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PEREIRA; SILVA & DIAS (2017) A REFORMA DO ENSINO MÉDIO (LEI 13.415/2017) E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NATAL, RN – 24 A 27 DE JULHO DE 2017 – CAMPUS NATAL CENTRAL IFRN 1 INTEGRAÇÃO NO ENSINO PROFISSIONAL: A MATEMÁTICA EM ATIVIDADE COM O CONHECIMENTO BIOLÓGICO André Luís Gonçalves Pereira; Maria Carolina Bello Cavalcanti da Silva; Claudia de Holanda Barros Dias RESUMO Esse artigo consiste em um relato de experiência que visa interligar conteúdos matemáticos e biológicos e propor uma unidade entre o intelectual e o manual, entrelaçado pelas práticas politécnicas desenvolvidas no campus Santo Antônio de Pádua do Instituto Federal Fluminense. Destacandose a transposição do conteúdo bidimensional e apático dos livros didáticos em um produto final tridimensional e lúdico. Partindo da construção de uma pirâmide ecológica de energia como uma prática estrutural, objetivouse o empoderamento de conceitos biológicos que transcendem os livros didáticos. A concretização do ato de construir um produto final, como pirâmides ecológicas, reforça o objetivo do trabalho como processo educativo. Trabalho, este, entendido como atitude ontológica de transformação do ambiente onde vivemos. PALAVRASCHAVE: integração curricular, lúdico, pirâmides ecológicas, politecnia. Integration in Professional Education: Mathematics in activity with biological knowledge ABSTRACT This paper consists of an experience report that aims to interconnect mathematical and biological contents and propose a unity between the intellectual and the manual, intertwined by the polytechnic practices developed in the Santo Antônio de Pádua campus of the Federal Fluminense Institute. We emphasize the transposition of the twodimensional and apathetic content of textbooks into a threedimensional and playful final product. Starting from the construction of an ecological pyramid of energy as a structural practice, the objective was the empowerment of biological concepts that transcend textbooks. The realization of the act of constructing a final product, such as ecological pyramids, reinforces the goal of work as an educational process. Work, this, understood as ontological attitude of transformation of the environment where we live. KEYWORDS: Curricular integration, ludic, ecological pyramids, polytechnic.

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PEREIRA;  SILVA  &  DIAS  (2017)    

   

A  REFORMA  DO  ENSINO  MÉDIO  (LEI  13.415/2017)  E  SUAS  IMPLICAÇÕES  PARA  A  EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  NATAL,  RN  –  24  A  27  DE  JULHO  DE  2017  –  CAMPUS  NATAL  CENTRAL  -­‐  IFRN  

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INTEGRAÇÃO  NO  ENSINO  PROFISSIONAL:  A  MATEMÁTICA  EM  ATIVIDADE  COM  O  CONHECIMENTO  BIOLÓGICO  

 

André Luís Gonçalves Pereira; Maria Carolina Bello Cavalcanti da Silva;

Claudia de Holanda Barros Dias

 

 RESUMOEsse   artigo   consiste   em   um   relato   de   experiência   que  visa   interligar   conteúdos   matemáticos   e   biológicos   e  propor   uma   unidade   entre   o   intelectual   e   o   manual,  entrelaçado  pelas  práticas  politécnicas  desenvolvidas  no  campus   Santo   Antônio   de   Pádua   do   Instituto   Federal  Fluminense.  Destacando-­‐se  a  transposição  do  conteúdo  bidimensional   e   apático   dos   livros   didáticos   em   um  produto   final   tridimensional   e   lúdico.   Partindo   da  

construção  de  uma  pirâmide  ecológica  de  energia  como  uma  prática   estrutural,   objetivou-­‐se   o   empoderamento  de   conceitos   biológicos   que   transcendem   os   livros  didáticos.   A   concretização   do   ato   de   construir   um  produto   final,   como   pirâmides   ecológicas,   reforça   o  objetivo   do   trabalho   como   processo   educativo.  Trabalho,   este,   entendido   como   atitude   ontológica   de  transformação  do  ambiente  onde  vivemos.  

PALAVRAS-­‐CHAVE:  integração  curricular,  lúdico,  pirâmides  ecológicas,  politecnia.  

 Integration  in  Professional  Education:  Mathematics  in  activity  with  biological  

knowledge    

ABSTRACTThis  paper  consists  of  an  experience  report  that  aims  to  interconnect  mathematical   and   biological   contents   and  propose   a   unity   between   the   intellectual   and   the  manual,   intertwined   by   the   polytechnic   practices  developed  in  the  Santo  Antônio  de  Pádua  campus  of  the  Federal   Fluminense   Institute.   We   emphasize   the  transposition   of   the   two-­‐dimensional   and   apathetic  content   of   textbooks   into   a   three-­‐dimensional   and  

playful   final   product.   Starting   from   the   construction   of  an  ecological  pyramid  of  energy  as  a  structural  practice,  the   objective   was   the   empowerment   of   biological  concepts   that   transcend   textbooks.   The   realization   of  the  act  of  constructing  a  final  product,  such  as  ecological  pyramids,  reinforces  the  goal  of  work  as  an  educational  process.  Work,   this,   understood   as   ontological   attitude  of  transformation  of  the  environment  where  we  live.  

KEYWORDS:  Curricular  integration,  ludic,  ecological  pyramids,  polytechnic.  

   

PEREIRA;  SILVA  &  DIAS  (2017)    

   

A  REFORMA  DO  ENSINO  MÉDIO  (LEI  13.415/2017)  E  SUAS  IMPLICAÇÕES  PARA  A  EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  NATAL,  RN  –  24  A  27  DE  JULHO  DE  2017  –  CAMPUS  NATAL  CENTRAL  -­‐  IFRN  

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1 INTRODUÇÃO  

  A  atividade  proposta  nesse  artigo  foi  desenvolvida  por  alunos  da  1ª  série  do  Ensino  Médio  Integrado  ao  Ensino  Técnico  do   Instituto  Federal   Fluminense  campus  Santo  Antônio  de  Pádua  e  supervisionado   pelo   Pedagogo,   professores   de   Biologia   e   Matemática.   A   integração   da  Matemática   com   a   Ecologia   é   direcionada   para   o   ensino-­‐aprendizagem   como   ferramenta  interventora  no  ambiente  e  não  meramente  um  sistema  de  cálculos.    

  Na   perspectiva   de   integrar   conhecimentos   biológicos   e   matemáticos   na   educação  profissional   o   trabalho   descrito   nesse   relato   foi   fundamentado   na   ludicidade   inspirada   em  concepções  politécnicas.  

  A   comunidade   escolar   do   campus   Santo   Antônio   de   Pádua   vem   buscando   novas  metodologias  de  ensino  com  o  intuito  de  despertar  o  interesse  e  a  atenção  dos  alunos,  bem  como  sua  participação  ativa,  tornando  as  aulas  dinâmicas  e  propícias  para  a  aprendizagem.  Tendo  isso  em  vista,  o  objetivo  deste  trabalho  é  desmistificar  a  ideia  de  que  só  e  possível  experimentar  novas  práticas   em   uma   aula   de   biologia   (ecologia)   e  matemática   (geometria)   com  materiais   didáticos  complexos   e   caros,   demostrando   que   não   é   necessário   alto   custo   para   que   os   estudantes   se  envolvam  na  aula,  facilitando  o  processo  de  ensino  e  aprendizagem.  

  Desde   do   século   XIX,   as   Ciências   da   Natureza   vem   sofrendo   perdas   pedagógicas   pela  adoção   de   modelos   educacionais   criados   nas   eras   pós-­‐Revolução   Industrial   e   suas   linhas   de  montagem   introspectivas.   Esses   modelos   refletem   a   fragmentação   do   conhecimento   em  disciplinas   isoladas  e  desconexas,   tornando  mais  difícil  o  entendimento  dos   fenômenos   reais  da  natureza;  e  a  concepção  de  um  sistema  dual  de  aprendizagem,  onde  a  teoria  e  prática  estariam  separados,  culminando  na  distinção  entre  o  saber  (intelectual)  e  fazer  (manual).      

  A   prática   pedagógica   aplicada   nesse   trabalho,   visa   interligar   conteúdos   matemáticos   e  biológicos,   e   propor   uma   unidade   entre   o   intelectual   e   o   manual.   Além   disso,   destaca-­‐se   o  transpor   do   conteúdo   bidimensional   e   apático   dos   livros   didáticos   em   um   produto   final  tridimensional  e  lúdico.    

2  REVISÃO  BIBLIOGRÁFICA  

  As  práticas  pedagógicas  devem  atuar  nos  componentes  internos  da  aprendizagem,  já  que  estes  não  podem  ser  ignorados  quando  o  objetivo  é  a  apropriação  de  conhecimentos  por  parte  do  aluno   e   não  mais   propostas   baseadas   na   reprodução   do   conteúdo   contido   nos   livros   didáticos  (DIAS   et   al.,   2009).   Nesse   caminho,   a   construção   do   conhecimento   deve   ser   encarado   pelos  docentes  como  uma  nova  compreensão  do  seu  fazer-­‐profissional  (GUSTONE,  1992).    

  No  que  tange  o  ensino  de  Ciência,  os  Parâmetros  Curriculares  de  Ciências  Naturais  (BRASIL,  2000)  recomendam  que  é  necessário  a  construção  de  uma  estrutura  que  favoreça  a  aprendizagem  significativa   do   conhecimento   e   a   formação   de   uma   concepção   de   Ciências   enfatizando   suas  relações  com  as  tecnologias  e  com  a  sociedade.    

PEREIRA;  SILVA  &  DIAS  (2017)    

   

A  REFORMA  DO  ENSINO  MÉDIO  (LEI  13.415/2017)  E  SUAS  IMPLICAÇÕES  PARA  A  EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  NATAL,  RN  –  24  A  27  DE  JULHO  DE  2017  –  CAMPUS  NATAL  CENTRAL  -­‐  IFRN  

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  A   integração   dos   conteúdos   de   Biologia   e   Matemática,   na   perspectiva   de   um   currículo  integrado,   faz-­‐se   através   do   envolvimento   dos   docentes   e   discentes   nas   questões   de   ensino-­‐aprendizagem  da  comunidade  escolar  de  forma  ativa,  objetivando  a  superação  disciplinar  imposta  pela  fragmentação  do  conhecimento  (SILVA,  2012).    

  A   integração   desses   conhecimentos   é   fundamentado   na   proposição   da   unidade   escolar  como   caráter   dialético   da   realidade   social.     Essa   perspectiva   é   reiterada   por   Frigotto   (1992),  preconizando  que  mesmo  quando  um  objeto  é  delimitado,  não  se  pode  dissociar  da  totalidade  de  que  faz  parte  indissociável.  Frigotto  e  colaboradores  (2005)  acrescentam:    

Seu   horizonte   deveria   ser   o   de   propiciar   aos   alunos   o   domínio   dos   fundamentos   das  técnicas  diversificadas  utilizadas  na  produção  e  não  no  mero  adestramento  em   técnicas  produtivas.   Não   se   deveria,   então,   propor   que   o   ensino   médio   formasse   técnicos  especializados,  mas  sim  politécnicos.  

  Segundo   Luckesi   (2000),   as   atividades   pedagógicas   manuais   traz   uma   riqueza   de  possibilidades   de   relacionamentos   entre   as   componentes   curriculares,   a   socialização   e   troca   de  experiências,  de  conhecimento  do  outro  e  respeito  às  diferenças,  de  desejos  e  visões  do  mundo,  de   reflexões   sobre   as   ações.   Esses   elementos   são   essenciais   para   a   construção   de   uma   relação  plural  entre  docentes  e  discentes,  condições  básicas  para  a  existência  de  uma  prática  educativa  de  descoberta   e   apropriação  do   “mundo  dos   saberes   e  dos   fazeres”.  No  mesmo  viés,   proponha-­‐se  que  a  educação  e  o  trabalho  devem  ser  práticas  relacionadas,  na  medida  em  que  o  ser  humano  transforma   a   matéria   natural   em   produto,   contrapondo   o   modo   excludente   de   educação   e  trabalho  que  aponta  para  o  caráter  improdutivo  da  educação  (SAVIANI,  1994).    

  É   importante   notar   que   essa   proposta   alinha-­‐se   com   o   estabelecido   na   Pedagogia   da  Libertação:  “A  prática  docente  crítica,  implicante  do  pensar  certo,  envolve  o  movimento  dinâmico,  dialético,  entre  o  fazer  e  o  pensar  sobre  o  fazer.”  (FREIRE,  1996).    

  As   atividades   lúdicas   são   entendidas   como   um   dos   caminhos   para   a   construção   do  conhecimento,  principalmente,  quando  a  atividade  é  desenvolvida  pelo  próprio  aluno,   levando  a  indissociabilidade  de  atividade  manual  e   intelectual  e,  por   fim,   facilitando  o  processo  de  ensino-­‐aprendizagem.  O  lúdico  possui  papel  de  motivação  e  desenvolvimento  do  aluno,  além  de  ser  uma  estratégia  salutar  quando  utilizada  como  estímulo  de  ressignificação  à  imaginação  e  o  simbolismo  (TEIXEIRA,  1995).  

  Teixeira   (1995)   acrescenta   razões   para   as   práticas   pedagógicas   baseadas   e   construções  lúdicas.  Dentre   essas,   destacam-­‐se   a   satisfação   e   esforço   do   trabalho  manual,   intrínseco   ao   ser  humano,  além  do  desenvolvimento  cognitivo  por  estímulo  do  pensamento  e  o  senso  crítico.  

  Em  muitas  áreas  do  conhecimento  observamos  uma  lacuna  entre  o  saber-­‐fazer,  a  mesma  questão  tem  sido  colocada  no  ensino  da  Biologia  no  Ensino  Médio  (EL-­‐HANI  e  GRECA,2011).  Esta  compreensão   é   válida   quando   busca-­‐se   os   processos   de   ensino   e   aprendizagem  em  Ecologia,   o  qual  pode  parecer  usual,  lógico  e  concreto.  No  entanto,  alguns  conteúdos  relacionados  à  Ecologia  mostra-­‐se  como  abstrato  e  de  difícil  aprendizagem,  como,  por  exemplo,  o  estudo  de  transferência  de   energia   em   comunidades   ecológicas   e   sua   representação   gráfica   por   pirâmides   ecológicas.  

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A  REFORMA  DO  ENSINO  MÉDIO  (LEI  13.415/2017)  E  SUAS  IMPLICAÇÕES  PARA  A  EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  NATAL,  RN  –  24  A  27  DE  JULHO  DE  2017  –  CAMPUS  NATAL  CENTRAL  -­‐  IFRN  

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  Usualmente  o  estudo  desses   conteúdos   são  utilizados,   como  grande   referência,   os   livros  didáticos,   que   trazem   uma   linha   metodológica   de   aulas   expositivas   com   textos,   explicações   e  questionários.  Porém,  a   subjetividade  nas  ações  e   reflexões  no   contexto  da  diversidade  cultural  presente  na  sala  de  aula  possibilita  a  criação  de  um  ambiente  favorável  à  introdução  do  lúdico  na  construção  do  conhecimento  (MOREIRA,  1999).  

3  METODOLOGIA  

  A  prática   foi  desenvolvida  após  aulas  teóricas  sobre  o   fluxo  de  energia  nos  ecossistemas.    Os  cem  alunos  matriculados  na  1ª  série  do  Ensino  Médio  Integrado  ao  Ensino  Técnico  do  Instituto  Federal   Fluminense   campus  Santo  Antônio  de  Pádua   foram  divididos   em  vinte   grupos  distintos,  que  tiveram  liberdade  de  escolhas  quanto  à  cadeia  alimentar,  os  tipos  de  materiais  utilizados  e  os  modelos  geométricos  para  desenvolver  o  modelo  tridimensional.  

  A   fim   de   melhor   demonstrar   a   dinâmica   utilizada   pelos   alunos   para   a   construção   do  produto   final,   segue   uma   breve   explanação   dos   princípios   ecológicos   que   deram   suporte   a  transposição  dos  saberes  teóricos  para  a  prática  manual  (RICKLESFES,  2003).  

  A  energia  (Kcal)  em  um  ecossistema  flui  de  modo  unidirecional  na  cadeia  alimentar,  onde  os   vegetais   produzem   energia,   através   da   fotossíntese,   e   é   transferida   para   o   herbívoro   e  posteriormente  aos  carnívoros  pela  alimentação.    

  Os  vegetais  perdem  10%  da  energia  oriunda  da  fotossíntese  através  do  seu  metabolismo.  Quando  os  animais  herbívoros  (consumidores  primários)  alimentam-­‐se  dos  vegetais,  cerca  de  90%  da   energia   é   perdida   pelas   fezes   e   15%   através   do   seu   metabolismo.   Dessa   forma,   quando   o  carnívoro  (consumidor  secundário)  alimenta-­‐se  do  herbívoro,  50%  da  energia  adquirida  é  perdida  nas  fezes  e,  adicionalmente,  15  %  é  perdido  pelo  seu  metabolismo.  E  assim,  a  energia  presente  em  cada   nível   alimentar   diminui   enquanto   a   cadeia   se   alonga.   Os   subtópicos   que   seguem   a  METODOLOGIA,  representa  um  exemplo  de  construção  de  uma  pirâmide  ecológica  de  energia.

  3.1  A  escolha  de  uma  cadeia  alimentar

  A  cadeia  alimentar  é  uma  representação  gráfica,  onde  o  ser  vivo  descrito  na  esquerda  (1º  nível  trófico)  servirá  de  alimento  para  o  indivíduo  da  direita  (2º  nível  trófico)  e  sucessivamente.  No  ato  da  alimentação  serão  transferidos,  para  o  próximo  nível  trófico,  massa  e  energia.  Nessa  prática  foi  aprofundada  a  transferência  de  energia.

  Para  a  confecção  da  representação  piramidal  da  transferência  de  energia  entre  os  níveis  tróficos  foi  tomado  como  exemplo  a  seguinte  cadeia  alimentar  representada  na  Figura  1.      

  Os  alunos  puderam  escolher  cadeias  alimentares  baseados  no  seu  dia  a  dia,  sempre  tendo  como  parâmetro  alguma  espécie  fotossintetizante  no  início  de  cada  cadeia  alimentar,  garantindo  a  transformação  da  energia  luminosa  oriunda  do  sol  em  energia  química.  

                       Capim                                                    Gafanhoto                                                            Sapo                                                                Cobra

 

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Figura  1:  Representação  de  uma  possível  cadeia  alimentar.  As  setas  direcionam  o  sentido  da  cadeia  alimentar.  Fonte:  https://goo.gl/YTHVyA.  

  3.2    Aritmética  e  geometria  plana  integradas  com  o  conhecimento  biológico

  A   primeira   atividade   prática   que   os   grupos   desenvolveram   foi   o   cálculo   da   área   total,  através   de   geometria   plana,   de   um   pasto   e   sua   relação   com   a   produção   de   energia   química  fotossintética  produzida.  Dessa   forma,   suponhamos  que  a   cada  m2  de  plantação   será  produzido  8.000   Kcal/ano   de   energia.   Atrelado   as   informações   anteriores,   várias   plantas   topográficas   com  cultivo   de   capim   foram   disponibilizadas   aos   alunos   (Figura   2),   que   por   sua   vez,   tiveram   que  calcular  a  área  total  de  cultivo  da  gramínea.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura  2:  Exemplo  de  planta  topográfica  disponibilizada  para  um  grupo  de  alunos.  Todos  os  ângulos  da  planta  topográfica  são  retos.

        O  cálculo,  por  geometria  plana,  demonstrou  que  a  área  acima  possui  100  m2,  o  que  nos  dá  a  energia  presente  seria  de  800.000  Kcal/ano,  valor  esse  denominado  Produtividade  Primária  Bruta  (PPB).  Porém,  o  capim  perde  10%  dessa  energia  através  do  seu  metabolismo  o  que  configura  a  Produtividade  Primária  Líquida  (PPL)  gerando  um  valor  de  720.000  Kcal/ano.

  O   PPL   será   a   quantidade   de   energia   disponível   do   capim   para   o   próximo   nível   trófico.  Quando  o  gafanhoto  se  alimenta  do  capim,  90%  da  energia  é  perdida  nas  fezes  e  15%  adicionais  são   utilizados   pelo   metabolismo   do   gafanhoto,   então,   somente   61.200   Kcal/ano   estarão  disponíveis   para   o   próximo   nível   trófico,   esse   número   representa   a   Produtividade   Secundária  Líquida  (PSL).

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  Quando  o  sapo  se  alimenta  do  gafanhoto  50%  do  PSL  será  perdido  na  forma  de  fezes  e  15%  adicionais  gastos  com  o  seu  próprio  metabolismo,  resultando  em  uma  Produtividade  Terciária  Líquida  (PTL)  de  26.000  Kcal/ano  que  está  disponível  para  o  último  nível  trófico.

  Ao  se  alimentar  do  PTL  disponível,  a  cobra  elimina  50%  dessa  energia  na  forma  de  fezes  e  15%  adicionais  com  seu  metabolismo.  A  energia  de  11.000  Kcal/ano  restantes  configura  o  Produto  Quaternário  Líquido  (PQL).

  3.3   Geometria   espacial   integrado   com   os   conhecimentos   biológicos   para   a     construção  da  pirâmide  de  energia  tridimensional

  A  primeira  observação  desse  passo  é  a  escolha  das  figuras  geométricas  que  compõe  cada  nível  da  pirâmide  de  energia.  Assim,  pode-­‐se  optar  por  uma  pirâmide  de  energia  representada  por  triângulos,  paralelepípedos,  cubos  ou  cilindros.  No  exemplo  demostrado  a  representação  será  por  paralelepípedos.

  O  paralelepípedo  da  base  da  pirâmide  representará  o  PPL  do  capim  e  seu  volume  (V)  será  estabelecido  pelo  produto  do  tamanho  do  lado  (L),  altura  (H)  e  comprimento  (C),  temos  a  fórmula:  V   =   L   x  H   x   C,   em  que   o   volume  da   base   da   pirâmide   de   12.500   cm3   foi   definido   previamente.  Então,  o  volume  de  12.500  cm3  representa  720.000  Kcal/ano  de  PPL.

  O  volume  utilizado  para  o  próximo  nível   trófico,   correspondente  ao  degrau  seguinte  da  pirâmide  de  energia,  é  calculado  por  regra  de  três.  Se,  720.000  Kcal/ano  de  PPL  equivale  12.500  cm3  de  volume,  então  61.200  Kcal/ano  de  PSL  equivale  a  um  volume  de  1.062,5  cm3.  Mantendo  o  tamanho  do  lado  de  50  cm  e  o  tamanho  de  5  cm  de  altura  e  aplicando  a  fórmula  de  volume  temos  um  comprimento  de  4,2  cm  para  o  segundo  paralelepípedo.  Esse  direcionamento  é  utilizado  para  calcular  os  volumes  e  comprimentos  do  terceiro  e  quarto  paralelepípedos,  utilizando  a  quantidade  de  energia,  em  Kcal/ano  de  PTL  e  o  PQL,  respectivamente.

  3.4  A  integração  do  intelectual  e  o  manual

  A   construção   de   um   modelo   tridimensional   de   uma   pirâmide   ecológica   de   energia  permite  a  aprendizagem  de  conceitos  biológicos  que  não  são  expostos  nos  livros  didáticos,  como  a  proporção  de  transferência  de  energia  entre  os  níveis  tróficos.  

  Os   alunos   escolheram   de   forma   autônoma   os   materiais   e   figuras   geométricas   para   a  construção  da  pirâmide.  Foram  utilizados  materiais  como   latas  de  refrigerante,  arames  soldados  entre  si,  isopores,  caixas  de  papelão,  bolos  comestíveis,  concreto,  tijolos  entre  outros;  triângulos,  paralelepípedos,   cilindros,   esferas   como   escolhas   das   formas   geométricas.     A   utilização   de  materiais   alternativos   para   a   elaboração   desse   produto,   reforça   o   compromisso   do   cidadão   em  reavaliar  o  uso  de  refugo  do  nosso  dia  a  dia,  através  dos  materiais  recicláveis  que  foram  utilizados  para  a  edificação  das  pirâmides  ecológicas.  

  A  coesão  entre  o  manual  e  o  intelectual  concretiza-­‐se,  também,  na  escolha  dos  métodos  de  construção,  bem  como  no  uso  dos  instrumentos  de  aferição.  Por  exemplo,  foram  estudados  e  executados   diferentes   proporções   de   cimento:areia:brita   para   o   concreto   utilizado   em  uma  das  

PEREIRA;  SILVA  &  DIAS  (2017)    

   

A  REFORMA  DO  ENSINO  MÉDIO  (LEI  13.415/2017)  E  SUAS  IMPLICAÇÕES  PARA  A  EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  NATAL,  RN  –  24  A  27  DE  JULHO  DE  2017  –  CAMPUS  NATAL  CENTRAL  -­‐  IFRN  

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pirâmides,   o   uso   de   desenho   técnico   para   a   produção   de   plantas   ortogonais   das   pirâmides   e  aferições  com  paquímetros,  réguas  e  esquadros.    

4.  RESULTADOS  E  DISCUSSÕES  

    A  priori,  os  conceitos  de  Ecologia,  Cadeia  Trófica  e  Pirâmides  Ecológicas  foram  transmitidos  oralmente  durante  quatro  horas  de  aulas  de  Biologia,  e  então  uma  atividade  escrita  foi  aplicada.  Foram   feitas   perguntas   conceituais,   sendo   os   resultados   dessa   atividade   pouco   satisfatórios.   A  partir   da   apresentação   do   projeto   de   construção   das   pirâmides   de   energia,   percebeu-­‐se   uma  mudança   positiva   de   postura   dos   alunos   quanto   à   aquisição   dos   conhecimentos   ecológicos,  provavelmente,  devido  a  interação  com  a  prática  manual.    

    A  prática  pedagógica   foi   realizada  com  cem  alunos  divididos  em  vinte  grupos,   resultando  em  vinte  tipos  de  pirâmides  ecológicas  de  energia  diferentes  quanto  a  escolha  de  cadeias  tróficas,  materiais  e  figuras  geométricas  (Figuras  3  e  4).  

 

 

 

 

 

Figura  3:  Modelo  de  Pirâmide  de  Energia  utilizando  cartolina  como  material.  

 

Figura  4:  Modelo  de  Pirâmide  de  Energia  utilizando  tijolos  como  material.  

    À   medida   que   os   passos   metodológicos,   descritos   acima,   foram   apresentados   e  executados,  o  professor  de  matemática  acompanhou  o  desenrolar  dos  cálculos  geométricos  e  as  expressões  algébricas  que  seguiram.  Dessa  forma,  os  alunos  puderam  eximir  dúvidas  recorrentes  sobre  os  conteúdos  matemáticos.  

No   passo   referente   à   escolha   dos  materiais   e  montagem   das   pirâmides,   o   professor   de  Edificações  auxiliou  os  alunos  quanto  aos  diferentes  tipos  de  materiais  utilizáveis,  a  produção  de  plantas   arquitetônicas   ortogonais,   bem   como   a   aferição   de   medidas   dos   sólidos   utilizados   na  montagem  das  pirâmides.  

PEREIRA;  SILVA  &  DIAS  (2017)    

   

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    No   dia   da   apresentação   das   pirâmides   ecológicas,   os   grupos   se   concentraram   em   locais  definidos  do  campus.    Os  alunos  do  2º  ano  do  Curso  Técnico  em  Edificações  Integrado  ao  Ensino  Médio  utilizaram  um  parecer   técnico   (Anexo  1)  para  avaliar   as  pirâmides  ecológicas  quanto  aos  cálculos  e  materiais  utilizados  (Figura  5)  e  os  docentes  das  áreas  de  Matemática  e  Biologia  fizeram  perguntas   sobre   os   conceitos,   materiais   e   métodos   representados   na   estrutura   para   avaliar   a  aquisição   dos   conhecimentos,   expressão   oral   e   o   trabalho   colaborativo   (Anexo   2).   As   respostas  demonstraram   um   ganho   significativo   de   conhecimento   dos   alunos   após   a   prática   pedagógica  realizada.

 

   

 

 

 

 

Figura  6:  Alunos  da  2ª  série  do  curso  técnico  em  Edificações  avaliando  as  produções  dos  grupos  participantes.  

    Na   finalização   da   edificação   das   pirâmides   ecológicas,   os   alunos   lançaram   mão   dos  conteúdos   da   disciplina   de   Língua   Portuguesa   no   desenvolvido   de   texto   instrucional   durante   a  produção  de  um  manual  para  o  desenvolvimento  da  prática  (Figura  6).  Além  de  agregar  a  Língua  Portuguesa   na   integração   com   os   conteúdos   da   área   das   Ciências   da   Natureza,   o   manual  desenvolvido  poderá  ser  utilizado  a  fim  de  reproduzir  seus  passos  metodológicos  e  construir  uma  pirâmide  ecológica  de  energia.

     

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura  6:  Exemplos  de  manuais  que  relatam  passo  a  passo  a  construção  das  Pirâmides  Ecológicas.

5.  CONCLUSÃO

PEREIRA;  SILVA  &  DIAS  (2017)    

   

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A  metodologia  apresentada  nesse  artigo  propõe  uma  possibilidade  de  ressignificação  que  o   aluno   construa   seus   saberes,   proporcionando   a   criatividade,   o   relacionamento   e   o   pensar  criticamente  no  que  faz.  

  A  constituição  da  prática  pedagógica  analisada  aqui  nos  trouxe  desafios,  o  primeiro  deles  refere-­‐se   ao  pensar   coletivo.  A   tendência  dos  professores  de  qualquer   área  de   conhecimento  é  permanecer   em   sua   disciplina,   fato   esse   resultante   de   uma   segmentação   equivocada   do  conhecimento.  

  Avaliamos   que   a   produção   de   um   produto   final   refletiu   em   uma   maior   aquisição   do  conhecimento  pelos  alunos.  Bem  como,  contribuiu  para  a  proposição  de  uma  escola  única,  sem  a  distinção  do  manual  e  o  intelectual.  

  O  desenvolvimento  da  prática  pedagógica  aqui  demonstrada  enriqueceu  a  integração  dos  conhecimentos  da  área  das  Ciências  de  Natureza.  Hoje,  os  alunos,  com  mais  autonomia,  percebem  que   seria   mais   difícil   entender   o   fluxo   de   energia   no   ecossistema   sem   os   conhecimentos  matemáticos.

  Alguns   pontos   podem,   e   devem,   ser   revistos,   principalmente   no   que   diz   respeito   ao  abarcamento  de  outros  conteúdos  das  áreas  do  conhecimento.  O  tema  “Pirâmides  Ecológicas  de  Energia”  podem  ser  traduzido,  também,  em  linguagens  físicas  e  químicas.  

6.  REFERÊNCIAS  

DIAS,  JM  de  C.;  SCHWARZ,  E.  de  A.;  VIEIRA,  E.  do  R.  A  Botânica  além  da  sala  de  aula.  2008.  

EL-­‐HANI,  Charbel  Niño;  GRECA,  Ileana  María.  Participação  em  uma  comunidade  virtual  de  prática                   desenhada   como   meio   de   diminuir   a   lacuna   pesquisa-­‐prática   na   educação   em     biologia.  Ciência  &  Educação,  v.  17,  n.  3,  p.  579-­‐601,  2011.  

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática docente. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FRIGOTTO,  Gaudêncio.   A   interdisciplinaridade   como  necessidade   e   como  problema   nas   ciências     sociais.  Interdisciplinaridade:  para  além  da   filosofia  do   sujeito.  Petrópolis:  Vozes,   p.   25-­‐49,     1995.  

FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria; RAMOS, Marise. A gênese do Decreto n. 5.154/2004: um debate no contexto controverso da democracia restrita. Ensino médio integrado: concepção e contradições. São Paulo: Cortez, p. 21-56, 2005.  

GUNSTONE,   Richard   F.   Constructivism   and   metacognition:   Theoretical   issues   and   classroom                   studies.  Research  in  physics  learning:  Theoretical  issues  and  empirical  studies,  p.  129-­‐140,     1992.  

MOREIRA,   Marco   Antonio.  Teorias   de   aprendizagem.   São   Paulo:   Editora   pedagógica   e  universitária,                                   1999.  

RICKLEFS,   Robert   E.   A   economia   da   natureza.   In:  A   economia   da   natureza.   Guanabara   Koogan,  2003.  

PEREIRA;  SILVA  &  DIAS  (2017)    

   

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SAVIANI,   Dermeval.   O   trabalho   como   princípio   educativo   frente   às   novas   tecnologias.  Novas     tecnologias,  trabalho  e  educação:  um  debate  multidisciplinar.  Petrópolis:  Vozes,  p.  147-­‐   164,  1994.  

SILVA, AFG da. A construção do currículo na perspectiva popular crítica: das falas significativas às práticas contextualizadas. São Paulo: PUCSP, 2004.

TEIXEIRA,  Carlos  EJ.  A  ludicidade  na  escola.  São  Paulo:  Loyola,  v.  1996,  1995.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ANEXO  I  

 

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Anexo  II  

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