efeito do ni(ii) em neutrófilos humanos

110
ESTUDO DA ACTIVAÇÃO DE NEUTRÓFILOS HUMANOS PELO NITRATO DE NÍQUEL Marisa Andreia Carvalho de Freitas Orientadora: Professora Doutora Eduarda das Graças Rodrigues Fernandes Co-orientador: Professor Doutor José Luís Fontes da Costa Lima

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Page 1: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

ESTUDO DA ACTIVAÇÃO DE NEUTRÓFILOS

HUMANOS PELO NITRATO DE NÍQUEL

Marisa Andreia Carvalho de Freitas

Orientadora:

Professora Doutora Eduarda das Graças Rodrigues Fernandes

Co-orientador:

Professor Doutor José Luís Fontes da Costa Lima

Page 2: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

ii

Dissertação apresentada à Faculdade

de Farmácia da Universidade do Porto

para a obtenção do grau de Mestre em

Química Analítica Ambiental

Page 3: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

iii

AGRADECIMENTOS

Na apresentação deste trabalho gostaria de exprimir o meu sincero agradecimento:

À Professora Doutora Eduarda Fernandes, pela extraordinária ajuda na

estruturação e planeamento do trabalho, pelos preciosos conselhos e sugestões dados ao

longo de todo este trabalho, pela cuidada revisão do texto, pela cedência de bibliografia,

pela paciência e disponibilidade sempre presentes a cada pedido de ajuda e acima de

tudo, pela amizade demonstrada.

Ao Professor Doutor José Luís Fontes da Costa Lima, coordenador do Mestrado

Europeu em Química Analítica Ambiental, pelos valiosos conhecimentos e orientações

transmitidos ao longo do Mestrado, pela ajuda prestada na revisão do presente trabalho,

pela bibliografia facultada e pelo apoio, incentivo e confiança sempre demonstrados.

Ao Laboratório de Química-Física da Faculdade de Farmácia da Universidade

do Porto, na pessoa do Professor Doutor José Luís Fontes da Costa Lima, por ter

proporcionado as condições necessárias à realização deste trabalho.

Ao Laboratório de Toxicologia da Faculdade de Farmácia da Universidade do

Porto, na pessoa da Professora Doutora Maria de Lourdes Bastos, pelo acolhimento e

pelas condições disponibilizadas para a concretização deste trabalho.

Á Prof. Doutora Beatriz Porto do Hospital Geral de Santo António, pela sua

disponibilidade e preciosa contribuição para a realização deste trabalho.

Ao David Costa e Ana Gomes, a quem manifesto a maior gratidão, pela

amizade, espírito de camaradagem, incentivo e ajuda prestados durante a elaboração

deste trabalho.

Aos restantes colegas dos Laboratórios de Química-Física e Toxicologia da

Faculdade de Farmácia do Porto pela forma paciente e simpática com que me

acolheram, bem como, pelo bom ambiente de trabalho que proporcionaram, tornando a

realização deste trabalho muito mais gratificante;

Aos meus pais e ao David por estarem sempre presentes, pelo carinho,

compreensão e confiança em mim tantas vezes depositados;

Page 4: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

iv

Por último, a todos aqueles que com a sua dádiva de sangue, contribuíram para a

realização deste trabalho.

Page 5: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

v

ABREVIATURAS

ABAH- Ácido 4-aminobenzóico hidrazida

ADP- Adenosina difosfato

ATP- Adenosina trifosfato

ATSDR- Agency for Toxic Substances and Disease Registry

cNOS- Óxido nítrico sintetases constitutivas

CO3.--Anião radical carbonato

DAG- Diacilglicerol

DNA- Ácido desoxirribonucleico

DPI- Cloreto de difenilenoiodónio

ECF-A- Factor quimiotáctico eosinofilico da anafilaxia

EDTA- Ácido etilenodiamino tetra-acético

EGTA- Etileno glicol-bis �-aminoetil éter

H2O2- Peróxido de hidrogénio

HO.- Radical hidroxilo

HO2.- Radical hidroperoxilo

HOCl- Ácido hipocloroso

HO--Ião hidroxilo

IARC- International Agency for Research on Cancêr

IFN-�- Interferon α

Page 6: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

vi

IgA- Imunoglobina A

IgE- Imunoglobina E

IgG- Imunoglobina G

IL-1�- Interleucina-1�

KDa- Quilodalton

iNOS- Óxido nítrico sintetases indutíveis

.NO- Óxido nítrico

NOS- Óxido nítrico sintetase

IP3 - Inositol 1,4,5-trifosfato

L-NAME- Cloridrato do éster metílico da N-nitro-L-arginina

MPO- Mieloperoxidase

NADPH- Nicotinamida adenina dinucleótido fosfato (forma reduzida)

1O2- Oxigénio singuleto

O2-.- Anião radical superóxido

ONOO-- Anião peroxinitrito

ONOOCO2- Anião nitrosoperoxicarbonato

ONOOH- Ácido peroxinitroso

PBS- Solução salina de tampão fosfato isotónica

PKC- Proteína quinase C

PMA- Acetato de miristato de forbol

PMN- Neutrófilos

Page 7: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

vii

RCHO- Aldeído

RNS- Espécies reactivas de azoto

ROS- Espécies reactivas de oxigénio

RPE- Ressonância paramagnética electrónica

rpm- Rotações por minuto

SOD- Superóxido dismutase

TC- Células T citotóxicas

TH- Células T auxiliares

TNF-�- Factor de necrose tumoral α

TS- Células T supressoras

u.m.a.- Unidades de massa atómica

Page 8: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

viii

RESUMO

Evidências crescentes têm indicado que a exposição humana a metais pesados

pode desencadear reacções imunológicas prejudiciais para o hospedeiro. Entre os

diversos metais, tem-se demonstrado que o níquel (Ni), na sua forma iónica, é

particularmente capaz de induzir efeitos biológicos adversos, nomeadamente efeitos

alergénicos, pró-inflamatórios e tóxicos, quer in vivo quer in vitro.

Os neutrófilos (leucócitos polimorfonucleares) são os leucócitos mais abundantes

da corrente sanguínea e participam activamente na defesa inata do hospedeiro. Estas

células são as primeiras a chegar à zona de inflamação, tendo um papel importante no

processo inflamatório e subsequentes danos teciduais.

Apesar do interesse actual relacionado com os efeitos pró-inflamatórios do Ni

pouco se sabe ainda sobre a interacção dos iões de Ni com os neutrófilos humanos.

Assim, o objectivo deste estudo é o de implementar e aplicar uma metodologia

experimental, in vitro, para avaliar a possível activação de neutrófilos humanos pelo

nitrato de níquel.

O primeiro trabalho experimental realizado no âmbito da presente dissertação de

mestrado visou a implementação de uma metodologia para o isolamento de neutrófilos

humanos, pelo método de centrifugação de gradiente de densidade. Neste estudo,

utilizaram-se diferentes anticoagulantes no processo de recolha de amostras sanguíneas,

como o citrato, ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA) e heparina, com o objectivo

de avaliar a sua influência na eficácia do isolamento dos neutrófilos, ou seja, na

viabilidade celular e número de neutrófilos isolados. Constatou-se que existem

diferenças significativas relativamente ao número de neutrófilos isolados, tendo sido o

EDTA o que permitiu um maior número de neutrófilos isolados por mL de sangue

(1,7×106 ± 1,5×105 neutrófilos/mL sangue), quando comparado com a heparina e com o

citrato (6,6×105 ± 1,5×104 neutrófilos/mL sangue e 4,6×105 ± 9,5×104 neutrófilos/mL

sangue, respectivamente) (média ± erro padrão da média). A viabilidade celular dos

neutrófilos isolados foi sempre superior a 98%, independentemente do anticoagulante

utilizado.

No trabalho experimental seguinte, implementou-se uma técnica de

quimioluminescência, para avaliar a activação dos neutrófilos isolados, pelo acetato de

Page 9: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

ix

miristato de forbol (PMA). O objectivo foi verificar se a utilização de diferentes

anticoagulantes influencia a resposta dos neutrófilos ao PMA. Verificou-se que a

activação dos neutrófilos foi diferente consoante o anticoagulante utilizado durante o

isolamento, tendo o EDTA originado um menor grau de activação relativamente ao

citrato e à heparina. Obteve-se as seguintes percentagens de activação dos neutrófilos,

relativamente ao controlo, com EDTA, citrato e heparina: 370 ± 30%, 830 ± 98% e 827

± 77 %, respectivamente (média ± erro padrão da média).

No terceiro trabalho experimental efectuou-se a quantificação do cálcio livre

intracelular em neutrófilos isolados de sangue tratado com citrato, EDTA ou heparina.

O objectivo deste estudo foi verificar se existiam diferenças nos níveis de cálcio

intracelulares em neutrófilos tratados com os diferentes anticoagulantes. Constatou-se

que a concentração de cálcio livre foi inferior com EDTA (94,4 ± 3,1 nM) quando

comparado com citrato e heparina (156,2 ± 28,7 nM e 165,3 ± 14,8 nM,

respectivamente) (média ± erro padrão da média).

No quarto trabalho avaliou-se a activação dos neutrófilos humanos pelo nitrato de

níquel, utilizando as condições experimentais implementadas anteriormente. Foram

testadas várias concentrações de nitrato de níquel, 3,9; 7,8; 15,6; 31,3; 62,5 e 125 µM.

Todas levaram a uma activação dos neutrófilos, sendo essa activação dependente da

concentração. Tal como o PMA, também o nitrato de níquel levou a uma activação

diferente consoante o anticoagulante utilizado durante o isolamento dos neutrófilos.

Como exemplo representativo, o nitrato de níquel na concentração de 125 µM originou

as seguintes percentagens de activação dos neutrófilos, relativamente ao controlo, com

heparina, citrato e EDTA: de 263 ± 28%, 233 ± 29% e 129 ± 10%, respectivamente

(média ± erro padrão da média).

No quinto trabalho experimental avaliaram-se os processos envolvidos na geração

de espécies reactivas durante a activação dos neutrófilos pelo nitrato de níquel. Para o

efeito, foram realizados estudos com inibidores específicos de enzimas responsáveis

pela geração espécies reactivas ou captadores específicos de espécies reactivas,

nomeadamente o cloreto de difenilenoiodónio (DPI) [inibidor da nicotinamida adenina

dinucleótido fosfato oxidase (NADPH oxidase)], ácido 4-aminobenzóico hidrazida

(ABAH) [inibidor da mieloperoxidase (MPO)], tiron [captador do anião radical

superóxido (O2-.)], catalase [enzima metabolizadora do peróxido de hidrogénio (H2O2)]

Page 10: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

x

e manitol [captador do radical hidroxilo (HO.)]. A inibição da activação dos neutrófilos

foi independente dos anticoagulantes utilizados no processo de isolamento. Verificou-se

que as seguintes espécies reactivas de oxigénio (ROS): O2-., H2O2, HO. e ácido

hipocloroso (HOCl), participam no processo de activação dos neutrófilos e que a

NADPH oxidase e a MPO têm um papel preponderante na sua geração. O envolvimento

das espécies reactivas de azoto (RNS) foi testado com a utilização de cloridrato de éster

metílico da n-nitro-L-arginina (L-NAME), inibidor da enzima óxido nítrico sintetase

(NOS). Os resultados obtidos indicam que a activação dos neutrófilos não foi alterada

pelo L-NAME, sugerindo que, nas presentes condições experimentais, o óxido nítrico

(.NO) e o anião peroxinitrito (ONOO-) não têm uma participação relevante na activação

das células.

Page 11: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

xi

ABSTRACT

Increasing evidence indicates that human exposure to heavy metals may trigger

immunological reactions that may be highly detrimental to the host. Among metals,

nickel has been shown to induce adverse biological effects that have cast uncertainty on

its safety for use in the body. Nickel ions are the most allergenic and pro-inflammatory

metal ions known, and has been shown to elicit toxic effects in vitro and in vivo.

Neutrophils (polymorphonuclear leukocytes) are the most abundant leukocytes of

the blood and participate actively in the innate host defence response. These are also the

first type of cells to arrive at an inflammatory site where they play a major role in the

inflammation and subsequent tissue damage.

In spite of the interest related to nickel pro-inflammatory effects, little is known

concerning the interaction of nickel ions with human neutrophils. Thus, the objective of

the present study is to implement a human neutrophil activation assay and use it to

evaluate the putative activation of these cells by nickel nitrate.

The first experimental work, aimed the implementation of a methodology for the

isolation of human neutrophils by the gradient density centrifugation method. In this

study, different anticoagulants were used in the blood samples collecting process,

namely citrate, ethylene diaminetetracetic acid (EDTA) and heparin, in order to evaluate

their influence in the effectiveness of the neutrophils isolation, that is, in the cellular

viability and number of isolated neutrophils. Significant differences were observed in

the number of isolated neutrophils. The greatest number of isolated neutrophils per mL

of blood was obtained for EDTA (1,7×106 ± 1,5×105 neutrophils/mL blood), when

compared with heparin and citrate (6,6×105 ± 1,5×104 neutrophils/mL blood and

4,6×105 ± 9,5×104 neutrophils/mL blood, respectively) (mean ± standard error of the

mean). The viability of the isolated neutrophils was always above 98%, independently

of the anticoagulant used.

In the second experimental work, one chemiluminescence technique was

implemented to evaluate the activation of the isolated neutrophils by phorbol myristate

acetate (PMA). The aim of this work was to verify if the use of different anticoagulants

influences the neutrophils response to PMA. It was verified that the activation of

neutrophils was different with citrate, EDTA and heparin. EDTA originated less degree

of activation (370 ± 30%) relatively to citrate (830 ± 98%) and heparin (827 ± 77 %).

Page 12: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

xii

In the thirth experimental work, the intracellular free calcium was quantified in

neutrophils isolated from blood trated with citrate, EDTA or heparin. The aim of this

study was to verify if there were any differences in the intracellular levels of free

calcium in neutrophils treated with different anticoagulants. It was observed that the

concentration of free calcium was lower with EDTA (94,4 ± 3,1 nM) when compared

with citrate and heparin (156,2 ± 28,7 nM e 165,3 ± 14,8 nM, respectively) (mean ±

standard error of the mean).

In the fourth experimental work, it was evaluated the activation of human

neutrophils by nickel nitrate, using the previously implemented methodology. Different

nickel nitrate concentrations were tested, 3,9; 7,8; 15,6; 31,3; 62,5 e 125 µM. It was

observed that nickel nitrate activated the neutrophils in a concentration-dependent

manner. Similarly to PMA, the nickel nitrate-induced activation, was dependent on the

previous use of citrate, EDTA or heparin. As a representative example, the nickel nitrate

in the concentration of 125 µM originated the following percentages of neutrophils

activation, relatively to the control, for citrate, EDTA and heparin: 263 ± 28%, 233 ±

29% e 129 ± 10%, respectively (mean ± standard error of the mean).

In the fifth experimental work, the processes involved in the generation of reactive

species during the neutrophils activation by nickel nitrate were evaluated. For this

purpose, different studies were performed, involving specific inhibitors of the enzymes

reponsible for the generation of reactive species namely diphenyleneiodonium chloride

(DPI) [inhibitor of nicotinamide adenine dinucleotide phosphate oxidase (NADPH

oxidase)], 4-aminobenzoic acid hydrazide (ABAH) [inhibitor of myeloperoxidase

(MPO)] or specific scanvengers of reactive species namely tiron [superoxide radical

(O2-.) scavenger], catalase [metbolize enzyme of hydrogen peroxide (H2O2)] and

mannitol [hydroxyl radical (HO.)scavenger]. The inhibition of the neutrophils activation

was independent of the anticoagulants used in the isolation process. It was verified that

the reactive oxygen species (ROS): O2-., H2O2, HO. hypochlorous acid and (HOCl),

participate in the neutrophils activation process and that NADPH oxidase and MPO

have a preponderant paper in their generation. The envolvement of reactive nitrogen

species (RNS) was tested with an inhibitor of oxide nitric sintetase (NOS), the N-nitro-

L-arginine methyl ester (L-NAME). The results indicate that the neutrophils activation

was not modified by the L-NAME, suggesting that, in the present experimental

Page 13: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

xiii

conditions, nitric oxide (.NO) and peroxynitrite anion (ONOO-), do not have an

important participation in the activation process.

Page 14: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Índice

1

ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO GERAL ....................................................................................... 4

1.1 Considerações Gerais ....................................................................................... 5

1.2 Objectivos do trabalho e estrutura da dissertação ............................................ 6

2 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 7

2.1 Níquel............................................................................................................... 8

2.1.1 Abundância e obtenção............................................................................. 8

2.1.2 Principais características físico-químicas................................................. 9

2.1.3 Aplicações .............................................................................................. 10

2.1.4 Papel Biológico ...................................................................................... 11

2.1.5 Estudos epidemiológicos ........................................................................ 15

2.2 Sangue............................................................................................................ 18

2.2.1 Origem das células do sangue ................................................................ 19

2.2.2 Componentes do sangue ......................................................................... 21

2.2.2.1 Plasma................................................................................................. 21

2.2.2.2 Glóbulos vermelhos............................................................................ 22

2.2.2.3 Plaquetas............................................................................................. 25

2.2.2.4 Glóbulos Brancos ............................................................................... 27

2.3 Espécies reactivas de oxigénio e azoto ........................................................ 35

3 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................. 45

3.1 Reagentes ....................................................................................................... 46

3.2 Equipamento ................................................................................................. 46

3.3 Isolamento de neutrófilos humanos pelo método de centrifugação de

gradiente de densidade............................................................................................. 47

Page 15: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Índice

2

3.3.1 Fundamento do método .......................................................................... 47

3.3.2 Utilização de EDTA, citrato e heparina como anticoagulantes no

isolamento dos neutrófilos humanos ...................................................................... 49

3.3.3 Fundamento do método .......................................................................... 49

3.3.4 Procedimento experimental .................................................................... 52

3.4 Avaliação da viabilidade celular e cálculo do número de neutrófilos

isolados....................................................................................................................... 53

3.4.1 Fundamento do método .......................................................................... 53

3.4.2 Procedimento experimental .................................................................... 53

3.5 Avaliação da activação de neutrófilos humanos pelo PMA, com utilização

de uma técnica de quimioluminescência................................................................. 55

3.5.1 Fundamento da técnica ........................................................................... 56

3.5.2 Procedimento experimental .................................................................... 58

3.6 Quantificação do cálcio livre intracelular nos neutrófilos humanos

isolados, com utilização de uma técnica de fluorescência ..................................... 59

3.6.1 Fundamento da técnica ........................................................................... 59

3.6.2 Procedimento experimental .................................................................... 61

3.7 Avaliação da activação de neutrófilos humanos pelo nitrato de níquel,

com utilização de uma técnica de quimioluminescência ....................................... 62

3.7.1 Fundamento da técnica ........................................................................... 62

3.7.2 Procedimento experimental .................................................................... 62

3.8 Estudo das espécies reactivas envolvidas no processo de activação dos

neutrófilos, pelo nitrato de níquel, com a utilização de uma técnica de

quimioluminescência ................................................................................................ 63

3.8.1 Fundamento da técnica ........................................................................... 63

3.8.2 Procedimento experimental .................................................................... 64

3.8.3 Estudos complementares ........................................................................ 65

3.9 Análise estatística.......................................................................................... 65

Page 16: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Índice

3

4 RESULTADOS..................................................................................................... 66

4.1 Viabilidade dos neutrófilos humanos isolados a partir de amostras de sangue

tratadas com os anticoagulantes EDTA, citrato e heparina ........................................ 67

4.2 Número de neutrófilos humanos isolados a partir de amostras de sangue

tratadas com os anticoagulantes EDTA, citrato e heparina ........................................ 67

4.3 Activação de neutrófilos humanos pelo PMA................................................ 68

4.4 Quantificação do cálcio livre intracelular nos neutrófilos humanos isolados 69

4.5 Activação de neutrófilos humanos pelo nitrato de níquel .............................. 70

4.6 Processos envolvidos na geração de espécies reactivas durante a activação dos

neutrófilos pelo nitrato de níquel................................................................................ 71

5 DISCUSSÃO ......................................................................................................... 73

6 CONCLUSÕES FINAIS ...................................................................................... 83

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 85

Page 17: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução geral

4

1 INTRODUÇÃO GERAL

Page 18: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução geral

5

1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

Esta dissertação foi realizada no âmbito do Curso de Mestrado em Química

Analítica e Ambiental. O tema escolhido para a dissertação teve como base geral a

preocupação actual sobre o impacto negativo da contaminação ambiental por metais

pesados na saúde dos organismos, nomeadamente no Homem, estando assim em

armonia com os objectivos deste Curso de Mestrado.

O metal pesado escolhido para os estudos relacionados com esta dissertação foi o

Ni. Devido às suas propriedades físico-químicas, o Ni metálico e os seus compostos são

muito utilizados na indústria moderna. O elevado consumo dos produtos que contêm Ni

é inevitável e origina poluição, quer durante a produção, reciclagem e mesmo durante a

sua utilização. A exposição humana ao Ni ocorre principalmente via inalação e ingestão,

embora a utilização de jóias que contenham este elemento na sua composição seja

também um factor importante de exposição pois leva ao desenvolvimento de alergias

em aproximadamente 10 a 20% da população. Estudos epidemiológicos realizados nas

últimas décadas a pessoas expostas ocupacionalmente a este elemento, comprovam que

os compostos de Ni, excepto o Ni metálico, são pró-inflamatórios e pró-cancerígenos

em humanos.

Apesar do interesse actual relacionado com os efeitos pro-inflamatórios do Ni

pouco se sabe ainda sobre a interacção dos iões de Ni com os neutrófilos humanos. Os

neutrófilos constituem os leucócitos mais abundantes da corrente sanguínea e

participam activamente na defesa inata do hospedeiro. Uma vez iniciada a resposta

inflamatória, estas células são as primeiras a serem recrutadas para os locais afectados,

devido à sua elevada mobilidade e capacidade fagocitária. Os neutrófilos utilizam

mecanismos dependentes e independentes do oxigénio para a eficiente destruição de

agentes invasores. Os mecanismos independentes do oxigénio são a quimiotaxia,

fagocitose, desgranulação e libertação de enzimas líticas e péptidos bactericidas. Já os

dependentes do oxigénio incluem a produção de ROS e RNS. A sobre-activação dos

neutrófilos, poderá levar à geração sustentada de ROS e RNS em níveis elevados,

resultando em efeitos deletérios para o organismo. Assim, a metodologia experimental

escolhida para avaliar possíveis efeitos adversos do Ni envolveu a utilização de

neutrófilos humanos isolados para estudar a sua possível activação por este metal.

Page 19: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução geral

6

1.2 OBJECTIVOS DO TRABALHO E ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

O objectivo principal deste estudo foi o de implementar e aplicar uma

metodologia experimental, in vitro, para avaliar a possível activação de neutrófilos

humanos pelo nitrato de níquel. Para atingir este objectivo dividiu-se o trabalho

experimental em várias fases complementares. A primeira fase visou a implementação

de uma metodologia para o isolamento de neutrófilos humanos, pelo método de

centrifugação de gradiente de densidade. Na segunda fase implementou-se uma técnica

de quimioluminescência, para avaliar a activação dos neutrófilos isolados, pelo PMA.

Na terceira fase, quantificou-se o cálcio livre intracelular dos neutrófilos isolados. Na

quarta fase avaliou-se a activação dos neutrófilos humanos pelo nitrato de níquel, bem

como os processos envolvidos na geração de espécies reactivas durante a activação.

Em todas as fases do estudo, foram utilizados diferentes anticoagulantes no

processo de recolha de amostras sanguíneas, nomeadamente o citrato, EDTA e heparina,

com o objectivo de avaliar a sua influência na eficácia do isolamento dos neutrófilos, ou

seja, na viabilidade celular e número de neutrófilos isolados bem como na sua activação

pelo PMA e pelo nitrato de níquel.

Esta dissertação divide-se em 6 capítulos. O primeiro, designado Introdução,

consiste num enquadramento teórico em que se faz uma abordagem às principais

características do níquel. Também neste capítulo se caracterizam todos os componentes

do sangue e a produção de ROS e RNS por algumas células de defesa, nomeadamente

pelos neutrófilos. No segundo capítulo são descritos os Materiais e Métodos utilizados

na fase experimental deste trabalho. Este capítulo inclui o fundamento teórico das

técnicas utilizadas e os procedimentos experimentais efectuados. Os Resultados obtidos

são apresentados num terceiro capítulo, a que se segue a Discussão e Conclusões no

quarto e quinto capítulo, respectivamente. Por último são apresentadas as Referências

Bibliográficas que sustentaram o desenvolvimento do presente trabalho.

Page 20: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

7

2 INTRODUÇÃO

Page 21: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

8

2.1 NÍQUEL

O níquel é um elemento químico de símbolo Ni, número atómico 28 (28 protões e

28 electrões) e massa atómica 58,7 u.m.a.. À temperatura ambiente, o Ni encontra-se no

estado sólido. É um elemento de transição situado no grupo 10 (8 B) da Classificação

Periódica dos Elementos (The Merck Index, 2001).

O uso do Ni remonta aproximadamente ao século IV A.C. geralmente junto com o

cobre já que aparece com frequência em ligas com este metal. Bronzes originários da

actual Síria têm conteúdos de Ni superiores a 2%. Manuscritos chineses sugerem que o

«cobre branco» era utilizado no Oriente desde 1400-1700 A.C.. Entretanto, a facilidade

de confundir as minas de Ni com as de prata induzem a pensar que, na realidade, o uso

do Ni foi posterior, a partir do século IV A.C. (Soine e Wilson, 1957; Maibach e

Menné, 1989; Lide, 1998). Os mineiros de Hartz atribuem ao «viejo Nick» (o diabo) o

motivo pelo qual alguns minerais de cobre não poderiam ser trabalhados. O metal

responsável por isso foi descoberto em 1751 por Axel Frederik Cronstedt, quando

tentava extrair cobre da niquelina, o qual denominou o kupfernickel, diabo do cobre

(Maibach e Menné, 1989; Soine e Wilson, 1957).

2.1.1 Abundância e obtenção

O Ni existe em abundância na crosta terrestre, representando 0,01% das rochas

ígneas. Trata-se, de facto, do vigésimo quarto elemento mais abundante no nosso

planeta. Está presente em quase todos meteoritos, juntamente com o ferro (formando as

ligas kamacita e taenita) e é um dos constituintes fundamentais do núcleo da Terra. Os

minérios que possuem Ni na sua composição, mais representativos, são a pentlandite

[(Fe, Ni)9S8], a nicolite (NiAs) e a garnierite [3(Mg, Ni)O.2SiO2.2H2O] (The Merck

Index, 2001; ATSDR, 2005).

As minas de Nova Caledônia, Austrália e Canadá produzem actualmente 70% do

Ni consumido. Outros produtores são Cuba, Porto Rico, Rússia e China (Lide 1998;

Denkhaus e Salnikow, 2002; ATSDR, 2005).

Page 22: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

9

Os processos de extracção do Ni são muito complexos: nas suas fases finais, o NiS

obtido é ustulado a NiO e o óxido é reduzido com gás de água (mistura de CO e H2)

(Equação 1) (Soine e Wilson, 1957; The Merck Index, 2001).

Equação 1:

2NiO (s) + CO (g) + H2 (g) 2Ni (s) + CO2 (g) + H2O (g)

Sendo o metal obtido bastante impuro, pode ser purificado pelo processo de

Mond, que se traduz no seguinte equilíbrio químico (Equação 2) (Soine e Wilson, 1957;

The Merck Index, 2001):

Equação 2:

Ni + 4CO (g) Ni(CO)4 (g)

2.1.2 Principais características físico-químicas

É um metal de transição de coloração branco/prateada, condutor de electricidade e

calor, dúctil e maleável. Não pode ser laminado, polido ou forjado facilmente,

apresentando certo carácter ferro-magnético. A densidade do Ni é 8,90 vezes a

densidade da água a 20ºC, funde-se a 1453ºC e entra em ebulição a 2732ºC (Soine e

Wilson, 1957; Lide, 1989; The Index Merck, 2001; ATSDR, 2005).

O catião Ni (II) (aq) é um ácido bastante fraco (pka =10,92), motivo pelo qual se

pode obter soluções aquosas límpidas de Ni (II) sem adição de ácido. O seu estado de

oxidação mais comum é +2 podendo apresentar estados de oxidação -1, 0, +1, +3 e +4

em complexos, sendo porém pouco comuns (Gould, 1959; Maibach e Menné, 1989;

Denkhaus e Salnikow, 2001; ATSDR, 2005). Há muitos compostos de Ni pouco

solúveis em água (por exemplo NiCO3, NiC2O4, Ni(CN)2).

Uma propriedade notável do Ni, é a sua capacidade de absorver monóxido de

carbono: 100 g de Ni(CO)4 podem absorver 500-800 mL de monóxido de carbono

(Denkhaus e Salnikow, 2002).

Page 23: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

10

Na natureza são encontrados 5 isótopos estáveis: Ni-58, Ni-60, Ni-61, Ni-62 e Ni-

64, sendo o mais leve o mais abundante (68,27%). Foram caracterizados 18

radioisótopos, dos quais os mais estáveis são o Ni-59, o Ni-63 e o Ni-56 com tempos de

meia-vida de 76000 anos, 100,1 anos e 6,077 dias, respectivamente. Os demais

radioisótopos com massas atómicas desde 52 u.m.a. (Ni-52) a 74 u.m.a. (Ni-74),

apresentam tempo de meia-vida inferior a 60 horas, embora a maioria não alcance os 30

segundos. O Ni tem também um estado metaestável (The Merck Index, 2001; Denkhaus

e Salnikow, 2002).

2.1.3 Aplicações

O Ni puro é usado em galvanoplastia, sendo depositado galvanicamente nas

superfícies de peças metálicas para lhes conferir resistência à corrosão, conferindo-lhes

também um aspecto bastante liso e brilhante. Cerca de 65% do Ni consumido é

empregado na fabricação de aço inoxidável e outros 12% em superligas de níquel. Os

restantes 23% são repartidos na produção de outras ligas metálicas, baterias

recarregáveis, cunhagem de moedas, revestimentos metálicos e fundição (Lide, 1989;

The Index Merck, 2001; ATSDR, 2005).

A seguir referem-se algumas ligas metálicas fabricadas a partir deste elemento

(Lide, 1989; The Index Merck, 2001; ATSDR, 2005):

- Alnico (Al, Ni, Fe e Co), ligas para ímanes permanentes.

- Monel (Ni, Cu e algum Fe), são muito resistentes à corrosão, utilizando-se em

motores marítimos e indústria química.

- Nitinol-55 (Ni e Ti), apresenta o fenómeno de memória de forma e é usado em

robótica. Também existe em ligas que apresentam superelasticidade.

- Raney, ou o chamado Ni de Raney é obtido por tratamento de uma liga de Al e Ni

com NaOH (aq), é muito utilizado como catalisador de hidrogenações, como por

exemplo, na conversão de gorduras insaturadas não comestíveis em gorduras

alimentares, como a margarina.

Page 24: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

11

2.1.4 Papel Biológico

O Ni é um elemento essencial para todas as formas de vida. Este metal ocupa o

centro activo de sete enzimas microbianas (superóxido dismutase (SOD), urease,

hiderogenase, CO-desidrogenase e Acetil Coenzima A sintetase, Metil-Coenzima M

reductase, glioxalase I e cis-trans isomerase) (Watt e Ludden, 1999).

As enzimas que contêm Ni no centro activo são vulgares no metabolismo de

bactérias anaeróbias, como por exemplo, as chamadas bactérias metanogénicas, que

podem crescer na presença de uma mistura de H2 e CO2, e são sistemas altamente

especializados, sendo os únicos organismos capazes de produzir metano (CH4) como

produto final do seu metabolismo (Baran, 1995; Watt e Ludden, 1999).

• Superóxido dismutase

A enzima Ni-superóxido dismutase (Ni-SOD) foi isolada em 1996 a partir de duas

espécies de Streptomyces. É uma proteína homotetramérica com 4 subunidades de 13

KDa. O Ni induz a sua expressão, reprime a FeZn-SOD (SOD que contém zinco e ferro)

e encontra-se envolvido na maturação de um precursor polipeptídico. Resultados de

Ressonância Paramagnética Electrónica (RPE), indicam que o Ni está no estado Ni (III)

e está axialmente coordenado por um ligando de azoto, provavelmente histidina.

Estudos recentes revelam que o Ni pode também conter um ligando de enxofre

presumivelmente um derivado da cisteína (Baran, 1995; Ragsdale, 1998; Watt e

Ludden, 1999). Esta enzima cataliza a reacção de dismutação do O2-. com formação de

H2O2 e O2 (Equação 3).

Equação 3:

2H+ + 2O2-. H2O2 + O2

Page 25: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

12

• Urease

Esta enzima é conhecida há mais de 100 anos e foi, historicamente, a primeira

enzima obtida sob a forma cristalina (1926). Após a sua descoberta, a enzima urease foi

identificada como uma metaloproteína que contém dois átomos de Ni (II) no seu centro

activo, e é capaz de catalisar a hidrólise da ureia em CO2 e amónia, acelerando a reacção

1014 vezes (Equação 4). A geometria de coordenação é octaédrica distorcida e a

configuração electrónica do Ni (II) é de alto spin. A esfera de coordenação dos átomos

de Ni é constituída por oxigénios e azotos, não contendo enxofre. Esta enzima tem um

papel crucial em ruminantes pois permite a utilização da ureia como fonte de azoto para

a síntese de proteínas, de acordo com a Equação 4 (Kaim e Schwederski, 1994; Watt e

Ludden, 1999).

Equação 4:

H2N-CO-NH2 + 2H2O 2NH3 + H2CO3

• Hidrogenase

A hidrogenase é uma enzima que catalisa a geração e o consumo de hidrogénio

gasoso (Equação 5), com a participação de dadores ou aceitadores electrónicos

adequados. Esta reacção possui um papel importante durante a fixação de azoto e

durante a fermentação de biomassa com a produção de CH4. Tanto os microorganismos

aeróbios como os anaeróbios contêm hidrogenases. Por outro lado, o H2 pode ser

utilizado como fonte de energia ou aparecer como produto final de processos redutores

(Kaim e Schwederski, 1994; Baran, 1995; Ragsadale, 1998). As hidrogenases podem

ser classificadas, de um modo geral, em: i) hidrogenases apenas de ferro, também

conhecidas como Hase [Fe], de ocorrência rara, não apresentando Ni e contendo dois

agregados [4Fe-4S], além de um agregado de ferro-enxofre, o centro H, considerado ser

o centro catalítico. A estrutura deste centro H é ainda desconhecida; ii) hidrogenases de

Ni e com ferro-enxofre, também denominadas Hase [NiFe], sendo de longe as mais

comuns e apresentam dois agregados [4Fe-4S], um agregado [3Fe-4S] e um centro

Page 26: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

13

metálico contendo Ni. Pode ser feita ainda uma sub-divisão dentro desta classe de modo

a incluir hidrogenases em que um dos ligandos do níquel é uma seleno-cisteína

(Hase[NiSeFe]). Estas últimas não possuem um agregado [3Fe-4S] (Baran, 1995;

Ragsdale, 1998; Watt e Ludden, 1999). De acordo com Baran (1995), o átomo de Ni das

enzimas Hase [NiFe], está coordenado por dois ou três átomos de enxofre e por dois a

quatro átomos de O e N, o que leva a uma coordenação octaédrica distorcida. Durante a

actividade, o Ni parece variar o seu estado de oxidação entre Ni (III) e Ni (II).

Equação 5:

H+ + H- H22H+ + 2e

• CO-desidrogenase e Acetil Coenzima A sintetase

Muitas bactérias metanogénicas ou acetonogénicas, contêm uma proteína

bifuncional com duas subunidades, uma CO-desidrogenase e uma acetil-Coenzima A

sintetase. Por sua vez, a bactéria fotossintética púrpura Rhodospirillum rubrum, contém

apenas uma subunidade com uma CO-desidrogenase, que catalisa somente a oxidação

de CO. Esta enzima catalisa a oxidação de CO a CO2 e como se trata de uma reacção

reversível, pode também servir para a fixação do CO2 pelas bactérias fotossintéticas. A

enzima tem um efeito duplo, já que, para além de catalisar a redução de CO2 a CO, a

sua função biológica essencial está associada à síntese de acetil coenzima A, actuando

conjuntamente com a coenzima A, daí denominar-se acetil CoA sintetase. Nas bactérias

metanogénicas o acetato degrada-se a CH4 e CO2, aparentemente através da formação

intermédia de CO (Kaim e Schwederski, 1994; Ragsadale, 1998; Watt e Ludden, 1999).

Diversos estudos espectroscópios e estruturais sugerem que este sistema contém

um centro muito particular de composição Fe3NiS4. Outra possibilidade é a existência

de um centro constituído por [4Fe-4S] acopolado ao Ni através de um ligando. Este

último parece ter uma esfera de coordenação rica em enxofre (Baran, 1995; Watt e

Ludden, 1999).

Page 27: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

14

• Metil-Coenzima M reductase

Esta enzima é utilizada por bactérias metanogénicas para gerar CH4 por catálise da

redução da metil-coenzima M, sendo esta a última etapa da geração de CH4 a partir de

CO2 (Equação 6). A metil-coenzima M reductase é constituída por vários componentes,

indispensáveis para a actividade enzimática. O centro activo propriamente dito está

localizado numa proteína dimérica formada por várias subunidades de peso molecular

de aproximadamente 300 KDa. Da mesma pode-se isolar uma unidade de baixo peso

molecular, factor F-430, a qual contém Ni. A conformação desta enzima permite que o

Ni (II) tenha a sua reactividade aumentada e que possa ocorrer a sua redução (Ni

(II)→Ni (I)). Por outro lado, diversos estudos espectroscópios sugerem que na proteína

a coordenação do Ni (II) seria octaédrica e a configuração do metal de alto spin (Kaim e

Schwederski, 1994; Baran, 1995; Ragsdale, 1998; Watt e Ludden, 1999).

Equação 6:

CH3S(CH2)2SO3- + 2e- + 2H+ CH4 + HS(CH2)2SO3

-

• Glioxalase I

Esta enzima pertence a um sistema de duas enzimas, a glioxalase I e glioxalase II.

A glioxalase I, é uma metaloproteína tipicamente de zinco, que catalisa a isomerização

de hemitioacetal formado não enzimaticamente através da glutationa e α-cetoaldeídos

citotóxicos como o metilglioxal. Esta enzima foi isolada da bactéria E. coli, e não é

activada pelo zinco, que é o metal nativo nos seres humanos e leveduras. A activação

ocorre com Ni (II). Esta foi a primeira glioxalase cujas funções são activadas por um

metal diferente do zinco (Clugston et al., 1998; Watt e Ludden, 1999).

Page 28: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

15

• Isomerase

Esta enzima foi isolada da bactéria E. coli, por cromatografia de afinidade com

metal imobilizado. É uma cis-trans-isomerase que possui uma susposta ligação ao Ni

(Watt e Ludden, 1999).

2.1.5 Estudos epidemiológicos

O Ni pode ser absorvido pelo organismo por inalação (fumo de cigarro), ingestão

(alguns alimentos, nomeadamente derivados de plantas, podem conter 1 mg Ni /Kg) e

penetração pela pele (várias jóias, moedas, utensílios diversos contêm na sua

composição este metal) (Denkhaus e Salnikow, 2002; Kasprzak et al., 2003; Lu et al.,

2005), sendo a última forma a menos relevante, pois os compostos de Ni ionizados não

conseguem penetrar na pele, desde que esta esteja intacta (Denkhaus e Salnikow, 2002).

A quantidade de Ni absorvido no sistema gastrointestinal depende das espécies de Ni

ingeridas, do conteúdo total neste elemento e da absorção individual. Contudo, sabe-se

que 1 a 2% do Ni ingerido numa dieta normal é absorvido, enquanto o resto é excretado

na urina e fezes (Kasprzak et al., 2003; Silvulka, 2005).

Estudos epidemiológicos realizados nas últimas décadas a pessoas expostas

ocupacionalmente a este elemento, comprovam que os compostos de Ni, excepto o Ni

metálico, são cancerígenos em humanos (Denkhaus e Salnikow, 2002; Sivulka, 2005).

Tendo em conta que a principal via de exposição ao Ni é por inalação, é compreensível

que se verifique com maior frequência cancro nas vias respiratórias e pulmões

(International Agency for Research on Câncer (IARC), 1997). Em 1990, o IARC

sugeriu que haveria riscos de contrair cancro nas vias respiratórias, quando existia uma

exposição a Ni solúvel em concentrações superiores a 1 mg/m3 enquanto que a

exposição a formas de Ni menos solúveis, se poderá tolerar concentrações até 10

mg/m3. Todavia, esta organização não conseguiu definir com confiança as

concentrações a partir das quais este elemento se torna efectivamente perigoso (IARC,

1997). Neste momento, existe a preocupação de descobrir sob que forma química é que

Page 29: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

16

o Ni se torna carcinogénico. Ensaios laboratoriais demonstraram que partículas

insolúveis (menores que 5 µm) podem ser fagocitadas por culturas de células e formam

vacúolos intracelulares que geram Ni (II) perto do núcleo. Quanto mais negativa for a

carga da superfície da partícula, mais facilmente é fagocitada. Após a fagocitose, as

partículas do interior dos vacúolos são rapidamente dissolvidas a pH 4,5 o que leva a

um aumento dos níveis intracelulares de Ni. Consequentemente, consideráveis

quantidades de Ni (II) são libertadas desses vacúolos, podendo atingir o núcleo (Figura

1) (Costa et al., 2001; Costa et al., 2002; Lu et al., 2005).

Figura 1. Modelo da fagocitose e dissolução intracelular de NiS e Ni3S2 cristalinos, NiS

amorfo e sais solúveis de Ni (adaptado de Costa et al., 2002).

Os catiões de Ni (II) podem também ser transportados através da membrana

celular por difusão ou através de canais de cálcio, sendo contudo processos mais

ineficientes e inefectivos quando comparados com a fagocitose (Costa et al., 2001;

Costa et al., 2002; Denkhaus e Salnikow, 2002). Foi recentemente descoberto que iões

solúveis de Ni entram na célula por uma via transportadora de metais divalentes (Costa

et al., 2002), podendo afectar a homeostase do ferro de várias formas. Pode competir

com o ferro para entrar na célula, a nível extracelular, mas pode também competir a

nível intracelular, por exemplo, com enzimas que contenham este metal. Esta

competição ocorre devido às semelhanças das estruturas atómicas destes elementos

(Davidson et al., 2005).

Page 30: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

17

Através da quantificação directa da concentração de Ni no interior da célula, foi

demonstrado que a exposição das células a sais de Ni solúveis em água, resulta em

níveis elevados deste elemento no citoplasma e baixos no núcleo, enquanto que uma

exposição a Ni3S2 cristalino leva a elevados níveis no núcleo. Esta diferença é

concordante com a baixa actividade cancerígena dos compostos de Ni (II) solúveis em

água (NiSO4), quando comparados com os insolúveis em água (Ni3S2, NiS, NiO) (Haber

et al., 2000; Costa et al., 2001, Costa et al., 2002).

Após vários estudos realizados em animais, concluiu-se que os compostos de Ni

são os únicos da classe de cancerígenos que induzem cancro no local sujeito á exposição

e podem ser responsáveis por diferentes tipos de cancro (Costa et al., 2001; Denkhaus et

al., 2002; Lu et al., 2005).

A produção de ROS está envolvida no mecanismo de toxicidade e

carcinogenicidade do Ni. Essa produção pode causar peroxidação lipídica, alterações no

DNA, tais como mutações em pares de base, rearranjos, delecções, inserções, podendo

afectar o sinal de transducção e, consequentemente, ter implicações irreversíveis na

sequência de DNA (Denkhaus e Salnikow, 2002; Cavallo et al., 2003; Chen et al.,

2003a, Babu et al., 2006). O Ni tem dois mecanismos de indução de danos oxidativos

no DNA. Um deles é directo, em que o Ni (II) que entra nas células e reage com H2O2,

formando um complexo oxo-Ni (IV) ou um complexo Ni (III) peróxido, levando à

produção de outras ROS, nomeadamente HO. (Kawanishi et al., 2002). Segundo Chen

et al. (2003a) o radical HO. pode danificar as bases do DNA, causar quebras nas

ligações do DNA e causar ligações cruzadas DNA-proteína. Esta genotoxicidade parece

contribuir para o efeito carcinogénico deste metal. O outro mecanismo é indirecto,

provocado por inflamação, o que leva à produção de ROS pelas células de defesa

(neutrófilos e macrófagos). O ONOO- gerado nos tecidos inflamados pode causar danos,

inclusive no DNA, nas células adjacentes (Kawanishi et al., 2002). Segundo o estudo

realizado por Kawanishi et al. (2002), o NiSO4, NiO e Ni3S2 provocam danos indirectos

no DNA através da inflamação. O Ni3S2 pode provocar também danos directos no

DNA.

Alguns estudos demonstram que existem células que desenvolvem mecanismos de

resistência contra o stresse oxidativo provocado pelo Ni, como por exemplo um

aumento de cerca de 1,8 vezes de glutationa em células expostas a este metal (Denkhaus

et al., 2002). Contudo, outros revelam que a aplicação de Ni a células pode danificar os

Page 31: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

18

mecanismos de defesa antioxidantes, bem como, os mecanismos de reparação do DNA

(Lynn et al., 1997; Cavallo et al., 2003).

De acordo com Denkhaus e Salnikow (2002), Cavallo et al. (2003), Chen et al.

(2003a) e Babu et al. (2006), conclui-se que a exposição das células a compostos de Ni

induz a produção de ROS, que por sua vez, têm uma forte interferência nos mecanismos

biológicos da própria célula, estando directamente envolvidos na carcinogenicidade

deste metal. De referir que apesar da carcinogeniciade atribuída ao Ni, o

desenvolvimento de cancro em humanos depende de muitos factores, como a extensão

do dano no DNA, o sistema de reparação do DNA e dos genes reguladores de sinal.

2.2 SANGUE

O sangue é um tecido líquido que circula pelo sistema vascular sanguíneo dos

animais vertebrados. Num homem adulto representa cerca de 1/12 do peso do seu corpo,

o que corresponde a 5-6 L (Tagliasacchi e Carboni, 1997). Trata-se de um tecido

conjuntivo especializado, constituído, em volume, por 45% de células sanguíneas,

também designadas como elementos figurados e 55% de plasma sanguíneo. As células

sanguíneas são de três tipos funcionais (Figura 2): (i) hemácias (ou eritrócitos, glóbulos

vermelhos) que transportam oxigénio dos pulmões para os tecidos periféricos; (ii)

leucócitos (ou glóbulos brancos) que possuem um papel defensivo, destruindo os

organismos infectantes como bactérias e vírus, assim como auxiliando na remoção dos

tecidos mortos ou lesados; (iii) plaquetas (trombócitos), os quais constituem a primeira

linha de defesa contra a lesão dos vasos sanguíneos, aderindo às soluções de

continuidade e participando no sistema de coagulação do sangue. O plasma, é formado

por 90% de água, meio que facilita a circulação de muitos factores indispensáveis de

que é constituído (Young e Heath, 2000; Seeley et al., 2001; Gartner e Hiatt, 2003).

Page 32: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

19

Figura 2. Composição do sangue (adaptado de www.oxfordreference.com).

2.2.1 Origem das células do sangue

O tempo de vida limitado das células do sangue exige a sua renovação regular, a

fim de manter constante a população de células circulantes. O processo pelo qual as

células sanguíneas maduras se desenvolvem a partir de células precursoras é

denominado hematopoese (também denominado hemocitopoese ou hemopoeise)

(Young e Heath, 2000; Gartner e Hiatt, 2003).

No início da gravidez, o embrião retira os alimentos de que precisa das paredes do

útero materno. Por volta das três semanas de gestação, inicia-se a hematopoese no saco

vitelino onde se formam pequenas massas celulares, que se vão transformando em

agrupamentos sanguíneos, designados ilhotas de Wolff. Estas ilhotas desenvolvem-se a

partir de hemocitoblastos, os progenitores das células hematopoiéticas e endoteliais

(Kierszenbaum, 2004). As células que delimitam o contorno das ilhotas vão originar as

paredes dos primeiros vasos sanguíneos. Gradualmente, o interior dessas ilhotas vai

ficando vazio e as células mais internas transformam-se em glóbulos vermelhos

primitivos. No início do segundo mês, o sangue já tem glóbulos vermelhos, brancos e

plaquetas. Os vasos sanguíneos e glóbulos vermelhos são de origem extra-embrionária,

ou seja, fora do embrião. Após o segundo trimestre, a hematopoese fetal continua no

fígado e depois no baço (Kierszenbaum, 2004). Durante o sétimo mês de vida intra-

uterina, inicia-se a fase mielóide (de myelos, medula) de produção de sangue, em que a

medula óssea (tecido gelatinoso que preenche a cavidade interna dos ossos longos e

Page 33: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

20

esterno) começa a desempenhar o papel de principal estrutura produtora de sangue, e

assim permanece durante toda a vida (Young e Heath, 2000; Gartner e Hiatt, 2003;

Kierszenbaum, 2004). Na altura do nascimento, a medula óssea vermelha é o principal

local de produção de eritrócitos, o que lhe confere uma cor vermelha profunda, daí o

nome medula vermelha (Young e Heath, 2000). Como a medula óssea apenas atende às

necessidades normais, qualquer demanda maior (por exemplo devido à perda excessiva

de sangue ou no caso de destruição extensa da medula óssea) pode levar à retoma de

actividade hemopoiética por parte do fígado e baço (Stevens e Lowe, 1995). No adulto,

um volume de cerca de 1,7 L de medula contém 1012 células hematopoiéticas

(Kierszenbaum, 2004). Com o passar dos anos, a maior parte da medula vai perdendo a

sua função, sendo substituída por um tecido gorduroso, passando a ser designada

medula amarela. Esta pode ser reactivada se surgir a necessidade de hematopoese

aumentada (Young e Heath, 2000). Segundo Seeley et al. (2001), todos os elementos

figurados do sangue derivam de uma única população de células indiferenciadas

denominadas hemocitoblastos (Figura 3).

Figura 3. Células envolvidas na hematopoese (adaptado de www.msd-brazil.com).

Page 34: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

21

Essas células dão origem aos progenitores imediatos dos vários tipos de células do

sangue: os proeritroblastos, que originam os eritrócitos; os mieloblastos, que originam

os granulócitos; os linfoblastos, que originam os linfóciotos; os megacarioblastos que

originam as plaquetas.

2.2.2 Componentes do sangue

2.2.2.1 Plasma

Mais de 50% do sangue consiste num líquido de cor amarela pálida, que é

composto por cerca de 91% de água e 9% de outras substâncias, (Tagliasacchi e

Carboni, 1997; Seeley et al., 2001), tais como proteínas plasmáticas, que correspondem

a 7%, 0,9% de sais inorgânicos, sendo o restante formado por compostos orgânicos

diversos (gases, aminoácidos, vitaminas, hormonas e glicose) (Junqueira e Carneiro,

2004). As proteínas plasmáticas são responsáveis por diversas características biofísicas

do plasma, como a densidade, a viscosidade e a pressão oncótica. As proteínas do

plasma são de três tipos principais, a albumina, a globulina e o fibrogénio. A albumina

representa 58% do total de proteínas plasmáticas, e como não passa facilmente do

sangue para os tecidos, possui a importante função de manutenção da pressão oncótica

do sangue. Isto é possível porque esta proteína extrai água dos tecidos para os capilares,

dificultando, por outro lado, a sua saída dos capilares para os tecidos (Seeley et al.,

2001; Gartner e Hiatt, 2003). As globulinas correspondem a 38% das proteínas

plamáticas, funcionando algumas como moléculas de transporte e participando outras

no sistema de defesa e nos mecanismos de imunidade e alergia. O fibrogénio constitui

4% do total de proteínas do plasma e é fundamental nos fenómenos de coagulação

sanguínea.

Page 35: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

22

2.2.2.2 Glóbulos vermelhos

Os glóbulos vermelhos, também designados hemácias ou eritrócitos (erythros,

vermelho; kitos, célula), são as células maioritárias do sangue (cerca de 700 vezes mais

numerosas que os leucócitos e 17 vezes mais que as plaquetas) (Seeley et al., 2001). A

quantidade de eritrócitos no sangue varia com o sexo. No homem adulto normal, a sua

concentração é de aproximadamente 5,2 milhões de eritrócitos por mL3 de sangue

(variando entre 4,2 e 5,8 milhões), enquanto que na mulher normal é 4,5 milhões por

mL3 (variando entre 3,6 e 5,2 milhões) (Seeley et al., 2001; Junqueira e Carneiro,

2004). Os glóbulos vermelhos não se movem activamente. São movidos através da

circulação pelas forças responsáveis pela circulação sanguínea. São células de forma

bicôncava, anucleadas, medindo em média 7,5 µm de diâmetro (Junqueira e Carneiro,

2004; Kierszenbaum, 2004), 2 µm de espessura na sua região mais larga e menos de 1

µm no centro (Gartner e Hiatt, 2003). A forma bicôncava dos eritrócitos favorece a

existência de uma grande superfície de difusão, em relação ao seu tamanho e volume,

acentuando desse modo a troca de gases. Essa forma, juntamente com a fluidez da

membrana plasmática, permite que o eritrócito se deforme prontamente tornando mais

fácil o seu movimento através dos pequenos vasos sanguíneos (3-4 µm), sem que ocorra

o rompimento da membrana celular (Young e Heath, 2000; Seeley et al., 2001; Gartner

e Hiatt, 2003). Apesar das células precursoras dos eritrócitos dentro da medula óssea

serem nucleadas, durante o seu desenvolvimento e maturação, expelem, não somente o

núcleo, como também todos os seus organelos, antes de serem libertadas na circulação

sanguínea (Gartner e Hiatt, 2003). Esse facto favorece o transporte de oxigénio, pois as

células podem conter maior quantidade de hemoglobina, contribuindo para uma maior

eficiência por unidade de volume. Aproximadamente 60% da célula do glóbulo

vermelho é constituída por água e o restante pelos elementos sólidos. Da parte sólida,

cerca de 90% é ocupada por hemoglobina, proteína responsável pela sua cor vermelha.

Fazem ainda parte do eritrócito, lípidos, adenosina trifosfato (ATP) e a enzima anídrase

carbónica (Seeley et al., 2001). Esta enzima, possui a importante função de catalisar a

reacção entre o CO2 e água dando origem a ácido carbónico, que por sua vez, se

dissocia formando iões bicarbonato e hidrogénio (Equação 7). É sob a forma de

bicarbonato que grande parte do CO2 é transportado para os pulmões onde é expelido. A

Page 36: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

23

produção de iões bicarbonato é também importante para a regulação do pH do sangue

(Seeley et al., 2001; Gartner e Hiatt, 2003).

Equação 7:

CO2 + H2O H2CO3 H+ + HCO3-

A hemoglobina possui a função vital de transporte dos gases respiratórios,

nomeadamente a distribuição do oxigénio pelo organismo. Quimicamente é uma

molécula bastante complexa, podendo ser dividida em mais de 500 aminoácidos. É

composta por quatro cadeias de proteínas e quatro grupos heme. Cada proteína,

chamada globina, está ligada a um grupo heme. Cada grupo heme é uma molécula

pigmentada de vermelho contendo um átomo de ferro, sendo este responsável por

manter o oxigénio ligado à molécula. O corpo humano adulto, normalmente contém

cerca de 4 g de ferro, 2/3 dos quais, associados à hemoglobina (Seeley et al., 2001). Já o

dióxido de carbono, não se combina com os átomos de ferro, mas liga-se aos grupos

amina da molécula globina (Seeley et al., 2001). A configuração química da

hemoglobina permite um aproveitamento excepcional do oxigénio (cada molécula pode

transportar quatro moléculas de oxigénio). Em zonas onde a pressão de oxigénio é alta,

como nos pulmões, as moléculas de hemoglobina combinam-se com moléculas de

oxigénio, formando a oxi-hemoglobina, cuja coloração é vermelho viva. Esta

combinação é reversível, e o oxigénio transportado por esta proteína é transferido para

os tecidos, onde a pressão de oxigénio é baixa. A combinação de hemoglobina com o

dióxido de carbono produzido nos tecidos também é facilmente reversível quando o

sangue chega aos pulmões. Essa combinação designa-se carbamino-hemoglobina, sendo

a sua coloração vermelho escura. Contudo, grande parte do CO2 é transportada dos

tecidos para os pulmões, dissolvida no plasma (Junqueira e Carneiro, 2004).

O.NO é uma substância neurotransmissora que também pode ser captada pela

hemoglobina. Provoca a dilatação dos vasos sanguíneos tornando possível a libertação

de mais oxigénio e a captação de uma maior quantidade de dióxido de carbono pelos

eritrócitos presentes nos tecidos do corpo (Gartner e Hiatt, 2003).

Com base na sequência de aminoácidos, existem quatro cadeias polipeptídicas

humanas normais de hemoglobina do feto, denominadas α, γ, β e δ. Segundo Gartner e

Hiatt (2003), a principal hemoglobina do feto, a hemoglobina fetal (HbF) é constituída

Page 37: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

24

por duas cadeias α e duas cadeias γ. Representa cerca de 100% da hemoglobina do feto

e cerca 80% da hemoglobina do recém-nascido, baixando a sua taxa progressivamente

até ao oitavo mês de idade, quando atinge a percentagem encontrada nos adultos (cerca

de 1%) (Junqueira e Carneiro, 2004). Este tipo de hemoglobina, tem uma enorme

afinidade para o oxigénio, e constitui uma adaptação fisiológica, com a finalidade de

extrair mais oxigénio da circulação materna da placenta. Há dois tipos normais de

hemoglobina no adulto, HbA1 (α2β2) e HbA2 (α2δ2), sendo esta última forma muito mais

rara. Num adulto normal a HbA1 representa 97%, a HbA2, cerca de 2% da hemoglobina

e os restantes 1% dizem respeito à HbF (Gartner e Hiatt, 2003; Junqueira e Carneiro,

2004). A vida média das hemácias é de 100 a 120 dias (Young e Heath, 2000; Seeley et

al., 2001) e é regida, em parte, pela sua capacidade de manter a forma bicôncova. À

medida que as suas proteínas, enzimas, componentes da membrana celular e outras

estruturas degeneram, os glóbulos vermelhos ficam velhos, tornando-se anormais quer

na forma, quer na função. Os eritrócitos também ficam sujeitos a sofrer diversos danos

durante a circulação pelos vasos. Os glóbulos vermelhos anormais, velhos ou alterados

são removidos do sangue por macrófagos, localizados principalmente no fígado e baço,

mas também noutros tecidos linfáticos. No interior do macrófago, enzimas lisossómicas

iniciam a assimilação da hemoglobina. (Young e Heath, 2000; Seeley et al., 2001),

ocorrendo um fraccionamento da globina nos aminoácidos que a constituem, muitos dos

quais são reutilizados na produção de outras proteínas. Os átomos de ferro também são

libertados para que possam ser reaproveitados. Os grupos heme são convertidos em

bilirrubina, que por sua vez, é conjugada com o ácido glucurónico no fígado e excretada

pela bílis, sendo convertida em pigmentos por microorganismos intestinais, conferindo

às fezes a sua cor característica amarelo-acastanhada. Alguns desses pigmentos são

reabsorvidos do intestino e eliminados na urina, dando-lhe uma cor característica

(Seeley et al., 2001).

Em condições normais, cerca de 2,5 milhões de glóbulos vermelhos são destruídos

por segundo. Este número surpreendente, todavia, representa somente 0,00001% do

total de 25 triliões contidos na circulação de um adulto normal. Mais surpreendente

ainda, é o facto desses 2,5 milhões de glóbulos vermelhos serem substituídos pela

produção de um número igual em cada segundo (Seeley et al., 2001). A quantidade de

glóbulos vermelhos no sistema circulatório é controlada pelo organismo, de tal forma

que um número adequado está sempre disponível para o transporte de oxigénio para os

Page 38: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

25

tecidos. Qualquer condição que diminua a quantidade de oxigénio nos tecidos, tende a

aumentar a produção de glóbulos vermelhos. A produção de eritrócitos pela medula é

bastante estimulada por uma proteína presente no plasma, denominada eritropoietina

(Seeley et al., 2001). A produção de eritrócitos exige a presença de vitamina B12 e um

factor da mucosa do estômago, designado factor intrínseco, que se combina com a

vitamina B12. Outro componente importante no processo de formação e maturação de

eritrócitos é o ácido fólico.

2.2.2.3 Plaquetas

As plaquetas, também designadas como trombócitos, são pequenos fragmentos (2-

4 µm), anucleados, derivados dos megacarioblastos. Estes são células extremamente

grandes (com diâmetros superiores a 100 µm) formadas na medula óssea, que

desenvolvem projecções citoplasmáticas originando as pró-plaquetas, que por sua vez se

fragmentam dando origem às plaquetas. Este é um processo que pode levar 10 a 12 dias

(Tagliasacchi e Carboni, 1997; Seeley et al., 2001; Kierszenbaum, 2004). Existem entre

250 000 e 400 000 plaquetas por mm3 de sangue, sendo formadas cerca de 30 000

plaquetas por dia/mL de sangue (Gartner e Hiatt, 2003).

A estrutura interna das plaquetas é bastante complexa. Observadas ao microscópio

electrónico, mostram 10 a 15 microtúbulos dispostos paralelamente uns aos outros e

formando um anel no hialómero (região periférica). Na região central apresentam o

granulómero. Os microtúbulos contêm monómeros de actina e miosina e contribuem

para manter a morfologia discóide das plaquetas, bem como, para formar alongamentos

ou pseudópodes, além de contrair as plaquetas quando estimuladas pelo aumento de

cálcio no interior do citoplasma. A contracção desses microfilamentos comprime os

organelos e grânulos do citoplasma, fazendo com que o seu conteúdo passe para o

plasma através do sistema tubular aberto. Esta disposição permite um aumento da área

de superfície da plaqueta e facilita a libertação de moléculas activas armazenadas nas

plaquetas (Young e Heath, 2000; Gartner e Hiatt, 2003). O granulómero contém

algumas mitocôndrias, depósitos de glicogénio, peroxissomas e alguns tipos de grânulos

(delimitados por membrana): grânulos α, grânulos δ e grânulos λ (lisossomas), cujas

Page 39: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

26

características se encontram listadas no Quadro 1. O granulómero também contém um

sistema de enzimas que possibilita às plaquetas catabolizar o glicogénio, consumir

oxigénio e gerar ATP.

As plaquetas são de fundamental importância nos processos de hemopatia (visa

impedir a perda de sangue) e coagulação do sangue. A participação das plaquetas na

coagulação do sangue pode ser resumida da forma que se segue (Stevens e Lowe, 1995;

Seeley et al., 2001; Gartner e Hiatt, 2003):

• Agregação primária: após uma lesão num vaso, ocorre perda do endotélio de

revestimento dos vasos, segue-se uma adesão das plaquetas ao colagéneo,

formando o denominado tampão plaquetário.

• Agregação secundária: as plaquetas do tampão libertam adenosina difosfato

(ADP), este é um potente indutor da agregação plaquetária, levando a um

aumento do número de plaquetas.

• Coagulação do sangue: quando há uma hemorragia considerável, há necessidade

de se formar um coágulo sanguíneo, já que este é mais consistente e firme do

que o tampão plaquetário. Um coágulo sanguíneo é uma rede de fibras proteicas

filiformes, denominada fibrina, que retém células sanguíneas, plaquetas e

líquido.

• Retracção do coágulo: inicialmente o coágulo faz uma grande projecção para o

interior do vaso. Entretanto, por acção da actina, miosina e ATP das plaquetas,

contrai-se.

• Remoção do coágulo: a parede do vaso, protegida pelo coágulo, forma novo

tecido, acabando por se restaurar. O coágulo é então removido maioritariamente

pela enzima plasmina e também por enzimas libertadas pelos lisossomas.

Page 40: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

27

Quadro 1. Caracterização dos grânulos das plaquetas.

Estrutura (Tamanho) Conteúdo Função

Grânulos α

(300- 500 nm)

Fibrogénio, factor de

crescimento derivado das

plaquetas, tromboplastina

plaquetária,

trombospondina, factores

de coagulação.

Facilitam a reparação dos

vasos, a agregação

plaquetária e a coagulação

do sangue.

Grânulos δ

(250- 300 nm)

Cálcio, ADP, ATP,

serotonina, histamina,

pirofosfatase.

Facilitam a agregação e a

adesão plaquetária, bem

como, a vasoconstrição.

Grânulos λ (lisossomas)

(200-250 nm) Enzimas hidrolíticas.

Auxiliam a reabsorção do

coágulo.

ADP: adenosina difosfato; ATP: adenosina trifosfato.

2.2.2.4 Glóbulos Brancos

As células brancas do sangue (leucócitos) são assim designadas por estarem

presentes na camada branca que flutua acima das células vermelhas quando o sangue

coagula num tubo de ensaio (Stevens e Lowe, 1995). O número de leucócitos é muito

menor do que os glóbulos vermelhos, tendo um adulto normal entre 6500 a 10000

glóbulos brancos por mm3 de sangue. A principal função destas células é proteger o

corpo contra microorganismos invasores e remover células mortas e corpos estranhos do

organismo. Ao contrário dos eritrócitos, os leucócitos não agem na corrente sanguínea,

utilizam-na como veículo para o trânsito entre os locais de formação, de armazenamento

e de actividade (Gartner e Hiatt, 2003). Estas células saem da corrente sanguínea e

entram nos tecidos por diapedese. Durante este processo, os leucócitos estreitam-se e

alongam-se passando entre ou, em alguns casos, através das células que formam as

paredes dos vasos. Os glóbulos brancos são tradicionalmente divididos em dois grupos,

com base na sua forma nuclear e nos grânulos citoplasmáticos: granulócitos

(neutrófilos, eosinófilos e basófilos) e os agranulócitos (linfócitos e monócitos). Os

Page 41: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

28

granulócitos são assim designados devido aos seus grânulos secretores citoplasmáticos

proeminentes, podendo também ser denominados células mielóides, pois são originados

na medula óssea. De acordo com o tipo de coloração dos grânulos específicos,

distinguem-se três tipos de granulócitos: neutrófilos, eosinófilos e basófilos. Além dos

grânulos específicos, estas células possuem grânulos azurófilos (lisossomas). Têm como

característica o facto de possuírem um único núcleo multilobulado (Young e Heath,

2000; Gartner e Hiatt, 2003).

Os agranulócitos têm forma mais regular e o citoplasma não possui granulações

específicas, podendo apresentar grânulos azurófilos, inespecíficos, presentes também

noutros tipos celulares (Young e Heath, 2000; Gartner e Hiatt, 2003).

2.2.2.4.1 Neutrófilos

Os neutrófilos, também denominados polimorfonucleares (PMN), são o tipo mais

comum de leucócitos no sangue e constituem de 60 a 75% dos glóbulos brancos

circulantes (Gartner e Hiatt, 2003). Os neutrófilos representam a primeira linha de

defesa contra agentes invasores e actuam em consonância com os linfócitos e

macrófagos. Uma vez iniciada a resposta inflamatória, estas células são as primeiras a

serem recrutadas para os locais afectados, devido à sua elevada mobilidade e capacidade

fagocitária (Costa et al., 2006). Os neutrófilos normalmente permanecem na circulação

durante 10 a 12 horas, migrando em seguida para outros tecidos, onde têm uma vida

média de cerca de um a dois dias (Júlio, 1999; Seeley et al., 2001). Estas células

possuem núcleos formados por dois a cinco lóbulos (mais frequentemente três) ligados

entre si por finas pontes de cromatina. Nas células jovens o núcleo não é lobulado e tem

forma de um bastonete curvo. Nos neutrófilos de indivíduos do sexo feminino, o

cromossoma x condensado, ou corpúsculo de Barr, existe sob a forma de um apêndice

pequeno em formato de raquete (Young e Heath, 2000; Junqueira e Carneiro, 2004). O

citoplasma dos PMN apresenta três tipos de granulações: os grânulos primários ou

azurófilos (lisossomas), os grânulos secundários e os grânulos terciários. Os grânulos

azurófilos são os primeiros grânulos a aparecer durante a diferenciação dos neutrófilos.

Contêm hidrolases ácidas, típicas dos lisossomas, e uma quantidade considerável de

Page 42: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

29

agentes microbicidas, inclusive a MPO (Stevens e Lowe, 1995; Young e Heath, 2000).

Os grânulos secundários são específicos dos neutrófilos. Estes grânulos contêm e

secretam substâncias envolvidas na resposta inflamatória aguda, como mediadores

inflamatórios e activadores do complemento. Os grânulos terciários contêm enzimas

(por exemplo gelatinase que degrada o colagénio lesado) que são secretadas para o

ambiente extracelular. Também inserem algumas glicoproteínas nas membranas

celulares, o que pode promover a adesão celular, e desse modo possivelmente facilitar a

fagocitose (Stevens e Lowe, 1995; Young e Heath, 2000).

A exposição dos granulócitos a vários tipos de estímulos induz a activação da

actividade celular, nomeadamente a fagocitose. Para chegar a uma área de infecção, ou

lesão tecidual, os neutrófilos deixam a circulação aderindo às células endoteliais por

meio de moléculas de adesão expressas em resposta à secreção local de citocinas e

movem-se através do endotélio e da membrana basal. Uma vez no tecido de

sustentação, os neutrófilos respondem a factores quimiotáticos (quimiotaxinas),

libertados pelo tecido lesado e gerados pela interacção dos anticorpos com os antigénios

na superfície dos microorganismos, movendo-se para a região de concentração mais alta

(Stevens e Lowe, 1995; et al., 1995; Young e Heath, 2000). O processo pelo qual os

microorganismos ou partículas são recobertos por anticorpos e complemento ou outros

factores, sendo então preparados para o reconhecimento e posterior ingestão pelas

células fagocíticas denomina-se opsonização. Os anticorpos (imunoglobina G, (IgG),

imunoglobina A (IgA) e imunoglobina E (IgE)) têm uma importante capacidade

opsonizante. Os PMN têm nas suas membranas receptores para o complemento, os

quais também facilitam a fagocitose. Os anticorpos podem ser opsonizantes

directamente ou através da capacidade de activar o sistema complemento (Júlio, 1999).

Segundo Young e Heath (2000) os organismos que não geram quimiotaxinas ou que não

são opsonizados são portanto relativamente resistentes à fagocitose neutrofílica e

consequentemente altamente patogénicos. Como primeira etapa da fagocitose, o

organismo é circundado por pseudópodes que então se fundem para englobá-lo

completamente numa vesícula endocitária designada fagossoma. Os lisossomas e outros

grânulos citoplasmáticos unem-se ao fagossoma, formando o fagolisossoma (Figura 4).

Esses grânulos descarregam o seu conteúdo, expondo o organismo entre outros

componentes, a uma mistura potente de enzimas lisossómicas.

Page 43: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

30

Figura 4. Esquema de fagocitose pelos neutrófilos (adaptado de www.wikipedia.org).

Os PMN utilizam mecanismos dependentes e independentes do oxigénio para a

eficiente destruição de patogénios. Os mecanismos independentes do oxigénio são os já

referidos quimiotaxia, fagocitose, desgranulação e libertação de enzimas líticas e

péptidos bactericidas. Já os dependentes do oxigénio incluem a produção de ROS e

RNS (Quinn e Gauss, 2004; Barreiros et al., 2006; Costa et al., 2006). Tendo executado

a sua função, ocorre a morte dos PMN por um processo designado por apoptose (morte

celular programada), permitindo o seu reconhecimento e a consequente retirada pelos

macrófagos dos tecidos. É evitada, deste modo, a libertação de produtos indesejáveis

potencialmente tóxicos dos grânulos para o meio extracelular. Contudo, a morte destas

células pode resultar na formação de pus, ou seja, a acumulação de leucócitos, bactérias

mortas e fluido extracelular (Júlio, 1999; Gartner e Hiatt, 2002).

2.2.2.4.2 Basófilos

Os basófilos são os menos comuns dos leucócitos constituindo menos de 1% dos

leucócitos no sangue. Os basófilos são caracterizados por grânulos citoplasmáticos

grandes, que muitas vezes obscurecem o núcleo. São provavelmente os precursores dos

mastócitos e são intensamente basófilos (Stevens e Lowe, 1995;Young e Heath, 2000).

O basófilo (de 14 a 16 µm de diâmetro) tem um tamanho intermédio entre o neutrófilo e

o eosinófilo, tem um núcleo volumoso, com forma retorcida e irregular, geralmente com

o aspecto da letra S (Young e Heath, 2000; Gartner e Hiatt, 2003). Os grânulos

específicos dos basófilos são metacromáticos, medem aproximadamente 0,5 µm de

Page 44: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

31

diâmetro e estão, frequentemente, comprimidos contra a periferia da célula tornando a

periferia rugosa característica do basófilo, quando vista ao microscópio óptico (Gartner

e Hiatt, 2003). Contêm histamina, factores quimiotácticos para eosinófilos e neutrófilos,

leucotrienos e heparina, que é responsável pela metacromasia do grânulo (Junqueira e

Carneiro, 2004). Os grânulos contêm também outros mediadores dos processos

inflamatórios, por exemplo, a substância de reacção lenta da anafilaxia (SRS-A) e o

factor quimiotáctico eosinofílico da anafilaxia (ECF-A). A principal função dos

basófilos é provavelmente a resposta imunológica a certos parasitas (Young e Heath,

2000). Os basófilos contêm na membrana receptores específicos para o segmento Fc da

IgE, que é produzida pelos plasmócitos em resposta a uma variedade de antigénios

ambientais. A ligação de antigénios às moléculas de IgE na superfície dos basófilos leva

à libertação do conteúdo dos seus grânulos específicos para o espaço extracelular

(desgranulação). A libertação de histamina e outros mediadores vasoactivos, é

responsável pela chamada reacção de hipersensibilidade imediata (anafiláctica),

característica da rinite alérgica, de algumas formas de asma e de urticária. Os basófilos

participam também na reacção de hipersensibilidade tardia, que leva a reacção alérgica

da pele (Kierrszenbaum, 2004). Os leucotrienos têm efeitos semelhantes à histamina,

embora com acções mais lentas e mais persistentes. Além disso, os leucotrienos activam

os leucócitos levando-os a migrar para o local do desafio antigénico (Young e Heath,

2000; Gartner e Hiatt, 2003).

2.2.2.4.3 Eosinófilos

Os eosinófilos perfazem de 1 a 6% dos leucócitos no sangue circulante. O seu

número exibe uma variação diurna acentuada, sendo mais numerosos pela manhã e

menos numerosos à tarde (Stevens e Lowe, 1995). Estas células têm aproximadamente

o mesmo tamanho dos neutrófilos (12 a 17 µm de diâmetro), o seu núcleo é bilobulado e

são facilmente identificadas devido à presença de granulações ovóides que coram pela

eosina (granulações acidófilas). As microradiografias electrónicas revelam grânulos

específicos que apresentam um centro de elevada densidade, assemelhando-se a um

cristal, denominado internum, cujo principal componente é uma proteína básica, rica em

Page 45: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

32

arginina, que constitui 50% das proteínas do grânulo, possuindo também enzimas

hidrolíticas lisossómicas e uma peroxidase diferente da MPO dos neutrófilos. A camada

que envolve o internum possui menor densidade, sendo rica em fosfatase ácida e

designa-se externum. Os grânulos inespecíficos são os lisossomas, que contêm enzimas

hidrolíticas semelhantes às encontradas nos neutrófilos. Estas funcionam na destruição

de vermes parasitários e na hidrólise de complexos antigénio-anticorpo internalizados

pelos eosinófilos (Young e Heath, 2000; Gartner e Hiatt, 2003).

Os eosinófilos são células fagocitárias, com um metabolismo semelhante ao dos

neutrófilos, parecendo ser, todavia, menos microbicidas do que estes. No entanto, têm

uma afinidade fagocitária particular pelos complexos antigénio-anticorpo. Tal como os

neutrófilos, os eosinófilos movem-se quimiotaticamente em resposta a produtos

bacterianos e componentes do complemento. São atraídos preferencialmente por

substâncias libertadas pelos mastócitos, nomeadamente histamina e o ECF-A, assim

como por linfócitos activados. Todos os eosinófilos têm receptores para a IgE que

podem ser importantes na destruição dos parasitas e não estão presentes nos neutrófilos

(Stevens e Lowe, 1995; Young e Heath, 2000). A fagocitose ocorre da maneira usual,

embora, se o objecto for muito grande (por exemplo um parasita), o eosinófilo o elimine

libertando o conteúdo dos seus grânulos para o ambiente externo. Os eosinófilos podem

ter um papel na melhoria de certos aspectos das reacções de hipersensibilidade, pois são

capazes de neutralizar a histamina e de produzir um factor (inibidor derivado do

eosinófilo) que é provavelmente composto por prostaglandinas E1 e E2, que se acredita

ser capaz de inibir a desgranulação dos mastócitos. Os eosinófilos quando activados

inibem substâncias vasoactivas (por exemplo o leucotrieno, SRS-A) produzidas pelos

mastócitos e basófilos.

2.2.2.4.4 Monócitos

Os monócitos constituem cerca de 3 a 8% dos leucócitos e são as maiores células

do sangue circulante (até 20 µm de diâmetro) (Young e Heath, 2000). Os monócitos têm

o núcleo ovóide, em forma de rim, geralmente excêntrico, que se cora menos

intensamente que o dos outros leucócitos, devido ao arranjo pouco denso da sua

Page 46: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

33

cromatina (Junqueira e Carneiro, 2004). O citoplasma possui dois tipos de grânulos, os

grânulos azurófilos (lisossomas) que contêm fosfatase ácida, aril sulfatase e peroxidase,

que são análogos aos grânulos azurófilos dos neutrófilos. O conteúdo do outro tipo de

grânulo não é bem conhecido. Numerosos pequenos pseudópodes são visíveis nestas

células, reflectindo a sua habilidade fagocitária e movimentos amebóides. Os monócitos

são precursores localizados na medula óssea e no sangue dos macrófagos encontrados

nos tecidos e órgãos linfóides, sendo membros de uma mesma unidade funcional o

sistema mononuclear fagocitário. Os monócitos permanecem na circulação durante

somente alguns dias, e atravessam, por diapedese, a parede dos capilares e vénulas,

migrando para o tecido conjuntivo, onde se diferenciam em macrófagos (Stevens e

Lowe, 1995; Young e Heath, 2000; Gartner e Hiatt, 2003). Os monócitos respondem à

presença de material necrótico (necrotaxia), aos microorganismos invasores

(quimiotaxia) e à inflamação, diferenciando-se em macrófagos que com a sua grande

capacidade de fagocitose e o abundante conteúdo de enzimas hidrolíticas, engolfam e

destroem os detritos dos tecidos e material estranho, como parte do processo de cura e

de restauração da função normal. Algumas dessas funções formam parte integrante dos

mecanismos imunológicos, p. ex. a apresentação do antigénio e a destruição final do

antigénio. Nesse caso, a activação dos linfócitos resulta na produção de factores que

acentuam a actividade fagocitária dos macrófagos. Em resposta a partículas estranhas de

elevadas dimensões, os macrófagos fundem-se uns com os outros, formando células

gigantes, capazes de fagocitar esse tipo de partículas (Young e Heath, 2000; Gartner e

Hiatt, 2003).

2.2.2.4.5 Linfócitos

Os linfócitos constituem 20 a 25% da população total de leucócitos circulantes e

são responsáveis pelo funcionamento adequado do sistema imunológico (Gartner e

Hiatt, 2003). Esta percentagem varia muito de acordo com a saúde do paciente, sendo o

seu número bastante aumentado no caso de infecções virais. Os linfócitos podem ser

subdivididos em três categorias funcionais: linfócitos B (células B), linfócitos T (células

T) e células nulas. Estas categorias são indiferenciadas quando analisadas por

microscopia, sendo, no entanto, diferenciáveis por técnicas imunocitoquímicas para

detecção de receptores específicos da membrana. Cerca de 80% dos linfócitos

Page 47: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

34

circulantes são células T, as células B representam 15% e o restante são células nulas.

Os seus tempos de vida variam de alguns anos no caso das células T a alguns meses nas

células B. Os linfócitos são os leucócitos mais pequenos, medindo geralmente 6 a 8 µm

de diâmetro (Seeley et al., 2001). Contudo, existem cerca de 3% de linfócitos grandes,

que podem atingir os 18 µm (Junqueira e Carneiro, 2004). Possuem um núcleo esférico,

preenchendo quase toda a célula, deixando o citoplasma com uma pequena área,

abrigando entre outros grânulos, um pequeno número de lisossomas. Embora tenham

origem na medula óssea, estas células migram através do sangue até aos tecidos

linfáticos onde amadurecem e expressam marcadores e receptores de superfície. As

células B migram para zonas ainda não identificadas da medula óssea, enquanto que as

células T migram para o timo (Phipps et al., 1993). Ao contrário dos outros leucócitos

que não retornam ao sangue depois de migrarem para os tecidos, os linfócitos voltam

dos tecidos para o sangue circulando continuamente, sendo que a maior parte destas

células se encontra nos tecidos linfáticos: gânglios linfáticos, baço, amígdalas e timo

(Seeley et al., 2001). Depois de serem estimuladas por um antigénio específico, tanto as

células B como as T proliferam e diferenciam-se em duas subpopulações: as células de

memória não participam na resposta imunológica, mas permanecem como parte de um

clone com uma “memória imunológica”, prontas para montar uma resposta contra uma

exposição subsequente a um determinado antigénio ou substância estranha; as células

efectoras podem ser classificadas em células B e células T (e seus subtipos). As células

B são responsáveis pelo sistema imunológico mediado pelos fluidos do corpo, ou seja,

são caracterizadas pela sua capacidade de sintetizar anticorpos, os quais são

glicoproteínas destinadas a ligarem-se a antigénios específicos. Os anticorpos podem

circular no sangue, ou nos fluidos corporais ou permanecer ligados à superfície da

célula B onde se comportam como receptores de antigénios, activando a célula B

quando o antigénio apropriado é encontrado. As células T são responsáveis pelo sistema

imunológico mediado por células. Diversos subconjuntos de células T agem para

regular a função das mesmas e aumentar a produção de anticorpos pelas células B.

Temos as células T auxiliares (TH), que são essenciais para activar outros linfócitos T,

linfócitos B, “natural killers” e macrófagos. As células T citotóxicas (TC) atacam e

destroem as células malignas e as infectadas por vírus. As células T conhecidas como

células T supressoras (TS), operam para evitar ou modificar as funções dos dois

sistemas. Pensa-se que podem desligar a reacção imunitária específica quando a mesma

já não é necessária. Os linfócitos T trabalham principalmente através da segregação de

Page 48: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

35

mensageiros químicos potentes, conhecidos como citocinas (linfocinas), que recrutam e

activam fagócitos reactivos não-específicos, incluindo componentes da resposta

inflamatória e células “natural killer”. As células nulas são compostas por duas

populações distintas: células tronco que dão origem a todos os elementos figurados do

sangue e células “natural killer”, matam algumas células estranhas e as alteradas por

vírus, sem influência do timo ou de linfócitos T (Phipps et al., 1993; Stevens e Lowe,

1995; Gartner e Hiatt, 2003).

2.3 ESPÉCIES REACTIVAS DE OXIGÉNIO E AZOTO

No organismo humano, as ROS e RNS são geradas de forma basal em processos

fisiológicos, verificando-se um aumento da sua produção em vários processos de

agressão ao organismo, nomeadamente em processos inflamatórios, envolvendo

macrófagos, neutrófilos e eosinófilos. Estas espécies são de extrema importância no

combate a agentes invasores. No entanto, o seu excesso está associado ao denominado

stresse oxidativo, que se pode definir como um desiquilíbrio entre espécies pró-

oxidantes e antioxidandes a favor das primeiras, num sistema biológico (Ferreira e

Matsubara, 1997; Barreiros e David, 2006; Vieira, 2006). Os alvos maioritários do

stresse oxidativo a nível celular são a membrana celular (inactivação de enzimas e

alterações do transporte transmembranar), o citoplasma e os seus constituintes

(proteínas e lípidos) e, fundamentalmente, o DNA do núcleo das células eucarióticas

(mutagénese) (Ferreira e Matsubara, 1997; Barreiros et al., 2006). As doenças

cardiovasculares, a carcinogénese e o envelhecimento são exemplos representativos de

consequências que decorrem do stresse oxidativo.

As ROS, de que são exemplo o O2-., HO., HO2

., 1O2, H2O2, HOCl, são derivados

de oxigénio molecular com actividade redox, apresentando maior reactividade do que

este. Já as RNS, que englobam o .NO2 ONOO-, ONOOH, N2O3, são derivados do .NO

que também possuem actividade redox (Cheesman e Slater, 1993; Vieira, 2006). Ambas

são constituídas por elementos radicalares e não radicalares. Os radicalares definem-se

como qualquer átomo, grupo de átomos ou molécula com um ou mais que um electrão

desemparelhado ocupando uma órbita externa (Vieira, 2006). O não emparelhamento do

Page 49: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

36

electrão leva a uma elevada instabilidade electrónica, e por esta razão, mesmo tendo um

tempo de vida muito curto, apresentam elevada reactividade, pois possuem uma forte

tendência para doar ou receber electrões. O O2-., HO. e .NO, são exemplos de radicais

(Cheesman e Slater, 1993; Campos e Yoshida, 2004). As espécies não radicalares, como

por exemplo H2O2, ONOO- e oxigénio singuleto (1O2) também apresentam reactividade,

mas não possuem um electrão desemparelhado na última camada, não podendo ser

classificadas como radicais (Cheesman e Slater, 1993; Campos e Yoshida, 2004; Vieira,

2006).

Sendo os neutrófilos as células alvo do presente estudo, interessa referir que estas

células constituem os leucócitos mais abundantes da corrente sanguínea, e participam

activamente na resposta inflamatória. Quando os neutrófilos são activados por contacto

com estímulos solúveis ou por ingestão de materiais estranhos para os fagossomas

(fagocitose), estes iniciam um “burst” respiratório, com consumo de oxigénio

molecular, o que resulta na formação de radical superóxido (O2.-) através da acção da

NADPH oxidase (Figura 4) (Babior, 2004; Quinn e Gauss, 2004). A NADPH oxidase

situa-se na membrana plasmática dos neutrófilos e é composta por várias subunidades: a

glicoproteína gp91phox e os polipéptidos p22phox, p67phox, p47phox e p40phox, todos

codificados pelo gene phox (phagocyte oxidase) no cromossoma X. O flavocitrocomo,

conhecido como citocromo b558, forma um complexo associado à membrana e é

constituído por uma molécula de gp91phox e duas moléculas de p22phox. Os polipéptidos

p67phox, p47phox e p40phox encontram-se distribuídos no citoplasma (Nixon e McPhail,

1999, Seguchi e Kobayashi, 2002). Também fazem parte da NADPH oxidase activada,

proteínas G de baixo peso molecular (Rac 1 e Rac 2) que se encontram dissociadas da

enzima quando esta está inactiva (Quinn e Gauss, 2004; Klebanoff, 2005). Alguns

estudos têm demonstrado que o citrocomo b558 pode ser encontrado na membrana dos

grânulos específicos (Angosto, 2005), grânulos de gelatinase, e vesículas secretoras de

neutrófilos humanos (Borregaard e Cowland, 1997; Seguchi e Kobayashi, 2002)

migrando até à membrana plasmática ou membrana dos fagossomas quando se dá a

activação dos neutrófilos (Seguchi e Kobayashi, 2002; Angosto, 2005). Esta enzima

pode ser activada na ausência de fagossoma, sugerindo que a activação da oxidase pode

ocorrer na membrana dos grânulos que contêm citocromo b558. A activação da

NADPH oxidase leva a uma deslocação das proteínas citosólicas até à membrana onde

se unem às subunidades lá existentes, resultando numa oxidase activa (Figura 5).

Page 50: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

37

Figura 5. Activação do complexo NADPH oxidase. Á esquerda mostram-se os

componentes da NADPH oxidase quando a enzima está inactiva. Á direita representa-se

o complexo activo (adaptado de Angosto, 2005).

É geralmente aceite que a NADPH oxidase é activada quer na membrana

plasmática do PMN, quer na membrana do fagossoma. Quando a produção das ROS

resulta da activação na membrana plasmática, estas são libertadas da célula. Quando a

activação se dá na membrana do fagossoma, as ROS ficam retidas no seu interior

(Dahlgren e Karlsson, 1999; Babior, 2000; Karlsson e Dahlgren, 2002; Quinn e Gauss,

2004). A activação da enzima inicia-se com a fosforilação da subunidade p47phox, que

segundo Angosto (2005), é o primeiro elemento a interagir com o citocromo b558. Esta

subunidade forma um complexo com os componentes citosólicos p67phox e p47phox e é

responsável pelo transporte do complexo para a membrana durante a activação (Babior,

2000; Angosto, 2005).

A proteína quinase C (PKC) é responsável pela fosforilação da subunidade

p47phox, sendo portanto essencial para a activação da NADPH oxidase. A PKC, por sua

vez, é activada pelo diacilglicerol (DAG), produzido pela fosfolipase. A produção do

DAG ocorre quando um receptor membranar é estimulado por diversos factores tais

como o factor C5a do complemento, ou complexos imunológicos (Nauseef et al., 1991;

El Benna et al., 1995; Seguchi e Kobayashi, 2002).

Page 51: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

38

O O2-. funciona como redutor ou oxidante, é solúvel em água e não é capaz de

permear a membrana celular, atravessando-a via canais aniónicos (Hampton et al.,

1998). Isoladamente este radical é pouco reactivo e, portanto, não é altamente citotóxico

(Campos e Yoshida, 2004; Misso e Thompson, 2005), todavia, tem alguma capacidade

para danificar o DNA (Ferreira e Matsubara, 1997; Shackelford et al., 2000). O HO2. é a

forma protonada do O2-. (Equação 8). É mais reactivo que o O2

-. e, como não possui

carga, atravessa mais facilmente as membranas celulares. Embora a pH fisiológico a

razão [O2-.]/[HO2

.] seja elevada (100/1 a pH=6,8 e 1000/1 a pH=7,8), devido às suas

características o HO2. poderá ter alguma relevância se existirem condições propícias à

sua formação, nomeadamente a diminuição dos valores de pH nos locais de geração de

O2-. (Grey, 2002).

Equação 8:

O2-. + H+ HO2

.

O O2-., é convertido, espontaneamente (Equação 9) ou pela acção da enzima SOD

(Equação 10), em H2O2 e O2 (Cheesman e Slater, 1993; Campana et al., 2004).

Equação 9:

HO2. HO2

.+ H2O2 + O2

Equação 10:

O H2O2 apesar de não ser um radical, pois não tem electrões desemparelhados na

última camada, é importante porque participa nas reacções que produzem o radical HO.,

seja via reacção de Fenton (Equação 11) ou de Haber-Weiss (Equação 12). Pelas

reacções apresentadas pode-se constatar o papel relevante dos metais de transição na

formação de ROS (Ferreira e Matsubara, 1997; Mladenka et al., 2006). Embora o cobre

possa também catalisar a reacção de Haber-Weiss, o ferro é o metal pesado mais

abundante no organismo e está biologicamente mais capacitado para catalisar as

2O2-. + 2H+ H2O2 + O2

SOD

Page 52: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

39

reacções de oxidação de biomoléculas (Ferreira e Matsubara, 1997). No homem, em

condições fisiológicas, o ferro livre é escasso. Quase todo o ferro é sequestrado pelas

proteínas. No plasma encontra-se ligado à transferrina, em várias células está fortemente

ligado à ferritina, nos glóbulos vermelhos está firmemente incorporado na hemoglobina

e nos músculos está ligado à mioglobina (Mladenka et al., 2006). Em situações de

inflamação, o ferro (III) é libertado, pois o O2-. tem capacidade de o mobilizar da

ferritina (Barbosa et al., 2006), já o H2O2 pode reagir com a membrana eritrocitária e

levar à libertação de ferro da hemoglobina (Tolando et al., 2000).

Equação 11:

Fe (III) + O2-. Fe (II) + O2

H2O2 + Fe (II) Fe (III) + HO. + HO-

Equação 12:

O2-. + H2O2 O2 + HO. + HO-

Fe

O H2O2 é uma ROS que pode funcionar como agente oxidante ou como agente

redutor, embora a sua reactividade seja fraca. O H2O2 parece ser capaz de inactivar

algumas enzimas, normalmente por oxidação dos grupos sulfidrilo (-SH) dos locais

activos (Halliwell e Gutteridge, 1999). Apesar da sua fraca reactividade, o H2O2 pode

ser altamente citotóxico, sendo que esta citotoxicidade pode ser aumentada de dez para

mil vezes quando em presença de ferro, como ocorre, por exemplo, na hemocromatose

transfusional (Ferreira e Matsubara, 1997).

As enzimas catalase, glutationa peroxidase e tiorredoxina peroxidase removem o

H2O2 das células humanas, levando à formação de água (Halliwell e Gutteridge, 1999;

Barbosa et al., 2006).

O HO. é considerado a ROS mais reactiva em sistemas biológicos. As reacções em

que o HO. participa podem ser classificadas em três tipos principais: adição de

hidrogénio, remoção de hidrogénio e transferência de electrões. Este radical é capaz de

remover átomos de hidrogénio do grupo metileno de ácidos gordos polinsaturados,

dando início à peroxidação lipídica que pode levar à lise da membrana celular (Ferreira

e Matsubara, 1997; Campos e Yoshida, 2004). As reacções do HO. com compostos

aromáticos procedem-se normalmente por adição, como acontece nas reacções com a

Page 53: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

40

guanina e timina no DNA. Assim, se o HO. for produzido próximo de DNA, poderão

ocorrer alterações das suas bases, levando à inactivação ou mutação do DNA (Ferreira e

Matsubara, 1997; Hampton et al., 1998; Barreiros et al., 2006). O HO. participa ainda

em reacções de transferência de electrões com iões halogeneto, como é o caso do ião

cloreto (Equação 13) bem como com o ião nitrito (NO2-) (Equação 14). Da reacção do

HO. com o ião carbonato (CO32-), resulta um poderoso agente oxidante, o anião radical

carbonato (CO3.-) (Equação 15) (Halliwell e Gutteridge, 1999).

Equação 13:

Cl- + HO. Cl. + HO-

Equação 14:

NO2- + HO. NO2 + HO-

Equação 15:

CO32- + HO. CO3

-. + HO-

Os grânulos azurófilos dos neutrófilos contêm elevadas quantidades de MPO, que

pode ser libertada quer para o meio extracelular, quer para o interior dos fagossomas.

Esta enzima reage com H2O2 e Cl- produzindo ácido hipocloroso (HOCl) (Equação 16)

(Hampton et al., 1998; Peskin e Winterbourn, 2001; Splettstoesser e Werner, 2002).

Este é um poderoso agente antimicrobiano e, como tal, tem um papel de destaque na

defesa imunitária do organismo desencadeada pelos neutrófilos (Prütz, 1996). A MPO é

uma enzima heme que contém no seu grupo prostético o mesmo heme encontrado na

hemoglobina. Ao contrário da hemoglobina e outras proteínas heme, a MPO não é

vermelha, possuindo uma cor verde, responsável pela coloração esverdeada do pus

(Babior, 2000; Arnhold, 2004). In vivo, o HOCl pode atacar vários alvos. Uma das suas

principais acções é a inactivação da α1-antiproteinase (pelo ataque ao resíduo da

metionina), um importante protector das células contra o ataque de enzimas proteolíticas

como a elastase (Nève et al., 2001). O HOCl, pode reagir com aminoácidos dos

microorganismos, para formar cloraminas. A cloramina decompõe-se espontaneamente

em: aldeído (RCHO), tóxico para microorganismos; amónio, CO2 e cloreto. Tanto o

HOCl como as cloraminas parecem interferir com o DNA, nomeadamente com os

mecanismos de reparação do DNA (Hampton, 1998; Nève et al., 2001). O HOCl oxida

Page 54: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

41

grupos sulfidrilo, o ascorbato, o NADPH e promove a coloração das bases do DNA,

especialmente as pirimidínicas, e dos resíduos de tirosina nas proteínas. Caso o HOCl

passe pelas membranas celulares, pode provocar danos nas proteínas das mesmas, os

danos nos constituintes celulares ocorrem se houver passagem para o citoplasma (Prütz,

1996).

Equação 16:

H2O2 + Cl- MPO

HOCl + HO-

A interacção de O2.-, H2O2 e HOCl pode originar o 1O2. Constitui a forma excitada

de oxigénio molecular e não possui electrões desemparelhados na última camada

(Ferreira e Matsubara, 1997). Os compostos naturais que melhor captam o 1O2 são os

carotenóides, devido às múltiplas insaturações conjugadas. Assim, o 1O2 reage mais

lentamente com os ácidos gordos do que com o �-caroteno, e quanto maior o número de

insaturações presentes nos ácidos gordos, mais rapidamente eles irão reagir (Barreiros et

al., 2006).

Outro radical com alguma relevância nos mecanismos de defesa fagocitários é o .NO. É um radical gasoso que se difunde rápida e facilmente entre as células

(Heiduschka e Thanos, 1998). Este radical é sintetizado nos organismos vivos por uma

família de enzimas designadas oxido nítrico sintetases NOS, que convertem o

aminoácido L-arginina em .NO e noutro aminoácido, a L-citrulina (Equação 17). Esta

reacção é dependente do oxigénio e do NADPH (Fernandes et al., 2003; Ricciardolo et

al., 2006).

Equação 17:

L-arginina .NO + L-CitrulinaNOS

As NOS podem ser classificadas em constitutivas (cNOS) e indutíveis (iNOS). As

formas constitutivas estão presentes no endotélio vascular, nas plaquetas e em alguns

neurónios do sistema nervoso central e do sistema nervoso periférico. A actividade das

cNOS é dependente do Ca2+ e da calmodulina e produzem quantidades relativamente

baixas de .NO, da ordem dos nanomolar. As iNOS geram uma maior quantidade de .NO

Page 55: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

42

(próxima do micromolar), comparativamente com as cNOS, sendo que essa libertação

pode permanecer algumas horas e mesmo dias após a exposição das células (Fernandes

et al., 2003; Hofseth et al., 2003; Ricciardolo et al., 2006). Esta isoforma pode ser

induzida por agentes proinflamatórios, tais como endotoxinas, factor de necrose

tumoral-α (TNF-α), interferon-γ (IFN-γ) e interleucina-1β (IL-1β). Nas iNOS, a síntese

de .NO é independente dos níveis intracelulares de cálcio. As iNOS encontram-se nos

macrófagos e neutrófilos activados mas também noutros tipos de células como as do

músculo liso, hepatócitos, cálulas β do pâncreas e vários tipos de células tumorais

(Hofseth et al., 2003; Ricciardolo et al., 2006).

O efeito do .NO nas células depende de vários factores como a sua taxa de

produção e difusão, do tipo de célula, da sua interacção com ROS, iões metálicos e

proteínas (Hofseth et al., 2003; Dedon e Tannenbaum, 2004). As reacções a que este

radical pode estar sujeito resumem-se aos seguintes processos: i) autoxidação do .NO na

presença de O2, com formação de N2O3 (Equação 18), um potente agente nitrosante; ii)

reacção com O2-. para formar ONOO- (Equação 19) (Dedon e Tannenbaum, 2004).

Alguns estudos revelam que o .NO pode ter efeitos deletérios para a célula e os tecidos

que a circundam, nomeadamente induzir danos no DNA. Já outros estudos comprovam

os benefícios do .NO, como um protector da citotoxicidade (Wink et al., 1996; Hofseth

et al., 2003; Dedon e Tannenbaum, 2004).

Equação 18:

2.NO + O2 2.NO2

2.NO + 2.NO2 2.N2O3

Equação 19: .NO + O2

-. ONOO-

A reacção do .NO com o O2.- aparece referida na literatura no sentido da formação

do ONOO-. Contudo, de acordo com Coddington et al. (1999), a reacção inversa

também é possível, embora ocorra muito mais lentamente. Como o .NO é neutro e

hidrofóbico, capaz de atravessar membranas, enquanto que o O2.- é aniónico a pH

neutro, a formação do ONOO- ocorre predominantemente perto dos local de formação

do O2.- (Alvarez e Radi, 2003). Por sua vez, o ONOO- atravessa as membranas por

Page 56: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

43

difusão passiva, sob a forma do seu ácido conjugado, o ácido peroxinitroso (ONOOH)

ou através de canais aniónicos, quando na sua forma aniónica. O ONOO- é muito mais

reactivo do que os seus precursores (Whiteman et al., 2002; Alvarez e Radi, 2003). Em

condições fisiológicas o ONOO- tem um tempo vida inferior a 1 segundo sendo

imediatamente convertido à sua forma protonada, ONOOH, que por fissão homolítica

origina .NO2 e HO. (Equação 20) (Coddington et al., 1999; Whiteman et al., 2002;

Alvarez e Radi, 2003). A reacção directa do ONOO- com CO2 é particularmente

importante devido à elevada concentração deste elemento in vivo e à rapidez com que a

reacção ocorre. A maior parte do CO2 que se encontra dissolvido no plasma está em

equilíbrio com o HCO3-, sendo o sistema HCO3

-/CO2 um dos principais sistemas tampão

do sangue. Da reacção do ONOO- com CO2 resulta noutro RNS, o

nitrosoperoxicarbonato (ONOOCO2-), cuja decomposição origina cerca de 70% de CO2

e NO3- e 30% dos radicais .NO2 e CO3

.- (Denicola et al., 1998; Coddington et al., 1999;

Whiteman et al., 2002).

Equação 20:

ONOO- + H+ ONOOH .NO2 + .HO

O ONOO- e seus derivados podem induzir oxidação dos grupos tiol de proteínas,

nitração da tirosina, peroxidação lipídica e outras reacções de nitração que alteram o

metabolismo da célula e provocam danos a nível celular. Podem contribuir também para

a ocorrência de danos no DNA, quebra da cadeia de DNA, nitração e desaminação de

bases de DNA (especialmente guanina) e a nitração dos resíduos de aminoácidos

aromáticos em proteína. A formação excessiva de ONOO- pode estar envolvida em

doenças de que são exemplo: a doença de Alzheimer e Parkinson, cancro, asma, artrite

reumatóide (Squadrito e Pryor, 1998; Coddington et al., 1999; Choi et al., 2002;

Whiteman et al., 2002; Denicola e Radi, 2005).

Page 57: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Introdução

44

Figura 6. Esquema resumo da produção de ROS e RNS pelos neutrófilos durante a

fagocitose (adaptado de www.bioscience.org).

Page 58: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Material e métodos

45

3 MATERIAL E MÉTODOS

Page 59: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Material e métodos

46

3.1 Reagentes

O Histopaque 1077, Histopaque 1119, azul tripano 0.4%, solução salina de

tampão fosfato isotónico sem Ca2+ e Mg2+ (PBS), solução salina de tampão fosfato

isotónico com Ca2+ e Mg2+ (PBS com Ca2+ e Mg2+), luminol, PMA, tiron, L-NAME,

catalase, DPI, etileno glicol-bis �-aminoetil éter (EGTA), fura PE3, calcimicina

(A23187) foram adquiridos à Sigma Chemical Co. (St. Louis, MO, USA). O cloreto de

sódio foi adquirido à Panrec Química S.A. (Barcelona, Espanha). O manitol foi

adquirido à Riedel de Haën (Alemanha). O ABAH foi adquirido à Calbiochem (San

Diego, CA, USA). O nitrato de níquel foi adquirido à Fluka Chemie GmbH (Steinheim,

Alemanha). Os tubos de vácuo com citrato, EDTA e heparina foram adquiridos à

Vacutainer Systems (U.K.).

3.2 Equipamento

As leituras de quimioluminescência foram realizadas em leitor de microplacas

Synergy HT (BIO-TEK), com detecção espectrofotométrica, fluorimétrica e

quimioluminométrica, de acordo com a técnica utilizada. As centrifugações foram

efectuadas numa centrífuga 5810 R (Eppendorf). As leituras de microscopia foram

realizadas num microscópio óptico Eclipse E 400 (Nikon). A contagem das células foi

realizada em câmara de Neubauer. Foram ainda utilizados um banho termostatado NE5-

10D (Clifton) e uma balança analítica AG285 (Metler Toledo).

Page 60: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Material e métodos

47

3.3 Isolamento de neutrófilos humanos pelo método de centrifugação de

gradiente de densidade

Neste ensaio procedeu-se ao isolamento dos neutrófilos de todos os outros

componentes do sangue humano.

3.3.1 Fundamento do método

Os neutrófilos foram isolados pelo método de centrifugação de gradiente de

densidade. Este método foi descrito em 1968 por Boyum e melhorado por English e

Anderson em 1974. Consiste na separação das células mononucleares e granulócitos do

sangue. Esse objectivo é conseguido utilizando duas soluções de diferentes densidades,

Histopaque 1077 (densidade de 1,077) e Histopaque 1119 (densidade de 1,119),

respectivamente. Num tubo de centrífuga de polipropileno (material que evita a adesão

das células à parede do tubo) é adicionado igual volume das soluções acima referidas,

ficando a mais densa em baixo, a menos densa por cima. O sangue é cuidadosamente

adicionado por último. Por acção da força centrífuga, as células serão distribuídas de

acordo com a sua densidade, pelo que, os eritrócitos ficam no fundo do tubo, os

granulócitos, na interface 1077/1119, e os mononucleares e as plaquetas ficam na

interface plasma/1077 (Figura 7). Esta centrifugação é realizada a 20ºC, pois

temperaturas inferiores podem resultar na aglutinação celular e numa má recuperação.

Os neutrófilos são recolhidos para um tubo de centrífuga ao qual se adiciona solução

tampão PBS sem Ca2+ e Mg2+, no sentido de se proceder a uma lavagem das células,

seguindo-se uma centrifugação durante cinco minutos a uma temperatura de 4ºC. Esta

temperatura permite preservar a integridade das células. Para garantir que não há

contaminação dos neutrófilos por eritrócitos, decanta-se o sobrenadante resultante da

centrifugação e ressuspende-se as células com solução tampão PBS sem Ca2+ e Mg2+.

Adiciona-se água destilada e aguarda-se cerca de dois minutos, tempo após o qual é

restabelecida a isotonia do meio adicionando NaCl 3% (m/v). Esta suspensão é

Page 61: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Material e métodos

48

novamente centrifugada a 4ºC durante cinco minutos, o sobrenadante decantado e os

neutrófilos ressuspendidos com solução tampão PBS com Ca2+ e Mg2+.

Figura 7. Esquema resumo do procedimento efectuado referente ao isolamento dos

neutrófilos.

Centrifugação: 2100 rpm a

20ºC durante 30 min.

Retirar a camada dos neutrófilos; adicionar

PBS, pH 7,4.

Aspirar o sobrenadante e proceder à

lise dos glóbulos vermelhos.

Centrifugação: 2000 rpm a

4ºC durante 5 min.

Aspirar o sobrenadante e ressuspender os neutrófilos com

PBS, pH 7,4.

Contagem dos neutrófilos em câmara

de Neubauer

Centrifugação: 2000 rpm a 4ºC durante

5 min.

Page 62: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Material e métodos

49

3.3.2 Utilização de EDTA, citrato e heparina como anticoagulantes no

isolamento dos neutrófilos humanos

Neste ensaio, utilizaram-se diferentes anticoagulantes, nomeadamente o citrato,

EDTA e heparina, no processo de recolha de amostras sanguíneas.

3.3.3 Fundamento do método

Durante a recolha, o sangue deve ser tratado com agentes que evitem a sua

coagulação, de forma a ser possível proceder-se ao isolamento dos seus componentes

celulares. No entanto, a escolha do anticoagulante deve ser criteriosa de forma a

permitir não só um bom isolamento dos neutrófilos mas também que estes possuam

boas condições de funcionamento após este processo.

A formação de um coágulo sanguíneo depende de um conjunto de proteínas

existentes no plasma, denominadas factores de coagulação. A activação do mecanismo

de coagulação sanguínea tem início por duas vias diferentes: via intrínseca e via

extrínseca. A denominação de via intrínseca deriva do facto de que na activação tomam

parte, apenas, os factores circulantes da coagulação, enquanto na via extrínseca um

factor não circulante, factor tecidular, proveniente da célula endotelial, é o principal

desencadeador. A via de coagulação extrínseca resume-se ao seguinte: os tecidos

danificados libertam o factor tecidular, que com o factor VII e iões cálcio, activam o

factor X. O factor X activado, o factor V, os fosfolípidos e iões cálcio, formam a

protombinase. Esta converte a protrombina em trombina, que por sua vez, converte o

fibrogénio em fibrina, que é responsável pela formação de um coágulo (Figura 8). Na

via de coagulação intrínseca, os vasos danificados causam a activação do factor XII, que

vai activar o factor XI que, por sua vez, activa o factor IX. Este, conjuntamente com o

factor VIII e os fosfolípidos das plaquetas, activa o factor X. A partir daqui o processo é

o mesmo da via de coagulação extrínseca (Figura 8) (Seeley et al., 2001; Kierszenbaum,

2004).

Page 63: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Material e métodos

50

Figura 8. Mecanismo de coagulação sanguínea e mecanismo de anticoagulação do

citrato, EDTA e heparina.

A heparina é uma mistura heterogénea de polímeros de um polissacarídeo natural,

extraído de vísceras animais, com peso molecular variando entre 3000 e 30000 Da

(Figura 9). Constitui um anticoagulante natural produzido pelos basófilos e mastócitos.

A interacção com a antitrombina III confere-lhe o seu principal efeito anticoagulante,

através de uma mudança na conformação da antitrombina III, que acelera a sua

habilidade em inactivar as enzimas da coagulação: trombina e factores Xa e IXa (Figura

8). A ligação da heparina com o anticoagulante natural antitrombina III, aumenta a

actividade deste factor cerca de 1000 vezes (Hamerschlak e Rosenfeld, 1996;

Sadagopan et al., 2003).

Page 64: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Material e métodos

51

Figura 9. Estrutura química da heparina (adaptado de www.wikipedia.org).

EDTA é o acrónimo em inglês: EthyleneDiamineTetrAcetic acid (ácido

etilenodiamino tetra-acético). É um ácido poliprótico contendo quatro grupos

carboxílicos e dois grupos amina (Figura 10). Constitui um composto quelante que age

como ligante polidentado, formando complexos muito estáveis com diversos iões

metálicos. Actua como agente anticoaguante quelatando iões cálcio, essenciais a

algumas reacções químicas indispensáveis à formação do coágulo sanguíneo (Figura 8)

(Lanigan e Yamarik, 2002; Cerón et al., 2004).

OHO

NN

O

O-

HO

O

O O-K+

K+

Figura 10. Estrutura química do EDTA(adaptado de www.wikipedia.org).

Page 65: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Material e métodos

52

O citrato (Figura 11) tem um modo de acção muito semelhante ao EDTA. Quelata

iões cálcio, que promovem a coagulação sanguínea (Figura 8) (Bagshaw et al., 2005)

Na+O-

OO O-

O-Na+

ONa+

OH

Figura 11. Estrutura química do citrato de sódio (adaptado de www.wikipedia.org).

3.3.4 Procedimento experimental

Recolheu-se sangue venoso, de voluntários humanos saudáveis, do sexo

masculino, por venipunctura antecubital, para tubos de vácuo cada um dos quais com

um tipo de anticoagulante e procedeu-se ao isolamento dos neutrófilos de acordo com o

descrito por Costa et al. (2006). Num tubo de centrífuga de 12 mL adicionou-se 3 mL

de Histopaque 1077, sobre 3 mL de Histopaque 1119. De seguida, colocou-se

cuidadosamente uma camada de 6 mL de sangue sobre a camada superior do tubo.

Centrifugou-se a 2100 rpm durante 30 min a 20oC. Concluída a centrifugação, foram

aspiradas, por vácuo, as camadas que ficam por cima da camada dos granulócitos. Os

granulócitos, foram recolhidos cuidadosamente com o auxílio de uma pipeta Pasteur de

vidro para um tubo de centrífuga, ao qual se adicionou solução tampão PBS sem Ca2+ e

Mg2+ até completar 12 mL. Agitou-se levemente para homogeneizar e efectuou-se uma

centrifugação a 2000 rpm durante 5 min a uma temperatura de 4oC. Aspirou-se o

sobrenadante e adicionou-se 1,25 mL de solução tampão PBS sem Ca2+ e Mg2+, mais

5,25 mL de água destilada. Passados 2 min adicionou-se 2,2 mL de NaCl a 3% (m/v).

Esta suspensão foi novamente sujeita a uma centrifugação a 2000 rpm durante 5 min a

uma temperatura de 4oC, após a qual se recolheu o sobrenadante e se ressuspendeu os

neutrófilos com solução tampão PBS com Ca2+ e Mg2+.

Page 66: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Material e métodos

53

3.4 Avaliação da viabilidade celular e cálculo do número de neutrófilos isolados

Com este ensaio pretendeu-se avaliar a influência da utilização dos

anticoagulantes, citrato, EDTA e heparina, durante o isolamento dos neutrófilos

humanos, no número de neutrófilos isolados e viabilidade celular.

3.4.1 Fundamento do método

Para a determinação da viabilidade dos neutrófilos e cálculo do número de

neutrófilos isolados, utilizou-se o método da exclusão do azul tripano. O azul tripano é

um corante orgânico azul que é excluído pelas células que possuem as respectivas

membranas citoplasmáticas intactas, enquanto que as células com membranas

danificadas o incluem rapidamente. Este corante, tem carga negativa e é excluído pelos

neutrófilos como resultado de uma manutenção do potencial de membrana. A perda

deste potencial, devido a danos celulares, permite a penetração do corante. Para que a

inclusão se efectue não é exigida a existência de danos em grande extensão uma vez

que, geralmente, as membranas citoplasmáticas das células coradas aparecem

frequentemente intactas quando vistas ao microscópio óptico (Fernandes, 1996).

3.4.2 Procedimento experimental

Num tubo tipo eppendorf adicionou-se 20 µL de suspensão de neutrófilos a 20 µL

de azul tripano 0,4% e homogeneizou-se a mistura. Deixou-se em repouso, num banho

de gelo, durante 2 minutos. Com o auxílio de uma micropipeta, encheu-se a câmara de

Neubauer e procedeu-se à contagem dos neutrófilos ao microscópio óptico (ampliação

de 40×).

A determinação da viabilidade celular foi efectuada a partir da Equação 21.

Page 67: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Material e métodos

54

Equação 21:

Viabilidade (%) =nº de neutrófilos viáveis

nº de neutrófilos viáveis + nº de neutrófilos não viáveisx 100

O número de neutrófilos isolados por mL de sangue recolhido foi calculado

segundo a Equação 22.

Equação 22:

N

Vx 2 x Y

Volume total de sangue=Nº neutrófilos/mL sangue

N- nº de neutrófilos viáveis

V- volume da câmara de Neubauer (0,1 mm3)

2- factor de diluição aplicado quando se adiciona 20 µL de azul tripano a 20 µL da

suspensão de neutrófilos.

Y- volume total de suspensão

O número de neutrófilos/mL de suspensão fez-se de acordo com a Equação 23 e

resultou da média da contagem de dois quadrantes da câmara de Neubauer.

Equação 23:

N

Vx 2 x Y=Nº neutrófilos/mL suspensão

N- nº de neutrófilos viáveis

V- volume da câmara de Neubauer (0,1 mm3).

2- factor de diluição aplicado quando se adiciona 20 µL de azul tripano a 20 µL da

suspensão de neutrófilos.

Page 68: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Material e métodos

55

Y- volume total de suspensão

O número de neutrófilos obtido durante o isolamento foi ajustado para 4 × 106/mL

de suspensão com solução tampão PBS com Ca2+ e Mg2+, segundo a Equação 24.

Equação 24:

N

Vx 2 x Y

4 x 106= - YV1

V1- volume de solução tampão PBS com Ca2+ e Mg 2+ a adicionar à suspensão dos

neutrófilos para obter 4×106 neutrófilos/mL de suspensão.

N- nº de neutrófilos viáveis

V- volume da câmara de Neubauer (0,1 mm3).

2- factor de diluição aplicado quando se adiciona 20 µL de azul tripano a 20 µL da

suspensão de neutrófilos.

4 × 106- corresponde ao nº de neutrófilos/mL de suspensão necessários para a realização

do ensaio.

Y- volume total de suspensão

3.5 Avaliação da activação de neutrófilos humanos pelo PMA, com utilização de

uma técnica de quimioluminescência

Este ensaio teve como objectivo avaliar a activação de neutrófilos isolados de

sangue tratado com citrato, EDTA e heparina, pelo PMA.

Page 69: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Material e métodos

56

3.5.1 Fundamento da técnica

O PMA é um composto solúvel obtido por síntese química, capaz de activar os

neutrófilos (Robinson et al., 1987; Downey et al., 1992; Nixon e McPhail; 1999;

Seguchi e Kobayashi, 2002; Saito et al., 2005). O seu mecanismo de acção é muito

semelhante ao DAG, activando directamente a PKC (Figura 12) (Robinson et al., 1987;

Downey et al., 1992; Nixon e McPhail; 1999; Seguchi e Kobayashi, 2002; Saito et al.,

2005), a qual por sua vez tem um papel crucial na activação da NADPH oxidase.

Figura 12. Mecanismo de activação dos neutrófilos pelo PMA

Segundo Karlsson e Dahlgren (2002) existem cinco isoenzimas PKC nos

neutrófilos humanos, a PKC-α, βI, βII (classificadas como convencionais: cPKC, são

cálcio-dependentes, activadas pela fosfatildilserina e pelo DAG), PKC-δ (classificadas

como não convencionais: nPKC, são cálcio-independentes, reguladas pelo DAG e

fosfatildilserina) e PKC-ζ (denominada atípica: aPKC, requer apenas fosfatildilserina

para a sua activação) (Majumdar, et al., 1991). A PKC-α, PKC-β ou PKC-δ, constituem

Page 70: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Material e métodos

57

os primeiros candidatos a mediar a resposta do PMA (Nixon e McPhail, 1999). Sendo a

PKC-β a isoforma mais comum dos neutrófilos, é a mais susceptível à acção deste

activador (Majumdar, et al., 1991; Downey et al., 1992).

O PMA promove a translocação da PKC do citosol para a membrana, onde ocorre

a fosforilação do p47phox, etapa fundamental para a activação da NADPH oxidase

(Majumdar, et al., 1991; Downey et al., 1992; Nixon e McPhail, 1999; Karlsson e

Dahlgren, 2002) (Figura 12). Uma vez activada a NADPH oxidase, inicia-se a produção

de O2.-, com a consequente geração de outras espécies reactivas (ver 1.3 da introdução).

A detecção de espécies reactivas geradas durante a activação dos neutrófilos

isolados foi feita por quimioluminescência. Em 1888 Eilhardt Weidemann apresentou

pela primeira vez o termo quimioluminescência, definindo-a como a emissão de

radiação luminosa resultante de uma reacção química (Ferreira e Rossi, 2002). Tendo

em conta a exactidão, sensibilidade e baixo custo do equipamento de medida, a

quimioluminescência tem sido frequente utilizada na avaliação da capacidade dos

neutrófilos produzirem ROS (Briheim et al., 1984; Hasegawa et al., 1997; Kopprasch et

al., 2003). Todavia, para a luminescência das células ser detectável, normalmente

recorre-se a luminóforos, sendo o luminol um dos mais utilizados. A luz emitida pelo

luminol (Figura 13) advém da sua oxidação e da consequente formação de uma espécie

electronicamente excitada que se decompõe originando o di-anião 3-aminoftalato no

estado excitado, que ao regressar ao estado fundamental, emite fotões (Rost et al., 1998;

Ferreira e Rossi, 2002). O comprimento de onda de emissão máxima da reacção

quimioluminescente do luminol depende do solvente utilizado, podendo variar entre 431

e 500 nm (Ferreira e Rossi, 2002).

O luminol pode ser oxidado por várias ROS (Caldefie-Chézet et al., 2002) como é

o caso do HO. (Oosthuizen e Greyling, 2001), do O2˙- (Kopprasch et al., 2003), do 1O2

(Oosthuizen et al., 1997; Myhre et al., 2003), do H2O2 (Briheim et al 1984; Rost et al.,

1998; Ferreira e Rossi, 2002; Kopprasch et al., 2003) e do HOCl, bem como por RNS,

nomeadamente o ONOO- (Radi et al., 1993; Chen et al., 2003a). O .NO não parece ser

capaz de oxidar o luminol (Radi et al., 1993).

Page 71: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Material e métodos

58

N

N N2

O

O

O

O

+ + + hν

Luminol 3-Aminoftalato

H2OROS

ONOO-

NH2 OH

OH

NH2

Figura 13. Reacção de oxidação do luminol com a formação do di-anião 3 aminoftalato

e emissão de luz (adaptado de Rost et al., 1998).

A monitorização da luminescência resultante da reacção do luminol com cada uma

das espécies reactivas supramencionadas pode ser utilizada como meio de estudar a

potencial capacidade de determinados compostos para captarem as mesmas (Cynshi et

al., 1990; Mira et al., 1994; Demiryürek et al., 1998; Rao et al., 1998), já que estes

compostos, ao captarem uma determinada espécie reactiva, vão competir com o luminol

na sua reacção com estas originando assim uma diminuição da luminescência. Tendo

em conta que o luminol pode ser oxidado por várias ROS, constitui um bom indicador

da sua geração pelos neutrófilos activados (Hasegawa et al., 1997).

3.5.2 Procedimento experimental

A avaliação da activação dos neutrófilos realizou-se por quimioluminescência,

amplificada pelo luminol, de acordo com o descrito por Oosthuizen e Greyling (2001).

A mistura reaccional continha, num volume final de 200 µL, os seguintes constituintes

nas concentrações finais indicadas: luminol (500 µM), solução tampão PBS com Ca2+ e

Mg2+, pH 7,4, PMA (1,6 × 10-7 M) e neutrófilos (106 neutrófilos/mL). Todos os

compostos foram dissolvidos em solução tampão PBS com Ca2+ e Mg2+, pH 7,4.

Durante todo o ensaio a mistura reaccional esteve sujeita a uma agitação suave e a uma

temperatura de incubação de 37ºC. As leituras da luminescência (L) foram efectuadas

Page 72: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Material e métodos

59

durante 25 min e os valores de luminescência lidos nos picos obtidos nessas cinéticas (≅

15 min). Cada estudo correspondeu, no mínimo, a quatro ensaios realizados em

duplicado. O efeito de activação dos neutrófilos foi expresso sob a forma de

percentagem oxidação do luminol induzida pelas espécies reactivas de acordo com a

equação 25.

Equação 25:

LPMA x 100( )

Lbranco

- 100=

Activação de neutrófiloshumanos pelo PMA (%)

LPMA- Luminescência do ensaio que contem PMA.

Lbranco- Luminescência do ensaio sem PMA.

3.6 Quantificação do cálcio livre intracelular nos neutrófilos humanos isolados,

com utilização de uma técnica de fluorescência

Este ensaio teve como objectivo avaliar a influência da utilização dos

anticoagulantes citrato, EDTA e heparina, durante o processo de isolamento dos

neutrófilos, na concentração do cálcio livre intracelular nos neutrófilos isolados.

3.6.1 Fundamento da técnica

O ião Ca2+ é um mensageiro intracelular ubiquitário que regula diversas funções,

incluindo contracção, secreção, metabolismo, expressão genética, sobrevivência e morte

celulares (Yan et al., 2006). Como tal, a quantificação do Ca2+ livre presente no

citoplasma é importante para se entender a fisiologia de qualquer tipo de célula. No caso

dos neutrófilos torna-se ainda mais relevante, já que a quimiotaxia, fagocitose, apoptose

Page 73: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Material e métodos

60

e exocitose são muito influenciadas pela concentração de Ca2+ no citoplasma (Hallet et

al., 1999), sendo a activação da NADPH oxidase também dependente da concentração

deste ião (Yan et al., 2006).

Para a quantificação dos níveis de Ca2+ pode recorrer-se a sondas fluorescentes e

ionóforos. No presente trabalho utilizou-se uma sonda fluorescente, o Fura PE3 (Figura

14) que é um derivado do Fura 2, sendo o espectro de absorção e emissão muito

semelhante ao original Fura 2 (364/508 nm).

N

O

O

N

N

N

N

CO2- CO2

-

CO2-

O O

C O

CH2CO2-

CO2- CO2

-

Figura 14. Estrutura química da sonda fluorescente Fura PE3 (adaptado de

www.wikipedia.org).

Tem como vantagem relativamente ao Fura 2 o facto de ser estruturalmente capaz

de permanecer mais tempo no citoplasma (Takahashi et al., 1999). O Fura PE3 constitui

um grupo éster capaz de atravessar a membrana plasmática. No interior da célula, fica

sujeito à acção de esterases inespecíficas que quebram a molécula originando a forma

ácida da sonda. Esta forma é hidrofílica e portanto, dificilmente atravessa a membrana

citoplasmática. É sob a forma protonada que a sonda se liga aos iões cálcio e emite

fluorescência (Davies et al., 1997; Hallett et al., 1999; Takahashi et al., 1999). A

concentração do cálcio livre é calculada segundo a seguinte equação:

Page 74: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Material e métodos

61

Equação 26:

Ca2+ = Kd x F - Fmin

Fmax - F

Onde Kd representa a constante de dissociação, que reflecte a afinidade da sonda para o

cálcio (quanto menor a Kd, maior a afinidade da sonda para os iões cálcio) (Hallett et

al., 1999). Segundo Vondran et al. (1995) o valor de Kd para o Fura PE3 é 290 nM. F é

a fluorescência da amostra celular incubada com a sonda. Fmax representa a

fluorescência máxima obtida tratando as células com um ionóforo, calcimicina

(A23187). Este é derivado de Streptomyces chartreusensis e tem capacidade de

transportar iões cálcio para o interior da célula e assim saturar a sonda, originando a

fluorescência máxima. Fmin significa fluorescência mínima e é obtida adicionando

MnCl2 às células tratadas com A23187. Os iões Mn2+ têm a capacidade de libertar os

iões Ca2+ da sonda, permitindo avaliar o valor de Fmin (Sela et al., 2002).

3.6.2 Procedimento experimental

A concentação de cálcio livre intracelular foi determinada por uma técnica de

fluorimetria, monitorizando-se a fluorescência da sonda Fura PE3 de acordo com o

descrito por Sela et al. (2002), com modificações.

Para a determinação do F, incubou-se numa microplaca de fluorescência, a

mistura reaccional que continha, num volume final de 210 µL, os seguintes constituintes

nas concentrações finais indicadas: suspensão celular (3×106 células/mL) e sonda

fluorescente Fura PE3 (10 µM). Procedeu-se à leitura da fluorescência (comprimento de

onda de excitação e emissão 364 e 508 nm, respectivamente). Seguidamente adicionou-

se o ionóforo A23187 (5 µmol/L), efectuou-se a leitura de fluorescência e obteve-se o

Fmax. Para a determinação do Fmin adicionou-se MnCl2 (2 mM). Durante todo o ensaio a

mistura reaccional esteve sujeita a uma agitação suave e a uma temperatura de

incubação de 37ºC.

Page 75: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Material e métodos

62

3.7 Avaliação da activação de neutrófilos humanos pelo nitrato de níquel, com

utilização de uma técnica de quimioluminescência

Este ensaio teve como objectivo avaliar a activação de neutrófilos isolados de

sangue tratado com citrato, EDTA e heparina, pelo nitrato de níquel.

3.7.1 Fundamento da técnica

A avaliação da activação de neutrófilos humanos pelo nitrato de níquel, foi

realizada através de uma técnica de quimioluminescência cujo fundamento se encontra

discutido em 2.5.1.

3.7.2 Procedimento experimental

A mistura reaccional continha, num volume final de 200 µL, os seguintes

constituintes nas concentrações finais indicadas: luminol (500 µM), solução tampão

PBS com Ca2+ e Mg2+, pH 7,4, nitrato de níquel (3,9; 7,8; 15,6; 31,3; 62,5 e 125 µM) e

neutrófilos (4×106 células/mL). Todos os compostos foram dissolvidos em solução

tampão PBS, pH 7,4, excepto o nitrato de níquel, que não sendo solúvel nessa solução,

foi dissolvido em água. Durante todo o ensaio a mistura reaccional esteve sujeita a uma

agitação suave e a uma temperatura de incubação de 37ºC. As leituras da luminescência

(L) foram efectuadas durante 25 min e os valores de luminescência lidos nos picos

obtidos nessas cinéticas (≅ 15 min). Cada estudo correspondeu, no mínimo, a quatro

ensaios realizados em duplicado. O efeito de activação dos neutrófilos foi expresso sob

a forma de percentagem oxidação do luminol induzida pelas espécies reactivas de

acordo com a equação 27.

Page 76: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Material e métodos

63

Equação 27:

Activação de neutrófiloshumanos pelo nitratode níquel (%)

LNiNO3 x 100( )

Lbranco

- 100=

LNiNO3- Luminescência do ensaio que contem NiNO3.

Lbranco- Luminescência do ensaio sem NiNO3.

3.8 Estudo das espécies reactivas envolvidas no processo de activação dos

neutrófilos, pelo nitrato de níquel, com a utilização de uma técnica de

quimioluminescência

O objectivo deste ensaio foi identificar os processos envolvidos na geração de

espécies reactivas durante a activação dos neutrófilos pelo nitrato de níquel.

3.8.1 Fundamento da técnica

A produção de espécies reactivas pelos neutrófilos inicia-se com a activação da

enzima NADPH oxidase, com produção de O2-. (Majumdar, et al., 1991; Downey et al.,

1992; Nixon e McPhail, 1999; Karlsson e Dahlgren, 2002). Este radical é rapidamente

convertido, espontaneamente ou pela acção da enzima SOD, em H2O2 (Cheesman e

Slater, 1993; Campana et al., 2004). O H2O2 é importante pois origina, via reacção de

Fenton ou de Haber-Weiss o radical HO. (Ferreira e Matsubara, 1997; Barbosa et al.,

2006; Mladenka et al., 2006). O H2O2, pela acção da MPO resulta na formação de

HOCl (Hampton et al., 1998; Peskin e Winterbourn, 2001; Splettstoesser e Werner,

2002). A interacção de O2-., H2O2 e HOCl pode originar uma molécula muito reactiva, o

1O2 (Ferreira e Matsubara, 1997; Splettstoesser e Werner, 2002). A enzima NOS

converte o aminoácido L-arginina em .NO e L-citrulina (Fernandes et al., 2003;

Page 77: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Material e métodos

64

Ricciardolo et al., 2006). O .NO reage rapidamente com o O2-. para formar ONOO-

(Dedon e Tannenbaum, 2004).

Tendo em conta que que o luminol permite detectar várias espécies reactivas (ver

ponto 2.5.1), utlizou-se inibidores enzimáticos e captadores de espécies reactivas, já que

estes compostos, ao inibirem uma determinada enzima ou captarem uma determinada

espécie reactiva, vão competir com o luminol na sua reacção com estas, originando

assim, uma diminuição da luminescência. Os inibidores enzimáticos escolhidos foram o

DPI (NADPH oxidase), ABAH (MPO) e o L-NAME (NOS). Os captadores utilizados

foram o tiron, manitol e catalase, que captam o O2-., HO. e H2O2, respectivamente.

3.8.2 Procedimento experimental

As condições experimentais utilizadas neste ensaio foram semelhantes às

utilizadas no ensaio anterior. A mistura reaccional continha, num volume final de 200

µL, os seguintes constituintes nas concentrações finais indicadas: luminol (500 µM); um

dos seguintes inibidores enzimáticos DPI (1 µM), ABAH (10 µM) ou L-NAME (1 µM)

ou captadores de espécies reactivas tiron (2 mM e 50 µM), manitol (10 mM) ou catalase

(2,5 U/mL); nitrato de níquel (125 µM) e neutrófilos (106 células/mL). Durante todo o

ensaio a mistura reaccional esteve sujeita a uma agitação suave e a uma temperatura de

incubação de 37ºC. As leituras da luminescência (L) foram efectuadas durante 25 min e

os valores de luminescência lidos nos picos obtidos nessas cinéticas (≅ 15 min). Cada

estudo correspondeu, no mínimo, a quatro ensaios realizados em duplicado.

O efeito da inibição activação dos neutrófilos foi expresso sob a forma de

percentagem de inibição da oxidação do luminol pelas espécies reactivas e calculado de

acordo com a equação 28.

Page 78: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Material e métodos

65

Equação 28:

Inibição da activação de neutrófilos humanos pelo nitrato de níquel125 µM (%)

=Lcaptador ou inibidor Lbranco- )( x 100

L controlo - Lbranco

100 -

Lcaptador ou inibidor- Luminescência do ensaio na presença de captadores das espécies

reactivas ou inibidores enzimáticos e nitrato de níquel na concentração de 125 µM.

Lbranco- Luminescência do ensaio na ausência dos captadores das espécies reactivas ou

inibidores enzimáticos e do nitrato de níquel.

Lcontrolo- Luminescência do ensaio na ausência dos captadores das espécies reactivas ou

inibidores enzimáticos e na presença de nitrato de níquel na concentração de 125 µM.

3.8.3 Estudos complementares

Traçaram-se os espectros dos compostos testados tendo-se verificado que estes

não absorviam na região próxima de 431 nm (região em que o luminol oxidado

apresenta um máximo de emissão (Ferreira e Rossi, 2002), o que permite eliminar a

possibilidade destes compostos actuarem como quenchers da luz emitida pelo luminol

oxidado.

3.9 Análise estatística

Os resultados são expressos como média ± erro padrão da média. A análise

estatística foi realizada usando o método não paramétrico de análise de variância

(ANOVA) seguido pelo teste Bonferroni. Valores de p inferiores a 0,05 foram

considerados estatisticamente significantes.

Page 79: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Resultados

66

4 RESULTADOS

Page 80: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Resultados

67

4.1 Viabilidade dos neutrófilos humanos isolados a partir de amostras de sangue

tratadas com os anticoagulantes EDTA, citrato e heparina

A viabilidade celular dos neutrófilos isolados foi sempre superior a 98%,

independentemente do anticoagulante utilizado.

4.2 Número de neutrófilos humanos isolados a partir de amostras de sangue

tratadas com os anticoagulantes EDTA, citrato e heparina

Na Figura 15 estão representados os resultados obtidos no estudo do número de

neutrófilos isolados de sangue tratado com cada um dos anticoagulantes estudados,

citrato, EDTA e heparina. Da análise da mesma ressaltam as diferenças no número de

células isoladas com cada um dos três anticoagulantes. O número de neutrófilos

isolados por mL de sangue recolhido foi o seguinte: EDTA (1,7×106 ± 1,5×105

neutrófilos/mL de sangue) > heparina (6,6×105 ± 1,5×104 neutrófilos/mL de sangue) >

citrato (4,6×105 ± 9,5×104 neutrófilos/mL de sangue) (média ± erro padrão da média).

Citrato EDTA Heparina0

250000

500000

750000

1000000

1250000

1500000

1750000

2000000**

Anticoagulante

Nº n

eutr

ófilo

s hu

man

os is

olad

os p

or m

L d

e sa

ngue

Figura 15. Número de neutrófilos isolados de sangue tratado com cada um dos três

anticoagulantes em estudo (citrato, EDTA e heparina) por mL de sangue. Os valores são

Page 81: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Resultados

68

apresentados como a média ± erro padrão da média (n = 10); ** p < 0.01,

comparativamente ao tratamento com citrato ou com heparina.

4.3 Activação de neutrófilos humanos pelo PMA

Na figura 16 estão representados os resultados obtidos no estudo da activação de

neutrófilos, isolados de sangue tratado com diferentes anticoagulantes, pelo PMA.

Verificou-se uma activação dos neutrófilos pelo PMA, muito semelhante com citrato e

heparina (830 ± 98% e 827 ± 77%, respectivamente) e menor com EDTA (370 ± 30%)

(média ± erro padrão da média).

Citrato EDTA Heparina0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

1100

**

Anticoagulante

Act

ivaç

ão d

e ne

utró

filo

s hu

man

os p

elo

PMA

(%)

Figura 16. Activação de neutrófilos humanos isolados de sangue tratado com diferentes

anticoagulantes (citrato, EDTA e heparina), pelo PMA, relativamente ao ensaio em

branco (%). Os valores são apresentados como a média ± erro padrão da média (n = 6);

** p < 0.01, comparativamente ao tratamento com citrato ou com heparina.

Page 82: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Resultados

69

4.4 Quantificação do cálcio livre intracelular nos neutrófilos humanos isolados

Na figura 17 estão representados os resultados obtidos na quantificação do cálcio

livre intracelular em neutrófilos isolados de sangue tratado com EDTA, citrato e

heparina. Verificou-se que os neutrófilos tratados com EDTA possuem uma menor

concentração de cálcio livre intracelular (94,4 ± 3,1 nM) quando comparado com os

neutrófilos tratados com citrato e heparina (156,2 ± 28,7 nM e 165,3 ± 14,78 nM,

respectivamente) (média ± erro padrão da média).

Citrato EDTA Heparina0

25

50

75

100

125

150

175

200

*

Tipo de anticoagulante

Con

cent

raçã

o de

cál

cio

intr

acel

ular

(nM

)

Figura 17. Quantificação do cálcio livre intracelular em neutrófilos humanos isolados

de sangue tratado com diferentes anticoagulantes (citrato, EDTA e heparina). Os valores

são apresentados como a média ± erro padrão da média (n = 3); * p < 0.05,

comparativamente ao tratamento com heparina.

Page 83: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Resultados

70

4.5 Activação de neutrófilos humanos pelo nitrato de níquel

Na figura 18 estão representados os resultados obtidos no estudo da activação de

neutrófilos isolados, de sangue tratado com diferentes anticoagulantes, pelo nitrato de

níquel. Pela análise da mesma, verificou-se que houve uma activação dos neutrófilos

pelo nitrato de níquel. Esta activação das células foi dependente da concentração de

Ni2+, tendo-se registado maior activação para uma concentração de nitrato de níquel 125

µM. A activação dos neutrófilos foi diferente dependendo do anticoagulante utilizado.

Por exemplo, verificou-se que a concentração mais baixa de Ni2+, 3,9 µM, levou a uma

activação de 50 ± 9% com citrato, 36 ± 7% com EDTA e 107 ± 16% (média ± erro

padrão da média) com heparina. Já a concentração de 125 µM originou uma activação

de 263 ± 28%, 233 ± 29% e 130 ± 10% (média ± erro padrão da média) com a heparina,

o citrato e o EDTA, respectivamente.

0.0 3.9 7.8 15.6 31.2 62.5 125.00

50

100

150

200

250

300Ci trato

EDTA

Heparina

ζζζ

ι

**

ζζζ

ζζζ

ζζ

ζζ ζζι

ιι

Concentração de Ni 2+ (µµµµM)

Act

ivaç

ão d

e ne

utró

filo

s hu

man

os p

elo

nitr

ato

de n

íque

l (%

)

Figura 18. Activação de neutrófilos humanos isolados de sangue tratado com diferentes

anticoagulantes (citrato, EDTA e heparina), pelo nitrato de níquel, relativamente ao

ensaio em branco (%). Os valores são apresentados como a média ± erro padrão da

média (n = 10). * p < 0.05; comparação dos valores de citrato vs EDTA. ζζ p< 0.01 e

ζζζ<0.001, comparação dos valores de EDTA vs heparina. ι p < 0.05 e ιι p < 0.01,

comparação dos valores de heparina vs citrato.

Page 84: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Resultados

71

4.6 Processos envolvidos na geração de espécies reactivas durante a activação

dos neutrófilos pelo nitrato de níquel

Na figura 19 estão representados os resultados obtidos no estudo da identificação

das espécies reactivas envolvidas no processo de activação dos neutrófilos pelo nitrato

de níquel. Foram testados inibidores enzimáticos e/ou captadores de várias espécies

reactivas, sendo a % de inibição da produção de espécies reactivas pelos neutrófilos

isolados de sangue tratado com citrato, EDTA e heparina, representada no Quadro 2.

Como se pode verificar, os resultados foram muitos semelhantes entre os diferentes

anticoagulantes estudados.

Tiron 2

mM Mµµµµ

Tiron 50

Man

itol 1

0 mM Mµµµµ

DPI 1

Catalas

e 2.5

U/mL

L. NAM

E 1mM Mµµµµ

ABAH 10

0

25

50

75

100

125Citrato EDTA Heparina

Inib

ição

da

acti

vaçã

o de

neu

tróf

ilos

hum

anos

(%)

Figura 19. Percentagem de inibição da activação de neutrófilos pela acção do tiron,

manitol, DPI, catalase, L-NAME, e ABAH, quando estimulados pelo nitrato de níquel

(125 µM). Os valores são apresentados como a média ± erro padrão da média (n = 10).

Page 85: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Resultados

72

Quadro 2. Percentagem de inibição da activação de neutrófilos pela acção do tiron,

manitol, DPI, catalase, L-NAME, e ABAH, quando estimulados pelo nitrato de níquel

(125 µM). Os valores são apresentados como a média ± erro padrão da média (n = 10).

Inibição (%) (média ±±±± erro padrão da média) COMPOSTOS ESTUDADOS

CITRATO EDTA HEPARINA

DPI 1 µµµµM 100 ± 13 100 ± 7 100 ± 5

ABAH 10 µµµµM 99 ± 8 100 ± 4 89 ± 7

INIB

IDO

RE

S

EN

ZIM

ÁT

ICO

S

L-NAME 1 mM 6 ± 7 4 ± 8 8 ± 9

Tiron 2 mM 100 ± 8 100± 6 100 ± 1

Tiron 50 µµµµM 53 ± 13 37 ± 7 59 ± 9

Manitol 10 mM 33 ± 7 29 ± 7 38 ± 5

CA

PTA

DO

RE

S

DE

ESP

ÉC

IES

RE

AC

TIV

AS

Catalase (2,5 U/mL) 47 ± 14 48 ± 10 27 ± 6

Page 86: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Discussão

73

5 DISCUSSÃO

Page 87: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Discussão

74

Os resultados obtidos no presente estudo permitiram atingir os objectivos

inicialmente propostos. Ficou demonstrado que o número de neutrófilos isolados

depende do anticoagulante utilizado, sendo o EDTA o que proporcionou o maior

número, enquanto que a heparina e o citrato não diferem significativamente entre si. Por

outro lado, a viabilidade celular dos neutrófilos isolados foi sempre superior a 98%,

independentemente do anticoagulante utilizado. Verificou-se, no entanto, que o grau de

activação, pelo PMA, dos neutrófilos isolados de sangue tratado com EDTA,

relativamente à heparina e ao citrato, era significativamente menor, tendo estes últimos

originado, mais uma vez, valores semelhantes entre si. Finalmente, confirmou-se que o

nitrato de níquel possui o potencial de activar os neutrófilos humanos isolados, tendo

sido obtido um perfil relativo de activação semelhante ao do PMA, tendo em conta os

anticoagulantes utilizados. Estes dados ainda não tinham sido divulgados na literatura

científica, pelo que poderão contribuir significativamente para os conhecimentos

relativos ao isolamento e activação de neutrófilos humanos in vitro e na sua activação

pelo nitrato de níquel.

Os neutrófilos foram isolados pelo método de centrifugação de gradiente de

densidade, no qual se utilizou duas soluções de diferentes densidades, Histopaque 1077

(densidade de 1,077) e Histopaque 1119 (densidade de 1,119). Esta metodologia

permitiu encontrar grandes diferenças entre o número de células isoladas com cada um

dos três anticoagulantes estudados, citrato, EDTA e heparina. Foi efectuada a contagem

do número de neutrófilos antes de se proceder ao isolamento, com o aparelho

autoanalizador hematológico Sysmex SF 3000 (Roche). Não se verificaram diferenças

no número de neutrófilos de sangue tratado com citrato, EDTA e heparina, o que sugere

que o diferente número de neutrófilos isolados está estreitamente relacionado com o

processo de isolamento. Ao longo dos ensaios verificou-se que existia uma melhor

separação dos gradientes com o EDTA, o que permitiu uma recolha muito mais

eficiente da camada dos granulócitos. Com citrato e heparina a separação dos gradientes

não foi tão eficaz, o que resultou numa pior recolha das células alvo deste estudo e

consequentemente no menor número de células isoladas por mL de sangue. Estes

resultados corroboram um estudo realizado anteriormente por Nielsen (1985), que

estudou a influência de cinco anticoagulantes no isolamento e actividade funcional de

monócitos humanos. Neste estudo, o isolamento foi efectuado por um método de

centrifugação de gradiente de densidade utilizando sangue tratado com EDTA, citrato,

Page 88: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Discussão

75

heparina, oxalato e EGTA. O número de monócitos isolados foi superior com EDTA e

heparina. A viabilidade celular e a actividade funcional não apresentaram variações com

os anticoagulantes. Globalmente, o presente trabalho e o estudo realizado anteriormente

por Nielsen (1985) indicam que a utilização de diferentes anticoagulantes durante a

recolha de sangue poderá ter uma grande influência nos níveis de cálcio nos

componentes sanguíneos e consequentemente com os resultados de ensaios a realizar

posteriormente.

Estando a metodologia utilizada para a separação das células relacionada com

diferenças de densidade, o que permite a separação em gradiente de diferentes camadas

de células, estes resultados sugerem que a heparina e o citrato alteram de alguma forma

a densidade das mesmas, originando uma menor eficiência na sua distribuição pelos

gradientes, nomeadamente na camada dos granulócitos. Em termos práticos, com o

citrato, verificou-se um arrastamento de mononucleares praticamente até à camada dos

granulócitos. Esta por sua vez não se encontrava bem definida, prolongando-se até à

camada dos glóbulos vermelhos. Com a heparina, a diferenciação das camadas era

ligeiramente melhor do que com o citrato mas pior do que com o EDTA. Isto pode

indicar que o citrato e heparina originam uma agregação das células, resultando em

diferenças na densidade e consequentemente numa pior disposição das camadas. Esta

hipótese é corroborada por Mahony e Ferguson (1992), cujo estudo teve como objectivo

comparar as características de sangue tratado com heparina ou citrato. Após análise ao

microscópio de sangue do mesmo dador, tratado com heparina, os autores detectaram

que existia agregação de células. Esse agregado era composto maioritariamente por

plaquetas, alguns neutrófilos e uma pequena quantidade de linfócitos. A análise, por

ultrasons, de sangue tratado com citrato revelou uma agregação de plaquetas e

neutrófilos, embora menos considerável em quantidade e tamanho do que com a

heparina. De certa forma, estes resultados podem explicar o diferente número de

neutrófilos isolados com os três anticoagulantes estudados no presente trabalho. De

facto, a pior visualização das camadas de células com citrato e heparina, parece ter

origem nas diferenças de densidade resultantes da agregação de células, nomeadamente

plaquetas e neutrófilos. Passada a fase da recolha dos granulócitos para outro tubo,

procede-se a uma lavagem com solução tampão PBS e a um processo de lise, no sentido

de eliminar alguma contaminação por glóbulos vermelhos. Nesta etapa, verificou-se que

com citrato e heparina a contaminação por glóbulos vermelhos era superior, o que

Page 89: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Discussão

76

advém do facto da camada de granulócitos ser menos visível com estes anticoagulantes.

Essa maior contaminação levou a que se repetisse a lise até se conseguir eliminar todos

os glóbulos vermelhos. Este tarefa foi difícil quando os neutrófilos foram tratados com

citrato, em que se chegou a efectuar três lises. A agregação de componentes celulares

verificada anteriormente por Mahony e Ferguson (1992), poderá explicar a maior

resistência dos eritrócitos aos processos de lise, embora sejam ainda necessários estudos

experimentais para confirmar esta hipótese.

Os resultados obtidos no estudo seguinte, no qual se testou a activação, pelo PMA,

de neutrófilos humanos isolados de sangue tratado com citrato, EDTA ou heparina,

permitiram verificar o grau de estimulação dos neutrófilos isolados. Vários autores

referiram já a capacidade deste composto solúvel, obtido por síntese química, em

estimular os PMN (Robinson et al., 1987; Downey et al., 1992; Nixon e McPhail; 1999;

Seguchi e Kobayashi, 2002; Saito et al., 2005). O seu mecanismo de acção é muito

semelhante ao DAG, promovendo a translocação da PKC do citoplasma para a

membrana plasmática, onde ocorre a fosforilação do p47phox, etapa crucial na activação

da NADPH oxidase. Após activação da enzima há produção de O2-., que constitui o

primeiro produto para a geração de espécies reactivas (Majumdar, et al., 1991; Downey

et al., 1992; Nixon e McPhail, 1999; Karlsson e Dahlgren, 2002). Este radical é

rapidamente convertido, espontaneamente ou pela acção da enzima SOD, em H2O2

(Cheesman e Slater, 1993; Campana et al., 2004). O H2O2 é importante pois origina, via

reacção de Fenton ou de Haber-Weiss, o radical mais reactivo e deletério para o

organismo, o radical HO. (Ferreira e Matsubara, 1997; Barbosa et al., 2006; Mladenka

et al., 2006). O H2O2 pode também ficar sujeito à acção da MPO, presente nos grânulos

azurófilos dos neutrófilos. Esta enzima contribui consideravelmente para a capacidade

bactericida dos PMN, via formação de HOCl (Hampton et al., 1998; Peskin e

Winterbourn, 2001; Splettstoesser e Werner, 2002). A interacção de O2-., H2O2 e HOCl

pode originar uma molécula muito reactiva, o 1O2 (Ferreira e Matsubara, 1997;

Splettstoesser e Werner, 2002). Segundo Tepperman et al. (2000), a PKC tem também a

capacidade de activar a iNOS, responsável pela conversão do aminoácido L-arginina em .NO e L-citrulina (Fernandes et al., 2003; Ricciardolo et al., 2006). O .NO reage

rapidamente com o O2-. para formar ONOO- (Dedon e Tannenbaum, 2004). Em

condições fisiológicas o ONOO- tem um tempo vida inferior a 1 segundo, sendo

imediatamente convertido à sua forma protonada, ONOOH, que por fissão homolítica

Page 90: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Discussão

77

origina .NO2 e HO. (Coddington et al., 1999; Whiteman et al., 2002; Alvarez e Radi,

2003). A reacção directa do ONOO- com CO2 é particularmente importante devido à

elevada concentração deste elemento in vivo e à rapidez com que a reacção ocorre.

Dessa reacção resulta um novo aducto, o ONOOCO2-, cuja decomposição origina cerca

de 70% de CO2 e NO3- e 30% dos radicais .NO2 e CO3

-. (Denicola et al., 1998;

Coddington et al., 1999; Whiteman et al., 2002).

Verificou-se que o grau de activação dos neutrófilos pelo PMA foi diferente

consoante o anticoagulante utilizado, sendo menor com o EDTA e semelhante com

citrato e heparina. Este perfil manteve-se quando os PMN foram estimulados com

nitrato de níquel. Engstad et al. (1997) compararam o efeito de quatro anticoagulantes,

EDTA, citrato, heparina e hirudina, noutras funções desempenhadas por monócitos,

PMN e plaquetas de sangue humano, nomeadamente a activação dos monócitos, no

sangue total, induzida pela adição de 5 ng/mL de lipopolissacarídeos durante 1 a 6

horas, a activação dos PMN, que foi determinada pela medição da concentração da

lactoferrina no sangue total após 90 min de incubação, com ou sem, lipopolissacarídeos.

Nas plaquetas, os autores estudaram a capacidade dos anticoagulantes modificarem a

libertação dos grânulos α por parte destas células. Embora estes resultados tenham sido

observados noutro tipo de funções, o perfil relativo de activação foi semelhante ao

obtido no presente trabalho, ou seja, verificou-se uma maior activação dos neutrófilos

com heparina, e menor com citrato e EDTA. A maior activação dos neutrófilos tratados

com heparina, pode estar relacionada com o facto deste anticoagulante levar a uma

maior expressão de moléculas de adesão. Quando o neutrófilo recebe a informação de

uma reacção inflamatória em curso, ocorre uma profunda alteração no seu metabolismo

com a consequente activação da célula. Essa activação passa pela expressão das suas

moléculas de adesão, com a posterior produção de espécies reactivas. As moléculas de

adesão são glicoproteínas expressas na superfície celular, que medeiam o contacto entre

duas células ou entre células e a matriz extracelular (Sgarbi et al., 2006). O processo de

adesão pode ser dividido em pelo menos três etapas distintas. Num primeiro momento,

o neutrófilo circulante, que em situações normais ocupa a região central do vaso

sanguíneo, aproxima-se da parede vascular e rola sobre o endotélio. Numa segunda fase,

o neutrófilo entra em contacto com o vaso, sofre a acção de substâncias solúveis

libertadas no local (citocinas quimiotácticas) e passa a expressar moléculas activadas

que vão determinar uma ligação firme à superfície endotelial. Somente, então, o

Page 91: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Discussão

78

leucócito é capaz de migrar através do vaso em direcção ao tecido (Quintaes e Noronha,

1998; Sgarbi et al., 2006). Diferentes moléculas estão envolvidas em cada uma das

etapas de adesão e migração. Assim, de maneira geral, as moléculas de adesão dividem-

se em i) selectinas; ii) integrinas e iii) superfamília das imunoglobulinas. As selectinas

promovem uma fraca ligação inicial do neutrófilo ao endotélio (Cavalcanti, 1997;

Quintaes e Noronha, 1998). A superfamília das imunoglobulinas compreende uma

variedade de proteínas de cadeia única com múltiplos domínios de características

semelhantes às das imunoglobulinas e actuam como ligantes de outras moléculas de

adesão (Cavalcanti, 1997; Quintaes e Noronha, 1998). As integrinas são heterodímeros,

expressos na superfície dos leucócitos, que formam uma classe especial de receptores

constituídos por subunidades α e β. Entre os diversos membros da família das

integrinas, três estão especialmente envolvidos na adesão do leucócito ao vaso:

CD11a/CD18, CD11b/CD18 e CD49d/CD29. As demais integrinas são responsáveis

por interacções com a matriz extracelular (Cavalcanti, 1997; Quintaes e Noronha,

1998). Segundo vários autores, a heparina, ao contrário do citrato e EDTA, leva à

activação de moléculas de adesão dos neutrófilos, nomeadamente as integrinas CD11b e

a CD18 (Habbal et al., 1995; Repo et al., 1995; 1996; Shalekoff et al., 1998). Ambas

constituem um marcador da activação dos neutrófilos e são expressas na superfície dos

neutrófilos ou podem ser mobilizadas de três organelos intracelulares, os grânulos

específicos, grânulos de gelatinase e vesículas secretoras (Shalekoff et al., 1998; Caimi

et al., 2006). Habbal et al. (1995) alertam para a escolha adequada do anticoagulante,

pois a elevada expressão da CD11b com a consequente estimulação de neutrófilos

tratados com heparina pode levar a falsos positivos. A expressão da CD11b ocorre

facilmente durante os processos de isolamento das células, entre outros factores, porque

é muito dependente da temperatura, como tal, os neutrófilos devem ser mantidos em

gelo e de preferência todo o manuseamento das células ser efectuado a baixas

temperaturas. Uma alteração de temperatura de 4ºC para 37ºC origina uma expressão

elevada desta integrina (Repo et al., 1995; Youssef et al. 1995). O mesmo pode ter

acontecido no presente trabalho, já que a heparina per si leva à expressão da

CD11b/CD18, o que associado ao facto das leituras no leitor de placas serem realizadas

a 37ºC, pode ter levado a uma maior expressão dessas integrinas e assim, explicar a

superior sensibilidade dos neutrófilos a activadores do “burst” respiratório. De acordo

com a bibliografia consultada, o EDTA não aumenta a expressão das integrinas

CD11b/CD18 nos neutrófilos. Este facto parece estar relacionado com a sua capacidade

Page 92: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Discussão

79

de quelatar iões cálcio do meio extracelular, que são essenciais para a estrutura e função

de adesão das integrinas. O citrato, embora também actue como quelante de iões, não

afecta tanto a expressão da CD11b, sugerindo que não interfere com os locais de ligação

do cálcio às moléculas CD11b (Repo et al., 1995).

A menor activação dos neutrófilos tratados com EDTA foi também verificada por

Wu et al. (1999), que estudaram o efeito do anticoagulante na percentagem de

neutrófilos activados. Sugeriram que a heparina seria uma melhor opção ao EDTA, pois

o último inibia a activação dos PMN. A menor activação dos neutrófilos tratados com

EDTA pode estar relacionada com o seu mecanismo de anticoagulação passar pela

quelatação de iões cálcio (Engstad et al., 1997). Estes constituem um elemento crucial

na transdução de sinais extracelulares, responsáveis pela activação de algumas respostas

por parte dos neutrófilos, como desgranulação, a activação de oxidases como a NADPH

oxidase com produção de superóxido e consequentemente de outras espécies reactivas

(Geiszt et al., 1997). O fluxo de cálcio no interior dos neutrófilos pode ocorrer de duas

formas: i) rápida, com aumento de cálcio intracelular devido à libertação deste ião

armazenado no interior da célula, nomeadamente no retículo endoplasmático, induzida

pelo inositol 1,4,5-trifosfato (IP3); ii) aumento do cálcio intracelular devido ao seu

influxo do meio extracelular. Há evidências de que a libertação do cálcio armazenado

no interior da célula leva a um aumento do influxo deste ião pelos canais membranares

(Geiszt et al., 1997). O cálcio extracelular tem um papel importante na resposta

oxidativa das células, possivelmente através da activação da fosfolipase A2. Esta enzima

hidrolisa fosfolípidos da membrana, libertando ácido araquidónico, que tem um papel

importante na activação da NADPH oxidase (Tithof et al., 1998). Porém, os

mecanismos pelos quais o cálcio intracelular origina um aumento da geração de

superóxido são ainda pouco claros (Valentin et al., 2001). Rac1 é uma proteína G

monomérica, que faz parte da NADPH oxidase. Fazem parte desta enzima outras

subunidades: p67phox, p47phox e p40phox, que se encontram distribuídas no

citoplasma, o flavocitocromo b558, que pode estar na membrana plasmática ou na

membrana de alguns grânulos dos neutrófilos e outra proteína G, a Rac 2. A activação

da NADPH oxidase leva a uma deslocação das proteínas citoplasmáticas até à

membrana onde se unem às subunidades lá existentes, resultando numa oxidase activa,

capaz de produzir superóxido (Nixon e McPhail, 1999, Seguchi e Kobayashi, 2002,

Klebanoff, 2005). Segundo Valentin et al. (2001) a mobilização do cálcio intracelular

Page 93: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Discussão

80

leva à activação da Rac 1, que por sua vez, estimula a actividade da NADPH oxidase.

Um estudo realizado por Movitz et al. (1997) refere que a translocação das subunidades

citoplasmáticas não é induzida pelo cálcio per si, mas sim por moléculas de sinalização

celular geradas em resposta a um aumento da cálcio intracelular (de referir que essas

moléculas não estão ainda identificadas). Um aumento dos níveis de cálcio intracelular

é suficiente para activar a NADPH oxidase situada nos grânulos dos neutrófilos, tal não

se verificando com a NADPH oxidase localizada na membrana plasmática (Karlsson e

Dahlgren, 2002). Tendo em conta a importância deste ião na activação dos neutrófilos,

efectuou-se um estudo no âmbito de quantificar o cálcio livre intracelular em neutrófilos

isolados de sangue tratado com citrato, EDTA e heparina. Os resultados revelaram que

os neutrófilos tratados com EDTA possuem uma menor concentração de cálcio livre

intracelular. Este é um resultado concordante com a forma de acção deste

anticoagulante, ou seja, sendo um agente quelante, tem a capacidade de quelatar iões

cálcio e consequentemente originar uma menor entrada de cálcio para o interior da

célula. Portanto, a menor activação verificada com o EDTA poderá estar relacionada

com uma diminuição dos níveis de cálcio durante o processo de isolamento.

No estudo referente à activação pelo nitrato de níquel, de neutrófilos humanos,

tratados com diferentes anticoagulantes, verificou-se que os sais de Ni têm capacidade

para activar os neutrófilos, induzindo a produção de espécies reactivas. Em trabalhos

anteriores, Huang et al. (2001) realizaram medidas por ressonância electrónica de spin e

demonstraram que fibroblastos de rato em cultura, em contacto com 10 µg de Ni3S2 ou

2 mM de NiCl2 aumentam significativamente a geração de ROS. Testaram inibidores

enzimáticos e capatadores de espécies reactivas e concluíram que a estimulação dos

fibroblastos pelos compostos de Ni gera HO., e que o O2-. e o H2O2 estão envolvidos no

mecanismos de geração desse radical. Também Chen et al (2003b), através da oxidação

da diclorofluoresceína, revelaram que NiCl2 leva à produção de ROS, de uma forma

dependente da concentração (0-10 mM), em linfócitos humanos. Um estudo por

citometria de fluxo, realizado por Cavallo et al. (2003) demonstrou um aumento dos

níveis de ROS numa linha de células humanas (Jurkat) expostas durante quatro horas a

uma concentração de 0,17 µM de NiSO4. O processo pelo qual ocorre a produção de

espécies reactivas ainda não está totalmente esclarecido. A produção de espécies

reactivas depende muito da habilidade do Ni em formar o par redox Ni(III)/Ni(II). O Ni

(II) pode reagir com O2 ou H2O2, gerando HO. (Kasprzak et al., 2003). A geração do

Page 94: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Discussão

81

radical HO. pode ocorrer através da reacção Fenton/Haber-Weiss (Torreilles e Guérin,

1990). Segundo alguns autores, o Ni leva a um aumento dos níveis intracelulares de

cálcio (Salnikow e Costa, 1999; Memba-Meka et al., 2005). De acordo com M’Bemba-

Meka et al. (2005), embora o Ni possa funcionar como bloqueador dos canais de cálcio

ou competir com este pela entrada na célula pelos mesmos canais, o Ni tem um efeito

compensatório, aumentando os níveis de cálcio por duas vias, pela libertação pela

mitocôndria e pelo retículo endoplasmático. Tendo em conta o supracitado acerca da

importância do cálcio na activação dos neutrófilos, este pode ser considerado um dos

mecanismos pelos quais o Ni levou a uma activação dos PMN, embora sejam

necessários mais estudos para corroborar esta hipótese.

Com a utilização do luminol como luminóforo podemos saber se existem espécies

reactivas envolvidas no processo de activação dos neutrófilos. Contudo, não é possível

inferir sobre quais as que efectivamente participam no processo. Nesse sentido,

realizou-se um estudo com inibidores enzimáticos e captadores de espécies reactivas, já

que estes compostos, ao captarem uma determinada espécie reactiva, ou inibirem a sua

produção, vão competir com o luminol na sua reacção com estas originando assim uma

diminuição da luminescência. As enzimas NADPH oxidase e mieloperoxidase são

determinantes na produção de ROS, sendo a primeira responsável pela formação de O2.-

com subsequente formação de H2O2 e HO. e a segunda pela formação de HOCl. Tendo

isso em conta, foram utilizados inibidores das enzimas acima referidas, DPI (1 µM) e

ABAH (10 µM), respectivamente. O DPI e o ABAH originaram uma inibição

praticamente completa da activação dos neutrófilos independentemente dos

anticoagulantes anteriormente utilizados. Este resultados permitem confirmar que o O2.-

e o HOCl estão envolvidos no processo de activação dos neutrófilos. Testou-se também

um captador do O2.-, o tiron, cuja concentração de 2 mM levou a uma inibição completa

da activação, o que corrobora o supracitado. Com a catalase (2,5 U/mL), captador do

H2O2, obteve-se uma inibição da produção de espécies reactivas inferior mas ainda

assim efectiva. Os resultados obtidos indicam que no processo de activação dos

neutrófilos, para além do H2O2, existem outras espécies que contribuem para a oxidação

do luminol. Tendo em conta os efeitos do DPI e tiron sobre a produção de espécies

reactivas, pode-se concluir que o O2-. participa na activação dos neutrófilos,

contribuindo para a oxidação do luminol na presença de catalase. A aplicação do

manitol, captador do HO., aos neutrófilos isolados com citrato originou também alguma

Page 95: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Discussão

82

inibição da activação dos neutrófilos. Poderá concluir-se que há produção de várias

espécies reactivas, decorrente da estimulação dos neutrófilos, nomeadamente o O2.-,

H2O2 , o HO. e o HOCl. A enzima NOS é muito relevante na produção de RNS, levando

à libertação de .NO e subsequentemente de ONOO-. Como tal, testou-se o L. NAME,

cujo efeito é inibir a acção desta enzima. Os resultados obtidos indicaram que a

activação dos neutrófilos foi apenas ligeiramente inibida, sugerindo que, nas presentes

condições experimentais, as RNS não têm uma participação preponderante na activação

das células. Segundo Radi et al. (1993) o .NO não é capaz de oxidar o luminol. Contudo

no interior do neutrófilo, este é rapidamente convertido em ONOO-, e este sim tem

capacidade para oxidar o luminol (Radi et al., 1993; Chen et al., 2003a). De referir que

os resultados dos captadores de espécies reactivas e inibidores enzimáticas foram

semelhantes com os três anticoagulantes alvo deste estudo, sugerindo que o tipo de

espécies reactivas produzidas pelos neutrófilos não variam consoante o anticoagulante

utilizado.

Page 96: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Conclusões finais

83

6 CONCLUSÕES FINAIS

Page 97: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

Conclusões finais

84

O trabalho realizado permitiu a obtenção de novos conhecimentos acerca do

isolamento e estimulação de neutrófilos humanos. As conclusões mais relevantes dos

estudos realizados são as seguintes:

1. A eficiência no isolamento dos neutrófilos depende do anticoagulante utilizado,

sendo o EDTA o que proporciona o isolamento de um maior número de neutrófilos.

2. O grau de activação dos neutrófilos pelo PMA depende do anticoagulante,

verificando-se maior estimulação das células com heparina e citrato do que com EDTA.

3. Os neutrófilos isolados de sangue tratado com EDTA possuem uma menor

concentração de cálcio livre intracelular, relativamente aos obtidos de sangue tratado

com heparina e com citrato.

4. O grau de activação dos neutrófilos isolados de sangue tratado com EDTA está

estreitamente correlacionado com os níveis de cálcio intracelulares quantificados após o

isolamento destas células.

5. Constatou-se que o nitrato de níquel possui o potencial de activar os neutrófilos

humanos isolados de sangue tratado com heparina citrato e EDTA, tendo sido obtido

um perfil relativo de activação semelhante ao do PMA.

6. Nas presentes condições experimentais, os neutrófilos activados pelo nitrato de

níquel originam as seguintes ROS: O2-., H2O2, HO. e HOCl. O .NO não parece ter um

papel relevante durante a estimulção dos neutrófilos pelo nitrato de níquel.

Page 98: Efeito do Ni(II) em neutrófilos humanos

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7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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