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Cleanto Rogério Rego Fernandes EFEITO DO ALERTA E VALÊNCIA EMOCIONAL SOBRE OS COMPONENTES DE LEMBRANÇA E FAMILIARIDADE DA MEMÓRIA EPISÓDICA Natal, 2014

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Cleanto Rogério Rego Fernandes

EFEITO DO ALERTA E VALÊNCIA EMOCIONAL SOBRE

OS COMPONENTES DE LEMBRANÇA E FAMILIARIDADE

DA MEMÓRIA EPISÓDICA

Natal, 2014

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Cleanto Rogério Rego Fernandes

EFEITO DO ALERTA E VALÊNCIA EMOCIONAL NOS

COMPONENTES DE LEMBRANÇA E FAMILIARIDADE DA

MEMÓRIA EPISÓDICA

Dissertação apresentada à Universidade Federal

do Rio Grande do Norte como requisito para

obtenção do título de Mestre em Psicobiologia

Orientador: Prof. John Fontenele Araujo

Natal, 2014

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TÍTULO DA DISSERTAÇÃO:

Efeito do alerta e valência emocional nos componentes de lembrança e

familiaridade da memória episódica.

AUTOR:

Cleanto Rogério Rego Fernandes

LOCAL E DATA DE APRESENTAÇÃO:

Natal, 30 de julho de 2014.

Comissão avaliadora:

_______________________________

Prof. Dr. John Fontenele Araujo (Orientador)

Depto. de Fisiologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_______________________________

Prof. Dr. Mario Andre Leocadio Miguel (Examinador Interno)

Depto. de Fisiologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_______________________________

Prof. Dr. Flávio Freitas Barbosa (Examinador Externo)

Depto. de Psicologia, Universidade Federal da Paraíba

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Agradecimentos

O psicólogo canadense Endel Tulving considera que a memória episódica

nos permite fazer uma “viagem mental no tempo”. Ao término de qualquer

empreendimento, sentimos a necessidade de fazer essa viagem. Pois eu, agora,

faço um breve relato do que vi e senti ao revisitar o passado.

De volta acelerada ao passado, na fração de um segundo, chego aos

primeiros anos de década de 1990, numa cidade pequena sobre uma serra, Martins-

RN. Naquela época e naquele lugar, vejo minha família. Meu irmão sempre por

perto, seja em casa, na rua ou na escola. De fato, ele sempre foi um bom parceiro,

desde os tempo difíceis de vida intrauterina, onde dividimos um espaço feito para

um. Lá vejo nossa Mãe mais jovem, porém não muito diferente. Desde aquela

época, tinha como prioridade a educação dos filhos. Encontro também nosso Pai, o

que provoca em mim uma emoção muito forte, ao lembrar de quando ainda estava

entre nós. Me surpreende como ele educava pelo exemplo, sem nunca ter lido sobre

a eficácia desta estratégia. Na passagem pela serra, encontro com meus

professores. Quanto trabalho eu dei a eles! E eles me retribuíam com paciência,

generosidade, e esforço pela minha educação.

Fazendo uso de artifícios que só uma viagem mental proporciona, dou um

salto enorme no espaço-tempo e venho até Natal, no final da década de 2000,

quando era estudante de Ciências Biológicas. Vejo, novamente, a possibilidade de

estudar a cognição e o comportamento por meio de um ponto de vista biológico.

Esse interesse me levou a cursar as disciplinas complementares ligadas ao

Programa de Psicobiologia. Em uma destas disciplinas, conheci a Professora

Fabíola Albuquerque, com quem realizei minha iniciação na pesquisa científica e no

estudo da memória. Minha viagem mental permite reviver momentos agradáveis de

quando nós e outros colegas fazíamos parte do Laboratório de Estudos da Memória.

Adiante na linha do tempo, termino o bacharelado em Ciências Biológicas e

cresce meu interesse sobre as bases biológicas do comportamento e, em especial,

pela memória. Assim, me apresento para fazer o mestrado em Psicobiologia no

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Laboratório de Neurobiologia e Ritmicidade Biológica, coordenado pelo Prof. John

Fontenele Araujo. Aceito pelo programa e pelo laboratório, passo a frequentar as

disciplinas e o laboratório. No laboratório as pessoas são muito interessadas e

ativas. Os estudantes são de diversas formações, estudam vários fenômenos em

humanos, saguis e roedores. Os sotaques são de todos os tipos. Em minha viagem

mental no tempo consigo, em silêncio e sem citar seus nomes, abraçar cada um

dos meus colegas. John mantem no laboratório um acervo rico e diversificado de

livros que estão disponíveis para os alunos, fazendo do laboratório uma fonte

valiosa de conhecimento, sendo que sua pessoa também é fonte valiosa de

conhecimento. Igualmente rica e diversificada é a formação dos alunos no

laboratório. Pude agora viajar rapidamente da programação em MATLAB até a

filosofia da ciência, passando neurobiologia das doenças mentais. Nos intervalos e

horas “vagas”, durante o almoço, aprendo sobre política, filosofia e sociologia geral,

educação e muito mais.

Nesta revisitação ao laboratório durante os últimos três anos, vejo mais uma

vez e definitivamente reconheço o privilégio de quem desse grupo faz parte. Vejo e

reconheço que a relação foi assimétrica, muito mais meu orientador e meus colegas

me ofereceram do que eu lhes ofereci. Muito mais me preocupei com minha

formação do que com a produção que é esperada de um estudante de mestrado.

Estou em dívida com todos. No meu caso, mais do que em outros, é importante

afirmar: é minha a responsabilidade pelos erros. De minha parte, asseguro que o

mestrado foi uma época muito importante para mim, e de muita alegria. Talvez isso

explique ser o primeiro a entrar e o último a sair.

Após minha viagem mental no tempo, não há dúvida de que tive

contribuições importantes além das que encontrei entre meus familiares, orientador

e colegas. Durante o mestrado recebi bolsa financiada pela população brasileira,

através de impostos pagos ao governo federal e repassados ao Conselho Nacional

de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A minha pesquisa contou

com a participação de vários voluntários que, de forma anônima e sem qualquer

remuneração, deram sua contribuição ao estudo.

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A todas essas pessoas que encontrei nessa visita ao passado, expresso

meus sinceros e afetuosos agradecimentos, bem como desculpas pelas minhas

falhas. Estou à disposição de vocês no que puder ajudar.

Abraços,

Cleanto

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Sumário Agradecimentos ................................................................................................... 5

Lista de figuras .................................................................................................... 9

Lista de gráficos ................................................................................................. 10

Resumo ............................................................................................................. 11

Abstract.............................................................................................................. 12

Apresentação ........................................................................................................ 13

Cap. 1 - Memória ................................................................................................ 14

O que é e para que serve? ................................................................................ 14

Classificação da memória .................................................................................. 15

Modelo de duplo processo da memória episódica ............................................. 21

Cap. 2 - Relação entre memória e emoção ........................................................ 27

Efeito da emoção sobre a memória episódica ................................................... 29

Neurobiologia da modulação emocional da memória ........................................ 32

Aspectos da memória episódica modulados pela emoção ................................ 39

Efeitos diferencias do alerta e valência emocional ............................................ 42

Relevância da pesquisa sobre emoção e memória ........................................... 46

Perspectivas teóricas e metodológicas na investigação do efeito da emoção sobre a memória episódica ................................................................................ 47

Cap. 3 - Experimento .......................................................................................... 50

EFEITO DO ALERTA E VALÊNCIA EMOCIONAL NOS COMPONENTES DE LEMBRANÇA E FAMILIARIDADE DA MEMÓRIA EPISÓDICA ........................ 50

Introdução .......................................................................................................... 50

Método ............................................................................................................... 55

Análises ............................................................................................................. 60

Resultados ......................................................................................................... 63

Discussão .......................................................................................................... 67

Referências bibliográficas ..................................................................................... 73

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Lista de figuras

Fig. 1 – Modelo de memória proposto por Squire e Zola-Morgan ......................... 17

Fig. 2 - Modelo de memória de Henke .................................................................. 20

Fig. 3 - Exemplo de uma curva ROC típica ........................................................... 25

Fig. 4 - Formas de classificação da memória e emoção ....................................... 29

Fig. 5 - Curva de Yerkes-Dodson .......................................................................... 31

Fig. 6 - Circuitos da modulação emocional da memória ........................................ 38

Fig. 7 - Procedimento de treino ............................................................................. 58

Fig. 8 - Procedimento de teste .............................................................................. 60

Fig. 9 - Graus de confiança obtidos a partir da classificação dos participantes. ... 61

Fig. 10 - Elaboração de curva ROC ...................................................................... 62

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Lista de gráficos

Gráfico 1 – Memória para estímulos de alto e baixo alerta em indivíduos com e

sem lesão na amígdala. ........................................................................................ 33

Gráfico 2- Alerta e valência das figuras do IAPS ................................................... 56

Gráfico 3 - Alertas e valência das figuras utilizadas no experimento .................... 56

Gráfico 6 - Índice de acurácia de acordo com o tipo de lista ................................. 65

Gráfico 7 - Índice de viés de resposta de acordo com o tipo de lista .................... 66

Gráfico 8 - Curvas ROC médias conforme o tipo de lista ...................................... 66

Gráfico 9 - Índice de lembrança conforme o tipo de lista ...................................... 67

Gráfico 10 - Índice de familiaridade conforme o tipo de lista ................................. 67

Gráfico 11 - Resultados encontrados no presente trabalho e no realizado por

Ochsner (2000). .................................................................................................... 70

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Resumo

O sistema de memória episódica nos permite recuperar informações sobre eventos,

incluindo os seus aspectos contextuais. Tem sido sugerido que a memória episódica

é composta por dois componentes independentes: lembrança e familiaridade. A

lembrança está relacionada com a recuperação vívida e detalhada dos itens e sua

informação contextual, enquanto a familiaridade é a capacidade de reconhecer os

itens previamente vistos como familiares. Apesar do fato de que a emoção é um dos

processos mais influentes na memória, poucos estudos têm investigado o seu efeito

sobre a lembrança a familiaridade. Outra limitação dos estudos sobre o efeito da

emoção na memória é que a maioria deles não considerou adequadamente os

efeitos diferenciais do alerta e valência positiva / negativa. O principal objetivo do

presente trabalho é investigar o efeito independente do alerta e valência emocional

na lembrança e familiaridade, bem como testar algumas hipóteses que têm sido

sugeridas sobre o efeito da emoção na memória episódica. Os participantes da

pesquisa realizaram uma tarefa de reconhecimento de três listas de fotos

emocionais: negativa de alto alerta, positiva de alto alerta e positiva de baixo alerta.

Na sessão de teste, os participantes também avaliaram o nível de confiança de suas

respostas. As avaliações de confiança foram utilizados para traçar curvas ROC e

estimar as contribuições da lembrança e familiaridade no desempenho do

reconhecimento. Como principais resultados, verificou-se que a valência negativa

aumentou o componente de lembrança, sem qualquer efeito sobre a familiaridade

ou acurácia do reconhecimento. O alerta não afetou o desempenho de

reconhecimento ou de seus componentes, mas o maior alerta foi associado com

uma maior proporção de falsas memórias. Este trabalho destaca a importância de

considerar as dimensões emocionais e componentes de memória episódica no

estudo do efeito da emoção sobre a memória episódica, uma vez que eles

interagem de forma complexa e independente.

Palavras-chave: teoria do duplo processo; reconhecimento; falsas memórias.

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Abstract

The episodic memory system allows us to retrieve information about events,

including its contextual aspects. It has been suggested that episodic memory is

composed by two independent components: recollection and familiarity. Recollection

is related to the vivid e detailed retrieval of item and contextual information, while

familiarity is the capability to recognize items previously seen as familiars. Despite

the fact that emotion is one of the most influent process on memory, only a few

studies have investigated its effect on recollection and familiarity. Another limitation

of studies about the effect of emotion on memory is that the majority of them have

not adequately considered the differential effects of arousal and positive/negative

valence. The main purpose of the current work is to investigate the independent

effect of emotional valence and arousal on recollection and familiarity, as well as to

test some hypothesis that have been suggested about the effect of emotion on

episodic memory. The participants of the research performed a recognition task for

three lists of emotional pictures: high arousal negative, high arousal positive and low

arousal positive. At the test session, participants also rated the confidence level of

their responses. The confidence ratings were used to plot ROC curves and estimate

the contributions of recollection and familiarity of recognition performance. As the

main results, we found that negative valence enhanced the component of

recollection without any effect on familiarity or recognition accuracy. Arousal did not

affect recognition performance or their components, but high arousal was associated

with a higher proportion of false memories. This work highlight the importance of to

consider both the emotional dimensions and episodic memory components in the

study of emotion effect on episodic memory, since they interact in complex and

independent way.

Key words: dual-process theory; recognition; false memories.

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Apresentação

Esta dissertação é constituída por três capítulos. No primeiro deles, eu

apresento o conceito de memória e alguns paradigmas utilizados na sua

classificação, fazendo uma comparação das qualidades e limitações dessas

classificações. No segundo capítulo é discutida a interação entre emoção e memória

episódica, bem como os principais desafios na pesquisa sobre o assunto. Por fim,

no terceiro capítulo, como contribuição empírica ao estudo do efeito da emoção na

memória episódica, é relatado um estudo que teve como objetivo principal investigar

como as dimensões de alerta e valência emocional influenciam os componentes de

lembrança e familiaridade da memória episódica.

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Cap. 1 - Memória

O que é e para que serve?

Uma das caraterísticas mais notáveis da vida é sua plasticidade, isto é, a

capacidade dos organismos vivos de modificarem sua estrutura e função em

resposta a estímulos ambientais, o que lhes permite melhor responder aos desafios

ecológicos que enfrentam. Nos animais, principalmente entre aqueles que possuem

sistema nervoso (a maioria), a plasticidade ganhou uma nova dimensão. A função

do sistema nervoso é regular a homeostase e controlar o comportamento. Essa

função, que ele realiza em colaboração com os sistemas endócrino e imunológico,

consiste em receber informações sobre os meios internos e externo, processar

essas informação e, quando oportuno, dar uma resposta adequada que será

executada por órgãos efetores. No caso da interação com o meio externo, esse

processo ocorre através de ciclos de sensação-ação e a resposta é o

comportamento (Fuster, 2001, 2008).

O tecido nervoso, como todos os tecidos biológicos, possui plasticidade. Na

verdade, o tecido nervoso é notavelmente plástico, podendo alterar sua estrutura

em diversos níveis de dimensão (de receptor de membrana até agrupamentos de

células) e abrangência (em apenas um louco ou por várias áreas). Essas alterações,

é claro, resultam de interações com o meio. Isso significa que o sistema nervoso

pode ser modificado pelo ambiente e, como consequência disso, os ciclos de

sensação (percepção) e ação (comportamento) também podem.

Dessa forma, o sistema nervoso tem a capacidade de armazenar informação

sobre as experiências que o organismo teve e de utilizar essa informação para

melhor controlar os ciclos de sensação-ação. A memória é, então, um conjunto de

sistemas e processos interativos que permite a modificação do processamento de

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informação e comportamento por meio de alterações estruturais e funcionais no

tecido nervoso. Seu valor adaptativo está no fato de proporcionar uma melhor

resposta dos organismos a desafios ecológicos que estão associados a alguma

forma de padrão, contingência ou probabilidade.

Classificação da memória

Pense na seguinte situação:

Você acorda pela manhã e vai tomar café. Enquanto pensa nas tarefas que

terá que cumprir ao longo de mais um dia de trabalho ou estudo, vai até a primeira

gaveta do armário da cozinha para pegar uma colher, mas, para sua surpresa, não

há nenhum talher lá. Você questiona um familiar onde estão os talheres, afinal, eles

estivaram lá nos últimos anos. O familiar lhe responde que eles agora ocupam a

terceira gaveta. Então você vai até a terceira gaveta e pega uma colher. No dia

seguinte, a mesma rotina. Você, distraído, chega na cozinha para tomar o café e vai

até o armário para pegar uma colher. Abre a primeira gaveta e não vê nada, só

então lembra que elas mudaram de lugar, agora estão na terceira gaveta. Esse

fenômeno lhe deixa curioso. Você já sabia que os talheres estavam em outro lugar,

mas mesmo assim permaneceu no erro. É como se dentro de sua cabeça

existissem duas informações: uma dizendo que os talheres estão na primeira

gaveta; e outra que eles estão na terceira gaveta. Durante o resto da semana você

se dá conta de mais uma coisa: um tipo de informação muda rapidamente, seu

familiar disse que agora os talheres estão na terceira gaveta e pronto, você já sabe;

mas outro tipo leva um tempo para mudar, é esse tipo de informação que lhe

“persegue” e o leva a errar. Você nota, também, que quando está atento na tarefa

de tomar café você vai para a terceira gaveta, mas quando está distraído ou

pesando em outras coisas vai para a primeira gaveta. Por fim, você se pergunta:

“Quantas memórias eu tenho?”.

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A situação fictícia descrita acima tem algo de real. Cenas semelhantes a essa

já aconteceram inúmeras vezes na vida cotidiana das pessoas comuns. Essa

situação ilustra algo interessante: a memória não é um fenômeno unitário nem

homogêneo. Pelo contrário, representa a interação de vários processos e

mecanismos independentes que, em comum, permitem o armazenamento e

recuperação de informações.

A compreensão da multiplicidade da memória não tem suporte apenas no

conhecimento cotidiano, mas também no conhecimento científico. Inúmeros

estudos envolvendo tarefas comportamentais e avaliação neuropsicológica de

pacientes com determinadas formas de lesão encefálica mostraram que a memória

é formada por vários sistemas independentes (ainda que interativos) e vários

estágios de processamento. Não é o propósito deste texto revisar os estudos que

levaram a essa compreensão. O leitor interessado pode consultar ótimas revisões

em artigos científicos e livros texto (Baddeley, Anderson, & Eysenck, 2011; Colombo

& Bohbot, 2013; Squire & Wixted, 2011; Tulving, 2001; Xavier, 1993). O objetivo

aqui é mais desafiador e relevante, que é revisar e questionar quais são esses

sistemas e processos e quais critérios são utilizados em sua classificação.

Em primeiro lugar, é importante entender que toda classificação é uma

taxonomia baseada em critérios. E, como bem argumentaram Willingham & Goedert

(2001), a memória não é exceção. Como estes pesquisadores revisaram, existem

mais de dez propostas de modelos e teorias para classificação da memória (de 2001

para cá outros foram propostos).

De todos esses modelos, certamente o mais aceito e conhecido é o proposto

por Larry Squire e Stuart Zola-Morgan (Squire & Kandel, 2003; Squire & Zola-

Morgan, 1996; Wixted & Squire, 2011; Zola-Morgan & Squire, 1993). De acordo com

seu modelo, existem dois sistemas de memória, que são a memória declarativa (ou

explícita) e a memória não-declarativa (ou implícita). A memória declarativa é aquela

que nos permite armazenar informação sobre fatos e eventos e recuperá-los de

forma consciente, o que nos permite declarar seu conteúdo. A consolidação para

longo prazo da memória declarativa depende da integridade estrutural e funcional

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do lobo temporal medial. O sistema de memória não-declarativa, por sua vez, está

relacionado com a formação de hábitos, aprendizagem de procedimentos e outras

formas implícitas de aprendizagem, como condicionamento clássico, priming,

sensibilização e habituação. A memória implícita não é afetada por perturbações no

funcionamento do lobo temporal medial, seus substratos neurais estão nos núcleos

da base e cerebelo. Cada sistema é classificado em subsistemas (Fig. 1).

O modelo de Squire e Zola-Morgan adota três critérios na elaboração da

taxonomia: (1) a dissociação da arquitetura neural envolvida, ou seja, a lesão dos

substratos neurais da memória explícita não prejudica a memória implícita e vice-

versa; (2) o tipo de informação processada; e, principalmente (3) a forma como a

informação é recuperada, se conscientemente ou não. Esse modelo tem várias

vantagens, se mostrou aplicável a humanos e vários outros modelos animais, tem

Fig. 1 – Modelo de memória proposto por Squire e Zola-Morgan

Sistemas de memória propostos por Squire e Zola-Morgan e seus substratos neurais. Casa sistema é constituídos por subsistemas. Fonte: elaborado pelo autor a partir de (Henke, 2010).

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fundamentação neurobiológica e relevância clínica, uma vez que prediz os prejuízos

cognitivos que uma pessoa terá ao sofre lesão em algumas das estruturas

envolvidas na memória.

Apesar disso, alguns pesquisadores tem criticado seu modelo e apresentado

modelos alternativos. Uma teoria recentemente apresentada para a classificação da

memória de logo prazo foi elaborada por Katharina Henke. Seu modelo traz a

proposta de classificar a memória de acordo com os modos de processamento de

informação (Henke, 2010) , ao invés de adotar como critério principal o envolvimento

da consciência na codificação e aprendizagem (como fizeram Squire e Zola-

Morgan).

Henke (2010) argumenta que (1) o número de séries necessárias para a

aprendizagem, (2) a complexidade cognitiva e (3) a natureza da representação

mental também são fatores relevantes na classificação da memória. Quanto ao

primeiro aspecto, pode-se observar que memória episódica e priming requerem

apenas um sessão de treino, mas para a formação de novos hábitos e o

condicionamento clássico são necessárias várias séries de treino. A complexidade

da informação processada também é um critério importante: enquanto a memória

episódica processa informação multissensorial e com contexto espacial e temporal,

o priming e condicionamento estão relacionados com informação mais simples. Por

fim, existe uma diferença na representação mental da informação: na memória

episódica essa representação é composta (inclui os elementos individuais e o

contexto geral) e flexível (os elementos são codificados independentemente e

podem ser recuperados de várias formas), enquanto na memória de procedimentos

os elementos são inseparáveis.

Em seu artigo, Henke também questiona a teoria de que o hipocampo está

envolvido exclusivamente com formas conscientes de memória (Henke et al., 2003),

apresentando estudos que mostram que a função hipocampal é a aprendizagem

rápida e associativa de informação (informação sobre o que – quando – onde), seja

inconsciente ou consciente, de curto ou longo prazo. Ademais, pode haver formação

de memória para itens e seu contexto espacial-temporal independente do

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hipocampo, por meio do neocórtex. A diferença, neste caso, é que são necessárias

várias sessões de treino, enquanto no caso da consolidação por meio do hipocampo

apenas uma série de treino é suficiente (depois o hipocampo irá gradativamente

consolidar essa informação no neocórtex).

Henke (2010) fundamenta também sua teoria nos trabalhos feitos por

Howard Eichenbaum e seus colegas sobre a função do hipocampo e outras

estruturas do lobo temporal medial em roedores. E um de seus experimentos

(revisados por Eichenbaum & Fortin, 2003; Eichenbaum, 2000), eles verificaram que

tanto ratos com lesão hipocampal quanto animais controle (sem lesão) são capazes

de aprender a associação entre dois odores, no entanto, apenas os animais do

grupo controle foram capazes de expressar alguma flexibilidade das memórias

formadas (como por exemplo a capacidade de associar dois estímulos na ordem

inversa que foram apresentados durante o treino). Assim, os ratos lesionados

apresentam o que poderia se chamar de uma memória explícita normal, mas de

uma forma rígida e inflexível.

Alguns estudos neuropsicológicos de pacientes com lesão no hipocampo

mostraram que seu maior prejuízo ocorre na memória para associação entre

estímulos que para itens únicos, mas que eles podem aprender essas associações

se lhes for possibilitado muitas sessões de treino (isso foi demonstrado, inclusive,

para o famoso caso do paciente H.M. por O’Kane, Kensinger, & Corkin, 2004).

Esses e outros estudos levaram Henke (2010) a propor um novo modelo para

a memória, no qual o critério principal de classificação é como ocorre o

processamento da informação. O modo de processamento selecionado resulta em

memória com propriedades diferentes e quem podem ser descritas pelos termos

clássicos de episódica, semântica etc. Seu modelo, ilustrado na Fig. 2, propõe a

existência de três modos principais de processamento, aqui vistos como sistemas

de memória:

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1. Codificação rápida de associações flexíveis: permite a

formação de memória episódica (contextual) em apenas uma série de

codificação e depende do hipocampo e neocórtex;

2. Codificação lenta de associações rígidas: permite a formação

de memória de procedimentos e hábitos, condicionamento clássico e

integração de nova informação na memória semântica, em processos

dependentes dos núcleos da base, cerebelo e neocórtex; a memória

semântica pode ser formada de duas formas, diretamente no neocórtex, ou

por meio da memória episódica (seta tracejada na Fig. 2, cujo conteúdo, com

o tempo, passa por um processo de semantização;

3. Codificação rápida de itens únicos: por meio de uma única

exposição pode criar familiaridade e priming, em processoso que dependem

do córtex parahipocampal e neocórtex; essas duas formas de memória são

ativadas pela apresentação de um item igual ou semelhante.

Modelo proposto por Henke (2010) para classificação da memória bom base no modo de processamento da informação. Fonte: elaborado pelo autor a partir de Henke (2010).

Fig. 2 - Modelo de memória de Henke

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Este modelo tem algumas vantagens. Primeiro, explica melhor os resultados

observados em pacientes e em animais, especialmente quando e lesão é restrita ao

hipocampo (algo raro de acontecer em humanos mas que pode ser realizado em

outros animais). Segundo, na medida em que não adota a consciência como critério

principal de classificação, permite uma maior interação entre os estudos feitos com

humanos e outros animais, sendo portanto um que modelo faz muito sentido

biológico e evolutivo.

Modelo de duplo processo da memória episódica

O termo “memória episódica” foi cunhado por Endel Tulving para um dos

subsistemas da memória declarativa relacionado com a memória para eventos, que

permite a recuperação da informação em seu contexto espacial e temporal (a tríade

“o que - onde - quando”). O outro subsistema é a memória semântica, que seria

uma memória para fatos, não associada a um lugar no espaço ou intervalo no tempo

(Tulving, 1995, 2002). Os conceitos de memória episódica e semântica foram

amplamente aceitos pela psicologia e neurociência e incorporados a vários modelos

de memória (Tulving, 1998), inclusive nos modelos de Henke (2010) e Squire e Zola-

Morgan (1996).

A memória episódica, por permitir a lembrança para eventos, tem um caráter

autobiográfico, sendo, às vezes, também chamada de memória autobiográfica. Para

alguns pesquisadores, a memória autobiográfica é uma parte ou extensão da

memória episódica, pois não permite apenas lembrar algo em algum lugar e época

no passado, mas lembrar como a pessoa estava e se sentia diante de algo em

alguma época e lugar no espaço. Assim, mais que uma memória para o que – onde

– quando, a memória autobiográfica envolveria o self (Gauer & Gomes, 2008;

Piolino, Desgranges, & Eustache, 2009).Apesar da ampla aceitação e robustez do

conceito de memória episódica, algumas questões foram e estão sendo colocadas

a seu respeito, em especial a hipótese de ser constituída por dois componentes.

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Por introspecção, muitas pessoas podem ter se dado conta de que ao

encontrar uma pessoa conhecida, um antigo colega de escola, por exemplo, podem

lembrar com vividez e detalhes quem ela é e quais eram suas características, além

de onde, quando e como se conheceram. Em outras situações, é possível encontrar

alguém na rua e ter e sensação de que conhece essa pessoa. Às vezes, a sensação

é tão forte que a pessoa tem a convicção de que conhece essa pessoa, mas não

lembra quem ela é, muito menos de onde a conhece. A aflição da dúvida pode

continuar até que, enfim, vem à lembrança. Isso explica alguma coisa sobre a

memória episódica, ou o que se sabe sobre a memória episódica explica por que

isso ocorre?

No estudo científico da memória episódica, um dos procedimentos mais

usados são as tarefas de reconhecimento. Nestas, a pessoa é apresentada a um

conjunto de estímulos e, após um intervalo de tempo variável, os estímulos vistos

são misturados com estímulos novos, sendo todos apresentados ao participante da

pesquisa. Sua tarefa é discriminar quais são os estímulos vistos anteriormente e

quais são os novos. O desempenho das pessoas em testes de reconhecimento

parece se basear em duas “fontes” de informação. Algumas vezes, a pessoa lembra

vividamente que viu o estímulo durante o treino. Outras vezes, a pessoa não lembra

se viu o estímulo, mas tem uma impressão subjetiva de tê-lo visto, pois o estímulo

lhe parece familiar. Então a pessoa se baseia na lembrança vívida e, quando esta

não ocorre, no senso de familiaridade para ter o melhor desempenho possível no

teste (Wixted, 2007).

As primeiras evidências de que o desempenho em um teste de

reconhecimento é baseado na lembrança e familiaridade vieram de dois protocolos

especiais de tarefas de reconhecimento. O primeiro desses protocolos são as

tarefas de reconhecimento do tipo lembrar/saber (orginalmente remember/know).

Neste protocolo, além de responder ser viu ou não o estímulo anteriormente, no

caso de responder que viu o participante deve dar uma informação adicional:

responder se apenas tem um senso de familiaridade com o estímulo (“sabe”) ou se

recuperou vividamente em sua consciência o estímulo (“lembra”) (Migo, Mayes, &

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Montaldi, 2012). O segundo protocolo é a tarefa de reconhecimento com grau de

confiança, no qual além de responder se viu o não o item durante o treino, o

participante responde o quanto está confiante de que sua resposta está certa,

usando para isso uma escala de 1 a 3. Alternativamente, ele pode dar essas duas

respostas de uma só vez, responde uma escala de 1 a 6, na qual um extremo

significa “certamente novo” e o outro “certamente velho” (Yonelinas, Dobbins,

Szymanski, Dhaliwal, & King, 1996). Em qualquer um dos casos, os resultados são

utilizados para estimar a contribuição da lembrança e da familiaridade para o

desempenho no teste (Rotello, Macmillan, & Reeder, 2004; Stanislaw & Todorov,

1999).

Os dois protocolos trouxeram evidências de que familiaridade e lembrança

são processos independentes que se somam para permitir o reconhecimento da

informação encontrada previamente (uma ampla revisão sobre o assunto foi feita

por Yonelinas, 2002). Essas pesquisas mostraram que os componentes são

influenciados de forma independente por várias manipulações cognitivas,

comportamentais e farmacológicas. Assim, uma determinada variável pode

aumentar a lembrança e não alterar a familiaridade, enquanto outra variável pode

aumenta e lembrança e diminuir a familiaridade. O efeito de algumas dessas

variáveis está sumarizado na Tabela 1.

Tabela 1 - Algumas variáveis que influenciam os componentes de lembrança e

familiaridade, de acordo com revisão feita por Yonelinas (2002).

Variável Lembrança Familiaridade

Nível de processamento + +

Benzodiazepínicos - 0

Atenção dividida no teste - 0

Tempo entre treino e teste - -

Maior fluência do estímulo 0 +

Envelhecimento - 0

Legenda: + (aumenta), (-) diminui e (0) nenhum efeito

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Além das dissociações evidenciadas por essas variáveis, existem outras

evidências em favor dessa teoria de duplo processo. A familiaridade torna-se mais

rapidamente acessível que a lembrança, sendo que quando o limite de tempo para

respostas em um teste de reconhecimento é muito curto (p. ex. menos de 1

segundo), a resposta é dada com base exclusivamente na familiaridade (Wixted,

2007). Esses dois componentes também apresentam correlatos eletrofisiológicos

distintos, como mostraram estudos de potenciais relacionados a eventos feitos

durante testes de reconhecimento (Düzel, Vargha-Khadem, Heinze, & Mishkin,

2001).

Quando os dados obtidos em um teste de reconhecimento com grau de

confiança são analisados conforme a teoria de detecção do sinal e é produzida uma

curva ROC1, as características obtidas da curva são diferentes para lembrança e

familiaridade. Uma curva ROC típica obtida a partir dos graus de confiança em um

teste de reconhecimento é apresentada na Fig. 3. De acordo com as premissas da

teoria de detecção do sinal, a curvilinearidade e assimetria do traçado evidenciam

que dois componentes são necessários para explicar a desempenho no

reconhecimento (Macmillan & Creelman, 2005). Vários estudos feitos por Yonelinas

e seus colegas demonstraram que a assimetria da curva é uma medida do

componente de lembrança, e o grau curvilinearidade é uma medida da familiaridade.

Dessa forma, uma curva ROC simétrica significa que não houve contribuição do

componente de lembrança para o desempenho no teste de reconhecimento,

enquanto um traçado linear significa que não houve contribuição da familiaridade

(Yonelinas & Parks, 2007; Yonelinas, 2002).

Experimentos sobre a contribuição desses dois componentes para o

reconhecimento foram realizados em pacientes com lesão, e mostraram que

lembrança e familiaridade são dependentes de regiões cerebrais diferentes

1 Uma curva ROC, do inglês receiver operting caracteristics, é uma curva obtida a partir de pontos que são plotados no espaço cartesiano ortogonal onde um eixo representa a taxa de acertos e outros a taxa de alarmes falsos. Cada ponto representa esses dois valores para um determinado grau de confiança. Para saber mais sobre o assunto, consultar Macmillan, N. A., & Creelman, C. D. (2005). Detection theory: a user guide (2nd ed.). Mahwah, New Hersey: LEA.

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(Eichenbaum, Yonelinas, & Ranganath, 2007; Vann et al., 2009; Yonelinas et al.,

2004). Pacientes com lesão hipocampal apresentam um prejuízo severo na

lembrança, sem alteração na familiaridade. Adicionalmente, os correlatos

eletrofisiológicos da lembrança estão ausentes nesses pacientes, mas os correlatos

da familiaridade estão presentes.

As evidências de que os componentes de lembrança e familiaridade estão

relacionados com áreas diferentes do cérebro levaram a teoria de que esses

componentes sejam algo mais que simples contribuintes para o reconhecimento,

mas componentes do sistema de memória episódica (Yonelinas, Aly, Wang, & Koen,

2010a; Yonelinas, 2001a). Essa teria ganhou força recentemente, depois que

Sauvage e seus colegas desenvolveram um protocolo experimental capaz de testar

Exemplo de curva ROC que pode ser obtida através da plotagem dos índices de acerto e alarme falso para cada um dos graus de confiança. A assimetria do traçado, identificada pelo ponto em que tange o eixo vertical, representa o índice de lembrança. O grau de curvatura do traçado, medido pela distância entre o ápice da curva e a linha de probabilidade do acaso, representa o componente de familiaridade. Fonte: elaborado pelo autor a partir de (Macmillan & Creelman, 2005).

Fig. 3 - Exemplo de uma curva ROC típica

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o reconhecimento em ratos para diferentes níveis de viés (equivalente aos grau de

confiança em humanos). A curva obtida foi semelhante à observada em humanos,

com as características de assimetria e curvilinearidade. Posteriormente, esses

pesquisadores submeteram ratos com lesão hipocampal e animais controle ao

mesmo protocolo e observaram que a lesão hipocampal prejudica severamente o

componente de lembrança sem afetar a familiaridade (Eichenbaum, Sauvage,

Fortin, & Yonelinas, 2008; Sauvage, Fortin, Owens, Yonelinas, & Eichenbaum,

2008; Sauvage, 2010).

Os trabalhos de Andrew Yonelinas com humanos, e de Magdalena Sauvage

com ratos fazem sentido quando considerados em conjunto com as pesquisas de

Howard Eichenbaum sobre o funcionamento do hipocampo e córtices adjacentes

do lobo temporal medial. Eichenbaum (2000, 2013) propõe uma arquitetura

funcional para o lobo temporal medial na qual a representação inicial dos itens

únicos (o que) ocorre no córtex perrinal e no córtex entorrinal lateral, e a informação

contextual (onde, quando) é representada no córtex parahipocampal e no córtex

entorrinal medial. A função do hipocampo é integrar os itens entre si e ao contexto,

formando uma associação.

Todos esses trabalhos convergem para a teoria de que a memória episódica

é formada por dois componentes:

1. Familiaridade: está relacionada com a memória para itens únicos e

depende espacialmente do córtex parahipocampal e áreas adjacentes;

2. Lembrança: está relacionado com a memória contextual e associativa

e depende especialmente do hipocampo.

Por fim, a classificação da lembrança e familiaridade como componentes da

memória episódica é debatida. Na classificação de Henke (2000), já discutida neste

texto, a lembrança é entendida como sendo a memória episódica, enquanto a

familiaridade é classificada como fazendo parte de outro sistema.

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Cap. 2 - Relação entre

memória e emoção

Para uma melhor compreensão da memória episódica, além de se buscar

entender quais são seus componentes e como estes interagem, é importante

investigar como a memória se relaciona com outros processos cognitivos, como

atenção, percepção e emoção.

A valência emocional dos estímulos, sejam eles positivos/apetitivos ou

negativos/aversivos e com diferentes níveis de intensidade, sinaliza sua relevância

para a sobrevivência e sucesso reprodutivo dos indivíduos. Para ser mais correto, é

essa relevância que faz com que o estímulo seja identificado pelos organismos como

emocional. De um ponto de vista evolutivo, faz muito sentido que o conteúdo

emocional receba por nosso sistema nervoso um processamento diferencial – e

muitas vezes preferencial – em relação ao conteúdo que não apresenta essa

relevância.

Com efeito, dentre os processos fisiológicos e cognitivos que de alguma

maneira influenciam a codificação, consolidação e recuperação da memória

episódica, um dos mais importantes e, provavelmente, um dos mais estudados é a

emoção (Baddeley et al., 2011; J. L. McGaugh, 2000). Esse programa de pesquisa

vem desafiando uma dicotomia entre emoção e cognição (da qual fazem parte, além

da memória, processos como atenção e percepção). Essa dicotomia, que assume a

forma de uma separação e até mesmo oposição entre “pensamento x emoção” ou

“razão x emoção”, faz parte do conhecimento cotidiano das pessoas e já teve e tem

muito espaço nas discussões entre filósofos. Mesmo no âmbito da psicologia e

neurociências, nas quais essa oposição hoje é reduzida, existem termos usados para

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separar cognição e emoção. Por exemplo, os processos subjetivos e conscientes que

possuem valência emocional são chamados de processo afetivos, em oposição aos

processos cognitivos, que são emocionalmente neutros. Faz mais sentido, inclusive

quando levamos em conta os substratos neurobiológicos desses processos,

considerar os processos afetivos como sendo também processos cognitivos, ou a

expressão consciente da interação entre cognição e emoção (Pessoa, 2008 faz uma

revisão crítica sobre o assunto).

Como apresentado no capítulo anterior, e sumarizado na Fig. 4, memória e

emoção não são processos homogêneos. Pelo contrário, são o resultado da interação

dinâmica entre diferentes processos, áreas e circuitos neurais muitas vezes

independentes. A emoção pode ser classificada conforme suas dimensões (Lang &

Bradley, 2010; Lang, 1995), tipos básicos (Ekman, Levenson, & Friesen, 1983),

mecanismos de sobrevivência (LeDoux, 2012) e forma de expressão (Damásio, 1996).

De forma semelhante, a memória é formada por distintos sistemas que são

processados em várias etapas (Squire & Kandel, 2003).

A multiplicidade desses processos torna a investigação da relação entre

emoção e memória uma tarefa complexa. A forma como um determinado aspecto da

emoção influencia um aspecto em particular da memória não significa que a relação

seja a mesma quando são considerados outros aspectos. Por exemplo, uma situação

de alerta emocional (estresse agudo) favorece a codificação e consolidação da

informação vivida na ocasião, principalmente dos elementos mais alertantes e centrais

do contexto. Mas numa situação de estresse agudo a recuperação é prejudicada,

principalmente de informação emocionalmente neutra. Então, se um estudante está

ansioso durante a realização de uma prova, ele provavelmente recordará essa

situação desagradável no futuro, devido a um favorecimento da codificação e

consolidação. Mas, durante a prova, ele terá dificuldade em lembrar o conteúdo

previamente estudado – uma forma de bloqueio da recuperação a qual muitos

estudantes reclamam (Schacter, 1999).

Assim, o alerta emocional pode ter efeitos opostos sobre a memória episódica,

dependendo da etapa em que a experiência emocional acontece, o que ilustra a

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importância de se levar em consideração a limitação das pesquisas que tratam da

relação entre emoção e memória. Esse assunto será melhor explicado ainda neste

capítulo.

Adiante, será revisado: (1) como a emoção modula o processamento da

informação no sistema de memória episódica, (2) os mecanismos neurobiológicos

envolvidos, (3) quais aspectos deste sistema de memória são mais influenciados pela

emoção e (4) o papel das dimensões de alerta e valência emocional nessa modulação.

No fim do capítulo, será discutida a (5) relevância da pesquisa sobre a relação entre

memória e emoção e as (6) perspectivas teóricas e metodológicas para essa linha de

estudo.

Efeito da emoção sobre a memória episódica

Como exposto acima, por muito tempo predominou a noção de que memória e

emoção estão em campos opostos da mente. Com base nessa ideia, os cientistas e

Fonte: elaborado pelo autor.

Fig. 4 - Formas de classificação da memória e emoção

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pessoas em geral acreditavam que quando esses dois fenômenos interagissem seria

de forma a um prejudicar ao outro. De acordo com essa hipótese, o único efeito

possível da emoção sobre a memória seria de dificultar que a informação fosse

armazenada e recuperada (ver revisão de Kensinger, 2008).

Um marco na pesquisa experimental sobre memória e emoção foi o trabalho

realizado por Brown & Kulik (1977), que iniciaram uma linha de investigação sobre a

memória para eventos autobiográficos de elevada intensidade emocional. Em sua

pesquisa, eles investigaram, 14 anos depois, a recordação das pessoas para o

assassinato do presidente americano John Kennedy, o que eles referem ser um

evento de impacto emocional intenso e amplo sobre a população americana. O

principal achado da pesquisa foi que a maioria das pessoas ainda lembrava onde

estavam e como souberam da notícia, a hora (aproximada) do dia e o que estavam

fazendo naquela ocasião. Os participantes da pesquisa também relataram ter uma

lembrança muito vívida da ocasião. Brown e Kulik interpretaram seus resultados como

indicativo de que um evento emocionalmente muito intenso produzia uma forma de

memória muito rica em quantidade de informação, vívida (como se fosse um “replay”

da cena) e que permanecia acessível à lembrança mesmo após muitas décadas,

sendo portanto resistente ao esquecimento ao longo do tempo (transiência) que é

característico da memória declarativa. A esse tipo de memória eles deram o nome de

flashbulb memories2.

Do trabalho pioneiro de Brown & Kulik (1977) até o presente, muita pesquisa

foi feita a respeito do efeito da emoção sobre a memória episódica, em laboratório e

em situações de validade ecológica, inclusive envolvendo situações públicas

emocionalmente impactantes (ex: estudo de Sharot, Martorella, Delgado, & Phelps

(2007) sobre os “atentados terroristas de 11 de setembro”, em 2001 em New York). O

entendimento atual é de que essas situações emocionalmente muito impactantes não

produzem memórias tão fiéis e resistentes à transiência, nem existe um tipo especial

2 O termo “flashbulb memory”, algumas vezes é traduzido para língua portuguesa como “memória vívida” (Baddeley et al., 2011) ou até mesmo “memória em lampejo” (Gauer & Gomes, 2008). Entretanto, é comum o uso do termo na sua forma original em inglês, como descrito por (Brown & Kulik, 1977).

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de memória para tal (Kensinger, 2009). Entretanto, o pioneirismo de seu trabalho em

demonstrar que eventos emocionais são mais e melhor recordados que os eventos

neutros instigou o interesse dos cientistas para investigar como a emoção poderia

afetar a memória.

E, desde então, o que foi feito nessa linha de pesquisa? Muitos trabalhos, com

humanos (saudáveis e em condições patológicas) e utilizando modelos animais, já

foram realizados. Já existe um considerável corpo de conhecimento sobre os

processos neurais envolvidos na modulação emocional da memória, os eventos

fisiológicos relacionados e os processos cognitivos envolvidos.

De uma maneira geral, o conjunto de pesquisas até agora realizados mostra

um efeito de aumento da emoção sobre a memória, pois, na maioria dos

procedimentos usados em investigação, os estímulos emocionais são mais ou de

alguma forma melhor recuperados que os neutros. Esse efeito de favorecimento da

memória pela emoção muitas vezes

ocorre de forma quantitativa, mas

também existe uma efeito sobre a

qualidade da informação e tipos de

detalhes que são evocados

(Kensinger, 2008c). Em algumas

situações, geralmente relacionadas

com emoção extrema, pode haver um

efeito prejudicial, como nos casos de

amnésia dissociativa (ou

psicogênica), em que a pessoa

passou por um trauma emocional e

não consegue lembrar nada da

ocasião. Outras vezes, também em

decorrência de situações negativas extremas, a pessoa fica recordando a situação

repetida e involuntariamente, numa condição classificada por profissionais de saúde

mental como um transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) (Baddeley, Kopelman,

Representação da curva de Yerkes-Dodson. O aumento da intensidade da emoção ou estresse resulta em melhor desempenho até um ponto ótimo, a partir do qual o desempenho declina. Fonte: elaborado pelo autor a partir de (Diamond et al., 2007)

Fig. 5 - Curva de Yerkes-Dodson

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& Wilson, 2002). Nesses dois casos – amnésia dissociativa e TEPT – ocorre algo

comum à relação entre emoção e processos cognitivos de uma forma geral: a emoção

favorece o processamento até certo nível de intensidade, alcançando um ponto ótimo

e, a partir de então, há um declínio no desempenho cognitivo. Esta relação, quando

expressa em dois eixos no plano cartesiano, produz um gráfico de “U invertido”,

conhecido como curva de Yerkes-Dodson (Fig. 5; para uma discussão sobre a

chamada lei de Yerkes-Dodson, com ênfase na memória emocional, ver Diamond,

Campbell, Park, Halonen, & Zoladz, 2007).

Duas questões tem sido importantes na compreensão do efeito da emoção

sobre a memória episódica. A primeira é se isso ocorre através da modulação de

processos que influenciam a memória para qualquer tipo de informação (atenção,

nível de processamento, repetição etc) ou se existem processos envolvidos

exclusivamente na memória para estímulos emocionais. A outra questão é: em quais

estágios de processamento – codificação, consolidação ou recuperação - ocorre esse

efeito? Discutir estas questões implica, primeiro, entender os substratos neurais

envolvidos.

Neurobiologia da modulação emocional da memória

Existe um razoável corpo de conhecimento sobre as áreas e circuitos neurais

subjacentes à modulação emocional da memória (Hamann, 2001; Harmann, Lee, &

Adolphs, 1999; Kensinger, 2008h; Labar & Cabeza, 2006; James L McGaugh, 2006).

Boa parte desses trabalhos foi realizada em animais não-humanos (principalmente

roedores) e investigaram mecanismos conservados na evolução que existem em

nossa espécie ou utilizaram modelos experimentais que tentam reproduzir, ao menos

em alguns aspectos, esses processos em humanos. Outra parcela de estudos foi

realizada em pacientes com lesão de diferentes causas e dimensões no encéfalo. Na

últimas décadas, o desenvolvimento de técnicas de neuroimagem funcional – como

ressonância magnética e tomografia por emissão de pósitrons - permitiu o estudo da

modulação emocional da memória em humanos saudáveis.

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Existe um circuito de estruturas encefálicas responsáveis pela emoção. Um dos

componentes deste circuito é a amígdala, que é uma estrutura essencial na

modulação emocional da memória (Hamann, 2001). Evidências disso vem do relato

de casos de pacientes que sofrem de uma doença autoimune que produz lesão

seletiva bilateral da amígdala sem comprometimento do hipocampo ou quaisquer

outras estruturas temporais mediais - doença de Urbach-Wiethe.

Phelps et al. (1998) relataram o caso de uma mulher com a doença Urbach-

Wiethe (paciente S.P., 54 anos). O estudo, que teve também a participação de um

grupo controle de pessoas saudáveis, envolveu várias tarefas de memória episódica,

no curto e longo prazos, com estímulos emocionais e neutros. A paciente não

apresentou a melhor evocação de estímulos alertantes que é observada em pessoas

saudáveis. Seu desempenho na recordação de estímulos alertantes e neutros foi

semelhante, e equivalente ao desempenho do grupo controle para itens neutros.

Assim, S.P. apresentou memória normal, mas sem o efeito de aumento na recordação

para estímulos alertantes. Entretanto, quando a dimensão de valência foi considerada,

foi observado uma diferença: itens positivos e negativos foram mais lembrados que

os neutros.

Desempenho típico de indivíduos com lesão na amígdala devido a doença de Urbach-Wiethe e indivíduos controle em tarefa de memória episódica para estímulos de alto e baixo alerta. Fonte: elaborado pelo autor a partir de Markowitsch & Staniloiu (2011).

Gráfico 1 – Memória para estímulos de alto e baixo alerta em indivíduos com e sem lesão na amígdala.

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Phelps e seus colegas também analisaram o desempenho da paciente e do

grupo controle de acordo com o intervalo de tempo entre treino e teste. Considerando

os estímulos de alerta baixo, tanto S.P. como o grupo controle apresentam um declínio

no desempenho após o intervalo de uma hora. No caso do estímulos de alerta alto,

por outro lado, as pessoas saudáveis apresentam uma melhora no desempenho após

o intervalo treino-teste, o que não aconteceu com a paciente. A doença de Urbach-

Wiethe é rara e oferece uma oportunidade única para estudos envolvendo lesão

restrita às amígdalas, pois é muito raro que outras formas de lesão que envolvem a

amígdala (trauma, acidente vascular etc) não danifiquem outras estruturas do lobo

temporal. Além do caso descrito acima, alguns outros foram investigados (p. ex. o

paciente B.P.; Cahill, Babinsky, Markowitsch, & McGaugh,1995). No geral, o que se

observa é que a amígdala intacta é necessária para que os estímulos alertantes sejam

mais recuperados que os com baixo alerta, um efeito que é especialmente observado

com o passar do tempo entre as sessões de treino e teste.

Com o propósito de uma melhor compreensão da função da amígdala na

modulação emocional da memória, vários estudos envolvendo imagem funcional e

tarefas comportamentais de memória episódica foram realizados. Esses estudos,

revisados por Hamann (2001) e por Kensinger (2008b), mostram uma maior atividade

da amígdala durante a codificação de estímulos alertantes (tanto positivos quanto

negativos), em comparação com estímulos neutros. Além disso, existe uma correlação

entre o grau de ativação da amígdala e do hipocampo durante a codificação de um

item emocional e a probabilidade de o mesmo ser posteriormente recuperado durante

a etapa de teste. Entretanto, se o teste for realizado imediatamente após o treino,

nenhuma correlação com a amígdala é observada.

Existe, assim, uma concordância entre os estudos neuropsicológicos e de

neuroimagem de que a amígdala é uma estrutura essencial para o aumento da

memória observado para o conteúdo alterante e, como esse efeito aparece apenas

após um intervalo de tempo decorrido do treino, parece que esse efeito ocorre

principalmente sobre o processo de consolidação da memória. Essa teoria também

tem suporte de estudos com outros animais.

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Contudo, esses estudos demonstraram que a amígdala não é necessária na

modulação da memória para a informação emocional não-alterante. A maioria dos

trabalhos realizados utilizaram estímulos com alto nível de alerta, não se preocupando

em investigar os mecanismos envolvidos na memória para estímulos positivos e

negativos de baixo alerta. O primeiro trabalho a utilizar neuroimagem para investigar

os mecanismos subjacentes aos efeitos tanto do alerta quanto da valência foi

realizado por Kensinger & Corkin (2004). Os participantes de sua pesquisa realizaram

um sessão de treino para palavras negativas alertantes, negativas não-alertantes e

neutras durante o escaneamento por ressonância magnética funcional e, após 10 min

de intervalo, realizaram um teste de reconhecimento. Os participantes apresentaram

maior acurácia na discriminação de palavras negativas (alertantes ou não) que para

palavras neutras. Entre os achados relevantes da análise da imagem funcional, está

uma maior atividade na amígdala e hipocampo para palavras negativas dos dois níveis

de alerta que para palavras neutras, e uma maior atividade das partes inferior e

dorsolateral do córtex pré-frontal (PFC, de prefrontal cortex) durante a codificação das

palavras negativas não alertantes em comparação com palavras negativas alertantes

e neutras. Quanto maior a ativação da amígdala e hipocampo durante a codificação

de uma palavra negativa, maior foi a acurácia no teste de reconhecimento. Também

foi observada uma correlação positiva entre a atividade no PFC e desempenho no

teste para as palavras negativas não-alertantes.

A partir desses resultados, Kensinger e Corkin propuseram um modelo para a

modulação emocional da memória episódica baseado em dois circuitos distintos: um

circuito amígdala-hipocampo, relacionado com o alerta; e um circuito PFC-hipocampo,

relacionado com a valência. Assim, a amígdala responde ao alerta e o PFC à valência

emocional, e ambos modulam a atividade hipocampal. Seu modelo encontra suporte

nos estudos neuropsicológicos, pois pessoas com lesão restrita à amígdala, e portanto

com integridade funcional do hipocampo e PFC, apresentam uma modulação normal

da memória pela valência emocional (Labar & Phelps, 1998). Mas uma limitação de

seu trabalho foi que não utilizaram estímulos positivos.

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Evidências adicionais para essa teoria de duas rotas para a memória emocional

vem dos estudos com tarefas comportamentais. O PFC está relacionado a processos

como funções executivas e memória operacional. Como já se sabe, esses processos

são fundamentais para o sucesso da codificação de informação na memória

declarativa (Baddeley, Allen, & Hitch, 2010; Baddeley et al., 2011; Fuster, 2008). A

partir desta relação, pode-se predizer que o PFC modula a memória para informação

com valência emocional através do aumento do processamento dessa informação,

principalmente por meio do aumento da atenção sustentada para estímulos

emocionais, o que favorece a elaboração repetitiva da informação emocional por meio

do sistema de memória operacional. Vários estudos, revisados por Kensinger (2008a,

2008c), dão suporte a essa premissa. Algumas manipulações realizadas durante

tarefas comportamentais que interferem na memória operacional (como a realização

de uma tarefa concorrente durante a sessão de treino) ou que impedem a repetição e

elaboração (p. ex. a realização de uma tarefa concorrente durante as sessões de

treino e teste) reduzem ou eliminam a modulação da memória pela valência. Isso

significa que a valência emocional favorece o processamento e elaboração da

informação emocional, muitas vezes às custas da diminuição de processamento da

informação neutra, especialmente durante a codificação, mas também durante os

demais estágios da memória.

Se por um lado a interferência em processos como atenção sustentada e

memória operacional altera o efeito da valência, pouca ou nenhuma alteração ocorre

com relação ao efeito do alerta, sugerindo que este efeito é mais automático,

independente da elaboração consciente e relacionado com alterações neuroquímicas

e hormonais.

James McGaugh e seus colaboradores vem investigando os mecanismos

neurais e humorais envolvidos na modulação emocional da memória e, em especial,

o papel da amígdala nesse processo (Cahill et al., 1995; Cahill & McGaugh, 1995;

James L McGaugh & Roozendaal, 2002; van Stegeren, Everaerd, Cahill, McGaugh, &

Gooren, 1998) que, considerados em conjunto com trabalhos de outros

pesquisadores, os levaram à proposição de uma teoria para explicar a fisiologia da

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modulação da memória episódica pelo alerta emocional (McGaugh, 2000; 2006). De

acordo com sua teoria, a exposição a um estímulo alertante causa a ativação da

amígdala, a qual, através de vias diretas e indiretas, modula a função hipocampal. A

via direta é a projeção neural da amígdala diretamente para o hipocampo. A via

indireta envolve a projeção da amígdala para o hipotálamo e o desencadeamento de

uma resposta fisiológica através da ativação do sistema neurovegetativo (no caso a

divisão simpática) e do sistema neuroendócrino (no caso o eixo hipotálamo-hipófise

adrenal), as quais são as respostas fisiológicas naturais do organismos diante de um

estímulo alertante. O hormônios liberados pela glândula adrenal – cortisol e adrenalina

– caem na circulação e se ligam a receptores nos neurônios da amígdala, neocórtex

e hipocampo, alterando o funcionamento dessas regiões. Assim o principal

mecanismo pelo qual o alerta influencia a memória episódica seria através da

modulação direta e indireta do hipocampo pela amígdala.

O envolvimento desses hormônios é suportado por vários estudos. Tanto em

humanos como outros animais, a administração de hormônio corticoesteróide após a

codificação resulta em maior desempenho em tarefas de memória explícita e a

administração de antagonistas adrenérgicos elimina o efeito do alerta sobre a

memória (O’Carroll, Drysdale, Cahill, Shajahan, & Ebmeier, 1999; Schwabe et al.,

2009).

O efeito do alerta de um estímulo também pode favorecer a memória para

estímulos neutros que o antecederam. Anderson, Wais, & Gabrieli (2006) conduziram

um experimento que consistiu na apresentação de várias séries formadas, cada uma

por uma primeira figura neutra seguida de uma segunda figura que podia ser alertante

ou não. O intervalo entre as duas figuras era de 4 ou 9 segundos. Após 7 dias os

participantes realizaram um teste de reconhecimento. Os resultados mostraram que

as figuras neutras que foram seguidas por uma figura alertante no intervalo de 4

segundos foram melhor recuperadas que as demais. Esse estudo trouxe uma

evidência muito forte que o alerta atua principalmente (mas não exclusivamente)

através de processos automáticos que independem do tipo de processamento durante

a codificação.

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Em síntese, e respondendo as questões apresentadas na seção anterior,

parecem haver mecanismos distintos para o efeito da valência e do alerta sobre a

memória explícita (ver na Fig. 6 um esquema dos mecanismos envolvidos). O efeito

do alerta é automático, depende da amígdala e atua principalmente sobre o estágio

de consolidação do conteúdo. O efeito da valência emocional é mediado

principalmente pelo córtex pré-frontal, que está relacionado com processos que

influenciam sobremaneira a codificação, notadamente atenção e memória

operacional. Dessa forma, a valência atua modificando os mesmos processos

relacionados com a memória para informação neutra, enquanto o alerta desencadeia

mecanismos neurobiológicos especiais.

Principais vias neurais e humorais envolvidas na modulação emocional da memória episódica. A modulação pelo alerta ocorre por meio do circuito amígdala-hipocampo, enquanto a modulação pela valência ocorre por meio do circuito córtex-pré-frontal-hipocampo. Fonte: elaborado pelo autor.

Fig. 6 - Circuitos da modulação emocional da memória

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Aspectos da memória episódica modulados pela emoção

A memória não é um processo binário de lembrar ou esquecer. A recuperação

da informação pode acontecer de diferentes formas. Além da questão quantitativa (o

quanto da informação foi recuperada) existem aspectos qualitativos (o que

exatamente foi recuperado). Em nossas vidas, às vezes lembramos apenas de parte

da uma experiência, quando, por exemplo, lembramos que deixamos o carro nos

estacionamento mas não onde exatamente ele ficou ou, ainda, quando vemos uma

pessoa na rua que sabemos ter sido colega na escola mas não recordamos seus

nome. Na verdade, é possível que alguns aspectos de uma experiência sejam

recuperados com acurácia enquanto outros sejam distorcidos. Não é raro que uma

pessoa se refira a um evento passado como ocorrendo em um lugar ou épica diferente

de ondem de ocorreu. Este tipo de engano, conhecido como atribuição errada, é

considerado por Daniel Schacter como um dos Sete Pecados da Memória em nossa

vida cotidiana (Schacter, 1999, 2013).

Se a emoção é um dos fatores mais influentes sobre a memória, é muito

oportuno questionar quais de seus aspectos são influenciados. Com efeito, em muitas

situações o efeito da emoção só pode ser observado quando aspectos qualitativos

são levados em consideração. Vários estudos com tarefas de reconhecimentos não

encontraram nenhuma diferença no desempenho para estímulos neutros em

comparação com os emocionais (Ochsner, 2000), mas quando a tarefa é de

recordação livre, na qual não há dicas e o participante tem que lembrar o que viu

anteriormente, existe uma diferença, com o conteúdo emocional sendo mais lembrado

que o neutro.

Desde os estudos sobre memória para evento traumáticos, foi observado que

as pessoas relatam lembranças muito vívidas e ricas em detalhes da ocasião

emocional, o que significaria uma recuperação com muita acurácia. Dessa observação

surgiu uma questão importante: a emoção favorece realmente uma evocação acurada

e detalhada da experiência, ou apenas cria um senso subjetivo de vividez durante a

recuperação, tornando as pessoas mais confiantes de terem uma recordação fiel do

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que aconteceu? Não há outra forma de responder essa questão senão avaliando a

acurácia e detalhamento das recordações das pessoas para eventos emocionais.

Esse tipo de estudo é difícil de ser feito para eventos traumáticos que ocorrem na vida

das pessoas, pois normalmente não é possível saber realmente o que aconteceu na

ocasião. É necessário a realização de estudos controlados em laboratório.

No caso de a emoção aumentar a confiança das pessoas de terem uma

memória vívida, isso significaria uma maior propensão a falsas memórias, pois as

pessoas tenderiam a superestimar o quão certas estão de que suas recordações de

fato aconteceram. Essa predição já foi confirmada em muitos testes de

reconhecimento, revisados por Kensinger (2009), no qual a taxa de alarmes falsos foi

maior para a informação emocional. Isso significa que as pessoas tem uma tendência

maior de achar que viram um item anteriormente quando ele é emocional do que

quando é neutro.

Também existem evidências de que a emoção aumenta a riqueza de detalhes

com a qual o conteúdo é recuperado. Por exemplo, alguns trabalhos demonstraram

um melhor reconhecimento de estímulos emocionais mesmo quando parte dos

distratores era semelhante aos itens-alvo (Kensinger, Garoff-Eaton, & Schacter, 2006,

2007). Nesses experimentos, um reconhecimento correto exige a recuperação de

detalhes, para que os itens vistos durante o treino possam ser discriminados dos

distratores semelhantes. Esses estudos mostram, portanto, que os participantes foram

capazes de evocar detalhes do conteúdo emocional visto alguns dias antes numa

maior proporção que o recuperado do conteúdo neutro.

Nesse ponto é importante observar que mais detalhes não significa

necessariamente melhor acurácia. Nos trabalhos de Kensinger e seus colegas citados

acima, não houve diferença no teste de reconhecimento entre estímulos neutros e

emocionais. É possível que em algumas situações a emoção não aumente a

probabilidade de um item ser recuperado, mas, uma vez isso acontecendo, a emoção

pode favorecer que seja de forma mais detalhada, alterando um aspecto qualitativo

da recuperação.

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Mas a emoção aumenta a memória para todos os tipos de detalhes? Os

trabalhos que investigaram essa questão mostram que esse efeito existe para alguns

tipos de detalhes, enquanto para outros, não. Por exemplo, a emoção aumenta a

recuperação da cor da palavra vista no treino (D’Argembeau & Van der Linden, 2004)

e o local que o item foi apresentado na tela do comutador (MacKay & Ahmetzanov,

2005). Mas quando os participantes são questionados sobre uma decisão que

tomaram com relação aos itens durante a sessão de treino (p. ex. decidir se o estímulo

é animado ou inanimado), não há efeito da emoção (Kensinger & Schacter, 2006a).

Além disso, existem evidências experimentais de que as pessoas lembram com

menor acurácia e precisão a duração de estímulos e eventos emocionais em

comparação com os neutros, pois tendem a superestimar o tempo de duração

(Cocenas-Silva, Bueno, & Droit-Volet, 2012). Uma das hipóteses levantadas para

explicar esse fenômeno de pior estimativa retrospectiva de tempo é que os estímulos

emocionais demandam mais processamento cognitivo que os evento neutros, o que

favorece a memória mas leva a percepção de uma maior duração (Droit-Volet & Meck,

2007). De fato, Dirnberger e colegas (2012) demonstraram que a distorção na

percepção e memória para duração de intervalos observada para estímulos

emocionais se correlaciona com um melhor desempenho no reconhecimento desses

estímulos.

No conjunto, esses estudos dão suporte à ideia de que a emoção aumenta a

memória para informação contextual, especialmente no que diz respeito ao contexto

espacial e temporal no qual a informação foi apresentada, mas também o contexto

interno do indivíduo, isto é, o que pensava e sentia durante a codificação.

Considerando os estudos que mostram um papel particular do hipocampo na memória

para informação contextual (Eichenbaum et al., 2007; Rugg et al., 2012), Elizabeth

Kensinger e seus colaboradores propõe que a modulação da função hipocampal pela

amígdala é mecanismo por trás da maior recuperação desses tipos de detalhes para

o conteúdo emocional (Kensinger, 2008a).

Por fim, é importante considerar quais aspectos da memória podem ser

prejudicados pela emoção. Muitos dos aspectos prejudicados ocorrem como efeito

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colateral de um aspecto de que é beneficiado (Kensinger, 2008e). É o que ocorre com

relação aos elementos neutros e emocionais de uma cena, em que a emoção

direciona a atenção para o elemento emocional (elementos centrais), prejudicando

assim a codificação dos elementos neutros (elementos periféricos). Diante da situação

negativa de sofre um assalto armado, por exemplo, a vítima geralmente lembra com

acurácia e detalhes da arma utilizada, ocorrendo o contrário para outros elementos da

cena, como o veículo utilizado pelo assaltante ou mesmo sua aparência. Este

fenômeno, descrito por Elizabeth Loftus como weapon-focus effect (efeito do foco na

arma) e por ela largamente estudado, tem implicações forenses muito relevantes (ver

revisão recente sobre o assunto em Schacter & Loftus, 2013). Um outro aspecto, que

vem sendo estudado por Ralph Adolphs e seus colegas, é que a emoção favorece a

memória para o “tema geral” do evento em detrimento de detalhes que não são

relevantes para o enredo ou assunto principal (Adolphs, Tranel, & Buchanan, 2005).

Então, por exemplo, a intensidade emocional de um filme aumenta a probabilidade de

os espectadores lembrarem o conteúdo relevante para o enredo, às custas de um pior

desempenho na recuperação das informações menos relevantes.

Ainda que as teorias de Loftus e de Adolphs sejam vistas como efeitos da

emoção, os experimentos nos quais se baseiam utilizaram quase exclusivamente

estímulos negativos alertantes, ignorando a valência positiva. As diferenças entre

emoção positiva e negativa e o alerta sobre a memória episódica são o assunto da

próxima sessão.

Efeitos diferencias do alerta e valência emocional

Tanto no capítulo anterior quanto no início deste, foi explicado que a emoção

não é um fenômeno unitário e homogêneo, e que pode ser entendido e investigado

sob a perspectiva de suas diferentes propriedades (Adolphs, 2003). Uma das formas

de se entender a emoção é em termos de alerta (nível de excitação psicofisiológica)

e valência (o quanto positivo/apetitivo ou negativo/aversivo um estímulo ou evento é).

Essa abordagem bidimensional de alerta e valência para a memória é provavelmente

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a mais enfatizada nos estudos sobre memória episódica em humanos. Entretanto, os

estudos nessa linha permaneceram por várias décadas com uma limitação que só

recentemente foi considerada: a grande maioria dos estudos utilizam estímulos

negativos alertantes, ignorando os estímulos que são positivos ou com baixo alerta.

Geralmente tais estudos extrapolam seus resultados como “efeitos da emoção”, ao

invés de se limitarem a discutir os efeitos da emoção negativa alertante.

As pesquisas feitas nos últimos anos mostram que essa extrapolação de

resultados é imprudente, pois o alerta e a valência afetam de forma diferente, por

vezes oposta, o processamento da informação emocional pela memória e outros

processos cognitivos (Kensinger, 2008f; Pessoa, 2008). Além disso, os mecanismos

subjacentes aos efeitos da valência e alerta são distintos. O efeito do alerta é

automático e dependente da integridade funcional da amígdala, enquanto o efeito da

valência é baseado na elaboração do conteúdo e está relacionado com funções do

córtex pré-frontal.

Uma vez que existem muitos estudos sobre o efeito do alerta, aqueles que se

propõe a investigar melhor essas dimensões enfatizaram o efeito da valência,

principalmente para estímulos de baixo alerta. Os primeiros estudos mostraram que o

alerta não era necessário para a modulação emocional da memória, pois estímulos

emocionais de baixo alerta também são melhor recuperados que os neutros

(Kensinger & Corkin, 2003a, 2003b; Ochsner, 2000).

Ao passo que começaram a ser esclarecidos os mecanismos neurais pelos

quais alerta e valência influenciam a memória, também avançou o conhecimento

sobre os processos cognitivos relacionados e qual o resultado disso quantidade e

qualidade da informação recuperada (Kensinger, 2011; Mickley Steinmetz &

Kensinger, 2009). O efeito do alerta é mais automático, no sentido que não depende

de esforço consciente, não é influenciado por tarefas concorrentes e mais imediato.

Já o efeito da valência está relacionado com processos conscientes de elaboração,

os quais envolvem: um nível de processamento mais profundo; maior tempo de

observação; elaboração autobiográfica (relacionar o conteúdo com a própria pessoa

e sua história de vida) e elaboração semântica (relacionar com outras informações).

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Todos esses processos, quando acontecem, aumentam a memória para informação

neutra. Portanto, o efeito da valência ocorre principalmente por meio da elaboração

do conteúdo.

Mas quais o efeitos da valência não-alertante? E se a dimensão de valência é

bipolar, negativa num extremo e positiva em outro, qual o efeito da cada uma na

memória? Os primeiros trabalhos que investigaram essas questões não viram nenhum

efeito significativo da valência, apenas do alerta (p. ex. Bradley, Greenwald, Petry, &

Lang, 1992; Lang, Greenwald, Bradley, & Hamm, 1993). Entretanto, como discutido

acima, em algumas situações o efeito é qualitativo e não quantitativo. Isso parece ser

especialmente válido para o efeito da dimensão de valência emocional na memória

episódica. Destes estudos, alguns verificaram melhor recuperação para informação

negativa (p. ex. Charles, Mather, & Carstensen, 2003), enquanto outros observaram

melhor memória para o conteúdo positivo (p. ex. White, 2002). Kensinger (2008f)

realizou uma revisão sobre estudos que investigaram o efeito da valência e observou

que os estudos que mostram um melhor recuperação da informação positiva são

aqueles relacionados com memória autobiográfica, isto é, fazem referência à história

de vida da pessoa e seu self.

Os principais efeitos da valência são vistos quando olhamos para aspectos

qualitativos. A informação negativa geralmente é lembrada como maior vividez que a

positiva (p. ex. Ochsner, 2000), enquanto a informação positiva tende a ser mais

recuperada por meio de um senso de familiaridade, sem uma lembrança mais vívida

ou informação específica. O mais interessante é que essas diferenças podem ser

vistas mesmo quando o desempenho no teste de reconhecimento é igual entre as

listas positivas e negativas (p. ex. Kensinger et al., 2007).

Um estudo interessante e com boa validade ecológica foi realizado por

Elizabeth Kensinger e Daniel Schacter com torcedores de uma partida de baseball

(nos Estados Unidos, onde o estudo foi realizado, este esporte é muito popular e

envolve muito emocionalmente os torcedores). A partida foi disputada entre dois times

rivais (o que acentua a valência emocional do evento), ao final da qual um venceu o

outro. Então, Kensinger e Schacter (2006b) investigaram a memória dos torcedores

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para a partida em duas ocasiões, após 6 e 23 dias do jogo. Note-se, aqui, que para

os torcedores do time vitorioso o jogo teve valência positiva, para os torcedores do

time perdedor o evento foi negativo, e para outras pessoas que não torciam para

nenhum dos dois times o evento foi neutro (isso foi confirmado depois por meio de

questionários que avaliaram os participantes). Com os resultados, pôde-se ver que os

torcedores dos times que disputavam a partida (para os quais havia valência

emocional) recuperaram a mesma quantidade de detalhes do evento, mas que foi

superior à quantidade recuperada por aqueles que não torciam para nenhum dos dois

times (para os quais o evento era neutro). O grau de confiança dos participantes para

as memórias relacionadas ao evento foi maior para os torcedores derrotados, já o grau

de confiança para memória relacionadas as eles próprios (sobre eles durante o

evento) foi maior os torcedores vitoriosos. Foi analisado ainda a consistência das

lembranças dos torcedores, ou seja, o quanto a informação recuperada 6 dias após o

jogo estava de acordo com o que foi recuperado 23 dias após. Os torcedores do time

derrotado foram mais consistentes em suas recordações que os do time vencedor,

porém, esses dois grupos foram menos consistentes que aqueles para os quais o

evento era neutro. Os autores do trabalho interpretaram esses resultados como

indicativos de que a valência emocional causa distorções na memória, especialmente

quando a valência é positiva. Adicionalmente, a valência positiva parece aumentar o

grau de confiança das pessoas na sua lembrança.

Considerando as poucas pesquisas que investigaram o efeito da valência

emocional não-alertante na memória episódica, a conclusão é de que seu efeito pode

ser observado especialmente sobre aspectos qualitativos da memória. Existem uma

concordância entre os pesquisadores de que esse tema deve ser bem mais

investigado (Kensinger, 2008f).

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Relevância da pesquisa sobre emoção e memória

Por que estudar o efeito da emoção na memória episódica? O que justifica esse

empreendimento científico? Existem várias justificativas, de relevância teórica para o

conhecimento e aplicação prática.

Em primeiro lugar, o mundo é emocional. A neutralidade, apesar de ser relatada

nos trabalhos científicos (inclusive neste), não existe em absoluto. Como bem

argumenta Antonio Damásio, é difícil imaginar algo que não seja, ao menos

sensivelmente, positivo ou negativo (Damasio & Carvalho, 2013; Damásio, 1996). De

um ponto de vista ecológico e evolutivo, é pouco provável que algum estímulo não

seja de alguma forma relevante para a sobrevivência e sucesso reprodutivo do

indivíduo. A ideia de um “estímulo neutro” é mais um conceito teórico que uma

realidade natural. Sendo assim, ignorar a interação da emoção com os processos

cognitivos seria ignorar uma parte fundamental destes. Os trabalhos que estudam o

processamento apenas de informação neutra apresentam um retrato limitado e que

não existe na natureza de nossa cognição e comportamento. Não há valor adaptativo

na cognição (enquanto processamento de informação) e no comportamento

(enquanto interação com o meio) se estes não tiverem intrinsecamente uma natureza

emocional, ou seja, se não forem direcionados para os desafios que o organismo

encontra em seu ambiente (Scott, 2005).

Ademais, a emoção, seja na sua forma aguda ou de longa duração (humor),

está seguramente relacionada com a maioria dos transtornos e doenças da mente e

do comportamento. A compreensão de como os processos cognitivos interagem com

a emoção pode ajudar na prevenção e tratamento destes transtornos. Com efeito, tem

ajudado. Desde o desenvolvimento da terapia cognitivo-comportamental por Aaron

Beck, se reconhece que um dos fatores por trás da depressão é um viés da memória

autobiográfica para eventos negativos. O transtorno do estresse pós-traumático é uma

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condição é, essencialmente, um problema de memória emocional (Baddeley et al.,

2002).

A pesquisa sobre emoção e memória também já contribuiu muito para as áreas

de criminal e forense, a ponto de conduzir ao esclarecimento de alguns casos

(Schacter & Loftus, 2013). Existem também trabalhos mostrando a importância da

emoção e do afeto na aprendizagem escolar (Immordino-Yang & Damasio, 2007).

Devido à importância e ubiquidade da emoção e memória, o estudo de sua interação

tende a trazer novas e importantes perspectivas de investigação e aplicação prática.

Perspectivas teóricas e metodológicas na investigação do

efeito da emoção sobre a memória episódica

Diante da relevância de se estudar o efeito da emoção na memória episódica,

é oportuno avaliar quais questões específicas devem ser alvo de pesquisa e os

métodos adequados para sua realização. Pelo que foi revisado nas seções anteriores,

alguns pontos merecem atenção especial.

Com relação aos estímulos emocionais, a maioria dos estudos utilizaram

apenas o efeito da emoção negativa de alto alerta. Considerando os estudos que

mostram que alerta e valência estão relacionados com efeito e mecanismos

diferentes, é importante que os próximos trabalhos contenham estímulos positivos e

negativos e de alto e baixo nível de alerta. Os efeitos da emoção são diferentes no

curto e longo prazo entre treino e teste, pois a forma como interage com os processos

de codificação, consolidação e recuperação não é o mesmo. Assim, um resultado

obtido num teste de curto prazo pode ser diferente do observado no longo prazo. Os

estudos que não contemplarem essas variáveis devem ter cautela na interpretação

dos resultados e reconhecer a limitação na extrapolação do que foi observado.

Com relação à memória, os estudos convergem para a importância de se

consider os aspectos qualitativos além dos quantitativos. Muitas vezes, o efeito da

emoção não pode ser observado por meio da acurácia em um teste de desempenho.

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Aspectos como vividez, informação contextual, quantidade de detalhes e grau de

confiança são variáveis importantes. Em especial, a análise da contribuição

independente do componentes de lembrança e familiaridade para o desempenho no

teste de memória episódica pode apresentar efeitos que não são observáveis apenas

por meio dos índices de acurácia.

O estudo da memória em humanos envolve basicamente o seguintes métodos:

tarefas comportamentais, estudos neuropsicológicos de pacientes com lesão

encefálica e estudo da atividade cerebral por meio de imagem funcional. As tarefas

comportamentais são o método mais utilizado, e os estudos neuropsicológicos e de

imagem também costumam incluí-las em seus protocolos. Existem vários tipos de

tarefas comportamentais para o estudo da memória episódica, sendo as duas mais

utilizadas são a tarefa de recordação e a tarefa de reconhecimento. A diferença entre

esses dois procedimentos está na sessão de teste: na recordação o participante deve

lembrar quais itens foram apresentados no treino; no reconhecimento o participante é

apresentado a um conjunto de itens dos quais uma parte estava presente no treino

(itens alvo ou velhos) e outra parte não (itens distratores ou novos), sendo sua tarefa

discriminar quais itens são alvos e quais são distratores. No teste de reconhecimento

o participante não precisa, necessariamente, lembrar se viu ou não o item durante o

treino, ele pode responder baseando num senso subjetivo de ter visto o item antes,

mesmo sem detalhes ou aspectos contextuais. No teste de recordação a pessoa

precisa lembrar do item, pois não lhe é apresentado um estímulo para que julgue se

viu anteriormente ou não. Por isso, se supõe que o desempenho no teste de

reconhecimento é baseado nos componentes de lembrança e familiaridade, e o

desempenho no teste de recordação é baseado apenas no componente de lembrança

(Yonelinas et al., 1996).

Um dos desafios na pesquisa sobre memória e emoção são as limitações

éticas. Estímulos emocionalmente muito intenso geralmente não podem ser usados,

pois causam desconforto ou constrangimento no participante. Em algumas pesquisas,

os participantes aproveitam situações emocionais que aconteceram para investigar

seu efeito sobre a memória. É o caso dos estudos sobre eventos traumáticos (Sharot

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et al., 2007). Para viabilizar a realização de estudos em laboratório, uma variedade de

protocolos já foram desenvolvidos. Estão disponíveis conjuntos de estímulos

emocionais de diferentes tipos, como figuras (Lang, Bradley, & Cuthbert, 1997;

Ribeiro, Pompéia, & Bueno, 2005), palavras (Kristensen, Gomes, Justo, & Vieira,

2011; Santos, Silveira, Gomes, & Stein, 2009; Stevenson, Mikels, & James, 2007) e

narrações audiovisuais (Uribe, Garcia, & Tomaz, 2011). Esses conjuntos de estímulos

foram padronizados para permitir uma utilização ética e segura na pesquisa com

humanos.

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Cap. 3 - Experimento

EFEITO DO ALERTA E VALÊNCIA EMOCIONAL NOS

COMPONENTES DE LEMBRANÇA E FAMILIARIDADE DA MEMÓRIA

EPISÓDICA

Introdução

A memória episódica é um sistema que nos permite o armazenamento e

recuperação de eventos. A informação é processada neste sistema de memória de

forma contextual, ou seja, os itens são associados ao lugar e tempo em que

aconteceram (Tulving, 2002). Por ser o sistema que permite a representação de

eventos, a memória episódica tem um papel muito importante na construção da

autobiografia do indivíduo e formação de sua identidade (Gomes, 2006; Piolino et al.,

2009).

De acordo com o modelo de duplo processo, proposto por Yonelinas e seus

colaboradores, a memória episódica é constituída por dois componentes: lembrança

e familiaridade (Eichenbaum et al., 2007; Sauvage, 2010; Yonelinas, 2001b). A

lembrança permite a recuperação consciente e geralmente vívida de associações

entre itens e seu contexto espacial e temporal, e depende da integridade funcional do

hipocampo. A familiaridade permite a recuperação de itens únicos através de uma

percepção subjetiva de ter encontrado o item previamente, sendo dependente da

integridade funcional de algumas áreas adjacentes ao hipocampo, especialmente o

córtex parahipocampal.

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Esses dois componentes são influenciados de maneira independente por

muitas variáveis biológicas e psicológicas e manipulações experimentais. Yonelinas

(2002) fez uma compilação de mais de três décadas de pesquisa sobre o assunto e

encontrou que os fatores nível de processamento durante a codificação, atenção

dividida durante o treino e o teste, duração do treino, intervalo entre treino e teste,

administração de benzodiazepínicos, idade e muitos outros influenciam a contribuição

da lembrança e familiaridade no desempenho em testes de reconhecimento. O efeito

dessas condições sobre os dois componentes se mostrou independente, ou seja, o

efeito sobre a lembrança não é o mesmo que sobre a familiaridade, podendo, por

vezes, ser o oposto.

Surpreende que na revisão feita por Yonelinas (2002) e em outras que

seguiram (Yonelinas et al., 2010a; Yonelinas, 1999) a escassez de estudos sobre

como a emoção influencia esses componentes. Isso é surpreendente porque a

emoção é um dos fatores que mais influencia a codificação, consolidação e

recuperação da informação episódica (D’Argembeau & Van der Linden, 2005; Labar

& Cabeza, 2006; Talmi, 2013; ver Cap. 2, pág. 27 deste texto). São muitos os estudos,

utilizando diferentes abordagens (tarefas comportamentais, avaliação

neuropsicológica, estudos farmacológicos e de neuroimagem etc.) que mostram um

efeito de aumento da memória para a informação emocional (ver revisão em

Kensinger, 2008b). Além do efeito quantitativo da emoção sobre a memória episódica,

alguns efeitos são qualitativos, e não podem ser observados por estudos que

investigam apenas a quantidade ou proporção de informação recuperada com

sucesso. Entre os aspectos qualitativos influenciados pela emoção, estão a vividez da

lembrança, o grau de confiança de que está recuperando algo que realmente ocorreu,

a tendência a falsas memórias e aspectos do contexto espacial e temporal (Kensinger,

2008a).

Se por um lado são poucos os estudos que investigaram a relação da emoção

com os componentes da memória episódica, por outro existem limitações importantes

nos estudos sobre o efeito da emoção na memória de uma forma geral. A emoção, à

semelhança da memória, não é um fenômeno homogêneo ou unitário. Possui várias

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características que podem ser classificadas de acordo com seus tipos básicos (Ekman

et al., 1983), mecanismos de sobrevivência (LeDoux, 2012), forma de expressão

(Damásio, 1996) e dimensão de alerta e valência (Lang, 1995; Larsen, Norris, &

Cacioppo, 2003). Os efeitos sobre a memória de cada uma das formas de emoção

derivadas dessas classificações não são os mesmos. No que diz respeito às

dimensões de alerta e valência emocional, a maioria dos estudos utilizam apenas

estímulos negativos e alertantes, a despeito das evidências de que os vários níveis

de alerta e a valência positiva e negativa tem efeitos diferentes sobre a memória

(Kensinger & Corkin, 2004; Kensinger, 2011; Mickley Steinmetz & Kensinger, 2009).

São, portanto, realmente poucos os estudos planejados para investigar as

diferenças entre alto e baixo alerta, e entre emoção positiva e negativa. Apesar destes

poucos estudos terem demonstrado que existem diferenças marcantes (revisados por

Kensinger, 2008f), a maior parcela dos pesquisadores que estudam o efeito da

emoção na memória ainda ignora essas diferenças. Kensinger & Schacter (2006b)

investigaram a memória para eventos positivos e negativos. Como resultado,

encontraram que a recuperação de eventos negativos é mais vívida e rica em

detalhes, enquanto que para eventos positivos são recuperados apenas os aspectos

mais gerais. Apesar dessas diferenças qualitativas, a quantidade de detalhes

recuperada foi a mesma para os dois tipos de eventos. Os estudos que compararam

a memória para estímulos de alto e baixo alerta geralmente relatam que o alerta

aumenta a acurácia na recuperação (Cahill & McGaugh, 1998; Dolcos, Labar, &

Cabeza, 2005), mas como não houve controle da dimensão de valência, não sabemos

ao certo o quanto esse efeito pode ser realmente atribuído ao alerta.

Ao que parece, o alerta tende a aumentar a acurácia na recuperação da

informação, já a valência raramente influencia aspectos quantitativos, sendo seus

efeitos observados em aspectos qualitativos. Em especial, as poucas evidências

existentes mostram que a valência negativa propicia uma recuperação mais

detalhada, tornando a memória menos suscetível a distorções (Kensinger, 2011).

Ao menos que tenha chegado ao nosso conhecimento, apenas um estudo,

realizado por Ochsner (2000), investigou em um mesmo experimento o efeito das

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dimensões de alerta e valência positiva e negativa sobre os componentes de

lembrança e familiaridade. Em seu experimento, os participantes viram um conjunto

de figuras com diferentes níveis de alerta e valência emocional, havendo, portanto,

desde estímulos relaxantes até alertantes, de negativo a positivo. Após duas

semanas, os participantes realizaram um teste de reconhecimento do tipo

lembrar/saber, de cujo resultado ele pôde calcular os índices de acurácia, lembrança

e familiaridade. Para a análise, as palavras foram agrupadas em três categorias de

alerta (baixo, médio e alto) e de valência (positiva, negativa e neutra). A classificação

conforme esses dois critérios foi independente, isto é, duas figuras poderiam estar na

mesma categoria de alerta mas em categorias diferentes de valência, por exemplo.

Os principais resultados encontrados por Ochsner (2000) foram: (1) figuras negativas

foram reconhecidas como maior acurácia que as positivas e neutras; (2) figuras

negativas apresentaram maior índice de lembrança que as positivas e neutras; (3) não

houve diferença para a acurácia entre as categorias de alerta; (4) figuras com alerta

alto apresentaram maior índice de lembrança que as com alerta médio e baixo; (5)

não houve diferença nos índices de familiaridade na análise de nenhuma das

categorias de alerta ou valência. Em resumo, ele encontrou que a emoção negativa

aumenta a acurácia do reconhecimento por meio do aumento do componente de

lembrança, e que o alerta aumenta o componente de lembrança sem alterar a acurácia

no reconhecimento.

Sendo assim, entre os desafios mais importantes na pesquisa atual sobre o

efeito da emoção na memória episódica estão a importância de se considerar as

dimensões de alerta e valência, bem como os componentes de lembrança e

familiaridade. De forma mais específica, algumas questões são colocadas.

(1) A primeira delas é se as memórias emocionais são mais vívidas

porque aumentam a confiança da pessoa na sua recuperação ou porque

favorecem uma recuperação mais detalhada. No caso de o efeito ser sobre a

confiança, é esperado uma tendência a falsas memórias. Se o efeito for sobre

a quantidade de detalhes recuperada, podemos predizer uma maior acurácia

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no reconhecimento, baseada, essencialmente, no componente de lembrança.

Estas duas hipóteses não são excludentes entre si.

(2) Outra questão relevante é se a informação negativa é recuperada

com mais detalhes e de forma mais consistente, enquanto a positiva é

recuperada de forma mais geral, como já foi proposto (Kensinger et al., 2007;

Kensinger & Schacter, 2006b). Esta hipótese nos permite predizer que em um

teste de reconhecimento haverá uma menor proporção de falsas memórias

para os estímulos negativos em comparação com os positivos, e que os

estímulos positivos serão recuperados principalmente por meio da

familiaridade.

(3) Uma terceira questão específica é colocada. O principal

mecanismo por meio do qual a valência (especialmente a negativa) influencia

a memória é por meio de processos conscientes de elaboração mediados pelo

córtex pré-frontal (Kensinger & Corkin, 2004). Além disso, existem evidências

de que indivíduos idosos não apresentam nenhum efeito da valência negativa

não alertante sobre a memória episódica, apesar de o efeito do alerta

permanecer (revisados por Kensinger, 2011). Já os idosos apresentam declínio

no componente de lembrança, tendo a familiaridade preservada (Yonelinas,

2002). Consideradas em conjunto, essas evidências são indicativas de que a

valência (espacialmente a negativa) influencia o componente de lembrança.

Desta hipótese fazemos a predição de que a informação negativa é tem sua

recuperação baseada pela lembrança numa maio extensão que a informação

positiva.

Investigar o desafio e questões acima citados são os objetivos geral e

específicos deste trabalho. A fim de atendê-los, planejamos e executamos um

experimento comportamental para testar as predições levantadas, como descrito a

seguir.

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Método

Deste estudo participaram 40 pessoas (25 mulheres), todos estudantes

universitários de graduação ou pós-graduação com idade entre 18 e 35 anos

(média=23,75, desvio-padrão=3,65). Dos 40 participantes, dois foram excluídos das

análises (um homem e uma mulher) porque tiveram desempenho inferior a 50% no

teste, e portanto inferior ao desempenho por acaso. Os experimentos foram realizados

no Laboratório de Experimentos em Psicofisiologia, localizado no Departamento de

Fisiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Todas as sessões foram

realizadas entre as 8 e 18 horas.

O procedimento experimental consistiu na realização de uma tarefa de

reconhecimento de longo prazo para figuras com diferente níveis de alerta e valência

emocional. As figuras foram retiradas do International Affective Pictures System

(IPAS), um conjunto de figuras neutras e emocionais desenvolvido e padronizado nos

Estados Unidos por Lang, Bradley, & Cuthbert (1997). O IAPS representa uma forma

ética e segura de apresentação de estímulos emocionais para pesquisa em laboratório

que vem sendo utilizada por centenas de pesquisas em várias partes do mundo nas

três últimas décadas. Cada figura do IAPS é acompanhada de informação sobre

valência e alerta conforme classificação subjetiva de uma amostra ampla de pessoas

e avaliação de resposta fisiológica (condutância da pele e eletromiografia facial). O

uso do IAPS com a população brasileira foi padronizado e validado por Ribeiro,

Pompéia, & Bueno (2004, 2005), que coletaram dados de avaliação subjetiva de alerta

e valência para cada uma das figuras. Uma avaliação da resposta fisiológica de uma

amostra de brasileiros às figuras também foi realizado (Ribeiro, Teixeira-Silva,

Pompéia, & Bueno, 2007).

Utilizando os dados de valência e alerta obtidos na validação brasileira, foram

selecionadas 300 figuras, reunidas em três listas, conforme os seguinte critérios:

Lista 1 - figuras negativas de alto alerta: valência menor que 3

e alerta maior que 5;

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Lista 2 - figuras positivas de alto alerta: valência maior que 5 e

alerta maior que 5;

Lista 3 - figuras positivas de baixo alerta: valência maior que 5

e alerta menor que 4.

Figuras do IAPS de acordo com os valores de alerta e valência obtidos na validação brasileira, destacando as figuras utilizadas no experimento. Fonte: elaborado pelo autor.

Gráfico 2- Alerta e valência das figuras do IAPS

Valores médios de alerta e valência obtidos para cada uma das listas elaboradas. A lista 1 difere da lista apenas na dimensão de valência, e a lista 2 difere da 3 apenas quanto a dimensão de alerta. Fonte: elaborado pelo autor.

Gráfico 3 - Alertas e valência das figuras utilizadas no experimento

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Assim, foram elaboradas 3 listas de forma que as listas 1 e 2 diferem apenas

na dimensão valência, e as listas 2 e 3 diferem apenas na dimensão alerta (ver Gráfico

2 e Gráfico 3).

De cada lista, metade das figuras foi utilizada como estímulos-alvo na sessão

de treino e metade como distratores na sessão de teste. No total, havia 150 alvos e

150 distratores, com igual proporção entre as listas e balanceados de forma que os

valores de alerta e valência sejam, para uma mesma lista, semelhantes entre alvos e

distratores.

Na sessão de treino (esquematizada na Fig. 7), o participante era informado

que realizaria uma tarefa que envolvia a classificação de figuras emocionais e um

teste de memória, e recebeu instrução e exemplo de cada uma das tarefas que deveria

realizar. Cada uma das figuras do IAPS foi apresentada no centro do monitor em

ordem aleatória por 2 segundos. Após a apresentação da figura, o participante era

solicitado a fazer a classificação emocional da figura. O único objetivo desta avaliação

foi atrair atenção do participante para a figura pois, para as análises posteriores, serão

utilizados os valores da validação para a população brasileira, os mesmos usados na

elaboração das listas. Para essa classificação foi utilizada a escala do Self-

Assessment Manikin (SAM), a mesma utilizada nos estudos de padronização e

validação do IAPS. O SAM é uma escala de 9 pontos que permite a avalição das

dimensões de alerta e valência emocional. Devido a cada ponto na escala estar

associado a uma figura, o SAM facilita a compreensão dos participantes e reduz a

diferenças linguísticas associadas aos rótulos e escalas. Na escala para a dimensão

de valência, o valor 1 representa o extremo negativo e 9 o extremo positivo. Já na

escala para a dimensão de alerta, o valor 1 representa o extremo relaxante (mínimo

alerta) e o valor 9 representa o extremo alertante. O participantes tinham até 10

segundos para avaliar a figura respondendo de 1 a 9 no teclado numérico.

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Para reduzir o declínio de atenção e distração comum em tarefas

comportamentais, as 150 séries de figura seguida de classificação foram divididas em

2 blocos, com 75 séries em cada bloco. Entre os dois blocos, foi realizada uma tarefa

de memória operacional do tipo 2n-back, na qual o participante é apresentado a uma

série de estímulos – figuras, neste caso – e deve julgar se a figura atual é igual ou

diferente a que apareceu por penúltimo. A única diferença entre os dois blocos era a

dimensão avaliada, se alerta ou valência. Para metade dos participantes, no 1º bloco

foi avaliado o alerta e no 2º a valência, enquanto a outra metade realizou o inverso.

Um conjunto de experimentos realizados por Ochsner (2000) mostrou que a avaliação

de alerta ou de valência não causa nenhuma diferença sobre a resposta emocional

ou memória dos participantes. A sessão de treino teve duração de 25 a 30 minutos.

Após 24 (+ ou – 3) horas da sessão treino, o participante retornava ao

laboratório para a sessão de teste (Fig. 8). Nesta etapa, as 150 figuras alvo

apresentadas no dia anterior foram adicionadas ao conjunto de 150 distratores. Cada

uma dessas 300 figuras foi apresentada em ordem aleatória por 2 segundos. Dentro

desse tempo, o participante deveria julgar se viu ou não a figura anteriormente,

respondendo em uma tecla designada para “velha” (figura velha, vista anteriormente)

ou outra tecla designada para “nova” (figura nova, vista pela primeira vez) em um

teclado adaptado. Após julgar se a figura era velha ou nova, o participante classificava

o grau de confiança (ou confidência) em sua resposta, utilizando para isso uma escala

de 1 a 3, na qual o maior valor representa maior confiança de que fez um julgamento

correto da figura. O participante tinha até 6 segundos para classificar a confidência da

resposta apertando uma das teclas (1,2 ou 3) em um teclado adaptado. A sessão de

teste tinha uma duração de 30 a 35 minutos.

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Análises

Para atender aos objetivos deste estudo, foram analisados os dados do

reconhecimento das figuras (velho/novo) e o grau de confiança na resposta.

Considerando o julgamento se as figuras eram velhas ou novas, quatro

resultados são possíveis:

1. Acerto (Ac): ocorre quando o item-alvo é julgado como “velho”;

2. Rejeição correta (RC): ocorre quando um item distrator é julgado como

“novo”;

3. Alarme falso (AF): ocorre quando um distrator é julgado como “velho”;

4. Falha (Fa): ocorre quando um alvo é julgado como sendo “novo”.

Acertos e rejeições corretas são respostas corretas, pois o participante

reconheceu se o estímulo fazia parte ou não da lista estudada no dia anterior. Já os

alarmes falsos e falhas são respostas erradas. Como as somas [Ac +RC] e [AF + Fa]

são sempre iguais a 1, os índices serão calculados a partir do Ac e AF (se os cálculos

fossem feitos a partir da RC e Fa os resultados seriam os mesmos).

A quantidade de acertos foi dividida pelo número de itens alvo para obtenção

do Índice de Acerto (IA), e a quantidade alarmes falsos foi dividida pelo número de

Durante o teste, os participantes julgaram se cada figura era “velha” ou “nova” e, em seguida, avaliaram o grau de confiança na resposta. Fonte: elaborado pelo autor.

Fig. 8 - Procedimento de teste

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distratores para obtenção do Índice Alarme Falso (IAF). A partir de IA e IAF foram

calculados a acurácia e o viés de resposta. Para a acurácia, foi calculado o índice Pr,

através da diferença entre IA e IAF. Por ser obtido através da diferença entre

respostas certas e erradas, um maior valor de Pr significa melhor acurácia na

discriminação entre alvos e distratores. Como para cada figura duas respostas são

possíveis (velha ou nova) e alvos e distratores estão presentes na mesma proporção,

o participante poderia acertar por acaso sua resposta 50% das vezes, resultando em

valores iguais e IA e IAF. Assim, um valor Pr=0 significa nenhuma capacidade de

discriminação, pois esse valor pode ser obtido por acaso. Valores negativos de Pr

representam desempenho inferior ao acaso, e portanto devem ser desconsiderados,

pois o participante não entendeu ou não realizou a tarefa adequadamente (Snodgrass

& Corwin, 1988).

Considerando a avaliação do grau de confiança na resposta feita pelo

participantes, três resultados eram possíveis: 1 (pouca confiança), 2 (média confiança)

e 3 (muita confiança). Como essa três respostas podiam ser pareadas com as duas

respostas no teste de reconhecimento (velho/novo), os dados obtidos para o grau de

confiança foram transformados em uma escala de 1 a 6, onde 1 representa o maior

grau de confiança de que o tem é velho e 6 o maior grau de confiança de que o item

é novo (ver Fig. 9).

Para estimar a contribuição dos componentes de lembrança e familiaridade no

reconhecimento, os valores de IA e IAF foram plotados para cada um dos pontos da

escala de confiança, resultando em uma curva ROC. De acordo com a teoria de

detecção do sinal (Macmillan & Creelman, 2005; Yonelinas, 1994), a assimetria da

curva representa o componente de lembrança, e sua curvilinearidade representa o

componente de familiaridade. Curvas ROC foram feitas para cada lista e para cada

Fig. 9 - Graus de confiança obtidos a partir da classificação dos participantes.

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um dos participantes, permitindo a obtenção de índices de lembrança (Ro) e

familiaridade (d’) individuais conforme cada lista. A Fig. 10 resume as etapas

necessárias para construção de uma curva ROC.

Os índices de acerto, alarme falso, acurácia, viés de resposta, lembrança e

familiaridade (sumarizados na Tabela 2) foram submetidos a análises de variância de

uma via tendo o tipo de lista como fator. Eventuais diferenças entre duas listas foram

comparadas através de testes post-hoc de Turkey. Em todos os casos, foram

consideradas estatisticamente significativas as diferenças cujo valor de p foi inferior a

5% (p<0,05).

Fig. 10 - Elaboração de curva ROC

Para cada um dos seis graus de confiança atribuídos pelo participantes, são calculados os índices de acerto e alarme falso. Em seguida, esses índices são somados de forma cumulativa a partir do grau de confiança 6 (“certamente novo”) até o grau 1 (“certamente velho”). Para a construção da curva ROC, os valores de IA e IAF são plotados para cada um dos graus de confiança, exceto o grau 1, que sempre é igual a 1 e, portanto, invariável. A partir destes índices, são feias as estimativas dos valores da lembrança e familiaridade. Na curva ROC, o índice de familiaridade é representado pela curvilineridade do traçado, e o índice de lembrança pela assimetria da curva, isto é, o ponto tangente entre a curva e o eixo vertical. Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados de um participante da pesquisa.

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Tabela 2 - Índices calculados

Índice Medida Cálculo

IA Índice de acerto (proporção de alvos corretamente reconhecidos como “velhos”)

Nº de alvos julgados como velhos / nº de alvos

IAF Índice de alarme falso (proporção de distratores erradamente julgados como “velhos”)

Nº de distratores julgados como velhos / nº de distratores

Pr Medida de acurácia na discriminação entre alvos e distratores

IA-IAF

Br Viés de resposta (varia de conservador a liberal) IAF/(1-Pr)

Ro Componente de lembrança Curva ROC → assimetria

d’ Componente de familiaridade Curva ROC → curvilinearidade

Resultados

A análise do índice de acerto revelou um efeito do tipo de lista [F(2,114)=6,018;

p<0,05]. O IA médio das duas listas positivas foi semelhante e menor que o observado

na lista negativa, mas essa diferença foi estatisticamente significativa apenas quando

comparadas as listas NAA e PBA (p<0,01), e não para a comparação NAA x PAA

(p=0,06) (Gráfico 4). O efeito do tipo de lista também foi observado para os alarmes

falsos [F(2,114)=5,295; p<0,01], sendo que a lista PBA apresentou um IAF menor que

as listas PAA (p<0,05) e NAA (p=0,01) .Assim, o maior alerta das figuras resultou em

maior quantidade de falsos reconhecimentos, independente da valência (Gráfico 5).

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A análise do índice acurácia, que integra os acertos e alarmes falsos, não

revelou qualquer diferença significativa entre as listas [F(2,114)=1,18; p=0,314]. Esse

resultado não surpreende quando consideramos os IA e IAF, pois o maior índice médio

de acerto observado na lista NAA foi contrabalanceado pelo maior índice de alarme

falso.

Gráfico 4 - Índice de acerto de acordo com o tipo de lista

Gráfico 5 - Índice de alarme falso de acordo com o tipo de lista

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Como já pode ser deduzido a partir das análises de IA, IAF e Pr, houve uma

diferença no viés de resposta entre as listas. No caso da lista NAA, os valores

elevados de acerto e alarme falso sugerem uma tendência de os participantes

responderem “velho” diante desse tipo de figura. Para a lista PBA, o índice de alarme

falso foi bem inferior ao observado nas demais listas é indicativo de uma maior

tendência a responder “novo” que nas outras listas. Já no caso da lista PAA o maior

valor de IAF foi contrabalanceado pelo menor valor de IA, resultando uma tendência

moderada quando comparado com as duas outras listas. De fato, a análise do índice

Br mostrou uma diferença com elevada significância estatística entre as listas

[F(2,114)=11,212; p<0,001]. As análises post-hoc permitiram detectar que esse efeito

do tipo de lista no viés de resposta se deve à diferença entre as listas PAA x PBA

(p<0,05) e NAA x PBA (p<0,001). Assim, as listas com maior alerta apresentaram um

viés mais liberal que a lista de baixo alerta.

Gráfico 4 - Índice de acurácia de acordo com o tipo de lista

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A partir dos valores médios de IA e IAF para cada um dos 6 pontos da escala

de confidência, foram obtidas curvas ROC para cada uma das listas (Gráfico 6).

Para o componente de familiaridade (Gráfico 8), nenhuma diferença foi

observada [F(2,114)=0,461; p=0,63]. Quanto ao componente de lembrança (Gráfico

7), foi observado um efeito do tipo de lista [F(2,114)=5,191; p<0,01], sendo que a lista

NAA apresentou maior índice de lembrança que as listas PAA (p<0,05) e PBA

(p<0,05).

Gráfico 6 - Curvas ROC médias conforme o tipo de lista

Gráfico 5 - Índice de viés de resposta de acordo com o tipo de lista

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Discussão

O principal objetivo deste trabalho foi investigar como as dimensões de alerta

e valência emocional influenciam a memória episódica e seus componentes, a

lembrança e a familiaridade.

Os resultados obtidos para o índice de acerto mostraram que os itens negativos

foram mais recuperados que os itens positivos, independentemente do nível de alerta.

Já o índice de alarme falso foi maior para as figuras de alto alerta, sejam negativas ou

Gráfico 7 - Índice de lembrança conforme o tipo de lista

Gráfico 8 - Índice de familiaridade conforme o tipo de lista

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positivas, que para as figuras positivas de baixo alerta. Isso significa que a valência

negativa aumentou a recuperação, enquanto o alerta aumentou a proporção de falsas

memórias. As listas não diferiram quanto à acurácia no desempenho, o que

geralmente é observado em testes de reconhecimento. Apenas em testes de

recordação é que o estímulos alertantes são recuperados com maior acurácia

(Kensinger, 2008a). A observação dos índices de acerto e alarme falso explicam, em

parte, porque isso ocorre. Enquanto a valência negativa aumenta a recuperação dos

itens visto durante o treino, o alerta aumenta proporção de alarmes falsos, anulando

o efeito de aumento da valência negativa. O viés de resposta observado foi maior para

as listas alertantes, independentemente da valência, do que para a lista positiva de

baixo alerta. Assim, o alerta causa um viés mais liberal, isto é, uma tendência a

identificar os itens como os tendo visto previamente, sendo um indicativo de maior

confiança do participante na sua resposta.

A contribuição do componente de lembrança para o reconhecimento foi maior

na lista negativa que nas listas positivas de alto e baixo alerta. Então, de acordo com

esses resultados, a valência emocional negativa aumenta a lembrança, não havendo

nenhum efeito do alerta. O componente de familiaridade, por outro lado, não foi

influenciado por nenhuma das dimensões emocionais, uma vez que nenhuma

diferença foi encontrada entre as listas. Portanto, a única interação observada no

experimento aqui relatado entre as dimensões da emoção e os componentes da

memória episódica foi o aumento da lembrança em função da valência negativa.

Esses resultados nos permitem sugerir que as memórias vívidas relatadas por

pessoas que passaram por experiências traumáticas (Brown & Kulik, 1977; Sharot et

al., 2007) se devem principalmente ao efeito da valência negativa, e não ao alerta.

Além do objetivo principal, o presente trabalho também teve como propósitos

esclarecer algumas questões importantes sobre o efeito da emoção na memória

episódica.

Os resultados que encontramos confirmam a hipótese de que um dos fatores

que contribuem para a maior vividez das memórias para estímulos alertantes é a maior

confiança do participante em sua resposta, pois os participantes apresentaram um

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viés de resposta mais liberal para estímulos alertantes, enquanto que para os

estímulos menos alertantes eles foram mais conservadores, o que é indicativo de

menor confiança. No entanto, a hipótese de um maior detalhamento da recuperação

de informação alertante que contribui para a maior vividez não foi confirmada por

nossos resultados, uma vez que a acurácia para figuras de alto e baixo alerta foi a

mesma.

Nossos resultados também não dão suporte à hipótese de que a informação

positiva é recuperada de forma mais geral e é mais sujeita a distorções. Pelo contrário,

os resultados mostram que a familiaridade, a qual se acredita estar relacionada com

a recuperação mais geral e não detalhada, não foi diferente entre as listas. Ademais,

não encontramos maior proporção de alarmes falsos para as figuras positivas.

A hipótese de que a valência negativa influencia a lembrança foi confirmada,

pois as figuras negativas foram mais recuperadas com base na lembrança que as

figuras positivas, independentemente do alerta destas. Muitos trabalhos relataram que

estímulos emocionais são recuperados de forma mais vívida, detalhada e associada

ao contexto, que são características da lembrança (Kensinger et al., 2006, 2007). A

maioria desses estudos basearam suas conclusões em experimentos que utilizaram

apenas estímulos negativos de alto alerta. Os resultados do presente estudo mostram

que apenas a valência negativa é suficiente para aumentar a lembrança, pois não

observamos qualquer efeito da valência positiva ou do alerta.

Nossos resultados foram semelhante aos relatados por Ochsner (2000; ver

Gráfico 11), o único trabalho a investigar anteriormente o efeito da emoção sobre a

lembrança e familiaridade com estímulos de variados níveis de valência e alerta. Seus

resultados mostraram que a valência negativa e o alerta aumentam, de forma

independente, a lembrança, sem efeito sobre a familiaridade. Contudo, é oportuno

destacar que Ochsner (2000) analisou valência e alerta de forma independente, o que

dificulta, por meio de seus resultados, saber se o alerta aumenta a lembrança da

mesma forma para estímulos negativos e positivos, ouse, de fato, o efeito é do alerta.

Considerando que existe uma correlação quadrática entre valência negativa e alerta

(Bradley & Lang, 1994; Lang et al., 1997, 1993), é provável que a valência negativa

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tenha predominado em seu conjunto de figuras de maior alerta. Além disso, Ochsner

também observou que a valência negativa aumenta a lembrança. Nosso experimento

criou listas separadas para figuras negativas de alto alerta e positivas de alto alerta, o

que nos permitiu observar que o alerta positivo não aumentou a lembrança. Portanto,

o efeito do alerta que Ochsner relatou provavelmente foi influenciado pela valência

negativa, pois em seu experimento não houve controle da distribuição da valência

entre os estímulos alertantes.

Gráfico 9 - Resultados encontrados no presente trabalho e no realizado por Ochsner (2000).

Os asteriscos sinalizam que o valor é significativamente superior às listas não sinalizadas, para uma mesma variável e em um mesmo experimento. Assim, nos dois experimentos, o único efeito significativo observado foi uma maior lembrança para as figuras negativas e de alto alerta.

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O presente trabalho é mais um a demonstrar que os componentes da memória

episódica são influenciados de forma independente por manipulações experimentais

- neste caso, a emoção. Em conjunto com outras estudos que mostraram essa

dissociação (Yonelinas, Aly, Wang, & Koen, 2010b; Yonelinas, 2002), os resultados

que encontramos demonstram a necessidade de se considerar esses dois

componentes no estudo da memória episódica. Nosso trabalho também demonstrou

que alerta e valência tem efeitos diferentes sobre a memória episódica, ressaltando a

importância de ser utilizar estímulos rigorosamente controlados quanto aos níveis de

alerta e valência e o cuidado que se deve ter na interpretação do resultado de

experimento que não consideraram adequadamente essas duas dimensões da

emoção.

Algumas limitações deste estudo devem ser consideradas. Os participantes da

pesquisa eram todos jovens universitários, mas existem alguns estudos (revisados por

Kensinger, 2008g) que mostram que o efeito da emoção sobre a memória episódica i

diferente entre os grupos etários. Notadamente, os idosos não apresentam a

modulação da memória pela valência, enquanto a modulação pelo alerta costumar

ocorrer de forma normal. Além disso, a contribuição do componente de lembrança

para a recuperação episódica costuma declinar com o envelhecimento, de forma que

não sabemos como os componentes de memória episódica e as dimensões da

emoção interagem ao longo das etapas da ontogênese (Yonelinas et al., 2010b).

Esses efeitos também variam conforme o tempo de exposição dos estímulos na etapa

de codificação e o intervalo entre treino e teste. O efeito da valência, que depende da

elaboração consciente do conteúdo, pode ser diferente se o tempo disponível para

codificação foi maior. Ademais, o efeito da emoção sobre a memória episódica

costuma ser maior com o decorrer de tempo após a sessão de codificação. Assim,

não sabemos qual a dinâmica temporal dos efeitos diferenciais do alerta e valência

positiva e negativa nesse processo.

Em síntese, observamos que estímulos negativos são mais recuperados que

estímulos positivos, a despeito do nível de alerta, o que ocorre por meio do aumento

do componente de lembrança favorecido pela valência negativa. O alerta aumenta a

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ocorrência de falsas memórias, possivelmente porque as pessoas tornam-se mais

confiantes em sua recuperação. Nenhuma das dimensões emocionais alterou o

componente de familiaridade. As dimensões de alerta e valência emocional interagem

de forma complexa e independente com os componentes da memória episódica, o

que torna fundamental que essas variáveis sejam levadas em consideração nos

estudos futuros.

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