eficacia horizontal e vertical

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FACULDADE DE IMPERATRIZ CURSO DE DIREITO ACADMICO: VALTEIR SILVA SOUSA

DIREITO CONSTITUCIONAL II

Imperatriz 2010

EFICCIA HORIZONTAL E EFICACIA VERTICAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS1. CONCEITOS a) Eficcia horizontal A eficcia horizontal ou privada (erga omnes), trata dos direitos fundamentais no mbito das relaes jurdico-privadas ou seja, cobra cumprimento dos direitos fundamentais tambm nas relaes entre particulares. . b) Eficcia Vertical A eficcia vertical dos direitos fundamentais, trata da relao entre estado e indivduo, como uma forma de proteo das liberdades individuais, ou seja, ela obriga ao respeito pelo Poder Pblico 2. DIFERENAS: Enquanto na eficcia vertical a finalidade dos direitos fundamentais era a proteo do homem contra os abusos de um determinado Estado, na eficcia horizontal a finalidade garantia de proteo ao homem nos relacionamentos entre os que ocupam o mesmo plano hierrquico, ou seja dos interesses do particular frente o prprio particular.

A eficcia vertical (estatal) dos direitos fundamentais clarificada pela absteno ou necessidade de ao do Poder Pblico, aplicando-se de imediato a cada caso em concreto, enquanto a eficcia horizontal, voltada s relaes particulares, inibe os detentores de poder social e econmico de mutilarem o piso vital mnimo ofertado pela CF.(SILVA JUNIOR, 2009 [ON LINE])

3. CASOS JULGADOS STF Vasconcellos (2008) nos lembra que dada a sua natureza jurdica os Direitos Fundamentais possuem elevada carga de abstratividade, e, ante este fato, muitos magistrados buscam socorro nas regras (intermediao legislativa). No obstante, na ausncia desta, o juiz no poder abster-se do dever de solucionar a lide, em ateno ao Princpio da Inafastabilidade da Prestao Jurisdicional (artigo 5, XXXV, da CF/88). Ainda assim, na jurisprudncia brasileira, sobretudo do Supremo Tribunal Federal, possvel encontrar algumas decises onde a aplicao da eficcia horizontal dos Direitos Fundamentais ocorreu de forma direta. De incio, impende-se trazer colao, o Recurso Extraordinrio n. 158215/RS, cuja ementa encontra-se assim vazada: DEFESA - DEVIDO PROCESSO LEGAL - INCISO LV DO ROL DAS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS - EXAME - LEGISLAO COMUM. A intangibilidade do preceito constitucional assegurador do devido processo legal direciona ao exame da legislao comum. Da a insubsistncia da ptica segundo a qual a violncia Carta Poltica da Repblica, suficiente a ensejar o conhecimento de extraordinrio, h de ser direta e frontal. Caso a caso, compete ao Supremo Tribunal Federal exercer crivo sobre a matria,

distinguindo os recursos protelatrios daqueles em que versada, com procedncia, a transgresso a texto constitucional, muito embora torne-se necessrio, at mesmo, partir-se do que previsto na legislao comum. Entendimento diverso implica relegar inocuidade dois princpios bsicos em um Estado Democrtico de Direito - o da legalidade e do devido processo legal, com a garantia da ampla defesa, sempre a pressuporem a considerao de normas estritamente legais. COOPERATIVA - EXCLUSO DE ASSOCIADO CARTER PUNITIVO - DEVIDO PROCESSO LEGAL. Na hiptese de excluso de associado decorrente de conduta contrria aos estatutos, impe-se a observncia ao devido processo legal, viabilizado o exerccio amplo da defesa. Simples desafio do associado assemblia geral, no que toca excluso, no de molde a atrair adoo de processo sumrio. Observncia obrigatria do prprio estatuto da cooperativa. Neste paradigmtico julgado, cujo relator foi o Em. Min. Marco Aurlio, o Supremo Tribunal Federal, por sua Segunda Turma, h mais de uma dcada, j considerou que uma pessoa jurdica de direito privado, no caso, uma cooperativa, precisava observar o devido processo legal, a ampla defesa e o contraditrio no caso de excluso compulsria de um de seus associados. Deciso semelhante e mais recente se deu no Recurso Extraordinrio n. 201819/RJ, relatado pelo Min. Gilmar Mendes, pela Segunda Turma, encontrando-se a ementa com o seguinte teor: SOCIEDADE CIVIL SEM FINS LUCRATIVOS. UNIO BRASILEIRA DE COMPOSITORES. EXCLUSO DE SCIO SEM GARANTIA DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITRIO. EFICCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAES PRIVADAS. RECURSO DESPROVIDO. I. EFICCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAES PRIVADAS. As violaes a direitos fundamentais no ocorrem somente no mbito das relaes entre o cidado e o Estado, mas igualmente nas relaes travadas entre pessoas fsicas e jurdicas de direito privado. Assim, os direitos fundamentais assegurados pela Constituio vinculam diretamente no apenas os poderes pblicos, estando direcionados tambm proteo dos particulares em face dos poderes privados. II. OS PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS COMO LIMITES AUTONOMIA PRIVADA DAS ASSOCIAES. A ordem jurdico-constitucional brasileira no conferiu a qualquer associao civil a possibilidade de agir revelia dos princpios inscritos nas leis e, em especial, dos postulados que tm por fundamento direto o prprio texto da Constituio da Repblica, notadamente em tema de proteo s liberdades e garantias fundamentais. O espao de autonomia privada garantido pela Constituio s associaes no est imune incidncia dos princpios constitucionais que asseguram o respeito aos direitos fundamentais de seus associados. A autonomia privada, que encontra claras limitaes de ordem jurdica, no pode ser exercida em detrimento ou com desrespeito aos direitos e garantias de terceiros, especialmente aqueles positivados em sede constitucional, pois a autonomia da vontade no confere aos particulares, no domnio de sua incidncia e atuao, o poder de transgredir ou de ignorar as restries postas e definidas pela prpria Constituio, cuja eficcia e fora normativa tambm se impem, aos particulares, no mbito de suas relaes privadas, em tema de liberdades fundamentais. III. SOCIEDADE CIVIL SEM FINS LUCRATIVOS. ENTIDADE QUE INTEGRA ESPAO PBLICO, AINDA QUE NO-ESTATAL. ATIVIDADE DE CARTER PBLICO. EXCLUSO DE

SCIO SEM GARANTIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL.APLICAO DIRETA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS AMPLA DEFESA E AO CONTRADITRIO. As associaes privadas que exercem funo predominante em determinado mbito econmico e/ou social, mantendo seus associados em relaes de dependncia econmica e/ou social, integram o que se pode denominar de espao pblico, ainda que no-estatal. A Unio Brasileira de Compositores - UBC, sociedade civil sem fins lucrativos, integra a estrutura do ECAD e, portanto, assume posio privilegiada para determinar a extenso do gozo e fruio dos direitos autorais de seus associados. A excluso de scio do quadro social da UBC, sem qualquer garantia de ampla defesa, do contraditrio, ou do devido processo constitucional, onera consideravelmente o recorrido, o qual fica impossibilitado de perceber os direitos autorais relativos execuo de suas obras. A vedao das garantias constitucionais do devido processo legal acaba por restringir a prpria liberdade de exerccio profissional do scio. O carter pblico da atividade exercida pela sociedade e a dependncia do vnculo associativo para o exerccio profissional de seus scios legitimam, no caso concreto, a aplicao direta dos direitos fundamentais concernentes ao devido processo legal, ao contraditrio e ampla defesa (art. 5, LIV e LV, CF/88). IV. RECURSO EXTRAORDINRIO DESPROVIDO. Verifica-se, neste julgado, um maior aprofundamento da temtica da eficcia dos direitos fundamentais nas relaes jurdicas havidas entre particulares, tendo restado bastante clara a posio da Suprema Corte no sentido da necessidade da observncia dos preceitos fundamentais, especialmente aqueles de natureza procedimental, como a ampla defesa e o contraditrio, sobretudo nos casos em que o ente privado tem o poder de ingerncia na vida profissional do associado. J o Recurso Extraordinrio n. 160222/RJ, encontra-se assim ementado: I Recurso Extraordinrio: legitimao da ofendida ainda que equivocadamente arrolada como testemunha -, no habilitada anteriormente, o que, porm, no a inibe de interpor o recurso, nos quinze dias seguintes ao trmini do prazo do Ministrio Pblico (STF, Sms. 210 e 448). II Constrangimento ilegal: submisso das operrias de indstria de vesturio revista ntima, sob ameaa de dispensa; sentena condenatria de primeiro grau fundada na garantia constitucional da intimidade e acrdo absolutrio do Tribunal de Justia, porque o constrangimento questionado intimidade das trabalhadoras, embora existente, fora admitido por sua adeso ao contrato de trabalho, questo que, malgrado a sua relevncia constitucional, j no pode ser solvida neste processo, dada a prescrio superveniente, contada desde a sentena de primeira instncia, e jamais interrompida desde ento. Neste caso, relatado pelo Min. Seplveda Pertence, a Primeira Turma do Pretrio Excelso, infelizmente, no pde se aprofundar na questo constitucional, pois se tratava de ao penal, em que restou reconhecida a prescrio superveniente. No obstante, verifica-se que a primeira instncia reconheceu o constrangimento ilegal, por parte do representante da empresa, enquanto que o Tribunal de Justia entendeu que, por terem "aderido" ao contrato de trabalho, estariam as trabalhadoras anuindo com a violao de sua intimidade por parte da empregadora. Trata-se, pois, de reconhecer a primazia da autonomia negocial, em detrimento dos direitos fundamentais das trabalhadoras.

Entretanto, o prprio despacho de admisso do Recurso Extraordinrio, admitiu, em princpio, que teria havido a inobservncia, por parte do representante empresarial, da norma inscrita no art. 5, inciso X, da Constituio, que resguarda a intimidade do indivduo. Outro julgado do Supremo Tribunal Federal de destaque neste tema o do Recurso Extraordinrio n. 161243/DF, relatado pelo Min. Carlos Velloso, pela Segunda Turma, cuja ementa se transcreve: CONSTITUCIONAL. TRABALHO. PRINCPIO DA IGUALDADE. TRABALHADOR BRASILEIRO EMPREGADO DE EMPRESA ESTRANGEIRA: ESTATUTOS DO PESSOAL DESTA: APLICABILIDADE AO TRABALHADOR ESTRANGEIRO E AO TRABALHADOR BRASILEIRO. C.F., 1967, art. 153, 1; C.F., 1988, art. 5, caput. I. - Ao recorrente, por no ser francs, no obstante trabalhar para a empresa francesa, no Brasil, no foi aplicado o Estatuto do Pessoal da Empresa, que concede vantagens aos empregados, cuja aplicabilidade seria restrita ao empregado de nacionalidade francesa. Ofensa ao princpio da igualdade: C.F., 1967, art. 153, 1; C.F., 1988, art. 5, caput). II. - A discriminao que se baseia em atributo, qualidade, nota intrnseca ou extrnseca do indivduo, como o sexo, a raa, a nacionalidade, o credo religioso, etc., inconstitucional. Precedente do STF: Ag 110.846(AgRg)-PR, Clio Borja, RTJ 119/465. III. - Fatores que autorizariam a desigualizao no ocorrentes no caso. IV. - R.E. conhecido e provido. Aqui acolheu o Eminente Ministro Relator o parecer do Ministrio Pblico, no sentido de que a empresa privada deve respeitar o princpio isonmico, inscrito no caput do art. 5, da atual Constituio da Repblica, sendo reconhecidamente proibida a discriminao fundada na nacionalidade do trabalhador. Desta forma, o Pretrio Excelso conferiu maior envergadura ao direito fundamental de igualdade do trabalhador do que ao princpio da autonomia, no permitindo que este legitimasse a discriminao do trabalhador quanto distribuio de benefcios previstos no estatuto empresarial. Revela-se especialmente evidente a necessidade da incidncia das normas de direitos fundamentais na seara das relaes de trabalho, sobretudo no que diz com as condutas discriminatrias adotadas por empresas empregadoras com relao a seus trabalhadores. Isto porque, diante da flagrante situao de desigualdade entre as partes, o empregador , frequentemente, fonte de violaes aos direitos fundamentais de seus trabalhadores. Neste sentido, o acrdo da Quinta Turma do Tribunal Superior do Trabalho, relatado pelo Juiz convocado Andr Lus de Oliveira, cuja ementa a seguinte: Recurso de Revista. Dispensa Discriminatria por Idade. Nulidade. Abuso de Direito.Reintegrao. Se das premissas fticas emergiu que a empresa se utiliza da prtica de dispensar seus funcionrios quando estes completam 60 anos, imperioso se impe ao julgador coibir tais procedimentos irregulares, efetivados sob o manto do "poder potestativo", para que as dispensas no se efetivem sob a pecha discriminatria da maior idade. Embora o caso vertente no tivesse poca de sua ocorrncia previso legal especial (a Lei 9.029 que trata da proibio de prticas discriminatrias foi editada em 13.04.1995 e a dispensa do reclamante ocorreu anteriormente), cabe ao prolator da deciso o dever de valer-se dos princpios gerais do direito, da analogia e dos costumes, para solucionar os conflitos a ele impostos, sendo esse, alis, o entendimento consagrado pelo

art. 8, da CLT, que admite que a aplicao da norma jurdica em cada caso concreto, no desenvolve apenas o dispositivo imediatamente especfico para o caso, ou o vazio de que se ressente, mas sim, todo o universo de normas vigentes, os precedentes, a evoluo da sociedade, os princpios, ainda que no haja omisso na norma. Se a realidade do ordenamento jurdico trabalhista contempla o direito potestativo da resilio unilateral do contrato de trabalho, verdade que o exerccio deste direito guarda parmetros ticos e sociais como forma de preservar a dignidade do cidado trabalhador. A despedida levada a efeito pela reclamada, embora cunhada no seu direito potestativo de resilio contratual, estava prenhe de mcula pelo seu contedo discriminatrio, sendo nula de pleno direito, em face da expressa disposio do art. 9 da CLT, no gerando qualquer efeito, tendo como conseqncia jurdica a continuidade da relao de emprego, que se efetiva atravs da reintegrao. Efetivamente, a aplicao da regra do 1 do art. 5 da Constituio Federal, que impe a aplicao imediata das normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais, pois, como apontando pelo v. acrdo, a prtica da dispensa discriminatria por idade confrontou o princpio da igualdade contemplado no caput do art. 5 da Constituio Federal. Inocorrncia de vulnerao ao princpio da legalidade e no configurada divergncia jurisprudencial. Recurso de Revista no conhecido relativamente ao tema. Aqui, a mais alta Corte da Justia Especializada tratou de afastar a possibilidade de a empresa praticar condutas discriminatrias, que importavam na dispensa imotivada de seus empregados, ao completarem sessenta anos de idade, ainda que a ordem jurdica permita a dispensa sem necessidade de motivao. Entretanto, havendo a conduta de dispensa se baseado em critrio discriminatrio, ofendido restar o direito igualdade do trabalhador, devendo tal conduta ser prontamente rechaada pelo Estado-Juiz, pois o poder potestativo da empresa e sua prtica de promover a despedida de funcionrios por motivo de idade confrontam-se aos dispositivos constitucionais dos artigos 5, caput e 7, inc. XXX, da Constituio Federal. REFERENCIAS VASCONCELLOS, Armando Cruz. A eficcia horizontal dos direitos fundamentais nas relaes privadas de subordinao. 2008. Jus Navigandi. Disponvel em: . Acesso em: 23 mar 2010. BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. So Paulo. Malheiros, 1996. MORAIS, Alexandre de. Direto Constitucional. So Paulo: Atlas, 2002. ______. Constituio do Brasil Interpretada e Legislao Constitucional. So Paulo: Atlas, 2003. MENDES, Dayane Aparecida Rodrigues. A eficcia dos direitos fundamentais nas relaes entre particulares e a atuao do poder judicirio. Disponvel em: . Acesso em 23 mar 2010. SILVA JUNIOR, Nilson Nunes da. Eficcia horizontal dos Direitos Fundamentais. In: mbito Jurdico, Rio Grande, 62, 01/03/2009 [Internet]. Disponvel em . Acesso em 24/03/2010