eflexÃo antropolÓgica da violÊncia atividades ... · desenvolvimento da unifae. recebido em mai....

28
109 L M Kalagatos Kalagatos Kalagatos Kalagatos Kalagatos - REVISTA DE FILOSOFIA. FORTALEZA, CE, V. 6 N.11, INVERNO 2009 REFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA A PARTIR DAS ATIVIDADES LIBERATIVAS DA FILOSOFIA DE SCHOPENHAUER * Filósofo, Teólogo, Especialista em Didática do Ensino Superior, Licenciatura Plena em História, Psicologia, Sociologia, Mestre e Doutor pela UFSC. Professor Adjunto do curso de Filosofia do Centro Universitário Franciscano do Paraná e professor pesquisador do programa de mestrado em Organizações e Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO O objetivo deste artigo é o de verificar a importância da concepção filosófica de Schopenhauer como fundamento antropológico do fenômeno da violência. O método que caracteriza esta pesquisa é a revisão bibliográfica, com utilização de fontes múltiplas de evidências. Os dados foram obtidos mediante uma profunda investigação bibliográfica. A análise dos dados foi efetuada de forma descritivo-interpretativa. Utilizou-se, a análise de conteúdo e a análise documental. A violência vem ocupando um grande espaço na literatura nos últimos anos. Como resposta ao fenômeno da violência, surge no cenário político propostas que privilegiam o endurecimento das políticas de combate à criminalidade, reformas no sistema penitenciário e reestruturação policial, com o objetivo de controlar e reduzir a violência. Tem-se a necessidade de buscar o fundamento da violência com base na Filosofia. Neste sentido, procura-se analisar a violência a partir da contribuição da antropologia filosófica de Schopenhauer do mundo como vontade e representação. PALAVRAS-CHAVE Violência. O mundo como vontade e representação. Arte. Compaixão. Justiça. ABSTRACT The aim of this paper is verify the importance of Schopenhauer’s philosophical and anthropological foundation of the violence phenomenon. The method that characterizes this research is the literature review, using multiple sources of evidence. The data were obtained through a thorough literature search. Data analysis was performed in a descriptive-interpretive way. Was used, content analysis and document analysis. Violence have been occupying a large space in the literature in recent years. In response to the violence phenomenon, appears in the political arena proposals that privilege the hardening of the politics of criminality combat, reforms in the penitentiary system and Police reorganization, in order to control and reduce violence. There is the need to seek the principle for violence based on philosophy. In this sense, we seek to analyze the violence from the contribution of philosophical anthropology of Schopenhauer’s World as Will and Representation. KEYWORDS Violence. The World as Will and Representation. Art. Compassion. Justice.

Upload: truonghanh

Post on 13-Feb-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

109L M

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os -

RE

VIS

TA

DE F

ILO

SOF

IA. F

OR

TAL

EZ

A, C

E, V

. 6 N

.11

,INV

ER

NO

20

09

REFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA A PARTIR DAS

ATIVIDADES LIBERATIVAS DA FILOSOFIA DE SCHOPENHAUER

* Filósofo, Teólogo, Especialista em Didática do Ensino Superior, LicenciaturaPlena em História, Psicologia, Sociologia, Mestre e Doutor pela UFSC. ProfessorAdjunto do curso de Filosofia do Centro Universitário Franciscano do Paranáe professor pesquisador do programa de mestrado em Organizações eDesenvolvimento da UNIFAE.

Recebido em mai. 2009Aprovado em jul. 2009

OSMAR PONCHIROLLI *

RESUMOO objetivo deste artigo é o de verificar a importância da concepção filosófica de Schopenhauercomo fundamento antropológico do fenômeno da violência. O método que caracteriza estapesquisa é a revisão bibliográfica, com utilização de fontes múltiplas de evidências. Os dadosforam obtidos mediante uma profunda investigação bibliográfica. A análise dos dados foiefetuada de forma descritivo-interpretativa. Utilizou-se, a análise de conteúdo e a análisedocumental. A violência vem ocupando um grande espaço na literatura nos últimos anos.Como resposta ao fenômeno da violência, surge no cenário político propostas que privilegiamo endurecimento das políticas de combate à criminalidade, reformas no sistema penitenciárioe reestruturação policial, com o objetivo de controlar e reduzir a violência. Tem-se anecessidade de buscar o fundamento da violência com base na Filosofia. Neste sentido,procura-se analisar a violência a partir da contribuição da antropologia filosófica deSchopenhauer do mundo como vontade e representação.

PALAVRAS-CHAVEViolência. O mundo como vontade e representação. Arte. Compaixão. Justiça.

ABSTRACTThe aim of this paper is verify the importance of Schopenhauer’s philosophical andanthropological foundation of the violence phenomenon. The method that characterizesthis research is the literature review, using multiple sources of evidence. The data wereobtained through a thorough literature search. Data analysis was performed in adescriptive-interpretive way. Was used, content analysis and document analysis. Violencehave been occupying a large space in the literature in recent years. In response to theviolence phenomenon, appears in the political arena proposals that privilege thehardening of the politics of criminality combat, reforms in the penitentiary system andPolice reorganization, in order to control and reduce violence. There is the need to seekthe principle for violence based on philosophy. In this sense, we seek to analyze theviolence from the contribution of philosophical anthropology of Schopenhauer’s Worldas Will and Representation.

KEYWORDSViolence. The World as Will and Representation. Art. Compassion. Justice.

Page 2: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o
Page 3: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

111L M

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os -

RE

VIS

TA

DE F

ILO

SOF

IA. F

OR

TAL

EZ

A, C

E, V

. 6 N

.11

,INV

ER

NO

20

09 1. INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como base a obra principal dofilósofo Arthur Schopenhauer, “O Mundo como

Vontade e Representação”, que contém a síntese de todoo seu pensamento, e dele tenta-se destacar os elementosantropológicos com o intuito de elucidar a compreensãofilosófica da violência. Os diversos tipos de violênciaintrigam a sociedade e tem despertado na comunidade emgeral, especialmente a acadêmica, a procura por explicaçõespara a violência de uma maneira geral, na tentativa deinstrumentalizar educadores, familiares e demais agentesna sua interpretação e prevenção. Os índices de atosinfracionais apresentam um crescente alarmante e, umamudança de paradigma no modus operandi das infrações;outrora se registrava atos contra patrimônio, hoje se registraatos contra a vida. A filosofia de Schopenhauer servirá debase teórica para iluminar esta reflexão sobre a violência.

O ponto de partida da filosofia de Schopenhauer é adistinção kantiana entre fenômeno e noumeno, mas eledescreve esta distinção em sentido diverso do genuinamentekantiano. Para Kant o fenômeno é a realidade, a únicapossível de conhecimento humano, e o noumeno o limiteintrínseco deste conhecimento. Para Schopenhauer ofenômeno é aparência, ilusão, sonho, e o noumeno é arealidade que se oculta atrás do sonho e da ilusão.

Kant considerava inacessível o noumeno eSchopenhauer (1974, p. 213) descobre esta via de acesso

[...] do conhecimento objetivo da representação nãosaímos dela, nem podemos passar do fenômeno, nosencontramos reduzidos as aspecto exterior das coisas

Page 4: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

112L M

PO

NC

HIR

OL

LI,

OSM

AR

. RE

FL

EX

ÃO

AN

TR

OP

OL

ÓG

ICA

DA

VIO

NC

IA

A P

AR

TIR

DA

S A

TIV

IDA

DE

S L

IBE

RA

TIV

AS

[...]

. P. 1

09

-13

6.

sem poder penetrá-las para ver o que são em simesmas. Até aqui, de acordo com Kant, porém a partirdeste ponto coloco como contrapeso esta outraverdade: que não somos unicamente sujeitos doconhecedor, senão também objetos, coisas em si, eque, em conseqüência, para penetrar na essênciaprópria e imanente das coisas, nas quais são podemoschegar desde fora, se abre uma via que parte dointerior [...].

Com kant, Schopenhauer afirma que a intuição nosproporciona um conhecimento dos fenômenos, mas vaimais além, dizendo que isto se aplica a todos osconhecimentos, menos ao do nosso próprio querer, quenão é intuitivo nem vazio, mas é mais real do que qualqueroutro. Na realidade o nosso querer é o único dado que nãose dá na representação e é também a única forma decompreender a interioridade de qualquer outro fato.

Percebe-se, então que Schopenhauer parte destadistinção kantiana, entre noumêno e fenômeno. Aqui sefaz absolutamente necessário ressaltar que a realidadefenomênica para Schopenhauer, diferentemente como erapara Kant, é apenas representação do sujeito. “o mundo éminha representação” (SCHOPENHAUER, 2001. p. 9). Éeste o princípio elementar que embasa toda construçãofilosófica schopenhauriana. Entretanto, o que Schopenhauerentende por representação? “Uma complexa atividadefisiológica no cérebro de um animal ao fim da qual se tem aconsciência de uma imagem”. (Schopenhauer apudBarbosa, p. 30). Que o mundo seja apenas representação,segundo Schopenhauer é uma verdade tão certa eevidente da qual não podemos duvidar, sendo ela o

Page 5: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

113L M

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os -

RE

VIS

TA

DE F

ILO

SOF

IA. F

OR

TAL

EZ

A, C

E, V

. 6 N

.11

,INV

ER

NO

20

09princípio de todo conhecimento, posto que esta

formulação implica sujeito e objeto, como instânciasinseparáveis do conhecimento.

Com esta posição Schopenhauer se afasta tanto domaterialismo, como do idealismo, mostrando que não há objetosem um sujeito e não há sujeito sem um objeto. Na concepçãoschopenhaueriana sujeito e objeto estão interligados por umadependência mútua, não podemos pensá-los como instânciasseparadas, este foi o caminho que percorreu toda metafísicaprecedente, principalmente o desdobramento que aconteceuem realismo e idealismo. Schopenhauer (2001, p. 42) afirmaque “não parto do sujeito nem do objeto tomadosseparadamente, mas do fato da representação, que serve deponto de partida a todo conhecimento e tem como formaprimitiva e essencial o desdobramento no sujeito e no objeto”.Ele critica estas duas posições, e na busca para a solução doenigma do mundo orienta-se por não partir nem do sujeito emuito menos do objeto.

A representação envolve necessariamente aexistência de um sujeito capaz de representar e um objetorepresentado, assim a representação funciona como umaespécie síntese entre ambas as concepções. Todo mundodado na representação depende apenas de uma inteligência,por mais insignificante que seja esta, para percebê-lo, epensá-lo. Enfim, o mundo existe em função do seucorrelativo necessário, seu suporte imprescindível que é osujeito pensante. O mundo da representação carece destadependência do sujeito e do objeto:

Nenhuma verdade é, portanto mais certa, maisabsoluta, mais evidente do que esta: tudo o que existe,existe para o pensamento, isto é, o universo inteiro

Page 6: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

114L M

PO

NC

HIR

OL

LI,

OSM

AR

. RE

FL

EX

ÃO

AN

TR

OP

OL

ÓG

ICA

DA

VIO

NC

IA

A P

AR

TIR

DA

S A

TIV

IDA

DE

S L

IBE

RA

TIV

AS

[...]

. P. 1

09

-13

6.

apenas é objeto em relação a um sujeito, percepçãoapenas em relação a um espírito que percebe. Emuma palavra, é pura representação. SCHOPENHAUER,2001, p. 9).

O mundo considerado sob a perspectiva darepresentação é regido pelo princípio da razão, que nadamais é do a forma de todo conhecimento fenomênico.Portanto, mediante este princípio explicam-se todos osencadeamentos causais. “se conforme o princípio de razão,‘nada é sem uma razão pela qual é’, e assim ele explicatudo no mundo natural, por outro lado, o princípio mesmonão é passível de explicação” (BARBOZA, 2006, p. 39). Omundo fenomênico pode ser conhecido e esgotadomediante o princípio de razão e suas quatro formasparticulares. Durant (1994, p. 118), historiador daFilosofia no seu estudo sobre a filosofia de Schopenhauer,assim resume em consiste o princípio de razão:

O princípio da razão suficiente é a “lei da causa eefeito” de quatro formas: 1 – Lógica, como a determinaçãoda conclusão pelas premissas. 2 – Física, como adeterminação do efeito pela causa. 3 – Matemática,como a determinação da estrutura pelas leis damatemática e da mecânica. 4 – Moral, como adeterminação da conduta pelo caráter.

Partindo de fora, não se pode chegar àinterioridade, à essência das coisas. De qualquer maneiraque nos atenhamos a elas obteremos apenas imagens enomes. Só partindo daquilo que conhecemosimediatamente, ou seja, de nós mesmos, podemos

Page 7: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

115L M

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os -

RE

VIS

TA

DE F

ILO

SOF

IA. F

OR

TAL

EZ

A, C

E, V

. 6 N

.11

,INV

ER

NO

20

09conhecer as outras coisas. Seria impossível encontrar a

significação do mundo que é nossa representação dosujeito cognocente em qualquer outra coisa, se o homemfosse puro sujeito do conhecimento. Ele, porém, tambémtem suas raízes neste mundo, aí se encontra comoindivíduo e seu conhecimento, condição e apoio do mundocomo representação, tem o seu corpo como condição desua intuição do mundo. Para Schopenhauer (1974, p.214), é o nosso querer o único “Datum” de validade quepode esclarecer todas as coisas e nos conduzir à verdade.

Nem mesmo este conhecimento interior de nossaprópria Vontade nos permite o conhecimentopropriamente dito da coisa em si, porque ele não éimediato. A Vontade necessita, para suas relações com omundo exterior, do corpo e com ele a inteligência que avontade cria. Por meio dela se reconhece como tal Vontadeem sua consciência íntima, Mesmo neste conhecimentointerior, a coisa em si, ainda que despojada em parte deseus véus, não se apresenta totalmente nua.

O artigo estrutura-se em quatro capítulos. Oprimeiro é a introdução onde se justificativa a temáticadeste artigo. O segundo capítulo está relacionado aoconceito de Vontade onde se busca compreender aviolência a partir da concepção de Vontade deSchopenhauer. No quarto capítulo busca-se umacolocação antropológica e no último capítulo asconsiderações finais.

O capítulo a seguir abordará a concepção deVontade a partir do pensamento de Schopenhauer. Aviolência apresenta-se como impulso cego e irresistívelque se objetiva no fenômeno.

Page 8: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

116L M

PO

NC

HIR

OL

LI,

OSM

AR

. RE

FL

EX

ÃO

AN

TR

OP

OL

ÓG

ICA

DA

VIO

NC

IA

A P

AR

TIR

DA

S A

TIV

IDA

DE

S L

IBE

RA

TIV

AS

[...]

. P. 1

09

-13

6.

2. A VONTADE

A representação na acepção que Schopenhauer aconcebeu é uma ilusão, o mundo da representação nãopassa de um sonho, que equivale ao véu de Maya que falao pensamento filosófico indiano, expresso nos vedas e nospuranas. “Os Vedas e os puranas, para representarem comexatidão o mundo real, ‘essa teia de Maya’ comparam-nogeralmente a um sonho.” (SCHOPENHAUER, 2001. p. 24).

É uma ilusão, no sentido que a realidadeapresentada por este princípio não nos leva além doconhecimento das causas e efeitos, se quisermosencontrar a verdadeira significação da realidade(lembrando que a coisa-em-si deve precisamente nãodepender deste princípio) precisamos partir de outroponto de vista. Já que a filosofia verdadeira, segundoSchopenhauer, não se resume a perguntar apenas pelosporquês do fenômeno, com o intuito de descobrir asrelações destes, a metafísica como ciência primeirapergunta fundamentalmente pelo Como, pela origem detudo aquilo que é. Ora, se o mundo que pensamos naperspectiva da representação se configura como umailusão e que o pensamento filosófico até agora se focouna tentativa de descobrir as causas e efeitos. Qual éentão o caminho a percorrer para chegar à essência domundo?

Trata-se de indagar pela natureza das nossasrepresentações com o objetivo essencial de descobrirsuas significações. Encontrar sua fonte originária. Istoé, a fonte primária de onde emanam todas essas variadasrepresentações do real.

Page 9: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

117L M

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os -

RE

VIS

TA

DE F

ILO

SOF

IA. F

OR

TAL

EZ

A, C

E, V

. 6 N

.11

,INV

ER

NO

20

09Queremos saber a significação dessas representações,

perguntamos se o mundo não as ultrapassa, caso emque deverá se apresentar a nós como um sonho vão,ou como uma forma vaporosa semelhante á dosfantasmas, não seria digno de atrair nossa atenção.(SCHOPENHAUER, 2001, p. 108).

Portanto, se o mundo transcende aquilo que nosé fornecido mediante o princípio da razão, Schopenhauerse pergunta: “não será ele qualquer coisa diferente darepresentação, alguma coisa a mais; e nesse caso o queele é?” (SCHOPENHAUER, 2001. p. 109).

Qual é a chave que permite resolver o problemada origem das representações. Logo de antemão,Schopenhauer esclarece que não podemos partir de forase quisermos adentrar na essência intima de todas ascoisas. A explicação para a realidade deve estar nelamesma, a metafísica não pode extrapolar as leis dosfenômenos deve, portanto, focar-se no imanente. Sendoassim, ele apela para a subjetividade.

Não é de fora que devemos partir para chegar áessência das coisas procurar-se-á em vão e só sechegará a fantasmas ou fórmulas; pareceremos alguémque dá a volta a um castelo, para encontrar a entrada,e que, não a encontrando, desenhará a fachada.(SCHOPENHAUER, 2001, p. 109).

Portanto, a passagem do mundo da simplesrepresentação para a descoberta da outra face, acontecemediante a análise da nossa corporeidade. Percebemosque somos seres enraizados, que temos um corpo, que

Page 10: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

118L M

PO

NC

HIR

OL

LI,

OSM

AR

. RE

FL

EX

ÃO

AN

TR

OP

OL

ÓG

ICA

DA

VIO

NC

IA

A P

AR

TIR

DA

S A

TIV

IDA

DE

S L

IBE

RA

TIV

AS

[...]

. P. 1

09

-13

6.

é o suporte do mundo da representação. Noutros termos,“o corpo é, pois considerado aqui como um objeto imediato,isto é, como a representação que serve de ponto de partidapara o sujeito do conhecimento.” (SCHOPENHAUER, 2001,p. 26). Ou seja, para que possamos ter um conhecimentodo mundo pela representação necessariamente temos queter um corpo, não somos anjos alados sem um enraizamentona realidade.

Mas, com efeito, ele tem sua raiz no mundo: enquantoindivíduo, faz parte dele; só o seu conhecimento tornapossível a representação do mundo inteiro; mas estemesmo conhecimento tem como condição necessáriaa existência de um corpo, cujas modificações são comoo vimos, o ponto de partida do entendimento para aintuição desse mundo. (SCHOPENHAUER, 2001, p. 109).

Portanto, a corporeidade é a chave pela qual setem o acesso das intuições do mundo, ela é o suporte,sendo que é por meio dela que o sujeito tem o seuenraizamento no real. A análise do corpo, enquanto umachave para a descoberta do enigma do mundo permite-nos descortinar aquilo que está por detrás de todas asrepresentações do sujeito cognoscente, ou seja, pelonosso corpo descobrimos a outra face do real, que é avontade. Portanto, percebo-me como sujeito derepresentação e ao mesmo tempo como sujeito de quererconcreto, que me é dado por meio da minha corporeidade.

Porém, como acontece tal identificação davontade com o corpo? Segundo Schopenhauer todamanifestação corporal se configura como um ato davontade. Conforme ele mesmo esclarece, Todo ato real da

Page 11: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

119L M

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os -

RE

VIS

TA

DE F

ILO

SOF

IA. F

OR

TAL

EZ

A, C

E, V

. 6 N

.11

,INV

ER

NO

20

09nossa vontade é, ao mesmo tempo e infalivelmente, um

movimento do nosso corpo, não podemos querer realmenteum ato sem constatar, no mesmo instante, que ele aparececomo movimento corporal. (SCHOPENHAUER, 2001, p. 110).

Ou seja, todos os movimentos empreendidos pelocorpo são manifestações da vontade. Quando se temvontade de comer, nosso corpo nos impele a efetivaçãodo ato de comer, isto é, todas as vezes que queremosalguma coisa nosso corpo arrasta-nos para a satisfaçãodaquela vontade, entretanto, essa vontade ainda não é acoisa-em-si, trata-se aqui da vontade como fenômeno. Ocorpo é então, um ato da vontade que se objetiva, issosignifica dizer que ela se manifesta por meio dacorporeidade. É isso que Schopenhauer afirma: “A açãodo corpo é apenas o ato da vontade objetivado, isto é,visto na representação” (SCHOPENHAUER, 2001. p 111).Schopenhauer( 2001, p. 110) afirma que “pode-se aindadizer, num certo sentido: a vontade é o conhecimento apriori do corpo; o corpo é o conhecimento a posteriori

da vontade.”Aqui, se faz necessário esclarecer que o termo

“objetividade” se trata de um dos raros termos cunhadospor Schopenhauer para expressar suas idéias. Barbosa(2006, p. 45) esclarece que:

Schopenhauer cunha um neologismo para expressaressa relação entre uma representação, o corpo, quepode até ser estudado pela ciência, como a fisiologia,e algo que já não é mais representação, mas difereToto genere desta, precisamente a vontade. Trata-sedo termo objetividade.

Page 12: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

120L M

PO

NC

HIR

OL

LI,

OSM

AR

. RE

FL

EX

ÃO

AN

TR

OP

OL

ÓG

ICA

DA

VIO

NC

IA

A P

AR

TIR

DA

S A

TIV

IDA

DE

S L

IBE

RA

TIV

AS

[...]

. P. 1

09

-13

6.

Portanto tem-se que o conhecimento que cada umpossui imediatamente, que é a vontade é inseparável doconhecimento da sua corporeidade. Vontade e corpo sãoduas substâncias correlativas, inseparáveis entre si. Ocorpo é a mais nítida das manifestações da vontade. “Nãoposso, para falar com rigor, representar-me essa vontadesem o meu corpo” (SCHOPENHAUER, 2001, p. 110).

Contudo, é necessário apontar que essa vontadeidentificada com o corpo, ainda não é definitivamente avontade pensada na perspectiva da coisa-em-si. Essa éuma distinção sine Qua non para a compreensão dopensamento schopenhauriano. A vontade enquanto coisaem si deve precisamente não estar submetida ao princípioda razão, e sob o jugo de nenhuma das formas doconhecimento, que são o espaço o tempo e a causalidade(princípio da razão). Ora, a vontade como fenômeno aindase mantém no nível dos motivos e das necessidades, estesque também são formas do princípio de razão. “Sob oponto de vista do meu caráter empírico, o motivo é umaexplicação suficiente das minhas ações; mas se meabstraio deste ponto de vista, e se me pergunto por que,em geral, antes quero isto do que aquilo, nenhumaresposta é possível” (SCHOPENHAUER, 2001, p. 116).

A explicação para este mistério, segundoSchopenhauer, reside no fato de que “só o fenômeno davontade está submetido ao princípio da razão; ela próprianão o está, e por este motivo pode considerá-la como sendosem fundamento” (SCHOPENHAUER, 2001, p. 116).

Portanto, tem-se que a vontade fenomênica é essaque se expressa em nossos desejos e atos particulares,ou seja, essa de que temos consciência e conhecemos

Page 13: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

121L M

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os -

RE

VIS

TA

DE F

ILO

SOF

IA. F

OR

TAL

EZ

A, C

E, V

. 6 N

.11

,INV

ER

NO

20

09através do nosso corpo. Conclui-se, portanto que “estes

atos de vontade têm sempre um fundamento, fora delesmesmos, nos seus motivos. No entanto, eles determinamsempre apenas o que eu quero em tal momento, em tallugar, em tal circunstância, e não o meu querer em geral”(SCHOPENHAUER, 2001, p. 116).

Entretanto, se a vontade manifestada na nossacorporeidade ainda não é a vontade como coisa-em-si, oque é afinal a essência dessa vontade? De onde emana aessência do querer em geral? Como Schopenhauer estendea vontade a todo universo transformando-a na misteriosacoisa-em-si, de que tanto falava Kant, e que no final acabouencerrando-a para além dos limites da razão pura? Ou seja,como passar da vontade enquanto fenômeno para a vontadepensada na dimensão da coisa-em-si?

Sempre que um ato voluntário sai das profundezasobscuras de nosso interior, penetra na consciência dosujeito que conhece o que surge é a coisa em si, que nãoestá submetida ao tempo. O ato voluntário nada mais éque a manifestação mais imediata e visível da coisa em si. Daí se deduz que se todos os demais fenômenos pudessemser conhecidos tão intimamente como nosso atovoluntário, os reconheceríamos como idênticos àquilo queem nós é a vontade. Shopenhauer (1974, p. 215) afirmaque “este é o sentido de minha doutrina quando digo quea essência de todas as coisas é a vontade e a chamo decoisa em si”.

Para Mira y Lopes (1972) não é somente nosfenômenos em tudo semelhante aos do próprio homemque se encontra esta mesma vontade como essênciaíntima. Uma reflexão mais demorada levará a reconhecer

Page 14: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

122L M

PO

NC

HIR

OL

LI,

OSM

AR

. RE

FL

EX

ÃO

AN

TR

OP

OL

ÓG

ICA

DA

VIO

NC

IA

A P

AR

TIR

DA

S A

TIV

IDA

DE

S L

IBE

RA

TIV

AS

[...]

. P. 1

09

-13

6.

que a universalidade dos fenômenos, apesar das variadasrepresentações, tem uma só essência, a mesma que só ohomem conhece intimamente, imediatamente e melhordo que qualquer outra. Aquela que, enfim, em sua maisaparente manifestação traz o nome de Vontade.

Esta vontade está presente na força que faz medar à planta, cristalizar o mineral e que dirige a agulhaimantada para o norte. Encontrar-se-á também nasafinidades eletivas dos corpos e até na gravidade que age.A própria explicação fisiológica do ciclo vital do ser emtoda a sua extensão, por mais completa que seja dada,não poderá abalar este fato certo: que a vida e todo o seudesenvolvimento é igualmente um fenômeno da Vontade.Vontade que, considerada puramente em si, é um impulsoinconsciente, cego, irresistível. Assim a vemos nos seresinorgânicos e vegetais, em suas leis; na própria vidavegetativa do homem. No homem, pela incorporação domundo da representação, a Vontade adquire a consciênciado seu querer e daquilo que quer, que nada mais é queeste mundo, a vida tal como se nos apresenta.

O que a verdade quer é sempre a vida, dizer Vontadede Viver é dizer Vontade. Todo o universo é umamanifestação desta vontade, não causa dos fenômenos, masobjetivação de si mesma. Partindo da observação dosfenômenos em geral, Schopenhauer (1974) analisa asteorias físico-biológicas existentes e afirma que, apesar detudo, a natureza íntima do fenômeno e sua multiplicidadepermanecem sempre inexplicáveis. A Vontade é um impulsocego e irresistível que se objetiva no fenômeno.

A Vontade, como coisa em si, é onipotente e tudopode. Ela é livre. O mundo, com toda a multiplicidade de

Page 15: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

123L M

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os -

RE

VIS

TA

DE F

ILO

SOF

IA. F

OR

TAL

EZ

A, C

E, V

. 6 N

.11

,INV

ER

NO

20

09suas partes e de suas figuras, é o fenômeno, a

objetividade de um único querer viver. A vontade de viveré eterna, pois está fora do tempo e é no homem que elaadquire consciência. A Atividade é essencial na vontadeque nunca deixa de querer.

A Vontade se objetiva pluralmente nas coisas eno tempo sem que por isso perca a sua indivisibilidade.A diferença entre as coisas do espaço só está em suaobjetivação (grau). Cada grau de objetivação da vontadecontende com outro na matéria, no espaço e no tempo,implicando, por isso, luta, batalha e, alternadamente,vitória. A Vontade está toda tanto numa pedra como numvegetal ou no homem, de tal maneira que, se pudéssemosdestruí-la numa pequena partícula de poeira,destruiríamos o mundo.

No próximo capítulo procura-se, a partir deSchopenhauer, fazer uma reflexão antropológica com oobjetivo de demonstrar que é também no homem que avontade alcança a sua maior individuação.

3. TENTATIVA DE UMA COLOCAÇÃO ANTROPOLÓGICA

Schopenhauer repete que o seu sistema explicao mundo pelo homem e não o homem pelo mundo e nestesentido ele mesmo chama seu sistema de ummacroantropismo, pois coloca o centro do universo naconsciência do homem.

O homem, como todos os outros fenômenos damatéria viva ou bruta, é vontade e representação e noseu extrato mais profundo se apreende como vontade deviver. Porque a vontade é a “Coisa em si”, o conteúdo

Page 16: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

124L M

PO

NC

HIR

OL

LI,

OSM

AR

. RE

FL

EX

ÃO

AN

TR

OP

OL

ÓG

ICA

DA

VIO

NC

IA

A P

AR

TIR

DA

S A

TIV

IDA

DE

S L

IBE

RA

TIV

AS

[...]

. P. 1

09

-13

6.

interior, a essência do mundo e o mundo visível é ofenômeno, o espelho da vontade, a vida acompanharáinseparavelmente a vontade, onde há vontade há vida.Schopenhauer diz ser um pleonasmo “vontade de viver”.A vontade de viver tem assegurada para si a vida.Continuando, afirma que o sujeito é o suporte do mundo,a condição constante sempre subentendida de tudo o queé perceptível, de todo objeto, porque tudo quanto existe,existe para um sujeito. O mundo é minha representação,um princípio evidente para Schopenhauer. Todo ohomem é este sujeito, mas somente enquanto conhecee não enquanto é objeto de conhecimento. Seu própriocorpo é objeto. Deste ponto de vista ela é igualmenterepresentação, porque, o corpo é um objeto entre osobjetos submetidos às leis dos objetos, portantosubmetidos às formas de todo o conhecimento que são:tempo e espaço. A vontade é aquilo que conhecemosimediatamente.

A ação do corpo é o ato da vontade objetivada esão uma só e mesma coisa, que nos vêm de sua maneiradiferente, de uma vez imediatamente e outra pelaintuição e conhecimento. É no homem também que aVontade alcança a sua maior individuação, devido a umsem número de personalidades, e é nele que ela seapreende como Vontade de Viver. A vida está presa aoquerer viver e enquanto este existir no homem ele nãodeverá se inquietar com sua vida e com sua morte.

Segundo Schopenhauer (1974, p. 501) a Vontadede viver tem sempre assegurada a vida, e enquanto elanos alentar não devemos nos preocupar por nossaexistência, nem mesmo ante o espetáculo da morte.

Page 17: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

125L M

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os -

RE

VIS

TA

DE F

ILO

SOF

IA. F

OR

TAL

EZ

A, C

E, V

. 6 N

.11

,INV

ER

NO

20

09Vemos o indivíduo nascer e morrer, mas o indivíduo não

é mais que o fenômeno. Só existe pelo conhecimentosubmetido ao princípio de razão que é o princípio deindividuação, por isso o indivíduo recebe a vida comoum presente. Sai do nada, sofre logo pela morte a perdado Dom da vida e volta ao nada de onde saiu.

O nascimento e a morte, por pertencerem aofenômeno da vontade e, por conseguinte, à vida, nãoatingem a vontade em nada, nem ao sujeito doconhecimento. É atributo essencial da vida aparecer emcriaturas individuais, manifestando fugazmente notempo o que em si não conhece tempo e deveprecisamente manifestar-se sob esta forma, a fim depoder objetivar sua verdadeira natureza. O nascer e omorrer são pólos do fenômeno total da vida.

Para Schopenhauer (1974), a mais sábia de todasas mitologias, a indiana, expressa este mesmopensamento dando por atributo a Siva, o deus dadestruição e da morte, o colar de caveiras e, ao mesmotempo, o Lingan, símbolos da geração e da morte que secompensam reciprocamente.

A morte de um indivíduo não afeta a natureza,que nada mais é que a realização da Vontade de Viver.Sendo o homem a própria natureza em seu supremo graude consciência de si, e sendo a natureza Vontade de Viverobjetivada, nada mais natural que o homem se consolecom sua própria morte e a dos seus, lançando olhos paraa vida imortal da natureza que é ele mesmo. A forma dofenômeno da vontade é tempo, espaço e causalidade, Aforma tempo é sempre o presente e não o futuro ou opassado. Estes só existem pela abstração, pelo

Page 18: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

126L M

PO

NC

HIR

OL

LI,

OSM

AR

. RE

FL

EX

ÃO

AN

TR

OP

OL

ÓG

ICA

DA

VIO

NC

IA

A P

AR

TIR

DA

S A

TIV

IDA

DE

S L

IBE

RA

TIV

AS

[...]

. P. 1

09

-13

6.

encadeamento do conhecimento submetido ao princípiode razão. Só o presente é propriedade de toda a vida,propriedade segura e nada, jamais, pode arrebatá-lo.

Para Schopenhauer (1974) o próprio passado,mesmo o mais próximo, o dia que acaba de escoar-se,não é mais do que um inútil sonho e outra coisa não é opassado de outros milhões de seres. Eu sou definitivamentedono do presente que me acompanhará por toda umaeternidade como minha sombra; por isso não me espantanem pergunto de onde procede este presente e porqueprecisamente neste instante.

Só a manifestação individual da Vontade é que começae acaba, mas isto não a afeta, já que ela é eterna. Avontade em si e o sujeito puro do conhecimentoexistem fora do tempo e não conhecem nem apermanência, nem a destruição. Por isso o egoísmodo indivíduo não pode valer-se disto para apagar suasede de imortalidade, pois não pode alimentar acerteza que depois de sua morte o mundo continuaráexistindo. (Schopenhauer, 1974, p 509).

O homem só enquanto fenômeno difere dosoutros objetos, mas também é vontade que se manifestaem tudo. A morte faz desvanecer a ilusão de que suaconsciência é distinta da consciência universal e nestanão há destruição, nisto consiste sua eternidade.

Todas as ações do homem são a manifestaçãoreiterada do caráter inteligível, apenas ligeiramentemodificada em sua forma, A indução resultante da somadestas ações é o caráter empírico. O caráter adquirido,que vem juntar-se depois ao inteligível e ao empírico, se

Page 19: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

127L M

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os -

RE

VIS

TA

DE F

ILO

SOF

IA. F

OR

TAL

EZ

A, C

E, V

. 6 N

.11

,INV

ER

NO

20

09forma na medida em que se vive em contato com o

mundo, através do conhecimento claro e abstrato dopróprio caráter empírico.

Quando elogiamos ou censuramos alguém devidoao seu caráter, estamos nos referindo ao caráter adquirido.Se poderia pensar que, sendo o caráter empírico, enquantofenômeno do inteligível é invariável e conseqüente consigomesmo. Como todo o fenômeno natural também o homemdeveria aparecer sempre igual a si mesmo e não ternecessidade de formar artificialmente seu caráter por forçade experiência e reflexão. Não é isto, porém, o que sucede.O homem, ainda que sempre permaneça idêntico, nemsempre se entende a si mesmo. Muitas vezes ele sedesconhece até que alcance certo grau de conhecimento.

Querer e ambicionar são a essência do homem.Querer significa desejar e o desejo implica a ausênciadaquilo que se deseja. Desejo é privação, deficiência,indigência e, conseqüentemente, dor. A vida parece lançadanum esforço incessante de afastar a dor, esforço que semostra vão no preciso momento em que chega ao seutermo. Com a satisfação do desejo e da necessidade surgeum novo desejo e uma nova necessidade. A satisfação jamaisserá definitiva e positiva. O prazer é a cessação da dor etem, portanto, um caráter negativo e transitório. Na falta deobjetos a desejar, quando uma satisfação facilmente chega,apodera-se do homem um vazio espantoso, o tédio, queainda é mais insuportável que a dor.

Quando satisfazer todas suas aspirações sente umvazio aterrador, o tédio, quer dizer, em outros termos,que a existência se converte numa carga insuportável.A vida oscila, como um pêndulo, constantemente entre

Page 20: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

128L M

PO

NC

HIR

OL

LI,

OSM

AR

. RE

FL

EX

ÃO

AN

TR

OP

OL

ÓG

ICA

DA

VIO

NC

IA

A P

AR

TIR

DA

S A

TIV

IDA

DE

S L

IBE

RA

TIV

AS

[...]

. P. 1

09

-13

6.

dor e o tédio, que são, na realidade, seus elementosconstitutivos. (Schopenhauer, 1974, p. 511).

A vida de todo homem é um história de todos. Deforma geral, cada existência é uma série contínua dedesgraças, que cada um tenta ocultar da melhor maneirapossível, por que sabe que os outros não se interessamou lastimam, mas, ao contrário, geralmente sentemsatisfação ante o relato das dores das quais estão livresnaquele momento.

Se fizéssemos o mais obstinado dos otimistas, visitarhospitais, lazarentos, cárceres, senzalas, câmaras detortura, campos de batalha; se o fizéssemos penetrarem todos os sombrios redutos de miséria, acabaria porentender qual a natureza deste mundo. (Schopenhauer,1974, p. 555).

Para Schopenhauer (1974), a história é ummanifestar-se da incansável Vontade de Viver que repetesempre a mesma tragédia ou comédia, ainda que mudemos personagens. A negação da Vontade de Viver sobrevémquando o conhecimento aniquila a Vontade, porque entãoos fenômenos da percepção não agem mais comoestímulos sobre a vontade, pelo contrário, na concepçãodas idéias que refletem a essência do mundo encontraum calmante, um aquietador, que a serena e a impulsionaa anular-se a si mesma, espontaneamente.

Isto acontece apenas através de outras atividadespróprias do homem, que são gradativamente liberativas:a Arte, a Justiça e Compaixão. No último capítulo busca-se, como conclusão, explicitar estas atividades liberativas

Page 21: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

129L M

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os -

RE

VIS

TA

DE F

ILO

SOF

IA. F

OR

TAL

EZ

A, C

E, V

. 6 N

.11

,INV

ER

NO

20

09como forma de entender a violência tendo como base a

antropologia filosófica de Schopenhauer apontando-ascomo vias de suspensão da Violência.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do pensamento filosófico de Schopenhauerpode-se apontar, mesmo que precariamente, algumas viaspara a suspensão da violência. Num primeiro momento,temos a contemplação artística. A contemplaçãodesinteressada das idéias seria um ato de intuiçãoartística e permitiria a contemplação da Vontade em simesma, o que, por sua vez, conduziria ao domínio daprópria Vontade. Na arte, a relação entre Vontade e arepresentação inverte-se, a inteligência passa à posiçãosuperior e assiste à história de sua própria Vontade; emoutros termos, a inteligência deixa de ser atriz para serespectadora. A atividade artística revelaria as idéiaseternas através de diversos graus, passando sucessivamentepela arquitetura, escultura, pintura, poesia lírica, poesiatrágica e finalmente, pela música.

Em Schopenhauer, pela primeira vez na históriada Filosofia, a música ocupa o primeiro lugar entre todasas artes. Liberta de toda a referência específica aosdiversos objetos da Vontade, a música poderia exprimira Vontade em sua essência geral e indiferenciada,constituindo um meio capaz de propor a libertação dohomem, face aos diferentes aspectos assumidos pelaVontade, dentre os quais a violência. Constitui o elementodo artista, o lado puramente cognoscível do mundo e areprodução do mesmo numa arte. O artista é cativado

Page 22: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

130L M

PO

NC

HIR

OL

LI,

OSM

AR

. RE

FL

EX

ÃO

AN

TR

OP

OL

ÓG

ICA

DA

VIO

NC

IA

A P

AR

TIR

DA

S A

TIV

IDA

DE

S L

IBE

RA

TIV

AS

[...]

. P. 1

09

-13

6.

pela contemplação do espetáculo da Vontade em suaobjetivação.

O homem comum é capaz de elevar-se àcontemplação, ainda sem gênio, caso contrário ele nãoapreciaria as obras de arte. A diferença que existe entreele e o homem de gênio é que o segundo, possuindo emgrau muito maior esta capacidade de contemplação,consegue reproduzir, numa obra arbitrária, o assimconhecido, reprodução que é a obra de arte. ParaSchopenhauer (1980) é a arte, a obra do gênio. Enquantopara o homem comum sua faculdade de conhecer é alanterna que ilumina seu caminho, para o homem degênio é o sol que revela o mundo. A música, que às vezeseleva nosso espírito a tal altura que parece nostransportar a outros mundos, nada mais faz do quealargar nossa Vontade de Viver.

A música vai além das idéias, é completamenteindependente do mundo fenomenal. A música fala do ser.Ela é uma objetivação, uma cópia tão imediata de toda aVontade como é o mundo, como o são as próprias idéias.Cultivar a arte é uma forma de entender a superação daviolência. Necessita-se da arte para consolidar oprocesso de humanização do homem. Mais importanteque prevenir a violência é entendê-la filosoficamente.

Fica o desafio para as políticas públicas nacontemporaneidade de investir nas artes como forma detornar o homem mais humano, mais próximo de si. Asupressão da violência pode se tornar realidade a partirde uma educação integral do ser humano, onde a artenão é ignorada. A injustiça é a condição da Vontade deViver dividida e discordante que existe nos diversos

Page 23: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

131L M

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os -

RE

VIS

TA

DE F

ILO

SOF

IA. F

OR

TAL

EZ

A, C

E, V

. 6 N

.11

,INV

ER

NO

20

09indivíduos. Para ela só existe um remédio: o

conhecimento da Vontade como unidade fundamental emtodos os seres e, conseqüentemente, o reconhecimentodos outros, por sua vez, como sujeitos.

O homem mau não é apenas o que atormenta,mas é também o atormentado. O que faz com que ele sesinta separado dos outros ou da dor nada mais é que oproduto de um sonho ilusório. É a obscura consciênciada unidade da Vontade, que existe em todos os homens,o que provoca o aparecimento do remorso e da angústiajunto com a maldade. Toda a maldade é injustiça, é odesconhecimento desta unidade. Toda a bondade éjustiça, é conhecimento da Vontade una, da ilusóriamultiplicidade resultante do princípio da individuação.

A justiça é o primeiro grau de reconhecimento.Em relação à violência observam-se diversas crises nasociedade: crise na família, crise na relação de gênero,crise urbana, crise dos direitos humanos, crise social ecrise na justiça criminal. Porém, a maior crise, é a criseda falta de conhecimento da Vontade como unidadefundamental em todos os seres e, conseqüentemente, doreconhecimento dos outros, por sua vez, como sujeitos.O resgate de uma teoria da justiça na contemporaneidadeé essencial para uma séria discussão sobre a violênciana contemporaneidade.

Outra via de superação da violência é o amor. Oamor, cuja origem está no conhecimento, e que vai alémdo princípio de individuação, conduz à redenção, oabandono completo da Vontade de Viver, ou seja, de todavolição em geral. O que nos leva a realizar boas ações eobras de caridade é o conhecimento da dor alheia, nascido

Page 24: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

132L M

PO

NC

HIR

OL

LI,

OSM

AR

. RE

FL

EX

ÃO

AN

TR

OP

OL

ÓG

ICA

DA

VIO

NC

IA

A P

AR

TIR

DA

S A

TIV

IDA

DE

S L

IBE

RA

TIV

AS

[...]

. P. 1

09

-13

6.

de nossa própria experiência e considerado como nosso.Por isso o amor puro (caritas) é por natureza piedade eé indiferente qual a dor que mitiga, já que entendemoscomo dor toda necessidade ou aspiração não satisfeita.Todo verdadeiro amor é piedade e todo o amor que não épiedade é egoísmo. A compaixão é o sentimento éticofundamental. Sem ética a sociedade continua mergulhadana violência. Entender a violência é entender osignificado da ética para a humanidade.

O amor na concepção de Schopenhauer nadamais é do que uma necessidade, não do sujeito mas davontade de viver universal que se apodera dos indivíduospara continuar existindo. Schopenhauer chega a dizerque a sexualidade é o desejo dos desejos. Aqui nota-seuma das bases freudianas para a psicanálise, inclusiveo próprio Freud reconhecerá que Schopenhauer fora oprimeiro a perceber as forças obscuras da sexualidade

Outra via de superação da violência é oasceticismo filosófico. Contrariamente ao que acontecena negação mediante a perspectiva moral, onde a açãodo sujeito prima-se por considerar a alteridade por meiodo sentimento de compaixão, elevado por Schopenhauerà categoria máxima de toda ação moralmente correta,no asceticismo a negação da vontade é uma prática quesomente surte efeitos individualmente.

O asceticismo preconizado por Schopenhauer nãoapresenta nenhum dado original. Na verdade ele retomaas experiências dos grandes ascetas com vistas acorroborar suas teses filosóficas. “Portanto, caso sequeira compreender melhor aquilo que, em termosfilosóficos, se traduz pela negação da vontade de viver, é

Page 25: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

133L M

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os -

RE

VIS

TA

DE F

ILO

SOF

IA. F

OR

TAL

EZ

A, C

E, V

. 6 N

.11

,INV

ER

NO

20

09na experiência e na realidade que é preciso buscar os

exemplos” (SCHOPENHAUER, 2001, p. 403). Oasceticismo não é uma ficção inventada pelos filósofos,mas ele constitui a própria vivência de eminentesespíritos das mais variadas crenças religiosas.

No sistema filosófico schopenhauriano asdoutrinas religiosas eram valiosas na medida em quedemonstravam por meio das verdades alegóricas asmelhores medidas para a libertação dos desejos e dossofrimentos congênitos a eles. A valorização dospensamentos religiosos pela filosofia schopenhaurianaé de cunho mais prático- ascética do que propriamenteteórico-ritualística.

Portanto, conclui-se que Schopenhauer municiava-se das atitudes ascéticas defendidas pelos grandespersonagens das mais variadas religiões para demonstrarque a negação da vontade é possível.

No entanto, é necessário perguntar comoSchopenhauer interpreta o asceticismo filosófico. Aresposta nos é apresentada pelo próprio filósofo, queentende pela prática ascética “o aniquilamento refletidodo querer que se obtêm pela renúncia aos prazeres epela procura do sofrimento; entendo uma penitênciavoluntária, uma espécie de punição que a pessoa seinflige para chegar à mortificação da vontade”(SCHOPENHAUER, 2001, p. 410).

O pensamento de Schopenhauer se apresentacomo um grande sistema metafísico. A intenção do artigofoi a de se aproximar da obra “O mundo como Vontade deRepresentação” e propor uma reflexão antropológica daviolência a partir das atividades liberativas. Esta reflexão,

Page 26: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

134L M

PO

NC

HIR

OL

LI,

OSM

AR

. RE

FL

EX

ÃO

AN

TR

OP

OL

ÓG

ICA

DA

VIO

NC

IA

A P

AR

TIR

DA

S A

TIV

IDA

DE

S L

IBE

RA

TIV

AS

[...]

. P. 1

09

-13

6.

embora precária, constitui-se em um projeto aberto paranovas reflexões. Portanto, o entendimento das atividadesliberativas, apresentadas por Schopenhauer, é uma dasformas de suspensão da violência tendo como base aantropologia filosófica.

Page 27: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

135L M

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os

Kal

agat

os -

RE

VIS

TA

DE F

ILO

SOF

IA. F

OR

TAL

EZ

A, C

E, V

. 6 N

.11

,INV

ER

NO

20

095. Referências Bibliográficas

 

ABBAGNANO, Nicola. Storia della Filosofia. Tradução deArmando da Silva Carvalho. Lisboa: Editorial Presença, 1980.

BARBOSA, J. Schopenhauer a decifração do enigma do

mundo. São Paulo: Moderna, 1997.

BARBOSA, J. Schopenhauer: Ciência e Filosofia. IN: Temasde Epistemologia. Curitiba: Champagnat, 2006.

CASSIERER, Ernest. An Essay on Men. Tradução deVivente Felix de Queiroz. São Paulo: Mestre Jou, 1982

GURR, T. R. Violence in American: The history of crime

(violence, cooperation, peace), na International Series,v. I. Newbury Park: Sage Publicationsm 2v., 1989.Donzinger, S. ed. The real war on crime. New York theNational Criminal Justice Commission, 1996

MANN, Tomas. O Pensamento vivo de Schopenhauer. SãoPaulo: Martins, 1980.

MARIAS, Julian. La Filosofia en sus textos, Barcelona:Labor, 1960.

SCHOPENHAUER, Arthur. Die Welt als Wille und

Vorstellung. Trad. de Eduardo Ovejero y Maury. BuenosAires: El Ateneo, 1980.

SCHOPENHAUER, Arthur. Samtliche Werke. TraduçãoPort. De Wolgang Leo Maar. São Paulo: Abril, 1974.

SCHOPENHAUER, A. O mundo como vontade e

Representação. Tradução de M. F. Sá Correia. Rio dejaneiro: Contraponto, 2001.

Page 28: EFLEXÃO ANTROPOLÓGICA DA VIOLÊNCIA ATIVIDADES ... · Desenvolvimento da UNIFAE. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jul. 2009 OSMAR PONCHIROLLI * RESUMO ... Violência. O mund o

136L M

PO

NC

HIR

OL

LI,

OSM

AR

. RE

FL

EX

ÃO

AN

TR

OP

OL

ÓG

ICA

DA

VIO

NC

IA

A P

AR

TIR

DA

S A

TIV

IDA

DE

S L

IBE

RA

TIV

AS

[...]

. P. 1

09

-13

6.

SCHOPENHAUER, A. Parerga e Paralipomena. In: coleçãoos pensadores. Tradução Wolfgang Leo Maar. São Paulo:Nova Cultural Ltda, 1999.

SCHOPENHAUER, Arthur. Sobre o fundamento da moral.Tradução de CACCIOLA, M. São Paulo: Martins fontes,1995.

SCHOPENHAUER, Arthur. O livre arbítrio. São Paulo:Formar, s/d.