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1 UD - UNIDADE DEMONSTRATIVA DE FOSSA EVAPOTRANSPIRAÇÃO PARA TRATAMENTO DE ESGOTO DOMESTICO EM ASSENTAMENTOS DE REFORMA AGRÁRIA EIXO: TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO Wesley Júnio de Andrade 1 Tatiana M.de Castro Agostinho 2 Resumo Os assentamentos e acampamentos de reforma agrária em sua maioria não possuem sistemas de tratamento de esgotos eficazes, provocando impactos ao meio ambiente e à saúde humana. A reutilização da água através da segregação das águas negras (provenientes do vaso sanitário) e das águas chamadas cinzas (não contaminadas com fezes) permite o tratamento descentralizado dos diferentes tipos de efluentes domésticos. A fossa de evapotranspiração é uma tecnologia de baixo custo e ecológica sendo utilizada para tratamento e reuso domiciliar de águas negras. O artigo apresenta critérios para o dimensionamento e construção da fossa de evapotranspiração nos assentamentos e acampamentos de reforma agrária, tendo como parâmetro de referência e avaliação do funcionamento de uma UD – Unidade demonstrativa. Palavras-chave: Agroecologia, Saneamento ecológico, reuso da água, fossa de evapotranspiração. Nome do GT: Tecnologia de produção 1 Geografo Pós graduando Residência agraria UNB – Universidade nacional de Brasília FUP –faculdade de Planaltina [email protected] 2 Eng. Agrônoma, Pós graduando Residência agraria UNB – Universidade nacional de Brasília FUP – faculdade de Planaltina. [email protected] ,

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UD - UNIDADE DEMONSTRATIVA DE FOSSA EVAPOTRANSPIRAÇÃO PARA

TRATAMENTO DE ESGOTO DOMESTICO EM ASSENTAMENTOS DE REFORMA

AGRÁRIA

EIXO: TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO

Wesley Júnio de Andrade1 Tatiana M.de Castro Agostinho2

Resumo

Os assentamentos e acampamentos de reforma agrária em sua maioria não possuem

sistemas de tratamento de esgotos eficazes, provocando impactos ao meio ambiente e à saúde

humana. A reutilização da água através da segregação das águas negras (provenientes do vaso

sanitário) e das águas chamadas cinzas (não contaminadas com fezes) permite o tratamento

descentralizado dos diferentes tipos de efluentes domésticos. A fossa de evapotranspiração é uma

tecnologia de baixo custo e ecológica sendo utilizada para tratamento e reuso domiciliar de águas

negras. O artigo apresenta critérios para o dimensionamento e construção da fossa de

evapotranspiração nos assentamentos e acampamentos de reforma agrária, tendo como parâmetro

de referência e avaliação do funcionamento de uma UD – Unidade demonstrativa.

Palavras-chave: Agroecologia, Saneamento ecológico, reuso da água, fossa de

evapotranspiração.

Nome do GT: Tecnologia de produção

                                                                                                                         1  Geografo Pós graduando Residência agraria UNB – Universidade nacional de Brasília FUP –faculdade de Planaltina [email protected]  2  Eng. Agrônoma, Pós graduando Residência agraria UNB – Universidade nacional de Brasília FUP – faculdade de Planaltina. [email protected] ,  

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TECNOLOGIA AGROECOLÓGICA DE BAIXO CUSTO PARA O TRATAMENTO DE

ESGOTO SANITÁRIO RURAL

“O saneamento básico é um dos mais importantes aspectos da saúde pública mundial.

Estima que 80% das doenças e mais de 1/3 da taxa de mortalidade em todo o mundo decorram

da má qualidade da água utilizada pela população ou da falta de esgoto sanitário adequado”

(BARROSO, 2007).

A Escola Itinerante de Formação (EIF) Zé Porfírio3, buscando contribuir com o

desenvolvimento das famílias assentadas, utilizando-se da matriz tecnológica agroecológica,

desenvolveu junto aos assentados e assentadas do Assentamento Bom Sucesso, em Flores de

Goiás – GO, uma Unidade Demonstrativa (UD) de tratamento e coleta de esgoto doméstico,

Fossa de Evapotranspiração.

O objetivo da UD – Fossa de evapotranspiração é analisar a eficácia do tratamento de

esgoto doméstico rural de forma sustentável, evitando a contaminação do solo, das águas do rio,

logos e lençóis freáticos, prevenindo o ambiente de passivos patogênicos que causam danos a

saúde humana. “ São patologias como hepatite A, dengue, cólera, diarreia, leptospirose, febre

tifoide e paratifoide, esquistossomose, infecções intestinais, dentre outras, que afetam

particularmente crianças de até 5 anos. São conhecida no meio medico como “doença de pobre”

ou doença do subdesenvolvimento” (BARROSO. 2007).

A UD – Fossa de vaporização contribui para a troca de saberes científicos e

conhecimentos populares, contribuindo para a disseminação de tecnologias agroecológicas de

baixo custo e de fácil instalação, podendo o camponês utilizar de mais de 80% dos insumos para

a construção do próprio lote, pois, “a natureza experimental do conhecimento tradicional. A

vantagem do conhecimento popular rural é que ele é baseado não apenas em observações

precisas mas, também, em conhecimento experimental” (ALTIERI. 2004).

O local e escolha da instalação da UD – Fossa de evapotranspiração em assentamento de

reforma agrária, foi determinada pelo fato de Flores de Goiás (GO), ser uma cidade com um dos

maiores números de assentamentos da região do Nordeste Goiano, possuindo cerca de mais de

3000 mil famílias assentadas e acampadas (INCRA – SR 28. 2015), tendo predominância da

                                                                                                                         3 Escola Itinerante de Formação é um instrumento organizativo criado pelo Residência Agrária da UnB com o intuito de potencializar as ações de formação dos núcleos territoriais (nts). Mais informações podem ser obtidas no blog www.matrizesprodutivasdavidanocampo.wordpress.com

  3  

população moradores em zona rural e não possuírem um destino correto e eficaz dos dejetos de

esgotos domésticos.

Metodologia

Um levantamento de dados “in loco” foi realizado através de reuniões e visitas em 10

assentamentos com aplicação de diagnostico para análise e qualificação dos dados, além de um

levantamento bibliográfico para estudos e aplicação das técnicas de construção de tecnologia de

saneamento ecológico de baixo custo a fim de adaptá-la da melhor forma possível as condições

locais, além de um medidor de precipitação pluviômetro.

A UD fossa de evapotranspiração foi implantada em escala real, em uma residência com

dois moradores adultos e uma criança. O resíduos destinado a fossa de evapotranspiração é o

esgoto do vaso sanitário – água negra, água de chuveiro e uma pia de banheiro. A fossa de

evapotranspiração foi construída em cima de uma lona de 200 micra, sobre um buraco feito no

solo, no meio do buraco foi feito uma trincheira de 20 cm profundidade por 30 cm de largura,

com fundo nivelado com declive de 5º.

As dimensões foram: 1, 2 metro de profundidade, (contendo uma trincheira de 20 cm

profundidade por 30 cm largura) e 2 metros de largura e 2,3 metros de comprimento. A borda

do tanque se estendeu a cerca de 10 cm acima da superfície do solo, de modo a evitar o

escoamento superficial de água da chuva para dentro do sistema, evitando causar a saturação do

solo por alagamento.

Uma câmara formada pelo alinhamento de pneus usados foi posicionada

longitudinalmente ao fundo do tanque, sem nenhum tipo de rejunte, de forma que o efluente

pudesse sair da câmara, passando por entre os pneus. A tubulação de entrada de esgoto de 100

mm foi posicionada para dentro dessa câmara. Ao redor da mesma, foi colocada uma camada de

aproximadamente 45 cm de entulho cerâmico, cobrindo todo o fundo do tanque. Acima, foram

colocadas camadas das seguintes espessuras: brita, 10 cm, areia, 10 cm e solo e cobertura morta

(madeira e folhas) 35 cm.

Antes da sobreposição dos materiais no tanque foi adicionado um cano de 50 mm para

saída de gases de 1,15 cm, perfurado ao longo do comprimento para que os furos atingissem

todas as camadas da estrutura. Os materiais para o preenchimento da fossa de evapotranspiração

foram obtidas no próprio lote. Os pneus usados foram doação, os materiais comprados foram

tubos de 100 mm, tubo de 50 mm, joelhos de 100 mm, 4 metros de lona, cola PVC.

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Na superfície, foram plantadas quatro mudas de bananeiras (Musa cavendishii),

distribuídas nas laterais do tanque. Depois do plantio, o tanque foi cheio completamente com

água, para acomodação dos substratos e verificação da capacidade líquida do tanque. (Ver fotos

em anexos).

Desenvolvimento

ALTERNATIVA AGROECOLÓGICA DE PARA O TRATAMENTO DE ESGOTO

SANITÁRIO NOS ASSENTAMENTOS DE REFORMA AGRÁRIA

“A urgente necessidade de combater a miséria rural e regenerar a base de recursos das

pequenas propriedades tem estimulado diversas Organizações Não-Governamentais (ONGs), nos

países em desenvolvimento, a buscar ativamente novas estratégias de desenvolvimento e manejo

de recursos na agricultura.” (ALTIERI: 2004. p 41)

A população rural brasileira é marcada por uma diversidade cultural e características

próprias regionais, culturais e econômicas que demandam uma estratégia quase particular de

saneamento para cada comunidade. (FUNASA: 2011.p 5)

A falta de condições de recursos, moradias precárias e conhecimento em alternativas

para resolver problemas como saneamento básico, resultante da falta de estrutura nos

assentamentos e acampamentos provocam danos a saúde humana, contaminação do solo, águas

subterrâneas, oriundo das descargas de esgotos domésticos nos rios, córregos, precárias práticas

de “tratamento”, fossas negras, má instalações ou localizadas, ou mesmo na superfície dos

quintais das casas são problemas comuns nos assentamentos e acampamentos de reforma agrária

de Flores de Goiás.

A população rural de Flores de Goiás é de 73,73%, é significantemente muito maior que a

urbana, que é de 26,27% (IBGE. 2010), mesmo com está diferença entre a população rural e

urbana o município não possui ou executa plano e ou programa de saneamento básico rural

(Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente, 2015), sendo atendida pela entidade: “ A Funasa,

entidade vinculada ao MS, o PPA reserva o atendimento a municípios com menos de 50 mil

habitantes, áreas rurais, quilombolas e sujeitas a endemias” (PLANSAB. 2013).

Desta forma a necessidade de desenvolver estratégias de desenvolvimento que priorize os

camponeses, que por falta da efetivação das políticas públicas existentes para o campo, buscam

soluções independentes e tecnologias que vem ao encontro das necessidades básicas, como por

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exemplo, coleta, armazenamento, distribuição de água, moradia, energia e saneamento básico,

mesmo este último sendo prioridade para a saúde humana.

“Diversas de suas definições e determinações, o saneamento básico assume papel central

na política de saúde pública. Ou seja, o SUS reconhece explicitamente a importância do

saneamento básico para a melhoria das condições de saúde da população”.(PLANSAB. 2013).

A cidade de Flores de Goiás, possui 23 assentamentos e 3 acampamentos de reforma

agrária, (INCRA, 2014), e não possuem tratamentos eficientes de esgotos domésticos, utilizando-

se as fossas negras ou mesmo a superfície do solo para as descargas de esgotos domésticos;

“O esgoto doméstico é composto essencialmente por água de banho,

excretas, papel higiênico, restos de comida, sabão, detergentes e águas

de lavagem, oriundos das águas servidas de residências, instituições,

estabelecimentos comerciais ou quaisquer edificações que disponham de

instalações de banheiros, lavanderias e cozinhas”.(MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 1999).

Classificamos os efluentes do esgoto domésticos basicamente em dois níveis, aguas

cinzas e agua negra. “As águas cinza, provenientes das pias, chuveiros, banheiras e lavanderia,

somam o maior volume do esgoto doméstico” (GALBIATI, 2009). O tratamento da água cinza é

relativamente simples, dependendo do objetivo do reuso, “podendo ser feito nas próprias

residências, inclusive com aplicação direta no solo, para irrigação de árvores e jardins, desde que

sejam seguidos alguns critérios de ordem sanitária” (GALBIATI, 2004).

Já o “efluente do vaso sanitário, contendo fezes e urina, é chamado de água negra e necessita de

sistemas de tratamento mais complexos para reduzir sua carga de patógenos” (Esrey et al., 1998).

Em diagnostico realizado em 10 assentamentos sendo 12 famílias aleatórias em cada

assentamento no total 120 famílias o resultado de destinação do esgoto doméstico (água negra) é

apresentado no gráfico 1.  

A Lei nº 8.080/1990, que criou o Sistema Único de Saúde (SUS), trouxe

como obrigação desse sistema promover, proteger e recuperar a saúde,

englobando a promoção de ações de saneamento básico e de vigilância

sanitária. A noção de saúde contemplada na Lei considera como seus

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fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a

moradia, o saneamento básico, o meio ambiente...” (PLANSAB, 2013).

Muitos assentados e assentadas desconhecem métodos e tecnologias agroecológicas

(alternativas) de baixo custo que sirvam para contribuir com o bem estar humano e ambiental

que priorize o desenvolvimento rural sustentável.

“Essa abordagem distingue-se daquela da Revolução Verde não apenas tecnicamente, ao

reforçar o emprego de tecnologias de baixo uso de insumos, mas também por critérios

socioeconômicos, no que tange às culturas afetadas, beneficiários, necessidades de pesquisa e

participação local...” ( ALTIERI, 2004)

A erradicação de doenças causadas por falta de tratamento de esgotos domésticos “ além

de estar ligado diretamente as três dos oitos objetivos do desenvolvimento incluindo as metas do

Milênio das nações Unidas, a serem cumpridas até 2015, que são: erradicar a extrema pobreza, e

a fome, reduzir a mortalidade infantil, e garantir a sustentabilidade ambiental (SIWI, 2005).

Buscando o desenvolvimento rural sustentável com práticas agroecológicas a Escola

Itinerante de Formação Zé Porfírio, desenvolveu uma oficina com os assentados para a

construção de uma UD – unidade demonstrativa da fossa de evapotranspiração, (ver quadros de

Gráfico. 1 – Resultado do diagnóstico de saneamento básico rural, aplicado em 10 assentamentos para 120 famílias. Fonte. COOPERAR/INCRA – SR28. ATER/ATES – Assessoria Técnica Social e Ambiental. 2012.

 [PORCENTAGEM]  

 [PORCENTAGEM]  

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 [PORCENTAGEM]    

[PORCENTAGEM]  

Destinação de esgoto domestico nos assentamento de reforma agrária de Flores de Goiás - GO

Numero  de  assentamento  visitado    

Familias  diagnos8cada    

U8lizam  fossa  negra    

U8lizam  fossa  sep8ca    

Esgoto  a  céu  aberto    

Tratamento  ecologico  

Outros    

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fotos: 1 ,2, 3,4.), construída no Assentamento Bom Sucesso, Sitio Mamangava em Flores de

Goiás - GO, para uma família de dois adultos e uma criança, sendo utilizada esporadicamente

por mais pessoas em cursos e oficinas de agroecologia que são oferecidos no lote.

Sabe-se que o plano nacional de saneamento básico no programa destinado a zona rural é

claro ao dizer que alternativas devem ser desenvolvidas de forma distinta das convencionais que

são utilizadas nas zonas urbanas;

“o programa visará atender, por ações de saneamento básico, a

população rural e as comunidades tradicionais, como as indígenas e

quilombolas e as reservas extrativistas. Suas justificativas são o

significativo passivo que o País acumula no saneamento para as áreas

objeto do Programa e as especificidades desses territórios, que requerem

abordagem própria e distinta da convencionalmente adotada nas áreas

urbanas, tanto na dimensão tecnológica, quanto na da gestão e da

relação com as comunidades (PLANAB, 2013).

Figura. 1. Modelo do corte em perspectiva da Fossa de evapotranspiração.  

 

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Desta forma buscando soluções endógenas, foi desenvolvida uma UD de tratamento de

esgoto doméstico fossa de evapotranspiração, realizada no dia 26 de março de 2014, desde então

um monitoramento está sendo realizado para análise de viabilidade econômica e ambiental,

avaliando manutenção, custos, produção e desenvolvimento de alimentos. Utilizando o reuso da

água e o esgoto doméstico como matéria prima para manutenção das espécies vegetais plantadas

em cima da fossa de evapotranspiração, produzindo alimentos saudáveis livres de agrotóxicos

nos quintais produtivos e contribuindo para eliminar passivos ambientais e patogênese que

comprometem a saúde humana.

O tratamento do esgoto doméstico realizado pela fossa de evapotranspiração possui;

“o potencial de utilização das águas negras para dar suporte ao

crescimento de plantas, com diversos fins. A reciclagem de nutrientes,

através do reaproveitamento das excretas, previne a contaminação

direta causada pela descarga de águas negras nos mananciais e demais

ecossistemas” (GALBIATI: 2009, pg 16).

Desta maneira evitando a contaminação e reestruturando o solo com matéria orgânica

assim “os nutrientes ao solo e às plantas, reduzindo-se com isso a necessidade de fertilizantes

industriais (ESREY et al., 1998).

O Saneamento Ecológico tem como enfoque principal o aumento da disponibilidade

hídrica pela economia de água, a proteção dos recursos hídricos pelo não lançamento de esgoto -

tratado ou não - nos cursos de água, possibilitando a reutilização racional de todos os nutrientes

presentes nas excretas (WINBLAD & SIMPSON-HÉRBERT, 2004).

A agroecologia emerge como um elo entre as tecnologias menos agressivas e soluções

simples de baixo custo, a partir do momento que ela passa a ser compreendida e conhecida entre

os trabalhadores do campo, não somente como matriz produtiva agrícola, para a produção de

alimentos saudáveis livres de agrotóxicos, mas em sua toda totalidade harmonizando e ciclando

todos os nutrientes do agroecossistema contrapondo os modelos convencionais do capital.

Acreditando em um processo de evolução dos saberes populares, técnicas e tecnologias

que atendam as demandas do homem e natureza que interaja com o agroecossistema, assim a

agroecologia emerge com matriz produtiva (entende-se aqui produção de alimentos, produção

cultural, tecnológica, saberes populares e científicos e identitário), contrapondo o processo

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erosivo do capitalismo, que não respeita as relações humanas, homem/homem, homem/natureza,

natureza/tecnologia e homem/tecnologias (populares e cientificas), sabendo que:

“o patrimônio mais importante de um pais é a sua população. Se este se

mantem saudável e com vigor, tudo o mais virá por si só; se permitem –

na cair em decadência, nada nem mesmo as maiores riqueza, pode

salvar o país do futuro ruim, já que o mais forte e solido suporte do

capital deve sempre ser uma população rural satisfeita” (HOWARD:

2012, p, 35).

“As inovações tecnológicas não se tornaram disponíveis aos agricultores pequenos ou

pobres em recursos em termos favoráveis, nem se adequaram às suas condições agroecológicas e

socioeconômicas” (ALTIERI, 2014).

Assim a EIF – Zé Porfírio através da UD – de fossa de evapotranspiração buscou juntos

aos assentados e assentadas desenvolver alternativas que venham sanar problemas comuns entre

as famílias que é a destinação eficaz dos dejetos humanos, (esgoto domestico), evitando a

contaminação do solo, água, e dos seres humanos, contribuindo com a qualidade de vida da

população rural e o desenvolvimento rural sustentável.

Conclusão

A UD – Fossa de Evapotranspiração apresenta-se é uma alternativa viável e importante para o tratamento de esgotos domestico rurais, podendo ser aplicado tanto em pequenos quintais, quanto em áreas maiores.

O uso da fossa de evapotranspiração nos assentamentos e acampamentos de reforma agrária para tratamento local de águas negras pode evitar a contaminação dos ser humano por patogênese, diminuir a carga poluidora lançada no solo, rios e córregos pelo tratamento parcial de esgotos rural.

A fossa de evapotranspiração pode substituir as fossas sépticas, e fossa negra das residenciais rurais, com vantagens ambientais e econômicas.

É necessário atenção aos cuidados sanitários adicionais na manutenção do fossa de evapotranspiração, em relação a manipulação de partes das plantas que tenham contato com o solo do interior, que pode conter alto índice de coliformes.

Os frutos e folhas comestíveis produzidos na fossa de evapotranspiração podem ser consumidos por humanos, após sua correta higienização.

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A fossa de evapotranspiração ajuda a integrar o agroecossistema compondo o paisagismo dos quintais, escolhendo-se espécies de plantas com potencial ornamental e frutíferas.

O dimensionamento adotado para uma família média de ( 4 a 5 pessoas) pode ser de 10 a 12 m³, considerando-se que haverá uma destinação adequada para os eventuais efluentes finais, e dependendo das características climáticas (precipitação) deve-se acrescentar um excesso de 20%.

As técnicas construtivas podem variar de acordo com os recursos disponíveis, devendo sempre garantir a completa impermeabilização do tanque buscando utilizar o máximo de insumos externos. A viabilidade econômica é muito grande devido ao baixo custo de implantação.

Deve-se ter um cuidado com os períodos de maior de precipitação, para evitar o transbordamento da fossa de evapotranspiração, pois nota-se que nos meses em que não ocorreu precipitação da chuva, dezembro com a ocorrência de 245 mm de precipitação concentrada no período de 17 dias (é realizada a medição diária) ocorreu uma sobrecarga, não ocorrendo transbordamento, mas são necessários ao calcular a carga máxima de fossa.

As pesquisas informais realizadas por agroecólogos, permacultores, agricultores e ambientalistas que desenvolvem alternativas de tratamento sanitário rural devem ser consideradas no desenvolvimento de novas pesquisas acadêmicas, aproveitando o conhecimento acumulado na prática, além dos conhecimentos acadêmicos já produzidos.

Anexos:

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Quadro de foto 1. Escavação e cobertura da fossa (buraco) com lona e pneus, (câmara anaeróbica). Foto: Tatiana M. de castro Agostinho. Março, 2014.

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Quadro de foto 2. Instalação das tubulações. Foto: Tatiana M. Castro Agostinho. Março, 2014.

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Referencial teórico.

ALTIERI, Miguel. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável / Miguel Altieri. – 4.ed. – Porto Alegre : Editora da UFRGS, 2004.

Quadro. 3 Fossa de evapotranspiração em sua fase de construção de conclusão e em uso. Fotos: Tatiana M. Castro Agostinho. Março, 2014/ Wesley Júnio de Andrade. Janeiro, 2015.  

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BARROSO. Luiz Roberto. REDAE – Revista Eletrônica de Direito Administrativo Econômico. Nº 11 – agosto/setembro/outubro – 2007 – Salvador – Bahia – Brasil – ISSN – 1981 – 1961. COOPERAR – Cooperativa de Trabalho em Assessoria à empresas Sociais de Assentamentos de Reforma Agrária   /INCRA – SR28. ATER/ATES – Assessoria Técnica Social e Ambiental. 2012. ESREY SA, GOUGH J, RAPAPORT D, SAWYER R, SIMPSON-HÉBERT M, VARGAS J & WINBLAD U (1998) Saneamiento Ecológico, tr. da edicão em inglês Ecological Sanitation. Agencia Sueca de Cooperación para el desarrollo Internacional - SIDA, Estocolmo. FUNASA – Fundação nacional d saúde 10º ed. Dezembro 2011.

http://www.funasa.gov.br/site/wp-content/files_mf/blt_san_rural.pdf acesso em 21/01/2014.

GALBIATI. Adriana Farina.G148t Tratamento domiciliar de águas negras através de tanque de

evapotranspiração / Adriana Farina Galbiati. – Campo Grande, MS, 2009.38 f. ; 30 cm.

HOWARD, Albert. Um testamento agrícola / Sir Albert Howard; tradução Prof. Eli Lino de

Jesus. 2º ed. São Paulo: Expressão Popular. 2012. 360 p.

INCRA. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - Superintendência regional SR –

28. 2014.

MINISTÉRIO DA SAÚDE (1999) Manual de Saneamento. Fundação Nacional da Saúde,

Brasília.

SECRETARIA DE AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE. Prefeitura municipal de Flores de Goiás. 2015.

SIWI (2005) UN Millennium Project Task Force on Water and Sanitation Final Report.

Health,Dignity, and Development: What Will It Take? Key Recommendations. Final

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WINBLAD U & SIMPSON-HÉBERT M (2004) Ecological Sanitation - revised and nlarged edition. Stockholm Environment Institute - SEI, Stockholm.