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JOANA PATRÍCIA GOMES DA SILVA SANTOS
SEGURANÇA NO CIRCUITO DO MEDICAMENTO CITOTÓXICO:
CONTRIBUTOS PARA A AVALIAÇÃO DA REALIDADE HOSPITALAR
EM PORTUGAL
PROJECTO DE CANDIDATURA AO GRAU DE MESTRE EM ACONSELHAMENTO E INFORMAÇÃO EM
FARMÁCIA APRESENTADO À ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA DA SAÚDE DO PORTO
ORIENTAÇÃO
PROFESSOR DOUTOR AGOSTINHO DA SILVA CRUZ (PROFESSOR COORDENADOR DA ESCOLA
SUPERIOR DE TECNOLOGIA DA SAÚDE DO PORTO)
CO-ORIENTAÇÃO:
MESTRE JOÃO JOSÉ JOAQUIM (PROFESSOR ADJUNTO NA ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA DA
SAÚDE DE COIMBRA/IPC)
VILA NOVA DE GAIA, 30 DE OUTUBRO DE 2010
“A satisfação está no esforço feito para alcançar o objectivo, e não em tê-lo alcançado."
(Mahatma Gandhi)
Dedico este trabalho, com um carinho especial:
Aos meus pais,
…pelos ensinamentos, valores e princípios que me transmitiram ao longo da vida,
…pelo incentivo e coragem que evidenciaram ao longo deste percurso sem nunca me
deixarem desistir,
…pela sua presença e apoio incondicional nos momentos mais difíceis.
Ao &uno, pela soberba compreensão, carinho e apoio incondicional nos momentos
mais difíceis.
À memória do meu avô…
Obrigada por tudo!
AGRADECIMENTOS
É com grande honra que quero demonstrar o meu sincero agradecimento a todos
aqueles que, directa ou indirectamente, me apoiaram e encorajaram para que a
realização deste projecto fosse uma realidade.
Ao meu orientador Professor Doutor Agostinho Cruz, coordenador do mestrado, pela
sua disponibilidade, incentivo, rigor e persistência que contribuíram de uma forma
determinante para o desenvolvimento deste trabalho.
Ao Mestre João José Joaquim, co-orientador, pela sua notória dedicação, apoio,
simpatia e disponibilidade que sempre demonstrou ao longo deste trabalho.
À Associação Portuguesa dos Licenciados em Farmácia, pela importante colaboração
que deu a este trabalho.
À Mestre Ana Paula &ascimento, pela simpatia, cooperação e disponibilidade
demonstradas.
A todos os profissionais que aceitaram colaborar neste estudo, pois sem a sua
cooperação não seria possível terminar este projecto.
A todos os meus amigos e colegas de Mestrado pelo apoio, amizade e companheirismo
que sempre evidenciaram ao longo deste percurso.
MUITO OBRIGADA A TODOS!
LISTA DE ABREVIATURAS
APLF – Associação Portuguesa de Licenciados em Farmácia
ASHP – American Society of Health-System Pharmacists
CFLV – Câmara de Fluxo de Ar Laminar Vertical
EPI – Equipamento de Protecção Individual
ISOPP – International Society of Oncology Pharmacy Practitioners
HS – National Health Service
IOSH – National Institute for Occupational Safety and Health
OMS – Organização Mundial Saúde
SPSS – Statistical Package for Social Sciences
SSO – Serviço de Saúde Ocupacional
TDT – Técnico de Diagnóstico e Terapêutica
UCPC – Unidade Centralizada de Preparação de Citotóxicos
UV – Ultra-Violeta
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Exemplo do mecanismo de acção de um grupo de medicamentos
citotóxicos: alcalóides da vinca____________________________________________ 1
Figura 2 – Circuito do medicamento citotóxico na Farmácia Hospitalar____________ 5
Figura 3 – Caixas estanques para transporte de citotóxicos da indústria farmacêutica
para os hospitais________________________________________________________ 6
Figura 4 – Exemplo de dísticos de alerta para a presença de citotóxicos____________ 6
Figura 5 – Utilização de uma solução de fluoresceína com raios UV para detectar
possíveis áreas/superfícies contaminadas quando se manipulam citotóxicos_________ 9
Figura 6 - Exemplo de prateleira provida de barras de protecção contra queda______10
Figura 7 – Exemplo de carro de transporte com gavetas fechadas e porta de correr__ 11
Figura 8 – Sacos para embalagem secundária de medicamentos citotóxicos________11
Figura 9 - Kit de derramamento para citotóxicos_____________________________ 13
Figura 10 - Risco de exposição dos profissionais_____________________________36
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Requisitos de avaliação da check-list aplicada no questionário_________ 28
Tabela 2 – Classificação dos hospitais segundo área geográfica de influência ou
intervenção___________________________________________________________ 30
Tabela 3 – Classificação dos hospitais segundo o número de especialidades ou
valências_____________________________________________________________31
Tabela 4 – Classificação dos hospitais segundo a área geográfica de intervenção e
número de especialidades ou valências_____________________________________ 31
Tabela 5 – Caracterização dos hospitais segundo a acreditação__________________ 32
Tabela 6 – Existência de UCPC nos hospitais________________________________32
Tabela 7 – Tipo de formação dos profissionais_______________________________34
Tabela 8 – Existência de um protocolo de actuação com o SSO__________________34
Tabela 9 – Existência de um manual de procedimentos________________________ 35
Tabela 10 – Caracterização do risco de exposição dos profissionais______________ 36
Tabela 11 – Necessidade de formação dos profissionais________________________37
Tabela 12 – Análise descritiva das variáveis recepção, armazenamento e
transporte____________________________________________________________ 37
Tabela 13 – Médias teóricas e obtidas para as variáveis: recepção, armazenamento
etransporte___________________________________________________________ 39
LISTA DE TABELAS
Tabela 14 – Tabela de frequências para os requisitos da check-list na fase de
recepção_____________________________________________________________ 40
Tabela 15 – Tabela de frequências para os requisitos da check-list na fase de
armazenamento________________________________________________________42
Tabela 16 – Tabela de frequências para os requisitos da check-list na fase de
transporte____________________________________________________________ 43
Tabela 17 – Teste t para amostras independentes (questão 1)____________________45
Tabela 18 – Médias obtidas para hospitais acreditados e não acreditados, face ao
cumprimento das normas na recepção, armazenamento e transporte de medicamentos
citotóxicos____________________________________________________________45
Tabela 19 – Teste t para amostras independentes (questão 2)____________________46
Tabela 20 – Teste t para amostras independentes (questão 2)____________________47
Tabela 21 – Teste t para amostras independentes (questão 3)____________________48
Tabela 22 – Médias obtidas para hospitais com UCPC e sem UCPC, face ao
cumprimento das normas na recepção, armazenamento e transporte de medicamentos
citotóxicos____________________________________________________________48
Tabela 23 - Crosstabulation acreditação_existência de manual de procedimentos___ 49
LISTA DE TABELAS
Tabela 24 - Crosstabulation acreditação_existência de protocolo com o SSO_______50
Tabela 25 - Crosstabulation acreditação_tipo de formação_____________________ 51
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RESUMO
Introdução: O medicamento citotóxico é definido pelas suas características de
genotoxicidade, mutagenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade, toxicidade
reprodutiva e toxicidade orgânica em baixas doses. Deste modo, existe uma grande
preocupação no que concerne ao manuseamento deste tipo de medicamentos, devido aos
riscos ocupacionais que podem surtir da exposição a que os profissionais de farmácia
envolvidos estão sujeitos.
Objectivos: Analisar a realidade da farmácia hospitalar face ao cumprimento das normas
e procedimentos preconizados pelas actuais guidelines para o manuseamento seguro de
medicamentos citotóxicos, e identificar as lacunas existentes, conduzindo à promoção
de práticas centradas na minimização do risco de exposição/contaminação dos
profissionais e do ambiente.
Material e Métodos: Foi realizada uma pesquisa bibliográfica sistemática sobre o tema,
utilizando-se como instrumento de recolha de dados um inquérito por questionário, em
que os TDT de Farmácia foram abordados sobre os procedimentos verificados no
hospital onde exercem actividade profissional.
Resultados: Face ao cumprimento das normas na recepção, armazenamento e transporte
de medicamentos citotóxicos, verifica-se que todos os hospitais se encontram acima da
média. Apesar desta evidência, é na fase de transporte que se verifica um menor
cumprimento. As principais lacunas detectadas foram ao nível da não utilização de EPI
nas fases de recepção e armazenamento; a recepção de medicamentos citotóxicos em
conjunto com outros medicamentos; a falta de um sistema de ventilação no local de
armazenamento e, ainda, ausência de portas de correr e/ou gavetas fechadas nos carros
de transporte de medicamentos citotóxicos.
Conclusões: Os resultados deste estudo revelam alguma heterogeneidade de
procedimentos nos hospitais Portugueses, sugerindo a necessidade de intervenção e
reformulação do programa de segurança e gestão de risco desenvolvidos para o
manuseamento de citotóxicos.
Palavras-Chave: Manuseamento de citotóxicos, Segurança, Risco de Exposição,
Contaminação.
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ABSTRACT
Introduction: The cytotoxic medicine is defined by its characteristics of genotoxicity,
mutagenicity, carcinogenicity, teratogenicity, reproductive toxicity and organic toxicity
at low doses. Thus, there is great concern regarding the handling of this type of
medication due to occupational risks that can have exposure to the professional
pharmacy subject involved.
Objectives: Analyze the reality of hospital pharmacy in the face of compliance with
standards and procedures recommended by current guidelines for safe handling of
cytotoxic drugs, and identify gaps, leading to the promotion of practices focused on
minimizing the risk of exposure and contamination of professionals and the
environment.
Methods: We performed a systematic literature review on the subject, using as a tool
for collecting data for the application of a questionnaire survey, in which DTT
Pharmacy were asked about the procedures recorded in the hospital where they exert
occupation.
Results: Compared to the compliance at the reception, storage and transportation of
cytotoxic drugs, it appears that all hospitals are above average. Despite this evidence, is
at the stage of transport that there is a lower compliance. The main shortcomings were
not at the level of use of PPE in the phases of reception and storage, receiving cytotoxic
drugs in combination with other medicines, the lack of a ventilation system in the
storage area and also the absence of sliding doors and / or drawers in the closed car
transport cytotoxic drugs.
Conclusions: These results show heterogeneity of procedures in Portuguese hospitals,
suggesting the need for intervention and reform of the security program and risk
management developed for handling cytotoxics.
Keywords: Cytotoxic Handling, Safety, Risk Exposure, Contamination.
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ÍNDICE
Resumo_______________________________________________________________ i
I – Introdução__________________________________________________________ 1
II – Objectivos_________________________________________________________ 4
III – Revisão da Literatura
III.1 – Normas e Procedimentos preconizados pelas actuais guidelines (ASHP,
NIOSH e ISOPP) para a recepção, armazenamento e transporte________________ 5
III.1.1 – Recepção de Medicamentos Citotóxicos________________________ 5
III.1.2 – Armazenamento de Medicamentos Citotóxicos___________________9
III.1.3 – Transporte de Medicamentos Citotóxicos______________________ 10
III.1.4 – Equipamento de Protecção Individual (EPI)____________________ 11
III.1.5 – Kit de Derramamento______________________________________ 12
III.2 – Relevância do Tema face a estudos realizados________________________14
IV – Material e Métodos_________________________________________________18
IV.1 – Amostra e Procedimentos de Amostragem___________________________18
IV.2 – Técnicas e Instrumentos de Recolha de Dados________________________19
IV.3 – Métodos e Técnicas de Análise de Dados___________________________ 29
V – Análise e Discussão de Resultados
V.1 – Caracterização do Perfil da Amostra: Análise Descritiva das Variáveis em
Estudo____________________________________________________________ 30
V.2 – Análise do Cumprimento das Normas descritas nas Guidelines nas fases de
recepção, armazenamento e transporte___________________________________ 37
V.3 – Análise de Pressupostos__________________________________________44
VI – Considerações Finais_______________________________________________ 52
VII – Referências Bibliográficas__________________________________________ 55
VIII – Anexos________________________________________________________ 63
Anexo 1 – Instruções de Utilização do Kit de Derramamento_________________ 64
Anexo 2 – Artigo para publicação submetido à Revista Brasileira de Farmácia____65
Anexo 3 – Questionário aplicado para a recolha de dados ___________________ 82
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I – INTRODUÇÃO
Os medicamentos citotóxicos são utilizados no tratamento do cancro e de outras
doenças como a artrite reumatóide ou esclerose múltipla (27). São compostos
farmacológicos que intervêm no crescimento e proliferação celular, quer através de uma
ligação directa ao material genético nuclear, quer afectando a síntese proteica celular.
Geralmente, não conseguem distinguir as células cancerígenas das normais, o que leva a
uma destruição celular inespecífica (figura 1), revelando-se, por isso, fármacos
altamente tóxicos para as células: genotóxicos, mutagénicos, teratogénicos e
carcinogénicos (27).
Figura 1 – Exemplo do mecanismo de acção de um grupo de medicamentos citotóxicos:
alcalóides da vinca (14).
Este mecanismo de acção traduz-se no efeito inibitório da dinâmica dos
microtúbulos, originando uma paragem do ciclo celular na mitose, o que conduz à morte
celular por apoptose (14).
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Assim, devido à sua toxicidade intrínseca, este tipo de medicamentos representa um
perigo para os profissionais de saúde envolvidos no seu manuseamento, apresentando
um risco ocupacional, pelo que devem estar sujeitos a um programa de gestão de risco.
Entende-se por risco a probabilidade de ocorrência de efeitos nocivos para o
profissional, capazes de afectar a sua própria segurança e bem-estar (53).
Os riscos para a saúde que os profissionais que manuseiam estes medicamentos
correm devem-se, essencialmente, à toxicidade própria de cada citotóxico,
susceptibilidade individual, magnitude de exposição e efeitos cumulativos ao longo de
várias exposições (1,35).
As principais vias de exposição aos medicamentos citotóxicos são a via oral,
endovenosa, dérmica e, ainda, por inalação (35). Deste modo, torna-se fundamental o
cumprimento de todas as normas e procedimentos recomendados para o manuseamento
seguro destes fármacos.
Neste contexto, cada Unidade Hospitalar deve definir uma política baseada em
normas de trabalho específicas para os profissionais que manipulam citotóxicos.
Estas normas devem basear-se nas mais recentes guidelines, que não são mais do que
recomendações de um painel de peritos que trabalharam e investigaram durante décadas
para reduzir o potencial efeito tóxico do manuseamento destes fármacos para os
profissionais de saúde envolvidos nesta área (1).
Uma vez que em Portugal não existe legislação específica no que respeita ao
cumprimento de normas para o manuseamento de citotóxicos, as guidelines são
recomendadas como as melhores normas de trabalho a seguir em países cuja aplicação
não é obrigatória por lei (39).
No entanto, é importante mencionar que o Dec. Lei N.° 441/91 estabelece o regime
jurídico do enquadramento da Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho em Portugal. No
Cap. III, artigo 8º ponto 2, alínea c) é referido como dever do empregador: "Assegurar
que as exposições aos agentes químicos, físicos e biológicos nos locais de trabalho não
constituam risco para a saúde dos trabalhadores", e na alínea h) que estes são, ainda,
responsáveis por " Assegurar a vigilância adequada da saúde dos trabalhadores em
função dos riscos a que se encontram expostos no local de trabalho" (10).
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O artigo 15° ponto 1, alínea a) indica como obrigação do trabalhador "cumprir as
rescrições de segurança, higiene e saúde no trabalho estabelecidas nas disposições
legais ou convencionais aplicáveis e as instruções determinadas com esse fim pelo
empregador" (10).
Perante o panorama regulamentado por lei na jurisdição nacional é fundamental que
cada trabalhador tenha a noção de responsabilização do acto de cuidar da sua saúde,
nomeadamente os profissionais de saúde. Só deste modo, e no que respeita aos
profissionais de saúde, poderão cuidar da saúde dos outros.
Actualmente, as guidelines que servem de orientação para a temática abordada neste
trabalho são as da American Society of Health-System Pharmacists (ASHP), &ational
Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) e International Society of
Oncology Pharmacy Practitioners (ISOPP) (1,25,35).
No âmbito hospitalar, entende-se como manuseamento de medicamentos citotóxicos
o conjunto de operações que compreendem a recepção, armazenamento, transporte,
preparação de uma dose a partir de uma apresentação comercial, administração da dose
ao doente e, ainda, a recolha e eliminação dos desperdícios e excretas (4).
Os Serviços Farmacêuticos de cada Unidade Hospitalar intervêm neste circuito ao
nível da recepção, armazenamento, preparação da dose adequada ao doente e transporte.
Todos os medicamentos citotóxicos devem ser segregados a áreas específicas com
circuitos bem estabelecidos. Deste modo, toda a equipa dos Serviços Farmacêuticos
deve estar consciente da localização dos fármacos citotóxicos, das suas características e
do potencial risco de contaminação que lhes está associado.
Dada a escassez de estudos realizados em hospitais portugueses sobre esta temática,
tão actual e pertinente, e ausência de legislação que incumba os hospitais de criar as
condições essenciais para um manuseamento seguro de citotóxicos, considerou-se
pertinente a abordagem desta temática.
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II – OBJECTIVOS
O presente estudo tem como objectivos:
Identificar as normas e procedimentos recomendados para cada etapa (recepção,
armazenamento e transporte) do circuito de medicamentos citotóxicos, que
cooperem para um manuseamento seguro, minimizando o risco de exposição dos
profissionais envolvidos e o risco de contaminação do ambiente.
Analisar se em cada etapa deste circuito as normas de segurança são cumpridas
nos Hospitais de Portugal que contenham valência de medicamentos citotóxicos,
através da abordagem dos Profissionais de Farmácia, especificamente, Técnicos
Superiores de Diagnóstico e Terapêutica (TDT), sobre as práticas exercidas
neste âmbito, nas instituições hospitalares onde desempenham actividade
profissional.
Através da análise dos dados obtidos, diagnosticar as principais lacunas
existentes.
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III – REVISÃO DA LITERATURA
III.1 – NORMAS E PROCEDIMENTOS PRECONIZADOS PELAS ACTUAIS
GUIDELINES (ASHP, NIOSH E ISOPP) PARA A RECEPÇÃO,
ARMAZENAMENTO E TRANSPORTE DE MEDICAMENTOS CITOTÓXICOS
Figura 2 – Circuito do medicamento citotóxico na Farmácia Hospitalar.
III.1.1 – RECEPÇÃO DE MEDICAMENTOS CITOTÓXICOS
A nível hospitalar, o primeiro contacto com estes medicamentos ocorre na fase de
recepção, num armazém de recepção de encomendas, onde o profissional de farmácia
responsável deverá proceder a uma inspecção rigorosa das condições em que o produto
proveniente da Indústria Farmacêutica chega à farmácia hospitalar, assegurando a sua
integridade (1,25,35).
I – Indústria Farmacêutica (Transportadores)
II – Armazém de Recepção de Encomendas
III – Armazém de Especialidades
Farmacêuticas (sector de citotóxicos)
IV – UCPC (Unidade
Centralizada de
V – Serviços Clínicos
1.Recepção
2.Armazenamento
3.Transporte
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Como tal, o profissional de farmácia responsável por esta fase, deverá estar
devidamente treinado e possuir formação específica na área, de modo a colmatar
alguma situação inadvertida que possa ocorrer, e a actuar em conformidade com as
normas exigidas para minimizar o risco de exposição e garantir a máxima segurança.
Este requisito deve ser verificado em qualquer uma das fases do circuito destes
medicamentos (1, 34).
Nesta primeira fase, é importante proceder à verificação de um conjunto de aspectos
(1,9,12,25,35):
os medicamentos devem estar acondicionados em caixas/embalagens estanques,
hermeticamente seladas e à prova de quebra/ruptura (figura 3), respeitando as
condições e precauções especiais de conservação;
todas as caixas/embalagens devem estar devidamente identificadas com dísticos
de alerta (figura 4) para o perigo de manuseamento;
deve ser realizado um exame visual para detectar sinais externos de danos ou
rupturas.
Figura 4 – Exemplo de dísticos de alerta para a presença de citotóxicos (42).
Figura 3 – Caixas estanques para transporte de citotóxicos da indústria farmacêutica para
os hospitais (21).
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Idealmente, os fármacos citotóxicos deveriam ser acondicionados em oncofrascos
(frascos revestidos com folha de plástico e com o fundo reforçado), conferindo uma
dupla protecção: contra contaminação e queda. No entanto, esta situação não invalida a
hipótese de recepcionar embalagens danificadas por quebra ou derrame. Como tal,
devem estar instituídas normas e procedimentos no local onde ocorre a recepção, no
sentido de orientar o manuseamento deste tipo de embalagens. É importante que estes
procedimentos indiquem como se deve actuar no caso de existirem embalagens
danificadas, para fazer o retorno do produto ao laboratório, ficando este em quarentena
(1,25,35).
Existindo a possibilidade da ocorrência de um acidente (quebra/derrame) neste local,
é imprescindível a existência de um kit de derramamento, com as respectivas instruções
de utilização. Este importante instrumento permite uma actuação rápida para que haja o
menor risco de exposição possível. Para isso, é fundamental que os profissionais saibam
manusear o kit de modo a tirar o máximo proveito da sua utilização (1).
É importante ressalvar que a existência obrigatória deste kit é comum a todas as fases
do circuito de medicamentos citotóxicos, nomeadamente às que são alvo de
investigação neste estudo: recepção, armazenamento e transporte (1,25,34,35).
Tanto o local de recepção de encomendas, como o de armazenamento, devem ser,
segundo as recomendações, providos de um sistema de ventilação com capacidade
suficiente para eliminar qualquer partícula atmosférica tóxica proveniente da libertação
de aerossóis, com o intuito de prevenir e eliminar uma possível contaminação nas áreas
adjacentes provocada por algum acidente (35).
A utilização de Equipamento de Protecção Individual (EPI) é também um requisito
contíguo às fases de recepção, armazenamento e transporte, sendo considerada uma
importante mais-valia no sentido de proteger o operador. Assim, torna-se
imprescindível o uso de bata reforçada de baixa permeabilidade, máscara de auto-
filtração P3 e duplo par de luvas (1, 34).
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Nesta fase, poder-se-á questionar o porquê da importância do EPI. A verdade é que,
segundo DUSSART et al (2008), TORRADO et al (2009) e FAVIER et al (2006), a
superfície exterior das embalagens/frascos provenientes da Indústria Farmacêutica
chegam às Unidades Hospitalares já contaminados (espuma formada na linha de
produção, deposição de pó no seu exterior e inadequada lavagem dos frascos antes do
processo de embalagem), representando por isso um risco de exposição acrescido para o
profissional que procede à abertura das caixas e ao manuseamento das cartonagens dos
frascos (11,16,17,47).
TORRADO et al (2009) e FAVIER et al (2006) realizaram estudos que incidiram em
dois fármacos potencialmente utilizados nos hospitais, como o fluorouracilo (5-Fu) e a
ciclofosfamida Relativamente à ciclofosfamida, concluiu-se que todas as superfícies
exteriores dos frascos estavam contaminadas (17,47).
DUSSART et al realizaram um estudo com o objectivo de detectar áreas/superfícies
contaminadas, recorrendo à simulação de um líquido citotóxico com uma solução de
fluoresceína (10mg/L). O frasco que continha esta solução foi manipulado como se
fosse um verdadeiro citotóxico e, posteriormente, através da aplicação de raios UV foi
possível identificar os locais que estariam contaminados (figura 5) (11). Neste caso foi
avaliada a contaminação durante o processo de reconstituição, transferência do fármaco
através de um sistema fechado e durante a administração (11).
Neste contexto, pode-se sugerir como estudo futuro a aplicação deste método às fases
de recepção, armazenamento e transporte de citotóxicos. Assim, seria possível averiguar
o potencial de contaminação existente nestas três importantes etapas, utilizando as
áreas/locais de recepção, os armários/gavetas de armazenamento, os dispositivos/malas
de transporte e as luvas utilizadas pelos profissionais como alvo de averiguação.
As conclusões retiradas dos estudos realizados conduzem a um alerta importante,
para que em cada hospital esteja implementado um amplo programa de segurança para o
manuseamento de citotóxicos.
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Figura 5 – Utilização de uma solução de fluoresceína com raios UV para detectar
possíveis áreas/superfícies contaminadas quando se manipulam citotóxicos (44).
III.1.2 – ARMAZENAMENTO DE MEDICAMENTOS CITOTÓXICOS
Depois de recepcionados, estes medicamentos devem ser armazenados numa área
restrita específica para citotóxicos, separada da restante medicação, devendo possuir
uma sinalética apropriada com os dísticos de alerta para o perigo de manuseamento
(1,34).
O armazenamento destes fármacos deve ser da responsabilidade dos profissionais de
farmácia devidamente treinados e formados, devendo ser realizado consoante as
condições de conservação do produto, assegurando uma rotatividade de stocks
adequada: first expired first out (34).
De acordo com as guidelines, estes fármacos devem ser armazenados em armários
com prateleiras dotadas de estruturas que minimizem o risco de queda/quebra (figura 6)
e, preferencialmente, revestidas por campos absorventes próprios para citotóxicos. Estes
armários, por sua vez, devem ser dimensionados para permitir todos os cuidados de
manuseamento, assim como também devem possibilitar a separação dos diferentes
citotóxicos, de modo a evitar potenciais erros de dispensa (1,34). Relativamente a este
assunto, importa referir que existem no mercado farmacêutico embalagens muito
semelhantes, pelo que a indústria farmacêutica deveria intervir neste âmbito, de modo a
diferenciar de uma forma notória os diferentes tipos de medicamentos citotóxicos,
através, por exemplo, da aplicação de cores e formas de embalagens distintas.
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Figura 6 – Exemplo de prateleira provida de barras de protecção contra queda/quebra
(20).
Como já supracitado, a área de armazenamento deve ser provida de um sistema de
ventilação/exaustão adequado e possuir condições de humidade e temperatura
controladas (1,34).
A existência do kit de derramamento e o respectivo fluxograma de actuação em caso
de acidente, tal como o EPI são componentes indispensáveis nesta etapa (1,35).
III.1.3 – TRANSPORTE DE MEDICAMENTOS CITOTÓXICOS
Numa Unidade Hospitalar, os medicamentos citotóxicos podem ser transportados
directamente do armazém de especialidades da farmácia para os serviços clínicos, ou do
armazém de especialidades para a Unidade Centralizada de Preparação de Citotóxicos
(UCPC), e desta para os serviços clínicos.
O transporte de citotóxicos deve ser realizado, em todo o seu circuito, de modo a
reduzir o risco de exposição do operador e a contaminação ambiental, em caso de
derrame/quebra acidental (1,25,35).
Deste modo, devem ser transportados em embalagens/malas fechadas e identificadas
com dísticos de alerta de perigo. Os carros de transporte ou outros dispositivos
concebidos para o efeito devem ser providos com guardas de protecção contra
queda/ruptura, sendo mesmo aconselhável a existência de gavetas fechadas e portas de
correr no caso dos carros (figura 7) (1,34,35).
Todas as preparações efectuadas na UCPC devem, obrigatoriamente, ser rotuladas,
incluindo as indicações de estabilidade e conservação. Posteriormente devem ser
acondicionadas em sacos para transporte de citotóxicos (figura 8).
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Nesta fase do circuito, os profissionais envolvidos são, maioritariamente, Assistentes
Operacionais.
Como tal, surge uma preocupação acrescida na medida em que, muitas vezes, estes
profissionais não são integrados nos programas de formação sobre as normas e
procedimentos de segurança relativos a estes fármacos. Como intervenientes neste
processo estão também sujeitos a um determinado risco de exposição, não podendo ser
descurada a importância da sua formação.
Por conseguinte, o transporte destes fármacos deve ser sempre realizado por
Assistentes Operacionais devidamente treinados e formados e com o devido
Equipamento de Protecção Individual (EPI), nomeadamente luvas para citotóxicos.
Estes profissionais devem estar cientes do risco ocupacional associado aos citotóxicos,
dos cuidados a ter no seu transporte e dos procedimentos a ter em caso de acidente
(1,25,35).
III.1.4 – EQUIPAMENTO DE PROTECÇÃO INDIVIDUAL (EPI)
O EPI destina-se a minimizar o risco ocupacional de uma eventual exposição do
operador ao fármaco. Assume duas vertentes quando se fala em manuseamento de
citotóxicos: proteger o operador e garantir a esterilidade do fármaco a preparar (1).
O EPI é constituído, essencialmente, por: bata, máscara de auto-filtração P3, luvas,
touca e protectores de calçado (1,35).
As batas de protecção devem ser reforçadas, de baixa permeabilidade, mangas
compridas, livre de fibras e com punhos elásticos (1,35).
Figura 7 – Exemplo de carro de transporte com gavetas fechadas e porta de correr (24).
Figura 8 – Sacos para embalagem secundária de medicamentos citotóxicos (6).
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As máscaras devem possuir um respirador, designando-se de máscaras respiratórias
de auto-filtração tipo P3. Os respiradores reduzem a potencial exposição dos operadores
aos aerossóis formados, independentemente da sua dimensão, concentração ou estado
físico (particulados ou vaporizados) (1).
Outro elemento-chave do EPI são as luvas, pois estabelecem a primeira barreira de
protecção contra uma possível exposição do profissional durante o manuseamento de
citotóxicos (1,35). Segundo o NHS (2002) e o NIOSH (2004), as luvas de látex são
sensíveis no manuseamento de citotóxicos, o que levou à experimentação de outros
materiais como o nitrilo e poliuretano, sendo estes testados com sucesso na maioria dos
fármacos citotóxicos (1,34,35).
Está, também, provado que são preferíveis as luvas sem pó, devido ao facto das
partículas de pó poderem contaminar a área estéril ao absorver partículas contaminantes,
aumentando o potencial de contacto dérmico (1,34). Outro aspecto importante é que as
luvas não devem ser descontaminadas com álcool, para que não seja alterada a sua
impermeabilidade aos citotóxicos. Portanto, em alternativa, as luvas deverão ser
mudadas a cada 30 minutos, embora o ideal seja a cada 15/20 minutos (17).
III.1.5 – KIT DE DERRAMAMENTO
Idealmente, em todas as áreas de manuseamento de citotóxicos deve existir um kit de
derramamento (figura 9). Deve ser de fácil acesso e estar sempre pronto a utilizar
(5,6,34).
A existência de um kit de derramamento tem por objectivo garantir a recolha,
limpeza e eliminação correcta de medicamentos citotóxicos em caso de acidente,
evitando a contaminação do meio ambiente circundante e dos operadores envolvidos.
Os kits de derramamento comerciais permitem controlar eficazmente um derrame até
1 litro. A forma como é gerido um derrame varia de acordo com a toxicidade, a forma
farmacêutica e o volume do medicamento citotóxico envolvido (5,6).
A utilização do kit deve obedecer a normas e procedimentos instituídos (1).
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De um modo geral, um kit de derramamento é constituído por bata de protecção de
baixa permeabilidade, dois pares de luvas (um deles à prova de citotóxicos), máscara
respiratória de auto-filtração P3, um par de óculos de protecção, um par de protectores
de calçado, manual de instruções para utilização, folheto de informações de
manuseamento, dois sinais de emergência, um saco próprio para colocação de resíduos,
panos Power Sorb (absorventes), detergente alcalino (pH>10, por exemplo o Extran®),
uma embalagem para resíduos corto-perfurantes, um fio para selar, um pano, pó Green-
Z, uma pinça; um pano de algodão, uma pá e uma fita para sinalizar a área contaminada
(5,6). As instruções de utilização deste kit encontram-se no anexo 1.
Figura 9 – Kit de derramamento para citotóxicos (6).
Caso ocorra contaminação do operador, é importante desencadear acções que
conduzam a uma exposição mínima.
Assim, se ocorrer contaminação ao nível da pele deve-se lavar imediatamente com
água fria e sabão a zona afectada, utilizando para tal o chuveiro ou o lavatório. Se
ocorrer contaminação ao nível dos olhos deve-se lavar abundantemente com soro
fisiológico. Seguidamente deve-se encaminhar o profissional envolvido para o Serviço
de Saúde Ocupacional (SSO), para follow-up médico e preenchimento obrigatório do
modelo de acidente (1,38).
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III.2 – RELEVÂNCIA DO TEMA FACE A ESTUDOS REALIZADOS
Ao longo das últimas duas décadas, VENITT et al (1984), CONNOR et al (2006),
entre outros, realizaram estudos que documentaram a presença de substâncias
citotóxicas na urina dos profissionais de farmácia, que manuseiam estas substâncias, e
de outros profissionais que prestam cuidados de saúde directamente ao doente
oncológico (8,54). Também a presença de resíduos citotóxicos nas superfícies de
trabalho onde são armazenados e preparados tem sido alvo de estudo por vários
investigadores, revelando sempre resultados positivos em relação à contaminação destas
superfícies (8,17,27,31,48,49).
A publicação destes resultados levou os órgãos regulamentares da saúde e entidades
de saúde ocupacional, bem como as associações profissionais a elaborar directrizes,
políticas e procedimentos de controlo para o manuseamento de substâncias perigosas,
com o intuito de reduzir o risco de exposição ocupacional a que os profissionais
envolvidos estão sujeitos.
Deste modo, surgiram as guidelines para o manuseamento de substâncias
potencialmente tóxicas e nocivas para a saúde, sendo estas revistas e actualizadas
periodicamente por profissionais peritos e especializados nesta área de intervenção
(1,35).
A presença de substâncias citotóxicas em concentração variada em diferentes
superfícies de trabalho levou os profissionais de saúde a especular sobre as potenciais
fontes de contaminação (31). Assim, foram realizadas várias investigações a diversos
marcadores biológicos: mutagenicidade urinária, mutações cromossómicas, formação de
micronúcleos e formação de tioéteres urinários. No entanto, estes métodos biológicos e
analíticos, aplicados até à data, não são suficientemente fiáveis ou reproduzíveis para
uma monitorização de rotina da exposição no local de trabalho (3).
FALCK et al demonstraram o risco potencial para as enfermeiras que manipulavam
este tipo de fármacos pelo estudo de amostras de urina mutagénica. Exames
subsequentes ao local de trabalho detectaram níveis de fármaco em amostras do ar
circulante e na superfície de trabalho, confirmando que a exposição é possível mesmo
sem contacto directo óbvio (15).
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Apesar das investigações realizadas, ainda é muito difícil a determinação da
magnitude do grau de risco do indivíduo ou grupo potencialmente expostos devido ao
número limitado de estudos de exposição realizados até à data.
A contaminação pode ocorrer durante as várias etapas do circuito do medicamento,
desde a aquisição e recepção ao armazenamento, transporte, preparação, administração
ao doente e eliminação de resíduos e excretas (38).
Se por um lado, muitos estudos têm documentado a existência de contaminação com
citotóxicos durante as fases de preparação e administração ao doente (28), por outro tem
havido poucos dados sobre a contaminação que ocorre antes da preparação
propriamente dita dos medicamentos nas farmácias hospitalares. Neste contexto, deve
ser salientado que a contaminação presente nas superfícies de trabalho e na superfície
exterior dos frascos no momento de retirar as cartonagens é tão significativa como a que
se verifica no restante circuito do medicamento (11,17,29,31).
TOUZIN et al (2010), WEIR et al (2009), MASON et al (2003), entre outros,
comprovaram, através de estudos, a contaminação da superfície externa dos frascos de
alguns citotóxicos. Foi avaliada a contaminação externa em frascos de ciclofosfamida,
ifosfamida e fluorouracilo. Desta análise verificou-se que existia uma contaminação
esporádica nos frascos de fluorouracilo, enquanto que a maioria dos frascos de
ciclofosfamida encontravam-se contaminados. Atribui-se importância a estes
medicamentos, uma vez que são muito usados nas farmácias hospitalares (29,50,55).
TOUZIN et al (2010), CONNOR et al (2005), MASON et al (2003) realizaram
estudos que revelaram a necessidade de descontaminar os frascos ainda durante o
processo de fabrico. Assim, CONNOR et al (2005) compararam o processo de
descontaminação de um procedimento padrão num fabricante com um processo de
descontaminação melhorado com a utilização de luvas para reduzir ainda mais o nível
de contaminação (7,29,50).
Como resultado destes estudos conclui-se que as superfícies externas de todos os
frascos de citotóxicos demonstraram níveis de contaminação significativos com o
medicamento (50).
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Deste modo, considera-se que o procedimento de descontaminação melhorada em
combinação com o uso de luvas protectoras reduz o nível de contaminação em cerca de
90% no caso das platinas, o que sugere que os procedimentos padrão utilizados para a
descontaminação dos frascos devem ser reconsiderados (50). Nenhum estudo revelou
não existir qualquer contaminação na superfície externa dos frascos de medicamentos
citotóxicos.
CONNOR et al (2005) concluíram que a contaminação pode ser reduzida através da
utilização de equipamentos de descontaminação e de luvas de protecção durante o
processo de fabrico (7).
As técnicas de limpeza/descontaminação que se podem utilizar foram também alvo
de investigação por TOUZIN et al (2008). Assim, avaliaram a eficácia da
descontaminação das superfícies externas de frascos de ciclofosfamida utilizando
diferentes técnicas de limpeza. A principal conclusão deste estudo estabelece a
importância da descontaminação da superfície externa dos frascos, através da lavagem
com água e sabão, ainda durante o processo de fabrico, como factor determinante na
redução do nível de contaminação do ambiente e do risco de exposição dos profissionais
(48).
No entanto, é importante ressalvar que o referido estudo apenas testou a eficácia das
técnicas de limpeza num fármaco (ciclofosfamida). Ou seja, um pano embebido em
água e sabão pode efectivamente eliminar os resíduos dos frascos de ciclofosfamida,
mas pode não surtir o mesmo efeito em frascos de docetaxel, por exemplo. Neste caso, a
principal diferença assenta nas características físico-químicas do fármaco em causa, o
que pode condicionar a eficácia da técnica de limpeza utilizada, neste caso um pano
embebido em água e sabão (48). Na ciclofosfamida, que é um composto hidrofílico, o
efeito desta técnica de limpeza foi eficaz, na medida em que removeu os resíduos
existentes na maioria dos frascos (48). Mas, se a mesma técnica fosse aplicada em
frascos de docetaxel, o mesmo efeito não se verificaria, pois este é um fármaco
lipofílico. Ou seja, é importante adequar a técnica de limpeza ao tipo de fármaco, o que
dificulta a implementação de normas padronizadas para a descontaminação de frascos e
superfícies de trabalho, na medida em que implica um conhecimento específico e
técnico de cada fármaco.
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Como seguimento deste estudo, sugere-se a necessidade de um estudo-piloto para
estabelecer directrizes sobre os agentes de limpeza mais eficazes no processo de
descontaminação das superfícies de trabalho e da superfície externa dos frascos.
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IV – MATERIAL E MÉTODOS
Os desenhos e métodos de investigação constituem uma das partes nobres de
qualquer estudo. São estes que permitem, ou não, responder à grande questão de
investigação colocada no início, que possibilitam recolher a informação necessária com
os procedimentos adequados, que induzem identificar e exaltar os aspectos mais
importantes da investigação (41).
Com o intuito de atingir o objectivo principal deste trabalho, que é analisar a
realidade dos hospitais Portugueses, quanto ao cumprimento das normas de segurança
no circuito de recepção, armazenamento e transporte de medicamentos citotóxicos,
através de uma abordagem aos TDT de farmácia, realizou-se uma detalhada e
sistemática pesquisa bibliográfica acerca da temática que permitiu a construção de um
questionário como instrumento de recolha de dados.
A construção de um questionário consiste em traduzir os objectivos da pesquisa em
questões específicas (19).
IV.1 – AMOSTRA E PROCEDIMENTOS DE AMOSTRAGEM
Para proceder à definição da amostra recorreu-se a uma técnica de amostragem não
aleatória, tendo sido utilizada, concretamente, uma amostragem por conveniência, uma
vez que apenas interessam para este estudo os hospitais com circuito de medicamentos
citotóxicos.
Os Hospitais seleccionados para o envio do questionário encontram-se listados no
Índice &acional Terapêutico do 2º semestre de 2009, tendo sido utilizados os seguintes
critérios de selecção:
número de camas igual ou superior a 100;
estabelecimentos públicos de Portugal Continental, com excepção dos hospitais
psiquiátricos e de outras entidades oficiais.
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Apesar de apenas interessar para este estudo a análise dos hospitais com circuito de
medicamentos citotóxicos, a existência deste circuito não poderia ser considerada como
critério de selecção, na medida em que não existe nenhuma fonte oficial que mencione
os hospitais que têm este circuito. Assim, foram contactados os profissionais de
farmácia, concretamente, TDT de farmácia responsáveis, a exercer actividade
profissional nos hospitais seleccionados.
IV.2 – TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE DADOS
De acordo com os critérios acima estabelecidos, foram seleccionados 78 hospitais.
No entanto, 30 hospitais foram excluídos com base nas informações obtidas pelos
profissionais. Assim os principais motivos para exclusão foram:
hospitais que não abrangiam valência de citotóxicos, e portanto não tinham
circuito destes medicamentos;
hospitais que foram extintos, fazendo parte integrante de outros.
Assim, mediante estas informações, a amostra inicial de 78 hospitais ficou reduzida
para 48.
Nesta fase do estudo, o principal obstáculo foi a ausência de respostas, tendo sido
necessária alguma insistência.
Especificamente, a metodologia utilizada para a recolha de dados foi a aplicação de
um inquérito por questionário, que foi colocado on-line na página com o endereço Web:
https://spreadsheets2.google.com/viewform?formkey=dGNTa2tVl2dnhIVkh5Z0VSLVl
tT3c6MA, o qual foi divulgado por e-mail para um TDT de farmácia de cada hospital
seleccionado. Os contactos destes profissionais foram obtidos através da Associação
Portuguesa dos Licenciados em Farmácia (APLF), por intermédio do seu presidente.
O questionário (anexo 3) foi, então, enviado por e-mail para os TDT de farmácia
responsáveis de cada um dos 48 hospitais seleccionados, sendo respondido um
questionário por cada hospital.
Foi explicado aos participantes o objectivo do estudo, bem como garantido o
anonimato e confidencialidade dos dados recolhidos.
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Após o envio dos questionários, a recolha de dados iniciou-se a 18 de Setembro e
terminou a 19 de Outubro de 2010, por motivos de contingência temporal. A amostra
final obtida ficou constituída por 30 hospitais.
Com a aplicação deste questionário pretendeu-se fazer uma abordagem aos
profissionais, especificamente, aos TDT de farmácia sobre a realidade verificada na
instituição hospitalar onde desempenha a actividade profissional, no que respeita ao
cumprimento de normas no circuito do medicamento citotóxico: recepção,
armazenamento e transporte.
O questionário encontrava-se estruturado em duas partes: a primeira correspondia à
caracterização do hospital e a segunda parte à aplicação de uma check-list para cada
uma das fases que se pretendem analisar: recepção, armazenamento e transporte de
medicamentos citotóxicos.
A elaboração de uma check-list para cada uma destas fases pode tornar-se um
instrumento fundamental para orientar os profissionais envolvidos no cumprimento das
normas de segurança, visando uma melhoria contínua. Deste modo, pode ser
considerada uma mais-valia para os profissionais, uma vez que o cumprimento de todos
os requisitos aumenta a sua segurança e a do ambiente, e diminui o risco de exposição a
que estão sujeitos.
Estas check-lists foram aplicadas com o intuito de verificar se os medicamentos
citotóxicos são manuseados nas três fases analisadas (recepção, armazenamento e
transporte) nas devidas condições de segurança, cumprindo os requisitos necessários, de
acordo com as actuais guidelines. Estes requisitos traduzem as normas que devem ser
cumpridas.
Os parâmetros que constam nas check-lists foram interpretados como indicadores de
qualidade, que devem ser satisfeitos para garantir a segurança dos profissionais
envolvidos e do ambiente. A selecção destes indicadores resultou de uma extensa e
detalhada pesquisa bibliográfica que consistiu na análise das actuais guidelines, assim
como de várias publicações científicas que demonstraram a importância da segurança
no manuseamento deste tipo de medicamentos.
As questões incluídas no questionário foram elaboradas em consonância com o
objectivo principal deste estudo, permitindo definir as variáveis que serão alvo de
análise e posterior discussão.
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Deste modo, na primeira parte do questionário foram definidas as seguintes variáveis
para análise:
CLASSIFICAÇÃO DOS HOSPITAIS SEGUNDO A ÁREA GEOGRÁFICA DE INFLUÊNCIA OU
INTERVENÇÃO: podem ser Centrais ou Distritais. Os Hospitais Centrais são aqueles cuja
área de intervenção geográfica corresponde a uma zona hospitalar, ou parte, e têm
valências de todas as diferenciações, sendo caracterizados pela existência de valências
altamente diferenciadas. Entende-se por valência o conjunto de meios humanos e físicos
que permite a aplicação de saberes específicos em Medicina. Estes hospitais caracterizam-
se, ainda, por dispor de meios humanos e técnicos altamente diferenciados (Direcção Geral da
Saúde, Setembro, 2001).
Os Hospitais Distritais são aqueles cuja área de intervenção corresponde a um
distrito, ou parte, possuindo recursos inerentes às valências básicas, podendo ter,
quando se justifique, outros relacionados com valências intermédias e diferenciadas e,
só excepcionalmente, altamente diferenciadas, com responsabilidades no âmbito da sua
região onde se insere. As valências básicas inserem-se no âmbito da Medicina Interna,
Cirurgia Geral, Obstetrícia/Ginecologia e Pediatria (Direcção Geral da Saúde,
Setembro, 2001).
A importância da análise desta variável prende-se com uma questão que se coloca:
será que existem diferenças significativas entre Hospitais Centrais e Distritais no
cumprimento das normas definidas pelas guidelines, na recepção, armazenamento e
transporte de medicamentos citotóxicos? Esta dúvida poderá surgir, na medida em que
os Hospitais Centrais possuem valências e recursos altamente diferenciados, o que leva
a uma maior exigência na definição de procedimentos e cumprimento dos mesmos.
CLASSIFICAÇÃO DOS HOSPITAIS SEGUNDO O NÚMERO DE ESPECIALIDADES OU VALÊNCIAS:
Segundo este critério de classificação, os hospitais podem ser gerais ou
especializados. Os hospitais gerais asseguram serviços diferenciados em diversas
patologias, ou seja, integram serviços com diversas valências. Por outro lado, os
hospitais especializados são hospitais em que predomina o número de camas adstritas a
uma dada especialidade ou patologia, ou que presta assistência a utentes de um
determinado grupo etário (Direcção Geral da Saúde, Setembro, 2001).
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ACREDITAÇÃO DOS HOSPITAIS:
O Programa Nacional de Acreditação dos Hospitais é coordenado pelo Instituto da
Qualidade em Saúde, que visa criar um sistema autónomo de monitorização e
acreditação da qualidade organizacional dos hospitais Portugueses. Tem como objectivo
melhorar os aspectos relacionados com os cuidados que são prestados aos cidadãos,
com a melhoria do desempenho da Organização, da sua capacidade de gestão e
inovação.
O programa de melhoria e desenvolvimento interno dos hospitais resulta do
cumprimento de um conjunto de parâmetros, traduzidos em padrões e critérios, em que
o padrão constitui o objectivo global e o critério o mecanismo necessário para atingi-lo.
O desenvolvimento do processo de acreditação nos hospitais desencadeia a
necessidade de efectuar alterações nas infra-estruturas, de instalar determinados
procedimentos organizacionais, mas cria, em particular, um conjunto de necessidades
formativas.
Efectivamente, o cumprimento de determinados critérios do processo de acreditação
torna obrigatória a aquisição de certas competências por parte dos profissionais.
A metodologia utilizada neste processo implica um grande envolvimento dos
profissionais abrangidos, o que fomenta níveis de motivação para a formação que
facilitam a aprendizagem. A formação a desenvolver tem por objectivo o cumprimento,
no que respeita ao desempenho dos profissionais, de determinados critérios inscritos em
padrões, o que vem clarificar o processo de avaliação dos resultados da formação.
O diagnóstico das necessidades formativas decorre directamente da aplicação dos
critérios constantes do Programa de Acreditação, que identifica os requisitos do
desempenho dos profissionais desenvolvidos através de processos formativos
(Ministério da Saúde, Programa Operacional Saúde, 2000-2006).
A importância desta variável no questionário aplicado está relacionada com a
exigência que deve ser imputada aos profissionais que manuseiam medicamentos
citotóxicos em todo o seu circuito, não podendo descurar a importância das
necessidades formativas que estes apresentam para poderem cumprir em pleno todas as
normas.
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Como tal, no âmbito deste estudo, o processo de acreditação poderá contribuir de
uma forma muito positiva, sendo uma mais-valia, na medida em que permite
uniformizar procedimentos com o objectivo de minimizar o risco de
exposição/contaminação a que os profissionais e o ambiente estão sujeitos. É, por isso,
imprescindível que todos os Hospitais com este circuito definam normas e
procedimentos que garantam que os padrões de qualidade, higiene e segurança são
cumpridos e verificados.
A implementação destas medidas, por si só, não seriam suficientes, pois é necessário
um programa de monitorização, com o objectivo de melhoria contínua, permitindo
actualizar ou reformular procedimentos de acordo com as novas directrizes que vão
surgindo como resultado do avanço da tecnologia e de novas investigações.
O processo de acreditação, neste âmbito, poderá, ainda, trazer uma outra mais-valia
que se traduz na melhoria ou criação de novas infra-estruturas que permitam facilitar o
desempenho das actividades com segurança. Na realidade, não chega os profissionais
possuírem formação adequada para o desempenho das funções no âmbito do circuito do
medicamento citotóxico, se não forem reunidas as condições necessárias para o mesmo.
Assim, poderá surgir uma questão: Será que existem diferenças significativas no
cumprimento das normas de recepção, armazenamento e transporte de medicamentos
citotóxicos, entre os hospitais acreditados e os não acreditados?
A pertinência desta questão está relacionada com o descrito anteriormente, pois num
hospital acreditado impera um nível superior de exigência, quanto ao nível do
cumprimento de normas.
No entanto, no que respeita ao tema que dirige este estudo, sabe-se que a segurança
do manuseamento de medicamentos citotóxicos em todo o seu circuito, no âmbito da
Farmácia Hospitalar, é um tema, ainda, pouco explorado em Portugal, o que suscita
muitas dúvidas por parte das instituições e profissionais, sendo alvo de alguma
controvérsia pela ausência de legislação Portuguesa sobre este assunto.
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EXISTÊNCIA DE UMA UNIDADE CENTRALIZADA DE PREPARAÇÃO DE CITOTÓXICOS (UCPC):
Os hospitais com circuito de medicamentos citotóxicos podem ou não possuir uma
UCPC. Se esta unidade existir, significa que a preparação da dose adequada ao doente é
realizada sob alçada dos serviços farmacêuticos, o que pode significar que todas as
restantes etapas do circuito do medicamento citotóxico (recepção, armazenamento e
transporte) se encontram claramente definidas ao nível de normas e procedimentos a
cumprir, revelando maior preocupação dos profissionais. Também nestas instituições, o
tipo de formação exigida será mais específica e rigorosa. A questão que surge é: será
que é mesmo assim?
Certamente que a resposta não á assim tão linear, na medida em que implica a análise
de um conjunto de variáveis.
TIPO DE FORMAÇÃO ADQUIRIDA PARA INTERVIR NO CIRCUITO DO MEDICAMENTO
CITOTÓXICO:
Mediante as respostas obtidas, foram criados dois níveis de formação: formação
geral, que corresponde à formação básica, bacharelato ou licenciatura, e formação
específica, que abrange formação específica interna (no próprio hospital), externa
(noutra instituição) e pós-graduação/mestrado na área.
A análise desta variável neste estudo torna-se importante, pois um dos requisitos
fundamentais para o manuseamento de medicamentos citotóxicos é a formação
específica na área, de modo a minimizar todos os potenciais riscos de exposição e
contaminação do profissional e do ambiente.
EXISTÊNCIA DE UM PROTOCOLO DE ACTUAÇÃO COM O SERVIÇO DE SAÚDE OCUPACIONAL
(SSO):
Ao longo dos tempos, vários esforços têm sido efectuados para sensibilizar os
profissionais de saúde para a vertente da Saúde Ocupacional, no entanto continua-se a
verificar que os procedimentos adoptados, no local de trabalho, ficam muito aquém das
normas desejadas para evitar a exposição desnecessária a riscos.
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Caso ocorra um acidente que se traduza na inalação directa, corte ou picada, é
imperativa a existência de um protocolo de actuação como o Serviço de Saúde
Ocupacional, de modo a proporcionar a realização imediata de todos os exames
necessários e acompanhamento contínuo do profissional, para verificar a ocorrência de
alguma situação inadvertida (38).
No caso concreto dos profissionais que preparam medicamentos citotóxicos na
câmara de Fluxo de Ar Laminar Vertical (CFLV), o acompanhamento pelo Serviço de
Saúde Ocupacional deve ser imprescindível no sentido de detectar possíveis alterações
fisiológicas e não só, e monitorizar o estado de saúde dos profissionais. Esta
monitorização deve ser contínua, com a realização de exames médicos semestralmente.
EXISTÊNCIA DE UM MANUAL DE PROCEDIMENTOS:
O manual de procedimentos é uma ferramenta muito importante, na medida em que
permite uniformizar procedimentos e transmitir toda a informação necessária sobre cada
etapa do circuito de medicamentos citotóxicos. Deve ser de fácil acesso, e facultado aos
profissionais antes de estes iniciarem actividade nesta área específica.
Analisar a sua existência ou não nos hospitais é um aspecto importante, pois se este
não existir, não pode ser exigido aos profissionais o cumprimento de normas se elas não
estiverem claramente definidas e descritas.
CARACTERIZAÇÃO DO RISCO DE EXPOSIÇÃO:
Risco pode ser definido como a probabilidade de ocorrência de efeitos nocivos para o
profissional, capazes de prejudicar a sua própria segurança e bem-estar (53).
Existe uma necessidade emergente de alertar os profissionais de saúde para a
identificação dos riscos a que estão expostos, sensibilizá-los para práticas preventivas e
um adequado controlo e vigilância nos seus locais de trabalho.
A eliminação ou o controlo dos riscos do meio laboral, a protecção e a promoção da
saúde dos profissionais e a humanização do trabalho é uma das preocupações da OMS
(Organização Mundial de Saúde).
Segundo BAKER et al (1996), a exposição a medicamentos citotóxicos é
reconhecida, desde 1970, como um potencial risco para os trabalhadores (3).
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Apesar das investigações realizadas, ainda é muito difícil a determinação da
magnitude do grau de risco do indivíduo ou grupo potencialmente expostos, devido ao
número limitado de estudos de exposição realizados até à data.
A análise de diversas situações de trabalho existentes em hospitais reconhece
numerosos factores de risco de origem profissional, cuja acção pode resultar em danos
para a saúde dos profissionais expostos (53).
A abordagem realizada aos profissionais sobre o risco de exposição a que estão
sujeitos, em função do cumprimento das normas de segurança, poderá sugerir a noção
de perigo/risco que consideram estar associada a estes medicamentos.
As opções de resposta eram: risco baixo, moderado ou elevado.
Poderá existir uma ideia generalizada de que o risco de exposição nas fases de
recepção, armazenamento e transporte de medicamentos citotóxicos é praticamente nulo
em relação à fase de preparação da dose adequada ao doente em CFLV. No entanto,
sabe-se que o risco de exposição nas fases de recepção, armazenamento e transporte
deve ser tão valorizado como nas restantes fases do circuito destes medicamentos,
nomeadamente, preparação da dose adequada ao doente (1,38).
NECESSIDADE DE FORMAÇÃO AO NÍVEL DA SEGURANÇA:
A análise desta variável poderá permitir diagnosticar as necessidades de formação
que os profissionais têm para desempenhar a sua actividade profissional com segurança
no âmbito deste tipo de medicamentos.
Esta variável pode ser analisada nos hospitais acreditados e não acreditados, de modo
a verificar se existem diferenças significativas, uma vez que a detecção de necessidades
formativas e a implementação de planos de formação estão implícitas no processo de
acreditação.
SEGURANÇA NO CIRCUITO DO MEDICAMENTO CITOTÓXICO: CONTRIBUTOS PARA A AVALIAÇÃO DA REALIDADE HOSPITALAR EM PORTUGAL
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Na segunda parte do questionário foi elaborada uma check-list com todos os
requisitos que se devem verificar, segundo as guidelines, para cada etapa do circuito de
medicamentos citotóxicos: recepção, armazenamento e transporte (tabela 1).
Para cada requisito, as opções de resposta eram: nunca, às vezes, muitas vezes e
sempre. Para analisar estatisticamente o cumprimento destes requisitos foi atribuída
uma ordem crescente às respostas, ou seja, nunca corresponde ao 1, às vezes
corresponde ao 2, muitas vezes corresponde ao 3 e sempre corresponde ao 4. Neste caso,
o ideal de resposta será o sempre, pois significa que a norma é sempre cumprida. Deste
modo, para analisar o cumprimento das normas/requisitos foram definidas três
variáveis: recepção, armazenamento e transporte, havendo para cada uma delas uma
escala de respostas de 1 a 4, como explicado anteriormente.
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Tabela 1. Requisitos de avaliação da check-list aplicada no questionário.
1. RECEPÇÃO DE MEDICAME TOS CITOTÓXICOS
1.1. A recepção de medicamentos citotóxicos é da responsabilidade dos profissionais de farmácia que possuem formação específica e estão devidamente treinados para o seu manuseamento seguro.
1.2. No acto da recepção é realizada uma inspecção visual, de modo a detectar sinais externos de danos ou rupturas/quebras nas embalagens.
1.3. As remessas de citotóxicos vêm devidamente assinaladas com dísticos de alerta de perigo.
1.4. As embalagens conferem protecção ao operador, sendo robustas e protegidas por um invólucro anti-quebra.
1.5. No acto da recepção, o profissional responsável encontra-se protegido com o EPI recomendado, utilizando dois pares de luvas próprias para citotóxicos.
1.6. Existem normas e procedimentos instituídos relativos ao manuseamento de embalagens danificadas e sua devolução ao fornecedor.
1.7. O local de recepção de encomendas encontra-se provido de um sistema de ventilação.
1.8. Os medicamentos citotóxicos são recepcionados separadamente da restante medicação, em área separada para evitar contaminação cruzada.
1.9. Existe um kit de derramamento, e respectivo manual de instruções, de fácil acesso e utilização pelo profissional.
1.10. Em caso de acidente, os profissionais sabem como proceder de acordo com as normas.
1.11.Existe um documento específico de registo para notificar a ocorrência de acidentes.
2. ARMAZE AME TO DE MEDICAME TOS CITOTÓXICOS 2.1. O armazenamento de medicamentos citotóxicos é efectuado por profissionais com formação específica e
devidamente treinados para o seu correcto manuseamento. 2.2. A área de armazenamento está devidamente identificada com dísticos de alerta para o perigo de
manuseamento destes fármacos. 2.3. Existe nesta área um sistema de ventilação com capacidade para remover da atmosfera partículas tóxicas
provenientes de aerossóis. 2.4. Estes mediamentos são armazenados em armários com prateleiras providas de estruturas que minimizam
o risco de quebra. 2.5. Os armários apresentam dimensões suficientes para permitir todos os cuidados de manuseamento
necessários. 2.6. O armazenamento é realizado de modo a que todos os fármacos se distingam claramente uns dos outros,
para evitar erros de dispensa. 2.7. Os profissionais envolvidos nesta etapa utilizam EPI, com um duplo par de luvas próprias para
citotóxicos. 2.8. Existe um kit de derramamento, e respectivo manual de instruções, de fácil acesso e utilização pelo
profissional. 2.9. Em caso de acidente, os profissionais sabem como proceder de acordo com as normas.
2.10. Existe um documento específico de registo para notificar a ocorrência de acidentes. 3. TRA SPORTE DE MEDICAME TOS CITOTÓXICOS 3.1. O transporte destes medicamentos é realizado por profissionais devidamente treinados para o seu
manuseamento em segurança. 3.2. O transporte é efectuado em carros ou outros dispositivos com guardas de protecção contra a
queda/ruptura. 3.3. Os carros de transporte possuem gavetas fechadas e/ou porta de correr, de modo a garantir maior
segurança durante o percurso. 3.4. Tanto os carros de transporte como outros dispositivos concebidos para o efeito estão assinalados com
dísticos de alerta para o perigo de citotóxicos. 3.5.Os profissionais envolvidos nesta fase do circuito são capazes de identificar e atribuir significado aos
símbolos de alerta para citotóxicos e reconhecer os perigos inerentes ao seu manuseamento.
3.6. Em caso de acidente durante o transporte, os profissionais sabem como actuar e a quem devem recorrer para a utilização do kit de derramamento.
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IV.3 – MÉTODOS E TÉCNICAS DE ANÁLISE DE DADOS
No que concerne aos Métodos e Técnicas de Análise de Dados, neste estudo foi
utilizada essencialmente a Análise Estatística. Em concreto, foram utilizadas a
estatística descritiva, que descreve, de forma sumária, alguma característica de uma ou
mais variáveis fornecidas por uma amostra de dados, e a estatística indutiva, que
permite avaliar o papel de factores ligados com o acaso quando se está a tirar
conclusões a partir de uma ou mais amostras de dados (23). Assim, recorreu-se à
aplicação de testes estatísticos: teste do Qui-Quadrado para analisar a relação entre
variáveis e o teste t para amostras independentes, para comparar os valores médios de
uma variável em duas amostras independentes, considerando que a distribuição da
variável é normal ou tende para a normalidade, uma vez que neste estudo a dimensão
amostral é de 30 (n=30).
Para o tratamento dos dados utilizou-se o software SPSS, versão 17.0, sendo
considerado, nos testes utilizados, um nível de significância (α) de 0,05.
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V – ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS
V.1 – CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL DA AMOSTRA: ANÁLISE
DESCRITIVA DAS VARIÁVEIS EM ESTUDO
Dos 48 questionários enviados, obteve-se uma percentagem de resposta de 62,5%
(n=30).
CLASSIFICAÇÃO DOS HOSPITAIS SEGUNDO A ÁREA GEOGRÁFICA DE
INFLUÊNCIA OU INTERVENÇÃO
Relativamente à classificação dos hospitais segundo a à área geográfica de influência
ou intervenção, verifica-se que 53,3% (n=16) são hospitais centrais e 46,7% (n=14) são
hospitais distritais (tabela 2).
Tabela 2 – Classificação dos hospitais segundo área geográfica de influência ou
intervenção.
Frequência Percentagem
(%)
Hospital
Central 16 53,3
Distrital 14 46,7
Total 30 100,0
CLASSIFICAÇÃO DOS HOSPITAIS SEGUNDO O NÚMERO DE ESPECIALIDADES OU
VALÊNCIAS
No que se refere à classificação segundo o número de especialidades ou valências,
observa-se que 86,7% (n=26) são hospitais gerais e 13,3% (n=4) são hospitais
especializados (tabela 3).
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Tabela 3 – Classificação dos hospitais segundo o número de especialidades ou
valências.
Frequência
Percentagem (%)
Hospital
Geral 26 86,7
Especializado 4 13,3
Total 30 100,0
Através desta análise pode-se inferir que a maior parte da amostra (86,7%) pertence
ao grupo dos hospitais gerais.
Fazendo uma análise conjunta, a amostra obtida é constituída por 13 hospitais
centrais gerais, 3 hospitais centrais especializados, 13 hospitais distritais gerais e 1
hospital distrital especializado (tabela 4).
Tabela 4 – Classificação dos hospitais segundo a área geográfica de intervenção e
número de especialidades ou valências.
Especialidades/Valências
Total Geral Especializado
Área geográfica de intervenção
Central 13(43,3%) 3 (10,0%) 16 (53,3%)
Distrital 13 (43,3%) 1 (3,3%) 14 (46,7%)
Total 26 (86,7%) 4 (13,3%) 30 (100,0%)
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ACREDITAÇÃO DOS HOSPITAIS
Através da análise da variável acreditação dos hospitais, os resultados obtidos
evidenciam que 33,3% (n=10) dos hospitais são acreditados (tabela 5).
Tabela 5 – Caracterização dos hospitais segundo a acreditação.
Frequência Percentagem (%)
Hospital acreditado
Sim 10 33,3
Não 20 66,7
Total 30 100,0
Estes dados sugerem que neste âmbito há, ainda, um longo caminho a percorrer. No
entanto, considerando que o processo de acreditação hospitalar é relativamente recente
em Portugal, não se pode afirmar que os resultados sejam negativos. Foi em 1997, que o
Ministério da Saúde instituiu como objectivo prioritário a definição de uma política de
qualidade para o sector, o desenvolvimento e implementação de sistemas de qualidade e
a criação do Instituto da Qualidade na Saúde para apoiar as organizações na melhoria da
qualidade (32).
A implementação deste processo, especificamente na farmácia hospitalar, poderá ser
uma mais-valia no domínio do circuito dos medicamentos citotóxicos, na medida em
que acarreta o cumprimento de um conjunto de critérios e requisitos, conduzindo ao
aumento da segurança dos profissionais e do meio envolvente.
EXISTÊNCIA DE UCPC
Relativamente à existência de uma UCPC, os resultados obtidos mostram que 76,7%
(n=23) dos hospitais têm uma UCPC (tabela 6).
Tabela 6 – Existência de UCPC nos hospitais.
Frequência Percentagem (%)
UCPC
sim 23 76,7
não 7 23,3
Total 30 100,0
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A existência de uma UCPC tem como vantagens a racionalização do consumo dos
medicamentos citotóxicos, acrescentar mais-valias técnico-científicas ao processo
produtivo com ganhos em qualidade e segurança da preparação, proporcionar segurança
para os profissionais envolvidos, com diminuição dos riscos associados à
manipulação/manuseamento, e, ainda, evitar a contaminação do ambiente circundante
(24).
Deste modo, tanto os profissionais como a instituição só têm a ganhar com a
implementação de uma UCPC na farmácia hospitalar. Neste sentido, o panorama actual,
de acordo com os resultados obtidos, pode-se considerar favorável, na medida em que a
maioria dos hospitais da amostra estudada têm uma UCPC.
TIPO DE FORMAÇÃO ADQUIRIDA PARA INTERVIR NO CIRCUITO DO
MEDICAMENTO CITOTÓXICO
Para o manuseamento de medicamentos citotóxicos, os profissionais envolvidos
carecem de formação específica na área, como salvaguarda da sua própria saúde e do
ambiente.
A formação geral aqui abordada refere-se a uma formação básica, como licenciatura
ou bacharelato. É considerada geral neste domínio, pois durante este ciclo de estudos,
esta temática é pouco abordada, não transmitindo a informação necessária ao futuro
profissional para intervir no circuito de medicamentos citotóxico.
Neste estudo, foi analisado o tipo de formação que os profissionais adquiriram para
desempenhar funções no âmbito do circuito destes medicamentos.
Para a análise desta variável obtiveram-se 29 respostas válidas, pois uma não foi
considerada por sair do âmbito da pergunta.
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Tabela 7 – Tipo de formação dos profissionais.
Frequência Percentagem (%)
Valid percent (%)
Tipo de formação
Geral 13 43,3 44,8
Específica 16 53,3 55,2
Total 29 96,7 100,0
Missing System 1 3,3 Total 30 100,0
Pela análise da tabela 7, compreende-se que 55,2% dos profissionais possuem uma
formação específica, o que significa que existe alguma preocupação a este nível, quer
por parte dos profissionais quer por parte das instituições hospitalares.
Esta formação específica traduz-se, para além da formação básica descrita
anteriormente, em formação específica interna, no próprio hospital, formação específica
externa, noutra instituição, e, ainda, pós-graduação ou mestrado na área.
EXISTÊNCIA DE UM PROTOCOLO DE ACTUAÇÃO COM O SERVIÇO DE SAÚDE
OCUPACIONAL (SSO)
A existência de um protocolo de actuação com o Serviço de Saúde Ocupacional, em
caso de acidente, é um dos requisitos a verificar nos hospitais com circuito de
medicamentos citotóxicos.
Assim, os resultados da tabela 8 mostram que a percentagem de hospitais que não
têm protocolo de actuação com o SSO é muito semelhante à dos hospitais que possuem
esse protocolo.
Tabela 8 – Existência de um protocolo de actuação com o SSO.
Frequência Percentagem (%)
Protocolo de actuação com o SSO
Sim 16 53,3
Não 14 46,7
Total 30 100,0
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Estes resultados podem indicar que este requisito tem vindo a merecer alguma
atenção por parte das instituições hospitalares, uma vez que, aproximadamente, metade
dos hospitais que constituem esta amostra tem este protocolo instituído.
EXISTÊNCIA DE UM MANUAL DE PROCEDIMENTOS
Verifica-se que 60% dos hospitais possui manual de procedimentos (tabela 9). Esta
percentagem, ainda que represente mais de metade da amostra, revela que existe algum
descuido e falta de esforço, na medida em que a elaboração deste manual é da
responsabilidade dos profissionais. Deve ser elaborado com base numa pesquisa
bibliográfica que se centre nas normas descritas nas guidelines, adaptando-as à realidade
da instituição hospitalar, pois nem sempre é possível cumprir todos os requisitos devido
à falta de recursos e infra-estruturas.
Tabela 9 – Existência de um manual de procedimentos.
Frequência Percentagem (%)
Manual de Procedimentos
Sim 18 60,0
Não 12 40,0
Total 30 100,0
CARACTERIZAÇÃO DO RISCO DE EXPOSIÇÃO
No que concerne à caracterização do risco de exposição, os resultados revelam que
apenas 13,3% (n=4) dos profissionais abordados consideram existir um risco de
exposição elevado (tabela 10).
Esta situação poderá revelar-se preocupante, na medida em que nem todos os
profissionais estão sensibilizados para os perigos inerentes ao manuseamento de
medicamentos citotóxicos. Por isso, existe necessidade de desenvolver, cada vez mais,
planos de formação que se centrem nas boas práticas, de modo a colmatar as lacunas
existentes.
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Tabela 10 – Caracterização do risco de exposição dos profissionais.
Frequência Percentagem (%)
Risco de exposição
Baixo 14 46,7
Moderado 12 40,0
Elevado 4 13,3
Total 30 100,0
Na figura 10 é possível verificar claramente que são poucos os profissionais que
consideram que o risco de exposição é elevado. No entanto, também é de salientar que
muitos (40%) consideram ter um risco de exposição moderado, o que poderá indicar que
apresentam atitudes conscientes quando manuseiam estes medicamentos citotóxicos.
Figura 10 – Risco de exposição dos profissionais.
NECESSIDADE DE FORMAÇÃO AO NÍVEL DA SEGURANÇA
Quanto a esta questão, os profissionais foram unânimes na sua resposta, pois 90%
responderam que carecem de mais formação ao nível da segurança no circuito do
medicamento citotóxico (tabela 11).
Per
cen
tage
m (
%)
Risco de exposição
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Tabela 11 – Necessidade de formação dos profissionais.
Frequência Percentagem (%)
Necessidade de formação
Sim 27 90,0
Não 3 10,0
Total 30 100,0
Deste modo, compreende-se que existe uma preocupação em actuar de acordo com
as normas, mas para isso é necessário ter conhecimento das mesmas, assumindo a
formação um papel de destaque. Embora anteriormente se tenha verificado um maior
número de profissionais com formação específica, o resultado observado para esta
variável sugere que há necessidade de mais formação, no sentido de actualizar
conhecimentos e revalidar algumas competências.
V.2 – ANÁLISE DO CUMPRIMENTO DAS NORMAS DESCRITAS NAS
GUIDELINES NAS FASES DE RECEPÇÃO, ARMAZENAMENTO E
TRANSPORTE
Para analisar o cumprimento das normas apresentadas na check-list do questionário,
foram definidas três variáveis: recepção, armazenamento e transporte.
Os resultados obtidos para estas variáveis encontram-se resumidos na tabela 12.
Tabela 12 – Análise descritiva das variáveis recepção, armazenamento e transporte.
MI MAX MEDIA
DESVIO PADRÃO
MEDIA A
Recepção 16,00 38,00 28,33 5,15 29,00
Armazenamento 14,00 37,00 25,57 6,59 25,50
Transporte 6,00 24,00 13,67 5,03 13,00
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De acordo com o número de requisitos a verificar para cada fase do circuito do
medicamento citotóxico em análise, existem valores teóricos que servem como padrão
de comparação com os valores obtidos.
Assim, na check-list aplicada para a fase de recepção devem ser cumpridos e
verificados 11 requisitos (tabela 1). Como tal, sendo a escala de resposta de 1 a 4, como
explicado anteriormente, os valores teóricos para a variável recepção são 44 para o
máximo, 11 para o mínimo e 22 para a média.
Deste modo, para a variável recepção, a média obtida foi de 28,33. Este valor
encontra-se acima da média teórica, o que significa que o cumprimento das normas na
fase de recepção encontra-se acima da média, embora não muito distante.
Pelo mínimo obtido para esta variável que foi de 16, pode-se inferir que pelo menos
uma das normas nesta fase de recepção é cumprida, pois encontra-se acima do mínimo
teórico. Este só se verificaria se as respostas para todos os requisitos da recepção fossem
todas nunca, o que não se verificou.
O máximo verificado foi de 38, afastando-se do máximo teórico que é 44. Deste
modo os resultados sugerem que os hospitais não cumprem sempre todas as normas
preconizadas pelas guidelines nesta fase de recepção.
Relativamente à variável armazenamento, os valores teóricos, atendendo a que nesta
fase têm que ser cumpridos 10 requisitos, são 40 para o máximo, 10 para o mínimo e 20
para a média. Assim, para esta variável a média obtida foi de 25,57, o que significa que
está acima da média teórica, o que poderá sugerir que o cumprimento das normas na
fase de armazenamento se encontra acima da média. No entanto, está longe do ideal que
seria o máximo, ou seja, 40. Neste caso significaria que todas as normas são cumpridas.
Quanto ao valor máximo atingido nesta amostra, que foi 37, pode-se inferir que pelo
menos um dos hospitais está muito próximo do ideal. É também de destacar que
nenhum hospital traduz o incumprimento total das normas, pois o valor mínimo obtido
foi de 14, estando este acima do valor teórico 10. Ou seja, pela menos um dos requisitos
é verificado. No entanto, a escala de resposta varia de nunca para sempre, sendo o às
vezes e muitas vezes também opção. Ora, neste caso, quando se diz que pelo menos uma
das normas é cumprida, nada garante que seja sempre. Poderá ser, também, às vezes, e
neste caso o resultado não é assim tão favorável.
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Finalmente, para a variável transporte, os valores teóricos, de acordo com os 6
requisitos a verificar são 24 para o máximo, 6 para o mínimo e 12 para a média.
Fazendo uma análise, verifica-se que a média obtida para esta variável foi de 13,67.
Sendo assim, pode-se dizer que este valor encontra-se pouco acima da média em
comparação com as outras duas variáveis (tabela 13).
Tabela 13 – Médias teóricas e obtidas para as variáveis: recepção, armazenamento e
transporte.
Média teórica Média Obtida
Recepção 22,00 28,33
Armazenamento 20,00 25,57
Transporte 12,00 13,67
É na variável transporte que a diferença entre a média teórica e a média obtida é
menor, o que significa que é nesta fase do circuito que há menor cumprimento das
normas. O valor mínimo obtido foi de 6, que é o mesmo que o teórico. Então, este facto
remete para o pior cenário nesta fase do circuito, ou seja existe, pelo menos, um hospital
que nunca cumpre qualquer um dos requisitos da check-list. Por outro lado, o valor
máximo obtido, 24, traduz o cenário oposto ao anterior, ou seja o ideal, pois este valor
coincide com o valor teórico. Portanto, estes resultados indicam que, pelo menos, um
dos hospitais cumpre na íntegra todas as normas nesta fase de transporte de
medicamentos citotóxicos.
Através da construção de uma tabela de frequências para as fases de recepção,
armazenamento e transporte, é possível detectar algumas situações oportunas para o
objectivo deste estudo. Nomeadamente, através da verificação do número de hospitais
que nunca cumprem determinado requisito, ou pelo contrário cumprem sempre.
As tabelas que se seguem fornecem uma informação mais detalhada, na medida em
que é possível analisar requisito por requisito.
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Todos os requisitos das tabelas seguintes encontram-se numerados. No caso da fase
de recepção de 1 a 11, na fase de armazenamento de 1 a 10 e na fase de transporte de 1 a
6. A sua descrição encontra-se na tabela 1, no sub-capítulo IV.2: Técnicas e
Instrumentos de Recolha de Dados.
Assim, começando por analisar a tabela 14, correspondente à fase de recepção de
medicamentos citotóxicos, verifica-se que 25 (83,3%) hospitais nunca cumprem o
requisito 1.5, ou seja, no acto da recepção, o profissional responsável não utiliza o EPI
recomendado (bata reforçada e dois pares de luvas próprias para citotóxicos). Ainda se
verifica que não há, pelo menos, um hospital a cumprir sempre este requisito.
Tabela 14 – Tabela de frequências para os requisitos da check-list na fase de
recepção.
1.1
1.2
1.3
1.4
1.5
1.6
1.7
1.8
1.9
1.10
1.11
Nunca 5 1 0 0 25 9
19 22 9 0 10
Às vezes 2 2 8 18 5 5 1 2 1 9 3
Muitas vezes 6
8 10 11 0 6 3 3 2 8 1
Sempre 17 19 12 1 0 10 7 3 18 13 16
Total 30
30 30 30 30 30 30 30 30 30 30
Deste facto surge uma preocupação, na medida em que existem diversos estudos
realizados que comprovam a contaminação da superfície externa dos frascos, incluindo
cartonagens, de alguns medicamentos citotóxicos mais utilizados, como o fluorouracilo
e a ciclofosfamida (22,47,48).
Frequências
1. Recepção
Requisitos da check-list
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Esta situação indica que os frascos e cartonagens deveriam de ser descontaminados
ainda no processo de fabrico, mas sendo esta uma medida de difícil implementação,
uma vez que envolve muitas empresas nacionais e internacionais, devem ser accionadas
práticas centradas na prevenção logo na fase de recepção do medicamento, pois é nesta
fase que ocorre o primeiro contacto com o produto (50).
No que se refere aos requisitos 1.1 e 1.2, os resultados sugerem que mais de 50% dos
hospitais cumprem sempre. Ou seja, o profissional responsável pela recepção está
devidamente formado e treinado para o manuseamento seguro e, ainda, no acto da
recepção é realizada uma inspecção visual, de modo a detectar sinais externos de danos
ou rupturas nas embalagens.
Relativamente aos requisitos 1.7 e 1.8, verifica-se que grande parte dos hospitais,
63,3% e 73,3% respectivamente, nunca cumprem estes requisitos. Este facto significa
que 63,3% dos hospitais não possuem sistema de ventilação no local de recepção de
encomendas de medicamentos citotóxicos, assim como 73,3% não recepciona estes
medicamentos separadamente da restante medicação, de modo a evitar contaminação
cruzada. Portanto, este é um dos parâmetros a melhorar nos hospitais, sabendo-se que
nem sempre é possível, devido à falta de condições, nomeadamente de infra-estruturas.
Nos requisitos 1.9 e 1.11 verifica-se que mais de 50 % dos hospitais cumprem sempre.
Ou seja, na maior parte dos hospitais que constituem esta amostra, existe sempre um kit
de derramamento e respectivo manual de instruções no local de recepção, assim como
também existe sempre um documento específico de registo para notificar a ocorrência
de acidentes.
Para os requisitos 1.3, 1.4 e 1.10, os resultados sugerem que não existem hospitais
que nunca cumprem, o que revela uma certa preocupação em relação a estes aspectos.
É, particularmente, importante salientar que para o requisito 1.10, em 43,3% (n=13)
dos hospitais, os profissionais sabem como actuar em caso de acidente, procedendo de
acordo com as normas. Este aspecto realça a importância da formação prévia necessária
para que os profissionais saibam agir em conformidade. Nota-se, assim, que é
importante investir nesta área.
Partindo, agora, para a análise da tabela 15 referente à fase de armazenamento de
medicamentos citotóxicos, destacam-se os resultados obtidos para os requisitos 2.3 e
2.7.
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42
Assim, à semelhança do que aconteceu para a fase de transporte, também nesta fase se
verifica que grande percentagem dos hospitais, 70,0% e 60,0% respectivamente para os
requisitos 2.3 e 2.7, não possuem um sistema de ventilação com capacidade para
remover da atmosfera partículas tóxicas provenientes de aerossóis, assim como também
os profissionais não utilizam EPI, com um duplo par de luvas próprias para citotóxicos.
Tabela 15 – Tabela de frequências para os requisitos da check-list na fase de
armazenamento.
2.1
2.2
2.3
2.4
2.5
2.6
2.7
2.8
2.9
2.10
Nunca 3 11 21 15 9 2 18 6 2 9
Às vezes 6 6 3 3 5 9 7 1 6 2
Muitas vezes 8 3 5 5 8 5 3 1 8 3
Sempre 13 10 1 7 8 14 2 22 14 16
Total 30
30 30 30 30 30 30 30 30 30
Verifica-se, ainda, que 50% dos hospitais nunca cumprem o requisito 2.4, ou seja, os
armários de armazenamento de medicamentos citotóxicos não são providos de barreiras
que minimizam o risco de queda/quebra. Este é um importante aspecto, na medida em
que pode reduzir o risco de acidente por queda/quebra e evitar a potencial contaminação
que poderia decorrer do acidente, expondo não só o profissional, como também o meio
envolvente.
Os requisitos para os quais se verifica maior cumprimento são o 2.8 e 2.10, 73,3% e
53,3% respectivamente, o que indica que grande parte dos hospitais possuem um kit de
derramamento no local de armazenamento, assim como um documento específico para
registar a ocorrência de acidentes. O mesmo se verificou na fase de recepção.
Frequências
2. Armazenamento
Requisitos da check-list
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Relativamente à fase transporte, há dois aspectos a salientar que se relacionam com
os requisitos 3.3 e 3.4 (tabela 16). Assim, os resultados obtidos indicam que 73,3%
(n=22) dos hospitais nunca realizam o transporte em carros com gavetas fechadas e/ou
porta de correr. O cumprimento desta norma é importante, pois permite reduzir o risco
de acidente durante o transporte e, consequentemente, o risco de exposição. Portanto,
nota-se que nesta área não há grande preocupação.
Tabela 16 – Tabela de frequências para os requisitos da check-list na fase de
transporte.
3.1
3.2
3.3
3.4
3.5
3.6
Nunca 8 11 22 15 7 6
Às vezes 10 7 2 5 7 10
Muitas vezes
8 1 0 4 3 5
Sempre 4 11 6 6 13 9
Total 30
30 30 30 30 30
Relativamente ao requisito 3.4, verifica-se que 50% (n=30) dos hospitais nunca
identificam os carros ou dispositivos de transporte com dísticos de alerta para o perigo
de substâncias tóxicas. Este é mais um factor que, a ser cumprido, pode contribuir para
diminuir o risco de exposição e contaminação, pois transmite a informação de que são
substâncias perigosas e, como tal, devem ser manuseadas de acordo com os
procedimentos instituídos.
Após a análise de todas as fases: recepção, armazenamento e transporte, verifica-se
que em todas existem lacunas, salientando-se a importância de uma célere intervenção
nesta área de modo a reduzir os potenciais riscos de exposição e contaminação a que os
profissionais e o ambiente estão sujeitos.
Frequências
3. Transporte
Requisitos da check-list
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V.3 – ANÁLISE DE PRESSUPOSTOS
Para enfatizar a abordagem deste estudo, considerou-se pertinente a colocação de
algumas questões que foram surgindo durante o desenvolvimento deste trabalho e para
as quais não foi encontrada literatura que reportasse para uma resposta. Provavelmente
este estudo não vai responder nitidamente a essas questões, pelas limitações que possa
apresentar. No entanto, pretende-se deixar no ar algumas hipóteses sugestivas para
estudos futuros, ainda que algumas possam ser controversas.
Apesar de este estudo não ser suficientemente rigoroso para responder a estas
questões, decidiu-se partir para a análise com os dados disponíveis.
Assim as questões a analisar são as seguintes:
1. Existem diferenças significativas no cumprimento das normas entre os hospitais
acreditados e não acreditados?
2. Existem diferenças significativas no cumprimento das normas entre hospitais centrais
e distritais?
3. O cumprimento das normas difere significativamente entre hospitais com UCPC e
sem UCPC?
4. Existe alguma relação entre a existência de um manual de procedimentos com o facto
de o hospital ser acreditado ou não?
5. A existência de um protocolo de actuação com o SSO está relacionada com o facto
de ser um hospital acreditado ou não?
6. A percepção do risco que os profissionais têm está relacionada com o tipo de
formação que possuem?
Estas são algumas das questões que se pretendem analisar de acordo com os dados
disponíveis. Para todos os testes foi utilizado um nível de significância (α) de 0,05,
assumindo-se a normalidade da distribuição da amostra (n=30).
Assim, para a primeira questão foi utilizado um teste t para amostras independentes,
assumindo-se a normalidade da amostra (n=30).
A finalidade desta análise é, então, saber se existem diferenças significativas no
cumprimento das normas, nas fases de recepção, armazenamento e transporte, entre
hospitais acreditados e não acreditados.
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Primeiramente, foi realizado um teste à homogeneidade de variâncias (Teste de
Levene), verificando-se que para as três variáveis: recepção, armazenamento e
transporte, o valor de prova é superior ao nível de significância: p> α (0,05), logo
assume-se igualdade de variâncias.
Assim, os resultados obtidos apresentam-se na tabela 17.
Tabela 17 – Teste t para amostras independentes (questão 1).
Teste Levene Teste t
p p
Recepção 0,632 0,142
Armazenamento 0,325 0,879
Transporte 0,119 0,119
Verifica-se que para todas as variáveis: recepção, armazenamento e transporte, o
valor de prova é superior ao nível de significância: p> α (0,05), logo os resultados
indicam que não se pode afirmar que existem diferenças significativas no cumprimento
das normas entre hospitais acreditados e não acreditados.
No entanto, ainda que não haja diferenças estatisticamente significativas, comparou-
se a média obtida nos hospitais acreditados e não acreditados.
Os resultados obtidos encontram-se na tabela 18.
Tabela 18 – Médias obtidas para hospitais acreditados e não acreditados, face ao
cumprimento das normas na recepção, armazenamento e transporte de medicamentos
citotóxicos.
Média dos Hospitais acreditados
Média dos Hospitais não acreditados
Recepção 30,30 27,35
Armazenamento 25,30 25,70
Transporte 15,70 12,65
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Estes resultados revelam que os hospitais acreditados apresentam, em geral, médias
superiores aos não acreditados, o que poderá sugerir que nos hospitais acreditados o
cumprimento das normas aproxima-se mais de um cenário ideal.
Esta constatação poderá ser justificada pelo facto da implementação do processo de
acreditação num hospital traduzir uma forma de “exigir” que a lei, ou em alternativa, as
guidelines ou normas relacionadas com determinado tipo de actividade, neste caso,
manuseamento de medicamentos citotóxicos, sejam cumpridas. Permite também uma
melhor fiscalização dos profissionais que intervêm no circuito destes medicamentos,
verificando se estes são possuidores da formação adequada exigida para o exercício da
actividade em causa, obtendo-se, assim, uma garantia de que as tarefas são executadas
com qualidade, segurança e segundo os padrões estabelecidos (2). Nesta amostra não foi
possível tirar a conclusão de que nos hospitais acreditados o cumprimento das normas é
significativamente superior aos não acreditados.
Para responder à segunda questão colocada, foi igualmente utilizado um teste t para
amostras independentes. Pretende-se saber se existem diferenças significativas no
cumprimento das normas entre os hospitais centrais e distritais.
Os resultados encontram-se na tabela 19.
Tabela 19 – Teste t para amostras independentes (questão 2).
Teste Levene Teste t
p p
Recepção 0,544 0,746
Armazenamento 0,309 0,668
Transporte 0,839 0,981
Depois de realizado o teste à homogeneidade de variâncias (p>α (0,05), logo
assume-se igualdade de variâncias), verificou-se que, no teste t, para as três variáveis, o
valor de prova é superior ao nível de significância: p>α (0,05), pelo que não se pode
afirmar que existem diferenças significativas no cumprimento das normas entre os
hospitais centrais e distritais.
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No entanto, seguindo o raciocínio da questão anterior, apesar de não existirem
diferenças significativas, fez-se uma comparação entre as médias dos hospitais centrais
e distritais. Assim, como se vê na tabela 20, as médias obtidas são muito semelhantes.
Tabela 20 – Médias obtidas para hospitais centrais e distritais, face ao cumprimento das
normas na recepção, armazenamento e transporte de medicamentos citotóxicos.
Média dos Hospitais centrais
Média dos Hospitais Distritais
Recepção 28,62 28,00
Armazenamento 26,06 25,00
Transporte 13,69 13,64
Estes resultados são concordantes com o verificado no teste t, ou seja não se
verificam diferenças entre hospitais centrais e hospitais distritais.
Esta questão surgiu pelo facto de se associar um hospital distrital a um hospital
pequeno e, portanto, com circuitos pouco estruturados, no entanto não se pode concluir
que assim seja.
A questão 3 poderá ser pertinente, na medida em que um hospital com UCPC,
geralmente, devido à centralização do serviço, apresenta circuitos mais bem definidos e
uma estrutura bem organizada, podendo, por isso, ser mais exigente no que respeita ao
cumprimento das normas recomendadas, uma vez que se trata de um serviço que
submete os seus profissionais a um determinado risco de exposição
No entanto, não existe literatura que comprove que assim seja.
Assim, para fazer esta análise com os resultados deste estudo utilizou-se o teste t para
amostras independentes.
A tabela 21 traduz os resultados obtidos.
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Tabela 21 – Teste t para amostras independentes (questão 3).
Teste Levene Teste t
p p
Recepção 0,223 0,149
Armazenamento 0,429 0,611
Transporte 0,183 0,326
Foi, então, realizado o teste à homogeneidade de variâncias (p>α (0,05), logo
assume-se igualdade de variâncias), verificou-se que, no teste t, para as três variáveis
recepção, armazenamento e transporte, o valor de prova é superior ao nível de
significância: p>α (0,05), pelo que não se pode afirmar que existem diferenças
significativas no cumprimento das normas entre os hospitais com UCPC e sem UCPC.
Para complementar esta análise, e como se verificou que não existem diferenças
significativas, fez-se uma comparação entre as médias dos hospitais com UCPC e sem
UCPC, no que respeita ao cumprimento das normas (tabela 22).
Tabela 22 – Médias obtidas para hospitais com UCPC e sem UCPC, face ao
cumprimento das normas na recepção, armazenamento e transporte de medicamentos
citotóxicos.
Média dos hospitais com UCPC
Média dos hospitais sem UCPC
Recepção 29,09 25,86
Armazenamento 25,91 24,43
Transporte 14,17 12,00
Perante os resultados obtidos na tabela 22, verifica-se que a média obtida para os
hospitais com UCPC é relativamente superior à média dos hospitais sem UCPC. Daqui
apenas se pode inferir que, apesar das diferenças não serem significativas (resultado do
teste t), os hospitais com UCPC aproximam-se mais do cumprimento das normas na
recepção, armazenamento e transporte de medicamentos citotóxicos.
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A questão 4 surge pelo facto do processo de acreditação num hospital ser exigente,
implicando o cumprimento de um determinado número de critérios, nomeadamente a
existência de um manual de procedimentos em cada sector da farmácia hospitalar.
Assim, utilizou-se o teste do Qui-Quadrado para verificar se existe associação entre a
existência do manual de procedimentos e o facto do hospital ser acreditado ou não.
A tabela 23 apresenta os resultados para o cruzamento de variáveis (Crosstabs).
Verifica-se que 25% das células apresentam frequências esperadas inferiores a 5, logo
aplica-se o teste de Fisher. O valor de prova obtido para este teste foi de 0,694. Então,
como p>α (0,05), não se pode afirmar que há associação entre a existência de um
manual de procedimentos e a acreditação do hospital.
Este resultado vem contrariar a ideia referida inicialmente.
Tabela 23 – Crosstabulation acreditação_existência de manual de procedimentos.
Existência de manual de procedimentos
Total
sim não
Acreditação Sim 7 3 10
Não 11 9 20
Total 18 12 30
À semelhança da questão anterior, a questão 5 é levantada com base no mesmo
princípio de que um hospital acreditado é, teoricamente, mais exigente e impõe a
implementação de procedimentos bem definidos em todos os seus serviços.
Deste modo, recorreu-se novamente ao teste do Qui-quadrado para verificar se existe
associação entre a existência de um protocolo de actuação com o SSO e a acreditação
do hospital. Assim, a tabela 24 apresenta a crosstabs para estas variáveis.
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Tabela 24 – Crosstabulation acreditação_existência de protocolo com o SSO.
Existência de protocolo com o SSO
Total
sim não
Acreditação Sim 8 2 10
Não 8 12 20
Total 16 14 30
Como 25% das células da tabela 24 apresentam frequências esperadas inferiores a 5,
deve ser aplicado o teste de Fisher. Assim, o valor de prova obtido foi de 0,058. Como
p>α (0,05), então não se pode afirmar que há associação entre a existência de um
protocolo de actuação com o SSO e a acreditação do hospital. Este é mais um dado que
indica que o facto de um hospital ser acreditado não implica que todos os critérios
implícitos ao processo sejam cumpridos. Por outro lado, é importante salientar que
numa fase inicial, para obter acreditação, o hospital pode cumprir todos os critérios, no
entanto com o passar do tempo alguns procedimentos podem ser desconsiderados. Por
isso, é fundamental que haja uma monitorização periódica com o objectivo de melhoria
contínua.
A questão 6 surgiu pelo facto de neste estudo 46,7% (tabela 10) dos profissionais
abordados considerarem que o risco de exposição no âmbito do circuito de
medicamentos citotóxicos é baixo. Ora, poder-se-á questionar se este facto está
relacionado com o tipo de formação que os profissionais possuem, pois se tiverem falta
de conhecimentos poderão considerar a situação insignificante.
Para proceder à análise desta relação recorreu-se ao teste do Qui-Quadrado.
A tabela 25 apresenta os resultados obtidos para o cruzamento das variáveis risco de
exposição e tipo de formação.
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Tabela 25 – Crosstabulation acreditação_tipo de formação.
Tipo de formação
Total
geral específica
Baixo 5 8 13
Risco de Exposição moderado 6 6 12
Elevado 2 2 4
Total 13 16 29
Nesta tabela, o total obtido é de 29, pois uma resposta não foi considerada na
variável tipo de formação por sair do âmbito da pergunta.
Assim, pode-se verificar na tabela 25 que 33,3% das células apresentam frequências
esperadas inferiores a 5, logo recorre-se ao teste de Fisher para obter o valor de prova.
Deste modo verifica-se que o valor de prova obtido é de 0,880, que é superior ao
nível de significância: p>α (0,05), o que indica que não se pode afirmar que existe
associação entre o risco de exposição a mediamentos citotóxicos, que os profissionais
consideram existir no circuito, com o tipo de formação que possuem.
Como foi referido anteriormente, os dados deste estudo não permitem responder de
uma forma clara e objectiva às questões que foram colocadas inicialmente. Os
resultados revelaram sempre que não existiam diferenças significativas ou que não
existia associação entre as variáveis estudadas. No entanto, serve esta análise para
reflectir um pouco sobre a possibilidade de se verificarem alguns pressupostos noutros
estudos que possam vir a ser realizados com outro tipo de dados.
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VI – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a realização deste estudo foi notória a dificuldade em obter dados suficientes
para análise, talvez por se tratar de um tema relativamente recente nas Farmácias
Hospitalares em Portugal.
A decisão de elaborar um estudo com o intuito de analisar o cumprimento das
normas no circuito do medicamento citotóxico (recepção, armazenamento e transporte)
através da abordagem dos profissionais de farmácia, concretamente, TDT, resultou do
facto de em Portugal não existirem investigações nesta área. Trata-se de um tema
sensível, na medida em que se refere ao cumprimento de normas, denotando um
significado de censura quando o mesmo não se verifica. No entanto, o presente estudo
pretende contribuir para analisar a necessidade de reformulação ou implementação de
novos procedimentos nos hospitais, de forma a maximizar a segurança, e para a
promoção de práticas centradas na minimização do risco de exposição/contaminação
dos profissionais envolvidos.
Os principais resultados deste estudo traduzem uma situação instável nos hospitais.
Analisando o cumprimento das normas na recepção, armazenamento e transporte de
medicamentos citotóxicos, verifica-se que todos os hospitais se encontram acima da
média. Apesar desta evidência, é na fase de transporte que se verifica um menor
cumprimento. Esta situação revela-se preocupante, na medida em que a maioria dos
profissionais intervenientes no transporte de medicamentos citotóxicos são assistentes
operacionais e, portanto, poderão necessitar de formação adicional nesta área.
A situação mais alarmante é verificada quando um dos hospitais nunca cumpre as
normas na fase de transporte, o que manifesta algum desinteresse e irresponsabilidade,
na medida em que está em causa a segurança dos profissionais, do ambiente e dos
próprios utentes do hospital.
Nas fases de recepção e armazenamento, a situação que suscitou maior atenção foi a
não utilização de EPI pelos profissionais. Verificou-se que na maioria dos hospitais os
profissionais não utilizam este equipamento na recepção e armazenamento de
medicamentos citotóxicos.
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Ainda na fase de recepção notou-se outra importante falha, que se refere ao facto de
a maioria dos hospitais nunca recepcionar medicamentos citotóxicos em separado da
restante medicação, aumentando assim a probabilidade de contaminação cruzada.
Na fase de armazenamento, destaca-se o incumprimento referente à existência de um
sistema de ventilação, no local de armazenamento dos medicamentos citotóxicos, em
70% dos hospitais.
Na fase de transporte, o maior incumprimento verifica-se ao nível dos carros de
transporte, que não possuem gavetas fechadas e/ou portas de correr, diminuindo a
segurança durante o percurso.
Por outro lado, importa salientar também os resultados positivos deste estudo. Assim,
na fase de recepção, verifica-se um elevado cumprimento no que respeita à formação e
treino do profissional responsável pela recepção e, ainda, à realização de uma inspecção
visual, de modo a detectar sinais externos de danos ou rupturas nas embalagens. A
existência de um kit de derramamento, tanto no local de recepção como no local de
armazenamento, é também um requisito cumprido por grande parte dos hospitais.
A necessidade de mais formação reportada pelos profissionais neste estudo, pode ser
interpretada, também, como um aspecto positivo, pois significa que os profissionais se
encontram minimamente consciencializados de que os medicamentos citotóxicos
requerem precauções especiais de manuseamento em todo o seu circuito.
Estas conclusões direccionam-se apenas para a amostra estudada, não sendo possível
a extrapolação dos resultados para o universo, uma vez que se trata de uma amostra
aleatória, o que constitui uma limitação para a representatividade da amostra e,
consequentemente, para o estudo.
Mais ainda, deve ser considerada a possibilidade de existirem possíveis viéses
relacionados com a recolha dos dados.
Fazendo uma análise global, os resultados deste estudo revelam alguma
heterogeneidade de procedimentos nos hospitais, o que pode ser consequência do facto
de não existir legislação específica sobre o circuito do medicamento citotóxico. Neste
caso, fica à consciência de cada um actuar em conformidade com as normas definidas
pelas demais entidades internacionais. Surge, assim, a necessidade de intervenção e
reformulação do programa de segurança e gestão de risco desenvolvidos para o
manuseamento de citotóxicos.
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Neste sentido, pretende-se alertar cada vez mais os profissionais para a importância
da adopção de medidas que permitam minimizar o risco de exposição/contaminação,
dado que numerosos estudos, mencionados ao longo do trabalho, apontam para a
existência de potenciais fontes de contaminação em todas as fases do circuito do
medicamento citotóxico.
Ao longo do trabalho foram sendo dadas algumas dicas como sugestão de estudos
futuros, nomeadamente a utilização da solução de fluoresceína como forma de detectar
a presença de substâncias citotóxicas em diferentes superfícies implícitas nas fases de
recepção, armazenamento e transporte.
Outro estudo interessante que poderia ser realizado consiste na abordagem directa
aos hospitais sobre esta temática e, posteriormente, comparar os resultados com os
obtidos neste estudo.
Em jeito de conclusão, importa salientar que a intervenção nas organizações, com
vista ao desenvolvimento de qualidade e produtividade no trabalho, antecipando os
riscos, eliminando-os e/ou minimizando a sua ocorrência e actuando a nível dos grupos
de risco, nos sectores de risco e nos riscos emergentes desta sociedade, continua a fazer
sentido. É necessário olhar para além dos números relativos às despesas imediatas,
centrando a atenção nos ganhos futuros. Reforçar a cultura de segurança, tornando a
avaliação de riscos uma realidade, continua a ser prioritário.
A formação será sempre uma importante ferramenta, tanto para dotar os cidadãos do
conhecimento necessário à adopção de medidas preventivas e de estilos de vida
saudáveis, como para os responsáveis nos locais de trabalho e para os profissionais de
saúde que desenvolvem a sua intervenção ao nível do circuito do medicamento
citotóxico, incentivando a incorporação das evidências científicas nos contextos de
trabalho.
Finalmente, novas e diferentes abordagens de investigação nesta área trarão decerto
novas e mais robustas evidências, que ajudarão a consolidar o conhecimento existente.
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VII – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SEGURANÇA NO CIRCUITO DO MEDICAMENTO CITOTÓXICO: CONTRIBUTOS PARA A AVALIAÇÃO DA REALIDADE HOSPITALAR EM PORTUGAL
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VII – ANEXOS
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Anexo 1 – Instruções de utilização do kit de derramamento: (disponível em http://www.codan.de)
Isolar a área contaminada com a fita e colocar os sinais de emergência para
identificar a área;
Colocar o EPI existente no Kit;
Apenas a pessoa com o EPI deve estar na área isolada;
No caso de existirem vidros ou objectos maiores partidos deve-se utilizar o pó
Green-Z sobre o líquido, de modo a remover esses objectos com a ajuda da pá;
Os fragmentos de vidro e o líquido podem ser recolhidos com o pano de algodão e
a pinça, sendo depois colocados na embalagem para resíduos corto-perfurantes;
Dependendo da extensão do derrame, utilizam-se panos Power Sorb ou o pó
Green-Z, ou uma combinação de ambos;
Os panos Power Sorb são colocados na área molhada ou contaminada para
absorção dos líquidos;
Pode-se, também, recorrer ao álcool a 70º para a limpeza das superfícies;
Todo o material contaminado, incluindo o EPI, deve ser colocado na embalagem
própria para resíduos, para posterior incineração, estando devidamente assinalada
como contendo resíduos perigosos do grupo IV e com os respectivos dísticos de
alerta de resíduos citotóxicos;
Finalmente, a área ainda isolada deve ser lavada por pessoal treinado de acordo
com as directivas internas.
SEGURANÇA NO CIRCUITO DO MEDICAMENTO CITOTÓXICO: CONTRIBUTOS PARA A AVALIAÇÃO DA REALIDADE HOSPITALAR EM PORTUGAL
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Anexo 2 – Artigo para publicação submetido à Revista Brasileira de Farmácia
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FARMÁCIA HOSPITALAR – ARTIGO ORIGINAL
SEGURANÇA NO CIRCUITO DO MEDICAMENTO CITOTÓXICO:
CONTRIBUTOS PARA A AVALIAÇÃO DA REALIDADE
HOSPITALAR EM PORTUGAL
SAFETY IN THE CIRCUIT OF CYTOTOXIC DRUG: CONTRIBUTIONS TO THE EVALUATION OF HOSPITAL
REALITY IN PORTUGAL
Joana Silva Santos1, Agostinho da Silva Cruz
2, João José Joaquim
3, Ana Paula Nascimento
4
1,2,4Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto,
3Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra/IPC
1 – Mestranda em Aconselhamento e Informação em Farmácia, Técnica Superior de Diagnóstico e Terapêutica
de Farmácia; 2 – Professor Coordenador, Doutorado em Parasitologia;
3 – Professor Adjunto, Mestre em Toxicologia;
4 – Professora Adjunta, Mestre em Probabilidades e Estatística.
RESUMO: Os medicamentos citotóxicos caracterizam-se pela sua elevada toxicidade, pelo
que existe uma grande preocupação no que concerne ao manuseamento deste tipo de
medicamentos, devido aos riscos ocupacionais que podem surtir da exposição a que os
profissionais de farmácia envolvidos estão sujeitos. O objectivo deste estudo foi analisar a
realidade da farmácia hospitalar face ao cumprimento das normas para o manuseamento
seguro de medicamentos citotóxicos, e identificar as lacunas existentes. Utilizou-se como
instrumento de recolha de dados um inquérito por questionário, aplicado aos TDT de
Farmácia a exercer actividade nos hospitais com circuito de medicamentos citotóxicos. Face
ao cumprimento das normas na recepção, armazenamento e transporte destes medicamentos,
verifica-se que todos os hospitais se encontram acima da média. As principais lacunas
detectadas foram ao nível da não utilização de EPI nas fases de recepção e armazenamento; a
recepção de medicamentos citotóxicos em conjunto com outros medicamentos; a falta de um
sistema de ventilação no local de armazenamento e, ainda, ausência de protecção nos carros
de transporte de medicamentos citotóxicos. Os resultados deste estudo revelam alguma
heterogeneidade de procedimentos nos hospitais Portugueses, sugerindo a necessidade de
intervenção e reformulação do programa de segurança e gestão de risco desenvolvidos para o
manuseamento de citotóxicos.
PALAVRAS-CHAVE: Manuseamento de Citotóxicos, Normas, Risco de Exposição,
Contaminação.
SEGURANÇA NO CIRCUITO DO MEDICAMENTO CITOTÓXICO: CONTRIBUTOS PARA A AVALIAÇÃO DA REALIDADE HOSPITALAR EM PORTUGAL
Santos J. Outubro/2010
67
ABSTRACT:
The cytotoxic drugs are characterized by their high toxicity, so there is great concern regarding the
handling of this type of medication due to occupational risks that can have exposure to the
professional pharmacy subject involved. The purpose of this study was to analyze the reality of
hospital pharmacy in the face of compliance for the safe handling of cytotoxic drugs, and identify
gaps. As a tool for data collection was used a questionnaire survey that was conducted to TDT
Pharmacy exercising employment in hospitals with medicines cytototoxic circuit. Given the
compliance at the reception, storage and transportation of these drugs, it appears that all hospitals are
above average. The main shortcomings were at the level of not use of PPE in the phases of reception
and storage, receiving cytotoxic drugs in combination with other medicines, the lack of a ventilation
system at the storage site, and also lack of protection in cars Transport of cytotoxic drugs. The results
of this study reveal some heterogeneity of procedures in Portuguese hospitals, suggesting the need for
intervention and reform of the security program and risk management developed for handling
cytotoxics.
KEY WORDS: Cytotoxic Handling, Standards, Risk Exposure, Contamination
SEGURANÇA NO CIRCUITO DO MEDICAMENTO CITOTÓXICO: CONTRIBUTOS PARA A AVALIAÇÃO DA REALIDADE HOSPITALAR EM PORTUGAL
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68
I TRODUÇÃO
Os medicamentos citotóxicos são
utilizados no tratamento do cancro e de
outras doenças como a artrite
reumatóide ou esclerose múltipla (27).
Definem-se pelas suas características de
genotoxicidade, mutagenicidade,
carcinogenicidade, teratogenicidade,
toxicidade reprodutiva e toxicidade
orgânica em baixas doses. Assim, este
tipo de medicamentos representa um
perigo para os profissionais de saúde
envolvidos no seu manuseamento,
apresentando um risco ocupacional,
pelo que devem estar sujeitos a um
programa de gestão de risco.
As principais vias de exposição aos
medicamentos citotóxicos são a via oral,
endovenosa, dérmica e, ainda, por
inalação (35). Deste modo, torna-se
fundamental o cumprimento de todas as
normas e procedimentos recomendados
para o manuseamento seguro destes
fármacos.
Neste contexto, cada Unidade
Hospitalar deve definir uma política
baseada em normas de trabalho
específicas para os profissionais que
manipulam citotóxicos.
Estas normas devem basear-se nas mais
recentes guidelines ASHP (2006),
NIOSH (2004), ISOPP (2007), que não
são mais do que recomendações de um
painel de peritos que trabalharam e
investigaram durante décadas para
reduzir o potencial efeito tóxico do
manuseamento destes fármacos para os
profissionais de saúde envolvidos nesta
área (1).
Uma vez que em Portugal não existe
legislação específica no que respeita ao
cumprimento de normas para o
manuseamento de citotóxicos, as
guidelines são recomendadas como as
melhores normas de trabalho a seguir
em países cuja aplicação não é
obrigatória por lei (39).
No âmbito hospitalar, entende-se como
manuseamento de medicamentos
citotóxicos o conjunto de operações que
compreendem a recepção,
armazenamento, transporte, preparação
de uma dose a partir de uma
apresentação comercial, administração
da dose ao doente e, ainda, a recolha e
eliminação dos desperdícios e excretas
(4).
Os Serviços Farmacêuticos de cada
Unidade Hospitalar intervêm neste
circuito ao nível da recepção,
armazenamento, preparação da dose
adequada ao doente e transporte.
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Santos J. Outubro/2010
69
Dada a escassez de estudos realizados
em hospitais portugueses sobre esta
temática, tão actual e pertinente, e
ausência de legislação que incumba os
hospitais de criar as condições
essenciais para um manuseamento
seguro de citotóxicos, considerou-se
pertinente a abordagem desta temática.
Ao longo das últimas duas décadas,
VENITT et al (1984), CONNOR et al
(2006), entre outros, realizaram estudos
que documentaram a presença de
substâncias citotóxicas na urina dos
profissionais de farmácia, que
manuseiam estas substâncias, e de
outros profissionais que prestam
cuidados de saúde directamente ao
doente oncológico (8,54). Também a
presença de resíduos citotóxicos nas
superfícies de trabalho onde são
armazenados e preparados tem sido alvo
de estudo por vários investigadores,
revelando sempre resultados positivos
em relação à contaminação destas
superfícies (17,31,48).
A publicação destes resultados levou os
órgãos regulamentares da saúde e
entidades de saúde ocupacional, bem
como as associações profissionais a
elaborar directrizes, políticas e
procedimentos de controlo para o
manuseamento de substâncias
perigosas, com o intuito de reduzir o
risco de exposição ocupacional a que os
profissionais envolvidos estão sujeitos.
Deste modo, surgiram as guidelines
para o manuseamento de substâncias
potencialmente tóxicas e nocivas para a
saúde, sendo estas revistas e
actualizadas periodicamente por
profissionais peritos e especializados
nesta área de intervenção (1,35).
A presença de substâncias citotóxicas
em concentração variada em diferentes
superfícies de trabalho levou os
profissionais de saúde a especular sobre
as potenciais fontes de contaminação
(31). Assim, foram realizadas várias
investigações a diversos marcadores
biológicos: mutagenicidade urinária,
mutações cromossómicas, formação de
micronúcleos e formação de tioéteres
urinários. No entanto, estes métodos
biológicos e analíticos, aplicados até à
data, não são suficientemente fiáveis ou
reproduzíveis para uma monitorização
de rotina da exposição no local de
trabalho (3).
FALCK et al demonstraram o risco
potencial para as enfermeiras que
manipulavam este tipo de fármacos pelo
estudo de amostras de urina mutagénica.
Exames subsequentes ao local de
trabalho detectaram níveis de fármaco
em amostras do ar circulante e na
superfície de trabalho, confirmando que
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Santos J. Outubro/2010
70
a exposição é possível mesmo sem
contacto directo óbvio (15).
Apesar das investigações realizadas,
ainda é muito difícil a determinação da
magnitude do grau de risco do indivíduo
ou grupo potencialmente expostos
devido ao número limitado de estudos
de exposição realizados até à data.
A contaminação pode ocorrer durante as
várias etapas do circuito do
medicamento, desde a aquisição e
recepção ao armazenamento,
preparação, administração ao doente e
eliminação de resíduos e excretas (38).
OBJECTIVOS
O presente estudo tem como objectivos:
identificar as normas e procedimentos
recomendados para cada fase (recepção,
armazenamento e transporte) do circuito
de medicamentos citotóxicos, que
cooperem para um manuseamento
seguro, minimizando o risco de
exposição dos profissionais envolvidos
e o risco de contaminação do ambiente;
analisar se em cada etapa deste circuito
as normas de segurança são cumpridas
nos Hospitais de Portugal que
contenham valência de medicamentos
citotóxicos, através da abordagem dos
Profissionais de Farmácia,
especificamente, Técnicos Superiores
de Diagnóstico e Terapêutica (TDT),
sobre as práticas exercidas neste âmbito,
nas instituições hospitalares onde
desempenham actividade profissional e
através da análise dos dados obtidos,
diagnosticar as principais lacunas
existentes.
MATERIAL E MÉTODOS
Com o intuito de atingir o objectivo
principal deste trabalho, realizou-se
uma detalhada e sistemática pesquisa
bibliográfica acerca da temática que
permitiu a construção de um
questionário como instrumento de
recolha de dados. Este foi aplicado aos
TDT de farmácia responsáveis de cada
hospital, com o intuito de fazer uma
abordagem ao cumprimento das normas
no circuito de recepção, armazenamento
e transporte de medicamentos
citotóxicos.
Para proceder à definição da amostra
recorreu-se a uma técnica de
amostragem não aleatória, tendo sido
utilizada, concretamente, uma
amostragem por conveniência, uma vez
que apenas interessam para este estudo
os hospitais com circuito de
medicamentos citotóxicos.
Os Hospitais seleccionados para o envio
do questionário encontram-se listados
no Índice &acional Terapêutico do 2º
semestre de 2009, tendo sido utilizados
os seguintes critérios de selecção:
número de camas igual ou superior a
SEGURANÇA NO CIRCUITO DO MEDICAMENTO CITOTÓXICO: CONTRIBUTOS PARA A AVALIAÇÃO DA REALIDADE HOSPITALAR EM PORTUGAL
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71
100; e estabelecimentos públicos de
Portugal, com excepção dos hospitais
psiquiátricos e de outras entidades
oficiais. Deste modo foram
seleccionados 78 hospitais. No entanto,
30 hospitais foram excluídos com base
nas informações obtidas pelos
profissionais. Assim os principais
motivos para exclusão foram: hospitais
que não abrangiam valência de
citotóxicos, e portanto não tinham
circuito destes medicamentos e
hospitais que foram extintos, fazendo
parte integrante de outros.
Por conseguinte, mediante estas
informações, a amostra inicial de 78
hospitais ficou reduzida para 48.
O questionário foi colocado on-line
numa página web, sendo divulgado por
e-mail para um TDT de farmácia de
cada hospital seleccionado. Os
contactos destes profissionais foram
obtidos através da Associação
Portuguesa dos Licenciados em
Farmácia (APLF), por intermédio do
seu presidente.
A amostra final obtida ficou constituída
por 30 hospitais.
O questionário encontrava-se
estruturado em duas partes: a primeira
correspondia à caracterização do
hospital e a segunda parte à aplicação
de uma check-list para cada uma das
fases que se pretendem analisar:
recepção, armazenamento e transporte
de medicamentos citotóxicos.
A elaboração de uma check-list para
cada uma destas fases pode tornar-se
um instrumento fundamental para
orientar os profissionais envolvidos no
cumprimento das normas de segurança,
visando uma melhoria contínua. Deste
modo, pode ser considerada uma mais-
valia para os profissionais, uma vez que
o cumprimento de todos os requisitos
aumenta a sua segurança e a do
ambiente, e diminui o risco de
exposição a que estão sujeitos.
Estas check-lists foram aplicadas com o
intuito de verificar se os medicamentos
citotóxicos são manuseados nas três
fases analisadas (recepção,
armazenamento e transporte) nas
devidas condições de segurança,
cumprindo os requisitos necessários, de
acordo com as actuais guidelines. Estes
requisitos traduzem as normas que
devem ser cumpridas.
Os parâmetros que constam nas check-
lists foram interpretados como
indicadores de qualidade, que devem ser
satisfeitos para garantir a segurança dos
profissionais envolvidos e do ambiente.
As variáveis definidas para analisar os
dados da primeira parte do questionário
foram: caracterização dos hospitais
SEGURANÇA NO CIRCUITO DO MEDICAMENTO CITOTÓXICO: CONTRIBUTOS PARA A AVALIAÇÃO DA REALIDADE HOSPITALAR EM PORTUGAL
Santos J. Outubro/2010
72
segundo a área geográfica e segundo o
número de especialidades e/ou
valências, acreditação dos hospitais,
existência de uma Unidade
Centralizada de Preparação de
Citotóxicos, tipo de formação adquirida
pelos profissionais, existência de um
protocolo de actuação com o Serviço de
Saúde Ocupacional (SSO), existência de
um manual de procedimentos,
caracterização do risco de exposição,
necessidade de formação ao nível da
segurança.
Na segunda parte do questionário foi
elaborada uma check-list com todos os
requisitos que se devem verificar,
segundo as guidelines, para cada etapa
do circuito de medicamentos
citotóxicos: recepção, armazenamento e
transporte (tabela 1). Para cada
requisito, as opções de resposta eram:
nunca, às vezes, muitas vezes e sempre.
Para o tratamento dos dados utilizou-se
o software SPSS, versão 17.0, sendo
considerado, nos testes utilizados, um
nível de significância (α) de 0,05.
Tabela 1. Requisitos de avaliação da check-list aplicada no
questionário.
4. RECEPÇÃO DE MEDICAME TOS CITOTÓXICOS
1.1. A recepção de medicamentos citotóxicos é da responsabilidade dos profissionais de farmácia que possuem formação específica e estão devidamente treinados para o seu manuseamento seguro.
1.2. No acto da recepção é realizada uma inspecção visual, de modo a detectar sinais externos de danos ou rupturas/quebras nas embalagens.
1.3. As remessas de citotóxicos vêm devidamente assinaladas com dísticos de alerta de perigo.
1.4. As embalagens conferem protecção ao operador, sendo robustas e protegidas por um invólucro anti-quebra.
1.5. No acto da recepção, o profissional responsável encontra-se protegido com o EPI recomendado, utilizando dois pares de luvas próprias para citotóxicos.
1.6. Existem normas e procedimentos instituídos relativos ao manuseamento de embalagens danificadas e sua devolução ao fornecedor.
1.7. O local de recepção de encomendas encontra-se provido de um sistema de ventilação.
1.8. Os medicamentos citotóxicos são recepcionados separadamente da restante medicação, em área separada para evitar contaminação cruzada.
1.9. Existe um kit de derramamento, e respectivo manual de instruções, de fácil acesso e utilização pelo profissional.
1.10. Em caso de acidente, os profissionais sabem como proceder de acordo com as normas.
1.11.Existe um documento específico de registo para notificar a ocorrência de acidentes.
5. ARMAZE AME TO DE MEDICAME TOS CITOTÓXICOS 2.11. O armazenamento de medicamentos citotóxicos é efectuado por
profissionais com formação específica e devidamente treinados para o seu correcto manuseamento.
2.12. A área de armazenamento está devidamente identificada com dísticos de alerta para o perigo de manuseamento destes fármacos.
2.13. Existe nesta área um sistema de ventilação com capacidade para remover da atmosfera partículas tóxicas provenientes de aerossóis.
2.14. Estes mediamentos são armazenados em armários com prateleiras providas de estruturas que minimizam o risco de quebra.
2.15. Os armários apresentam dimensões suficientes para permitir todos os cuidados de manuseamento necessários.
2.16. O armazenamento é realizado de modo a que todos os fármacos se distingam claramente uns dos outros, para evitar erros de dispensa.
2.17. Os profissionais envolvidos nesta etapa utilizam EPI, com um duplo par de luvas próprias para citotóxicos.
2.18. Existe um kit de derramamento, e respectivo manual de instruções, de fácil acesso e utilização pelo profissional.
2.19. Em caso de acidente, os profissionais sabem como proceder de acordo com as normas.
2.20. Existe um documento específico de registo para notificar a ocorrência de acidentes.
6. TRA SPORTE DE MEDICAME TOS CITOTÓXICOS 3.5. O transporte destes medicamentos é realizado por profissionais devidamente
treinados para o seu manuseamento em segurança.
3.6. O transporte é efectuado em carros ou outros dispositivos com guardas de protecção contra a queda/ruptura.
3.7. Os carros de transporte possuem gavetas fechadas e/ou porta de correr, de modo a garantir maior segurança durante o percurso.
3.8. Tanto os carros de transporte como outros dispositivos concebidos para o efeito estão assinalados com dísticos de alerta para o perigo de citotóxicos.
3.5.Os profissionais envolvidos nesta fase do circuito são capazes de identificar e atribuir significado aos símbolos de alerta para citotóxicos e reconhecer os perigos inerentes ao seu manuseamento.
3.6. Em caso de acidente durante o transporte, os profissionais sabem como actuar e a quem devem recorrer para a utilização do kit de derramamento.
SEGURANÇA NO CIRCUITO DO MEDICAMENTO CITOTÓXICO: CONTRIBUTOS PARA A AVALIAÇÃO DA REALIDADE HOSPITALAR EM PORTUGAL
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73
A ÁLISE E DISCUSSÃO DE
RESULTADOS
CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL DA
AMOSTRA
Pela análise da tabela 2, verifica-se que
a amostra obtida é constituída por 13
hospitais centrais gerais, 3 hospitais
centrais especializados, 13 hospitais
distritais gerais e 1 hospital distrital
especializado.
Tabela 2 – Classificação dos hospitais segundo a área geográfica de intervenção e número de especialidades ou valências.
Através da análise da variável
acreditação dos hospitais, os resultados
obtidos evidenciam que 33,3% (n=10)
dos hospitais são acreditados. Estes
dados sugerem que neste âmbito há,
ainda, um longo caminho a percorrer.
No entanto, considerando que o
processo de acreditação hospitalar é
relativamente recente em Portugal, não
se pode afirmar que os resultados sejam
negativos.
Relativamente à existência de uma
UCPC, os resultados obtidos mostram
que 76,7% (n=23) dos hospitais têm
uma UCPC.A existência de uma UCPC
tem como vantagens a racionalização do
consumo dos medicamentos citotóxicos,
acrescentar mais-valias técnico-
científicas ao processo produtivo com
ganhos em qualidade e segurança da
preparação, proporcionar segurança
para os profissionais envolvidos, com
diminuição dos riscos associados à
manipulação/manuseamento, e, ainda,
evitar a contaminação do ambiente
circundante (24). Deste modo, tanto os
profissionais como a instituição só têm
a ganhar com a implementação de uma
UCPC na farmácia hospitalar. Neste
sentido, o panorama actual, de acordo
com os resultados obtidos, pode-se
considerar favorável, na medida em
que a maioria dos hospitais da amostra
estudada têm uma UCPC.
Com a análise da variável tipo de
formação, compreende-se que 55,2%
dos profissionais possuem uma
formação específica, o que significa que
existe alguma preocupação a este nível,
quer por parte dos profissionais quer por
parte das instituições hospitalares.
Quanto à existência de um protocolo de
actuação com o SSO, verifica-se que a
percentagem de hospitais que não têm
protocolo de actuação (46,7%) é muito
semelhante à dos hospitais que possuem
esse protocolo (53,3%). Estes resultados
podem indicar que este requisito tem
Especialidades/Valências
Total Geral Especializado
Área
geográfica de
intervenção
Central 13(43,3%) 3 (10,0%) 16 (53,3%)
Distrital 13 (43,3%) 1 (3,3%) 14 (46,7%)
Total 26 (86,7%) 4 (13,3%) 30 (100,0%)
SEGURANÇA NO CIRCUITO DO MEDICAMENTO CITOTÓXICO: CONTRIBUTOS PARA A AVALIAÇÃO DA REALIDADE HOSPITALAR EM PORTUGAL
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74
vindo a merecer alguma atenção por
parte das instituições hospitalares, uma
vez que, aproximadamente, metade dos
hospitais que constituem esta amostra
tem este protocolo instituído.
No que se refere à existência de um
manual de procedimentos, verifica-se
que 60% dos hospitais possui manual de
procedimentos. Esta percentagem, ainda
que represente mais de metade da
amostra, revela que existe algum
descuido e falta de esforço, na medida
em que a elaboração deste manual é da
responsabilidade dos profissionais.
Relativamente à caracterização do risco
de exposição, os resultados revelam que
apenas 13,3% (n=4) dos profissionais
abordados consideram existir um risco
de exposição elevado. Esta situação
poderá revelar-se preocupante, na
medida em que nem todos os
profissionais estão sensibilizados para
os perigos inerentes ao manuseamento
de medicamentos citotóxicos. Por isso,
existe necessidade de desenvolver, cada
vez mais, planos de formação que se
centrem nas boas práticas, de modo a
colmatar as lacunas existentes.
Quanto à variável necessidade de mais
formação, os profissionais foram
unânimes na sua resposta, pois 90%
responderam que carecem de mais
formação ao nível da segurança no
circuito do medicamento citotóxico.
Deste modo, compreende-se que existe
uma preocupação em actuar de acordo
com as normas, mas para isso é
necessário ter conhecimento das
mesmas, assumindo a formação um
papel de destaque.
Com a finalidade de analisar o
cumprimento das normas nas fases de
recepção, armazenamento e transporte
de medicamentos citotóxicos foram
definidas três variáveis: recepção,
armazenamento e transporte. A tabela 3
resume os resultados obtidos.
Tabela 3 – Análise descritiva das variáveis recepção,
armazenamento e transporte.
MI MAX MEDIA
DESVIO PADRÃO
MEDIA A
Recepção 16,00 38,00 28,33 5,15 29,00
Armazenamento 14,00 37,00 25,57 6,59 25,50
Transporte 6,00 24,00 13,67 5,03 13,00
De acordo com o número de requisitos a
verificar para cada fase do circuito do
medicamento citotóxico em análise,
existem valores teóricos que servem
como padrão de comparação com os
valores obtidos. Assim, os valores
teóricos para a variável recepção são 44
para o máximo, 11 para o mínimo e 22
para a média; para a variável
armazenamento são 40 para o máximo,
10 para o mínimo e 20 para a média; e
para a variável transporte são 24 para o
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máximo, 6 para o mínimo e 12 para a
média.
Deste modo, para a variável recepção, a
média obtida foi de 28,33. Este valor
encontra-se acima da média teórica, o
que significa que o cumprimento das
normas na fase de recepção encontra-se
acima da média, embora não muito
distante.
Para a variável armazenamento, a média
obtida foi de 25,57, o que significa que
está acima da média teórica, o que
poderá sugerir que o cumprimento das
normas na fase de armazenamento se
encontra acima da média. No entanto,
está longe do ideal que seria o máximo,
ou seja, 40. Neste caso significaria que
todas as normas são cumpridas.
Finalmente, fazendo uma análise para a
variável transporte, verifica-se que a
média obtida foi de 13,67. Sendo assim,
pode-se dizer que este valor encontra-se
pouco acima da média em comparação
com as outras duas variáveis (tabela 4).
Tabela 4 – Médias teóricas e obtidas para as variáveis: recepção, armazenamento e transporte.
Média
teórica
Média
Obtida
Recepção 22,00 28,33
Armazenamento 20,00 25,57
Transporte 12,00 13,67
É na variável transporte que a diferença
entre a média teórica e a média obtida é
menor, o que significa que é nesta fase
do circuito que há menor cumprimento
das normas.
Através da construção de uma tabela de
frequências para as fases de recepção,
armazenamento e transporte, é possível
detectar algumas situações oportunas
para o objectivo deste estudo.
Nomeadamente, através da verificação
do número de hospitais que nunca
cumprem determinado requisito, ou
pelo contrário cumprem sempre.
As tabelas que se seguem fornecem uma
informação mais detalhada, na medida
em que é possível analisar requisito por
requisito.
Começando pela fase de recepção, na
tabela 5 destaca-se um situação
relevante em que se verifica que 25
(83,3%) hospitais nunca cumprem o
requisito 1.5, ou seja, no acto da
recepção, o profissional responsável não
utiliza o EPI recomendado (bata
reforçada e dois pares de luvas próprias
para citotóxicos). Ainda se verifica que
não há, pelo menos, um hospital a
cumprir sempre este requisito.
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Tabela 5 – Tabela de frequências para os requisitos da check-list na fase de recepção.
1.1
1.2
1.3
1.4
1.5
1.6
1.7
1.8
1.9
1.10
1.11
Nunca 5 1 0 0 25 9
19 22 9 0 10
Às vezes
2 2 8 18 5 5 1 2 1 9 3
Muitas vezes
6
8 10 11 0 6 3 3 2 8 1
Sempre 17 19 12 1 0 10 7 3 18 13 16
Total 30
30 30 30 30 30 30 30 30 30 30
Relativamente aos requisitos 1.7 e 1.8,
verifica-se que grande parte dos
hospitais, 63,3% e 73,3%
respectivamente, nunca cumprem estes
requisitos. Este facto significa que
63,3% dos hospitais não possuem
sistema de ventilação no local de
recepção de encomendas de
medicamentos citotóxicos, assim como
73,3% não recepciona estes
medicamentos separadamente da
restante medicação, de modo a evitar
contaminação cruzada.
Portanto, este é um dos parâmetros a
melhorar nos hospitais, sabendo-se que
nem sempre é possível, devido à falta de
condições, nomeadamente de infra-
estruturas.
Partindo, agora, para a análise da tabela
6 referente à fase de armazenamento de
medicamentos citotóxicos, destacam-se
os resultados obtidos para os requisitos
2.3 e 2.7. Assim, à semelhança do que
aconteceu para a fase de transporte,
também nesta fase se verifica que
grande percentagem dos hospitais,
70,0% e 60,0% respectivamente para os
requisitos 2.3 e 2.7, não possuem um
sistema de ventilação com capacidade
para remover da atmosfera partículas
tóxicas provenientes de aerossóis, assim
como também os profissionais não
utilizam EPI, com um duplo par de
luvas próprias para citotóxicos.
Tabela 6 – Tabela de frequências para os requisitos da check-list na fase de armazenamento.
2.1
2.2
2.3
2.4
2.5
2.6
2.7
2.8
2.9
2.10
Nunca 3 11 21 15 9 2 18 6 2 9
Às vezes 6 6 3 3 5 9 7 1 6 2
Muitas vezes 8 3 5 5 8 5 3 1 8 3 Sempre 13 10 1 7 8 14 2 22 14 16
Total 30
30 30 30 30 30 30 30 30 30
Relativamente à fase transporte, há dois
aspectos a salientar que se relacionam
com os requisitos 3.3 e 3.4 (tabela 7).
Assim, os resultados obtidos indicam
que 73,3% (n=22) dos hospitais nunca
realizam o transporte em carros com
gavetas fechadas e/ou porta de correr. O
cumprimento desta norma é importante,
Frequências
4. Recepção
Requisitos da check-list
Frequências
5. Armazenamento
Requisitos da check-list
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pois permite reduzir o risco de acidente
durante o transporte e,
consequentemente, o risco de
exposição. Portanto, nota-se que nesta
área não há grande preocupação.
Tabela 7 – Tabela de frequências para os requisitos da check-list na fase de transporte.
3.1
3.2
3.3
3.4
3.5
3.6
Nunca 8 11 22 15 7 6
Às vezes 10 7 2 5 7 10
Muitas vezes
8 1 0 4 3 5
Sempre 4 11 6 6 13 9
Total 30
30 30 30 30 30
Relativamente ao requisito 3.4, verifica-
se que 50% (n=30) dos hospitais nunca
identificam os carros ou dispositivos de
transporte com dísticos de alerta para o
perigo de substâncias tóxicas. Este é
mais um factor que, a ser cumprido,
pode contribuir para diminuir o risco de
exposição e contaminação, pois
transmite a informação de que são
substâncias perigosas e, como tal,
devem ser manuseadas de acordo com
os procedimentos instituídos.
Após a análise de todas as fases:
recepção, armazenamento e transporte,
verifica-se que em todas existem
lacunas, salientando-se a importância de
uma célere intervenção nesta área de
modo a reduzir os potenciais riscos de
exposição e contaminação a que os
profissionais e o ambiente estão
sujeitos.
CO SIDERAÇÕES FI AIS
Os principais resultados deste estudo
traduzem uma situação instável nos
hospitais. Analisando o cumprimento
das normas na recepção,
armazenamento e transporte de
medicamentos citotóxicos, verifica-se
que todos os hospitais se encontram
acima da média. Apesar desta
evidência, é na fase de transporte que se
verifica um menor cumprimento. Esta
situação revela-se preocupante, na
medida em que a maioria dos
profissionais intervenientes no
transporte de medicamentos citotóxicos
são assistentes operacionais e, portanto,
poderão necessitar de formação
adicional nesta área.
A situação mais alarmante é verificada
quando um dos hospitais nunca cumpre
as normas na fase de transporte, o que
manifesta algum desinteresse e
irresponsabilidade, na medida em que
está em causa a segurança dos
profissionais, do ambiente e dos
próprios utentes do hospital.
Nas fases de recepção e
armazenamento, a situação que suscitou
maior atenção foi a não utilização de
Frequências
6. Transporte
Requisitos da check-list
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EPI pelos profissionais. Verificou-se
que na maioria dos hospitais os
profissionais não utilizam este
equipamento na recepção e
armazenamento de medicamentos
citotóxicos. Ainda na fase de recepção
notou-se outra importante falha, que se
refere ao facto de a maioria dos
hospitais nunca recepcionar
medicamentos citotóxicos em separado
da restante medicação, aumentando
assim a probabilidade de contaminação
cruzada.
Na fase de armazenamento, destaca-se o
incumprimento referente à existência de
um sistema de ventilação, no local de
armazenamento dos medicamentos
citotóxicos, em 70% dos hospitais.
Na fase de transporte, o maior
incumprimento verifica-se ao nível dos
carros de transporte, que não possuem
gavetas fechadas e/ou portas de correr,
diminuindo a segurança durante o
percurso.
Por outro lado, importa salientar
também os resultados positivos deste
estudo. Assim, na fase de recepção,
verifica-se um elevado cumprimento no
que respeita à formação e treino do
profissional responsável pela recepção
e, ainda, à realização de uma inspecção
visual, de modo a detectar sinais
externos de danos ou rupturas nas
embalagens. A existência de um kit de
derramamento, tanto no local de
recepção como no local de
armazenamento, é também um requisito
cumprido por grande parte dos
hospitais.
A necessidade de mais formação
reportada pelos profissionais neste
estudo, pode ser interpretada, também,
como um aspecto positivo, pois
significa que os profissionais se
encontram minimamente
consciencializados de que os
medicamentos citotóxicos requerem
precauções especiais de manuseamento
em todo o seu circuito.
Estas conclusões direccionam-se apenas
para a amostra estudada, não sendo
possível a extrapolação dos resultados
para o universo, uma vez que se trata de
uma amostra aleatória, o que constitui
uma limitação para a representatividade
da amostra e, consequentemente, para o
estudo.
Mais ainda, deve ser considerada a
possibilidade de existirem possíveis
viéses relacionados com a recolha dos
dados.
Fazendo uma análise global, os
resultados deste estudo revelam alguma
heterogeneidade de procedimentos nos
hospitais, o que pode ser consequência
do facto de não existir legislação
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específica sobre o circuito do
medicamento citotóxico. Neste caso,
fica à consciência de cada um actuar em
conformidade com as normas definidas
pelas demais entidades internacionais.
Surge, assim, a necessidade de
intervenção e reformulação do
programa de segurança e gestão de risco
desenvolvidos para o manuseamento de
citotóxicos.
Neste sentido, pretende-se alertar cada
vez mais os profissionais para a
importância da adopção de medidas que
permitam minimizar o risco de
exposição/contaminação, dado que
numerosos estudos, apontam para a
existência de potenciais fontes de
contaminação em todas as fases do
circuito do medicamento citotóxico.
No âmbito desta temática, sugere-se um
futuro estudo interessante que poderia
ser realizado, que consiste numa
abordagem directa aos hospitais e,
posteriormente, comparar os resultados
com os obtidos neste estudo.
Finalmente, novas e diferentes
abordagens de investigação nesta área
trarão decerto novas e mais robustas
evidências, que ajudarão a consolidar o
conhecimento existente.
REFERÊ CIAS
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Anexo 3 – Questionário aplicado para a recolha de dados