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UNIVERSIDADE PITÁGORAS UNOPAR Londrina 2017 ALYNE SANTANA GONÇALVES EFICÁCIA DO USO DE DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS DE AMPLIFICAÇÃO SONORA NO TRATAMENTO DO ZUMBIDO

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UNIVERSIDADE PITÁGORAS UNOPAR

Londrina 2017

ALYNE SANTANA GONÇALVES

EFICÁCIA DO USO DE DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS DE AMPLIFICAÇÃO SONORA NO TRATAMENTO DO ZUMBIDO

ALYNE SANTANA GONÇALVES

EFICÁCIA DO USO DE DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS DE AMPLIFICAÇÃO SONORA NO TRATAMENTO DO ZUMBIDO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Pitágoras Unopar, como requisito parcial para a obtenção do título de graduação em Fonoaudiologia.

Orientador: Liliam Barros Franco de Andrade Viléla

Londrina 2017

EFICÁCIA DO USO DE DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS DE AMPLIFICAÇÃO SONORA NO TRATAMENTO DO ZUMBIDO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Pitágoras Unopar, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Fonoaudiologia.

Aprovado em: __/__/____

BANCA EXAMINADORA

Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a)

Dedico este trabalho a todos aqueles que

acreditaram no meu potencial e me

incentivaram a buscar mais essa

conquista.

Meu marido Lucas Alberto Furlan que me

apoia e me levanta todas as vezes que a

dificuldade supera minha vontade.

Minha mamãe Enedina Soares Santana

que zela por mim desde meu primeiro

minuto neste mundo e confia nas minhas

escolhas

Minha irmã Marcella Santana Gonçalves

que, mesmo de longe, me dá suporte e

me alegra todos os dias.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por estar sempre ao meu lado, iluminando meu caminho e me

guiando em meio às dificuldades.

Em especial ao meu marido Lucas pelo apoio emocional, educacional e,

principalmente, por todo amor que tem me dedicado todos estes anos.

Aos professores e amigas que colaboraram para meu crescimento intelectual.

Espero ter contribuído com ao menos uma parcela do que me ensinaram.

“E os que foram vistos dançando foram julgados insanos pelos

que não conseguiam ouvir a música.”

FRIEDRICH NIETZSCHE

RESUMO

O zumbido é definido por diversos autores como uma sensação auditiva percebida

pelo indivíduo que não é originada do meio externo. O zumbido é um sintoma e não

uma patologia e pode estar associado a diversos fatores como, por exemplo, a perda

auditiva. Para esse tipo de associação, é possível que o tratamento envolva o uso de

Dispositivos Eletrônicos de Amplificação Sonora, os DEAS, que com o avanço da

tecnologia, auxiliam na qualidade de vida do paciente com zumbido, conseguindo

mascarar a percepção deste som. Assim, o objetivo deste trabalho foi buscar estudos

para verificar a eficácia deste tipo de tratamento, fazendo uma revisão bibliográfica de

materiais relevantes como livros e artigos científicos. Para tanto, utilizou-se de

ferramentas eletrônicas de busca nas bases de dados como: Scielo, Google

Acadêmico, Medline, Bireme e Lilacs. Os resultados encontrados apontam para uma

evidente melhora da sensação do zumbido utilizando, por exemplo, o gerador de som

integrado à prótese auditiva com o objetivo de aumentar a intensidade dos sons

externos para interferir com o processamento central do zumbido e reduzir o incômodo

causado pelo mesmo.

Palavras-chave: Zumbido; Dispositivos eletrônicos; Tratamento;

Mascaramento; Amplificação sonora.

ABSTRACT

Several authors define tinnitus as an auditory sensation perceived by the individual

that is not originated from the external environment. Tinnitus is a symptom rather than

a pathology and may be associated with a number of factors, such as hearing loss. For

this type of association, it is possible that the treatment involves the use of Electronic

Sound Amplification Devices, the DEAS, which with the advancement of the

technology, help in the patient's quality of life with tinnitus, managing to mask the

perception of this sound. Thus, the objective of this work was to search for studies to

verify the effectiveness of this type of treatment, making a bibliographical review of

relevant materials such as books and scientific articles. Thus, the aim of this work was

to search for studies to verify the effectiveness of this type of treatment, making a

bibliographic review of relevant materials such as books and scientific articles. So, we

used electronic search tools in databases such as: Scielo, Google Academic, Medline,

Bireme and Lilacs. The results show a clear improvement in tinnitus sensation using,

for example, the sound generator integrated into the hearing aid in order to increase

the intensity of the external sounds to interfere with the central processing of tinnitus

and reduce the discomfort caused by the tinnitus.

Key-words: Tinnitus, Electronic devices; Treatment; Masking; Sound amplification.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 13

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA ............................................................................................................................... 13

1.2 OBJETIVOS DO TRABALHO .............................................................................................................................. 13

1.3 JUSTIFICATIVA .............................................................................................................................................. 14

1.4 METODOLOGIA ............................................................................................................................................ 14

2. ZUMBIDO .......................................................................................................... 15

2.1 PRINCIPAIS CAUSAS DO ZUMBIDO........................................................................................................... 15

2.2 INCIDÊNCIA DO ZUMBIDO NA POPULAÇÃO ............................................................................................. 18

3. DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS DE AMPLIFICAÇÃO SONORA E TIPOS EXISTENTES ............................................................................................................ 20

3.1 COMPONENTES DOS DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS .......................................................................................... 21

3.2 TECNOLOGIAS ADICIONAIS AS PRÓTESES AUDITIVAS ...................................................................................... 24

4. BENEFÍCIOS RELACIONADOS AO USO DE DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS EM CASOS DE ZUMBIDO........................................................................................ 26

4.1 A EFICÁCIA DO USO DE DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS DE AMPLIFICAÇÃO SONORA NO TRATAMENTO DO

ZUMBIDO ............................................................................................................................................................... 27

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 30

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 31

13

1. INTRODUÇÃO

O zumbido é definido como uma sensação auditiva percebida pelo

indivíduo não originada do meio externo (FIGUEIREDO E AZEVEDO, 2013, p. 1).

Sabe-se que a percepção deste som é um sintoma, que pode ser gerado por diversos

fatores, cabendo aos profissionais médicos e fonoaudiólogos a investigação da causa

e sua origem.

Quando há a perda auditiva, é possível que o tratamento envolva o

uso de Dispositivos Eletrônicos de Amplificação Sonora, conhecidos como DEAS, que

visam amenizar a perda. Hoje em dia, com o avanço da tecnologia, há diversos

dispositivos que auxiliam, também, na qualidade de vida do paciente com zumbido,

uma vez que conseguem mascarar a percepção deste som.

Dessa forma, o objetivo principal deste trabalho foi buscar estudos

realizados com o objetivo de testar a eficácia desse mascaramento e justifica-se pelo

fato de ser um assunto ainda pouco abordado e que muitos classificam como de difícil

resolução.

1.1 Problema de Pesquisa

Qual a eficácia dos dispositivos de amplificação sonora no tratamento

do zumbido?

1.2 Objetivos do Trabalho

1.2.1 Geral:

Verificar a eficácia do mascaramento produzido por dispositivos

eletrônicos de amplificação sonora em indivíduos com zumbido.

1.2.2 Específicos:

Definir zumbido auditivo, suas possíveis causas e incidência na

população.

Explicar o funcionamento dos dispositivos eletrônicos de amplificação

sonora que são usados no mascaramento do zumbido, bem como os tipos existentes.

14

Analisar os benefícios dos dispositivos eletrônicos na qualidade de

vida das pessoas com zumbido.

1.3 Justificativa

Este trabalho justifica-se devido à importância de se explorar o

benefício do uso do gerador de som, presente nos dispositivos eletrônicos de

amplificação sonora, no mascaramento do zumbido.

Segundo Branco-Barreiro, Santos e Coelho (2015, pg. 560), o

zumbido é uma das queixas mais frequentes nas clínicas audiológica e

otorrinolaringológica, e, apesar disso, ainda é um sintoma de difícil tratamento, devido,

em parte, as suas várias causas, e em parte pelas características individuais dos

pacientes alterarem os resultados das intervenções.

Sendo o aparelho eletrônico importante para qualidade de vida da

pessoa com zumbido, principalmente considerando as tecnologias existentes

atualmente, é importante levantar os dados de melhora da população usuária desse

método, a fim de podermos ressaltar e indicar o seu uso.

1.4 Metodologia

A metodologia utilizada para a elaboração deste trabalho foi revisão

bibliográfica de materiais relevantes, utilizando livros, artigos científicos e ferramentas

eletrônicas de busca nas bases de dados como: Scielo, Google Acadêmico, Medline,

Bireme e Lilacs. As palavras chaves utilizadas para a busca no primeiro momento

foram: zumbido, audição e perda auditiva. Foram encontrados aproximadamente três

mil resultados, considerando os anos de 2000 a 2017. Em seguida, o termo

“dispositivo de amplificação sonora”, foi acrescentado às buscas, reduzindo os

resultados para aproximadamente cento e vinte achados, com o mesmo período de

tempo. Foram escolhidos os trabalhos que relacionavam o uso do DEAS para melhora

do zumbido, resultando em dois artigos, duas teses e uma dissertação selecionados.

15

2. ZUMBIDO

O zumbido é um sintoma e não um diagnóstico e pode ser definido

como a percepção de um som nos ouvidos ou dentro da cabeça sem que haja

produção deste som por uma fonte externa. Segundo Saldanha (2009, pg.24),

geralmente é referido pelos pacientes como:

Um chiado, apito, barulho de chuveiro, de cachoeira, de cigarra, do escape de panela de pressão, de campainha, do esvoaçar de inseto, de pulsação do coração ou batimento da asa da borboleta, apresentando-se de forma contínua ou intermitente, constante, mono ou politonal.

Os zumbidos, segundo Figueiredo e Azevedo (2013, pg. 2), foram

classificados por Shulman, em 1991, em objetivos, que podem ser percebidos tanto

pelo paciente, quanto pelo examinador; e subjetivos, quando são percebidos somente

pelo paciente, sendo este último o tipo encontrado na maioria dos casos. Nos últimos

anos, a classificação mais utilizada pelos pesquisadores, classificam o zumbido em

auditivos e para-auditivos, sendo:

Os zumbidos para-auditivos são sons realmente existentes, gerados por estruturas musculares e vasculares perióticas e percebidos pela cóclea. Os zumbidos auditivos podem ser gerados por alterações nas orelhas externa e média, bem como na cóclea e vias auditivas centrais, sendo nestes dois últimos casos conhecidos como zumbidos neurossensoriais. (FIGUEIREDO E AZEVEDO, 2013, pg. 2)

2.1 PRINCIPAIS CAUSAS DO ZUMBIDO

Para apontar a etiologia do zumbido, são necessários uma anamnese

e exame clínico e físico detalhados, uma vez que, são consideradas causas: a história

de uso de medicamentos, abuso de cafeína, sintomas de alergia alimentar e

intolerância à lactose, ou a história familiar de perda auditiva e doenças metabólicas

como as dislipidemias e o diabetes (BRANCO-BARREIRO, SANTOS E COELHO.

2015, pg. 560). Branco-Barreiro, Santos E Coelho (2015, pg. 560) também afirmam

que algumas vezes, as causas não são identificadas, mesmo após uma investigação

detalhada.

16

Figueiredo e Azevedo (2013, pg. 3) apontam as principais causas

auditivas, sendo que na orelha externa, encontramos a presença de cerúmen,

tumores, otites externas e exostoses; Na orelha média, otites médias, otosclerose,

timpanosclerose, disfunções tubárias, disfunções de cadeia e tumores; Já na orelha

interna, temos a perda auditiva induzida por ruído, doenças metabólicas, presbiacusia,

autoimune, doença de ménière, otosclerose, ototoxicidade e doenças vasculares; e,

por fim, de origem retrococlear, acontece no Schwannoma, tumores do sistema

nervoso central, presbiacusia e esclerose múltipla.

De acordo com Gibrin (2011, pg. 12), existe uma forte correlação entre

zumbido e perda auditiva, sendo que o zumbido é encontrado em 65% das perdas

auditivas neurossensoriais, 5% das perdas mistas e 4% das perdas condutivas.

Indivíduos com audição normal também podem manifestar a presença do zumbido,

como em casos de patologias da coluna cervical. Para ela:

O aumento da idade é diretamente proporcional à presença de múltiplos sintomas auditivos, tais como, vertigem, presbiacusia e zumbido. O zumbido é um sintoma que frequentemente acompanha a presbiacusia e costuma ser mais perturbador que a própria perda auditiva. (GIBRIN, 2011, pg. 13)

A relação da orelha interna com o zumbido é bastante investigada,

principalmente quando há alterações e ou lesões na cóclea. Isso acontece porque

esse tipo de alteração pode desencadear o desequilíbrio nas vias inferiores do sistema

auditivo, resultando em atividade neuronal anormal, mais adiante realçada pelo

sistema nervoso central e, finalmente, percebida como zumbido (GIBRIN, 2011, pg.

14).

Presentes no ouvido interno as células ciliadas sensoriais são

geralmente relacionadas com a geração do zumbido. Essas células fazem parte do

Órgão de Córti, dentro da cóclea. Momensohn-Santos e Russo (2007, pg. 27 e 28)

explicam que:

As células sensoriais são divididas em células ciliadas externas (CCE) e células ciliadas internas (CCI) (...). As CCE são em torno de 12.500 e estão dispostas em três, quatro ou cinco fileiras. Possuem forma cilíndrica sendo menores na base e maiores no ápice da cóclea, com uma base nuclear arredondada que se encaixa nas células de Deiters. (...) As CCI são mais curtas do que as CCE, em menor número, em torno de 3.500, com forma piriforme e um grande núcleo localizado na porção central da célula, e um ápice mais estreito.

17

São as células ciliadas externas que amplificam o som recebido pela

orelha interna, aumentando a sensitividade desta última. A capacidade dessas células

de contrair e produzir as vibrações gera sons muito baixos, emitidos pela cóclea na

forma de emissões otoacústicas (EOA), e que podem ser captadas por microfones

sensíveis alocados no meato acústico externo, podendo ser estudadas em humanos

normais e com zumbido. (GIBRIN, 2011, pg. 19)

Com relação as células ciliadas internas, Momensohn-Santos e

Russo (2007, pg.38) afirmam que são como transdutores sensoriais, ou seja,

verdadeiros receptores da mensagem sonora produzindo codificação em mensagem

elétrica, a qual seria enviada pelas vias nervosas aos centros auditivos do lobo

temporal e a partir daí aos hemisférios direito e esquerdo do cérebro, onde serão

processadas e interpretadas.

Dessa forma, autores como Person, et al (2005, pg. 114) e Gibrin

(2011, pg. 19) afirmam que quando há alterações na função da cóclea, causadas por

algum trauma mecânico ou mesmo falta de suprimento sanguíneo, estas modificam

as propriedades biofísicas das células ciliadas, alterando a condutância iônica e

aumentando a neurotransmissão espontânea, o que gera aumento da atividade das

fibras do nervo auditivo e zumbido. (PERSON et al, 2005, pg. 114).

Recentemente, observa-se o interesse investigativo na associação

entre perda auditiva e zumbido, sendo que Figueiredo e Penido (2013, pg. 8) citam

estudos que verificam essa ligação e que concluíram, por exemplo, que perdas

auditivas em rampa com queda abrupta nos agudos seriam mais propensas a resultar

em zumbido (KONIG, et al, 2006. IN: FIGUEIREDO E PENIDO, 2013, pg. 8). E outros

que não puderam confirmar estas observações. (FIGUEIREDO et al, 2010. IN:

FIGUEIREDO E PENIDO, 2013, pg. 8).

Os mesmos também afirmam que:

Muitos pacientes com audiometria convencional (até 8kHz) e zumbido podem apresentar a chamada “cocleopatia subclínica”, em que alterações podem ser verificadas nas emissões otoacústicas e/ou na audiometria de altas frequências (até 16 a 20 kHz), embora esta última careça de padronização. (FIGUEIREDO E PENIDO, 2013, pg. 8)

Por fim, devido à complexidade que o zumbido representa, a

compreensão do fator desencadeador no indivíduo vai necessitar de muita

investigação por parte do examinador. Felizmente, há um interesse crescente nas

18

pesquisas, recentemente, que buscam melhorar o entendimento desse sintoma,

visando minimizar seu incômodo.

2.2 INCIDÊNCIA DO ZUMBIDO NA POPULAÇÃO

Muitas pesquisas relacionam a incidência do zumbido com recortes

populacionais, entre eles: idosos, trabalhadores com exposição ao ruído, jovens,

portadores de doenças vasculares e indivíduos com perda auditiva associada. Devido

à complexidade de compreensão do zumbido e, sendo esse um sintoma e não uma

patologia, as investigações desses e de outros grupos são necessários.

Assim, Person et al (2005, pg. 112) cita a pesquisa nacional realizada

nos Estados Unidos em 1984/85 pela Public Health Agency of America. Segundo eles,

esta pesquisa estimou que cerca de 36 milhões de adultos norte-americanos

apresentam alguma forma de zumbido. Destes, aproximadamente 7,2 milhões

apresentam o sintoma na sua forma severa. (PERSON et al, 2005, pg.112)

Já para Gibrin (2011, pg.12), o zumbido pode ocorrer em qualquer

fase da vida, mas a maior prevalência ocorre em idosos, provavelmente em função da

deterioração dos sistemas auditivo e vestibular. Figueiredo e Azevedo (2013, p. 3)

corroboram com essa afirmação, acrescentando que na população idosa, a incidência

é ainda maior, acreditando-se que cerca de 10 a 15% dos indivíduos acima dos 65

anos apresentem zumbido, geralmente os homens são mais afetados do que as

mulheres.

Conforme Gibrin (2011, pg. 31), os estudos são controversos no que

diz respeito à influência do sexo na prevalência do zumbido. Sendo que em alguns a

prevalência maior seria do sexo feminino, enquanto em outros, prevalece o sexo

masculino. Nesse caso, o tipo de relação que a pesquisa irá estabelecer, vai

influenciar no resultado, justificando assim a maior prevalência no sexo masculino

seria o fato de os homens estarem mais expostos ao ruído ocupacional. Por outro

lado, as mulheres apresentam maior disponibilidade de tempo para procurar auxílio

médico. (GIBRIN, 2011, pg. 31)

Quanto ao grau do zumbido encontrado entre as pesquisas, citamos

Person et al (2005, 111 e 112) que afirmam que:

19

Cerca de 80% dos casos, o zumbido é de grau leve e intermitente, não trazendo maiores consequências à vida do indivíduo (...) 10% dos pacientes que apresentam zumbido nos Estados Unidos têm o sintoma na forma severa, o que coloca o zumbido como um problema de saúde pública. (PERSON et al., 2005, 111 e 112)

Podemos perceber que, assim como quanto à sua classificação, a

incidência do zumbido na população varia tanto em populações diferentes, quanto em

recortes dessa mesma população. Portanto, cabe ao profissional uma investigação

minuciosa, com exames detalhados e adequados, para a busca do melhor

procedimento para o caso. Branco-Barreiro, Santos e Coelho (2015, pg. 560) afirmam

que os fonoaudiólogos podem participar ativamente do processo de intervenção do

zumbido atuando na terapia sonora e na orientação ao indivíduo com esse sintoma.

20

3. DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS DE AMPLIFICAÇÃO SONORA E TIPOS

EXISTENTES

Uma das formas mais utilizadas para o controle do zumbido é o uso

de próteses auditivas, também conhecidas como dispositivos eletrônicos de

amplificação sonora ou aparelho de amplificação sonora individual – AASI. Essa forma

de controle é baseada no mascaramento do som percebido como zumbido e é

bastante utilizada quando também há a perda auditiva associada.

A prótese auditiva vai ser utilizada quando não há uma solução

medicamentosa ou cirúrgica para solucionar o problema da deficiência auditiva e é

sempre indicada pelo médico otorrinolaringologista. (BRAGA, 2003, pg. 11)

Segundo Braga (2003, pg. 11), o AASI terá como prioridades

primárias a amplificação sonora, da forma mais adequada possível, incluindo não só

sinais de fala mas sons ambientais, sinais de perigo, de alerta e também os sons que

melhorem a qualidade de vida do indivíduo.

A indicação da prótese auditiva ideal varia de indivíduo para indivíduo,

ou seja, cada pessoa reagirá de uma forma diferente para um mesmo dispositivo.

Dessa forma, uma série de procedimentos são necessários para a seleção e

adaptação da prótese auditiva, sendo elas: assessoramento, planejamento, seleção,

verificação, orientação e validação. (BRAGA, 2003, pg. 12)

No assessoramento, verifica-se a causa e a extensão da deficiência

auditiva, verificando, inclusive as expectativas do paciente com relação ao uso do

aparelho. No planejamento e seleção, verifica-se os resultados audiológico do

paciente e determina-se o tipo do aparelho que corresponderá tanto necessidade

estética do paciente quanto à sua necessidade auditiva. Nas etapas de verificação e

orientação, constata-se se as características selecionadas para o dispositivo são

adequadas as necessidades do paciente e orienta-se sobre os cuidados com o

aparelho, as dificuldades que poderão surgir e os reais resultados que serão obtidos.

Por fim, a validação utiliza-se de questionários de auto-avaliação, para buscar a

satisfação do usuário com relação a adaptação e os benefícios de sua prótese.

(BRAGA, 2003, pg. 12)

21

3.1 COMPONENTES DOS DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS

Atualmente, existem vários tipos e modelos de próteses auditivas no

mercado, visando tanto a qualidade estética quanto a qualidade funcional da mesma.

Segundo Pereira (2015, pg. 07), o AASI é, basicamente, um mini amplificador

fabricado em um laboratório de acústica, respeitando normas e padrões internacionais

e que tem por objetivo amplificar sons.

Para tanto, todos os aparelhos auditivos possuem componentes

indispensáveis como o microfone ou transdutor de entrada, o amplificador, o receptor

e uma pilha. Conforme afirma Pereira (2015, pg.08):

Basicamente, uma prótese auditiva é composta por um microfone, um amplificador que aumenta a intensidade deste sinal e um receptor que transforma a onda elétrica em sonora, desta vez amplificada; para que este sistema funcione, é necessária uma fonte de energia fornecida por uma pilha. (PEREIRA, 2015, pg. 08)

Assim, o microfone capta o som do meio ambiente e o transforma em

uma onda elétrica equivalente, enquanto o amplificador aumenta a intensidade desse

sinal elétrico, sendo o responsável, então, pelo ganho da prótese auditiva. Em

seguida, o receptor transforma a onda elétrica em onda sonora equivalente e, agora,

amplificada, transmitindo diretamente para a membrana timpânica do usuário. A pilha

é a fonte de energia que vai garantir o funcionamento do aparelho. Geralmente, a pilha

utilizada em próteses auditivas é do tipo zinco-ar, que só começa a funcionar depois

que se retira um selo que cobre um orifício, permitindo, assim, que o ar entre em

contato com os componentes internos e que a mesma comece a funcionar. (KOBATA,

2003, pg. 18)

Quanto à tecnologia utilizada, os AASI são classificados em

analógicas, digitalmente programáveis ou hibridas, e digitais. De acordo com Pereira

(2015, pg. 06), as próteses analógicas utilizam a eletrônica convencional para

converter a onda sonora captada pelo microfone em um sinal elétrico equivalente, e

seus ajustes são realizados no próprio aparelho, com uma pequena chave de fenda.

Já nas digitalmente programáveis, também chamadas de híbridas, os dois sistemas

são associados: o digital e o analógico. Ou seja, o aparelho pode ser ajustado com a

ajuda de um computador, mas o processamento do sinal é realizado de forma

analógica. Como explica Radini (2003, pg.51):

22

A captação da onda sonora pela prótese e o processamento do sinal até a saída pelo receptor ocorre da mesma forma que na prótese analógica, ou seja, de forma analógica. A introdução da tecnologia digital se deu através da introdução de um pequeno chip de memória, responsável em armazenar milhares de informações com relação às características da prótese, isto é, os controles, antes mecânicos, passaram a ser regulados através de uma unidade externa de programação conectada à prótese.

O AASI que utiliza a tecnologia digital capta a onda sonora pelo

microfone e a transforma em onda elétrica, em seguida, essa onda é transformada em

uma combinação de dígitos ou números binários, para que sejam decodificados pelo

microprocessador do aparelho que fará as filtragens e a amplificação de acordo com

a programação do sistema. No final, essa nova combinação é transformado

novamente em onda elétrica, através de um conversor digital analógico, e sai pelo

receptor até o ouvido do usuário da prótese. (RADINI, 2003, pg.54)

Quanto aos tipos de próteses auditivas, existem, atualmente, pelo

menos cinco delas no mercado: retroauricular; intra-aural, sendo intra-auricular e

intracanal; e convencional. Sendo que para cada grau de perda auditiva existe um ou

mais modelos específicos com base no resultado da audiometria. Sempre que

possível, devemos associar a escolha da prótese ao desejo estético e à idade do

cliente. (PEREIRA, 2015, pg. 08)

A prótese do tipo retroauricular é aquela em que os componentes

eletrônicos estão localizados dentro de uma caixa que se adapta atrás do pavilhão

auricular, pode ser encontrada em tamanho normal ou mini, e geralmente é o tipo que

melhor se adapta aos graus de perda auditiva, desde o leve ao profundo.

Já nas próteses do tipo intra-aural os componentes estão inseridos

dentro do molde auricular e são divididas em: intra-auricular e intracanal.

O modelo intra-auricular ocupa o espaço da concha do pavilhão

auditivo, tanto de forma completa ou incompleta, e o meato acústico externo. Possui

maior ganho acústico, versatilidade, possibilita o uso de ventilação e usa maior

número de controles internos.

Já o modelo intracanal ocupa apenas o meato acústico externo da

orelha. Pode ser intracanal ou micro-canal, que fica na porção mais profunda do

meato. Quanto menor a prótese, mais limitadas são as suas funcionalidades como,

por exemplo, o uso dos controles e limitação do ganho acústico. Elas, geralmente, são

23

indicadas para graus de perda de leve a moderadas e contraindicadas para paciente

com limitada destreza manual.

A prótese auditiva do tipo convencional também é conhecida como

caixa, devido aos seus componentes estarem localizados dentro de uma caixa,

geralmente presa na roupa do usuário, na altura do peito. Essa caixa é acoplada à

orelha através de um molde auricular do tipo direto. É pouco utilizada, atualmente,

mas possuem a vantagem de terem controles externos maiores e fáceis de manipular,

sendo utilizada por pacientes com malformação, limitações motoras ou

comprometimentos neurológicos. (KOBATA, 2003. Pg. 21)

Kobata (2003, pg. 20) instrui a basear fatores físicos e audiológicos

na escolha do tipo de prótese que deve ser utilizada pelo paciente. Por exemplo,

questões físicas como características anatômicas do pavilhão auricular e do meato

acústico externo, a destreza manual do paciente e se há ou não oclusão do meato

acústico externo, devem ser consideradas. Bem como a configuração audiométrica,

grau da perda auditiva e necessidades especiais, como é o caso do mascaramento

do zumbido.

De acordo com Kobata (2003, pg. 19), algumas características

eletroacústicas também devem ser levadas em consideração na escolha da prótese

auditiva a fim de assegurar que os sons ouvidos pelo paciente não causem

desconforto. Uma dessas características é o do ganho acústico que consiste na

diferença de intensidade em decibéis (dB) entre o som que entra e o som que sai da

prótese para a orelha do usuário e está intimamente relacionado com o grau da perda

auditiva, uma vez que, quanto maior a perda, maior o ganho necessário.

Associada ao ganho acústico, a faixa de frequência também vai variar

de acordo com o tipo da perda auditiva. Ela consiste na relação de amplificação

existente entre as diversas frequências e é estabelecida de acordo com a necessidade

do paciente, podendo ser uma ênfase diferenciada nas baixas ou nas altas

frequências. (KOBATA, 2003, pg. 19)

Para Pereira (2015, pg. 22), a saída máxima do aparelho é outra

característica eletroacústica que deve ser levada em conta por estar relacionada

diretamente com o nível de desconforto do paciente. Isso ocorre devido ao fato de

todos os indivíduos possuírem um limite a partir do qual qualquer som mais forte se

torna incômodo. Este limite é chamado de nível ou limiar de desconforto e a saída

24

máxima deve ser ajustada de acordo com o limiar individual do paciente a fim de que

permaneça sempre inferior a este valor.

3.2 TECNOLOGIAS ADICIONAIS AS PRÓTESES AUDITIVAS

Com o avanço da tecnologia nas últimas décadas, as próteses digitais

também passaram a apresentar especificações cada vez mais avançadas que visam

melhorar o processamento do sinal e a qualidade sonora, consequentemente,

melhorando a adaptação do paciente ao aparelho.

Entre as diversas tecnologias de programações existentes e

estudadas, algumas já permanecem aderidas aos dispositivos digitais, sendo

encontradas com maior facilidade no mercado brasileiro. Entre eles, cabe ressaltar:

Ênfase das frequências da fala, gerenciamento do efeito de oclusão, microfone

direcional, múltipla memória, overshoot, supressão de som suave ou expansão,

supressor de feedback (passivo e ativo), tempos e tipo de compressão manipuláveis.

Radini (2003, pg. 56) explica que a ênfase das frequências da fala

enfatiza a fala com relação ao ruído ambiental, melhorando a inteligibilidade da fala,

já o gerenciamento do efeito de oclusão reduz a sensação de oclusão que o paciente

possa ter. O microfone direcional pode ser utilizado em situações específicas,

ajudando a minimizar o ruído ambiental, e a múltipla memória garante a possibilidade

de se ter mais de um programa na prótese, podendo muda-los através de uma chave

ou botão na própria prótese ou utilizando um controle remoto.

Os sons fortes ou suaves também podem ser evitados, por exemplo,

utilizando o sistema compressor overshoot que é ativado somente para sons fortes e

intermitentes, como alarmes, sirenes, etc. Já para os suaves, como ruídos de

ventilador e ar condicionado, por exemplo, podem ser evitados utilizando a supressão

de som suave ou expansão.

O feedback acústico é também conhecido como retroalimentação ou

microfonia, e ocorre quando há um escape de amplificação sonora pelo conduto

auditivo externo, retornando ao microfone da prótese (PEREIRA, 2015, pg. 49). Para

ajudar com o incômodo dessa sensação, o supressor de feedback pode ser utilizado,

sendo ele passivo, que consiste na redução do ganho na frequência específica que

25

ocorre o feedback; ou ativo, que faz a análise contínua do sinal que entra pelo

microfone, cancelando apenas o sinal proveniente do receptor, porém não reduzindo

o ganho. (RADINI, 2003, pg. 57)

A compressão é um sistema desenvolvido para minimizar o

desconforto auditivo causado por intensidades mais fortes, durante o uso do aparelho.

Segundo Braga (2003, pg. 36), ele foi criado para diminuir a amplificação fornecida

pelos amplificadores existentes nas próteses auditivas para determinados níveis de

intensidade. Com as próteses digitais é possível selecionar o tempo e o tipo de

compressão utilizados, chegando o mais próximo possível do sistema já existente no

ouvido comum. Assim:

O que dá proteção para sons de forte intensidade chamado de compressor do músculo estapédio ou reflexo estapediano e o compressor coclear ou da membrana basilar, que permite uma melhor percepção dos sons da fala, uma área de compressão mais ampla para níveis de intensidade de 40 a 90 dBNPS fornecendo um maior ganho para sons fracos e menor para sons fortes. (BRAGA, 2003, pg. 35)

As tecnologias ajudam, também, a minimizar o incomodo causado

pelo zumbido ao paciente, como o caso do gerador de som integrado à prótese

auditiva. Segundo Santos (2013, pg. 05) alguns autores sugerem o uso de

instrumentos combinados quando somente o uso da prótese auditiva não foi

suficiente. O princípio desse tipo de terapia é aumentar a intensidade dos sons

externos para interferir com o processamento central do zumbido e reduzir o incômodo

causado pelo mesmo. (SANTOS, 2013, pg.04)

A prótese auditiva, além de melhorar a perda, vai estimular o córtex

auditivo, contribuindo para reduzir as atividades neurais responsáveis pela geração e

percepção do zumbido. (SANTOS, 2013, pg.04)

26

4. BENEFÍCIOS RELACIONADOS AO USO DE DISPOSITIVOS

ELETRÔNICOS EM CASOS DE ZUMBIDO.

Para analisar os benefícios dos dispositivos eletrônicos na qualidade

de vida das pessoas, tanto as que apresentam zumbido, quanto as que não

apresentam, alguns critérios são utilizados como, por exemplo, o ganho funcional, a

mensuração in situ, o teste de reconhecimento de fala, e os questionários e inventários

de auto-avaliação.

O ganho funcional consiste em uma medida subjetiva da diferença

entre os limiares obtidos em campo livre com e sem a prótese auditiva, que são

comparados para cada frequência. Já a mensuração in situ, avalia de forma objetiva

a qualidade e a quantidade do som que está sendo amplificado (YOSHIDA, 2003, pg.

81 e 82).

Os testes de reconhecimento de fala são importantes devido ao fato

de avaliar a habilidade do indivíduo com déficit auditivo, de escutar e compreender em

todas as situações de comunicação, verificando as mudanças que ocorrem como

resultado do tratamento de reabilitação aural. E por fim, os questionários e os

inventários de auto-avaliação vão apontar as percepções dos próprios usuários

quanto à sua prótese, auxiliando na escolha da mesma e de sua forma, além de

ajustá-las as principais necessidades auditivas de cada indivíduo no que tange o

reconhecimento de fala e as implicações psicossociais. (YOSHIDA, 2003, pg. 85)

Para os pacientes com zumbido, um teste adicional chamado

acufenometria é utilizado para mensurar aspectos como a sensação de frequência e

de intensidade do zumbido e é bastante útil na avaliação e no monitoramento do

tratamento de pacientes com este sintoma. (ARAÚJO E IÓRIO, 2016, pg. 291)

A influência dos dispositivos eletrônicos na melhora do sintoma do

zumbido são alvos constantes de pesquisas em todo o mundo. Selecionamos para

esta revisão, alguns dos principais estudos apresentados recentemente e seus

respectivos resultados.

27

4.1 A EFICÁCIA DO USO DE DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS DE

AMPLIFICAÇÃO SONORA NO TRATAMENTO DO ZUMBIDO

O zumbido é uma queixa otológica bastante comum que pode,

inclusive, acarretar problemas importantes na qualidade de vida das pessoas. Ferrari

e Sanches (2003, pg. 91) apontam que cerca de 85% a 96% dos pacientes com

zumbido apresenta concomitantemente algum grau de perda auditiva.

O uso da prótese auditiva é considerado uma importante opção

terapêutica para casos de zumbido (ARAÚJO E IÓRIO, 2016, pg. 290), sendo, muitas

vezes, suficiente para suavizar o sintoma, como apontam os achados da pesquisa de

Araújo e Iório (2016, pg. 294) em que foi observada uma redução do incômodo com a

perda auditiva em 96% dos participantes, após adaptação de próteses auditivas.

O mascaramento é realizado com o objetivo de anular a percepção do

zumbido através de um som mascarador emitido pelo aparelho auditivo, em

intensidade igual ou discretamente maior do que a do zumbido. (FERRARI E

SANCHES, 2003, PG. 92)

O uso da amplificação sonora reduziria a sensação de intensidade do zumbido em idosos deficientes auditivos e diminuiria o desconforto com ambos os sintomas (zumbido e perda auditiva), determinando o sucesso da adaptação do paciente às próteses auditivas. (ARAÚJO E IÓRIO, 2016, pg. 290)

Segundo Araújo e Iório (2016, pg. 290), a sensação de intensidade

em relação ao zumbido pode estar relacionada ao incômodo gerado pelo mesmo.

(ARAÚJO E IÓRIO, 2016, pg. 290). Sendo assim, a maioria dos autores consultados

afirma que a utilização do AASI com estímulo sonoro melhora a plasticidade cerebral

secundária, contribuindo para diminuir o desconforto causado pelo zumbido, além de

mudar o foco de atenção do mesmo. (ARAÚJO E IÓRIO, 2016, pg. 292) (ROCHA,

2014, pg.36). Como afirma Santos (2013, pg.11)

A perda auditiva, dado que pode causar mudanças plásticas e resultar em aumento da atividade espontânea, neste caso é possível reverter esta plasticidade, restaurando a estimulação sonora nas áreas do cérebro que perderam sua aferência. Portanto a estimulação da faixa de frequência da perda auditiva resultaria em plasticidade reversa, reduzindo a hiperatividade causada pela perda auditiva. (SANTOS, pg.11)

28

Embora não seja um tratamento, mas sim um disfarce do som

percebido pelo paciente, Ferrari e Sanches (2003, pg. 92) afirmam que o uso da

prótese promove uma melhora rápida, mesmo que após a sua remoção o paciente

volte a perceber o seu zumbido normalmente. Essa melhora auxilia, inclusive, na

adaptação do paciente ao dispositivo eletrônico de amplificação sonora, uma vez que,

como discorre Araújo e Iório (2016, pg. 295), em alguns casos, pacientes com zumbido

estão mais preocupados em aliviar o sintoma do que propriamente minorar suas

dificuldades por meio de próteses auditivas, considerando o seu uso apenas se

ocorrer o mascaramento do zumbido.

Com relação ao tipo de adaptação, Rocha (2012, pg. 72) explica que

para a redução do incômodo com zumbido, é recomendada a adaptação do tipo

binaural, uma vez que esta demonstra benefícios significativamente superiores aos

da adaptação monoaural.

Rocha (2012, pg. 77) em sua pesquisa, utilizou a adaptação do AASI

associado à orientação clínica, obtendo resultados eficazes para a melhora do

incômodo do zumbido, após um ano de acompanhamento.

Na pesquisa de Moura, Iório e Azevedo (2004, pg. 629) a maioria dos

pacientes (87,2%) referiu melhora do zumbido com o uso da prótese auditiva, sendo

que em 51% destes pacientes o zumbido desapareceu completamente. O tempo de

uso da prótese auditiva necessário para a melhora do zumbido foi menor que o

apresentado por Rocha, sendo que a maioria dos indivíduos levou de 3 a 8 meses

para a obtenção dos resultados.

No estudo de Araújo e Iório (2016, pg. 295), a aplicação do

questionário THI mostrou que houve redução significante da queixa de incômodo

referente ao zumbido, seja no escore total ou por escala, passando a ser de moderado

a desprezível. Segundo elas, ouve, também, uma significante redução na

autopercepção do zumbido em termos de intensidade sonora e no desconforto

ocasionado por este sintoma, assim como pela perda auditiva (ARAÚJO E IÓRIO,

2016, pg. 295)

Quanto ao modelo de prótese, no estudo de Moura, Iório e Azevedo

(2004, pg. 627), os pacientes da amostra utilizaram os modelos: retroauricular,

intraauricular (concha), intracanal e microcanal. Sendo que a maior parte dos

indivíduos (38,3%) utilizou o modelo intracanal. O autores não encontraram

29

associação estatisticamente significante entre a melhora do zumbido e o modelo da

prótese auditiva.

Segundo Rocha (2014, pg. 36 e 37), o AASI é um dos principais

instrumentos para a melhoria do sintoma do zumbido, devido a estimulação acústica

adequada e contínua interferindo no padrão de resposta, com consequente alteração

de percepção.

Assim, os resultados dos estudos encontrados apontam para uma

evidente melhora da sensação do zumbido, principalmente associado à perda

auditiva, com o uso do dispositivo eletrônico de amplificação sonora. Entretanto, ainda

há casos em que este uso não é satisfatório, uma vez que o mesmo não restabelece

a audição do indivíduo como a normal, apenas auxiliam a mascarar e diminuir a

percepção do incômodo. Assim como afirma Radini (2003, pg. 57), a busca da

perfeição da nossa audição continua sendo um grande desafio para os diversos

fabricantes de próteses auditivas.

30

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O zumbido, como vimos, é um sintoma e não uma patologia. Ele

consiste na percepção pelo indivíduo de um som que não tenha origem externa, ou

seja, é produzido dentro de sua própria cabeça. As populações que apresentam a

percepção do zumbido são variadas, tanto em grupos diferentes, quanto em recortes

de um mesmo grupo. Assim, essa delimitação é bastante complexa e cabe ao

profissional uma investigação minuciosa, com exames detalhados e adequados, para

a busca do melhor procedimento para cada caso.

Existem, portanto, diversos fatores que podem estar associados a

manifestação do zumbido, entre eles, o uso de medicamentos, o abuso de cafeína,

doenças metabólicas e também a perda auditiva, principalmente a perda do tipo

neurossensorial.

Para o indivíduo com a perda auditiva associada, o uso de prótese

auditiva pode ser indicado, sendo que existem, atualmente, pelo menos cinco tipos no

mercado: retroauricular; intra-aural, sendo intra-auricular e intracanal; e convencional.

O avanço recente na tecnologia propicia melhor qualidade de vida

para a população usuária de prótese auditiva. As possibilidades de programas

existentes permitem que o usuário se adapte melhor ao aparelho, como é o caso dos

pacientes com perda auditiva associada com zumbido.

Os estudos encontrados apontam que o uso dos dispositivos

eletrônicos de amplificação sonora é eficiente em muitos casos de zumbido associado

com perda auditiva, algumas vezes bastando apenas o seu uso e adaptação para uma

evidente melhora, uma vez que, aumentando a intensidade dos sons externos, estes

interferem no processamento central do zumbido. Em outros casos, utiliza-se um

gerador de som acoplado ao aparelho que irá produzir um som com o objetivo de

mascarar a percepção do zumbido.

Ressaltamos, entretanto, que o êxito deste tipo de tratamento varia de

pessoa para pessoa e ainda há casos em que este uso não é satisfatório, precisando

buscar outras ferramentas para o tratamento do zumbido. Assim, os aparelhos

auditivos ainda têm deficiências a serem superadas para chegar a perfeição do

funcionamento do ouvido humano, mas tivemos um avanço substancial recentemente.

31

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