nem receavam falar a respeito daidia por ela representada.

    No entanto, nestes nossos dias, tenho que admitir, esse vocbulo tem sido revestido de certa diversidadede significaes, e muitas pessoas tm mutilado e manchado essa doutrina da eleio, de maneira tal que atm transformado numa autntica doutrina de demonios. E muitos daqueles que atualmente se chamam decrentes, bandearam-se para as fileiras dos antinomianos. A despeito de tudo isso, por qual motivohaveramos de sentir vergonha dessa idia, ainda que os homens a tenham distorcido? Amemos a verdade deDeus quando ela est sendo atacada, tanto quando ela est sendo aceita. Se por acaso houve algum mrtir aquem j amvamos antes dele ser submetido tortura da roda, deveramos am-lo mais ainda depois que elej foi esticado e torturado ali. Quando a verdade de Deus submetida s presses, no devemos tach-la defalsa. Gostamos devera verdade de Deus quando ela est sendo submetida a alguma provao, porque entopodemos discernir qual a exata proporo que ela teria, se no tivesse sido distorcida e torturada pelacrueldade e pelas invenes astuciosas dos homens.

    (1) Abuso da doutrina da graa que leva a uma vida religiosa pecaminosa, indolente e frouxa.

    Se vocs tivessem oportunidade de ler as muitas epstolas que os antigos pais da Igreja escreveram, entodescobririam que eles sempre se dirigiram ao povo de Deus chamando-os de os eleitos. De fato, o vocbulocomumente utilizado nas conversaes dirias, entre muitos daqueles cristos primitivos, para aludirem unsaos outros, era eleito. Com grande freqncia empregavam o termo para se dirigirem uns aos outros,ficando assim demonstrado que eles acreditavam que todo o povo de Deus manifestamente se compe deeleitos do Senhor.

    No entanto, passemos a examinar os versiculos bblicos que provaro, de forma positiva, a veracidadedessa doutrina. Abram suas Bblias no trecho de Joo 15:16, e ali vocs observaro que Jesus Cristo escolheuo Seu povo, pois Ele mesmo declara: No fostes vs que me escolhestes a mim; pelo contrrio, eu vos

    escolhi a vs outros, e vos designei para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permanea; a fim de quetudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda. E em seguida, no versculo 19 desse mesmocaptulo, assegura o Senhor: Se vs fsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, nosois do mundo, pelo contrrio dele vos escolhi, por isso o mundo vos odeia.

    Verifiquem tambm o que est escrito em J00 17:8, 9: ..... porque eu lhes tenho transmitido as palavrasque me deste, e eles as receberam e verdadeiramente conheceram que sa de ti, e creram que tu me enviaste.

    por eles que eu rogo; no rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque so teus. E abramosainda as nossas Bblias na passagem de Atos 13:48: Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavama palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna. Se certos indivduosquiserem dissecar em pedacinhos midos essa passagem, podero faz-lo; mas o fato inegvel que ela dizdestinados para a vida eterna, no original grego, to claramente como possvel diz-lo; e no nos

    importamos com todos os comentrios em contrrio que tm surgido. Vocs quase nem precisam serrelembrados a respeito do que ensina o captulo 8 da epstola aos Romanos, porque confio que vocs estoperfeitamente familiarizados com aquele captulo, e que, por esta altura dos acontecimentos, j o estocompreendendo perfeitamente bem. Lemos ali, nos versculos 29 e seguintes: Porquanto aos que de antemoconheceu, tambm os predestinou para serem conformes imagem de seu Filho, a fim de que ele seja oprimognito entre muitos irmos. E aos que predestinou, a esses tambm chamou; e aos que chamou, a essestambm justificou; e aos que justificou, a esses tambm glorificou. Que diremos, pois, vista destas cousas?Se Deus por ns, quem ser contra ns? Aquele que no poupou a seu prprio Filho, antes, por todos ns oentregou, porventura no nos dar graciosamente com ele todas as cousas? Quem intentar acusao contraos eleitos de Deus? Deus quem os justifica.

    Por semelhante modo, desnecessrio repetir por inteiro o captulo 9 da epstola aos Romanos. Enquanto

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    esse captulo continuar sendo uma parte integrante das Escrituras, ningum ser capaz de pmoar que oarminianismo est com a razo. Enquanto esse captulo estiver ali, nem mesmo as mais violentas distoresdo texto sero capazes de extirpar das Escrituras a doutrina da eleio. No obstante, leiamos versculoscomo este: E ainda no eram os gmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o pro-psito de Deus, quanto eleio prevalecesse, no por obras, mas por aquele que chama), j fora dito a ela: Omais velho ser servo do mais moo (vv. 11 e 12). E em seguida lemos, no versiculo 22 e seguintes: Quediremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muitalonganimidade os vasos de ira, preparados para a perdio, a fim de que tambm desse a conhecer as riquezasda sua glria em vasos de misericrdia, que para glria preparou de antemo. .

    Mas poderamos, igualmente, apelar para o trecho de Romanos 11:7, que determina: Que diremos, pois?O que Israel busca, isso no conseguiu; mas a eleio o alcanou; e os mais foram endurecidos. E no vers-culo 5 daquele mesmo captulo, lemos: Assim, pois, tambm agora, no tempo de hoje, sobrevive um rema-nescente segundo a eleio da graa. No h que duvidar, porm, que vocs todos esto lembrados dapassagem de 1 Conntios 1:26-29, que estipula: Irmos, reparai, pois, na vossa vocao; visto que no foramchamados muitos sbios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelocontrrio, Deus escolheu as cousas loucas do mundo para envergonhar os sbios, e escolheu as cousas fracasdo mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as cousas humildes do mundo, e as desprezadas, eaquelas que no so, para reduzir a nada as que so; a fim de que ningum se vanglorie na presena de Deus

    Uma vez mais, recordemo-nos de uma passagem como a de I Tessalonicenses 5:9: ..... porque Deus nonos destinou para a ira, mas para alcanar a salvao mediante nosso Senhor Jesus Cristo. E, finalmente,vocs podero considerar o meu texto, o qual, conforme penso, deveria servir de prova suficiente da doutrinada eleio. Entretanto, se vocs continuam precisando de mais provas, podero encontr-las procurando-ascom mais vagar, se porventura no tm conseguido at agora remover as suas dvidas a respeito da doutrina.

    Queridos amigos, a mim parece que esse avassalador acumulo de testemunho bblico deveria deixar bo-quiabertos queles que ousam rir da doutrina da eleio. Que poderamos dizer a respeito daqueles que tofrequentemente tm desprezado essa doutrina, e negado a sua origem divina, que tm escarnecido de suajustia e tm ousado desafiar ao prprio Deus, intitulando-O de tirano todo-poderoso, ao ouvirem dizer queEle escolheu certo nmero de seres humanos para a vida eterna? rejeitador da verdade, podes realmenteextirpar da Bblia essa verdade? Podes brandir o canivete de Jeudi e arrancar essa verdade da Palavra deDeus? Preferirias ser semelhante quela mulher, aos ps de Salomo, que estava disposta a ver a criancinhapartida pelo meio, a fim de ficar com a sua metade? Porventura, no clara a existncia dessa doutrina aqui

    nas Escrituras? E no faz parte do teu dever te inclinares diante da verdade, aceitando humildemente o quepor acaso ainda no pudeste entender dela? e dando-lhe acolhida, embora no possas compreender todo oseu significado?

    No tentarei provar a justia de Deus, por haver Ele escdlhido a alguns para a salvao e ter deixadooutros de lado. No cabe a mim vindicar o meu Senhor. Ele falar por Si mesmo. E Ele efetivamente o faz,dizendo: Quem s tu, homem, para discutires com Deus?! Porventura pode o objeto perguntar a quem ofez: Por que me fizeste assim? Ou no temo oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vasopara honra e outro para desonra? (Romanos 9:20, 21). Alm disso, lemos: Ai daquele que diz ao pai: Porque geras? e mulher Por que ds luz? (Isaias 45:10). Eu sou o Senhor, teu Deus, eu crio a luz e crio astrevas. Sou o Senhor de todas as coisas. Quem s tu, que replicas a Deus? Estremece e beija o Seu cetro;prostrate e submete-te diante de Sua vara; no impugnes a Sua justia, e nem queiras julgar os Seus atosdiante do teu prprio tribunal, homem!

    No obstante, h alguns que objetam: muito difcil aceitar que Deus tenha escolhido a alguns e tenhadeixado a outros! Ora, por esta altura de minha exposio que desejo fazer a vocs uma indagao: Halgum de vocs aqui que deseja ser santo, que deseja ser regenerado, que deseja abandonar o pecado e andarem santidade? E algum poderia responder-me: Sim, eu quero! Pois muito bem, nesse caso, Deus escolheua esse algum. Mas eis que uma outra pessoa talvez replique: No, eu no quero ser santo, e nem querodesistir das minhas paixes e dos meus vcios! Neste ltimo caso, retruco: Por que, ento, voc fica a sequeixando do fato de que Deus no o escolheu? Pois se voc tivesse sido escolhido, no estaria apreciando ofato de ter sido eleito, de acordo com a sua prpria confisso. Se Deus lhe tivesse escolhido para a santidade,ainda nesta manh voc teria acabado de afirmar que no se importaria nem um pouco com isso!

    Porventura, voc j reconheceu que prefere viver no alcoolismo, e no na sobriedade, que prefere viver na

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    desonestidade, e no na honestidade? Voc ama mais aos prazeres mundanos do que piedade crist. Assimsendo, por qual razo voc fica murmurando diante do fato de que Deus no o escolheu para a piedade? Seporventura voc ama a piedade, ento que Deus o escolheu para viver piedosamente. Em caso contrrio,quais direitos voc tem para dizer que Deus lhe deveria ter dado aquilo que voc no deseja?

    Suponhamos que eu tivesse aqui, em minha mo, alguma coisa a que voc no desse valor, e eu dissesseque a daria a esta ou quela pessoa. Nesse caso, voc no teria qualquer direito de queixar-se do fato de queeu no a oferecera a voc. Voc no seria to insensato a ponto de murmurar que aquela outra pessoa obteveaquilo que no lhe interessa nem um pouco. De conformidade com as suas prprias confisses, muitos devocs no apreciam a piedade crist, no querem ser donos de um corao renovado e nem de um espritoreto, no querem receber o perdo dos pecados e nem querem experimentar a santificao. E isso quer dizer,por sua vez, que vocs no gostariam de ter sido escollidos para essas realidades espirituais. Assim, pois, doque vocs ainda esto se queixando? Vocs consideram todas essas coisas como se fossem apenas lixo. E porqual motivo haveriam de queixar-se de Deus, o qual outorgou essas mesmas coisas queles a quem Eleescolheu?

    Mas, se vocs acreditam que essas coisas so boas, e se chegam a desej-las, ento elas esto disposiode vocs. Deus as d liberalmente para todos aqueles que as desejam. Porm, antes de mais nada, Ele faz comque tais indivduos realmente desejem essas bnos, porquanto, do contrrio, jamais poderiam desej-las. Ogrande fato que se vocs chegarem a amar a essas realidades, ento porque Deus ter escolhido vocspara as receberem, e vocs podero obt-las. Mas, por outro lado, se vocs no desejam tais bnos, quemso vocs para descobrirem alguma falta em Deus, quando a prpria vontade obstinada de vocs que osimpede de dar valor a essas coisas "eu" quando o prprio "eu" de vocs que os leva a odiarem essasbnos?

    Suponhamos que um homem qualquer, l na rua, dissesse: Que vergonha que no me tenha sido garantidoum assento no auditrio, para eu ouvir o que esse pregador tem para dizer. No posso tolerar a doutrina dele;e, no entanto, uma vergonha que eu no tenha nenhum assento reservado ali! Algum de vocs espe rariaouvir um homem qualquer dizer coisas dessa natureza? No, pois todos vocs replicariam prontamente:Aquele homem no se importa com essa oportunidade. Por qual motivo ele se sentiria perturbado porqueoutras pessoas possuem aquilo a que elas do valor, mas que ele mesmo despreza? Voc no aprecia asantidade; voc no aprecia a retido. E se Deus me escolheu para essas coisas, isso deixa voc ofendido?

    Porm, algum poderia comentar: Ah! mas que eu pensava que essa doutrina significa que Deus

    escolheu alguns para o cu, e outros para o inferno! A verdade que esse conceito exprime algointeiramente diferente da doutrina do Evangelho. Pelo contrrio, Deus escolheu indivduos para a santidade epara a retido, e, atravs disso, para o cu. Ningum pode dizer que Deus simplesmente escolheu alguns parao cu, e outros para o inferno. Antes, Deus escolheu voc para a santidade, se que voc ama a santidade. Sequalquer um de vocs, aqui presente, aprecia ter sido salvo por Jesus Cristo, ento que Jesus cristo escolheuesse algum para a salvao. Se qualquer um de vocs, aqui presente, deseja obter a salvao, ento queesse algum foi escolhido para receber a salvao, se que a deseja sincera e intensamente. Por outra parte,se voc no deseja ser salvo, ento por qual razo, afinal de contas, voc mostra-se to insensato a ponto demurmurar do fato de que Deus outorgou a outras pessoas aquilo que voc no gosta?

    Assim sendo, tenho procurado esclarecer alguma coisa a respeito da verdade da doutrina da eleio. Masagora, permitam-me declarar, de maneira bem breve, que a eleio se reveste de uma natureza absoluta, ou,em outras palavras, que ela no depende daquilo que somos em ns mesmos. O texto sagrado assevera:

    Deus vos escolheu desde o principio para a salvao..." . E, no entanto, nossos oponentes asseguramque Deus escolhe as pessoas porque elas so boas; que Ele escolhe os indivduos por causa de diversas coisasque eles tenham praticado. Porm, em resposta s idias de nossos oponentes, indago: Quais obras so essas,em vista das quais Deus teria elegido o Seu povo?

    Seriam as obras s quais comumente chamamos de obras da lei obras de obedincia, que a criaturahumana capaz de realizar? Nesse caso, replicaremos aos tais: Se os homens no podem ser justificadospelas obras da lei, parece perfeitamente claro que tambm no podem ter sido eleitos em vista das obras dalei. E se os homens no podem ser justificados por seus feitos corretos, ento que tambm no podem sersalvos atravs dos mesmos. E dai segue-se que o decreto da eleio no pode ter sido baixado com base nasboas obras humanas.

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    Mas eis que alguns outros insistem: Deus escolheu os Seus eleitos com base na f prevista que eles have-riam de ter! Ora, Deus quem nos outorga a f, o que significa que Ele no pode ter selecionado os Seuseleitos com base na f que Ele previu que eles teriam. Suponhamos que havendo vinte pedintes numa rua, eutome a resoluo de dar a um deles uma nota de cinco mil cruzeiros. Entretanto, poderia algum asseverarque eu resolvi doar aqueles cinco mil cruzeiros a um deles, que eu o escolhi para receber aquela importnciaporque eu previ que ele aceitaria os cinco mil cruzeiros? Isso seria dizer asneiras. Por semelhante modo,afirmar-se que Deus escolheu a certos indivduos por haver previsto que eles exerceriam f, o que salvaoainda em forma germinal, seria uma declarao to absurda que no poderamos conferir-lhe ateno, nempor um instante sequer. A f dom de Deus. E cada virtude tambm procede do Senhor. Por conseguinte,nem uma coisa e nem outra pode ter sido a causa que levou Deus a escolher a determinados indivduos,porquanto essa escolha um dom gratuito.

    Estamos plenamente convictos de que a eleio absoluta e inteiramente independente das virtudes que ossantos possam exibir posteriormente. Ainda que um certo crente venha a ser to santo e devoto quanto Paulo;ainda que venha a ser to ousado na f quanto Pedro, ou to cheio de amor quanto Joo, contudo, ele nadapoderia reivindicar da parte de seu Criador. Eu jamais conheci qualquer crente, de qualquer denominaoevanglica, que tenha pensado que Deus o salvou por haver previsto que ele possuiria alguma dessas virtudesou algum de tais mritos.

    Ora, meus irmos, as mais excelentes jias que um santo jamais pode usar neste mundo, se forem jias desua prpria feitura, no sero jias de primeira qualidade. Nessas jias sempre haver algum elementoterreno, misturado com elas. Semelhantemente, a mais exaltada graa que podemos chegar a possuir, envolvealgum elemento terreno. Sentimos isso quando j atingimos o mais elevado refinamento possvel, quando jchegamos a um alto grau de santificao; e mesmo ento a nossa linguagem obrigatoriamente ter de ser

    Sou o principal dos pecadores,Mas Jesus morreu por mim.

    A nossa nica esperana, o nosso apelo exclusivo, continua dependendo unicamente da graa de Deus,conforme ela se manifestou na pessoa de Jesus Cristo. E estou certo de que devemos repelir decididamente edesconsiderar qualquer pensamento que conceba que as graas que possuimos, as quais so dons conferidospor nosso Senhor, que foram em ns plantadas pela Sua mo direita, poderiam ter sido a causa do Seu amorpor ns. Diante disso, cumpre-nos entoar sempre:

    Que poderia haver em ns para merecer estima, Ou conferir deleite ao Criador?Assim foi, Pai, e isso nos anima, Do Teu querer ser nosso Galardoador.

    Terei misericrdia de quem me aprouver ter misericrdia, e compadecer-me-ei de quem me aprouver tercompaixo (Romanos 9:15). Sim, Deus salva porque quer salvar. E se algum me perguntasse por qual mo-tivo Ele me salvou, eu poderia retrucar somente que Ele assim fez porque assim quis fazer. Haveria em mimqualquer coisa que me recomendasse diante dos olhos de Deus? No; sou forado a desconsiderar toda equalquer considerao a esse respeito. Nada tenho que possa recomendar-me diante do Senhor. Quando Deusme salvou, eu era o mais abjeto, o mais perdido e arruinado membro da raa humana. Eu jazia diante de Deuscomo um recm-nascido. Na verdade, faltava-me todo e qualquer poder para ajudar-me a mim mesmo. Oh,quo miservel eu me sentia e sabia ser. Se voc tem alguma coisa que o recomende diante de Deus, eununca tive coisa nenhuma. Antes, fico contente em haver sido salvo pela graa divina, graa pura e semqualquer mistura. No posso jactar-me de quaisquer mritos pessoais. Se voc pode jactar-se de alguma

    coisa, eu no o posso. Antes, s me resta entoar estas palavras:

    S a livre graa, do principio ao fim,Me salvou a alma e suster a mim

    Em terceiro lugar, essa eleio eterna. . . .Deus vos escolheu desde o princpio para a salvao... Podealgum dos presentes dizer-me quando foi o princpio? Poderamos retroceder at aos milnios j passados,quando os mundos foram criados e sistemas foram postos em ordem; mas, em l chegando, nem tenhamosnos aproximado do princpio. Enquanto no recuarmos at ao tempo em que o universo inteiro dormia namente de Deus, como algo que ainda no havia nascido, enquanto no penetrarmos na eternidade, onde Deus,o Criador, vivia solitrio, quando tudo ainda dormia dentro dEle, quando a criao inteira repousava em Seu

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    pensamento todo abrangente e gigantesco, no teremos nem comeado a sondar o principio. Podemos ficarretrocedendo, retrocedendo e retrocedendo, eras e mais eras sem fim. Poderamos ficar retrocedendo, sepudssemos empregar palavras to estranhas, durante eternidades inteiras, e ainda assim no teramoschegado ao principio. Nossas asas cairiam de exausto, nossa imaginao feneceria. Os nossos pensamentospoderiam ultrapassar o corisco de um relmpago em majestade, poder e rapidez, mas tudo isso se extinguiriaantes, muito antes de chegarmos ao principio.

    No obstante, desde o principio Deus escolheu o Seu povo; quando o espao celeste nunca dantes navegadono era ainda agitado pelo marulhar das asas de um nico anjo, quando o espao no tinha limites, oumelhor, nem havia sido expandido, quando imperava um silncio universal, e quando nenhuma voz oumurmrio chocava a solenidade do silncio total; quando ainda no existia qualquer ser, ou movimento, outempo, e quando coisa nenhuma, exceto o prprio Deus, existia, e Ele estava sozinho na eternidade; quando,sem que qualquer anjo levantasse o seu cntico, sem a ajuda do primeiro dos querubins; muitssimo antes dascriaturas vivas terem vindo existncia, ou de terem sido formadas as rodas da carruagem de Jeov. Sim,quando no princpio era o Verbo, quando no principio o povo de Deus era um com o Verbo, foi ento queEle escolheu os Seus eleitos para a vida eterna. Assim sendo, a nossa eleio procede desde a eternidade. Noentanto, no me rebaixarei para tentar provar esse ponto. To-somente citei por alto esses pensamentos,visando o beneficio dos crentes ainda principiantes, a fim de ajud-los a compreender melhor o que queremosdar a entender com eleio eterna e absoluta.

    Em seguida, cabe-nos refletir que a eleio algopessoal. Quanto a esse particular, novamente, os nossosoponentes tm procurado transtornar a doutrina da eleio ao afirmarem que deve estar em pauta a eleio denaes inteiras, e no de indivduos isolados. Entretanto, o apstolo havia declarado: ",,, Deus vos escolheu.. Trata-se de uma das mais miserveis e infundadas distores do mundo, essa que procura mostrar queDeus no escolheu individuos, e, sim, naes inteiras. Porque a mesmssima objeo que pode ser levantadacontra a escolha de indivduos isolados, pode ser lanada contra a escolha de naes. Se houvesse qualquererro em ter Deus escolhido indivduos, teria sido muito mais injusto ainda, da parte dEle, se Ele tivesseescolhido naes, posto que as naes so apenas um agregado de grandes multides de individuos. Eescolher uma nao parece ser um crime mais gigantesco se que a eleio um crime do que escolhermeros indivduos. No h que duvidar que escolher dez mil pessoas deve ser reputado como pior do queescolher um nico indivduo, se tal escolha estiver laborando em erro. Distinguir uma nica nao dentre orestante da humanidade parece-me ser uma estravagncia muito maior, nos atos da soberania divina, do queescolher alguns poucos mortais, ficando outros negligenciados.

    Do que se compem as naes, seno de indivduos? Que so povos inteiros, seno combinaes de dife-rentes unidades? Uma nao qualquer compe-se deste individuo, e daquele, e daquele outro, e mais daqueleainda. E se algum disser-me que Deus escolheu aos judeus, ento eu retrucarei que Deus selecionouaquele judeu, e mais aquele, e aquele outro ainda. E se essa mesma pessoa insistir que Deus escolheu aInglaterra, ento direi que Deus escolheu aquele ingls, e mais aquele ingls, e aquele outro tambm, e maisum outro ingls, Isso posto, tudo redunda na mesma coisa, afinal de contas. Por conseguinte, a eleio umaquesto inteiramente pessoal; necessrio que assim seja. Toda e qualquer pessoa que leia este texto bblico,como tambm quaisquer outras passagens paralelas, ver que as Escrituras continuamente se referem ao povode Deus, destacando indivduo por indivduo; e elas referem-se a cada um deles como um objeto especial daeleio divina.

    Filhos somos pela divina eleio, Por Jesus Cristo, em quem ns cremos; Pela eterna predestinao Graasoberana hoje recebemos.

    Sabemos que a Bblia ensina uma eleio individual. Um outro pensamento que ainda precisamos ventilar que a eleio produz bons resultados. ...Deus vos escolheu desde o principio para a salvao, pelasantificao do Esprito e f na verdade. Um nmero impressionantemente grande de pessoas compreendemal e distorce inteiramente a doutrina da eleio! E quanto a minha alma fica indignada e ferve, ao lembrar-se dos terrveis maleficios resultantes das distores e do manuseio malicioso dessa gloriosa poro dagloriosa verdade divina! Quantos existem que tm dito para si mesmos: Eu sou um dos eleitos! E, tm-sesentado no cio, ou pior ainda do que isso. Esses tais tm dito: Eu sou um dos eleitos de Deus! E ento,com ambas as mos tm praticado a iniquidade. Esses tais tm corrido sofregamente atrs de tudo quanto perverso, porquanto pensam assim: Sou um filho escolhido de Deus, sem importar qual seja a minhaconduta. E, por conseguinte, vivo como bem quiser e fao o que melhor me parecer.

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    importa se vocs so os piores pecadores do mundo, quero lhes dizer em nome de Cristo, que, se vocs seapresentarem diante do Senhor sem quaisquer obras pessoais, se vocs vierem dependendo somente dosangue e da retido de Jesus Crista, se vocs vierem agora mesmo e confiarem nEle, ento vocs pertencem alista dos eleitos ento vocs so amados de Deus desde antes da fundao do mundo, porquanto vocs nopoderiam fazer isso a menos que Deus lhes tivesse outorgado o poder para tanto, e isso porque Ele escolheuvocs justamente para essa finalidade. Nesse caso, vocs estaro salvos e seguros, se vocs se aproximaremde Jesus Cristo e se lanarem aos Seus cuidados, desejando ser salvos e amados por Ele.

    Por outro lado, jamais pensem que qualquer pessoa pode vir a ser salva, se no tiver f e nem santidade.

    Meus amigos, no concebam a idia de que, mediante algum decreto, baixado nas negras eras daeternidade, as almas de vocs possam receber a salvao, a menos que vocs confiem em Cristo. No seacomodem, imaginando que podero ser salvos sem a f e santidade. Essa uma das mais abominveis emalditas heresias que existem, e ela j conseguiu empurrar milhares de pessoas perdio eterna. No faamda eleio uma espcie de almofada sobre a qual vocs podem ficar dormindo; porque, se assim fizerem,voces estaro perdidos. Deus me guarde de estar costurando almofadas para vocs usarem, e assim poderemdescansar confortavelmente em seus pecados. Pecador! Nada existe na Biblia inteira capaz de servir depaliativo para os seus pecados. No entanto, se voc est condenado, homem! e se voc est perdida,mulher! voc no poder encontrar na Biblia uma nica gota que possa refrescar-lhe a lngua, ou uma nicadoutrina capaz de suavizar a sua culpa. A sua condenao estar selada inteiramente por sua prpria culpa, eos seus pecados sero plenamente merecedores dessa condenao. Mas vs no credes, porque no sois dasminhas ovelhas (Joo 10:26). Contudo, no quereis vir a mim para terdes vida (Joo 5:40).

    No imaginem que a eleio possa justificar o pecado no sonhem com isso e nem fiquem seembalando na doce complacncia, pensando que vocs no so responsveis por aquilo que vierem a praticar.A verdade que vocs so responsveis. Ns precisamos levar em considerao ambos os fatores; asoberania divina e o peso da responsabilidade humana. Sim, precisamos considerar a doutrina da eleio; mastambm precisamos dispor favoravelmente os nossos coraes. Compete-nos destacar a verdade de Deusdiante de vocs. Compete-nos advertir a vocs, lembrando-lhes de que est escrito: "... eu te ajudo, diz oSenhor." . (Isaias 41:14), mas que tambm est escrito: A tua runa, Israel, vem de ti. . . (Osias 13:9).

    E, finalmente, quais so as verdadeiras e legtimas consequncias das concepes corretas a respeito dadoutrina da eleio? Em primeiro lugar, ensinarei a vocs o que a doutrina da eleio leva os santos a poremem prtica, sob as bnos de Deus; e, em segundo lugar, o que ela faz em favor dos pecadores, quando Deus

    os abenoa com a Sua eleio.Antes de mais nada, penso que a eleio para um santo uma das doutrinas mais desnudadoras de todo

    este mundo, porquanto isenta-o de toda a confiana na carne, de toda a dependncia a qualquer coisa, exce-tuando Jesus Cristo. Quo frequentemente nos revestimos de nossa prpria retido, adornando-nos com asprolas e gemas falsas dos nossos prprios feitos e das nossas obras. E, ento, comeamos a dizer: Agoraserei salvo, porque tenho esta ou aquela evidncia da minha salvao! Entretanto, bem ao invs disso, aquiloque salva a um pecador a fe pura, despida de qualquer outro fator. Esta f singular une o indivduo crenteao Cordeiro, independentemente de obras, embora a f venha a produzir obras.

    Quo frequentemente apoamo-nos em alguma boa obra, ao invs de nos sustentarmos no Amado denossas almas, ou confiamos em algum poder, ao invs de confiarmos somente naquele poder que vem l doalto. Ora, se quisermos nos despir de todo e qualquer poder que no seja o celestial, ento, forosamente,

    teremos de considerar a eleio como um fator imprescindvel. Faz uma pausa, minha alma, e consideraesta verdade: Deus te amou antes mesmo de vires existncia. Ele te amou quando ainda estavas morta nosteus delitos e pecados; e Ele enviou Seu Filho para morrer e m teu lugar. Ele te resgatou com o Seu preciososangue, antes que pudesses sussurrar o Seu nome.

    Em vista dessesfatos, poders sentir-te orgulhosa e auto-suficiente?

    Novamente, afirmo que desconheo qualquer outra coisa que nos possa humilhar to profundamentequanto a doutrina bblica da eleio. Algumas vezes tenho-me deixado cair no cho e tenho ficado prostrado,diante dessa verdade, quando procuro compreend-la at s suas razes. Nessas ocasies, tenho distendido asminhas asas, e, semelhana de uma guia, tenho alado vo na direo do sol. E assim o meu olhar se temfixado no alvo, e as minhas asas no me tm decepcionado, pelo menos durante algum tempo. Entretanto,

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    Meu Pai, havers de vir.

    Sim, come entregarei a Ti para ser Teu para sempre, mediante a eleio, mediante a redeno, lanando-meinteiramente aos Teus cuidados, consagrando-me solenemente ao Teu servio! E agora, uma palavra final,dirigida aos impios. O que a doutrina da eleio segreda para vocs? Em pri meiro lugar, eu desculparei avocs, incrdulos, por alguns instantes. H muitos, dentre vocs, que no tm a menor apreciao peladoutrina da eleio; e no posso acusar vocs por causa disso. Porquanto alguns pregadores depois depregarem sobre a eleio, tm concludo: No tenho nenhuma palavra a ser dita para os pecadores! Porconseguinte, eu reafirmo: vocs no podem mesmo seno sentir-se desgostosos diante de uma pregao dessaordem; e no culpo vocs por terem esta atitude.

    Porm, afiano: Encoraja-te, enche-te de esperana, pecador, diante do fato de que a eleio divinaexiste! Longe desse fato servir para desanimar-te e desencorajar-te, a realidade da eleio serve de motivo deesperana e do mais intenso jbilo. Que aconteceria se eu declarasse que talvez ningum pode ser salvo, queningum foi selecionado para a vida eterna? No haverias de tremer, de torcer nervosamente as mos, numcompleto desespero? E no dirias: Como que eu poderei vir a ser salvo, se ningum foi escolhido? Diantedessa indagao, respondo que h uma grande multido de pessoas eleitas, formando um nmero to grandeque ningum pode computar um exrcito que nenhum mortal capaz de contar. Por conseguinte, reanima-te, pobre pecador! Livra-te da tua melancolia, pois no poderias ter sido escolhido pelo Senhor, tal comoqualquer outra pessoa? Considere que h um exrcito inumervel de eleitos. Para ti, h em reserva consolo egrande jbilo!

    Porm, em seguida a isso, convm que no somente adquiras uma nova coragem, mas tambm vs at aoSenhor, a fim de experiment-Lo. Lembra-te de que se porventura no s um dos eleitos, nada tens a perdercom isso. Que foi que disseram os quatro leprosos?

    Vamos, pois, agora, e demos conosco no arraial dos giros; se nos deixarem viver, viveremos, se nos mata-rem, to-somente morreremos (II Reis 7:4). Oh, pecador! aproxima-te do trono da misericrdia selecio-nadora. Podes morrer, ai mesmo onde te encontras. Vai a Deus; e, mesmo supondo que Ele venha a repelir-te, e mesmo supondo que, de mos erguidas, Ele te mande embora algo simplesmente impossvel deacontecer contudo, ainda assim no perders coisa nenhuma, porquanto no ficars mais condenado aindapor causa disso.

    Acrescente-se a isso que, supondo-se que venhas a ser condenado, ainda assim ters a satisfao de, pelo

    menos, poderes erguer os teus olhos no inferno, e dizeres: Deus, eu pedi misericrdia de Ti, mas noquiseste d-la a mim; eu a busquei, mas Tu a negaste! No, pecador, isso algo que nunca poders fazer. Eisso porque, se te aproximares de Deus e Lhe pedires misericrdia, havers de receb-Ia. Pois at hoje oSenhor no rejeitou a sequer um pecador penitente! E isso no redunda em esperana para ti? Pois severdade que existe um numero pr-determinado de eleitos, tambm verdade que todos quantos buscam aoSenhor pertencem a esse nmero. Portanto, aproximaste do Senhor e busca-O. E, se por acaso fores oprimeiro a ser lanado no inferno, ento poders dizer aos demnios que pereceste da seguinte maneira diz aos demnios que tu s um rejeitado, embora te tenhas apresentado diante de Jesus como um pecadorculpado. Asseguro-te que isso seria uma desgraa para o Deus eterno com toda a reverncia devida ao Seunome e que Ele jamais permitir que tal coisa venha a acontecer. Deus tem cimes de Sua prpria honra, eEle nunca permitir que um pecador possa alegar tal coisa.

    Mas, ah, pobre alma! No somente deves pensar dessa maneira, isto , que no poder perder coisaalguma sete aproximares de Deus. Pois resta ainda um outro pensamento. Aprecias tu a idia da eleio,hoje? Ests disposto a admitir que a eleio uma doutrina justa? Porventura s capaz de dizer Sinto queestou perdido, pois bem o mereo; e que se um meu irmo for salvo, no poderei murmurar. Se Deus chegara destruir-me, porque assim o mereo. Contudo, se por acaso Ele salvar a pessoa que est sentada ao meulado, Deus tem o direito de fazer o que Ele bem entender com aqueles que Lhe pertencem, e eu mesmo noterei perdido coisa alguma com isso! Voc pode dizer isso honestamente, do fundo do teu corao? Nessecaso, a doutrina da eleio ter produzido um correto efeito sobre o teu esprito, ej no estars longe doreino dos cus.

    Foste conduzido at onde deverias encontrar-te, trazido pelo Esprito de Deus at onde Ele queria queestivesses. E, sendo essa a tua situao, podes sair daqui em paz, porquanto Deus perdoou os teus peca-dos.

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    No estarias te sentindo como te sentes, se no tivesses sido perdoado; no estarias te sentindo assim, se oEsprito de Deus no estivesse operando em tua vida. Por conseguinte, regozija-te nessa realidade. Que a tuaesperana repouse inteiramente sobre a cruz de Cristo. No deves ficar pensando sobre a eleio, e, sim,sobre Jesus Cristo. Descansa em Jesus Jesus no princpio, no meio e sem nunca chegar ao fim.