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http://www.escravidaoeliberdade.com.br

2019

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9º ENCONTRO ESCRAVIDÃO E LIBERDADE NO BRASIL MERIDIONAL

COMISSÃO ORGANIZADORABeatriz Gallotti MamigonianHenrique Espada LimaWaldomiro Lourenço da Silva JúniorLuana TeixeiraCristina DallanoraMaysa Espíndola SouzaFlávia DarossiDiego SchibelinskiAndré Fernandes PassosMaria Aparecida Anacleto ClemênciaHudson Louback Coutinho

COMITÊ CIENTÍFICOBeatriz Gallotti Mamigonian – Universidade Federal de Santa CatarinaHelen Osório - Universidade Federal do Rio Grande do SulHenrique Espada Lima – Universidade Federal de Santa CatarinaJaime Rodrigues – Universidade Federal de São PauloJoseli Maria Nunes Mendonça – Universidade Federal do ParanáKarl Monsma – Universidade Federal do Rio Grande do SulLucia Helena Oliveira Silva – Universidade Estadual Paulista – Unesp-AssisMartha Daisson Hameister – Universidade Federal do ParanáRegina Célia Lima Xavier – Universidade Federal do Rio Grande do SulWaldomiro Lourenço da Silva Júnior – Universidade Federal de Santa Catarina

INSTITUIÇÕES PROMOTORAS Programa de Pós-Graduação em História da UFSCPrograma de Pós-Graduação em História da UFRGSPrograma de Pós-Graduação em História da UFPRPrograma de Pós-Graduação em História da UNESP-AssisPrograma de Pós-Graduação em História da UNIFESP

FINANCIAMENTO

APOIO:

CADERNO DE RESUMOS: PREPARAÇÃO – Beatriz G. Mamigonian e Maysa Espíndola; DIAGRAMAÇÃO: João Henrique Moço; CAPA: Júlia Lucian, com base na fotografia Fundos do Primeiro Mercado de Desterro/Florianópolis, Gustavo Pfaff, c. 1890

E56n Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional (9. : 2019 : Florianópolis, SC). 9º Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional [recurso eletrônico] : caderno de resumos / organizadoras, Beatriz Gallotti Mamigonian, Maysa Espíndola Souza. – Dados eletrônicos. – 1. ed. - Florianópolis : Edições do Bosque /CFH/UFSC, 2019. 136 p. Evento realizado na Universidade Federal de Santa Catarina, no período de 14 a 18 de maio de 2018. E-book (PDF) Disponível em: <www.escravidaoeliberdade.com.br> ISBN 978-85-60501-36-6 1. História – Brasil - Congressos. I. Mamigonian, Beatriz Gallotti. II. Souza, Maysa Espíndola. III. Título.

CDU: 981

Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina

Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Jonathas Troglio – CRB 14/1093

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Apresentação ................................................................. 5

Locais das atividades ..................................................... 7

Quadro geral da programação ......................................... 8

Programação e resumos ................................................ 9

Índice de autores, comentadores e conferencistas .... 132

Sumário

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5Caderno de Resumos

Apresentação

Sejam todas e todos muito bem vindos ao 9º Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional!

Nosso Encontro chega à nona edição, volta a Florianópolis e renova a disposição de reunir pesquisadores da história da es-cravidão no/do sul do Brasil a pesquisadores de outras regiões, de colocar em diálogo diferentes escolas historiográficas e de integrar alunos de graduação e pós-graduação ao debate.

Nesta edição, temos cerca de 100 pesquisadores inscritos para apresentação de comunicações orais e pôsteres, vindos de praticamente todos os estados o Brasil, mas sobretudo do Sul e do Sudeste. Temos também a participação de pesquisadores estrangeiros.

O crescimento e o amadurecimento da área se deram em período de expansão do sistema universitário e dos programas de pós-graduação no país e de grande investimento público em pesquisa. A renovação é notável, pelo movimento de expansão das fronteiras geográficas internas e externas das pesquisas, pela busca de novas temáticas e, sobretudo, pelo perfil dos pes-quisadores. A história da escravidão continua relevante e incon-tornável para o entendimento do Brasil. Não é uma página virada. Mais de 130 anos depois da abolição da escravidão, só cresce a importância de se pesquisar o tráfico atlântico e interno, o tra-balho nas diferentes atividades e regiões, a família, a cultura e o associativismo, a resistência à escravidão e à discriminação racial, a religiosidade, a classe senhorial e a política, as alforrias, a legislação, o abolicionismo e as trajetórias individuais e coletivas de africanos e seus descendentes e suas lutas por dignidade.

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6 9º ENCONTRO ESCRAVIDÃO E LIBERDADE NO BRASIL MERIDIONAL

Apresentação

Como nas outras edições, o Encontro é promovido em cola-boração pelos Programas de Pós Graduação em História da UFSC, da UFRGS, da UFPR, da UNESP-Assis e da UNIFESP, por meio de seus professores que são integrantes do Grupo de Pesquisa do CNPq “A experiência dos africanos e seus descendentes no Bra-sil”. Os Anais desse Encontro, assim como dos anteriores, ficam disponíveis na página http://www.escravidaoeliberdade.com.br/

O 9º Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional tem o financiamento – indispensável – do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq), da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC) e ainda da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Edital Memórias Brasileiras – Biografias por meio do projeto Afrodescendentes na Região Sul.

Agradecemos a presença e engajamento de todos os par-ticipantes – o Encontro não seria possível sem vocês! – e dese-jamos dias muito produtivos.

Comissão Organizadora

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7Caderno de Resumos

Locais das atividades

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANASRua Eng. Agronômico Andrei Christian Ferreira , 330 – CarvoeiraFlorianópolis, SC

• Secretaria, exposição de pôsteres e lançamento de livros: Hall do Bloco B

• Conferências: Auditório do CFH (Bloco B, Térreo)

• Sessões de comunicações:

1) Auditório do Bloco E (Térreo)

2) Auditório Carlos Augusto Figueiredo Monteiro (Bloco F, 7º andar)

3) Mini-Auditório do CFH (Bloco B, 2º andar)

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8 9º ENCONTRO ESCRAVIDÃO E LIBERDADE NO BRASIL MERIDIONAL

Quadro geral da programação

 14/05

terça-feira15/05

quarta-feira16/05

quinta-feira17/05

sexta-feira18/05

sábado

Manhã9h30-12h

 Sessões

01-03Sessões

10-12Sessões

19-21Roteiro

Tarde13h30-17h30

 

Sessões 04-06

-- intervalo --

Sessões 07-09

Sessões 13-15

-- intervalo --

Sessões 16-18

Sessões 22-24

-- intervalo --

Sessões 25-27

Roteiro

Fim da tarde  

18hCredenciamento

Apresentação pôsteres

Lançamento de livros

Plenária de encerramento

 

Noite19h

Conferência de abertura:

Juliana Barreto Farias

Mesa-Redonda: Pós-Abolição

Conferência: Paulina Alberto

   

 

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9Caderno de Resumos

14/05/2019 - 18h - 19h

CredenciamentoLocal: Hall do Bloco B

14/05/2019 - 19h - 21h

Conferência: “Não existe cativo que não queira ser livre”: significados da escravidão e da liberdade no Senegal (Saint-Louis e Gorée/século XIX)• Profa. Juliana Barreto Farias (UNILAB)Local: Auditório do CFH (Bloco B)

Nos últimos anos, a historiografia da escravidão no mundo atlântico vem usando, cada vez mais, o conceito de agência enquanto ferramenta fundamental de análise. E não se trata simplesmente de negligenciar qualquer exame estrutural dos sistemas escravistas, mas sim de privilegiar escolhas, vontades e comportamentos de homens e mulheres tornados cativos. Nesse percurso, garimpar a «voz» de escravizados e libertos em diferentes arquivos tem sido essencial para transformá-los em atores de sua própria história. Se nem sempre são registros feitos direramente por eles, configuram-se como manifes-tações de suas aspirações e memórias. Quando nos voltamos para alguns espaços no Atlântico, o cenário mostra-se bem promissor nesse sentido. Para esta conferência, o foco estará em dois desses lugares, praticamente desconhecidos em nossas abordagens historiográficas sobre escravidão e liberdade: as cidades de Saint-Louis e Gorée, no Senegal. A partir do século XVIII, essas duas ilhas da costa ociden-tal africana foram se estabelecendo como sociedades escravistas, tributárias do comércio atlântico. Embora totalmente integradas à cultura marítima setecentista, ainda mantinham fortes laços com as sociedades do continente africano. Só mesmo nas primeiras décadas

Programação e resumos

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do século XIX, os franceses estabeleceram um controle mais efetivo sobre a região. E até pelo menos meados do oitocentos, escravos, ex-escravos e “livres de cor” continuaram como os grupos majoritá-rios das ilhas. Nos arquivos e instituições de pesquisa do Senegal e da França, encontramos uma vasta documentação sobre esses homens e mulheres, e um conjunto significativo de fontes em que conseguimos ouvir suas «vozes». A exemplo de um longo inquérito sobre um pro-jeto de emancipação dos cativos no Senegal, em que uma comissão de «notáveis» entrevistou, em 1844, homens e mulheres de todas as «classes» e «raças» em Saint-Louis e Gorée. Durante mais de três meses, foram colhidos depoimentos de cerca de 360 pessoas, entre ne-gociantes europeus; africanos e africanas livres (ditos «noirs libres» e «nègresses libres»); signares (grandes negociantes mestiças); escravos e ex-escravos. Partindo deste inquérito e também de outros registros das primeiras décadas do século XIX, abordarei, nesta conferência, os diferentes significados da escravidão e da liberdade no Senegal, espe-cialmente para as populações escravizadas e os libertos e «livres de cor». Ao nos aproximarmos desses homens e mulheres, será possível perceber suas expectativas pessoais e familiares em torno dos proje-tos de abolição em discussão naquele momento; o que diziam de si e do «cativeiro» e o que esperavam de uma nova vida em liberdade. A abolição da escravidão, com indenização dos proprietários, ocorreu no Senegal e em outras colônias francesas em 1848. Contudo, desde fins do século XVIII, os debates sobre a emancipação já haviam ganhado as ruas e gabinetes de diferentes espaços do Atlântico. Assim, também buscarei apontar como as discussões que estavam acontecendo em Saint-Louis e Gorée podem ser conectadas a debates e experiências em outras regiões africanas, a exemplo de Gâmbia e Serra Leoa, e também à Europa e às Américas.

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11Caderno de Resumos

SESSÃO 01 » ESCRAVIDÃO E PÓS-ABOLIÇÃO POR NOVAS LENTESLocal: Mini-auditório do CFH (Bloco B, 2º andar)Coordenadora e comentarista: • Ivana Stolze Lima (FCRB)

Memórias subterrâneas e significados do silêncio sobre o passado escravista brasileiro: primeiras reflexões sobre os resquícios da memória oral sobre a Revolta de Carrancas (Minas Gerais – 1833). • Marcos Ferreira de Andrade (UFSJ)

A proposta dessa comunicação consiste em apresentar os primeiros resultados da pesquisa sobre narrativas do tempo do ca-tiveiro, realizadas nos municípios de Carrancas, Cruzília e São Tomé das Letras, particularmente sobre as lembranças fragmentadas que aparecem no decorrer das entrevistas, realizadas com os moradores mais antigos das regiões mencionadas. Do ponto de vista metodo-lógico, foram utilizadas as orientações próprias da história oral e de entrevistas semiestruturadas, com enfoque para a história de vida e as experiências dos antepassados que remetem, de algum modo, ao tempo da escravidão. Do ponto de vista teórico se faz necessária uma reflexão sobre memória, esquecimento e silêncio, partindo do diálogo com textos clássicos sobre memória coletiva e individual, batalhas e lugares de memória, especialmente a partir das obras de Maurice Halbwacs, Pierre Nora e Jacques Le Goff e sobre memórias subterrâneas e esquecimento, a partir as análises de Michael Pollak. Em relação à Revolta de Carrancas, é impressionante o tratamento exemplar dado aos escravos insurgentes e ao fato de ter dado origem a uma lei de exceção, promulgada cinco anos após ao nosso primeiro Código Criminal, que já punia com a pena de morte os escravos que participassem de uma insurreição ou matassem o seu senhor. A his-tória da revolta atravessou mais de um século e meio quase em total esquecimento. Em relação à historiografia, esse silêncio merece uma

15/05/2019 - 09h30 - 12h

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reflexão a parte. É impressionante observar que, passados 185 anos, as lembranças fragmentadas da memória sobre a revolta de Carran-cas ainda permanecem entre os descendentes dos ex-senhores e ex-escravos da região.

“História que a história não conta”: reflexões sobre as contribuições da fotografia para a História a partir do livro Imagens de africanos e afrodescendentes em Porto Alegre.• Regina Celia Lima Xavier (UFRGS)

No Rio Grande do Sul a experiência da escravidão foi expressiva tanto numérica quanto socialmente. Apesar disso e de uma pungente historiografia que não cessa de crescer e de se densificar nestas últi-mas décadas, ainda testemunhamos a surpresa de um público externo à universidade e, mesmo de estudantes, a respeito das experiências de africanos e afrodescendentes no Rio Grande do Sul. Estas experiências, no entanto, foram bem registradas nas lentes de vários fotógrafos, em geral europeus, que passaram pela Província no final do século XIX e nas primeiras décadas do XX, compartilhando o entusiasmo pela téc-nica e pela arte fotográfica. As fotografias realizadas neste momento podem dar uma contribuição importante aos debates, pois constituem uma fonte excepcional para mediar um diálogo entre a pesquisa e a divulgação dos conhecimentos em construção sobre o tema. A comu-nicação, baseada no livro de fotografias publicado em 2018, pretende refletir sobre as riquezas e os limites desta fonte e a importância de levar a um público mais abrangente o conhecimento adquirido sobre a escravidão e a liberdade nas pesquisas históricas colaborando para o debate de uma história pública.

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13Caderno de Resumos

Escravidão e Liberdade na série de folhetins Scenas Comicas de Francisco Correa Vasques (Gazeta da Tarde, Rio de Janeiro, 1883-1884). • Silvia Cristina Martins de Souza (UEL)

Imprensa e tablado foram utilizados à exaustão como arenas de propaganda para a campanha abolicionista nos anos 1880, momento em que o abolicionismo tornou-se um movimento social que agregou uma pluralidade de indivíduos, eventos, práticas, espaços e associa-ções. Entre 1883-1884, o famoso ator e dramaturgo fluminense Fran-cisco Correa Vasques passou a atuar na Gazeta da Tarde (RJ), periódico abolicionista de propriedade seu amigo José do Patrocínio, assinando a série de folhetins intitulada Scenas Comicas. Nela ele valeu-se da popularidade que já desfrutava nos tablados, comícios, matinês e con-ferências abolicionistas dos quais participava ativamente para investir num novo espaço de propaganda trazendo para o rodapé do jornal os temas da escravidão e da liberdade. Nessa comunicação objetiva-se analisar os folhetins da série que tratam da escravidão e da liberdade procurando entender a forma como a literatura foi por ele utilizada como instrumento de intervenção num processo mais amplo que levou à deslegitimação do escravismo no Brasil.

A “fim de combater estultos preconceitos de raça” nasce a imprensa negra em Santa Maria/RS, em 1919: Levantamento dos jornais, a partir da Campanha de Preservação dos Jornais da Imprensa Negra.• Franciele Rocha de Oliveira (UFSM)• Taiane Anhanha Lima (UFSM)• Guilherme Vargas Pedroso (UFSM)

Fundado em 24 de março de 2016, o Grupo de Estudos sobre o Pós-Abolição - GEPA, da Universidade Federal de Santa Maria, tem por objetivo refletir sobre o pós-Abolição, para além de um período da História marcado pela Lei Áurea, entendido, sobretudo, como um

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campo de estudos, dedicado a estudar os “problemas” que implicam sobre a formalização das liberdades negras. Abarca, principalmente, reflexões sobre as experiências negras em escravidão e liberdade, seus protagonismos, suas trajetórias e formas de resistência. Visando colaborar com o acesso às fontes da comunidade negra local, o GEPA decidiu, no último ano, adentrar o universo da Imprensa Negra Meridio-nal, olhando para as experiências de jornais de Santa Maria/RS. Entre outras questões, buscou identificar tais fontes, reuni-las, compreender quem são seus protagonistas, seus objetivos, principais ações, mo-dos de atuação e, sobretudo, o que expressavam, pensavam e diziam, colaborando, assim, para entender esta intelectualidade negra, alvo de desigualdade e racismo. Como vêm mostrando diversos estudos, compreender a existência e a realização desta imprensa é ouvir vozes negras esquecidas, muitas vezes subestimadas. É colaborar para a ruptura de estereótipos sobre estas comunidades, que também tinham suas epistemologias, conhecimentos e intelectualidade e se colocavam a serviço dos seus iguais na defesa de suas liberdades, cidadania e no combate a desigualdade racial. Infelizmente, pouco se sabia sobre a Imprensa Negra de Santa Maria e seus sujeitos. Seus jornais encon-travam-se dispersos. Assim, o GEPA compreendeu que era chegado momento de ir aos seus encontros, colaborando para romper com a invisibilidade sobre tais feitos e elaborou a “Campanha de Preserva-ção dos Jornais da Imprensa Negra de Santa Maria”, lançada em 14 de novembro de 2018. A Campanha tem como intuito localizar os jornais negros, além de identificar seus sujeitos criadores, descendentes e guardiões desta Imprensa Negra, construindo uma rede de apoio para preservar estas importantes fontes, que ajudam a contar a História dos protagonismos negros na cidade. O presente artigo visa apresentar os primeiros resultados deste projeto. Até o momento sabe-se da exis-tência de, pelo menos, 5 periódicos: O Rebate, O Succo, O Vaqueano, O Tigre e A Voz do Treze. Através de suas páginas, localizamos menção àquele que teria sido o mais remoto destes jornais, O Rebate, em 1919, com “[...] o fim de combater estultos preconceitos de raça”, conside-rado semanário “critico-litterario”, sob a direção dos senhores Arlindo Andrade, Luiz Almeida e Honório do Prado.

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SESSÃO 02 » POLÍTICA DA ESCRAVIDÃOLocal: Auditório Carlos Augusto Figueiredo Monteiro (Bloco F, 7º andar)Coordenador e comentarista: • Thiago Campos Pessoa (UFF)

Escravidão, relações internacionais e as causas da Guerra do Paraguai.• Keila Grinberg (UNIRIO)

As causas da Guerra do Paraguai (1864-1870), vêm sendo discuti-das desde o seu fim, e permanecem objeto de polêmica entre historia-dores. Nesta apresentação, analiso a relação entre a conjuntura política brasileira e o processo de abolição da escravidão no Uruguai entre as décadas de 1840 e 1860. Pretendo argumentar que a presença de indi-víduos escravizados e de proprietários brasileiros de terras e escravos em território uruguaio afetou as relações internacionais entre os países da região do Prata no século XIX, contribuindo fundamentalmente para o crescimento das tensões que levaram ao início da guerra. Para além da argumentação específica, ao utilizar documentos e métodos típi-cos da história política tradicional e da história social, também busco defender a pertinência da análise das relações internacionais a partir da perspectiva da história social. Assim, pretendo demonstrar que os fenômenos da passagem de indivíduos pelas fronteiras, das fugas de escravizados, da violência do recrutamento de exércitos e milícias uruguaios e brasileiros e dos ataques às comunidades de negros li-vres e libertos ocorridos neste período têm uma importante dimensão internacional, cuja compreensão é fundamental para o entendimento das origens da Guerra do Paraguai.

15/05/2019 - 09h30 - 12h

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A Lei do Ventre Livre e a reformulação da política da escravidão no Brasil.• Bruno da Fonseca Miranda (USP)

Em 1871, frente ao quadro internacional desfavorável a escravidão (a libertação dos servos russos, o avanço do abolicionismo no Impé-rio Espanhol e, notadamente, a Guerra Civil Americana) e ao quadro nacional no qual apareciam associações abolicionistas pelo território brasileiro, o gabinete chefiado pelo visconde do Rio Branco aprovou a libertação dos escravos nascituros, que ficou conhecida como a Lei do Ventre Livre. Imbuídos de um forte “reformismo conservador”, os proponentes da nova legislação asseveravam que o ventre livre era um compromisso moderado que adequaria o Brasil ao cenário internacional e que controlaria o avanço de qualquer radicalismo abolicionista no pa-ís. Ao mesmo tempo, contudo, esse compromisso também resguardaria o cativeiro, base da economia imperial, pelo máximo de tempo possível na medida em que havia a ideia da lei ser a última palavra na legisla-ção escravista. Assim, diferentemente dos decênios anteriores, para salvaguardar a ordem agrícola sustentada nas agruras dos grilhões foi necessário abandonar a irrestrita defesa da escravidão e estabelecer seu fim, ainda que num longínquo horizonte. Nesse sentido, é possível conjecturar que na década de 1870 houve uma reformulação na política da escravidão no Império do Brasil. Entender essa reformulação políti-ca, suas consequências para a monarquia brasileira e os atritos gerados por ela tanto entre os políticos imperiais quanto entre os proprietários de escravos são os objetivos do presente texto.

Tempo de reformas: Estado e economia-mundo na gênese do movimento abolicionista (1872-1881).• Alain El Youssef (USP)

Desde o começo do século XX, uma das grandes questões que norteia os estudos sobre o movimento abolicionista residiu nas causas que teriam propiciado a formação de um grupo amplo, insti-

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tucionalizado e disposto a militar pelo fim da escravidão entre 1879 e 1880. As respostas fornecidas até então variaram significativa-mente, ora gravitando em torno de questões políticas e sociais mais imediatas, ora recorrendo a explicações de natureza mais estrutural. Diferentes em muitos aspectos, tais interpretações guardam um ponto em comum: em maior ou menor grau, todas operaram dentro da unidade de análise do nacionalismo metodológico, recorrendo quase exclusivamente a variáveis históricas presentes dentro das fronteiras imperiais para interpretar a formação do primeiro movi-mento social de massas brasileiro. Sem ignorar as variáveis internas, a apresentação visa ampliar a unidade de análise para demonstrar que o surgimento do movimento abolicionista dependeu, em grande medida, de duas condições estruturais que foram se cristalizando durante a década de 1870: a incapacidade de reorganização ins-titucional do Estado imperial e a inserção da economia brasileira nos circuitos mercantis da economia-mundo da segunda metade do século XIX. Ao agudizarem as relações sociais dentro do Impé-rio, tais condições estiveram na base da formação do movimento abolicionista durante o gabinete Sinimbu, cuja guinada em prol dos interesses escravistas deu o impulso final para o deslanche do abo-licionismo em todo o Império.

Com a consciência tranquila: navios negreiros e tripulantes portugueses no tráfico de escravos para o Brasil (1818-1828)• Jaime Rodrigues (UNIFESP)

Para os navios negreiros partidos do Brasil após a Indepen-dência, as consequências decorrentes dos acordos diplomáticos do início do século XIX são bem conhecidas. Quanto aos negreiros atu-antes desde Portugal, o conjunto de autos de justificação tramitados na Junta do Comércio lisboeta revelam informações importantes. Esta comunicação pretende apresentar essa fonte, apontando suas potencialidades para além de simples evidências de cumprimento ou burla dos acordos diplomáticos. Pelos autos de justificação da

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18 9º ENCONTRO ESCRAVIDÃO E LIBERDADE NO BRASIL MERIDIONAL

Junta do Comércio em Lisboa, podemos quantificar os navios e seus tripulantes, estabelecer suas rotas, saber quais eram as conexões empresariais dos proprietários desses navios, sondar a existência de redes de negócios, refletir sobre a denominação e a tipologia desses navios, desconfiar das evidências de ilegalidade nesse comércio e traçar um perfil das tripulações.

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19Caderno de Resumos

SESSÃO 03 » TRABALHO DOMÉSTICOLocal: Auditório do Bloco ECoordenadora e comentarista: • Daniela F. Sbravati (Prefeitura Municipal de Florianópolis)

“De portas a dentro”- afetividades, família, resistência e escravidão doméstica nas plantations cafeeiras do Vale do Paraíba (Brasil, século XIX). • Mariana de Aguiar Ferreira Muaze (UNIRIO)

As plantations cafeeiras do Vale do Paraíba Fluminense (centro--sul do Brasil) eram complexos econômicos escravistas fornecedores de matérias primas para os Estados Unidos e a Europa durante a chamada Segunda Escravidão. Entre 1820 e 1860, suas casas grandes funcionavam não só como espaços de produção, mas também de mo-radia, afetividade e intimidade. Ali viviam uma variedade de escravos domésticos que interagiam cotidianamente com a família senhorial e com outros escravos, “de dentro” e do eito. O presente trabalho in-vestiga estas relações e, ao mesmo tempo, busca responder: o que signifiicava ser um escravo doméstico? Quais as principais funções e hierarquias internas existentes no grupo? Que relações tinham com outros escravos e libertos? Possuíam família? Seus familiares eram outros escravos domésticos? Quais lugares as mulheres e crianças ocupavam nos seus grupos familiares visto que eram a maioria dos cativos a viver e trabalhar dentro das casas grandes? Pensar estas questões também é refletir sobre as afetividades possíveis nestes espaços de moradia e trabalho, intimidade e produção, buscando criticar a noção de “escravidão doméstica docilizada” que caracterizou uma historiografia fundadora do tema, a exemplo de Gilberto Freyre (Casa Grande & Senzala, 1933). Em termos de fontes e metodologia, este projeto recorre a inventários, testamentos, processos crime, cartas de alforria, anúncios de jornais, cartas familiares e fotografias para construir bancos de dados e cruzar informações, qualitativas e

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quantitativas, de diferentes origens que permitam pensar as relações entre senhores e escravos no ambiente das plantations cafeeiras, bem como analisar as formas de resistência escrava no contexto da intimidade doméstica.

Damásia, Quitéria e Felícia: dos sonhos de liberdade e estratégias de resistência escrava na Villa de Castro (1850-1860).• Mariani Bandeira Cruz Oliveira (UFRGS)

Neste trabalho analisamos a trajetória de escravas que viveram na Vila de Castro (Província do Paraná) durante o século XIX e que a seu próprio modo questionaram as regras explícitas do mundo social escravista em que os homens ocupavam os postos de comando. A proposta teve como objetivo refletir sobre as estratégias adotadas principalmente por três mulheres escravas na tentativa da obtenção de suas liberdades. Durante o tempo que durou a escravidão no Brasil as resistências ao cativeiro foram frequentes. Quando a Carta de al-forria parecia distante, os escravos forjavam sua liberdade por meio das fugas, rebeliões ou até mesmo recorrendo a práticas violentas contra seus senhores e/ou feitores. Para obter a liberdade as mulheres escravas criavam estratégias, teciam relações sociais e afetivas para, em algum momento partirem para a insubordinação, fugirem dos domí-nios escravistas. E assim, procuravam se apropriar dos mais variados mecanismos disponíveis no contexto escravista no qual estavam in-seridas, teciam táticas e estratégias para auferir o que consideravam fundamental para suas vidas, a liberdade. Este estudo apoiou-se em dois documentos judiciais – Autos de Interrogatório e Processo-Cri-me – ambos desenrolados na vila castrense, durante as décadas de 1850 e 1860. Os dados revelam que embora suas histórias se cruzam numa vila interiorana da província paranaense, nem todas nasceram lá. Quitéria e Felícia eram da província de São Paulo e foram acusadas de envenenar o seu senhor e Damásia lançou-se à fuga na tentativa de escapar dos domínios de sua senhora. A história das três cativas é de

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sonhos, dominação e resistência. Viver como escrava no oitocentos era enfrentar diversas agruras, sem falar dos abusos e das humilhações dos domínios senhoriais. Apesar dessas histórias estarem situadas em fatos individuais, englobam contextos muito mais amplos, pois, suas experiências lançam feixes de luzes sob as ações e reações das mulheres no cativeiro. Ambas as histórias têm em comum as relações envolvendo senhores e escravas e estas mulheres em algum momento de suas vidas foram miradas com desconfianças pelos que se encon-travam a sua volta e apontadas como subversivas, por isso, registradas nos documentos judiciais da época.

Asylo de Meninas Órfãs e Desamparadas Nossa Senhora Auxiliadora do Ypiranga: relações raciais e educação feminina na São Paulo pós-abolição.• Lígya Esteves Sant Anna de Souza (USP)

A abolição da escravidão e o recebimento de grandes fluxos imigratórios promoveram modificações específicas no campo do tra-balho doméstico na cidade de São Paulo. A transformação de amos em patrões, resultante da Lei Áurea, foi acompanhada por medidas “modernizadoras” das relações de trabalho, estimadas por uma elite que paulatinamente adquiria novo repertório moral procedente do republicanismo. Portadoras de uma estimada bagagem cultural euro-peia, trabalhadoras estrangeiras eram favoritas para o desempenho de serviços domésticos em comparação com a força de trabalho na-cional, carente de formação educacional e profissional e fortemente associada ao “atraso cultural” que a escravidão representava. Porém, nos primeiros anos do período republicano, projetos para adequação moral e cultural dos trabalhadores brasileiros foram postos em prática, com algum destaque para o campo da educação formal feminina. Na tentativa de melhor compreender este processo, propomos analisar o emprego de conceitos de raça e cor dentro de um ambiente de aco-lhimento e educação de meninas socialmente vulneráveis: O Asilo de Meninas Órfãs Desamparadas Nossa Senhora Auxiliadora do Ipiranga,

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fundado em 1896 na cidade de São Paulo. Esta instituição ocupou lugar central no projeto assistencial-pedagógico idealizado por José Vicente de Azevedo, advogado o político membro do Partido Republicano Pau-lista, cujo intuito era formar a futura mão-de-obra paulista de modo a melhor “servir à construção da pátria” (sic). Neste ambiente meninas aprenderam os recursos necessários para o bom desempenho do traba-lho doméstico – como aulas de costura e economia doméstica-, conte-údos escolares formais como aritmética, história universal e gramática, além da educação religiosa. A documentação analisada corresponde aos registros administrativos do Asilo produzidos no período entre sua inauguração e a década de 1950, contando livro de registro de internas, pedidos de internação (formais e informais) realizados por tutores; avaliação sobre as condições em que as candidatas e suas famílias se encontravam no momento da internação; lista de frequência e avaliação de aprendizagem; registros patrimoniais da instituição; regulamen-tação interna, entre outros. Através dela buscaremos compreender o cotidiano vivenciado por estas garotas, e investigar em que medida a leitura de suas cores e origens pautou suas respectivas experiências.

“O fato mais importante da quinzena”: A construção de uma memória para a abolição compartilhada com as mulheres. • Daniela Magalhães da Silveira (UFU)

A Estação: Jornal Illustrado para a Família foi publicada quinze-nalmente entre 1879 e 1904. Nesse longo período, testemunhou várias mudanças no cenário político e social do país. Compondo um grande empreendimento editorial, o periódico tinha as mulheres como seu principal público. Elas eram leitoras de crônicas teatrais, contos e romances. Por aquelas páginas também recebiam conselhos sobre criação de filhos, vestuário e organização da casa. Entre questões aparentemente mais amenas, é possível encontrar registros sobre as mudanças nos mundos do trabalho. As senhoras são aconselhadas sobre como receber as criadas que substituiriam as mucamas dentro de suas casas. Com isso, segue o modelo de outras revistas que temiam

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sobre a entrada de “gente estranha” no lar e todos os perigos que po-deria representar para o bom funcionamento da casa. Às vésperas da abolição, houve um esforço incisivo de informar as leitoras a respeito do andamento daquilo que acontecia nas ruas e no parlamento. As notícias estavam no Editorial, mas também nas crônicas escritas por Arthur Azevedo e assinadas por seu pseudônimo Eloy, o HERÓI. Com isso, a revista acompanhava o esforço de boa parte da imprensa de noticiar os acontecimentos relativos ao final da escravidão no país. No entanto, fazia questão de dirigir-se ao público feminino, mostrando, por exemplo, como as leitoras deveriam se orgulhar de ter sido uma mulher a responsável pela assinatura da lei. Os números do periódico publicados entre abril e junho de 1888 fazem parte dessa batalha pela construção de uma memória para a abolição com a eleição de alguns protagonistas. Com a especificidade de se dirigir às leitoras. Portan-to, a proposta de comunicação tem como princípio básico a leitura e apresentação da revista entre 1888 e 1904. Esse período pode ser justificado com o intuito de análise das notícias publicadas, enquanto todos comemoravam a abolição, como também saber mais sobre o período que se estendeu depois dessa data. A intenção é a de buscar vestígios sobre as relações de trabalho estabelecidas entre as senho-ras assinantes da revista e as trabalhadoras que passaram a ocupar os serviços domésticos no pós-abolição.

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SESSÃO 04 » FORTUNA E CULTURA MATERIAL NAS CIDADESLocal: Mini-auditório do CFH (Bloco B, 2º andar)Coordenador e comentarista: • José Flávio Motta (USP)

Um mundo sustentado pela escravidão: cultura material e riqueza em Mariana/MG no final do século XVIII.• Cláudia Eliane Parreiras Marques Martinez (UEL)

O trabalho busca investigar as transformações materiais ocor-ridas nos domicílios de Mariana/MG, nas décadas finais do século XVIII (1780-1800), por meio das fontes cartoriais. Ao conhecer em detalhes os objetos do cotidiano que compunham as residências dos colonos, pressupõe-se ser possível problematizar a relação dos moradores não só com a moradia, mas, também, com os escravo(a)s que faziam parte do patrimônio familiar. Deve-se sublinhar que todo esse mundo cotidiano foi construído e sustentado pela mão de obra escrava, por isso, atenção especial será dada ao tamanho e as características dos plantéis. Para tanto, serão investigados os bens que estão arrolados nos inventários post-mortem. Entende-se que esse tipo de documento tem um padrão que se repete ao longo de décadas e, com raras exce-ções, nele não se menciona o valor monetário de cada objeto, animal e cativo. Do mesmo modo, relaciona e descreve todos os artefatos com adjetivos e informações qualitativas e quantitativas. Além da análise serial é possível, ainda, selecionar casos específicos – microanálises – que representam, decodificam ou aludem a sociedade e a economia, como o inventário do Doutor Manoel Braz Ferreira que se pretende destacar neste trabalho. O recorte temporal e o espaço definidos aqui são pertinentes para se verificar as transformações da vida social e cultural nas décadas finais do século XVIII. É importante sublinhar que mesmo após o declínio do ouro, na segunda metade do setecentos, a Capitania não deixou de importar significativas levas de escravos, co-mo amplamente demonstrado pela historiografia brasileira. Esse fato

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sinaliza que a economia não entrou em decadência econômica como, também, aponta para uma diversificação de suas atividades antes e depois da crise mineradora. Portanto, conhecer a realidade material dos domicílios no período colonial e sua relação com a mão de obra escrava permitirá uma compreensão mais aprofundada da sociedade colonial, bem como os aspectos que envolvem a escravidão. Por outro lado, esta abordagem possibilita analisar quais objetos eram priorizados no cotidiano, quais eram os padrões de riqueza, os arquétipos da pobreza, a relação dos homens e mulheres com o mercado e o consumo e, por fim, como era composta a mão de obra dentro e fora das “moradas de casa”. Ademais, tal estudo pode auxiliar na construção de parâmetros para se pensar a complexidade das questões que envolvem o espaço doméstico não só do passado colonial, mas, também, os problemas sociais que ainda persistem na realidade brasileira.

Nas ruas, rocinhas e casas: notas sobre a estrutura da posse de cativos no núcleo urbano central de Belém (1810-1888).• Daniel Souza Barroso (UFPA)

A cidade de Belém representou, no processo de profissionaliza-ção e renovação da historiografia paraense ocorrido entre o final da década de 1980 e o início dos anos de 1990, um espaço privilegiado de observação. Grande parte dos estudos desenvolvidos no bojo e como consequência desse processo de renovação historiográfica procurou analisar diferentes transformações havidas na cidade, em um contexto histórico que uma historiografia tradicional convencionou designar de “Economia da Borracha”, marcado por um intenso movimento de reconfiguração do espaço urbano da capital do Pará. Se, por um la-do, a historiografia paraense sobre a escravidão negra não fugiu a tal regra, por outro, ainda pouco se conhece acerca das estruturas econômica e demográfica da escravidão no núcleo urbano central da Belém oitocentista – nomeadamente, sobre como essas estruturas se reorganizaram em articulação àquele processo reconfiguração do espaço urbano belenense, bem como às mudanças estruturais no es-

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cravismo brasileiro na segunda metade do Oitocentos. No esforço de avançar na compreensão das estruturas econômica e demográfica da escravidão negra na Belém oitocentista, este texto tem como objetivo examinar a estrutura da posse de cativos no núcleo urbano central da capital paraense, entre 1810 e 1888. A partir da análise serial de 202 in-ventários post-mortem, procede-se à caracterização dos proprietários de escravos, da posse de cativos e dos próprios escravos no contexto em tela, observando-se como essas características se articularam ao processo de reconfiguração do espaço urbano central de Belém – em curso, sobretudo, desde os meados do século 19. Procura-se, assim, não somente contribuir para a compreensão da organização econô-mica e demográfica da escravidão numa região ainda pouco estudada na historiografia, em comparação a outras realidades do país, como também contribuir para as discussões ainda rarefeitas, nos campos da história econômica e da demografia histórica, sobre a estrutura da posse em espaços urbanos do Brasil.

“Uma cidade negra”: a escravidão em Pelotas durante o processo de montagem das charqueadas (RS, 1790-1835).• Jonas Moreira Vargas (UFPel)

No século XIX, Pelotas foi a maior produtora de carne-seca (char-que) do Império, reunindo, nos anos 1870, uma das maiores concentra-ções de cativos do sul do Brasil. A utilização da mão de obra escrava na economia do município foi tão importante que, com a crise da es-cravidão, a sua principal indústria entrou em franca decadência. No entanto, o presente trabalho trata dos primeiros anos de formação do complexo charqueador-escravista pelotense, mais precisamente entre 1790 e 1835. Trata-se de um momento no qual o tráfico transatlântico ainda apresentava forte vigor para a região sul e foi fundamental em tal processo econômico, no qual foram erigidas mais de 30 charqueadas na localidade. O objetivo do trabalho é analisar o perfil da população escrava do município a partir de três fontes documentais principais: os inventários post-mortem (1800-1830), os registros paroquiais de

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batismo (1812-1835) e um mapa populacional da vila e seus distritos rurais (1833). A análise dos dados revela um município no qual mais da metade da população era cativa, apresentando um grande índice de africanos, uma alta razão de sexo e uma significativa presença de escravos para além das charqueadas, demonstrando que a economia da localidade era mais dinâmica do que se pressupõe.

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SESSÃO 05 » PERCEPÇÃO, VIVÊNCIA E POLITIZAÇÃO DA HIERARQUIA SOCIALLocal: Auditório Carlos Augusto Figueiredo Monteiro (Bloco F, 7º andar)Coordenadora e comentarista:• Juliana Barreto Farias

A tradução africana da terra do branco.• Ivana Stolze Lima (FCRB)

A apresentação resulta do projeto “Diálogos em língua mina e português. Antônio da Costa Peixoto e a comunicação africana na Obra Nova da Língua Geral Mina (Ouro Preto, 1731 e 1741)”, que busca refletir sobre os dilemas, escolhas e possibilidades de comunicação e interação linguística que se apresentaram aos africanos escravizados na experiência americana, envolvendo não só a possibilidade de uso de suas línguas africanas, mas também sua relação com o português e outras línguas existentes. Especificamente, essa apresentação ob-jetiva identificar perspectivas africanas na obra de Peixoto, tomada como sinal de práticas dialógicas características da área mineradora na primeira metade do século XVIII. Ali, a significativa presença de povos da Costa da Mina que compartilharam o complexo linguístico Gbe (como os denominados mahi, fon, savalu, coura, jeje, adja), pos-sibilitou uma intercomunicação, entendida por diferentes instâncias da ordem escravista como uma “língua geral”. Em contexto em que a violência da escravização era permanentemente tensionada por dife-rentes formas de resistência e enfrentamento, a língua geral de mina se tornou corrente entre uma população escrava e liberta de maioria africana e não crioula. Outra marca desse momento foi a inserção das mulheres minas nas redes de comércio e em diferentes instâncias das relações sociais e afetivas, em um quadro de dinamismo econômico, urbanização e complexificação social característico da exploração do ouro. Através de uma releitura fina dos manuscritos, referenciada

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pelo conhecimento linguístico sobre o complexo Gbe e decompondo as expressões africanas, buscarei trazer à luz um processo de tradução cultural empreendido pelos africanos escravizados no movimento de estabelecer contatos e vínculos, agir politicamente, e afinal, fazer uso da linguagem como elemento central da vida social. Categorias sociais, espaciais, religiosas e familiares, como o homem branco, a senhora branca, o filho do homem branco, a terra de branco, o deus dos bran-cos, entre outros exemplos, lidas a partir das expressões africanas (hihabou, hihabouce, boby, hihabouthome, hihabouvodum), são indícios desse processo de tradução e, consequentemente, de uma espécie de co-autoria africana determinante para a elaboração dos referidos documentos. Mais ainda, são indícios de um esforço de compreensão e elaboração simbólica acerca da realidade a que estavam forçados. Apoiada na rica bibliografia já disponível sobre a área mineradora, a análise dialoga com correntes historiográficas que propõem o desafio teórico e metodológico de compreender a escravização de africanos valorizando sua experiência cultural ou, como disse Russel-Wood, o “prisma africano” da história da escravidão e da liberdade.

Hierarquia militar, luta por direitos e politização da cor no Regimento de Homens Pardos do Rio de Janeiro, 1802-1804.• Adriana Barreto de Souza (UFRRJ)

O objetivo desta comunicação é discutir um conjunto de peti-ções enviadas pelos capitães do 4º Regimento de Milícias de Homens Pardos do Rio de Janeiro ao vice-rei d. Fernando José de Portugal e ao príncipe regente d. João, entre 1802 e 1804, a fim de requerer o direito de serem encartados nos postos superiores do Regimento. Acionando a legislação pombalina, resoluções emitidas pelo príncipe regente em fins do século XVIII, além da experiência dos oficiais do Regimento de Homens Pardos da Bahia, os capitães pardos reclamavam a restituição do direito que lhes havia sido reconhecido por carta régia de 22 de março de 1766. A carta que determinou o alistamento “sem exceção” de nobres, brancos, mestiços, pretos, ingênuos e libertos (...)

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para o serviço militar. Como já foi demonstrado pela historiografia, na virada do século XVIII para o XIX, houve um crescimento exponencial da população de negros na cidade do Rio de Janeiro, fosse de negros escravos, fosse de livres e libertos. A pressão social exercida por estes últimos, interessados em se distinguir da massa de escravos, impôs aos administradores coloniais um debate sobre os possíveis mecanis-mos – políticos e institucionais – para inseri-los na sociedade. Entre os capitães pardos e o príncipe regente, havia dois administradores: d. Fernando José de Portugal que havia governado a Bahia até 1801, quando foi nomeado vice-rei do Brasil, e o general reinol José Narcizo de Magalhães e Menezes, que chegou ao Rio de Janeiro em 1799 para assumir o Comando Geral das Tropas do Rio de Janeiro. Enquanto o vice-rei recém nomeado estava engajado desde 1796, ainda na Bahia, na tarefa de submeter os Regimentos de Homens de Cor ao comando de oficiais brancos das tropas de linha, o general reinol estava conven-cido da “natural viveza e atividade dos mestiços” para a carreira militar, tornando-se um entusiasta do sistema de milícias organizado “por cor e classe”. Argumentarei, no paper, que as petições enviadas ao príncipe são expressão dessa tensão, cotidiana, de disputa e redefinição de hierarquias sociais em um ambiente preciso: o mundo militar do Rio de Janeiro na virada para o século XIX.

Mocambeiros, negros, desertores e cabanos: alianças e luta pela liberdade no Pará Imperial.• Eliana Ramos Ferreira (UFPA)

A Cabanagem aconteceu na Província do Pará, região norte do Brasil, durante o período oficial de 1835 - 1840 e alcançou os Lugares, as Vilas e Povoados mais distantes do Pará, atingindo fronteiras in-ternacionais como a Guiana Francesa, Venezuela e o Peru. Os parti-cipantes foram trabalhadores e trabalhadoras, pobres ou não, negros escravos ou forros, homens e mulheres livres que se inseriram direta-mente nos conflitos armados tramando alianças como os desertores amocambados pelas “bandas” do Marajó e elaboraram estratégias de

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sobrevivência. O engajamento do negro no Movimento Cabano ocorreu a partir do momento em que ele identificou o conceito de liberdade, ou a supressão do senhor, como decorrência da luta política. E foram justamente estas aspirações de liberdade que levaram o negro a se organizar e a se engajar na Cabanagem, como o mocambo do Iguará, distrito de Cachoeira, no Arquipélago do Marajó, que em 1837, teve a sua organização social ampliada com a adesão de cabanos e deserto-res. Diversas estratégias de enfrentamentos foram forjadas: Fugas, negociação com os senhores, engajamento em movimentos sociais e protestos. O presente trabalho objetiva refletir sobre as relações que negros escravos, crioulos, pretos, mulatos, tapuios e desertores, impulsionados por uma comoção social da magnitude da Cabanagem, travaram com o mundo da desordem que ganhava nuances de caos para os senhores proprietários e representantes do Estado Imperial. A sonhada liberdade parecia ficar mais próxima por meio da luta armada no Pará imperial.

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SESSÃO 06 » TRANSFORMAÇÕES NO TRABALHO ILocal: Auditório do Bloco ECoordenador e comentarista: • Henrique Espada Lima (UFSC)

O trabalho no Rio de Janeiro: entre escravidão e liberdade nos jornais da Corte (século XIX).• Renata Figueiredo Moraes (UERJ)

Escravidão e liberdade conviveram juntas no Rio de Janeiro do século XIX. Enquanto a escravidão se aprofundava nas regiões cafe-eiras, a Corte também tinha no seu cotidiano o aprofundamento do sistema escravista que pautava as principais relações sociais. Em meio a isso, pioravam também as relações de trabalho exercidas por homens e mulheres livres e libertos na cidade escravista. Como rei-vindicar direitos e pensar de modo positivo na ideia de trabalho se a escravidão era a tradução principal de qualquer ação que lembrasse trabalho? Essa apresentação pretende refletir sobre a cidade do Rio de Janeiro e o convívio existente entre homens trabalhadores, livres e escravizados, na segunda metade do século XIX. Uma das formas de entender essas relações são através dos jornais, tanto da grande imprensa como também aquela escrita por trabalhadores. Nesses periódicos que tinham um público específico, a ideia de trabalho é constantemente mencionada e reivindicada por esses homens livres que, na maior parte das vezes, não consideravam os escravos traba-lhadores. No entanto, como pensar em qualquer ofício sem o uso da mão de obra escrava? A problematização que esses homens faziam em seus escritos específicos sobre trabalho e para trabalhadores livres do Império é um meio de entender como dois sistemas de trabalho, o livre e o escravo, conviveram na maior cidade escravista das américas e como a luta contra a escravidão interferiu, ou não, numa luta por direitos no mundo do trabalho. Esse texto é fruto de um projeto de pesquisa que conta com alunos bolsistas de Iniciação Científica e que tem reunido

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um grande material para pensar a história dos trabalhadores, tanto os livres quanto os escravizados, e os relacionamentos estabelecidos entre eles. A produção de jornais específicos, o associativismo e a promoção de greves ou motins são ações encontradas desde o século XIX, o que demonstra que não foi preciso a abolição para que houvesse a organização dos trabalhadores no Brasil. No entanto, o que pretende-mos investigar com mais profundidade, é até que ponto a escravidão e o seu legado interferiram nessa organização e na luta por direitos. Deste modo, pretende-se nessa apresentação expor alguns resultados da pesquisa que também tem como objetivo aproximar a história social do trabalho da história da escravidão.

Na Serra do Mar, esperanças de liberdade: uma análise acerca das relações de trabalho de africanos livres e alemães durante a segunda metade do século XIX em São Paulo. • Mariana Alice Pereira Schatzer Ribeiro (UNESP)

A presente comunicação busca analisar as experiências, as re-lações de trabalho vivenciadas por africanos livres e colonos alemães nas construções das estradas de Santos a Cubatão e Santos a São Paulo, entre os anos de 1840 a 1870, cuja documentação encontra-se depositada no Arquivo Público do Estado. Àquela época as estradas constituíam-se de caminhos precários, perigosos, difíceis de rodar e extremamente suscetíveis às intempéries climáticas. A modernização destas foi implementada a fim melhorar as comunicações, incentivar a dinamização do interior, a tributação de impostos, as trocas comerciais e o escoamento da produção recebendo cada vez mais interesse da administração pública. O estudo procura compreender o cotidiano dos africanos livres e dos colonos alemães nas construções, através das funções exercidas, das listas nominais, da rotina, das fugas, dos confli-tos, da alimentação e moradia, a fim de perceber as suas semelhanças, as aproximações, bem como as resistências vivenciadas pelos dois gru-pos, os quais dividiram o mesmo ambiente de trabalho. Desta maneira, o século XIX representou uma época de relevantes transformações,

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nos projetos de modernização e desenvolvimento da província paulista. Consequentemente, as questões relativas ao mercado de trabalho, à mão-de-obra estiveram no cerne das discussões durante o período. Ademais, é preciso ampliar o foco da investigação, a fim de identificar as concepções do Estado provincial/imperial, o qual representava o empregador ou o consignatário dos indivíduos. Nesse sentido, para entender as relações de trabalho em meio à construção das estradas é importante inclusive conhecer o ponto de vista dos trabalhadores da administração, suas atitudes e percepções, principalmente com relação à exploração dos tutelados e alemães. Por conseguinte, esta apresentação, oriunda de pesquisa de Doutorado busca contribuir com as discussões acerca da História Social do Trabalho, juntamente com as reflexões sobre as fronteiras entre a escravidão e a liberdade, observando que não somente o trabalho assalariado, mas especial-mente o trabalho compulsório e não-livre, favoreceu o surgimento, a acumulação e a manutenção do sistema capitalista, antes abordado pela historiografia como incompatíveis. Vale lembrar que a desumaniza-ção, a precarização do trabalho e a luta por dignidade não foi exclusiva do nosso objeto de estudo, mas esteve presente em variados grupos da classe trabalhadora ao longo do século XIX, e, infelizmente, ainda corresponde à realidade atual de milhões de pessoas neste país.

Escola Agrícola da Bahia de São Bento das Lages: experiências na formação de operários agrícolas na Vila de São Francisco do Conde (1850-1890). • Idalina Maria Almeida de Freitas (UNILAB)

A primeira Escola Agrícola do Bahia, inaugurada em 15 de Fe-vereiro de 1877, em São Bento das Lages, antigo Engenho das Lages, propriedade da Ordem de São Bento, teve origem no contexto pós supressão do tráfico de escravos em 1850, dentre outras implicações que atingiram diretamente e reduziram a exportação do açúcar frente ao mercado mundial, a falta de braços escravizados que mantinham o apogeu de esse comércio, tal empreitada contava com a articulação

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entre governo provincial, central e as elites açucareiras. Esse resumo é fruto de uma pesquisa em andamento e tem como objetivo investi-gar a Escola Agrícola de São Bento das Lages, situada na Villa de São Francisco do Conde, recôncavo baiano, a partir da segunda metade do século XIX. A escola agrícola instituiu-se como espaço destinado a instrução e formação de operariado agrícola “mais competente” e modernizado. A partir de tal contexto traz a luz possibilidades de pro-blematizar as experiências dos sujeitos na Vila de São Francisco do Conde na construção das historicidades de agentes que participaram em diferentes âmbitos, desse modelo escolar. Como se deu a circula-ção de ideias acerca da instrução agrícola na Bahia e outras conexões? Como foi pensada e executada a formação de operários agrícolas por meio do curso Elementar oferecido pela Escola? Quais as experiências de disciplinamento esses “operários agrícola” vivenciaram e quais as suas percepções/reações a cerca desse processo de instrução?Para tal empreitada nosso fio condutor será analisar a partir de uma pers-pectiva histórica a criação, manutenção e esforços empregados no desenvolvimento da Escola Agrícola da Bahia, instituição criada a partir do decreto n° 5.957 de 23/06/1875, sendo consequência de uma política iniciada em 1859, pelo imperador D. Pedro II e dos importantes barões do açúcar como: Dr. Antônio de Araújo Aragão Bulcão (Barão de São Francisco), Egas Moniz Barreto de Aragão (Barão de Moniz Aragão), Joaquim Ignacio de Araújo Bulcão (Barão de Matoim), Antônio da Cos-ta Pinto Barão de Sergimirim, dentre outros, por meio da criação do Imperial Instituto Bahiano de Agricultura. Nesse sentido, busca-se não somente pensar a história da Escola Agrícola da Bahia, mas situá-la em meio a vários esforços empreendidos frente a sua criação, bem como as dinâmicas de investimentos em técnicas de instrução para manutenção de um operariado agrícola frente ao processo de abolição e pós abolição na Vila de São Francisco do Conde, nas últimas décadas do século XIX e início do XX.

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SESSÃO 07 » AUTONOMIA DE ESCRAVOS E LIBERTOSLocal: Mini-auditório do CFH (Bloco B, 2º andar)Coordenadora e comentarista: • Renilda Vicenzi (UFFS)

A legitimidade e a terra: forros e lavradores de cana - Campo Grande, Rio de Janeiro (1720-1800).• Jerônimo Aguiar Duarte da Cruz (UFRJ)

Este trabalho procura analisar a função da legitimidade matri-monial na definição dos direitos de propriedade de ex-escravos em uma freguesia rural do Rio de Janeiro. A região continha 15 fábricas de açúcar e a maior parte dos seus domicílios era composta por lavradores de cana que ocupavam as terras dos engenhos na condição de parti-dista. Neste universo, identificamos 1/3 dos lavradores como advindos da escravidão. A partir da reconstituição de famílias, da escrita de trajetórias e alguns indicadores demográficos buscamos entender de que maneira tal segmento alcança a terra, enfatizando a construção da família nuclear e das frentes familiares como estratégia de sobre-vivência e riqueza para tais personagens.

Escravos clientes de casa de negócio em Tubarão/Santa Catarina (1875-1876).• Renato Leite Marcondes (USP)

As roças dos escravos trabalhadas em dias de folga marcaram a escravidão brasileira desde o período colonial, possibilitando uma eco-nomia autônoma entre os escravos e a comercialização de excedentes da sua produção. De outro lado, alguns escravos de ganho conseguiam acumular rendimentos e obter a liberdade, como ocorrido durante a mineração e nos grandes centros urbanos no século XVIII. Posterior-mente, as práticas de incentivos ao trabalho alargaram-se envolvendo

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mais o campo e as cidades, até mesmo o pagamento em dinheiro por venda de mercadoria ou serviço. No caminho para a alforria, os escra-vos mantinham conta corrente em casas comerciais e depósitos nas caixas econômicas, como as da Corte e das províncias. A literatura historiográfica ressalta as possibilidades de negócios próprios dos escravos, mas há poucas informações mais específicas sobre essa economia. Pretendemos discutir os negócios dos escravos a partir da conta corrente como clientes de uma casa comercial no interior de Santa Catarina ao final do período escravista, demandando e ofertando produtos para a loja. Dividimos o artigo em três partes. Na primeira realizamos uma caracterização econômica da região de Tubarão (SC) e do seu contingente escravo a partir da estimativa da população e do censo de 1872. Na seguinte, discutimos o perfil de atividades do dono da casa de negócio e dos escravagistas que possuíam os cativos que transacionaram com a loja, calcados principalmente em inventários post-morten e testamento. Por fim, analisamos os negócios dos es-cravos com a casa por meio do livro diário de 1875 a 1876.

Manoel da Costa, Fabiano de Cristo: Domicílios chefiados por pretos e pardos (Caçapava, 1830).• André do Nascimento Corrêa (UNISINOS)

Este trabalho tem por finalidade analisar as configurações sociais da localidade de Caçapava, cidade localizada na região centro-sul do Estado do Rio Grande do Sul. Neste sentido, o foco dessa análise está nos domicílios e nas questões que permeiam a escravidão em Caça-pava. Para este estudo, contamos com alguns documentos centrais, tais como: uma lista de fogos do ano de 1830 e todos os inventários entre 1821 a 1850. Para termos outras esferas desta análise social, agregamos os inventários do cartório de Órfãos e Ausentes, catalo-gados pelo APERS, entre 1851 a 1871, como também todas as cartas de liberdade cartoriais entre 1835 a 1871. No entanto, nosso foco aqui será a apreciação dos dados contidos na lista de domicílios. Para isso, este estudo tem como base metodológica análises seriais, tanto de cunho

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quantitativas, como também qualitativas. Desta forma, acreditamos que isso nos permitiu ter uma ideia mais geral da população da freguesia de Caçapava. Assim sendo, apresentamos uma análise comparativa dos dados da lista de fogos de Caçapava com outras regiões. Abordamos as diferentes formas de chefia de fogos, como também, porcentagens entre os sexos dos chefes de fogos, também de escravizados, índios, agregados e peões, na tentativa de “desenhar” a organização social dos moradores da freguesia no ano de 1830.

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SESSÃO 08 » ESCRITA E REPRESENTAÇÃO DA HISTÓRIA DA ESCRAVIDÃOLocal: Auditório Carlos Augusto Figueiredo Monteiro (Bloco F, 7º andar)Coordenador e comentarista: • Jaime Rodrigues (UNIFESP)

Diálogos, trânsitos e transmutações na obra de Ayrson Heráclito. • Marcelino Euzebio Rodrigues (UERJ)

O trabalho faz uma leitura da obra do artista baiano Ayrson Heráclito (1968) que durante décadas vem promovendo diálogos sobre as histórias silenciadas da escravidão brasileira através de seus experimentos artísticos. Sua obra nesta pesquisa é analisada como propulsora de vetores decoloniais afro-brasileiros no campo das artes. Alguns elementos da escravidão que se reverberam em produções artísticas mundiais aparecem em sua obra como cha-ve para a discussão para o que chamaremos de estética decolonial afro-brasileira. Nesta pesquisa, as imagens do navio negreiro, suas rotas pelo atlântico no período colonial, os mapas e o corpo negro com suas marcas e feridas, aparecem como elementos simbólicos recursivos delineando as análises das obras. Na materialidade de seus trabalhos o sal, o dendê, o açúcar, a carne de charque, peixe, o sangue, entre outros, dão significados a narrativas afro-atlânticas sobre a presença negra no período escravista brasileiro com suas transmutações e lutas pós abolição. Em obras como Divisor (2001), Transmutação da carne (2000) e Sacudimento (2015) esses elementos aparecem como narrativas explicitas da presença afrodescendente no Brasil, apontando o atlântico negro como rota de transcultura-ção, de flagelos como marcas que se reverberam aos dias de hoje, de resistência e permanência das religiões de matriz africana como lugares de memórias.

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O tráfico ilegal como elemento central à história do Brasil imperial: historiografia e caminhos da pesquisa.• Beatriz Gallotti Mamigonian (UFSC)

As pesquisas recentes sobre o tráfico ilegal de africanos para o Brasil marcam uma virada importante na historiografia da escravidão. O reconhecimento do volume do contrabando, estimado entre 800 e 900 mil africanos, além da extensão geográfica e das implicações políticas de tal fenômeno impõem uma reinterpretação da história do Brasil im-perial. A ilegalidade do tráfico ajuda a reinterpretar as transformações ocorridas no sistema escravista e também na política interna e externa do Brasil, estendendo-se muito além de 1850. Vários pesquisadores têm se dedicado a tal releitura da história do tráfico de escravos no Brasil e essa comunicação busca fazer um balanço de tais trabalhos, das fontes utilizadas e perspectivas adotadas, assim como de sua contribuição para a historiografia do Brasil império.

Rebeliões da Senzala, História do Negro Brasileiro e Injustiças de Clio : uma aproximação do percurso historiográfico de Clóvis Moura. • Teresa Malatian (UNESP)

Nesta comunicação pretende-se abordar aspectos da vida e da obra de Clóvis Moura relacionados com o campo historiográfico em que produziu três obras: Rebeliões da Senzala (1959), a mais conheci-da e emblemática, História do Negro Brasileiro (1989) e As injustiças de Clio (1990). Essas obras traduzem momentos paradigmáticos de suas opções teóricas e metodológicas que correspondem à adoção do materialismo histórico como referência inicial e fundante de seu pensamento , para se abrir a dimensões culturais da História do Negro, que é também a da senzala, motivada pelo contato com a historiogra-fia de inspiração no chamado marxismo heterodoxo ou escola inglesa e com a história cultural. O contexto revisionista das rememorações/

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comemorações sobre o centenário da Abolição ofereceu um campo fértil a essas revisões e no caso de Clóvis Moura a rede de sociabi-lidades intelectuais em que se inseriu teve um papel relevante para a discussão de novas abordagens, bem como para a publicação de suas obras e estabelecimento de vínculos com a academia. Projeto Auxílio FAPESP 2016/20111-0

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SESSÃO 09 » TRANSFORMAÇÕES NO TRABALHO IILocal: Auditório do Bloco ECoordenador e comentarista: • Henrique Espada Lima (UFSC)

Escravidão e expansão da fronteira agrária. Uma análise do trabalho cativo em dois núcleos produtivos da Província de Rio Grande de São Pedro. Triunfo e Alegrete, 1830-1850.• Juan Luis Martiren (Instituto de Historia Argentina y

Americana “Dr. Emilio Ravignani”-UBA/Conicet, Argentina), • Luís Augusto Ebling Farinatti (UFSM)

Que a mão de obra cativa teve uma importância central no cres-cimento da economia agraria do Rio Grande oitocentista é uma tese atualmente já bastante assentada. A bibliografia tem mostrado, neste sentido, que a escravidão não só se limitava ao desenvolvimento das charqueadas sulinas –tal como indicara o seminal estudo de Cardoso nos anos 60-, mas também estendia-se às atividades rurais, tanto destinadas à produção pecuária, como agrícola. Contudo, este novo panorama ainda está longe de ser completo, em particular em relação ao peso que o fator da expansão da fronteira agrária -sobretudo pecu-ária-, teve sobre a dinâmica do trabalho cativo. No caso rio-grandense, esta variável alcança especial relevância, uma vez que a expansão territorial desde os núcleos primigênios de Rio Grande, Viamão e Rio Pardo gerou nichos produtivos com presencia de escravarias, mas com enormes diferenças, derivadas da própria dotação de fatores e da estrutura produtiva. Considerando esta questão, a presente comuni-cação pretende indagar sobre as dinâmicas que marcaram a evolução da mão-de-obra escravizada em Triunfo e Alegrete, dois espaços de fronteira marcados a fogo pela própria antiguidade de ocupação. Um, de ocupação mais antiga, primeiro foi fronteira e depois entreposto sobre o avanço para terras a oeste, além de ter se convertido em nú-cleo charqueador; outro, de ocupação recente, com predomínio de

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grandes unidades de produção destinadas especificamente á criação de gado bovino, em maior medida. A partir de evidencia tomada de inventários post-mortem de ambos espaços, a análise visará fazer um estudo comparativo sobre cinco aspectos principais relativos às escravarias: 1. A evolução da posse escrava segundo o tamanho dos senhores; 2. A ocupação dos cativos; 3. A evolução do valor, segun-do o rango etário; 4. As taxas de masculinidade; e 5. A distribuição segundo a origem. Entendemos que os resultados podem oferecer novas pistas para entender as diferenças e similitudes existentes em dois espaços que alcançaram um importante crescimento económico, mas modelados pelo seu caráter de fronteira.

Escravidão e inovação tecnológica na cafeicultura da Vila de São Pedro de Cantagalo (c.1850-c.1880).• Rodrigo Marins Marretto (UFF)• Marcos de Brito Monteiro Marinho (UFF)

O presente trabalho tem por objetivo analisar as relações en-tre escravidão, cafeicultura e a inovação tecnológica aplicada ao beneficiamento e transporte do café. A Vila de São Pedro de Can-tagalo, fundada em 1814, nos parece ser o espaço ideal para realizar esta investigação. Ao longo dos oitocentos, a cafeicultura da região atravessou duas fases qualitativamente distintas: 1) a de formação, entre as décadas de 1810 e 1850; e 2) a de expansão e maturidade, entre as décadas 1850-1880. Nesta segunda fase, a região vivenciou um intenso processo de inovação tecnológica no beneficiamento e no transporte, principalmente a partir da inauguração da Estrada de Ferro Cantagalo, que contribuiu significativamente para que a economia cafeeira local atingisse suas fases de auge e grandeza. As máquinas de beneficiamento estavam presentes nos inventários dos maiores proprietários de escravos da região, e os resultados obtidos por estes fazendeiros após a colheita do fruto demonstram a importância vital destes fatores no processo produtivo, mesmo se considerarmos seu baixo valor no montante geral de riqueza em rela-

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ção aos escravos. Incidindo sobre a produtividade da fazenda, estes maquinismos permitiram aos fazendeiros expandir suas plantações mesmo quando a aquisições de novos escravos se mostrou difícil nos anos finais da escravidão. Juntamente com as ferrovias, também incidiam sobre a qualidade da mercadoria aumentando e/ou preser-vando seu valor de uso. Por estas razões, a região de Cantagalo, área de atuação de grandes escravistas como Antônio Clemente Pinto e Jacob Van Erven, se tornou uma das maiores produtoras de café do Vale do Paraíba na segunda metade do século XIX. Dentre as fontes utilizadas, destacam-se os relatórios escritos pelos inventores das máquinas, necessários para que lhes fosse concedido a patente da invenção. Estes documentos encontram-se depositados no Fundo de Privilégios Industriais do AN-RJ e trazem informações preciosas: nome, profissão e residência do inventor, bem como descrição deta-lhada do funcionamento das máquinas e de sua capacidade diária de beneficiamento. Os inventários post-mortem também são valiosos para nós, pois a partir deles verificaremos a evolução dos números de pés de café/escravos entre as décadas de 1850-1880 e identificaremos os maquinismos utilizados pelos fazendeiros em suas respectivas unidades de produção. Confrontando as informações destas fontes com as que constam nos periódicos a respeito da avaliação que os fazendeiros fazem do desempenho das máquinas de beneficiar café, podemos verificar o peso relativo da tecnologia na expansão cafeeira e na preservação da escravidão na região de Cantagalo.

“Habituados na prática do crime”: quilombos, coutos de malfeitores e os braços para a lavoura (Alagoas, 1870-1880).• Danilo Luiz Marques (UNIFAI)

Tensões e incertezas pairavam na sociedade brasileira de fins do oitocentos, momento em que uma grande questão era debatida entre os escravocratas: quem iria suprir os braços escravizados da lavoura? Outra preocupação era quanto à segurança e à tranquilidade pública, tão caras à ordem senhorial que estava posta. Havia aqueles

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que não viam com bons olhos o aumento da população liberta e sua consequente recusa às condições de trabalho impostas por proprie-tários acostumados com a relação senhor-escravizado. Uma aguçada análise sobre a série de ofícios trocados entre os chefes de polícia e a Presidência da Província de Alagoas e as falas de autoridades dirigidas à Assembleia Legislativa entre as décadas de 1870 e 1880 permite vislumbrar alguns distúrbios e incidentes que ocorreram de norte a sul na região alagoana, causando muitas dores de cabeça às autoridades e aos senhores escravocratas. O iminente risco de perder o controle sobre a população pobre e de cor, que sempre se demonstrou pouco disposta a obedecer, foi pauta corriqueira entre escravocratas e autoridades. Inseguros perante a inquietação dos escravizados, libertos e livres pobres, muitos senhores culparam a campanha abolicionista e a incompetência repressiva pela grave situação. Por sua vez, muitos delegados se queixavam da falta de estrutura para lidar com as crescentes demandas. A massa livre e liberta, marginalizada na sociedade escravista, encontrava nos saques a fazendas seu meio de sobrevivência, e assim resistia à hegemonia dos senhores escravocratas. As falas dos presidentes alagoanos e os ofícios trocados com os chefes de polícia da região dão uma dimensão de quão tumultuosos foram os últimos anos da instituição escravista nessa província. Outro acervo documental importante para a análise dessas questões são as páginas do jornal O Orbe, que publicou uma série de editoriais, reportagens e corres-pondências criticando a forma como estavam sendo conduzidas as medidas em prol da emancipação dos escravizados. As páginas desse periódico trazem histórias singulares, indicativas da atuação de africanos e seus descendentes nas margens da instituição escra-vista, buscando, através da imersão nas propriedades senhoriais e dos consequentes furtos aí praticados, das fugas e da formação de quilombos, tecer as malhas da sobrevivência nas árduas batalhas do quotidiano. Deixaram entrever a impossibilidade física de se alongar por mais tempo a escravização, contribuindo de maneira cumulativa para sua implosão.

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Apresentação de pôsteresLocal: Hall do Bloco B

Viver em liberdade: o caso da parda liberta Meremciana Prestes dos Santos, Palmas/PR, década de 1880 • Thalia Faller (UFFS)

A preservação de processos crimes do Paraná do século XIX possibilita conhecer e analisar as relações sociais da sociedade escra-vista, e no pós-abolição, na região do Sul do Brasil. Este trabalho, que se encontra em desenvolvimento, propõe-se a apresentar e discutir os antecedentes da denúncia de Meremciana Prestes dos Santos, mulher negra, liberta em 1885, ao Ministério Público e os relatos realizadas pela mesma sobre o fato ocorrido. Através do processo crime de Pal-mas/PR, com data de início em maio de 1886, reflete-se sobre as lutas por autonomia e liberdade em uma fronteira de oportunidades em que a denunciante viveu. A liberdade para Meremciana, após comprar sua alforria, se apresentou de maneira precária. Depois da conquista da compra de sua manumissão em 1885, em 1886, ela acusou ser vítima de violência praticada por Rozalina da Solidade Rocha. Meremciana morava sozinha e trabalhava como lavadeira para sobreviver, encon-trava-se doente e denunciou que ainda permanecia sobre o peso de ter sido escravizada. Embora exista a possibilidade de que suas declarações poderiam estar construídas para sensibilizar o Ministério Público para abrir o processo em seu nome, a situação fragilizada de Meremciana na liberdade foi compartilhada por outras mulheres e homens negros ex-escravizados ou nascidos livres. Dessa forma, não estar mais sobre a condição de escravizada, no caso de Meremciana, não significou conseguir de imediato estabelecer e exercer os direitos de cidadania, trabalho e educação. Portanto, adentrar na trajetória de Meremciana, através do cruzamento de fontes eclesiásticas, judiciais e cartoriais, aqui entendidas como vivencias conectadas à socieda-de local e nacional, significa compreender melhor os (des)rumos de milhares de indivíduos que foram desterritorializados, reconstruíram

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relações e foram de suma importância na constituição da sociedade em que viveram. Além disso, a busca por independência e autonomia desses sujeitos históricos podem auxiliar a entender a movimentação e resistência da população negra durante a escravidão e no pós-abo-lição no Sul do Brasil.

As crianças pretas da Princesa do Sul - Um estudo sobre crianças escravizadas em Pelotas (1850-1870) • José Ricardo Marques Resende Jr (UFPel)

Gregório poderia ter nascido do lado atlântico contrário do que sua mãe desembarcara - contrária à sua vontade –, e quando atingisse a mesma idade em que foi encontrado no inventário do senhor José Inácio da Cunha, aberto no ano de 1865. Caso o tivesse sido, teria seu penteado cuidadosamente feito e adornado com um coque co-roado por penas, ornamentado por cachos e tranças laterais, anéis e braceletes para que fizesse o rito de passagem pela cucumbis e assim começaria seus primeiros passos entre a juventude e a vida adulta. Mas Gregório nasceu criolo, no extremo sul de um Império escravista, e desde criança fora inserido em um meio de produção que colocava medo até mesmo nos mais revoltosos escravizados que lutavam pelas suas liberdades ao norte: as charqueadas pelotenses. Crescera em meio ao cheiro putrefato dos couros esticados, pisando pelo chão salgado por onde escorria o sangue dos bois e sob o céu pintado de negro, das aves que espreitavam a carniça. A temática desta pesquisa gira em torno das figuras das crianças escravizadas, na cidade de Pelotas-RS, com recorte temporal - pensando os mo-vimentos de emancipação - de 1850 a 1870. O objetivo do trabalho é tentar compreender os lugares sociais destas crianças, nos plantéis pelotenses e entendê-las demograficamente na população escravi-zada. O trabalho está elaborado sob metodologia quantitativa através dos inventários post-mortem e das cartas de alforria da cidade de Pelotas, para o recorte temporal pensado. A justificativa da presen-te pesquisa, reside na ausência de trabalhos que centralizem esses

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sujeitos históricos e pensem a partir destas vivências, se embasa também, na importância destas crianças em um contexto ainda mais amplo pensando o fim do tráfico negreiro e o aumento e valorização destas crianças nos plantéis.

Canguçu 1862-1888: Processos Cíveis de Liberdade • Alisson Barcellos Balhego (UFPel)

O presente trabalho tem por intuito dissertar sobre processos judiciais movidos por pessoas escravizadas nas últimas três déca-das do período escravocrata (1862 até 1888), na cidade de Cangu-çu/RS, município situado no interior do estado e próximo à cidade de Pelotas. Os documentos em análise são um conjunto de mais de sessenta ações de liberdade, suplicadas com a intenção de alcançar liberdade, formalizar pagamento de pecúlio, e outros vários motivos. Uma ação de liberdade é um processo jurídico complexo que depen-de para a sua efetivação, de uma trama de relações, além de vários procedimentos administrativos. Recorrer à justiça foi um movimento utilizado pelas pessoas escravizadas em diversos momentos. porém teve respaldo judicial, a partir da Lei do Ventre Livre (1871). O muni-cípio de Canguçu está situado na Serra dos Tapes, que forma junto com a Serra do Herval, a região gaúcha das Serras do Sudeste, divi-didas pelo rio Camaquã, que limita ao norte o município. As terras de Canguçu, como as de outros distritos situados nas serras do Tapes e do Herval, são consideradas como as mais antigas do Rio Grande do Sul. Ainda buscando vislumbrar um pouco da região, o Censo Ge-ral de 1872, aponta que Canguçu em um determinando momento do período acima exposto, possuía 10.907 habitantes, dos quais 2.790 eram escravizados. Alguns desses processos reivindicam liberdade a partir de argumentos como alforrias concedidas em inventários e não efetivadas, escravização ilegal por ocorrerem após a proibição formal do tráfico de escravizados, situações de reescravização de pessoas que residiam na Banda Oriental, e que foram deslocadas para o Brasil após a abolição naquele país, dentre outras situações. Esses

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documentos demonstram elementos de um cotidiano, informações mesmo que pequenas, mas representativas de valores e significados desses agentes sociais que se articulavam em um contexto escravista localizado, assim como de uma sociedade a qual esses personagens são contemporâneos. Além de que, ali estão expostas as escolhas estratégicas das pessoas escravizadas, assim como de algumas pessoas negras livres, que exploraram os limites do possível, para atingirem seus objetivos. Trabalhar com tais documentos colabora para o entendimento dos mecanismos utilizados pela população negra escravizada do extremo sul do Brasil e também para o funcionamento do ambiente jurídico com relação elas e os senhores.

Associativismo e espacialidade urbana em Curitiba: militância e festividade negras (1880-1910) • Carolina Marchesin Moises (UFPR)

A expansão dos estudos sobre a experiência de pessoas negras no período pós-abolição tem possibilitado novos olhares sobre o tema, que direcionamos aqui à relação entre associativismo negro e espaço urbano. Especialmente no Paraná, onde as políticas de-senvolvimentistas foram associadas à inserção de imigrantes euro-peus, a memória regional e também a historiografia acabaram por reforçar a exclusão do negro. Essa prática de silenciamento reflete também na construção e na memória de Curitiba, desconsiderando a participação negra na construção e prática urbana. Apesar disso, é no espaço central da cidade que estão localizados diversos locais de forte expressão negra, desde a capela que abrigava a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, uma das principais congregações de negros, até duas sociedades operárias com grande participação de negros: a Sociedade Operária e Beneficente Protetora dos Operários, e a Sociedade Operária e Beneficente 13 de Maio. A prática de formar sociedades, associações e clubes, desde meados do século XIX, foi uma alternativa para colocar em pauta as dificuldades e demandas políticas e sociais de negros. Sua função mutualista, que prestava

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auxílio aos sócios em casos de doença e morte, assim como a socia-bilidade por meio de festas e da cultura militante, foram essenciais para negros, trabalhadores ou não, que tentavam desassociar-se do estigma da escravidão. Para além disso, a relação com o espaço público era essencial para sua atuação, no que concerne à ocupa-ção de espaços centrais e à atração de visibilidade para os sócios, de acordo com o conceito de geografia associativa desenvolvido por Cláudio Batalha. A presença nesses espaços de sociabilidade, tanto interna nas sedes sociais, como externa em passeatas e ma-nifestações públicas, também pode ser vista como uma tentativa de maior inserção social e de afirmação de identidade por parte de indivíduos negros. Neste trabalho, buscaremos entender quais os espaços públicos ocupados por pessoas negras na região central de Curitiba, e seus propósitos na apropriação da cidade, entre as décadas de 1880 e 1910.

Liberdade de se obrigar ou obrigação de se libertar? Limites e ambiguidades da capacidade jurídica de livres e libertos para contratar sua força de trabalho na Corte do Rio de Janeiro (1830-1888) • Marjorie Carvalho de Souza (UFSC)

Para muitos libertos que tiveram a chance de conhecer, ainda que por frestas estreitas, o ambíguo e limitado mundo da liberdade no Brasil do século XIX, o preço a se pagar para não mais suportar trabalhos forçados acabou por se traduzir, paradoxalmente, no com-promisso de manter-se servindo compulsoriamente a um novo senhor. A alternativa que muitos escravizados encontraram para remir-se da escravidão foi celebrar contratos de locação de seus serviços como forma de quitar as dívidas que contraíram com o empréstimo que financiara suas alforrias. O presente trabalho se dedica a pinçar escrituras que registram essas negociações entre os Livros de Notas do 1º Ofício do Rio de Janeiro, entre os anos de 1830, data de publi-cação da primeira Lei de Locação de Serviços do Império, e 1888,

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ano da abolição. Mesmo que essa não fosse a situação jurídica que a legislação regulamentadora desses instrumentos buscara disciplinar, foi o principal uso a eles atribuído nos registros notariais. Preten-de-se, portanto, investigar os termos jurídicos em que os contratos de locação de serviços que encobriam alforrias condicionais foram registrados no Ofício selecionado e quais sujeitos se valiam deles para formalizar arranjos de trabalho. Ainda que de suas cláusulas, notoriamente favoráveis aos credores, revelassem a estratégia de extensão do domínio escravista e indenização das camadas proprietá-rias, que recuperava com eles investimentos aplicados na propriedade escrava e estendia as possibilidades de domínio sobre o trabalhador que se tornava livre, são documentos que também revelam indícios das negociações e prerrogativas atribuídas a empregadores e em-pregados, cujos termos poderiam ser reivindicados a partir de um pacto reconhecido publicamente e dotado de juridicidade. Mesmo que seja inegável que os trabalhadores escravizados e os egressos da escravidão viviam sob o domínio da precariedade, disso não resulta a completa negação em termos de direitos ou a inviabilidade de que agissem juridicamente, apropriando-se de instrumentos jurídicos para negociar e alterar sua posição social. É no terreno da ambiguidade que se insere esses instrumentos a que o direito emprestava valor de lei entre as partes, presumindo como iguais os seus pactuantes, e dentro do qual a presente proposta pretende se inserir, a fim de colher as ambivalências e contradições que se desenham no intervalo das abstrações normativas e da concretude das relações sociais.

Raça e classe no pós-abolição em Porto Alegre a partir do jornal O Exemplo (1910-1919) • Liana Severo Ribeiro (UFRGS)

A proposta de comunicação faz parte de uma pesquisa que es-tou desenvolvendo no mestrado em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no qual ingressei no início do ano de 2018. A principal fonte a ser pesquisada é o jornal da imprensa negra

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porto-alegrense intitulado O Exemplo e um dos objetivos norteadores será analisar como os sujeitos envolvidos na publicação do jornal construíram e acionaram suas noções e identidades de raça e de classe (enquanto trabalhadores) entre os anos de 1910 e 1919. O jornal O Exemplo surgiu no ano de 1892, em Porto Alegre, por iniciativa de um grupo de amigos e em meio a uma complexa conjuntura. Naquele contexto, marcado pela recém-conquista da abolição da escravidão e pelo advento da República, os anseios e debates acerca do acesso à cidadania por negros e negras estava na ordem no dia. Até a década de 1930, quando deixou definitivamente de circular, O Exemplo se preocupou em trazer denúncias envolvendo casos de preconceito de cor, que impedia negros e negras de frequentarem determinados espaços públicos da capital gaúcha, tais como bares, cafés, teatros e até mesmo escolas. O periódico também denunciava o aumento do preço das moradias, dos alimentos, debatia os rumos da política nacional e tantos outros aspectos cruciais para os trabalhadores do período. Minha contribuição de pesquisa se insere no campo de estudos sobre o pós-abolição no Brasil, procurando dedicar aten-ção para as diferentes expectativas, projetos de cidadania, busca por direitos e embates vivenciados por homens e mulheres negras envolvidos na produção de O Exemplo. Tendo como inspiração o conceito de racialização, busco compreender como os articulistas do jornal lidavam com as definições de raça dispostas no período e com que sentido ou propósito mobilizavam uma identidade enquanto “homens de cor”, levando em consideração que as percepções sobre raça não são estáticas, mas guardam relação com o contexto em que são produzidas. Além disso, a pesquisa propõe diálogo com a His-tória do Trabalho, na medida em que busca compreender as pautas e experiências de trabalhadores negros e do movimento operário durante o contexto da Primeira República. Assim, busco contribuir para uma maior articulação entre o campo da pós-abolição e a histó-ria do trabalho, problemática que vem sendo colocada em evidência pela historiografia mais recente.

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Possibilidades e desafios na aplicação da lei 10.639/03, intervenções e atividades acerca do ensino de História e cultura afro-brasileira e africana no âmbito escolar: Relatos de práticas exercidas através do PIBID • Alícia Quinhones Medeiros (UFSM)• Guilherme Vargas Pedroso (UFSM)

O presente trabalho parte do relato da realização de atividades desenvolvidas em uma escola de ensino básico no município de Santa Maria/ RS, por um grupo de alunos e alunas da Universidade Federal de Santa Maria, bolsistas do PIBID - Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, que no mês de Novembro de 2018 exerceu ativi-dade relacionadas ao Mês da Consciência Negra. As atividades foram desenvolvidas em conjunto com os/as bolsistas, professoras e estu-dantes, a fim de dialogar acerca das questões - que abarcam tanto o mês de Novembro quanto o restante do ano - de racismo recorrentes na comunidade local e dentro da escola. Nossa prática reflete diretamente à aplicação da lei 10.639/03, a qual trata do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana. Abarcamos reflexões sobre as experiências negras em escravidão e liberdade, assim como seus protagonismos, suas trajetórias e suas diversas formas de resistência. Dessa forma, buscamos aproximar os alunos e alunas dessa temática, a qual é de suma importância para a compreensão das diferenças e diversidades que compõem a sociedade brasileira. Nesse sentido pretendemos dialogar continuamente com as/os estudantes assim como com as/os professores e a comunidade, com o objetivo de fomentar essas discussões no dia-a-dia da escola, durante todo ano. Sendo assim, este trabalho pretende expor quais foram os desafios, as possibilidades e resultados adquiridos durante a experiência nesta escola, a fim de ampliar o debate do ensino de temáticas que abordam a sociedade e cultura africana e afro-brasileira, que ainda se vê silenciadas dentro das salas de aula e no âmbito escolar em geral.

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Cacumbi e Caxangá: Festividades de africanos e afrodescendentes na obra de Franklin Cascaes • Hudson Louback Coutinho da Silva (UFSC)

Considerado um dos maiores artistas de Santa Catarina do século XX, Franklin Joaquim Cascaes (1908-1983) tornou-se referência no que tange a preservação da cultura catarinense. Sua obra ficou conhecida como um símbolo da cultura açoriana, tomada como uma marca para Florianópolis e o Estado de Santa Catarina. No entanto, por mais que o seu acervo faça inúmeras referências à cultura açoriana, sua obra não se limita a este aspecto. Dentre seus trabalhos, 700 esculturas, 944 dese-nhos, 144 cadernos pessoais e 476 folhas avulsas, foram doados por ele e hoje fazem parte do acervo do MArquE (Museu de Arqueologia e Etnologia professor Oswaldo Rodrigues Cabral da Universidade Federal de Santa Catarina). Neste acervo, há uma série de referências à cultura afrodes-cendente em Santa Catarina, tanto no período da escravidão, quanto no pós-abolição, mas que de certa forma foram negligenciados pelos idealizadores da “açorianidade” catarinense. O nosso objetivo será o de abordar como a questão da religiosidade de africanos e afrodescenden-tes está presente em sua obra, por meio de dois conjuntos específicos de peças relacionadas a festividades: Dança do Cacumbi e Negros velhos do Caxangá. Nestes conjuntos de esculturas, todos os integrantes são homens negros. A dança do Cacumbi é um conjunto com 14 peças, do qual as evidências apontam retratar o Cacumbi do capitão Francisco Amaro, festividade que estava relacionada ao culto de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito. No que diz respeito ao conjunto Dança dos Negros Velhos do Caxangá, é formado por 7 peças que retratam homens negros de idade avançada cantando e dançando. Cascaes ainda nos informa em seus escritos que para a elaboração deste conjunto baseou-se em entrevistas realizadas no ano de 1955, com o senhor Jacinto de Aguiar. Nesta entrevista observa-se que a festividade servia para recordar os tempos da escravidão e a liberdade. Assim, por meio das pesquisas que Cascaes realizou, com início em 1946, conseguimos perceber aspectos destas festividades, bem como a sua projeção na mentalidade dos ha-bitantes de Florianópolis no período em que Cascaes desenvolveu seus

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trabalhos com moradores locais, tendo por tema homens e mulheres negros em Santa Catarina. Dessa forma, analisaremos as esculturas e manuscritos do artista, com o intuito de abordar a influência desses homens e mulheres negros na cultura catarinense, considerando-os também como parte integrante e indissociável da cultura local.

A definição da política espanhola sobre a escravidão de indígenas e africanos, 1492-1551 • Victor Vilmar Alexandre (UFSC)

Neste trabalho viso compreender a política escravista adotada pela Coroa espanhola nas Américas. Isto é possível porque não se tra-ta de um estudo pormenorizado de toda a prática da escravidão em todas as regiões, mas de um exame do debate jurídico e da regulação legislativa daquela prática, o que compreende um conjunto restrito de fontes primárias. A investigação percorrerá o debate jurídico-teológi-co que conduziu à promulgação das Leyes Nuevas (1542) e examinar a tensão entre os imperativos para a execução da medida e os impulsos locais no sentido de continuar com a redução dos índios à escravidão. O período entre 1492, ano das chegadas dos europeus no Novo Mundo, e 1550-51, quando se deu a célebre polêmica indigenista entre Bartolomé de Las Casas e Juan Ginés de Sepúlveda. Mas suas divergências sobre a questão indígena já eram fomentadas a anos, em 1544-45, Sepúlve-da escreveu “Democrates segundo, o de las justas causas de la guerra contra los índios” obra baseada explicitamente na filosofia aristotélica. Pois o teólogo defendia a “guerra justa” contra os ameríndios a partir da concepção de Aristóteles “escravos por natureza”. Assim, os estrangeiros de Aristóteles, os “bárbaros”, portanto, sujeitos “predestinados” a ser-vidão natural, para Sepúlveda são os ameríndios do Novo Mundo. Nessa lógica far-se-iam justa a guerra para subjugá-los ao domínio Castelhano. Então uma das justificativas centrais nos debates dos teólogos/juristas foram denominar como “as barbáries indígenas”, fora um ponto crucial de persuasão na tentativa de legitimá-la. No debate de Valladolid, Se-púlveda teve um adversário na altura, Bartolomé de Las Casas nomeado

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Bispo da cidade real de Chiapas, defendia e manifestava os direitos de os indígenas serem tratados como humanos da mesma maneira que os espanhóis. Próximo cronologicamente das publicações de Sepúlveda, o Frei escreve a “Brevíssima Relação da Destruição das Índias Ocidentais”; “De regia potestate”. Las Casas persuadia o poder Real de Castela con-tra as barbaridades dos espanhóis aos então súditos indígenas, porque tratava-os como escravos sem respeitarem os preceitos religiosos. Paralelamente na Espanha Sepúlveda defendia a guerra justa, o que mostra a distância de Sepúlveda com a realidade da América Hispânica e aquilo que seria uma possível “forma correta” de iniciar uma guerra justa. A questão de Sepúlveda nunca ter ido para a América foi uma das armas argumentativas de Las Casas, pois embora conhecedor teórico da servidão natural aristotélica, a realidade concreta dessa guerra justa Sepúlveda nunca as viu. (GUTIÉRREZ, 2014, p. 223-227).

Espacializações coloniais e povos indígenas na capitania de Goiás (1730-1760) • Paloma Natalia Riquetta Nervi (UFSC)

O banner apresentará os resultados parciais da pesquisa de iniciação científica do projeto Espacializações coloniais: a produção cartográfica e a dinâmica espacial da economia colonial (Brasil, séc. XVI-XVIII). No trabalho desenvolvido abordamos o processo de espa-cialização da economia colonial nas minas de Goiás ao longo do século XVIII. Privilegiando a documentação cartográfica e as correspondências do Arquivo Histórico Ultramarino, percebemos que diversos grupos indígenas ocupavam vastos territórios nas regiões onde foram cons-tituídos ambientes coloniais (vila, arraiais, povoados, roças, fazendas, engenhos, currais e etc.). Entendemos que os mapas são representa-ções que precisam ser desconstruídas, mas que, associadas a outros documentos, revelam muito sobre a dinâmica colonial e o processo de desterritorialização e reterritorialização dos povos indígenas do Brasil Central. A partir desses documentos nos questionamos sobre a natu-reza das relações entre sociedades indígenas e a dinâmica colonial, a

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presença da escravidão indígena, assim como buscamos entender de que formas as estratégias indígenas se relacionaram e se construíram no processo de espacialização de atividades econômicas. Pudemos acompanhar, ainda que de modo fragmentar, a trajetória de centenas de índios Bororo. Migrados da região das Minas de Cuiabá para Goiás, sob o comando do sertanista Antonio Pires de Campos, os Bororo aparecem como a principal força militar na luta contra povos Caiapó e Acroá e tam-bém serviram ao combate contra quilombos. Nossa pesquisa procurar compreender a exploração do trabalho indígena e africano de maneira articulada, como partes da totalidade do processo de espacialização da economia colonial. Ademais, é preciso que nos livremos da dicotomia resistência-incorporação em relação às sociedades indígenas, pois ela, além de limitar a visão sobre a agência indígena no processo colonial, alimenta os preconceitos em relação ao lugar dos indígenas na con-temporaneidade. Precisamos lançar outros olhares, outras perguntas, para compreendermos a resistência no ato de existir dentro das condi-ções impostas pela colonialidade. A trajetória dos Bororo nos desafia a pensar nos limites entre liberdade e escravidão dos povos indígenas do Brasil Central no contexto da conquista e da colonização portuguesa na região. Os Bororo conquistaram espaços, como por exemplo, a conces-são de uma sesmaria, através de Pires de Campos, e a possibilidade de reproduzirem relações sociais e de poder próprias da sua organização enquanto sociedade indígena. Submetidos à administração particular e por vezes descritos como “cativos”, os Bororo encontravam meios de negociar condições e defender seus interesses enquanto grupo.

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Mesa Redonda: Leituras do campo historiográfico do pós-abolição no BrasilLocal: Auditório do CFH (Bloco B)• Fernanda Oliveira da Silva (UFPel) • Lúcia Helena Oliveira Silva (UNESP - Assis) • Regina Celia Lima Xavier (UFRGS)

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SESSÃO 10 » DIREITO E ESCRAVIDÃOLocal: Mini-auditório do CFH (Bloco B, 2º andar)Coordenador e comentarista: • Waldomiro Lourenço da Silva Júnior (UFSC)

Entre a escravidão e a liberdade – o caso do escravo Maurício Ferreira de Nóbrega e as estratégias para sacramentar seu matrimônio no Maranhão setecentista.• Marinelma Costa Meireles (IFMA)

A historiografia sobre a escravidão de origem africana passou valorizar uma diversidade de fontes como possibilidade de alcan-ce à vida de homens e mulheres marcados por rotinas, saberes e poderes coloniais, mas, até, então, silenciados na documentação comumente utilizada para estudar tais temáticas. Tal importância fica mais evidente, sobretudo, nas pesquisas dedicadas aos anos finais da escravidão negra, principalmente após a Lei do Ventre Livre (1871). Ainda são poucos os estudos que analisam a ação dos escravizados na esfera da justiça eclesiástica e menor ainda é o número de pesquisas dedicadas ao tema fora do eixo centro-sul do Brasil em períodos mais remotos. Por meio das fontes eclesiásticas alcança-se as condições materiais, de luta e de resistências de negros escravizados. Esta comunicação objetiva discutir a história de Maurício Ferreira e Romana Pereira, que 1751 decidiram se ca-sar, no Maranhão, região localizada ao norte do Brasil, mas alguns obstáculos embaraçaram o intento do casal. Primeiro, moravam em freguesias diferentes; segundo, Maurício era escravo e estava com sua liberdade em litígio. Optaram, assim, por se deslocar em grande distância e casaram numa terceira freguesia. O problema estava no fato de Maurício ter falsificado o mandado de casamento adulterando as partes que tratavam da privação de sua liberdade e do nome da freguesia. Pretende-se discutir ainda como as autoridades eclesiásticas do bispado do Maranhão agiam nesses casos, como

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se processava a vigilância das atitudes dos fiéis, quais as orienta-ções para sacramentar o casamento em face da Igreja e quais as peculiaridades quando se tratavam de escravos.

O jurista Luiz Gama: análise dos nexos entre sua produção e rede de relações. • Luiz Gustavo Ramaglia Mota (USP)

A presente comunicação oral refere-se à apresentação de resultados parciais de pesquisa de mestrado em andamento. Esta tem como objetivos analisar a produção intelectual de Luiz Gama no campo do Direito, compreendê-lo enquanto um autor de discursos jurídicos, investigar as características da sua argumentação e, por fim, buscar, nas fontes investigadas, indícios das suas redes de relações e o perfil dos indivíduos defendidos por ele. As fontes in-vestigadas compreendem 16 processos judiciais nos quais Luiz Gama tomou parte como advogado impetrante e suplicante, entre as dé-cadas de 1860 a 1880. A maioria desses processos envolve petições de habeas corpus em que Gama advogou em prol de escravizados. Luiz Gonzaga Pinto da Gama (1830-1882) foi um negro baiano, filho de africana livre e pai fidalgo. Foi um destacado abolicionista repu-blicano e liberal radical, tendo atuado na literatura, no jornalismo, no Direito e na política. Embora nascido livre, foi escravizado pelo próprio pai quando criança e encaminhado à Corte e, então, a São Paulo. Foi nesta cidade que ele viveu a maior parte de sua vida. Após ter vivido como escravizado por quase uma década, fugiu e ingres-sou no Exército, tendo depois trabalhado em diversas autoridades policiais. Ganhou fama por defender, sem custos, os escravizados nos tribunais. A presente comunicação está estruturada da seguin-te forma: a primeira seção contém uma apresentação biográfica sobre Luiz Gama, bem como trata do abolicionismo em São Paulo; em seguida, há uma revisão historiográfica sobre o tema. Por fim, a análise da documentação.

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O ventre livre no ocidente: processos de criação e formação da linguagem jurídica do escravismo.• Paulo Henrique Rodrigues Pereira (USP)

Ao longo do século XX, consolidou-se uma interpretação do Di-reito como Jogo de Linguagem. A lei é tida como parte de um processo de formação de uma semântica a partir da apropriação, e de novos usos, de conceitos inseridos e validados ao longo do desenvolvimento da sua tradição. Cada construção jurídica positivada carrega em si uma lenta formação e depuração de ideias: as mudanças dos sentidos dos institutos, os enfrentamentos jurídicos e políticos no cotidiano das sociedades, e a construção de novos valores que, inseridos na totalidade de uma ordem jurídica, ajudam a formar novos conceitos e performances do aparato jurídico de uma sociedade. A escravidão e o processo de sua abolição são importantes exemplos desses pro-cessos de construção e depuração da linguagem jurídica. As disputas acerca do tema mobilizaram uma ampla rede de conceitos jurídicos, interesses, princípios morais, criando um diálogo entre atores que, nas suas agências, ajudaram a promover uma série de mudanças sobre o tema. Esses discursos jurídicos foram praticados em diver-sos ambientes, de modo a impedir, ou incentivar, os processos de abolição. Em geral, as leis constituídas acerca do tema da escravidão no século XIX promoveram consolidações, e novas interpretações de conceitos que já haviam se formando ao longo dos séculos da tradição jurídica ocidental. Tal processo sofreu uma importante interrupção no Brasil com a promulgação da Lei do Ventre Livre, em 1871, que atacou uma das bases jurídicas do escravismo – libertando o nascituro – e consolidou instituições protetivas aparecidas ao longo das disputas judiciais anteriores ao diploma. Embora a saída abolicionista via liber-dade do ventre tenha ocorrido no Brasil nos anos de 1870, interessante anotar que tal resposta também se desenhava em diversos lugares da América escravista, no mesmo período. A presente comunicação pretende investigar essas formas de transmissão, compreendendo os vínculos intelectuais que permitiram a criação de diplomas tão parecidos em diferentes realidades nacionais. A comunicação pro-

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curará tecer uma breve história intelectual da libertação do Ventre nas ideias jurídicas do período, analisando a aparição do instituto nos diferentes regimes jurídicos do escravismo nas Américas. Não só se buscará compreender de forma comparada os processos que culminam no ventre livre em diversos países, mas também desenhar a interação de um debate que, em certo sentido, ajudou a produzir uma importante quebra na tradição do escravismo na cultura ocidental.

O posicionamento do primeiro Gabinete do Quiquênio Liberal em relação às questões do tráfico.• Juliana da Silva Drumond (UFRRJ)

O presente trabalho discute o posicionamento do ministério sobre as relações comerciais do Brasil com a Inglaterra e a questão do tráfico ilegal de escravos. Como o ministério se coloca em relação aos interesses da classe senhorial e como essa articulação é vista por seus apoiadores e opositores. Além disso, processa-se como o ministério de 2 de fevereiro dá conta da pauta política que foi, ao longo da década de 1830, defendida e articulada pelos saquaremas. A comunicação busca perceber como o gabinete liberal se posiciona em relação à questão do tráfico de escravos. Esse contexto histórico é ao mesmo tempo o do auge da escravidão no Império Brasileiro, o da ilegalidade do tráfico, o das pressões inglesas anti escravagistas. Para compreender as posições do ministério sobre esse contexto, é importante procurar identificar as relações pessoais e políticas dos seus membros com o tráfico de escravos e com a produção do café na região do Vale do Paraíba; Visando compreender as ações do ga-binete em relação aos problemas do período foi importante a análise dos relatórios da Repartição dos Negócios Estrangeiros, do ministro Ernesto Ferreira França e a análise do protesto que representava a opinião da Monarquia brasileira frente ao tratado assinado de modo unilateral pela Inglaterra. O trabalho trata das questões sobre a pres-são inglesa, do tráfico e do futuro da escravidão. Através da análise dos jornais e dos relatórios dos ministros, o capítulo discute a atu-

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ação do gabinete liberal de fevereiro de 1844 dentro do processo de consolidação do Império; sua relação com a classe senhorial, e seu posicionamento dentro do processo de direção moral e intelectual saquarema. Há que se considerar os eventos históricos nos quais os gabinetes estão envolvidos e quais as relações desses políticos com outros dirigentes políticos e a classe senhorial como um todo. Dessa maneira, o objetivo é entender como os gabinetes liberais se posicionam dentro desse contexto de direção moral e intelectual conservadora. Para isso, é importante identificar os posicionamentos dos gabinetes em relação aos problemas vivenciados no Império. O primeiro gabinete ministerial do quinquênio liberal no poder atuou num período envolvido por discussões acerca do futuro do tráfico de escravos e da escravidão. O modo como o gabinete age diante desses eventos nos mostra a sua postura política e como ele está ligado aos interesses da classe senhorial e às posturas conservadoras em defesa dos proprietários e traficante de escravos.

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SESSÃO 11 » TRÁFICO DE ESCRAVOS ILocal: Auditório Carlos Augusto Figueiredo Monteiro (Bloco F, 7º andar)Coordenadora e comentarista: • Beatriz Gallotti Mamigonian (UFSC)

Nas tramas negreiras: o comércio de escravos entre Pernambuco e a África Centro-Ocidental, 1810-1830.• Aline Emanuelle De Biase Albuquerque (UFPE)

A historiografia tem aprofundado o estudo sobre as trocas cul-turais e o fluxo de gente que circularam entre os continentes que bordejam o oceano Atlântico durante o tráfico de escravos africanos. Adotando essa vertente do “Mundo Atlântico”, este trabalho investiga o comércio negreiro e as conexões entre Brasil e África, partindo dos negócios de três traficantes de escravos, sócios e também cunhados entre si. O objetivo é analisar a atuação dessa empresa negreira que integrava o porto do Recife a África Centro-Ocidental, região que mais enviava cativos a Pernambuco. Nesse sentido, o recorte temporal contempla desde a década de 1810, quando da entrada desses homens no comércio e do auge do comércio para a província no século XIX, até 1830, ano em que o trato se tornaria ilegal como determinado pelo Tratado anglo-brasileiro de 1826.

Traficantes e capitalistas: Reflexões a partir da trajetória de Antonio Pedrozo de Albuquerque (1798-1878)• Silvana Andrade dos Santos (UFF)

O fim do tráfico transatlântico de escravos para o Brasil, na década de 1850, tem sido visto como um importante marco para a história do país em diversos aspectos. No que se refere à economia, estudiosos apontaram para o fato de que o encerramento desta ativi-

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dade liberou vultosos capitais, os quais foram reinvestidos em outros ramos de negócios no Império, contribuindo para o desenvolvimento econômico do Brasil. Nesta transição, alguns traficantes (dentre os quais o exemplo máximo tem sido visto como o Barão de Mauá) obti-veram considerável sucesso, tornando-se grandes capitalistas. Neste artigo, apresentaremos a trajetória de um destes homens: Antonio Pedrozo de Albuquerque. Reconhecido entre seus contemporâneos como primeiro capitalista do Norte do Império e pela historiografia baiana como um dos principais agentes socioeconômicos na província no oitocentos, Pedrozo teve sua riqueza constituída principalmente no tráfico transatlântico de escravos. Além disso, ao longo de sua traje-tória esteve envolvido com atividades como comércio de charque, na-vegação a vapor, projetos de colonização, ferrovias e bancos. Quando morreu, em 1878, era proprietário, entre outras coisas, de dezenas de imóveis em Salvador, modernos engenhos no Recôncavo, uma grande fábrica têxtil e ações em diversas instituições, além de possuir mais 500 escravos entre suas propriedades. Tendo sido Comendador da Ordem de Cristo e provedor da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, carregava ainda o estigma do envolvimento com o tráfico ilegal (uma das razões pelas quais lhe foi negado um título nobiliárquico, apesar das reiteradas tentativas de adquiri-lo). Da cidade do Rio Pardo, no Rio Grande, local em que nasceu, passando pela Corte, até se es-tabelecer na Bahia, onde consolidou sua fortuna, a análise de sua longeva vida (1789 – 1878) pode fornecer importantes contribuições para o entendimento da sociedade brasileira oitocentista. A despeito disso, sua vida ainda carece de estudos aprofundados. Assim, este artigo apresentará a trajetória de Antonio Pedrozo de Albuquerque procurando, a partir da análise de sua atuação econômica, refletir e retomar a discussão historiográfica sobre a relação existente entre o contrabando transatlântico de escravos e a dinamização econômica brasileira no século XIX.

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Fazendeiros-negreiros: personagens e lugares do tráfico ilegal de africanos no litoral do sudeste brasileiro (c.1831-1856).• Thiago Campos Pessoa (UFF)• Walter Luiz Carneiro de Mattos Pereira (UFF)

A ilegalidade do tráfico de africanos para o Brasil impôs profundos silêncios a sua história. No sudeste, os desembarques de africanos eram sustentados por uma estrutura litorânea integrada ao Atlântico, a partir de propriedades praieiras que serviam à recepção desses indivíduos reduzidos ilegalmente à escravidão no Império do Brasil. Seus donos, comendadores e nobres, animados pelo dinamismo do complexo cafeeiro, reergueram o tráfico sob o manto da ilegalidade. Quebrar esse silêncio construído co-mo política de Estado significa identificar sujeitos e lugares, explorando indícios de histórias encobertas com habilidade pelo Estado imperial bra-sileiro. Nessa comunicação, analisaremos os lugares e personagens do tráfico transatlântico de escravizados no espaço da antiga Província do Rio de Janeiro e em seus limites entre o norte do litoral de São Paulo e o sul do Espírito Santo. Para tanto, seguiremos os indícios sobre o comércio negreiro na clandestinidade no mar que tocava o amplo complexo cafe-eiro estruturante do Império do Brasil. Ao longo da análise, buscaremos evidenciar a construção de fazendas-negreiras e seus senhores que em suas ações reergueram o tráfico sob o signo da pirataria, ao passo em que construíram imensas fortunas marcadas pela clandestinidade. O trabalho em exposição é síntese de projeto que se inicia na linha da história social a fim de mapear, com acuidade histórica, os lugares e as agências daqueles que reergueram o tráfico transatlântico de africanos no litoral responsável por cerca da metade dos africanos ilegalmente escravizados no Brasil.

Negócios da ilegalidade: a atuação de Manoel Pinto da Fonseca no tráfico de escravos (1831 - 1850).• João Marcos Mesquita (UNIRIO)

Em novembro de 1831 o império brasileiro promulgou a primeira lei de abolição do tráfico de escravizados para o seu território. Seu sucesso

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inicial foi iminente, com a aliança entre o Estado brasileiro e as forças repressivas britânicas, que conseguiram reduzir o desembarque de es-cravos a números inexpressivos, em comparação aos anos anteriores. Contudo, em meados da década, o comércio ilegal de cativos dava os primeiros sinais de seu recrudescimento, sobretudo, devido à formação do complexo cafeeiro na bacia do Vale do Paraíba e do dinamismo da região do sul Fluminense. Nesse aspecto, o tráfico atlântico de africanos escravizados, agora sob a forma de contrabando, se tornou fundamental para as pretensões econômicas e políticas da classe senhorial que se constituía ao longo da década de 1830. Assim, foi necessária a reestru-turação deste comércio, que havia se desarranjado após a lei de 1831 com a ausência da participação de muito dos traficantes tradicionais, devido a ampliação do risco da atividade. A renovação dos mecanismos de funcionamento do tráfico de escravos ficou, então, na mão de novos agentes comerciais – muitos dos quais já tinham funções menores nos meandros do tráfico legal –, que viam a elevação dos preços dos cativos, devido ao aumento exponencial da demanda pelo complexo cafeeiro que se instituía naquele momento. Dessa maneira, muitos foram os novos aventureiros do tráfico, no entanto, pouquíssimos receberam o mesmo destaque que Manoel Pinto da Fonseca. Português, radicado no império do Brasil desde meados da década de 1820, Fonseca foi um proeminente negociante de escravos para o império do Brasil no perí-odo do contrabando, sobretudo na durante a década de 1840, quando foi responsável por, ao menos, vinte e oito especulações negreiras. De caixeiro a um dos principais traficantes da praça comercial do Rio de Janeiro, Fonseca estabeleceu conexões que envolviam tanto a África ocidental quanto a oriental e a o litoral norte e sul Fluminense, além de ter formado grande rede comercial no centro-sul brasileiro, garantindo, assim, sua ascensão econômica e social na Corte. Nesse sentido, este trabalho tem por objetivo apresentar as conclusões da pesquisa, em nível de mestrado, acerca da atuação de Manoel Pinto da Fonseca no tráfico ilegal de escravos para o império do Brasil ao longo do período do contrabando, destacando seus métodos e estratégias para garantir a continuidade de suas operações negreiras, sem esquecer de apontar o prestígio conquistado dentro da “boa sociedade” brasileira.

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68 9º ENCONTRO ESCRAVIDÃO E LIBERDADE NO BRASIL MERIDIONAL

SESSÃO 12 » A PRESENÇA AFRICANA NA MEMÓRIA HISTÓRICALocal: Auditório do Bloco ECoordenadora e comentarista: • Joseli Maria Nunes Mendonça (UFPR)

Pós-emancipação, racismo estrutural e produção de esquecimento acerca da população de africanas|os e descendentes em narrativas de memória das cidades: o caso de Belo Horizonte.• Josemeire Alves Pereira (UNICAMP)

A atual capital de Minas Gerais, construída em fins do século XIX, foi inaugurada em 1897. Planejada sob inspiração positivista, foi criada sob os signos da modernidade e do progresso, para atender aos anseios das elites políticas e econômicas do Estado, diante das mudanças advindas com a abolição formal da escravidão e a instauração da República. Repre-sentando, pois, um importante passo dentro do projeto de “modernização agrícola”, por meio do qual buscava-se impulsionar a economia mineira – em desvantagem frente aos avanços da economia cafeeira e dos anúncios de industrialização no Rio de Janeiro e em São Paulo –, o projeto da Nova Capital comunicava, de modo geral, o intento de superação da experiência colonial, representada por Ouro Preto e o alinhamento do Governo de Minas a projetos de desenvolvimento mais associados aos ensaios de liberalismo econômico então vigentes no país. Em sintonia com este propósito estava, pois, a própria instalação da Cidade de Minas (depois Belo Horizonte), sobre o território do antigo povoado do Curral Del Rei, criado no início do século XVIII e cujo sítio foi substancialmente transformado para a construção de prédios e equipamentos públicos, além de casas de residência para fun-cionários da administração do Estado: simultaneamente à destruição de antigas casas em estilo colonial e “cafuas”, emergia profundo silêncio sobre a presença preponderante da população de Cabindas, Congos, Benguelas, Minas, Monjolo, “pretos” e “pardos”, assim classificada ao longo de todo o século XIX, nos Mapas de População do Curral Del Rei, em número sempre maior que o da população identificada como branca. Nesta comunicação, partindo destas considerações, indago as narrativas de memória e his-

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tória produzidas sobre a cidade e o eloquente silêncio destas sobre esta população afrodescendente, majoritariamente livre, já antes de 1888, bem como sobre a população de migrantes negros que afluíram em número cada vez maior para a nova cidade. Acervos documentais diversos – além dos mapas de população, iconográficos, relatórios médicos e documen-tação policial – suscitam caminhos interpretativos deste silêncio como elemento associado ao caráter estruturante do racismo na produção de representações sociais da cidade e dos sujeitos eleitos como agente de sua história.

Narrativas desconexas: O lugar da escravidão na história do município de Ponta Grossa (PR).• Merylin Ricieli dos Santos (UDESC)

Na tentativa de compreender e analisar de que modo vem se consti-tuindo uma historiografia negra em Ponta Grossa (PR), o presente trabalho traz resultados acerca dos principais conceitos que têm sido utilizados nas produções acadêmicas referente ao pós-abolição na região dos Campos Gerais. O objetivo destes escritos é trazer reflexões sobre a circularidade documental e as alternativas utilizadas pelos pesquisadores locais para tratar da escassez e fragmentação de fontes referentes ao tema. Busca-se, como objetivos específicos, problematizar através de pesquisas acadêmicas, qual narrativa se construiu sobre a escravidão na cidade de Ponta Grossa, bem co-mo entender qual é a memória predominante referente à presença escravista no município. Esta pesquisa tem um caráter bibliográfico, pois foi realizada a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas (FONSECA, 2002) e é de natureza qualitativa, vista como um campo transdisciplinar que envolve ciências humanas e sociais que atrai uma combinação de tendências que se aglutinaram (CHIZZOTTI, 2003). As discussões teóricas são norteadas pela categorização das produções disponíveis a respeito do tema. Na esteira do dialogismo e comunicação responsiva tais escritos partem das perspec-tivas teórico-metodológicas proposta pelo círculo bakhtiniano (1929/2005). Além de artigos, trabalhos de conclusão de cursos e livros sobre o assunto, outras fontes também serão utilizadas para compreender quais conexões e reflexões os autores produzem a partir das mesmas fontes.

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Construindo Visibilidades na Cidade de São José/SC: Uma Proposta de Ensino de História e Patrimônio Cultural dos Povos Africanos e Afrodescendentes.• Mylene Silva de Pontes (UFSC)

Este trabalho apresenta uma proposta metodológica de ensino de História que problematiza a cidade e seus diferentes espaços de memória articulados ao debate das relações étnico-raciais. A pesqui-sa promoveu o uso de fontes históricas agenciadas para a reflexão sobre o Patrimônio Cultural articulado à história de povos africanos e afrodescendentes, construindo, em conjunto com alunos (as) de uma turma de oitavo ano do Colégio Municipal Maria Luiza de Melo, reflexões históricas, por meio de debates, discussões, leitura, escrita e análise de documentos que deram origem a um Roteiro Histórico, que visa dar visibilidade à presença de povos africanos e afrodescendentes, questionando os marcos urbanos da cidade de São José/SC. As ati-vidades foram construídas e desenvolvidas a partir dos eixos: análise dos conhecimentos prévios dos (as) alunos (as); atividades de leitura e escrita a partir de textos didáticos sobre o Patrimônio Cultural; análise de diferentes fontes históricas sobre a história dos povos africanos e afrodescendentes; e a cidade como espaço de educação patrimonial por meio de um roteiro histórico. São apresentadas as propostas de atividades, a análise das diferentes etapas de desenvolvimento desse trabalho, refletindo-se sobre alguns elementos da prática pedagógica da professora pesquisadora que é autora da pesquisa e também alguns elementos da recepção dos alunos envolvidos.

Práticas e Representações de Educação Intercultural na EAUFPA: a experiência do Projeto Cartografia da Cultura Afro-brasileira e Indígena.• Antônia Maria Rodrigues Brioso (UFPA)

O artigo Práticas e representações de Educação Intercultura na Escola de EAUFPA: A experiência do Projeto Cartografia da Cultura Afro-

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-brasileira e Indígena da EAUFPA é resultado da dissertação de mes-trado que estuda o projeto de ensino, iniciação à pesquisa e extensão que trilha pela educação intercultural e étnico-racial desenvolvido no ensino médio da Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará (EAUFPA) . O projeto Cartografia foi um experimento metodológico que elaboramos na referida escola e executamos desde 2012 e que também apresentamos como o produto educacional da dissertação de mestrado do PROFHISTÓRIA que procura fazer o diálogo entre a epistemologia e a práxis. O Projeto em tela, elaborado pela autora do artigo, nasceu na esteira dos novos marcos das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 que altera-ram as Leis de Diretrizes e Bases da Educação – LDB inserido no conjunto das políticas afirmativas para a promoção da igualdade racial, colocando em conexão o ensino de História, a interculturalidade e a educação para as relações étnico-raciais. O artigo, que constitui o segundo capítulo da dissertação de mestrado , pretende identificar e analisar as contribui-ções que o Projeto Cartografia da Cultura Afro-brasileira e Indígena tem reverberado na Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará (EAUFPA), onde ele tem se desenvolvido ao longo de oito anos. Objetiva verificar as contribuições tanto no ensino e aprendizagem, quanto na afirmação identitária dos estudantes afro-descendentes e mestiços. Traz ao longo desses oito anos de projeto Cartografia a relevância em discutir o tema da escravidão e outros das interações da diáspora africana em Belém, trazendo à tona histórias ocultas ou esquecidas intervindo na construção de memórias públicas para além da escravidão e ao mesmo tempo superando uma visão ainda muito presente no entendimento sobre a região que o negro “se tornou um elemento ausente na construção da sociedade amazônica”. (Chambouleyron, 2006), relegando a presença dos africanos e afro-descendentes a um segundo plano na região Ama-zônica. O artigo é relevante pois o Cartografia tem sido uma importante referência na educação intercultural e na difusão do conhecimento sobre a escravidão e a liberdade no ensino formal e na história pública na capital do estado do Pará.

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SESSÃO 13 » SOCIABILIDADE E COMUNIDADELocal: Mini-auditório do CFH (Bloco B, 2º andar)Coordenador e comentarista: • Marcos Ferreira de Andrade (UFSJ)

A formação de senzalas numa vila em expansão açucareira: entre a continuidade e a ruptura nas escravarias de Campinas/SP, 1790-1810.• Carlos Eduardo Nicolette (USP)

Resultado da dissertação de mestrado em andamento, este artigo objetiva compreender a constituição das senzalas da vila de Campinas, interior de São Paulo, entre os anos de 1790 e 1810. O re-corte temporal desta pesquisa advém de um momento crucial para a região do Oeste Paulista – onde se localiza a vila – pois com a revolução de Saint-Domingue e o crescimento do consumo de açúcar na Europa, houve o brusco aumento do preço do produto no mercado interna-cional e um rápido investimento em engenhos na região, a qual viria a competir com Cuba pelo mercado internacional do produto, deixando de ser apenas uma área de economia focada no milho, arroz, feijão e amendoim. Campinas exerceu papel fundamental nesse período, com o crescimento vertiginoso de seu parque industrial açucareiro, pas-sando de 3 engenhos em 1790, para 53 em 1810, tornando-se a segunda maior produtora de açúcar de São Paulo; crescimento esse que foi possível pela massiva compra de africanos para serem mão de obra escrava, passando de 220 escravizados para 1.737, respectivamente. É neste quadro histórico que se localiza este texto, o qual estuda as senzalas que em algum momento do período tiveram, ao menos, 30 escravizados. Com a utilização de dezessete listas nominativas de habitantes de Campinas entre 1790 e 1810, este artigo realiza uma aná-lise longitudinal que visa identificar as possibilidades de permanência de escravizados, por anos a fio, numa mesma senzala. Selecionou-se para tal as senzalas que possuíram em algum momento desse período

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mais de 30 cativos, elaborando extensos mapas, nos quais cada cativo é acompanhado individualmente. As escravarias quando vistas de forma longitudinal demonstraram uma impressionante estabilidade, apesar de muitos cativos desaparecerem em determinado ano e, por vezes, voltarem posteriormente. Muitos escravizados permaneceram por até 20 anos na mesma senzala. No que diz respeito aos sexos, mantiveram uma tendência de equilíbrio entre homens e mulheres, mas com os casados sendo mais representativos nessa continuidade em relação aos solteiros. Levanta-se a hipótese de que não apenas a ação senhorial de favorecer a continuidade dessas famílias para a reprodução da escravidão seja a explicação para os casados serem a maioria entre aqueles que permaneceram no mesmo engenho, mas que a própria constituição da família e comunidade escravas, enquan-to ato de resistência, tenham influência fundamental na continuidade ou ruptura nas senzalas.

Experiências de liberdade e redes de sociabilidade entre ferreiros e costureiras, Minas do Ferro, Século XIX.• Maura Silveira Gonçalves de Britto (UFOP)

O proposta deste trabalho visa compreender as possibilidades de alforria e vivências de liberdade alcançadas por escravos e libertos ferreiros, na região das Minas do Ferro, no decorrer do século XIX. A análise das relações estabelecidas entre os ferreiros e as costureiras (entre escravos e libertos) é um dos eixos de nossa proposta de inves-tigação histórica. Da mesma forma, busca-se ampliar a discussão a respeito das estratégias de resistência à escravidão a partir da con-sulta às ações de liberdade, relacionando-as às experiências desses homens e mulheres, ferreiros e costureiras, ao longo do oitocentos. A documentação referente à pesquisa faz parte dos acervos do Arquivo Público Municipal de Itabira (inventários post-mortem, ações de liber-dade – grande parte dos dados já foi consolidada) e do Arquivo da Cúria Diocesana de Itabira (Livros de Registro de Casamento da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário; Livros 1, 2, 3 e 4).

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As relações estabelecidas por colegas de cativeiro e sua continuidade no pós-abolição.• Daniele Weigert (USP)

Este trabalho pretende investigar a trajetória dos escravos de João Carneiro Marcondes, destacando os vínculos parentais que es-tabeleceram na escravaria e sua continuidade no pós-abolição. João Carneiro Marcondes era fazendeiro pecuarista em Palmas no Paraná e possuía uma grande escravaria para os padrões locais. Os cativos de Marcondes diferenciaram-se por ligarem-se pelo parentesco ritual com colegas de cativeiro, o que pode demonstrar a coesão de uma provável comunidade formada pelos cativos da propriedade. Por isso, buscou-se verificar a continuidade das relações parentais e o estabelecimento de novos vínculos com antigos colegas de cativeiro no pós-abolição. O estudo consultou os registros paroquiais (assentos de casamento, batismo e óbito), cartoriais (cartas de liberdade, registros de compra e venda, doações, procurações etc.) e autos criminais e cíveis (processos criminais e de tutela e inventários post-mortem). Por meio das fontes, pretende-se percorrer algumas trajetórias e reconstruir estratégias dos indivíduos escravizados, investigando se houve continuidade nas relações com seus antigos colegas de cativeiro e dimensionar o quanto os vínculos estabelecidos na época da escravidão foram mobilizados pelos libertos no pós-abolição.

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SESSÃO 14 » TRÁFICO DE ESCRAVOS IILocal: Auditório Carlos Augusto Figueiredo Monteiro (Bloco F, 7º andar)Coordenador e comentarista: • Walter Luiz Carneiro de Mattos Pereira (UFF)

Caminhos entrecruzados: tráfico transatlântico e interno de escravos no Maranhão do fim do século XVIII. • Cristiane Pinheiro Santos Jacinto (UFPA)

Com a criação, em 1755, da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão a capitania maranhense se inseriu em definitivo no circuito comercial do tráfico transatlântico de escravos. Sua instalação ocorreu juntamente com a extinção da escravidão legal dos índios que, até en-tão, sustentavam as lavouras e eram objeto de disputa entre colonos e jesuítas. Embora essa mão de obra não tenha deixado de ser utilizada, tal medida contribuiu para a ampliação da presença africana na região. Detentora do monopólio do comércio de escravos para o Estado do Grão-Pará e Maranhão, a Companhia, finalmente, garantiu o abasteci-mento sistemático de escravos, alimentando um mercado crescente. Pesquisas já realizadas apontam que, nesse contexto, o tráfico transa-tlântico e o tráfico interno de escravos africanos se complementavam no abastecimento de mão de obra para a capitania. O presente texto objetiva fazer algumas ponderações sobre a dinâmica do comércio de escravos nessas duas esferas, transatlântico e interno, enfatizando as principais rotas, os comerciantes envolvidos, os quantitativos de-sembarcados, os preços e as mudanças que ocorreram na região em em fins do século XVIII.

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As sazonalidades do tráfico de africanos para as grandes propriedades escravistas da vila de Itu, 1790-1850.• Carlos de Almeida Prado Bacellar (USP)

A economia açucareira ganhou vigor na vila paulista de Itu a partir da década de 1790. A partir de então, a presença de cativos africanos cresce de maneira evidente, como se detecta através das listas nominativas de habitantes. No entanto, os registros paroquiais de batismos de escravos permitem evidenciar que tais africanos não estavam sendo batizados na própria paróquia, pois são raros ao longo das décadas de 1790 e 1800. Já chegavam batizados, sem sabermos onde ocorrera a cerimônia. A partir da década de 1810, no entanto, avolumam-se os batismos realizados localmente. Analisa-dos, tais registros permitem detectar dois fenômenos. Primeiro, a sazonalidade das chegadas das remessas destes africanos, que não sabemos se eram distribuídas uniformemente ao longo dos meses, ou se se concentravam em determinados períodos. Em segundo lu-gar, torna-se possível avaliar a sazonalidade das compras efetuadas por cada senhor. Uma análise preliminar permite perceber que, em alguns casos, as aquisições de africanos por certos senhores eram bastante separadas no tempo, o que permitirá que discutamos as motivações para as compras em cada momento. Por fim, é possível, também, perceber que muitas das compras, identificáveis pelos cor-respondentes batismos, reuniam grupos de proprietários, por vezes aparentados entre si, o que parece sugerir que poderia haver alguma estratégia de reunião de possíveis interessados na aquisição de um lote de cativos. Enfim, o que se pretende, aqui,é observar a dinâmica do tráfico em uma localidade ao longo de 60 anos, apontando para as possíveis flutuações no tempo, observadas através das iniciativas senhoriais de compra de novos escravos.

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Registros de batismo e tráfico de africanos para o Rio Grande do Sul na primeira metade do século XIX: primeiras notas de pesquisa.• Marcelo Santos Matheus (IFRS)

Há um bom tempo a historiografia vem demonstrando o quanto a mão de obra escrava foi essencial para a economia (seja na pequena agricultura, na pecuária e nas charqueadas, ou mesmo nos meios urbanos) no Rio Grande do Sul (RS). Mesmo que a reprodução natural tenha sido significativa no oitocentos, a produção e reprodução da escravidão na província esteve atrelada ao tráfico atlântico de africa-nos. Com efeito, já é razoavelmente conhecido o número de africanos que aportaram no RS entre o final do século XVIII e primeira metade do século XIX (quase 30 mil africanos escravizados), todavia, pouco sabemos para onde, isto é, para quais localidades esses africanos foram encaminhados após o desembarque no Brasil meridional. Neste contexto, a presente comunicação tem como foco a análise o tráfico de africanos escravizados para o sul da América portuguesa e, depois, Império do Brasil, com foco na capitania/província do RS, durante a primeira metade do século XIX. Para tanto, exploramos os registros de batismo. Para que o projeto se tornasse factível, dividimos o RS em oito macro-regiões. Neste primeiro momento, o foco recai sobre a região porto-charqueadora (formada pelas capelas de Estreito, Pe-lotas, Povo Novo, Rio Grande e São José do Norte), localidades que, juntas, concentravam o maior número de escravos da província (em 1814, por volta de 2.345; em 1858, por volta de 10.181 cativos). Portanto, mais precisamente, essa pesquisa se propõe a investigar quantos escravos africanos foram levados às pias batismais de diferentes capelas da supracitada região, procurando responder: afinal, os ba-tismos servem para o estudo do tráfico de africanos escravizados? Ao mesmo tempo, também iremos apreciar outros aspectos, como o percentual de africanos (frente aos nascidos no Brasil) batizados, o sexo dos mesmos, de que macrorregiões do continente africano migraram, etc. No atual estágio da pesquisa, já coletamos mais de 8.000 registros de batismos de escravos (mais de 1.700 deles de afri-

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canos). De antemão, é possível afirmar que o percentual de crioulos batizados era muito superior ao de africanos, mesmo em localidades onde o número de africanos, conforme censos demográficos, era superior. Da mesma forma, entre os africanos, havia um predomínio de homens e, também, de batizandos de nações da África Central (Congo, Benguela, Cabinda, etc.), embora o percentual de minas/nagôs não seja desprezível. Por fim, na falta de documentação mais apropriada, podemos considerar que, sim, os batismos são fontes preciosas para o estudo do tráfico de africanos.

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SESSÃO 15 » CAMPESINATO NEGROLocal: Auditório do Bloco ECoordenador e comentarista: • Paulo Pinheiro Machado (UFSC)

O direito à terra no Sudeste cafeeiro: a propriedade da terra e os “projetos camponeses” no final do período escravista (1850-1888).• Felipe de Melo Alvarenga (UNICAMP)

O objetivo desta proposta de comunicação oral é analisar as estratégias construídas por pequenos lavradores em sua tentativa de acessar à terra e defender seus direitos de propriedade na segunda metade do século XIX na cidade de Valença, localizada na Província do Rio de Janeiro. Logo após a promulgação da Lei de Terras de 1850, diferentes atores sociais buscaram legitimar suas porções de terras. Dentre estes atores, existiam aqueles pequenos lavradores, que não eram nem senhores e nem escravos, e que cultivavam a terra a despeito de não possuírem o título da propriedade que referendasse seu direito sobre o terreno ocupado. A historiografia mais atual sobre os chamados “homens livres e pobres” avançou na tentativa de compreender como esta categoria “espremida” entre os dois polos da sociedade escravista conseguia impor limitações ao poder dos senhores e lutar pelo direito à terra no Brasil do século XIX. Entretanto, acreditamos que podemos contribuir com os debates propostos pela bibliografia mais recente conectando as discussões historiográficas referentes à história social da propriedade com aquelas concernentes à construção da liberdade durante o período escravista balizada pelo acesso à terra que alimen-tava um determinado “projeto camponês” no Sudeste cafeeiro. Para realizar os objetivos desta proposta de pesquisa, propomos um método de “ligação nominativa” em fontes de tipologias diversas. Na busca por nomes de lavradores que declararam suas terras depois da Lei de 1850, procuraremos cotejar registros paroquiais de terras e processos cíveis

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e criminais. Neste caso, avaliaremos as relações construídas entre proprietários que detinham o título de propriedade e que apareceram enquanto declarantes de terras nos chamados Registros Paroquiais com aqueles pequenos lavradores que viviam na terra declarada, mas que somente apareceram nos processos judiciais posteriores ao re-gistro. Parte-se da hipótese de que “conflitos fundiários” poderiam ter sido balizados por estratégias costumeiras de acesso à terra, as-sentadas em relações pessoais e/ou familiares, que acabaram sendo mobilizadas pelos pequenos lavradores interessados em legitimar seus terrenos num contexto de regularização da apropriação fundiária e da propriedade da terra.

Escravos e Libertos na construção da paisagem dos campos do Planalto Serrano Catarinense.• Cristiane Fortkamp Schuch (UFSC)

Ao estudar aspectos da ocupação territorial dos campos cata-rinenses e suas transformações sócio espaciais e tecnológicas para manutenção da economia pecuária entre os séculos XVIII e XX, foi pos-sível mapear algumas rugosidades quanto à união entre a configuração territorial, a paisagem e a sociedade. Ressaltando a definição de Mar-celo Lopes de Souza, para qual o território é definido e delimitado por e a partir de relações de poder, que deve ser apreendido em múltiplas vertentes com diversas funções, que engendram materialidades que constituem seu fundamento econômico e sua base cultural. (SOUZA, 2001.p.108), o território organizado e reorganizado ao longo do tempo tornou-se o ponto de referência para interpretar as diferentes formas de compreender os limites e as autonomias de diversos sujeitos sociais em relação à utilização do meio natural. Neste sentido, o presente artigo visa refletir sobre os arranjos e as (re) organizações sociopolí-ticas que invisibilizaram o trabalho de escravos negros e indígenas no processo de construção da paisagem nos campos de altitude do Brasil meridional. Entre as representações das áreas de campos, florestas e fazendas de criação que foram modificados pela ação humana, er-

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guem se as taipas. Construídas para delimitar o espaço de trânsito de animais no período áureo do tropeirismo, os grandes corredores de pedra foram construídos por mão de obra escrava, negra ou indígena. Sua existência evitava que os animais das tropas se dispersassem no campo, se misturassem ao rebanho existente nas fazendas, ou se per-dessem. O mesmo material era utilizado para delimitar espaços e locais de trabalho, como a sede da fazenda, galpões e mangueiras. A divisão de espaços demarca fisicamente os espaços sociais, de trabalho e de lazer destas propriedades. O historiador Octacílio Schuler Sobrinho, ao descrever as origens do homem da Guerra do Constestado, afirma que o caboclo é a representação nativa e miscigenada destes grupos, que não possuem identidade étnica, mas que se encontra em várias regiões do Brasil (SOBRINHO, 2000.p.14). Especialmente na região do Planalto Serrano Catarinense seus hábitos culturais são diversificados, deixando traços de sua cultura na paisagem. No entanto, sua repre-sentação social foi segregada da composição política, econômica e cultural do Planalto Serrano Catarinense, bem como do processo de concentração da terra, consolidada a partir da Lei de Terras em 1850, momento em que a pecuária produziu uma valorização da terra similar ao das lavouras nas principais regiões brasileiras.

O lugar dos antepassados na comunidade quilombola Invernada dos Negros, Campos Novos/SC.• Renilda Vicenzi (UFFS) • Eliane Taffarel (UFFS) • Lidiane Taffarel (UFFS)

Um plátano em meio uma floresta de pinus é o ponto de referên-cia para localizar o cemitério da Comunidade Quilombola Invernada dos Negros – Campos Novos/SC. A proposta desta comunicação é abordar a constituição da referida comunidade a partir do diálogo dos registros de óbitos, da cultura material (cemitério – 900 m2) com a memória de pertencimento. O Cemitério da Invernada dos Negros fica localizado na comunidade da Corredeira, Distrito de Ibicuí e foi declarado como

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patrimônio histórico e cultural de Campos Novos em 2003. No local estão sepultados legatários das terras de Matheus José de Souza e Oliveira e seus descendentes. Restos mortais, evidenciados por uma lápide, ali ‘descansam’, sendo identificados como pertencentes ao tronco familiar dos herdeiros de Manoel de Souza. Este, filho da africana escravizada Josefa, nascido em 1854, recebeu alforria condicionada em 1866 e legou terras em testamento em 1877, casou-se com com Ignacia de Meira Góes, em 1879. Seu filho, Cândido Manoel de Souza, nasceu em 10 de março de 1883 e casou-se em 02 de maio de 1921, com a neta da legatária Margarida, Andrilina Fernandes da Silva. Cândido faleceu em 08 de dezembro de 1957, sem assistência médica e foi sepultado no Ce-mitério da Invernada dos Negros. Deixou os seguintes filhos: Francisco de Souza Netto, Altino de Souza, Sebastião de Souza, Izolina de Souza, Zulmira de Souza, José de Souza, Ovídio de Souza e Moacir de Souza. A lápide de Cândido Manoel está presente no Cemitério da Invernada dos Negros ainda hoje e representa o quanto o local é fundamental para a comunidade, sendo uma forma de memória de pertencimento. Além de ser o espaço onde muitos dos legatários e descendentes foram enter-rados, nesse local ainda existe uma taipa de pedras, construída pelos ex-escravizados, delimitando o local dos enterramentos. Diante disso, o Cemitério e a taipa de pedras tornam-se ainda marcos identitários e culturais da Comunidade Quilombola.

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SESSÃO 16 » RELAÇÕES DE COMPADRIOLocal: Mini-auditório do CFH (Bloco B, 2º andar)Coordenador e comentarista: • Carlos de Almeida Prado Bacellar (USP)

Escravidão e compadrio em Sant’Ana de Castro, 1795-1810: estudos preliminares.• Vinícius Augusto Andrade de Assis (UEL)

Este trabalho busca apresentar os resultados parciais da pesqui-sa “Nas redes do cativeiro: escravidão e compadrio em Sant’Ana de Cas-tro/PR (1795-1830)”, desenvolvida junto ao Programa de Pós-graduação em História Social da Universidade Estadual de Londrina. A passagem do século XVIII para o XIX foi marcado por contínuas resistências à or-dem escravocrata na América portuguesa por parte dos escravizados. Fugas, rebeliões, crimes, formações de famílias, quilombos, irmandades religiosas e as demais astúcias visavam amenizar suas condições de vida perante negociações e conflitos com os senhores. Assim como tais resistências, a constituição de laços de parentesco pelo compadrio foi de fundamental importância para a experiência em cativeiro, havendo diferentes variações conforme a localidade, a economia, o estatuto legal e demográfico das populações agregadas, o tamanho dos plantéis e as condições de cor, assim como os padrões de conflito, cooperação ou identidade entre os mesmos. A partir das discussões historiográfi-cas que apontam a escravidão no Paraná (5ª Comarca da Província de São Paulo) como uma das bases da economia tropeira e de abasteci-mento interno (juntamente com a prática do agregamento), com uma população majoritariamente crioula e pautada em pequenos plantéis – com exceção das fazendas de gado –, consideramos necessária a compreensão desses escravizados enquanto indivíduos que viveram e sobreviveram à escravidão perante as sociabilidades e solidariedades instituídas diante da pia batismal. Enquanto documento paroquial os livros de batismo registravam a introdução de indivíduos à doutrina ca-

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tólica através primeiro de todos os sacramentos. Enquanto fonte para o historiador essa documentação é rica e primordial para pesquisas seriais, uma vez que abarcam uma parcela alargada de determinados grupos sociais (é massiva), se repete na longa duração (é reiterativa) e possui o mesmo tipo de informação (é homogênea), permitindo assim uma visão estruturalista das sociedades a serem estudas, além de permitir uma série de estudos de caso via microanálise. Tendo como base um banco de dados formado pelos livros de batismo 1 e 2 da pa-róquia de Sant’Ana de Castro, levantaremos indícios e hipóteses sobre a tipologia das famílias escravas, a escolha das madrinhas e padrinhos dos afilhados, e a formação de redes de solidariedade dentro e fora das senzalas. Tal proposta nos permitirá entender a complexidade dessas redes de solidariedade, as possíveis motivações para tais laços, assim como as semelhanças e diferenças entre o compadrio cativo numa vila voltada as tropas e ao abastecimento interno em relação as localidades voltadas ao plantation e às exportações.

Relaciones por compadrazgo y apadrinamiento de mulatos libres. El caso de Cruz Ifran de la villa de Melipilla, 1780-1810 (Chile).• Andrea Margarita Armijo Reyes (USACH)

El estudio de las redes sociales permite establecer vinculaciones entre los individuos en cualquier ámbito social en el cual se desen-vuelvan, sea a través de la familia, la casa, el parentesco, la amistad, la vecindad y otros vínculos más amplios como la clientela, donde los individuos interactúan a través de redes interpersonales. Dichas rela-ciones operan en ámbitos horizontales en cada estamento y también verticalmente, logrando interrelacionar a todos y cada uno de los miem-bros del entramado social. En esta perspectiva se inscribe el compadra-zgo, mecanismo que permite la vinculación entre distintos individuos y grupos sociales de la población. A partir de estas consideraciones, nuestro objetivo es analizar los vínculos sociales por compadrazgo y apadrinamiento de mulatos libres con otros grupos sociales en la

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villa rural de Melipilla a fines del siglo XVIII. Planteamos que los sujetos buscan aliados con sus pares de la misma condición social y racial – es decir entre los mismos mulatos – pero también establecerán relaciones con otros grupos sociales como indígenas y mestizos, con el objeto de reafirmar, plausiblemente, pactos de comunidad o relaciones labores previas, buscando consolidar y/o cristalizar movilidad social y relaciones de poder construidas en base a las relaciones que escogerán los sujetos y, mediante mecanismos de reciprocidad que cobijaran una coexistencia de intereses, implicando una red de donaciones y contradonaciones, que crean dependencias y favores entre las partes involucradas, como acceder a recursos materiales e inmateriales que permitan mejorar o complementar sus estrategias de subsistencia, sobrevivencia y la re-producción de las unidades productivas. La problemática se analizará a través de trayectorias personales que permiten analizar cómo los actos de moverse espacialmente colaboran para ascender socialmente. El tema, además permite entender la creación de las jerarquías locales y la movilidad social que experimentan los mulatos posterior a su libertad, los que reunieron capital simbólico y material para ser reconocidos como sujetos de privilegio en la sociedad hispana, en que las variables como poder, prestigio, situación económica, redes sociales, serán ver-daderamente importantes. Las fuentes documentales del estudio pro-vienen del Archivo del Arzobispado de Santiago de Chile, principalmente registros parroquiales de bautismo y matrimonio. Además, escrituras públicas como testamentos, cartas de libertad, compra-venta deposi-tadas en el Archivo Escribanos de Melipilla.

Sociabilidades e parentescos na Meia Ponte no século XIX: breves comentários sobre a escravidão.• João Guilherme da Trindade Curado (SEDUCE)

Parte das experiências dos africanos e de seus descendentes no Brasil podem ser percebidas a partir do recorte aqui proposto que deli-mita o século XIX, em uma cidade do interior de Goiás, datada de 1727, que inicialmente contou com a mão de obra escrava para a mineração,

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mas que com a escassez do metal passou a ocupar o trabalho escravo na agropecuária de subsistência. É no contexto rural, que à primeira vista pode sugerir isolamentos, que abordaremos as relações tramadas via sociabilidades e consequentemente por meio de estabelecimento das relações de parentescos (nem sempre oficiais), que predominavam naturalmente na ruralidade goiana de então. A escala de investigação é restrita a uma fazenda, o Engenho de São Joaquim, e será abordada a partir de documentos produzidos oficialmente, contando ainda, so-bremaneira, com investigações bibliográficas que versam sobre gene-alogia local e estudos de caso sobre a fazenda em questão e dos que a habitavam no passado. As sociabilidades estabelecidas no Engenho foram brevemente descritas a partir das percepções do viajante francês Saint-Hilaire que ali se hospedou em 1819. Buscaremos, dentro do pos-sível, desvendar as questões das constituições familiares, mediante, também, os livros de batistério da segunda mais antiga paróquia de Goiás, a de Nossa Senhora do Rosário de Meia Ponte, atual Pirenópolis. Assim como tentar estabelecer as redes de parentescos dos escravos que se tornaram proprietários das terras em que trabalharam durante gerações ao longo do século XIX. A importância da incursão por um estudo de caso referente ao século XIX é a relevância que ele remonta, ainda hoje, para a cidade, uma vez que o antigo Engenho de São Joa-quim foi rebatizado como Fazenda Babilônia, que recebeu Tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e atualmente é um requisitado atrativo turístico. Assim, as reflexões que propomos perpassam o tempo e o espaço delimitado, pois as relações estabe-lecidas em termos de parentesco e de sociabilidades decorrentes da fazenda Engenho de São Joaquim transformou-se em enredos nos quais alguns dos escravos que ali viviam, por laços de parentescos, acabaram por herdar a propriedade e a constituir histórias que trans-correm gerações.

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SESSÃO 17 » ESTATUTOS EM LITÍGIOLocal: Auditório Carlos Augusto Figueiredo Monteiro (Bloco F, 7º andar)Coordenadora e comentarista: • Beatriz Gallotti Mamigonian (UFSC)

Liberdade usurpada: o combate às práticas de escravização ilegal de indígenas e seus descendentes.• Fernanda Aparecida Domingos Pinheiro (UNILAB)

Numa sociedade escravista, como a da América portuguesa, viver em liberdade e permanecer nesse estado não eram garantias perenes aos libertos, tampouco aos livres. Sobre os últimos incidia o temor ou a efetiva prática da escravização ilegal, ainda mais quando estavam em condições de maior vulnerabilidade. A tenra idade que os colocava na situação de dependência, a cor da pele que os associava à escravidão, a miséria que os forçava a prestar todo tipo de serviço - ou mesmo a associação de todos esses fatores – imprimiam as marcas do cativeiro e facultavam a imposição ilícita do domínio senhorial por meio de um tratamento rotineiro e da produção de títulos de propriedade. Por outro lado, na defesa da liberdade usurpada foram autuadas diversas ações cíveis que receberam julgamentos baseados em interpretações variadas de dispositivos legais, em inquirições de testemunhas e em presunções de direito. Entre os sujeitos envolvidos nos processos movidos no Juízo Geral da cidade de Mariana (Minas Gerais), ao longo do período colonial, destaco neste trabalho a atuação dos indígenas e de seus descendentes, ou seja, daqueles que se diziam filhos de mães índias com pais africanos ou crioulos. De suas histórias sobressaem os encontros entre povos nativos e os que para cá foram traficados. Na região mineradora da colônia, muitas vezes, eles foram colocados lado a lado, dividindo uma rotina de trabalho, os aposentos e o trato recebido, não obstante o fato de os indígenas terem sido beneficiados com leis gerais de libertação. Também constituiu uma experiência compartilhada entre indígenas,

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africanos e crioulos o combate judicial às práticas de escravização ile-gal. Ao enfatizar tal fenômeno, percebe-se a necessidade de verificar se havia especificidades no trato de suas demandas judiciais. Para tanto, pretendo aqui observar quais os recursos jurídicos foram mobilizados pelos indígenas e seus descentes nos embates que travaram na justiça, em especial, quais deles viabilizaram a restituição da liberdade. Se é provável que as artimanhas de algumas autoridades e, em especial, dos senhores tenham sido bem-sucedidas para perpetuar a escravização ilegal dos povos nativos, os casos aqui analisados permitem inferir que o seu combate pela via judicial pôde alcançar relativo êxito.

Argumentos da liberdade e escravidão nos autos cíveis da cidade de São Paulo, século XVIII.• Felipe Garcia de Oliveira (UNIFESP)

A utilização das instâncias judiciais pelos e contra os escravos vem, desde a década de 1980, chamando a atenção da historiografia brasileira. São inúmeros os trabalhos que inovaram o olhar ao utilizarem as ações de liberdade – processos iniciados por cativos que visavam sua liberdade de forma onerosa, ou não –, bem como as ações de escravidão e manutenção de liberdade – autos cíveis que versam sobre as tentativas de reescravi-zação e anulação de um instrumento de liberdade. Nossa comunicação pretende, a partir de uma análise mais profícua dessas fontes judiciais discutir e apresentar possíveis tópicas nas argumentações em defesa e contra a alforria, verificar como os estes estavam sendo baseados por doutrinas ou pelas ordenações, analisar ainda estratégias jurídicas no desenvolvimento do processo e, igualmente, atentar-se aos modos como os juízes determinavam e julgavam a questão nas sentenças. Neste sen-tido, buscar-se-á discutir a cultura jurídica presente na documentação a partir da interface entre História e Direito. Para tal finalidade utilizaremos os autos cíveis encontradas para o século XVIII na cidade de São Pau-lo, que estão sob custódia do Arquivo Público do Estado de São Paulo. Esta apresentação contempla um aspecto temático muito específico da investigação de mestrado que estamos desenvolvendo sob fomento

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da FAPESP, a pesquisa é intitulada “Ações Cíveis envolvendo escravos e forros na Cidade de São Paulo, 1722- 1797”, sob orientação da Professora Dra. Andréa Slemian, número de processo: 2017/05656-2.

Indígenas e negros entre a liberdade e a escravidão no Rio Madeira (Amazonas, século XIX).• Jéssyka Samya Ladislau Pereira Costa (UNICAMP)

Neste artigo nos propomos a investigar alguma das formas de explo-ração do trabalho (escravo, forçado e livre) das populações indígena e negra na região da Província do Amazonas, com destaque para o Rio Madeira, entre 1850 a 1888. Partimos da hipótese de que as categorias de trabalho escravo, livre e/ou compulsório, além de coexistirem, eram utilizadas de forma complementares no mundo do trabalho na Amazônia Oitocentista. Dessa forma, escolhemos alguns processos judiciais que servirão de fio condutor para problematizar as experiências das populações indígena e negra nos mundos do trabalho da floresta no século XIX, principalmente aqueles ocorridos em torno da região do Rio Madeira. Na segunda metade do Oitocentos, essa região passou por um processo de dinamização eco-nômica e demográfica, promovida por um movimento de expansão rumo ao oeste amazônico incentivado principalmente pelo crescimento da pro-dução gomífera, além de configurar nas falas dos Presidente de Província do Amazonas como um lugar demandando bastante mão de obra. Catarina Maria da Conceição, livre, negra, nascida em Teresina, foi escravizada ile-galmente na localidade de Baetas às margens do rio Madeira através do trato ilegal realizado entre Reinaldo Dias de Souza e Antonio Joaquim do Socorro Valente, ambos comerciantes entre as praças comerciais de Ma-naus e Belém. Muitas foram as estratégias elaboradas por parte do Estado e de particulares para a arregimentação, muitas das vezes compulsória, de trabalhadores negros e indígenas para realizarem as mais diversas mo-dalidades de ocupações nos espaços de trabalho. Dessa forma, no espaço desse artigo pretendemos acessar quais eram as formas acionados para cooptação desses trabalhadores para debatemos a complexidade existente entre ser livre ou cativo na Amazônia na segunda metade do século XIX.

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SESSÃO 18 » ASSOCIAÇÕES NEGRASLocal: Auditório do Bloco ECoordenadora comentarista: • Melina Kleinert Perussatto (UFFS)

História social dos clubes negros no pós-abolição.• Jonatas Roque Ribeiro (UNICAMP)

No Brasil, a década de 2000 viu emergir a temática de estudos e pesquisas sobre o pós-abolição. Esse campo intelectual e acadê-mico tem se expandido, esboçando categorias analíticas e elaboran-do caminhos epistemológicos, entre novos problemas, cronologias, objetos, perspectivas teórico-metodológicas e pesquisas empíricas. Trata-se de trabalhos que têm lançado novos olhares sobre o pós--abolição – período marcado por uma nova configuração das relações sociais, raciais, identitárias e de poder, (re)desenhada no país depois de séculos do mundo da escravidão –, além de formular novas (ou atualizadas) interpretações sobre as ações e as trajetórias de homens e mulheres negras. Aliás, a preocupação em estudar esse recorte histórico a partir das experiências dos próprios sujeitos de cor tam-bém surgiu na esteira desses novos estudos. Foi neste caminho que as pesquisas sobre o associativismo negro ganharam fôlego. Esses agrupamentos se constituíram numa ampla rede formada por clubes culturais e recreativos, jornais, grupos educacionais, centros cívicos, grêmios literários, associações beneficentes, mutualistas, operárias e irmandades leigas. Apesar dos inegáveis avanços, vigor e impacto historiográfico, esses estudos não trouxeram o mesmo alargamento sobre questões relacionadas à estrutura social (surgimento, traje-tória e declínio) de espaços associativos negros, especialmente os clubes culturais e recreativos. Ancorado numa análise empírica e centrado no estudo de um variado conjunto documental (atas e es-tatutos de clubes, fotografias e imprensa), o objetivo desse artigo é historicizar a existência de clubes negros, tendo como fio condutor

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a experiência de alguns desses espaços surgidos em Minas Gerais na primeira metade do século XX. A hipótese é que a ascensão desses clubes foi incentivada pelo processo de urbanização experimentado por várias cidades brasileiras na passagem do século XIX para o XX. Tais espaços associativos podem ter fomentado o surgimento de uma “modernidade negra”? Em que medida eles foram considerados, principalmente pelos seus membros, ambientes de produção de iden-tidades raciais, culturais e de resistência, como a luta antirracista? Foram eles reconhecidos como marca e marco de ruptura e mudança no contexto do pós-abolição? Essas são algumas das questões que norteiam esse artigo.

O Clube Recreativo Gaúcho: um clube social negro em Jaguarão (1930-40) - • Caiuá Cardoso Al-Alam (UNIPAMPA)

Os estudos sobre o associativismo negro no Rio Grande do Sul tem crescido na última década. Localidades diversas do Estado tem tido suas redes de instituições das comunidades negras evidencia-das, inclusive em cidades onde era negada a presença de africanos/as e seus/suas descendentes e que hoje ganham outra dimensão das suas memórias históricas. Dentro do associativismo negro, tem sido estudados cada vez mais os clubes sociais negros. Jaguarão tem sido um foco destes estudos com o objeto de pesquisa centrado no Clube 24 de Agosto que em 2018 completou cem anos. Houve pelo menos mais dois clubes sociais negros no município: Clube Suburbanos e Clube Recreativo Gaúcho. O Suburbanos foi fundado em 1962 e teve suas atividades encerradas por problemas administrativos no início dos anos 2000. Já foi foco de alguns estudos, mas curioso era o caso do Gaúcho. O Clube aparece nos relatos da comunidade negra com informações esparsas, o que foi um difícil desafio. No trabalho de pesquisa, descobrimos que o Gaúcho foi fundado no dia 6 de outubro de 1932. Teve atividades destacadas entre as décadas de 1930 e 1940. Tinha estreitas relações com o Clube 24 de Agosto, que na época já era

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uma agremiação com sólida representatividade. Na década de 1940 o Clube organizava festivais culturais no principal Teatro da cidade, o Esperança, e estava envolvido com o carnaval a partir do Cordão Carnavalesco Malandros do Amor. O objetivo desta comunicação é apresentar resultados de pesquisa que busquem caracterizar esta sociedade recreativa que por muito tempo teve sua memória, se não esquecida, pouco evidenciada. A história do Clube Recreativo Gaúcho, o segundo clube negro a ter atividade na cidade fronteiriça de Jaguarão.

Construindo redes de apoio mútuo: As agremiações de mulheres filiadas à Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio em Curitiba 1930-1960. • Fernanda Lucas Santiago (UDESC)

Esta proposta de comunicação oral pretende apresentar os resultados parciais da pesquisa de mestrado em andamento, onde investigo as ações das agremiações de mulheres filiada a Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio (S.O.B.) entre 1930-1960, um período onde o movimento operário está sofrendo fortes repressões, assim como diversos clubes sociais negros do sul do Brasil estão fechando as portas, e o movimento de mulheres estão conquistando um maior espaço de atuação na esfera pública. Durante a década de 1940 foram registrados no livro ata de reuniões da S.O.B. diversas ações de duas agremiações de mulheres: o Grêmio Flor de Maio e o Grêmio Princesa Isabel, essas agremiações são referidas pelos sócios diretores como promotoras de festas ou campanhas de arrecadação, que poderiam ser organizadas tanto para arrecadar fundos para o caixa da S.O.B., como das agremiações de mulheres filiadas à SOB, ou alguma outra Sociedade Co-irmã, ou ainda alguma instituição de caridade. Nesse sentido, buscarei com esse trabalho dar visibilidade às ações das redes de apoio mútuo estabelecido entre associações, situando as organizações de mulheres filiadas a S.O.B. como parte desse movi-mento. Nesse sentido, pretendo investigar quais eram as principais

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demandas e ações das sócias? O que as sócias pretendiam com as agremiações de mulheres? Qual a importância dessas agremiações dentro da SOB, e para a rede de apoio mútuo das associações curiti-banas? Como referencial teórico metodológico utilizarei as análises das pesquisadoras negras Giane Escobar (2010; 2012; 2016) e Fernanda Silva (2017) para refletir sobre a presença das mulheres negras nos Clubes Sociais Negros. E a as pesquisadoras negras Angela Davis (2016) e Joana F. Silva (2017) sobre os lugares sociais historicamente destinados às mulheres negras, e como a historiografia oficial as tem representado. Seixas (2009) e Vosne (2016) sobre as organiza-ções de mulheres em organizações filantrópicas não feminista em Curitiba na primeira metade do século XX. E através das reflexões de Doimo (1995), Cunha (2000), Sader (2001) discutirei a possibilidade de pensar a Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio enquanto um movimento social capaz de articular estratégias políticas em um contexto conturbado.

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Lançamento de livrosLocal: Hall do Bloco B

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Conferência: “Histórias raciais: ‘El Negro’ Raúl Grigera e o aparente desaparecimento da negritude na Argentina pós-abolição”• Profa. Paulina Alberto (University of Michigan)Local: Auditório do CFH (Bloco B)

É redundante falar de “histórias raciais”? De certa forma, raça é sempre um conjunto de narrativas sobre o que as pessoas são e o que não são. Mas, às vezes, essas narrativas tomam a forma clássica de histórias com personagens fixos, enredos e valores morais, e são transmitidas através de gerações e em diversos gêneros literários. As histórias em torno de Raúl Grigera, um homem afro-argentino que chegou à fama na Buenos Aires do início do século XX, iluminam o poder especial da narrativa (distinta de ideologia, estereótipos, ou esque-mas) para formar atitudes raciais. As centenas de textos impressos e imagens que narram as desventuras de “el negro Raúl” desde o início do século XX fornecem uma visão impressionante do papel das histó-rias sobre esse personagem popular na reprodução de ideias sobre a negritude degradada e desaparecida, e a branquitude triunfante, na Argentina. Nesta palestra, eu leio essas “histórias raciais” junto com documentos de arquivo referentes às vidas de Raúl e seus familiares para revelar como narrativas exageradas de aniquilamento sustenta-vam a invisibilidade dos afro-argentinos e a branquitude nacional após a abolição da escravidão, especialmente no século XX. Ao mesmo tempo, ofereço uma contra-narrativa crítica que revela a presença negra e a construção, por parte de Raúl, da sua própria celebridade, contribuindo assim para uma história dos afro-argentinos num período que carece quase completamente de pesquisa acadêmica.

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SESSÃO 19 » MATERNIDADE E INFÂNCIALocal: Mini-auditório do CFH (Bloco B, 2º andar)Coordenadora e comentarista: • Mariana de Aguiar Ferreira Muaze (UNIRIO)

“A suplicante apesar de ser uma mísera preta forra tem contudo coração de mãe”: a experiência da maternidade entre escravizadas e libertas em Cachoeira do Sul, século XIX. • Marina Camilo Haack (UNISINOS)

Esta comunicação faz parte do projeto de mestrado cujo obje-tivo é abordar as experiências de mulheres escravizadas em Cacho-eira do Sul, situada na Província de São Pedro, nas décadas finais da escravidão. Empregamos a metodologia da micro-história, aliada à ferramenta teórica da interseccionalidade, para pensar marcadores significativos na experiência daquelas mulheres, como por exemplo: raça, gênero, condição jurídica, idade, nacionalidade e maternidade. Esta última foco da presente comunicação. Estas mulheres tiveram suas experiências marcadas pelo trabalho excessivo e pela violência do mundo escravista, criaram e recriaram agências e formas de resis-tências. Mas, afinal, como a maternidade era vivida e como lidavam com este “duplo lugar” de escravizadas e protetoras? Nas décadas finais do século XIX foram promulgadas leis e medidas para o en-caminhamento da questão da escravidão no Brasil, estas medidas interferiram na forma como a maternidade e as experiências femininas foram vivenciadas. A proibição do tráfico atlântico de escravizados (1850) colocou sobre as mulheres o peso da reprodução da escravi-dão, a Lei do Ventre Livre (1871), por sua vez, colocava em prática uma nova medida para a abolição gradual: os rebentos não mais herdariam a condição da mãe. Ambas refletiram nas formas de exploração do trabalho destes menores e suas mães. Em Cachoeira do Sul pudemos perceber que os processos de tutela de menores, ingênuos, filhos de libertas e escravizadas começaram a ocorrer a partir da mencionada

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Lei de 1871, mesmo para os senhores que já tinham direito sobre os menores até os 21 anos de idade. A Câmara Municipal incentivava que os senhores optassem pela indenização por meio do trabalho, e as autoridades frisavam a importância de que após a abolição os me-nores permanecessem na casa de seus antigos patrões. Estes anos foram marcados por um intenso debate sobre a mãe negra, egressa do cativeiro, desenhada como incapaz para o exercício da maternidade. As mães, por sua vez, revelaram uma intensa rede de apoio na criação de seus filhos, o empenho para que não fossem separadas, os meca-nismos jurídicos e os argumentos sobre o papel e o amor materno que foram acionados. Analisando uma ampla gama de fontes, pudemos perceber como as formas de proteção poderiam chegar a extremos, e como a justiça e os discursos humanitários foram manejados no uso estratégico daquelas normas sociais. O objetivo do presente trabalho é explorar estas estratégias e refletir sobre a forma como a experiência da maternidade se modificou.

A libertação do ventre escravo no Brasil: legislatura, gênero e maternidade no declínio da escravidão.• Caroline Passarini Sousa (USP)

A Lei do Ventre Livre, de 1871, é a primeira lei emancipacionis-ta e marca o início do processo de desagregação da escravidão no Brasil. Resultado de longas discussões nas instâncias de poder, seu texto final versa sobre o ventre da mulher cativa, que, a partir daquele momento, passou a gerar crianças de condição livre – os ingênuos. Trata também dos cuidados sobre essas crianças, que até os oito anos obrigatoriamente deveriam ficar sob a responsabilidade dos proprietários de suas mães, e por fim, estabelece orientações sobre o pecúlio para a compra da alforria. Ao longo do século XIX, diversos políticos se debruçaram sobre a questão do ventre escravo como uma saída da escravidão e, por meio desses projetos, pretende-se inves-tigar as representações sobre a imagem da mulher negra, sobretudo escravizada, no tocante ao seu corpo, sexualidade e maternidade.

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O estudo da lei de 1871 é importante por ser esse um momento ca-talisador em que o debate em torno de medidas emancipacionistas por parte do Estado passa a discutir o corpo da mulher escravizada - seu ventre - como lugar privilegiado para iniciar um processo que levasse ao fim da escravidão. O Estado passa a legislar sobre o cor-po da mulher cativa e sua habilidade reprodutiva, a Lei Rio Branco, portanto, marca a ‘descoberta’ e emergência da mulher escravizada enquanto mãe de seus filhos. Se há um ingênuo, um filho, do outro lado existe uma mulher que é mãe, uma mãe escravizada. Até o pre-sente momento pouco se olhou para a importância que o gênero tem dentro do contexto de aprovação da lei, a mulher escravizada e seu papel enquanto mãe tem ficado de lado nos estudos sobre a Lei do Ventre Livre. “E essas mulheres?”. Este texto tem como objetivo analisar a importância do gênero dentro do sistema escravista, com especial atenção para as representações acerca da maternidade escrava. Tomando como base o texto da Lei Rio Branco e o parecer da comissão encarregada de avaliar o projeto de libertação do ventre na Câmara dos Deputados, busco analisar os argumentos em favor de um direito maternal à todas as mulheres, inclusive as escravizadas. Transcendendo posições favoráveis ou de oposição ao projeto, o intuito é mergulhar nos argumentos que lançam mão de concepções de gênero, maternidade, raça e sexualidade feminina bem definidos, e num diálogo com a bibliografia internacional, compreender como a figura da mãe escrava foi construída pelas sociedades escravistas.

Um caso de ilegitimidade na Desterro do século XIX.• Jurama Maria Bergmann Vieira (UFF)

No Brasil Colonial e Imperial foi elevado o número de crianças ilegítimas, como podemos observar nas pesquisas desenvolvidas que contemplam essa temática baseadas na documentação do período. Vale salientar que qualquer criança concebida fora do casamento sacramentado pela Igreja era considerada ilegítima. Essa consta-tação ajuda a explicar a alta incidência do número de bastardos na

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sociedade, visto que muitos eram os motivos que levavam os casais a não oficializarem sua união. Um dos problemas enfrentado era a falta de recursos para iniciar e arcar com todas as despesas que envolviam o processo de casamento. Entretanto, as relações ilícitas não eram exclusivas entre a população dos escravizados e pobres em geral; vários foram os indivíduos abastados que mantiveram como concubina suas próprias escravizadas ou mulheres brancas pobres. As fontes, como os registros de batismo, inventários e testamen-tos, denotam a presença significativa da prole ilegítima nascida da união entre uma mulher escravizada e seu senhor. Nesse sentido, a presente comunicação, que é parte dos resultados da pesquisa re-alizada para minha dissertação de mestrado, visa analisar aspectos da trajetória de uma dessas crianças, Hercílio Victorino de Menezes, nascido na cidade de Desterro nos anos finais do século XIX. Seu pai, já conhecido pela historiografia, atuou no tráfico interprovin-cial de cativos, Manoel Antonio Victorino de Menezes. Ainda que casado oficialmente, o comerciante teve como concubina uma de suas escravas, Maria Margarida Duarte, mãe do menor Hercílio. Para reconstruir parte dessa trajetória utilizamos o método de pesquisa micro-histórica, que nos permitiu entender um pouco mais sobre o universo da ilegitimidade, discriminações enfrentadas e inserção social dessas crianças.

“As violências cometidas em sua liberdade”: as tutelas de “ingênuos” no Grão-Pará (1871-1889).• Victor Hugo do Rosario Modesto (UFPA)

Em fins do século XIX, mais precisamente a partir da década de 1870, as práticas de tutelar menores de idade tornam-se sintomáticas na Amazônia Paraense, o que também é observado em outras regi-ões do Império do Brasil. A presente pesquisa, ainda em andamento, aborda a tutela de diversos menores de idade no contexto posterior a lei do ventre livre, isto em decorrência da identificação de que é neste momento que há uma inflexão na composição dos menores tutelados,

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tanto social quanto juridicamente, sendo estes: “ingênuos”, libertos e livres pobres; anteriormente, figuravam nas tutelas, predominante-mente, menores que possuíam bens. No contexto da década de 1870, a escravidão negra ainda mantinha-se vigorosa na província Para-ense, mas é identificado o empreendimento de agentes históricos na tentativa de tutelar menores, que poderiam ser destinados para a prática de diversas modalidades de trabalho compulsório. Neste trabalho, por meio das tutelas de menores tramitadas no Juízo dos Órfãos, o objetivo consiste em analisar, especificamente, as tutelas dos menores “ingênuos”, buscando compreender os significados que elas tiveram tendo como pano de fundo a legislação emancipacionista de 1871, que no Grão Pará teve impacto principalmente a partir da segunda metade da década de 1880; e, estendendo a análise até o ano de 1889, busco observar a constituição das tutelas no momento posterior à abolição da escravidão.

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SESSÃO 20 » TRÁFICO DE ESCRAVOS IIILocal: Auditório Carlos Augusto Figueiredo Monteiro (Bloco F, 7º andar)Coordenador e comentarista: • Rafael da Cunha Scheffer (UNILAB)

Agenciadores do tráfico miúdo: ciganos no comércio de escravos no interior da Bahia, 1831-1850.• Alex Andrade Costa (UFBA)

Em agosto de 1840 o juiz de Valença mandou prender dois ciganos de nomes Palma e Joaquim Rodrigues, acusados de estarem há muito tempo atormentando a vida dos moradores da região pela prática de roubo e sedu-ção de escravos, fato que era insistentemente denunciado às autoridades da Bahia. Com os ciganos foram apreendidos três escravos africanos que haviam sido roubados da cidade de Salvador e em vilas do Recôncavo, os quais estavam sendo levados para o sertão. Este não foi um caso isolado, uma vez que a atuação de ciganos em atividades de roubo e tráfico de es-cravos já era denunciada pelas autoridades, imprensa e até mesmo pelos viajantes estrangeiros havia bastante tempo em vários cantos do Brasil. A ampla presença de ciganos nesse negócio, embora não se restringisse à Bahia, encontrou condições propícias para seu funcionamento na região do entorno da baía de Camamu, importante local de desembarque de africanos após a Lei de 1831 e com estradas que ligavam o litoral ao Sertão pouco fiscalizadas. Este trabalho apresenta algumas das estratégias usadas pelos ciganos para realizar os roubos e “seduções” de escravos, suas relações com outros traficantes e até mesmo com as autoridades públicas, além da participação em redes comerciais de tráfico interprovincial no inte-rior da província da Bahia. A documentação, composta em grande parte de documentos policiais e correspondências trocadas entre as diversas autoridades locais e provinciais, revela que os ciganos tiveram um papel fundamental na interiorização de escravos após a Lei de 1831 como agentes de um tráfico miúdo, favorecendo que senhores mais pobres e de locali-dades mais distantes tivessem acesso à posse de escravos.

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As penhoras judiciais como fonte para os estudos sobre o tráfico interno de escravos.• Clemente Gentil Penna (UFRJ)

Esta comunicação tem por intuito apresentar as potencialidades das penhoras judiciais enquanto fontes para o estudo do tráfico interno de escravos no Brasil oitocentista a partir dos resultados encontrados para a cidade do Rio de Janeiro. Para tanto, será apresentada uma base de dados construída a partir da documentação do Depósito Geral da Corte, a repartição responsável pela recepção e guarda dos bens penhorados como garantia de pagamento das dívidas dos muitos litígios judiciais que che-garam aos tribunais cariocas no século XIX. Além disso, a documentação do Depósito traz também o registro de diversas apreensões de escravos suspeitos de serem fruto de tráfico ilegal após a promulgação da Lei de 1831 (com a absoluta maioria concentrada na década de 1830). Esta base de dados foi construída a partir do Fundo Depósito Público, que se encontra sob a guarda do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, composto de 36 livros, tendo cada um deles uma média de 250 entradas individuais para os anos de 1829 e 1888. Na base de dados foram catalogados os nomes das partes envolvidas nos litígios (credores e devedores), os bens penhorados e o resultado da ação: conciliação, adjudicação ou leilão e, neste último caso, o nome do comprador do bem leiloado. As penhoras judiciais trazem um elemento até então desconhecido: a estreita ligação entre o mercado de crédito e o mercado de escravos no período e, ainda mais relevante, a importância da propriedade escrava enquanto garantidora das dívidas na praça carioca. Cerca de 70% das 2700 penhoras judiciais levantadas até o momento (1830-1845) traziam pelo menos um escravo entre os bens apre-endidos como colateral para dívidas. Em muitas penhoras, estes homens, mulheres e crianças escravizados foram vendidos pelo maior lance nos leilões judiciais que ocorriam diariamente na cidade do Rio de Janeiro. A consolidação desta documentação em uma base de dados possibilitou a identificação e mapeamento dos indivíduos e companhias que recor-rentemente compravam escravos nestes leilões, assim como os nomes daqueles indivíduos que tiveram escravos apreendidos sob suspeita de serem provenientes do tráfico ilegal. Ao cruzar estes nomes com outras bases de dados, como a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional e dos

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Livros de Ofício de Notas do Rio de Janeiro, do Arquivo Nacional, encon-tramos indícios contribuem para uma melhor compreensão das redes e mecanismos de funcionamento e financiamento do tráfico interno (legal e ilegal) que ocorreu a partir da capital do Império brasileiro.

Pessoas partidas: O comércio de partes de escravos (Piracicaba, Província de São Paulo, 1861-1887).• José Flávio Motta (USP)• Luciana Suarez Lopes (USP)

Estudamos o universo de pequenos negócios de compra e venda de partes ideais de escravos registrados no município de Piracicaba, Província de São Paulo, no período de 1861 a 1887. Percebemos que esse tipo de negócio esteve vinculado ao resultado de partilhas em processos de inventários post-mortem. Assim, o recebimento como herança da propriedade parcial de escravos (metade, um terço, um oitavo etc) acarretava essas operações de compra e venda entre her-deiros, amiúde resultando na posse “integral” das pessoas herdadas pelos compradores das partes em questão. Os preços ajustados nessas transações muitas vezes diferiam dos de mercado. Eventualmente, em tais negócios, além do interesse dos escravistas, houvesse algum espaço para contemplar os interesses das pessoas negociadas.

Tráfico interno de escravos no Pará durante as décadas finais da escravidão: traçando rotas, repensando interpretações.• Luiz Carlos Laurindo Junior (USP)

O tráfico transatlântico de africanos escravizados para o Vale do Amazonas foi desmantelado precocemente, na década de 1820, cessando completamente já na década de 1840, diferentemente do que ocorreu em outras regiões do Império, nas quais perdurou legalmente até a Lei Eusébio de Queirós. Entretanto, a população escrava existente no Pará, principal espaço escravista daquela região, nos anos 1820,

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manteve-se relativamente estável até o início da década de 1880, os-cilando em torno dos 30 mil indivíduos. Dois mecanismo de reprodução da instituição escravista foram responsáveis por essa estabilidade, a reprodução endógena e o tráfico interno. No presente trabalho, enfoco o segundo mecanismo e analiso especificamente as rotas do tráfico articuladas naquela província em redes de abrangência local, intrapro-vincial e interprovincial, entre as décadas de 1840 e 1880. Utilizo como fontes as escrituras de venda de escravos registradas nos cartórios de sete importantes municípios do Pará, as tabelas de arrecadação de impostos sobre o tráfico interno, os relatórios da presidência provincial e do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e os mapas populacionais de 1823 e 1872 (obra de Antônio Ladislau Monteiro Baena e recenseamento do Império, respectivamente). A quantificação e pro-blematização desses documentos permitem não apenas entendermos o escravismo paraense no âmbito do Império e do Atlântico, como revi-sitarmos e repensarmos antigas interpretações sobre o tráfico interno, ainda recorrentes na historiografia atual em trabalhos com diferentes abordagens e ênfases, a exemplo das que salientam a torrente de es-cravos das regiões atualmente conhecidas como Norte, Nordeste e Sul para o Sudeste (desencadeada após 1850), o desequilíbrio demográfico dela decorrente e/ou a decisiva desestabilização das relações entre senhores e escravos causada pelos escravos chegados do Norte, via tráfico interprovincial, nas fazendas cafeeiras do Sudeste. Cotejando as informações sobre o Pará com espacialidades e escalas outras, defendo a ideia de que, concomitantemente à libertação dos ventres das escravas, em 1871, a predominância do tráfico interno em escala intraprovincial e a ineficiência do tráfico interprovincial em suprir a demanda por força de trabalho nas regiões produtoras das principais commodities exportadas pelo Império (com óbvio destaque para o café) contribuíram enormemente para a perda do peso econômico e político da instituição escravista, resultando em rearranjos no mundo do trabalho, que se traduziram na maior absorção e exploração dos trabalhadores livres existentes no Império (indígenas, negros e brancos) e na multiplicação de projetos imigrantistas, conforme a dinâmica do sistema mundial capitalista.

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SESSÃO 21 » INSTRUÇÃO, EMANCIPAÇÃO E LUTA POR DIREITOS ILocal: Auditório do Bloco ECoordenadora e comentarista: • Lúcia Helena Oliveira Silva (UNESP - Assis)

Calisto Felizardo de Araújo (Salvador, 1819 - Porto Alegre, 1909): uma trajetória negra no Brasil Meridional.• Melina Kleinert Perussatto (UFFS)

Por meio da trajetória de Calisto Felizardo de Araújo (e sua fa-mília), propomos apresentar resultados e discussões em torno da li-berdade, do trabalho e da cidadania negra antes e depois da Abolição, ressaltando a pertinência das trajetórias individuais, coletivas e fa-miliares para os estudos sobre experiências negras no Sul do Brasil. Calisto Felizardo de Araújo nasceu em 1819 na Bahia, foi batizado em Salvador e traficado ainda criança para Porto Alegre. Nunca mais teve notícias de sua mãe, Maria Felizarda do Bonfim, africana e vítima do tráfico transatlântico. Livrou-se do cativeiro perto dos quarenta anos de idade e, contrariando a sina de outros como ele, viveu até os noventa anos, constituiu família e patrimônio e foi lembrado como o “decano dos barbeiros” pelo jornal A Federação, órgão do Partido Republicano Rio-Grandense. Provavelmente aprendeu o ofício na escravidão e le-gou-o aos filhos mais velhos, Florêncio (1863-????) e Esperidião (1864-????). Diariamente, os irmãos Calisto se reuniam com outros jovens no estabelecimento familiar, situado na rua dos Andradas, centro de Porto Alegre, e antes que o ano de 1892 terminasse, lançaram o hebdoma-dário O Exemplo (1892-1930). Aos fundos do Salão Calisto funcionou o escritório do jornal durante a primeira fase (1892-1897). Em 1909, Ca-listo faleceu em sua residência, a esta altura localizada em um bairro afastado do centro e conhecido pela grande densidade populacional negra. Fora casado como Joana da Conceição e Silva (1840-1869), filha legítima de pai fluminense e mãe montevideana, com quem teve ainda Maria Torquata (1866-????) e Margarida (1868-1881). Terminou a vida ao

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lado de Maria Marcolina de Jesus. Estas e outras informações foram coligidas ao longo da tessitura da tese defendida em abril de 2018, bem como em seus desdobramentos. Dentre os objetivos, estava o de reconstituir aspectos das trajetórias de fundadores e de alguns novos integrantes do grupo reunido em torno do periódico. A trajetória de Calisto Felizardo de Araújo, apoiador do projeto, nos permitiu evidenciar o protagonismo de outra família para além da Bittencourt, amplamen-te referida na historiografia e, ao cotejá-las, explicitar proximidades, particularidades e pluralidades que atravessaram projetos e vivências de duas famílias negras e seus membros. Como fontes, localizadas em acervos diversos, os jornais O Exemplo e A Federação; habilitações e registros de casamento religioso e/ou civil; registros de batismo e de óbito; testamentos e inventários post-mortem.

Rodolpho Xavier: trajetória intelectual na imprensa negra no pós-abolição.• Ângela Pereira Oliveira Balladares (UFRGS)

Rodolfo Ignácio Xavier nasceu em 10.05.187? (não há concordância nas fontes, mas teria sido entre os anos de 1874 e 1879), em Pelotas, cidade localizada na região sul do Rio Grande do Sul. Logo, ele seria um ingênuo por ter nascido de Ventre Livre, ou seja, após a Lei de 28.09.1871. Rodolfo se afirmava negro, ainda que em documentos oficiais ele fos-se apontado como pardo. Ele faleceu em 25.02.1964, em Pelotas, de insuficiência cardíaca, e não deixou testamento. Rodolfo era filho da escravizada Eva, de profissão cozinheira, e do senhor Domingos Ignácio Xavier. Eva adquiriu a sua alforria antes de Rodolfo completar oito anos, saindo da casa do senhor com o filho, conforme permitido pela Lei 2.040. Além da mãe, Rodolfo contou com o irmão Antônio Baobad, liberto ante-riormente a mãe, e que lhe prestava ensinamentos e cuidados. Rodolfo frequentou o Curso noturno ofertado na Biblioteca Pública Pelotense, para formação do proletariado local. Ele se tornou pedreiro aos 14 anos, atividade que exerceu por longos anos chegando a mestre na arte es-caiola. Rodolfo foi muito atuante no movimento operário e na imprensa

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negra. Essas duas atuações marcaram seus escritos e suas vivências. Suas crônicas estão presentes no periódico A Alvorada, 1907-1965, de Pelotas, para o qual ele escreveu de 1907 a 1964 (quando veio a falecer). Ele também contribuiu com outros jornais negros como A Liberdade, de Bagé, cidade da região sul que fica mais próxima da fronteira com o Uruguai. Rodolfo publicou crônicas endereçadas aos operários (tendo adquiriu respeitabilidade nesse meio), debateu política e se posicionou em relação às discussões raciais, reivindicando a cidadania da popu-lação negra. O foco dessa apresentação será a produção escrita de Rodolfo, na imprensa negra, que é marcada pelas suas experiências e seus conhecimentos. Aprofundar-me nos escritos de Rodolfo permitirá acessar suas reflexões e seus posicionamentos, permitindo entender melhor suas visões de mundo. Além disso, faz parte da minha tese en-tender a experiência de liberdade desse nascido de ventre livre, que se torna um intelectual orgânico ao protagonizar diálogos fundamentais ao operariado e ao movimento negro de sua cidade e arredores, a partir das suas crônicas. Rodolfo não é desconhecido pela historiografia, mas ainda está longe de ter o devido reconhecimento pela sua produção e atuação na história de Pelotas.

Agostinho Leandro da Costa: Noções de cidadania e direitos no imediato pós-abolição em Curitiba.• Pamela Beltramin Fabris (UFPR)

Essa proposta de comunicação busca analisar aspectos da tra-jetória de Agostinho Leandro da Costa, homem negro, alfaiate, dono de botequim e de hotel (onde ele mesmo era o cozinheiro), vereador, rábula, diretor de jornal, líder do Partido Operário e Deputado Estadual. Agostinho Leandro viveu grande parte da sua vida envolvido numa com-plexa rede de sociabilidades, formando-se e sendo formado a partir das histórias de vida que ouvia e vivenciava e de um olhar apurado voltado para as questões sociais e políticas de seu tempo. Natural de Morre-tes, litoral do Paraná, Agostinho Leandro, quando adulto mudou-se para Curitiba e na capital, fazendo o uso da palavra, seja por meio da

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oralidade ou da escrita, Agostinho Leandro participou ativamente dos debates que envolveram causas dos trabalhadores, apontava possíveis caminhos a serem percorridos em busca de uma vida mais digna para os mais pobres, incomodando parte da elite política local, quando, por exemplo, tecia críticas ácidas a práticas como o nepotismo e o mal uso do dinheiro público no início do período republicano. Da convivência constante com as experiências com outros, construída a partir da cir-culação e imersão por diversos espaços de sociabilidade, Agostinho Leandro foi um sujeito profundamente afetado pelas disputas de po-der de seu tempo, se inquietou diante das injustiças que presenciava, percebeu os problemas da modernidade, da República e a violência constante de uma sociedade racializada. Assim, buscou incessante-mente fazer da própria vida um modo de articular as experiências de trabalhadores, as disputas políticas do seu tempo demonstrando um constante anseio em transformar demandas sociais em ações políticas.

A herma e a imagem: Cruz e Sousa e os homens de letras na Florianópolis nos anos 1920.• Luana Teixeira (UFSC)

Essa comunicação visa analisar os combates pela história trava-dos por intelectuais e artistas de Florianópolis nos anos 1920, especial-mente Ildefonso Juvenal e Trajano Margarida, sócios do Centro Cívico e Recreativo José Boiteux (depois renomeado Cruz e Sousa). Através dessa associação de “homens de cor” foi realizada uma ampla campanha para erguer uma herma para Cruz e Sousa, projeto concluído em 1923. Em torno da construção da herma e da imagem de Cruz e Sousa, esses homens letrados elaboraram narrativas históricas e literárias acerca do passado escravista e buscaram afirmar positivamente a importância da população negra na história do Brasil. Serão analisados os textos escritos por esses intelectuais que retomam a obra e a trajetória de Cruz e Sousa, buscando refletir sobre os modos de apropriação de sua imagem e como ela teve um papel central no processo de afirmação da população negra de Florianópolis na primeira metade do século XX.

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SESSÃO 22 » CIDADES PORTUÁRIAS E TRABALHADORES MARÍTIMOSLocal: Mini-auditório do CFH (Bloco B, 2º andar)Coordenador e comentarista: • Jaime Rodrigues (UNIFESP)

Escravidão e liberdade entre os trabalhadores marítimos no litoral catarinense (1846-1888). • Diego Schibelinski (UFSC)

Com a aprovação do decreto nº. 358, de 14 de agosto de 1845, o Governo Imperial autorizou o estabelecimento de Capitanias dos Portos nas províncias do Império onde semelhante estabelecimento parecesse necessário. A despeito de projeto de criação não de-limitar quantas e quais províncias receberiam a nova repartição, quando o Regulamento das Capitanias dos Portos foi publicado no ano seguinte, além do porto da Corte, o Ministério da Marinha já havia estabelecido capitanias na Bahia, no Pará, em Pernambuco, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Embora a historiografia local tenha defendido uma atuação coadjuvante de Santa Catarina no comércio interno brasileiro, apontando para a existência de uma atividade comercial que se fundamentou, sobretudo, na exportação da farinha de mandioca e de outros gêneros alimentícios, e cujo ápice teriam sido as primeira décadas do século XIX, à época da instalação das capitanias, a província de Santa Catarina possuía três portos - um na vila de São Francisco, no litoral norte; outro em Laguna, no litoral sul; e o da capital, Desterro -, além de diversos outros pontos ao lon-go do litoral de onde zarpavam pequenas e médias embarcações da cabotagem regional. Se, em comparação às demais províncias que receberam capitanias dos portos naquele primeiro ano de implemen-tação do projeto, Santa Catarina era aquela de menor contribuição econômica, o fato de sua capital, Desterro, figurar como uma das primeiras a receber a instituição parece estar atrelada a questões estratégicas. Para além de suas funções reguladoras, a capitania

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dos portos teve também a seu cargo a elaboração de mapas que contabilizaram os indivíduos empregados na vida do mar, segundo o ramo em que cada um atuava. No caso de Santa Catarina, parte desta documentação sobreviveu ao passar dos anos, permitindo aos historiadores e historiadoras ampliar o conhecimento historiográfico acerca do trabalho marítimo desenvolvido durante a segunda me-tade do século XIX. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é traçar considerações iniciais que permitam subsidiar reflexões acerca dos diferentes grupos de trabalhadores (livres ou escravizados) e que atuaram nos diferentes setores da faina marítima em Santa Catarina. Para isso serão utilizados como fontes, ofícios trocados entre os capitães do porto de Desterro e os presidentes de província, entre os anos de 1846 e 1888, além de mapas estatísticos, produzidos pela ca-pitania do porto desta província e que contabilizaram as populações marítimas matriculadas nos principais portos do litoral catarinense, bem como suas frotas.

“No porto do Ceará não se embarca mais escravos!”: Percepções e reações ao comércio interno de escravos no Ceará. • Rafael da Cunha Scheffer (UNILAB)

Em 27 de Janeiro de 1881, comerciantes cearenses que tenta-vam embarcar escravos para o Sudeste tiveram uma desagradável surpresa: os jangadeiros encarregados de levar cargas e passageiros aos navios do porto se negaram a embarcar os escravizados. “No porto do Ceará não se embarca mais escravos!”, teriam dito os jan-gadeiros, apoiados pela população local. A partir do sucesso dessa ação, os escravizados no Ceará não seriam mais comercializados para os mercados do Sul. A célebre frase e um dos principais arti-culadores do movimento, Francisco José do Nascimento (conhecido como Dragão do Mar), tornaram-se parte da história oficial do Ceará, que destaca a abolição local como um movimento de vanguarda nacional. Devido à importância atribuída a esse movimento, a pre-

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sente comunicação busca entender como esse evento foi visto pelos contemporâneos, e como ele se conecta à percepção e reação ao comércio de escravos na região. Como se tratou de uma ação que bloqueou as transações dos comerciantes de escravizados, esse movimento e sua repercussão nos ajudam a entender como esses negociantes e suas atividades eram vistos no início da década de 1880. Ou seja, qual o papel que o comércio interprovincial tinha no mercado de trabalho na região, como os interesses de senhores e negociantes se articulavam e por que abolicionistas e populares se voltaram contra essa prática. Entender as justificativas da ação dos jangadeiros e sua repercussão nos permite perceber as carac-terísticas associadas a essa atividade e seus impactos. Além disso, através da análise desse comércio em momento anterior, poderemos também entender os impactos diretos do fechamento do porto de Fortaleza nessa atividade. Esse ponto é de especial interesse quando lembramos que, na segunda metade do século XIX, a província do Ceará foi uma importante fornecedora de mão de obra escrava para o mercado nacional, especialmente no período da grave seca na década de 1870. Para o seu desenvolvimento, essa discussão utiliza como fontes diferentes jornais da época (em especial o Libertador, Pedro II e a Gazeta do Norte), as escrituras de compra e venda de cativos de diferentes localidades cearenses, além de documentos oficiais, como os relatórios de presidentes de província, a Matrícula Nacional de Escravos e suas atualizações.

Cenários e personagens da abolição numa cidade portuária do Recôncavo da Bahia.• Jacó dos Santos Souza (UFBA)

Engajados nos debates relacionados à sobrevida da escravidão brasileira, diversos abolicionistas que atuaram no Recôncavo baia-no construíram trajetórias militantes e combativas, numa rede de alianças e solidariedade, atribuindo sentidos à luta antiescravista. Reconhecidos por contemporâneos como bastiões da campanha

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abolicionista, na verdade, o professor Cincinato Franca, o maestro Tranquilino Bastos e o rábula Cesário Mendes tiveram experiências de vida bastante intensas e atribuladas. Nem sempre suas convicções encontraram eco naqueles que as ouviam, despertando, inclusive, momentos de tensão e conflitos acirrados em torno das questões políticas e sociais de seu tempo. Nesse sentido, esta comunicação pretende refletir sobre os prováveis caminhos percorridos por esses indivíduos, conectando-os a uma teia mais ampliada do abolicionismo brasileiro. As múltiplas vivências compartilhadas e disputadas desses abolicionistas constituem-se um campo de interpretação e proble-matização relevante para entendermos a conjuntura e circunstâncias que marcaram o devir histórico de finais do século XIX e primeiras décadas do pós-abolição, no interior da Bahia.

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SESSÃO 23 » FUGAS E FRONTEIRASLocal: Auditório Carlos Augusto Figueiredo Monteiro (Bloco F, 7º andar)Coordenadora e comentarista: • Keila Grinberg (UNIRIO)

Fugas internacionais de escravizados nas fronteiras Oeste e Sul do Império brasileiro - Aproximações, comparações. • Ernesto Cerveira de Sena (UFMT)

Aproximando, e por vezes, comparando as zonas fronteiriças a oeste e ao sul do Brasil, durante parte do período imperial, essa comunicação objetiva tratar das fugas de escravizados para paí-ses vizinhos. Após os movimentos independentistas, o Império se apresentava como país francamente escravagista, enquanto seus vizinhos americanos titubeavam em finalmente aderir à abolição. De toda forma, vários escravizados procuraram libertar-se de seus “amos” ao tentarem evadir para as ex-colônias espanholas, tal como o fizeram também no período colonial. Se nas guerras de indepen-dência na ibero-américa vários cativos puderam vislumbrar o status de libertos, com o início das formações nacionais os países platinos, incluindo a Bolívia, titubeavam em promover ampla abolição. Mesmo assim, esses países se diferenciavam do Império do Brasil por ele defender francamente a instituição escravagista. Dessa maneira, se a escravidão era vista como o “calcanhar de Aquiles” na relações ex-teriores do Império, por outro lado, em nome da defesa do sistema de cativeiro, o Brasil conseguia, na prática, tomar novas terras ao vizinho, como, por exemplo, a localidade de Tremedal, antes costumeiramente pertencente à Bolívia; ou, por outro lado, procurava interferir eficaz-mente para derrubar governos na bacia do Prata que sinalizassem abrigo aos evadidos do Brasil. Nos acordos que o Império buscava com as ex-colônias espanholas, tão ou mais importante do que as cláusulas relativas ao comércio e à livre navegação era o dispositivo

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que permitiria a extradição dos evadidos do “lado brasileiro”. Se os países platinos podiam procurar barganhar melhores condições com o Brasil, devido à sua fraqueza situada na defesa aberta da escravidão, era justamente por ela que o Império, muitas vezes, procurava ser o mais aguerrido na região. São conhecidas na fronteira Sul as mobili-zações de pessoas armadas para a defesa dos interesses imperiais, mesmo que por vezes precariamente. Mas na fronteira Oeste, onde havia a perspectiva de acordar os limites com a Bolívia, o Império também promoveu mobilizações armadas. Enquanto os diplomatas procuravam interceder contra a fuga de escravos, tida localmente como “a maior riqueza da província” de Mato Grosso, as autorida-des locais faziam excursões de militares a ponto de efetivamente apropriarem-se de terrenos, antes ocupados por bolivianos, com a alegação de combaterem a fuga de escravos. Quando finalmente foi fechado acordo com a Bolívia, em 1867, ou seja, em plena Guerra do Paraguai ou da Tríplice Aliança, essas terras conquistadas ficaram como parte do Império do Brasil.

Escravidão e liberdade na fronteira oeste luso-brasileira: entre fugas e insurreição urbana. • Bruno Pinheiro Rodrigues (UFMT)

A presente proposta de comunicação visa apresentar as nu-ances da escravidão e busca por liberdade na fronteira oeste do ter-ritório luso-brasileiro, especialmente entre o Mato Grosso, a cidade castelhana Santa Cruz de la Sierra e a Província dos Mojos e Chiquitos (os dois últimos, na atual Bolívia). Para tanto, pretendemos tecer uma análise em torno das fontes documentais que informam trânsitos e fugas de cativos entre as fronteiras transimperiais, bem como cor-respondências trocadas entre representantes das coroas espanhola e portuguesa. Especialmente, esta comunicação tem como proposta refletir as fontes documentais dispostas nos Arquivo Público do Esta-do de Mato Grosso (APMT) e Archivo y Biblioteca Nacionales de Bolívia (ABNB). Nelas é possível localizar dezenas de informações sobre fugas

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do Mato Grosso às principais cidades do mundo castelhano, forma-ção de quilombos nas áreas consideradas portuguesa e, e em 1809 em Santa Cruz de la Sierra, informações sobre a organização de um levante urbano resultante da aliança entre negros que haviam fugido do Mato Grosso, negros escravizados e indígenas. Vale ressaltar que, conforme a edificação de povoados não-indígenas na região, ao longo dos séculos XVIII e XIX, centenas de cativos negros foram deslocados para essas áreas e, assim como nas demais partes das Américas, realizaram fugas, formaram quilombos e se articularam contra a es-cravidão em espaços urbanos. A compreensão da agência desses sujeitos, certamente lança outra perspectiva para compreensão da expansão lusitana no oeste brasileiro e, sobretudo, das sociedades formadas em área de fronteiras.

Provas de Escravidão: o tratado de extradição de 1851 entre o Brasil e o Uruguai e os pedidos de devolução de escravos fugidos.• Thiago Leitão de Araujo (UNICAMP)

Entre os tratados firmados em 12 de outubro de 1851 entre o Império do Brasil e a República Oriental do Uruguai figurava o tratado de extradição de criminosos, desertores e escravos. O tratado, em seu artigo 6º, previa o reconhecimento pelo governo Oriental do princípio de devolução dos escravos pertencentes a súditos brasileiros que contra a vontade de seus senhores fossem de qualquer maneira ao território de dita república e ali se encontrassem. Estabelecia, ainda, em cinco parágrafos, as regras que deviam ser observadas para a realização das devoluções. As controvérsias em torno do tratado de pronto apareceram, em especial no que diz respeito aos escravos e a escravidão, e mantiveram-se na pauta das relações internacionais entre os dois governos na década de 1850 e seguintes. O objetivo do artigo é recuperar esses debates que, além da devolução de escravos, tocava na própria soberania do Estado Oriental do Uruguai. Como a escravidão já havia sido abolida de seu território, tal soberania per-

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maneceu bastante fragilizada, haja vista que o norte uruguaio era conformado em grande parte por estâncias de brasileiros, que man-tinham trabalhadores escravizados em suas propriedades por meio do subterfúgio de contratos de locação de serviços. Importa ainda, e principalmente, examinar as implicações em torno dos pedidos de devolução de escravos fugidos, e como se dava esse processo. Se no Brasil, durante parte do século XIX até pelo menos 1871, o ônus de provar a sua própria liberdade cabia aos escravos, no Uruguai o ônus de provar a escravidão de seus supostos escravos fugitivos corria por conta dos senhores brasileiros.

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SESSÃO 24 » INSTRUÇÃO, EMANCIPAÇÃO E LUTAS POR DIREITOS IILocal: Auditório do Bloco ECoordenadora e comentarista: • Fernanda Oliveira da Silva (UFPel)

Nos traços das primeiras letras: um perfil sócio-racial das escolas primárias do Paraná, entre a escravidão e o pós-abolição. • Noemi Santos da Silva (UNICAMP)

Este estudo comenta os resultados prévios de uma pesquisa de doutorado em andamento sobre a educação escolar de escravizados, libertos e negros livres no Paraná, durante a abolição e o pós-abolição. Nessa comunicação utilizaremos como recorte a análise numérica de dados relativos à presença de negros livres e escravos nas escolas do Paraná, desde a emancipação provincial, 1853, até a década de 1910. A observação é possível graças a um banco de dados nominativo dos alunos matriculados nas escolas públicas, construído a partir da reunião e transcrição de mapas escolares: fontes oficiais do setor da instrução pública elaborados por professores, que reúnem nomes e demais informações sobre os alunos registrados nas escolas, como filiação, idade e, por vezes, cor e condição. A análise permitirá refle-tir sobre o perfil sócio racial das escolas no período de escravidão e pós-abolição, considerando fatores regionais, de faixa etária, gênero e o apontamento de tendências sobre a escolarização de escraviza-dos e libertos, permitindo ainda o acompanhamento de trajetórias escolares de alguns sujeitos. A partir desse corpus documental so-mado à pesquisa anterior de mestrado, sabemos que a maior parte dos negros encontrados, com ou sem vínculo com a escravidão, teve maiores chances de escolarização na idade adulta, pela frequência em escolas noturnas. Eram majoritariamente homens, das áreas ur-banas que exerciam ofícios especializados. Essa ampliação da tarefa empírica tem permitido conhecer sobre as dimensões de exclusão das

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escolas regulares diurnas voltadas para o atendimento de crianças em idade escolar, englobando também as escolas femininas, tendo em vista que o ensino noturno voltava-se quase exclusivamente pa-ra o sexo masculino. Isso permite tecer conclusões mais concretas sobre a abrangência da escola primária e seu acesso aos negros livres, libertos ou escravizados. Mesmo que essa documentação in-forme apenas parcialmente sobre o pertencimento social e racial dos alunos, interessa o registro nominativo existente, por permitir o acompanhamento dos sujeitos e seus possíveis trânsitos entre as escolas no decorrer de suas vidas, assim como de seus descen-dentes ajudando a responder sobre as possíveis disparidades entre o cenário de escravidão e o pós-abolição. Serão também possíveis, levantamentos estatísticos com os documentos encontrados com a informação de cor e/ou condição dos alunos, permitindo detalhar as faces da exclusão ou inclusão institucional e suas várias intersecções como os fatores regionais, de gênero, idade ou ocupação.

Liberdade e instrução: o trabalho de João Clapp na luta abolicionista.• Sirlene Ribeiro Alves da Silva (UERJ)

“A bandeira de nossa revolta tem escripta a seguinte legenda: Liberdade e Instrucção”, essas são palavras de João Clapp, presidente do Club dos Libertos contra a Escravidão de Niterói, essa organização foi um exemplo para a luta abolicionista, pois conciliava libertação e educação. Clapp também foi presidente da Confederação Abolicio-nista, uma das principais organizações de articulação política, que convocava suas filiadas a abrir escolas ou aulas noturnas. O estudo de Alonso (2015) situa o abolicionismo como um movimento social, que através de um processo relacional articulou instituições políticas, espaço público e meios de clandestinidade. Nesse estudo, o movi-mento abolicionista perpassa por alguns estilos de ativismo, dentre os quais destacam-se: o ativismo Borges, um abolicionismo de elite, como professor influenciava seus jovens alunos na causa, construindo

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redes, trabalhando através de associativismo e cerimônias públicas; o ativismo Rebouças articulador entre a elite social, a sociedade da corte e o sistema político; o ativismo jurídico Gama, em que a interpretação e uso da lei conviviam com sua transgressão, chegando às classes popu-lares; o de Nabuco, em seu meio político; o ativismo de Patrocínio, em que a sensibilização antiescravista voltada às artes iniciada por Borges ganhou popularidade, alargando as bases sociais do abolicionismo. Apesar de citar a atuação de João Clapp, de sua liderança à frente da Confederação Abolicionista, a autora não conceitua a sua forma de ação como um estilo de ativismo. Porém, reconhece: A maior das transgressões foi trazer os escravos para a política. Rebouças sonhava espalhar escolas para libertos pelo país, mas foi Clapp quem criou o Clube dos Libertos de Niterói, baluarte e modelo de empreendimentos similares, e a GT conclamava as associações abolicionistas a fundar as suas escolas. [...] Escolas de letras com professores abolicionistas, de modo que entravam escravos analfabetos e saíam livres e ativistas. (ALONSO, 2015, p. 148). As ideias de Clapp foram ouvidas, no Rio de Janeiro diversas associações que se engajaram no lema Libertação e Instrução, abriram suas escolas noturnas e convocaram um públi-co diverso para suas aulas. Conforme descrito por Villela (2016, p. 9), “cada vez mais os historiadores e pesquisadores estão convictos de que existia um contingente de negros letrados e frequentadores das escolas fundadas por instituições abolicionistas”. Dessa forma, o pre-sente trabalho pretende apresentar as ideias e a forma de militância de João Clapp, desejando comprovar que a educação foi também um modo de resistência e luta contra o escravismo no Brasil.

A apropriação negra da escrita: imprensa e literatura em São Paulo na Primeira República. • Francilene de Souza Tavares (UNIFESP)

Uma chave de compreensão fundamental do Brasil contempo-râneo é o fato de termos sido o último país da América a abolir a es-cravidão,tendo recebido aproximadamente 4,8 milhões de homens e

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mulheres que sequestrados em África,tornaram-se a principal força de trabalho nacional entre os séculos XVI e XIX. Profundamente enraizada a sociedade brasileira, a escravidão chega ao fim em 1888. Os direitos dos negros não foram considerados por aqueles que promulgaram a Lei nº 3.353 de 13 de maio (mais conhecida como Lei Áurea). Decorridos 130 anos desse fato, observamos que o preconceito e o racismo da so-ciedade contemporânea evocam o passado escravista. A prerrogativa da inferioridade negra, decorrente das teorias racistas e cientificistas do século XIX colocavam homens e mulheres recém-libertos num pa-tamar diferente de homens e mulheres brancas. Se no pós-abolição não foram asseguradas condições legais para que houvesse de fato a inserção do negro na sociedade da qual ele já fazia parte, verificamos como certas estratégias foram engendradas pelos mesmos para que isto ocorresse. Nesse sentido, para denunciar essas mazelas a apro-priação da linguagem escrita foi extremante importante e necessária. Compreender em que contexto escreviam e a quem era destinada essa produção significa conhecer os mecanismos de lutada população negra. A apropriação da escrita pode ser verificada na imprensa e na literatura paulista na Primeira República, especialmente nos jornais negros produzidos entre os anos 1888 a 1930, que permitem observar como os mesmos trazem a questão racial ao debate público. Com-preender a lógica de comercialização e circulação desses periódicos permite recupero o perfil daqueles que escreveram bem como dos que leram essas produções. Esta comunicação se propõe a caracterizar alguns periódicos (a princípio, A Liberdade - “órgão dedicado à classe de cor, crítico, literário e noticioso” e Clarim da Alvorada - “ Orgam Li-terário, Scientifico e Político”) a fim de compreender seu contexto de produção e quais as temáticas abordadas pelos mesmos. Trata-se de identificar as experiências cotidianas e variadas de enfrentamento do racismo, bem como as ações que promoveram a cidadania de homens e mulheres negros através da escrita e sua publicação.

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SESSÃO 25 » POSSE DE ESCRAVOS E DEMOGRAFIALocal: Mini-auditório do CFH (Bloco B, 2º andar)Coordenador e comentarista: • Marcelo Santos Matheus (IFRS)

Efeitos da pequena posse de escravos em uma economia de abastecimento: Análise da vila de Atibaia (SP) com base nos Maços Populacionais de 1810, 1815, 1820 e 1825.• Patrícia Junqueira Rodrigues (USP)

A presença da mão de obra escrava na produção de gêneros destinados ao mercado regional foi uma das características distinti-vas da escravidão brasileira. Compreender o papel dessa massa tra-balhadora, em especial nos plantéis de até 5 cativos, é compreender o cotidiano do Brasil oitocentista. Com base nas listas nominativas e em diálogo com a historiografia atual sobre a posse de escravos, observa-se entre 1810 e 1825 a inserção da vila de Atibaia, a 60 quilô-metros de São Paulo, nesse contexto, bem como sua participação no dinâmico comércio da capitania. Nascida da ação desbravadora que povoou o interior de São Paulo, Atibaia apresenta uma demografia que não se distinguia da maioria das vilas coloniais, com a população branca sendo a maioria, seguida pela negra e a mulata. A população teve um crescimento de 10,31% entre 1810 e 1825, com os indivíduos mulatos apresentando as maiores taxas de crescimento, variando 37,50% entre 1820 e 1825, e a população branca caindo 5,34% no mes-mo período. Percebe-se ainda a repetição de padrões já verificados pela historiografia: maior presença de mulheres na população total, ao contrário da população cativa, em que os homens eram superiores. A maioria da população não possuía escravos. Dentre os que os tinham, a estrutura da posse tinha comportamento semelhante ao de outras economias não ligadas à atividade exportadora, com plantéis redu-zidos, sendo o maior deles composto por 53 escravos. A agricultura era a atividade principal da maioria dos chefes de fogo de Atibaia,

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quase todos dedicados à produção de milho. Grande produtora de milho, era da comercialização do cereal que vinha a maior parte dos rendimentos da vila. Raramente o milho era o único gênero cultivado em um domicílio. A combinação mais comum era entre milho e feijão, outro mantimento fundamental na alimentação cotidiana paulista e de grande potencial mercantil. De acordo com os mapas gerais, con-clui-se que grande parte da produção era consumida pelos próprios produtores. Observa-se que a posse de escravos tinha efeito positivo na produtividade de um domicílio. Mesmo assim, não garantia auto-maticamente o enriquecimento através do aumento da produção, tampouco evitava que um domicílio entrasse em situação de pobreza. Entretanto, não podemos desconsiderar que a ter um escravo não era apenas uma decisão econômica, mas também social, uma vez que ser senhor de escravos era um diferenciador na sociedade colonial, garantindo status aos proprietários.

Demografia e família escrava em duas grandes propriedades escravistas no Recôncavo da Guanabara – Vila de Santo Antônio de Sá (1756-1809).• Dermeval Marins de Freitas (UFRRJ)

O objetivo desta comunicação é analisar duas grandes proprie-dades escravistas (mais de 50 cativos) localizadas na Vila de Santo Antônio de Sá no Recôncavo da Guanabara na segunda metade do século XVIII e início do XIX. Iniciaremos nossa investigação a partir da análise de algumas das características demográficas da população escrava destas duas escravarias a partir de diversos censos e mapa populacional produzidos no período. Em seguida analisaremos os enlaces matrimoniais dos escravos de acordo com a origem, a legi-timidade das crianças cativas e o compadrio escravo através dos re-gistros paroquiais de casamento (1756-1809) e de batismo (1763-1809). Apesar de ambas as propriedades escravistas estivessem voltadas para a produção da cana de açúcar elas diferem por conta do grau de antiguidade em que seus proprietários e antigos proprietários se

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encontravam na região. Nosso intuito é perceber a influência desta variável nos laços sociais estabelecidos pelos escravizados. Ao con-trapor duas propriedades a partir do tempo em que ela foi constituída, será possível perceber que as propriedades “velhas”, possuíam uma grande proporção de cativos crioulos, e na “mais recente”, ocorria o inverso. As diferentes tendências que serão observadas em cada uma das propriedades permitirão compreender que diferenças culturais e/ou geracionais podem ter influenciado nas estratégias que os cativos estabeleceram nas senzalas. Nesse sentido, as alianças estabeleci-das no momento do batismo da criança cativa através dos laços de compadrio nestas duas escravarias possuíam distintas tendências que apontam para diferentes estratégias.

A estrutura da posse de escravos no Médio Vale do Paraíba: Bananal, 1830-1880.• Breno Aparecido Servidone Moreno (USP)

O objetivo deste artigo é analisar a estrutura da posse de es-cravos em Bananal, São Paulo, entre as décadas de 1830 e 1880. Por meio dos inventários post mortem – 500 processos – pretende-se mostrar que, nesse período, a estrutura da posse cativa era marcada, de um lado, pela disseminação de escravos nos diversos setores da sociedade e, de outro, pela concentração de cativos nas mãos da “elite agrária cafeeira” (50 ou mais cativos). Desde a virada dos anos 1970 para os 1980, diversos pesquisadores, sobretudo aqueles vinculados à área de demografia histórica, têm destacado que, nos séculos XVIII e XIX, predominaram as pequenas posses de escravos em detrimento das grandes escravarias e que, além disso, os pequenos senhores de escravos controlaram parcela significativa da mão de obra cativa. De fato, estas pesquisas revelaram que a ideia corrente na historio-grafia “tradicional” de que a fazenda típica era a “grande propriedade rural”, composta por mais de uma centena de cativos, constituiu-se a exceção do passado escravista brasileiro. No entanto, a estrutura da posse de escravos nos períodos de expansão e “grandeza” da eco-

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nomia cafeeira, entre as décadas de 1830 e 1880, foi um tópico muito pouco frequentado, a despeito da centralidade do Vale do Paraíba para a formação do mercado mundial de café, para a construção do aparato institucional do Estado nacional brasileiro e para a extraor-dinária expansão da escravidão no país. Acredita-se que a questão da posse de escravos ainda permanece em aberto, haja vista que quase todas as pesquisas centraram o foco, grosso modo, no período de 1710 a 1830, e nos primeiros anos da década de 1870. Deste modo, este artigo pretende contribuir para o debate historiográfico acerca da posse de escravos no Império do Brasil. Para tanto, debruçar-se-á sobre o município de Bananal – um dos maiores municípios cafeeiros do Vale do Paraíba paulista – nas fases de expansão e “grandeza” da cafeicultura, isto é, entre as décadas de 1830 e 1880. Não se pretende negar os valiosos contributos oriundos da historiografia da “pequena posse”. Intenta-se, antes de mais nada, recolocar a questão da posse de escravos em uma nova perspectiva: a despeito da predominância das pequenas escravarias em todo o Império do Brasil, eram as gran-des propriedades rurais que concentravam as terras, a mão de obra escrava e os pés de café. Tal era a paisagem agrária no Médio Vale do Paraíba, coração do Império do Brasil

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SESSÃO 26 » ALFORRIASLocal: Auditório Carlos Augusto Figueiredo Monteiro (Bloco F, 7º andar)Coordenadora e comentarista: • Fernanda Aparecida Domingos Pinheiro (UNILAB)

Entre relatos de viagem e alforrias: notas de pesquisa sobre produção de liberdade e alteridade entre escravos e senhores estrangeiros no Brasil.• Daniel Dutra Coelho Braga (UFRJ)

Após 1808, o Brasil se tornou uma dupla possibilidade para estran-geiros. O período joanino configurou um novo campo de possibilidades no território brasileiro, tanto para o trânsito temporário como para o esta-belecimento de atores oriundos de outros países. Esse campo implicou novas relações e representações referentes à escravidão brasileira, sobre-tudo no tocante à sua relativa persistência quando concebida em quadro global. Tendo esse quadro em vista, a presente comunicação apresenta dados referentes a redes de sociabilidade nas quais se inseriram simul-taneamente senhores, escravos e viajantes, no intuito de refletir sobre a condição relacional e a territorialidade das identidades que permearam essas redes. Para fins de recorte metodológico, privilegiam-se redes de inscrição sociológica francesa, notadamente o contato entre viajantes franceses e agentes consulares do Estado francês que, a despeito das transformações de pauta perante o tráfico de escravos no interior desse mesmo Estado, mantinham cativos em outras territorialidades, como a de que dispunham quando instalados no Brasil. Desse modo, a comuni-cação pretende enfrentar dois problemas historiográficos. Em primeiro lugar, se muitos estudos dedicados ao trânsito e aos escritos de viajantes estrangeiros já delimitaram padrões de representação do problema da escravidão na literatura de viagem, vários o fizeram reiterando, em suas narrativas, a imagem de viajantes em uma espécie de “redoma de relações sociais”. De fato, em muitos estudos se narra um viajante que transita por paisagens e grupos sociais como se não fosse afetado por esses fatores,

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embora, paradoxalmente, também sejam reconhecidos inúmeros exem-plos de uso do trabalho escravo em expedições e, até mesmo, o aluguel ou posse de escravos por parte de viajantes, o que não poderia ocorrer fora de uma zona de contato com mediação cultural e redes de sociabilidade eficazes. Além disso, estudos em história social, por sua vez, poucas vezes se atêm à condição estrangeira de muitos senhores, sobretudo aque-les que porventura terminaram por deixar o Brasil e produziram alforrias também em função de tal situação, algumas vezes inclusive mantendo, nesse processo, vínculos de domínio pessoal por meio de uma produção condicional de liberdade. Logo, esta comunicação busca, além de divulgar um programa de pesquisa, trazer subsídios tanto para uma maior intera-ção entre estudos de história social e os dedicados a relatos e práticas de viajantes estrangeiros, como também para estudos sobre escravidão em perspectiva global.

A economia das liberdades: relações de reciprocidades e redes de subsistências nas alforrias cartoriais (1750-1800).• Philippe Moreira (UFF)

Esse trabalho tem como objetivo profícuo, levantar debates em torno da sociedade escravocrata expressa nas alforrias condicionais. O conceito de economia a que nos referimos irá basear-se nas concepções teóricas de karl polanyi discutidas no livro “a subsistência do homem e ensaios correlatos”. Para o antropólogo húngaro, é necessário entender os diversos contextos para não cometer o erro de atribuir à economia enraizada, baseada na subsistência e nas trocas (dádivas e contradádi-vas), o mesmo valor do conceito de economia de mercado, onde as leis de oferta e procura regem as relações sociais. Na capitania fluminense verificamos diversos casos de alforrias condicionais onde sua concessão não é marcada pelo lucro, mas com o objetivo claro de reiterar a hierar-quia entre senhores, escravos ou forros. Para exemplificar, destacare-mos a coartação, modalidade de condição onde o escravo recebia sua alforria “parcelada” ou, na linguagem de época, “coartada”. Nossas fontes abarcam dois cartórios itinerantes, 1° e 4° ofício de notas. Nesses cartó-rios, segundo levantamentos iniciais, cerca de 40 % da documentação

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envolvia algum tipo de rearranjo entre senhores e escravos. Em muitos casos, podemos detectar também, a presença de terceiros envolvidos (ordens religiosas, forros que compravam a alforria de algum parente ou homens de negócio, que emprestavam dinheiro para a prática da coar-tação). O que chama atenção é que o pecúlio empregado na produção documental é pequeno, sendo mesmo simbólico: há alforrias onde uma família inteira é libertada por 85 mil reis, média das alforrias cartoriais até 1820, isso corrobora com nossa hipótese central: os senhores não cediam a liberdade plena aos escravizados, usavam de instrumentos legais para amarrá-lo a um sistema de reiteração da escravidão, pois se o cativo se mostrasse ingrato, teria sua alforria revogada. Assim, a violência direta era substituída por uma forma sutil, porém não menos cruel, de coerção.

Comprando soldados: as alforrias condicionadas na Guerra do Paraguai.• Denise Moraes Gouveia da Silva (UNIRIO)

Em novembro de 1866, dois anos após o início da Guerra do Paraguai (1864-1870), o governo imperial brasileiro decidiu propor aos proprietários de escravos do país que encaminhassem seus cativos para atuarem na guerra. Aqueles que o fizessem receberiam, em contrapartida, uma “indeni-zação”. Existia, porém, uma condição para que a negociação acontecesse: os senhores deveriam alforriar seus escravos. E estes, obrigatoriamente, seguiriam para o Exército ou a Armada. Por este mecanismo, centenas de libertos chegaram ao teatro da guerra, vindos de diferentes províncias. Esta pesquisa se debruçou sobre documentos depositados em quatro diferentes arquivos para tentar entender como aconteceram tais alforrias e quais seus significados e implicações. Após a reunião de mais de 800 recibos de venda de escravizados da Bahia e do Maranhão e de outros registros relacionados a este movimento de compra e libertação condicionada em Pernambuco, Pará e Rio de Janeiro, este trabalho pretende mostrar como as alforrias para a guerra se deram ao longo dos anos de 1867 e 1868, quais foram os agentes envolvidos, as condições das vendas e os possí-veis desdobramentos deste processo no contexto do Segundo Reinado.

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SESSÃO 27 » TRABALHO, GÊNERO E RAÇA NO PÓS-ABOLIÇÃOLocal: Auditório do Bloco ECoordenadora e comentarista: • Daniela Magalhães da Silveira (UFU)

Saindo das sombras: classe e raça na São Paulo pós-Abolição (1887-1930).• Fábio Dantas Rocha (UNIFESP)

A presente dissertação de mestrado tem como tema central a análise das experiências de classe da população negra de São Paulo en-tre os anos de 1890 e 1930. Para tanto, foi preciso entender quais foram os padrões ideológicos informaram suas ações e os contextos de con-flitos entre eles e a populações branca e pobre. Ao examinarmos essas experiências, foi possível entender que os anos da Primeira República em São Paulo estiveram relacionados a um processo de construção oficial de uma identidade paulistana pautada pela presença branca na cidade. E que esse processo, além de se reformular constantemente durante os anos republicanos, herdou padrões ideológicos informados pelos anos de desestruturação da instituição escrava.

Sobre pretos, pardos, mistos e morenos: notas de pesquisa acerca do perfil social de trabalhadores no Pós-Abolição a partir de registros hospitalares em Santa Maria nas primeiras décadas do séc. XX.• Gabriela Rotilli dos Santos (UFSM) • Felipe Farret Brunhauser (UFRGS)

Os anos iniciais do século XX pertencentes ao período do pós-Abo-lição carregam uma miríade de mudanças políticas, sociais, econômicas, culturais e geográficas. Estas transformações, por sua vez, são enten-didas de maneira mais completa a partir da compreensão de processos

17/05/2019 - 15h40 - 17h30

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históricos anteriores como as medidas de extinção da escravidão, a própria Abolição e o início do período republicano. Inúmeros estudos têm, há décadas, demonstrado a crescente suspeição e perseguição da população pobre e cada vez mais criminalizada, que neste contexto de modernização e higienização do espaço urbano. Os populares são, então, afetados de diferentes formas pelos diversos empreendimentos do poder público e das elites em disciplinar e controlar suas práticas de lazer, seus lugares de sociabilidade e seus arranjos afetivo-familiares. A cidade de Santa Maria, localizada no centro do estado mais meridional do Brasil, insere-se também neste contexto, sofrendo, entre as derradeiras décadas do século XIX e os primeiros anos do século XX, um vertiginoso crescimento populacional. Além das mudanças políticas nacionais, o município recebe a instalação de um núcleo colonial de imigração italia-na, e a construção da ferrovia na região, que impulsionou a chegada de trabalhadores e trabalhadoras na cidade, decorrentes do pós-abolição. Esta pesquisa busca enriquecer estas discussões, na medida que intui elaborar um perfil social de trabalhadores “não-brancos” e as diferentes designações de cores encontradas nas fontes documentais utilizadas durante a investigação. Dialogando com os preceitos da micro-história e a partir de análises quantitativas de base serial, foram utilizadas como fontes os Registros de Entrada de Pacientes do Hospital de Caridade de Santa Maria, instituição médica voltada para o atendimento das ca-madas empobrecidas da cidade, nas primeiras décadas do séc. XX. As informações que dispomos nestas documentações (nome, idade, cor, estado civil, classificação, diagnóstico, nacionalidade, situação de alta, de hospitalização e de enterro) nos permitem pensar a relação entre ho-mens e mulheres pobres com aspectos de seu cotidiano, como os meios de contato com o mundo do trabalho, suas enfermidades e situações de estado civil. Direcionamos nosso foco de análise aos pacientes com designação de cor “não-branca”, buscando traçar um perfil social destes grupos e compreender quais fatores influenciavam nas diferentes de-signações encontradas para homens e mulheres negros, e as eventuais transformações que se mostram no decorrer do recorte analisado; bem como refletir acerca das intersecções entre gênero, raça e classe no que tange ao alcance à cidadania, à igualdade e ao afeto.

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Flores Horizontais: a prostituição na Zona do Mangue entre os anos de 1960 e 1970.• Claudielle Pavão da Silva (UFRRJ)

Este trabalho propõe uma análise sobre as estratégias cons-truídas por prostitutas nos anos finais da Zona do Mangue, região de baixo meretrício do Rio de Janeiro, perscrutadas pelas experiências de homens e mulheres negras no pós abolição. Entre os anos 1960 e 1970, ocorreram desapropriações e derrubadas de prédios e casas para a construção das linhas do metrô da cidade do Rio e do Centro Administrativo São Sebastião, pertencente à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. A Zona do Mangue era uma região historicamente co-nhecida pela prostituição e pela atuação repressora de autoridades policiais devido à ocupação do território por indivíduos pertencentes às “classes perigosas”. A problematização da agência dos sujeitos históricos é realizada através de perspectivas interseccionais que consideram as relações de gênero, raça, classe e sexualidade na construção das redes de sociabilidade e estratégias para lidar com a repressão e a manutenção da prostituição. Dentre as fontes dis-ponibilizadas para a pesquisa, há no Arquivo do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro um processo criminal em que Neusa era acusada de vadiagem. Em seu depoimento, após a prisão em flagrante, a acusada argumentou ser meretriz e não vadia. Apesar de ainda dizer que trabalhou um tempo como doméstica, declarou no processo trabalhar como prostituta. Mesmo considerando as possíveis interferências do relator e da necessidade da construção de argumentos para garantir a absolvição, há a possibilidade de considerar a agência e as estratégias formuladas pelas prostitutas. Para isso, esta pesquisa toma como referência a análise da antro-póloga Soraya Simões que apresenta a prostituição como trabalho. Para Simões, a vitimização e a história triste como justificativa pela prostituição são dispositivos que afastam a categoria do auto re-conhecimento necessário para a profissionalização, o que mantém as mulheres prostitutas sob a marginalidade. Sendo assim, este trabalho pretende dialogar as perspectivas interseccionais com a

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categoria trabalho e a formação de movimentos sociais liderados por prostitutas. As relações de poder no território do Mangue, em que as mulheres estavam envolvidas, proporcionaram experiências que influenciaram na formação de movimentos sociais das prostitutas na década de 1980, no Rio de Janeiro.

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17/05/2019 - 18h - 20h

Plenária de balanço e encerramentoLocal: Auditório do CFH (Bloco B)• Amy Chazkel (Columbia University) • Joseli Maria Nunes Mendonça (UFPR - Universidade Federal

do Paraná)

18/05/2019 - 10h - 16h

Roteiros históricos “Santa Afro Catarina”

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ÍNDICE DE AUTORES, COMENTADORES E CONFERENCISTAS

Adriana Barreto de Souza ......................................................................... 29

Alain El Youssef ......................................................................................... 16

Alex Andrade Costa .................................................................................100

Alícia Quinhones Medeiros ........................................................................ 53

Aline Emanuelle De Biase Albuquerque .................................................... 64

Alisson Barcellos Balhego ........................................................................ 48

Amy Chazkel .............................................................................................131

Andrea Margarita Armijo Reyes ................................................................. 84

André do Nascimento Corrêa ....................................................................37

Ângela Pereira Oliveira Balladares ........................................................... 105

Antônia Maria Rodrigues Brioso ................................................................ 70

Beatriz Gallotti Mamigonian ........................................................... 40, 64, 87

Breno Aparecido Servidone Moreno ........................................................ 122

Bruno da Fonseca Miranda ........................................................................ 16

Bruno Pinheiro Rodrigues .........................................................................113

Caiuá Cardoso Al-Alam .............................................................................. 91

Carlos de Almeida Prado Bacellar ........................................................ 76, 83

Carlos Eduardo Nicolette .......................................................................... 72

Carolina Marchesin Moises ....................................................................... 49

Caroline Passarini Sousa .......................................................................... 96

Cláudia Eliane Parreiras Marques Martinez ............................................... 24

Claudielle Pavão da Silva ......................................................................... 129

Clemente Gentil Penna .............................................................................101

Cristiane Fortkamp Schuch ...................................................................... 80

Cristiane Pinheiro Santos Jacinto .............................................................75

Daniela F. Sbravati ..................................................................................... 19

Daniela Magalhães da Silveira .............................................................22, 127

Daniel Dutra Coelho Braga ....................................................................... 124

Daniel Souza Barroso ............................................................................... 25

Daniele Weigert ........................................................................................ 74

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Daniel Souza Barroso ............................................................................... 25

Danilo Luiz Marques .................................................................................. 44

Denise Moraes Gouveia da Silva ............................................................... 126

Dermeval Marins de Freitas ......................................................................121

Diego Schibelinski ................................................................................... 108

Eliana Ramos Ferreira .............................................................................. 30

Eliane Taffarel ........................................................................................... 81

Ernesto Cerveira de Sena .........................................................................112

Fábio Dantas Rocha ................................................................................. 127

Felipe de Melo Alvarenga ...........................................................................79

Felipe Farret Brunhauser ......................................................................... 127

Felipe Garcia de Oliveira ........................................................................... 88

Fernanda Aparecida Domingos Pinheiro .............................................87, 124

Fernanda Lucas Santiago ......................................................................... 92

Fernanda Oliveira da Silva ................................................................... 58, 116

Franciele Rocha de Oliveira ....................................................................... 13

Francilene de Souza Tavares ....................................................................118

Gabriela Rotilli dos Santos ....................................................................... 127

Guilherme Vargas Pedroso ...................................................................13, 53

Henrique Espada Lima ........................................................................32, 42

Hudson Louback Coutinho da Silva ........................................................... 54

Idalina Maria Almeida de Freitas ............................................................... 34

Ivana Stolze Lima ................................................................................. 11, 28

Jacó dos Santos Souza ............................................................................110

Jaime Rodrigues ........................................................................... 17, 39, 108

Jerônimo Aguiar Duarte da Cruz ............................................................... 36

Jéssyka Samya Ladislau Pereira Costa ..................................................... 89

João Guilherme da Trindade Curado ......................................................... 85

João Marcos Mesquita .............................................................................. 66

Jonas Moreira Vargas ............................................................................... 26

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134 9º ENCONTRO ESCRAVIDÃO E LIBERDADE NO BRASIL MERIDIONAL

Jonatas Roque Ribeiro ............................................................................. 90

José Flávio Motta .............................................................................. 24, 102

Joseli Maria Nunes Mendonça ............................................................ 68, 131

Josemeire Alves Pereira ........................................................................... 68

José Ricardo Marques Resende Jr ........................................................... 47

Juan Luis Martiren ................................................................................... 42

Juliana Barreto Farias ...........................................................................9, 28

Juliana da Silva Drumond ......................................................................... 62

Jurama Maria Bergmann Vieira ..................................................................97

Keila Grinberg ......................................................................................15, 112

Liana Severo Ribeiro ................................................................................. 51

Lidiane Taffarel ......................................................................................... 81

Lígya Esteves Sant Anna de Souza ............................................................ 21

Luana Teixeira ......................................................................................... 107

Lúcia Helena Oliveira Silva ................................................................. 58, 104

Luciana Suarez Lopes ............................................................................. 102

Luís Augusto Ebling Farinatti .................................................................... 42

Luiz Carlos Laurindo Junior ..................................................................... 102

Luiz Gustavo Ramaglia Mota ..................................................................... 60

Marcelino Euzebio Rodrigues ................................................................... 39

Marcelo Santos Matheus .....................................................................77, 120

Marcos de Brito Monteiro Marinho ............................................................ 43

Marcos Ferreira de Andrade ................................................................. 11, 72

Mariana Alice Pereira Schatzer Ribeiro ..................................................... 33

Mariana de Aguiar Ferreira Muaze .........................................................19, 95

Mariani Bandeira Cruz Oliveira .................................................................. 20

Marina Camilo Haack ................................................................................ 95

Marinelma Costa Meireles ......................................................................... 59

Marjorie Carvalho de Souza ...................................................................... 50

Maura Silveira Gonçalves de Britto .............................................................73

ÍNDICE DE AUTORES, COMENTADORES E CONFERENCISTAS

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135Caderno de Resumos

Melina Kleinert Perussatto ................................................................ 90, 104

Merylin Ricieli dos Santos ......................................................................... 69

Mylene Silva de Pontes ............................................................................. 70

Noemi Santos da Silva ..............................................................................116

Paloma Natalia Riquetta Nervi .................................................................. 56

Pamela Beltramin Fabris ......................................................................... 106

Patrícia Junqueira Rodrigues .................................................................. 120

Paulina Alberto ......................................................................................... 94

Paulo Henrique Rodrigues Pereira ............................................................. 61

Paulo Pinheiro Machado ............................................................................79

Philippe Moreira ...................................................................................... 125

Rafael da Cunha Scheffer .................................................................100, 109

Regina Celia Lima Xavier ..................................................................... 12, 58

Renata Figueiredo Moraes ........................................................................ 32

Renato Leite Marcondes ........................................................................... 36

Renilda Vicenzi .....................................................................................36, 81

Rodrigo Marins Marretto ........................................................................... 43

Silvana Andrade dos Santos ..................................................................... 64

Silvia Cristina Martins de Souza ................................................................. 13

Sirlene Ribeiro Alves da Silva .................................................................... 117

Taiane Anhanha Lima ................................................................................ 13

Teresa Malatian ........................................................................................ 40

Thalia Faller .............................................................................................. 46

Thiago Campos Pessoa ........................................................................15, 66

Thiago Leitão de Araujo ............................................................................114

Victor Hugo do Rosario Modesto .............................................................. 98

Victor Vilmar Alexandre ............................................................................ 55

Vinícius Augusto Andrade de Assis ........................................................... 83

Waldomiro Lourenço da Silva Júnior ........................................................ 59

Walter Luiz Carneiro de Mattos Pereira ................................................ 66, 75

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