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Universidade do Estado do Pará Centro de Ciências Sociais e Educação Curso de Licenciatura Plena em Ciências da Religião Elaine Cristina de Sousa Cardoso A experiência religiosa como alternativa de fuga no mundo da prisão Belém 2010

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Universidade do Estado do Pará Centro de Ciências Sociais e Educação Curso de Licenciatura Plena em Ciências da Religião

Elaine Cristina de Sousa Cardoso

A experiência religiosa como alternativa de fuga no mundo da prisão

Belém 2010

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Universidade do Estado do Pará Centro de Ciências Sociais e Educação Travessa Djalma Dutra, s/n – Telégrafo

66113-200 Belém-PA www.uepa.br

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Elaine Cristina de Sousa Cardoso

A experiência religiosa como alternativa de fuga no mundo da prisão

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade do Estado do Pará como requisito avaliativo para a obtenção do título de Professor em Licenciatura Plena em Ciências da Religião, sob a orientação do Prof. Dr. Mario Jorge Brasil Xavier.

Belém 2010

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Elaine Cristina de Sousa Cardoso

A experiência religiosa como alternativa de fuga no mundo da prisão

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade do Estado do Pará como requisito avaliativo para a obtenção do título de Professor em Licenciatura Plena em Ciências da Religião, sob a orientação do Prof. Dr. Mario Jorge Brasil Xavier.

Data de Aprovação: ____/____/______ Nota:____________ Banca Examinadora: ____________________________________ Prof. Dr. Mario Jorge Brasil Xavier Universidade do Estado do Pará

____________________________________ Prof. Dr. Douglas Rodrigues da Conceição Universidade do Estado do Pará ____________________________________ Prof. Dr. Saulo de Tarso Cerqueira Baptista Universidade do Estado do Pará

Belém 2010

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A Deus, autor e consumador da minha fé,

que me conduziu no caminho da

sabedoria me fortalecendo diante das

dificuldades e adversidades de todo meu

processo acadêmico. Graças à sua

fortaleza me mantive serena para

vivenciar todas as oportunidades com

amor que a vida me proporcionou no

decorrer destes.

Dedico também o meu carinho aos meus

muitos amados meu pai Evandro

Cardoso, minha mãe Conceição Cardoso

meu irmão Evandro Filho e minha tia

Maria de Belém, que mais do que

ninguém fizeram e fazem parte dessa

história.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter dirigido minha vida nesses quatro anos, sendo o

centro da minha existência, suprindo todos os meus anseios nos momentos de

fraquezas.

Agradeço infinitamente aos meus genitores Evandro Cardoso e Conceição

Cardoso que dentro de suas possibilidades lutaram incansavelmente se doando

para me proporcionar uma boa educação a qual lhes retribuo orgulhosamente com

o titulo de graduada.

A minha gratidão vai também ao meu orientador Mario Brasil pelo auxílio e

dedicação na elaboração das pesquisas e compilação do trabalho.

É com muito carinho que agradeço toda equipe pedagógica do curso: Ana

Cláudia, Tâmara Duarte e Fernanda (que não se encontra mais no estabelecimento

da UEPA), Dona Rosa Maria, e em particular, a Professora Rosilene Quaresma,

Coordenadora do Curso, por toda dedicação e empenho aqui meu muito obrigado.

Aos meus estimados professores da UEPA: Dr. Douglas Conceição, por seu

exemplo de sabedoria e humildade com a qual de fato exerce o “ser” professor,

também volto a minha admiração, ao Mestre Mangoni que com seu jeito meigo e

educado e transmite amor e respeito por seus alunos, vale ressaltar ainda o exemplo

de vida do Professor Iracildo Castro que me mostrou que é possível sonhar para

alcançar os objetivos desejados, sem esquecer a rica contribuição do querido e

insubstituível Geovanni Tuveri, incluo também todos os demais professores que

contribuíram com riquíssimas discussões dando suporte para o meu desenvolvimento

acadêmico e entre eles destaco o Professor Leonel e o Dr. Saulo Baptista, que

contribuiu imensamente para as mudanças necessárias para a melhoria deste

trabalho.

Ainda destaco meus agradecimentos a equipe de professores responsável,

pelo Projeto Sócio Pedagógico e financeiro para estudantes de origem popular, o qual

tive a oportunidade de ser integrante durante o ano de 2010. Na pessoa da

Professora Kátia dos Santos Melo, que com todo carinho me acolheu, agradeço todos

que compõe a equipe, sempre me lembrarei de vocês.

Aos meus eternos amigos da UEPA, que alegraram a minha vida fazendo parte

dessa bela história, Claudinete Sales, pela grande força e orientação o qual dividimos

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momentos diversos ao longo dessa jornada. William Santos pelo companheirismo

com a qual me acolheu no primeiro dia de aula na UEPA: ao Willblhison, pelo apoio e

ideias que somaram na composição do meu trabalho; ao Bruno Lobo pelo carinho,

respeito, atenção com a qual sou infinitamente grata. Sem esquecer a rica

contribuição de outros colaboradores que direta ou indiretamente me apoiaram nesse

momento minha grande amiga Paty Fabiana, Jânio Sóstenes, Fabricia, Walmira,

minha segunda mãe e a pequenina Ana Luiza que fizeram parte dessa história e

minha alegria divido também com elas. Valeu família Terra.

Quero também agradecer ao meu irmão Evandro filho pela companhia e

carinho, também a minha querida cunhada Nayara Cardoso pelo amor e carinho, e

sem esquecer a minha grande amiga Josilene Cunha que contribuiu com carinho para

o desenvolvimento deste trabalho. Agradeço também à minha amada tia Edna Arruda,

e aos queridos amigos Augusto e Melquesedeque leão pelo incentivo e dedicação.

Meu agradecimento vai também a minha igreja do campo do Maguari em

especial a equipe de missões SIMADEM na pessoa do irmão Gierre, Secretário de

Missões, que me ajudou facilitando as minhas idas ao campo de pesquisa e orando

por mim.

Agradeço ao Diretor do Centro de Recuperação Penitenciário do Pará I, Major

Marcos Valério, que me recebeu de braços abertos sem medir esforço na liberação

das informações que desencadearam e enriqueceram a minha pesquisa

disponibilizando a Casa Penal para tal, sendo assim, sou imensamente grata.

Meu muito obrigado vai também aos internos que também foram de suma

importância na fundamentação da pesquisa, e incluo aqui a direção da Casa Penal

CRPP I que me receberam gentilmente, e também sem esquecer os amigos que se

dispuseram na coleta de material para pesquisa: Roberto Cardoso, Edelfrance

Soares, Davi Neves e Rolando da Silva, meus sinceros agradecimentos e que Deus

os ilumine.

No geral, agradeço as informações fornecidas pela Superintendência do

Sistema Penitenciário – SUSIPE, em especial, a Kelen Rocha da Escola de

Administração Penitenciária – EAP, pelo carinho e esforço em disponibilizar o

acesso a informações de departamentos diversos.

Deus seja louvado.

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.

.

JESUS: esperança que emana do túmulo

vazio.

Evandro Cardoso

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RESUMO

CARDOSO, Elaine Cristina de Sousa. A experiência religiosa como alternativa de

fuga no mundo da prisão. 2010. 64 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação

em Ciências da Religião). Universidade do Estado do Pará, Belém, 2010.

Este trabalho pretende observar a experiência religiosa dentro do presídio, mas

especificamente, como se dar o encontro da religião na vida do detento, sendo

assim será analisada a experiência religiosa como alternativa de fuga no mundo da

prisão, levando em conta que a vida no cárcere é cercada de fuga, sendo elas

físicas, psicológicas, ou por meio dos entorpecentes, suicídio, homicídio etc., mas

esse trabalho se restringe a fuga para religião ou transcendente, onde por meio dela

o detento consegue encontrar alívio para a vida de caos, pois inserido naquele

submundo, o detento precisa arrumar formas de sobrevivências. Nesse sentido que

a religião entra na vida do detento como alternativa de fuga. O qual através dela

será moldado seu comportamento ao ponto de não, mas tentar fugas, não matar,

não se drogar, contribuindo assim para o bom funcionamento e sociabilidade dentro

da casa penal. Sendo assim, o presente estudo está pautado na correlação dos

apenados para com a religião, para isso foi utilizado entrevistas com dois internos e

um ex-detento do CRPP I o qual foi relatado como aconteceram seus encontros com

a religião, também foi entrevistado o diretor da casa penal, onde disponibilizou todas

as informações concernentes ao funcionamento do Centro de Recuperação

penitenciário do Pará I e ainda para a obtenção dos dados foi coletado alguns dados

fornecidos pela superintendência do sistema penitenciário no geral este trabalho foi

norteado nessas questões para sua realização.

Palavras-chaves: Religião. Fuga Transcendental. Reintegração. CRPP I.

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ABSTRACT

CARDOSO, Elaine Cristina de Sousa. A experiência religiosa como alternativa de

fuga no mundo da prisão. 2010. 64 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação

em Ciências da Religião). Universidade do Estado do Pará, Belém, 2010.

This work intend to explain about an religion experience in the prison specifically the

meet of the religion in the actvit’s life and so an religion experience will be analyzed

as alternative of escape in the prison’s world. Considering that the life in the prison is

surrounded of escape, in other words kind of escape like physique, physiologic or

through the narcotics, suicide, murder etc. but this work restrict it selves the escape

to the religion or other plane where through her the prisoner get to find out the relief

for life of chaos. So entered in that world of crimes, the prisoner need to looking for

other way of survive on this sensible that the religion come in the life of the prisoner

as a alternative of escape what through her will be changed their behavior to point of

no try escapes, no murder, no drugs, contributing for operation of the society into the

prison. The present ideology is relation to union of the prisoner to the religion, for

this was utilized interviews with two prisoners and one ex-prisoner from the CRPP I

what was related like happen their meet with the religion the director of the prison

was interviewed too. Where was available all information about operation of the

“Centro de Recuperação do Estado do Pará”. And for obtain the information was

collected some information gave from by higher system of the prison in general this

work was fixed in that conditions for its fulfillment.

Keyswords: Religion. Escape. Unite. CRPP I.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1. Faixa etária dos detentos (masculino)...................................................... 38

GRÁFICO 2. Faixa etária das detentas (feminino)....................................................... 39

LISTA DE TABELAS

TABELA 1. lista de grupos religiosos........................................................................... 41

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................ 11

CAPÍTULO 1. A RELIGIÃO E SEUS ASPECTOS.................................................... 13

1.1. A RELIGIÃO SEGUNDO A CONCEPÇÃO DE ALGUNS TEÓRICOS................ 13

1.2. A RELIGIÃO SOB UMA CONCEPÇÃO CONTEMPORÂNEA............................ 17

1.3. VERTENTES DA RELIGIÃO............................................................................... 22

1.3.1. Vertente de alienação..................................................................................... 22

1.3.2. Vertente de neurose....................................................................................... 23

CAPÍTULO 2. CÁRCERE, CRIME E PRISÃO........................................................... 26

2.1. O CRIME............................................................................................................. 26

2.2. O CRIME NA VISÃO SOCIOLÓGICA................................................................. 28

2.3. EFEITOS E FORMAS DE PUNIÇÕES................................................................ 30

2.4. DO PANÓPTICO ÀS PRISÕES.......................................................................... 33

CAPÍTULO 3. A RELIGIÃO E O SISTEMA PENITENCIÁRIO.................................. 38

3.1. O SISTEMA PENITENCIÁRIO NA REGIÃO METROPOLITANA....................... 38

3.2. A RELIGIÃO E SUA RELAÇÃO COM OS APENADOS...................................... 42

CAPÍTULO 4. A RELIGIÃO E A REINTEGRAÇÃO.................................................. 45

4.1. A METODOLOGIA EMPREGADA PARA A PESQUISA..................................... 45

4.2. BREVE HISTÓRICO SOBRE O CRPP I............................................................. 45

4.3. A RELIGIÃO NO CRPP I..................................................................................... 47

4.4. VALORES APREENDIDOS NA RELIGIÃO......................................................... 52

4.5. RELIGIÃO E REINTEGRAÇÃO........................................................................... 54

4.6. CRÍTICAS DA RELIGIÃO DENTRO DO CRPP I................................................ 56

CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 60

REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 63

APÊNDICES............................................................................................................... 65

ANEXOS..................................................................................................................... 68

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INTRODUÇÃO

Este trabalho discute sobre o funcionamento da religião dentro do presídio,

mas precisamente, como acontece essa experiência religiosa dentro do cárcere e

analisar porque que os apenados se apegam a religião. Nesse sentido, a

experiência religiosa é entendida como uma alternativa de fuga no mundo da prisão,

ou seja, a fuga aqui está relacionada ao transcendente, pois, na verdade, o detento

se encontra inserido naquele submundo, a beira do caos, precisando arrumar formas

de sobrevivências, o qual se chama aqui de fuga.

Sendo evidente, então, perceber que a vida no cárcere é cercada de fuga,

seja ela física, psicológica, ou para os entorpecentes, suicídio, homicídio, etc., mas a

fuga que este trabalho se restringe é justamente para uma fuga religiosa ou

transcendental, fazendo com que a religião seja um antídoto para o transtorno do

cárcere que ajuda o detento a viver melhor dentro da casa penal e também a se

relacionar melhor com os demais, pois muitas atitudes são mudadas a partir da

religião, até mesmo mortes e brigas serão minimizadas, pois como “nova criatura” o

apenado não matará seu companheiro, não se entregará às drogas, obedecerá as

ordens do cárcere, contribuindo então para a melhoria da casa penal, e para as

demais ordens, seja ela policial ou judiciária, nas suas tarefas em fazer leis e

reformas necessárias.

Dessa forma, o presente estudo se intitula de “A experiência religiosa como

alternativa de fuga no mundo da prisão”, com o intuito principal de investigar a

realidade religiosa vivenciada dentro do Centro de Recuperação Penitenciário do

Pará I – CRPP I. Portanto, observar acerca dessa realidade requer muito cuidado

por se tratar de um assunto delicado, no sentido de discutir a religião no ambiente do

cárcere, e com isso, esta análise se estabelece como seguinte problema de

investigação: “como a religião é vivenciada dentro do cárcere funcionando como

fuga transcendental?”.

Dentro desse contexto, o detento mesmo preso se sente livre por meio da

religião, o qual segundo eles já estão perdoados pelo transcendente embora ainda

precisem cumprir as leis dos homens da justiça, dando assim um novo significado

para vida de caos, pois por meio da religião o detento encontra conforto e reencanto

pela vida ao ponto de considerar a prisão não como o fim, mas como um início, uma

chance do transcendente para recomeçar.

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Diante dessa realidade, o objetivo geral deste trabalho é o de analisar a

experiência religiosa dentro do centro de recuperação CRPP I, agindo como suporte

de reintegração na vida do apenado para com a sociedade, ou seja, essa relação de

apenado e religião contribuindo para a recuperação do preso. Embora muito se

pense que a religião não recupera ninguém por ser um disfarce, e o presídio seja

uma escola de crime a fomentar mais ódio, não se pode ignorar a ideia de que a

religião pode funcionar como estratégia de fuga dentro do cárcere. Contudo, como

objetivos específicos foram definidos:

Observar a experiência religiosa como mecanismo de fuga do interno para

com o transcendente;

Verificar como a religião contribui para o bom funcionamento e sociabilidade

dentro da casa penal;

Abordar acerca da valorização individual presente na religião, e como esta

atua na melhoria do comportamento do detento.

Sendo assim, esse trabalho se divide em quatro capítulos, onde o primeiro,

fala sob “A religião e seus aspectos”, abordando assim a religião conforme alguns

teóricos, sendo que, o segundo capítulo aborda sob o “Cárcere crime e prisão”,

como é entendido e conceituado o desenvolvimento da prisão, como o crime ocorre.

O capítulo três é focado mais para as questões da “Religião e o sistema

penitenciário”, ou seja, como se dar essa relação, como os grupos religiosos

adentram ao cárcere, quais os regulamentos que favorecem essa inserção. Já no

quarto capítulo e ressaltada a “Religião e reintegração”, ou seja, como a religião

entra na vida do detento moldando seus comportamentos e o que exatamente leva o

preso a querer se inserir na mesma.

No geral, são essas as vertentes que esta monografia trabalha, o qual a

proposta é entender com funciona essa experiência de fuga para o transcendente no

cárcere, levando em consideração que este trabalho é apenas um dos vieses, que

se pode entender dessa correlação apenado e religião, que não se fecha aqui, mas

pretende trazer mais propostas para ampliação da pesquisa.

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CAPÍTULO 1. A RELIGIÃO E SEUS ASPECTOS

1.1. A RELIGIÃO SEGUNDO A CONCEPÇÃO DE ALGUNS TEÓRICOS

Este subtópico aborda a religião segundo alguns teóricos, mas antes de

descrever determinadas teorias é importante observar como é que os teóricos

analisam a religião, e porque chegaram a tal conclusão. Sabe-se que a religião

constrói experiências de amplo sentido ao estabelecer padrões de comportamentos.

A religião acaba possibilitando uma relação entre a ordem imanente e a ordem

transcendente, no que tange a vida dos adeptos, a religião estabelece ligações de

coesão social, através de regras de comportamento. Sendo assim, é de fundamental

importância destacar os conceitos que Quintaneiro (2007) destaca de acordo com

Durkheim, pois em sua coletânea um toque de clássicos acerca da religião, onde

ressalta a ideia de que muito da conduta que o homem apresenta resulta justamente

de convicções religiosas, sendo assim já se mostra o poder que a religião tem em

estabelecer padrões de comportamentos.

A partir desse contexto visa focar em seus estudos com as comunidades mais

simples, onde é menor o desenvolvimento das individualidades e das diferenças o

fato religioso ainda trás visível o sinal de suas origens, mostrando também

elementos comuns a todas as sociedades, nesse sentido pelo fato do homem estar

vinculado a essa sociedade mecânica ou simples sua ligação com a religião vai se

estreitando, possuindo assim vínculos de condutas, é importante entender que nas

sociedades simples a dominação da consciência coletiva limita a esfera da ação

individual, essa situação é transformada pelo processo de desenvolvimento social.

É importante perceber que Durkheim (1990) reconhece que as várias

atividades coletivas forjam um ambiente próprio para o surgimento de sentimento e

de ideias religiosas, levando em consideração a diferença entre ao sagrado e o

profano que é com que o sociólogo se preocupa, pois para ele a relação com as

coisas sagradas exige um despojamento da vida profana que tal abstinência

manterá os laços sociais do homem para com o transcendente e assim também com

a sociedade, para que os laços se firmem, o homem precisa então cultivar seus

rituais suas práticas religiosas para renovar o presente com o transcendente sendo

que o ritual é instrumento de renovação das forças religiosas (consciência coletiva) o

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ritual então põe a coletividade em movimento, indicando a periodicidade do rito e o

ritmo da vida social.

Sendo assim, todo comportamento do homem é regido não pelas suas

escolhas, mas pelo que realmente será benéfico à sociedade. Dentro dessa ideia, o

conceito de religião acima citado é constituído por um sistema solidário de crenças e

práticas relativo às coisas sagradas, isto é, separadas, interditas, crenças comuns a

todos aqueles que se unem numa mesma comunidade, aonde o que vai realmente

fazer sentido é o bem estar comum, onde através da religião estabelece sua forma

de conduta, a ponto de não pensar em si próprio, de não violar certas normas para

que mediante a concepção religiosa tais atitudes não sejam reprovadas com isso o

indivíduo acaba contribuindo com os códigos de normatização para com a

sociedade.

Logo, a religião é entendida aqui como a expressão da consciência coletiva

(projeção da sociedade) no estado de perfeição, a religião reflete na sociedade

fazendo o culto da consciência coletiva, nesse sentido a partir do comportamento

grupal, percebe-se que essas atividades coletivas é que vão construir o sentimento

religioso isso indica que a vida de grupo será a fonte geradora ou causa eficiente da

religião, então que as práticas religiosas referem-se ao grupo social ou o simbolizam

e que a distinção entre sagrado e profano é universalmente encontrada e tem

consequências importantes para a vida social como um todo.

No geral, tanto as categorias do sagrado e profano, quanto àquilo que é

material e espiritual do céu e da terra funciona como base para a construção da

experiência do homem, pois é através dos símbolos religiosos que o homem se

aproxima do outro plano, ou seja, esses símbolos serão os intermediários entre o

céu e a terra a fim de vivificar e aprofundar tal experiência. Nesse sentido, não existe

religião sem símbolos assim como não existe leis religiosas que sejam contra as leis

sociais, portanto, o indivíduo que se sente dependente de algum poder moral

externo não é, pois, uma vítima de alucinação, mas um indivíduo que compõe a

sociedade e que atende a ela, e a religião como parte do homem não pode agir fora

do mesmo, pois enquanto existir sociedade, existe também religião, e é ela que

sustenta os laços sociais e reprime falha de conduta e contribui para o

desenvolvimento da sociedade.

Assim como Durkheim (1990), de acordo com Teixeira (2007), Cecília Mariz

acredita que Weber também se posiciona acerca do pensamento religioso, sendo

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assim, trabalhando com o poder agregador que a religião tem na vida do ser

humano. O pensamento de Weber se inspira em uma filosofia existencialista, a

ciência weberiana se define como um esforço destinado a compreender e a explicar

valores as quais os homens aderiram, enquanto que a religião para Weber será

entendida como sistema modelador no comportamento humano, ou seja, a religião

na concepção weberiana trabalhada de forma positiva e científica a influências de

valores e das crenças na conduta humana.

Partindo desse contexto, Weber faz um estudo fundamental sobre as religiões

e a influencia dos seus seguidores onde é possível notar que as formas culturais,

como a religião, por exemplo, podem ter sobre a própria estrutura econômica, na

verdade a intenção mesmo é examinar as implicações das orientações religiosas

nas condutas econômicas dos homens, ou seja, como a religião influencia o

comportamento, as atitudes e a própria conduta de relação econômica, tanto que o

êxito econômico será visto como benção divina ao homem, ganhando assim um

novo significado, pois para instituição católica o capitalismo estava associado às

práticas mundanas, usuras etc., mas para a concepção protestante em especial o

calvinismo deram então uma ressignificação a religião porque agora o trabalho, o

lucro fazia parte de uma dádiva de Deus.

Teixeira (2007) afirma que segundo Weber nasce então uma fase de

emancipação da magia, o que o sociólogo chama de desencantamento do mundo,

ou racionalização, ou seja, dentro desse aspecto o homem não está mais ligado a

magia, mística ou fantasia para resolução de problemas sociais. Dentre alguns

teóricos da sociologia, Weber foi o que mais se preocupou com o fenômeno

religioso, pois de acordo com o pensamento de Teixeira (2007), o interesse de

Weber pela religião, desta forma, não se explica assim por uma preocupação ou

curiosidade específica pelo fenômeno religioso. A religião interessa a Weber na

medida em que ela é capaz de formar atitudes e disposições para aceitar ou rejeitar

determinados estilos de vida ou para criar novos, nesse sentido, a religião é quem

dará víeis para determinados comportamentos humanos, por isso que Weber dá

tanta importância a subjetividade e intencionalidades dos atores sociais sendo que

essa posição esclarece seus estudo da religião.

Dentro desse contexto se percebe que Weber se dedicou em aprofundar as

questões do capitalismo, trabalhando com toda uma concepção religiosa, tanto que

em sua obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, nesse trabalho ele tem

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a intenção de examinar as implicações das orientações religiosas na conduta

econômica dos homens procurando avaliar a contribuição da ética protestante

(calvinismo) na promoção do moderno sistema econômico, nesse sentido, para o

Mariz, segundo Teixeira (2007), o sucesso do capitalismo depende em parte da

disposição dos homens em adotar certos tipos de conduta racional, logo, a religião

tem esse poder de agregar, tais ideais sendo então em certa medida possível

compreendê-la, ou seja, através dela conhecer os motivos e intenções de um

conjunto de ações sociais.

Portanto, o protestantismo assim teria criado um estilo de vida no homem, um

ethos 1 que teria uma afinidade eletiva com o modo de produção capitalista, segundo

Weber, os fieis, nesse contexto, são levados através da religião de forma ascética 2

a dedicar-se ao trabalho secular, antes mesmo do sistema capitalista gerar sua

própria motivação, embora a disciplina para o trabalho em si não fosse uma

inovação do protestantismo até porque já existia na tradição católica muitos homens

que viviam em mosteiro com alta dedicação mas o que chama mesmo atenção é o

poder que a religião tem em modificar condutas, dentro dessa concepção em

contraste com a vida eterna a vida terrena recebeu um significado espiritual, moral e

positivo onde atribuía-se as habilidades humanas (o trabalho) como dádiva divina.

Nesse sentido, a religião tem capacidade de estimular o indivíduo a seguir

papeis estipulado por ela, ou seja, a religião tem esse poder de controlar e direcionar

muitas atitudes ao ponto de os calvinistas se absterem de muitas coisas como

bebidas, festas, luxos mesmo em nome das práticas religiosas onde através de tal

abstenção eram os que detinham maiores poderes aquisitivos, nesse sentido, viviam

1 A noção primitiva do ethos remete, assim, à ideia de um espaço constituído e ordenado pelo homem

segundo sua razão. O ethos indicará, nesta primeira expressão, um espaço construído e permanentemente reconstruído pelo homem, espaço no qual serão inscritos os costumes, hábitos, valores, normas e ações. Esta ordem geral à qual se refere o ethos é denominada costume, maneira de ser habitual, comum a um determinado grupo humano. Fonte: http://www.webartigos.com/articles/ 28870/1/Etica----O-que-significa-Ethos/pagina1.html#ixzz19hk22GJ1. 2 A palavra “ascético” é derivada do termo “asceticismo”, que é filosofia de vida na qual são refreados

os prazeres mundanos, onde se propõem a austeridade. Aquelas que praticam um estilo de vida austero definem suas praticas como virtuosa e perseguem o objetivo de adquirir uma grande espiritualidade. Muitos ascéticos acreditam que a purificação do corpo ajuda a purificação da alma, e de fato a obter a compreensão de uma divindade ou encontrar a paz interior. Isto também pode ser obtido com a automortificação, rituais, ou uma severa renuncia ao prazer. Entretanto, ascéticos defendem que essas restrições auto impostas trazem grande liberdade em varias áreas de suas vidas, tais como aumento das habilidades de pensar limpidamente e resistir potencialmente a impulsos destrutivos. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ascetismo_(filosofia).

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como peregrinos intramundanos 3 apenas de passagem. Logo, se percebe a força

que a religião tem segundo as ideias weberianas, pois ela conduz o indivíduo a

adaptar estilos diferenciados de vida, que em muitos aspectos reintegram o homem

ao contexto social.

1.2. A RELIGIÃO SOB UMA CONCEPÇÃO CONTEMPORÂNEA

Neste item está sendo trabalhado o significado de religião, mas antes de

mostrar determinado conceito é preciso entender que a mesma se encontra

presente nos indícios mais remoto da vida, como no período paleolítico 4, onde já

existia um sistema religioso complexo e rico em mitos e rituais. Na verdade, a

religião está entrelaçada a existência humana, conforme os estudos de Passos

(2006) a religião começa com a espécie humana, sendo que tal organização

religiosa advém do contato direto da sociedade, lembrando que a mesma também

faz parte das organizações econômicas e culturais.

Nesse sentido, a religião não pode ser vista como um fenômeno isolado, mas

é necessário reconhecê-la como parte integrante da vida do homem, fazendo parte

do leque de suas dimensões. Pode-se dizer que a religião é algo inerente ao

homem, a ideia de vazio, solidão e dependência faz com que o homem se volte para

as práticas religiosas.

Sendo assim, é de fundamental importância destacar o conceito de alguns

pesquisadores acerca da religião, cabe aqui salientar os escritos de Rubem Alves

(2000) que de uma forma bastante clara, afirma que a religião está mais próxima de

nossa experiência pessoal do que desejamos admitir, logo, ignorar tal existência é

fechar os olhos para o contexto que a humanidade se insere.

Conforme Alves (2000), o homem um dia, querendo ou não, pode se deparar

com a religião pelo fato da própria condição de ser limitado e sujeito ao temível

3 O homem ao existir na compreensão do ser, se autocompreende como ser-no-mundo que é, e

assim torna possível a manifestação dos entes subsistentes. Fonte: http://revistaseletronicas.pucr s.br/ojs/index.php/famecos/article/view/5906.

4 Paleolítico ou idade da pedra lascada é um termo criado no século XIX para definir um período da

História do homem e foi considerado o período mais longo da História da humanidade, é caracterizado pelo uso de utensílios elaborados a partir da pedra lascada. Nesse momento, o ser humano era nômade, subsistindo a partir da coleta, da caça e da pesca. Constituía comunidades onde predominava a propriedade coletiva dos meios de produção. Fonte: http://professor-josimar.blogspot.com/2010/01/historia-da-pre-historia.html.

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mistério da morte, onde, intrinsecamente, se especulará acerca das tais perguntas

que podem ser consideradas primárias, como o sentido da vida, de onde veio e para

onde vai. Partindo desse ponto, ao contrário da ciência que não encontra solução a

essas questões, a religião é a única que terá uma resposta, e com isso, não

pretendendo afirmar que ela é verdadeira, nem desconsiderando tal discurso

religioso, mas apenas dizendo que a religião em sua essência traz respostas para

essas questões, e a humanidade caminha em busca destas respostas.

Partindo desse ponto, Croatto (2001) acrescenta que o ser humano em tudo o

que deseja ou faz manifesta que não é um ser pleno em si, pois ele deve crescer

biologicamente, aprender intelectualmente, e preparar-se para tudo buscando

metas, e que ainda na véspera da morte, sente que tem que fazer algo para ser o

que ainda não foi, ou seja, um ser que sempre está em busca. Essa é uma

característica fundamental do ser humano, por isso que se diz que o homem é um

ser de desejo e tende à totalidade ao se deparar com as limitações, pois as coisas

que deseja só poderá tê-las de forma fragmentada ou parcial como o dinheiro, o

bem, felicidade, descanso na verdade, conforme Croatto (2001), o ser humano é na

realidade “menos” do que deseja ser, mas é sempre no desejo um “mais” que não

chega a se concretizar por inteiro.

A religião deve ser considerada como um processo dinâmico, que toma

diversas formas, aonde vai a cada período histórico se ressignificando ao contexto

social, e como parte integrante da humanidade nunca fica ultrapassada, mas

acompanha esse processo contínuo de alterações. Partindo desse contexto, já se

começa a compreender como funciona a mentalidade da humanidade em relação à

religião, quando na verdade, o homem se aproxima da mesma por meio de seu

próprio desejo, onde na visão de Alves (2000), esse desejo diz respeito ao seu

estado de privação e de sintoma de ausência, que levam o indivíduo a desejar

determinada coisa.

Dessa forma, os homens fazem culturas a partir de seus objetos desejados,

onde a situações com as quais se depara e aparentemente pode ser solucionado,

até aí, o homem se posiciona, mas há situações de que foge a seu alcance,

mostrando sua impotência nas resoluções, e que somente por meio da magia da

imaginação e do poder milagroso é que se podem obter tais respostas, sendo que o

desejo de seu amor só existe por meio do transcendente, criando certa dependência

no homem.

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E nesse contexto juntam-se desejo, amor, imaginação, símbolos etc.,

justamente para criar um mundo que faça sentido, estando em harmonia com os

valores que os homens constroem uma realização concreta desses objetos de

desejos. Em relação aos atos culturais é possível descrevê-los e evidenciar sua

intenção, mas a sua realização muitas vezes escapa daquilo que é possível, pois o

corpo que busca amor e prazer se defronta com a solidão, desamor, rejeição,

crueldade, mortes prisões, etc., sendo assim, a cultura parece sofrer da mesma

forma como os rituais mágicos, e sobra apenas esperança de que a realidade se

harmonize com o desejo, e enquanto o desejo não se realiza os homens através da

cultura transferem esse desejo para a esfera dos símbolos. Esses símbolos servem

como forma de referência, ou horizontes indicando a direção, e dentro desse

contexto, surge a religião, que, conforme Alves (2000), é uma “teia de símbolos,

rede de desejos, confissão da espera, horizontes dos horizontes, a mais fantástica e

pretensiosa tentativa de transubstanciar a natureza”. (p. 24)

Nota-se que é exatamente dentro do universo religioso que o homem vai se

refugiar (estruturar), construindo elementos simbólicos, que façam sentido para sua

própria existência, para isso se vale das coisas concretas e comuns para dar novo

ressignificado, por isso que Alves (2000) enfatiza o termo transubstanciar 5 que são

justamente as tentativas de transformação, do homem para com a natureza, sendo

que o indivíduo se apropria do próprio espaço da própria natureza.

Partindo dessa ideia, o homem religioso considera, pelas vertentes sagradas,

uma simples pedra como um altar e terá reverencia com aquele altar, pois não são

somente pedras, pois agora, simbolicamente representa um altar de culto, respeito

reverencia etc., da mesma forma se dará como o vinho, pão, as plantas, a natureza,

o homem religioso sempre está buscando formas de se conectar, unir, ligar,

utilizando coisas e ambientalizando espaço, justamente para proporcionar tal

experiência.

Dessa mesma ideia, Eliade (1992) também compartilha, pois afirma que é

difícil a compreensão de que o sagrado possa se manifestar em pedras, ou em

árvores, sendo assim o autor descreve que “o ocidental moderno experimenta certo

mal-estar diante de inúmeras formas de manifestação do sagrado; é lhe difícil

5 v. t. Mudar a substância de. Realizar a transubstanciação de. Transformar. (De trans... +

substância). Fonte: http://www.dicio.com.br/transubstanciar/.

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aceitar, que, para certos seres humanos, o sagrado possa manifestar-se em pedras,

ou em árvores”. (p. 26)

Mediante a citação do autor, percebe-se que não se trata de uma veneração a

pedra nem tão pouco a árvore ou qualquer outro objeto. Mas trata-se de uma

manifestação do sagrado, o qual será denominada como hierofania, 6 que é

justamente essa aparição ou porque mostram aquilo que já não é pedra nem árvore

mas o sagrado ou “gansandere”, que é a personificação.

Nesse sentido já se começa compreender o significado de religião, sendo

uma palavra que vem do latim: religio, formada pelo prefixo re (outra vez, de novo) e

o verbo ligare (ligar, vincular) segundo Chauí (2003), a religião é um vinculo cujas

partes vinculadas são o mundo profano e o mundo sagrado, isto é, a natureza, água,

fogo, ar, animais, plantas, astros, etc., e as divindades que habitam a natureza ou

um lugar separado da natureza.

Em relação a essa ligação conforme Chauí (2003) mostra, nas várias culturas,

determinada ligação é simbolizada no momento da fundação de uma aldeia, vila ou

cidade, onde o guia religioso traça a figura no chão (círculo, quadrado, triângulo) e

repete o mesmo gesto no ar, na direção do céu, do mar ou da floresta ou do deserto,

simbolizando uma forma de elo entre um espaço novo sagrado (no ar) e consagrado

(no solo) nesse sentido através da sacralização e consagração, a religião cria a ideia

de espaço sagrado, nesses espaços vivem os deuses e são feitas as cerimônias

ritualísticas para manter tal ligação.

Chauí (2003) apresenta algumas finalidades que podem ser consideradas na

religião, nesse sentido cabe aqui ressaltar a questão do cuidado que a religião tem

para com os seres humanos, protegendo então contra o medo da natureza, nela

encontrando forças benéficas, contrapostas às maléficas e destruidoras, também se

destacam as explicações sobre o sentido da origem do mundo, da vida, da morte, de

todos os seres e dos próprios humanos, oferecendo consolo aos aflitos dando uma

explicação para a dor, seja ela física ou psíquica, e abrangendo também os valores

da moralidade, garantindo o respeito às normas, às regras e aos padrões de

conduta estabelecidos pela sociedade.

6 Seria a manifestação do sagado- manifestações que tornam uma forma profana, em sagrada. As

hierofanias podem vir das mais diversas origens, desde pedras e árvores, até dos profetas e de Jesus Cristo. Fonte: http://www.achando.info/index.php?query=hierofania&action=search.

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A religião, nesse sentido, se torna então compatível com as normas sociais

que moldam no homem as maneiras de comportamento, logo, a religião estabelece

regras sob a forma de mandamentos transcendentais garantindo a “obrigatoriedade”

da obediência a elas, embora algumas religiões apresentem a questão do livre

arbítrio, mas determinada atitude boa ou ruim terá certa consequência na visão

religiosa sob a pena de sanções sobrenaturais.

Nesse sentido, é de fundamental importância não esquecer tal fato, pois

assim como a religião molda comportamentos sociais também em alguns casos gera

comportamento antissocial, pode nesse contexto ser citado o próprio

fundamentalismo religioso, onde em nome da religião também se faz guerras, se

destrói vida.

Dentro desse contexto, é que se abrem diversas análises para a questão da

religião, surgindo perguntas até onde esta poderá ser benéfica? A religião por se

tratar de uma invenção humana e dinâmica é extremamente complexo seu próprio

conceito e que não é objetivo desse trabalho aprofundar o comportamento da

religião em si, mas sim trabalhar especificamente suas ações fenomenológicas

dentro da existência do homem, ou seja, como ocorrem as manifestações da religião

para isso. Cabe aqui enfocar as ideias do historiador das religiões e fenomenólogo

Micea Eliade (1992), onde sua obra centrar-se nos povos sem escrituras, pois eles

mantêm, segundo o autor, as formas mais arcaicas do pensamento religioso, sendo

assim Eliade (1992) afirma que o fenômeno religioso é algo irredutível e deve ser

compreendido em sua modalidade própria que é a do “sagrado”, e não a partir da

Psicologia, da Sociologia, da Filosofia, ou da Teologia, cujos objetos de estudo são

manipuláveis. O objeto da fenomenologia da religião é o próprio sujeito da

experiência religiosa, ou seja, todo fato religioso constitui uma vivencia especifica

vindo do encontro que o ser humano tem com o sagrado.

Nesse sentido, se torna importante entender que cada comportamento que o

indivíduo apresentar será o espelho de sua experiência com o sagrado onde tal

comportamento se manifestará em símbolos, mitos e ritos que tem relação com sua

vida concreta e histórica. Para o sociólogo Durkheim (1990), religião será designada

como um sistema de crenças e de práticas relativa às coisas sagradas e como já foi

mencionado o termo vem do latim, mas conforme Croatto (2001), sua provável

etimologia dá a ideia de atadura (re-ligare) do ser humano com o transcendente

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nesse sentido conclui-se que a religião não poderá existir fora do homem, pois

ambos estão totalmente ligados.

1.3. VERTENTES DA RELIGIÃO

1.3.1. Vertente de alienação

A religião, numa concepção crítica, salienta os conceitos de Marx que

conforme Urbano Zilles (1991) descreve de forma bastante objetiva, pois para Marx

a religião é uma invenção humana, logo, a crítica de Marx se constrói sobre o eixo

das alienações do homem, que deve ser esclarecida a partir da situação histórico-

social concreta. Sendo que a religião é exatamente o suporte que o indivíduo

encontra para expressar toda sua alienação. Com isso, não quer dizer que a

alienação seja o fundamento da religião, mas sim a forma que o homem encontra de

dar resposta para o caos econômico em que se encontra.

Na verdade, o homem projeta a religião e atribui suas necessidades naturais

ao transcendente sendo que seus problemas são problemas sociais, mas o homem

precisa viver nesse engano, nessa alienação talvez essa insistência seja pelo fato

de tentar dar respostas as coisas, partindo desse contexto a essência da alienação

do homem que se encontra no contexto econômico no tipo de relações de

produções geradas no mundo capitalista. Surgem, então, duas classes sociais que

são justamente os proprietários de meio de produção e os não proprietários sendo

que destruindo essa estrutura econômica se destrói então a religião que é seu

produto.

Sendo assim, Zilles (1991) explica que Marx descreve que são as estruturas

econômicas as geradoras de falsa consciência, que é a religião, nesse sentido

entende-se que a religião é apenas uma espécie de calmante o que Marx vai

chamar de ópio do povo para que o homem não veja sua realidade, ou talvez até

veja, mas internaliza como permissão transcendental, quando na verdade são

problemas sociais que precisam ser enfrentados, mas prefere ficar preso as amarras

ilusória da religião.

Com base nessas ideias, a religião apenas oferece a libertação espiritual do

homem à libertação imaginária e ilusória, mas somente a práxis revolucionária é

capaz de emancipar radicalmente o proletariado industrial, e com isso, para Marx a

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religião é uma consciência errônea do mundo, pois desvia a atenção deste mundo,

para outro plano hipnotizando os homens com falsas superações da miséria,

deixando totalmente apáticos, passivo e sem voz ativa de revolta. Nesse ponto, o

homem projeta, de acordo com Marx, para fora de si de maneira vã e inútil seu ser

essencial e perde-se na ilusão de um mundo transcendente, a religião é uma ilusão

criada pelo homem para suprir suas misérias sociais, ou seja, a religião nasce dessa

convivência social e política perturbadora dos homens e a forma que eles encontram

para preencher essas misérias está na religião. Só assim conseguem esquecer suas

desgraças presentes. Sendo assim para libertar o proletariado e a humanidade da

miséria, é preciso destruir o mundo que gera a religião.

Cabe aqui trabalhar a religião também como uma fuga das misérias, ou seja,

uma forma de se camuflar a exploração econômica é o que Marx, de acordo com

Zilles (1991), critica a impotência diante dos problemas sociais que a religião cria na

vida do homem, ao ponto de olhar se fixar somente nas coisas do além ignorando a

situação de crise econômica, e propõe que esse indivíduo deveria lutar em prol da

sociedade. Essa seria a superação do homem para com a religião, a mobilização

diante dos fatos, ou seja, o que Marx vai denominar de práxis.

Lembrando que a religião também se faz importante não só para os

proletariados, mas também para os exploradores burgueses, pois para eles a

religião serve realmente como uma droga que gera insensibilidade, desconectando

de tal situação. Portanto, dentro desse contexto é que se solidificam as críticas de

Marx, a religião é como um grito dos problemas sociais só que de forma passiva e

conservadora, reflexo das misérias, sendo assim Marx afirma que ela se posiciona

como superestrutura e só pode ser submergida se for mudada a infraestrutura

econômica, então a contradição fundamental, segundo Marx, não está, pois, na

religião e sim no nível do modo de produção dos bens matérias. Portanto, a crítica

religiosa de Marx, deve ser vista como crítica ideológica do cristianismo burguês de

sua época, mostrando assim não engano intencionado, mas sim o estado de

consciência de uma época do século XIX.

1.3.2. Vertente de neurose

Este item trata da religião por uma vertente de neurose, sendo então

importantes os enfoques teóricos de Sigmund Freud que foi o fundador da moderna

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psicanálise. Segundo Zilles (1991), diferente de Marx, o ateísmo para Freud já não

se restringe ao proletariado, mas ao ateísmo psicanalítico, sendo assim, seu objetivo

é penetrar amplamente na burguesia ocidental através da psicanálise.

Zilles (1991) descreve que para Freud, o que mais o deixava preocupado não

era a existência de Deus, até porque, para ele não existe e sequer foi problema

existencial, mas a grande questão é justamente porque existem religião e fé, ou

seja, o que realmente motiva o homem a crer em poderes sobrenaturais que até

então não existem. Dentro desse contexto é importante perceber que a psicanálise

freudiana tem pressuposto antropológico, o qual assim sendo Freud visa defender o

homem através da tentativa de descobrir a gênese psicológica da religião e da ideia

de Deus.

É importante ressaltar que a psicanálise freudiana nasceu da diagnose e

terapia de indivíduos onde o objetivo era o de libertar o homem de suas doenças

psíquicas, por isso, de acordo com Zilles (1991), Freud reduz a religião como

problema psicológico que precisavam ser superados, ou seja, uma doença neurótica

o qual tinham que se libertar. Partindo desses pressupostos, Freud afirma que todo

homem nasce aparelhado com as mais variadas disposições instintuais cujo curso

definitivo é determinado pelas experiências da primeira infância. Com isso, Freud

quer dizer que é exatamente nos períodos iniciais em que o homem se mostra

aberto a absolvição de tais sentimentos.

Cabe aqui ressaltar que Freud vivenciou tais experiências, e conforme Zilles

(1991), Freud veio de uma família Judaica ortodoxa e como tal foi educado, por isso

Freud detalha com tanta precisão essas questões, e coloca a religião como uma

neurose infantil que durante a infância cria seus medos e dependência que até então

são supridas pela figura do pai para depois ser transferida para a submissão da

religião. Dentro desses conceitos o homem para defender-se dos açoites

ameaçadores da natureza o indivíduo a humaniza, logo é também para Freud outra

forma da condição infantil, ou seja, da própria atitude da criança diante do pai.

Nesse sentido transporta para a natureza, pois ao mesmo tempo em que

teme a mesma sabe também que pode contar com sua força protetora, o qual

denomina de Deus ou deuses, por isso a religião para Freud nada mais é que a

perpetuação do infantilismo na vida do homem. Freud também discute que pelo fato

de muitos desejos ou impulsos serem reprimidos na criança, justamente por ainda

serem considerados como tabus na sociedade, ou forma de regulamentar a mesma

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podendo ser nominadas como superestrutura moral e social na vida de cada

indivíduo que acaba, então, internalizando e acumulando tais sensações na vida

infantil que Freud chama de subconsciente, então a forma que o indivíduo encontra

para expressar e expor tais sentimentos reprimidos, será nos próprios sonhos, pois é

onde ele se liberta de qualquer repressão, e na verdade, o que Freud está querendo

dizer é que o ser humano é um ser de desejos e impulsos, que seu comportamento

será ajustado aos parâmetros da sociedade, e tudo aquilo que fugir dessa vertente

social será vista como diferente, não aceitável e logo reprimida. Conforme descreve

Zilles (1991), baseado em Freud, a parte primária na vida do indivíduo é o

inconsciente, e por sua vez a secundária é o consciente, por isso que o medo, a

impotência, a fragilidade ou qualquer pensamento maléfico é submergido para o

inconsciente.

Dentro desse contexto se identifica a questão da religião, pois o indivíduo,

temendo aos poderes da natureza, ou a qualquer tipo de males, seu próprio

inconsciente criará um Deus para que o proteja das adversidades, e Freud diz que

tal atitude é uma neurose, sendo assim a neurose é justamente a fuga do adulto ao

mundo infantil, ficando claro que determinados conflitos que não foram resolvidos na

infância se mostram, ressurgem, nessa ideia que Freud, segundo Zilles (1991, p.

145) vê a religião como regressão do adulto ao mundo infantil, pois, “na religião o

homem foge da dura realidade escondendo-se num mundo ideal da infância”.

Nota-se, então, a fuga da realidade, que ocorre devido, o estado de carência,

medo, desamparo, e a religião é uma das formas de esconderijo, ou válvula de

segurança para o homem. Sendo assim, se observa que a religião foi um dos temas

mais contundentes de Freud, o qual está repleto de críticas onde tenta apresentar

uma concepção científica do mundo para substituir a religião, substituindo a ideia de

Deus pela ciência o homem se desenvolverá racionalmente e intelectualmente.

Para isso, o homem precisa se desvincular, da neurose religiosa, pois este

não nasceu para viver na infantilidade, e procurar fundamentar sua vida na razão.

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CAPÍTULO 2. CÁRCERE, CRIME E PRISÃO

2.1. O CRIME

Com base nas opiniões em torno do conceito de crime, inicia-se antes de

discutir ou de conceituá-lo, é preciso primeiro entender porque o crime ocorre? Na

verdade não existe um modelo singular para a expansão deste fenômeno, mas se

pode dizer que isso advém de diversos fatores, como por exemplo, a má distribuição

de renda, discriminação, desemprego, a falta da educação familiar, também a

ausência ou inadequação de educação escolar que são ferramentas fundamentais

para formação do caráter e para tornar o indivíduo apto para atuar na sociedade,

que não são como deveriam ser, o que acaba levando os indivíduos para a

criminalidade. Mas como já foi citado, não são apenas essas questões que foram

colocadas que desencadeiam a criminalidade.

Nesse sentido, cabe aqui também ressaltar alguns casos de homicídios

realizados por parricidas, que consiste no ato de uma pessoa matar o próprio pai ou

qualquer outro ascendente legítimo, em que a ação criminosa pode ser praticada e

executada friamente. O certo mesmo é que tais atitudes são repulsivas, chegando

ao ponto de liquidar a existência dos pais, ignorando regras, valores e

principalmente, respeito a quem lhe concebeu. É algo que realmente não dá para

entender, deixando claro que tais atitudes ocorrem, não apenas onde o nível de

pobreza é bastante elevado, mas esse fenômeno também se faz presente nas

classes sociais altas. Então, a pobreza contribui para proliferação do crime sim, mas

não é fator determinante, pois independente de classe baixa ou de classe alta, o

crime pode sim vir a ocorrer.

Na verdade, o crime parte de um desejo individual da conduta humana, que

tenta o homem a violar o que é lícito, onde se encontra desde pequenas banalidades

até uma trágica fatalidade. Pois o crime se trata de rupturas da normalidade, da

estabilidade, do equilíbrio, enfim, que vão além dos limites e escapam de previsões

que se fossem discutidas a fundo, fugiriam da temática central desse trabalho.

Enfim, pode-se dizer que existe séries de derivações para nomear tal ato. Conforme

Buoro (1999, p. 25-26), hoje se fala muito sobre crimes de corrupção e de roubo ao

patrimônio público, e acrescenta ainda que esta atenção está muito voltada para os

roubos seguidos de assassinatos e para os dados estatísticos que indicam o

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aumento do número de homicídio em determinados bairros. Estes últimos têm sido

os crimes por excelência, ou os que mais ocupam espaço do debate público.

Sendo assim, a concepção de crime está ligada à ideia de algo que é contra a

lei, isso desde a época da Revolução Industrial que consolidou o trabalho e o

dinheiro como pré-requisitos para julgamento do perfil de um bom cidadão. Ou seja,

colocando o trabalho e o dinheiro como sendo a definição de crime, sendo que, a

sociedade organizada segundo os parâmetros do dinheiro e do trabalho, ao mesmo

tempo em que cria a figura do trabalhador, cria também a figura do vagabundo, do

delinquente, do trabalhador que não deu certo e que possivelmente “esbarra” na lei

do criminoso em potencial sendo assim essas são as pessoas que estarão mais

sujeitas a perseguição e punição.

Para se discutir as questões da criminalidade no Brasil é preciso diferenciar

os alvos dos delitos, como por exemplo, a palavra assalto é empregada para definir

dois tipos de delitos. Para Buoro (1999), roubo é um ato de subtrair dinheiro, ou

valores exercendo a violência, enquanto o furto trata-se de um ato de subtrair

dinheiro ou valores sem violência, onde o furto de carteira e objetos de valor dos

pedestres é muito diferente do roubo de veículos, cargas de caminhão, cofres de

banco, etc.

Se os furtos são ações individuais, os roubos, em geral, envolvem uma rede

bem montada da qual participa muitas vezes setores da polícia e agente do Estado

como funcionários do governo e até eleitos pela população, é o chamado “crime

organizado” que funciona como uma empresa com chefes e subordinados, assim,

um setor especializado no roubo e no furto de carros outros em assaltos de

caminhão, sem falar no tráfico de armas e drogas, lembrando que a mesma

organização pode lidar com todas essas áreas ou se especializar estabelecendo

relações com outras organizações criminosas. Portanto, colocar o exército ou as

tropas de choque nas ruas para combater organizações criminosas como o

narcotráfico é uma ação, no mínimo, duvidosa, pois as teias segundo a autora,

desse tipo de organização estão ramificadas por diversos setores da sociedade.

Portanto, “o problema não está no criminoso e sim na criminalidade, assim

como se combate as enfermidades e não aos enfermos” (PETRA, 1999, p. 02). São

esses aspectos que se precisa avaliar trabalhando as formas de se combater a

criminalidade de modo geral.

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2.2. O CRIME NA VISÃO SOCIOLÓGICA

Na leitura sociológica, o crime é reconhecido não apenas como “mal”, pois

tem por função ser utilitário. Afinal, o crime é o indicador da sanidade do sistema de

valores que constitui a consciência coletiva. Na verdade, o crime só será tido como

tal dependendo da sociedade, como por exemplo, o aborto tem países que não o

considera como crime, enquanto em outros será tido como um delito e uma ação

totalmente abominável.

Neste contexto percebe-se que não existe crime apenas em si mesmo, por

mais grave que sejam os danos que ele possa causar o seu autor só será

considerado criminoso se a opinião comum da respectiva sociedade o considerar

como tal. Para o sociólogo Paulo Sergio do Carmo (2007), um ato é “criminoso”

quando e precisamente porque é praticado em oposição aos sentimentos coletivos,

na verdade tudo aquilo que abala a consciência comum é crime. É importante

entender que em todo tipo de crime há um componente individual e um componente

social e suas semelhanças se constituem justamente quando se transgride crenças

morais. No pensamento durkheimiano um crime é a quebra de um código, e quem

vai dizer ou conceituar determinada ação será a sociedade. Sendo assim quando se

pratica um crime, o fundamental não é o castigo, mas sim a restauração dos

interesses lesados, na verdade aquele que provocou uma ruptura dos elos de

solidariedade do corpo social deve ser punido a fim de que a coesão seja protegida.

Assim, a pena não serve apenas para corrigir o culpado, serve também, e,

sobretudo, para intimidar seus possíveis imitadores, por isso é que as leis deverão

ser cumpridas a rigor justamente para que haja equilíbrio na sociedade. É importante

enfatizar que os conflitos servem para estreitar os laços sociais, e para que as

coisas funcionem, ou se encaminhem é necessário acontecer certos tipos de

conflitos, pois são eles que dão suportes para dignidades sociais. Visto que o papel

reparador da agressão e do conflito consiste no fato de ajudarem a reforçar a

integração social graças à reação de indignação moral que provoca. Não se pode

negar a ocorrência do conflito, deve-se considerá-lo como uma interferência no

funcionamento natural do sistema social.

Segundo Carmo (2007), com base nos escritos de Durkheim, para que se

reconheça uma instituição social basta que alguém se choque contra seus valores, e

dentro desse contexto, cabe aqui ressaltar certas atitudes ou ações que se ferirem a

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sociedade poderão ser consideradas como crime, pois para o sociólogo, não existe

força moral individual superior à força coletiva. Logo, nesse sentido, na força coletiva

será desencadeada a fúria da coletividade. Então, se constata que crime é aquilo

que a sociedade define como tal, é um atentado que fere os sentimentos coletivos,

podendo ameaçar a solidariedade ou até mesmo a própria existência da sociedade.

É importante entender que na visão sociológica durkheimiana o crime é entendido

como grande abalo à unidade do corpo social, sua reprovação confirma e vivifica

valores e sentimentos comuns.

Embora se considere o crime vindo da natureza, aparentemente patológico

dentro dessa concepção, ele será trabalhado ou tido como fenômeno normal, já que

sua ocorrência esta disseminada em todas as sociedades, deixando claro que o fato

de ser considerado “normal‟ não isenta determinado indivíduo de tal punição, pois,

vale lembrar que o castigo serve para restaurar e constituir laços sociais, levando

em consideração que uma transgressão que não sofra castigo debilita no mesmo

grau a unidade social. Para Carmo (2007), Durkheim em parte não valoriza as

questões das lutas de classe, mas buscou em se deter mesmo na questão da

totalidade, onde para ele, algo só fazia jus a sua função se beneficiasse o corpo

social em geral.

Nesse sentido, o indivíduo está totalmente submerso num grupo social, que

por sua vez se subordina a sociedade. Por isso, então cabe aos homens a tarefa de

se ajustarem as leis sociais para convivência harmônica, mas se ocorrer tensão

entre o indivíduo e sociedade a resolução deve estar a favor da coletividade social.

Entendendo que não se trata de uma exposição explícita ou até mesmo injusta da

sociedade sobre os indivíduos, pois eles têm em si a submissão introjetada.

Portanto, sempre a voz da coletividade é o que será o divisor de águas, pois

não existiriam organizações se não houvessem normas partilhadas coletivamente, e

ao tentar desviar-se do comportamento coletivo, a pessoa sofre o que chamamos de

“sansão social”, nesse sentido, Durkheim enfatiza, de acordo com Carmo (2007), o

seguinte:

[...] Se não me submeto às convenções do mundo, se, ao vestir-me, não levo em conta os usos seguidos no meu País e na minha classe, o riso que provoco e o afastamento a que me submeto produzem, ainda que de maneira mais atenuada, os mesmos efeitos de uma pena propriamente dita. (CARMO, 2007, p. 02)

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Nota-se nesta exemplificação que tudo será ditado pela sociedade e aquele

que não se enquadra a seu sistema, as suas ordens, modas etc. serão penalizados,

ou no caso da vestimenta, tido como “engraçado ou louco”. Que também é um

castigo, no caso o riso que provoca, por não se enquadrar ao modelo supostamente

“normal”.

Percebe-se a sanção social como punição que o grupo impõe a quem

desobedece às normas sociais, ou a recompensa a quem as obedece, se tratando

de um meio de controle pelo qual a sociedade obtém respeito às normas, pode ser

traduzidas em leis ou forma simbólica de reprovação (ridículo, desprezo, vaias,

multas, prisões, xingamentos, censuras, risos, etc.) ou aprovação (medalhas,

diplomas, prestígios, prêmios, etc.). No geral quanto mais forem os laços que unem

os membros de uma sociedade ou de um grupo num todo social, menores serão as

probabilidades de que se venha a violar os costumes, as convenções ou as leis.

2.3. EFEITOS E FORMAS DE PUNIÇÕES

Conforme os argumentos citados acerca das questões da criminalidade, este

item busca enfocar acerca das punições. De acordo com os delitos, é correto que

haja punição. Dentro desse contexto, é importante ressaltar a história das punições

em formas de suplícios nas praças públicas como meros espetáculos de torturas.

Sendo assim cabe aqui trabalhar com as contribuições do autor Michel Foucault

(2009).

Foucault (2009) descreve a história da violência nas prisões, mostrando a

criminalidade e formas de punições ocorridas desde os tempos passados até os

tempos modernos. Foucault (2009) apresenta exemplos de suplícios, torturas onde

cada crime por sua vez tem certo estilo penal. Em meados do século XVII a XVIII

época em que foi redistribuída, na Europa e nos Estados Unidos, toda a economia

do castigo, época em que, segundo Foucault (2009), houveram grandes

“escândalos” para a justiça tradicional, nova teoria da lei e do crime, e também a

abolição das antigas ordenanças.

Dentre tantas modificações, Foucault (2009) enfatiza o desenvolvimento dos

suplícios advindo da Idade Média, baseado apenas na ostentação das punições

puramente físicas que ocorreram durante o século XVII até o fim do século XVIII,

sendo estigmatizadas com grandes torturas e tormentos do corpo. Pena totalmente

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corporal, puro terrorismo, corpo supliciado e esquartejado como se fossem animais,

na verdade, pode-se dizer que todos os crimes eram viabilizados e as penas físicas

tinham, portanto, uma parte considerável aos costumes e à natureza dos crimes,

onde o status dos condenados as faziam variar ainda mais. Foucault (2009)

apresenta:

[...] a pena de morte natural compreende todos os tipos de morte, uns, podem ser condenados á forca, outros a ter a mão ou a língua cortada, ou furada e ser enforcada em seguida; outros, por crime mais graves, a ser arrebentados vivos e expirar na roda depois de ter os membros arrebentados até a morte natural, outros a serem estrangulados e em seguida arrebentados até a morte natural, outros a serem queimados vivos outros a ser estrangulados depois queimados; outros a ter a língua cortada ou furada e em seguida queimados vivos, outros a ser puxados por quatro cavalos, outros a ter a cabeça cortada, outros, enfim, a ter a cabeça quebrada. (p. 34)

Percebe-se que não era apenas essa punição, Foucault (2009), também

acrescenta que existiam aquelas penas mais leves, de que a ordenação não fala:

satisfação à pessoa ofendida, admoestação, repreensão, prisão temporária,

abstenção de um lugar, e enfim as penas pecuniárias – muitas confiscações. Mas

afinal o que realmente significava os suplícios? Era simplesmente uma pena

corporal, dolorosa, mais ou menos atroz, era um fenômeno inexplicável, a extensão

da imaginação dos homens para a barbárie e a crueldade.

Nesse sentido, o suplício não provinha somente da intensa vontade dos

indivíduos exterminarem os delinquentes, mas é importante que se destaque que o

suplício é uma técnica e não deve ser equiparado aos extremos de uma raiva sem

lei, pois uma pena para ser um suplício, deve obedecer á três critérios principais: em

primeiro lugar, produzir certa quantidade de sofrimento, em segundo trabalhar o

suplício como verdadeira arte ou técnica, onde cada tortura deverá ser cumprida

passo a passo, já o ultimo critério do suplício é fazer correlacionar o tipo de

ferimento físico, qualidade, intensidade, o tempo de sofrimento com a gravidade do

crime, pessoa do criminoso e o nível social de suas vítimas. Existe também um

código jurídico da dor que funciona a partir do momento em que a pena for

supliciante, que não se abate sobre o corpo ao acaso ou em bloco onde se calcula

de acordo com as regras detalhadas.

Partindo desse contexto, vale lembrar que não era um momento de loucura

da justiça, mas estava em jogo toda a economia do poder. A maior parte das

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condenações no século XVII e XVIII, era o banimento ou multa numa jurisprudência

como a do Chatelet, o que segundo Foucault (2009), só conhecia delitos

relativamente graves o banimento representou entre 1755 e 1785, mais da metade

das penas aplicadas. Sendo assim, o banimento era muitas vezes precedido pela

exposição e pela marcação com ferrete até a multa às vezes era acompanhada de

açoites, não só nas grandes e solenes execuções, mas também nessas formas

anexas é que o suplício manifestava a parte significativa que tinha na penalidade no

geral qualquer pena um pouco séria devia incluir alguma coisa do suplício. Cabe

aqui ressaltar que todo processo criminal se desenrolava de forma secreta tanto

para o público quanto para o acusado. Pois a justiça temia que algo de

extraordinário pudesse acontecer.

De acordo com a ordenação de 1670 reforçava a severidade da época

precedente onde determinavam ser impossível ao acusado ter acesso as peças do

processo e apenas uma única vez o acusado era interrogado antes da sentença isso

geralmente acontecia porque o Rei queria mostrar sua força soberana e confirmar

que o direito de punir não cabe a multidão. Toda essa tradição remonta ao meio

ambiente medieval, mas que os juristas da Renascença prescreviam o que devia ser

a natureza e a eficácia das provas na verdade todo esse bojo de suplício tinha como

objetivo central a auto condenação do réu. Lembrando que deveria haver certo tipo

de cuidado nas averiguações, pois existia a possibilidade do criminoso se declarar

culpado de crime que não havia cometido.

Portanto, retomando as contribuições que Durkheim (1990), coloca que as

punições tem por objetivo reintegrar, restituir os laços sociais. Segundo os estudos

foucaultiano esses são os efeitos, embora radicais, mas de acordo com a economia

do castigo válidos para intimidar os imitadores. Para Durkheim (1990), esse era o

método utilizado na sociedade dita primitiva ou tradicional, onde o castigo é

expiatório e vingativo as leis tendem a ser repressivas e punitivas. Visto que tal

atitude advém de uma reação apaixonada da sociedade contra aqueles que tenham

ousado violar suas regras básicas.

Sendo assim os sentimentos coletivos estão fortemente gravados em todas

as consciências quando são violadas crenças, tradições, práticas coletivas. Sendo

que determinada reação não se trata de mera crueldade, mas, é uma forma de

manter vínculos evitando que a coesão social se fragilize.

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2.4. DO PANÓPTICO ÀS PRISÕES

Falando-se acerca do surgimento das prisões, é importante que se retome aos

processos que levaram ao surgimento das prisões, sendo que as prisões não

surgiram por acaso, mas tal existência sobreveio em reação ao crime. Partindo

dessa ideia, se faz necessário retomar o fim do século XVIII onde aconteceram

diversas mudanças, como já foi citado, mas o que chama a atenção é o

desaparecimento dos suplícios, que hoje a tendência é desconsiderá-lo ou tratá-lo

com superficialidade pelo fato de se considerar como um processo de humanização

que a sociedade vem sofrendo até então. Sendo assim, no final do século XVIII já se

começa a perceber a extinção do processo de punição, desaparecendo o corpo

como alvo principal da repressão penal.

Nessas transformações, para Foucault (2009), misturam-se dois processos,

de um lado, a supressão dos espetáculos punitivos, e passando a ser apenas um

novo ato de procedimento ou de administração, como por exemplo, na França, a

confissão pública foi abolida pela primeira vez em 1791, a Inglaterra aboliu em 1837

etc. Aos poucos a punição deixava de ser uma cena, onde os espectadores já

estavam acostumados a uma selvageria, fazendo os carrascos se parecer com

criminosos, os juízes aos assassinos, invertendo no último momento os papéis,

chegando a fazer do supliciado um objeto de piedade e de admiração.

Nesse sentido, a certeza de ser punido é que deve desviar o homem do crime

e não mais o abominável teatro, o que realmente deve está em jogo é o processo de

recuperação do condenado. Por essa razão a justiça não mais assume publicamente

a parte de violência que está ligada ao seu exercício. O fato da justiça punir, ferir, e

até mesmo matar não é mais motivo de espetáculo ou algum tipo de glorificação de

sua força, mas um elemento intrínseco a ela, que por sua vez é obrigada a tolerar. E

se muito lhe custa ter que impor da mesma forma lhe custa mais ainda ter que não

punir.

Foucault (2009) explica o processo do panoptismo 7 onde baseia suas ideias

no teórico Benthan, sendo que o panóptico trata-se de uma forma de ordens das

prisões, na verdade pode-se dizer que a gênese da prisão começa no panoptismo.

7 O panoptismo é uma estrutura organizacional de controle de ações em que o sujeito, sentindo-se

vigiado, acaba por instituir a disciplina institucional. Fonte: http://www.achando.info/index.php?ac tion=viewentry&id=63118.

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O panóptico tem por base a inspeção como único meio de estabelecer uma ordem e

observá-la. Sendo assim, o panóptico serve para instaurar a ordem da disciplina,

pois para Foucault (2009) a disciplina exige um local, onde todos possam se fechar

em si mesmo, sendo que esse local poderia até ser cercado por muralhas rodeando

todos os pavilhões, também apresenta a ideia de que pelo fato das prisões privarem

o indivíduo de toda a liberdade serve de exemplo aos demais. Nisso, se torna

evidente para Foucault (2009) que o panóptico não se resume somente às prisões,

mas está presente nos quartéis, nas escolas, na sociedade, enfim. Sua estrutura diz

respeito a um círculo cujo centro saia à luz iluminando presos, pacientes, médicos

cuja finalidade é ser visto sem ver. Segundo Foucault o ser humano acaba sendo

objeto de informação, mas não sujeito de comunicação.

Nesse sentido o que Bentham, segundo Foucault (2009), traz é uma forma de

se aplicar o sistema disciplinar dentro das prisões, estabelecendo regras e

parâmetros para que este funcionasse de forma adequada. E a partir daí Foucault

(2009) vê o panóptico como mecanismo e dispositivo de vigilância capaz de

interiorizar a culpa causando no indivíduo remorsos pelos seus atos. No geral, o

panoptismo corresponde à observação total, é a tomada integral por parte do poder

disciplinador da vida de um indivíduo. Ele é vigiado durante todo o tempo, sem que

veja o seu observador, nem que saiba em que momento está a ser vigiado. Aí está a

finalidade do panóptico.

Sendo assim, como sistema de visibilidade, e também como processo de

reeducação de cada indivíduo, onde se pode considerar como sistema de controle,

método que o indivíduo via sem ser visto, isso era justamente para que houvesse

desindividualização de poder, proporcionando somente o poder visível e

inverificável, também tinha por objetivo favorecer a própria homogeneidade de

poder, pois qualquer um poderia assumir o centro da torre, na falta do dirigente, o

que é pior, pois a qualquer momento o detento poderia ser surpreendido, mas por

outro lado esse sistema deixava os fatos bastantes à mercê, pois se qualquer um

poderia assumir o pódio da torre logo corria o perigo de acontecer fatos alterados, já

que não tinha certo rigor ou norma de quem observava.

Bentham, de acordo com Foucault (2009) se maravilha de sua obra, pois com

o sistema panóptico cessavam-se as correntes, as grades e os suplícios de forma

em geral, assumindo então uma forma mais leve de punição. Portanto, o panóptico

trata-se de uma máquina de fazer experiência, treinar ou retreinar indivíduos.

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Segundo o autor, a ideia do panóptico surgiu de um projeto no zoológico, onde

prendia animais para estudar comportamento, sendo então o animal substituído pelo

homem, não somente como instrumento de informação mais também de punição.

Neste sentido, vale relembrar que o panóptico veio substituir as torturas,

suplícios e as prisões, que por sua vez, vieram substituir o panóptico. O certo é que

as punições nunca deixaram de existir, só que em cada época, teve suas sentenças

por formas de torturas exageradas, humilhações em plena praça, depois, pelo

sistema do panóptico, enfim, visto que sempre teve punições.

Da mesma forma, as prisões entram também nesse palco de punições, com o

objetivo de ressocializar o indivíduo para a sociedade, tornando-se um espaço

entendido como mais um mecanismo de reprimir o crime.

A prisão, enquanto lugar de cumprimento de pena restritiva de liberdade,

constitui-se de edificação construída com meios os mais diversos para evitar sua

fuga ou evasão tais como: paredes grossas e reforçadas, isolamento do meio

urbano, grades, cercas, vigilância constante, rigidez de disciplina interna, divisão em

celas, etc.

E em relação aos tipos, tem-se: a detenção, mais leve; e a reclusão, mais

grave. No primeiro caso, é aplicada a delitos de menor gravidade, a perda da

liberdade é cumprida em estabelecimentos de reclusão temporária, com menor grau

de vigilância e cuidado. Para o segundo, aplicável aos crimes de maior impacto, o

cerceamento deve ser feito em locais mais seguros e isolados, como os presídios.

Segundo Foucault (2009), a prisão preexiste a sua utilização nas leis penais, se

constituindo fora do aparelho juduciário quando se elaboraram por todo o corpo

social, pois se percebe que toda essa necessidade de visibilidade, observação,

anotações, registros, sem lacunas de forma justa, criam a instituição prisão, mas, na

verdade, como já foi explicado foram diversas as tentativas para que se chegasse a

este denominador. Vale lembrar que as punições já existiam e o panoptismo serviu

como a gênese da prisão.

Nota-se que a nova mentalidade do século XIX aboliu toda as outras punições

que os reformadores do século XVIII haviam imaginado, valendo ressaltar que esse

novo sistema se abriu a outras formas da efetuação da justiça, podendo-se dizer que

essa mentalidade atual saiu das amarras da ignorância e humilhante forma de

punição, para algo mais palpável, mais humano e mais leal, fomentando o poder

central da justiça e não mais uma sequência de espetáculo de terror.

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Nesse sentido, a prisão foi resultado de diversos conhecimentos, e dessa

forma não sendo uma privação de liberdade, sendo desde o início uma detenção

legal onde através da clausura o indivíduo pudesse refletir, na sua situação, as

prisões foram criadas para a ressocialização do criminoso, mas, infelizmente, não se

deve fechar os olhos para realidade que se mostra, as críticas em relação a prisão

se desencadeiam, desgovernadamente, pois as prisões em vez de servir como casa

de recuperação em sua forma plena, acaba servindo de ambiente de revolta e

estimulando mais crimes.

Conforme Petra (2008, p. 08), essa revolta surge justamente porque não

basta apenas castigar o indivíduo, mas orientá-lo dentro da prisão para que ele

possa ser reintegrado à sociedade de maneira efetiva, evitando com isso a

reincidência. Embora não seja isso que acontece, pois na mentalidade da sociedade

ele nunca vai se recuperar, além do desprezo da sociedade total, encontra dentro da

cadeia um ambiente que fomenta essa sede de vingança, fica complicado tal

criminoso se recuperar. Embora os agentes penitenciários se reponsabilizem para o

desenvolvimento da reintegração, sabe-se que isso ainda não se dá de forma plena.

De acordo com Petra (2008), há muitos anos a pena privativa de liberdade foi

considerada como um avanço contra a pena de morte e para as penas de correção

físicas, então, a prisão tinha função de evitar que o acusado fugisse antes do

julgamento.

Dentro desse contexto, Petra (2008) acrescenta que a prisão sugiu no ano de

1550 em Londres, com o objetivo de reter o acusado até provar se ele era culpado

ou não, e para isso deveria ser preso para não fugir, e somente após o julgamento

em que era provada a culpabilidade, a modalidade passava de detenção para

execução penal, quando o condenado iria pagar sua pena no tempo determinado

pelo sentenciador, sendo que esse modelo espalhou-se por todo o mundo

desenvolvendo seu caráter desumano. Era o abuso de poder sobre a vida do outro

justificado pelo interesse coletivo. Nessa época, grandes pensadores se levantaram

trazendo suas contribuições para as possíveis reformas nesse sistema.

De acordo com Petra (2008), apesar de muita coisa já ter melhorado, o

sistema penal é considerado, infelizmente, como um sistema em declínio, pois o

papel judiciáro também tem importância nessa questão junto com o poder legislativo.

Necessita-se de uma reforma profunda na política criminal, pois só assim se

conseguirá equilibrar o sistema, e, segundo a autora Petra (2008), mesmo que ele se

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regularize, a prisão não resolve o problema da violência assim como não recupera

ninguém, logo, o fato de existir ou não prisão não faz diferença. Na visão da autora,

ao invés de se construir mais presídios, deveriam ser construídos hospitais e

escolas.

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CAPÍTULO 3. A RELIGIÃO E O SISTEMA PENITENCIÁRIO DE BELÉM

Neste capítulo será desenvolvido a relação entre a religião e o sistema

penitenciário, mais precisamente como se dá o funcionamento da religião dentro do

cárcere, sendo assim antes é preciso iniciar com alguns dados coletados pela

Superintendência do Sistema Penitenciário – SUSIPE e pela Escola de

Administração Penitenciária – EAP, que contribuíram bastante para o

desenvolvimento dessa pesquisa no fornecimento de dados referentes aos detentos.

3.1. O SISTEMA PENITENCIÁRIO NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM

O Sistema Penitenciário na Região Metropolitana de Belém apresentou em

2010 um levantamento acerca de alguns números ligados à população carcerária,

sendo que, dentre os dados, encontram-se disponíveis os de faixa etária masculina

e feminina, reincidências, entre outros, assim como dados sobre os grupos religiosos

existentes. Dentro desse contexto para a exemplificação dessa pesquisa, se faz

importante citar a faixa etária dos presidiários que se mostra no gráfico abaixo,

concernente apenas a Região Metropolitana de Belém.

GRÁFICO 1 – Faixa etária dos detentos (masculino)

Fonte: SUSIPE, 2010

No gráfico acima relaciona-se aos dados obtidos por um levantamento feito

pela SUSIPE em 2010, onde é perceptível que em relação a faixa etária masculina,

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o número frequente de internos são de jovens e adultos entre 16 e 24 anos, cuja

quantidade equivale a quase 35% dos presos. Pode-se dizer que logo em seguida,

fica a elevação entre os 25 e 29 anos de idade, cuja quantidade corresponde a

pouco mais de 24% dos detentos. As demais faixas etárias aparecem com valores

quase proporcionais, com exceção dos idosos com idade igual ou maior que 60

anos, que aparecem com menos de 1%, totalizando 76 apenados.

GRÁFICO 2 – Faixa etária das detentas (feminino)

Fonte: SUSIPE, 2010

Em relação ao público feminino, a situação de sua faixa etária se mostra um

pouco parecida referente aos homens, pois também a margem com maior evidência

é a que compreende entre os 16 e 24 anos de idade, com 25,7%. Em segundo lugar

está a faixa entre 35 e 45 anos com uma representação de pouco mais de 22%,

quase igualado ao valor correspondente à margem entre os 25 e 29 anos, que

aparece com 21,91%. O demais valores possuem menos expressão, principalmente

em relação às detentas idosas com 60 anos ou mais, que são apenas 5, equivalente

a menos de 1% das percentuais.

Lembrando que o item NÃO INFORMADO, que se apresenta nos gráficos é

concernente a existência de internos e internas em que não foi possível obter data

de nascimento até o momento do levantamento.

Enfoca-se ainda a respeito dos grupos religiosos, onde os acessos de cada

grupo dentro dos cárceres provêm da portaria nº 583/2010 do Gabinete da SUSIPE,

onde, a partir deste, os religiosos podem adentrar nas penitenciárias, se cumprirem

todos os regulamentos, segundo a portaria do Gabinete da SUSIPE. Sendo assim, é

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evidente a importância de estabelecer normas para o serviço de assistência de

grupos religiosos e de grupos de apoio de recuperação a pessoas portadoras de

dependência química.

Portanto, no regulamento do serviço de assistência de grupos religiosos ou de

apoio percebe-se que no capítulo I deste regulamento irar falar a respeito das

disposições gerais, que é justamente os dias de visitas, que é apenas uma vez por

semana, sendo autorizados os dias pela administração das unidades penitenciárias,

com acompanhamento e informe da DAI – Divisão de Assistência Integrada, sendo

que a atividade dos grupos religiosos não ocorrerá nos dias de visitas dos familiares

dos presos.

A visita de determinados grupos religiosos tem por intuito promover a

evangelização espiritual, doar, prestar ajuda material e apoiar na recuperação dos

detentos, bem como facilitar o acompanhamento dos familiares dos mesmos, sendo

que tal visita é assim acompanhada por um técnico do serviço social da casa penal

que supervisiona e dá apoio à ação juntamente com o membro da direção para

resolver qualquer problema se vier a ocorrer. No capítulo II falará da questão dos

credenciamentos que ocorre da seguinte forma, primeiro para efeito do regulamento

só será considerado grupo religioso o conjunto de pessoas que comprovadamente

estejam representando determinada religião ou manifestação religiosa, para assim

passar pelos procedimentos do credenciamento, o qual por sua vez deverá ser feito

pela SUSIPE e DAI, mediante ofício da entidade interessada, com CNPJ e endereço

da entidade assinado pelo responsável da SUSIPE contendo a relação nominal dos

membros, contendo alguns requisitos como, por exemplo, ser maior de 18 anos, ter

a cópia da carteira de identidade, CPF, comprovante e endereço atualizado foto 3x4

apresentar certidão de antecedente criminal.

Após a apresentação dos documentos exigidos, e feitas protocolações

necessárias, o interessado receberá uma carteira de identificação assinada pelo

diretor do núcleo de reinserção social e pelo gerente da DAI. Cada entidade poderá

credenciar 12 pessoas para cada casa penal sendo permitida a entrada de apenas

seis por culto ou reunião. O credenciamento de familiares de preso será analisado

pelo Núcleo de Administração Penitenciária e pela Divisão de Assistência Integrada,

assim como pela Assessoria de Segurança Institucional – ASI.

A portaria também apresenta os regulamentos voltados para aqueles que

transgredirem as normas, como as discussões entre membros religiosos, a entrada

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sem credenciamento, o descumprimento de horário, prejudicando o horário de outro

grupo, condutas que burlem os preceitos estabelecidos nesse regulamento, a prática

de atos que comprometam a segurança das pessoas e do estabelecimento penal e

da saúde de todos, os visitantes flagrados cometendo atos considerados como crime

serão encaminhados para a lavratura do competente inquérito policial, e terão o

direito de visita suspenso definitivamente.

A entrada de pessoas integrantes de grupo religiosos e de apoio sem

credenciamento só será permitida nos dias festivos, sendo limitada apenas a

pessoas que irão desenvolver atividades culturais pertinentes à programação festiva

com autorização prévia da SUSIPE. Fica vedada a entrada de pessoas trajando

shorts, bermudas, camisetas, saias curtas, etc. Aos integrantes de grupos religiosos

que estiverem com alguma parte do corpo engessada ou lesões que impliquem no

uso de curativos, próteses e pinos ou metais na parte interna do organismo, será

permitido o acesso somente com o laudo médico e parecer social da unidade

penitenciária, análise do NAP, e gerência da DAI.

Também não será permitida a entrada de pessoas que apresentem alguma

doença contagiosa como gripe, conjuntivite, catapora, sarampo, caxumba e outras

doenças dessa classificação.

Mediante a descrição da portaria nº 583/2010 do Gabinete da SUSIPE

verifica-se ainda a relação dos grupos religiosos nos presídios em Belém, que são:

TABELA 1 – lista de grupos religiosos

ASSEMBLEIA DE DEUS

COMUNIDADE CATÓLICA

IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS

IGREJA BATISTA NOVA ESPERANÇA

IGREJA QUADRANGULAR

IGREJA DEUS É AMOR

IGREJA PENTECOSTAL ARCA DO CONCERTO

SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL

A FAMÍLIA INTERNACIONAL

MISSÃO ÁGAPE

Fonte: SUSIPE, 2010

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Forma-se então um total de 10 grupos religiosos, lembrando que neste

quadro está exposto apenas, o nome geral dos grupos, mas cada denominação tem

sua localidade. Sendo assim, cabe também ressaltar que o número não se restringe

apenas a essa quantidade de igrejas, pois no Centro de Recuperação Feminino –

CRF, existe a Seicho-no-ei, e no PEM III a presença da religião Espírita, mas o

número de grupos religiosos informado pela SUSIPE foi apenas este que o quadro

mostra.

3.2. A RELIGIÃO E SUA RELAÇÃO COM OS APENADOS

A partir daqui, é desenvolvida a relação entre religião e internos, como ambos

se apresentam. Na verdade, a religião dentro da penitenciária é uma relação de

conforto, de auxilio na vida do detido, pois quando este chega até o cárcere, chega

transtornado, pois foi capturado, e se depara com o estado de clausura pelo crime

que cometeu, e começa a viver em um lugar que realmente não é vida a ninguém, e

pelo fato de ter que conviver com diversas pessoas fica até mesmo à mercê de

doenças. Vale citar a questão de higienização, exposto aos ratos e dejetos, que

chega a pensar que realmente a vida não vale mais a pena, lembrando que não se

pode esquecer que está ali pelo fato de ter violado as regras e cometido um crime.

Diante dessas questões de crime, e pena, que o detento terá que enfrentar, e

muitas vezes até abandonado pela família e discriminado pela sociedade, o apenado

se apegará a religião como válvula de escape, mediante o caos. Buscando assim

formas de sobrevivência, ou refúgio para se aliviar do tormento do cárcere,

encontrando então diversos vieses, como por exemplo, o suicídio, homicídio, as

drogas, a religião etc., o qual serve como alternativa de fuga e é justamente o que

este item pretende enfocar, essa tal fuga para o transcendente,

Sendo assim essa fuga para a religião faz com que o detento não se coloque

contra o sistema carcerário, pois não matará seus companheiros, não se destruirá,

mas sim começa então a olhar as coisas, pela vontade do transcendente, e aceita

sua situação reconhecendo que deve pagar pelo que cometeu, e ver o cárcere até

como um escape do transcendente para “salvar” sua vida. Isso se mostra no relato

do Detento 1.

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A vida pra mim dentro do cárcere foi Um grande livramento de Deus, porque Sou o único que continua vivo e ter sido preso foi um plano de Deus. Me lembro do povo de Israel [Is: 40,2] Que foram levados ao cativeiro, mas foi também plano de Deus, porque se estivessem livres muitos teriam morrido no deserto e a prisão foi um escape de vida pra eles. (DETENTO 1)

Nota-se que neste relato a prisão é um plano transcendental, pois se

estivesse livre no mundo da criminalidade talvez não se encontrasse mais vivo, e

para exemplificação o apenado utiliza comparações bíblicas.

Partindo dessa ideia de reconhecer através da religião o cárcere como um

suposto livramento, acaba ajudando e contribuindo com as leis penitenciárias e,

nesse sentido, contribui também direta ou indiretamente com as autoridades

legislativas, judiciárias, policiais e penitenciárias nas suas tarefas em fazer reformas

e leis necessárias, pois a religião no cárcere ajudará a regular o comportamento dos

detidos, servindo como um auxílio para a casa penal, que este por sua vez obedece

às ordens propostas, aconselhará também aos demais, sendo assim uma via de

mão dupla, religião e sistema penitenciário, no processo de conversão e reinserção

na sociedade, fortalecendo assim o sistema penitenciário, onde até se pensa e

conceituam como sistema defasado que fomenta mais ódio, uma escola de crime

que não recupera ninguém. A religião no cárcere surge então e tenta dar um novo

significado, sendo que isso pode não se dar de forma plena, pois, de maneira geral,

ainda tem muitas coisas que devem ser vistas, e pensar que a religião poderá

abarcar tal situação é engano, mas falar que a religião dá um novo significado, é

apenas no sentido da religião ter a possibilidade de prestar ajuda ao sistema e

contribuir de forma parcial para a melhoria da casa penal.

A relação da religião na vida dos detentos tem amenizado muitos problemas

dentro do cárcere tem servido de acréscimo, pois de acordo com relatos de agente

penitenciário até mortes têm sido evitadas, pois os apenados não se suicidam e nem

tiram a vida do outro, porque, segundo eles, são novas criaturas, e como tal criatura

“as coisas velhas já se passaram e tudo se fez novo” e acrescentam citando o

mandamento bíblico “não matarás”. Sendo assim, cita-se ainda a contribuição de

Giddens (1978, p. 60) ao descrever as ideias de Durkheim:

Rejeita-se a ideia de que a religião pode ser definida como necessariamente relacionada com seres sobrenaturais ou com deuses. Sugere-se que as crenças religiosas expressam um caráter da totalidade social; que a religião

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é a fonte original de todas as formas de pensamento, que subsequente se secularizaram; e, finalmente, que, embora, o domínio da religião sobre a vida do dia a dia decline no curso da diferenciação social e a velhas divindades desapareçam, os novos ideais de individualismo moral ainda preservam um caráter intrinsecamente religioso.

Conforme Giddens (1978), percebe-se que a sociedade ela não é estática,

mas sim dinâmica, contudo isso Durkheim afirmava independentemente de qualquer

variação social. A religião jamais teria a possibilidade de ser anulada, lembrando que

a preocupação de Durkheim consistia no novo modelo de solidariedade organizada

através da divisão do trabalho, e que, mesmo assim, a religião resistiria tal mudança

no sentido de perpetuação de valores.

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CAPÍTULO 4. A RELIGIÃO E A REINTEGRAÇÃO

4.1. A METODOLOGIA EMPREGADA PARA A PESQUISA

Inicialmente essa pesquisa se deu a partir de diversas visitas no início de

2009, com o grupo religioso SIMADEM – Secretaria Internacional de Missões da

Assembleia de Deus, no Maguari, pois devido o contato com a casa penal e até

mesmo com os detentos durante os cultos, o desejo de pesquisar como funciona a

religiosidade dos detentos partiu do contato com a aquela realidade que levou a

pesquisar a religião no cárcere, mais especificamente a própria experiência religiosa

no cárcere, e a partir desse momento, começou-se a coletar informações

aleatoriamente, onde, no início de 2010, já se tinha em mãos diversos suportes para

iniciar a pesquisa.

Sendo assim, foram elaborados questionários diferenciados, pois essas

perguntas se dirigiam aos detentos e ao diretor do CRPP I – Centro de Recuperação

Penitenciário do Pará I. Foram feitas em torno de 15 a 16 perguntas, para obtenção

dos dados, fora as conversas com agentes penitenciários e apenados, durante o

momento dos cultos, no qual esses relatos apurados me facilitaram o

aprofundamento da pesquisa.

Partindo desse contexto, desde o mês de agosto ate o mês de novembro de

2010, foram coletados dados tanto na casa penal, como na SUSIPE. Essa pesquisa

tem cunho qualitativo, sendo os sujeitos dessa pesquisa dois internos e um ex-

detentos, e o Diretor do CRPP I.

4.2. BREVE HISTÓRICO SOBRE O CRPP I

Neste subtópico será descrito de uma maneira breve a respeito do Centro de

Recuperação Penitenciário do Pará, CRPP I antigo Centro de Recuperação

Americano I – CRA I, essa modificação dos nomes aconteceu em janeiro de 2010. O

CRPP I foi fundado no ano de 1977, e nesse período era o governo de Aloysio C.

Chaves e do Secretário do Interior de Justiça Alberto Seguim Dias, também como

Secretário de Obras, Pedro Paulo L. Dourado, e do então Presidente da República

Ernesto Geisel.

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O complexo do Centro de Recuperação Penitenciário do Pará se localiza na

BR 316, Km 50, Vila de Americano, Distrito de Santa Isabel, se dividindo em seis

polos de recuperação (CRPP I, CRPP II, CRPP III, Hospital de Custódia, Centro de

Recuperação Especial e Colônia Agrícola, de regime semiaberto). O CRPP I, lócus

da pesquisa de campo, é composto por 8 pavilhões totalizando 390 celas, o qual

atualmente conta com 2.022 presos.

Existe, ainda, um centro de triagem onde são feitas as documentações dos

presos, os dados e os códigos penais. O centro de triagem serve para organizar os

documentos, identificar se algum detento possui algum tipo de doença como

tuberculose, hanseníase, etc. Na triagem também ocorre avaliação psicológica para

verificar se eles têm algum transtorno mental. A triagem cuida da chegada dos

presos das seccionais, lembrando que os presidiários ficam na triagem no máximo

uma semana.

O CRPP I conta com o Hospital de Custódia de Tratamento Psiquiátrico –

HCTP. No hospital estão internadas as pessoas que têm transtornos mentais e

psicológicos, chegando a somar 155 detentos vindos também de outras

penitenciárias que não têm um hospital. Vale lembrar que no total de presos já está

incluído o número de pessoas que sofrem de transtorno. Em relação aos trabalhos,

atualmente são 136 detentos que já cumpriram 1/3 da pena e que desenvolvem

trabalhos laborativos na cozinha, padaria, manutenção, serviços gerais, sendo que

todos assinam folhas o qual redime a pena, que a cada três dias de trabalho, redime

um dia da pena, também eles recebem valores que são divididos, ou seja, parte

desse dinheiro fica com os detentos e a outra parte fica depositada para quando o

preso sair da cadeia, sendo importante ressaltar que esse dinheiro vem do Governo,

justamente para cumprir a exigência legal da lei de execução penal o qual incentiva

o trabalho.

Cabe ainda ressaltar alguns projetos desenvolvidos pelo Governo Federal e

Estadual que são o Projovem prisional, e o EJA – Educação de Jovens e adultos.

Fazia parte do Projovem cerca de 80 presos, mas devido a evasão esse número foi

reduzido para 40 alunos, e nesse projeto os presos também ganham bolsa do

governo com o valor de 100 reais, lembrando também que existe ainda um

laboratório de informática que faz parte do Projovem, e também os presidiários

desenvolvem trabalhos extras, como por exemplo, as produções artesanais, de

reciclagem, utilizando assim jornal, pauzinho de picolé, palito de dente, caixa de

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fósforo, sacola, tudo isso para a produção de bolsas, ursos, quadros e outros, se

tornando verdadeiros profissionais nessa área. Sendo então o trabalho um dos

meios através do qual os detentos também conseguem se reintegrar.

4.3. A RELIGIÃO NO CRPP I

Ainda na sequência é de extrema necessidade descrever o funcionamento da

religião dentro do Centro de Recuperação Penitenciário do Pará I – CRPP I, pois é

exatamente assim que se pode entender como os apenados vivenciam essa

experiência. Sendo assim, a religião dentro do cárcere é bastante benéfica, pois

acalma os ânimos, fomenta esperança, dando para a vida do apenado novo sentido

de existência, pois por meio da religião o detento se sentirá uma criatura renovada, e

que mesmo cumprindo pena, se sente perdoado pelo transcendente, pois segundo

eles “as coisas velhas já passaram e tudo já se fez novo”. Sendo assim, vale

ressaltar o que relata o diretor da Casa Penal em relação à religião lá dentro:

Nós temos hoje a religião no cárcere. Ela é organizada. E como que funciona? A religião dentro da Casa Penal, os próprios presos, eles tem uma certa liderança. Já, então começa a surgir liderança, líderes e eles mesmos vão se organizando, vão organizando os atendimentos, as reuniões, isso no decorrer da semana, os dias, os horários, sendo assim eles mesmos organizam com a aquiescência com a concordância da direção da casa penal de segunda a segunda, até domingo tem atendimento religioso. No geral são eles que organizam os cultos e quem fica a frente são os presos mais antigos, ou seja, há mais tempo no cárcere, mas tudo passa pela segurança da casa. (DIRETOR DO CRPP I)

Nota-se nas palavras do diretor da casa penal, a autonomia que eles

concedem ao preso no desenvolvimento das atividades religiosas, sendo que passa

primeiro por uma vistoria da Casa.

Nesse sentido o que se apresenta dentro do CRPP I é uma religião totalmente

voltada para o contexto cheio de restrições, a ponto dos detentos monitorarem uns

aos outros, para que não haja nem um tipo de transgressão e se por acaso

acontecer algum tipo de falha ou pecado o detento automaticamente será

disciplinado, sendo que essa disciplina funciona como uma forma de punição,

castigo, para que este não venha a falhar novamente, tendo esta disciplina a

duração de um a três meses dependendo do caso. Por exemplo, se for a fornicação,

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tem a duração de 90 dias, já a masturbação tem a duração 60 dias, o uso de drogas

30 dias e assim sucessivamente, sendo que a disciplina se insere na ausência das

práticas religiosas gerando vergonha.

Aquele que não consegue cumprir essas regras eles acabam sendo disciplinado ou a ser chamado atenção. Muitos aqui são disciplinados já que eles não aceitam a disciplina eles não podem mais conviver no meio da congregação porque essa que é a regra dos presos... Olha, a disciplina ela não tem tempo determinado depende do esforço do interno que está na Assembleia de Deus, buscando a Deus não tem tempo determinado porque a disciplina ela é pra aquele causador dos problemas que tipo ele causa um problema e a gente disciplina ele quinze dez dias depende da gravidade, a gravidade que ele for cometendo a gente vai disciplinando ele e se ele for se humilhando a gente tira. (DETENTO 2)

É importante destacar que essa punição além de servir como autodisciplina

serve também para intimidar aos demais, havendo temor para não praticarem tais

atos, pois o dirigente do cárcere explica porque tal detento foi disciplinado, o

interessante é perceber que às vezes são erros pequenos como, por exemplo,

passar do horário do termino o culto, dormir na cela apenas com roupas intimas, e

isso já se torna motivo de disciplina, então se mostra aqui uma religião totalmente

radical, para homens que já cometeram diversos tipos de crimes, dormir de peças

intimas ou passar do horário do término do culto não parece um erro tão grave.

Dentro desse contexto é que se solidifica a religião, pois assim como esses

homens antes de serem capturados eram perversos criminosos, buscam na religião

formas de se redimirem, é como se nascessem de novo, onde querem agora fazer

com bastante rigor aquilo que na religião acham certo, serve também como auto

defesa contra as transgressões ou pecado, pois o detento precisa se apegar a essa

forma de doutrina, para demonstrar ao transcendente que eles são pecadores que já

se redimiram e que mesmo errando reconhece seu erro, sendo severos consigo

mesmo como forma de resistência ao pecado, criando assim uma religião ortodoxa,

chegando ao fanatismo.

Na verdade, essa ortodoxia é uma forma de refúgio ou resistência aos

pecados do mundo, dessa forma, há uma intolerância a toda ação ou atitude que

possa ser entendida como um princípio de pecado, que possam ganhar consistência

maiores, sendo um pequeno erro que precisa ser punido e evitado.

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Vale ressaltar que os cultos são bastante eloquentes, fazem vigília uma vez

por mês, jejuam incessantemente, para alcançar seus objetivos com o

transcendente, a religião para eles é uma segunda chance que a “divindade” deu a

eles, e o estar no cárcere foi permissão do transcendente para que acontecesse

esse encontro com a religião, por isso são devotos fanáticos e reconhecem que a

existência deles é um favor imerecido da divindade, e como gratidão a esse favor, se

entregam a religião primando principalmente por uma vida de santificação.

Nós somos muito rígidos em santificação nós levamos a santidade do Espírito Santo ao conversamos um com o outro todos os dias com o culto, doutrina, pra que venham aprender pra que eles venham ficar é... justamente, renovado pelo Espírito Santo cada dia mais. (DETENTO 2)

Veja que a questão da santificação, nesse fragmento, se mostra de maneira

bem clara, e além do apenado se manter em santificação ele ainda ensina aos

demais a praticarem a santificação, lembrando que essa santificação está inserida,

na própria abstenção do apenado as drogas, prostituição, brigas etc. A luta de fazer

o que é certo, resulta numa vida de santificação no caso, as práticas religiosas,

conduz a vida de santidade.

No geral são 160 detentos religiosos, sendo que o dirigente é um detento

nomeado pelos próprios internos, pois selecionam a partir do bom exemplo, sendo

que lá no cárcere fora o dirigente tem também cinco obreiros internos que ajudam no

trabalho religioso e em relação aos grupos religiosos de fora os detidos tem bastante

respeito, pois se espelham muito na postura dos grupos de fora, lembrando que o

contato com os outros religiosos é para eles um reforço espiritual, onde também

contribui bastante no trabalho de evangelização, que se desenvolve com o número

de três equipes de interno para assim pregar a palavra, sendo que eles vão até aos

outros pavilhões, e em cada cela começam a pregar a palavra, e aqueles que se

convertem à religião ficam em observação durante algum tempo dentro do pavilhão

6 na “cela de triagem” – expressão que eles mesmos adotaram para distinguir o

espaço de observação. Na verdade, existem as celas de triagem no CRPP I que

ficam logo na entrada do presídio, pois é onde os presos ocupam logo que chegam

no cárcere, esperando desocupar outras celas e também é o lugar onde são

organizados seus dados e feita as verificações quanto as doenças e segundo os

detentos se esses novatos tiverem um bom comportamento ficam por menos tempo

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na triagem, mas no próprio pavilhão seis que é justamente o pavilhão dos religiosos,

foi criada uma cela só para observar aqueles que se convertem, para ver se

realmente mudaram, e sendo assim, o detento convertido através da sua atitude vai

demonstrar se realmente é ali que deseja ficar, lembrando que tem alguns que

desistem, devido não conseguirem resistir algumas coisa que gostam de fazer.

Devido não conseguir largar a droga não conseguir lagar os seus desejos seus próprios desejos daí acabam voltando lá pra baixo pro mundo, mas eles não criam nem um problema eles falam, não a gente não quer, mas ficar aqui porque até mesmo a gente não conseguiu a gente tentou mas não conseguiu, agora agente “ta” querendo voltar retornar e ai eu venho até a direção e a direção mandam eles de volta onde eles “tavam”, “né”, a gente nem precisa dizer pra eles sair o próprio Deus tira eles porque ele não consegue permanecer no meio das pessoas que tão buscando a Deus. (DETENTO 2)

Nota-se que tem muitos que se retiram do pavilhão dos religiosos, para

continuar a vida que tinha, em outros pavilhões, segundo o Detento 2 são bem

poucos que pede pra voltar, porque a maioria aceita a religião e começa a viver a

experiência religiosa ao ponto de renunciarem a vida que viviam em outro pavilhão.

A partir da religião o detento deixa as práticas que antes tinha, como por

exemplo, o uso de celular sem permissão, a utilização de drogas brigas etc., pois vê

na religião, seu principal estilo de vida, sendo assim Croatto (2001, p. 45) descreve

que “as necessidades são saciadas, na instância religiosa, por realidades de ordem

transcendente”. Croatto (2001) mostra que o homem é composto de várias

necessidades, sendo que a necessidade psíquica será suprida com a paz, o gozo da

“glória” ou a visão de Deus, estados místicos, amor plenificante, na verdade o

homem aqui passa de um estado de fragmentação para o totalizante, e é quando

descobre que é limitado, mas que sua necessidade acredita que poderão serem

supridas por meio do transcendente.

A religião no CRPP I é marcada por grande sofrimento devido ao estado de

clausura e abandono, mas através do transcendente a religião acaba sendo uma

alternativa de fuga em meio aos sofrimentos até porque tem muito preso que não

sabem nem se chegarão a sair, pois os anos que terão que passar ali, devido o

número de pena ser tão alto, nesse sentido a religião é tudo que vai preencher a

vida de sofrimento, como relata o Dirigente do CRPP I: “foi muito sofrimento muita

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angustia muita dor, e ai veio a me levar a trabalhar na obra do nosso senhor Jesus

desde então eu continuei a fazer a obra até hoje”.

Na citação confirma-se que o que leva o detento a se aproximar da religião é

justamente essa carência, o interessante é perceber que após o encontro do

apenado com a religião, este terá agora que ajudar os seus companheiros a se

encontrar com a mesma, mas o fato de ser uma referência religiosa o fará ser

respeitado.

[...] todos somos respeitados tanto pelos detentos quanto pela direção e até mesmo nós somos mais respeitados ainda porque a gente leva a palavra do nosso senhor Jesus, levamos pra ele dentro do cárcere das cadeias não somente nessa cadeia onde me encontro mais como nas demais cadeias nós levamos a palavra de Deus e o evangélico de Deus está cada vez mais se expandindo dentro das penitenciárias do polo. (DETENTO 2)

A incumbência de levar a palavra faz do indivíduo um ser respeitado, por isso

o aceitam como um líder pela palavra que professa, lembrando que esse indivíduo

se põe numa postura realmente de líder para ajudar aos outros detentos, lembrando

que ele se encontra na mesma situação de presidiário, mas a religião o colocará

como um representante espiritual na vida daqueles apenados, tanto que em suas

conversas se dirigem ao apenado como uma autoridade constituída pelo

transcendente.

Percebe-se que as religiões que adentram o cárcere com mais frequência são

as religiões do cristianismo, lembrando que a religião espírita há muito tempo atrás

já chegou a frequentar, mas depois desapareceu do CRPP I.

Nós temos hoje um grupo forte no Americano I dentro do presídio nós temos ai a evangélica que “ta” muito consolidada dentro da casa penal a Igreja Católica ela tem dado a participação dela. Nós tivemos aqui na penitenciária até um tempo atrás o espiritismo, mas não vieram mais ficaram quase dois meses trabalhando o lado do espiritismo não sei por que motivo deixaram de vir a Casa Penal. (DIRETOR DO CRPP I)

O que se percebe na citação é a grande frequência do cristianismo, no CRPP

I, embora outras religiões já tenham frequentado, mas a presença forte mesmo é do

cristianismo, isso fica bastante claro na entrevista com o diretor, segundo

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comentários dos agentes penitenciários, a religião ganhou espaço no cárcere por

intermédio do atual diretor o qual já está em seu exercício há cinco anos.

4.4. VALORES APREENDIDOS NA RELIGIÃO

Neste subtópico serão desenvolvidos os valores apreendido na religião, ou

seja, como a religião é capaz de influenciar, e até mesmo modificar

comportamentos, onde ela se apropria de tal forma que o indivíduo vai incorporar as

crenças para o dia a dia. Na verdade, a religião tende a agregar valores que

conduzirão o homem à tomada de decisões, e nisto forja então a cada dia um

caráter pautado na religião.

Dentro desse contexto a religião chega à vida do detento como meio de

libertação, os quais começam a relatar que mesmo preso sentem-se livres, pois

através dela consegue se reencontrar, e perceber que existe solução mesmo que

esteja encarcerado, isso se torna fundamental nessa pesquisa, pois não pesa mais a

pena, pois já estão livres, a alma liberta, para o preso que adere a religião é como se

novamente ressurgisse para a vida, pode-se dizer que a religião no cárcere é a

forma que o detido encontrou para se reencantar ao mundo.

Dentro desse contexto isso nos remete aos escritos de Weber já citado nesse

trabalho, que ao contrário do desencanto descrito no capítulo primeiro, o detento

encontra na religião o reencantamento pelo mundo, sendo assim precisa viver nas

amarras da magia, do encanto que é até mesmo do ritual que religião tende a

oferecer como alternativa de fuga simbólica para o transcendente, pois o detido até

então se encontra numa situação de caos. e misérias e na religião poderá desfrutar

dessa fuga transcendental, logo seus comportamentos serão moldados a partir da

religião.

Sendo assim, o detento estará mais aberto às novas descobertas, as

aprendizagens que até mesmo o ódio fomentado pela prisão que trouxe se

transformará em bem, e por meio da evangelização se tornará um fanático para que

seus companheiros também possam desfrutar do sentimento de paz o qual sente,

renunciando assim o crime, e todas as mazelas que o colocarão em estado

deprimente, vendo a prisão não como um fim, mas como o início de grandes valores.

Cabe aqui ressaltar que a religião estimula a própria questão do trabalho, pois

o apenado já não trabalhará somente para a redução de sua pena, mas também

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para ajudar seus companheiros religiosos, que muitas vezes não tem o que vestir,

ou dispõe de algum tipo de carência material que com a ajuda de outros apenados

poderá assim estar sendo suprida, segundo eles, além de cumprir a lei dos homens

ainda fazem caridade, um dos valores também apreendido pela religião é a própria

questão da educação, pois quando estes apenados se encontram com a religião, é

importante entender que muitos deles são analfabetos e a vontade de saber o que

contem na Bíblia os leva a se desprenderem de suas dificuldades e aprenderem a

ler, muitos se hoje sabem ler afirmam que aprenderam na Bíblia, ou seja, a Bíblia

acaba sendo um instrumento de educação.

A religião dentro do cárcere é um divisor de águas para que o apenado se

desprenda do comodismo e tenha novamente força de vontade para se recuperar

não só como um homem religioso, mas como um cidadão que interage com a

sociedade, mostrando assim que mesmo encarcerado consegue se desenvolver

mobilizar-se até mesmo intelectualmente, vale aqui citar que muitos fazem cursos

teológicos para obter os conhecimentos ministrados pela Igreja Batista Equatorial,

sendo assim ativamente a religião está cooperando para o desenvolvimento do

detido, sendo que esse desenvolvimento não se insere só na ajuda para Casa

Penal, mas para projetos do governo, como o EJA, o Projovem, e assim

sucessivamente.

Cabe aqui citar como Mello (2007, p. 09) identifica a religião no cárcere,

sendo que nessa pesquisa a autora desenvolveu na Agência Goiana do Sistema

Prisional na Região Metropolitana de Goiânia, na qual busca relatar que “na relação

com outros detentos, incrementa seu status social porque fala ao microfone, canta,

dá testemunhos, dá conselho aos outros se redefinindo a frente dos outros como um

ser transformado e não mais moralmente marginalizado”.

Isso garante o sentimento familiar uns com os outros, substituindo assim os

laços familiares perdidos, em que se chamam uns aos outros de irmãos e abraçam-

se, oram juntos garantindo assim por meio do transcendente um cuidado da sua

estada no presídio, dando conforto e coragem para superar as situações difíceis,

sendo assim o apenado que se insere na religião, o seu comportamento modifica

bastante.

[...] esse pouco tempo que eu tenho na casa penal 5 anos eu tenho já presenciado que a atividade religiosa a religião ela altera o comportamento muitos tinham o comportamento alterado disciplina

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desobediência as ordens da Casa ofendiam os funcionários davam problema para os funcionários pra direção da casa pra segurança tentavam fugas, mas a partir do momento que se aproximaram começaram até a trabalhar, a partir da atividade religiosa na casa eles tiveram outro comportamento e mudaram pra melhor tinha dificuldades de se aproximarem e com as atividades na casa muitos mudaram. (DIRETOR DO CRPP I)

Percebe-se que a religião trás melhorias não só para a vida dos detentos,

mas para a ordem na Casa Penal, pois a partir da religião os presos obedecerão os

agentes, e isso facilitará o convívio tanto dos presos quanto do próprio sistema penal

dentro do CRPP I.

Dentro desse contexto os detentos a partir da religião começam a trabalhar

dentro do cárcere, não só nas atividades religiosas, mas nos trabalhos laborativos

que são os trabalhos na cozinha, serviços gerais, capina, etc., o qual tem por

finalidade estabelecer segundo a lei de execução penal considera “o trabalho do

condenado, como dever social e condição de dignidade humana que terá finalidade

educativa e produtiva (art. 28).

4.5. RELIGIÃO E REINTEGRAÇÃO

Neste item será enfatizada a religião agindo como processo de reintegração,

ou seja, a religião aqui será entendida como forma de restabelecer o detento, que

por mais que este esteja estigmatizado pelas manchas do crime, a religião vai se

apossar dessa criatura para incutir valores morais que favoreçam sua reintegração

na casa penal e posteriormente na sociedade.

Com isso a religião dará ao detento uma nova identidade, segundo os

presidiários “identidade de Cristo”, que através dela o detido terá um novo

reconhecimento, nasce ai a valorização da religião dada a ele, ou seja, a religião

investe na vida do apenado ajudando a curar as feridas do crime, a religião então

tratará dessa enfermidade chamada crime afim de obter tal recuperação,cabe aqui

citar o escrito de Oliveira (1978, p. 194):

Entendo que a religião atua de forma importantíssima no processo de recuperação do delinquente, sendo um detalhe de valor transcendental que não pode de forma alguma ser descuidado. Penso ser de mais alta importância.

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Oliveira (1978) descreve com exatidão a importância que a religião tem na

vida do delinquente. Por isso, por piores que sejam a formação de uma pessoa, as

suas tendências ou até os crimes que tenha cometido, não cabe à religião condenar

e sim tratá-lo para que venha ser recuperado e posteriormente venha a praticar o

bem e ser útil a si próprio e a sociedade. Então, na concepção de Oliveira (1978), a

religião é indispensável na vida do delinquente.

Dentro desse contexto, após o detento ser aceito pela religião da forma que

se encontra passará por um processo de mudanças, experiências religiosas, pois o

que atrai o preso e encanta-o é justamente esse contato com o sagrado. Partindo

desse ponto, é na experiência religiosa que o detento vai se reintegrar a sociedade,

pois, para a concepção religiosa não se trata mais de um delinquente, e sim uma

pessoa “transformada” pela religião, proporcionando assim sua relação com outras

pessoas e até mesmo sua relação com a própria sociedade, que lhe verá como um

criminoso, mas que se arrependeu, sendo então uma outra pessoa e esse

reconhecimento, ou seja, essa forma de se reintegrar à sociedade, facilitará

totalmente seu convívio para com os demais, a ponto de se sentir um ser

considerado, como afirma o ex-detento do CRPP I: “confesso que eu não quero mais

ser um ladrão considerado, mas eu quero ser um cristão considerado e grande

pregador da palavra de Deus”.

Nessa entrevista, este detento em seu relato havia dito que durante a sua

vida na criminalidade, por ser muito mau era um “ladrão” considerado, temido, hoje

quer mudar seu perfil de vida, ou seja, de ladrão para cristão e assim anunciar a

palavra que uma vez o libertou.

Dentro desse contexto, a valorização na vida dos apenados é por meio da

religião, mas ao mesmo tempo este é grato à extrema compaixão do transcendente

em aceitá-lo e por isso se vê como um nada diante do grande poder do

transcendente. Verifica-se então como Otto (1992, p. 19) se apropria do estado de

dependência quando diz “procuro um nome para este algo, mas chamo-lhe o

sentimento do estado de criatura que se abisma no seu próprio nada e desaparece

perante o que está acima de toda criatura”.

Dentro desse contexto Otto (1992) expõe que tal explicação não passa de

exposição conceitual disto mesmo, ou seja, Otto (1992) quer mostrar o

aniquilamento da criatura perante o poder soberano, então nesse sentido é na

religião que o detento mesmo sendo um criminoso “um nada”, mas o transcendente

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o aceita mesmo assim, dando nova vida para tal criatura. O qual, para estes

detentos, o nada já é alguma coisa, já é um valor, então eles se acham valorizados,

pois segundo eles eram menos que nada perante o transcendental.

No geral, a religião aqui é entendida como esse “bem” que o detento ao se

encontrar com a mesma se apega com todas as suas forças, submetendo seu

próprio corpo em nome da religião para obter alívio trancendental e muitas vezes se

priva das práticas do dia a dia como sacrifícios, pois o detento jejuará ou fará

propósitos para se conectar com o outro plano, e até mesmo se submeterá a

batismo nas águas como sinal de sepultamento de pecado. Vale ressaltar que o

detento também, segundo ele, será tomado pelo Espírito Santo, que através desse

êxtase fala em novas líguas o que se denomina por glossolalia, realizando seus

cultos incessantemente, suas campanhas e vigílias para que essa emoção nunca se

esgote.

4.6. CRÍTICAS DA RELIGIÃO DENTRO DO CRPP I

Este item aborda a religião e suas críticas dentro do CRPP I, que se tornou

fundamental para o desfecho desse trabalho. Durante a pesquisa de campo, em

uma entrevista, um apenado começou a traçar o perfil dos detentos que são

religiosos, na verdade, esse entrevistado demonstrou sua insatisfação para com a

religião no cárcere.

Sendo assim, as críticas do preso denominado de “Detento 3”, se baseiam em

vários aspectos que a princípio se focam no fato de não concordar com o

funcionamento da religião no cárcere, valendo então ressaltar que quando este

detento chegou ao cárcere já tinha tido um encontro com a religião fora de lá, mas

se deixou levar pelo viéis da criminalidade, por fim baixando presídio, e durante os

períodos iniciais de sua estadia, o detento voltou novamente a fazer parte da

religião, mas só durante alguns meses, pois houve acontecimentos que não

concordava e por não se achar enquadrado preferiu se abster da mesma.

Infelizmente eu deixei levar por meus impulsos animais de achar que eu que tinha razão que eu que era o certo que eu que estava correto, o Pastor que estava errado, por causa dessa discussão acabou acontecendo o que não era pra acontecer, que foi o afastamento da igreja, devido as coisas da vida, o dia a dia, a gente acaba perdendo o

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caminho, mas se tiver naquele viver naquele objetivo original só a primeira vez quando você se converte, você se converte e... pensa em Deus... ir pro céu e alcançar o paraíso por herança só que devido o tempo na sua caminhada aqui na terra você acaba tendo pequenos percalços E este se você não for suficientemente forte, se você não estiver bem enraizado você acaba desviando do caminho, quando eu cheguei no cárcere, cheguei a entrar na igreja novamente, mas infelizmente por não concordar com certas diretrizes, de quem chefia a igreja aqui dentro do cárcere, novamente tornei a me afastar. (DETENTO 3)

Nota-se que o Detento 3 já havia tido um encontro com a religião, e quando

chegou ao cárcere resolveu se inserir na mesma mas segundo seus relatos por não

concordar com certas diretrizes preferiu se afastar, ou seja, as normas da religião no

cárcere não lhe agradavam, pois, segundo ele, aqueles apenados não se convertiam

de coração, não havia neles uma sinceridade, ou seja, se chegavam à religião

porque estavam preocupados com seus processos, com suas causas, com até

mesmo seus próprios interesses, camuflando aquilo que realmente são, e através da

religião conseguem disfarçar seus interesses.

Sendo assim, na conversão dos detentos não havia nenhuma vontade de se

encontrar com o transcendente, na verdade, aos olhos do Detento 3, nunca foram

tocados pela religião e sim pelos seus próprios privilégios, privilégios esses de

ganhar as coisas, alcançar destaque, espaço, ser visto como “recuperado”, não ser

perseguido, enfim, são séries de fatores que levam o apenado a fingir que foi tocado

pela religião, quando na verdade é só de fachada. Isso se mostra com bastante

evidencia nos comentários do Detento 3:

[...] eu pensei que a igreja aqui dentro era igual a fora, até cheguei a me agradar por ver a separação, esses homens aqui estão separados, estão buscando a Deus,foi quando eu observei que muitos por causa da perseguição que é menos, o espaço é melhor, então isso tudo agrega com que ele raciocine: “ eu aqui sobreviverei melhor por isso aceitarei Jesus eu não aceitarei Jesus no intuito de conhecer quem é Deus, quem é Jesus”.

Nota-se que a realidade em que os detentos se encontram leva a

aproximação para com a religião, o Detento 3 também comentou que muitos estão

na verdade preocupados com seus processos,com o tempo em que vai passar

preso.

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Pode-se dizer que são misturas de sensações, como o medo, terror,

hipocrisia abandono, privilégios, muitos segundo o Detento 3 se aproximam da

religião querendo até mesmo que aconteça algo por meio da religião para serem

absolvidos. Mello (2007, p. 07) acrescenta que “a vida no presídio oferece o mínimo

possível de proteção e conforto, como resultado disso os detentos experimentam

uma crescente situação de incerteza em relação ao futuro. e é dentro desse aspecto

que a religião se mostra como uma saída para quem está preso”.

Lembrando que os apenados não poderão esquecer que cometeram um

crime, o qual terá que pagar por isso independente de qualquer vínculo religioso.

Então, se apegar a religião com o intuito de encontrar alívio para preencher tal vazio

deve fazer certo sentido, mas querer que a religião o tire dali é ilusão.

Dentro desse contexto, a insatisfação do Detento 3 não é só para com os

detentos mas também para com os grupos religiosos de fora que não cuidam do

trabalho como deveriam cuidar, na verdade, o detento até elogia que os grupos

religiosos de fora tem potencial para fazer um bom trabalho, mas diz que, às vezes,

deixam a desejar justamente porque deveriam se preocupar com suas causas,

levando em consideração que, segundo ele, os cultos que os grupos religiosos

executam são „bonitos”, trazem edificações para a vida dos apenados, mas depois

que vão embora os problemas continuam. Esta afirmação reconhece que os

detentos estão ali devido a seus crimes, mas existem aqueles que não deveriam

estar mais ali, inclusive, que já até passaram do tempo por problemas pequenos, e

que se obtivessem algum tipo de recurso, já teriam saído.

Partindo desse ponto, o Detento 3 queria que tivesse alguma mobilização dos

grupos religiosos para advogar tais situações, e que muitos processos dependem

apenas de uma assinatura de papel. O certo é que são detalhes que os grupos

religiosos não fazem nada para reverter este quadro, e sendo assim, a resposta que

o interno encontra para tal imobilidade é a seguinte:

No convertimento dentro do cárcere há um ponto de interrogação muito grande: será que eu acredito no convertimento desse ser humano que está ai dentro? Se eu acredito no convertimento dele porque eu não faço uma junta de advogado para tirar ele daqui, e junto muitas pessoas que estão ai com crimes banais coisas bobas que já passaram do tempo de ir embora então se estou lá fora e sou líder da religião e implementei a religião dentro do cárcere porque eu não faço isso, será que é porque ele não é nada de convertido? Ele está tirando uma onda de crente porque eu

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deveria acreditar nele. Já que eu venho pregar evangelizar fazer uma obra de redenção obra de mudança espiritual dentro daquele que está dentro do cárcere eu deveria acreditar que ele tinha se convertido e agir de uma forma que ajudasse ele tiraria do cárcere e quando sair do cárcere a igreja a qual está responsável por ele por esse convertimento deveria se responsabilizar particularmente em dar uma profissão um emprego uma renda para que ele não transgredisse novamente e ele visse realmente que o povo de Deus é diferente do povo do diabo. (DETENTO 3)

Percebe-se que para o Detento 3, as igrejas descartam essa possibilidade de

remove-lo do cárcere certamente porque não acreditam em seu convertimento, por

isso afirma que é muito fácil chegar no cárcere, diz ele: “fazer culto, bater palma,

fotografar os prisioneiros mostrar que estão fazendo um trabalho de ressocialização

divulgar o nome da igreja mas na prática não acontecer nada”.

No geral são essas críticas que o Detento 3 levanta, onde, por um lado, os

grupos religiosos não investem nos seus apenados, e por outro, eles mesmos se

voltam para religião afim de obter privilégios para facilitar tal sobrevivência.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de tudo que já foi ponderado, cabe aqui destacar que a religião tem

este poder de estabelecer padrões de conduta, moldar o caráter humano, na

verdade, a religião não pode existir fora do homem por mais que se queira afastá-la,

mas é algo intrínseco ao ser humano, justamente pelo fato de tender a totalidade, e

perceber sua finitude, como já foi colocado a própria questão da morte, ainda é um

incógnita, o medo das coisas futuras, misérias, criminalidade, o fato de estar no

mundo cercado de tanta promiscuidade, que muitas vezes são tantos fatores que

deixa o homem sem saber o que fazer, assim como também o deixa insensível

diante de tanto caos.

A religião, no entanto, é como um bálsamo a aliviar as contusões causadas

pelos problemas sociais, que foge de nossas possibilidades de resoluções, com isso

não se pretende afirmar que a religião seja a solucionadora dessas adversidades

porque em nome da religião também se faz guerra, também se mata por diversos

interesses. A questão mesmo está nas atitudes dos homens em querer ser

moldados por formas de condutas, que não venham denegrir e nem ferir a si e aos

outros, porque as leis existem para serem cumpridas, vai do indivíduo respeitá-las.

A vida no cárcere reflete tudo o que foi citado acima, pois o apenado quando

chega a baixar presídio é porque já violou e denegriu as leis, e por certo tem que

pagar por elas no intuito de se reintegrar a sociedade, e como se reintegrar? Se o

cárcere é um lugar de punição, onde se alojam diversas pessoas da mesma

natureza que estão ali, sem direito a liberdade que possuíam, ou seja, privado de

muitas coisas, que em vez de reabilitar o detento fomenta mais o ódio, nesse sentido

é que entra a religião como alternativa de fuga transcendental no mundo da prisão.

Partindo desse contexto, a experiência que o apenado vai obter por meio da

religião muda sua forma de comportamento, onde não mais vê o cárcere como um

lugar de ódio e nem como o final de tudo, mas como uma forma de recomeçar

novamente, sendo assim, são apaziguadas as rebeliões, pois através da religião não

atinge mais seu companheiro; pelo contrário, ajuda o seu próximo aconselhando-os

a mudarem de atitudes erradas, obedecendo então à Casa Penal, contribuindo

assim para o sistema penitenciário, então, a religião no cárcere se torna esta via de

mão dupla com o presídio.

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Através dos valores apreendidos na religião o detento agradece ao

transcendente pelo escape de vida, pois se ainda tivesse submergido lá fora no

mundo da criminalidade talvez, não estivesse vivo. Nesse sentido, o cárcere aqui é

entendido como meio de escape para o apenado, é importante destacar que o

detento até reconhece que precisa cumprir as leis judiciárias e ao mesmo tempo se

sente livre de suas transgressões, ou seja, mesmo interno, porém livre

espiritualmente.

Enfoca-se ainda que a religião no cárcere, além de proporcionar um bom

convívio com a Casa Penal, serve também como auto disciplina a ponto dos

indivíduos realizarem sacrifícios para estar sempre conectado com o amparo do

transcendente, sendo esses sacrifícios por meio de jejuns, orações, campanhas,

vigílias, e dessa forma, muitas vezes são considerados como fanáticos ou loucos,

lembrando que essas são formas de resistências ao mal, por isso, buscam

incessantemente a presença do transcendente, quando na verdade, a obtenção

desses sacrifícios por meio do jejum tem por objetivo enfraquecer e sacrificar suas

carnes,se abster de muitas coisas e buscar apenas sua religiosidade, e por isso, são

rígidos consigo mesmos e ortodoxos, criando suas leis que não podem ser violadas,

e se tais regras não forem cumpridas, os detentos são logo disciplinados.

Nesse sentido, os detentos são monitorados em seus comportamentos, pois o

que eles querem mesmo é dar novo significado para suas vidas, pois assim como lá

fora muitos deles matavam, roubavam, viviam para o crime, e hoje, segundo eles

como “nova criatura”, querem fazer diferente a vida que antes viviam, e por isso dão

o máximo de si para a crença, e assim, como eram pessoas perversas, querem

agora ser pessoas justas, que primem pelas coisas certas que criam suas leis de

punição, para que haja norma na religião.

A valorização é outro fator a ser mencionado, pois o detento ao aderir à

religião, ele comanda os demais, se tornando líder religioso, onde usa a função de

ministro religioso dentro do cárcere, que além de disciplinar, exorta também, consola

os detentos, ou seja, mesmo na condição de interno consegue ser respeitado como

líder e muitos se espelham na sua maneira de agir. No geral, são esses pontos

positivos que a religião no cárcere apresenta, embora alguns detentos estejam

mascarando tal conduta e outros estejam apenas inseridos no intuito de obter

privilégios, ou possuindo certos interesses que até então se desconhece não se

pode ignorar o fato de que no CRPP I, a religião tem surtido grandes efeitos de

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melhorias, pois de acordo com os agentes penitenciários, através da religião o

número de mortos diminuiu e as brigas são vedadas, ou seja, por mais que alguns

apenados estejam apenas disfarçando, não cabe aqui generalizar, pois a religião no

CRPP I tem ajudado muito o convívio tanto para os detentos quanto para os

funcionários da unidade, então, isso significa que assim como tem detentos que

apenas estão visando seus interesses, tem também aqueles que de fato estão

vivendo essa experiência religiosa no cárcere com grande significado ou exemplo de

mudança, pelo menos lá dentro do cárcere, segundo afirmações do diretor da Casa

Penal, tem sido benéfica e isso se comprova nos seus comportamentos. E em

relação às máscaras, a hipocrisia sempre vai existir tanto dentro quanto fora do

cárcere.

Sendo assim, a religião dentro do cárcere foi a forma que o apenado

encontrou para se reencontrar, e por mais que teóricos clássicos afirmem que a

religião é uma alienação, uma neurose, etc., dentro do cárcere ela de fato tem

funcionado. Diante dessas questões, a pretensão desse trabalho não é se opor

quanto a tais argumentos, mas a de afirmar que a religião é uma das formas de

sobrevivência no cárcere, sendo um lugar que o detento vai precisar cultivar seus

ritos, símbolos, magia, precisando entrelaçar a crença às formas de reencantamento

pelo mundo.

Portanto, a religião no cárcere é produtiva no comportamento dos apenados,

porém, não se pode afirmar que ela recupera, pois para falar em recuperação, teria

que antes de tudo ser feito um profundo acompanhamento com aqueles religiosos

que já saíram da Casa Penal, e através da obtenção de tais dados se perceberia se

a religião de fato alcança o estado de recuperação, pois, a vida na prisão é o lugar

onde o interno fica vulnerável a muitas situações com o envolvimento de drogas,

doenças, suicídio, homicídio, e transtornos mentais.

A religião tende, então, a trazer melhorias não só para os detentos, mas para

a Casa Penal como um todo, mas não se pode generalizar essa melhoria por não se

obter dados concretos daqueles religiosos que já saíram da Casa Penal, e por isso

fica difícil dizer se a religião realmente recupera os detentos, o que deixa a proposta

aberta para futuras pesquisas.

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APÊNDICES

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APÊNDICE 1

ROTEIRO DE ENTREVISTA O DIRETOR DO CRPP I

1 – Na sua opinião, como a religião surge na vida do detento dentro do presídio?

2 – Como funciona a religião no cárcere? Existe alguma organização? Qual?

3 – Quais são as religiões organizadas existentes no presídio?

4 – Qual o procedimento dos apenados para elegerem um dirigente religioso ou

pastor? E qual o seu papel?

5 – Como acontecem os cultos, missas ou reuniões no presídio?

6 – Você sabe de algum relato referente ao sentimento religioso dos presidiários?

7 – A religião no presídio altera o comportamento dos apenados? Por quê?

8 – O exercício da religião dentro do cárcere é diferente do que ocorre fora dele? Por

quê?

9 – Devido os detentos estarem em regime fechado, tendo que cumprir as ordens a

rigor do sistema, nesse caso, a religião pode se tornar ou ser o único refúgio do

detento? Por quê?

10 – Como ocorre a disciplina nos grupos religiosos quando algum apenado erra?

11 – Dentro do presídio existe uma área para a prática religiosa? Explique.

12 – Existe um trabalho de evangelização dentro do presídio? Como ele acontece?

13 – Acontecem alguns rituais religiosos dentro do presídio? Quais?

14 – Como os presos religiosos agem para contribuir para a ordem no presídio?

15 – Como os presos religiosos relacionam-se entre si e com os demais?

16 – Quais são as principais mudanças observadas nas pessoas que aceitam a

religião dentro do presídio?

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APÊNDICE 2

ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA OS DETENTOS DO CRPP I

1 – Como foi o seu encontro com a religião?

2 – O que levou você a querer se inserir na religião?

3 – O que é religião para você? Qual você segue? A quanto tempo?

4 – O que você sente quando está no culto, missa, etc.?

5 – O que sua família pensa a respeito de sua religiosidade no cárcere?

6 – O que os detentos acham de sua religiosidade? Você é respeitado por isso?

7 – Como atua os dirigentes religiosos no presídio, na sua opinião?

8 – Dentro da religião no cárcere, o que pode e o que não pode fazer, ou seja, o que

é certo e errado?

9 – Já houve algum caso de disciplina ou punição por algum erro cometido entre os

adeptos? Qual?

10 – Quais são os erros ou pecados mais frequentes no cárcere?

11 – Já aconteceu algum fato inesquecível em sua experiência religiosa?

12 – Quais mudanças que a religião trouxe para a sua vida?

13 – Você acredita que a religião apaga os erros do passado? Por quê?

14 – Mesmo como uma “nova criatura”, você se sente perdoado pelos erros do

passado? Por quê?

15 – Quando você sair da prisão, ainda pretende continuar na religião? Por quê?

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ANEXOS

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ANEXO 1

FOTOS DO CRPP I E DOS RITOS E CULTOS RELIGIOSOS

FOTO 1: CRPP I, antigo CRA I

FOTO 2: Celebração da ceia no CRPP I pelos evangélicos da Assembleia de Deus

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FOTO 3: Batismo feito no riacho aos fundos do CRPP I

FOTO 4: Momento da ceia e do êxtase religioso no CRPP I

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ANEXO 2

RELAÇÃO DOS DIAS E HORÁRIOS DE EVANGELIZAÇÃO NO CRPP I

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ANEXO 3

PORTARIA Nº 583/2010 DO GABINETE DA SUSIPE