efeito de ativadores de resistÊncia À doenÇas … · o milho safrinha ou segunda safra, ......

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EFEITO DE ATIVADORES DE RESISTÊNCIA À DOENÇAS SOBRE INCIDÊNCIA DE MANCHA DE DIPLODIA EM FOLHAS DE MILHO Maria José do Amaral e Paiva (1) , Arejacy Antonio Sobral Silva (2) , Renato Fonseca de Paiva (3) , Gleuber de Oliveira Firmino (4) , Silmara Helena Dias (5) Introdução O milho safrinha ou segunda safra, como é chamado atualmente devido às signifi- cativas produções, é o milho plantado de janeiro a abril após a cultura de verão (CRUZ et al., 2010). O milho, apesar de ocupar grandes áreas no território nacional apresenta sensibili- dade a fatores bióticos ou abióticos que o afetam de forma negativa, alteram a fisiologia e morfologia da planta e reduzem o rendimento e a qualidade (PINTO et al., 2004). Dentre os fatores bióticos podemos citar doenças causadas por fungos como a mancha de diplodia causada pelo fungo Diplodia macrospora (Stenocarpella macrospora). A mancha de diplodia, quando ataca as folhas, compromete a eficiência fotossin- tética do milho que pode ter reduzida sua produtividade pelo impedimento de transformar energia luminosa em biomassa (FANCELLI, 2003). Além disso, a presença do patógeno nas folhas, segundo Kimati et al. (2005), serve de inóculo para as infecções em espigas e colmos, podendo levar a maiores prejuízos. As lesões são necróticas com formato variado, de elípticas a estrias compridas, com clorose na margem e um ponto de infecção no centro da lesão onde é iniciada a formação dos picnídios. Novas formas de controle fitossanitário incluem produtos que são utilizados para induzir a resistência às doenças como os fosfitos, o cobre, extrato da alga Ascophillum no- dosum, e níquel. O fosfito pode ter duas formas de ação, direta sobre o patógeno, resultado 1 Estudante em Agronomia, do Centro Universitário do Planalto de Araxá, Av. Ministro Olavo Drumond, 5, 38180-129 Araxá, MG. [email protected] 2 Engenheiro-Agrônomo, M.Sc., Professor do Centro Universitário do Planalto de Araxá, Av. Ministro Olavo Drumond, 5, 38180-129 Araxá, MG. [email protected] 3 Engenheiro-Agrônomo, M.Sc Coordenador de Desenvolvimento Técnico da Produquímica Ind. E Com. S.A. Av. Comandante Vicente Torres n°742, CEP 38706-178. Patos de Minas, MG. renato.paiva@produquímica.com.br 4 Estudante em Agronomia, do Centro Universitário do Planalto de Araxá, Av. Ministro Olavo Drumond, 5, 38180-129 Araxá, MG. [email protected] 5 Estudante em Agronomia, do Centro Universitário do Planalto de Araxá, Av. Ministro Olavo Drumond, 5, 38180-129 Araxá, MG. [email protected] [1]

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EFEITO DE ATIVADORES DE RESISTÊNCIA À DOENÇAS SOBRE

INCIDÊNCIA DE MANCHA DE DIPLODIA EM FOLHAS DE MILHO

Maria José do Amaral e Paiva(1), Arejacy Antonio Sobral Silva(2), Renato Fonseca de

Paiva(3), Gleuber de Oliveira Firmino(4), Silmara Helena Dias(5)

Introdução

O milho safrinha ou segunda safra, como é chamado atualmente devido às signifi-

cativas produções, é o milho plantado de janeiro a abril após a cultura de verão (CRUZ et

al., 2010).

O milho, apesar de ocupar grandes áreas no território nacional apresenta sensibili-

dade a fatores bióticos ou abióticos que o afetam de forma negativa, alteram a fisiologia e

morfologia da planta e reduzem o rendimento e a qualidade (PINTO et al., 2004). Dentre

os fatores bióticos podemos citar doenças causadas por fungos como a mancha de diplodia

causada pelo fungo Diplodia macrospora (Stenocarpella macrospora).

A mancha de diplodia, quando ataca as folhas, compromete a eficiência fotossin-

tética do milho que pode ter reduzida sua produtividade pelo impedimento de transformar

energia luminosa em biomassa (FANCELLI, 2003). Além disso, a presença do patógeno

nas folhas, segundo Kimati et al. (2005), serve de inóculo para as infecções em espigas e

colmos, podendo levar a maiores prejuízos. As lesões são necróticas com formato variado,

de elípticas a estrias compridas, com clorose na margem e um ponto de infecção no centro

da lesão onde é iniciada a formação dos picnídios.

Novas formas de controle fitossanitário incluem produtos que são utilizados para

induzir a resistência às doenças como os fosfitos, o cobre, extrato da alga Ascophillum no-

dosum, e níquel. O fosfito pode ter duas formas de ação, direta sobre o patógeno, resultado

1Estudante em Agronomia, do Centro Universitário do Planalto de Araxá, Av. Ministro Olavo Drumond, 5,38180-129 Araxá, MG. [email protected]ônomo, M.Sc., Professor do Centro Universitário do Planalto de Araxá, Av. Ministro OlavoDrumond, 5, 38180-129 Araxá, MG. [email protected]ônomo, M.Sc Coordenador de Desenvolvimento Técnico da Produquímica Ind. E Com. S.A.Av. Comandante Vicente Torres n°742, CEP 38706-178. Patos de Minas, MG.renato.paiva@produquímica.com.br 4 Estudante em Agronomia, do Centro Universitário do Planalto de Araxá, Av. Ministro Olavo Drumond, 5,38180-129 Araxá, MG. [email protected] Estudante em Agronomia, do Centro Universitário do Planalto de Araxá, Av. Ministro Olavo Drumond, 5,38180-129 Araxá, MG. [email protected]

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do seu efeito tóxico por altas concentrações na planta, ou indireta quando estimula a planta

a produzir as fitoalexinas (SANTOS, 2008). O cobre possui ação cicatrizante e fungicida.

Já extrato da alga Ascophyllum nodosum é utilizado como bioestimulante em diversas cul-

turas, podendo levar ao aumento do crescimento e mudanças benéficas na composição dos

tecidos das plantas, aumentando sua resistência (ABREU, 2008). O níquel reconhecido re-

centemente como micronutriente essencial, também estimula a produção das fitoalexinas,

aumentando assim a resistência a doenças (MALAVOLTA, 2008).

Conhecendo os benefícios dos ativadores de resistência, este trabalho tem como ob-

jetivo avaliar o seu efeito sobre o surgimento de lesões de mancha de diplodia nas folhas

do milho safrinha.

Material e Métodos

O experimento foi desenvolvido no Campo Experimental do Centro Universitário

do Planalto de Araxá, localizado no município de Araxá MG, situado a 19°34'45,2"S, e

46°57'15,3" W, com altitude de 932 m, em um Latossolo vermelho distrófico de textura

média. O clima da região, segundo classificação de Köppen, é Cwa (clima temperado

úmido com inverno seco e verão quente).

O delineamento utilizado foi de blocos casualizados contendo cinco tratamentos e

quatro repetições. As parcelas de 6 m2 eram formadas por 4 linhas de 3 metros de compri-

mento. A largura dos corredores entre blocos era de 0,6 m, perfazendo o total de 147 m2. O

espaçamento entre linhas foi de 0,5 m, com 3 plantas por metro visando atingir a popula-

ção de 60.000 plantas por hectare.

O híbrido utilizado foi o RB 9108 PRO® da Riber KWS. As sementes foram trata-

das com Cropstar® na dose de 400 ml ha-1. A semeadura foi realizado no dia 31/01/13. De

acordo com o resultado da análise de solo, foi necessária a aplicação do equivalente a 1,5

T.ha-1 de calcário dolomítico. Na semeadura a adubação utilizada foi a mesma para todos os

tratamentos, ou seja, o equivalente a 100 kg de Nitrogênio e 120 Kg de P 2O5 por hectare.

Para adubação de cobertura foi aplicado, no estádio V5 ou 5 folhas completamente desen-

volvidas, o equivalente a 100 kg de Nitrogênio e 160 Kg de K2O por hectare. O N foi apli-

cado na forma de ureia, o P2O5 de MAP, e o K2O na forma de cloreto de potássio. As plan-

tas infestantes foram controladas com capina manual.

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Os produtos usados para ativar a resistência nas plantas (Tabela 1) foram aplicados

na fase de pendoamento do milho via pulverização foliar, utilizando uma bomba costal ma-

nual de 20 litros. A fim de evitar que o produto aplicado atingisse plantas de outro trata-

mento, foi colocado um plástico como isolamento entre as parcelas. A dose utilizada de ad-

juvante foi o equivalente a 25 ml em 100 litros de água em mistura de tanque para todos os

tratamentos

Tabela 1 Tratamentos e delineamento experimental (DBC) Blocos casualizados

Tratamentos Bloco 1

Bloco 2 Bloco 3 Bloco 4T1 Controle T2 T1 T3 T5T2Ascophillum nodosum 500 ml. ha-1 T4 T5 T4 T2T3 Fosfito de potássio 1,5 L . ha-1 T1 T4 T2 T1T4 Cobre EDTA 300 ml . ha-1 T3 T2 T5 T3T5 FP + Cu + N1 T5 T3 T1 T41 Fosfito de potássio + Cobre EDTA + Níquel

A avaliação da incidência da doença foi obtida de acordo com Moraes (2007), atra-

vés da porcentagem de folhas que apresentavam alguma lesão de mancha de diplodia, cal-

culada da seguinte forma: ID = (nP I/ nPT) x 100, onde:

ID – Incidência da doença,

nPI – Número de folhas infectadas

nPT – Numero total de folhas observadas

Para a primeira avaliação, aos 10 dias após a aplicação dos produtos, foram escolhi-

das dez plantas da área central da parcela e avaliadas 5 folhas dos terços médio e superior

de cada planta. O mesmo procedimento foi aplicado para a segunda avaliação aos 30 dias

após a aplicação. Foi feito acompanhamento dos dados pluviométricos do período na regi-

ão (Tabela 2). Os resultados foram submetidos à análise de variância e as médias transfor-

madas de cada tratamento [(x+1)1/2] foram comparadas entre si pelo teste de Tukey

(p<0,05).

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Tabela 2 Pluviosidade em mm

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov DezMédia Hídri-

ca296 187 169 99 44 17 21 20 67 154 208 293

2011 180,8 122,4 282,8 79,2 0 35 0,6 0 27 135 158 356,42012 401,8 90 138,3 171,9 50,7 62,6 3,6 0 32,8 73,1 187,3 197,92013 322,9 131,3 257,9 79,4 101 33,2 0 23

Fundação Pró Café – Estação Fitossanitária de Araxá - MG

Resultados e Discussão

Não houve diferença significativa entre os tratamentos (Tabelas 3 e 4). Diversos fa-

tores podem ser analisados no sentido de elucidar as possíveis causas dos resultados. Al-

guns produtos utilizados, como os fosfitos, cobre e o níquel quando em contato com a su-

perfície foliar causam fitotoxidez (PERUCH e BRUNA, 2008; BERTON, 2006). Inicial-

mente as lesões podem ser confundidas com lesões de mancha de diplodia. Outra possibili-

dade a ser considerada é a época em que os produtos foram aplicados, os ativadores de re-

sistência à doenças possuem caráter preventivo, agem em estruturas pré-formadas através

de reações induzidas, essas reações estimulam a produção de moléculas de sinalização es-

pecificamente para defesas contra a presença do patógeno, como o ácido acetilsalissílico e

os compostos proteinados, que são as fitoalexinas (JAYARAMAN, 2011). Silva (2011) en-

controu resultados significativos para os tratamentos com diferentes doses de fosfito apli-

cado nos estádios fenológicos V6 e V10. Além disso, devido à alta pluviosidade no mês de

maio, o que é atípico para o período na região, pode ter havido maior pressão da doença

que encontra condições ideais em alta unidade relativa (KIMATI, 2005).

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Tabela 3 Incidência de mancha de diplodia em folhas de milho aos 10 dias após aplicação

Tratamentos Incidência1

%

Ascophillum nodosum 8,27a3

Cobre EDTA 8,30aFP+C+N2 8,59a Controle 8,63a Fosfito de potássio 8,81a1 Dados transformados utilizando-se a expressão (x+1)1/2

2 Fosfito de potássio + Cobre EDTA + Níquel3 Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna não diferem significativamente en-tre si pelo teste Tukey (p<0,05)

Tabela 4 Incidência de mancha de diplodia em folhas de milho aos 30 dias após aplicação

Tratamentos Incidência1

%

FP+C+N2 9,43a3 Controle 9,47a Cobre EDTA 9,55a Fosfito de potássio 9,95a Ascophillum nodosum 10,05a1 Dados transformados utilizando-se a expressão (x+1)1/2

2 Fosfito de potássio + Cobre EDTA + Níquel3 Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna não diferem significativamente en-tre si pelo teste Tukey (p<0,05)

Conclusões

Em aplicações tardias após o florescimento, não houve diferença significativa na

Incidência de mancha de diplodia em folhas de milho em função dos diferentes tratamentos

aplicados. Recomenda-se novos trabalhos com aplicação dos produtos em estágios anterio-

res ao florescimento.

ReferênciasABREU, G. F., TALAMINI, V. STADNIK,M. J. Bioprospecção de macroalgas marinhas eplantas aquáticas para o controle da antracnose do feijoeiro Summa phytopathologi-ca vol.34 no.1 Botucatu Jan./Feb. 2008

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BERTON, R. S. et al. Toxicidade do níquel em plantas de feijão e efeitos sobre a microbi-ota do solo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.41, n.8, p.1305-1312. Ago.2006

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FANCELLI, A. L. Fisiologia, Nutrição e Adubação do Milho para Alto Rendimento.INPI. 2003. Disponível em: http://www.ipni.net/ppiweb/pbrazil.nsf/1c678d0-ba742019483256e19004af5b8/7ac877864218d46983256c70005790fc/$FILE/Anais%20Antonio%20Luiz%20Fancelli.doc. Acesso em 17/06/13 às 20:00

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