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EIXO TEMÁTICO: 3 – GESTÃO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS E A DINÂMICA HIDROLÓGICA CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA E BIOLÓGICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO SERAFIM, SUB-BACIA DO RIO PARAIBUNA, JUIZ DE FORA - MG Maola Monique de Faria 1 ([email protected]); Raquel Callegario Zacchi 1 ([email protected]); Elaine Santiago Ferreira 1 ([email protected]); Herly Carlos Teixeira Dias 2 ([email protected]). 1 -Estudantes do Curso de Geografia, Universidade Federal de Viçosa (MG); 2 - Professor do Departamento de Engenharia Florestal, Universidade Federal de Viçosa (MG)

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EIXO TEMÁTICO: 3 – GESTÃO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS E A DINÂMICA

HIDROLÓGICA

CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA E BIOLÓGICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO SERAFIM, SUB-BACIA DO RIO PARAIBUNA, JUIZ DE FORA - MG

Maola Monique de Faria1 ([email protected]); Raquel Callegario Zacchi1

([email protected]); Elaine Santiago Ferreira1 ([email protected]); Herly Carlos Teixeira Dias2 ([email protected]).

1-Estudantes do Curso de Geografia, Universidade Federal de Viçosa (MG); 2- Professor do Departamento de Engenharia Florestal, Universidade Federal de Viçosa (MG)

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CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA E BIOLÓGICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO SERAFIM, SUB-BACIA DO RIO PARAIBUNA, JUIZ DE FORA - MG

Maola Monique de Faria1 ([email protected]); Raquel Callegario Zacchi1

([email protected]); Elaine Santiago Ferreira1 ([email protected]); Herly Carlos Teixeira Dias2 ([email protected]).

1-Estudantes do Curso de Geografia, Universidade Federal de Viçosa (MG); 2- Professor do Departamento de Engenharia Florestal, Universidade Federal de Viçosa (MG)

Resumo: A bacia hidrográfica deve ser considerada uma unidade de planejamento, pois permite monitorar as atividades desenvolvidas em seu interior com vistas à preservação dos recursos naturais, já que favorece o acompanhamento das alterações naturais introduzidas pelo homem tangentes ao uso e ocupação do solo. Perante isso, o presente estudo tem por objetivo caracterizar a bacia hidrográfica do Córrego Serafim, sub-bacia do Rio Paraibuna, localizado em Juiz de Fora – MG, quanto aos aspectos morfométricos, físicos e florístico. Para tal, inicialmente foi realizada ampla pesquisa bibliográfica em fontes impressas e digitais, com objetivo de realizar a caracterização fisiográfica (geologia, geomorfologia, solos e clima) e biológica (florística) da bacia. Com objetivo de realizar os cálculos morfométricos, delimitou-se a área da bacia que está inserida na Carta do IBGE folha Juiz de Fora SF - 23 - X - D - IV – 1, de escala 1:50.000. A bacia em questão possui área de 39,8 km2, ordem de drenagem igual a cinco e orientação a nordeste. De acordo com os resultados obtidos, mediante a correlação entre os fatores morfométricos, pode-se afirmar que a bacia possui mediana susceptibilidade à enchentes. O padrão de drenagem foi classificado como dendrítico, o que indica média capacidade de drenagem. Enquadrando-se na morfogênese do vale do Paraíba do Sul, a bacia do Rio Paraibuna é geologicamente formada rochas cristalinas. A área possui relevo fortemente dissecado, com altitudes compreendidas entre 700 e 900 metros, em média. As classes de solo predominantes são: Latossolo vermelho–amarelo, Latossolo Amarelo, Argissolos vermelho amarelo, Cambissolos, Neossolos Flúvicos, Neossolos Litólicos e Gleissolos. De acordo com a classificação de Koeppen a bacia apresenta clima mesotérmico com verões quentes e chuvosos, denominado de Cwb. A vegetação predominante é formada por espécies integrantes da Floresta Ombrófila Mista, apresentando manchas com espécies integrantes da Floresta Estacional Semidecidual. Palavras-chave: Bacia Hidrográfica, Morfometria, Córrego Serafim. Abstract: The drainage basin should be considered a unit of planning because it allows monitoring the activities developed in its interior in order to preserve the natural resources, as it promotes a monitoring of naturals changes introduced by tangents man to the use and occupation of land. Due to this, this study aims to characterize Serafim stream drainage basin, Paraibuna river sub – basin, both located in Juiz de Fora – MG considering morphometric, physical and floristic aspects. At the first moment, it was done an extensive literature search in printed and digital sources as an objective to get a physiographic description (geology, geomorphology, soils and climate) and biological (floristic) of the basin. In order to make morphometric calculations, it was limited a basin area which is in the IBGE from Juiz de Fora SF - 23 - X - D - IV – 1, scale 1:50,000. The basin on study has an area of 39.8 km2, drainage equal five and direction to northeast. According to the results obtained through the correlation between morphometric factors, the basin has a medium susceptibility to flooding. The drainage pattern was classified as dendritic, which shows medium drainage capacity. Within the morphogenesis of the Paraíba do Sul, the Paraibuna basin is geologically formed by crystalline rocks. The area has a heavily dissected topography with altitudes between 700 and 900 meters, on average. The main soil classes are: Red-yellow Latosoil, Yellow Latosoil, Red-Yellow Argisoils, Cambisoils, Neosoils Fluvicos, Neosoils Litólicos and Gleissoils. According to the Köppen classification, the basin has mesothermic climate with hot summers and rainy, called Cwb. The predominant vegetation consists of species from the tropical Rain Forest with some spots of species from the semideciduous seasonal forest. Key Words: Drainage basin, Morphometry, Serafim Stream.

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1.0) Introdução

O estudo do território da bacia hidrográfica surge como saída para a implementação de

ações de recuperação ambiental, configurando-se como uma unidade de planejamento a ser utilizada

no dimensionamento espacial destas. Isso ocorre, como afirmam Guerra e Cunha (1996), em função

das bacias hidrográficas serem consideradas excelentes unidades de gestão dos elementos naturais e

sociais, sendo assim possível o monitoramento das mudanças introduzidas pelo homem.

Botelho e Silva (2004) afirmam que a adoção da bacia hidrográfica como unidade de

análise permite a visão sistêmica e integrada do ambiente. Isto ocorre devido ao fato de que as

pesquisas das redes fluviais possuem significância relevante na geomorfologia e os cursos de água têm

papel significativo na esculturação das feições de relevo.

Segundo Toledo e Dias (2005, p. 01) “a bacia hidrográfica deve ser considerada como uma

unidade de planejamento quando se deseja a preservação dos recursos hídricos, já que as atividades

desenvolvidas em seu interior têm influência sobre a quantidade e qualidade da água.”

Os estudos e as caracterizações envolvendo a bacia hidrográfica, apesar de não ser um

ramo novo de pesquisa, vêm evoluindo juntamente com as novas tecnologias, como por exemplo, a

utilização de Sistemas de Informação Geográfica. As ferramentas contidas nos diversos componentes

de um SIG permitem a execução de diversos estudos, dentre eles a análise morfométrica de bacias

hidrográficas, que pode ser definido como a análise quantitativa das interações entre a fisiografia e a

sua dinâmica hidrológica. Estes estudos permitem um conhecimento da dinâmica fluvial, bem como as

relações existentes entre ela e os diversos componentes do meio físico e biótico de uma bacia.

Em relação aos índices morfométricos, Lindner et al (2007) afirmam que estes são

importantes pressupostos para a prevenção de enchentes no território da bacia hidrográfica,além de

configurarem importantes instrumentos para o planejamento e gestão territorial.

Apesar da relativa facilidade em obter e processar dados referentes à morfometria das

bacias hidrográficas através da utilização dos SIG’s, muitas vezes essas facilidades não estão

disponíveis, sobretudo devido ao elevado custo dos softwares envolvidos neste e à necessidade de

computadores com bom desempenho e capacidade de processar essas informações. Assim, diante de

eventuais dificuldades encontradas para utilização dos SIG’s, pode-se delimitar a bacia hidrográfica

manualmente com a utilização das cartas elaboradas pelo IBGE, bem como efetuar os cálculos

morfométricos, com a utilização de equipamentos como o planímetro, utilizado para o cálculo da área

em figuras planas, e o curvímetro, utilizado para medir a distância entre dois pontos, sem que haja

perda no que se refere aos objetivos propostos.

No tocante ao manejo de bacias hidrográficas pode-se afirmar que este consiste em um

conjunto de técnicas aplicadas no âmbito da bacia hidrográfica que tem por objetivo regularizar a

vazão dos cursos hídricos, a produção econômica e a proteção ambiental, garantindo a preservação da

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biodiversidade. Neste sentido, dentre os objetivos do manejo de bacias hidrográficas pode-se citar a

possibilidade compatibilizar a produção econômica e a preservação ambiental tendo como indicador os

recursos hídricos da bacia

Toledo e Dias (2005, p.02) afirmam que O manejo de bacias hidrográficas corresponde ao processo que permite formular um conjunto integrado de ações sobre o meio ambiente, a estrutura social, econômica, institucional e legal de uma bacia, a fim de promover a conservação e utilização sustentável dos recursos naturais e desenvolvimento sustentável.

Perante isso, o presente estudo tem por objetivo caracterizar a bacia hidrográfica do

Córrego Serafim, sub-bacia do Rio Paraibuna, localizado em Juiz de Fora(MG), quanto aos aspectos

morfométricos, físicos e florísticos. Sua importância se justifica pelo fato deste propiciar conhecimento

adequado da área para que, em trabalhos futuros, se possam propor técnicas adequadas para o manejo

integrado desta bacia.

2.0) Materiais e Métodos

2.1) Localização da área de estudo

A bacia hidrográfica do Córrego Serafim, sub-bacia do Rio Paraibuna, localiza-se na

cidade de Juiz de Fora (MG). Dados referentes especificamente a esta bacia são escassos. Mas, por

esta integrar a bacia do Rio Paraibuna, maior afluente em volume de água do Rio Paraíba do Sul,

optou-se por contextualizar a situação ambiental daquela bacia, como forma de demonstrar a situação

atual da bacia a ser estudada. Além de reforçar a importância deste estudo, já que este poderá ser

subsídio de um planejamento da mesma, favorecendo, assim, a conservação dos recursos presentes na

bacia do Córrego Serafim.

A bacia do rio Paraibuna (Figura 01) tem sua nascente localizada na Serra da Mantiqueira,

em Minas Gerais, a 1.200 m de altitude e deságua no Rio Paraíba do Sul a 250 m de altitude. Este corta

nove cidades dos estados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. O Quadro 01 demonstra área abrangida

por essa bacia em cada um desses estados.

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Figura 01 - Localização da Bacia do Rio Paraibuna na Zona da Mata Mineira. Fonte: ORLANDO e LEAL (2006)

A cidade de Juiz de Fora ao longo de fins do século XIX e início do século XX passou por

franco crescimento, sendo este pouco atento para a importância do Rio Paraibuna, considerado um

impasse à materialização de determinados interesses de agentes sociais, sobretudo no espaço urbano da

cidade. Assim, de acordo com esses interesses, foram feitos vários aterros em seu curso, modificando

a sua calha e diminuindo a sua vazão, principalmente na época das chuvas.

Devido à ocorrência de diversas enchentes entre os anos de 1906 e 1940, foram

implementadas ações em todo o curso urbano do rio Paraibuna. Dentre as obras feitas, pode-se citar:

dragagem; desmonte de rochas; escavações; aterros; proteção das margens; reconstrução e alargamento

de pontes; desvio da rodovia União Indústria e desapropriações ao longo de suas margens.

A cidade de Juiz de Fora é a maior responsável pela poluição das águas do rio Paraibuna.

De acordo com a Companhia de Saneamento Municipal de Juiz de Fora (MG) (Cesama), as principais

fontes poluidoras são os efluentes industriais, o esgoto doméstico e os resíduos dos postos de

combustíveis. Além disso, são detectados em suas águas vários produtos químicos e derivados como

corantes, soda cáustica, cloro, sódio, mercúrio, fósforo, detergentes, fixadores, óleos, graxas, dentre

outros. Os agrotóxicos provenientes das áreas rurais também contribuem para a poluição do rio. A

insuficiência dos controles de emissão ou da infra-estrutura para tratamento desses efluentes

compromete a qualidade das águas para qualquer finalidade, especialmente para o abastecimento

doméstico.

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Outro processo impactante de grande importância na bacia do Rio Paraibuna é o

assoreamento do seu curso principal e de seus principais afluentes, provocado por processos erosivos

verificados em várias áreas de Juiz de Fora, causado pela retirada da cobertura vegetal natural

existente, bem como por práticas agrícolas inadequadas nas áreas rurais do município e ao longo do

rio.

2.2) Geração da Base Cartográfica

A carta do IBGE utilizada no decorrer do presente estudo foi obtida na mapoteca da

Biblioteca Central da Universidade Federal de Viçosa. A bacia do Córrego Serafim está inserida na

folha Juiz de Fora SF - 23 - X - D - IV – 1, com escala 1:50.000.

Para delimitar o limite da bacia utilizou-se papel vegetal. Este foi posicionado sob a folha

Juiz de Fora, sendo feita a marcação dos topos de morros e do curso d’água principal e de tributários,

para que assim fosse possível delimitar a bacia. Esta delimitação teve por objetivo a obtenção de dados

para o cálculo dos índices morfométricos da mesma.

Para a obtenção dos dados para o calculo dos índices morfométricos utilizou-se dois

aparelhos: o curvímetro ASI analógico - utilizado para medição de distância entre dois pontos – e um

planímetro – utilizado para medição de áreas em figuras planas, e calculadora científica para aferir os

resultados.

A bacia do Córrego Serafim será caracterizada morfometricamente com base nos seguintes

fatores: fator de forma, índice de circularidade, razão de elongação, índice de compacidade, ordem e

densidade de drenagem, padrão de drenagem, razão de bifurcação, amplitude altimétrica, declividade

geral e média, altitude média e orientação.

Com relação aos aspectos fisiográficos serão levantados a geologia, a geomorfologia, os

solos e o clima, através da apresentação de noções da hidrologia local. Com relação aos aspectos

biológicos serão trabalhados principalmente aspectos referentes à vegetação presente na área de

estudo, indicando a sua ocorrência e distribuição. Estes dados foram obtidos a partir de uma ampla

pesquisa bibliográfica em livros, artigos científicos disponíveis em revistas impressas e em bibliotecas

digitais.

2.3) Área da Bacia

Calcula-se a área da bacia com base na seguinte fórmula:

A (mm2) = L (mm) x K x (esc2)

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Sendo L a leitura do planímetro, K a cosntante de cada aparelho e esc o denominador da

escala. É importante ressaltar que para obter a área em m2 basta dividir o denominador da escala por

1.000.

2.4) Fator de forma

O fator de forma corresponde a razão entre a área de drenagem e o comprimento existente

entre a foz e o ponto mais longínquo do espigão. De acordo com Villela e Mattos (1975) apud Cardoso

et al (2006), quanto mais baixo for o fator de forma menor será a susceptibilidade a enchentes da bacia.

Obtém-se o fator de forma (F) a partir da equação

Onde: F é o fator de forma, A a área de drenagem (m2) e L o comprimento do eixo da bacia

(m).

2.5) Coeficiente de compacidade

O coeficiente de compacidade (Kc) relaciona o perímetro da bacia e a circunferência de um

círculo de área igual à da bacia. Conforme Villela e Mattos (1975) apud Cardoso et al (2006), esse

coeficiente varia de acordo com a forma da bacia, sendo que seu valor é um número adimensional.

Quanto maior for a irregularidade da forma da bacia, maior será o coeficiente de compacidade. Um

coeficiente com valor igual a um, corresponde a uma bacia de forma circular, se o valor for superior a

um, de forma significativa, a bacia terá uma forma alongada. Quanto mais o coeficiente de uma bacia

tiver seu valor próximo de um, maior será sua susceptibilidade a enchentes. O Kc foi obtido com base

na seguinte equação:

Sendo, kc o coeficiente de compacidade, P o perímetro (m) e A a área de drenagem (m2).

2.6) Índice de circularidade

Da mesma forma que o coeficiente de compacidade, o índice de circularidade tende a

unidade à medida que a forma da bacia se aproxima de um circulo e diminui de acordo com que ela se

torna alongada. Para o calculo desse índice utilizou-se a equação:

Onde, IC é o índice de circularidade, A é a área de drenagem (m2) e P o perímetro (m).

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LARE

5,0128,1

2.7) Razão de Elongação

A razão de elongação é dada por:

Onde A é a área da bacia (km2), L é o comprimento do eixo (km).

2.8) Ordem

A partir de critérios determinados por Strahler (1957), pode-se determinar a ordem dos

cursos d’água. Strahler (1957) considera os canais sem tributários como de sendo de primeira ordem.

Os que se originam do encontro de dois canais de primeira ordem são canais de segunda ordem,

podendo ter afluentes de primeira ordem. Já os canais de terceira ordem se originam da confluência de

dois canais de segunda ordem, podendo ter afluentes de segunda ordem. As determinações das ordens

posteriores seguem o mesmo critério das anteriores, ou seja, canais de mesma ordem dão origem a

canais de ordem superior, podendo ter canais de ordem inferior como afluente. Deve-se ressaltar que a

união entre um canal de ordem superior com um canal de dada ordem não altera a ordem desses.

2.9) Padrão de Drenagem

O padrão de drenagem, segundo Pissarra et al (2005) expressa o comportamento

hidrológico e litológico do solo da bacia hidrográfica. Bigarella et al (1979) afirmam que dentro do

território de uma bacia hidrográfica pode existir diferentes padrões de drenagem, pois este este é

influenciado pela litologia, diferença de declividade e geomorfologia da região.

Conforme Christofoletti (1981) os padrões de drenagem são classificados de acordo com

sua gênese, padrão de escoamento e geometria. Dessa forma os padrões de drenagem podem ser

classificados em dendrítica, retangular, radial, espinha de peixe, subparalelo, subdendrítico, dentre

outros.

2.10) Densidade de Drenagem

O estudo da densidade de drenagem indica com qual velocidade a água deixa a bacia

hidrográfica, isto é, essa pode ser considerada como sendo o índice que mostra o grau de evolução do

sistema de drenagem. Este e calculado com base na seguinte equação:

Onde, Dd é a densidade de drenagem (km/km2), Lt é o comprimento total de todos os

canais (km) e A é a área de drenagem (km2).

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o

o

nnRbo )1(

NRboRbo

RbBH

2.11) Razão de Bifurcação

A razão de bifurcação, segundo Horton (1932) apud Lima (2008) é definida pelo número

de canais de uma dada ordem (n) e o número de canais da ordem seguinte (n+1). Quanto maior a razão

de bifurcação mais impermeável é a bacia, conseqüentemente, quanto mais ramificada, mais

impermeável.

A razão de bifurcação é calculada de acordo com as fórmulas a seguir:

2.12) Altitude e Amplitude Altimétrica

Segundo Toledo e Dias (2005) as variações da altitude e da elevação da bacia hidrográfica

são importantes devido ao fato de influenciarem a precipitação, as perdas de água por evaporação e

transpiração e, conseqüentemente, sobre o deflúvio médio. Variações significativas de altitude

resultam em diferenças consideráveis de temperatura média, a qual acarreta variações na

evapotranspiração. Além disso, pode ocasionar variações na precipitação anual.

2.13) Declividade Geral e Média

A declividade do território da bacia hidrográfica possui estreita relação com os vários

processos hidrológicos nela existentes, tais como o escoamento superficial, a umidade do solo, a

infiltração, dentre outros. Além disso, ela regula o tempo de duração do escoamento superficial e da

concentração da precipitação no território da bacia hidrográfica (CARDOSO et al, 2006).

A declividade é obtida através da variação de altitude entre dois pontos quaisquer do

terreno, em relação à distância entre eles. A declividade foi classificada de acordo com Embrapa

(1989),conforme expresso no Quadro 02. Quadro 01 - Classes de declividade

Declividade (%) Classificação

0 – 3 Relevo plano

3 - 8 Relevo suavemente ondulado

8 – 20 Relevo ondulado

20 – 45 Relevo fortemente ondulado

45- 75 Relevo montanhoso

>75 Relevo fortemente montanhoso

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Calculou-se a declividade média da bacia mediante a seguinte equação:

Onde S(%) representa a declividade média da bacia, L o comprimento do canal principal e

o P o perímetro da bacia.

2.14) Coeficiente de Rugosidade

Segundo Pissarra et al (2005) o coeficiente de rugosidade é o produto entre a densidade de

drenagem e a declividade média da bacia hidrográfica. Dessa forma, quanto maior o coeficiente de

rugosidade, maior será o risco de degradação da bacia.

Onde, Dd e a densidade de drenagem e Dl a declividade media.

2.15) Orientação

De acordo com Lima (2008) o fator orientação afeta as perdas por evapotranspiração,

devido a sua influência sobre a quantidade de radiação solar recebida pela bacia. Esta pode, sem

dúvida, afetar as relações entre a precipitação e o deflúvio.

Neste sentido, quanto maior orientação leste/oeste maior a exposição solar da bacia, e,

sendo assim, maior evaporação, resultando em solos com menor umidade.

3) Resultados e Discussão

3.1) Caracterização Morfométrica da Bacia Hidrográfica do Córrego Serafim

A área de drenagem encontrada para a bacia foi de 39, 8 km2, com um perímetro de 31, 50

km. A bacia hidrográfica possui ordem de drenagem igual a cinco e orientação a nordeste. (Figura 02)

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FIGURA 02 – Delimitação da bacia do Córrego Serafim, sub-bacia do Rio Paraibuna

A bacia tem uma área total de 39,8 km2, sendo esta considerável, já que esta uma sub-bacia

do rio Paraibuna. Tal fato indica a importância de se realizar mais estudos na área, tendo em vista a

contribuição que esta fornece para a constituição da rede de drenagem de um importante rio da Zona

da Mata Mineira.

O fator de forma da bacia é igual a 0, 5847. Por possuir baixo valor, não se pode basear

nele somente para a realização de correlações em relação à susceptibilidade de enchentes da bacia. Por

isso a necessidade da correlação deste índice com outros índices morfométricos. Ao traçar tal

correlação com o coeficiente de compacidade e com o índice de circularidade, e possível afirmar que a

bacia possui susceptibilidade mediana à enchentes. Tal fato se justifica pelo fato do coeficiente de

compacidade ser igual a 1, 4085 e o índice de circularidade igual a 0, 5041.

Segundo Villela e Mattos (1975) apud Cardoso et al (2006) o coeficiente de compacidade

com valor igual a um corresponde a uma bacia de forma circular e, valores acima da unidade indicam

que a bacia possui forma mais alongada. O mesmo vale para o índice de circularidade.

O conhecimento do valor da densidade de drenagem possibilita um melhor planejamento

do uso e manejo de seu território. Villela e Mattos (1975) afirmam que a densidade de drenagem pode

variar entre 0,5 Km/km2 a 3,5 Km/km2 ou mais, sendo que o primeiro valor é apresentado por bacias

com drenagem pobre e o segundo por aquelas com boa drenagem. Neste sentido, a bacia hidrográfica

do Córrego Serafim apresentou uma densidade de drenagem igual a 2, 4748 km/km2, o que indica que

esta possui média capacidade de drenagem.

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O índice de densidade de drenagem encontrado para a bacia hidrográfica do rio Debossan,

Nova Friburgo, RJ, foi de 2,35 km/km2, mostrando que essa bacia apresenta média capacidade de

drenagem (CARDOSO et al, 2006). Já a bacia do rio Turvo Sujo, Viçosa, MG, apresentou densidade

de drenagem igual a 4,6 km/km2, o que a faz ter uma elevada capacidade de drenagem (SANTOS,

2001).

O padrão de drenagem da bacia do Córrego Serafim pode ser classificado como dendrítica.

Tal comportamento se explica pela predominância de rochas cristalinas na área e pelo seu

comportamento hidrológico. A ordem encontrada para a bacia do Córrego Serafim foi igual a cinco, o

que indica que esta possui uma drenagem relativamente bem ramificada, isto se da pelo fato do relevo

da área ser significativamente bem movimentado.

O padrão de drenagem possui relação direta com a razão de bifurcação, já que este

demonstra o quanto a bacia é impermeável, isto é, quanto mais ramificada, mais impermeável. No caso

da bacia do Córrego Serafim, o valor encontrado foi de 1, 9624.

No que se refere ao índice de rugosidade, encontrou-se o valor de 58, 98. Quanto maior for

esse índice, maior será o risco de degradação da bacia. Com base nisto, afirma-se, que a bacia do

Córrego Serafim possui médio risco a degradação.

A altitude média da bacia é de 769 m e a amplitude altimétrica encontrada na área foi de

209m, indicando, como será explicitado no levantamento geomorfológico, uma área de relevo

acidentado. Esse dado é importante, porque variações significativas de altitude resultam em diferenças

consideráveis de temperatura média, a qual acarreta variações na evapotranspiração nas diferentes

áreas da bacia. Além disso, pode ocasionar variações na precipitação anual ao longo da

compartimentação do relevo da área.

A declividade geral e média influencia em vários processos hidrológicos como o

escoamento superficial, a umidade do solo, a infiltração de água, dentre outros. Além disso, regulam o

tempo de duração do escoamento superficial e da concentração da precipitação no território da bacia

hidrográfica. De acordo com o quadro da Embrapa (1989) a área, por possuir declividade média de 23,

8333 m, pode ser classificada como tendo um relevo fortemente ondulado.

3.2) Constituição Geológica

Enquadrando-se na morfogênese do vale do Paraíba do Sul, a bacia do Rio Paraibuna é

geologicamente formada rochas cristalinas de idade muito antiga, como gnaisses e granitos. De

acordo com Soares (2005), a área situa-se sobre rochas do embasamento cristalino, sob o domínio da

Província Geotectônica Mantiqueira. Predomina na área rochas metamórficas de forte grau de

metamorfismo. Este mesmo autor apresenta, de acordo com o diagnóstico elaborado pela equipe

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técnica do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora (1996), o mapeamento geológico

da bacia do Rio Paraibuna com as seguintes classes:

Areias e Argilas;

Anfibolitos e Metabasitos;

Charnockitos/Granulitos;

Gnaisses intercalados com quartzo;

Migmatitos intercalados com quartizito;

Gnaisses bandados;

Gnaisses com blastomilonitos

De acordo com Staico (1977), as rochas do embasamento cristalino na bacia do Rio

Paraibuna encontram-se recobertas por espessa camada de sedimentos que se formaram pela

decomposição das rochas originais. Em alguns trechos tais rochas afloram na superfície, ora tendo sido

soerguidas por movimentos tectônicos ora expostas pela ação erosiva.

Ainda de acordo com Staico (1977), os granitos e gnaisses sofreram, nesta região, pela

ação de forças endógenas, vários fraturamentos, os quais algumas vezes foram ocupados pelos leitos

dos cursos hídricos como ocorre no Paraíba do Sul, no Paraibuna e no afluente em estudo, Córrego

Serafim.

A abundância de rochas cristalinas nesta região lhe confere grande vantagem

econômica, através da fácil extração para utilização na construção civil. Inclui-se alguns tipos de

gnaisses caracterizados por uma textura xistosa cujo valor econômico não se limita ao material bruto

básico, mas abrange a utilização como acabamento fino em virtude da beleza. Outro importante

elemento explorado economicamente na região é o caulim, que fornece material que é submetido a um

processo de beneficiamento antes de ser exportado para as indústrias de papel. De acordo com Staico

(1977), pela falta de um perfil geológico aconselhável, da região, a magnitude das perspectivas

econômicas que os minerais presentes nesta apresentam, ainda é desconhecido todo o potencial de

minerais a serem explorados economicamente.

Um fato que chama atenção na região do vale do Rio Paraibuna é a inexistência de

minerais preciosos. Staico (1977) justifica-o considerando o longo tempo que a região ficou exposta a

um intenso trabalho erosivo, tendo por isso, sofrido grande desgaste.

3.3) Geomorfologia

A área possui relevo fortemente dissecado, com altitudes compreendidas entre 700 e

900 metros, em média. (STAICO 1977), fato comprovado pela declividade média. As montanhas e

colinas que cobrem a área do município de Juiz de Fora são contrafortes da Serra da Mantiqueira.

Entalhados a estes encontram-se alguns vales que possuem grande pluralidade, dentre eles o Vale do

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Paraibuna, por onde corre o principal rio da região, enquanto seus afluentes e tributários correm

seguindo vales secundários. Morfologicamente, a área analisada pertence a uma região de Planaltos

Cristalinos rebaixados.

Staico (1977) também destaca a presença de terraços alveolares, sendo esta uma

formação bastante comum na região, que tem sua formação, em parte, explicada pela dissecação das

vertentes das colinas, fazendo-as recuar paralelamente às suas encostas. Nessas superfícies, muitas

vezes, os rios formam meandros contínuos, com aparência de rios de planície do que propriamente de

planaltos.

Este mesmo autor, ainda destaca a presença das várzeas ao longo dos cursos hídricos da

bacia do Rio Paraibuna. Segundo ele, além de várzeas mais recentes, ou seja, das áreas formadas por

largos e rasos campos de inundação, existem as várzeas mais antigas, atualmente secas e sem cursos

d’água, sendo cobertas ou circundadas por mata.

Staico (1977) afirma que os níveis de base de erosão do Rio Paraibuna e seus afluentes

baixaram em conseqüência dos movimentos epirogênicos ocorridos em virtude do balanço isostático

da placa Sul-Americana, ocasionando a intensificação da erosão sobre a área.

Ao longo do Rio Paraibuna, especificamente na área urbana do município de Juiz de Fora,

de acordo com dados da Companhia de Saneamento Básico de Juiz de Fora – MG (CESAMA), são

encontrados dois grandes compartimentos geomorfológicos que se individualizam, principalmente em

função do substrato, ou seja, dos aspectos geológicos: ao norte, os terrenos ocupados pelo Gnaisse

Piedade e ao sul, pelas rochas antigas do Complexo Juiz de Fora.

As áreas do Complexo Juiz de Fora possuem um relevo mais acidentado, principalmente

nas faixas de distribuição dos Charnockitos. Constituem relevos elevados topograficamente com

aspecto serrano e amplitudes topográficas de até 200 m. Neste compartimento, a paisagem trabalhada

pelos agentes erosivos produziu um aprofundamento do nível de base do Rio Paraibuna, enquanto

manteve soerguidos os fundos de vales de seus afluentes, sustentados por assoalhos rochosos,

constituindo verdadeiros "vales suspensos". Já o domínio do Gnaisse Piedade, onde predomina os

Migmatitos, exibe um relevo altamente dissecado, com topos alongados e estreitos, além de rios com

vales mais abertos e largos.

Ainda, existem vales profundos associados a encostas com elevadas declividades e um

relevo constituído predominantemente por morros sujeitos a chuvas com índices anuais elevados,

constituem os principais fatores que imprimem à região uma dinâmica superficial bastante intensa.

3.4) Solos

De acordo com Staico (1977) as classes de solo predominantes na região da cidade de Juiz

de Fora (MG) são o Latossolo vermelho – amarelo (LVa), Latossolo Amarelo (LA), Argissolos

vermelho amarelo, Cambissolos, Neossolos Flúvicos, Neossolos Litólicos e Gleissolos.

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Segundo Lanni (2008) os Cambissolos são solos rasos, que apresentam a seqüência de

horizonte A, Bi, sendo o horizonte B incipiente. Ocorrem em relevos acidentados. Devido à presença

do B incipiente é comum a inexistência de enraizamento profundo. Por apresentar pedregosidade e

instabilidade dificulta processos de mecanização. Por apresentar teores elevados de silte no horizonte

C, apresenta vulnerabilidade a processos de voçorocamento, o que demanda cuidados redobrados com

seu uso e manejo.

Os Argissolos compreendem a solos com presença do horizonte B textural, que se

distingue do A pelo gradiente textural e pela estrutura em blocos. Apresenta a seqüência de horizonte

A, Bt. Seu horizonte B apresenta argila de atividade alta. Ocorre em vertentes côncavas abertas, com

relevo ondulado. Sua exploração é limitada pela alta predisposição a erosão e a limitada percolação de

água, além da susceptibilidade da formação de camadas compactadas, decorrentes das atividades

agrícolas (LANNI, 2008).

Os Latossolos são solos profundos, porosos, ácidos e com pouca distinção entre horizontes.

Estas características se devem ao alto grau de intemperismo desse solo. Por apresentar argilas de

atividade baixa e alta permeabilidade, favorece a recarga, através da infiltração e percolação, dos

lençóis freáticos, o que confere a manutenção da regularidade da vazão dos corpos de água. Por

apresentar uma boa estrutura, conferida pelo maior número de macroporos, possui pouca

susceptibilidade a processos erosivos. É encontrado em áreas de relevo suavemente ondulado. São

bastante utilizados para a agricultura e pastagem. Sua limitação ao uso encontra-se no fato de

apresentar baixa fertilidade natural (reduzido teor de bases trocáveis e de fósforo, com alta

concentração de alumínio no horizonte B) (LANNI, 2008).

Os Neossolos Litólicos, antigo Litossolo, apresenta seqüência de horizontes A, R.

Apresenta profundidade variando de 20 – 40 cm, assentado sobre rocha ou saprolito. Sua ocorrência

está associada a relevos fortemente ondulados, associados a afloramentos rochosos de maior

resistência ao intemperismo. Seu uso pela agropecuária é restrito, podendo ser utilizado para pastagens

nativas e reservas (LANNI, 2008).

Os Neossolos Flúvicos são solos pouco desenvolvidos, resultantes de deposições fluviais

recentes, apresentando a seqüência de horizontes A, C. Localizam-se ao longo das planícies fluviais

(leitos maiores) da bacia. Sua limitação de uso e ocupação encontra-se no fato dos riscos de

inundações periódicas e imprevisíveis, devido a isso não se recomenda a implantação nestes solos de

culturas de verão e culturas permanentes, podendo ser utilizadas para culturas de entressafra (LANNI,

2008).

Os gleissolos possuem horizonte A escuro, relativamente espesso, sobreposto a uma

camada acinzentada, que apresenta aumento gradativo do teor de argila de acordo com o aumento da

profundidade. Sua ocorrência esta associada às planícies fluviais. Por apresentarem elevado grau de

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encharcamento, limita a implantação da agricultura. Seu cultivo só se torna possível a partir da

implantação de sistemas de drenagem, que podem ocasionar a perda da fertilidade natural destes solos

devido à mineralização da matéria orgânica contida nesses (LANNI, 2008).

3.5) Clima

O município de Juiz de Fora, inserido na região Sudeste brasileiro, é caracterizado por uma

diversidade climática. Segundo Nimer (1989) essa diversidade deve se à orografia da região, tanto no

que se refere à temperatura quanto a precipitação.

Juiz de Fora, de acordo com dados obtidos na estação climatológica local, apresenta duas

estações bem delineadas: uma com temperaturas elevadas e maior índice de precipitação, que vai dos

meses de outubro a abril, e outra com temperaturas mais baixas e secas, dos meses de maio a setembro,

como pode ser observado nos gráfico abaixo (Figura 03 e 04).

Figura 03 - Temperatura Mínima Mensal em Juiz de Fora – MG (1974 – 2004)

Figura 04 - Precipitação Mensal em Juiz de Fora – MG (1974 – 2004)

De acordo com a classificação de Köppen o município apresenta clima mesotérmico com

verões quentes e chuvosos, denominado de Cwb.

O relevo predominante no município contribui para com o clima existente e para com a

amenizar as temperaturas. Devido ao relevo, o clima pode ser considerado Tropical de Altitude.

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De acordo com dados da estação climatológica, entre os anos de 1993 e 2005, as médias

anuais pluviométricas alcançaram 1.5356 mm, sendo que o mês de janeiro possui maior índice, 298

mm. A temperatura média gira em torno de 18,9ºC.

Durante o verão registra-se a ocorrência de chuvas do tipo convectiva ao final das tardes.

Observações realizadas pelos pesquisadores da estação climatológica durante três décadas demonstram

que o índice pluviométrico máximo anual pode ocorrer de novembro a março. Em 12 de março de

2001 foi medida a máxima pluviométrica para vinte e quatro horas que foi de 147, 4 mm.

Segundo Machado (2000) apud Torres e Martins (2005), a zona rural do município,

onde se localiza a bacia de trabalho, possui características climáticas bem distintas daquelas que são

encontradas no centro da cidade, principalmente no tocante à temperatura e a precipitação. Na região

da bacia em estudo as temperaturas são mais amenas, que são decorrentes da maior presença de

vegetação. As chuvas na região ocorrem com maior freqüência do que no centro da cidade. Tal fato se

deve a taxa de evapotranspiração da área que faz com que o índice pluvial da bacia se distinga do que

é encontrado na cidade.

3.6) Vegetação

Em relação a vegetação, é importante destacar que o município de Juiz de Fora passou por

profundas transformações ao longo do último século, sobretudo em função da ocupação humana e do

uso da terra, o que faz com que a vegetação original seja hoje representada por pequenas manchas em

restritas e isoladas áreas.

De acordo com Staico (1977), na área da bacia do rio Paraibana distinguem-se cinco

formações florísticas, sendo elas: mata tropical, cerradão, campos cerrados, campos limpos e secos, e

campos úmidos e brejos. De forma generalizada, encontra-se na área espécies integrantes da Floresta

Ombrófila Mista e manchas com espécies da Floresta Estacional Semidecidual.

A mata tropical possui uma grande quantidade de árvores altas e madeiras-de-lei, e há

também uma intensa diversidade da floresta mista. As árvores possuem ramificações no extremo do

tronco, folhas decíduas, que indicam o regime climático da área.

Por cerradão entende-se o conjunto de matas secas, principalmente desenvolvidas em

solos arenosos e cujas associações constam de tipos de plantas dos campos cerrados e de algumas

plantas com folhas perenes (STAICO 1977). Esta vegetação consiste de uma mata rala e fraca,

medindo aproximadamente 10 a 12 metros de altura.

A transição para o campo cerrado se dá de forma gradual, com ocorrência cada vez

maior de clareiras. Entre os tipos de campos, este é o que ocupa uma maior área dentro da bacia do rio

Paraibuna.

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Segundo Staico (1977) o campo cerrado possui uma paisagem aberta, podendo ser

facilmente percorrida, predominando gramíneas e plantas herbáceas, o que faz com que seja utilizado

constantemente como pasto.

Os campos limpos e secos também são constantemente utilizados como pasto, onde, ao

lado das gramíneas do campo cerrado, também crescem gramíneas finas e rasteiras, sendo

característicos da região o capim gordura, catingueiro, ou melado.

Os campos úmidos e brejos, conforme afirma Staico (1977), correspondem aos campos

de inundação, que acompanham todos os cursos d’água, sejam maiores ou menores. A composição da

vegetação é a mesma em todas as várzeas, sendo as matas ciliares e de galeria, e as plantas

predominantes são gramíneas de baixadas úmidas e vegetação de pântanos.

As matas que eram características da região deram lugar às pastagens, que constituem

hoje a paisagem dominante da área. Conforme pode ser verificado no quadro 03 e na figura 05,

segundo Orlando e Leal (2006), as pastagens e campos correspondem a 72, 41% da área total da bacia,

seguida pela vegetação secundária, ocupando 16,13% da área.

Quadro 02 - Categorias de vegetação e uso – ocupação na Bacia do Rio Paraibuna

Uso – ocupação do solo/vegetação Área em km² %

Vegetação Nativa 658,57 7,70 Vegetação Secundária 1379,59 16,13

Reflorestamento 70,98 0,83 Campo/Pastagem 6.193,30 72,41

Área Agrícola 20,52 0,24 Área Urbana 57,94 0,68

Outros 172,06 2,01 Total 8552,96 100,00

Fonte: Orlando e Leal (2006)

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Figura 05 - Uso e Ocupação do Solo na bacia do Rio Paraibuna Fonte: Orlando e Leal (2006)

4.0) Conclusões

Lindner et al (2007) afirmam que os índices morfométricos das bacias hidrográficas são

cálculos essenciais pois permitem, dentre outros aspectos, a prevenção de enchentes no território da

bacia hidrográfica, sendo também o primeiro passo para propor o manejo destas unidades naturais. De

acordo com os resultados morfométricos encontrados a bacia do Córrego Serafim verificou-se que

possui susceptibilidade mediana a enchentes, e que este resultado foi possível graças à análise dos

dados morfométricos calculados de forma correlacionada, comparados às características físicas da

área.

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