eficácia energética de edifícios

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  • 8/3/2019 Eficcia energtica de edifcios

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    CAPTULO 4 Eficincia Energtica dos Edifcios

    Universidade do Minho Escola de EngenhariaDepartamento de Engenharia Civil PGINA 71

    4. CAPTULO 4 EFICINCIA ENERGTICA DOS EDIFCIOS

    4.1. PERFORMANCE DOS EDIFCIOS

    A avaliao da performance dos edifcios um ponto fulcral para a eficincia

    energtica, pois apenas com o seu conhecimento, possvel identificar se os

    edifcios possuem, ou no, boa eficincia energtica. Apresentam-se de

    seguida alguns conceitos fundamentais no que respeita compreenso da

    anlise da performance dos edifcios.

    - Previso: desenvolvimento de modelos que simulam comportamentos

    supostamente reais. Estes modelos podem ir desde uma ideia que existe na

    nossa mente, desde clculos numricos at um elaborado programa

    computacional de simulao de edifcios. Como tal, dependendo do tipo de

    performance que se precisa prever e respectiva complexidade, dever ser

    escolhido um mtodo que se adeque;

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    Anlise do Comportamento Trmico de Construes no Convencionais atravs de Simulao em VisualDOE

    PGINA 72 Dissertao de Mestrado de Pedro Correia Pereira da Silva

    - Avaliao: a avaliao da performance envolve a comparao entre as

    performances de vrias alternativas de design, e entre as normas existentes

    que regulam a performance que o edifcio dever possuir;

    - Avaliao Ambiental: para avaliar a performance ambiental, necessria a

    produo de critrios de deciso, alm da comparao ambiental da

    performance das vrias opes;

    - Preciso da previso: a preciso das previses de performance dependem

    do modelo utilizado e da exactido dos dados de entrada. Como tal, de

    forma a introduzir dados precisos, necessrio conhecer a forma como os

    edifcios so geridos e utilizados.

    A avaliao da performance dos edifcios um processo que implica um alto

    grau de dificuldade, pois um edifcio um sistema complexo, em que cada

    subsistema (paredes exteriores, cobertura, envidraados, etc) tem um papel

    importante na performance energtica global. Adicionalmente, existem

    efeitos cruzados entres os vrios subsistemas que podem ser bastante

    relevantes. Nos ltimos anos tm sido desenvolvidos vrios tipos de sistemas

    para classificar as habitaes, os quais se podem englobar em trs categorias:

    Sistema de pontos cada subsistema do edifcio analisado, sendo-lheatribudo um certo nmero de pontos;

    Sistema de performance aqui atribudo um ndice de performanceem termos de consumo anual energtico (aquecimento, arrefecimento,

    guas quentes sanitrias, etc);

    Sistema de consciencializao aqui apresentado um consumoanual de referncia, tendo em considerao a zona climtica na qual

    se insere.

    A utilizao dos mtodos de previso e avaliao da performance dos

    edifcios traz numerosas vantagens, quer a nvel econmico, quer a nvel

    ambiental, que compensam inteiramente os custos acrescidos da realizao

    de anlises e simulaes desde a fase inicial do projecto.

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    CAPTULO 4 Eficincia Energtica dos Edifcios

    Universidade do Minho Escola de EngenhariaDepartamento de Engenharia Civil PGINA 73

    Um dos efeitos mais visveis a reduo da potncia instalada dos

    equipamentos de AVAC. Este facto, normalmente, considerado uma

    desvantagem pelos projectistas, pois as suas comisses so muitas vezes uma

    percentagem do custo dos equipamentos. Assim, s atravs da mudana

    desta forma de pagamento aos projectistas pagamento adiantado se

    pode incentivar a introduo das ferramentas para reduo dos consumos

    energticos de edifcios. Esta mudana, aliada a programas governamentais

    que promovam a colaborao entre os vrios intervenientes do projecto,

    atravs do pagamento de subsdios se o edifcio se revelar energeticamente

    eficiente, pode resultar numa alterao das atitudes vigentes actualmente no

    mercado, promovendo assim a construo em massa de edifcios

    energeticamente eficientes (Papamichael, 2000).

    4.1.1. SISTEMA DE AVALIAO DA PERFORMANCE DE EDIFCIOS

    A maior parte dos sistemas de classificao foi desenvolvido apenas para

    habitaes novas, talvez pela maior facilidade de avaliao na fase de

    projectos, apenas recorrendo aos desenhos e especificaes. Mas, de forma a

    englobar tanto os edifcios novos como os existentes, apresentado o sistema

    de classificao misto, entre um sistema de performance e um sistema deconsciencializao, proposto por Zmeureanu. Desenvolver um sistema de

    classificao deste tipo bastante complexo, pois necessrio ter em conta

    a performance trmica real da envolvente exterior, assim como o

    comportamento dos ocupantes. O sistema proposto consiste em realizar os

    seguintes passos (Zmeureanu et al, 1999):

    1. Anlise das facturas energticas das habitaes, procedendo a umanormalizao em termos climticos, ao clculo do consumo energticoanual normalizado (NAC) e do custo energtico anual normalizado

    (NACo). Estes valores so comparados com os obtidos em casas de

    referncia e assim pode informar-se o cliente da rentabilidade de uma

    anlise mais detalhada.

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    Anlise do Comportamento Trmico de Construes no Convencionais atravs de Simulao em VisualDOE

    PGINA 74 Dissertao de Mestrado de Pedro Correia Pereira da Silva

    2. Atribuio de um ndice de performance energtica nos termos docusto energtico anual normalizado (NACo) por exemplo, pode

    utilizar-se a expresso 4.1:

    Equao 4.1

    ( )[ ]aNACoIND

    +=

    exp1

    100100 com,

    - custo energtico anual de edifcio energeticamente eficiente [/m2];

    a - custo energtico anual normalizado mdio de um edifcio [/m2].

    3. Utilizao de uma cmara de infravermelhos de forma a detectarvazios e pontes trmicas. Clculo das infiltraes de ar, utilizando o

    mtodo dos gases traadores ou a porta-ventiladora. Finalmente, so

    escolhidas algumas localizaes representativas para medir a

    resistncia trmica da envolvente exterior. Aqui podem ser utilizados trs

    mtodos, todos com as sua vantagens e desvantagens:

    calcular o fluxo de calor pela envolvente com sensores de fluxode calor e as temperaturas superficiais com termopares;

    calcular o fluxo de calor e as temperaturas superficiais com umpirmetro infravermelho;

    definir por inspeco visual o tipo e a espessura dos panosconstituintes da envolvente exterior, obtendo a resistncia

    trmica por consulta de tabelas.

    4. Obteno de dados necessrios para o programa de simulaotrmica medidas e tipos de parede e janelas exteriores, tipo e

    capacidade do sistema de aquecimento / arrefecimento, etc.

    5. Desenvolvimento e calibrao (utilizando as facturas energticas) deum modelo computacional de simulao trmica. Avalia-se, assim, o

    potencial de poupanas energticas e estima-se a utilizao

    energtica intrnseca, ou seja, estimam-se os consumos energticos,

    retirando a parte da iluminao e de guas quentes sanitrias.

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    CAPTULO 4 Eficincia Energtica dos Edifcios

    Universidade do Minho Escola de EngenhariaDepartamento de Engenharia Civil PGINA 75

    6. Seleco das medidas de conservao energtica mais rentveis eestimao do potencial de poupana energtica, atravs da

    simulao computacional. Estimao dos custos iniciais da reabilitao

    energtica.

    7. Redaco de um relatrio sumrio onde se discutem todos osresultados obtidos atravs desta anlise energtica.

    A partir deste sistema de classificao, possvel quantificar o potencial de

    poupana energtica em edifcios novos1, atravs da razo entre a resistncia

    trmica da envolvente exterior e o valor mnimo da resistncia trmica para

    uma casa energeticamente eficiente. Se a avaliao for para edifcios

    existentes, ento a melhor forma de determinar o potencial de poupana

    energtica ser atravs da anlise da energia intrnseca. Os encargos etempo necessrio para efectuar um diagnstico completo a partir deste tipo

    de sistema de classificao so apresentados na Tabela 4.1 (Zmeureanu et al,

    1999).

    Tabela 4.1 Tempo e custo de um diagnstico de eficincia energtica de um edifcio

    TarefasTempo mdio

    (min)Custo ()

    1 - "in situ"

    Utilizao da cmara infravermelhos 30 42.1

    Inspeco visual 30 42.1Avaliao da resistncia trmica - 3 mtodo 60 83.4Medio da taxa de renovao de ar horria 20 27.5Avaliao da eficincia do sistema de aquecimento/ arrefecimento

    20 27.5

    Determinao custo energtico anual normalizado 30 42.1Obteno dos parmetros necessrios para asimulao computacional

    40 55.9

    Transporte e instalao de equipamento 20 27.5Total 250 348

    2 - no escritrioDesenvolvimento do modelo computacional desimulao trmica

    80 111.8

    Estimao do potencial de poupana energticaRelatrio finalTotal 1+2 330.0 460.2Fonte: Zmeureanu et al, 1999

    1 Para estes casos no se executam os passos 1 e 3.

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    Anlise do Comportamento Trmico de Construes no Convencionais atravs de Simulao em VisualDOE

    PGINA 76 Dissertao de Mestrado de Pedro Correia Pereira da Silva

    4.2. FERRAMENTAS DE SIMULAO

    A simulao de edifcios pode ser definida como a introduo das

    caractersticas do edifcio que, com um certo grau de abstraco,

    representem a realidade. Como um edifcio composto por milhares devariveis, necessrio apenas representar as mais importantes e simplificar ou

    no introduzir as de menor importncia (Adelard et al, 1999).

    Assim, para simular a realidade utilizando ferramentas de simulao

    necessrio executar trs tarefas (Augenbroe, 2002):

    Criao do modelo nesta fase executado uma representaoesquemtica do edifcio (modelo) numa dada fase, a partir da reduodeste a uma forma idealizada, com um dado nvel de abstraco;

    Simulao nesta fase introduzido o modelo na ferramenta desimulao e ajustada a ferramenta de modo que os resultados obtidos

    reflictam o que se pretende avaliar;

    Anlise de resultados nesta fase so analisados todos os resultadosobtidos pela ferramenta de simulao, de forma a produzir os

    indicadores de performance que se pretende quantificar.

    As ferramentas de simulao esto firmemente integradas no sector da

    construo h mais de duas dcadas. Estas trouxeram um aumento de

    rapidez na fase de projecto, uma maior eficincia, a possibilidade de testar

    uma vasta gama de solues de design, resultando no aperfeioamento das

    solues de projecto. Assim, as ferramentas de simulao da performance

    energtica dos edifcios podem aumentar a competitividade, produtividade,

    qualidade e a eficincia na indstria da construo, assim como facilitar a

    aplicao de tecnologias inovadoras.

    Devido ao grande desenvolvimento na capacidade de processamento dos

    computadores, possvel simular as vrias solues de projecto com rapidez,

    mesmo com ferramentas de simulao mais complexas e eficientes. Muito

    devido vertiginosa evoluo da potncia de computao, agora possvel

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    CAPTULO 4 Eficincia Energtica dos Edifcios

    Universidade do Minho Escola de EngenhariaDepartamento de Engenharia Civil PGINA 77

    simular o comportamento dos edifcios e seus componentes a partir de

    algoritmos e de dados fsicos, de uma forma e complexidade impossveis h

    alguns anos atrs. Desta forma, possvel simular a performance energtica

    dos edifcios de um modo cada vez mais rigoroso. Tal facto muito importante

    para o mercado da construo, principalmente com a entrada em vigor de

    normas baseadas na performance dos edifcios. Estas ditam que necessrio,

    mesmo em fase de projecto, que o edifcio esteja dentro das normas em vigor,

    o que poder ser facilitado com a utilizao de software de simulao da

    performance energtica dos edifcios. Por exemplo, a transmisso de calor

    atravs da envolvente do edifcio pode ser simulada com relativa facilidade,

    facilitando a verificao da existncia de pontes trmicas na envolvente,

    como se pode observar na Figura 4.1 (Hensen e Nakahara, 2001).

    Figura 4.1 Simulao do fluxo de calor numa caixilharia de PVC. Fonte: Deleme SA

    Mas as ferramentas de simulao possuem outras aplicaes com grande

    utilidade, como o apoio ao desenvolvimento de regulamentos trmicos. Com

    estas ferramentas possvel verificar as solues energeticamente mais

    eficientes para um dado clima, desenvolvendo um consumo de referncia

    para cada regio. No desenvolvimento de regulamentos trmicos, as

    ferramentas de simulao podem ser utilizadas para a obteno da equao

    de clculo do valor mximo do coeficiente de transmisso trmico das

    paredes e tectos. Tal pode ser conseguido atravs da simplificao dos

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    Anlise do Comportamento Trmico de Construes no Convencionais atravs de Simulao em VisualDOE

    PGINA 78 Dissertao de Mestrado de Pedro Correia Pereira da Silva

    resultados de simulao anual dinmica, numa equao esttica, como a

    observada no desenvolvimento dos regulamentos trmicos do Egipto (ver

    Huang et al, 2002).

    Ao aplicar as ferramentas de simulao em projectos, necessria uma

    avaliao cuidada do tipo de integrao a executar. possvel identificar

    quatro tipos de integrao (Augenbroe, 2002):

    1. criao de duas equipas separadas, uma de projecto e outra desimulao, onde a partilha de informaes orientada apenas para a

    partilha de dados e no existe uma gesto desta troca de informaes;

    2. semelhante referida anteriormente, mas com a particularidade dacriao de um mdulo de gesto de dados, baseado num fluxo lgicode troca de informao especfico do projecto;

    3. execuo de reunies entre as equipas de projecto e a de simulao,com uma vasta gama de discusso das solues apresentadas pelas

    duas equipas, durante todas as fases de projecto;

    4. criao de uma ferramenta de gesto que analisa toda a informao,de projecto e das simulaes, podendo na prtica ser considerada

    uma ferramenta de simulao amiga do utilizador, com a diferena

    de a parte de simulao ser executada por especialistas e os seusresultados serem compilados numa ferramenta de gesto de

    informao.

    Analisados os quatro tipos de integrao, possvel concluir que apenas com

    as integraes tipo 3 e 4 existe uma partilha de informaes dinmica,

    aumentando a aplicabilidade dos resultados obtidos pelas ferramentas de

    simulao no projecto, o que tendencialmente levar a uma maior eficincia

    do projecto.

    4.2.1. PRECISO DAS FERRAMENTAS DE SIMULAO

    A preciso das ferramentas de simulao pode variar muito. Esta depende

    primariamente da exactido do modelo, da preciso da simulao e da

    correcta anlise do resultados. A preciso da simulao depende das

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    CAPTULO 4 Eficincia Energtica dos Edifcios

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    ferramentas em si, pois existem algumas que so criadas especificamente

    para terem elevada performance, enquanto que outras so criadas para a

    reduo do tempo de execuo da simulao. O modelo depende, em

    grande parte, da exactido dos dados de entrada. O factor humano

    tambm muito importante para o resultado da simulao, pois necessrio

    compreender os modelos e conhecer a fundo o que se vai simular, de modo a

    preparar os dados de entrada do modelo. Cada programa tem as suas

    especificidades, pelo que para se produzirem resultados com grande preciso

    necessrio conhecer o programa a fundo, de forma a ultrapassar as

    pequenas incongruncias de cada programa.

    Em todas as formas de avaliao da performance dos edifcios, desde as

    ferramentas de simulao, at aos conselhos de especialistas baseados no seu

    julgamento pessoal, no costume a determinao das incertezas

    subjacentes s avaliaes. Assim, os resultados das avaliaes so

    apresentados na forma de valores determinsticos. Mas para determinar a

    preciso das ferramentas de simulao necessria a quantificao das

    incertezas. Estudos efectuados por Wit mostram que as incertezas podem

    atingir valores altos, sendo imperativo apresentar as incertezas associadas s

    avaliaes da performance dos edifcios. Neste estudo foram encontradas as

    fontes de incerteza com maior relevncia:

    taxas de infiltrao; estratificao da temperatura interior; temperatura exterior; transferncia de calor interior por conveco; distribuio da radiao solar incidente; distribuio dos ganhos internos; trocas de calor radiantes entre as superfcies das paredes interiores; transferncia de calor exterior por conveco.

    De todos os factores mencionados, os que representam a maior percentagem

    de incerteza so a taxa de infiltrao, devido variabilidade do vento, e a

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    Anlise do Comportamento Trmico de Construes no Convencionais atravs de Simulao em VisualDOE

    PGINA 80 Dissertao de Mestrado de Pedro Correia Pereira da Silva

    estratificao da temperatura interior. Tal deve-se ao facto da maioria dos

    modelos simular o volume de ar interior apenas a partir de um n, apresentado

    a temperatura mdia, o que pode levar a erros com algum peso se

    considerarmos a estratificao da temperatura interior (Wit e Augenbroe,

    2002).

    4.2.2. EXECUO DE MODELOS

    O ponto de partida para a maior parte das ferramentas de simulao

    energticas a realizao de um modelo. A segurana nos resultados obtidos

    pela simulao est intrinsecamente relacionada com a exactido do

    modelo. Assim, necessrio introduzir o mximo de esforo possvel naproduo de um modelo satisfatrio. Pedrini apresenta uma metodologia para

    a calibrao de modelos de edifcios existentes, onde relaciona um aumento

    de complexidade do modelo com o nvel de resultados obtidos. Esta

    metodologia baseia-se na anlise dos dados de entrada inputs modelos

    que representam o edifcio a partir de um certo nvel de abstraco , e dos

    dados de sada outputs relatrios que contm os resultados obtidos pelas

    simulaes. Esta metodologia comea pela compilao dos dados existentes:

    Plantas arquitectnicas identificao das geometrias, reas deenvidraados, elementos de construo, etc;

    Sistema de iluminao elctrico - potncia das lmpadas, distribuio,etc;

    Sistema secundrio de ar condicionado planos das tubagens dedistribuio de ar, caracterstica dos sistemas como as temperaturas de

    conforto, capacidade total e sensvel de arrefecimento, etc;

    Sistema primrio de ar condicionado planos das tubagens dedistribuio de gua fria, caracterstica do chiller como o modelo, ano,

    COP, etc;

    Horrios de utilizao da iluminao e ar condicionado e nmero deocupantes;

    Inventrio de equipamento com consumos energticos significativos;

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    Universidade do Minho Escola de EngenhariaDepartamento de Engenharia Civil PGINA 81

    Histrico dos consumos energticos mensais; Consumos energticos horrios, para um perodo representativo; Propriedades dos componentes dos edifcios.

    Para o clima portugus, nesta primeira fase, tambm necessrio definir os

    sistemas de aquecimento utilizados e sua potncia, pois no nosso clima os

    consumos energticos para aquecimento so preponderantes para o

    consumo energtico total.

    Com todas estas informaes, possvel realizar um primeiro modelo, simular e

    comparar com os consumos mensais medidos. Com este procedimento

    identifica-se as principais fontes de cargas trmicas e consumos energticos,

    estando a situao preparada para o segundo passo de calibrao, uma

    auditoria:

    Classificao das zonas por tipo de utilizao, iluminao artificial econtrolo climtico;

    Medio de vrios parmetros atravs de instrumentos portteis nveisde iluminao, fluxo de ar, temperatura, etc;

    Introduo de sensores fixos nas vrias zonas, acoplados de Data-Loggers .

    O terceiro passo consiste na diviso do consumo energtico total em partes,

    ou seja, no clculo da percentagem de energia gasta pela iluminao,

    equipamentos e arrefecimento e aquecimento. Para o ltimo passo,

    necessrio medir os consumos reais e potncias associadas aos sistemas de

    aquecimento e arrefecimento. Seguindo todos estes passos possvel obter

    um modelo bastante rigoroso, garantindo-se uma simulao com resultados

    muito precisos (Pedrini e Lamberts, 2001).

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    PGINA 82 Dissertao de Mestrado de Pedro Correia Pereira da Silva

    4.2.3. DADOS CLIMTICOS

    Os dados climticos so um dos parmetros mais importantes na simulao

    trmica dos edifcios, principalmente na previso das necessidades de

    aquecimento/arrefecimento e respectivo dimensionamento dos sistemas declimatizao. Assim, se para uma dada localizao no existirem dados

    climticos, estes tero de ser gerados a partir de um software existente. Os

    dados climticos podem ser obtidos em diferentes formas, com diferentes

    complexidades. A escolha do tipo de dados climticos a utilizar depende do

    que se pretende estimar, como tal os vrios tipos de dados climticos podem

    ser sistematizados da forma apresentada na Tabela 4.2:

    Tabela 4.2 Classificao das formas existentes para determinar bases de dados

    meteorolgicas.Designao Utilizao Vantagens e desvantagens

    Dados Graus-Dia"Bin"

    avaliao dos consumos paraaquecimento

    (-) Volume de informaoinsuficiente;(+) Facilidade de utilizao(tabela).

    Anos Mltiplos(MY)

    Consumos energticos eavaliao trmica

    (+) Excelente preciso;(-) Altos tempos decomputao;(-) Grande volume deinformao.

    Anos

    meteorolgicostpicos (TMY) eAnos de teste dereferncia (TRY)

    Consumos energticos eavaliao trmica

    (+)Boa preciso dasnecessidades;

    mdia energticas;(-) Possibilidade de escolher umano no adaptado snecessidades dos edifcios.

    Diasrepresentativos epequenassequncias deanos de referencia

    Dimensionamento de sistemasAVAC e Solares

    (+) Ganho temporal;(-) Possibilidade desub/sobrestimar a potncia doequipamento.

    Geradores deficheiros climticos

    Fornecer dados inexistentes,dimensionamento de

    equipamento e avaliao das

    necessidades energticas

    (-) Dificuldade na modelaodas variveis climticas.

    Fonte: Adelard et al, 2000.

    Dados Graus-Dia "Bin" este mtodo simplificado para obteno das

    temperaturas, foi criado para estimar as cargas trmicas de aquecimento /

    arrefecimento.

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    CAPTULO 4 Eficincia Energtica dos Edifcios

    Universidade do Minho Escola de EngenhariaDepartamento de Engenharia Civil PGINA 83

    Anos meteorolgicos tpicos (TMY) e Anos de teste de referncia (TRY) este

    conceito foi apresentado de forma a aumentar a preciso da estimao das

    necessidades energticas, contendo dados climticos horrios representativos

    de um ano tpico.

    Dias representativos este conceito foi criado para reduzir o tempo

    computacional, para utilizao em simulaes e ferramentas de design

    simplificados. Estes dias representam as condies climatricas tpicas e

    correspondem mdia e extremos das condies de cada dado climtico.

    Anos mltiplos (MY) este conceito apresenta vrios anos de dados climticos

    (podendo ir de 5 a 100 ou mais anos); no vingou inicialmente devido

    complexidade de clculo necessria, mas devido ao progresso dos

    computadores, este tipo de dados climticos comea a ser utilizado, ainda

    que necessitando de maior esforo, pois existem muitos mais dados a ser

    tratados (Hui e Cheung, 1997).

    Geradores de ficheiros climticos estas rotinas utilizam a anlise estatstica

    para modelar os dados climticos. Geralmente utilizam mdias mensais de

    dados dirios para gerar as variveis climticas, a partir de distribuies

    estatsticas e correlaes. Quando possvel, tm em conta as interaces

    entre as diversas variveis.

    Devido grande intensidade de radiao solar em Portugal, o potencial de

    aplicao do design solar passivo muito grande. Foi finalmente ultrapassada

    a desconfiana que esta tecnologia despertava, devido tentativa frustrada

    de implementao nos anos 80, quando a tecnologia ainda no estava

    suficientemente avanada e os materiais utilizados eram de fraca qualidade.

    Actualmente esta tecnologia sofreu avanos, tendo a manuteno includa

    durante 5 anos, garantia e incentivos do Governo. Assim, a determinao dos

    dados climticos de vrias localizaes de Portugal seria muito til para uma

    melhor e mais precisa avaliao da performance da aplicao dos sistemas

    solares passivos nos edifcios. Os programas de simulao da performance

  • 8/3/2019 Eficcia energtica de edifcios

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    Anlise do Comportamento Trmico de Construes no Convencionais atravs de Simulao em VisualDOE

    PGINA 84 Dissertao de Mestrado de Pedro Correia Pereira da Silva

    energtica dos edifcios utilizam, geralmente, uma base de dados climticos

    com a durao de 1 ano. Como tal, de forma a conseguir avaliar a longo

    termo a performance dos sistemas do edifcio, necessrio utilizar ficheiros

    climticos TMY ou TRY. A gerao deste tipo de dados climticas tem de ser

    cuidadosa, pois a nica forma de obter uma boa preciso da performance

    energtica a longo termo se as sequncias climticas que ocorrem neste

    ano mdio, forem representativas das que ocorrem a longo termo. Kalogirou

    descreve uma forma de gerar ficheiros climticos TMY representativos a longo

    termo (Kalogirou, 2003):

    Obteno do ficheiro climtico TMY atravs da anlise estatstica devrios anos de dados meteorolgicos, onde so eliminados os dados

    estatisticamente errados (chamados outsiders).

    Clculo da Funo Distribuio Acumulada mensal (FDA) e a longoprazo (FDALT), para cada parmetro meteorolgico e utilizao do

    mtodo estatstico de Filkenstein-Schafer, atravs da equao 4.2, para

    obter as mdias:

    Equao 4.2

    =

    =N

    i

    LTFDAFDA

    N

    FS

    1

    1

    Aplicao factores de peso a cada parmetro, de forma a escolherqual a importncia relativa de cada parmetro no resultado final.

    Clculo da raiz quadrada do desvio padro para cada ms, em todosos anos.

    Por ltimo, escolha do ms representativo para cada parmetro.

    Para programas de simulao mais avanados so normalmente utilizados osficheiros climticos tipos TMY-2, os quais so baseados nos TMY, mas

    apresentam os dados de forma horria, em vez de mensal.

    Em Portugal, face ao novo Regulamento Trmico prestes a entrar em vigor,

    com maiores restries ao nvel dos consumos energticos dos edifcios, ser

  • 8/3/2019 Eficcia energtica de edifcios

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    CAPTULO 4 Eficincia Energtica dos Edifcios

    Universidade do Minho Escola de EngenhariaDepartamento de Engenharia Civil PGINA 85

    conveniente a utilizao de programas de simulao do comportamento

    energtico dos edifcios. Como tal, de forma a garantir bons resultados nas

    simulaes, extremamente importante utilizar dados climticos precisos,

    podendo ser necessria a gerao de ficheiros climticos TMY de forma

    analtica ou com a utilizao de geradores de ficheiros climticos, como por

    exemplo o RUNEOLE (Figura 4.2), de forma a reduzir o tempo de computao

    e aumentar a preciso dos dados climticos (Adelard et al, 2000).

    Figura 4.2 Software RUNEOLE para gerao de ficheiros climticos. Fonte: Adelard etal, 1999

    4.2.4. DESAFIOS E LIMITAES DAS FERRAMENTAS DE SIMULAO

    Os desafios que se apresentam a estas ferramentas de simulao actualmente

    so: 1) a sua integrao como um todo; 2) aumento no controlo de

    qualidade; 3) a explorao das oportunidades que surgem com a exploso

    da Internet.

    1) para a caracterizao item necessrio que as vrias ferramentas comprovas dadas no mercado se interliguem de forma mais eficiente,

    reduzindo assim de forma substancial o tempo de simulao e a vasta

    gama de conhecimentos necessrios para dominar todos programas

    das diferentes reas (trmica, ventilao, iluminao, etc.) ou que

    apaream ferramentas novas com todas estas reas integradas;

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    Anlise do Comportamento Trmico de Construes no Convencionais atravs de Simulao em VisualDOE

    PGINA 86 Dissertao de Mestrado de Pedro Correia Pereira da Silva

    2) o controlo de qualidade das ferramentas de simulao essencial paraprevenir a utilizao de ferramentas que contenham algum tipo de

    problema no seu motor de clculo. Basta um pequeno erro nos

    milhares de linhas de comando do programa para que o resultado da

    sua simulao esteja distorcido, resultando em erros de avaliao e

    consequentemente na escolha de solues que no so as mais

    apropriadas;

    3) o aproveitamento das oportunidades que surgiram com a Internetpode ser de vrios tipos: desde a ligao eficiente de equipas de

    projecto com empresas especializadas em simulao, at partilha de

    conhecimentos e particularidades das vrias ferramentas de simulaes

    em bases de dados on-line e de rpida consulta.

    Desafio 1) verifica-se que tm sido desenvolvidos trs tipos de solues para

    vencer este desafio > 1 criao de procedimentos para troca de

    informao entre as vrias ferramentas; 2 criao de ferramentas,

    chamadas intermdias, que interligam as vrias ferramentas existentes, de

    forma a compatibiliza-las; 3 criao de ferramentas integradas que simulem

    os diferentes domnios necessrios

    Assim, podemos identificar as ferramentas de simulao de edifcios inseridas

    em quatro categorias:

    1. Stand-alone estas ferramentas no possuem ligaes com outras;como tal, sempre que se parte para outra aplicao, necessrio criar

    um novo modelo de projecto;

    2. Inter-operveis estas ferramentas possuem procedimentos de troca oupartilha de informaes com outras ferramentas, que so invocados

    manualmente. Por exemplo, utilizando esta ferramenta possvel definir

    a geometria do edifcio em plataforma CAD e introduzir numa

    ferramenta de simulao energtica a geometria;

    3. Emparelhados estas ferramentas possuem ligaes a outrasaplicaes, em que durante a simulao a ferramenta chama outras

    aplicaes, sempre que necessrio. Tal se deve a ferramentas

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    Universidade do Minho Escola de EngenhariaDepartamento de Engenharia Civil PGINA 87

    intermdias2 de pr e ps-processamento, que interligam as vrias

    ferramentas;

    4. Integrados ferramentas que possuem a capacidade de simulardiferentes domnios, utilizando um nico modelo de projecto.

    A grande diferena entre estas ferramentas que as inseridas nas categorias 3

    e 4 so ferramentas que suportam uma partilha de informaes dinmica,

    resultando na harmonizao dos resultados das vrias ferramentas e

    facilitando a sua comparao. Como tal, possvel uma escolha de solues

    bastante mais sustentada, pois possibilitam a tomada de decises multi-

    disciplinar. Assim, estas ferramentas aumentam a preciso do resultado final.

    Adicionalmente estas ferramentas com troca de informaes dinmicas

    apenas necessitam de um modelo, o que torna a gesto do mesmo muito

    mais simples, facilitando o teste a vrias opes (Citherlet e Hand, 2002; Laine

    et al, 2001; Liebich, 2003).

    Desafio 2) este apenas pode ser ultrapassado com a certificao e teste das

    vrias ferramentas de simulao, ou seja, necessria uma reviso da

    literatura em que se baseia a ferramenta, verificao dos cdigos utilizados,

    verificao analtica, comparao entre modelos, anlise da sensibilidade e

    verificao emprica. Esta ltima acaba por ser a mais importante e envolve a

    comparao dos resultados obtidos com uma simulao executada pela

    ferramenta com os dados medidos num prottipo com as mesmas

    caractersticas da simulao. Devido dificuldade subjacente a estes testes

    empricos, foi desenvolvido um software que possui uma grande aceitao no

    mercado e com provas dadas BESTEST. Este software baseia-se na realizao

    de testes comparativos entre programas, confrontando o programa a avaliar

    com outros, considerados de topo na simulao da performance dos edifcios

    (Judkoff e Neymark, 1995).

    Desafio 3) para o aproveitamento das potencialidades da Internet,

    necessrio atentar que grande parte destas ferramentas requerem informao

    2As ferramentas intermdias resultam de um Aliana Internacional de Interoperabilidade (IAI International

    Alliance for Interoperability), onde j se encontram associadas mais de 600 companhias, de vrias reas.

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    PGINA 88 Dissertao de Mestrado de Pedro Correia Pereira da Silva

    detalhada sobre as propriedades dos materiais de construo, entre outras.

    Tal pode ser problemtico, moroso e algumas vezes no se possui confiana

    absoluta na provenincia desses dados. Em Portugal j existem bases de

    dados de confiana, como as que se encontram no livro Coeficientes de

    Transmisso Trmica da Envolvente Exterior do LNEC. So, porm, tabelas

    muito estticas e no acompanham a evoluo do mercado nem a

    introduo de produtos inovadores. Seria necessrio que estas tabelas fossem

    disponibilizadas Online e constantemente actualizadas. Tambm seria de

    grande utilidade que estas bases de dados tivessem a opo de exportar os

    dados para programas de tratamento de dados, como o Excel, de forma a

    facilitar a introduo da informao detalhada que as ferramentas de

    simulao necessitam (Papamichael, 2000). Outro exemplo da utilizao da

    Internet em conjunto com as ferramentas de simulao o observado no

    projecto SmartHomes, onde a Internet utilizada para, em tempo real,

    controlar a habitao, atravs de vrios sensores e actuadores l instalados.

    Este projecto discutido com maior pormenor no ponto 4.2.5.

    Em termos de limitaes das ferramentas de simulao, possvel referir que,

    frequentemente, as questes inovadoras que estas ferramentas tm que

    enfrentar, superam a capacidade de resposta do programa. Considerando

    que esto constantemente a ser desenvolvidos novos componentes a aplicar

    em edifcios, de forma a torn-los mais eficientes, as ferramentas devem

    possuir facilidade de integrao de novos mdulos e funcionalidades. Se

    algumas destas solues inovadora podem ser simulados facilmente,

    mantendo a estrutura da ferramenta de simulao, como por exemplo o

    aparecimento de envidraados inovadores, que implicou modificar as

    caractersticas de condutibilidade e do factor solar para os caracterizar;

    existem outras solues que apenas com a introduo de novos comandos

    possibilitam a simulao. Por exemplo, ao integrar uma Parede de Trombe

    num edifcio, apenas era possvel simular correctamente com a introduo de

    novos comandos e funcionalidades. Como tal, necessrio que estas

    ferramentas, alm de serem em cdigo aberto, tenham linguagem simples de

    manusear (Basic, Visual Basic, etc), de forma a facilitar a introduo de novos

    procedimentos, com capacidade de resposta s questes inovadoras

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    Universidade do Minho Escola de EngenhariaDepartamento de Engenharia Civil PGINA 89

    propostas. Este problema coloca-se mais em termos de investigao ou

    projectos especiais, pois perante a construo tradicional, em princpio, estas

    ferramentas j possuem capacidade de resposta para qualquer questo que

    surja (Zweifel, Achermann e Duerig, 2001).

    A problemtica da utilizao de ferramentas de simulao algo que tem

    vindo a usufruir de variadssimos estudos. Nesta matria possvel encontrar um

    estudo realizado por Donn, onde este realizou uma srie de entrevistas de

    forma a compilar as dificuldades mais pertinentes na utilizao de programas

    de simulao (Donn, 2001):

    limite temporal na preparao do modelo; ausncia de orientao clara sobre os parmetros que tm um peso

    muito grande na performance energtico dos edifcios, e os que so

    insignificantes;

    inexistncia de guidelines da performance dos edifcios queforneam uma base para a compreenso das recomendaes das

    simulaes;

    inexistncia de ferramentas para resumir e detectar padres resultantesdo excesso de informao produzido pelos programas de simulao

    durante a fase de teste das vrias solues.

    No artigo de Donn, esto discutidos com maior profundidade todos estes

    pontos apresentados anteriormente. Mas a principal concluso retirada destas

    entrevistas a necessidade de melhores especificaes includas nas vrias

    ferramentas que ajudam a garantir os bons resultados obtidos pela sua

    utilizao, como procedimentos que identifiquem qualquer tipo de m

    definio dos dados de entrada, alm da certificao das ferramentas, para

    garantir a confiana dos utilizadores, resultando na utilizao quase globaldestas ferramentas, aumentando-se assim as garantias de eficincia

    energtica dos edifcios (Donn, 2001).

    Concluindo, as ferramentas mais sofisticadas existentes actualmente no

    mercado j ultrapassaram um grande nmero de limitaes, tais como a

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    PGINA 90 Dissertao de Mestrado de Pedro Correia Pereira da Silva

    introduo de ferramentas integradas, sistemas de certificao da qualidade

    e aproveitamento das potencialidades da Internet. Mas outra inovao ainda

    no referida a introduo do ambiente Windows e programao em Visual

    Basic. Tal resultou em interfaces mais amigas do utilizador, que dispensam a

    preparao manual do ficheiro de entrada, reduzindo substancialmente o

    tempo necessrio para a preparao da simulao. No entanto este tipo de

    interfaces tem o problema de limitar as opes possveis, ou seja, funcionam

    muito bem para a generalidade dos casos, mas para situaes complexas,

    no contabilizadas no programa, apenas compreendendo a programao

    que est por trs da interface grfica, possvel alterar e simular o que

    realmente se pretende.

    4.2.5. NOVAS APLICAES DAS FERRAMENTAS DE SIMULAO

    Integrao da Trmica e Ventilao Inicialmente os modelos de simulao

    trmica eram baseados na anlise dos dados de infiltrao e climticos,

    produzindo assim modelos inadequados. Mas devido importncia da

    ventilao na performance energtica das habitaes, necessrio aplicar

    modelos mais eficientes, inclusivamente o escoamento atravs de grandesenvidraados, pois neste caso o escoamento bi-direccional, sendo

    necessrios clculos distintos. Assim, para combinar os modelos trmicos com

    os de ventilao existem duas hipteses:

    primeiro utilizado o modelo trmico para calcular as temperaturas dasdiversas zonas, usando taxas de ventilao predefinidas, seguidamente

    calcula-se os fluxos das zonas atravs de um modelo de ventilao;

    primeiro utilizado o modelo de ventilao para calcular os fluxos,utilizando temperaturas predefinidas; seguidamente utiliza-se o modelo

    trmico para recalcular as temperaturas das zonas, possuindo j os

    fluxos como dados de entrada.

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    CAPTULO 4 Eficincia Energtica dos Edifcios

    Universidade do Minho Escola de EngenhariaDepartamento de Engenharia Civil PGINA 91

    Koinakis estudou a implementao de um procedimento de combinao de

    um modelo trmico e de um modelo de ventilao, atravs de passos hora a

    hora, como se pode observar na Figura 4.3. Depois da implementao deste

    procedimento, foi simulado um apartamento de 4 andares situado em Atenas

    e montado um sistema de medio para a validao do modelo. Este estudo

    concluiu que este modelo combinando a trmica e a ventilao possui

    resultados bastante precisos e de confiana para vrios tipos de fenmenos

    dinmicos de ventilao, desde fenmenos de infiltrao a ventilao

    cruzada (Koinakis, 2005).

    Figura 4.3 implementao do modelo de trmica e ventilao. Fonte: Koinakis, 2005.

    Aplicao de sistemas de monitorizao A integrao de sistemas de

    monitorizao nos edifcios no est ainda muito desenvolvido, mas devido

    sua rpida evoluo e ligao aos computadores, algo que no futuro

    prximo dever ser integrado nos edifcios de forma a aumentar a eficinciaenergtica destes. Se considerarmos o exemplo da indstria automvel, a

    integrao de sensores para a monitorizao destes, foi um passo de grande

    importncia para melhorar a performance dos automveis. Actualmente

    todos os sensores esto ligados a um sistema central (centralina) que recebe

    todas as informaes dos sensores e as processa de forma a aumentar a

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    PGINA 92 Dissertao de Mestrado de Pedro Correia Pereira da Silva

    eficincia dos automveis, avisando se existe algum problema no sistema.

    Como tal, o aumento da eficincia energtica dos edifcios pode passar por

    um bom planeamento e implementao de sistemas de controlo complexos e

    independentes (John, Clements-Croome e Jeronimidis, 2005).

    Um projecto com grande potencial de xito, nesta rea, o chamado

    SmartHomes, que consiste na utilizao da Internet para controlar a

    temperatura, humidade, CO2 e consumo energtico da habitao, atravs de

    vrios sensores montados na habitao, ligados directamente Internet,

    sendo possvel verificar em tempo real a performance da casa. Como j foi

    referido, os hbitos dos utentes tem um peso bastante elevado na eficincia

    energtica das habitaes. Porm, com o desenvolvimento deste tipo de

    servio a performance energtica da habitao poder passar a ser

    controlada por especialistas, levando ao aumento da eficincia energtica.

    Neste projecto tm sido utilizadas ferramentas de simulao de forma a

    (Clarke et al, 2004):

    avaliar o consumo energtico, identificando medidas com prioridadepara reduzir os consumos energticos;

    avaliar o consumo energtico, temperatura e humidade, de forma aassegurar uma cobrana equitativa dos servios energticos;

    aumentar a eficincia do controlo do sistema de aquecimento /arrefecimento;

    desenvolver estratgias de distribuio da energia, reduzindo ofornecimento de energia em excesso aproximao da procura

    oferta.

    Ferramentas de simulao simplificadas no sector dos edifcios, estas

    ferramentas podem ser fundamentais para, em fases iniciais do projecto,

    ajudarem os arquitectos e engenheiros a aumentarem a eficincia energtica

    dos edifcios. Um problema muito comum a inexistncia de ficheiros

    climticos para vrios locais. Como tal, Westphal propem uma forma de

    obter ficheiros climticos simplificados, utilizando valores mdios mensais de

    temperatura, mdia e mxima, velocidade do vento e a insolao diria. Esta

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    Universidade do Minho Escola de EngenhariaDepartamento de Engenharia Civil PGINA 93

    metodologia apenas consegue prever com alguma preciso o consumo

    energtico anual. Para uma grande preciso, alguns autores acreditam ser

    imprescindvel a simulao de ficheiros climticos de anos mltiplos (MY). Mas

    com esta metodologia simplificada, possvel obter resultados muito teis em

    fases iniciais, para testar as vrias solues possveis. Apenas apresenta erros

    maiores ao simular solues que se baseiem na inrcia trmica do edifcio. Esta

    metodologia gera dois dias tpicos de cada ms: um que representa o dia

    com maior carga de arrefecimento e outro que representa o dia com maior

    carga de aquecimento, de cada ms.

    Westphal testou esta metodologia com o software BESTEST, revelando-se

    bastante precisa para edifcios de baixa massa trmica, quer na previso das

    cargas de aquecimento / arrefecimento, quer nas cargas de pico para

    aquecimento / arrefecimento. Em edifcios de grande massa trmica, os

    resultados no foram satisfatrios na previso das cargas de aquecimento /

    arrefecimento, enquanto que nas cargas de pico de aquecimento foram

    bastante precisos. Assim, esta metodologia funciona muito bem para as fases

    iniciais do projecto dos edifcios, tendo em ateno a melhoria da

    performance com a adio de massa trmica, assim como para o

    dimensionamento dos sistemas de aquecimento (Westphal e Lamberts, 2004).

    Ferramentas de Avaliao do Ciclo de Vida - Na ltima dcada tm sido

    desenvolvidos sistemas de avaliao de ciclo de vida dos edifcios, de forma a

    avaliar do ponto de vista ecolgico a sua performance. Estas ferramentas

    criam perfis ambientais para todos os elementos de construo, considerando

    todo o ciclo de vida destes materiais, desde o processamento ao

    desmantelamento. Tambm so avaliadas as performances ambientais dos

    vrios sistemas existentes nos edifcios, considerando o tipo de combustvel que

    utilizam. Normalmente os clculos so efectuados a partir da contabilizao

    de emisses com impacto no ambiente, sendo a unidade mais utilizada o

    CO2-equivalente. Este tipo de anlise tem a grande vantagem de integrar os

    aspectos ecolgicos logo na fase conceptual do projecto Esta informao

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    PGINA 94 Dissertao de Mestrado de Pedro Correia Pereira da Silva

    ambiental estar disponvel e ser utilizada durante todo o restante projecto,

    promovendo assim o desenvolvimento sustentvel.

    4.3. REGULAMENTAO TRMICA

    A implementao de regulamentao trmica uma medida com grande

    potencial de diminuio do consumo energtico dos edifcios, a partir da

    imposio de limitaes, de vrias formas, que condicionam a performance

    energtica dos edifcios. Mas os regulamentos do comportamento trmico dos

    edifcios podem ser muito diversos, com diferentes aproximaes. Segundo o

    Conselho Energtico Mundial estes regulamentos podem ser classificados da

    seguinte forma, organizados com nvel crescente de eficcia (Energyefficiency policies and indicators, 2001):

    1) Apenas impem valores mximos para cada um dos elemento individuaisda envolvente do edifcio;

    2) Impem valores mximos para as necessidades de aquecimento/arrefecimento, tendo em conta a ventilao, ganhos solares passivos e

    ganhos internos;

    3)

    Contabilizam a performance energtica do edifcio, onde estipulam omximo consumo anual de energia primria / final, para o edifcio, por

    unidade de rea / volume, tendo em conta as necessidades de

    aquecimento/arrefecimento e respectivo rendimento dos equipamentos

    associados, produo de guas quentes sanitrias, ventilao,

    elevadores, etc, contabilizando outros ganhos por energia solar

    colectores solares, fotovoltacos.

    4) No ltimo tipo de regulamento, alm de contabilizar a performanceenergtica do edifcio, entram em linha de conta com a energia

    incorporada dos materiais de construo.

    Como tal, o potencial de reduo de consumos depende do tipo de

    regulamento a implementar, assim como da exigncia destes. Com a entrada

    em vigor dos regulamentos de trmica dos edifcios nos pases da Unio

    Europeia, desde a dcada de 60, os consumos energticos dos edifcios tm

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    Universidade do Minho Escola de EngenhariaDepartamento de Engenharia Civil PGINA 95

    diminudo significativamente. Por exemplo, na Dinamarca estes consumos

    tiveram uma diminuio de 25% entre 1972 e 1999. Em Portugal os dois

    regulamentos de performance trmica dos edifcios em vigor so o

    Regulamento das Caractersticas do Comportamento Trmico dos Edifcios

    (RCCTE), apenas entrando em vigor em 1991, e o Regulamento dos Sistemas

    Energticos de Climatizao dos Edifcios (RSECE), apenas entrando em vigor

    em 1998, podendo ser considerados do tipo 2.

    A Unio Europeia est a realizar um esforo comum na reduo dos consumos

    energticos dos edifcios. Como tal, foi aprovada uma proposta com o intuito

    de rever todos os regulamento energticos dos edifcios de todos os estados-

    membros, de forma a harmonizar as metodologias de clculo, criar requisitos

    mnimos para a performance energtica dos edifcios, implementar a

    certificao energtica dos edifcios, entre outras propostas. Este tipo de

    aces cada vez mais usual. O Mxico, os Estados Unidos e o Canad, por

    exemplo, tambm tm uma proposta para unificar as suas normas de

    eficincia energtica dos edifcios. Actualmente, muitos pases da Unio

    Europeia j actualizaram os seus regulamentos trmicos, como o caso da

    Alemanha, com poupanas energticas at 30% comparadas com o

    regulamento anterior. Em Portugal prev-se a entrada em vigor do novo

    RCCTE em 2006, onde ser actualizado para tipo 3), aumentando-se

    substancialmente os requisitos mnimos, promovendo a utilizao de energias

    renovveis e beneficiando materiais certificados. Espera-se com este

    regulamento aumentar substancialmente a performance energtica dos

    edifcios e revolucionar o mercado da construo. Contudo, apenas com a

    implementao de regulamento tipo 4) ser possvel atingir a eficincia

    ambiental, alm da eficincia energtica (Carlo, Ghisi e Lamberts, 2003).

    O grande impulsionador da reviso dos regulamentos trmicos foi a directiva

    Europeia sobre a performance energtica dos edifcios (Directive 2002/91/EC)

    onde imposto que todos os estados-membros apliquem novos regulamento

    harmonizados. O objectivo desta directiva o aumento do desempenho

    energtico dos edifcios na Comunidade Europeia, contabilizando as

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    Anlise do Comportamento Trmico de Construes no Convencionais atravs de Simulao em VisualDOE

    PGINA 96 Dissertao de Mestrado de Pedro Correia Pereira da Silva

    condies climticas externas e as condies locais, bem como as exigncias

    de conforto interior e a rentabilidade econmica. Assim, esta directiva requer

    o estabelecimento de requisitos mnimos da performance energtica: edifcios

    novos ou sujeitos a grandes reabilitaes, aplicao da certificao

    energtica dos edifcios; definio de ndices baseados na performance dos

    edifcios, inspeco regular de sistemas existentes nos edifcios e, para edifcios

    com equipamentos de grandes potncias instaladas, necessria a avaliao

    de alternativas menos consumidoras (Balaras et al, 2005).

    Em Portugal, a nova regulamentao de Trmica dos Edifcios referida possui

    dois tipos de sistemas de classificao dos edifcios: o RCCTE e o RSECE,

    complementados com um Sistema Nacional de Certificao Energtica e da

    Qualidade do Ar Interior nos edifcios (SCE). Estes sistemas so uma

    combinao de um sistema de performance e um sistema de

    consciencializao, mas todos na ptica de novos edifcios (ou seja apenas

    analisam o projecto). Somente na certificao existem auditorias (simples, no

    caso de edifcios residenciais e mais complexas em edifcios de servios), que

    classificam na ptica dos edifcios existentes (Zmeureanu et al, 1999).

    4.3.1. RCCTE

    O RCCTE tem a vertente dos edifcios residenciais e edifcios de servios sem

    sistema de climatizao. Neste momento o RCCTE em vigor est bastante

    desactualizado, pois os valores mnimos estipulados so j superados pelo

    mercado da construo h alguns anos. Um dos grande benefcios deste

    regulamento foi a generalizao da utilizao do isolamento trmico na

    envolvente e impedir que alguns edifcios fossem projectados sem terem

    considerao pormenores como a orientao, localizao, etc.

    O novo RCCTE segue a mesma metodologia de aplicao do actual, de

    forma a tirar partido dos hbitos e conhecimentos existentes. Mas, devido

    crescente utilizao, tanto de sistemas de aquecimento, como de

    arrefecimento, o novo RCCTE teve de ser actualizado de forma a limitar

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    CAPTULO 4 Eficincia Energtica dos Edifcios

    Universidade do Minho Escola de EngenhariaDepartamento de Engenharia Civil PGINA 97

    efectivamente o consumo energtico destes. Por outro lado, necessrio

    atentar que a utilizao destes sistemas a nvel residencial muito imprevisvel,

    pois mesmo que a habitao possua estes sistemas, nada garante a sua

    utilizao. Assim, foi necessrio o recurso a condies interiores padro, como

    referncia para os consumos energticos nominais. Assim este regulamento,

    dependendo da localizao do edifcio, define deste modo valores de

    referncia (Nt) de forma a limitar as necessidades globais anuais nominais

    especficas de energia primria (Ntc), o que quer dizer que o valor de Ntc no

    pode ser superior ao Nt especificado no regulamento. Na equao 4.3 e 4.4

    apresentada a expresso utilizada no RCCTE para a limitao das

    necessidades globais anuais nominais especficas de energia primria.

    Equao 4.3Ntc = 0,1 (Nic/i) Fpui+ 0,1 (Nvc/v) Fpuv + Nac Fpua (kgep/m2.ano) com:

    i, v rendimento do sistema de aquecimento e arrefecimento,

    respectivamente;

    Nic, Nvc, Nac necessidades especficas de aquecimento, arrefecimento e

    guas Quentes Sanitrias (AQS), respectivamente (kWh/m2.ano);

    Fpui,Fpuv,Fpua - factores de ponderao das necessidades de aquecimento, de

    arrefecimento e de preparao de AQS, respectivamente (kgep/kWh).

    Equao 4.4

    Nt = 0,9 (0,01 Ni + 0,01 Nv + 0,15 Na) (kgep/m2.ano) com:

    Ni, Nv, Na necessidades de referncia de aquecimento, arrefecimento e

    preparao de AQS, respectivamente (kWh/m2.ano).

    Por outro lado, foram actualizados vrios pormenores em relao ao actual

    RCCTE, como um zonamento climtico reformulado (Figura 4.4), onde foi

    prevista a influncia da proximidade faixa litoral. As condies de conforto

    interiores tambm foram revistas, passando para 20 C no Inverno e 25 C e

    50% de humidade relativa no Vero. A taxa de renovao de ar foi

    modificada para 0.6 renovaes por hora. O consumo de gua quente

  • 8/3/2019 Eficcia energtica de edifcios

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    Anlise do Comportamento Trmico de Construes no Convencionais atravs de Simulao em VisualDOE

    PGINA 98 Dissertao de Mestrado de Pedro Correia Pereira da Silva

    sanitria de referncia de 40 litros de gua quente a 60C por pessoa e por

    dia. A contabilizao do efeito das pontes trmicas foi modificada. A

    metodologia de clculo das Necessidades de aquecimento foi revista,

    enquanto que a de arrefecimento foi totalmente reformulada.

    Estas so apenas algumas actualizaes e modificaes, entre vrias outras. A

    apresentao das metodologias de clculo das necessidades de

    aquecimento / arrefecimento feita de forma pormenorizada no Captulo 5.

    Figura 4.4 Zonamento climtico no novo RCCTE. Fonte: RCCTE, 2005.

    4.3.2. RSECE

    O RSECE tem a vertente dos edifcios de servios ou residenciais, com sistemade climatizao. O regulamento actualmente em vigor tinha como objectivo

    a limitao da potncia dos sistemas de climatizao. Previa algumas

    medidas de eficincia energtica e tambm alguns procedimentos para a

    recepo, instalao e manuteno dos sistemas de climatizao. No

    entanto, este regulamento no teve muito impacto, principalmente devido a

  • 8/3/2019 Eficcia energtica de edifcios

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    CAPTULO 4 Eficincia Energtica dos Edifcios

    Universidade do Minho Escola de EngenhariaDepartamento de Engenharia Civil PGINA 99

    no serem requeridas verificaes tcnicas por parte das Cmaras Municipais.

    Como tal, o facto referido anteriormente, acrescido do grande aumento da

    utilizao de sistemas de climatizao, principalmente no sector residencial

    devido ao aumento das exigncias de conforto interior, torna imprescindvel a

    reviso do actual RSECE, de forma a diminuir o consumo energtico resultante

    dos equipamentos de aquecimento e arrefecimento, registado na ltima

    dcada.

    Assim, o novo RSECE apresenta quatro objectivos principais:

    Definir as condies de Qualidade do Ar interior (QAI) necessrias nosespaos, consoante as respectivas actividades e fontes poluentes. Tal

    conseguido apresentando os limites permitidos da concentrao dos

    vrios poluentes, quer para edifcios residenciais, quer para edifcios de

    servios;

    Limitar o consumo energtico global dos edifcios, consoante o tipo deedifcios. Assim, os edifcios esto divididos em: servios e residenciais,

    novos ou existentes, pequenos ou grandes. Em termos dos limites

    impostos para consumos energticos, estes podem ser obtidos de duas

    formas, consoante o tipo de edifcio:

    1. atravs de um ndice de eficincia energtica (IEE), o qual pode serobtido atravs do modelo apresentado na Figura 4.5;

    2. limitando as necessidades de energia nominais mximas a 80 % daspermitidas pelo RCCTE.

    O valor do consumo energtico pode ser obtido atravs de trs formas,

    consoante o tipo de edifcio (na Tabela 4.3 apresentado, de forma

    resumida o tipo de limite e a forma de clculo do consumo energtico,

    por tipo de edifcios):

    1. auditoria energtica;2. simulao dinmica detalhada;

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    PGINA 100 Dissertao de Mestrado de Pedro Correia Pereira da Silva

    3. simulao dinmica simplificada;

    Impor regras para os sistemas de climatizao, de forma a melhorar asua eficincia energtica, assim com garantir a qualidade do ar interior.

    Definir procedimentos de manuteno dos equipamentos adequados;

    Obrigar monitorizao das prticas de manuteno dosequipamentos dos sistema de climatizao.

    Figura 4.5 Exemplo do modelo de clculo do ndice de eficincia energtica. Fonte:ADENE.

    Tabela 4.3 Limites e forma de obter os consumos energticos no RSECE

    Tipo de Edifcio Consumo Energtico Limite

    Servios Existentes Auditoria

    Servios Novos Simulao dinmica detalhada IEE

    Servios; Pequeno Novos

    Residencial NovosSimulao dinmica simplificada

    80% doRCCTE

    Fonte: RSECE, 2005

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    CAPTULO 4 Eficincia Energtica dos Edifcios

    Universidade do Minho Escola de EngenhariaDepartamento de Engenharia Civil PGINA 101

    Figura 4.6 Certificado energtico dos edifcios.Fonte: DGGE

    4.3.3. SCE

    A implementao do Sistema Nacional de Certificao Energtica e da

    Qualidade do Ar Interior nos edifcios, alm de obrigatria devido Directiva

    n. 2002/91/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho de 16 de Dezembro de

    2002, tem grande interesse do ponto de vista da eficincia energtica dos

    edifcios, pois ir obrigar os intervenientes no sector da construo a cumprir

    o regulamento trmico a que esto sujeitos (RCCTE ou RSECE), resultando na

    construo de edifcios energeticamente mais eficientes e garantindo o

    conforto trmico e a qualidade do ar interior.

    A certificao energtica

    tambm ir beneficiar os

    utentes, pois ser obrigatrio

    os edifcios possurem um

    certificado identificando o

    nvel de performance

    energtica (escala do A ao

    H, sendo o A o mais eficiente,

    como possvel observar na

    Figura 4.6). Tal j se verifica

    nos frigorficos, congeladores,

    etc.

    Os alvos do SCE so os edifcios novos, edifcios com grandes intervenesde reabilitao, grandes edifcios pblicos e todos os edifcios para venda,

    locao ou aluguer. Em termos de objectivos, possvel identificar quatro:

    Assegurar o cumprimento do RCCTE e RSECE e a qualidade do arinterior, para que seja possvel emitir licenas de construo e utilizao;

  • 8/3/2019 Eficcia energtica de edifcios

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    Anlise do Comportamento Trmico de Construes no Convencionais atravs de Simulao em VisualDOE

    PGINA 102 Dissertao de Mestrado de Pedro Correia Pereira da Silva

    Inspeccionar os edifcios de servios durante o seu funcionamentonormal, de forma a assegurar a qualidade do ar interior, onde o tempo

    entre inspeces depende do tipo e dimenso do edifcio;

    Obter os consumos energticos dos edifcios existentes; dependendo dotipo de edifcio, tal pode ser feito de forma nominal ou de utilizao

    real;

    Identificar as necessidades, do edifcio e respectivo sistema declimatizao de efectuar medidas correctivas, de forma a melhorar a

    sua performance energtica ou de qualidade do ar interior. Em relao

    s condies de qualidade do ar interior, se for verificado que no

    apresenta a qualidade requerida, so sempre necessrias medidas

    correctivas; enquanto que no caso da performance energtica apenas

    so necessrias medidas correctivas se estas apresentarem viabilidade

    econmica.

    4.3.4. PROGRAMAS DE INCENTIVOS

    Alm da implementao dos regulamentos trmicos do edifcios, uma medida

    governamental que pode ajudar sobremaneira ao aumento da eficincia

    energtica dos edifcios a introduo de fortes programas de incentivos quealiciem arquitectos e engenheiros na realizao de edifcios com baixos

    consumos energticos. No Canad foi implementado um programa de

    incentivos que consiste em duas fases (Beausoleil-Morrison et al, 2001):

    O primeiro passo a utilizao de uma ferramenta on-line onde seintroduz a localizao geogrfica do edifcio, tipo de edifcio, rea til,

    reas e valor do coeficiente de transmisso trmica da envolvente, tipo

    de sistema AVAC, eficincia do sistema de aquecimento earrefecimento, taxa de renovao de ar horria, potncia da

    iluminao artificial e tipo de iluminao natural, custo dos combustveis

    e electricidade. Com esta ferramenta obtido o consumo energtico

    estimado, onde se refere as probabilidades de obter o incentivo, assim

    como o valor do incentivo previsto para o projecto (Figura 4.7);

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    CAPTULO 4 Eficincia Energtica dos Edifcios

    Universidade do Minho Escola de EngenhariaDepartamento de Engenharia Civil PGINA 103

    Figura 4.7 - Ilustrao da ferramenta online para obteno do subsdio. Fonte: NRC-

    CPIB Natural Resources of Canada.

    O segundo passo a utilizao de um software de simulaoenergtica detalhado. Este simulador tem dois componentes: uma

    interface grfica onde se caracteriza o edifcio e sistemas integrados,

    um processador de regras onde se verifica se o edifcio cumpre todos os

    requisitos mnimos e se os sistemas esto bem dimensionados. O

    resultado final da aplicao desta ferramenta , ento, o valor do

    incentivo a atribuir ao edifcio.

    Este tipo de aces so bastante benficas, pois obrigam os intervenientes

    do projecto a utilizar estas ferramentas de simulao de forma a encontrar as

    solues energeticamente mais eficientes (Beausoleil-Morrison et al, 2001).

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    PGINA 104 Dissertao de Mestrado de Pedro Correia Pereira da Silva

    4.4. SOLUES ENERGETICAMENTE EFICIENTES

    O parque de edifcios um factor chave em termos ambientais. Os edifcios

    esto omnipresentes e apresentam consumos energticos para aquecimento,

    arrefecimento e iluminao. Nos pases pertencentes Organizao de

    Cooperao Econmica e Desenvolvimento (OCDE), o sector residencial

    abarca 1/3 das necessidades energticas. Assim, devido aos problemas

    ambientais j referidos e de acordo com os princpios do Desenvolvimento

    Sustentvel, muito importante que os edifcios sejam projectados

    considerando a sua integrao com o meio ambiente (forma, orientao,

    etc.) e se implementem tecnologias energeticamente sustentveis, para fazer

    frente aos problemas do consumo energtico, como o custo, depleo dos

    materiais, emisso de gases de efeito de estufa, etc. A implementao denovas tecnologias no depende apenas da sua viabilidade econmica, mas

    tambm da esttica, facilidade de uso e aceitao do mercado e at da

    possibilidade de utilizao em reabilitaes. Com o avano das tecnologias

    de iluminao natural, ventilao, clulas fotovoltaicas e materiais de

    mudana de fase, a sua implementao com sucesso apenas possvel com

    um design cuidadoso e avaliao cientfica (West, 2001).

    4.4.1. FORMA E ORIENTAO DO EDIFCIO

    Ao projectar edifcios com vista eficincia energtica, o primeiro passo a

    determinao da correcta forma e orientao do edifcio. Apenas com a

    realizao deste ponto possvel atingir redues do consumo energtico

    entre 30 a 40%. A correcta organizao espacial do edifcio tem de ser

    conseguida inicialmente, pois, posteriormente construo do edifcio no

    vivel, econmica nem ambientalmente, a alterao da organizao. Assim,

    necessrio ter em conta que:

    Compartimentos com necessidades energticas elevadas devem sercolocados a Sul, para beneficiarem mais profundamente do efeito do

    sol;

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    CAPTULO 4 Eficincia Energtica dos Edifcios

    Universidade do Minho Escola de EngenhariaDepartamento de Engenharia Civil PGINA 105

    Compartimentos com necessidades energticas intermdias, podemser colocados em orientaes menos favorveis, como Este e Oeste;

    Compartimentos com necessidades energticas reduzidas devem sercolocados a Norte, servindo assim de espao tampo.

    A forma do edifcio deve ser tal que minimize os ganhos trmicos no Vero e

    perdas de calor no Inverno. Como tal, para Portugal, os edifcios devem ser

    alongados no eixo Este-Oeste, de forma a beneficiarem de grandes fachadas

    a Sul, as quais recebem trs vezes mais radiao solar no Inverno, enquanto

    que no Vero recebem trs vezes menos radiao solar, do que as fachadas

    a Este e Oeste. Outras consideraes a ter com a forma do edifcio podem ser

    o baixo ratio superfcie / volume, reduo da rea superficial exposta a norte e

    a ventos fortes. Por outro lado, importante a construo de edifcios com

    envolventes de boa qualidade, mesmo que estas apresentem um maior custo

    inicial. Com a reduo das necessidades de aquecimento e arrefecimento e

    iluminao, o perodo de amortizao deste investimento pode ser

    relativamente curto (A Green Vitruvius, 1999).

    4.4.2. SISTEMAS SOLARES PASSIVOS PARA AQUECIMENTO

    Considerando que o aquecimento dos edifcios residenciais em Portugal

    representa 25% dos consumos energticos do sector dos edifcios, a reduo

    das necessidades de aquecimento essencial para o aumento da

    sustentabilidade dos edifcios. Os sistemas de aquecimento convencionais

    utilizam maioritariamente fontes energticas no renovveis, de forma a

    fornecer o calor necessrio para o aquecimento da habitao. J um sistema

    solar passivo apenas utiliza a energia do sol, de forma a fornecer, total ou

    parcialmente, o calor necessrio para o aquecimento. Este tipo de sistema tirapartido dos elementos construtivos dos edifcios, como as janelas, paredes,

    pavimento e cobertura, com o intuito de desempenharem funes de

    recolha, armazenamento, utilizao e distribuio da energia solar. Os

    sistemas solares passivos podem ser divididos em (Teixeira, 1984; Lanham,

    Gama e Braz, 2004):

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    Anlise do Comportamento Trmico de Construes no Convencionais atravs de Simulao em VisualDOE

    PGINA 106 Dissertao de Mestrado de Pedro Correia Pereira da Silva

    Sistemas de ganho directoso os sistemas mais simples e vulgarmenteutilizados. Neste sistema a radiao solar captada por um

    envidraado, normalmente virado a sul. Para o aumento da eficincia

    destes sistema normal a utilizao de massa trmica para armazenar

    a radiao solar em excesso durante o dia, libertando-a durante a

    noite, quando mais necessria, como mostra a Figura 4.8. No

    obstante este ser um sistema muito simples, pode ser muito eficiente,

    principalmente quando bem projectado e tambm devido ao avano

    na tecnologia dos materiais de construo os envidraados esto

    cada vez mais eficientes, com maior resistncia trmica e possibilidade

    de alterarem o factor solar consoante a radiao incidente;

    Sistemas de ganho indirecto os sistemas de ganho indirecto diferemdo anterior na medida em que a radiao solar no atinge

    directamente o compartimento, mas sim um espao intermdio. Os

    ganhos de calor ocorrem atravs da conduo pela superfcie, ou

    conveco, no caso da abertura de orifcios entre eles. Neste caso a

    reteno da energia solar no espao intermdio a partir do efeito de

    estufa. Exemplos deste tipo de sistema so as paredes com efeito do

    estufa, parede de Trombe (Figura 4.9), estufas, entre outras.

    Sistemas de ganho isolado este tipo de sistema em tudo semelhanteao sistema de ganho indirecto, mas neste caso existe uma separao

    entre o espao de armazenamento trmico e o espao a ser

    aquecido. Esta separao pode ser fsica ou atravs da colocao de

    isolamento entre o compartimento e o espao intermdio, onde a

    transferncia de calor se d atravs da conveco natural. Exemplos

    deste tipo de sistema so os sistemas de Termo-sifo (Figura 4.10) ou

    estufas, onde a parede de separao isolada.

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    CAPTULO 4 Eficincia Energtica dos Edifcios

    Universidade do Minho Escola de EngenhariaDepartamento de Engenharia Civil PGINA 107

    Figura 4.8 Sistema solar passivo de ganho directo com armazenamento trmico.

    Figura 4.9 Sistema solar passivo de ganho indirecto Parede de Trombe.

    Figura 4.10 Sistema solar passivo de ganho isolado Termo-sifo.

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    PGINA 108 Dissertao de Mestrado de Pedro Correia Pereira da Silva

    4.4.3. SISTEMAS PASSIVOS PARA ARREFECIMENTO

    Mesmo tendo em conta que a maior parte da energia utilizada nos edifcios

    para aquecimento, a utilizao de ar condicionado est a aumentar

    substancialmente. Com tal, a fraco energtica consumida pelos edifcios

    est a aumentar. Para promover o arrefecimento passivo, Givoni identifica

    vrias tcnicas passivas, tais como a ventilao natural (especialmente o

    esforo para arrefecer a massa trmica dos edifcios durante a noite), o

    arrefecimento evaporativo, arrefecimento radiativo, etc (Givoni, 1998). Outras

    tcnicas para reduzir as cargas de arrefecimento incluem o controlo dos

    ganhos solares atravs das paredes, envidraados e coberturas (pode ser

    conseguido a partir do sombreamento e aplicao de isolamento) e a

    utilizao de equipamento de arrefecimento eficiente. Os sistemas de

    arrefecimento passivos podem ser uma forma muito eficiente de reduzir os

    consumos energticos dos edifcios. Estes sistemas transferem o calor do

    edifcio para a atmosfera ou para a terra, com nenhuma ou pouca utilizao

    de sistemas mecnicos. Podem ser agrupados em cinco tipos:

    1. Ventilao de conforto diurna estes o sistema passivo mais utilizado,onde se proporciona um fluxo de ar exterior durante o dia, removendo

    directamente os ganhos de calor. Assim, atravs do aumento da

    transferncia de calor convenctiva e evaporativa e da diminuio da

    temperatura interior, obtm-se o conforto trmico. necessrio ter

    ateno que a velocidade do ar interior no deve ultrapassar os 2 m/s.

    Na Figura 4.12 possvel observar a implementao de um sistema de

    ventilao de conforto diurna, atravs da aplicao da ventilao

    cruzada;

    2. Ventilao nocturna este sistema utiliza o ar frio nocturno paraarrefecer a massa trmica interior. A massa trmica absorve os ganhos

    de calor durante o dia. De forma a reduzir os ganhos de calor, os

    envidraados devem estar fechados durante o dia. Muitas vezes

    utilizam-se ventiladores de tecto para aumentar as trocas de calor entre

    os ocupantes e a massa trmica. Neste sistema, quanto menor for a

    temperatura nocturna mais eficiente o sistema.

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    CAPTULO 4 Eficincia Energtica dos Edifcios

    Universidade do Minho Escola de EngenhariaDepartamento de Engenharia Civil PGINA 109

    3. Arrefecimento evaporativo este sistema reduz a temperatura do ar deventilao atravs da evaporao da gua. Se for um sistema directo,

    o processo evaporativo arrefece a temperatura do ar e aumenta a

    humidade. Sistemas indirectos fornecem gua fria, de forma a arrefecer

    a temperatura do ar atravs de um permutador de calor. Este tipo de

    sistemas apenas eficiente em climas secos. Um exemplo de um

    sistema deste tipo o roof-spaying, onde atravs de um jacto de

    gua projectado do telhado, criada uma cortina de ar frio na

    fachada do edifcio, promovendo o arrefecimento, como mostra a

    Figura 4.13;

    4. Arrefecimento radiativo estes sistemas removem o calor dos elementosexteriores do edifcio atravs da troca de radiao entre estes e o cu.

    Um exemplo deste sistema pode ser observado na Figura 4.11;

    5. Arrefecimento acoplado de terra aqui a terra funciona como umdissipador de calor, devido a, normalmente, a terra estar a uma

    temperatura inferior exterior. utilizado um sistema mecnico para

    transferir os ganhos de calor do edifcio para a terra.

    Figura 4.11 Arrefecimento radiativo sistema com isolamento de tecto amovvel.

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    PGINA 110 Dissertao de Mestrado de Pedro Correia Pereira da Silva

    Os sistemas de ventilao para arrefecimento consomem menos energia,

    requerem menor manuteno, tm menores custos iniciais e so amigos do

    ambiente, quando se compara com os sistemas de climatizao. Somente

    necessitam de um maior esforo de projecto e de simulaes eficientes, de

    forma a garantir que proporcionem o conforto trmico. Os nveis de

    ventilao, alm de dependerem da geometria do edifcio, tambm

    dependem do microclima apenas com um esforo acrescido de modelao

    e simulao possvel prever o fluxo de ar por ventilao natural, e respectiva

    estimao da transferncia de calor (pois o processo dominante muitas

    vezes a conveco de que dependem da velocidade do ar). Carrilho da

    Graa sugere a utilizao de modelos computacionais de dinmica de fluidos

    para uma mais eficiente estimao do fluxo de ar (Ver artigo de Carrilho da

    Graa et al, 2001).

    Ao projectar um edifcio, de forma a optimizar a ventilao natural, tm de se

    estudar os seguintes aspectos:

    Figura 4.13 Arrefecimento evaporativo roof-spaying. Fonte: M. Leandro

    Figura 4.13 Sistema de ventilao deconforto diurna ventilao cruzada

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    CAPTULO 4 Eficincia Energtica dos Edifcios

    Universidade do Minho Escola de EngenhariaDepartamento de Engenharia Civil PGINA 111

    forma dos edifcios: distribuio dos espaos; dimenso e localizao das aberturas; caractersticas e quantidade da massa trmica; interaco com o sistema AVAC; dispositivos de sombreamento; resistncia trmica e capacidade calorfica da envolvente exterior do

    edifcio.

    O controlo do sistema de ventilao dever ser manual. Mesmo com a

    implementao de sistemas de controlo automtico, sempre necessrio que

    manualmente se possa cancelar as suas ordens.

    4.4.4. CONSIDERAES SOBRE ALGUMAS SOLUES

    Ventilao de conforto diurna

    Num estudo efectuado por Kindangen, este observou que, no Vero, um

    pequeno incremento na velocidade do ar, a partir de ar calmo, melhora

    significativamente as condies de conforto. Contudo, se o ar no se

    encontrar calmo, um pequeno aumento na velocidade deste no ir resultar

    num aumento significativo das condies de conforto (Kindangen, 1997).

    A ventilao de conforto diurna resulta em temperaturas interiores muito

    prximas da temperatura exterior. Como tal apenas proveitoso utilizar esta

    tcnica se, com a temperatura exterior, for possvel atingir o conforto trmico.

    Adicionalmente, o aumento da velocidade do ar aumenta a taxa de

    evaporao, podendo-se atingir o conforto trmico a temperaturas mais

    elevadas do que seria de prever. Como tal, a ventilao um meio de

    minimizar o efeito psicolgico das altas humidades relativas e para aumentar

    as perdas de calor convectivas. Estudos realizados em Portugal concluram

    que este possui grande potencial de poupana energtica pela aplicao da

    ventilao de conforto diurna, como se pode observar na Figura 4.14 (Allard,

    1998).

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    Anlise do Comportamento Trmico de Construes no Convencionais atravs de Simulao em VisualDOE

    PGINA 112 Dissertao de Mestrado de Pedro Correia Pereira da Silva

    Figura 4.14 potencial de poupana energtica pela aplicao da ventilao emPortugal. Fonte: Allard, 1998.

    A aplicao da ventilao natural em habitaes uni-familiares bastante

    simples, com um adequado projecto e localizao das aberturas, de forma a

    maximizar o diferencial de presses. Tambm bastante simples a utilizao

    do efeito de estratificao do ar, devido diferena de temperaturas e

    presses, com recurso a aberturas no telhado ou chamins solares, de forma a

    aumentar o potencial de ventilao. Em edifcios multi-familiares, a ventilao

    de conforto diurna pode ser uma das nicas forma eficientes de ventilao

    natural, contando que os apartamentos possuem paredes exteriores em lados

    opostos do edifcio.

    Por outro lado, em compartimentos com apenas uma parede exterior,

    tambm possvel aplicar a ventilao natural. Tal conseguido com recurso

    colocao de duas janelas na mesma fachada e utilizao dos gradientes

    de presso criados. Mas, de forma a potenciar os gradientes de presso, so

    necessrias algumas modificaes de design, como a integrao das

    chamadas Paredes-asa, que so pequenas projeces arquitectnicas, emrelao ao compartimento, como se pode observar na Figura 4.15 (Givoni,

    1998).

  • 8/3/2019 Eficcia energtica de edifcios

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    CAPTULO 4 Eficincia Energtica dos Edifcios

    Universidade do Minho Escola de EngenhariaDepartamento de Engenharia Civil PGINA 113

    Figura 4.15 configuraes de paredes-asa. Fonte: Givoni, 1998.

    Ventilao nocturna

    A partir do estudo de Carrilho da Graa possvel verificar que o

    arrefecimento passivo por ventilao nocturna potencialmente bastante

    eficiente, podendo promover a reduo de horas de desconforto trmico em

    cerca de 57%, mas apenas aplicvel em zonas com grandes amplitudes

    trmicas dirias. Ao analisar a integrao da ventilao nocturna num edifcio,

    necessrio analisar alguns pontos cruciais (Carrilho da Graa, 2001;

    Tzikopoulos, Karatza, e Paravantis, 2005; Glicksman, Norford e Greden, 2001):

    Ventilao natural, hbrida ou mecnica um dos primeiros passos oclculo da taxa de renovao de ar prevista para o edifcio. O

    problema que o clculo desta taxa complexo e ser necessria a

    utilizao de ferramentas de clculo;

    Transferncia de calor de forma a simular a ventilao nocturna, necessrio um coeficiente de transferncia de calor conventivo

    bastante preciso, o que pode ser problemtico;

    Armazenamento de calor a capacidade de armazenamento de calorde um compartimento consiste na capacidade de armazenamento de

    calor utilizvel, em termos trmicos, por todas as superfcies fronteira e

    mobilirio do compartimento. Depende da espessura de cada

    construo, das suas propriedades trmicas, do perodo de flutuao

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    Anlise do Comportamento Trmico de Construes no Convencionais atravs de Simulao em VisualDOE

    PGINA 114 Dissertao de Mestrado de Pedro Correia Pereira da Silva

    da temperatura do ar imperturbado e da transferncia de calor

    superficial.

    A eficincia de um sistema de ventilao nocturna pode ser avaliada atravs

    do estudo da capacidade de armazenamento de calor e dos ganhos e

    perdas trmicas. Assim, possvel avaliar o efeito da ventilao nocturna

    atravs de modelos paramtricos ou ferramentas de simulao. Pfafferott

    testou a ventilao nocturna de um edifcio de escritrios atravs de uma

    ferramenta de simulao, onde utilizou medies in-situ para calibrar o

    modelo. Este conclui que, atravs da ventilao nocturna, a temperatura

    interior mdia reduz cerca de 2-3C; enquanto que com a implementao do

    sombreamento, atinge redues de 3-4C. Com a combinao de ambos,

    atinge redues de 5.7C (Pfafferott, Herkel e Jschke, 2003).

    Estufas

    A aplicao de estufas pode ser muito til, pois estas, alm de servirem de

    espao tampo, tambm podem ser utilizadas para aplicao de estratgias

    solares passivas, como o ganho directo ou indirecto, em espaos contguos

    estufa. A estufa, ao actuar como um espao tampo, vai reduzir as perdas de

    calor pela envolvente; e mesmo na inexistncia de ganhos solares directos

    uma soluo eficiente. De forma a armazenar a radiao solar captada pela

    estufa e devolv-la ao espao til, quando este necessrio, podemos

    recorrer a duas solues:

    A introduo de uma parede com massa trmica suficiente paraarmazenar e distribui-lo posteriormente;

    A Insero aberturas na parte inferior e superior da parede deseparao entre o espao til e a estufa, de forma a usufruir da

    conveco natural.

    Por outro lado, a introduo de uma estufa numa fachada exterior, resulta

    numa reduo das exigncias dessa fachada, como a utilizao de vidro

    duplo, isolamento, estanqueidade. As estufas devem possuir, pelo menos, dois

    teros de envidraados mveis, de forma a promoverem a ventilao natural

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    CAPTULO 4 Eficincia Energtica dos Edifcios

    Universidade do Minho Escola de EngenhariaDepartamento de Engenharia Civil PGINA 115

    e evitarem o sobreaquecimento. Deve ser colocado isolamento mvel para

    proteger os envidraados durante a noite e reduzirem as perdas trmicas. No

    devem ser utilizados sistemas de aquecimento na estufa, pois tal resultar em

    mais perdas energticas do que ganhos.

    Sombreamento

    Os dispositivos de sombreamento, quando colocados convenientemente,

    permitem a reduo da Iluminncia (evitando o encadeamento ou brilho

    excessivo), dos ganhos solares no Vero e das perdas de calor durante a noite.

    Ao considerarmos o dispositivo de sombreamento a colocar, necessrio

    decidir se so exteriores ou interiores:

    o sombreamento exterior mais eficiente na reduo dos ganhossolares, pois os raios solares so interceptados antes de atingirem os

    envidraados. Mas estes dispositivos so normalmente mais

    dispendiosos na instalao e manuteno;

    dispositivos interiores so mais econmicos e fceis de ajustar aqualquer situao, protegendo melhor os ocupantes do

    encadeamento e brilho excessivo;

    dispositivos instalados no interior de envidraados duplos, com aberturasde ventilao para o exterior, combinam as vantagens dos dois

    sistemas anteriores.

    Por outro lado tambm necessrio decidir se os dispositivos de

    sombreamento so mveis ou fixos. Neste campo, normalmente prefervel

    utilizar dispositivos fixos no exterior e dispositivos mveis no interior. Os

    dispositivos exteriores so mais utilizados para a proteco da radiao solar

    e, quando bem projectados, no necessitam de ser mveis; enquanto que osdispositivos interiores so mais apropriados para as questes da iluminao,

    assim prefervel serem mveis, de forma aos ocupantes ajustarem os

    dispositivos consoante as suas necessidades (A Green Vitruvius, 1999).

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    Tubagens horizontais de iluminao

    A iluminao natural pode resultar em poupanas energticas substanciais,

    principalmente em edifcios comerciais de ocupao diurna. Assim,

    necessrio integrar sistemas de iluminao natural nos edifcios, com vista

    sua sustentabilidade. Como exemplo de um desses sistemas temos as

    tubagens horizontais de luz:

    aplicadas, maioritariamente, em fachadas cortina, de forma a reduzir osganhos solares mas proporcionando iluminao natural. Para tal,

    coloca-se uma tubagem no tecto falso com espelhos, para

    redireccionar a luz, e filtros com absoro / reflexo de infravermelhos

    (Figura 4.16);

    Figura 4.16 - Tubagem de luz horizontal

    Paredes de terra

    A construo de edifcios com paredes termicamente eficientes, em que, ao

    mesmo tempo, no so consumidas grandes quantidades de energia na sua

    construo ou demolio, uma forma de promover a reduo do consumo

    energtico. As paredes em terra so ambientalmente sustentveis, devido

    grande disponibilidade local, assim como aos baixos consumos energticospara produo. Para que estas paredes possam ser aceites, necessrio

    conhecer a sua performance trmica e que esta respeite os regulamentos

    trmicos em vigor. Uma vantagem deste tipo de paredes a sua grande

    massa trmica, o que resulta em pequenas variaes de temperatura. De

    forma a promover uma maior aceitao deste tipo de paredes, necessrio

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    desenvolver as tcnicas de produo para uma melhor performance trmica,

    assim como a obteno das propriedades trmicas reais deste tipo de

    parede, de forma a possibilitar a previso do comportamento dos edifcios a

    partir de programas de simulao trmica de edifcios (Goodhew e Griffiths,

    2005).

    Materiais de mudana de fase

    As propriedades termo-fsicas dos materiais de construo tm grande

    influncia na performance energtica dos edifcios. Considerando o design

    solar passivo, a capacidade de armazenamento de calor o parmetro

    dominante. Os sistemas pesados tradicionais podem ter problemas de excesso

    de massa trmica e de custo. Mas combinando materiais de construo

    tradicionais com uma camada interior composta por materiais de mudana